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Tecnologias Consagradas de Gestão de Riscos

Book · June 2003

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2 authors:

Francesco De Cicco Mario Luiz Fantazzini


Centro da Qualidade, Segurança e Produtividade - QSP 4 PUBLICATIONS   14 CITATIONS   
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Série Risk Management

TECNOLOGIAS CONSAGRADAS
DE GESTÃO DE RISCOS
Reprint da coletânea "Técnicas Modernas de Gerência de Riscos“ e
do livro "Introdução à Engenharia de Segurança de Sistemas".

Francesco De Cicco
Mario Luiz Fantazzini

ESTA É UMA PRÉ-VISUALIZAÇÃO DO MANUAL

Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução total ou


parcial desta publicação, sem a prévia autorização do editor.
Copyright  2003 by Risk Tecnologia Editora Ltda.
Fone: (11) 3704-3200.
1ª Edição: Agosto de 1985.
2ª Edição: Junho de 2003.
AUTORES

Francesco De Cicco – Sócio-Fundador e diretor executivo do QSP – Centro da


Qualidade, Segurança e Produtividade para o Brasil e América Latina.
Engenheiro Civil e de Segurança. Especialista em Risk Management, com
aperfeiçoamento na Itália, Espanha e Inglaterra. De 1975 a 1985, foi
pesquisador e gerente da Divisão de Segurança do Trabalho da Fundacentro.
Em 1983, criou e coordenou o “Núcleo de Estudos sobre Gerência de Riscos”,
da FAAP. Em 1986, fundou o IBGR – Instituto Brasileiro de Gerência de
Riscos – e, de 1989 a 1992, foi diretor-geral do Itsemap do Brasil. Possui mais
de 100 artigos e livros publicados.

Mario Luiz Fantazzini - Consultor de empresas. Engenheiro Mecânico e de


Segurança. Higienista Ocupacional, com aperfeiçoamento em Ruído e
Vibrações na Inglaterra e na Dinamarca. Professor da FATEC-UNESP desde
1980. Atuou na Fundacentro por 13 anos, tendo sido pesquisador-higienista,
chefe do Setor de Riscos Físicos e Diretor Técnico. Foi Diretor Técnico do
Itsemap do Brasil por 14 anos. Vice-Presidente de Educação e Formação da
ABHO - Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais. Editor da coluna
"Prevenção de Riscos" da Revista Proteção.

2
ÍNDICE

Apresentação ......................................................................................... 5

Módulo 1 – Os riscos empresariais e a Gerência de Riscos .............. 7

1. Explicação dos termos fundamentais ...................................... 8


2. Natureza dos riscos empresariais ............................................ 11
3. Nossa visão sobre a Gerência de Riscos ................................. 14

Módulo 2 – Identificação de Riscos ..................................................... 20

1. Checklists e roteiros ................................................................. 22


2. Inspeção de segurança ............................................................. 22
3. Investigação de acidentes ........................................................ 23
4. Fluxogramas ............................................................................ 24
5. Checklist básico ....................................................................... 27

Módulo 3 – Técnicas de Análise de Riscos .......................................... 35

 Engenharia de Segurança de Sistemas .................................... 36


 Definições ................................................................................ 37
 Fundamentos matemáticos ...................................................... 43
 Técnicas de análise:
1. Série de riscos ..................................................................... 57
2. Análises iniciais: Análise Preliminar de Riscos (APR)....... 59
3. Análises detalhadas: Análise de Modos de Falha e Efeitos
(AMFE) .............................................................................. 63
4. Análises de operação: Técnica de Incidentes Críticos ....... 67
5. Análises quantitativas: Análise de Árvores de Falhas
(AAF) .. .............................................................................. 75

Módulo 4 – Avaliação de Riscos .......................................................... 93

1. A ciência Estatística – Revisão ................................................ 94


2. Riscos e probabilidades ........................................................... 99
3. Distribuições de probabilidades .............................................. 106
4. Previsão de perdas por estatísticas .......................................... 115

3
Módulo 5 – Prevenção e Controle de Perdas ...................................... 126

1ª parte: Controle de danos, controle total de perdas ou


segurança de sistemas? ................................................... 127
2ª parte: Procedimentos sugeridos para o desenvolvimento de
um programa-piloto de prevenção e controle de perdas .. 138

Módulo 6 – Financiamento de Riscos .................................................. 147

1. Retenção de riscos ................................................................... 148


2. Transferência de riscos ............................................................ 152

Módulo 7 – Elementos para a tomada de decisão sobre riscos (1) ... 155

 Método para a determinação matemática de prioridades para


o controle de riscos:
 Primeira parte ................................................................ 155
 Segunda parte ................................................................ 159
 Custo de acidentes ................................................................... 163
 Avaliação das perdas de um sistema ....................................... 176

Módulo 8 – Elementos para a tomada de decisão sobre riscos (2) ... 183

1. Seguro ou auto-seguro? ........................................................... 184


2. Definição de níveis de franquia ............................................... 186

Bibliografia ............................................................................................ 191

ESTA É UMA PRÉ-VISUALIZAÇÃO DO MANUAL

4
APRESENTAÇÃO (*)

A presente coletânea de textos selecionados sobre Gerência de Riscos é fruto de


um trabalho por nós desenvolvido ao longo destes últimos dez anos, o qual teve
(e terá) sempre como objetivo maior encontrar novos caminhos, além da
Engenharia de Segurança do Trabalho tradicional, que garantam,
prioritariamente, a proteção do trabalhador brasileiro contra riscos de acidentes,
em suas atividades laborais.

Procuramos, neste decênio, atingir tal objetivo alinhando, lado a lado, os


aspectos sociais e humanos aos aspectos econômicos e financeiros, os quais
estão, invariavelmente, relacionados entre si, quando se está tratando de perdas
decorrentes de acidentes e falhas.

Outras questões importantes que temos destacado em inúmeras oportunidades


referem-se à formação e especialização dos profissionais da área de Engenharia
de Segurança; às formas como são conduzidas as atividades prevencionistas na
empresa; e ao enfoque que tradicionalmente é adotado – e que deve ser
modificado – para o problema dos infortúnios do trabalho.

Cumpre esclarecer ao leitor que o enfoque que iremos dar, nos textos
selecionados para esta coletânea, está embasado em múltiplos conceitos e
aspectos relacionados com os acidentes do trabalho, por duas razões
fundamentais:

- a primeira diz respeito ao fato de que, historicamente, grande parte das


ações iniciais relativas à prevenção e ao controle de perdas acidentais (de
qualquer natureza) começou com os infortúnios do trabalho. Sua
freqüência e gravidade em termos de lesões aos trabalhadores, de danos
às instalações, às máquinas e equipamentos e ao processo produtivo,
chamaram a atenção de líderes sindicais, legisladores e empregadores,
desencadeando uma série de esforços para controlar e prevenir tais
acidentes;

(*) Agosto de 1985.

5
- a segunda está intimamente ligada ao fato de que, com a extensão das
teorias e práticas prevencionistas a praticamente todas as classes de
perdas acidentais, muitas das suposições e idéias que se originaram no
contexto da prevenção de acidentes do trabalho foram sendo difundidas
pelas várias áreas que têm relação com o assunto, a da Gerência de
Riscos inclusive.

Muito se tem falado, mas nunca é demais repetir, que a responsabilidade


pela prevenção de acidentes é de todos os funcionários da empresa, desde a
alta direção até o mais modesto trabalhador.

Torna-se portanto necessário, numa abordagem atual e mais realista do


problema, mostrar aos que estão, direta e indiretamente, empenhados na
produção de bens e prestação de serviços que são eles os maiores
interessados e beneficiários, devendo participar ativamente da identificação,
análise e avaliação de todos os riscos que possam afetá-los e causar perdas
decorrentes de morte ou invalidez de trabalhadores, de danos à propriedade
ou a bens em geral, e de danos causados a terceiros (responsabilidade por
poluir o meio ambiente, responsabilidade pela qualidade e segurança do
produto fabricado ou do serviço prestado, entre outras).

Assim, acreditamos ser imprescindível que seja dada aos profissionais da


área de Engenharia de Segurança do Trabalho a oportunidade de
atualizarem, ampliarem e aplicarem os seus conhecimentos, participando
com os diferentes segmentos da empresa da administração de todos os riscos
de acidentes a que a organização está sujeita (incluindo-se aí o trabalho
conjunto e integrado com o setor de Seguros da empresa, que trata do
mesmo assunto (risco) mas que atua, na maioria dos casos, de forma
dissociada do setor de Segurança).

PARA ADQUIRIR O MANUAL, ENTRE AQUI.

6
OS RISCOS EMPRESARIAIS E A GERÊNCIA DE RISCOS

“Acidentes ocorrem desde tempos imemoriais, e as pessoas têm se envolvido


tendo em vista a sua prevenção por períodos comparavelmente extensos.
Lamentavelmente, apesar do assunto ter sido discutido continuamente, a
terminologia relacionada ainda carece de clareza e precisão. Do ponto de vista
técnico, é particularmente frustrante tal condição, pois da mesma resultam
desvios e vícios de comunicação e compreensão, que podem se adicionar às
dificuldades, na resolução de problemas. Qualquer discussão sobre perigos e
riscos deve ser precedida de uma explicação da terminologia, seu sentido
preciso e inter-relacionamento” (Willie Hammer).

A colocação de Hammer nos obriga a refletir e a buscar uma proposição que


preencha nossas necessidades de uma terminologia consistente e que reflita a
filosofia e o enfoque sobre Gerência de Riscos que iremos adotar ao longo desta
coletânea.

1. Explicação dos termos fundamentais(*)

 Perigo (Hazard) – uma ou mais condições de uma variável com o


potencial necessário para causar danos. Esses danos podem ser
entendidos como lesões a pessoas, danos a equipamentos ou
estruturas, perda de material em processo ou redução da capacidade
de desempenho de uma função pré-determinada. Havendo um perigo,
persistem as possibilidades de efeitos adversos.

 Risco (Risk) – expressa uma probabilidade de possíveis danos dentro


de um período específico de tempo ou número de ciclos operacionais.
Pode ser indicado pela probabilidade de um acidente multiplicada
pelo dano em cruzeiros, vidas ou unidades operacionais.

(*) No texto original, de 1978, traduzimos pela primeira vez o termo “hazard” como
“risco”. Entretanto, com a publicação, a partir de 1996, das normas BS 8800, OHSAS
18001 e OHSAS 18002, mudamos – para facilitar a compreensão dessas normas pelos
usuários – a tradução de “hazard” para “perigo” (sem alterar obviamente o significado
e a conceituação original do termo “hazard”).

As definições apresentadas nesta reimpressão da coletânea (em 2003) foram ajustadas à


nova tradução que temos utilizado para “hazard”, para que estejam alinhadas com as
referidas normas. (Nota explicativa de F. De Cicco)

8
 Risco (Risk) – pode significar ainda:

 a incerteza quanto à ocorrência de um determinado evento


(acidente);

 a chance de perda ou perdas que uma empresa pode sofrer por


causa de um acidente ou série de acidentes.

 Segurança – é freqüentemente definida como “isenção de perigos”.


Entretanto, é praticamente impossível a eliminação completa de todos
os perigos. Segurança é, portanto, um compromisso acerca de uma
relativa proteção da exposição a perigos. É o antônimo de nível de
perigo.
 Nível de perigo (Danger) – expressa uma exposição relativa a um
perigo, que favorece a sua materialização em danos.

Um perigo pode estar presente, mas pode haver baixo nível de perigo, devido
às precauções tomadas. Assim, por exemplo, um banco de transformadores de
alta voltagem possui um perigo inerente de eletrocussão, uma vez que esteja
energizado. Há um alto nível de perigo se o banco estiver desprotegido, no
meio de uma área com pessoas. O mesmo perigo estará presente quando os
transformadores estiverem trancados num cubículo sob o piso. Entretanto, o
nível de perigo agora será mínimo para o pessoal. Vários outros exemplos
podem ser criados, mostrando como os níveis de perigo diferem, ainda que o
perigo se mantenha o mesmo.

 Dano – é a gravidade da perda humana, material ou financeira que


pode resultar se o controle sobre um perigo é perdido.

Um operário desprotegido pode cair de uma viga a 3 metros de altura,


resultando um dano físico, por exemplo, uma fratura na perna. Se a viga
estivesse colocada a 90 metros de altura, ele com boa certeza estaria morto. O
perigo (possibilidade) e o nível de perigo (exposição) de queda são os mesmos,
entretanto, a diferença reside apenas na gravidade do dano que poderia ocorrer
com a queda.

9
 Causa – é a origem de caráter humano ou material relacionada com o
evento catastrófico (acidente), pela materialização de um perigo,
resultando em danos.

 Perda – é o prejuízo sofrido por uma organização, sem garantia de


ressarcimento por Seguro ou por outros meios.

 Sinistro – é o prejuízo sofrido por uma organização, com garantia de


ressarcimento por Seguro ou por outros meios.

OBS.: Na presente coletânea, empregaremos praticamente só o termo


“perda” para designar o prejuízo, ou eventual prejuízo, sofrido por
uma empresa, independentemente da existência ou não de garantia de
ressarcimento.

 Incidente – qualquer evento ou fato negativo com potencial para


provocar danos. É também chamado “quase-acidente”: situação em
que não há danos macroscópicos.

Para facilitar o entendimento desses termos básicos, vamos adotar o


seguinte esquema de referência:

Incidente

Perigo Exposição (nível de perigo) Risco

Causa Fato Efeito

Origem Acidente
Danos
(humana e
(a pessoas, materiais,
material)
equipamentos, meio
ambiente etc)

10
2. Natureza dos riscos empresariais

Os vários autores e estudiosos, principalmente norte-americanos, da Gerência


de Riscos, digamos “tradicional”, têm classificado os riscos que podem atingir
uma empresa, basicamente, em: riscos especulativos (ou dinâmicos) e riscos
puros (ou estáticos).

A diferença principal entre essas duas categorias de risco reside no fato de que
os riscos especulativos envolvem uma possibilidade de ganho ou uma chance
de perda; ao passo que os riscos puros envolvem somente uma chance de perda,
não existindo nenhuma possibilidade de ganho ou de lucro.

Um exemplo clássico que mostra essa diferença é o do proprietário de um


veículo, cujo risco (puro) que está associado a ele é o da perda potencial por
colisão. Se ocorrer eventualmente uma colisão, o proprietário sofrerá, no
mínimo, uma perda financeira. Se não ocorrer nenhuma colisão, o proprietário
não terá, obviamente, nenhum ganho.

Os riscos especulativos podem ser divididos em três tipos: riscos


administrativos, políticos e de inovação.

Os riscos administrativos estão intimamente relacionados ao processo de


tomada de decisões gerenciais: uma decisão errada pode gerar perdas
consideráveis, enquanto que uma decisão correta pode trazer lucros para a
empresa. O problema maior está na dificuldade de se prever, com exatidão, o
resultado que advirá da decisão adotada. Essa incerteza nada mais é do que a
própria definição de risco, conforme visto no tópico anterior.

Os riscos administrativos podem ainda ser subdivididos em:

- riscos de mercado: são certos fatores que tornam incerta a venda de


um determinado produto ou serviço, a um preço suficiente que traga
resultados satisfatórios em relação ao capital investido;

- riscos financeiros: dizem respeito às incertezas em relação às decisões


tomadas sobre a política econômico-financeira da organização;

11
- riscos de produção: envolvem questões e incertezas quanto a
materiais, equipamentos, mão-de-obra e tecnologia utilizados na
fabricação de um produto ou na prestação de um determinado serviço.

Os riscos políticos, por sua vez, derivam-se de leis, decretos, portarias,


resoluções etc, emanados do Governo Federal, Estadual e Municipal, os quais
podem ameaçar os interesses e objetivos da organização.

Por último, os riscos de inovação referem-se às incertezas decorrentes,


normalmente, da introdução (oferta) de novos produtos ou serviços no mercado,
e da sua aceitação (demanda) pelos consumidores.
Os riscos puros, como já mencionamos, existem quando há somente uma
chance de perda e nenhuma possibilidade de ganho ou lucro.

As principais perdas acidentais (diretas e indiretas) resultantes da


materialização dos riscos puros que podem ocorrer numa empresa podem ser
agrupadas em:

- perdas decorrentes de morte ou invalidez de funcionários;

- perdas por danos à propriedade e a bens em geral;

- perdas decorrentes de fraudes ou atos criminosos;

- perdas por danos causados a terceiros (responsabilidade da empresa


por poluir o meio ambiente, responsabilidade pela qualidade e
segurança do produto fabricado ou do serviço prestado, entre outras).

Para dar apenas uma idéia do significado, por exemplo, das perdas para o
fabricante de um determinado produto resultante de um acidente, com os
conseqüentes danos a um consumidor, vamos enumerar os itens mais
importantes que incidiriram sobre a empresa:

- Pagamento de indenizações por lesões ou morte, incluindo o pagamento de


pensões aos dependentes do reclamante e honorários advocatícios;

- Pagamento de indenizações por danos materiais não cobertos por seguro.


Tais indenizações poderiam também incluir:

12
. custos de reposição do produto e de outros itens danificados;

. custos de recuperação do equipamento danificado;

. perda de rendimentos operacionais;

. custos com assistência emergencial;

. custos administrativos;

. honorários dos advogados do reclamante;

. tempo e salários perdidos.

- Honorários dos advogados de defesa;

- Custos da investigação do acidente;

- Ações corretivas para evitar repetição do acidente;

- Queda de produção durante a determinação das causas do acidente e durante


a adoção de ações corretivas;

- Penalidades por falhas na adoção de ações corretivas de riscos, defeitos ou


condições que violam preceitos legais;

- Tempo perdido do pessoal da empresa fabricante;

- Obsolescência do equipamento associado ao produto que deverá ser


modificado;

- Aumento das tarifas de seguro;

- Perda de confiança perante a opinião pública;

- Perda de prestígio;

- Degradação moral.

Normalmente, considera-se que a Gerência de Riscos trata apenas das questões


relativas à prevenção e ao financiamento dos riscos puros. Entretanto, vale
mencionar que muitas de suas técnicas podem ser igualmente aplicadas aos
riscos especulativos.

13
É importante lembrar também, conforme será discutido no Módulo 3, o papel
fundamental que desempenha, nos programas de gerenciamento de riscos, o
estudo dos incidentes (quase-acidentes).

Para melhor caracterizar o que estamos afirmando, vamos considerar um estudo


bastante representativo realizado nos Estados Unidos, em 1969, pela “Insurance
Company of North America”, o qual abrangeu 1.753.498 acidentes registrados
por 297 organizações, que representavam 21 diferentes setores de atividade e
empregavam 1.750.000 trabalhadores. O tempo de exposição aos riscos somou,
no período analisado, mais de 3.000 milhões de horas-homem.

Esse estudo revelou que, para cada acidente com lesão grave (com
afastamento), havia 9,8 acidentes com lesão leve (sem afastamento) e 30,2
acidentes com danos à propriedade.

Parte do estudo compreendeu 4.000 horas de entrevistas a trabalhadores sobre a


ocorrência de incidentes que, em circunstâncias ligeiramente diferentes,
poderiam ter causado lesões ou danos à propriedade. Como resultado dessas
entrevistas, concluiu-se que, para cada lesão grave, ocorreram 600 incidentes
(quase-acidentes) que não apresentaram lesões ou danos visíveis (ver figura 1).

Essa relação indica claramente que os esforços de prevenção e controle de


riscos devem ser concentrados não só nos acidentes com lesão, mas também
nos acidentes com danos à propriedade e incidentes, pois qualquer um destes
últimos pode resultar ainda em uma lesão grave ou morte.

3. Nossa visão sobre a Gerência de Riscos


É extremamente difícil enumerar as razões que têm tornado a Gerência de
Riscos o assunto do momento.

Entretanto, uma razão importante é que as empresas e o público em geral


tomaram nova consciência dos perigos potenciais decorrentes do contínuo
progresso tecnológico que a humanidade vem alcançando.

14
A percepção de que conseqüências irreversíveis podem afetar o meio ambiente,
que os recursos naturais não são ilimitados e que, do ponto de vista da
economia em geral, o dinheiro nunca pode compensar vidas e valores
destruídos, também merecem ser citados neste contexto. Além disso, o
chamado “consumidorismo”, para que possa ser compreendido como uma
atitude crítica do consumidor de bens e de serviços, com relação ao fabricante
ou fornecedor, tem um efeito semelhante. Está-se exigindo maior
responsabilidade dos empresários.

Esses progressos, que também são refletidos na legislação, juntamente com um


clima difícil na economia, estão forçando as empresas a se responsabilizar por
todas as perdas que, de um modo ou de outro, ameaçam seus objetivos: seja
conseguir bom nível de lucros, seja manter os negócios em bom andamento ou,
até mesmo, garantir a própria existência da organização.

A rigor, a Gerência de Riscos, em termos de consciência do risco ou de


vivência com ele, é tão antiga quanto o próprio homem. Na verdade, o homem
sempre esteve envolvido com riscos e com muitas das decisões de Gerência de
Riscos. Muito antes da existência do que hoje denominamos gerentes de riscos,
indivíduos dedicavam-se (e têm se dedicado) a tarefas e funções específicas de
segurança do trabalho, proteção contra incêndios, segurança patrimonial,
controle da qualidade, inspeções e análises de riscos para fins de seguro,
análises técnicas de seguro e inúmeras outras atividades semelhantes.

O que ocorreu com relação à Gerência de Riscos é que os americanos e


europeus aglutinaram o que inúmeras pessoas vinham fazendo de forma
independente em um conjunto de teorias lógicas e objetivas e deram-lhe o nome
de “Risk Management”.

Entretanto, um cuidadoso exame dos diversos estudos, trabalhos e publicações


sobre o assunto, revela que não existe concordância quanto à natureza,
conceito e conteúdo da Gerência de Riscos.

Várias têm sido as tentativas para se definir o conceito de Gerência de Riscos.


Não é objetivo da presente coletânea levantar polêmicas a respeito dessa
questão. No entanto, de nossa parte, a visão que temos da Gerência de Riscos
está intimamente ligada ao conceito e conteúdo que atribuímos à mesma, os
quais serão explanados a seguir.

Podemos dizer que a Gerência de Riscos é a ciência, a arte e a função que visa a
proteção dos recursos humanos, materiais, ambientais e financeiros de uma

16
empresa, quer através da eliminação ou redução de seus riscos, quer através do
financiamento dos riscos remanescentes, conforme seja economicamente mais
viável.

De fato, a Gerência de Riscos teve seu início efetivo nos Estados Unidos e em
alguns países da Europa, logo após a Segunda Guerra Mundial, tendo os
responsáveis pela segurança das grandes empresas, bem como os responsáveis
pelos seus seguros, começado a examinar a possibilidade de reduzir os gastos
com prêmios de seguros e aumentar a proteção da empresa frente a riscos de
acidentes.

Perceberam então que só seria possível atingir tais objetivos por meio de uma
análise detalhada das situações de risco. Além da avaliação das probabilidades
de perda, tornou-se necessário determinar quais os riscos inevitáveis e quais os
que poderiam ser diminuídos. Calculou-se o custo-benefício das medidas de
proteção a serem adotadas, como também levou-se em consideração a situação
financeira da empresa, para a escolha adequada do seu grau de proteção.
É este, basicamente, também o nosso enfoque, acrescido de técnicas
consagradas oriundas de várias áreas, em especial, da Engenharia de Segurança
de Sistemas.

O conteúdo específico e os processos básicos da Gerência de Riscos, segundo a


nossa visão, são os que estão mostrados no quadro abaixo. O desenvolvimento
dos processos e as técnicas de gerenciamento de riscos serão discutidos em
detalhes nos módulos seguintes.

GERÊNCIA DE RISCOS – PROCESSOS BÁSICOS

- Identificação de riscos
- Análise de riscos
- Avaliação de riscos
- Tratamento de riscos:

- Prevenção Eliminação
Redução
Auto-adoção
Retenção Auto-seguro
- Financiamento
Transferência Sem Seguro
Através de Seguro

17
Deve ficar assim registrado também o fato de algumas pessoas confundirem
“Gerência ou Gestão de Riscos” com “Administração de Seguros”. Tais termos,
absolutamente, não são sinônimos. A Gerência de Riscos cobre um campo
consideravelmente mais amplo que a Administração de Seguros. O seguro é
uma das formas que a empresa pode adotar para tratar os seus riscos, ou seja, é
um dos elementos a serem considerados no processo de decisão da empresa em
relação a seus riscos. Somente a partir da decisão da organização de transferir
seus riscos através do seguro, é que se inicia efetivamente a “Administração de
Seguros”.

O último aspecto a ser analisado nesta parte do trabalho diz respeito à


implantação, em nosso país, da Gerência de Riscos nas empresas.

Acreditamos que, num primeiro instante, é fundamental que haja uma


integração efetiva entre as áreas de Engenharia de Segurança e de Seguros das
empresas, a fim de que todos os assuntos referentes a riscos de perdas
acidentais sejam equacionados em conjunto pelas duas áreas e tratados, em
conseqüência, de forma mais racional e econômica.

Por outro lado, é de suma importância que as empresas ofereçam condições


para que os profissionais atuantes nas áreas acima mencionadas sejam
devidamente treinados sobre os processos e as técnicas utilizadas no
gerenciamento de riscos, para que assim possam conduzir, de maneira
realmente científica, os programas atinentes ao assunto.

O passo seguinte seria então a criação, na própria empresa, de um departamento


que assessorasse a organização em todas as questões relativas a riscos de
acidentes e seguro: o Departamento de Gerência de Riscos. (*)

É evidente que essas ideais iniciais, bem como as ações posteriores, em termos
de organização do referido departamento, posicionamento do mesmo no
organograma, formas de atuação etc, dependerão da política, da cultura e das
características e peculiaridades de cada empresa.

(*) Em futuras publicações da Risk Tecnologia, será mostrado como evoluiu, de 1985 para
cá, a Gestão de Riscos nas empresas brasileiras.

18
Estamos certos de que a implantação da Gerência de Riscos não acarretará
maiores despesas para a organização, uma vez que ela já dispõe praticamente de
todo o pessoal necessário (das áreas de Segurança e de Seguros) para o
desenvolvimento dos trabalhos. Julgamos, isto sim, que as despesas eventuais
que venham a ocorrer são tão insignificantes que não se comparam aos
benefícios reais que a empresa obterá, quer quanto à redução de seus custos de
seguros, quer, principalmente, quanto à maior proteção de seus funcionários e
de seus recursos materiais, ambientais e financeiros.

Não devem ser esquecidos também os benefícios que a Gerência de Riscos, à


medida que for sendo adotada pelas empresas, trará ao mercado segurador. De
passagem e para finalizar, podemos citar dois deles:

- maior produção de prêmios, pelo simples fato de as empresas


identificarem novas situações de risco que até então não conheciam,
aumentando assim a possibilidade de os riscos que forem
cientificamente analisados e avaliados serem transferidos ao Seguro;

- seguros mais sadios e, conseqüentemente, menores riscos (para o


mercado segurador) de pagamento de indenizações (menor número de
sinistros indenizáveis).

ESTA É UMA PRÉ-VISUALIZAÇÃO DO MANUAL

19
AVALIAÇÃO DE RISCOS

Neste módulo, o termo risco estará, na maioria das vezes, intimamente


relacionado com a incerteza quanto à ocorrência de um determinado evento.

O nosso objetivo aqui é apresentar os principais métodos quantitativos


empregados para a solução de problemas de Gerência de Riscos, pois que, é
importante lembrar, um gerente de riscos, ao utilizar métodos quantitativos para
justificar suas posições ou para propor, por exemplo, programas de prevenção e
controle de perdas, estará apoiado em argumentos científicos que, certamente,
serão de importância fundamental para a tomada de decisão final, por parte da
alta direção da empresa, sobre os riscos que a afetam.

1. A ciência Estatística – Revisão

A Estatística pode ser considerada como a ciência que se preocupa com a


organização, descrição, análise e interpretação de dados.

Ela pode ser dividida em duas partes: a Estatística Descritiva, que trata da
organização e descrição de dados, e a Estatística Indutiva, que cuida de sua
análise e interpretação.

Dois conceitos fundamentais da ciência Estatística que devem ser inicialmente


destacados são: o conceito de população ou universo, e o conceito de amostra.

Uma população ou universo, no sentido geral, é um conjunto de elementos


com pelo menos uma característica comum. Essa característica comum deve
delimitar inequivocamente quais os elementos que pertencem à população e
quais os que não pertencem.

Uma vez perfeitamente caracterizada a população, o passo seguinte é o


levantamento de dados acerca da característica (ou características) em estudo.
Grande parte das vezes, porém, não é conveniente, ou mesmo nem é possível,
realizar o levantamento dos dados referentes a todos os elementos da
população. Deve-se então limitar as observações a uma parte da população, isto
é, a uma amostra proveniente dessa população. Uma amostra é, pois, um
subconjunto de uma população, necessariamente finito, pois todos os seus
elementos serão examinados para efeito da realização do estudo estatístico
desejado.

94
ESTA É UMA PRÉ-VISUALIZAÇÃO DO MANUAL

(...)

2. Riscos e Probabilidades

Como já mencionamos anteriormente, risco tem sido definido de várias


maneiras. No presente texto, consideramos risco como a incerteza quanto
à ocorrência de um determinado evento.

Objetivamente, um risco (chamado, neste caso, risco objetivo) é medido


da forma já apresentada no tópico anterior, ou seja, através das seguintes
“medidas de dispersão”: amplitude, desvio-padrão e coeficiente de variação.
Mais adiante veremos uma aplicação prática dessas medidas.

Subjetivamente, um risco (chamado, neste caso, risco subjetivo) pode


ser definido como a incerteza de um evento conforme visto, percebido
ou entendido por um indivíduo.

Essa percepção depende, fundamentalmente, da atitude do indivíduo com


relação a riscos. Em um extremo, pode estar situado o “otimista”, uma pessoa
que percebe pouco perigo ou incerteza no resultado de um evento e, na verdade,
tende a preferir situações com uma grande dose de incerteza a situações em que
o resultado é conhecido ou pode ser estimado com uma boa margem de certeza.
No extremo oposto, situa-se o “pessimista”, que exige altas possibilidades de
sucesso, antes de iniciar qualquer tipo de ação.
Em dada circunstância, é possível, e até mesmo muito provável, que o risco
objetivo seja baixo, e o risco subjetivo, de quem vai tomar a decisão, alto;
e vice-versa. Essa situação pode ocorrer porque, ao indivíduo que toma

99
decisões, falta conhecimento, ou da probabilidade ou da variação esperada na
distribuição de eventos. Ele pode ser tão “pessimista” que, mesmo controlando
um número suficientemente grande de objetos sujeitos a perda, permitindo-lhe
prevê-las com grande exatidão e assim adotar, por exemplo, o auto-seguro, irá
tomar a decisão de transferir o risco ao seguro. Por outro lado, o “otimista”
poderá perceber ou sentir pouco risco, mesmo que ele só controle um número
pequeno de objetos, no qual o risco objetivo é extremamente alto, e assim
preferir o auto-seguro. (Nos Módulos 6 e 8, serão discutidos outros aspectos
sobre retenção e transferência de riscos).

Do acima exposto, conclui-se que o gerente de riscos deve não só medir os


riscos objetivos que incidem sobre a empresa, mas também considerar a sua
atitude subjetiva com relação a risco, isto é, se ele é um “otimista” ou um
“pessimista”, assim como a classificação dos seus superiores imediatos e da alta
direção, que irão decidir com ele a melhor medida e a tratativa dos riscos mais
adequada para a empresa.

Outro conceito fundamental utilizado na avaliação de riscos é o conceito de


probabilidade.

A exemplo do que falamos anteriormente sobre riscos, a probabilidade pode ter


seus valores atribuídos de forma subjetiva e de forma objetiva.

Subjetivamente, probabilidade é uma porcentagem indicando o grau de


confiança ou a estimativa pessoal quanto à possibilidade de ocorrência de um
evento (probabilidade subjetiva). Como exemplo, temos afirmações do tipo
“eu acho que há 50% de chance de perda”, ou “eu acredito que há somente uma
chance em mil de uma inundação atingir nossa fábrica”.

Podemos, por outro lado, entender a probabilidade objetiva como sendo um


número real associado a um evento* (E), destinado a medir sua possibilidade de
ocorrência e possuindo as seguintes propriedades, entre outras: (...)

PARA ADQUIRIR O MANUAL, ENTRE AQUI.

(*) Evento = qualquer subconjunto do espaço amostral, definindo um resultado


bem determinado.

100
ESTA É UMA PRÉ-VISUALIZAÇÃO DO MANUAL

3. Distribuições de probabilidades

Como vimos no tópico anterior, probabilidade é um número que varia de 0 a 1.


Se a probabilidade é 0, significa que o evento não ocorrerá. Por outro lado, se a
probabilidade é 1, significa que ele, com toda certeza, ocorrerá.

Uma distribuição de probabilidades nada mais é do que a relação entre os


eventos possíveis e suas respectivas probabilidades de ocorrência. Como
exemplo, suponhamos que estamos interessados em estudar como os acidentes
de trabalho são distribuídos em uma certa empresa com 2.000 trabalhadores.
Através dos registros de acidentes ocorridos em vários anos, o gerente de riscos
determina que, em 50% dos anos, não ocorreram acidentes; em 20% dos anos,
ocorreu 1 acidente, em 15% dos anos, 2 acidentes, em 10% dos anos, 3
acidentes, em 5% dos anos, 4 acidentes.

A distribuição de probabilidades descrevendo essa situação é a seguinte:

Eventos possíveis Probabilidades de


(acidentes) ocorrência
0 0,50
1 0,20
2 0,15
3 0,10
4 0,05

Como somente um dos possíveis eventos pode ocorrer numa distribuição de


probabilidades, dentro do período em que a distribuição é construída, a soma
das probabilidades é igual a 1,0.

106
Consideremos ainda o seguinte exemplo: uma empresa tem uma pequena frota
de 5 carros, cada um tendo sido avaliado em US$ 3.000, e com distribuição de
probabilidades conforme mostrada a seguir:

Perdas por ano Probabilidade


US$ 0 0,600
100 0,300
1.000 0,090
3.000 0,006
6.000 0,003
9.000 0,001
12.000 ~ 0
15.000 ~ 0
1,000

Cada uma das perdas possíveis pode ser produzida por muitas combinações do
número de acidentes que ocorrem por ano e do valor médio da perda; por
exemplo, uma perda de US$ 3.000 pode resultar da destruição total de um
carro; de danos sofridos por 3 automóveis no valor de US$ 1.000 cada um, em
média; ou de qualquer outra combinação entre o número de acidentes e o valor
médio da perda.

Neste exemplo, a probabilidade da empresa não sofrer perdas é 0,60; a


probabilidade da empresa sofrer perdas de US$ 6.000 ou mais é 0,4% (0,003 +
0,001 + 0), e assim por diante.

Em termos práticos, no contexto da Gerência de Riscos, uma distribuição de


probabilidades permite que se determine, entre outros parâmetros:

- a probabilidade de que uma perda excederá o prêmio do seguro


necessário para cobrir totalmente um determinado risco;
- a probabilidade de que certas perdas “quebrariam” financeiramente
a empresa, se determinado risco fosse retido por ela.

107
No caso da frota de veículos, podemos dizer que a perda máxima possível
(PMP)* é de US15.000. Entretanto, se o gerente de riscos não quiser considerar
as perdas que tenham, por exemplo, menos de 0,2% de probabilidade de
ocorrência, a PMP cairá para US$ 6.000.

Outra medida extremamente útil que reflete tanto a freqüência como a


gravidade das perdas é o valor esperado de perda (VEP) ou perda média
(a longo prazo), o qual pode ser obtido pela soma dos produtos dos valores de
cada evento possível pela sua respectiva probabilidade de ocorrência.
Assim, no nosso exemplo, o valor esperado de perda é: US$ 0 x (0,600) +
$ 100 x (0,300) + $ 1.000 x (0,090) + $ 3.000 x (0,006) + $ 6.000 x (0,003) +
$ 9.000 x (0,001) + 0, ou seja, VEP = US$ 165.

Este valor é de utilidade para a empresa porque indica a perda média anual que
a organização terá que suportar, caso ela retenha o risco.

Se um segurador usar a mesma distribuição de probabilidade, o VEP será o


valor básico que ele receberá para cobrir suas perdas. Em outras palavras, o
VEP é a perda média, a longo prazo, que um segurador teria de pagar se
garantisse determinado(s) evento(s). Sintetiza, portanto, o prêmio puro, que é
o ponto inicial para a definição do prêmio bruto do seguro. É óbvio que esse
prêmio bruto é muito maior que o prêmio puro, pois nele incidem, além deste
último, taxas e impostos mais despesas e lucro do segurador (prêmio bruto =
prêmio puro + taxas e impostos + despesas + lucro).

Assim sendo, o gerente de riscos deve decidir se a empresa está disposta ou não
a pagar esses valores adicionais, acima do prêmio puro (para tomar uma decisão
desse tipo, sugerimos ao leitor considerar, entre outras coisas, os modelos e
procedimentos apresentados no Módulo 8 desta coletânea).

Devemos lembrar também de outro sinônimo bastante utilizado para designar o


VEP, que é o termo perda máxima provável (PMPro). Resumindo, temos
que:
VEP = perda média = prêmio puro = PMPro.

(*) PMP é a pior perda que, possivelmente, poderia ocorrer (ver também Dano
Potencial Máximo – DPM, no Módulo 7 desta coletânea).

ESTA É UMA PRÉ-VISUALIZAÇÃO DO MANUAL 108


Precisão na previsão de perdas

Vimos nos itens anteriores como construir intervalos para os principais


parâmetros populacionais. Em todos os casos, partimos de um dado nível de
confiança desses intervalos. Evidentemente, o nível de confiança deve ser
fixado de acordo com a probabilidade de acerto que se deseja ter na estimação
por intervalo. Sendo conveniente, o nível de confiança pode ser aumentado até
tão próximo de 100% quanto se queira, mas isso resultará em intervalos de
amplitude cada vez maiores o que significa perda de precisão na estimação.

É claro que seria desejável ter intervalos com alto nível de confiança e pequena
amplitude, o que corresponderia a estimar o parâmetro em questão com
pequena probabilidade de erro e grande precisão. Isso, porém, requer uma
amostra suficientemente grande, pois, para n fixo, confiança e precisão variam
em sentidos opostos.

Para determinar o tamanho mínimo de uma amostra que permita efetuar uma
previsão de perdas com uma precisão pré-estabelecida, poder-se-á utilizar a
fórmula a seguir, a qual está baseada em uma distribuição normal e na
suposição de que serão obedecidas as condições de aleatoriedade e de
independência dos eventos considerados, na seleção da amostra:

Z2 . p . q
n=
E2

Onde:

. n = tamanho da amostra (número de exposições a risco);


. Z = número de desvios-padrão adotados em função do nível de confiança
desejado (Z = 1, 2 ou 3);
. p = probabilidade de perda;
. q = 1 – p;
. E = grau de precisão desejado ou erro tolerável da estimativa.

Para exemplificar a aplicação da fórmula, vamos considerar o exemplo a seguir.

Um gerente de riscos estima que a probabilidade (freqüência) de ocorrer um


acidente do trabalho, com ou sem afastamento, é 20% (valor obtido dos
registros de acidentes que apontavam, para um determinado período, a

124
ocorrência de 200 acidentes numa amostra de 1.000 trabalhadores). Ele deseja
ter condições de estimar o número de acidentes com 95,45% de confiança (isto
equivale a dizer que Z = 2). Ele aceita, tolera, uma variação igual a 4 no número
esperado de acidentes (o que representa, portanto, um erro tolerável igual a
4/200, ou seja E = 0,02). Substituindo esses valores na fórmula apresentada,
temos:
2
n= 2 x 0,2 x 0,8 = 1.600.
(0,02)2

Esse valor, n = 1.600, representa o número mínimo de trabalhadores que


deveria ser considerado, para atender às condições de precisão desejadas.
Entretanto, como o gerente de riscos só dispõe de uma amostra de 1.000
trabalhadores, poderemos conhecer qual a porcentagem de erro que ele
incorrerá, ao adotar a sua amostragem. Assim, fazendo n = 1.000, Z = 2 e
p = 0,2, obtemos E = 0,0254, em vez de 0,02, o que praticamente pode ser
considerada uma diferença insignificante.

Fica mais uma vez comprovada a necessidade de se ter amostras


suficientemente grandes, para se obter a precisão desejada nas previsões de
perdas por estatísticas.

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125
FINANCIAMENTO DE RISCOS

Como mencionado no início desta coletânea, a decisão da empresa em relação


aos riscos que a afetam envolve, além da possibilidade (prioritária) de ações de
Prevenção e Controle de Perdas, conforme discutidas no Módulo 5, ações de
financiamento dos riscos remanescentes, isto é, dos riscos que não puderem ser
eliminados ou reduzidos.

As ações de financiamento de riscos, que serão abordadas a seguir,


compreendem: a retenção de riscos (auto-adoção e auto-seguro) e a
transferência de riscos a terceiros (sem seguro e através de seguro).

1. Retenção de riscos

A retenção de riscos pode ser definida, genericamente, como um plano


financeiro da própria empresa para enfrentar perdas acidentais.

As formas de retenção de riscos podem ser classificadas em: auto-adoção


(intencional e não-intencional) e auto-seguro (parcial e total).

O auto-seguro pode ser diferenciado da auto-adoção de riscos pelo fato de que


esta última não exige ou não envolve um planejamento formal, um fundo
(financeiro) de reserva para perdas. Empresas adotam, normalmente, a retenção
de riscos de várias maneiras: decidindo assumir todas as perdas de um certo
tipo; decidindo assumir somente perdas até um determinado valor e
transferindo ao seguro o excedente; e decidindo estabelecer fundos de reserva
antes ou depois da ocorrência das perdas.

A auto-adoção de riscos, por sua vez, apresenta-se de duas formas:

 como um plano intencional de financiamento de riscos;


 como uma ação não-intencional, isto é, sem nenhum plano organizado,
conseqüente da não-identificação dos riscos, da ignorância e, até mesmo, da
incompetência técnica e administrativa de algumas pessoas.

A auto-adoção intencional de riscos implica na aceitação deliberada das


perdas que são inconseqüentes para a empresa, ou seja, que são perfeitamente
suportáveis no seu contexto econômico e financeiro. Como exemplo, podemos
citar: riscos de roubo e colisão de veículos usados, acima de 5 anos; perdas

148
decorrentes de maus pagadores até um limite pré-fixado; perdas resultantes do
uso e desgaste natural de prédios, máquinas e equipamentos etc. Essas
despesas, usualmente previstas no capital de giro da empresa, não são, inúmeras
vezes, fortuitas em sua natureza e, portanto, podem ser consideradas inevitáveis
e inerentes ao próprio tipo de negócio ou atividade da empresa.

Se a empresa decidisse transferir esses riscos, o segurador teria que cobrar um


prêmio que, provavelmente, seria considerado excessivo, uma vez que teria de
ser suficientemente alto para cobrir as perdas esperadas, e conceder uma
margem, decorrente da efetivação do negócio. O prêmio seria, portanto, bem
superior à quase-certeza das perdas esperadas.

Muitas vezes, no entanto, a auto-adoção de riscos não é intencional e,


portanto, não é planejada. Desnecessário dizer que este tipo de auto-adoção
pode resultar, até mesmo, em catastrófica situação econômico-financeira para a
empresa.

As circunstâncias sujeitas a auto-seguro são as mesmas, na maioria dos casos,


do que aquelas para as quais o seguro pode ser adotado. Esses riscos exigem um
grau definido de planejamento financeiro, tais como a constituição de fundos de
reserva para perdas e medidas adicionais de controle financeiro interno. Se não
existir um plano financeiro para fazer face às perdas, a empresa estará
utilizando, consciente ou inconscientemente, o método de auto-adoção de riscos
já comentado. É muito comum ouvir que o auto-seguro vem sendo adotado por
uma empresa, quando é evidente que se trata exclusivamente de auto-adoção de
riscos.

Não se deve considerar que o método de auto-seguro, conforme delineado


acima, é uma forma exclusiva de financiamento de riscos. A regra geral é que
deve ser adotado, simultaneamente, mais de um método de financiamento. Por
exemplo, uma empresa pode assumir os riscos de colisão e roubo de veículos,
com uma franquia máxima, e transferir o excedente ao seguro. Pode, ainda,
adotar o auto-seguro para as perdas físicas e transferir o risco de
responsabilidade civil ao seguro.

Outro exemplo de auto-seguro parcial é encontrado no sistema de “taxação


retrospectiva” que, infelizmente, pelo menos no momento, dificilmente pode
ser adotado no Brasil.

ESTA É UMA PRÉ-VISUALIZAÇÃO DO MANUAL 149


1. Seguro ou Auto-Seguro?

Um problema freqüente para o gerente de riscos é justificar sua posição sobre o


melhor caminho a ser seguido pela empresa para tratar os riscos de acidentes
que a afetam, tanto em termos de medidas preventivas como em termos de
financiamento de riscos.

No Módulo anterior, foram apresentados alguns elementos básicos que podem


servir de subsídios e facilitar o processo de tomada de decisões, principalmente
no que tange a ações de prevenção e controle de perdas.

No presente Módulo, discutiremos mais alguns desses elementos, só que


voltados para os aspectos referentes às decisões sobre transferir para o seguro
ou auto-segurar um determinado risco.

Um modelo que vem sendo utilizado em vários países, com esse fim, é o
chamado “Modelo de Houston” (*), apresentado a seguir.

Para melhor entender a proposta no norte-americano David Houston, é


importante falar primeiramente sobre o conceito de perda de oportunidade.

Uma perda de oportunidade (ou custo de oportunidade) pode ser definida como
um possível ganho financeiro não-obtido devido à decisão de não participar de
um determinado negócio. Consideremos a seguinte situação: uma certa quantia
em dinheiro é aplicada num investimento de baixo risco (“Caderneta de
Poupança”, por exemplo), o qual paga uma pequena taxa de juros, ao invés de
ser aplicada, digamos, na própria empresa, com taxas de retorno maiores,
porém também com maiores riscos.

Vamos designar por i a porcentagem de retorno do investimento externo à


empresa, e por r a porcentagem de retorno do capital aplicado na própria
empresa.

A diferença entre r e i representa, portanto, o custo de oportunidade do dinheiro


em termos de ativos líquidos. Pode significar também um prêmio (ganho) pelo
risco corrido.

(*) Ver Bibliografia, referência n o 33.

ESTA É UMA PRÉ-VISUALIZAÇÃO DO MANUAL 184


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