Concílio de Trento
Concílio de Trento
Concílio de Trento
RESUMO ABSTRACT
Este artigo procura perscrutar a história do This article looks for scanning the History of the
Concílio de Trento (1545-1563) enfaticamente Council of Trent (1545-1563) emphatically in
no que diz respeito aos antecedentes que what concerns to the antecedents that went
percorreram-lhe o caminho e que nele through its path and culminate in it. Under the
culminariam. Sob a clave de uma “ecclesia key of an “Ecclesia semper reformanda” we
semper reformanda”, procuramos compreender look for understanding the internal reformations
as reformas internas na Igreja daquela época in the Church of that age not as private
não como diligências particulares às moções do diligences to the Council's motion, as if the
Concílio, como se este fosse o grande Council was the great awakener of a monolithic
despertador de uma Igreja monolítica para a Church to the needs of an intrareformation, but,
necessidade de intrarreformas, mas, a despeito despite this, aiming the history of the Council,
disso, ao mirar a história conciliar, amiúde, often, in that time of crisis in Latin Church, at
neste tempo de crise da Igreja latina, no that context of the rise and expansion of
contexto de grassamento e ascensão do Protestantism, it's possible to see, in Church's
protestantismo, é possível enxergar, no imo da breast, a wish of ecclesiastical, pastoral and
igreja, um desejo de reforma, renovação e dogmatic reformation, renovation and updating
atualização eclesiástica, pastoral e dogmática that, ulteriorly, was already largely
que, ulteriormente, já estava vultosamente disseminated in practices and discussions of the
dilatado em práticas e discursões da Igreja, Church even before the very Council. Indeed,
anteriores ao próprio Concílio. Com efeito, we have discovered a movement of internal and
desenterramos todo um movimento de reforma previous reformation that converged to Trent
interna pregressa que convergiu para Trento e, and greatly influenced it, so we say that almost
sobremaneira, o influenciaram, de maneira que there was nothing new in the Council, any
dizemos que, praticamente, não houve nada de pastoral or dogmatic guideline exclusive and
novo no Concílio, nenhuma diretriz pastoral ou genuinely tridentine. Trent's just the apex, the
dogmática exclusiva e genuinamente tridentina vertex, so to speak, the crown of intrareformist
de per si. Trento é somente o ápice, o vértice, movement within the Church as we shall show
por assim dizer, a coroa do movimento in our research, drawing Council's history from
intrarreformista na Igreja conforme long before, unveiling what came previously
mostraremos em nossa pesquisa, traçando a about the discussions and directions taken.
história do Concílio de muito antes,
Keywords: Council of Trent; Counter-
desvendando os precedentes das discussões e
reformantion; Catholic Reformation; History of
direções tomadas.
Church;
Palavras-Chave: Concílio de Trento;
Contrarreforma; Reforma Católica; História da
Igreja;
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INTRODUÇÃO
Propomo-nos mais uma vez a perscrutar a trama do sacrossanto concílio de Trento, seu
alcance no orbe, seus cânones, as disputas, pelejas e dificuldades que, entrementes,
interpuseram-se na execução orquestral deste magno Sínodo da Igreja, quer no
andamento de seus trabalhos, quer em sua efetivação posterior. Ora, não só nos
deteremos nesses aspectos: através de uma visão retroativa, buscaremos contemplar,
igualmente, os ânimos pregressos à convocação conciliar, fazendo um balanço das
moções intrarreformistas que há muito logravam pujança no próprio aprisco da Igreja
pré-tridentina, influxos estes que fomentavam o desejo há muito cultivado de reforma
interna. Na verdade, em face disso, ser-nos-á necessário admitir, a contragosto de
muitos teólogos ultrapapistas, uma ecclesia semper reformanda 1 . Teologias à parte,
nosso labor historiográfico aspira fazer uma apuração geral de toda trama tridentina de
forma a contemplar - ante, in e post 2 – uma série de aspectos que positivaram ou
balizaram o concílio e suas determinações.
Decerto, o Sacrosanctum Concilium Tridentinum gravou seus dias no hall dos mais
importantes episódios da História da Igreja. Sem dúvida, fora um dos maiores concílios
que a história bimilenar da Igreja Católica conheceu, tanto na extensão dos dias em que
se arrastara, entrecruzado por tantas crises, suspensões e embates, como no tocante à
produção intelectual, sobretudo porque se emitiram tantos decretos em número nunca
vistos anteriormente na História dos concílios precedentes. De fato, as reformas de
Trento se apresentaram deveras ainda mais emblemáticas que outras reformas
anteriores. Na verdade - bem o disse M. Venard, com G Alberigo - esse movimento de
reforma, sob muitos aspectos, é anterior ao concílio, de modo que, em síntese, o
Concílio de Trento é mais fruto da velha reforma católica que seu criador3. Devemos
inculcar tão logo esta ideia, a guisa de introdução, para que a posteriori possamos
discorrer de forma mais apurada, demonstrando que Trento não foi um repentino insight
ou um acordar instantâneo da Igreja da hirteza de seu sono!
1
BARTH, Karl in MAHLMANN, Theodor: "Ecclesia semper reformanda". Eine historische
Aufarbeitung. Neue Bearbeitung, in: Torbjörn Johansson, Robert Kolb, Johann Anselm Steiger (Hrsg.):
Hermeneutica Sacra. Studien zur Auslegung der Heiligen Schrift im 16. und 17. Jahrhundert, Berlin -
New York 2010, p. 382-441.
2
Isto é: antes, durante e depois - do Concílio.
3
VENARD, Marc in ALBERIGO, Giuseppe (org.) História dos Concílios Ecumênicos. Paulus. 4ª Ed,
2011. Pág. 347.
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1 - QUE É UM CONCÍLIO?
Antes de qualquer coisa parece-nos conveniente tratar acerca do que é um concilium?
Que importância histórica tem ele? Que entende o Iuris Canonici acerca dele? Ora, um
concílio é uma assembleia extraordinária do colégio apostólico – os bispos – reunida
com o Romano Pontífice, cabeça e fundamento do múnus episcopal, que exerce
supremae et plenae potestatis in universam Ecclesiam exsistit4(can. 336). Significa dizer
que, em matéria de fé e moral, um concílio legitimamente convocado pelo Soberano
Pontífice, a quem unicamente compete convocar, presidir, transferir, suspender,
dissolver e aprovar (Unius Romani Pontificis est Concilium Oecumenicum convocare...
praesidire... transfere, suspendere vel dissolvere et approbare. Can. 338), exerce de
modo solene, universal e infalível 5 seu poder sobre a Igreja Católica (Potestatem in
universam Ecclesiam collegium episcoporum solemni modo exercet in Concilio
Oecumenico. Can 337).
4
Supremo e pleno poder sobre a Igreja universal.
5
O Direito Canônico não menciona infabilidade acerca dos concílios. É certo que é dogma católico que o
Papa é infalível quando fala ex cathedra (Constituição Dogmática Pastor Aeternus, Pio IX). Mas é certo,
outrossim, que os cânones dos Concílios de Constança e Basileia definiram a infalibilidade de um
legítimo concílio inclusive acima das prerrogativas primaciais e infalíveis do próprio Romano Pontífice.
O impasse infalibilista Pontifex versus Concilium sempre ameaçou o Papado. Mesmo assim, depois de
Constança e Basileia, o Papa tem conseguido assegurar sua primazia sobre os concílios.
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Antes de penetrarmos nos veios dos trabalhos conciliares, ser-nos-ia interessante urdir
algumas considerações preliminares e igualmente importantes para situar o contexto em
que se ampara o concílio de Trento. Destarte, ser-nos-ia sobremaneira significativo
atentar à opinião de Pierrard:
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9
ROTTERDAM, Erasmo de. O Elogio da Loucura. Os grandes clássicos da Literatura. Vol. III. Editora
Brasileira, 1982. Págs. 116-123
10
VENARD, M. in ALBERIGO, Ibid. Pág. 330
11
BURNS, Edward McNall. 1970, Pág. 477.
12
VENARD, Marc in ALBERIGO, Giuseppe. Ibid. Pág. 327
13
Ibid. Pág 330.
14
Então não é, pois, mero acaso do destino ou tão-somente por causa de questões políticas que França e
Alemanha se tornaram as nações mais entusiastas das reformas tridentinas. Isso porque, ao que parece,
tais diretrizes reformistas já eram velhas conhecidas da práxis católica franco-germânica.
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15
Ibid. Pág. 353.
16
CÂMARA, Jaime de Barros. Apontamentos de História Eclesiástica. Vozes, 1957, 3ª ed. Pág. 234
17
SANTIDRIAN, Pedro R. Breve dicionário de pensadores cristãos. Editora Santuário, 2ª ed. Pág. 117
18
VENARD, Marc in ALBERIGO, Giuseppe. Ibid. Pág. 343.
19
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 129.
20
Ibid. Pág. 135.
21
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 143; VENARD,
Marc in ALBERIGO, Giuseppe. Ibid. Pág. 332
22
SANTIDRIAN, Pedro R. Ibid. Pág. 116-117
23
BURNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental. Do homem das cavernas até a bomba
atômica. O drama da raça humana. Vol. I, Editora Globo, 2ª ed. 1970, Pág. 479.
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Dissemos tudo isso para evidenciar que inclusive as discussões que tiveram lugar nas
sessões do concílio não eram questões novas suscitadas pelos debates teológicos
correntes durante os trabalhos conciliares, mas discussões preexistentes que já foram
levadas maduras a Trento. Tuchle chega a compreender esta série de debates teológicos
anteriores ao concílio como paliativos precedentes a este25. Quer dizer: não foram os
esforços do concílio que animaram os teólogos a se debruçar sobre a doutrina e os
instigaram a elaborar novos esquemas de reafirmação dogmática. Tudo isso chegara a
Trento já fatigantemente discutido, de modo que não foi o concílio quem impulsionara
as disputas teológicas acirradas pela reforma protestante, mas, inversamente, o concílio
que fora propelido por essas discussões que já grassavam na cristandade europeia. Por
isso escrevera M. Venard que não só a obra disciplinar tridentina, mas também as obras
doutrinárias não eram radicalmente novas e originais26. Não se pode esquecer que em
muitos pontos fez-se repercutir velhas regras de reformas já aplicadas em alguns
lugares. Destarte, é verdade que o concílio encontrou metade do caminho já percorrido
pelo desenvolvimento das controvérsias e dos concílios locais. Trento colhera os frutos
de pouco mais de três gerações de teólogos27.
24
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 136.
25
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 127.
26
Ibid. Pág. 145.
27
Ibid. Ibid.
28
Ibid. Pág. 153
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colégios de Roma29. O decreto de Trento tinha mesmo por escopo precípuo sublinhar a
responsabilidade dos bispos na formação de seus padres, obrigando-lhes a construção de
seminários em suas dioceses30. Ao que parece, a verdadeira novidade é a insistência
sancionada pelo concílio no novo sistema de educação eclesiástica da pietas literata
humanista.31
A insistência de Trento no dever dos bispos de residir em suas dioceses também não é
novidade do concílio. Adriano VI havia mandado despachar uma série de bispos que
estavam incrustados na corte curial de volta para suas dioceses. 36 Não fora à toa que
falamos, a guisa de introdução, de uma Ecclesia semper reformanda. Nesse contexto de
intrarreforma, G. Tuhcle, com Brandi, julga aquilo que o papa Adriano escrevera em
instrução ao seu legado como primeiro passo representativo a caminho da
29
Ibid. Ibid.
30
Ibid. Pág. 145
31
Ibid. Ibid.
32
ROEY, Joseph Ernest van. Adrien VI, le remier pape de la contre-Réforme. Sa personnalité, sa carrière,
son oeuvre. In Biblioteca ephemeridum theologicarum Lovaniensium, 1959.
33
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 132.
34
Ibid. Pág. 131.
35
DURANT, Will. Heróis da História: uma breve História da civilização da antiguidade ao alvorecer da
era Moderna. Editora LPM, 212. Págs. 262-263.
36
Ibid. Pág. 262.
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Contrarreforma. 37 Nos seria muito proveitoso trazer aqui as constatações que fez o
pontífice:
" (...) Não ignoramos que também nesta Sé Apostólica, desde muitos anos, já
ocorreram muitas coisas abomináveis: abusos em coisas espirituais,
transgressões dos mandamentos (...) aplicaremos todo esforço a fim de que,
em primeiro lugar se faça a correção da corte romana, da qual todos os males
tiveram a sua origem. Então como daqui saiu a doença, daqui também
começará a recuperação da saúde (...) Tanto mais nos sentimos na obrigação
de efetuar tal intento, quanto mais o mundo inteiro deseja semelhante reforma
(...) Contudo, ninguém se admire de não erradicarmos de uma vez por todas
os abusos, é preciso pois avançar passo a passo (...)"
Ora, não foi Paulo III quem reconheceu a necessidade de autorreforma na iminência
necessária de um concílio. O texto da carta de Adriano VI tem um teor reformista
imensamente obstinado. Embora tenha reinado num pontificado quase meteórico de um
ano (1522-1523) e seu sucessor Clemente VII não tenha levado tão a sério o programa
de reformas, Adriano verdadeiramente preludiou o espírito tridentino que seria
inaugurado 22 anos depois no concílio.
37
BRANDI, C. apud TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid.
Pág. 131.
38
VENARD, Marc. Ibid. Pág. 330
39
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 139.
40
Ibid. Pág. 154.
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antes do concílio. Muitas delas já haviam, sob ares renovados, adquirido por
antecipação, um certo espírito tridentino. Poderíamos citar, com P. Pierrard, as
transformações que, antes mesmo do concílio, haviam se submetido os teatinos de São
Caetano (†1547), os barnabitas de Santo Antônio Zaccaria (†1539), os hospitaleiros de
São Jerônimo Emiliano (†1537), os capuchinhos de Mateus de Bascio - fundados em
1525 - e os próprios jesuítas de Santo Inácio 41. Estes mesmos, antes do concílio, logo
receberam a alcunha de "padres reformados."42 Esses padres, diz Burns, eram clérigos
fervorosos que, desde o início do século XVI, vinha trabalhando para tornar os
sacerdotes da Igreja mais dignos da missão que lhes cumpria desempenhar43.
41
PIERRARD, Pierre, 2010. Pág. 190-192
42
Ibid. Pág. 190.
43
BURNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental. Do homem das cavernas até a bomba
atômica. O drama da raça humana. Vol. I, Editora Globo, 2ª ed. 1970, Pág. 477 ss.
44
Ibid. Ibid.
45
PIERRARD, Pierre. 2010. Pág. 183.
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46
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 139.
47
Conciliorum Oecumenicorum Decreta. Org. Instituto de Ciências Religiosas, Bolonha, III, 1973. 409.
22-27. Sessão V do Concílio de Constança.
48
DURANT, Will. Ibid. Pág. 309
49
VENARD, Marc. Ibid. Pág. 324. Lutero desejava um concílio nos moldes de uma assembleia
democrática (PIERRARD, Pierre. 2010. Ibid. Pág. 185)
50
DURANT, Will. Ibid. Pág. 314.
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p. 130-150
51
VENARD, Marc. Ibid. Pág. 325
52
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 140.
53
VENARD, Marc. Ibid. Pág. 325.
54
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 141.
55
VENARD, Marc. Ibid. Pág. 328; TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES,
M. D. Ibid. Pág. 141.
56
VENARD, Marc. Ibid. Pág. 328; TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES,
M. D. Ibid. Pág. 141; PIERRARD, Pierre. Ibid. 2010. Pág. 185.
57
PIERRARD, Pierre, Ibid. Ibid.; TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M.
D. Ibid. Ibid.
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Somente os bispos tinham direito a voto e por trás deles trabalhavam os teólogos como
peritos. Então começaram os trabalhos: a primeira, a segunda e a terceira sessões do
concílio expuseram os símbolos comuns da fé cristã: Deus, a Trindade, a Encarnação do
verbo, etc. A IV sessão (abril de 1546) foi a primeira a promulgar decretos dogmáticos.
No que concernia à fé, essa sessão definiu que as tradições apostólicas transmitidas
(traditae) pela Igreja, assim como a Sagrada Escritura, são legítimas fontes da revelação
cristã (fons revelationis) com equânime dignidade. Os protestantes, a despeito disso,
defendiam sola Scriptura (somente a Escritura) e rechaçavam as tradições eclesiásticas
como meras invenções humanas. Foi também emitido o decreto da Vulgata que
declarava a tradução latina da Bíblia feita por são Jerônimo no século V suficientemente
autêntica a despeito de outras traduções latinas. 59 Neste ínterim, diz M. Venard, o
concílio evitou declarar prós ou contras a respeito das traduções vernáculas porque,
escrevera Massarelli em suas crônicas, os padres estariam deveras divididos nessa
discussão.60 Ficara definido, outrossim, que somente a Igreja tem direito à interpretação
bíblica61, o que se opunha diretamente ao livre exame protestante. As quatro primeiras
sessões não promulgaram decretos de reforma porque corria nos bastidores do concílio a
peleja do imperador que exigia a discussão a priori de um programa reformista em
primeira mão. É a partir da sessão V que as decreta de reformatione começaram a ser
discutidas e despachadas em conjunto com as fixações dogmáticas.62
58
PIERRARD, Pierre, Ibid. Pág. 186; TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e
KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 142; VENARD, Marc. Ibid. Pág. 334.
59
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 144.
60
VENARD, Marc. Ibid. Págs. 333 e 341.
61
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Ibid.
62
Ibid. Pág. 145.
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63
VENARD, Marc. Ibid. Pág. 342.
64
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 144.
65
VENARD, Marc. Ibid. Ibid.
66
Ibid. Ibid.
67
PIERRARD, Pierre, Ibid. Pág. 186
68
A doutrina da dupla justificação defendida pelos agostinianos conciliadores. Em oposição a ela estavam
jesuítas como Laínez que via nela acento por demais luterano (VENARD, Marc. Ibid. Pág. 343)
69
VENARD, Marc. Ibid. Ibid.; TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M.
D. Ibid. Ibid.
70
LECLER, Joseph; BROSSE, O. de La.; HOLSTEIN, H.; LEFEBVRE C. Latran V et Trente. Histoire
des Conciles Oecuméniques. Vol II, 1975 apud VENARD, Marc. Ibid. Pág. 343.
71
Para entender mais sobre a teologia cristã sobre a graça ver SEGUNDO, Juan Luís. Teologia aberta
para o leigo adulto. Vol. 2. Graça e condição Humana. Editora Loyola, 2ª ed. 1987.
72
PIERRARD, Pierre, Ibid. Pág. 186.
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73
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 145.
74
VENARD, Marc. Ibid. Pág. 344; TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES,
M. D. Ibid. Págs. 144-145. LUTERO, Martinho. Do cativeiro Babilônico da Igreja. Editora Martin Claret,
2011. Págs. 40-41
75
LUTERO, Martinho. Ibid. Págs. 36-39.
76
DEISS, Lucien. A Ceia do Senhor. Eucaristia dos cristãos. Edições Paulinas, 2ª ed. 1985. Pág. 95.
77
Lutero. De abroganda Missa privata (1521)
78
Lutero defendia que a confissão auricular não passava de uma manipulação sacerdotal. Quanto ao
sacerdócio, os reformadores rechaçaram o sacerdócio ministerial hierarquizado e adotaram o sacerdócio
universal de todos os crentes. A Crisma, o matrimônio e a unção dos enfermos mormente para Lutero
eram somente ritos cerimoniais, sem virtude sacramental. (LUTERO, Martinho. Ibid. Págs 79-86, 87-88,
88-89, 101-110,110-116 )
79
PIERRARD, Pierre. Ibid. Pág. 186. TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e
KNOWLES, M. D. Ibid. Págs. 145.
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representantes para o concílio sob condição.80 A maioria dos padres conciliares, para
escapar da gravosa influência do Imperador, decidiu, então, transferir o concílio para
Bolonha. Pretextou-se uma tal febre que arrebentara em Trento. 81 Na verdade, M.
Venard propõe que não fora tão-somente a tentativa de subtrair o controle do Imperador
que causara a transferência, mas o próprio fato também de que em Trento, território de
Carlos, a presença do concílio fez subir os preços, sem contar que a cidade não tinha
uma grande estrutura universitária para aportar os estudos conciliares.82 A transferência
do concílio pela sua grande maioria para Bolonha atrasou os trabalhos conciliares
porque o imperador furioso beirava a ameaça de um cisma. Assim, Paulo III suspendeu
sine die o concílio, dois meses antes de baixar à sepultura.
80
Ibid. Ibid. As condições eram que o concílio revisasse os decretos anteriores e não continuasse debaixo
da égide do Papa se tornando, como havia querido Lutero, um concílio cristão livre, republicano e
universal.
81
PIERRARD, Pierre. Ibid. Pág. 186; TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e
KNOWLES, M. D. Ibid. Págs. 145; VENARD, Marc. Ibid. Pág. 333.
82
VENARD, Marc. Ibid. Pág. Ibid.; MAZZONE, U. apud. Ibid.
83
Ibid. Pág. 336 ss.; TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid.
Págs. 146 ss.
84
LUTERO, Martinho. Do cativeiro Babilônico da Igreja. Editora Martin Claret, 2011. Págs. 79-86; 110-
116.
85
PIERRARD, Pierre. Ibid. Pág. 186
86
VENARD, Marc. Ibid. Pág. 337.
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A pressão exercida por Carlos V sobre os Stände causou uma série de insatisfações nos
príncipes. Apoiados então por Fernando II, rei de França, filho do falecido Francisco I,
começam uma campanha de vingança ao imperador87. As tropas saxônicas conseguiram
cercar Carlos V que, ameaçado, fugiu para Innsbruck. Em abril de 1552, o sumo
pontífice decide, doravante, suspender o concílio mais uma vez. Em 1555 morria Júlio
III e o concílio não fora restaurado. O cardeal Cervini, outra grande personalidade que
trabalhara entusiasticamente no programa de reformas, fora eleito pontífice máximo sob
o nome de Marcelo II. Nada pôde fazer. Reinou apenas alguns dias na cátedra de São
Pedro e logo faleceu. Então mais um reformador foi eleito: o enérgico cardeal Carafa
sob o nome de Paulo IV.
87
Ibid. Ibid.
88
PIERRARD, Pierre. Ibid. Pág. 187.
89
Ibid. Ibid.
90
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Págs. 149-150
91
Ibid. Pág. 150.
92
Ibid. Pág. 153.
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93
BURKE, Peter. Cultura Popular na Idade Moderna. Cia das Letras. Edição de bolso. 2013. Pág. 310.
94
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 152; VENARD,
Marc. Ibid. Pág. 338.
95
Dezinger-Schönmetzer. Enquiridium symbolorum defininitionum et declarationum de rebus fidei et
morum. 1820 [983]; 1580 [840]; 1689 [904]; etc; AQUINO, Prof. Felipe. O purgatório. O que a Igreja
ensina. Editora Cleófas. 7ª ed, 2010. Págs. 28-29
96
Ibid. 1821-1825 [984-988]; AQUINO, Prof. Felipe. A Intercessão e o Culto dos Santos. Imagens e
relíquias. Editora Cleófas, 1ª ed, 2006. Pág. 52-53
97
Concílio de Trento. 25ª sessão. In E. C. Holt (ed.) A Documentary History of Art. Vol. 2, New York,
1958. Pág. 64 ss.
98
TÜCHLE, Germano in ROGIER, L. J., AUBERT, R. e KNOWLES, M. D. Ibid. Pág. 154.
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CONCLUSÃO
Diante de tudo que nossa pesquisa lograra, faz-se mister repetir, a fortiori, que o
Concílio de Trento não foi um evento tão singular e original que se esteou na história da
Igreja na crise do século XVI, mas ele fora, decerto, a coroa de um movimento de
99
Ibid. Ibid.
100
Ibid. Pág. 161.
101
Ibid. Pág. 162.
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intrarreforma muito anterior ao próprio concílio, apenas o epicentro desta reforma que
há muito já vinha sendo cultivada na Igreja e que encontraria em Trento sua coroa e
válvula propulsora pelo seu caráter congregador, resolutivo e universal. O Concílio
Tridentino, suas deliberações, decretos e resoluções são fruto da influência de labores
anteriores de uma reforma contínua, que acreditamos que a Igreja de Roma sempre
viveu, conforme dissemos a guisa de introdução com aquela velha sentença da
eclesiologia que se faz, inclusive, sobremaneira atual: Ecclesia semper reformanda est.
A Igreja Católica, desde tempos imemoriais, vive em contínua reforma vital. Seus dois
milênios de existência foram mais dinâmicos do que a História de sua rígida ortodoxia,
de seus costumes e dogmática possam sugerir. Se para a doutrina da Igreja Concilium
nunquam erratur in propronedis fidei articulis 102 , restou-nos apenas perscrutar a
dimensão histórica da construção do concílio, problematizando a sua originalidade no
raio das influências que ele sofrera e convergências que sobre ele se incidiram de
maneira que mostramos que o Concílio de Trento não surgira ex nihil 103 , mas fora
produto da contínua reforma da Igreja Romana.
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