Monografia - José Ygor Ribeiro Dos Santos
Monografia - José Ygor Ribeiro Dos Santos
Monografia - José Ygor Ribeiro Dos Santos
Este trabalho traz como tema central identidade docente, que visa compreender os diversos
elementos presentes na história de vida de um professor que são significativos em sua
constituição como ser docente. O problema de pesquisa aqui apresentado é: Quais aspectos
fazem parte da constituição da identidade docente como professor e profissional? E como
objetivo geral: Analisar a construção da identidade docente a partir de meu relato de história
de vida de formação e de entrevistas narrativas com duas pedagogas de uma escola pública de
Ensino Fundamental – Anos Iniciais da Educação Básica de Limoeiro do Norte/CE. Essas
inquietações surgiram a partir de uma experiência que vivi, no Programa Residência
Pedagógica, em uma escola pública na qual trabalhei com professoras que me mostraram que,
mesmo sendo bastante diferentes, fazem a educação acontecer. Para tanto, fez parte, desta
investigação, a minha história de vida de formação e as trajetórias de vida de formação de duas
professoras atuantes na Educação Básica, construídas, estas últimas, a partir da realização de
entrevistas narrativas. Meu trabalho revela, por meio das narrativas desenvolvidas, como eu e
as professoras nos constituímos como seres docentes, passando pela infância chegando até a
fase adulta. Todas as situações enfrentadas durante a vida vão construindo e constituindo
um(a) professor(a), mostram os elementos relevantes na formação de cada um(a). A pesquisa
realizada foi de cunho qualitativo, com os seguintes elementos metodológicos: pesquisa
bibliográfica, relato de história de vida de formação, entrevistas narrativas e análise de
conteúdo das entrevistas, identificando e analisando as categorias principais que compõem a
identidade docente das professoras. A partir da análise de conteúdo das entrevistas narrativas,
foram identificados os seguintes resultados dentro das categorias constituintes das narrativas,
a saber: família, escola na infância e na adolescência, formação, experiências profissionais,
política e luta, relações extrasala de aula e o educador Paulo Freire. Esses resultados se
caracterizam como grandes temas presentes dentro da história de vida das professoras
participantes da pesquisa e que influenciaram no seu caminhar. As aprendizagens adquiridas
são baseadas na educação, ter a compreensão que ela transita por várias áreas, entender que a
relação família e escola é essencial, olhar para a minha formação e para a formação das
professoras de forma a criar e repensar ações educativas na prática docente.
This work presents as its central theme the docent identity, which aims to comprehend the
several elements present in a teacher's life history that are meaningful to their constitution as
docents. The issue presented in this study is: What aspects are a part of the constitution of the
teacher 's identity as docent and professional? Whereas the general purpose is to analyze the
construction of the teacher's identity based on my report regarding my educational training
storyline and from narrative interviews with two pedagogues from a public Elementary School
- Early Years of Basic Education based in Limoeiro do Norte, Ce. These concerns emerged
after an experience I have had while in the Pedagogical Residency Program at a public school
in which I had worked with teachers that showed me that, even though they were different
from each other, they make education a reality. Therefore, my academic background as well
as the academic trajectories of two teachers working in primary education, the latter
conducted through interviews, were part of this investigation. My work reveals, through
developed narratives, how the teachers and I constituted ourselves as docents, going through
childhood to adulthood. Each situation a docent faces in life takes part in their constitution as
a teacher, it shows the relevant elements in the formation of each one. This study was realized
through qualitative research with the following methodological elements: bibliographic
research, narrative report regarding professional teacher training background, interviews and
the analysis of its content, identifying and analyzing the main categories that compose the
docents' identity as teachers. In the analysis of the interviews content, the following results
were identified within the constituent categories of the narratives: family, school during
childhood and teenage years, teacher training, professional experiences, politics and battles,
relations outside the classroom and the educador Paulo Freire. These results are characterized
as huge themes present in the life of the teachers involved in this research and influenced on
their journey as well. The acquired learning is based on education and comprehension that it
transitions through several areas, understanding that the relationship between family and
school is essential and that I am pursuing to look not only at my training background but also
to the teacher’s in order to create and rethink educational actions for the docent practice.
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………...... 11 2
Infância……………………………………………………………………….... 18 2.2
Pedagógicas………………………………………………………....... 42 4
METODOLOGIA DE PESQUISA………………………………………....... 44 4.1
Categorização…………………………..……………………………………..... 55
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 85
REFERÊNCIAS……………………………………………………………..... 90
1 INTRODUÇÃO
Buscar respostas para determinados assuntos é algo que me instiga desde muito jovem,
ouvir histórias, relatos e até mesmo “causos” sempre foram atividades que me chamaram
muito a atenção. Quando adentrei no curso de Pedagogia, comecei a me questionar sobre o
meu lugar ali naquele meio, surgiram muitas dúvidas e aos poucos fui começando a encontrar
as respostas e, principalmente, o motivo que me trouxe até a universidade.
Sempre gostei muito de conversar com as pessoas e saber sobre sua vida e sobre os
seus projetos, creio que esse fator tenha me ajudado bastante a ser a pessoa que sou hoje, pois
sempre fui muito tímido, e a partir do momento que comecei a dialogar com as pessoas,
minha personalidade começou a mudar, transformando assim minhas convicções internas e
externas,
me fazendo amadurecer.
Voltando ao fato de como cheguei no curso de Pedagogia, gosto muito de crianças,
ajudei minha mãe a cuidar dos meus irmãos mais novos, então o contato com criança sempre
foi presente em minha vida. Eu brincava com eles e ajudei na educação deles também, então
isso me despertou a conhecer o curso. Ser professor era algo que nunca me passou pela minha
cabeça, mesmo gostando muito de ensinar meus irmãos, eu nunca me vi como um profissional
da educação. Com pouco tempo que adentrei a universidade, consegui um emprego numa
escola, como Monitor de Apoio na Educação Inclusiva, foi ali que me vi professor pela
primeira vez. Foi nesse momento que virou a “chavinha” na minha cabeça que essa era a
profissão certa para mim.
Depois desse pequeno relato sobre minha vida, irei detalhar sobre o desenvolvimento
do meu trabalho, que tem como temática “Identidade docente: trajetória de vida de um
pedagogo em formação e de pedagogas da Educação Básica”. Mas, por que falar de identidade
docente? No mundo contemporâneo, ser diferente não é uma tarefa muito fácil, principalmente
quando nos deparamos com os padrões estabelecidos pela sociedade. A busca pela sua
essência é algo que necessita de muito esforço de si próprio, tentando de certa forma, se
conectar com o seu eu interior, podendo assim conseguir se descobrir tanto pessoalmente
quanto profissionalmente. O tema “identidade docente” transita em vários vieses, buscar sua
identidade não é uma tarefa fácil, faz-se necessário se aprofundar em seu autoconhecimento,
podendo assim procurar os mais profundos ensinamentos construídos durante toda a sua vida,
conseguindo assim encontrar o seu verdadeiro caminho e aquilo em que se acredita ser o certo
a seguir.
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O olhar para si mesmo é uma tarefa que exige do indivíduo uma concentração e uma
percepção sobre sua própria experiência. Jorge Larrosa (2002) fala sobre a experiência:
Essa citação diz muito sobre a vida, em toda a trajetória percorrida pelo indivíduo
situações acontecem para que possamos refletir sobre nossas atitudes, ajudando assim a seguir
em frente, em cada passo dado surge um novo aprendizado. A experiência também aparece
durante essa caminhada proporcionando mudanças que de certa forma nos ajudam a crescer e
evoluir como ser humano. A história de vida de formação tem muito a ver com isso, o
processo percorrido também se faz necessário parar e pensar sobre tudo aquilo que foi vivido.
Minha pesquisa também proporciona esse olhar para a experiência, se ver no passado e
reconhecer que tudo aquilo vivenciado foi importante para a formação das professoras da
minha pesquisa, é algo muito satisfatório na minha visão, pois minhas próprias experiências
são algo que de vez em quando retorno nos meus pensamentos e nos registros que tenho,
então, elas me ajudaram durante todo o meu percurso e compõe momentos importantes durante
toda a minha história de vida de formação.
Através disso, é importante ressaltar que voltar ao passado é uma forma de buscar sua
própria essência, incorporando assim toda sua personalidade, trilhando assim um caminho para
sua vida.
A busca pela sua essência é importante, pois a incorpora em ações durante toda a sua
vida, um pequeno exemplo: se durante toda a sua vida você sempre gostava ou se interessava
por contação de histórias, você, adulto, pode se religar com o que você viveu e é possível que,
em suas aulas, você se utilize de sua experiência em contar histórias, pois é algo seu, é algo
que já veio contigo, antes de você se tornar um profissional da educação.
Então entrar em contato com as experiências vividas ajuda no sentido de se encontrar
com sua identidade docente. Para Pimenta (1999, p. 19), “Mobilizar os saberes da experiência
é, pois, o primeiro passo no nosso curso de didática que se propõe a mediar o processo de
construção de identidade dos futuros professores”. É necessário buscar, na sua experiência,
informações que lhe ajudem a desvelar sua própria identidade.
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A escolha por esse tema surgiu a partir de uma experiência que vivi numa escola,
quando participei do projeto Residência Pedagógica (RP), subprojeto da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)1. Consegui essa bolsa quando estava
cursando o 6° semestre do curso de Pedagogia, em 2019. Durou um ano. Durante esse projeto,
convivi com várias professoras e comecei a perceber que todas elas eram bem diferentes, tanto
pessoalmente quanto profissionalmente. Cada uma com um jeito diferente de ministrar suas
aulas, utilizando métodos diferentes, dinâmicas diferentes. Foi aí que me despertou o interesse
em querer estudar sobre identidade docente. Acho bastante interessante conhecer e investigar
esse processo de construção como professor e, por isso, venho por meio deste trabalho
pesquisar e analisar como acontece esse processo, tanto em mim quanto em outras
professoras. Sendo assim, passei por minha história de vida de formação e entrevistei as
pedagogas da escola onde trabalhei durante o projeto já citado acima.
Quando olhamos para a sociedade brasileira, percebemos a importância de se estudar
sobre este tema, quantos professores que trabalham na Educação Básica estão fazendo uma
mera reprodução de tudo aquilo que as secretarias repassam, onde está a sua identidade
docente? Onde está a mudança? Essas perguntas são sempre debatidas nas universidades e
dentro das escolas. A mudança está relacionada à autonomia do professor dentro de sala de
aula, deve partir do próprio profissional da educação, muitos estão acomodados e, por isso,
não se arriscam em querer buscar algo novo, mas, no mundo contemporâneo em que vivemos
esse tipo de atitude não ajuda em nada, tudo aquilo que foi aprendido no passado é de suma
importância sim, mas não devemos ficar presos nele. O mundo muda, e está sempre em
constante transformação e precisamos perceber isso.
Os ensinamentos que são passados pela família são fortes, pois é um conhecimento
trazido durante muito tempo, por isso que a dificuldade de enfrentar algo novo ainda é bastante
difícil, principalmente para aqueles profissionais que estão há vinte anos dentro da educação. É
um processo complicado, mas é algo que precisa acontecer.
1
De acordo com a CAPES (2018, p. 1): Edital CAPES n° 06/2018 do Programa Residência Pedagógica art. 2.1° “O
Programa de Residência Pedagógica visa: I. Aperfeiçoar a formação dos discentes dos cursos de licenciatura, por meio
do desenvolvimento de projetos que fortaleçam o campo da prática e que conduzam o licenciando a exercitar de forma
ativa a relação entre teoria e prática profissional docente, utilizando coleta de dados e diagnóstico sobre o ensino e a
aprendizagem escolar, entre outras didáticas e metodologias; II. Induzir a reformulação do estágio supervisionado nos
cursos de licenciatura, tendo por base a experiência da residência pedagógica; III. Fortalecer, ampliar e consolidar a
relação entre a IES e a escola, promovendo sinergia entre a entidade que forma e aqueles que receberão os egressos das
licenciaturas, além de estimular o protagonismo das redes de ensino na formação de professores; e IV. Promover a
adequação dos currículos e das propostas pedagógicas dos cursos de formação inicial de professores da educação
básica às orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ”. (CAPES, 2018, p. 1).
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Mas por que é importante estudar sobre identidade docente? Pesquisando a fundo
encontrei uma citação bastante interessante de Zygmunt Bauman (2005), vejamos:
A partir desta explicação de Bauman, podemos identificar que a identidade é algo que
está em contínuo desenvolvimento, algo a ser descoberto e construído e deve partir do próprio
indivíduo. Quando analisamos isso dentro da educação, conseguimos perceber que educar e
ensinar está em plena transformação, a busca pelo conhecimento deve ser algo constante, o ser
professor é um profissional que não deve ficar fechado dentro de uma caixa e sim, estar em
constante movimento. Pimenta (1999) esclarece:
Ser professor é trazer uma bagagem de conhecimento que começa na infância e vem se
acumulando ao longo do tempo. São conhecimentos construídos em uma vida toda e cada
professor possui suas peculiaridades, por isso é importante se falar de identidade docente,
porque todos os profissionais que hoje em dia exercem sua profissão possuem sua própria
história, seus próprios aspectos que o constituem como docente, podemos ver as várias facetas
de um profissional e, assim, a sociedade pode perceber que o professor é um profissional, que
merece respeito e valorização.
Mediante ao que já relatado anteriormente, chegamos num ponto bastante importante
deste trabalho, o problema de pesquisa, a inquietação de saber sobre determinado assunto e o
que o meu objeto de estudo relata sobre o tema, a pergunta é a seguinte: Quais aspectos fazem
parte da constituição da identidade docente como professor e profissional?
Já foi citada a importância de entrarmos em contato e reconhecermos nossa identidade,
relacionando-a com sua dimensão profissional inquieto-me em saber qual a percepção das
pedagogas da escola em que trabalhei, quais considerações elas trazem acerca deste assunto,
quais fatores influenciam nessa identidade estabelecida por elas, então tenho essa curiosidade
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em descobrir como esse tema é discutido por elas. Também me analiso dentro deste tema, a
partir da construção da minha própria identidade.
Sendo assim, tenho como objetivo geral: Analisar a construção da identidade docente
a partir de meu relato de história de vida de formação e de entrevistas narrativas com
pedagogas de uma escola pública de Ensino Fundamental – anos iniciais. A partir do
problema de pesquisa e objetivos geral apresentados, estabelecemos como objetivos
específicos: (1) Estudar referenciais teóricos dos seguintes temas: identidade docente,
matrizes pedagógicas, história de vida de formação. (2) Refletir sobre identidade docente, a
partir de meu relato de história de vida de formação e de entrevistas narrativas com pedagogas
de uma escola pública de Ensino Fundamental – anos iniciais. (3) Sistematizar as
aprendizagens aprofundadas e vividas ao longo desta pesquisa incorporando-as à minha
formação e identidade docente.
Acho de suma importância identificar essas questões, eu como professor em formação
tenho essa vontade de conhecer esse processo de construção de uma identidade, acredito que
as semelhanças e diferenças de cada professora é o que torna a educação múltipla e diversa.
Observando diversas aulas dessas pedagogas, fiquei fascinado com tanta diferença e, ao
mesmo tempo, com o interesse em descobrir como foram suas trajetórias até se tornarem as
professoras que são hoje.
O olhar sobre a história de vida de formação me encanta muito, conhecer a história das
participantes da minha pesquisa me faz olhar para minha própria formação também, como foi
minha trajetória e a importância dessa formação na minha vida. Então quando paro e penso na
minha pesquisa o que me vem na cabeça é a palavra “construção”, como a pessoa se construiu
durante sua caminhada, que momentos e situações foram determinantes em sua vida, o que
contribui para ela ser a pessoa que é hoje, são algumas das inquietações que me instigam a
entrar em contato com as experiências importantes nesse caminhar, que a pessoa deseja relatar,
como elas e eu nos constituímos como professores, que elementos fazem parte de nossa
identidade docente, desvelando nossas matrizes pedagógicas.
Em meus estudos e na minha percepção, para que eu consiga um resultado concreto e
válido, realizei pesquisa bibliográfica e a minha breve história de vida de formação e fiz a
pesquisa de campo, para a qual utilizei, como técnica de coleta de dados, a Entrevista
Narrativa (EN), via Google Meet2, com autorização das professoras. Esta ferramenta de
comunicação foi utilizada como meio de manter o distanciamento social exigido devido à
pandemia por conta da Covid-19. Nesse momento foi importante evitar o contato entre as
pessoas.
2
“Com o Google Meet, é fácil iniciar uma videochamada segura. Basta usar qualquer navegador da Web
moderno ou fazer o download do app.” (GOOGLE, 2021, online).
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Essa pesquisa é de abordagem qualitativa, na qual foi feita uma EN com pedagogas
atuantes na Educação Básica do município de Limoeiro do Norte/CE. Foi elaborado um Termo
de Consentimento livre e Esclarecido (TCLE – ver apêndice 1) no qual detalho sobre minha
pesquisa e explico passo a passo como ocorreria. Depois de assinado pelas professoras
participantes, iniciei as ENs. Utilizei o diário de campo como instrumento de estudo, no qual
guardei todas as informações necessárias para minha pesquisa e que me ajudaram bastante no
desenvolvimento do texto monográfico.
Esta monografia está composta pelas seguintes seções, após a introdução:
primeiramente início relatando minha breve história de vida de formação, na qual trago as
fases da minha vida, meu processo de educação: infância, adolescência e fase adulta, o
ingresso na universidade e as vivências e experiências no curso de Pedagogia, entrar no
Programa da Residência Pedagógica (RP) que foi uma experiência bastante rica em minha
vida e na minha formação. Adiante, início a seção teórica, na qual abordo: a Identidade
docente trago Bauman (2005), Dubar (2006), Pimenta (1999) e Nóvoa (2009), os enfoques
sobre as Narrativas com Motta (2013), a (Auto)biografia trago Mota, Silva e Rios (2019) e
Machado, Nunes e Santana (2019), a História de vida de formação com Josso (2007) e sobre
as Matrizes pedagógicas com Ecleide Furlanetto (2003). Relacionado ao conceito de matrizes
pedagógicas:
As matrizes pedagógicas, tem uma relação muito grande com a identidade docente,
trazer esses apontamentos sobre espaços que auxiliam nas práticas dos professores é algo que
incorpora e agrega conhecimentos e valores que ajudam na construção daquele profissional,
são elementos que compõem a identidade de um professor. Quando faço essa comparação,
vejo a importância de o professor sempre estar se atualizando e buscando experiências novas
em sua carreira. Tudo isso influencia diretamente na sua identidade como docente, e acho de
suma importância o professor estar sempre tendo esse cuidado de olhar para si e ver sua
própria trajetória na educação, na vida.
Esses temas estão bastante vinculados com o meu tema principal. Logo após,
desenvolvi a metodologia de pesquisa propriamente dita, na qual utilizo da abordagem
qualitativa, fazendo o detalhamento metodológico da história de vida de formação, da EN e da
Análise de Conteúdo, que utilizei para analisar as ENs realizadas com as professoras
participantes e utilizei a
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categorização como auxílio para a descobertas dos temas norteadores da EN. Finalizo com
resultados e discussões, considerações finais, referências utilizadas ao longo do trabalho e
apêndices.
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Falar sobre identidade docente nos remete à trajetória de vida, pois identidade se
constitui ao longo do tempo, do nosso vir a ser docente. Diante disso, nessa seção irei tratar
sobre minha própria história de vida de formação, relatando o que aconteceu durante o meu
percurso educativo, que tenham me marcado, remetendo a situações que me construíram como
pessoa e que, com certeza, me influenciam na dimensão profissional.
Exige uma busca de mim mesmo sobre o conhecimento, me faz viajar no passado
relembrando situações de vida que, de certa forma, foram formadoras, uma linha do tempo que
faz refletir e compreender como foi esse processo de educação, podendo analisar as
transformações que aconteceram no decorrer dos anos, motivações, aprendizagens.
Um ponto muito importante para mim, é buscar e identificar quais ações educativas
ajudaram a me formar como ser humano, que ações influenciaram para ser o que sou hoje, isto
traz à consciência do que me levou a percorrer os caminhos trilhados. As lembranças e as
memórias serão auxílios muito importantes para o desenvolvimento deste trabalho. As
vivências adquiridas durante este processo também são influências necessárias e que ajudaram
a trilhar minha trajetória.
Marie Christine Josso (2007, p. 415) fala sobre o processo de identidade e das histórias
de vida, “Trabalhar as questões da identidade, expressões de nossa existencialidade, através da
análise e da interpretação das histórias de vida escritas, permite colocar em evidência a
pluralidade, a fragilidade e a mobilidade de nossas identidades ao longo da vida”. A autora nos
relata sobre a transformação, na qual nós como indivíduos estamos mudando simultaneamente,
e que, nesse processo, vamos identificando diversas características nossas, sejam defeitos ou
qualidades. Destaca ainda que devemos ter a consciência de que isso tudo faz parte da nossa
construção como ser humano.
2.1 Infância
Minha infância foi uma fase de muito divertimento e ensinamento. Fui criado
praticamente sozinho pela minha mãe e pela minha avó. Quando eu tinha 4 anos de idade
minha mãe se separou do meu pai, depois disso não tive quase nenhum contato com ele.
Então, desde o começo, elas foram minha referência para vida. Elas demonstravam muita
força e esperança para mim, sempre dizendo que “ia dar tudo certo” e que eu não ia ficar
sozinho. Isso foi e é muito importante para minha vida.
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Carrego essa força comigo sempre. Gabriel Chalita, em seu livro “Aos mestres com
carinho”, traz uma citação que representa bem isso que retratei:
Toda essa garra e determinação me tornaram a pessoa que sou hoje. Nunca ter medo do
que a vida me proporcionar. “Dar a cara a tapa” em situações que quero defender e que
condizem com o meu pensamento. Uma das principais lições que elas me ensinaram foi “Vá
atrás dos seus objetivos, nunca desista do que você quer, lute pelos seus sonhos”. Isso é algo
que nunca vou esquecer.
Minha criação não foi nada fácil. Minha mãe e minha avó lutaram muito para que eu
tivesse uma vida digna e isso é algo que vou recompensar. Minha avó já é falecida, mas minha
mãe continua viva e, enquanto eu existir, irei fazer o que for necessário para vê-la bem.
Então, o primeiro contato que tive com a educação aconteceu ali, o contato com a
minha família e todos os ensinamentos que adquiri, como: respeito, amor, confiança, lealdade,
perseverança, solidariedade. Mas, o principal ensinamento que me deram, e o que eu tenho
maior apreço, é a humildade. Sempre me ensinaram a ser humilde e nunca querer ser melhor
que os outros e isso é muito significativo para mim.
E como se educa para esses valores? Com palavras, quando necessário; e com
exemplos sempre! Pais precisam dar bons exemplos aos filhos, não pagando
o mal com o mal e não praticando o mal. Pais fofoqueiros, vingativos, cruéis
vão ensinando esses antivalores aos filhos. Pais serenos, respeitosos, também.
É nessa fraternidade que acreditamos, que alicerce um mundo em que, de fato,
sejamos irmãos uns dos outros. Isso é um sonho? Não sei. Só sei que a leitura
da Palavra de Deus nos ensina a pensar e agir assim. É esse o intento que deve
nos unir. Que o bem vença. (CHALITA, 2016, p. 204).
Irei relatar agora sobre minha fase na escola, pelo menos do que mais ou menos eu me
lembro. A visão que eu tinha da escola: era algo muito fantasioso. Lembro-me bem de uma
vez que falei para minha mãe “Mãe, a escola é outro universo!”. Pensando um pouco sobre
essa frase, lembro que realmente eu me sentia em outro universo, era algo muito diferente
para mim. Nessa ocasião, eu devia ter uns 7 para 8 anos e eu era muito tímido, muito tímido
mesmo, de não conseguir brincar e me relacionar com as pessoas. Isso era algo muito difícil
para mim. Como eu já estava no processo de alfabetização, minha mãe comprou uma coleção
de histórias,
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aqueles famosos contos de fadas. A partir do momento que eu tive contato com aqueles livros,
houve uma grande transformação para mim, quando minha mãe fazia a leitura daqueles contos,
eu me sentia muito bem, eu me via muito na história do Peter Pan, eu queria ser ele, ter toda
aquela força, ser valente, alegre, astucioso. Esse foi um momento que me recordo muito bem.
Parece loucura, mas eu me lembro da primeira vez que minha mãe contou essa história e foi
essa sensação que senti. O poder que a palavra exerce é algo espetacular e Paulo Freire vem
retratar isso no livro “Pedagogia do Oprimido”, nessa citação:
A palavra é entendida, aqui, como palavra e ação; não é o termo que assinala
arbitrariamente um pensamento que, por sua vez, discorre separado da
existência. É significação produzida pela práxis, palavra cuja discursividade
flui da historicidade – palavra viva e dinâmica, não categoria inerte, exânime.
Palavra que diz e transforma o mundo. (FREIRE, 2018, p. 28).
Essa representação sobre a palavra é algo bem interessante, a partir do momento que
você tem o contato com uma palavra, fica a seu critério confiar e seguir aquela palavra dita ou
escrita por alguém, ou simplesmente ignorar e dizer que aquilo não serve para você e nem para
sua vida. Por isso essa relação de poder, porque a palavra pode influenciar em suas decisões e
quando aliado ao discurso pode facilmente lhe convencer, então quando minha mãe leu aquela
história para mim eu me identifiquei com aquele personagem, foi um convencimento
vinculado com o discurso, ou seja, a própria leitura que a minha mãe fez para mim também
influenciou meu desejo em ser aquele personagem.
Vejamos os seguintes apontamentos nessa citação:
sentido para aquilo que estava sendo dito me encantava. Para mim, era algo tão complexo em
se fazer, era genial.
Eu tinha mais ou menos uns 10 para 11 anos, quando tive o primeiro contato com a
poesia, nunca vou me esquecer de uma aula que tive. Era para a gente analisar e indicar as
informações mais importantes dos poemas que a professora trouxe. Lembro que quando me
deparei com as diversas informações que um poema tão pequeno pode trazer, eu achei aquilo
tão incrível. Essa é uma das lembranças que mais me recordo da escola.
No livro “A poesia na escola”, a autora Ana Elvira Gebara (2012, p. 8) fala que “Para
gostar de ler poesia, é preciso habituar-se ao contato com esse tipo de texto. Mais que elogiar a
poesia, é preciso possibilitar a vivência com poemas, lendo-os em voz alta, várias vezes, para
captar seu ritmo e sua música – que também produzem efeitos de sentido”. Poesia é vida.
Basicamente foram esses ensinamentos que mais me marcaram na infância e que eu
levo por toda a minha vida. Foram momentos que me marcaram muito e que foram
significativos para meu processo educativo, guardo todas essas lembranças com muito carinho
e apreço.
2.2 Adolescência
Nesse segundo tópico, irei relatar como foi meu processo educativo na adolescência,
ou seja, no Ensino Médio.
Minha experiência no ensino médio foi algo incrível e, ao mesmo tempo, com muita
pressão. Eu estudei numa escola integral e profissionalizante conhecida como EP, então
tínhamos duas formações, o ensino regular normal e um curso profissional, no meu caso era
Técnico de Informática. As vivências são algo que trago comigo até hoje. A escola era muito
boa e bem estruturada. As amizades que criei lá dentro levo para o resto da minha vida. Porém,
sempre tem um fator negativo. Por proporcionar um ensino técnico, a pressão e as demandas
eram enormes em cima dos alunos, mexia muito com meu psicológico.
No começo, eu não compreendia o porquê de toda essa pressão, na qual o principal
objetivo era formar para o mercado de trabalho, e por não ter conhecimento sobre isso fui
alienado por todo aquele discurso de “Nossa parabéns você estuda numa EP”, e eu me
orgulhava disso, pois para estudar numa escola dessas era feita uma seleção e só entravam as
pessoas que tinham as melhores notas. No artigo “A crise do capital e a relação com a
educação brasileira”, de Rafael, Ribeiro e Segundo (2016), relata muito bem isso nessa
citação:
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Outro destaque é também a presença do capital humano ainda nos dias atuais,
porque a sociedade também culpa o indivíduo pela sua não inserção exitosa
no mercado de trabalho, instigando-o a competitividade, é preciso provar o
tempo todo não apenas que somos bons, mas que somos melhores que os
outros. (RAFAEL; RIBEIRO; SEGUNDO, 2016, p. 377).
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O capital humano representa uma população na qual é influenciada e por muitas vezes
forçada a adentrar dentro do mercado de trabalho. Toda essa demanda é dada pela própria
sociedade capitalista, que mostra todos os dias que o mais importante num ser humano é o seu
trabalho. A partir daí que surge a competitividade, quando se adentra no mercado de trabalho o
indivíduo é instruído a sempre querer mais e mais, tentando assim superar seu próprio colega
de trabalho, aumentando ainda mais o capitalismo.
Por isso, destaco a importância de se estudar Paulo Freire. Quando eu tive essa
compreensão sobre a função que a escola profissional exerce, eu comecei a refletir e me
conscientizar sobre isso. Eu estava exercendo o que Paulo Freire nos convida a fazer, ou seja,
a própria transformação do ser, tornando-se assim uma pessoa mais confiante e ativa dentro da
sociedade.
No livro “Pedagogia do Oprimido” Paulo Freire mostra o processo de libertação e
transformação do ser:
A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois
momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o
mundo da opressão e vão comprometendo-se, na práxis, com a sua
transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta
pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em
processo de permanente libertação. (FREIRE, 2018, p. 57).
Não é à toa que dizem que Paulo Freire foi um visionário, alguns temas que ele aborda
em seus livros são situações que estão acontecendo nos dias atuais, a classe dominante explora
a qualquer custo a classe trabalhadora, se tornado um opressor nessa sociedade e os oprimidos
que lutam para poder ter seu pão de cada dia. A desigualdade só tende a crescer mais e mais,
essa é uma situação permanente em nossa sociedade.
Então, esse foi o meu processo de educação na minha adolescência, um turbilhão de
informações e conhecimentos que me fizeram refletir sobre o meu papel dentro da sociedade,
abrindo meus olhos para decidir realmente quais os caminhos que eu queria seguir.
Chegamos agora na melhor fase da minha vida, até agora. Entrar na universidade foi
algo extraordinário para mim, não foi fácil chegar até aqui. O incentivo para fazer uma
faculdade foi pouco, a maioria das pessoas da minha família queria que eu fosse trabalhar, pois
o dinheiro, naquele momento, era mais importante. Fiquei com isso na cabeça durante muito
tempo. Nada veio fácil para mim, eu sempre tive que “ralar e correr atrás” do que eu queria.
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Mas, partindo do princípio que relatei no tópico anterior, a reflexão foi algo muito importante
para tomar essa decisão, imaginei minha vida futuramente e pensei que o trabalho não me
daria a oportunidade de crescer como um ser humano, pois não me traria uma reflexão e um
conhecimento de mundo na qual eu buscava tanto.
Então, ter o conhecimento era e é algo muito importante para mim e me apeguei a isso,
prestei o vestibular, quando fui aprovado a sensação primeiramente era de ansiedade perante o
que me esperava e sempre pensando em transformar minha realidade, ajudando minha mãe de
alguma forma e me transformando como pessoa, que é um dos aspectos mais importante para
mim.
A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que
as pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crença,
aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida. Ela pode
existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o
controle sobre o saber como armas que reforçam a desigualdade entre os
homens, na divisão dos bens, do trabalho, dos direitos e dos símbolos.
(BRANDÃO, 1993, p. 10).
25
Brandão (1993) nos mostra que a educação transita sobre todos os lugares, está
presente durante todo o percorrer de nossa vida. Percebi que a educação também é poder, um
poder que se manifesta nas culturas, povos, crenças e que influencia diretamente no ato de
transformação do ser e que pode ser repassado por várias pessoas e não somente por um
professor de uma escola formal. A educação vai além dos muros da escola, ela é diversificada,
espontânea e me faz relembrar todos os ensinamentos que aprendi fora da escola, me trouxe
uma reflexão muito importante para minha vida que detalharei a seguir.
Aprendi na universidade que tenho voz e posso expressar tudo que penso. Essa
liberdade me ajudou muito a superar minha timidez, principalmente no ato de falar em
público. Percebo que melhorei muito nesse sentido, hoje consigo me expressar bem e expor o
que penso e quero falar.
Com o passar dos semestres, eu só cresci seja como ser humano, seja como
profissional. Uma lição que a universidade me ensinou foi acreditar em mim mesmo e ter
confiança de seguir em frente. Errar é humano, devemos nos reinventar todos os dias, fazendo
com que tenhamos consciência sobre nossa importância dentro da sociedade e nunca baixar a
cabeça diante de situações difíceis.
Eu, como futuro Pedagogo, preciso ser uma pessoa forte. A realidade que me espera lá
fora não é algo fácil de se lidar. Preciso ter um bom controle emocional e saber lidar com as
situações do dia a dia. A Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM), campus
da Universidade Estadual do Ceará (UECE), ajudou-me a me tornar uma pessoa confiante,
reflexiva, incentivadora, consciente e, principalmente, um transformador de realidades, o que
eu puder fazer para transformar a realidade dos meus futuros alunos eu irei fazer.
Chalita (2016, p. 124) nos relata “Ser professor é irradiar vida mesmo em vidas
abaladas por circunstâncias alheias à nossa vontade. Alguns estão lá há muito tempo. Há
outros que chegam e precisam entender as especificidades do lugar”. Agradeço à FAFIDAM
por todo o conhecimento construído. Quando eu me formar vou ter orgulho de dizer que fui
estudante desta Instituição de Educação Superior. Toda experiência que tive nessa
universidade será lembrada para sempre em minhas memórias e em meus depoimentos.
Falar sobre a Pedagogia é algo que me deixa bastante emocionado e alegre ao mesmo
tempo, uma emoção aliada a esperança de dias melhores e de um futuro próspero e digno para
26
a sociedade. Lembro que, antes de prestar o vestibular, eu me sentia muito confuso em relação
ao meu futuro, desacreditado, muitas vezes, por mim e por muitos que estavam ao meu redor.
Eu me via numa situação na qual eu precisava decidir entre trabalhar ou estudar.
Em um belo dia, uma amiga minha me mandou uma mensagem avisando sobre o
vestibular que iria acontecer na FAFIDAM. Fiquei muito entusiasmado em ver na minha
frente uma oportunidade muito rica e que poderia mudar minha situação atual. Preenchi todos
os dados necessários e, no final, tinha a escolha do curso. Nunca havia imaginado ser
professor, mas enfim, olhei todos os cursos e dentre os que estavam disponíveis vi a
Pedagogia. Não sabia nada sobre essa área, fiz uma breve pesquisa e vi que estava relacionado
com a Educação Infantil. Como gosto muito de crianças, coloquei essa opção. Hoje em dia
vejo que a Pedagogia vai além desse pensamento na qual eu tinha lá atrás, ela é ampla e
diversa, abrange um espaço enorme dentro da educação, tenho muito orgulho da minha
escolha.
Fiz a primeira fase, não achei difícil. Voltei para casa meio esperançoso. Quando saiu o
resultado, pulei de alegria, era uma vitória que eu estava buscando há muito tempo. Foi aí que
percebi que tinha uma segunda fase (eu não sabia disso), uma redação sobre o lugar onde eu
vivo, um tema bastante interessante. Pude escrever sobre tudo que acontecia no meu lugar e
tudo que eu gostava nele. Quando terminei eu tinha certeza de que havia passado.
No dia que saiu o resultado, foi aquela sensação de alívio e de dever cumprido. Eu me
vi como um vencedor. Muitas pessoas me criticaram dizendo que eu não conseguiria alcançar
meus objetivos, mas eu tinha muita fé, orei muito toda noite com o joelho no chão pedindo a
Deus para me honrar e a glória veio. Pude mostrar a todos que eu conseguia, provando para
mim mesmo que posso alcançar tudo aquilo que eu quiser. Basta que tenha muita dedicação e
foco naquilo que almejo.
Chegou o tão sonhado dia o começo de um sonho. O primeiro dia de aula foi muito
estranho, era um universo muito diferente de tudo aquilo que eu já havia vivenciado. Aos
poucos, fui encontrando os colegas de sala. Lembro que, nesse dia primeiro dia, não havia sala
para a gente, muito menos aula, então, foi mais como um encontro mesmo com a turma, não
estavam todos. Conversamos muito sobre assuntos variados e sobre a vida pessoal de cada um.
Foi algo muito legal conhecer aquelas pessoas, saber um pouco sobre a história delas. Eu me
senti muito acolhido naquele momento.
À medida que os semestres foram passando, eu tinha mais certeza de que havia feito a
escolha certa. A Pedagogia me mostrou a construção da educação e suas evoluções, a
importância do pedagogo na sociedade como Brandão (1993, p. 43) retrata “O pedagogo era o
educador por cujas mãos a criança grega atravessava os anos a caminho da escola, por
caminhos
27
da vida”. Essa frase ficou gravada na minha cabeça por muitos motivos. Um deles é sobre o
cuidado, a dedicação que o pedagogo exerce perante aqueles que necessitam de sua ajuda. O
ensinar de fato, segurar sua mão e não soltar. Isso é muito lindo e me dá esperança de um
futuro melhor para nossas crianças.
Essa profissão devia ser mais valorizada em nosso país e isso está longe de acontecer.
Ela jamais deve ser esquecida, precisamos de mais e mais pedagogos ao nosso redor, o mundo
seria muito melhor.
A educação transforma o ser humano. Ela apresenta possibilidades de escolha. Basta
que as oportunidades apareçam.
A educação do homem existe por toda parte e, muito mais do que a escola, é
o resultado da ação de todo o meio sociocultural sobre os seus participantes.
É o exercício de viver e conviver o que educa. E a escola de qualquer tipo é
apenas o lugar e um momento provisórios onde isto pode acontecer. Portanto,
é a comunidade quem responde pelo trabalho de fazer com que tudo o que
pode ser vivido-e-aprendido da cultura seja ensinado com a vida – e também
com a aula – ao educando. (BRANDÃO, 1993, p. 47).
Percebe-se, então, que a educação não acontece somente na escola, acontece a todo
momento e a toda hora. A comunidade é um lugar na qual se possibilita muitas aprendizagens,
no diálogo com as pessoas e na convivência diária. Tudo isso é uma forma de aprendizado. É
muito importante que todos entendam que não se educa somente na escola, também, fora dela.
Brandão (1993, p. 25) mostra “Quando o educador pensa a educação, ele acredita que,
entre homens, ela é o que dá a forma e o polimento. Mas ao fazer isso na prática, tanto pode
ser a mão do artista que guia e ajuda o barro a que se transforme, quanto a forma que iguala e
deforma”. A educação me possibilitou estar aqui hoje, me possibilitou conhecer a Pedagogia.
A Pedagogia me ensinou como educar uma criança, buscar possibilidades daquela criança
aprender. Tenho orgulho imenso por ter escolhido esse curso. Abriu muitas portas para o meu
futuro, me fez olhar para educação e ver esperança nela.
A Pedagogia me ajuda todos os dias a nunca desistir do outro, a sempre buscar
maneiras de me sentir focado e dedicado naquilo que tanto quero. Então, agradeço a todos os
professores deste curso maravilhoso por todas as oportunidades e aprendizagens que me
foram oferecidas. É algo que guardo com muito carinho no meu coração e na minha história.
28
3
De acordo com a CAPES (2018, p. 1): Edital CAPES n° 06/2018 do Programa Residência Pedagógica art. 1.1° Do
objeto: “1.1 O objeto do presente edital é selecionar, no âmbito do Programa Residência Pedagógica, Instituições de
Ensino Superior (IES) para implementação de projetos inovadores que estimulem articulação entre teoria e prática nos
cursos de licenciatura, conduzidos em parceria com as redes públicas de educação básica”.
4
“2.2.1.1 A residência pedagógica terá o total de 440 horas de atividades distribuídas da seguinte forma: 60 horas
destinadas a ambientação na escola; 320 horas de imersão, sendo 100 de regência, que incluirá o planejamento e
execução de pelo menos uma intervenção pedagógica; e 60 horas destinadas à elaboração de relatório final, avaliação e
socialização de atividades.” (CAPES, 2018, p. 1).
5
“2.2.2 Na escola-campo, o residente será acompanhado por um professor da educação básica, denominado preceptor.”
(CAPES, 2018, p. 2).
29
Durante todo o período do RP, me relacionei com duas professoras. No caso, eram
duas pedagogas. Eu observei-as durante todo esse processo e percebi que são profissionais
muito diferentes. Uma delas era bastante calma, transmitia muita paz e tranquilidade durante
suas aulas. Já a outra é bem mais agitada, compartilhando seus questionamentos e tendo uma
dinâmica muito boa dentro da sala de aula.
Como preparação para a regência, estudei muito o livro “Didática” de Libâneo (1990),
que traz muitas informações relevantes sobre as práticas de ensino, para depois poder colocar
em prática aquilo que o programa me ofereceu, ou seja, o exercício da docência. Em linhas
gerais, essas foram as etapas deste programa.
Esses processos dentro da RP foram estipulados ao todo em torno de 440 horas, não
podia ser menos que isso, mas digo, com toda certeza, que durou bem mais que isso. Foi um
trabalho bastante intenso e de muito estudo. Aplicar a teoria na prática é algo que necessita de
bastante atenção e muita dedicação, não é algo simples. Esse ponto, para mim, foi bastante
importante, estava muito focado em conseguir realizar tudo aquilo que foi planejado durante
todo esse percurso, tendo o foco sempre no aluno, proporcionando a aprendizagem
significativa, tudo tinha que fazer sentido para o aluno, essa era nossa maior preocupação.
Mediante o que foi dito sobre os processos de desenvolvimento da RP, irei relatar a
minha experiência nesse projeto maravilhoso, que me deu muitas oportunidades de me ver
como profissional e perceber que era aquilo que eu queria para o resto da minha vida. Essa é a
minha profissão.
A Residência Pedagógica contribuiu de forma muito positiva na minha formação
docente, me trouxe a experiência que tanto eu precisava, me mostrou que é possível colocar
em prática aquilo que foi planejado, mesmo diante de diversas dificuldades encontradas
durante todo esse processo. Então, me sinto lisonjeado e honrado em ter participado da
residência. Ajudou-me a me tornar um profissional reflexivo, mesmo diante das dificuldades
que estavam ali presentes. A RP me deu uma bagagem enorme de muito aprendizado,
principalmente voltado às práticas pedagógicas incluindo: planejamento e regência. Tudo isso
foi de suma importância para a minha formação, agradeço tudo que essa bolsa me
proporcionou.
O planejamento escolar é um dos componentes da didática, vinculado com o processo
de ensino, que deve ser exigido e respeitado por toda instituição escolar. Esta é uma tarefa de
grande importância tanto para professores quanto para alunos, pois é a partir do planejamento
que será desenvolvido toda a organização e coordenação das atividades que serão realizadas
durante todo o ano letivo.
30
Planejar, então, não se restringe a uma ação mecânica que obriga o professor
a preencher formulários vazios e entregá-los à coordenação da instituição de
ensino. Não é um instrumento para controle administrativo. Antes disso, é o
instrumento de que lança mão o professor no direcionamento das ações
pedagógicas. Por isso mesmo, as suas intenções, revestidas em termo de
objetivos de ensino/aprendizagem, revelam o modelo de sociedade, de
educação e de ser humano que construímos ao longo de nossa trajetória
(D’ÁVILA; MADEIRA, 2018, p.70).
O estágio é o momento de o aluno universitário colocar tudo que ele estudou, suas
metodologias, planejamento, e o exercício da didática, então ele precisa entender o seu papel
naquele lugar, mesmo sendo estagiário ele vai ter que ministrar aula para aqueles alunos na
qual ele está acompanhando, então naquele momento ele é um professor e deve impor-se
como um, isso precisa ser encarado por ele mesmo.
O Curso de Pedagogia poderia intervir de uma forma mais prática, trazer os alunos
para o chão da escola desde o início do curso, fazendo com que eles tenham uma visão mais
ampla da Pedagogia, podendo identificar se realmente é isso que eles querem para o seu
futuro. Essa seria uma forma muito interessante de trabalhar, de aliar a teoria à prática.
A escola-campo6ajudou muito durante todo o percurso do projeto. O auxílio foi
relacionado aos materiais didáticos. Todos nós sabemos o quanto é escasso e precário o ensino
público hoje em dia, mas, mesmo com tantas dificuldades, eles nos ofereciam materiais para se
trabalhar como: cartolina, cola, pincéis, folhas, lápis entre outros. Quando não se tinha para
oferecer, a gente reutilizava e assim ia dando tudo certo.
Então a escola foi uma grande aliada principalmente na ajuda em sala de aula, davam
algumas dicas de como intervir em situações, como: quando os alunos estavam muito agitados
depois do recreio, em como ensinar determinado conteúdo, então essas questões foram
importantes para mim, para que tudo fosse cumprido dentro da Residência Pedagógica.
A preocupação com a educação dos alunos foi algo que me impactou no começo do
projeto. A gestão escolar, juntamente com os professores eram muito dedicados em buscar
sempre uma metodologia que proporcionasse uma melhor aprendizagem daquele conteúdo
para os alunos. Então me motivou mais, em sempre querer estudar e proporcionar uma certa
mudança no comportamento dos alunos, pois em diversas vezes eles não queriam participar
das
6
De acordo com a CAPES (2018): Edital CAPES n° 06/2018 do Programa Residência Pedagógica art. 2.2° Das
definições: 2.2.2 “Na escola-campo, o residente será acompanhado por um professor da educação básica, denominado
preceptor”. (CAPES, 2018, p. 2).
32
aulas e sempre tínhamos que buscar algo que fosse importante para ele naquele momento
dentro de sala de aula. Foi justamente essa força e apoio que a escola deu, foi de suma
importância.
A educação vai ser sempre um ato de transformação para o indivíduo, quando o aluno
se apropria dela e tem a consciência da importância que ela exerce dentro da sociedade a
aprendizagem começa a acontecer, mas é algo que deve partir do aluno. Nós, como
professores, podemos desenvolver a função de estimular e sempre dar apoio ao aluno,
principalmente para aqueles alunos que não tem muita noção de responsabilidade,
comprometimento e iniciativa. Podemos reelaborar a compreensão que a família e a
sociedade, muitas vezes, não oferecem essa ajuda ao cidadão, eles ficam à mercê de muita
coisa, é uma tarefa difícil, mas é necessário.
Os professores podem potencializar ambientes e situações de ensino e de aprendizagem
que permitam que o aluno compreenda que sua participação é essencial dentro do seu processo
de aprendizagem, que ele pode se sentir capaz e atuante, mas para que isso aconteça ele
precisa de ajuda. O professor pode ser esse mediador e o aluno pode se abrir para a nossa
ajuda e querer aprender. Em minha compreensão, a educação está aí para auxiliar no ato de
transformação da vida de qualquer pessoa, para tanto é importante que se entenda que a
educação é algo que deve ser valorizado e não desperdiçado.
Relacionado aos estudos durante a RP, o projeto utilizava a Teoria da Aprendizagem
Significativa de David Ausubel, que nos mostra a importância que o aluno tem dentro da sua
própria aprendizagem, não adianta os professores trabalharem determinados conteúdos sem
que haja uma participação significativa do aluno, não haveria resultados satisfatórios agindo
dessa forma.
Então, a participação dos alunos nesse processo foi algo muito importante, eles
caminharam junto com a gente, eles eram o nosso foco, a partir do momento que eles
compreenderam isso, nosso trabalho começou a ter um aproveitamento muito considerável.
Por meio desses apontamentos feitos por Moreira sobre a definição de aprendizagem
significativa de Ausubel, compreendo que a partir do momento que recebemos novas
informações, elas irão se acoplar às concepções preexistentes em nosso cognitivo, tornando
assim de certa forma significativas, ou seja, algo que faça sentido em nossos pensamentos. O
professor quando ministra sua aula precisa despertar interesse no aluno, fazendo com que
dessa forma a aprendizagem aconteça.
Durante todo esse percurso, tive algumas dificuldades. Primeiramente foi na
organização da sala, mesmo observando as professoras em sala de aula, fiquei com uma certa
insegurança. Ao meu ver, isso é normal, pois estava me inserindo pela primeira vez como um
professor regendo uma sala, e a questão emocional também influencia. Fui conseguindo pouco
a pouco fazer a gestão da sala de aula, melhorando assim as minhas aulas. Outra dificuldade
encontrada foi em relação aos materiais didáticos, às vezes a escola não tinha um determinado
material que seria utilizado, então nós tínhamos que ir atrás dos materiais didáticos, comprar
em lojas. Essas foram as dificuldades que encontrei durante todo esse período.
O olhar para a docência foi algo que me chamou muita atenção nesse projeto, ter a
oportunidade e experiência de ir à campo foi algo incrível, e estar dentro de uma sala de aula é
tudo aquilo que eu buscava desde que entrei na universidade. Então, só tenho a agradecer ao
programa RP e a todos que me proporcionaram essa experiência maravilhosa que ficará
guardada comigo para o resto da minha vida.
Quando tive a oportunidade de ministrar em sala de aula me vi como professor, no período de
ambientação observei bastante as professoras em sala de aula. Esse momento foi muito
importante para mim, todas aquelas práticas de ensino me despertaram muito interesse em
querer trabalhar aquilo quando eu estivesse regendo. Os seminários, as contações de histórias,
as atividades em grupo, tudo isso que presenciei foi me construindo como professor.
Identidade docente é uma construção, é olhando e aprendendo que também se contribui
para a formação de um profissional da educação. Os ensinamentos que aprendi foram diversos
durante esse período, antes eu era um bolsista que apenas estudava as teorias na universidade e
durante todo o processo da RP me descobri uma nova pessoa, uma pessoa mais confiante,
sabendo lidar com situações adversas como: tratar os alunos de forma igualitária, saber escutar
no momento certo, me posicionar diante de um conflito, aprender com os erros, valorizar
minha profissão em sala de aula. Tudo isso me fez crescer como pessoa e como profissional.
Entrei um universitário sem experiência em reger uma sala de aula, sai como um
universitário que aprendeu muito naquele espaço e que agora tem conhecimento de como
34
3 INSPIRAÇÕES TEÓRICAS
Nesta seção, irei abordar sobre alguns temas que são de suma importância para o meu
trabalho, que me ajudaram na construção e no desenvolvimento do meu tema central. Sobre o
tema “Identidade” trago Bauman (2005), Dubar (2006), Pimenta (1999) e Nóvoa (2009) que
auxiliam na compreensão sobre esse tema tão rico que necessita de bastante dedicação para se
ter um posicionamento coeso. Acrescentando a minha pesquisa trago as “Narrativas”
utilizando o autor Motta (2013) que apresenta esse conceito mostrando que, dentro da
formação, as narrativas agregam à construção de reflexões, relações e conhecimentos sobre e
na prática educativa. Sobre o conceito de (auto)biografia, como referência utilizei Mota, Silva
e Rios (2019) e Machado, Nunes e Santana (2019), que nos mostram que a (auto)biografia nos
ajuda a repensar a prática docente, proporcionando ações transformativas dentro da educação.
Trago a “História de vida de formação” com Josso (2007) que nos mostra o quão importante é
nossa trajetória de vida, fazendo com que isso reflita em nossa formação, proporcionando
sempre atos de reflexão, de mudança e de renovação de si. Trago também as “Matrizes
Pedagógicas”, com Furlanetto (2003), que oferece uma visão bastante enriquecedora sobre os
espaços que o professor ocupa e sobre as possibilidades de transformação do ser humano.
Tendo como base para esse estudo, utilizarei os pensamentos de Zygmunt Bauman, foi
um filósofo, sociólogo, professor e escritor polonês que se deteve em estudar sobre a
identidade e suas interferências dentro da sociedade. Então, lendo seu livro “Identidade:
entrevista a Benedetto Vecchi” (BAUMAN, 2005), vejo a grande influência que ele teve
dentro da sociologia.
Deve-se entender que a identidade é algo que pode ser mudado ao longo do tempo,
pois é uma construção e exige, de certa forma, uma conscientização de tudo aquilo já vivido e,
com o passar do tempo, você pode perceber que aquilo que lhe chamava muita atenção, agora,
não chama mais e não tem mais a mesma importância que antigamente. Vejamos como
Bauman (2005) explica isso:
A identidade é algo que parte de suas próprias escolhas, se elas são certas ou erradas
quem vai perceber isso é você, pois naquele momento você acreditava nas escolhas que
estavam sendo tomadas. Quando o autor fala sobre o pertencimento, compreende-se que é
algo que todo indivíduo tem em si mesmo, seja em determinadas escolhas que se toma ou
mesmo em seus próprios pensamentos e sentimentos. Então, fazer com que haja esse
desprendimento de coisas que estão guardadas com você e que, por diversos fatores, você não
abre mão de chegar a uma conclusão de que isso foi importante, mas que no momento não
serve mais dentre as suas escolhas, é algo natural e que deve acontecer sem que haja
ressentimento, mas, para isso, existe todo um processo e uma conscientização que deve partir
de si próprio.
A identidade é algo social, por isso nos deparamos com inúmeras situações nas quais
nos fazem refletir sobre o nosso modo de pensar e sobre as nossas escolhas. Isso exige uma
certa preocupação e atenção, pois não é porque determinada pessoa pensa algo que eu sou
obrigado a pensar igual eles. Vivemos em um mundo onde a diversidade de ideias é algo
comum e que devemos entender qual o nosso papel dentro da sociedade. Então, a apropriação
de algo dito por outra pessoa é uma forma de ser influenciado diante de algumas situações,
fugindo assim um pouco de sua identidade, buscando informações de outros indivíduos.
Bauman cita:
A busca por esse entendimento entre o que eu acredito e o que outras pessoas
acreditam é algo que acontece constantemente, pois o contato com as pessoas é diário, ter essa
noção e esse cuidado parte do próprio indivíduo e do fato de olhar para si mesmo e se
entender, ajudando, assim, no seu próprio reconhecimento como pessoa e como profissional.
O pessoal é algo que também se destaca muito na identidade, pois na maioria das vezes
está interligada com a subjetividade, pois justamente é aquilo que o indivíduo guarda consigo,
algo de sua própria natureza que está interligado com o seu eu.
Então, o fator pessoal é aquele que se caracteriza por aquilo que lhe foi ensinado
durante a sua vida, aquilo que você traz consigo, sua história, sua essência é o mais puro
sentimento que vem guardado e que você deve perdê-lo, pois é sua raiz. Algo que foi trazido
durante gerações, foi o que lhe construiu como pessoa e que se reflete em suas ações como
profissional e que não deve ser considerado errado, pois foi muito importante durante a sua
trajetória.
A identidade não é um dado imutável. Nem externo, que possa ser adquirido.
Mas é um processo de construção do sujeito historicamente situado. A
profissão de professor, como as demais, emerge em dado contexto e momento
históricos, como resposta a necessidades que estão postas pelas sociedades,
adquirindo estatuto de legalidade. Assim, algumas profissões deixaram de
existir e outras surgiram nos tempos atuais (PIMENTA, 1999, p. 18).
Se tornar professor perpassa por muitas etapas e processos na qual se vai construindo
conhecimentos e vivências durante sua vida, como em todas as profissões como a citação
acima afirma, é algo que vai se construindo ao longo do tempo. Durante a nossa história
passamos por situações na qual vão construindo nossa identidade e na hora de escolher nossa
profissão olhamos para nossa história e vemos aquilo que nos caracteriza como indivíduo,
auxiliando assim as nossas escolhas futuras, não é algo escolhido do dia para noite e sim algo
construído ao longo de nossa trajetória de vida.
A escola se caracteriza como o local onde o professor irá compartilhar seu
conhecimento, conhecimento esse trazido durante toda a sua trajetória de vida e
principalmente na sua formação como profissional de ensino.
O contato com a profissão vai transformando o ser, ele vai adquirindo mais
responsabilidade, consciência e compreensão sobre tudo que está a sua volta, identificando
assim sua verdadeira função, sendo seu próprio agente de mudança em sua vida. Possibilitando
aprendizagens significativas, aumentando assim o seu repertório e sua trajetória de vida de
formação.
Nossas vidas são nossas narrativas. Melhor dizendo, nossas narrativas tecem
nossas vidas. Organizamos as nossas biografias destacando alguns
acontecimentos que cremos estarem mais carregados de significações, e que
pontuam a nossa história pessoal. Pontos de virada que nos vinculam ao
passado, dão continuidade ao presente e nos remetem ao futuro, criando as
representações de nós mesmos e nossas identidades individuais. Narrar é uma
forma de dar sentido à vida. Na verdade, as narrativas são mais que
representações: são estruturas que preenchem de sentido a experiência e
instituem significação à vida humana. Narrando, construímos nosso passado,
nosso presente e nosso futuro. As narrativas criam o ontem, fazem o hoje
acontecer e justificam a espera do amanhã. (MOTTA, 2013, p. 18).
Quando busco falar sobre a minha história de vida de formação e as histórias de vida
de formação das professoras da minha pesquisa procuro as narrativas. Narrações essas que
dão sentido a tudo que foi construído durante uma vida e, por meio delas, é possível
identificar como esse processo aconteceu. Narrar sobre sua própria história significa perceber
quais aspectos foram importantes durante a sua caminhada, aspectos esses que construíram
sua
40
construção da identidade docente. Minha história revela um pouco de quem eu sou, do que
aconteceu no passado que me influenciou a ser o que sou hoje. Acredito que são
acontecimentos em nossa vida que nos fazem crescer e evoluir tanto como profissional quanto
como pessoa. Neste estudo, tratarei de minha história de vida de formação e das histórias de
vida de formação das professoras.
A escola sempre foi um lugar de transformação na minha vida, sempre quis mostrar
meu potencial, nas tarefas e nas apresentações. Sempre fui uma pessoa muito dedicada e
sempre tive muito apoio, principalmente dos meus professores. Eles sempre me passaram
muita confiança e eu me sentia encorajado e nunca tive medo de apresentar meus
questionamentos. Creio que esse fato tenha me ajudado muito na universidade.
O esforço é algo que sempre me motiva a querer fazer o melhor. Nunca me achei uma
pessoa inteligente, mas sim esforçado. Eu corro atrás dos meus objetivos e não desisto daquilo
que desejo conquistar. Agradeço aos meus professores pelo voto de confiança. Sou uma pessoa
que me cobro muito, em algumas circunstâncias, mas foram essas cobranças que me tornaram
mais forte. Hoje eu agradeço a Deus por ter chegado até aqui e peço sempre muita sabedoria
para trilhar novos caminhos, mas sou humilde e lembro da minha história. Foi na minha
primeira escola que descobri que a palavra “desistir” não existe no meu vocabulário e que
“persistir” sim é algo que me move dia a dia.
44
4 METODOLOGIA DE PESQUISA
Minha pesquisa será realizada com duas pedagogas que atuam na Educação Básica
numa escola pública do município de Limoeiro do Norte/CE. Primeiramente, escolhi essas
professoras porque foi na escola onde elas trabalham que tive a experiência e a oportunidade
de estagiar como residente no programa RP. Foi nessa escola que aprendi a fazer um plano de
aula, a organizar materiais para trabalhar nas aulas. Foi lá onde tive o prazer de ministrar
minhas aulas nas turmas de 5° ano, então já tenho uma certa intimidade tanto com o corpo
docente quanto com o núcleo gestor.
Essas pedagogas acompanharam todo o meu processo como estagiário no programa
RP. Tenho muita gratidão e honra em ter trabalhado com elas, e estou muito contente pela
participação delas no meu trabalho, a contribuição delas no meu processo de formação foi algo
que guardo com muito apreço tanto nas minhas memórias quanto no meu coração.
A escola na qual as participantes da pesquisa atuam é uma escola do Ensino
Fundamental II, que engloba do 5° ao 9° ano. Uma escola bastante grande que acolhe alunos
de várias comunidades das zonas rurais, então a população é bastante diversificada.
No meu trabalho, trago também a história de vida de formação. Percebo como sendo de
extrema relevância o olhar sobre sua própria trajetória, como eu me constitui como ser
humano, como estou me constituindo como docente. Poder refletir sobre tudo aquilo que vivi
durante
46
minha vida que, de alguma maneira, influenciou no que eu sou hoje, as situações vividas, o
diálogo com as pessoas, as batalhas enfrentadas, tudo isso me constituiu. Esses momentos e as
pessoas são muito importantes e devem ser sempre lembrados, pois fazem parte da minha
história.
A história de vida de cada indivíduo é algo que está estreitamente ligado à sua
identidade, é algo que não pode ser desvinculado. A autora Josso (2007) nos mostra a relação
do fator social e profissional, fazendo com que se tenha noção que a história de vida é algo que
perpassa por diversas áreas, que existem diversos fatores ligados. Quando um indivíduo inicia
uma carreira profissional, ele já traz consigo uma bagagem que tem: conhecimentos, vivências,
experiências, amor e diversos sentimentos. Durante uma trajetória de vida, o ser humano passa
por diversas situações e provações que o deixam forte e também que o deixam fraco. Isso é
normal, ele está em construção. Então, o que quero mostrar, trazendo a história de vida de
formação, são justamente as experiências, os conhecimentos, os sentimentos que me
constituíram como sujeito, olhando para o passado e podendo identificar minha trajetória,
então acho de suma importância trazer esses apontamentos na minha pesquisa.
A história de vida é algo que influencia diretamente em seu futuro, pois o faz tomar
algumas decisões que lhe foram instruídas lá atrás, ajudando, assim, na sua própria formação
profissional. Elizeu Clementino de Souza (2004) ressalta sobre esse processo de vivência
escolar:
A compreensão das implicações pessoais e das marcas construídas na
trajetória individual, através de relatos escritos sobre a aprendizagem
pessoal e coletiva na profissão com base na vivência escolar, revela
se como um fértil exercício de formação e de pesquisa, na medida em
que possibilita ao sujeito em formação compreender-se como autor e
ator do seu percurso formativo. (SOUZA, 2004, p. 26-27).
47
Compreender sua história de formação é algo que justifica aquilo que você conquistou
ao longo de sua vida. É uma forma de reconhecer e ter consciência da importância de tudo
aquilo que lhe foi conquistado durante a sua formação e perceber os fatores que implicaram
para que você conseguisse chegar ali. Por isso, que no começo do meu trabalho trago minha
história de vida de formação, pois é de suma importância entender de onde vim, e
compreender como me constitui como pessoa, tudo que eu vivi influenciou de certa forma na
minha vida, e reconhecer isso é um ato de reconectar-me comigo mesmo, com as minhas
aprendizagens, estabelecendo diálogo com as teorias estudadas e com as experiências vividas,
podendo ressignificá-las, aprender com elas e acho de suma importância trazer essas vivências
para minha pesquisa.
A história de vida de formação nos apresenta uma visão bastante ampla sobre o
processo de aprendizagem. Durante a nossa trajetória, vamos aprendendo com o passar do
tempo, aprendizado esse que nos formou como pessoa e que nos ajuda a tomar decisões que
irão influenciar durante o percorrer de nossas vidas. Nossa história também compõe nossa
identidade, que foi se construindo ao longo do tempo e que possibilita uma evolução,
proporcionado pelas transformações que vivenciamos durante a nossa caminhada.
É por isso que todo projeto de formação cruza, à sua maneira e nas palavras
de seu autor, com a temática da existencialidade associada à questão
subseqüente da identidade (identidade para si, identidade para os outros). Um
dispositivo de formação que, por pouco que seja, integre a reflexão sobre esse
projeto, a partir, por exemplo, de uma análise de histórias de vida dos
aprendentes, pode, desse modo, ver aflorar e penetrar nas preocupações
existenciais dos aprendentes adultos. Assim, a questão do sentido da
formação, vista através do projeto de formação, apresenta-se como uma voz
de acesso às questões de sentido que hoje permeiam os atores sociais, seja no
exercício de sua profissão - eles se assumem como porta-vozes dos problemas
dos grupos sociais com os quais operam-, seja nas vivências questionadas e
questionadoras de sua própria vida (JOSSO, 2007, p. 414).
A história de vida de formação também é ciência, ela pode ser estudada e analisada,
tendo a compreensão que ela faz parte da construção e formação de um ser humano, ser
humano esse que traz uma trajetória de conhecimentos e aprendizados adquiridos e que são
relevantes. Podem ser usados como instrumento de pesquisa, pois, quando se fala em
identidade, se fala em construção, uma construção de um ser que vive sua vida e tem história
para contar e refletir sobre o que viveu durante sua própria caminhada e, também, aprender
com isso.
Narrar sua história de vida é um ato de libertação e de pertencimento, demonstrando suas
subjetividades, seus aprendizados permitindo o acesso das pessoas dentro do seu contexto de
vida. Minha pesquisa se encaixa perfeitamente nesse contexto aqui colocado, pois ao ter
48
acesso à história de vida de formação das professoras participantes do meu trabalho, quero
compreender como aconteceu essa construção como pessoa e como profissional, que fatores
influenciaram para que elas se tornassem o que são hoje, e isso é de extrema importância para
entender o processo de identidade docente que busco em meu trabalho. Além disso, conhecer o
percurso dessas professoras também me auxilia nas reflexões e aprendizados de meu próprio
percurso.
Sobre a experiência, Larrosa (2002) diz que:
A experiência é algo que mexe com o passado, podendo assim ser encontrados
elementos que influenciam diretamente em sua identidade. A partir do momento que se
encontra essa identidade, mesmo ela podendo estar em constante aprimoramento, em
constante vir-a-ser, podemos adentrar na área profissional, identificando assim elementos que
interferem no seu agir como profissional, constituindo-se assim sua identidade docente. A
docência é uma fase na qual se acumula muitas experiências, durante sua trajetória pessoal e
profissional, ou seja, o que você viveu reflete nas suas ações profissionais.
Outro instrumento de pesquisa qualitativa que irei utilizar é a EN, que também é um
processo voltado ao ato de narrar histórias, mas pela pessoa que é entrevistada. Martin W.
Bauer e George Gaskell (2008) explicam que:
Ela é considerada uma forma de entrevista não estruturada, de profundidade,
com características específicas. Conceitualmente, a ideia da entrevista
narrativa é motivada por uma crítica do esquema pergunta-resposta da maioria
das entrevistas. No modo pergunta-resposta, o entrevistador está impondo
estruturas em um sentido de tríplice: a) selecionando o tema e os tópicos; b)
ordenamento as perguntas; c) verbalizando as perguntas com sua própria
linguagem (BAUER; GASKELL, 2008, p. 95)
entrevistador deixa o entrevistado narrar sua história livremente, sem interrupções. Cabe
ressaltar que o entrevistado irá falar a partir da indicação de tema/assunto ou pergunta inicial
que lhe for apresentado pelo entrevistador. O objetivo aqui é claro, deixar o entrevistado à
vontade durante a entrevista, fazendo com que ele se sinta confortável para narrar sua história,
deixando a conversa fluir livremente.
Para conseguir uma versão menos imposta e por isso mais “válida” da
perspectiva do informante, a influência do entrevistador deve ser mínima e um
ambiente deve ser preparado para se conseguir esta minimização da influência
do entrevistador. A EN vai mais além que qualquer outro método ao evitar uma
pré-estruturação da entrevista baseado em pergunta-resposta. Ela emprega um
tipo específico de comunicação cotidiana, o contar e escutar história, para
conseguir esse objetivo. (BAUER; GASKELL, 2008, p. 95)
50
ir adiante, várias regras podem ser empregadas como orientações para
formular o tópico inicial:
● O tópico inicial necessita fazer parte da experiência do informante.
Isso irá garantir seu interesse, e uma narração rica em detalhes. ● O
tópico inicial deve ser de significância pessoal e social, ou
comunitária.
● O interesse e o investimento do informante no tópico não devem ser
mencionados. Isso é para evitar que se tomem posições ou se
assumam papéis já desde o início.
● O tópico deve ser suficientemente amplo para permitir ao
informante desenvolver uma história longa que, a partir de
situações iniciais, passando por acontecimentos passados, leve à
situação atual.
● Evitar formulações indexadas. Não referir datas, nomes ou lugares.
Esses devem ser trazidos somente pelo informante, como parte de
sua estrutura relevante.
2. Narração central Quando a narração começa, não deve ser interrompida até que haja
uma clara indicação (“coda”), significando que o entrevistado se
detém e dá sinais de que a história terminou. Durante a narração, o
entrevistador se abstém de qualquer comentário, a não ser sinais não
verbais de escuta atenta e encorajamento explícito para continuar a
narração. O entrevistador pode, contudo, tomar notas ocasionais
para perguntas posteriores, se isto não interferir com a narração.
Restrinja-se à escuta ativa, ao apoio não verbal ou paralinguístico,
e mostrando interesse (“hmm”, “sim”, “sei”). Enquanto escuta,
pergunte-se mentalmente, ou escreva no papel, as perguntas para a
próxima fase da entrevista.
Quando o informante indica coda no final da história, investigue
por algo mais: “É tudo que gostaria de contar?” Ou “Haveria ainda
alguma coisa que você gostaria de dizer?”.
3. Fase de Quando a narração chega a um fim “natural”, e o entrevistador
perguntas inicia a fase de questionamento. Este é o momento em que a escuta
do entrevistador produz seus frutos. As questões exmanentes do
entrevistador são traduzidas em questões imanentes, com o emprego
da linguagem do informante, para completar as lacunas da história.
A fase de questionamento não deve começar até que o
entrevistador comprove com clareza o fim da narrativa central. Na
fase de questionamento, três etapas básicas se aplicam:
● Não faça perguntas do tipo “por quê”; faça apenas perguntas
que se refiram aos acontecimentos, como: “O que aconteceu
antes/depois/então?” Não pergunte diretamente sobre
opiniões, atitudes ou causas, pois isto convida a
justificações e racionalizações. Toda narrativa irá incluir
determinadas justificações e racionalizações; contudo, é
importante não investigá-las, mas ver como elas aparecem
espontaneamente.
● Pergunte apenas questões imanentes, empregando somente as
palavras do informante. As perguntas se referem tanto aos
acontecimentos mencionados na história, quanto a tópicos
do projeto de pesquisa. Traduza questões emanentes em
questões imanentes.
51
● Para evitar um clima de investigação detalhada, não aponte
contradições na narrativa. Esta é também uma precaução
contra investigar a racionalização, além da que ocorre
espontaneamente.
A fase de questionamento tem como finalidade eliciar material
novo e adicional além do esquema autogerador da história. o
entrevistador pergunta por maior “textura concreta” e “fechamento
da Gestalt”, mantendo-se dentro de regras.
As fases 1, 2 e 3 são gravadas para transcrição literal, com o
consentimento dos informantes.
A utilização do diário de campo precisa ser cotidianamente, pois sua função é de ajudar
o pesquisador a não se perder, e seguir sua caminhada de escrita de forma coesa tendo uma
52
inferência e a interpretação. Vejamos como Bardin (1977) define essas etapas, a partir do
Quadro 2:
54
- Se se considerarem os textos como uma manifestação
contendo índices que a análise vai fazer falar, o trabalho
preparatório será o da escolha destes - em função das
hipóteses, caso elas estejam determinadas - e sua
organização sistemática em indicadores.
e) A preparação do material. - Antes da análise
propriamente dita, o material reunido deve ser preparado.
Trata-se de uma preparação material e, eventualmente,
de uma preparação formal.
A preparação formal, ou edição, dos textos, pode ir desde
o alinhamento dos enunciados intactos, proposição por
proposição, até à transformação linguística dos
sintagmas, para standartização e classificação por
equivalência.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de informações de Laurence Bardin (1977, p. 95-101).
4.5.1 Categorização
Utilizar a categorização auxilia na organização e na análise das entrevistas,
identificando dentro das entrevistas categorias importantes que existem na história de vida de
formação das entrevistadas. Bardin (1977) esclarece:
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Categoria Família:
quanto a base familiar ajuda no processo de formação do ser humano. O apoio familiar se
mostrou como algo indispensável dentro de um contexto de história de vida de formação desta
professora.
A Professora 2 também citou sobre a importância da família, aqui representada pela figura da
mãe: “Minha mãe sempre me incentivou muito a estudar, por ser a segunda mais velha em
relação às minhas irmãs eu sempre ensinava as tarefas para as mais novas” (Professora 2).
Ela também relatou a relação do trabalho doméstico, na qual ela citou uma situação
que aconteceu nesse período: “Nessa fase, começou a surgir pessoas atrás de mim para ir
trabalhar em casas como doméstica, mas minha mãe não permitiu, disse que era para mim
estudar, sempre na minha casa estudar era prioridade” (Professora 2). Percebemos que o foco
na educação era algo bastante sério dentro da sua casa, a mãe dela não permitia que ela saísse
para trabalhar e sim que ela estudasse.
Para esta Professora, também o fato de, desde pequena, ensinar suas irmãs foi um
incentivo maior para que ela quisesse estudar, então sua mãe sempre quis que todas as suas
filhas estudassem, buscando assim um futuro bom. Acosta e Vitale refletem (2003) que:
Pensar a família como uma realidade que se constrói pelo discurso sobre si
própria, internalizado pelos sujeitos, é uma forma de buscar uma definição que
não se antecipe à sua própria realidade, mas que nos permita pensar como ela
se constrói, constrói sua noção de si, supondo evidentemente que isto se faz
em cultura, dentro portanto, dos parâmetros coletivos do tempo e do espaço
em que vivemos, que ordenam as relações de parentesco (entre irmãos, entre
pais e filhos, entre marido e mulher). Sabemos que não há realidade humana
exterior à cultura, uma vez que os seres humanos se constituem em cultura,
portanto, simbolicamente. (ACOSTA; VITALE, 2003, p. 27).
A relação familiar é construída por meio de valores, valores esses passados ao longo do
tempo, pelos quais são compartilhados: experiências, histórias, sentimentos entre outros. Tudo
isso é tecido culturalmente, cultura essa vinda dos nossos ancestrais, então a construção de um
ser humano parte da cultura, daquilo que foi lhe ensinado durante toda a sua trajetória de vida
e é algo que deve ser valorizado e repassado, pois é uma forma de deixar viva todos os
ensinamentos adquiridos.
adquiriram trabalhando e estudando dentro da escola, são situações que elas trazem dentro de
sua trajetória que envolve: dedicação, amor, persistência, resistência, entre outros aspectos.
Lück (2009) nos mostra:
A citação nos mostra que a escola precisa ser um lugar onde os alunos possam se
desenvolver sem pressão, a educação deve ser compartilhada de forma que busque a reflexão
do aluno, precisa promover o acolhimento, fazendo com que o desenvolvimento do aluno
aconteça e que ele veja sentido naquilo que está sendo ensinado. A escola deve garantir o
aprendizado do aluno, mas que esse aprendizado seja de forma consciente e inspiradora, que
ele possa se reconhecer diante daquilo lhe apresentado, podendo a partir disso evoluir e
começar a colher os seus próprios frutos.
A Professora 1 inicialmente citou que sua identidade docente foi construída desde sua
infância. Como ela entrou na escola cedo com 3 anos de idade, a escola sempre fez parte de
sua vida, desde sua infância até a fase adulta, estabelecendo aquele local como sendo um local
de aprendizagens e experiências. Ao relatar sua relação com a escola, a Professora 1 disse: “É
muito forte meu convívio com a escola, desde os meus 3 anos até os 44 anos, eu nunca me
ausentei um ano de dentro de uma escola”.
A Professora 2 esclareceu sua relação com a escola: “Por ser de família carente, as
freiras tiveram dó de mim e da minha irmã mais velha, aí ganhamos uma bolsa para estudar
com as freiras, então até o 5° ano eu e minha irmã, mas estudamos com bolsa nessa escola”
(Professora 2). A Professora 2 detalha alguns aspectos das vivências dentro da escola: “Nós
éramos as pobres da escola, nosso material era bem diferente dos outros colegas, mas isso
nunca influenciou em nada na minha vida, sabia que estava ali para estudar” (Professora 2).
Aqui identificamos a dedicação e força de vontade da Professora 2 que mesmo com
dificuldades, ela e sua irmã conseguiram uma bolsa de estudos, então, dentro desse contexto
escolar, já identificamos diferenças decorrentes do poder aquisitivo, sendo de família carente
60
as oportunidades, muitas vezes, não vem, o governo devia intervir e proporcionar uma
qualidade melhor na educação da nossa população.
Mesmo com todas essas dificuldades observamos que com muito empenho se chega
longe. Lück (2009) afirma que:
A educação deve ter o total apoio dos pais, da escola e da comunidade inserida, deve-se
ter a compreensão da necessidade de ter um ensino e de fazer com que ele faça parte do
ambiente em que se está inserido, transbordando assim o conhecimento, fazendo com que a
sociedade seja mais reflexiva e consciente a cada dia.
A escola durante minha história de vida de formação foi um lugar de muita
importância, onde eu conseguia usar minha criatividade e imaginação, tudo isso
proporcionado pela educação, educação essa que me trouxe até aqui, foi ela que me deu a
oportunidade de desfrutar de várias experiências, como a faculdade, na qual foi um dos
espaços mais importantes na minha formação.
Então, entender a importância da educação para essas professoras me mostra como a
sua presença interfere de forma positiva e principalmente na formação e na vida delas, sem a
educação elas não se tornariam as professoras que elas são hoje.
A Igreja católica, na história dessas professoras, se estabeleceu como uma forma de:
apoio, solidariedade, ensinamento e formação. As duas professoras tiveram experiências
bastante motivadoras com a Igreja católica, que as instigaram para o estudo e lhes estenderam
a mão na hora que foi preciso. Rocha (2018) ressalta:
Rocha (2018) nos mostra que a percepção de educação que a Igreja traz é algo que nos
mostra que os todos os ensinamentos que são propostos por ela são voltados para algo
educativo, na qual busca a conscientização do ser humano, que envolve a construção de sua
identidade e proporciona ações humanizadoras. A Igreja não só declama as passagens da
bíblia, ela também compartilha ensinamentos necessários para a vida.
Já citado na categoria acima, a Professora 2 ganhou uma bolsa de estudos graças às
freiras, então a Igreja, nesse sentido, foi muito importante na vida dela, possibilitando a
oportunidade de estudar, proporcionando assim mais conhecimentos e experiências adquiridas.
A Professora 2 relatou: “A igreja me ajudou muito, me deu uma oportunidade que sou grata
até hoje”.
A Professora 1 já tem uma relação mais profunda com a Igreja e também com as
freiras. A Professora 1 aos 11 anos de idade fez a sua primeira comunhão, e com 14 para 15
anos de idade foi morar numa comunidade próxima de onde tinha ensinamentos sobre o
catecismo. Por ser muito comunicativa e por conhecer as catequistas, ela começou a ajudá-las,
tornando-se uma colaboradora, tendo funções estabelecidas pelas catequistas. Nesse
momento, ela já exercia uma função de professora, pois auxiliava e ensinava aqueles que
estavam vindo para fazer o catecismo. Aqui, ela já se sentia bem em ajudar e ensinar as outras
pessoas. A Professora 1 comentou: “A igreja foi um lugar onde eu aprendi muito e eu gostava
muito de ajudar as catequistas, me mostrou professora sem eu saber ainda”.
A função exercida pela Igreja em instruir e ser solidário com as pessoas parece
interferir positivamente na vida daqueles que recebem essa oportunidade, então na vida dessas
duas professoras, a Igreja católica foi um marco no início de suas trajetórias de vida, foi algo
marcante e positivo na vida delas.
Categoria Formação:
Durante nossa trajetória de vida, nós vamos evoluindo com o passar do tempo, a partir
dessa evolução passamos por etapas que tem muita importância em nossa vida que é a
educação, educação essa que proporciona uma formação, na qual vamos construindo mais e
mais conhecimentos. Diante disso, a formação dessas professoras é algo muito lindo,
passaram por muitas etapas que foram decisivas em suas vidas. Destaco aqui que a formação
inicial e continuada, na vida delas, foi algo crucial e de muito envolvimento e dedicação das
próprias. Sobre a formação na vida dos professores, Tardif (2012) comenta:
A formação é um processo no qual o ser humano está em busca de um futuro, onde ele
tem uma certa liberdade para escolher qual área que mais se encaixa com o seu perfil. As
professoras da minha pesquisa passaram por diversos processos formativos para chegar na
profissão que estão hoje. A profissão apareceu já em situações cotidianas vividas, nas quais
elas perceberam que fizeram a escolha certa na vida.
A Professora 1, na adolescência, foi para o ensino médio, fez o curso científico, que
preparava os alunos para fazer os vestibulares. Nesse mesmo período, em outro turno, ela fazia
um curso de contabilidade em outra instituição. Foi, nesse momento, que um de seus
professores, nesse curso de contabilidade, chegou para ela e perguntou: “O que você faz
mesmo no ensino médio?", a Professora 1 disse: “faço o científico”. Ele indagou: “Sério? Não
tem nem perigo, eu tinha certeza que você fazia o curso normal”. A Professora 1 perguntou:
“Por que?”, e ele respondeu: “Você tem muito jeito de professora”. Isso já começou a “mexer
um pouco com a cabeça” da Professora 1: “Será que eu tenho jeito para a professora? ” Ela
disse.
No relato da Professora 2, sobre o fundamental II, ela comentou: “Estudei numa escola
do estado e já tinha vontade de fazer o curso pedagógico, eu amava pegar as cartilhas e ficar
estudando as famílias silábicas”.
63
Percebemos que o foco na educação era algo bastante sério dentro da sua casa, a mãe
dela sempre a incentivou para o estudo.
Chegando no final do Ensino Médio, a Professora 1 prestou vestibular pela primeira
vez, mas não conseguiu passar nessa primeira oportunidade. Então, pensou: “Ai que
decepção!”. Por ser uma aluna destaque na sua escola, ela se sentiu frustrada nesse momento.
Depois desse momento pensando muito bem, resolveu investir no curso normal, e
sobre isso a Professora 1 comentou: “Eu me apaixonei”. Durante toda a sua formação, a
Professora 1 estava buscando seu lugar e foi a partir da opinião de um professor que fez com
que ela se visse como uma professora. Especificamente sobre o curso normal, a Professora 1
disse:
Naquela época, o curso normal era direcionado para ser professor mesmo, mas
a Pedagogia, pra mim, ainda era algo muito distante. Naquele tempo, quem
tinha o curso pedagógico já estava preparado para atuar como professor,
depois de um tempo foi que surgiu uma lei que revogou isso. (Professora 2).
Seu pensamento em relação à Pedagogia, nesse primeiro momento, ainda era algo
muito vazio, ela ainda não tinha muita noção da área. Então, vamos entender como acontecia
esse Curso normal ou Curso pedagógico. Sobre o Ensino normal, temos o Decreto-lei n°
8.530 de 02 de janeiro de 1946 – Lei Orgânica do Ensino Normal:
O Ensino normal cursado pelas professoras era habilitado para o magistério, por meio
do qual elas podiam lecionar na Educação Básica. Mas, com o passar do tempo, uma nova lei
foi elaborada. Nesse período, fazendo o ensino normal, já se poderia sim lecionar nas escolas.
Depois de um tempo a lei foi revogada, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB/96) nº 9394/96 que passou a regulamentar que:
Com a LDB/96, o magistério passou a ser exercido somente a partir de uma graduação
em nível superior e em licenciatura, ou seja, aquelas pessoas que tinham somente o curso
normal teriam que fazer sua graduação para poder continuar lecionando. Sobre essa temática,
após esse período, entre o ano de 2001 para 2002, a Professora 1 percebeu que era hora de
enfrentar o vestibular novamente. Na sua cidade, tinha um cursinho preparatório, que era
pago, a professora sempre foi de família de trabalhadores sem condições financeiras muito
favoráveis, então ela não teve como fazer esse curso.
Foi quando surgiu uma oportunidade, um cursinho gratuito no Núcleo de Informação
Tecnológica (NIT), com o apoio de sua mãe foi, de madrugada, ver se conseguia uma vaga
para ela e conseguiu, a Professora 1 comentou: “A primeira prova de fogo era conseguir uma
vaga nesse cursinho, pois vinha gente de todo o Vale do Jaguaribe para tentar as vagas".
Após 6 meses de cursinho, prestou o vestibular na FAFIDAM e estava aprovada em
segundo lugar no curso que ela queria, que foi a Pedagogia. As primeiras palavras que foram
ditas para ela foram: “Você é tão inteligente e vai fazer Pedagogia?”. A Professora 1
respondeu: “É por isso mesmo que vou fazer, nem eu sei se eu tenho competência para
exercer tal função que um pedagogo tem, vou estudar e fazer por com que eu consiga”. Outros
ainda disseram: “Você não vai ganhar nada”, então a Professora 1 disse que, nesse momento,
já percebeu a grande desvalorização da profissão do Professor na sociedade.
Nesse período, também havia passado em outro curso na mesma instituição onde ela
fez aquele cursinho preparatório, chamado Saneamento Ambiental. Duas áreas totalmente
diferentes, mas resolveu cursar Pedagogia.
65
A pedagogia, por sua vez, é vista não propriamente como teoria da educação,
ou pelo menos não como teoria da educação vigente, mas como literatura de
contestação da educação em vigor e, portanto, afeita ao pensamento utópico.
Contrariamente, teorias da educação real e vigente deveriam seguir as ciências
da educação. (GHIRALDELLI, 2006, p. 8).
A Pedagogia busca educar para transformar o ser humano, proporcionando, assim, sua
evolução. É observado na fala da Professora 1 a grande desvalorização que é imposta à
profissão de professor em nossa sociedade, falta reconhecimento e valorização, lutamos e
reivindicamos melhores condições de trabalho e qualidade na educação. Mas, na maioria das
vezes, não somos ouvidos, é triste ver tanta luta em vão. Seguimos firmes sempre buscando o
melhor sempre para a educação do Brasil.
A Professora 1 começou seu curso de Pedagogia, muito dedicada e inspirada, e
continuou trabalhando. Então, mesmo estudando ela continuou com sua função de professora.
Ela ressaltou a importância do trabalho que exerceu na Escola 1 particular. Nesta escola, antes
de começar a trabalhar como professora, os professores tinham que participar de formações
continuadas, nas quais se trabalhavam muitos autores da área da Pedagogia. Ela citou que estas
formações foram uma preparação para entrar no curso de Pedagogia, o que lhe ajudou
bastante. Sobre isso, a Professora 1 comentou: “Aquelas formações me ajudaram muito para
que eu pudesse entender mais sobre a Pedagogia”.
A Professora 1 ressaltou muito a importância dos professores da Pedagogia, que lhe
ajudaram e marcaram muito sua vida nesse período em que fez o curso. Citou nomes e temas
que foram muito importantes como: introdução à educação, currículo oculto, políticas
públicas, Paulo Freire, as psicologias.
66
A Professora 2 também relatou sobre a Pedagogia: “Eu gostei muito dos primeiros
semestres, eu me enganchava mais nas partes burocráticas, ficava meio perdida, mas da parte
pedagógica eu gostava bastante”. Tardif (2012) afirma que:
A partir da citação acima, compreendemos que a Pedagogia não está isenta de questões
sociais, ao contrário disso, ela possui um posicionamento forte principalmente em relação à
educação e como ela se comporta dentro da sociedade. Esta área de conhecimento busca
questionar e debater sobre o papel que a educação exerce e como ela pode interferir dentro da
sociedade de forma significativa e com umas indagações diante de ações que causam um certo
desconforto como: desvalorização docente, qualidade da educação, falta de recursos nas
escolas, entre outras. Então, ela também é um ponto de apoio para a busca de reflexão e de
conscientização dentro da sociedade e, principalmente, dentro da escola. Como exemplo, a
Professora 2 relatou uma experiência que teve no curso de Pedagogia:
Paulo Freire acreditava em uma educação compartilhada com todos, uma educação em
que começasse pelo aluno e não pelo educador, onde a partir das vivências e experiências dos
alunos o educador pudesse conhecer sua realidade e a partir disso iniciar o processo de
alfabetização, fazendo com que eles aprendessem, a partir daquilo que vivenciavam todos os
dias.
Em 2021, a Professora 1 está de licença por conta do Plano de Carreira e Remuneração
dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública de Limoeiro do Norte/ce, mais
conhecido como PCCR7, que dá direito ao professor a saída para estudo de mestrado e
doutorado. Sobre isso, a Professora 1 comentou: “Hoje eu estou estudando, estou fazendo o
que eu nunca fiz, porque sempre que eu estava estudando eu estava trabalhando. Sou muito
grata a Deus pela saúde e oportunidade de estar hoje falando aqui”.
7
“Art. 41. Os cursos de pós-graduação strictu sensu (Mestrado e doutorado), somente serão considerados se realizados
em instituições de ensino superior, nacionais ou estrangeiras, mediante cumprimento de todos os créditos disciplinares,
inclusive com a defesa da dissertação e/ou tese necessárias à outorgado dos títulos de Mestre ou Doutor,
respectivamente, relacionados à área de atuação do professor, ficando obrigatório o cumprimento de igual período de
afastamento a serviço do sistema municipal de educação ou ressarcimento integral e corrigido dos recursos recebidos
quando afastado”. (PREFEITURA MUNICIPAL DE LIMOEIRO DO NORTE/CE, 2009).
68
Além disso, Paulo Freire (1996) nos ensina que educar não é transferir conhecimento, a
educação precisa ser libertadora, precisa se estabelecer como uma transformação do ser, nós
professores buscamos a evolução do aluno, então nossos conhecimentos são compartilhados
para que os alunos reflitam e aprendam a partir de nossas experiências. A função do educador
vai além do ensinar por ensinar, precisamos identificar a realidade daquele aluno, é necessário
buscar elementos que estejam inseridos dentro de sua realidade, para que assim ele possa
pensar e tirar suas próprias conclusões daquele conhecimento compartilhado.
As duas Professoras também fizeram especializações. A Professora 1 fez
especializações nas áreas de: Gestão escolar e Produção de material didático, “São duas áreas
que me chamam bastante atenção e que gosto muito, sobre Gestão é sempre bom aprender
mais sobre e o material didático é muito importante dentro da escola, sempre é preciso buscar
algo diferente para se trabalhar com os alunos”. A Professora 2 também fez especializações:
A formação quando ela é feita com amor e com muita dedicação ela é muito mais
proveitosa, no sentido do fazer bem feito, hoje em dia a profissão, muitas vezes, sufoca o
profissional, o que devemos fazer é ver a importância daquilo em nossa vida e o quanto vai
contribuir em nossa trajetória profissional.
Durante a minha trajetória de vida, a formação me acompanha desde sempre, na qual
por meio de processos educativos formais eu consegui alcançar os meus objetivos, a formação
fez com que eu me tornasse a pessoa que sou hoje, me mostrou um caminho, me fez ter uma
identidade e continua me construindo dia a dia.
A experiência é algo que se constrói ao longo do tempo, passamos por muitas situações
em nossa vida que de certa forma influenciam quando vamos decidir algo, isso também vale
para nossa formação e a área profissional também.
Após terminar o curso normal, a Professora 1 ingressou numa escola particular recém
chegada na cidade que ela comentou ser muito exigente, já que exigia estudo dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN)8exigia muitos conhecimentos pedagógicos.
Nessa escola, ela citou que aprendeu mais do que ensinou, pegou turmas de Ensino
Fundamental de 3° e 5° ano.
Depois desse período, ela conseguiu seu primeiro contrato como temporária na
prefeitura de Limoeiro do Norte/CE, para substituir uma professora que estava de licença
maternidade, passou somente 4 meses na função. Sobre isso, a Professora 1 comentou: “Sofri
tanto para entregar a turma. Foi um momento que ficou muito marcado para mim. Esses alunos
já são casados e têm suas famílias, mas, mesmo assim, lembram de mim e me cumprimentam”.
O sentimento que sentia quando estava em sala de aula, nas palavras da Professora 1 eram:
“Quando eu entro naquele espaço tento fazer o meu melhor, eu tenho vontade de estar ali”.
Paulo Freire (1996) ressalta:
8
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial de qualidade para a educação no Ensino
Fundamental em todo o País. Sua função é orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional,
socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros,
principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual.
71
conta de seu trabalho, de sua entrega em sala de aula, ela sempre estava presente na vida
desses alunos, por isso essa valorização.
Para trabalhar com educação, primeiramente, você precisa gostar de educação e saber a
importância que ela tem dentro da sociedade, a educação transforma o ser humano, mas este(a)
também precisa querer essa transformação.
Tardif (2012) nos apresenta que:
[...] a gestão democrática escolar é exercida tanto como condição criadora das
qualificações necessárias para o desenvolvimento de competências e
habilidades específicas do aluno, como também para a criação de um ambiente
participativo de vivência democrática, pela qual os alunos desenvolvem o
espírito e experiência de cidadania, caracterizada pela consciência de direitos
em associação a deveres. (LÜCK, 2009, p. 71).
72
Não é à toa que a Professora 2 sentiu medo em exercer essa função, a área de gestão
escolar exige muito conhecimento sobre políticas educacionais na qual é muito importante
dentro da escola. Dedicação e comprometimento são essenciais para trabalhar nessa área mais
burocrática.
A diretora da escola 2 acreditava muito no potencial da Professora 1. Ela assumiu o
cargo de coordenadora nessa escola. Nesse período, as principais características que a
Professora identificou dentro dessa função foi: observação, dedicação e comprometimento.
Professora 1: “Eu observava muito como a outra coordenadora recebia os pais na escola.
Estava ali aprendendo na prática e, nas reuniões, eu colocava muito a minha opinião sobre os
assuntos, tinha que me impor. Terminei minha faculdade trabalhando ainda nessa escola como
coordenadora”.
Pouco tempo depois apareceu um concurso na cidade, a Professora 1 disse: “Um
concurso muito difícil”. Ao fazer a prova do concurso, a professora ressaltou ter encontrado,
nos temas abordados, seus professores da graduação em Pedagogia. Sobre isso, a Professora 1
comentou: “Você estuda aquilo e não sabe quando vai utilizar esse conhecimento. Quando
você precisa dele, parece que ele se reconecta. Foi o que aconteceu no concurso, vi assuntos
que estudei no passado, que me ajudaram muito naquele momento”. Sobre a questão da
função e as influências do professor na vida do educando, Paulo Freire (1996) reflete:
O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das
bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres
históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo. Mas,
histórico como nós, o nosso conhecimento do mundo tem historicidade.
(FREIRE, 1996, p. 14).
Foi a partir deste trabalho como agente de saúde que a Professora 2 se descobriu uma
educadora, ela ensinava tudo para aquelas mães de primeira viagem, então essa experiência foi
bastante importante em sua história de vida de formação. Brandão (1993) ressalta:
[...] ao longo da vida, cada um de nós passa por etapas sucessivas de
inculcação de tipos de categorias gerais, parciais ou especializadas de saber
e-habilidade. Elas fazem, em conjunto, o contorno da identidade, da ideologia
e do modo de vida de um grupo social. Elas fazem, também do ponto de vista
de cada um de nós, aquilo que aos poucos somos, sabemos, fazemos e
amamos. (BRANDÃO, 1993, p. 23).
A diretora me disse que já tinha muito tempo que não tinha professora na
escola, fiquei com uma turma de Educação Infantil Pré II. Quando cheguei lá
para ver a sala, não era uma sala, era somente um corredor com cadeiras. Então
eu assumi, mesmo não tendo experiência com a educação infantil, naquela
hora o conhecimento tinha que vir, era uma situação que você tinha que agir.
Passei um ano nesse cargo, depois disso a escola mudou e passei a trabalhar
com outras séries. (Professora 2).
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Nessa fala, podemos perceber que mesmo sem experiência na área mais com muita
vontade e dedicação para aprender a Professora foi em frente em busca do seu objetivo,
aprendendo na prática e no curso de Pedagogia ao mesmo tempo. Tardif (2012) afirma:
[...] a perspectiva aqui defendida exige, por parte dos professores de profissão,
o esforço de se apropriarem da pesquisa e de aprenderem a reformular seus
próprios discursos, perspectivas, interesses e necessidades individuais ou
coletivos em linguagens susceptíveis de uma certa objetivação. Vinte anos de
pesquisas mostram que os saberes dos professores se baseiam, em boa parte,
em sua experiência na profissão e em suas próprias competências e habilidades
individuais. (TARDIF, 2012, p. 239).
Sua vasta experiência na área da educação possibilitou bastantes ensinamentos que ela
guarda com muito carinho e apreço. No momento desta fala, a professora se mostrou muito
orgulhosa em ter tido diversas oportunidades de mostrar o seu potencial. Josso (2007)
ressalta:
Nossa história de vida de formação diz respeito a tudo aquilo vivenciado, são as
experiências que proporcionam nosso contato direto com o mundo e com as pessoas. A
Professora 2, teve muitas oportunidades que possibilitaram ela transitar por várias áreas que a
educação pode proporcionar, então essas vivências que ela conta são parte da sua própria
identidade docente.
Sobre o programa Residência Pedagógica, onde eu trabalhei com essas duas
professoras. Professora 1:
Foi um momento muito feliz, peguei uma equipe maravilhosa, aprendi muito.
Me ver como preceptora, foi algo de muita importância dentro da minha
profissão. Pensei em não aceitar, pois achava uma responsabilidade gigante.
Mas aceitei. Quando começou, me senti bastante empolgada e muito grata em
ter feito parte deste programa Foi através da Residência Pedagógica que me
acendeu a vontade de fazer o mestrado, eu agradeço sempre á todos que junto
comigo fizeram parte deste trabalho. (Professora 1).
Professora 2:
Essa experiência como preceptora acrescentou muito na vida delas, mostrou as várias
facetas que o professor possui e, poder usufruir disso tudo é algo muito prazeroso. Lógico que
elas estudaram muito para poder exercer essa função e acredito que adquiriram muito
conhecimento com esse programa, abrangeu ainda mais os conhecimentos sobre a área da
educação. Paulo Freire (1996) afirma:
Durante a minha formação também tive experiências dentro da escola, o que trago de
mais valioso desses momentos é a importância que a educação tem. Quando entrava em sala
de aula para observar ou ensinar, eu sentia a necessidade de dar o meu melhor ali dentro.
Trabalhamos com pessoas que precisam dos nossos ensinamentos, devemos olhar sempre para
o futuro e imaginar esses alunos fazendo parte da sociedade de forma digna e sendo cidadãos
de bem. Acredito que a educação busca construir caminhos de desenvolvimento do ser
humano, devemos acreditar sempre nisso e continuar seguindo em frente.
Ser professor é um ato de resistência, é lutar por aquilo que se acredita e nunca desistir
dos seus objetivos. Nesse sentido, as professoras são bastante críticas e politizadas em relação
ao que ocorre na sociedade e às ações que o governo toma em relação à profissão do professor.
Paulo Freire (1996) nos mostra fortemente isso:
A luta dos professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade deve ser
entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto
prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que
dela faz parte. O combate em favor da dignidade da prática docente é tão parte
dela mesma quanto dela faz parte o respeito que o professor deve ter à
identidade do educando, à sua pessoa, a seu direito de ser. Um dos piores males
que o poder público vem fazendo a nós, no Brasil, historicamente, desde que
a sociedade brasileira foi criada, é o de fazer muitos de nós correr riscos de, a
custo de tanto descaso pela educação pública, existencialmente cansados, cair
no indiferentismo fatalistamente cínico que leva ao cruzamento dos braços.
“Não há o que fazer” é o discurso acomodado que não podemos aceitar.
(FREIRE, 1996, p. 27).
Paulo Freire, desde muito tempo, faz essa crítica ao governo, e destaca que a
resistência dentro da educação, muitas vezes, é o que sustenta essa área tão significativa em
nossa sociedade, e a persistência no dia a dia dentro da escola que é uma das características
que diferenciam o professor de outro profissional. O professor não só ensina, ele luta, ele vai
às ruas, ele corre atrás dos direitos que o governo, algumas vezes, não oferece. A busca pela
valorização enfatiza o professor na luta por uma educação de qualidade, por melhores
condições de trabalho. Além disso, os profissionais da educação também podem desenvolver
um olhar para os alunos de forma mais empática, proporcionando experiências
transformativas dentro de sala de aula. A meu ver, esse deve ser o foco da educação.
Então, essa categoria nos mostra o lado da luta que nós professores precisamos ter
diante dessa sociedade capitalista e autoritária. Precisamos enfrentar com “unhas e dentes”
todos os
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combates que nos afetam de alguma forma. Sobre temas políticos, a Professora 1 também
relatou:
Eu, de forma geral, me assumo de esquerda, mas sou aberta ao diálogo e tenho
minhas concepções, mas quando você se fecha ao diálogo, é porque você não
está querendo resolver. Quando você abre se tem oportunidades, sou uma
professora militante, vou à luta, vou pra rua, digo não, grito quando não aceito
as misérias que nos são ofertadas, busco as melhorias para o trabalhador, e não
é fácil a emancipação e a transformação para uma sociedade. (Professora 1).
preservar, pois do jeito que o mundo está caminhando nosso único aliado é nossa persistência
e nossa luta. Karl Marx (2013) afirma que:
Karl Marx, nos ajuda a refletir, pois nossa sociedade está enraizada historicamente pelo
capitalismo. O trabalhador é consumido ao máximo e a remuneração que ganha é uma miséria.
A força de trabalho, é totalmente consumida pelo capitalismo, as grandes empresas só querem
saber de lucro, não se importam com o ser humano, que está alienado por esse sistema que só
quer arrancar seu dinheiro. É uma realidade muito triste, o papel do educador é proporcionar
ao aluno reflexões sobre nossa sociedade, fazendo com que a conscientização aconteça e que
as estratégias de mudança também.
A Professora 2 também tem seu posicionamento. Aqui ela fala um pouco sobre o curso
de Pedagogia:
Nós pedagogos ficamos com um espaço muito limitado, podendo ensinar até
o 5° anos. Eu acho isso incorreto, nós temos uma visão bem diferente de quem
é de outras áreas, isso a gente não tem como negar. Eu fico muito feliz em ter
escolhido esse curso, pois eu consigo interpretar a situação dos meus alunos e
analisar ele de várias formas, e uma coisa que já questionei na secretaria de
educação é sobre o pessoal que fez Letras, Geografia entre outras áreas, que
podem ensinar a crianças e nós pedagogos não podemos ensinar aos
adolescentes. Essas situações me incomodam bastante. Hoje em dia estou
atuando mais nas turmas de 5°ano e gosto muito do lugar que me foi dado.
(Professora 2).
De certa forma, concordo com a professora, os pedagogos têm uma visão mais ampla
sobre a educação e principalmente sobre a relação professor-aluno, deve-se sempre conhecer o
seu aluno antes de qualquer coisa. Isso muitas vezes não acontece com professores de algumas
áreas, é importante que se conheça as dificuldades do aluno e que se intervenha positivamente.
Os professores podem ter confiança no aluno e vice-versa. Então, acredito que o pedagogo
pode sim ensinar em turmas do Fundamental II. Tenho consciência de que esta questão
precisa ser ampliada e investigada, sendo assim, indico-a como tema para futuros estudos.
Como Libâneo (1990) afirma, a educação é uma atividade humana e necessária, nós
pedagogos estudamos a educação dentro da universidade, nós temos uma visão bastante ampla
sobre essa área, no meu ver ensinar no Fundamental II não haveria nenhum problema, o
professor também tem a capacidade de estudar e procurar sempre está se atualizando, em
qualquer sala de aula que um pedagogo entrar, ele vai ter a capacidade de falar sobre aquele
determinado conteúdo. Pois tem planejamento na escola para isso, para estudar e se dedicar ao
máximo quando estiver em sala de aula. Digo isso também para os profissionais que trabalham
no Fundamental II, todos têm a capacidade de trabalhar em qualquer área, basta que estudem,
se aprofundem e se dediquem, e que tenha formações adequadas e específicas.
A Professora 1 relatou sobre as avaliações externas, “Para essas provas é como se o
aluno não precisasse mais aprender, ele só precisa ser avaliado”. Essa “pequena” frase nos diz
tanto sobre a educação de nosso país. Nossos alunos não têm mais autonomia, não precisam
mais pensar, eles só precisam ser avaliados e pronto. Tudo se baseia em uma nota, eles não se
importam se aquele aluno está aprendendo ou não. Isso é inadmissível, chegamos num ponto
em que tudo se baseia em uma avaliação e isso é muito triste de se ver.
De acordo com Bonamino e Sousa (2012, p. 375) “De um modo geral, essas avaliações
divulgam seus resultados na Internet, para consulta pública, ou utilizam-se da mídia ou de
outras formas de disseminação, sem que os resultados da avaliação sejam devolvidos para as
escolas”. É uma extrema falta de bom senso realizarem uma avaliação dessas focando
somente em números e divulgação, e o foco na aprendizagem desses alunos onde fica? São
esses questionamentos que ficam e, se faz necessário repensar esse tipo de avaliação e
desenvolver outras pesquisas que possam aprofundar essas reflexões.
Finalizando este tópico ressalto a importância da luta dentro da educação, a persistência
e a busca por melhores condições de trabalho e por valorização, é algo que deve acontecer
constantemente. Eu como professor preciso ir atrás dos meus direitos, pois só assim irei
conseguir alcançar meus objetivos e assim deve ser feito, com a união de todos. Deve-se
resistir e acreditar que é possível.
proporciona interações, pois somos seres humanos e isso se torna comum quando trabalhamos
com pessoas. Tardif (2012) ressalta que:
O professor, muitas vezes, também faz papel de pai e mãe, tentando aconselhar,
ajudando no que for possível, fazendo com que a situação daquele aluno melhore, buscando
sempre seu próprio desenvolvimento humano e profissional. Mas só o apoio do professor não
resolve tudo, a família precisa intervir de forma que ajude a mudar a situação do seu filho, por
isso digo e repito ser professor não é uma opção e sim uma necessidade. Acosta e Vitale
(2003) nos mostram que: