4 Ernest Sosa Como Derrotar A Oposição A Moore
4 Ernest Sosa Como Derrotar A Oposição A Moore
4 Ernest Sosa Como Derrotar A Oposição A Moore
ERNEST SOSA
Rutgers University
Que relação modal um fato tem de manter com uma crença a fim de que tal crença constitua
conhecimento desse fato? Os externistas têm proposto várias respostas, incluindo algumas que
combinam o externismo com o contextualismo. Veremos que várias formas de externismo
compartilham uma concepção modal de “sensitividade” vulnerável a sérias objeções.
Felizmente, a atração intuitiva inegável dessa concepção pode ser explicada por uma noção
facilmente confundida, mas preferível, de “segurança”. O desenrolar das nossas reflexões, por
fim, será mostrar como a substituição da sensitividade pela segurança torna possível a defesa
do senso comum mooriano modesto contra as vantagens espúrias a que as abordagens cética,
rastreadora, das alternativas relevantes e contextualista alegam ter sobre ela.
A. Sensitividade e Segurança
Uma crença de S de que p é “sensitiva” sse não fosse o caso que p, S não acreditaria que
p. Esse conceito é importante numa linha de raciocínio desenvolvida por Dretske, Nozick e
DeRose, dentre outros, à própria maneira de cada um deles. Ele permite a seguinte exigência.
Sensitividade. Para constituir conhecimento uma crença tem de ser sensitiva. (Em vez disso,
exige-se, às vezes, que a crença do sujeito seja sensitiva para a atribuição correta do
“conhecimento” correspondente a esse sujeito. Embora daremos pouca atenção à essa
formulação, muito daquilo que segue poderia ser reformulado em seus termos.)
Uma “alternativa” a uma proposição é qualquer possibilidade incompatível. (Dentre as
verdades, apenas as contingentes têm alternativas, uma vez que nenhuma “possibilidade” possa
ser incompatível com uma verdade necessária). “Excluir” tal alternativa é saber que ela não é
o caso. O seguinte princípio de exclusão parece agora plausível:
* “How to Defeat the Opposition to Moore”. Philosophical Perspectives, 13, 1999, pp. 141-153.
Ernest Sosa
PE: Para se saber um fato P tem-se de excluir (i.e., saber ser falsa) toda alternativa que se sabe
ser incompatível com tal fato.
(¬h) não estou sendo tapeado por um gênio maligno em acreditar incorretamente que eis aqui
uma mão
não seja sensitiva, a despeito do meu conhecimento de que <o> implique <¬h>. Mas se a
minha crença de que <¬h> não é sensitiva, então a exigência de sensitivadade impede o meu
conhecimento de <¬h>, e, por conseguinte, a minha exclusão de <h>, que, em combinação
com PE, por sua vez, impede o meu conhecimento de que <o>. Os defensores da abordagem
das “alternativas relevantes”, os relevantistas, tomam isso como um incentivo para rejeitar o
princípio PE em toda sua generalidade. Ao invés dele eles propõem o seguinte:
PE-rel: Para se saber um fato P tem-se de excluir toda alternativa relevante que se saiba ser
incompatível com tal fato.
Assim, poder-se-ia saber que (o) eis aqui uma mão, a despeito de sermos incapazes de excluir
a possibilidade hipotética de que (h) estou sendo tapeado por um gênio maligno, etc.; ou assim
dizem os relevantistas. Substituir PE por PE-rel os permite rejeitar a exigência de se excluir
<h>, caso eles possam marginalizar essa alternativa como irrelavante. Qual a diferença então
entre alternativas relevantes e irrelevantes? O que torna uma alternativa irrelevante?
Nenhuma resposta é amplamente aceita, mesmo entre os relevantistas, e a noção de relevância
permanece obscura, sem que qualquer abordagem publicada tenha sequer mitigado essa
obscuridade. (Não espero que os teóricos da relevância discordem radicalmente dessa
estimativa; a desvantagem de um pensador é um outro problema em aberto desafiador a ser
resolvido em seu devido tempo).
Eis uma abordagem alternativa.
Chame uma crença de S de que p “segura” sse: S acreditaria que p somente se fosse o caso que
p. (De maneira alternativa, uma crença de S de que p é “segura” sse: S não acreditaria que p
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sem ser o caso de que p; ou melhor, sse: como questão de fato, embora talvez não como uma
questão de necessidade estrita, S não acreditaria facilmente que p sem ser o caso que p).
Segurança: Para (dizer corretamente que) constitui(r) conhecimento uma crença tem de ser
segura (ao invés de sensitiva).
Embora semelhante à Sensitividade, a Segurança tem importantes vantagens.1
O princípio PE, por exemplo, não levanta à Segurança o mesmo problema que vimos
levantar à Sensitividade. Suponha que a crença <o> acima seja uma crença segura, e considere
a proposição cética pareada <¬h> que alguém sabe ser implicada por <o>. Embora a crença
dessa pessoa de que <¬h> seja claramente não sensitiva, não parece completamente segura.
Em outras palavras, ao contrário da sensitividade, a segurança é preservada sob essa
implicação conhecida. Nenhuma crença constitui conhecimento a menos que seja segura,
podemos agora dizer, permanecendo livres ainda para excluir tais cenários céticos que sabemos
serem incompatíveis com algo que sabemos. Se você sabe que p, e sabe que alguém cenário
<h> é necessariamente incompatível com <o>, você não é impedido pela exigência de
segurança de excluir instruidamente esse cenário.
Substituir a exigência de sensitividade pela de segurança pode então permitir uma
abordagem condicional do conhecimento sem a necessidade da distinção entre alternativas
relevantes e irrelevantes. (Isso rebate pelo menos alguma base das alternativas relevantes).
h: Sou um cérebro numa cuba, sem mãos, sendo alimentado com experiência como se estivesse
normalmente num corpo e situado.
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Isso apresenta a posição do cético. G. E. Moore, de sua parte, concede a premissa 2 ao cético,
mas rejeita c e, portanto, 1. A posição de Nozick é diferente. Assim como Moore, ele rejeita c.
Assim como o cético, ele afirma 1. Portanto, ele tem de rejeitar 2, cujo apoio é dado
independentemente por sua abordagem do conhecimento como rastreamento. O rastreamento
de fato não é preservado pela implicação, nem mesmo pela implicação conhecida. Alguém pode
perfeitamente rastrear um fato P e falhar contudo em rastrear um fato Q que se sabe ser
implicado por P. Já temos um exemplo: Sei que o (acima) implica não-h; mas rastreio a primeira
sem rastrear a última.2 Não é apenas Nozick que rejeita o fechamento sob a implicação
conhecida; o relevantista também, para o qual para saber um fato X você não precisa saber, e
geralmente não pode saber, a negação de uma alternativa que se sabe incompatível com X, na
medida em que não for uma alternativa “relevante”.
A abordagem de Nozick implica uma conjunção considerada “abominável” (que não
seria menos “abominável” se derivada da abordagem das alternativas relevantes): a saber, que
sei que o sem saber que não-h.3 A despeito de rejeitar a abordagem por essa razão, DeRose
extraí dela um conceito central para a sua própria resposta contextualista ao cético, o de
sensitividade. Novamente, a crença de alguém de que <p> é sensitiva se, e somente se, não
fosse o caso que p, essa pessoa não acreditaria nela. A minha crença de que agora diante de
mim está uma mão é uma crença sensitiva, uma vez que: não tivesse eu uma mão diante de
mim, eu não acreditaria ter.4
A isso a resposta contextualista junta um segundo conceito central, o de “força da
posição epistêmica de alguém”. A posição epistêmica de alguém no que diz respeito a P é mais
forte quanto mais remotas forem as possibilidades minimamente remotas em que a crença
dessa pessoa de que p não corresponde à realidade dos fatos.5
Esses dois conceitos permitem uma resposta distinta ao argumento AI (do cético). Não
é o bastante, nos é dito, apenas selecionar alguma posição consistente frente às três proposições
envolvidas: seja a posição mooriana, a do cético, a de Nozick ou a das alternativas relevantes.
Qualquer que seja a posição escolhida, o tratamento apropriado do paradoxo exigirá que se
explique também por que o argumento é tão plausível.6 Em particular, precisaremos explicar
por que a premissa 1 do argumento cético é tão plausível. O moorianos não satisfizeram essa
exigência. E nem Nozick explicou apropriadamente o apelo de sua premissa rejeitada, a
premissa 2, que se pode rejeitar apenas ao custo de se negar o fechamento do conhecimento
sob a implicação (e dedução) conhecida.
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seria dar sentido à suposição de que não-A. Esse problema leva o próprio Nozick a abandonar
a condição de sensitividade para tais verdades.
2. Melhor seguro do que sensitivo
Esses problemas para a sensitividade não afetam a nossa “segurança”. Uma crença é
sensitiva sse tivesse ela sido falsa, S não a teria sustentado, ao passo que uma crença é segura
sse S não a teria sustentado sem que ela tivesse sido verdadeira. Em suma: a crença B de S de
que (p) é sensitiva sse ¬p → ¬B(p), ao passo que a crença de S é segura sse B(p) → p. Essas
condicionais subjuntivas não são equivalentes, uma vez que não se contrapõem.13
DeRose fornece uma defesa persuasiva da ideia de sensitividade comum a várias formas
de oposição à Moore com base na sensitividade: a saber, as abordagens cética, rastreadora, das
alternativas relevantes, e contextualista que compartilham alguma forma de
comprometimento com essa exigência. Essa ideia apóia a correção do cético na afirmação da
primeira premissa de AI. As alegações comuns de conhecimento podem aparentemente ser
sustentadas apenas ao distinguirmos os contextos comuns nos quais tais alegações são feitas
dos contextos nos quais o cético assere a sua distinta premissa enquanto fornece o argumento
AI. Com essa diferença em contexto vem uma diferença em padrões, e por causa dessa diferença
é incorreto dizer num contexto cético que alguém sabe o, ainda que seja correto dizê-lo num
contexto comum.
Essa resposta ao cético enfrenta um problema. Nozick e DeRose argumentam que a
sensitividade é uma condição necessária para as atribuições corretas de conhecimento. A
exigência de que uma crença tem de ser sensitiva para que seja (corretamente caracterizável
como) “conhecimento” é em ampla medida prima facie plausível: em muitos casos parece
intuitivo que a falha de uma crença ser considerada (corretamente caracterizável como)
“conhecimento” pode ser explicada pelo fato de que a crença seria formada ainda que fosse falsa
(em circunstâncias determinadas pelo contexto de atribuição). O problema para esse modo de
argumentar é que uma explicação alternativa é igualmente adequada para casos indisputados
(indisputado, por exemplo, entre o mooriano que rejeita a característica premissa 1 e o
contextualista que está disposto a afirmá-la). De acordo com essa explicação alternativa, o que
(a atribuição correta de) “conhecimento” exige é a segurança, uma exigência que é violada nos
casos comuns citados, nos quais o sujeito não sabe. A pessoa não “sabe” naqueles casos, diz-se,
porque a sua crença não é segura. Suponha que isso se generalize a todos os casos
incontroversos aduzidos pelo contextualista em favor da sua exigência de sensitividade.
Suponha que em todos os casos a condição exigida pudesse ser também a de segurança assim
como a de sensitividade. E suponha, além disso, que os problemas brevemente apresentados
para a sensitividade não afetam a segurança, como afirmei. Se assim for, então não se pode
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explicativa é na verdade mais complexa do que parece à primeira vista. E dado a distribuição
de intuições aqui, o contextualista e o nozickano, et. al. ainda nos devem uma explicação.
De modo interessante, a nossa distinção entre sensitividade e segurança pode nos
ajudar a satisfazer a demanda explicativa mais complexa de maneira compatível com a posição
mooriana a qual adoto. A minha explicação predileta pode ser esboçada como se segue.
a. A segurança é que é exigida para o conhecimento (e para a sua atribuição correta), e não a
sensitividade. Exige-se que B(p) → p, e não que ¬p → ¬B(p).17
b. Considere a nossa crença de que não estamos sendo radicalmente enganados como num
cenário cético como h. Uma vez que essa crença for segura, o cético não pode argumentar a
favor de sua premissa característica alegando que aqui nós violamos a exigência de segurança.
c. A segurança e sensitividade, sendo contrapositivas mútuas, são facilmente confundidas, de
modo que é fácil confundir a exigência correta de segurança (para o conhecimento e para sua
atribuição correta) com uma condição de sensitividade. É fácil negligenciar que essas
condicionais subjuntivas não se contrapõem.
d. Aqueles que acham plausível a premissa característica do cético com base em considerações de
sensitividade podem por isso confundir a sensitividade com a segurança, e podem, com base
nisso, avaliar como corretas as afirmações dessa premissa. Afinal, a exigência de segurança é
bem apoiada pelos tipos de considerações aduzidas geralmente pela oposição a Moore baseadas
na sensitividade. Sendo a sensitividade tão similar à segurança, e tão fácil de confundir, não é
surpresa que alguém achasse a sensitividade tão plausível a ponto de confundir-se e avaliar
como corretas as afirmações daquela premissa.
e. A plausibilidade da premissa do cético é então explicada de maneira compatível com a sua
falsidade, o que se adéqua à posição mooriana. Uma vez rejeitada tal premissa (a premissa 1 de
AI), finalmente, duas outras coisas estão então disponíveis: primeiro, pode-se evitar as
conjunções “abomináveis” e ainda assim preservar o nosso conhecimento comum; segundo, ao
fazer isso pode-se evitar tanto a ascensão semântica e a virada contextualista favorecida por
muitos tratamentos recentes do paradoxo.18
Desse modo, uma epistemologia mooriana pode se defender contra objeções “baseadas na
sensitividade”, sejam elas oferecidas pelo cético, pelo nozickano et al., ou pelo contextualista.
Todas essas três alternativas a uma posição mooriana modesta exigem que para que uma
crença seja corretamente caracterizável como “conhecimento” ela tem de ser “sensitiva”.
Rejeitamos essa exigência e, por isso, apoiamos a nossa alternativa mooriana predileta.
Claramente, tudo que realmente precisamos para explicar a plausibilidade da premissa
do cético é que ela se siga de algo bastante plausível. E a exigência de sensitividade pode talvez
cumprir esse papel bastante bem independentemente de ser confundida com a exigência de
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segurança. Mas isso ainda deixaria em aberto a questão de por que a sensitividade é tão
plausível ainda que falsa. E aqui pode ainda haver um papel para a segurança caso ela possa
funcionar como uma exigência bastante plausível, uma exigência tanto verdadeira e defensável
pela reflexão, e que nos seja atraente simplesmente pela nossa capacidade de discernir a
verdadeira da falsa em tais questões a priori. Compatível com isso, alguns de nós pode se
enganar a aceitar a exigência de sensitividade porque ela é muito facilmente confundida com a
exigência correta, a de segurança, sucumbindo, assim, a uma ilusão cognitiva.19
E. Objeções e respostas
Objeção 1
Temos diante de nós uma explicação de por que as pessoas acham tão plausível não
sabermos estar livres de tais cenários céticos como o do gênio maligno e o do cérebro numa
cuba. Mas como explicaríamos em que medida as pessoas acham plausível pensar que não
sabemos coisas comuns tais como que temos mãos, uma vez expostas ao raciocínio cético? O
contextualista tem uma vantagem nesse caso?
Resposta
Se as pessoas estão persuadidas de que uma crença pode equivaler a conhecimento
somente se for sensitiva, e estão também persuadidas de que aquilo que obviamente se segue
daquilo que é conhecido tem de ser conhecido, então não é surpreendente que quebrem a cabeça
sobre como poderiam saber que têm mãos se não sabem que não estão encubados sem as suas
mãos, etc. Além do mais, não vejo por que o nosso novo contextualista devesse levar qualquer
vantagem aqui, uma vez que ele aceita que aquilo que obviamente se segue do conhecido tem
de ser conhecido. Assim, o novo contextualista de fato nos concede aquilo que precisamos para
a nossa explicação.
Objeção 2
A exigência de segurança não compartilha com a exigência de sensitividade a
desvantagem de tornar o conhecimento não fechado sob dedução? Não poderíamos, então,
saber que p, deduzir que q a partir da premissa de que p, e contudo não saber que p?
Resposta
Sim, de fato essa é uma razão pela qual a nossa abordagem da segurança é apenas uma
primeira aproximação. Eis uma aproximação. O que se exige para que uma crença seja segura
não é apenas que seria sustentada somente se verdadeira, mas antes que seja baseada numa
indicação confiável. O que conta como tal indicação? As indicações são informações
comunicadas [deliverances], como quando você ostensivamente percebe, ou lembra, ou deduz
uma coisa a partir de outra. Uma informação comunicada no sentido de produto é uma
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proposição, i.e., aquilo que é comunicado; no sentido de processo é aquilo que comunica
[delivering]. Uma proposição então lhe é comunicada quando algo lhe inclina a acreditar nela,
como na percepção ostensiva, na memória, ou na conclusão sólida. Tal informação comunicada
é uma indicação se, e só se, for baseada numa indicação confiável. E é essa segurança mais
complexa que é exigida para o conhecimento, não a mais simples que ofereci em comparação à
sensitividade de Nozick/DeRose. Certamente que essa exigência de sensitividade é também
uma primeira aproximação, e Nozick tem o recurso a seus “métodos” para a sua abordagem
completa. Assim, não há desvantagem no que diz respeito à complexidade para a segurança
quando comparada com a sensitividade.20
1 As condicionais subjuntivas não se contrapõem, o que faz com que a segurança e a sensitividade não sejam
equivalentes, como podemos ver nos seguintes contraexemplos.
Temos então:
(a) f → ¬(f & ¬o)
(b) ¬[(f & ¬o) → ¬f]
Tanto (a) e (b) parecem intuitivamente corretas e por isso constituem contraexemplos prima facie à afirmação geral que
a condicional subjuntiva se contrapõe. Se a condicional subjuntiva se contrapõe, então temos de dizer que se (a) acima
é verdadeira, então a seguinte tem de ser verdadeira:
Mas (c) parece intuitivamente inaceitável (ao passo que (a) ainda parece intuitivamente aceitável).
p = Não estou errado ao pensar que tenho uma mão diante de mim.
E imaginemos uma situação normal, como a de Moore, em que, estando desperto, alerta, etc., alguém levanta a própria
mão diante de si. Temos então:
(a) B(p) → p
(b) ¬[¬p → ¬B(p)]
Sobre (a): se eu acreditasse que não estou errado em pensar que tenho uma mão diante de mim, então eu não estaria
errado em pensar assim certamente, dada a situação normal, a boa iluminação, os olhos abertos, etc. Em tal situação
uma pessoa acreditaria que não está errada em pensar que tem sua mão diante de si somente se (i) não tivesse uma
mão diante de si e não pensasse que tivesse, ou (ii) tivesse uma mão diante de si e pensasse que tivesse – portanto,
somente se não estava errado em pensar que tinha uma mão diante de si. Assim, temos que B(p) → p. Sobre (b): se eu
estivesse errado em pensar que tenho uma mão diante de mim, então eu acreditaria que estivesse errado ao pensar
assim? Não, eu nunca acreditaria que estava errado em pensar que tal e tal, não importa que “tal e tal” fosse. Na
verdade, eu acreditaria que eu não estava errado em pensar que tinha uma mão diante de mim. Assim, em qualquer
caso, seria falso que [¬p → ¬B(p)], e verdadeiro, ao invés, que ¬[¬p → ¬B(p)]. Isso mostra novamente que a
condicional subjuntiva não se contrapõe.
2 As expressões da forma “<p>” resumirão as expressões correspondentes da forma “a proposição de que p”. A caixa-
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4 DeRose geralmente trabalha com uma ideia mais forte de “insensitividade” do que a de Nozick (ou a que eu próprio
estou usando). A sua concepção mais forte é esta: que se não fosse o caso que p, o sujeito não acreditaria que p de
qualquer modo. Eis a mais fraca: que se é falso que se não fosse o caso que p, o sujeito não acreditaria que p. (Parece-
me que a concepção mais forte implica a mais fraca, mas não conversamente. Contudo, DeRose não as distingue
prontamente, e disse-me estar inclinado a tomá-las como equivalentes). Não penso que isso afete a dialética de modo
a prosseguirmos de qualquer maneira fundamental.
5 “Uma importante componente de se estar numa posição epistêmica forte em relação a P é ter a crença de que P é
verdadeira correspondendo ao fato de que P é verdadeira não apenas no mundo efetivo, mas também nos mundos
suficientemente próximos ao mundo efetivo. Isto é, a crença do sujeito não deveria ser apenas verdadeira, mas deveria
ser não-acidentalmente verdadeira, o que requer que a sua crença corresponda ao fato nos mundos próximos. Quanto
mais distante do mundo efetivo, ainda que seja o caso de a crença do sujeito corresponder aos fatos nos mundos
distantes e mais próximos, mais forte será a posição do sujeito em relação a P.” Ibid. p. 34.
6 Aqui e em sua apresentação geral do puzzle cético, DeRose credita Stewart Cohen; veja, e.g., “How to be a Fallibilist”,
“Quando se assere que algum sujeito S sabe (ou não sabe) alguma proposição P, os padrões para o conhecimento (os
padrões para o quão boa uma posição epistêmica alguém tem de estar para ser considerando como sabendo) tendem
a ser elevados, se necessário, a um nível tal que exige que a crença de S em P seja sensitiva para contar como
conhecimento”. E isso também afetará os padrões para a avaliação das proposições comuns apropriadamente
relacionadas: “Quando a P envolvida for usado para dizer que a hipótese cética não foi obtida, então essa regra dita
que os padrões serão elevados a um nível bastante alto, pois, como vimos, o sujeito tem de estar numa posição
epistêmica mais forte em relação a uma proposição que afirme que uma hipótese cética seja falsa – relativo a outras
proposições mais comuns – antes que uma crença em tal proposição possa ser sensitiva.” (p. 36)
8 A sua abordagem é nova ao apelar à imposição de um limiar na dimensão da força, o que o distingue de Stewart Cohen,
que usa ao invés graus de justificação como sua dimensão do interesse epistêmico relevante.
9 DeRose fala dos componentes de AI como “proposições”, proposições presumivelmente indexicais, cuja verdade
pode ser avaliada relativo a vários padrões. É desse modo que poderíamos entender a solidez abstrata de um argumento
como o de Moore: ¬C, 2,; portanto, ¬1.
10 Embora permaneça pouco claro se, para o contextualismo em questão, o argumento de Moore é não-endossável,
mesmo através da crença implícita, as linhas gerais da posição delineada são pelo menos vagamente discerníveis. Há
uma outra questão sobre a qual a posição não é completamente clara e distinta, porém, a saber, se estamos
definitivamente a afirmar que a combinação mooriana é um argumento sólido. Não encontrei um veredito que não
seja ambíguo sobre isso. É o tipo de endosso indireto envolvido em tal afirmação que estaria a ser favorecido por esse
novo contextualismo? Ao dizer que a combinação de Moore (2, ¬c, e ¬1) constitui um argumento sólido, estamos pelo
menos indiretamente realçando a proposição 1. E tendo feito isso, já não parece mais correto dizer que o argumento
mooriano é sólido do que seria oferecer o argumento afirmativamente na fala ou no pensamento.
Da perspectiva do nosso novo contextualismo, isso pode tornar o paradoxo cético ainda mais profundamente
paradoxal do que poderia parecer à primeira vista. Vimos vagamente que um argumento poderia ser sólido ainda que
nunca pudesse ser diretamente identificado de modo que se lhe atribua sua solidez. A sua solidez pudesse talvez lhe
ser atribuída tivesse sido identificada apenas de um modo bastante indireto, talvez como o argumento exposto em tal
e tal página do Philosophical Papers de Moore, ou algo parecido. Tão logo que o argumento é identificado mais
diretamente em termos de seu real conteúdo, porém, já não se pode lhe atribuir a solidez. (O quão “diretamente” pode
o argumento ser especificado para ser pensado ou chamado de sólido de maneira compatível? Essa é uma interessante
questão que ameaça nos envolver em controvérsias sobre o externismo quanto ao conteúdo na filosofia da linguagem
e da mente).
11 Veja o meu pósfácio a “Proper Functionalism and Virtue Epistemology” em Warrant in Contemporary Epistemology, ed.
Por Jonathan Kvanvig (Rowman & Littlefield, 1996), pp. 271-81. Pode alguém achar essa consequência aceitável? Na
verdade, DeRose está bastante ciente desse problema, e o deixa para consideração futura, propondo nesse meio-tempo
um tapa-buraco ad hoc. Esse problema é antecipado no “Tracking, Closure, and Inductive Knowledge” de Jonathan
Vogel em S. Luper-Foy, ed., The Possibility of Knowledge (Rowman & Littlefield, 1987). Compare, além disso: (c) p, e (d)
se não estou errado, p. Ainda que alguém rastreie e, por isso, possa saber que p, não poderia nunca rastrear algo como
(d), precisamente pela razão de que a crença em (d) não poderia ser sensitiva. Esse tipo de contraexemplo, ao contrário
do a seguir, soa-me conclusivo.
12 Esse tipo de problema é também apresentado por Vogel, op. cit., e endossado por Stewart Cohen em seu
“Contextualist Solutions to Epistemological Problems: Skepticism, Gettier, and the Lottery”, Australasian Journal of
Philosophy.
13 Se escorresse agora água da torneira da sua conzinha, não seria então o caso que a água assim escorreu enquanto ela
aqui e agora que sabemos várias coisas, e não apenas que dizemos “Eu sei” corretamente em vários contextos que não
são os nossos agora.
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Como derrotar a oposição a Moore
15 Esse tipo de manobra externista tem sido considerada amplamente como inaceitavelmente circular, de modo errado,
como me parece.
16 Uma pesquisa informal com meus alunos revelou (claro de que maneira revogável) que aqueles que a acham falsa
excedem aqueles que a acham verdadeira, e apenas muitos poucos preferem suspender o juízo. A cada estágio as
pessoas divergiam em algum padrão tripartite acordo-falha.
17 Essa é na verdade uma primeira aproximação que precisará ser qualificada. Uma maior aproximação que preserva o
espírito da segurança e a oposição à sensitividade pode ser encontrada no meu “How Must Knowledge Be Modally
Related to What is Known? no Philosophical Issues. (Devo enfatizar que uso a seta como mero dispositivo de abreviação.
Assim, “p → q” abrevia algo como “Com questão de fato, embora talvez não uma questão de estrita necessidade, não
seria o caso de que p sem que também fosse o de que q”, etc.; ou, talvez melhor: “Como questão de fato, embora talvez
não uma questão de estrita necessidade, não seria facilmente o caso que p sem ser o caso que q”).
18 Uma virada considerada problemática no meu “Contextualism and Skepticism”, Philosophical Issues.
19 Nem preciso dizer o quanto este trabalho deve aos escrtios de Dretske, Robert Nozick e Keith DeRose. Partes dele
foram lidos na encontro Conference on Methods em maio de 1998, onde Richard Feldman e Jonathan Vogel
comentaram, e no encontro SOFIA, em junho de 1998, onde Hilary Kornblith, Keith Lehrer e James Tomberlin o
fizeram. (E o presente artigo se sobrepõe em parte à minha contribuição aos anais dessa conferência). David Sosa
ajudou-me editorial e filosoficamente, assim como as discussões em meu seminário e meu grupo de orientandos na
Brown, e no seminário Gibbons/Unger na NYU. Obrigado a todos!
20 Na verdade, essa segunda aproximação chega perto mas precisa de alguma melhora. Essa e outras questões
relacionadas são retomadas no meu “How Must Knowledge Be Modally Related to What is Known”, op. cit. Por
exemplo, favoreço a exigência para uma crença ser conhecimento que seja baseada numa indicação , na qual a indicação
é da maneira especificada uma comunicação confiável ou “segura”. (Além do mais, a comunicação tem de ser
fundamentalmente através de uma virtude intelectual. Assim, a fonte que produz a comunicação tem de ser virtuosa,
i.e., uma fonte de verdade confiável ou fidedigna; ademais, se for uma fonte baseada numa fonte mais fundamental,
então a fonte mais fundamental tem de ser também virtuosa. Assim, se normalmente infiro que algo é um mamífero a
partir do fato de ser uma criatura do mar, e é isso que subjaz à minha inferência de algo ser um mamífero a partir do
fato de ser uma baleia, então essa última fonte, a despeito de ser virtuosa, não é uma fonte de conhecimento ou uma
crença apta).
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