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O Caminho Sinodal

e o retorno à
Igreja Primitiva

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Pe. Fernando César Chaves Reis

O Caminho Sinodal
e o retorno à
Igreja Primitiva

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Copyright © Pe. Fernando César Chaves Reis

Coordenação editorial: Júlio César Porfírio


Diagramação: Manuel Miramontes
Revisão: Equipe Palavra & Prece
Criação de capa: Agência Kadosh

2022 – ISBN: 978-65-996391-1-1

Todos os direitos reservados.


Copyright © desta edição Palavra & Prece Editora, 2022.
Nenhuma parte desta obra pode ser utilizada sem a expressa autorização da Editora.

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja
Primitiva como foi sugerido por um dos pa-
lestrantes da XIX Semana Teológica da Fa-
culdade Católica de Fortaleza, de 20 a 22 de
outubro de 2021.

Carta aos participantes da XIX Semana


Teológica da Faculdade Católica de Fortaleza
e a a todos os irmãos e irmãs em Cristo, “Do
Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da
Bitínia”. (cf. 1Pd 1,1)

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Sumário

INTRODUÇÃO.................................................................................................. 9
1. Carta..........................................................................................................................9
2. Saudação inicial .....................................................................................................10

CAPÍTULO I – A IGREJA PRIMITIVA, MARIA E OS APÓSTOLOS.... 11


1. Votação e escolha na Igreja Primitiva.................................................................11
2. A autoridade máxima da Igreja em Jerusalém e a missão................................14
3. A missão de Maria Madalena...............................................................................15
4. O primado de Pedro e a escolha de Jesus...........................................................17
5. A Igreja não é um “movimento”..........................................................................19
CAPÍTULO II – A IGREJA PRIMITIVA, JESUS E OS APÓSTOLOS..... 23
1. Os apóstolos e a Igreja...........................................................................................23
2. A autoridade de Jesus............................................................................................24
3. Cura e expulsão dos demônios.............................................................................26
4. A ressurreição dos mortos....................................................................................30
5. Sinais e prodígios...................................................................................................30
6. Atividade dos apóstolos.........................................................................................32
7. História e mito........................................................................................................34
8. Métodos diacrônico e sincrônico.........................................................................35
9. Paulo........................................................................................................................36
O protagonismo na Igreja primitiva........................................................................38
O louvor e a oração....................................................................................................38

CAPÍTULO III – A IGREJA PRIMITIVA E PAULO.................................. 41


1. A Igreja primitiva e Paulo.....................................................................................41
2. A Igreja nas comunidades primitivas presididas por Paulo.............................42
3. As mulheres nas comunidades primitivas presididas por Paulo.....................45
4. Os dons nas comunidades primitivas presididas por Paulo.............................46
5. O discernimento espiritual...................................................................................47

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6. Os exemplos das mulheres....................................................................................48
7. Mistério da unidade...............................................................................................50

CAPÍTULO IV – EXPERIÊNCIA PASTORAL E PESSOAL..................... 53


1. Experiência pastoral e pessoal..............................................................................53
2. O papel das mulheres............................................................................................53
3. Hierarquia...............................................................................................................55

CONCLUSÃO.................................................................................................. 57
1. Autoridade de Pedro..............................................................................................57
2. Pedro e Paulo..........................................................................................................58
3. Desejo pessoal........................................................................................................59
4. Saudação final.........................................................................................................59

POST SCRIPTUM............................................................................................ 61
1. Multiplicação dos pães e dos peixes e partilha...................................................61
2. Expulsão dos demônios e curas...........................................................................64
3. O fato da ressurreição............................................................................................67
4. O fim da teologia?..................................................................................................68
5. Últimos tempos......................................................................................................68
6. Papa Francisco........................................................................................................69
7. Datação....................................................................................................................69
8. Autoria.....................................................................................................................69

BIBLIOGRAFIA............................................................................................... 71

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INTRODUÇÃO

1. Carta
Irmãos e irmãs em Cristo, escrevo essa “carta”1 por ocasião da
XIX Semana Teológica da Faculdade Católica de Fortaleza, ocorrida
entre 20 e 22 de outubro de 2021, na qual se refletiu sobre O Ca-
minho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva, entre outros assuntos
abordados.
Durante o encontro muitas idéias foram lançadas em terreno fér-
til, e, talvez, em outros não tão férteis assim, sobre como seria esse re-
torno à Igreja Primitiva e o que fazer enquanto caminho sinodal (cf.
Mc 4,1-9.10-12.13-20; Mt 13,1-9.10-15.18-23; Lc 8,4-8.9-10.11-15).
Apresento, aqui, minhas reflexões em tempo recorde2 acerca do
evento e os assuntos nele abordados. Que o bom Deus nos abençoe,
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Que Maria Santís-
sima nos acompanhe nesse caminho, como Jesus acompanhou dois
dos seus discípulos (cf. Lc 24,13-35). Ela que é Filha, Esposa e Mãe
de Jesus, da Igreja e de todos nós (cf. Ap 12,1-6). Ele, que é Deus e
Filho de Deus (cf. Jo 20,31; Mc 1,1).
Esse pequeno livro não tem pretensões de ser um artigo científi-
co, mas uma simples carta, como aquelas escritas por Pedro, Paulo,

Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012.


1

pp. 550.962.
Vinte dias.
2

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Tiago, João, sobre a vida da Igreja e na Igreja primitiva (“Paulo, servo


de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo... a vós todos que estais
em Roma”3; “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos entrangeiros da
Dispersão”4; “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze
tribos da Dispersão”5; “O Ancião à Senhora eleita e a seus filhos”6).
O conteúdo é profundamento bíblico e teológico incidindo sobre
o tempo no qual vivemos, o caminho sinodal pretendido pelo Papa
Francisco, sobre o que podemos e/ou não podemos fazer e mudar
enquanto Igreja, sobre o retorno à Igreja primitiva. Não esqueçamos
o discernimento, que é dom do Espírito Santo.
É uma carta endereçada a todo o povo de Deus. O estilo é oral,
como nas comunidades primitivas.
Apresento aqui minhas reflexões.

2. Saudação inicial
Fernando, “Servo de Cristo Jesus, chamado para ser presbítero,
escolhido para anunciar o Evangelho de Deus7, a vós todos, amados
de Deus e chamados à santidade, graça e paz a vós da parte de Deus,
nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (cf. Ef 1,2; Rm 1,1.7; 1Pd 1,2).

Cf. Rm 1,1.7.
3

Cf. 1Pd 1,1.


4

Cf. Tg 1,1.
5

Cf. 2Jo 1,1.


6

Desde o ventre materno (cf. Jr 1,5; Is 49,1-5; Lc 1,15).


7

10

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CAPÍTULO I

A IGREJA PRIMITIVA,
MARIA E OS APÓSTOLOS

1. Votação e escolha na Igreja Primitiva


Verdade que na Igreja Primitiva o grupo dos onze apóstolos
perseverava na oração em comunhão com algumas mulheres, en-
tre as quais Maria, a Mãe de Jesus, e seus irmãos, parentes (cf. At
1,12-14)1? Sim, verdade e mais do que verdade: ótimo que a Mãe de
Deus2 estava presente, como esteve presente em Pentecostes (cf. 2,1-
13), e estará presente em toda a vida da Igreja e na Igreja (cf. “Ma-
ria, a primeira discípula de Jesus” 3; Lc 1,38: Ἰδοὺ ἡ δούλη κυρίου·
γένοιτό μοι κατὰ τὸ ῥῆμά σου “A serva do Senhor”; Lc 8,21 Μήτηρ
μου καὶ ἀδελφοί μου οὗτοί εἰσιν οἱ τὸν λόγον τοῦ θεοῦ ἀκούοντες

1
Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012.
pp. 394-396; Dillon, R. J. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testa-
mento e artigos sistemáticos. Atos dos apóstolos, São Paulo, Paulus, 2018. pp.
317-322.
“Mãe de Deus” θεοτόκος, ου, s. f. (Pereira, I., S.J., Dicionário Grego ‒ Portu-
2

guês e Português ‒ Grego, Braga, Livraria Apostolado da Imprensa, 1998. p.


265).
Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. p.
3

332.

11

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καὶ ποιοῦντες “A que ouve a Palavra de Deus e a põe em prática”; cf.


Lc 2,19.51; “A Mãe do Filho do Altíssimo”; cf. Lc 1,32).
Verdade que, depois de Pentecostes, o grupo dos apóstolos co-
meçou a pregar e a evangelizar, Pedro à frente (cf. At 2,14-36; 3,11-
26; 4,1-22; 10,1-48), João (3,11-26), Filipe (8,4-40), Paulo (9,19b-
25), Barnabé (13‒14), Silas, Timóteo e Apolo4 (15,36‒19,20)? Sim,
verdade e mais do que verdade: em Pentecostes tal grupo já era
constituído por doze, tendo Matias sido escolhido por sorte (cf. At
1,23-26; 2,1-13: “Estavam todos reunidos no mesmo lugar”)5.
Não era votação ou um processo democrático: “Apresentaram
dois, José, chamado Barsabás e cognominado o Justo e Matias e fi-
zeram esta oração: ‘Tu, Senhor, que conheces o coração de todos,
mostra-nos qual destes dois escolheste para ocupar o lugar que Judas
abandonou, no ministério do apostolado, para dirigir-se ao lugar que
era o seu” (cf. At 1,23-25)6.
Prestemos atenção, é o Senhor quem escolhe: “Tu, Senhor, que
conheces o coração de todos”, não os apóstolos (cf. At 1,24)7.
“Lançaram as sortes sobre eles, e a sorte veio a cair em Ma-
tias, que foi, então, associado ao grupo dos onze apóstolos καὶ

Entre outros.
4

Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012.


5

pp. 322-325.
“Retirou-se e foi enforcar-se” (cf. Mt 27,3-10; At 1,18-19; 26,15; Dt 27,25).
6

Cf. a escolha de Abraão, de Jacó/Israel, de Davi, de Samuel, Sansão e tantos


7

outros em Gn 12,1-3; 25,19-34; 32,23-33; 1Sm 3,1-21; 16,1-13; Jz 13. Cf. We-
nham, G. WBC 2, Genesis 16‒50, Dalas, Word Incorporated, 1994. pp. 170-
181; Klein, R. W. WBC 10, 1Samuel, Nashville, Word Incorporated, 1983. pp.
157-162.

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

ἔδωκαν κλήρους αὐτοῖς καὶ ἔπεσεν ὁ κλῆρος ἐπὶ Μαθθίαν καὶ


συγκατεψηφίσθη μετὰ τῶν ἕνδεκα ἀποστόλων”8 (cf. At 1,26).
Primeiramente, eles rezam (o primado da oração no processo da
escolha), depois, entregam ao Senhor a escolha (primado do Senhor
no processo da escolha), e, finalmente, lançam a sorte para saber
quem é o escolhido (primado da “sorte” no processo da escolha; cf.
At 1,23-26).
Portanto, não um processo democrático que escolhe seus repre-
sentantes através do voto, seja por maioria simples ou absoluta, mas
um processo oracional, de entrega absoluta ao Senhor e... A sorte!
Interessante! A Igreja, no início, não era uma democracia popular
que escolhia seus representantes através do voto, direta ou indire-
tamente! Hoje, queremos decidir tudo na Igreja através do voto...
Ou não?
Parece que mudou um pouco.
Que tal usar a “sorte”, hoje, na escolha dos apóstolos? E o que
dizer, então, do dom das línguas, também presente na Igreja pri-
mitiva? Maria estava presente e juntamente com os doze e algumas
mulheres falavam em outras línguas λαλεῖν ἑτέραις γλώσσαις, seja
qual for a explicação dada por “certos ‘eminentes teólogos’” acerca
do dom das línguas (cf. At 2,3-4; 1Cor 12,1-3.4-11.12-30; vv. 10.28;
14,2.4-6.9.13-14.18-19.23.26-27.39; Rm 12,6-8; Ef 4,11).
Se eles são eminentes, eu também o sou! Se eles são apóstolos,
também eu o sou: “São hebreus? Também eu. São israelitas? Tam-
bém eu. São descendentes de Abraão? Também eu. São ministros
de Cristo? Como insensato, digo: muito mais eu. Muito mais, pelas

Agora não mais os onze, mas doze, escolhido, o último, por sorte.
8

13

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fadigas, muito mais, pelas prisões, infinitamente mais, pelos açoites.


Muitas vezes, vi-me em perigo de morte” (cf. 2Cor 11,22-23; Gl 2,6-
10). São doutores? Digo eu: “Também o sou”9.
Mas, “Se é preciso gloriar-me, de minha fraqueza é que me glo-
riarei ... na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo
está crucificado para mim e eu para o mundo” (cf. 2Cor 11,30; Gl
6,14)10.

2. A autoridade máxima da Igreja


em Jerusalém e a missão
A verdade é que a autoridade máxima, em Jerusalém, na Igreja
primitiva, era Tiago (e não do grupo dos apóstolos)11, a autoridade
máxima da Igreja de Roma era Pedro (e não do grupo dos apósto-
los)12 e a autoridade máxima da Igreja das missões era Paulo (e não
do grupo dos apóstolos; cf. At 13,1‒19,20).
Hoje se fala tanto em missão, Igreja em saída, Igreja missionária.
Que bom seria retornar ao que Jesus pensava acerca da missão e
o modo como Pedro, Paulo e o grupo dos apóstolos empreendiam
essas missões: “Curai os doentes, expulsai os demônios”, pouco fa-
lado hoje em dia pelos padres sinodais (cf. Mt 10,1-16; Mc 3,8-9; Lc
9,1-6; 10,1-16.17-20; cf. Lc 10,18)13.

9
E mais do que doutor, “pós-doutor”, pela PUC-Rio.
10
Que tal não esquecermos a cruz nas nossas pregações e na nossa vida?
11
Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. p.
938.
12
Pedro em Roma, cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo,
Paulinas, 2012. pp. 394-396, citanto I Clemente 5.
13
Onde “Jesus liga sua missão e a missão da Igreja à queda de Satanás” (Brown,

14

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

Afinal, a Igreja não cura mais, nem expulsa os demônios? Os de-


mônios não existem mais14?
Quem não mais existe, os demônios ou um falso retrato de “teo-
logia”15, uma falsa teologia, um teologismo vago e sincrético, pós-
-moderno, se é que, ainda, posso usar essa terminologia?
Quem não mais existe, o demônio, ou certas “teorias teológicas”
infundadas e fundadas por certos “teólogos”?

3. A missão de Maria Madalena


Verdade que Maria Madalena foi uma das primeiras testemu-
nhas da ressurreição e do seu anúncio indo apressadamente e com
grande alegria proclamar aos discípulos (cf. Mt 28,1-8; Mc 16,1-8; Lc
24,1-10; Jo 20,1-18)16? Sim, verdade, e mais do que verdade, porém,

R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. pp. 210.274-


275.344-347; cf. Hagner, D. A. WBC 33a, Matthew 1‒13, Dallas, Word Incor-
porated, 1993. pp. 262-280; Guelich, R. A. WBC 34a, Mark 1‒8,26, Colombia,
Word Incorporated, 1989. pp. 141-151; Nolland, J. WBC 35a, Luke 1‒9,20, Co-
lombia, Word Incorporated, 1989. pp. 424-429).
14
O próprio Jesus o chama Σατανᾶ (cf. Mt 4,11). Ele se enganou? Quanto ao “Sa-
tan”, cf. Sternberg, M. The Poetics of Biblical Narrative. Ideological Literature
and the Drama of Reading, Bloomington, Indiana University Press, 1987. pp.
110.345.
15
Vazia.
16
Quanto ao anúncio da palavra de Deus ao mundo enquanto missão da Igreja,
cf. Exortação Apostólica Pós-sinodal Verbum Domini do santo padre Bento
XVI ao episcopado, ao clero, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos sobre
a palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, III parte, Verbum Mundo,
pp. 169-181 Libreria Editrice Vaticana, 2010, São Paulo, Paulinas, 2011.; cf.
Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. pp.
227-231.295-300. 369-370.489-492; Beasley-Murray, G. R. WBC 36, John,
Thomas Nelson Inc., 1999. pp. 364-391; Hagner, D. A. WBC 33b, Matthew

15

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o grupo inicial na Igreja era constituído por doze17, todos escolhidos


por Cristo, e o primeiro entre eles era Simão: “Tu és Pedro e sobre
esta pedra edificarei a minha Igreja σὺ εἶ Πέτρος, καὶ ἐπὶ ταύτῃ τῇ
πέτρᾳ οἰκοδομήσω μου τὴν ἐκκλησίαν” (cf. Mt 16,18)18.

14‒28, Nashville, Word Incorporated, 1995. pp. 461-475; Evans, C. A. WBC


34b, Mark 8,27‒16,20, Nashville ‒ Dallas, Thomas Nelson Inc., 2001. pp. 522-
540; Karris, R. J. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e
artigos sistemáticos. O Evangelho segundo Lucas, São Paulo, Paulus, 2018.
pp. 305-308.
Quanto ao grupo dos apóstolos: Simão, chamado Pedro, André, seu irmão,
17

Tiago, filho de Zebedeu, João, seu irmão, Filipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, o
publicano, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o zelota e Judas Iscariotes (cf.
Mt 10,2-4). Mateus altera a ordem dos quatro primeiros apóstolos do evange-
lho de Marcos: Pedro, Tiago, João, André (cf. Mc 3,16-18). Em Marcos, Jesus
impõe a Simão o nome de Pedro e a Tiago e João o nome de Boanerges (cf. vv.
16-17). Mateus antecipa Tomé a Mateus e a Tiago, filho de Alfeu. Em Marcos,
a ordem é: Mateus, Tomé, Tiago (cf. Mc 3,18). Lucas segue a ordem de Mateus
para os seis primeiros apóstolos (Simão Pedro, André, Tiago e João), segue a
ordem de Marcos para os cinco seguintes (Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé,
Tiago, o filho de Alfeu), antecipa Simão, o zelota, a Tadeu, (presente em Mar-
cos), não cita Tadeu, mas, Judas, filho de Tiago e, por fim, Judas Iscariotes, o
traidor (cf. Lc 6,14-16). Judas, o traidor, é sempre o último em Mt, Mc e Lc.
Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012.
18

pp. 282-283; Hagner, D. A. WBC 33b, Matthew 14‒28, Nashville, Word Incor-
porated, 1995. pp. 461-475. Certamente Jesus poderia ter nascido antes e ter
escolhido Paulo como chefe do grupo dos apóstolos e da Igrela. Afinal, Paulo
era culto, educado aos pés de Gamaliel (cf. At 22,3), cidadão romano (cf. 22,22-
29), conhecedor do grego (cf. 17,16-22a.22b-34), do hebraico (cf. 22,2), do ara-
maico (os judeus falavam aramaico; cf. 17,17a; 22) e do latim (cidadão romano;
cf. 23,23‒25,12). Mas, Deus não quis: “Quando chegou a plenitude do tempo
ὅτε δὲ ἦλθεν τὸ πλήρωμα τοῦ χρόνου Deus enviou o seu Filho ἐξαπέστειλεν ὁ
θεὸς τὸν υἱὸν αὐτοῦ, nascido de mulher γενόμενον ἐκ γυναικός, nascido sob a
Lei γενόμενον ὑπὸ νόμον, para resgatar os que estavam sob a Lei ἵνα τοὺς ὑπὸ
νόμον ἐξαγοράσῃ, a fim de que recebêcemos a adoção filial ἵνα τὴν υἱοθεσίαν

16

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

A missão de Madalena e das mulheres, testemunhas da ressur-


reição, era de anunciar aos “anunciadores”, a Pedro, aos discípulos e
ao discípulo amado, o que tinham visto e ouvido (cf. Mt 28,7-8; Mc
16,7; Lc 24,9; Jo 20,2).
E elas, apressadamente e com grande alegria, o fizeram e obede-
ceram (cf. Mt 28,8).

4. O primado de Pedro e a escolha de Jesus


Madalena anunciou a ressurreição à Pedro: o primado é de Pe-
dro (cf. o discípulo amado que dá a preferência a Pedro antes de
entrar no sepulcro; Jo 20,1-10)19.
Que bom seria não esquecermos a obediência ao evangelho, à
palavra de Deus e ao primado de Pedro.
Foi Jesus Cristo quem, livremente, escolheu o grupo dos doze,
instituindo e constituindo a Igreja τὴν ἐκκλησίαν, a sua Igreja (“a
minha Igreja” μου τὴν ἐκκλησίαν; cf. Mt 16,18)20.

ἀπολάβωμεν” (cf. Lc 1,26-38; Mt 1,18-25; Jo 1,14). Foi o Pai quem decidiu o


tempo de Jesus nascer e se encarnar (“When the time set by God had reached
its full term” (Zerwick, M. ‒ Grosvenor, B. A Gramatical Analysis of the Greek
New Testament, Gregorian University Press, 1993. p. 571). E o escolhido foi o
galileu, pescador e habitante de Cafarnaum (cf. Mc 1,16-18.29-31.35-39; 2,1; Lc
4,38-39.42-44; 5,1-11; Mt 8,14-15; 9,1). O escolhido foi Pedro.
19
Quanto ao fato do discípulo ser chamado discípulo amado: “A primeira cena
(Jo 20,3-10) envolve Simão Pedro e o Discípulo Amado” (Brown, R. E. Intro-
dução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. p. 489).
20
Mateus apresenta no seu evangelho cinco discursos (sermões): da montanha
(Mt 5,3‒7,27), da missão (10,5-42), das parábolas (13,3-52), da Igreja (eclesio-
lógico; 18,1-35) e o escatológico (24,4‒25,46; cf. Brown, R. E. Introdução ao
Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. p. 263, nota 2; cf., também, idem,
p. 355, “Sermão sobre a Igreja, dirigido aos discípulos”, ἡ ἐκκλησία). Se Ma-

17

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A Igreja ἡ ἐκκλησία é de Cristo (cf. Mt 16,18).


Vejam bem, τὴν ἐκκλησίαν está no acusativo feminino singular
(cf. Mt 16,18). É “uma Igreja” (no singular, “uma”), e “Somente atra-
vés da Igreja Católica de Cristo, auxílio geral de salvação, pode ser
atingida toda a plenitude dos meios de salvação. Cremos, também,
que o Senhor confiou todos os bens do Novo Testamento ao único
colégio apostólico, à cuja testa está Pedro, a fim de constituir na ter-
ra um só corpo de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem
plenamente todos os que, de alguma forma, pertencem ao povo de
Deus”21.
“Somente através da Igreja Católica de Cristo, auxílio geral de
salvação, pode ser atingida toda a plenitude dos meios de salva-
ção”22. A “Igreja Católica de Cristo”, ou me engano? Interpreto erra-
do? Corrijam-me!
Observem novamente: “Único Colégio Apostólico, à cuja testa
está Pedro”23.
Mais: “Jesus Cristo quer que seu povo cresça sob a ação do Espí-
rito Santo, através da fiel pregação do Evangelho e da administração
dos sacramentos, e mediante um governo amoroso, realizado pelos
apóstolos e seus sucessores ‒ bispos – e o sucessor de Pedro como
chefe. E ele próprio através de tudo isso e por obra do mesmo Es-
pírito, realiza a comunhão na unidade: na confissão de uma única

teus apresenta um sermão eclesiológico, Jesus quis fundar uma Igreja.


21
Decreto Unitatis Redintegratio, cap. I: Princípios do Ecumenismo, Compên-
dio do Vaticano II. Constituições e Decretos, 31ª. edição, Introdução e Índice
analítico, Kloppenburg, B., O.F.M., pp. 313-314.
22
Ibidem.
23
Ibidem.

18

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

fé, na comum celebração do culto divino e na fraterna concórdia da


família de Deus”24.
“Fiel pregação do Evangelho”25, “Administração dos sacramen-
tos”26, “Confissão de uma única fé”27, “Única Igreja de Cristo” (cf. Mt
16,18). Me engano novamente?
Mediante uma escolha livre e pessoal, dentro do grupo dos após-
tolos, Jesus Cristo escolheu três para estarem com Ele, em momen-
tos decisivos: Pedro, Tiago e João (cf. Mt 17,1-8; 26,36-46; Mc 9,2-8;
14,32-42; Lc 9,28-36; 22,40-46).

5. A Igreja não é um “movimento”


Desde então, a Igreja não é somente um “movimento”, como afir-
mam certos teólogos. A Igreja foi querida, escolhida, pretendida e
edificada por Jesus Cristo, tendo Pedro por chefe, a rocha τῇ πέτρᾳ
(cf. Mt 16,18): “E Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edi-
ficarei a minha Igreja” κἀγὼ δέ σοι λέγω ὅτι σὺ εἶ Πέτρος, καὶ ἐπὶ
ταύτῃ τῇ πέτρᾳ οἰκοδομήσω μου τὴν ἐκκλησίαν: quem edifica é
Cristo (cf. Mc 8,27-30; Lc 9,18-21).
Jesus escolheu livremente. Não é meritocracia. É só prestar bem
atenção de que modo era formado o grupo dos apóstolos e a escolha
de Pedro e dos doze (cf. Mt 10,2-4; Mc 3,16-19; Lc 6,13-16; At 1,13).

24
Ibidem.
25
Ibidem.
26
Ibidem.
Ibidem.
27

19

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Pe. Fernando César Chaves Reis

Eram pessoas comuns, pescadores, pecadores da Galiléias, ou


não (cf. o chamado de Pedro, André, Tiago e João junto ao mar da
Galiléia em Mc 1,16-20; Mt 4,18-22; Lc 5,1-11)?
O papel das mulheres e de Madalena foi muito importante (e
sempre será), porque é o primeiro anúncio da ressurreição aos após-
tolos, aos discípulos, à Pedro e ao grupo dos onze (cf. Lc 24,9-12)28.
Judas já tinha partido: “Ao voltarem do túmulo, anunciaram tudo
isso aos onze, bem como a todos os outros” (cf. Mc 16,7-8; 27,3-10;
At 1,18-19). Observem o “jovem” νεανίσκος que ordena às mulhe-
res de anunciarem aos discípulos e a Pedro (cf. Mc 16,5), o anjo que
ordena às mulheres de anunciarem aos discípulos (cf. Mt 28,7-10),
Madalena que corre, vai a Simão Pedro e ao outro discípulo, aquele
que Jesus amava (cf. Jo 20,2)29.
O papel de Madalena e das outras mulheres é fundamental, mas
é Pedro quem toma a iniciativa e a Palavra (cf. o discurso de Pe-
dro à multidão e as primeiras conversões: “Pedro, então, de pé, jun-
to com os onze, levantou a voz e assim lhes falou”; cf. At 2,14-36).
Pedro está presente, juntamente com os onze, levanta a voz e fala

28
Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012.
pp. 369-370; Karris, R. J. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testa-
mento e artigos sistemáticos. O evangelho segundo Lucas, São Paulo, Paulus,
2018. pp. 305-308. Sem falar na participação das mulheres ao longo da vida
pública de Jesus: “Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes, Susana e
várias outras, que o serviam com seus bens” (cf. Lc 8,1-3).
Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012.
29

pp. 231.297.298-300.396-397.489-490; Beasley-Murray, G. R. WBC 36, John,


Thomas Nelson Inc., 1999. pp. 53-60; Evans, C. A. WBC 34b, Mark 8,27‒16,20,
Nashville ‒ Dallas, Thomas Nelson Inc., 2001. pp. 522-540; Hagner, D. A.
WBC 33b, Matthew 14‒28, Nashville, Word Incorporated, 1995. pp. 865-889.

20

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

(princípio da autoridade de Pedro perante o grupo dos apóstolos, na


primeira pregação no livro dos Atos). O primado é seu30.

Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012.


30

pp. 397-400; Dillon, R. J. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testa-
mento e artigos sistemáticos. Atos dos apóstolos, São Paulo, Paulus, 2018. pp.
325-337.

21

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CAPÍTULO II

A IGREJA PRIMITIVA,
JESUS E OS APÓSTOLOS

1. Os apóstolos e a Igreja
É por meio de sua palavra (e a dos apóstolos) que muitos se con-
vertem (cf. cf. At 2,37-41), que são operados prodígios e sinais (cf.
v. 43), que alguns são curados (“Pedro e João curam um aleijado
sentado à porta do templo”: cf. 3,1-10).
Os apóstolos fazem e realizam o que Jesus fez e realizou. Favor
não esquecer as curas e as expulsões dos demônios operados por Je-
sus nos Evangelhos: expulsão do demônio em Cafarnaum, Jesus de-
monstrando sua autoridade (cf. Mc 1,21-281), Maria Madalena, da
qual haviam saído sete demônios Μαρία ἡ καλουμένη Μαγδαληνή,
ἀφ᾽ ἧς δαιμόνια ἑπτὰ ἐξεληλύθει2 (cf. Lc 8,1-3; cf. Mc 1,21-28; 5,1-
20; 9,14-29; Lc 4,31-37; Mt 8,28-34; 9,32-34; Lc 8,22-25; Mt 17,14-
21; Lc 9,37-42; At 3,1-10).

Cf. Guelich, R. A. WBC 34a, Mark 1‒8,26, Colombia, Word Incorporated,


1

1989. pp. 141-151.


Próprio de Lucas.
2

23

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2. A autoridade de Jesus
A autoridade de Jesus no Evangelho de Marcos (e nos sinóticos)
se manifesta no ensino, na pregação, na cura e na expulsão dos de-
mônios: cura da sogra de Pedro (Mc 1,29-31), diversas curas em
Cafarnaum (1,32-34), cura de um leproso (1,40-45), cura de um pa-
ralítico e perdão dos pecados (2,1-12)3.
Jesus ensina, cura e expulsa os demônios. Cura e expulsa pela
palavra e pela ação (cf. o significado da palavra dabar em hebraico;
cf. Gn 1,1-3)4.

3
Cf. Neirynck, F. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e
artigos sistemáticos. O problema sinótico, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 49-63;
Harrington, D. J., S.J., Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testa-
mento e artigos sistemáticos. O evangelho segundo Marcos, São Paulo, Pau-
lus, 2018. pp. 65-129; Stock, K., S.I., Marco. Commento contestuale al secondo
vangelo, Roma, Edizioni ADP, 2003. p. 17-28; cf. Mt 8,2-4.14-15.16; 9,1-8; Lc
4,38-39.40-41; 5,12-16.17-26. Quanto às instruções sobre a lepra no AT e no
livro do Levítico, cf. Hartley, J. E. WBC 4, Leviticus, Thomas Nelson, 1992.
pp. 170-201. Jesus ensina e expulsa um espírito impuro em uma sinagoga em
Cafarnaum no dia de sábado (cf. Mc 1,21-28; Lc 4,31-37), cura de um homem
com a mão atrofiada (Mc 3,1-6; cf. Mt 12,9-14; Lc 6,6-11), Jesus dá autoridade
aos discípulos para expulsar os demônios e curar os doentes (cf. Mc 3,15; 6,13),
o endemoninhado geraseno (Mc 5,1-20; cf. Mt 8,28-34; Lc 8,26-39), cura da
hemorroíssa e ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,21-43; cf. Mt 9,18-26; Lc
8,40-56), diversas curas na região de Genesaré (Mc 6,53-56; cf. Mt 14,34-36),
expulsão do demônio da filha de uma siro-fenícia (Mc 7,24-30; cf. Mt 15,21-
28), cura de um surdo-gago (cf. Mc 7,31-37), cura de um cego em Betsaida (cf.
Mc 8,22-26), o endemoninhado de Mc 9,14-29 (cf. Mt 17,14-21; Lc 9,37-42),
cura de um cego à saída de Jericó (Mc 10,46-52; cf. Mt 20,29-34; Lc 18,35-43).
Cf. GLAT II, dbr Bergman, J., Brescia, Paideia, 2002. pp. 96-106; GLAT II,
4

dbr Lutzmann, H., Brescia, Paideia, 2002. pp. 106-109; GLAT II, dbr Schmidt,
W.H., Brescia, Paideia, 2002. pp. 109-144.

24

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

Além das curas e expulsões, Jesus realiza prodígios e sinais: acal-


ma a tempestade (cf. Mc 4,35-41; Mt 8,18.23-27; Lc 8,22-25; Jn 1,4-
16), multiplica os pães (Mc 6,30-44; 8,1-10; Mt 14,13-21; Lc 9,10-17;
Mt 15,32-39; Jo 6,1-13), caminha sobre as águas (Mc 6,45-52; Mt
14,22-23; Jo 6,16-21).
Ele cura, ensina, expulsa os demônios, realiza prodígios e per-
doa os pecados (cf. Mc 2,1-12; Mt 9,1-8; Lc 5,17-26; Jo 20,19-23)5.
É essa a sua missão segundo o Evangelho de Marcos, os sinóticos e
a missão da Igreja no Concílio Ecumênico Vaticano II: “Através da
fiel pregação do Evangelho e da administração dos sacramentos”6.
Devemos anular as curas, a expulsão dos demônios, o perdão
dos pecados e o ensinamento do Vaticano II? O que falar do Decreto
Unitatis Redintegratio, Capítulo I, acerca dos “Princípios do ecume-
nismo” e da “Administração dos sacramentos”7?
Como ficam os testemunhos presentes em Jo 20,22b-23: “Recebei
o Espírito Santo, aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão
perdoados, aqueles aos quais retiverdes, ser-lhes-ão retidos”, a cura

Em João este perdão é extendido ao grupo dos discípulos (cf. Jo 20,22-23).


5

Quanto à expulsão dos demônios no evangelho de Marcos: “Em meu nome


expulsarão demônios” (cf. Mc 16,17-18).
Inclusive o perdão dos pecados; cf. o Decreto Unitatis Redintegratio, cap. I:
6

Princípios do Ecumenismo, Compêndio do Vaticano II. Constituições e De-


cretos, 31ª. edição, Introdução e Índice analítico, Kloppenburg, B., O.F.M., p.
311.
Cf. o Decreto Unitatis Redintegratio, cap. I: Princípios do Ecumenismo, Com-
7

pêndio do Vaticano II. Constituições e Decretos, 31ª. edição, Introdução e Ín-


dice analítico, Kloppenburg, B., O.F.M., pp. 310-317.

25

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de um homem com a mão atrofiada (cf. Mc 3,1-6), a cura e expulsão


dos espíritos impuros (cf. Mc 3,10-11)8?

3. Cura e expulsão dos demônios


A expulsão dos demônios era somente uma espécie de cura ou
“epilepsia”, como pretendem alguns “teólogos”, confundindo “cura”
com “expulsão”, ou, realmente, existiu?9
Analisando o texto de Mc 1,34 (cf. 6,13; Mt 8,16), Jesus curava
θεραπεύω e expulsava ἐκβάλλω os demônios. O texto grego usa dois
verbos, θεραπεύω para a cura, ἐκβάλλω para a expulsão10.
Se a expulsão dos demônios é somente cura, então, por que usar
dois verbos diferentes ἐκβάλλω e θεραπεύω para a descrição e inter-
pretação do mesmo fenômeno e/ou fato histórico?
Os exorcismos apresentam toda uma atmosfera de violência e
hostilidade, impureza, gritos, agitação, que não estão presentes no
fenômeno das curas (cf. Mc 1,21-28; 5,1-20; 9,14-29; cf. Lc 4,31-37;
Mt 8,28-34; Lc 8,22-25; Mt 17,14-21; Lc 9,37-42; At 3,1-10)11.

8
Cf. Beasley-Murray, G. R. WBC 36, John, Thomas Nelson Inc., 1999. pp. 364-
391; Guelich, R. A. WBC 34a, Mark 1‒8,26, Colombia, Word Incorporated,
1989. pp. 130-141.141-151.
9
Se confundirmos “cura” com “expulsão”, essa afirmação suscita, a nível exe-
gético e hermenêutico, alguns questionamentos e perguntas que devem ser
respondidos.
10
Cf. o verbo βάλλω com o prefixo ἐκ, significando “movimento de dentro para
fora, com violência”. O mesmo ocorre nos outros evangelhos sinóticos. Cf. Mt
9,33: καὶ ἐκβληθέντος τοῦ δαιμονίου ἐλάλησεν ὁ κωφός. καὶ ἐθαύμασαν οἱ
ὄχλοι λέγοντες, Οὐδέποτε ἐφάνη οὕτως ἐν τῷ Ἰσραήλ (verbo ἐκβάλλω).
11
Cf. o pequeno exorcismo do papa Leão XIII; De Exorcismis et Supplicationibus
Quibusdam, Congregatio de cultu divino et disciplina sacramentorum, Città

26

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

O possesso grita, conhece Jesus, o Senhor responde, ordena que


saia, o espírito sai (cf. Mc 1,21-28). Podemos pensar em cinco passos
específicos: “Gritar, conhecer, responder, ordenar e sair” em um es-
quema de comando‒obediência (cf. Lc 4,31-37; Mt 8,28-34)12.
Por fim, Jesus ordena e o espírito sai (cf. Mc 1,25-26; Lc 4,35).
Esses cinco passos específicos e o esquema de comando‒obediência
presentes nas expulsão(ões) do(s) demônio(s), não estão presentes
nos relatos das curas.
Em outras ocasiões, o possuído habita nas tumbas, ninguém
consegue dominá-lo, nem mesmo com correntes. Preso com gri-
lhões e algemas, arrebenta os grilhões e quebra as algemas (“am-
biente de violência”). Perambula pelas tumbas e pelas montanhas,
dando gritos e ferindo-se com pedras (“ambiente hostil”). Corre,
prostra-se diante de Jesus, clama em alta voz, grita novamente, re-
conhece Jesus, pede para não ser atormentado. Jesus ordena que saia
e pergunta-lhe o nome (cf. Mc 5,1-20; Mt 8,28-34; Lc 8,26-39)13. Por

del Vaticano, Libreria Editrice Vaticana, 2004; cf. também, Niehr, H., Il con-
testo religioso dell’Israele antico, Paideia, 2012. p. 144. Cf. o que disse o papa
Francisco sobre o demônio na paróquia romana de são Crispim de Viterbo,
no dia 03 de março de 2019: “Nosso maior inimigo, o diabo, pai da mentira”;
cf. João Paulo II: “Lutar contra o demônio” (visita à Puglia, 24 de maio de
1987), João XXIII: “Não podemos negar a existência do maligno” (conclusão
do ano centenário das aparições de Lourdes), o papa Paulo VI: “Ação diabó-
lica” (audiência de 15 de novembro de 1972) e o papa Bento XVI: “O mal, o
demônio” (viagem ao Líbano, 2012)”; fonte, Vatican News (20 de março de
2019) https://www.vaticannews.va/pt.html.
12
Mais adiante veremos que são sete os passos (n. 144 ao n. 151).
13
Esse ambiente hostil e de violência não existe nas curas; cf. Guelich, R. A.
WBC 34a, Mark 1‒8,26, Colombia, Word Incorporated, 1989. pp. 271-.289.

27

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fim, saem14 e entram nos porcos (cf. Mc 5,13: “ambiente impuro” καὶ
ἐξελθόντα τὰ πνεύματα τὰ ἀκάθαρτα).
Algumas vezes o espírito é mudo, atira o possuído no chão. Ele
espuma, range os dentes e fica rígido. O espírito agita o “menino”15,
que cai por terra, rola espumando e o atira ao fogo. Jesus ordena que
saia, e o espírito, gritando e agitando-o violentamente, sai (cf. Mc
9,14-29; Mt 17,14-21; Lc 9,37-42).
No Evangelho de Marcos, somente o demônio conhece Jesus,
embora imperfeitamente (cf. Mc 1,24; 5,6; Lc 4,34; 8,28; Mt 8,29) e
diz quem Ele é16. Nas curas, esse fato não ocorre (cf. Mc 1,29-31.40-
45; 2,1-12; 3,1-6; 5,21-43; 6,53-56; 7,24-30.31-37; 8,22-26; 10,46-52;
cf. At 3,1-10). “O primeiro dos vinte e um milagres lucanos, sinais
de poder, é um exorcismo”17 (cf. Lc 4,31-38). No evangelho de Lucas,
“Jesus lutará contra muitos demônios”18.
Uma última observação, em Marcos 1,34, Jesus ἐθεράπευσεν
πολλοὺς κακῶς ἔχοντας ποικίλαις νόσοις καὶ δαιμόνια πολλὰ
ἐξέβαλεν Jesus “Curou muitos doentes de diversas enfermidades
e expulsou muitos demônios” (cf. Mc 6,13; Mt 8,16). A partícula
(conjunção) καὶ, no grego, em Mc 1,34, é aditiva em um período

14
São muitos (cf. Mc 5,13).
15
Cf. Mc 9,17.24, o “filho”, τοῦ παιδίου.
16
“O conhecimento que os demônios têm de Jesus, apesar de conter um título
verdadeiro não capta o mistério de sua pessoa (o qual, conforme veremos, im-
plica sofrimento e morte)” (cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento,
São Paulo, Paulinas, 2012. p. 209.
17
Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. p.
342.
18
Ibidem.

28

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

composto por coordenação19: Jesus cura doentes καὶ “e” expulsa os


demônios. Se é aditiva por coordenação, acrescenta algo20. São duas
realidades distintas (... καὶ ...)21, curar e expulsar.
O que falar, então, da cura da hemorroíssa e da ressurreição da
filha de Jairo (cf. Mc 5,21-43; Mt 9,18-26; Lc 8,40-56), das diversas
curas na região de Genezaré (Mc 6,53-56; Mt 14,34-36), da cura da
filha de uma siro-fenícia (Mc 7,24-30; Mt 15,21-28), da cura de um
surdo-gago (Mc 7,31-37), da cura do cego de Betsaida (Mc 8,22-26),
do cego à saída de Jericó (Mc 10,46-52; Mt 20,29-34; Lc 18,35-43;
cf. Jo 6)?
Por que não fazermos o mesmo? Por que não realizarmos curas
e expulsões dos demônios, hoje em dia?
Afinal, devemos retornar à Igreja primitiva (como um dos teólo-
gos sinodais sugeriu na semana teológica), ou a cura e expulsão dos
demônios não existem mais?
Por que não empreendermos o mesmo caminho, se somos uma
Igreja em saída e missionária? Não foi esse o discurso de Jesus22 em
Mateus 10,8 (discurso missionário, sermão da missão): “Curai os
doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os de-
mônios, de graça recebestes, de graça dai”, ἀσθενοῦντας θεραπεύετε,

19
Cf. Mc 6,13; Mt 8,16; cf. Balz, H. ‒ Schneider, G. Dizionario Esegetico del Nuo-
vo Testamento. Introduzione allo studio della Bibbia 15, Paideia, 2004. pp.
1846-1850; Zerwick, M. ‒ Grosvenor, B. A Gramatical Analysis of the Greek
New Testament, Gregorian University Press, 1993. pp. xv-xvi.
20
“Curar e expulsar os demônios, “curar + expulsar os demônios”.
21
Uma ao lado da outra.
22
Quando do envio dos doze; cf. o discurso missionário (Mt 10,1-17; Lc 9,1-6; Mc
6,7-13); cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas,
2012. pp. 274-275.

29

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νεκροὺς ἐγείρετε, λεπροὺς καθαρίζετε, δαιμόνια ἐκβάλλετε· δωρεὰν


ἐλάβετε, δωρεὰν δότε)? Jesus ordena a cura, a ressurreição dos mor-
tos, a purificação dos leprosos, a expulsão dos demônios e a Igreja
primitiva curava, ressuscitava, purificava e expulsava os demônios
(cf. Mt 10,9-14; Lc 9,1-6; Mc 6,7-13; At 9,36-43). Hoje, não mais.

4. A ressurreição dos mortos


A ressurreição dos mortos também não existiu? E como ficam
os textos dos evangelhos de Marcos (cf. Mc 16,1-8), Mateus (cf. Mt
28,1-8), Lucas (cf. Lc 24,1-10), João (cf. Jo 20,1-10), Atos (cf. At 9,36-
43), o anúncio de Paulo (“O fato da ressurreição” em 1Cor 15) e a
nossa profissão de fé: “Creio na ressurreição dos mortos” (cf. a so-
lene profissão de fé, na conclusão do “Ano da fé”, proclamada pelo
santo papa Paulo VI, por ocasião do XIX centenário do martírio de
Pedro e Paulo, na praça são Pedro, em Roma, o “Credo do povo de
Deus”, proferida no dia 30 de junho de 1968)?
Quem afirma que não existe o fato da ressurreição, juntamente
com a expulsão dos demônios e as curas, deve demonstrar de forma
clara, sucinta e objetiva, seguindo e segundo critérios metodológi-
cos e argumentos hermenêuticos precisos e com fundamento.

5. Sinais e prodígios
No livro dos Atos dos Apóstolos, Pedro e João comparecem
diante do sinédrio, são julgados e respondem com intrepidez (cf.
At 4,1-22; v. 13), como Jesus também foi, respondeu ao sumo sa-
cerdote e levou uma bofetada de um dos guardas presentes (cf.

30

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

Jo18,19-23 εἷς παρεστηκὼς τῶν ὑπηρετῶν ἔδωκεν ῥάπισμα τῷ


Ἰησοῦ εἰπών, Οὕτως ἀποκρίνῃ τῷ ἀρχιερεῖ)23.
É pela mão dos apóstolos que se realizam numerosos sinais e pro-
dígios no meio do povo. Quando Pedro passava, levavam os doentes
para as ruas, colocavam-nos sobre os leitos e as macas, para que ao
menos sua sombra cobrisse algum deles ἐκφέρειν τοὺς ἀσθενεῖς καὶ
τιθέναι ἐπὶ κλιναρίων καὶ κραβάττων, ἵνα ἐρχομένου Πέτρου κἂν ἡ
σκιὰ ἐπισκιάσῃ τινὶ αὐτῶν (cf. At 5,12-15; Mc 6,53-56)24. Traziam
os enfermos e atormentados pelos espíritos impuros πνευμάτων
ἀκαθάρτων e todos eram curados (cf. vv. 15-16). Os apóstolos são
presos, conduzidos ao sinédrio, libertados pelo “Anjo do Senhor”,
reconduzidos ao sinédrio e ameaçados de morte, testemunhando
Jesus como chefe e salvador ἀρχηγὸν καὶ σωτῆρα (cf. 5,31).
Os “Anjos” existem, ou também isso é mentira?25.

23
“Servo, assistente”; cf. Dillon, R. J. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo.
Novo Testamento e artigos sistemáticos. Atos dos apóstolos, São Paulo, Pau-
lus, 2018. pp. 337-342; Beasley-Murray, G. R. WBC 36, John, Thomas Nelson
Inc., 1999. pp. 308-364.
24
Cf. Dillon, R. J. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e
artigos sistemáticos. Atos dos apóstolos, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 337-342.
Cf. GLAT V, mlʼkh Fabry, H.-J., Brescia, Paideia, 2005. pp. 51-66.70-71; GLAT
25

V, mlʼkh Freedman, D.N. ‒ Willoughby, B.E., Brescia, Paideia, 2005. pp. 66-
70; GLAT VIII, śṭn Nielsen, K., Brescia, Paideia, 2008. pp. 705-712; GLNT
III, ἐκκεντέω Schlier, H., Brescia, Paideia, 2000. p. 322; GLNT II, Σατανᾶ,
διάβολος Foerster, W., Brescia, Paideia, 1966. pp. 921-926.1397-1429; GLNT II,
Σατανᾶ, διάβολος von Rad, G. ‒ Foerster, W., Brescia, Paideia, 1966. pp. 926-
934 (cf. Jz 6,11-24; 13,1-25; 1Rs 19,5.7; 1Cr 21,18; Tb 5,4.10.13.17; 6,2.4-5.7.11-
13.14.16.20; 8,2-3; 9,1.5; 11,2-4.7-8; 12,1-21; Is 6,1-10; Dn 8,15-27; 9,20-27; 10,9-
19; Mc 13,27; 16,1-8; Mt 1,18-25; 4,6.11; 24,31; 26,53; 28,1-8; Lc 1,5-25.26-38;
2,1-20; 4,10; 24,1-8; Jo 1,51; 20,11-18; At 5,17-21; 12,1-19; Ap 1,1.20; 2,1‒3,22;
5,11-12; 7,1-8.11-12; 8,4-5.6-13; 9,1‒12,17; 14,6-20; 15,1‒20,6; 21,9‒22,21; 1Ts

31

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Pe. Fernando César Chaves Reis

É muito importante o papel das mulheres na Igreja primitiva,


mas aqueles a quem os apóstolos impuseram as mãos foram sete
diáconos: Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo ἄνδρα
πλήρης πίστεως καὶ πνεύματος ἁγίου, Filipe, Prócor, Nicanor, Ti-
mon, Pármenas e Nicolau (cf. At 6,1-6.7-17; 7,1-54.55-60). O pri-
meiro deles se tornou proto-mártir (cf. 6,8‒7,60 καὶ τοῦτο εἰπὼν
ἐκοιμήθη; cf. v. 60).
Com Saulo perseguidor presente (cf. At 7,55-58; cf. 9,4 Σαοὺλ
Σαούλ, τί με διώκεις).
Saulo estava de acordo com aquela perseguição e execução (cf.
At 8,1).

6. Atividade dos apóstolos


Depois da morte de Estêvão, Filipe evangeliza a Samaria, junta-
mente com Pedro e João enviados pelos apóstolos e transmitindo o
Espírito Santo por meio da imposição das mãos (ainda hoje presen-
te no rito de ordenação; cf. At 8,14-17). Encontram Simão, o mago,
que lhes oferece dinheiro para receber o Espírito Santo e, depois,
chorar copiosamente (cf. vv. 4-24)26.
O mesmo Filipe, aconselhado pelo anjo, desce de Jerusalém à
Gaza e batiza, com água, um eunuco, funcionário de Candace,

4,16; Hb 1,1‒2,18).
Os apóstolos o encontram (cf. At 8,14-18). Quanto ao “chorar copiosamente”,
26

cf. Bezae Cantabrigiensis e Peschitta (“adições”; cf. Nestle ‒ Alland Novum


Testamentum Graece, post Eberhard et Erwin Nestle, Stuttgart, Deutsche Bi-
belgesellschaft, 1998. p. 343). Quanto à ordenação, cf. o rito da ordenação dos
presbíteros.

32

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

rainha da Etiópia (cf. At 8,26-27). O eunuco, então, sentado em sua


carruagem, lê o profeta Isaías (cf. vv. 26-39).
Filipe, “Arrebatato pelo Espírito do Senhor”, e não mais sendo
visto, vai para Azot e chega a Cesaréia (cf. At 8,40).
Enoc e Elias, no Antigo Testamento, também foram “arrebata-
dos” (cf. Gn 5,24; 2Rs 2,1-13; Eclo 48,9) ou o “arrebatamento” não
existe? Não é histórico? É ficção? E o que é a ficção, a realidade, o
fato bíblico, o mito e a história? O que aconteceu e o que não acon-
teceu? Quem pode dizer e afirmar?27.

O que é o histórico e o que é o gênero literário? Quanto à situação política


27

e religiosa da época do profeta Elias, cf. DeVries, S. J., WBC 12/1, 1 Kings,
XXI-XXIX, Waco, Words Book, 1985; 2R 2,11. Quanto ao arrebatamento de
Elias, cf. Joüon, P. ‒ Muraoka, Gramática del Hebreo Bíblico. Instrumentos
para el estudio della Biblia XVIII, Verbo Divino, 2007. pp. 160-161; 2Rs 2,14-
15, cf. Ska, J. L. I nostri padri ci hanno raccontato. Introduzione all’analisi dei
racconti dell’Antico Testamento, Bologna, EDB, 2012. p. 65. Quanto a Elias e
Eliseu, cf. GLAT IV, krml Mulder, M. J., Brescia, Paideia, 2004. p. 559; Efrat, S.
B., El arte de la narrativa nella biblia, Madrid, Ediciones Cristiandad, 2003. p.
65; Fokkelman, J.P., Come leggere un racconto biblico, Bologna, EDB 43, 2003.
p. 96; Ska, J. L. Le passage de la mer, Roma, Gregorian & Biblical Press, 1997.
p. 95; Idem, Spechi, lampade e finestre. Introduzione all’ermeneutica biblica,
Bologna, EDB, 2014. pp. 67-68; Blenkinsopp, J. Sapiente, sacerdote profeta,
Paideia, 2005. p. 193; Sweeney, M.A. I & II Kings. A Commentary, Old Testa-
ment Library, 2007. p. 233; Howard JR. An Introduction to the Old Testament
Historical Books, Moody Publishers, 2007. p. 196; cf. Wenham, G. WBC 1,
Genesis 1‒15, Dalas, Word Incorporated, 1987. pp. 119-134; Hobbs, T. R. WBC
13, 2 Kings, Waco, Word Incorporated, 1985. pp. 13-28; Walsh, J. T. ‒ Begg, C.
T. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Antigo Testamento. 1 e 2 Reis, São
Paulo, Paulus, 2018. p. 347-394; Di Lella, A. A. Novo Comentário Bíblico São
Jerônimo. Antigo Testamento. Eclesiástico (Sirácida), São Paulo, Paulus, 2018.
p. 1002; Alter, R. L’arte della narrativa biblica, Editrice Queriniana, 2014. pp.
187-226. “Narrativa di invenzione”, Idem, pp. 37-64.

33

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Pe. Fernando César Chaves Reis

7. História e mito
O que é o “histórico” e o que é o “mito”?28.
Certamente Gênesis 1-11 não pode e não deve ser considera-
do “histórico” como entendemos história, hoje. Mesmo porque o
conceito de história para o homem bíblico pós-exílico (narrador ou
redator final, segundo a metodologia utilizada), que nos oferece e
entrega o texto do livro do Gênesis e que vive em um contexto his-
tórico e literário bem diferente do nosso, não é o mesmo conceito
de história como entendemos, hoje, e não será o mesmo conceito,
amanhã. Cada texto analizado dentro do seu contexto29.
Posso, então, afirmar que, a partir do contexto histórico e literá-
rio, em que o texto (manuscrito ou papiro) foi escrito, e chegou até
nós (processo de transmissão do texto), o arrebatamento de Enoc e
Elias não existiu (e o nosso não haverá; cf. 1Ts 4,17), é tudo ficção
bíblica?30.

28
Cf. Aristotele, περὶ ποιητικῆς, trad. española, Poética de Aristóteles, tr. García
Yebra, V., Gredos, 2018; GLAT IV, mṭr Zobel, H.-J., Brescia, Paideia, 2004. p.
1129; Cross, F.M. Canaanite Myth and Hebrew Epic, Cambridge ‒ Massachu-
setts ‒ London, Harvard University Press, 1973. p. 192; Mckenzie, J.L., “The
Hebrew Attitude towards Mythological Polytheism”, CBQ 14 (1952). pp. 323-
335; Worden, T. “The Literary Influence of the Ugaritic Fertility Myth on
the Old Testament”, An Introduction to the Biblia Hebraica, tr. E.F. Rhodes,
Grands Rapids, 1995. pp. 273-297; Mcleish, K. Aristotle. Aristotle’s Poetics,
New York, Routledge, 1998. p. 15.
Regra básica da exegese contemporânea. Quanto a Gn 1‒11, cf. Wenham, G.
29

WBC 1, Genesis 1‒15, Dalas, Word Incorporated, 1987. pp. 119-134. p. 283.
30
Ou depende da metodologia exegética aplicada ao se analisar um texto bíbli-
co, metodologia essa sincrônica e/ou diacrônica?

34

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

8. Métodos diacrônico e sincrônico


Não esqueçamos a história da evolução do texto, os redatores
finais, os acréscimos posteriores, o narrador, segundo e seguindo
uma metodologia exegética aplicada, diacrônica (δια “através de”,
χρόνος “tempo”, processo de modificação do texto através do tem-
po) ou sincrônica: (συν “com, junto com”, χρόνος “tempo”, visão de
conjunto do texto, sem se preocupar, necessariamente, com o seu
processo evolutivo de entrega)31.
Atentos ao estudo do método histórico-crítico, da crítica lite-
rária, da história das formas (Formgeschichte), do gênero literário
(Gattung), da história das religiões (Religionsgeschichtliche Schule),
da história deuteronomista, da história do cronista, da crítica das
fontes, da crítica histórica e literária, do método comparativo, da
crítica da história das tradições do Antigo e do Novo Testamento
(Traditionsgeschichte), da crítica histórica da transmissão do Antigo
e do Novo Testamento (Überlieferungsgeschichte), da história da re-
dação do Antigo e do Novo Testamento (Redaktionsgeschichte), do
Sitz im Lebem e do Sitz im der Literatur32.

Cf. Sonnet, J. P. “Manuale di exegesi dell’Antico Testamento”, Bologna, EDB,


31

2010. pp. 50-53; Dias da Silva, C. M., com a colaboração de especialistas, Me-
todologia de exegese bíblica, São Paulo, Paulinas, 2000. pp. 80-81; Artola, A.
M. ‒ Sánchez Caro, J. M. Bibbia e parola di Dio, capitolo XIII, MBE, Bres-
cia, Paideia, 2000. pp. 309-348; Aletti, J.-N. – Gilbert, M. – Ska, J. L. – de
Vulpillières, S., Vocabulário ponderado da exegese bíblica, São Paulo, Edições
Loyola, 2011. pp. 43.79; Corsani, B. Come interpretare un texto biblico, Serie
biblica 90, Torino, Claudiana, 2014. p. 7.
32
Cf. Os trabalhos de M. Noth, H. Ewald, D. N. Freedeman, J. Wellhausen, W.
M. L. de Wette, H. Hupfeld, E. Reuss, K. Graf, A. Kuenen e Marie-Joseph La-
grange. A encíclica Providentissimus Deus do Papa Leão XIII, Herman Gunkel
(1862-1932), Karl Ludwig Schmidt (1891-1956), Martin Dibelius (1883-1947),

35

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Pe. Fernando César Chaves Reis

As metodologias sincrônicas, as análises retórica, narrativa e


semiótica, as abordagens canônicas, judaicas de interpretação, as
abordagens através da história dos efeitos do texto, as ciências hu-
manas (sociologia, antropologia cultural, psicologia e psicanálise),
as abordagens contextuais, as três fontes de revelação na e da Igre-
ja Católica, bem como seus processos de transmissão, inspiração e
interpretação33.

9. Paulo
Nesse contexto de metodologia e ciência exegética sincrônica e/
ou diacrônica, de revelação, o que dizer do texto de Paulo em 1Ts
4,17 “Seremos arrebatados ἁρπαγησόμεθα com eles nas nuvens”?
Existe “arrebatamento”?

Rudolf Bultmann (1884-1976), Gerard von Rad (1901-1971), a encíclica Divino


Afflante Spiritu de Pio XII (1876-1958) e a exortação apostólica pós-sinodal
Verbum Domini, do santo padre Bento XVI ao episcopado, ao clero, às pessoas
consagradas e aos fiéis leigos sobre a palavra de Deus na vida e na missão da
Igreja (doc. CNBB 194, São Paulo, Paulinas, 2010).
Cf. O povo judeu e as suas sagradas escrituras na Bíblia cristã, PCB 8, São Pau-
33

lo, Edições Paulina, 1998. pp. 15-49; Constituição Dogmática Dei Verbum,
Compêndio do Vaticano II. Constituições e Decretos, 31ª. edição, Introdução
e Índice analítico, Kloppenburg, B., O.F.M., pp. 119-139; Ispirazione e veritá
della sacra scrittura. La parola che viene da Dio e parla di Dio per salvare il
mondo, PCB, Città del Vaticano, Libreria Editrice Vaticana, 2014. pp. 15-24;
Constituição Dogmática Dei Verbum, Compêndio do Vaticano II. Consti-
tuições e Decretos, 31ª. edição, Introdução e Índice analítico, Kloppenburg,
B., O.F.M., pp. 128-131; Collins, R. F. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo.
Novo Testamento e artigos sistemáticos. Inspiração, São Paulo, Paulus, 2018.
pp. 885-905; A interpretação da Bíblia na Igreja, PCB 134, São Paulo, Edições
Paulinas, 1998. pp. 46-86.139-162.

36

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

Foi Saulo quem teve o encontro com o Senhor ampla e profusa-


mente relatado pela Igreja primitiva (cf. At 9,1-19; “Saul, Saul, por
que me persegues Σαοὺλ Σαούλ, τί με διώκεις ?”; cf. v. 4; 22,5-15;
26,9-18; Gl 1,12-17), foi batizado, Ananias lhe impondo as mãos,
recuperando a vista e ficando repleto do Espírito Santo (cf. At
9,17-18)34.
Depois de batizado, pregando em Damasco (cf. At 9,19b-25),
sendo perseguido, fugindo e indo a Jerusalém (cf. vv. 26-30), en-
quanto Pedro continua curando e operando prodígios: cura um pa-
ralítico em Lida (cf. vv. 32-35), ressuscita uma mulher em Jope (cf.
vv. 36-43), vai à casa de um centurião romano (cf. 10,1-33), discursa
(cf. vv. 34-43) e batiza os primeiros gentios (cf. vv. 44-48)35.
Em Jerusalém, justifica sua conduta de evangelização junto aos
gentios (cf. At 11,1-18)36.
Logo em seguida, a Igreja de Antioquia é fundada (cf. At 11,19-
26), Barnabé e Paulo são enviados a Jerusalém (cf. vv. 27-30), Pedro
é preso e libertado por um anjo (cf. 12,1-19; novamente a questão
dos “Anjos”, existem?), Herodes morre (cf. vv. 20-23), Barnabé e
Paulo retornam à Antioquia (cf. vv. 24-25).

34
Cf. Dillon, R. J. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento
e artigos sistemáticos. Atos dos apóstolos, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 351-
353.382-392; Fitzmyer, J. A. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Tes-
tamento e artigos sistemáticos. A carta aos Gálatas, São Paulo, Paulus, 2018.
pp. 426-427.
Apesar de Paulo ser o “apóstolo dos gentios”.
35

36
Cf. Dillon, R. J. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e
artigos sistemáticos. Atos dos apóstolos, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 357-358.

37

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Pe. Fernando César Chaves Reis

O protagonismo na Igreja primitiva


Como se vê, o protagonismo na Igreja primitiva é dos apóstolos37.
A missão é caminho e no caminho devemos caminhar (palavra
muito usada hoje em dia; cf. Lc 24,13-35: “os discípulos de Emaús”)38.

O louvor e a oração
Nesse contexto histórico do livro dos Atos dos Apóstolos, o louvor
e a oração na Igreja primitiva constituía uma das suas característi-
cas essenciais. A Igreja suplica a Deus pela libertação dos apóstolos,
orando (cf. At 12,5), e os apóstolos são libertos (cf. 12,6-11)39.

Depois ocorrem as missões de Barnabé e Paulo (cf. At 13,1‒15-35), o envio dos


37

dois (vv. 1-3), o encontro com o mago Elimas (vv. 4-12), a chegada a Antioquia
da Pisídia (13-16a), a pregação de Paulo diante dos judeus (vv. 16b-43) e dos
gentios (vv. 44-52).
38
Paulo e Barnabé, perseguidos, evangelizam regiões inteiras: Icônio, Listra,
Derbe, Pisídia, Panfília, Perge, Atalia e Antioquia (cf. At 13,50‒14,28). No ca-
minho, curam um paralítico (cf. vv. 8-10), o mesmo milagre que Pedro e João
haviam realizado (cf. 3,1-10). Em Antioquia e Jerusalém surgem controvérsias
sobre o comportamento de Paulo e Barnabé (cf. 15,1-7a). Pedro e Tiago dis-
cursam, escrevem uma carta apostólica e a delegação retorna à Antioquia (cf.
15,7b-12.13-21.22-29.30-35). Dá-se o primeiro concílio na Igreja de Jerusalém,
onde Tiago, “irmão” (parente) de Jesus, é a autoridade máxima (cf. Gl 2,1-10).
É ele quem decide (cf. At 15,13-21; 12,17; quanto ao discurso da autoridade
na Bíblia cf. 2Rs 2,9-25). Enquanto isso, em Jerusalém, Tiago apóstolo, o ir-
mão de João, já tinha sido martirizado, no começo dos anos 40, por ordem de
Herodes Antipas (cf. At 12,2). Depois, Paulo parte em missão pela Licaônia,
Ásia menor, Filipos, Tessalônica, Beréia, Atenas (no areópago). Funda a Igreja
de Corinto, retorna à Antioquia, funda a Igreja de Éfeso (cf. At 15,36‒19,20).
Passa por prisões, dificuldades com os judeus (cf. 17,1-9.10-15), fracassos (cf.
17,16-22a.22b-34) e libertações maravilhosas (cf. Paulo e Silas louvando a
Deus e sendo libertados do cárcere em At 16,25-40).
39
Cf. Dillon, R. J. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e

38

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

Por que não voltar a esse belo e salutar costume do louvor, da


oração de intercessão copiosa, já que faz parte da Igreja primitiva e
queremos empreender um caminho sinodal? O louvor liberta40 (“li-
teralmente”; cf. At 12,5). Por que não recomeçar e fazer o mesmo?

artigos sistemáticos. Atos dos apóstolos, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 358-360.
40
Libertou os apóstolos (cf. At 12,5.6-11; juntamente com o Anjo: cf. vv. 5.7-11).

39

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CAPÍTULO III

A IGREJA PRIMITIVA
E PAULO

1. A Igreja primitiva e Paulo


O que dizer, então, das cartas1 de Paulo aos Romanos, ½ Corín-
tios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, ½ Tessalonicenses, ½
Timóteo, Tito e Filémon2?

Quanto à diferença entre carta e epístola cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo


1

Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. pp. 550.962. Quanto a Paulo, Barna-
bé, Silas, Timóteo, Sópatro, filho de Pirro, de Beréia, Aristarco e Segundo, de
Tessalônica, Gaio, de Doberes, Tíquico e Trófimo, da Ásia (cf. 15,36-40; 15,41;
15,16-40; 20,4; os últimos seis, companheiros de viagem de Paulo). Além des-
tes, Lucas, o médico (cf. o verbo “procuramos”, no plural, em At 16,10). Paulo
em Éfeso com Apolo (cf. 18,24), o fim das missões e a prisão em Jerusalém (At
19,21‒28,28), os projetos que mudam (19,21-22), o motim dos ourives em Éfeso
(19,23-40), a saída de Éfeso (20,1-6), a chegada a Trôade (20,7-12), Mileto (20,13-
16), a mensagem aos anciãos de Éfeso (20,17-38), a subida e chegada em Jerusa-
lém (21,1-26). A prisão e o discurso de Paulo (21,27‒22,21). Paulo, cidadão roma-
no, diante do sinédrio, é perseguido pelos judeus e enviado ao tribuno Cláudio
Lísias. Depois a transfência para Cesaréia, o encontro com Félix, o discurso
diante dele. Prisão e apelo a César, o rei Agripa, as justificativas de Paulo (cf. At
25,13-22), a reação violenta dos fariseus e dos saduceus (cf. 23,22-35; 24,1‒26,32).
Partida para Roma, a tempestade e o naufrágio, Malta, chegada a Roma (cf.
27,1‒28,16). Encontro com os judeus em Roma e o rompimento (cf. 27,23-27). Os
gentios (cf. 27,28), o epílogo, o fim de Paulo e das missões (cf. vv. 30-31).
2
Aceitando Paulo como autor de todas estas cartas. Cf. Fitzmyer, J. A. Novo
Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e artigos sistemáticos.

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Pe. Fernando César Chaves Reis

O que Paulo fala nessas cartas? Como ele vê a Igreja primitiva?


O que ele, como bom discípulo, educado aos pés de Gamaliel, “He-
breu, filho de hebreus”, ensina (cf. At 22,3)?3.

2. A Igreja nas comunidades primitivas


presididas por Paulo
Primeiramente, Paulo vê “a Igreja” como o Corpo de Cristo e,
nós, seus membros (contrariamente ao que ensinam alguns teólo-
gos: afinal, se Jesus não quis fundar a Igreja, quem a quis fundar

A Carta aos Romanos, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 515-591; Idem, A carta
a Filêmon, pp. 593-596; Idem, A Carta aos Gálatas, pp. 421-440; Murphy, J.
‒ O’Cornnor Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e ar-
tigos sistemáticos. Primeira carta aos Coríntios, São Paulo, Paulus, 2018. pp.
453-486; Idem, Segunda carta aos Coríntios, pp. 487-513; Kobelski, P. J. Novo
Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e artigos sistemáticos.
Carta aos Efésios, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 617-631; Byrne, B. Novo Co-
mentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e artigos sistemáticos. Carta
aos Filipenses, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 441-542; Horgan, M. P. Novo Co-
mentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e artigos sistemáticos. Carta
aos Colossenses, São Paulo, Paulus, 2018. p. 605-616; Collins, R. F. Novo Co-
mentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e artigos sistemáticos. A pri-
meira carta aos Tessalonicenses, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 407-420; Gibi-
lin, C. H. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e artigos
sistemáticos. A segunda carta aos Tessalonicenses, São Paulo, Paulus, 2018.
pp. 597-604; Wild, R. A. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Tes-
tamento e artigos sistemáticos. As cartas pastorais, São Paulo, Paulus, 2018.
pp. 633-654; Metzger, B. M. Il texto del Nuovo Testamento. Introduzione allo
studio della Bibbia, Brescia, Paideia, 1996. p. 196.
“Da tribo de Benjamim” (cf. Fl 3,4-6). “Eu sou judeu. Nasci em Tarso, da Ci-
3

lícia, mas criei-me nesta cidade, educado aos pés de Gamaliel na observância
exata da Lei de nossos pais, cheio de zelo por Deus” (cf. At 22,3); “São hebreus?
Também eu. São descendentes de Abraão? Também eu. São ministros de Cris-
to? Como insensato, digo: muito mais eu” (cf. 2Cor 11,22-23).

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

foi Paulo? Atenção: Jesus e Paulo falam de Igreja ἐκκλησία e não de


“movimento”; cf. Mt 16,18; 1Cor 12,18.27-28; Rm 12,4; Ef 1,21-23;
5,21-33)4.
Segundo Paulo, Deus estabelece na “Igreja” primitiva, “Em pri-
meiro lugar os apóstolos, em segundo lugar, os profetas, em terceiro
lugar, os doutores, depois os dons dos milagres, das curas, da as-
sistência, do governo e o de falar diversas línguas” (cf. 1Cor 12,28-
29)5. A “Igreja” de Paulo é “carismática”, apesar do que dizem certos
“eminentes teólogos”.
Paulo, mesmo, orava em línguas, conclamando os fiéis a aspirar
aos dons do Espírito, principalmente, a profecia e comparando esse
dom com o dom das línguas e colocando-o acima do “dom das lín-
guas” (cf. 1Cor 14,1-5). O dom das línguas considerado como dom
de edificação pessoal (cf. 1Cor 14,4a). Certamente, a caridade era e é
o mais elevado dos dons (cf. 1Cor 12,31-14,1: “Aspirai aos dons mais
altos”, “Procurai a caridade”). Bom seria se vivêssemos a caridade e
o caminho sinodal, ouvindo a opinião de todos (como pretende o
Papa Francisco) e não somente privilegiando aqueles que estão de
acordo com o nosso ponto de vista, do nosso restrito “círculo teoló-
gico”, e, por que não dizer, “fundamentalista”6 e arbitrário.

4
Portanto, Jesus quis fundar a Igreja e Paulo funda diversas igrejas. O que
dizer, então, do livro do Apocalipse, quando fala das igrejas Ἰωάννης ταῖς
ἑπτὰ ἐκκλησίαις ταῖς ἐν τῇ Ἀσίᾳ (cf. Ap 1,4‒3,22)? Cf. Dunn, J. D. G., La
teologia dell’apostolo Paulo, São Paulo, Paulus, 2003. pp. 75.147.534.536-
537.539.544.548.570.
5
Cf. Vouga, F. Novo Testamento, escritura e teologia. A primeira epístola aos
Coríntios, in Marguerat, D. (Org.), 2. ed., São Paulo, Loyola, 2012. pp. 233-257.
6
No sentido de “fechado”, apriori conteudísticos de interpretação teológica,
impondo esses apriori e não aceitando outras reflexões, outros pontos de vis-

43

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Afinal, quantas “teologias” existem? Quantas reflexões teológicas


existem? Somente uma?7.
É interessante observar como a Igreja (“assembléia”) se reunia:
“Quando estais reunidos, cada um de vós pode cantar um cântico,
proferir um ensinamento ou uma revelação (as revelações existiam),
falar em línguas ou interpretá-las. Mas que tudo se faça para a edifi-
cação! Se há alguém que fale em línguas, falem dois ou, no máximo,
três, um após o outro, e que alguém as interprete. Se não há intérpre-
te, cale-se o irmão na assembléia. Fale a si mesmo e a Deus. Quanto
aos profetas, dois ou três tomem a palavra e os outros a julguem. Se
alguém que esteja sentado, recebe uma revelação, cale-se o primei-
ro. Vós todos podeis profetizar, mas cada um a seu turno, para que
todos sejam instruídos e encorajados. Os espíritos dos profetas estão
submissos aos profetas. Pois Deus não é um Deus de desordem, mas
de paz” (cf. 1Cor 14,26b-33). O Espírito de profecia desapareceu?8.
Busquemos essa paz εἰρήνη.
É o ensinamento de Paulo para as Igrejas e assembléias primiti-
vas e mais do que um ensinamento, é uma ordem: o apóstolo está
falando no imperativo! Já que queremos voltar à Igreja primitiva,

ta teológicos. “A abordagem fundamentalista é perigosa, porque se apresenta


como uma forma de interpretação privada, que não reconhece que a Igreja é
fundada sobre a Bíblia e tira sua vida e sua inspiração das Escrituras” (cf. A
interpretação da Bíblia na Igreja, PCB 134, São Paulo, Edições Paulinas, 1998.
p. 86). Cf. Vouga, F. Novo Testamento, escritura e teologia. A primeira epístola
aos Coríntios, in Marguerat, D. (Org.), 2. ed., São Paulo, Loyola, 2012. pp.
233-257.
Quantas metodologias existem? E que tal se os padres sinodais orassem em
7

línguas? A Igreja primitiva orava (cf. 1Cor 12,28-29).


Cf. Vouga, F. Novo Testamento, escritura e teologia. A primeira epístola aos
8

Coríntios, in Marguerat, D. (Org.), 2. ed., São Paulo, Loyola, 2012. pp. 233-257.

44

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

por que não fazer o mesmo e seguir o exemplo de Paulo e o que ele
ordena (cf. 1Cor 12,1‒14,40)?

3. As mulheres nas comunidades


primitivas presididas por Paulo
Segundo o mesmo apóstolo “As mulheres, em todas as Igrejas
dos santos, estejam caladas nas assembléias, pois não lhes é permi-
tido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz também a
Lei” (cf. 1Cor 14,33b-34, citação literal de Paulo). As mulheres, que
oravam e profetizavam nas assembléias, deveriam se cobrir com o
véu ou cortar os cabelos. É o que diz Paulo! (cf. 1Cor 11,5-6 εἰ γὰρ
οὐ κατακαλύπτεται γυνή, καὶ κειράσθω; 1Tm 2,9-15).
Longe de mim seguir esses ensinamentos de Paulo, ainda porque
deixaria de contar com minhas diletas e estimadas colaboradoras
paroquiais9, coordenadoras e companheiras do caminho e no ca-
minho, a quem muito prezo e agradeço a Deus a colaboração e a
estima.
Mas, já que se fala tanto em retorno à Igreja primitiva, que res-
pondam os eminentes padres sinodais o que significa esse retorno:
as mulheres devem se comportar como se comportavam na Igreja
primitiva?
Não concordo com aqueles que afirmam que a mulher, hoje em
dia, tem um papel inferior e secundário, na Igreja, em relação ao que
tinha nos primórdios.
Não é verdade. É o contrário (é só ler o que dizem as cartas de
Paulo; cf. 1Cor 14,33b-34; 1Tm 2,9-15). É só analisar como elas

E porque o contexto era outro.


9

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deveriam e poderiam se comportar nas Igrejas fundadas por Paulo.


Os padres sinodais, então, devem responder ao modo correto de
proceder a esse retorno10.
Dou uma sugestão: se queremos retornar à Igreja primitiva
(como um dos palestrantes da semana teológica sugeriu) devemos
retornar ao caminho dos apóstolos, a Jesus, Maria, Madalena, às
santas mulheres, a Pedro, Filipe, Tiago, Saulo, Barnabé, João Mar-
cos, Lucas, João, ao que eles fizeram e disseram.
Mas não devemos nos esquecer que, no início da Igreja primiti-
va, quem toma a iniciativa é Pedro e os apóstolos, ou Mateus, Mar-
cos, Lucas e o livro dos Atos faltaram com a verdade?

4. Os dons nas comunidades primitivas


presididas por Paulo
Devemos orar como a Igreja primitiva orava com seus dons, mi-
nistérios e carismas (cf. 1Cor 12,1-12)11: mensagem de sabedoria,
palavra de ciência, a fé, o dom das curas, o poder de fazer milagres,
a profecia, o discernimento dos espíritos, o dom de falar em línguas,
o dom de as interpretar (cf. 1Cor 12,28-30)12.
Não somente privilegiar esse ou aquele aspecto, esse ou aquele
dom, esse ou aquele ministério. Mas, refletir seriamente sobre todos

10
“Retroceder”?
Cf. Vouga, F. Novo Testamento, escritura e teologia. A primeira epístola aos
11

Coríntios, in Marguerat, D. (Org.), 2. ed., São Paulo, Loyola, 2012. pp. 233-
257. Quanto aos carismas em 1Cor 12‒14 cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo
Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. pp. 701-704.
12
Cf. Vouga, F. Novo Testamento, escritura e teologia. A primeira epístola aos
Coríntios, in Marguerat, D. (Org.), 2. ed., São Paulo, Loyola, 2012. pp. 233-257.

46

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

os aspectos, sobre todos os carismas, sobre todos os dons e ministé-


rios que a Igreja, no seu início, vivia em comunhão.
E viver como essa Igreja vivia. Senão o nosso caminho sinodal
não será um “caminho” e, muito menos, sinodal. E essa Igreja será
uma falsa Igreja.
E não impedir as mulheres de falarem nas assembléias, nem
obrigá-las a cortarem os cabelos, como queria Paulo!

5. O discernimento espiritual
É necessário discernir o que fazer e o que não fazer. E não,
simplesmente, dizer que devemos retornar ao que fazia a Igreja nos
seus inícios: é preciso discernir e o discernimento é dom do Espíri-
to Santo (cf. 1Cor 12,10). Deixar-se guiar pelo Espírito (até mesmo
nas tentações e nas provas dessa vida; cf. Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc
4,1-13)13.
Que tal empreendermos o caminho sinodal a partir do discerni-
mento espiritual proposto por santo Inácio de Loyola nos seus exer-
cícios espirituais, nesse momento preciso da história da Igreja, antes
de decidirmos o que devemos e o que não devemos fazer? Por que
não fazermos, como Igreja, um retiro inaciano de trinta dias antes
de iniciarmos o caminho? Santo Inácio é o grande mestre do discer-
nimento dos espíritos. Por que não seguí-lo?

6. Os exemplos das mulheres


Certamente, repito, não concordo com o modo como as mulhe-
res se comportavam na comunidade fundada por Paulo em Corinto

13
Ibdem.

47

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(cf. 1Cor 14,33b-34), ainda porque os costumes eram outros (e o


contexto histórico também), e porque as mulheres representaram e
representam um papel essencial e fundamental na história bíblica e
na história da salvação, ontem e hoje (e representarão sempre, assim
o espero).
Observemos os exemplos de Eva (cf. Gn 1,27; 2,4b-24), Agar (Gn
16), Sara (Gn 18,1-16), Rebeca (Gn 24), Cetura (Gn 25,1-4), Lia, Ra-
quel, Bala e Zelfa (Gn 2915‒30,24), Dina (Gn 34,1-5), as mulheres de
Esaú (Gn 36), Tamar, nora de Judá (Gn 38), Tamar, irmã de Absalão
(2Sm 13,1-22), Séfora (Ex 2,21), Maria, profetiza, irmã de Moisés
e Aarão (Ex 15,20), Raab (Js 2), Débora (Jz 4‒5), a filha de Jefté (Jz
11,29-40), a mãe de Sansão (Jz 13,23-25), Rute (cf. o livro de Rute),
Ana, a mãe de Samuel (1Sm 1,9‒2,11), Betsabéia (2Sm 11), a viúva
de Sarepta, cujo filho ressuscitou (1Rs 17,7-16), a profetiza Hulda,
esposa de Selum šllm (cf. 2Rs 22,14; 2Cr 34,22)14.

14
Cf. Clifford, R. J. ‒ Murphy, R. E., O. Carm. Novo Comentário Bíblico São
Jerônimo. Antigo Testamento. Gênesis, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 59-127;
Idem, Êxodo, pp. 129-159. Quanto à Moisés e à jurisdição mosaica, cf. Crüse-
mann, F. La Torà, São Paulo, Editora Vozes, 2012. pp. 131-136; “Moses and the
Ten Words”, Christensen, D. L. WBC 6b, Deuteronomy 21,10‒34,12, Thomas
Nelson Inc., 2002. pp. 63-157; “The Exclusion of Moses and Aaron (20,1-13)”,
Budd, P. J., WBC 5, Numbers, Thomas Nelson Inc., 1984. pp. 215-220; “The
Call of the Deliverer, his Commission, and his Obedience (3,1‒7,7)”, Durham,
J. I., WBC 3, Exodus, Thomas Nelson Inc., 1987. pp. 27-88; “The Exodus into
the Promised Land under Moses (1,1‒3,22)”, Christensen, D. L., WBC 6a,
Deuteronomy 1,1‒21,9, Thomas Nelson Inc., 2001. pp. 3-62; “Mosaic tradi-
tions”, Childs, B. S. Biblical Theology of the Old and New Testaments. Theo-
logical Reflection on the Chritian Bible, Fortpress Press, 2011. pp. 130-142;
Anderson, A. A. WBC 11, 2Samuel, Dallas, Thomas Nelson Inc., 1989. pp.
170-177; O’Connor, M. Juízes, Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Anti-
go Testamento. Eclesiástico (Sirácida), São Paulo, Paulus, 2018. pp. 295-318;
“Ruth meets Boaz, Naomi’s relative, on the harvest field (2,1-23)” (Bush, F.

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

Sara, a mulher de Tobias (Tb 9‒10), Judite (Jt), Ester (Est), Susa-
na (Dn 13), a mãe dos sete irmãos mártires, ela também mártir (2Mc
7), a mulher virtuosa (Prov 31,10-31), a noiva‒esposa do livro do
Cântico dos Cânticos šyr hššyrym (cântico esponsal), Maria, a mãe
de Jesus (cf. Mt 1,16.20-25; 2; Lc 1,26-38.39-56; 2; Jo 2,1-12; 19,25-
27; Gl 4,4-6), a sogra de Pedro (Mc 1,29-31), a hemorroíssa e a filha
de Jairo (Mc 5,21-43), a mulher de Pilatos (Mt 27,19), Maria Mada-
lena, Maria, mãe de Tiago e Salomé (Mc 16,1), a viúva de Naim (Lc
7,11-17), a pecadora de Lc 7,36-50, a samaritana (Jo 4) e a adúltera
(Jo 7,53‒8,11)15.
Sem falar em Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes (cf.
Lc 8,3), Susana (cf. Lc 8,3), Marta e Maria, irmãs de Lázaro (cf. Jo
11; Lc 10,38-42), as “filhas de Jerusalém” (cf. Lc 23,28), as mulheres
em oração, com Maria e os apóstolos (At 1,14), Lídia (At 16,14-15),
Priscila (At 18,2), Maria e Júnia (Rm 16,6), Trifena, Trifosa e Pérside
(Rm 16,12), a mãe de Rufo (Rm 16,13), Júlia e a irmã de Nereu (Rm
16,15), as santas mulheres (1Pd 3,5) e muitas outras, ao longo da his-
tória, mulheres santas e mártires, Ágata, Inês, Perpétua e Felicidade,
Maria Gorete e Teresa Benedita da Cruz16.

WBC 9, Ruth/Esther, Thomas Nelson Inc., 1996. pp. 98-143); “Esther begins
her appeal: she invites the king and Haman to a banquet (5,1-8)” (Idem, pp.
401-408).
15
Cf. Aletti, J.-N. – Gilbert, M. – Ska, J. L. – de Vulpillières, S., Vocabulário
ponderado da exegese bíblica, São Paulo, Edições Loyola, 2011. pp. 43.79; Cor-
sani, B. Come interpretare un texto biblico, Serie biblica 90, Torino, Claudiana,
2014. pp. 18.27.
16
Cf. Liturgia delle ore, volume III, tempo ordinario, settimane I-XVII, ufficio
delle letture, città del Vaticano, Libreria Editrice Vaticana, 2009. pp. 1280-
1282.1226-1230.1325-1327.1462-1464.

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7. Mistério da unidade
Mulher, imagem e semelhança de Deus, como o homem, tirada
do lado do homem (“lado, metade”; cf. Gn 1,27; 2,21-22: ṣlʻ “Lado,
metade”)17, metade do homem. Nasce do lado do homem, como a
Igreja nasce do lado de Cristo, na cruz (cf. Jo 19,31-37). Nova Eva,
novo Adão (cf. Rm 5,12-20; 1Cor 15,22).
Uma metade mais uma metade formando uma unidade. Somos
um com as mulheres (ao menos nas cartas de Paulo e no livro do
Gênesis; cf. Gn 1,27; 2,21-24; Ef 5,21-33, no contexto da moral do-
méstica; cf. Cl 3,18-2418; cf. Mt 19,1-9; Mc 10,1-12; Lc 9,51), para o
bem da Igreja, para a edificação da Igreja e na Igreja (Cristo, cabeça
da Igreja, a Igreja o corpo de Cristo, mistério da unidade19; cf. Ef
5,32 “É grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e a
Igreja” τὸ μυστήριον τοῦτο μέγα ἐστίν· ἐγὼ δὲ λέγω εἰς Χριστὸν καὶ
εἰς τὴν ἐκκλησίαν). Somos “um” no corpo de Cristo.
Mulher, figura da Igreja (cf. Ef 5,25; Ap 12), nova Eva, nova hu-
manidade remida do pecado (cf. Jo 19,25-27; cf. Rm 5). Maria, nova
Eva, Cristo, o novo Adão (cf. Gn 3,15; Rm 5; “Em virtude da graça
da divina maternidade e da missão pela qual ela está unida com seu
filho redentor, e em virtude de suas singulares graças e funções, a
bem-aventurada virgem está, também, intimamente relacionada

PCB, Che cosa è l’uomo?. Un itinerario di antropologia biblica, Città del Vati-
17

cano, Libreria Editrice Vaticana, 2019. pp. 42-60.


No contexto de preceitos de moral doméstica (cf. Brown, R. E. Introdução ao
18

Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. p. 798-799).


19
Não se pode separar Cristo da Igreja, a cabeça do corpo, o homem da mulher.

50

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com a Igreja”20; cf. Ap 12,1-6). Homens e mulheres unidos para a


comum edificação do corpo de Cristo.
Mas cada um com seus carismas, dons e ministérios específicos.
Porque assim acontecia na comunidade primitiva. E porque assim
Cristo quis (cf. Mt 16,18).

20
Constituição Dogmática Lumen Gentium, Compêndio do Vaticano II. Cons-
tituições e Decretos, 31ª. edição, Introdução e Índice analítico, Kloppenburg,
B., O.F.M., pp. 109-110.

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CAPÍTULO IV

EXPERIÊNCIA PASTORAL
E PESSOAL

1. Experiência pastoral e pessoal


Sou pároco a cinco anos na paróquia santa Teresinha do me-
nino Jesus, no bairro Vicente Pinzon, no morro santa Teresinha,
com quarenta e dois mil habitantes. Na difícil realidade periférica
em que nos encontramos e convivemos com o tráfico, as drogas, o
contrabando, as injustiças, a assistência sanitária deficiente e ina-
dequada, a ausência de “UPAs”, nenhum estabelecimento de nível
superior e/ou técnico, baixíssima fonte de renda da população local
(muitos sobrevivendo com “bicos”, sem nenhuma fonte de renda
fixa ou estável), nenhum hospital, áreas inteiras sem qualquer sa-
neamento básico e alto índice de assassinatos. A mortalidade e a
criminalidade fazendo parte do nosso dia a dia.

2. O papel das mulheres


Nesse injusto tecido plurisocial, as mulheres representam a gran-
de maioria, de oitenta a noventa por cento, na participação ativa da
vida paroquial. Estão presentes em todas as celebrações, pastorais,
movimentos e lideranças.

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Pe. Fernando César Chaves Reis

Dos dezoito grupos de missão paroquial, as mulheres coorde-


nam todos. Sem falar na pastoral da liturgia, catequese, crisma, mi-
nistério de formação, equipes de promoção humana, sopão, distri-
buição de cestas básicas e “quentinhas”, pré-natal para jovens mães
solteiras e carentes, voluntariado, atuando como médicas, psicólo-
gas, dentistas1, fisioterapeutas, maciça participação como ministras
extraordinárias da eucaristia e a secretaria paroquial. As mulheres
estão à frente na construção da nossa casa de repouso para senhoras
carentes2.
Portanto, dependemos, e muito, das mulheres na nossa ação pas-
toral na paróquia santa Teresinha do menino Jesus, no bairro Vicen-
te Pinzon, em Fortaleza. E ainda bem que dependemos.
Sou completamente favorável à participação das mulheres na
vida paroquial e na vida da Igreja sinodal. A paróquia e a atividade
paroquial nela empreendida não sobreviveriam sem a participação
ativa das mulheres, como realmente acontece3.
E não me consta de ter obrigado nenhuma a usar véu, nem mes-
mo a cortar os cabelos4. Convido todos a nos visitar!
Mas, apesar de toda essa representatividade benéfica e atividade
da mulher na história da Igreja e na história paroquial, não devemos

Na prevenção bucal das crianças.


1

Quem quiser nos ajudar: “Apesar de saber viver modestamente e haver-me,


2

também, na abundância, viver saciado e passar fome” (cf. Fl 4,12), “É na fra-


queza que a força manifesta todo o seu poder, para que pouse sobre mim a
força de Cristo” (cf. 2Cor 12,9).
Não seria possível.
3

Como queria Paulo (cf. 1Cor 11,5-6).


4

54

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

suprimir a autoridade do Papa, a autoridade dos bispos, a autorida-


de dos padres, a autoridade dos diáconos, na vida da Igreja.
Não devemos e não podemos. Porque essa autoridade foi pre-
tendida e querida por Cristo (cf. Mt 16,18) e está clara e magnifica-
mente expressa em todo o Novo Testamento, no livro dos Atos e no
ensinamento dos apóstolos (como já expus brevemente).
Não significa que devemos suprimir os carismas e ministérios,
como foram instituídos no início da Igreja. Caminhemos juntos,
homens e mulheres, na construção do reino de Deus.
Afinal, não é esse, exatamente, o caminho sinodal, a sinodalida-
de, o caminho em comum, o caminhar juntos?
Em frente, irmãos e irmãs, andemos em comunhão, caminhe-
mos. Somos um, uma única Igreja, um só corpo, a cabeça é Cristo
(cf. Ef 5,21-33; Cl 3,15).

3. Hierarquia
Sem negar a hierarquia: “Tu és Pedro” (cf. Mt 16,18).

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CONCLUSÃO

1. Autoridade de Pedro
Não esqueçamos, irmãos e irmãs, que, quando Paulo fala aos
epíscopos, aos presbíteros, aos diáconos, na constituição da Igreja e
na imposição das mãos, fala daqueles que estavam à frente na vida
da Igreja (cf. 1Tm 3,1-13; 5,17-25; Tt 1,5.6-9; 2Tm 2,24; 2,6 “Paulo
impõe as mãos sobre Timóteo”; 1Ts 5,12; cf. 1Pd 5,1-4; At 11,30)1.
E quando Jesus fala a Simão, filho de Jonas, Pedro, pedra, kefas,
fala sobre quem a “minha Igreja” μου τὴν ἐκκλησίαν (palavras do
próprio Cristo em Mt 16,18) será edificada e as portas do inferno
ᾅδου hades não prevalecerão, fala daquele que foi escolhido para
estar à frente da “sua Igreja” μου τὴν ἐκκλησίαν (cf. Mt 16,18). Ou
o ᾅδου hades não existe mais, nem o primado de Pedro na Igreja?2
Pedro, a quem foi dado “as chaves do reino dos céus, o que ligares
na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desliga-
do nos céus” δώσω σοι τὰς κλεῖδας τῆς βασιλείας τῶν οὐρανῶν, καὶ
ὃ ἐὰν δήσῃς ἐπὶ τῆς γῆς ἔσται δεδεμένον ἐν τοῖς οὐρανοῖς, καὶ ὃ ἐὰν
λύσῃς ἐπὶ τῆς γῆς ἔσται λελυμένον ἐν τοῖς οὐρανοῖς (cf. Mt 16,19)3.

1
Cf. Wild, R. A. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo. Novo Testamento e
artigos sistemáticos. As cartas pastorais, São Paulo, Paulus, 2018. pp. 633-654.
2
Quanto ao Hades se veja sheol (cf. Nm 16,33). Cf. Hagner, D. A. WBC 33b,
Matthew 14‒28, Nashville, Word Incorporated, 1995. pp. 461-475.
3
Ibdem.

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Pe. Fernando César Chaves Reis

A autoridade, portanto, é de Pedro, na Igreja (cf. o discurso da


autoridade no Antigo Testamento e no Novo Testamento, a atribui-
ção de um escrito a um autor bíblico específico). Na sagrada escri-
tura, a autoridade suprema vem de Deus e de quem Ele investe e/
ou escolhe (cf. a escolha de Davi em 1Sm 16,1-13; a passagem da
autoridade de Elias para Eliseu em 1Rs 19,19-21 e 2Rs 2,1-17; Josué
sucessor de Moisés em Js 1,1-5.6-9; cf. Dt 34,9: wyhwšʻ bn-nwn mlʼ
rwḥ ḥkhmh ky-smkh mšh ʼth-ydhyw ʻlyw wyyšʻśw kʼšr ṣwwh yhwh
ʼth-mšh Moisés impondo as mãos sobre Josué).

2. Pedro e Paulo
Igreja querida, criada e pretendida por Jesus Cristo. Pedro, mar-
tirizado em Roma entre 64/68, durante a perseguição empreendida
por Nero. Juntamente com Paulo, um dos “mais justos pilares da
Igreja, perseguidos até a morte”4.
É o que eu acredito.
Com Pedro, Paulo, os apóstolos, as santas mulheres, corramos,
também nós, ao martírio! “Amém, vem Senhor Jesus maran atha!
A graça do Senhor Jesus esteja com todos vós! Ἀμήν, ἔρχου κύριε

Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012.


4

p. 921; Ibidem, citando I Clemente 5. Pedro “Foi infiel durante a prisão de


Jesus e exerce liderança entre os cristãos nos primeiros séculos (cf. At 2‒5). É o
missionário mais ativo do grupo dos doze, extendendo sua liderança a novos
grupos (cf. 8,14-25; 9,32‒11,18). Vê Jesus ressuscitado (cf. Lc 24,34; 1Cor 15,5;
Jo 20,19-29; 21), se confronta com Paulo e é apoiado e confrontado por este (cf.
Gl 2,8). Importante o seu papel no primeiro concílio de Jerusalém em 49, na
questão dos gentios. Exerce influência na Igreja de Antioquia. Alguns cristãos
de Corinto o consideram seu patrono” (cf. 1Cor 1,12; 3,22 idem. p. 357). Se-
gundo a tradição, foi Nero quem perseguiu Pedro e Paulo.

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

Ἰησοῦ. Ἡ χάρις τοῦ κυρίου Ἰησοῦ μετὰ πάντων (cf. Ap 22,20b-21)5.


Senhor, vem marana tha!6 κύριε ἔρχου.

3. Desejo pessoal
É o que eu espero.

4. Saudação final
“Saudai-vos mutuamente com o ósculo santo. Saúdam-vos todos
os santos. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comu-
nhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (cf. 2Cor 13,12-13).

Cf. Aune, D. E. WBC 52c, Revelation 17‒22, Thomas Nelson Inc., 1998. pp.
5

1195-1241.
Μαρανα θα (cf. 1Cor 16,22). Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento,
6

São Paulo, Paulinas, 2012. pp. 58.271.404.695.1031.1035. “Μαρανα θα transli-


terated from Aramaic, our Lord, come! Others read as Μαραν αθα our Lord
has come (cf. Zerwick, M. ‒ Grosvenor, B. A Gramatical Analysis of the Greek
New Testament, Gregorian University Press, 1993. p. 533).

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POST SCRIPTUM

1. Multiplicação dos pães e dos peixes e partilha


Quanto à multiplicação dos pães e dos peixes presente nos evan-
gelhos sinóticos e em João, favor não esquecer não se tratar, sim-
plesmente, de partilha (como alguns sugerem). O contexto literário
anterior e posterior é de sinal, milagre, prodígio e, depois, partilha.
Senão vejamos: Jesus toma os pães (o texto não diz que os que esta-
vam presentes tinham levado pães e peixes e os partilharam)1, eleva
os olhos ao céu, abençoa-os, parte-os e dá aos discípulos para que os
distribuam, e eles recolhem doze cestos cheios dos pedaços dos pães
e dos peixes (cf. Mc 6,30-44; cf. Mc 8,1-10; Mt 14,13-21; 15,32-39; Lc
9,10-17; Jo 6,1-13)2.
A distribuição dos pães e dos peixes em Mc 6,41e vem depois da
multiplicação do pão (cf. Mc 6,41abcd: “tomar os cinco pães e os
dois peixes, elevar os olhos ao céu, abençoar, partir os pães e dar aos
discípulos; o mesmo ocorre em Mc 8,1-10 [cf. v. 6]; Mt 14,13-21 [cf.
v. 20]; 15,32-39 [cf. v. 36]; Lc 9,10-17 [cf. v. 16]; Jo 6,1-13 [cf. v. 11]).
Essa multiplicação dos pães e dos peixes encontra-se em um
contexto literário e exegético de curas, sinais e prodígios (cf. Mc

Fidelidade ao texto, por favor! Para uma boa exegese do texto o cientista bíbli-
1

co deve dizer o que o texto diz e não dizer o que o texto não diz. Cuidado com
a argumentação ex silentio. Cf. A interpretação da Bíblia na Igreja, PCB 134,
São Paulo, Edições Paulinas, 1998. p. 81.
A partilha vem depois da multiplicação dos pães e dos peixes.
2

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Pe. Fernando César Chaves Reis

6,30-44.45-52.53-56; 7,24-30.31-37; 8,22-26; 9,2-8; Mt 14,22-33.34-


36, contexto imediatamente anterior; 15,21-28.29-31; 16,1-4, pedi-
do de sinal por parte dos fariseus e saduceus; Lc 8,22-25.26-39.40-
56, contexto anterior; Jo 6,16-21, contexto imediatamente posterior;
cf. o início de Jo 5; cf. vv. 1-18, a cura de um enfermo na piscina de
Betesda).
Os relatos da multiplicação aparecem nos quatro evangelhos (cf.
Mc 6,30-44; 8,1-10; Mt 14,13-21; 15,32-39; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13).
Quando um relato acontece nos quatro evangelhos não se pode
negar a autenticidade histórica do fato: a multiplicação dos pães e
dos peixes ocorre duas vezes em Marcos, duas vezes em Mateus,
uma vez em Lucas e uma vez em João (cf. Mc 6,30-44; 8,1-10; Mt
14,13-21; 15,32-39; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13). No caso de Lc 9,10-17,
há autores que consideram que houve duas multiplicações e Lucas
“Combinou dois relatos na única multiplicação de pães que narra”3.
Alguns textos do NT falam, sim, especificamente, de partilha,
como, por exemplo, At 2,42-47 πάντες δὲ οἱ πιστεύοντες ἦσαν ἐπὶ
τὸ αὐτὸ καὶ εἶχον ἅπαντα κοινὰ (cf. v. 44: a primeira comunidade
cristã, “Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham
tudo em comum”). Em At 2,42-47, o contexto literário é de partilha,
embora se encontre a mesma atmosfera de prodígios e sinais que se
realizavam por meio dos apóstolos (cf. At 2,43)4.

Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012. p.


3

348.
Cf. At 5,12. Certamente At 2,42-47 é um “sumário narrativo”, mas o fato de ser
4

um “sumário narrativo” não anula a “partilha” presente na comunidade pri-


mitiva (cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas,
2012. pp. 405-408). Quanto ao “sumário” cf. Alter, R. L’arte della narrativa
biblica, Brescia, Editrice Queriniana, 2014. p. 84; Sternberg, M. The Poetics

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A partilha presente: “Todos os que tinham abraçado a fé reu-


niam-se e punham tudo em comum” πάντες δὲ οἱ πιστεύοντες ἦσαν
ἐπὶ τὸ αὐτὸ καὶ εἶχον ἅπαντα κοινὰ (cf. At 2,44). Ainda sobre a pri-
meira comunidade cristã: “A multidão dos que haviam crido era um
só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente
seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum”5 (At 4,32-35).
O texto fala do grande “poder” δυνάμει μεγάλῃ que se opera-
va através dos apóstolos ἀπόστολοι (cf. v. 33: “Com grande poder”
δυνάμει μεγάλῃ), que pode ser compreendido como “milagres”
e sinais (cf. At 2,22; 3,12; 4,7; 5,12 [sinais e prodígios σημεῖα καὶ
τέρατα]6; 6,8; 8,13; 10,38; 1Ts 1,5; 1Cor 2,4-5).

of Biblical Narrative. Ideological Literature and the Drama of Reading, Bloo-


mington, Indiana University Press, 1987. pp. 41.91.95-96.129-122.182.184.476;
Ska, J. L. I nostri padri ci hanno raccontato. Introduzione all’analisi dei rac-
conti dell’Antico Testamento, Bologna, EDB, 2012. pp. 32.44.61.120; Aletti,
J.-N. – Gilbert, M. – Ska, J. L. – de Vulpillières, S., Vocabulário ponderado
da exegese bíblica, São Paulo, Edições Loyola, 2011. pp. 43.79; Corsani, B.
Come interpretare un texto biblico, Serie biblica 90, Torino, Claudiana, 2014.
pp. 91.93.147; Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo,
Paulinas, 2012. p. 353; cf. Lc 16,19-31: o rico é condenado pelo fato de ser rico
e por não repartir sua riqueza com o pobre Lázaro, “faminto e miserável”
(cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 2012.
p. 357; cf. Lc 16,21 καὶ ἐπιθυμῶν χορτασθῆναι ἀπὸ τῶν πιπτόντων ἀπὸ τῆς
τραπέζης τοῦ πλουσίου E 16,25 Τέκνον, μνήσθητι ὅτι ἀπέλαβες τὰ ἀγαθά σου
ἐν τῇ ζωῇ σου, καὶ Λάζαρος ὁμοίως τὰ κακά· νῦν δὲ ὧδε παρακαλεῖται, σὺ
δὲ ὀδυνᾶσαι). Quanto ao fato que nem toda a comunidade primitiva vive a
partilha, cf. At 5,1-11 (“a fraude de Ananias e Safira”). At 5,12, apesar de ser
um “sumário narrativo”, está inserido em um contexto de prodígios e sinais
realizados pelos apóstolos entre o povo.
Certamente a fraude de Ananias e Safira (cf. At 5,1-11) não anula o fato que,
5

na comunidade primitiva, havia um sentido de partilha.


“Sinais e coisas maravilhosas”. Cf. Brown, R. E. Introdução ao Novo Testa-
6

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Pe. Fernando César Chaves Reis

Não se pode, portanto, negar a autenticidade da multiplicação


dos pães e dos peixes sob o pretexto de se tratar, exclusivamente, de
partilha. Não se podem anular as curas, sinais e prodígios, presentes
no início da Igreja primitiva7 e atribuídos tanto a Jesus, como ao
grupo dos apóstolos.

2. Expulsão dos demônios e curas


Quanto às expulsões dos demônios e às curas, podemos pensar
em sete passos específicos para as expulsões: 1. Anúncio do proble-
ma; 2. Manifestação do espírito; 3. O espírito reconhece Jesus; 4. A
reação de Jesus no imperativo; 5. A contra-reação violenta do espí-
rito; 6. A reação do auditório; 7. O retorno à normalidade.
1. Anúncio do problema: “Na ocasião, estava na sinagoga deles
um homem possuído de um espírito impuro, que gritava” (cf. Mc
1,23; 5,2; 7,25; 9,17 πνεῦμα ἄλαλον).
2. Manifestação do espírito: “Ele grita”, καὶ ἀνέκραξεν (cf. Mc
1,23, 5,3-5; 9,18.20.22).
3. O espírito reconhece Jesus: “Sei quem Tu és, o Santo de Deus”
οἶδά σε τίς εἶ, ὁ ἅγιος τοῦ θεοῦ (cf. Mc 1,24, na cura não há esse
reconhecimento; cf. Mc 5,7).
4. A reação de Jesus no imperativo (ordem): “Cala-te e sai dele”
Φιμώθητι καὶ ἔξελθε ἐξ αὐτοῦ (cf. Mc 1,25, nas curas não há essa
reação de Jesus em uma atmosfera de violência; cf. Mc 5,8; 9,25).
5. A contra-reação violenta do espírito: “Então o espírito impuro,
sacudindo-o violentamente e soltando grande grito, deixou-o (saiu

mento, São Paulo, Paulinas, 2012. p. 408.


E no tempo de Jesus.
7

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

dele)” καὶ σπαράξαν αὐτὸν τὸ πνεῦμα τὸ ἀκάθαρτον καὶ φωνῆσαν


φωνῇ μεγάλῃ ἐξῆλθεν ἐξ αὐτοῦ (cf. Mc 1,26, o espírito sai, obede-
cendo a Jesus8; cf. Mc 5,13; 7,30; 9,26).
6. A reação do auditório: “Todos, então, se admiraram, pergun-
tando uns aos outros: ‘Que é isto? Um novo ensinamento com auto-
ridade! Até mesmo aos espíritos impuros dá ordens, e eles lhe obe-
decem!’” καὶ ἐθαμβήθησαν ἅπαντες ὥστε συζητεῖν πρὸς ἑαυτοὺς
λέγοντας, Τί ἐστιν τοῦτο; διδαχὴ καινὴ κατ᾽ ἐξουσίαν· καὶ τοῖς
πνεύμασι τοῖς ἀκαθάρτοις ἐπιτάσσει, καὶ ὑπακούουσιν αὐτῷ (cf. Mc
1,27; 5,14-17.20b).
7. O retorno à normalidade: “Então ele partiu e começou a pro-
clamar na Decápole o quanto Jesus fizera por ele”9 (cf. Mc 5,20a;
7,30; 9,27).
Quanto às curas encontramos cinco passos específicos: 1. Anún-
cio da enfermidade; 2. A enfermidade é mencionada a Jesus; 3. Jesus
cura pela palavra e/ou gestos; 4. A enfermidade é retirada; 5. O en-
fermo age normalmente (retorno à normalidade).
1. Anúncio da enfermidade: “A sogra de Simão está de cama,
com febre πυρέσσουσα” (cf. Mc 1,30a; 1,40 “um leproso”; 3,1b: um
homem com a mão atrofiada καὶ ἦν ἐκεῖ ἄνθρωπος ἐξηραμμένην
ἔχων τὴν χεῖρα; 5,23[“Enfermidade mortal”].25 “Anúncio pelo
evangelista”; 7,32; 8,22 “Anúncio da enfermidade pelo evangelista”;
10,46: “Um cego sentado à beira do caminho”).

Na cura não ocorrre esse fato.


8

“E todos ficaram espantados” (cf. Mc 5,20b).


9

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2. A enfermidade é mencionada a Jesus: “O chefe da sinagoga


roga à Jesus, expondo o problema” (cf. Mc 1,30b; 5,23; 7,32 “Rogam
que Jesus imponha a mão sobre o surdo-gago”; 8,22).
3. Jesus cura pela palavra e/ou por gestos: “Toma a sogra de Si-
mão pela mão e a faz levantar” (cf. Mc 1,31; 1,41; 2,11: “Levanta,
toma o teu leito e vai para tua casa”; 3,5c; 5,29-30[“A mulher sente
que está curada, Jesus tem consciência que uma força sai Dele”].41;
7,33-34; 8,23-25: “Cura processual”; 10,52: “Depois da cura Jesus
pergunta o que o cego quer que ele faça).
4. A enfermidade é retirada: “A febre a deixou” (cf. Mc 1,31ab;
1,42 “A lepra o deixou, ficou purificado”; 2,12; 3,5de; 5,29[“E logo
estancou a hemorragia”].41; 7,35; 8,25; 10, 52 “O cego recupera a
vista”).
5. O enfermo age normalmente, retorno à normalidade: “Ela
põe-se a servi-los” (cf. Mc 1,31c; v. 45a: “O leproso curado parte”;
2,12 “Agindo normalmente”; 3,6; 5,42; 7,35, “E falava corretamen-
te”; 8,26: “Se Jesus ordena ao doente que vá para casa, supõe-se que
ele, curado, agiu normalmente”; 10,52 “O cego segue Jesus pelo
caminho”).
Os verbos utilizados para os exorcismos em Marcos são diferen-
tes dos verbos utilizados no fenômeno das curas.
Para os exorcismos observamos os verbos ἐκβάλλω (cf. Mc 1,34;
3,15; 7,26; 9,18.28.38; 16,17; utilizado sete vezes em Marcos; cf. Mt
8,16) e ἐξέρχομαι (cf. Mc 1,25s; 5,8.13; 7,29s; 9,25s.29; utilizado nove
vezes em Marcos para a expulsão dos demônios).
Para as curas os verbos θεραπεύω (cf. Mc 1,34; Lc 4,40), καθαρίζω
(“purificar”, cf. Mc 1,41), ἀπεκατεστάθη (“restaurar”, “restabelecer”,
cf. Mc 3,5), ἴσθι ὑγιὴς (“sê curada”, cf. Mc 5,34), σωθῇ (“ser salva”, cf.

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Mc 5,23.3; 6,56; 10,52), Εφφαθα (“transliteração do aramaico”, cf.


Mc 7,34).
No Evangelho de Marcos o demônio é chamado de espírito im-
puro πνεύματι ἀκαθάρτῳ (cf. Mc 1,23.26; 5,2.8.13; 7,25; 9,25; sete
vezes), demônio δαιμόνια (1,32.34; cf. 5,15.16.18; 7,26.29; sete ve-
zes), Legião Λεγιὼν (5,9; uma vez), Espírito mudo πνεῦμα ἄλαλον
(9,17; uma vez), Espírito πνεῦμα (9,20; uma vez).
Nas curas não existe um espírito com um nome específico10.

3. O fato da ressurreição
Uma última observação11: Jesus ressuscitou? Se não ressuscitou,
como dizem certos “teólogos”, nossa fé é vã ματαία ἡ πίστις ὑμῶν
(cf. 1Cor 15,3-8.17, “Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que
eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as
escrituras, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as es-
crituras. Apareceu a Cefas, e depois, aos doze. Em seguida, apareceu
a mais de quinhentos irmãos de uma vez, a maioria dos quais ainda
vive, enquanto alguns já adormeceram. Posteriormente, apareceu a
Tiago, e, depois a todos os apóstolos. Em último lugar, apareceu,
também, a mim, como a um abortivo”; cf. Mc 16,1-8; Mt 28,1-8; Lc
24,1-11; Jo 20,1-10). As escrituras se enganam?
Se Jesus não ressuscitou, corremos o risco de esvaziar comple-
tamente nossa fé católica e o conteúdo teológico das Escrituras,
transformando a ciência teológico-bíblica em antropologia, a esca-
tologia celeste em escatologia terrestre e as verdades da fé em meras

10
Que saia depois de um comando de Jesus.
Observação já feita anteriormente (cf. o ponto 4. A ressurreição dos mortos,
11

pag. 30). Aqui, insisto no fato.

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Pe. Fernando César Chaves Reis

quimeras. É o que queremos? Estamos vivendo uma espécie de an-


tropologismo cultural, com o fim do pensamento teológico.

4. O fim da teologia?
Se pensarmos “teologia” (θεὸς + λόγος) como discurso sobre
Deus (“acerca de Deus”), esse discurso está desaparecendo, dando
origem a um neologismo neoliberal e cultural, a um ecumenismo
sincrético pós-cristão, com uma “capa” e/ou “superfície” de discurso
teológico. É o que desejamos? “Mas, o Filho do homem quando vol-
tar, encontrará a fé sobre a terra πλὴν ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου ἐλθὼν
ἆρα εὑρήσει τὴν πίστιν ἐπὶ τῆς γῆς” (cf. Lc 18,1-8)?
Estamos substituindo a fé cristã bíblica e monoteísta por um
acervo monolátrico de crenças, politeísmos, idolatrias, panteísmos
ideológicos sub-espirituais, sob o pretexto de um “falso ecumenis-
mo”. O que prevalece, hoje, em algumas esferas do pensamento ca-
tólico é o ὁ ψυχικὸς e não o ὁ πνευματικὸς (cf. 1Cor 2,14-15: “o
homem psíquico, natural e o homem espiritual, espirituado”, se-
gundo a argumentação de Paulo; cf. 3,1, “carnais” σαρκίνοις; 15,44,
“corpo psíquico/natural σῶμα ψυχικόν e corpo espiritual σῶμα
πνευματικόν”).
É o fim do monoteísmo e da teologia. Mas, ainda há tempo, es-
cutemos o primeiro dos mandamentos: “Ouve, ó Israel, o Senhor
nosso Deus é um Ἄκουε, Ἰσραήλ, κύριος ὁ θεὸς ἡμῶν κύριος εἷς
ἐστιν šmʻ yśrʼl yhwh ʼlhynw yhwh ʼḥdh (cf. Mc 12,29).

5. Últimos tempos
Escutemos, ainda há tempo.

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

Timóteo, “guarda o depósito, evita o palavreado vão e ímpio, e


as contradições de uma falsa ciência, pois alguns, professando-a, se
desviaram da fé” Ὦ Τιμόθεε, τὴν παραθήκην φύλαξον ἐκτρεπόμενος
τὰς βεβήλους κενοφωνίας καὶ ἀντιθέσεις τῆς ψευδωνύμου γνώσεως,
ἥν τινες ἐπαγγελλόμενοι περὶ τὴν πίστιν ἠστόχησαν (1Tm 6,20-21).
“Nos últimos tempos alguns renegarão a fé” ἐν ὑστέροις καιροῖς
ἀποστήσονταί τινες τῆς πίστεως (1Tm 4,1). “Quando o Filho do
Homem votar, encontrará a fé sobre a terra?” (cf. Lc 18,8).
Esses tempos ἐν ὑστέροις καιροῖς, ao que tudo indica, já
chegaram.

6. Papa Francisco
“Nós vos louvamos, Pai, com todas as vossas criaturas, que saí-
ram da vossa mão poderosa. São vossas e estão repletas da vossa
presença e da vossa ternura. Louvado sejais”12.

7. Datação
Fortaleza, 15 de novembro de 2021, memória de santo Alberto
Magno, bispo e doutor da Igreja13.

12
Papa Francisco, Carta encíclica Laudato sì. Sobre o cuidado da casa comum,
doc. 201, São Paulo, Paulinas, 2015. p. 195.
13
“Anzitutto l’eucaristia è utile per la remissione dei peccati per chi è spiritual-
mente morto, utilissima poi all’aumento della grazia per chi è spiritualmente
vivo. Il salvatore delle nostre anime ci istruisce su ciò che è utile per riceve-
re la sua santificazione”, dal “Comento sul vangelo di Luca”, di sant’Alberto
Magno, vescovo, Liturgia delle ore, volume IV, tempo ordinario, settimane
XVIII-XXXIV, ufficio delle letture, pp. 1480-1483, sobre a Eucaristia.

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Pe. Fernando César Chaves Reis

8. Autoria
Padre Fernando César Chaves Reis, mestre em ciências bíblicas
pelo Instituto Pontifício Bíblico de Roma, doutor em teologia bí-
blica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, pós-doutor
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio),
curso de arqueologia bíblica na Turquia, Grécia e Israel pelo Pontifí-
cio Instituto Bíblica e pela Pontifícia Universidade Gregoriana.

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BIBLIOGRAFIA

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O Caminho Sinodal e o Retorno à Igreja Primitiva

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