Unidade 4 - Psicologia em Saude

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Unidade 4 - O psicólogo e a equipe de saúde

Nesta unidade você verá:


// o profissional de saúde diante da morte
// a equipe multidisciplinar no hospital
1. Objetivos

2. O profissional de saúde diante da morte

3. A equipe multidisciplinar no hospital


UNIDADE 4.
O psicólogo e a equipe de saúde
OBJETIVOS DA UNIDADE
 Refletir sobre o trabalho da equipe de saúde com pacientes terminais;
 Descrever a atuação em equipe nos ambientes hospitalares;
 Descrever o trabalho do psicólogo hospitalar frente a variadas
patologias.
TÓPICOS DE ESTUDO
O profissional de saúde diante da morte
// Os cuidados paliativos
// Os sentimentos da equipe
A equipe multidisciplinar no hospital
// Cuidado em saúde
// Atenção psicológica com variadas patologias

O profissional de saúde diante da morte

O psicólogo tradicional trabalha com o objetivo de auxiliar seu paciente no


atravessamento de questões emocionais a fim de que ele consiga vivenciar sua
vida com mais qualidade. A realidade do psicólogo hospitalar é outra: em
muitos casos, este profissional lidará com pacientes cuja finitude está próxima
e que não necessitam de um acolhimento com evolução a longo prazo, uma
vez que frequentemente o paciente nem mesmo possui esse tempo.
Quando o paciente se encontra fora de possibilidades terapêuticas, o
direcionamento do trabalho da equipe de saúde adquire um novo foco que não
tem mais como objetivo o tratamento curativo, mas sim que busca possibilitar a
manutenção da qualidade de vida do indivíduo no tempo de vida que lhe resta.

Desta forma, os médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e todos


os profissionais que compõem a equipe de saúde se esforçam para
proporcionar bem-estar físico e emocional para que o sujeito tenha uma morte
com dignidade.

Todo profissional de saúde é preparado para lidar com situações de morte,


embora a carga emocional presente nestes momentos seja algo de difícil
preparação. Por muito tempo, acreditou-se que o profissional de saúde deveria
adquirir certa frieza para lidar com situações de morte.

Contudo, quanto mais humano for o atendimento e a relação com o


paciente, maior será o sentimento de acolhimento por parte deste e maior será
a preservação de sua dignidade como pessoa. Este entendimento de que o
cuidado com o paciente precisa ser humanizado e que sua dignidade e
qualidade de vida precisam ser preservadas se fazem presente na equipe
de cuidados paliativos.

OS CUIDADOS PALIATIVOS

Por definição, pode-se caracterizar cuidados paliativos como a promoção


de qualidade de vida para pacientes e familiares que se encontram frente a
patologias que colocam em risco a continuidade da vida. Dessa maneira, este
cuidado visa prevenir e aliviar todo o sofrimento físico e emocional provocado
pela doença.

EXPLICANDO: Os cuidados paliativos não devem ser confundidos com a


eutanásia, uma vez que são elementos distintos. A eutanásia diz respeito à
antecipação da morte e tal prática é considerada ilegal no território brasileiro; já
os cuidados paliativos consistem na manutenção da qualidade de vida quando
não há mais recursos curativos para que o indivíduo possa vivenciar sua
terminalidade com dignidade.
Os cuidados paliativos são regidos por princípios que asseguram os
cuidados com o paciente, demonstrando que, mesmo quando não há
possibilidade de cura por meio da medicina, ações voltadas para a manutenção
do bem-estar ainda são possíveis. O cuidado paliativo tem início com o
diagnóstico terminal e prolonga-se mesmo após a morte do paciente com o
atendimento e acolhimento dos familiares, visando auxiliá-los no enfrentamento
do luto.

// Os princípios norteadores dos cuidados paliativos

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou os princípios que norteiam


o trabalho relativo aos cuidados paliativos e que devem ser promovidos pela
equipe de saúde (Quadro 1). 
Quadro 1. Cuidados paliativos que devem ser executados pela equipe de

saúde. Fonte: CARVALHO; PARSONS, 2012, p. 26-29. (Adaptado).

Para que o trabalho realizado pela equipe de cuidados paliativos seja


satisfatório, é necessário que o grupo seja composto por profissionais
especializados em diferentes áreas do conhecimento. Ademais, estes
profissionais precisam se comunicar constantemente entre si, a fim de prover a
melhor assistência possível ao paciente.

// A comunicação entre os membros da equipe

A comunicação entre os membros da equipe também se faz essencial para


a manutenção da qualidade de vida do paciente, assim como abrir mão da
individualidade profissional em prol do trabalho em conjunto e da troca de
saberes.
O paciente sofre em um sentido mais amplo, uma vez que seu corpo e
mente são afetados em sua totalidade, e é devido a isso que o trabalho
multiprofissional é requisitado: por compreender tal necessidade. A equipe
multidisciplinar possui como objetivo garantir que os anseios distintos do
paciente, dos familiares e da própria equipe de saúde sejam reconhecidos e
atendidos por meio de diversas ações por ela realizadas (CARVALHO;
PARSONS, 2012).

Esta é uma fase em que o apoio psicológico sobrepõe o apoio fisiológico no


que diz respeito à promoção do conforto e alívio necessários para a
manutenção da qualidade de vida. Isso posto, este cuidado direcionado para o
fim da vida permitirá que o paciente amenize seu sofrimento emocional perante
a morte.

// Os princípios bioéticos

Agir eticamente perante situações de morte condiz com um princípio


fundamental para que se possibilite a qualidade de vida do indivíduo. Dessa
maneira, em se tratando de ambientes hospitalares, os profissionais precisarão
se ater aos princípios bioéticos, os quais são caracterizados como:

Quadro 2. Os princípios bioéticos e suas definições.

ASSISTA: Em seu campo de conhecimento, os princípios bioéticos consideram


questões éticas e morais de suma importância, ações que fortalecem ainda
mais os cuidados paliativos. Veja o depoimento do médico e coordenador do
Centro de Bioética do CREMESP, Dr. Reinaldo Ayer, sobre a bioética e os
cuidados paliativos. 

Em se tratando de cuidados paliativos, isto é, de cuidados de preparação


para a morte, os princípios bioéticos apresentados deverão ser priorizados de
maneira hierarquizada. Assim, o princípio da não maleficência deverá
prevalecer sobre o princípio de beneficência. Essa hierarquização é importante
devido ao fato de que o objetivo não é a cura, mas sim a manutenção do bem-
estar físico e emocional.

É neste sentido que proporcionar ações que almejam a qualidade de vida


sem causar sofrimento intencional ao indivíduo irá sobrepor-se às ações
terapêuticas que possam provocar algum tipo de dor. Nos cuidados paliativos
não há mais a possibilidade de intervenção curativa, mas sempre haverá a
possibilidade de intervenções que possibilitem a manutenção do bem-estar e
da integridade do paciente.

OS SENTIMENTOS DA EQUIPE

A equipe de saúde pode vivenciar sentimento de impotência, de raiva, de


frustração e de incapacidade, entre muitos outros. Todos eles podem atribuir
valor simbólico e significado para o paciente hospitalizado, assim como as
crenças, os valores pessoais e os comportamentos da equipe de saúde
poderão influenciar negativamente no tratamento e provocar resistência aos
procedimentos clínicos e terapêuticos.

Saber controlar as próprias emoções torna-se um desafio para a equipe de


saúde e o psicólogo, como profissional especialista em questões emocionais,
deverá atentar-se a isso. Ademais, a convivência diária com o paciente terminal
cria um sentimento de afeto e sua morte também abala a equipe.

// A importância de saber lidar com os próprios sentimentos

Quando o profissional de saúde não consegue lidar de forma satisfatória


com seus próprios sentimentos, dificilmente conseguirá compreender e suprir
as demandas emocionais do paciente. Ele, então, por mais que crie um laço
mais humanizado com o indivíduo, precisará ter a consciência que se trata de
uma relação profissional-paciente. 
Essas relações criam comportamentos transferenciais e/ou
contratransferências e a atenção quanto a eles é determinante no cuidado do
paciente. Além disso, saber comunicar-se com o sujeito também constitui uma
prática terapêutica importante para a manutenção de sua qualidade de vida.

O profissional de saúde é preparado para cuidar do paciente e ter que lidar


com diversos tipos de angústias que este possa demonstrar. Isso posto, saber
lidar com tais questões e se posicionar frente ao indivíduo de modo que o
acolhimento o auxilie emocionalmente não é fácil para profissionais não
familiarizados com a esfera da Psicologia. 

Neste sentido, caberá ao psicólogo amparar os demais profissionais da


saúde nestas situações em que suas próprias demandas emocionais se
manifestam, influenciando direta ou indiretamente na saúde mental e na rotina
de trabalho do próprio colaborador e, consequentemente, da equipe de saúde e
do paciente.

// O profissional de saúde e a síndrome de burnout

Os profissionais de saúde podem desencadear a síndrome de burnout, a


qual se caracteriza por um distúrbio emocional que leva o profissional a um
esgotamento completo, tanto na esfera física quanto na esfera mental. Esse
esgotamento provoca sintomas de exaustão, estresse e desânimo, entre
outros, prejudicando seu rendimento profissional e afetando sua vida particular.

A síndrome de burnout em profissionais de saúde pode se manifestar


devido à constante convivência com a morte e ao estresse provocado pelo
desgaste físico e emocional de forma prolongada durante o período de
trabalho. De acordo com o Ministério da Saúde, os principais sintomas desta
síndrome incluem:
Qua

dro 3. Principais sintomas da síndrome de burnout. Fonte: BRASIL, s.d., n.p.

Comumente, os sintomas se manifestam de forma leve, o que faz com que


muitos indivíduos acabem considerando isto algo passageiro. Contudo, eles
tendem a se agravar ao longo dos dias e, por este motivo, indica-se a busca
por apoio profissional logo no aparecimento dos primeiros sinais, visto que eles
podem indicar o início da síndrome de burnout (BRASIL, s.d.).

// O psicólogo na equipe de cuidados paliativos


Especificamente no que diz respeito ao psicólogo hospitalar, este profissional
trabalha dentro de seu campo de especialidade e conhecimento em prol do bem-estar
do seu paciente, sempre levando em consideração que faz parte de uma equipe
multiprofissional e que todos ali possuem o mesmo objetivo: trabalhar para diminuir o
sofrimento físico e emocional do sujeito de acordo com suas especialidades.
Simonetti destaca a importância do profissional de psicologia hospitalar na
equipe de cuidados paliativos ao afirmar que:

se na medicina curativas as ações médico-biológicas


prevalecem sobre as intervenções psicossociais, na medicina
paliativa cresce drasticamente a importância do trabalho
psicológico familiar e espiritual, e com ele a importância do
psicólogo hospitalar (2013, p. 138-139).

Cabe ao psicólogo atuar como uma espécie de mediador e controlador do


sofrimento emocional e de diversos outros fatores estressantes que circundam
o ambiente. Assim, o profissional permite a criação de um espaço em que tanto
o paciente quanto os familiares possam falar abertamente sobre a morte e,
desta forma, elaborar seus sentimentos para que aproveitem o período final
com mais qualidade e menos sofrimento.

// A qualidade de vida como prioridade

O psicólogo jamais deve permitir que o paciente se sinta abandonado ou


sem assistência para suas demandas. Dessa maneira, zelar pela manutenção
de seu bem-estar torna-se uma prioridade que não pode ser negligenciada de
forma alguma.

O espaço para a expressão dos sentimentos se estende à equipe de


saúde. Assim, possibilitar que os profissionais expressem suas emoções
quanto à morte e o ato de morrer permitirá que os trabalhadores consigam criar
recursos emocionais para assistir o paciente de forma mais humana e empática
e com mais qualidade.

A Academia Nacional de Cuidados Paliativos, em seu Manual de Cuidados


Paliativos ANCP (2012), destaca a importância de valorizar o trabalho
multidisciplinar a partir da compreensão de que o paciente sofre de forma
global. A entidade ainda destaca que:

Cada membro da equipe aborda o sofrimento desde a perspectiva


que seu saber lhe autoriza. O objetivo comum é o de garantir que
necessidades distintas do doente, da família e da equipe possam ser
reconhecidas e atendidas pela articulação de ações de diferentes
naturezas (CARVALHO; PARSONS, 2012, p. 337).

Isso posto, o trabalho multidisciplinar é essencial para garantir que o


paciente será bem assistido em todos os aspectos possíveis. Este tipo de
trabalho em equipe não ocorre apenas nas equipes de cuidados paliativos, mas
espalha-se por todos os setores da unidade hospitalar, o que garante a
assistência igualitária para todos os indivíduos.

A equipe multidisciplinar no hospital

Como foi possível observar e refletir, o hospital caracteriza-se por ser um


local em que o paciente busca a solução para sua doença: o indivíduo
hospitalizado espera que os profissionais que ali estão tenham a solução para
seus problemas, de preferência de forma rápida e indolor.

Para tanto, o hospital oferece ao indivíduo a assistência de uma equipe


formada por diversos profissionais de áreas distintas e com especialidades
diferentes. Essa gama diversificada evidencia uma nova maneira de enxergar o
paciente enquanto ser biopsicossocial ao considerar um atendimento mais
amplo em todos os aspectos.

Assim, é necessário que a equipe de saúde de uma instituição hospitalar


seja capaz de identificar e tratar não apenas o quadro clínico do indivíduo, mas
também deve possuir a capacidade de observar as demais necessidades que o
sujeito possa apresentar e acolhê-las dentro do possível para a preservação de
seu bem-estar.

// O trabalho em equipe

Trabalhar em grupo não é algo simples e requer a capacidade de aceitar


novas formas de pensar e agir, além da habilidade de se expressar e
compartilhar conhecimentos. O trabalho dentro do âmbito hospitalar nunca
deve ser individualista, mesmo nos casos em que um único profissional está
atendendo o paciente.

Comunicar-se dentro de uma equipe multidisciplinar é essencial para que o


trabalho seja realizado da melhor maneira possível. Deve-se ter em vista que
ao se deparar com uma gama de saberes diferentes sobre o mesmo fenômeno
apresentado, o profissional, ao estabelecer seu ponto de vista a partir de sua
especialidade clínica, permite que a equipe possa discutir e encontrar soluções
que melhor se enquadrem às necessidades em questão.

// Integração do trabalho e respeito mútuo


O respeito mútuo e o reconhecimento de que cada área de especialidade é
importante e funciona dentro de suas particularidades também devem estar
presentes dentro da equipe de saúde. Quando os saberes estão integrados,
respeitando as diferenças entre cada um deles e sua forma de manejo clínico,
isso possibilita que a assistência ao paciente seja mais ampla e possua mais
qualidade.

// Equipe interdisciplinar x equipe transdisciplinar


As equipes multidisciplinares de saúde podem ser subdivididas em equipes
interdisciplinares e equipes transdisciplinares. Suas diferenças residem no
tipo de trabalho em equipe desenvolvido pelos profissionais em questão. Para
compreender melhor esta temática, observe o Quadro 4:

Qu

adro 4. Diferenças entre equipes interdisciplinares e transdisciplinares.

Observe que nas interdisciplinares há colaboração e diálogo entre os


membros da equipe de saúde, mas o trabalho ocorre de forma independente
entre os saberes. Já nas transdisciplinares a colaboração e o diálogo
acontecem de modo que as decisões da equipe de saúde tornam-se conjuntas,
ou seja: a equipe transdisciplinar apresenta-se como um elemento mais
unificado.
// A importância de cada membro da equipe
Cada membro da equipe multidisciplinar será importante dentro de sua
especialidade e o grupo será composto por profissionais de Medicina,
Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia, Nutrição e Assistência Social, entre
outros campos que contribuem para o atendimento e a recuperação do
paciente hospitalizado.

Apesar de o trabalho em equipe e a comunicação configurarem-se como


essenciais para o desenvolvimento do trabalho, cada profissional agirá de
acordo com suas especificidades. Entre estas, é possível destacar:

Psicólogo (a) – Responsável pelo acolhimento das demandas emocionais do


paciente, este profissional utiliza sua escuta clinica e manejo psicoterapêutico
para proporcionar a diminuição do sofrimento emocional durante o período de
internação, assim como as demandas familiares e da própria equipe de saúde.

Medico (a) – Responsável pelo diagnóstico e tratamento patológico


apresentados, este profissional aparece como líder da equipe de saúde e
hierarquicamente será responsável pelas principais decisões clinicas.

Enfermeiro (a) – Responsável pelo cuidado direto e indireto do paciente, este


profissional é o que possui maior contato com o doente, sendo requisitado
diversas vezes ao longo do dia para as intervenções junto ao leito. Enfermeiro
será responsável pelo controle da dor e avaliação de sintomas.

O (a) Assistente Social – Responsável pelo suporte social junto ao paciente e


a seus familiares, este profissional acolhe demandas sociais, econômicos e
culturais que envolvem ambos assim os fatores psicológicos apresentados.

Fonoaudiólogo (a) – Responsável pela manutenção da deglutição segurar que


possibilitem a realização da alimentação por via oral, este profissional também
cuida da manutenção, da recuperação e da reabilitação da comunicação dos
pacientes.

O (a) Fisioterapeuta – é responsável pelo cuidado e diminuição do sofrimento,


da dor e de outros sintomas fisiológicos, este profissional visa a manutenção e
a recuperação do movimento a partir de técnicas que consideram tanto os
fatores físicos como fatores psicológicos e socais no tratamento.

O (a) Nutricionista – responsável pela alimentação dos pacientes


hospitalizados, esta profissional linda com a definição do tipo de alimentação
que melhor adequem as necessidades do paciente. O cuidado na assistência
nutricional é importante em todos os estágios da doença para a prevenção e
diminuição dos efeitos provocados no tratamento.

Todo profissional é importante e necessário para o tratamento do paciente e


cada saber, por mais distinto que seja, será complementar ao saber de seu
colega de equipe. Outros profissionais também constituem a equipe
multidisciplinar de um hospital e são colaboradores igualmente importantes,
como os odontologistas, os terapeutas ocupacionais e os radiologistas, entre
outros.

EXPLICANDO - A equipe multidisciplinar de um hospital não é formada apenas


por funcionários da área da saúde: vale a pena ressaltar que outros
profissionais, como administradores(as), secretários(as), zeladores(as),
maqueiros e seguranças, entre tantos outros, também compõem a rotina de
uma unidade hospitalar e contribuem significativamente para que o paciente
seja assistido com dignidade.

É graças à contribuição de tantos profissionais que se torna possível


proporcionar ao paciente os cuidados necessários para a manutenção de sua
integridade física e psicológica, além da recuperação de seu quadro clínico
com maior agilidade e qualidade. 

Cada membro da equipe de saúde será responsável por uma parcela do


cuidado com o indivíduo, sejam aqueles do campo de Psicologia e
Enfermagem ou Fisioterapia e Nutrição: independente da área profissional ou
da patologia apresentada pelo paciente, este será assistido de forma integral
para que seu bem-estar e sua dignidade enquanto ser humano sejam
preservados.

CUIDADO EM SAÚDE
Nos hospitais, o cuidado é centrado no paciente e na sua pronta
recuperação. Logo, a equipe empenha-se em pequenos cuidados
direcionados para as necessidades globais do paciente, a fim de que ele seja
assistido como um todo. Cuidar significa zelar pelo bem-estar, portanto, o
cuidado em saúde é direcionado para esse fim, o da manutenção e
recuperação do bem-estar do indivíduo doente.

Contudo, para que o cuidado seja realizado, deve-se considerar


algumas dimensões da gestão do cuidado em saúde, sendo elas a
individual, a familiar, a profissional, a organizacional, a sistêmica e a societária
(CECILIO, 2011). Elas são caracterizadas conforme o Quadro 5.

Quadro 5. Dimensões da gestão do cuidado em saúde. Fonte: CECILIO, 2011, n.p.

(Adaptado).

Refletir sobre todas essas dimensões é fundamental para entender que o


cuidado em saúde não se inicia com a entrada do indivíduo no hospital para
receber atendimento. Ele começa muito antes, com o estilo de vida que a
pessoa leva e com a forma como se relaciona consigo mesma e com a
sociedade.

O cuidado em saúde passa pelas relações familiares e de trabalho, assim


como pela forma como o Estado e a sociedade se organizam política e
socialmente. Saber que existem normativas que asseguram que o atendimento
seja mais humanizado e digno para o indivíduo possibilita que os profissionais
estejam mais bem preparados para a sua prática diária nos ambientes
hospitalares.

// O cuidado humanizado em saúde

Carl G. Jung, principal nome da Psicologia Analítica, dizia que, ao nos


depararmos com uma alma humana, nós deveríamos ser apenas outra alma
humana, ou seja, para ele, o trabalho clínico deveria ser realizado de forma
mais humana e menos protocolar, com regras pré-determinadas de manejo.

Ao humanizar o atendimento, o profissional deixa de olhar para o indivíduo


como um objeto de estudo e intervenção, passando a enxergá-lo como um ser
existente e igual a si mesmo. Pensar em humanização no cuidado em saúde é
refletir sobre o respeito à subjetividade de cada pessoa.

Cada pessoa possui suas singularidades, e estas precisam ser respeitadas,


sejam as particularidades dos pacientes, sejam as dos profissionais que
compõem a equipe de saúde. Conforme uma publicação do Ministério da
Saúde (2015), a humanização pode ser definida como:

A humanização é a valorização dos usuários, trabalhadores e


gestores no processo de produção de saúde. Valorizar os sujeitos
é oportunizar uma maior autonomia, a ampliação da sua
capacidade de transformar a realidade em que vivem, através da
responsabilidade compartilhada, da criação de vínculos solidários,
da participação coletiva nos processos de gestão e de produção
de saúde (BRASIL, 2015, n.p.).

Humanizar o cuidado em saúde significa, portanto, assumir a responsabilidade


pela promoção de cuidados que enxerguem o indivíduo como um ser
biopsicossocial. Além disso, é a capacidade de acolher o paciente de forma
respeitosa e solidária, mantendo a dignidade do sujeito e reforçando sua
importância como ser humano.

// O psicólogo como colaborador na humanização do cuidado em saúde

O profissional da psicologia pode ser considerado um dos principais


responsáveis pela humanização do cuidado em saúde, por ser alguém com o
olhar direcionado para o “além da doença”. O psicólogo olha para o sofrimento
emocional do paciente sem se esquecer de observar tudo que o circula.

Por essa perspectiva, cabe ao psicólogo o papel de orientar a equipe de saúde


quanto à realização de um atendimento mais humanizado e menos protocolar
com o paciente e familiar, isto é, mostrar para a equipe de saúde que a criação
de um vínculo com esse paciente garante a preservação de seu bem-estar e de
sua dignidade.

Por ser o profissional que lida com a subjetividade, o psicólogo talvez seja o
que mais tenha enraizado, em sua formação, a humanização do indivíduo. Por
isso, cabe a ele o papel de cuidar para que o paciente receba um atendimento
digno e humanizado, bem como não seja visto apenas como um corpo doente
que precisa ser tratado.

Contudo, esse não é um papel exclusivo do psicólogo e, cada vez mais, torna-
se uma obrigação para todos os profissionais de saúde que compõem a equipe
multidisciplinar, sendo a humanização no cuidado em saúde uma política
pública normatizada pelo Ministério da Saúde.

// A Política Nacional de Humanização

A Política Nacional de Humanização (PNH) está presente desde 2003,


efetivando os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) para qualificar a
saúde pública brasileira a partir das práticas cotidianas de atenção e gestão
(BRASIL, 2015).

Ao ser implementada, essa política garante o atendimento humanizado no


setor público como obrigatório, desse modo, valoriza e beneficia os pacientes,
profissionais e gestores de saúde. Promover saúde vai muito além de oferecer
atendimento médico-hospitalar, pois essa promoção proporciona a oferta de
uma assistência digna, em que o ser humano é tratado com respeito e
dignidade.

EXPLICANDO: Apesar de a PNH ter sido implantada em 2003, ela existia,


anteriormente, com o nome de Programa Nacional de Humanização e
Assistência Hospitalar (PNHAH), sendo a responsável por originar, em 2000, o
Manual de Humanização. A PNHAH tornou-se PNH em 2003, isto é, as
políticas presentes em todas as ações de saúde pública.

O Ministério da Saúde, por meio da PNH, apostou em inovações em


saúde, as quais são apresentadas no Quadro 6.

Qua

dro 6. Inovações em saúde. Fonte: BRASIL, 2015, n.p. (Adaptado).

Portanto, a PNH estabelece um programa de humanização que prioriza a


manutenção da integridade e da dignidade dos indivíduos, sem qualquer
distinção social, ao propor que todos são iguais e merecem ser assistidos com
a mesma qualidade – embora a igualdade dos atendimentos já estivesse
presente nos princípios do SUS e fosse garantida pela Constituição Federal.
// As diretrizes da PNH para o processo de humanização do cuidado em
saúde

Conforme a PNH, a humanização segue diretrizes de acolhimento, gestão


participativa e cogestão, ambiência, clínica ampliada e compartilhada,
valorização do trabalhador e defesa dos direitos dos usuários (BRASIL, 2015).

Essas diretrizes são conceitos básicos que deverão ser implantados e


seguidos nas unidades de saúde, para que a humanização no cuidado em
saúde possa acontecer com eficiência. O Quadro 7 mostra como se dá sua
aplicação a partir de determinadas características.

Quadro 7. Diretrizes da PNH. Fonte: BRASIL, 2015, n.p. (Adaptado).

As diretrizes apresentadas pela PNH constroem um ambiente onde a gestão


coletiva e as tomadas de decisão compartilhadas possibilitam ao indivíduo
hospitalizado um cuidado mais amplo. Assim, todos os profissionais passam a
ser corresponsáveis pelo acolhimento e pela assistência dessa pessoa, e todos
os profissionais da unidade de saúde devem proporcionar acolhimento e
garantir que o indivíduo seja bem assistido durante seu período de
hospitalização.

ATENÇÃO PSICOLÓGICA COM VARIADAS PATOLOGIAS


Em sua rotina de trabalho, o psicólogo hospitalar lida com pacientes que se
encontram hospitalizados por uma gama de patologias diferentes, cujo estado
clínico pode estar em variados estágios de desenvolvimento. No mesmo setor,
há pessoas com grau de debilitação maior ou menor, o que influencia
diretamente o tipo de intervenção a ser realizado, devendo ser considerado no
processo de avaliação psicológica.

Por mais que a patologia apresentada pelo paciente possa variar, o objeto
de estudo do psicólogo permanece igual, o sofrimento causado pelo adoecer.
O que muda de fato é o tipo de intervenção realizada para aquele caso em
específico, ou seja, ocorre a adequação do manejo psicoterapêutico de acordo
com a singularidade do quadro clínico do paciente.

O sofrimento psicológico e a relação que o paciente tem com seu


adoecimento são únicos, mas, mesmo que alguns sintomas possam ser
comuns e estejam presentes em vários indivíduos, por exemplo, a ansiedade, a
raiva, a depressão etc., a vivência desses sentimentos depende da
subjetividade do paciente.

// A intervenção psicológica em patologias específicas


O Quadro 8 apresenta o trabalho de intervenção psicológica a patologias
específicas que o psicólogo pode deparar-se dentro do ambiente hospitalar.
Cabe ressaltar que o quadro clínico do paciente não altera o objeto de estudo
do psicólogo, o que muda é o seu modo de intervenção perante esse quadro
específico para melhor ajudá-lo no atravessamento de suas demandas
emocionais.
Quadro 8. Trabalho de intervenção psicológica a patologias específicas.

Percebe-se que, independentemente do tipo de patologia apresentada pelo


paciente, o olhar do psicólogo estará direcionado para o sofrimento emocional,
o que, por sua vez, influenciará o estado físico. Além das patologias citadas, o
psicólogo hospitalar lida com diversos outros tipos de pacientes, como os
dermatológicos, oftalmológicos etc.

Se existir um sofrimento emocional, caberá ao psicólogo estar presente e


observar o melhor tipo de intervenção para a demanda, comunicando-se com
os outros membros da equipe para que, juntos, possam possibilitar o bem-estar
físico e emocional do paciente.

// O plantão psicológico hospitalar

O plantão psicológico é uma prática crescente entre os profissionais de


psicologia – sobretudo no setor institucional – e, aos poucos, está conquistando
a clínica. Trata-se de um atendimento pontual e de caráter de urgência, em que
o psicólogo atende a uma demanda do momento.
O psicólogo plantonista apresenta-se para o paciente como aquele que
compreende e aceita suas angústias. A partir de seu acolhimento, cria um
espaço para que a pessoa possa expor seu sofrimento e recuperar seu estado
emocional. Contudo, o plantão psicológico não fica restrito a um único
atendimento, logo, o psicólogo se coloca à disposição para realizar novos
atendimentos.

// A urgência e flexibilidade do psicólogo plantonista

Nos hospitais, em muitos casos, o psicólogo é solicitado em momentos de


cser_educacional do paciente, para amenizar seu sofrimento e os
comportamentos manifestos. Por se tratar de um enquadre de manejo diferente
da clínica tradicional, o plantão psicológico consegue se adequar às
necessidades da instituição hospitalar, devido às demandas de urgência que
surgem.
No plantão psicológico hospitalar, o psicólogo demanda mais flexibilidade
operacional, ficando em permanente prontidão para realizar os atendimentos
em caso de urgência e nos setores em que for solicitado. Assim, ele precisa
estar preparado para fazer o atendimento independentemente da patologia
apresentada pelo paciente, sabendo se adequar à realidade vivencial e de
caráter de urgência.

// O plantão psicológico direcionado para a equipe multidisciplinar

O plantão psicológico pode ser direcionado para a equipe hospitalar a fim


de atender a demandas e urgências dos funcionários por eles conviverem,
diariamente, com uma rotina estressante e vivenciarem situações extremas.

Esse tipo de plantão pode ser ofertado pela equipe de recursos humanos
da unidade hospitalar, recebendo as queixas dos profissionais que trabalham
no local, sejam eles funcionários do quadro fixo ou terceirizados; e pela equipe
de psicologia clínica, com acolhimentos de demandas emocionais dos
funcionários.

// Psicólogo hospitalar – intervenção tradicional x plantão psicológico


Percebe-se que o plantão psicológico hospitalar não difere muito da rotina
normal do psicólogo hospitalar, a principal diferença está na modalidade de
atendimento e no caráter de urgência.

A atividade tradicional do psicólogo hospitalar nem sempre tem caráter


de urgência, e as intervenções podem possuir o mínimo de planejamento
prévio. Já o plantão psicológico é sempre em caráter de urgência, e,
dificilmente, o psicólogo pode se preparar antes para a realização do
atendimento.

SINTETIZANDO

O profissional da saúde trabalha para evitar que o indivíduo sofra, livrando-


o de sua doença e evitando sua morte, porém esta faz parte de sua rotina
diária e ele precisa estar preparado para enfrentar essas situações a qualquer
momento.

Como pudemos observar em casos de morte eminente, existe o apoio de


uma equipe direcionada e especializada, isto é, a equipe de cuidados
paliativos. Ela direciona seu atendimento para a manutenção e a preservação
da qualidade de vida do paciente no tempo que lhe resta, a fim de aliviar o
sofrimento provocado pela doença e auxiliá-lo no atravessamento das questões
emocionais decorrentes da própria finitude.

Estudamos que, para trabalhar em cuidados paliativos, deve-se considerar


uma série de princípios bioéticos de suma importância, mas que o da não
maleficência sempre prevalece sobre o da beneficência. Ademais, esses
princípios constituem as diretrizes que permitem a manutenção da qualidade
de vida do paciente.

A equipe de saúde também sofre emocionalmente, nesse sentido, torna-se


importante cuidar dos próprios sentimentos para que eles não influenciem seu
trabalho, nem seu paciente. Devido à sua rotina estressante no hospital, este
profissional fica vulnerável à síndrome de burnout, que provoca o esgotamento
físico e emocional, influenciando diretamente sua vida pessoal e sua profissão.

Conhecemos, ainda, a equipe multidisciplinar do hospital e aprendemos


que o trabalho em equipe é fundamental para o tratamento de um indivíduo.
Trabalhar com diferentes profissionais, de diversas especialidades, significa
considerar a pessoa pelo aspecto biopsicossocial, o que contribui para a
manutenção de sua dignidade e humaniza o atendimento.

O cuidado humanizado em saúde faz parte da Política Nacional de


Humanização (PNH), e seu modelo de gestão de cuidado em saúde tem
diretrizes necessárias para que a humanização do atendimento ocorra. Além
disso, entendemos como acontece o trabalho do psicólogo hospitalar em
diversas patologias e que, embora o fenômeno estudado seja o mesmo, a
forma de manejo será diferente, precisando ser adaptada para a patologia
específica.

Por fim, estudamos o plantão psicológico e o diferenciamos da prática do


psicólogo hospitalar tradicional, devido ao fato do primeiro ser marcado pelo
caráter de urgência do atendimento. Essa prática pode ser direcionada para as
demandas dos pacientes, bem como para as dos funcionários do hospital, e
consiste em mais um exercício do psicólogo hospitalar.

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