Introdução A Leitura Do Ser e o Tempo de Martin Heidegger, PASQUA, H.

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DTSTRTTEÀ,IPO

DTMARTII'{HIIDEGGER

HERVE PASQUA

@
.NSTITUTO
PIAGET
CÁPITULO SEIS

O CUIDADO COMO SER DO DASE,II{

§39 Até agora, explicitámos os diversos momentos cons-


titutivos do ser-no-mundo. Conrudo, esta multiplicidade
não deve perturbar a percepção da unidade do Dasein. É po.
essa razão que devemos interrogar-nos como é que a
totalidade estrutural deste último pode ser uma unidade:
<<coruo deteruninar Existencialmente e ontologicamente a uni-
dade da totalidade das estruttrtras que pusemls etn eaidência?r,
A questão levanta-se com tanto mais acuidade, porquan-
to, como vimos, o ser do Dasein está lançado no mundo,
projectado a frente de si mesmo para ser o que pode ser.
Neste estado de estar lançado, de completo abandono, ele
sente que é o seu ser que está em causa.
Vejamos, pois, o caminho a seguir pâra encontrâr o
princípio unificador deste todo. Esta unificação é
necessária porque, sem ela, a analítica Existencial seria
tlcscritiva, não ontológica e ofereceria unicamente umâ
rlr.nostragem de diferentes tipos de momentos existen-
ciais. O ser do Dasein fragmentar-se-ia numa rnultiplici-

*
il;
I

dacle caótica de modos de ser. Não seria possível qualquer acrescenta nem subúai nada ao Ser. O que não se passa com
relação entre a quotidianeidade do Daseitt e o seu funda- o Ser activo cle Heidegggr. O Sein não pertence a si mesmo,
mento ontológicol ,rA ttnidade da estt'lttura total não pode ele é sempre do ente. E essa a razão pela qual o cuidado
ser fenom.enalmente alcançada por' uma combinação rtrtificial se inscreve no ser do Dasein como o que o constitui, ou seja,
dos seus elementos. Esta pressuporia u.m plano de construçã0. como o que o destitui de si para se restabelecer no mundo.
Ora, o set' do Dasein, ser que conthru. ontologicamente e clmo O cuidado permitir-nos-á, assim, saber o que é ser Dasein.
tal o totalidade das est?''tttu?'a.ç do Dasein) apenas se tonla aces- Poderemos, depois de o analisar, abordar finalmente â
síuel a um olhar global, rluando reconbecemos nesta totalidade segunda parte da obra: a ontologia fundamental. Este
um fenómeno unitário e original, urn fenómeno qae rege sen - capítulo tomará sucessivamente por temâr a afecçã.o
pre jtí essa totalidade, de fomna a fu.ndar ontologicamente a ÍLndamental da angústia como abertura privilegiada do
possibilidade est?'utural de ca.da um destes mlmentls.>> Dasein (§a0); o ser do Dasein como cuidado (sa1); a
Onde encontrar, então, a fonte da unidade do Dasein? confirmação da interpretação Existencial do Dasein como
Sabemos que o Dasein ek-siste transportando-se para cuidado, a partir da auto-explicitação pré-ontológica do
diante de si mesmo. Ele pâssa, por assim drzer, através de Dasein (§a2); Dasein, mundaneidade e realidade (sa3);
si mesmo, abrindo-se. Esta aberrura que o constitui - não I)asein, abertura e verdade (§44).
seria melhor dizer, destitui? - inteiramente, e donde ele §40 Afirmamos com toda a convicção que o ser do Dasein
cai, desde sempre, do interior de si mesmo no mundo, foge, escapâ-se, afasta-se constantemente de si mesmo.
desvela o ser do Dasein como..cuidado', (Sorge)- Trata-se Numa palawa: ek-siste. Mas de que foge ele? O fenómeno
dum fenómeno ontológico. Assim, devemos evitar ver no da angústia (Angst) revela-lo-á.
cuidado um estado de alma, ou um fenómeno como a Não confundamos a angústia com o medo (Furcbt).
vontade, o desejo, a tendência, o impulso. A dimensão Quando interpretámos esre à luz da uBefindticbkei>> (afec-
Existencial do cuidado permitirá à analítica passar do ção, sentimento da situação), vimos que aquilo de que ele
estádio preparatório ao problema do fundamento do ser fbge é dum ente intramundano nocivo, ameaçador, mas que
em geral. Porque é o cuidado que liga todos os momentos se pode dissipar. Ora, na sua queda , o Dasein não se afasta
da ek-sistência do Dasein. tlum ente qualquer, mas de si próprio. Ele não foge diante
É int...ttante perceber, aqü, anàturezà da relação entre rle qualquer coisa que mete medo. A a-versão pela qual o
o cuidado e a concepção heideggeriana do ser. Ser, para l)asein se perde de si mesmo e que provoca a sua
Heidegger, é sempre ser qualquer coisa, é poder ser, é rlecadência, não é uma fuga fundamentada no medo, mâs na
poder ser do ente. Este sentido actiao do ser não tem qual- rrngústia: .<A a-aetsã.0 da decadência não á urna
fuga fundada no
quer relação com o actl de ser como o elaborou São Tomás. ,eceio dum ente intramundano. Talfonna de
fuga constitui tanto
Para este último, o Acto exprime a plenitude do Ser que é tnen1s esta a-aersã0, quant7 ne-çt4 o Dasein se aoha precisantemte
sempre o Ser do Ser. O que significa que o Ser não precisa para 0 ente intramundano e nele se absorue. A a-aersão
de mais nada além dele para Ser. Se a criação não ó constitt,ftiaa da decadência fi.tnda-se, pelo contrrírio, na angtistia
necessária a Deus, é porque o ser dos entes criados nãcl qne, po?'-reu hdo, to?-na possíuel o tnedo.r,

%
tiado nã,o éo ente intramundano, mas o desenraizamento,
A angústia distingue-se, assim, do rnedo no sentido em
a estranheza, a ek-sistência. Apesar da aparência de tran-
que a angústia não vem dum ente intramundano. Mas isto
não nos dá uma definição de angústia. Se não é um ente
quilidade e de familiaridade com que vive a sua vida
quotidiana, é de facto a estranheza q\e constitui original-
intramundano que causa a angústia, o que é então? t'O que
rnente o Dasein: ,rO set'-no-ruundo segtmdo a tranquilidade e
angustia o a,gtiiia é completamente indetenninado.r, O inde-
a familiar.idade é urrt modo de desenr.aiznmento do Dasein e não
terminado, eis pois, a origem da angústia: o que ameaça e
não vem daqui, nem dali, uma ameaça situada em parte o inaet'so. E n e.çtramheza* que, n0 plano Existencial e ontoló-
alguma: .rA angústia nao sabe o qlte a angtlstih>> Mas este gico, deue ser. emtendida como o fenónteno mais ot'iginal.>>
.Ã prra. alguma não significa o nada: o que ameâça existe As verdadeiras ligações entre o medo e a angústia
de facto, está tão próximo que nos aperta â gargânta e surgem, assim, claramente no termo clesta análise: o medo
corta a respiração. De que se trata então? Do tnundo: tto é uma angústia inautêntic É angústia que fundamentâ
^. ^
que angustia a angú.stia é o m.undo etxquanto tal>>,-tttas trata- o medo. Mas o resultado mais importante é que a angústia
i..lo Ãundo na sua .rmundaneidaderr, independentemente revela de forma privilegiada a totalidade do ser-no-
dos entes que encerra e que são revestidos de -rnunclo, segundo todos os seus momentos constitutivos
insignificância pela angústia. O que oprime não é nem (rnundo, ser-em, si). Ela unifica isolando. Este isolamento
isto, nem aquilo, nem tão-pouco â somâ dos entes, é a mostra, com efeito , o Dasein desligado dos entes. Em que
possibilidade de ser no mundo: "aqrtilo per'ante o qual a rnedida contribui esta interpretação pâra resgonder
)ngústia se angustia, é o próprio set'-tto-rnundo"' O mundo ontologicamente à questão da unidade do Dasein? E o que
nãá tem nada a oferecer ao Dasein remetido pela angústia iremos ver de seguida.
pâra o que ele é: ser-no-mundo. Este revela-se na sua §41 A angústia revela ao Dasein o seu ser-no-mundo e
i.r.orto.rrável solidã s .rÁ angtístia isola e reaela o Dasein os seus componentes: Existencialidade, facticidade e deca-
como solus ipse.r, Na angústia, o Dasein descobre-se, assim, dência. Estes carâcteres ontológicos fundamentais formam
livre, para umâ autêntica ek-sistência. Livre, isto é, entre- rrm todo. Mas como se liga esta totalidade, isso a angústia
gue âo mundo. não nos revela. O ser do Dasein ek-siste, ele lança-se parâ
A angústia desvela a'o Dasein t'onde ele se encontra>>' ,r frente de si. Todo o seu ser reside neste movimento.
Torrla-o estranho a si próprio. Esta estranheza significa Ileidegger denomina esta estrutura ontológica de <<o estar-
que o Dasein não está em sua casa, ao mesmo tempo que tdiante de si mesmorr**. Ela caracteriza o Dasein sempre
o seu ser-em consiste em habitar junto de' Assim, o como já lançado no mundo. A sua ek-sistência é <<ftíctica>>
Dasein habita o mundo sem estar em sua casa' O ser drr r)o sentido em que se desenrola sempre no mundo. Este
Dasein ek-siste in-sistindo no mundo: ..O Dasein esttí isolado
em. si mesnto) ?nd.s enq'tr[l.nto ser no rnu.ndo. o ser em"' estabe' . [Jnbaintlichkelt surge traduzido târlto por estranheza conlo por desen-
lece--re n0 "nxldo" Existencial de não estar em sua,ctlsa' Nãn 'çt rrrizarlento (N. Il.)
aisa otltt'tt. coisa, quando se fala de estranheza.>> E, portanto, ^^ Sitb-uortucg-scitt no original alemão, no sentido de sc prcccrlcr, clc cstlr/scr
possívcl perceber que o objecto da fuga do Daseitt angus- i ll-cntc dc si (N. /1.)

t) ()
()l
desenrolar-se é uma descida, uma decadência, uma queda. nr'lo e:, contrrdo, sim.ples. A unidade ontolígica eletnentar desta
Existencialidade, facticidade e decadência formam, assim, ett t'uttt7'l global não pode ser redu.zid,a a urn proto-elemento
uma unidade que poderia forrnular-se como .ro ser-id-em @o íttrtiro, tol nmto o ser do Dasein ao e?xte.>>
mun do) - a di ant e - d e - s i - ?n e srn o - c orno - s er-j unt o - de>> . E,s te s er lilst.â arrsência de simplicidade do <<tev' ern geralr> é reve-
responde precisamente à concepção que fazemos do l,r,hrrrr <la cspecificidade do pensamento heicleggeriano: o
..cuidadorr. Si,",r" não r! uma unidade simples, mas umâ totalidade
Não se entenda o cuidado de maneira ôntica no sentido rrrtir:rrlacla. Aqui, Heidegger nega uma filosofia do Ser,
d.e <<inquietaçã.0>>. Ele é puramente ontológi.o. É o ser-no- l)iu'rr ;l qurrl a absoluta simplicidade deste é a garantia da
mundo que é o cuidado. Foi por essâ razão que srrrr irnutalrilidade e da sua rranscendência: é por ser IJno
interpretámos o ser-junto-de como <greocupaçã.o» e o ser- clr.ro () Sr:r' se mântém o Mesmo. Ele não pode ser outro
-com-outrem como ,rsolicituderr. O que nos permite t;trc nãc» cle mesmo. Não se encontra nele qualquer
compreender que o cuidado não é desprovido de toda a lrotct.tcialitlade, porque ele é plenitucle de ser. Assim, o
facticidade. Ele engloba o conjunto das determinações S,t:r' po<lc reinar acima dos entes cuja existência é
Existenciais que articulam a totalidade do Dasein Este está, ol,tttticiln("ã.o> s não .rdesenrolar-se> catastrófico. O que
assim, intimamente ligado ao cuidado. É po. isso que falar rr:)o se verifica pâra o autor de Sein und Zeit. A não sim-
de ..cuidado por si mesmor, é uma tautologia. Porque ser si plici«Jaclc «lo Ser implica o seu desmoronarnento múltiplo.
mesmo é ser-adiante-de-si e ser-adiante-de-si é a definição I'.r;tc dcsrrofonamento, esta decadência, produz-se no
do cüdado. O cuidado precede todo o comportamento, itrtr:rior dt:51 msrro. Ao nível do Dasein, o ser articula-se
toda a situação. Não seria possível reduzi-lo â um acto rnrnril t<rtrlidade estruturada no moclo do ,rser-adiante-de-
particular ou a uma tendência psicológicâ como o impulso çr,'. No l)asein o ser está, como num momento da sua
ou a inclinação. Todos estes fenómenos, longe de explicar o rlrrcdt, ântes do aniquilamento final.
cuidado, fundamentam-se pelo contrário nele, porque este §4,2 *O nid,ado é o ser do Dasein.r, Tal é o principal facto
lhes é anterior. Assim, a estrutura unitária do cuidado ,rtlr1:iriclo das análises precedentes. Tratava-se de pôr a
transparece no fenómeno da volição como fundamento «lr.rst:obelto o funclamento ontológico do ente que nós
deste último. Querer é sempre querer qualquer coisa, logo sr)nr()s e que designámos por <<Dasein>>. Heidegger evitou
antecipar, projectar-se, lançar-se para adiante- De igual t orrr toclo o cuidado partir da definição tradicional do
modo, pensar é sempre pensar qualquer coisa, agir é fazer lrorrr(:tn. .[,'orque este último não é uma unidade subs-
qualquer coisa. O Dasein em si mesmo, na sua ipseidade, r,rrr«-:i:rl, nlrls uma totalidade articulável cujos momentos
não é nunca dado isoladamente como uma substância fixa. r ,1151in1fi,u'os estão ontologicâmente ligados pelo cuiclado.
Ele superâ-se sempre a si mesmo. O ..eur, é constan- ( ) «:uiclado não tem o senticlo ôntico cle inquietação,
de
temente posto em ..jogot. A sua unidade é dinâmica e nã<r 1r.'r'ttrrbtrçrÍo, como dissemos. o autor de sein untl Zeitvê
estática, maciça. E a unidade duma totalidade articulada. unr testerrrunho pré-ontológico do carácter original-
Em resumo, podemos dizer que: ..O terrul ruidado designa urtr nr-'ntc Iixistencial do cuidado nurna anriga fábula que cita
fenómeno ontologico-Exi*encial e fundamental, n4, etrn tu?lt rn íntcgr'a. Não vamos reproduzi-la. O leitor pode reportar-

'tm
l0t
trata aPenas da experiêttcia ôntica, ntas do
-se (lirectamente ao texto. O que importa reter é que
L'[r.rrno qttrrutlo não se
pt'een-rito ontológico, a interpretação do ser orienta-se
Heirlegger visa sustentar a sua tese com um exemplo
cttrtt
pt'irtrcirarnc'nte o pa?Íi'r do ser do ente intrnnumdrn'tl>r.
poér.icá, que testemunha que o cuidaclo é realmente
a
I)or conseguinte, o ser do ente utilizável, aí à-mão, não
à.ig"r-r-r'.1., homem e que exprime a sua passagem temporal
sr.rrlje m:ris; como aquilo em direcção ao qual o Dosein se
,-ro"rrlor-r.lo: .rA perfe.iio ,to homent, ott' sejrt, 0 stto ctpncidade
parut alrroximrr, se dirige. O ser já não se compreende como o que
cnt tot-1.t0.7.-.çe no q,ue ele pode ser eru ftmçã.o da sua liberdade
e li -r;iste, o que se dirige em clirecção ao rnundo saindo de si.
as .\-'Lttt.ç possibiliiartr, *ii, próprias (do seu' pro-jecto), 'í obru do
rra priori I',lc cleixa de ek-sistir e torna-se numâ realidade amorfa,
ruifur,lo.r, Heiclegger faz do cuidado um vercladeiro
rrulnll coisa subtnergida na suâ própria espessura, sem vicla,
ontoltíqico>>, constitutivo clo ser do Dasein'
lrr.nl)lr coisa tro sentido de ..resrt e já não de ,grwgtnota>>: <<O
Nií fi"al cleste breve capírulo, o Autor lembra-nos que
.;t't" ndqtiru: o sentido de realidlde, de res.r, Ele reduz-se ao
a inl:crpretação ontológica do Dnsein como cuidado visa'
cr;trclo de .rytltstiinciarr. Então, o Da.çein é por suâ vez inter-
não a elaboração duma antropologia filosófica, mas a
preptrução da ontologia funclamental que se interroga ;rrctado atr'âvés cla substancialidade e a analítica bloqueia-se,
<t l)nseiru dcixa de ser analisaclo a partir cla distinção entre o
sobr<: o senticlo clo ser.
hor,rnet' ttma s(.:r' e o ente, o conceito de ,r'realichtde>> tona a clizrnteira na
§,t3 .<l qtrcstíto do sentido do ser, só se põe se
,ornpr'rrrr-ríto tlo set'.r, Esta compreensão pertence exclusi- 1-rroblemática ontológica. Ora, Heidegger reclrsa a iclen-
u^r',-rc,r-,a" ao Dasein. Este é o único onte càPaz de enter-rder
tiÍi<'ação ckl ser corn a realidade. A realidade não poderia ser
que o ser se desdobra nele. O homem, que Heidegger ílrnclarnento, ela é um moclo de ser entre outros que é
.h.r,]r.á mais tarcle <<Ptt-çtor rlo Set>', é o único ente capaz dc 1,rc«:iso Íunclarnentar: <<...niío apenas n anrtlítico do Dasein,
cornpreender o ser. Ele sabe que o ser, sainclo cle si mesmo, ttrrr: tindt. o de-çenuolaintento dn qtrcstão do sentitlo do ser em
ek-sir;tinclo, passa pelo Dasein e efitr2- no mundo. Por outras .s,t'trl, deuent ser libertado-ç da stm orientação unilatet'al paro o ser'
palavras, ele ek-siste in-sistindo. O <<Past7r>>, qlre tem 1l rntt:nditlo ttnto realirlnde. E p't'eciso mostra7'niío apenas ryrc a
gua(la do r:ebanho, resiste de certa forma à dispersão, âo t i'tlidtde não ó -çenão 'u.nt, rnodo de sey' ent?'e outT'os) 7?1,{ts ainda rlue

ã"rr,roro.tâmento do ser nos entes intra-rnundanos' Mas 1


t t r 1 i llt n on to lo gi cantente unut corjugação de
t
ft mdarnentnçiío corn
em Yio. Porque se ele se esforça por reter o ser, acaba pot' o l)rrsein, o nnmdo e o se?' ri-núo. E.çta detnottstt.ação exige tnna
ser rtrrrlstado com ele para terminar o seu perclrrso nil rliyrtssiío nprofmdnda do probletnn da renlidade, do-r yms con-
presc)nça morta das coisas clo munclo' Por isso rl ,liqir'.t c dos .rctr.ç litnite»r.
.orr-r1,.".rsão abarca todo o ente. Este é desvendado pel«r () problenra cla realiclade pode articular-se em quatro
Du.riirr.Mas, a partir do momento em que o Dasein decai n«t lr( )lttOS:
compreensãtl
mutrrlo, é para-e os entes intramundanos que a ,çt [) O pretenso ente <<transcendente à consciência>>
se clcsvi:r sobre os quais tende a concentrar-se:
existe?
intetln
'ii, etação
do compreender reuela-nos sinnthalxeí.m.ente qtt(
antes de ntais e 0 m&is frequ.entemente, clentiado pnru t
2) A realidade do rnundo exterior pode ser
este
prov:rda?
cotttpreensíto do "ntttndo" ditada pelo modo cle set' da rlecrtdêttcitr'

I t);l
I0?_
3) Este ente, se real, pode ser conhecido como Com efeito, o filósofo de Kõnigsberg mantém,
ti;'ncia>>.
um ser-em-si? a[)esar das aparências, a posição de Descartes. Ele man-
4) Finalmente) o que significa a realidade do trírn-se, efêctivamente, na problemática do sujeito e do
ente? A nossa discussão desenvolver-se-á em otrjccto er-rtendidos na sua co-subsistência. O Dasein, tal
três partes: conro ele o entende, não é o ser-no-mundo e a distinção
qr.re ele estabelece entre <<em mim>, e ,rfora de m.imr, é uma
a) a realidade como problerna clo mundo exte-
prcssuposição. I{ant não compreendeu ontologicamente,
rior e a demonstrabilidacle deste; err-r dcfir-ritivo, que esta relação se efectuâ 11o interior da
b) a realidade como problema ontológico;
t<rtalidade articulada do Dasein concebido como ser-no-
) a realidacle e o cuidado. *nrundo. É po. essa razão que ele não entencleu que uma
provâ d:r existência clo mundo exterior é inútiI e não {az
qrralquer sentido. Porque o Dasein está/é já, constirutiva-
a) A realidade como problema do ser e a demon.çtrabilidade do
nlente, no mundo: ,rUrrza concepção coTrecta do Dasein
mundo exterior' rc.'jeitn tal proua, pol que o Dasein é á, no seu se?-) o que toda o
-f
.rrr.hseqttente pv'oaa julga deuer att ibuir-lhe par.a alám de si
l)escle sempre, o conhecimento intuitivo reduziu a ntesrTto) prtr uia da demonstração.>>
reali<lade à exterioridade. Esta é exterior à consciência: o A rejeição duma prova da existência do mundo exterior
real identifica-se com o ,rmttndo exteriot>>. Ora, vimos que significará urn fideísmo consistindo na sua aceiração cega?
o Dt.çeim é .r.ssv-nr-mundorr. O mundo faz parte do seu ser, I)e modo nenhum. Porque isso seria sobrevalorizar o pres-
a questão da sua exterioridade não faz, assim, qualquer srrposto de acreditar que umâ provâ seria o ideal. Mas seria
sentido: ,r.Cotn eJeito, o mnndo é essencialmente reaelado com igualmente pressupor a existência dum sujeito isolado em
o próprio ser do Dasein.r, Assim, não se deve levantar o pro- rclação ao mundo. Ora, voltarnos a repetir, o Daseirt está no t
blema do mundo à luz das coisas, mas considerar as coisas rrrurrdo, o mundo faz já, pârte do seu ser. Provar, acreditar
r1 a pârtir do ser-no-mundo. cnr ou pressupor a existência do mundo exterior, diz I
O maior exemplo de confusão neste domínio encontra- l[cidegger, é sempre afirmar tm ..st4eito originar"iarner?te I
-se na urefutação do idealisrno" elaborada por I(ant. Conside- run ligaçíio clnt o rnundo>r. O problema da realidade, no t
ranclo como um escândalo que nunca tenha havido uma scnl-iclo enr que levanta a questão de saber se existe um
provâ vinculatória para o cepticismo da existência de ,.coi- rrrunclo exterior e se isso é demonstrável, é consequen-
sas, l:ora de nós, propõe ele próprio uma prova: .rA sim- (orrrente uma irnpossibilidade. Rejeitanclo a dicotomia su-
ples cottsciêmcia, diz, ruas em.ltiricam.ente detenttinada, du it:ito-objecto, Heidegger supera, assim, a alternativa
m.inhn, existência, l)rlaa a existência dos "objectos" no espaçl irlcrrlismo-realismo. Mas não correrá estâ superação o
fortt. tle utim.r, O erro de Kant consiste em colocâr no risco de conduzir a um monismo? Poderíamos receá-lo,
rnesr-no plano a existência da consciência e a existência das urna vez que já não há distinção entre interior e exterior,
coisrrs. Para ele, o termo Dasein tem o sentido de ,rrubsis- scrrrlo o scr clo l)asein uma totalidade articulacla. Não nos

I04 t05
encontl'arelnos diante durn ser de dupla face, cuja aber-
c) ll.ealidnde e cuidndo
tura consistiria em virar-se como se vira uma peúga? Isso
seria menos verdade em relação ao ser clo Dasein, clo que
..A reolidaclc reTneta par'lt o fenórtrcno do uidrtdo.>> Esta
em relação ao <<sev' etn geral>r. Finalmente, a <rrealidader>
clcclaração irbmpta significa que a realidade só adquire um
seri'.r reduzicla a wa ,rÍiq1u.a, do rnundo, a urn rosto de
scntido ontolóeico, fundamentândo-se no ser do Dasein.
areia ou a um trâço que seria urn vestígio do Ser esvaziado
cle si mesmo.
Quererá isto dizer que ela é como tal enquanto o Da-çein
existe? De rnoclo algum! Porque há ser, não o esqueçalnos,
enqlranto hti cornpreensão do ser, isto é, enqlranto o Dn-çein
existe. O ser está na depenclêr-rcia clo ente. Do mesmo
l:) Á l'eulidode conto problemn ontológico
nrodo, a realidacle depende do cuidado. ,<4 realidade, na
ortlcttt. das conexões ontológicas de det'iuação e nn ordetn dumn
Dilthey deu o exernplo duma descrição fer-romenoló-
eltrcidação crttegorial e Existencial possíuel, deae ser reportuda ao
sica cla realidacle sem referênci,.r onrológica. A seus olhos,
o real sente-se no .rimpttlslrr, nà <<uontode>>; a ..resr, é /i:rtrítneno do cuidado. A4ns Erc a reolidade se.fiutdarnenta orzto-
loticantente no .çe7'rlo Dasein, isso ttã.o pode qtwu' tlizet' que 0
resistência. Esta fàlta de or-rtologia fá-lo enconrrar o fun-
'renl níto podu'ia ser como o que i ent si me.wto, seníío nt condição
danrcnto últirno da realidade na <.aida, e não no ..-çeD, do
e enquantl o Dasein existe.>> O Dasein ek-siste, a res está
cnte. Ele explica, assim, o erlte recorrendo a um outro
fecl-rircla sobre si rnesm.a.
ente, a vicla, e não ao ser. IJma anzilise fundzrmental teria
permitido :r Dilthey interpretar ontologicâmente à <<t-esis- §44 Desde sempre a filosofia associou rruerdade, e ser.
Mas as divergências surgem, a partir clo momento enl que
tibilidnde> da res. Ele teria visto que esta resiste, porque
se começa tr precisar o conteúdo destas noções. Assim, a
ela é unra ..ordem de não podey mais ltnssnr>>, u11â parâgem no
verclacle, p'.rra os gregos, é identificada à coisa. É verdadeiro
fluxo dl existência que se interrompe e morre em si pâra se
o que se mostra por si. Mas eles compreendiam o ser em
transfonnâr em coisir, em presençâ rnorta, onticamente
frrnção da coisa, da res, e não do ponto de vista do Dasein.
incleterrninada. Esta indeterminação ôntica não pocle, ()ra, a verdzrcle r-ntrntém uma rclação originzrl com o ser
contudo, ser consideracla ontologicamente como um nada.
clcste ente. O esrudo clo fenómeno da verclade cleve, assim,
Porque o ser visado nesta resistência está, ele próprio, já
junto dum todo acabaclo, imbricado em si lnesmo. O que inscrcver-se no quadro duma ontologia ftindamental
preparacla pela analítica Existencial do Do.çein: ,rQue relação
coloca enr clara evidência que <<r exlteriêncio da r-esistência, isto
ôntico-orttológica nmntéru a uerdade czm 0 Dasein e clru esslt.
é, a dcscobena do rlue resiste a rrm irnpttlso, não é ontologicamente
lcterz'rinrtção ôntica do Dasein que desiqnátnos clruo
possíael senão cotn lrase na abertrn'a do ntrmdorr. A resistibilidade
rotnpt'een.rÍio do ser? Indicar'-nos-í e.rta úhimn, o ftmdnmento
caracteriza o ser do ente intramundano. Ontologicamente,
pclo qual o .çet' e.rtá necessariamente ligado à aerdnde e a aerdade
é pelo rnundo que â res se define e não o inverso. Vernos,
rtaces.çat'iantente ligada ao ser?r, Estas questões não podem
assinr, mais uma vez, que a problemática da realidade cxte-
rior clo r-nundo nos remete parâ o ser-no-mundo.
scr evitaclrrs. Iremos abordá-las partindo do conceito
trrr<licionrrl rlc verclade, e clepois procurilrenros pôr a

106
t(i-
clescoberto os seus fundamentos ontológicos (n); partir o debate. Porque a ,.adaequati0>>, interpretada com base
destes Iirndamenros o fenómeno originário da .reidade^ nesta distinção limitar-se-ia a uma relação de conformi-
tornar-se-á visível, o que deverá permitir-nos actualizar o dade entre â representação e o representado. Ela perderia
carácter clerivado do conceito tradicionnl (b); de seguida, a o seu significado ontológico que se baseia no ser do ente.
pesq,isa colocará em evidência que à questão da ãssência A verdade, pâra o âutor de Sein und Zeit, não consiste
da verdacle pertence necessariamente a questão do modo nurna ider-rtificação do objecto ao sujeito, mas numa
de ser cla verdade, e finalmente será clarificado o sentido revelação, ou l-rum desvendamento, do ser do ente. Consi-
ontológico da expressão: há verdade (c). deremos Lurr exemplo. Suponhamos que alguém, de cos-
tas voltadas para a parede, enuncia o seguinte jvízo verda-
deiro: ..o quadro está tortorr. Este enunciado é tornado
a) o crntceito t,adicional da aerdade e os serrc frtnclamentos manifesto pelo facto do seu âutor, virando-se, perceber o
ontológicos quaclro efectivamente torto. Neste enunciado é o quadro,
e não â suâ representâção, que é visado. Enunciar signi-
As teorias tradicionais da verdade, cle Aristóteles a Kant, fica, assim, estar junto da coisa que é. O ente mostra-se,
reduzem a essência da verdade à ndequação, isto é, a um ele ,rdescob?'e>>-sei <<O ente aisado mlstra-se tal como é ern si
acorclo do pensamenro consigo próprio segundo o idea- nt.e-çrno) isto é, ele rnostra-se idêntico a cornl o enr,tnciado o
lismo, ou â uma correspondência a iÀtehgência e a nxo-çtra e descobre -çer. Não se t?'ata de comltarar representações,
realidacle segundo o realismo. Mas, "rrt..
escreve Heidegger, esta nem entre -çi nem relatiaarnente à coisa real. A rnanifestação da
definição diz-nos onde se encontra a verdade, ni"relaçao, aerdade não se rrtre à adequação do conbecimento e do objecto,
no jtízo, na correspondência. Ela não nos diz o que ero é. nent t't adequação do psírluico e do ftsico, nem oinda à adeqttação
Ora, o que nós procuramos é a essência da verdacl., l.rr.r_ de "conterído-ç de consciência" entre si. Trata-se simplesmente do
tarros a questão dofttndamento da adequação: ,.Á definição .çer descobeno do prtíp.io ente, segltndo o modo do seu ser
da uerdade como acordo, adeq,ação, ôtr_Lói'aotç, é cenám.ente descobetÍo.>>
dernasiado geral e uazia. Ela deae, contucro, ter argum Assim, Heidegger mostra que a teoria tradicional da
fitnd.a-
meltto se, semdo a aerdade o predicado distintiao clo ionbeci- verdade concebida como <<adequaçãorr, deriva mais origi-
771ento) esta definição comseguir manter-se) al)esa?. clas
intetpre- nalmente cla concepção da verdade como .rdesaelarnent0>>.
taçõe-r bastante diuergentes de qu.e este conbecimento é objecto. IJrn enunciado é verdadeiro porque ele desuela, exibe,
Inte'm'ogtt emo-nos, ag,,a, sobre
funclamentos desta
os
*re
lição,,. nlostra, faz vet o ente no seu ser descoberto. A verdade
o rlue é rlue pressup,m,s, entã0, implicitamente, consid.erand'o não tem, portanto, a esffurura dum acordo entre sujeito e
cotittnto das relações constitutiaas do "adaeqr.tatio intellectus et objecto. Mas isso, o autor não pode afirmar senão porque
rei"? Qual é o cat'rícter ontológico desta pt,esst.tposição?>> liga o ser-verdadeiro ao ser-no-mundo. E porque o ser
Interroguemo-nos, pois, sobre o fundamento da ade_ ek-siste in-sistindo no mundo, que ele se vela desvelando-
t1u:rção. Mas sem recorrer à distinção entre sujeito e -se no ente, que ele se mostra escondendo-se. ,<Por- seu
<rlrjccto. Pois ,ão contribuiria em nada para fazer nrrnr-rçr. ltdo, o ser-uet"dndeiro como ser'-descobridor só é possíael com

/ (,r9 t09
fenírnemo, rnde reconbeceruos ttrixa
bn-rc no -çe7'-7to-r/t'undo. Este
si, cle sai do seu recolhimento parâ se estencler no mundo.
con.rtituiçiío
ftmdamental do Dasein, é o ftmdtmemto do fr"ó-
O l)asein é/está .rna aerdnderr, porqtte o ser se ,.desenrola"
nteno orig'inrírio da aerrlarle. É cste qrrc conaént agora aprr-
nele, porque o ser não pertence a si próprio, pertence
ftmdar.r, àc1uele. Também Hegel compreendeu a verclade como
revelação ou desvendamento, Inâs compreendeu-â a partir
dum sujeito absoluto. Ern Heidegger, este car'.icter absoluto
I>) O fenórneno or.iginal da aerdade e n nantreza deriaada do
desaparece. A verdade, ou seja, o clesvelamento, efectua-se
conceito tradicional dn uerdade
historicamente no tempo. Mas a partir de agora, desenrola-
-se no horizonte do Dosein, ou seja, dum ente finito que
Ilsta definição da verdade como desvelamento não tor.nâ o lugar do Espírito infinito. O ..círcttlo, hegeliano
sigr-rifica uma rejeição da tradição mas, pelo conrrário, a
abre-se e transforma-se em <<espiral>> nâ filosofia
sua apropriação origir-ral. Os primeiros filósofos enren- heicleggeriana, isto é, sai do nada.
deram à partida este sentido primeiro. Mas, só tiveram
dela uma colxpreensão pré-fenomenológica. A verdacle
era realmente pârâ eles a crÀr1Oercr, ainda quc â identi- c) O nrodo tle ser da aerdnde e a p?'essl.tposição tla uerdade
ficassem, corlfo Aristóteles, com as pragmata. Era <<o que
se ntlstt'a>>. Fleraclito testernunha igualmente o uso da IJm:r vez que a verdade faz parte do ser do Dasein, só há
verdacle neste senticlo, defininclo-a como ,rser desueladorr, verclade ..nn rnedida ern que e enqrutntl o Dasein árr. Donde
ou seja, tiraclo do seu velamento". Desde â aurora da filo- não fazer sentido interrogar-se sobre a verdacle, antes do
sofia, que a verdade tem, assim, o sentid o de .rdesuela- Dosein ser e depo rs do Dasein já não ser: .ç4s leis de Nezuton,
mento>> e não o de acordo. nntes dele, não erant nern aet'tlndeiras, nem. falsas.n Elas tor-
Não julguemos que esta clefir-rição cla verclade como <<ier,- nararrl-se verdacleiras quando foram descobertas, desvela-
descoberto>> e descobridor, ou desvelador, seja uma simples clas, por esse ente humano chamado Newton. Quanto a
explicação verbal e que tenhamos assim cedido a uma saber se há verdacles eternas, isso só poderia ser provado se
espécie cle rnística das palavrâs nomeando-a deste modo. houvesse un't Dasein cterno. Ora, não poderia haver uma tal
Concebida clesta forma, a verdade inscreve-se, pelo con- prova. Porclue o ser é sempre o ser do ente, ele está sempre
trário, na ek-sistência do Dasein: o ser-verdadeiro é um já implicado no mundo, no tempo. Heidegger não concebe
moclo de ser do Dasein. A verdade como desvelamento faz um Ser clue seria dado independentemente dos entes. Não
parte da constituição Existencial deste último. E,la des- há Eternidacle fora do tempo. Se a houvesse ele estaria
vela-se no Dasein, porque o ser ek-siste. A ek-sistência é a encerrada no tempo.
abertura pela qual o ser se mostra tal como se dá. Saindo de Assim, clo mesmo moclo que o ser é sempre o ser do
cr-rte, a verclade é sempre a verdade do Dasein: <<Ente todn'
. .. Ilt'tr':ritc ". ()r'i.qirr:rl rlcnrão: Verhorqenheit (N. R.)
t aertlade, pelo seu género de ser', essemcialmente da ol-dent do
l)ascirr, clt ó relttiua ri ot'dettt do Dasein.r, Significará este

rn nt
carácter relativo que toda a verdade é <<subjectiaa>>? De
modo algum! Porque a verdade é um modo de ser do
Dasein e não um decreto arbitrário. E, se podemos falar de
validade universal da verdade, não é antes de mais porque
ela é ..objectiva>>, mas porque ela pertence à estrurura do
Dasein e porque esta estrutura é a mesma para todos. SEGUI'{DA SECÇAO

DASE,IN
E TtrMPORÁLIDÁDE

u2
c,qpÍruro uM
O StrR-TODO POSSlLryL DO DASE,IN
E O SER PARA A MORTE

§46 E indispensável, se quisermos empreencler uma


ontologirr firnclamental, que o ser do Dasein nos seja dado
na totalidade. Devemos,.âssim, interrogar-nos se este ente
pode ser acessível na sua globalidade. Ora, pârece que isso
é impossível por causâ do próprio ser do Dusein: o cui-
dado. Senrpre em'.1vanço em relação a si rnesrno, o Dosein
perlnânece na expectativa duma possibiliclacle ainda não
realizada. FJri assim, na própria constituição do Dasein tm
<<constante inacabamento>>. O facto dele não ser daclo na
totaliclade tem a ver com um restante de ser, um exce-
clente de poder-ser. Assim, enquanto ek-siste, o Dnseim
não constitui uma totalidade. Ele será tudo o que pode
ser, quando não houver mais exceclente. Então, exte-
nuado, esvaziado de si próprio, ele deixará de ek-sistir.
Nada rnais dele sairá. Assim, totalidade significa vacuidade,
o todo é igr-ral a nacla. O ganho torna-se rluma perda:
,rquondo o Dasein "existe" de tnl fottna que jrí não estrí na
cxPcctotiuo dc nacln, to'tuou-se já-não-ser'. Logo que abolido este

1't 9
a nada. Enrluanto o Dasetn
?'esto de se?', eis o selt. se?'reduzido impede o Dasein de falar dela, pode contudo experimentar
como ente é, numcd. atinge a -çua "totalidade". Mas adrluiri-la a morte dos outros. Esta morte dada ..objectivamente>>
equiuale pLtra e sirnplevnente a perder o se7'-no-m.u.ndo.r, pocle permitir-nos circunscrever ontologicâmente a totâ-
A impossibilidade de ter onticâmente a experiência do lidade do Dasein Mas será que a conclusão do Dasein de
Dasein como um toclo, não tem a ver com uma deficiência outrern poderá ajuclar-nos a atingir este objectivo? Esta
clo pocler de conhecer) mas do próprio ser do É p,rr- questão deverá ser resolvida antes de prosseguirmos.
"rt".
tânto um problema ontológico e não ôntico, Existencial e Porque rnorrer significa deixar de ser no mundo, o
não existencial. Importa, por conseguinte, zelar para nã,o Dnsein de outrem, é também ele, uma vez morto, um já-
considerar o Dasein como um ente qualquer. A morte do -não-ser. O seu já-não-ser de morto apresentâ-se como
ente humano não é um fenómeno purâmente biológico. Lrm ser subsistente, como um ente qualquer. Podemos
Tentaremos, assim, pôr a descoberto um conceito Exis- observar a passagem dum ente como Dasein a um ente
tencial da morte, a fim de caracterizar ontologicamente a corno coisa: ,ro fitn do ente com.o Dasein é o começl desse ente
,rcbegada-ao-fim> do Drtsein Tendo em vista este objec- conto .çub.çistente>>- Contudo, o cadâver não se redrz a ser
tivo, a nossa pesquisa articular-se-á da seguinte forma: a apenas rm <<pLtra coisa corporalrr. F, mais do que uma coisa
morte clos outros enquanto experiência possível e a possi- material inerte: é o inanimado, o que perdeu a vida. E
bilidade de apreender o Dasein na totalidade (§a7); menos ainda se reduz a um utensílio à-mão. O defunto
excedente, fim e totalidade (§a8); clelimitação da análise arrancado aos que restam é objecto de cuidados, como as
Existencial da morte relativamente às outras interpre- exéquias, a inumação, o acto funerário. Ele é honrado e
tações possíveis do fenómeno (§49); esboço da estrutura não manipulado. Estar com o defunto que já não é facti-
ontológica Existencial da morte (§50); o ser pâra â morte camente aí, é estar com ele no mundo que deixou. A única
e a quotidianeidade do Da.çein (§51); o ser para a morte maneira de permanecer junto dele é â partir desse munclo.
quotidiano e o conceito plenamente Existencial da morte Assim, a análise fenomenológica da morte mostra-nos
(§52); projecção Existencial dum ser autêntico em que nós não experimentamos verdadeiramente o ser
direcção à morte (§53). úegaclo-ao-fim dã clefu.rto. É.".to que a morte é experi-
§47 Mas, como obter um conceito Existencial da rnentada corno uma perdâ, mâs uma perda sofrida pelos
morte, se não podemos ter essa experiência? ..Porque, para sobreviventes e não pelo próprio defunto. Sendo o morrer
o Dasein, alcançar a saa totalidade nrt. m.oyte é, ao mesmo cle outrem inacessível, o seu sentido ontológico escapa-nos.
templ, lterder o ser do aí.r, O Dasein morto deixou de ek- Assim, a ideia de tomar como tema a morte experimen-
-sistir. trle já não está/é aí para nos falar da passagem ao tada nos outros com o objectivo de analisar o fim do
já náo ser. Epicuro negava a morte sob o pretexto de nãcr Dasein e circunscrever a suâ totalidade, frustra-s". É i--
pocler falar dela à falta da sua experiência: ,rquando ela é, possível substituir a morte de alguém, mesmo sacrifi-
dizia, eu não so?t e enqxtantl elt sltt. ela nã.o á>>. Quanto a cando-se por ele e morrendo em seu lugar. O falecimento
Heiclegger, não nega a morte. Pelo contrário, faz dela t ó tomado por cada Dasein sobre si mesmo. A morte é
essência da vida. Seja como for, se a experiência da mortc scmprc rt tninha morte, trata-se do meu ser. ..O faleci-

t20 t?t
me?tt| [...] mostra qa'e a morte é a-cadn-instante'minha e tr'ma âpenas vive porque é um moribundot <.A mlrte no sentido
possibilidad.e d.e ser na qr,tal esttí eln causa o ser da rninhrt mais lato tí um fenóm.eno da aida.>>
exi.çtência. [...J O falecimento não é de todo um incidente, é r'tm O que é ser um moribundo para o Dasein? É, ".rt
e isto nrtm.
fenómeno que deue ser entendido Existencirtlmente primeiro lugar, permanecer em <<expectatiaa>>; o Dasein é
sentido capital qu.e é preciso delimitar melhor." ytm ,roinda-não qrte ser'í>>, ou seja, uvv1 ,rexcerlente>> cons-
Se por um lado, â tentativa de chegar à totalidade pela tante. Depois, é chegar ao seu ..fim>r, ou seja, deixar cle
morte de outrem se frustrou, permitiu-nos pelo menos ser-aí, de ser Da-çein. Ora, enquanto cuidaclo, enquanto
ver nâ n-lorte um fenómeno Existencial. lJma vez que o ser-adiante-de-si, o Daseitt não é nuncâ dado na globa-
,rfinrlar> do Dasein consdrui â sllâ totalidade, podemos lidade. Cabe-lhe essencialmente um ,raittda-nãor>, en-
considerar o ser desta totalidade como uma possibilidade quanto é. O ,rexcedente>> é o que permanece em expectâ-
real e pâssar ao nível ontológico' Mas, antes, será tiva, é o que falta realizar. Por exemplo, uma dívida é-me
necessário certificarmo-nos do carácter ontológico dos aincla devida. Ela permanece assim, enquanto não for reu-
fenómenos constitutivos da morte que são o <<excedente>> nida na sua totalidacle. Do tnesmo modo, o excedente
(Ausstnnd), o ,rfimr, (Ende) e a rrtotalidade,, (Ganzsein). significa: <<ttã.0 estar reunido ao conjunto de que se faz parte>>.
§48 Em que medida ,rexcedente>>, <<firn>> e "totalidade" Deverá daí concluir-se que o Dasein não é um todo mas
são determinações ontológicas clo Dasein, <,Existenciais>'? umâ sor-na de elementos adicionando-se uns aos outros
Só uma resposta positiva a esta questão permitirá uma exteriormente ? Nãol Porque o r<ninda-nãor> faz parte do seu
interpretação ontológica da morte. Porque, é apenas ao ser, não é um elemento que se junta do exterior. O que
findar que o Dasein se torna num ser qualquer, numâ significa que o ser do Dasein é ainda não ser: ..O Dasein
presença ser-n vida. O ser do Dasein distingue-se, com tem. de to?'nar--çe - isto é ser - ele príprio no (lue ainda nno é.
efeito, do ser dum ente qualquer subsistente no sentido Para podet' detenninar p0?' coTnParação o set' do ainda-não qne
em que ele está em perpétua actividade. E'le ek-siste., car-acteriza o Dasein, deaemos tlntar em consideração o ente
enquanto este últim o subsiste e é de forma inactiva como co??t 0 género de ser do tomtar'--çe.>>
o cadáver reduzido ao estado de coisa inerte. Como re- E,ste tornâr-se do Dosein, Heidegger compara-o à
flectir sobre o senticlo clo ser em geral sem o confundir maturação dum fruto. A não-rnaturidade, qúe é o ainda-
com um estado subsistente, se o Dasein não pode formular -não do fruto, faz parte deste último. Ele é a sra <<xã.o-ma-
a sua resposta senão considerando o seu ser como acaba- fitridode, amadurecendo, tal como o Dasein é o seu
clo, ou seja, como um ente subsistente? A superação desta ..ainda-não, existindo: ,rde fortna a.náloga, o Dasein é igual'
aporia será extrelnamente esclarecedora sobre o sentido nxente en.quanto é, u cada instamte já o seu. ainda-níiorr. Tal
do ser que irá dominar toda a filosofia de Heidegger. como o fruto macluro chega ao seu fim, assim a morte
A resposta é a" seg"uinte: o ser do Daseiru não é um ser conduz o Dasein à sua conclusão. Mas a morte não está no
acabado, uma vez que pâra ser Dnsein ele tem que viverl fim clo perclrrso, ela não é o fim da vida, como qualquer
É ,r-r-, ser <<a findarrr, náo é uma totalidacle acabada mas coisa que chega do exterior. A morte {az pate do Dasein.
cm vias cle acabarnento. Por outras palavras, o Dttsein Ii 1>or isso que quando Heidegger escreve paradoxal-

I ??. t:t.1
mente: rrfindar não significu neces-çariarrente perfazet'-serr, imortalidade, quando é afirmada com coerência, diz
ele quer dizer que o Dasein não finda com â morte como obrigatoriâmente respeito ao ser pessoal. Senão a que se
o pão finda uma vez consumido, ou como a chuva finda aplicaria ela? IJma imortalidade impessoal não faz sentido
ao desaparecer: é a morte que finda, no sentido activo, o senão numa filosofia para a qual o Ser é tudo e o
Dasein. Ela é a sua maneira de ser assumida logo que é: indivíduo nada. E o caso cle todo o pensamento, como o
<.rtssint queum ltotnent ganha aida, diz o Pleta, é imediatamente de Heidegger, que recusa o estâtuto de ser u.iaclo ao
suficientemente uelho para mlrvev>>. Ek-sistir, pâra o Dasein, é homem. O Dasein - trâtar-se-á do ser humano? - não é
sair de si, é extenuâr-se e avançar em direcção ao fim. criado, ntas lançado. O seu ser não é a conclusão clum acto
O Dasein não se constitui, portânto, como totalidade criador que o destina à imortalidade pess oal, é o começo
<.no fim>>, ele realiza-se como tal a caminho. trle não é um clurna destruição, dum desaparecimento, de que a morte é
,rse't,no-fim>>) mâs rtl:;, <<ser-ru.mo-ao firnn. Não se pode a força secretâ. A rnorte heideggeriana é rtrnfalecitnentl, a
falar dum Dasein morto, mas dum Dasein moribundo. morte cristã :uma passagem para o além. O alérn não é um
§49 Esta interpretação da morte é ontológica e não problema para Heidegger, porque para ele não há senão
ôntica. Quando falamos dum Dasein vivo, devemos, um adiante. A eternidade, se é que ela existia para ele, es-
assim, esforçar-nos por entender a vida a pârtir do ser do taria, já o dissemos, não fora do tempo, mas no próprio
Dosein e não do ponto de vista biológico ou fisiológico. O tempo como ek-stase. Porque o Dasein é uma totalidade
ôntico pressupõe sempre o ontológico. O Dasein nã,o inacabada. Só a morte faz dele um todo, mas então o Dasein
cleixa simplesmente de viver tal como uma planta ou um já não é. Assim, não se pode falar de sobrevivência dum
animal. A morte faz pârte do seu ser duma forma ser cuja essência é expulsar e cuja energia expulsante é a
essencial, não acidental. Viver, pâra ele, é morrer! É pot própria morte. Tal é a consequêr-rcia desastrosa duma me-
essa razão qlre <<a interpretação Existencial da morte precede tafísica parâ a qual o destino do Ser está ligado ao de enre.
toda a biologia e toda a ontologia da uidarr. A interpretação I-Ieidegger tê-lo-ia evitado se tivesse conseguido conce-
Existencial da morte cleve, portanto, fundamentar toda a ber o Ser independentemente do ente na sua plenirude e
análise de tipo histórico, biográfico, psicológico, etno- trrna independência soberana.
lógico. IJma ,rtipologia, da morte pressupõe o conceito §50 As considerações precedentes mostram a necessi-
ontológico da morte. rlade de interpretar o fenómeno da morte corr,o <<ser-
IJma vez adquirido o conceito ontológico da morte, -nmto-ao-firn>>, a parrir da constiruição fundamental do
não são de esperar consequências ônticas quanto à imor- l)nsein, isto é, a partir do cuidado. Ora, o cuidado con-
talidacle do Dasein A imortalidade, se é que a imortali- siste, já o dissemos, em preceder, em ser/estar adiante e já
clade existe, é urn problema ontológico para Heidegger: rro mundo. A morte, interpelada a partir do cuidado,
<<Leaantar d questão do rlue há para além da morÍe não pode srrrge, assim, como o que ainda não está/é aí adiante, é o
tet, rtru sentido e nã.0 pode justifrcar-se co?n. gar'antias de ordent :rirda-não-aí-adiante mais afastado, mas ela é igualmente
rnetódica senão a pa?.ti?'do ntotnento em qlte ela é compreendidu o mais eminente, no sentido em que pode acontecer de
tta ltlenitude da sttrt essência ontológicarr. E, com efeito, ir irrrccliato. A irninência da morte não é comparável a uma

n1t t:)5
tempestâde que ameâçâ no horizonte ou à edificação relembramos que a angústia perante a morte não deve ser
duma casâ quase terminada, no sentido ôntico' A morte confundida com o medo perânte o falecimento, como não
cliz respeitoào ser do Dasein, ela é ontológica. Poder-se- devem ser confundidos o ôntico e o ontológico. A angús-
-ra dizàr que a morte torna o Dasein imanente a si pró- tia não é fuga diante da morte, mas o enfrentar da possi-
prio, porque ela é â suâ possibilidade mais íntima, a saber bilidade da nossa própria impossibilidade: <rela não é uma
a d,e jâ-não-ser: <<A nrov'te é uma possibilidade de ser (lue o rlualquer e fortuita disposiçã.o de "fraqueza" no indiuíduo; pelo
Dasein teru, a cada instante, de assumir ele pt'óprio' Corn a contrrírio, enquã.nto afecção fundnmental do Dasein (Brfi"-
mlr.te) o Dasein encontrr-Se consigo mesrno no SeLt poder-ser dlichkeit), ela é a abertura pela rlual o Dasein existe en(lltantl
mais próprio (a,utêntico). Nesta possibilidade) trata-se pLt%t. e estar lançado mtmo ao seu. fimrr.
.rimplismente para o Dasein do seu ser-no-mr.tndo. A slta ru,r1e §51 Convém reter como principal resultado do
á a possibilidade de já não ser Dasein." pará,grafo anterior qlue <<no ser parã a ruo?'te) o Daseir. rela-
() Dasein encerra em si mesmo, como que inscritâ no ciona-se consigo mesrnl c0m0 con utn poder-ser insignerr. Ser,
seu ser, a possibilidade de morrer. É , t* possibilidade para o Dasein, já o virnos, é poder-ser. Ele é pura projec-
mais radical, é incontornável: <<A morte é a possibilidade da ção das suas próprias possibilidades. Ek-sistindo, ele está
pura e simples impossibilidade do Dasein." Assim, a morte lançado no mundo. Ora, entre as suas possibilidades, há
rerrela-s. como a possibilidade mais própria, a mais umâ, a morte, que é a suâ possibilidacle mais íntima, por-
autêntica, a que pertence apenas a ele. Compreendemos que atinge o seu ser. Esta possibilidade anula todas as
agora, por que razão não é necessário pâssâr pela morte outras, porque ela é a possibilidade duma impossibilidade
de outrem para pôr a descoberto a sua dimensão onto- pura e simples cle toclo o Dasein. Perante esta saída fatal,
lógica. Ela é um Existencial no sentido em que é um o reflexo do Dasein é fugir, não se enfrentar mais a si pró-
*àr.r".rto do cuidado, do ser do Dasein. Abri,do-se, este prio, para evitar ver-se tal como é na sua ipseidade. Assim,
lança-se adiante de si rumo à morte, que é a sua con- ele refugia-se no À/ds onde se dilui. E, por isso que ,ra anrí-
cretizÍlçã,o última: ,rAssim, a m07"te reaela-se comT a ltossibi- lise da rull.te do Nós mlrren 0s desztelará sem equíaoco o modo
tirlarle mais prtípria) se?n relaçã.o co?n o Dasein de outyem, tle set' do set' quotidianl para a morte>>.
incontontáael. Enrlttanto tal, ela é uma intinência capital' Quanclo o À/ds morre, ,rEu, não morro, porque o Nós
A sua possibitidade Existencial fimda-se ent. o Dasein ser essen- r-rão é ninguém. Nesta óptica, a morte surge como um
cialmente reaelado a si ntesmo e sê-lo justamente à rnaneira do rrcontecimento exterior, que não me âtinge. E uma
aaãnÇ| em relação a si mesyto. Este nloruentT est?at\n'al do cui- <<notícia>> dada pelos jornais, contada pelas testemunhas...
tl.atl.o tent n0 se?'para a m.o?'te a sua clncretizaçã'o rnais original'" Iista forma cle falar encara a morte como :urna <rrealidaderr,
A partir do momento em que o Dasein ek-siste, estír rnâs nuncâ como uma <<possibilidade, inscrita no seio do
lançado na possibilidade da morte. Ele está entregue à nrelr ser. Por outras palavras, ..o Nós confere o direito de se
morte, porque pro-jectado, lançaclo adiante, para fora clc tlissimular 0 ser paro n ml?Íe no qtrc ele teru de mais próprio; e
si, em ãirecção ao mundo. Esta condição revela-se-lhc, ttrtTnenta n tentaçiio de o dissimulat>r. Esta dissimulação visa
não de forma teórica, mâs nâ <<angítstia'>. E, mais uma ve7', trar-rqtrilizrr-nos a respeito da morte. Reconfortamos o

*'rx;
'tzí-
moribundo dizendo-lhe que ele vai escapar à morte.
funda-se na verdade. Ora, a verdade significa desvela-
Porque a morte desconcerta, é uma contrariedade social,
rnento. O véu levanta-se sobre o ente e o seu ser mostra-
uma falta de tacto, de que a vida pública deve ser preserwada.
se ,raírr, cotno num jacto de luz àté ào limite para além do
O Nrís justifica a sua obra dissimuladora fazendo pâssâr a qual ele cairá nas trevâs da morte. Enquanto permânece
ideia de pensar na morte como uma ideia desprezível, nesta iluminaçã o, o Dasein é transparente a si próprio, ele
uma pusilanimidade e uma fuga lúgubre para fora da está totâlmente na abertura através da qual o seu ser, o
mundo. Numa palavra: ..O Nós não deixa manifestar-se a ser, pâssa pârâ o mundo: ele sai de si mesmo, ek-siste,
cora.geTn de enfi.entar a angústia perante a ntorte.>> Ora, só a
para in-sistir, entrar, no mundo. A <<certezã da mor.te>
angústia é capaz de olhar â morte de frente e de entregar reveste-se, assim, dum carácter ontológico e não empí-
o Dasein à sua possibilidade mais radical. O Nás tenta rico: ,rQue o falecim.ento seja, a título de acontecimentl que se
transformar essa angústia num medo ôntico. A angústia pt oduz, u?'tld certeza "Ltnicamente" empírica, não é isso que
surge, então, como uma fraqueza que tm Dasein <<segurl decidea certeza da morterr.
de .çi, não poderia consentir. Assim, a dissimulação é total. Ao nível da certeza empírica, o Dasein não está certo da
O Dasein alienou o seu pocler-ser, ele fez da morte uma rnorte tal como ela é. O estar-certo da morte não pode ser
possibilidade estranha, que não lhe diz respeito, que só cornpreendido, com efeito, a menos que esta seja
acontece aos outros. entendida como a realidade mais própria e incontornável.
Heidegger é notável na descrição dessa fuga do Dasein Ela é certa, porque a cada instante possível. Estas carac-
perante a morte, sem perder de vista a interpretação terísticas permitem definir o conceito plenamente onto-
ontológica. Esta fuga transcreve na vida quotidiana, a lrigico da rnorte: <<Á morte como fim do Dasein é a possibili-
descida, a decadência do ser autêntico do Dasein que deixa iade mais prrípria, -sem relação) cer-ta e comn tal ittdetertninada
de the ser ..próprion, de ser dele, para existir perecendo c incomtotaríael do Dasein. A ruorte estí, conto fim do Daseim,
na morte: ,rO ser para a morte quotidiano é, enquanto deca- n0 sev' de-çte ente ?'Ltmo ao fim.r, Por outras palavras, a morte
dente, uma constante fuga perlmte ela.r, Ã morte no quoti- lrernrite a.o Dasein ser um todo. Não será porque o ser é
cliano da existência autêntica exige, assim, uma interpre- considerado como um todo, que ele é igualmente um
tação mais aprofundada do ser pàÍa a morte do rrrda? A morte, diz Heidegger, é a ,rpossibilidade duma
moribundo. iLttpossibilidade absolutarr. E,sta afirmação decorre da
§52 Estamos âgora em condições de esboçar o conceito r'«rnsideração do toclo. Porque ser tudo é igualmente o
de morte. O..À/cís mlwenxls>>, dissemos, dissimula ao Dasein inverso clo ser como tudo. Os contrários não se excluem,
â morte que é a sua ..possibilidade, mais própria, autên- t:lcs coinciclem r-ra Totalidade que é Diferença, porque ela
tica, por detrás da realidade inautêntica e imprópria da rlifere sempre de si. Assim, na filosofia cle Heidegger, o
vida de todos os dias. No entanto, ele não consegue ..rrinda-não> da morte reúne-se ao <<a diante> do cuidado,
( ) ser do Dnsein <<ek-siste>> .rin-sistindorr, de tal modo que
esconder ao Dasein a certezl- do morrer. Porque é preciso
morrer ninguém duvida, nem mesmo o À/ás apesar da sua ('stc pocle exclamar <<eL!. mo?-rl, logo ek-sisto>>.
acção de clissimulação. Mas que certezà é essa? A certeza §53 Dispr)nros â partir de agora dum conceito ontoló-
rlic«l rl:r nr()r-tc. Apliqtrcn-ro-lo à cxistêr-rcia rutênticrr <lo

-n8
Duein. Este último, já o vimos, tende a fugir no Àtrcís da pt'io.r, .rO nfiecipar da ltossibilidade sem relação forçn o ente
possibilidadc de já não ser. Ora, a existência autêntica ontecipodor' à possibilidade de nssumir por si o .teu ser tnais
consiste em fazer-lhe fâce. Ser para uma possibilidade é próprio a pa?'tir' de si ntesnto.>> Este isolamento é uma re-
csforçar-se por a ,'ealizar, isto é, por clestruí-la enquanto núncia a si tnesmo no nacla. A morte isola-me, porque sou
possibiliclade. Mas então, poderá clizer-se, tratar-se-á de eu que morro. Eu devo aceitá-la livremente e viver..livre-
destruir â morte clestruinclo-se a si rnesmo? A resposta ó -para-â-rnorte>>. Esta liberclade, para dizer a verdacle, não
evidente, el:r consiste em pôr ern epígrafe que a morte não ó uma liberclade, ela é antes a vertigem que acompanha a
é uma possibilidade como âs outras. Estas trabalham cluecla clo ser no nacla. E um mergulhar no fim clo qual o
todas parâ â sua própria realização, clestruindo-se ao ser- toclo clo ser, enfitn esvaziado de si próprio, se iclentifica
viço do Dasein. Quanto à morte, ela é uma possibilidade com o nada.
cuja característica é a de anular todas as outras) e o Este cliscurso sobre a morte não é de todo cornparável a
próprio Dasein, realizando-se. Doncle a reacção do Dasein urna oração Íiinebre. Nem é tão-pouco Lrma consideração
consistindo em mânter durante o máxirno de tempo o moralista. Ii uma análise glacial através da qual Heidcgger
possível como possível. Ele abstérn-se de morrer e vive pretende mostrar-nos o nacla etn acção no próprio seio do
rnorrendo, porque enquanto morre não está morto! Esta Ser. ..O Nadn, escreve ele em ,rO rlue é ametafisicalrr, publi-
'.rtitude :rssemelha-se â uma <<exÍ)ectl.tiaa>>. Mas esta c'.rclo dois anos clepois cle ..Sel' e tempo>>) não forwta simples-

expectativa não tem nada de passivo. Pelo contrário, ela é tnente o conceito antitético do existente, é a essência do próprio Set'
activa. E um andar à frente, oncle toda a acção se esclarece que coznpzl ttt desde a origem o Nada. E no ser do existente que se
à luz desta possibiliclacle qr.re cresce incessantemente. A produz a aniquilação do Nadarr. O filósofo de Friburgo não
expectativa faz viver o Dasein na ,rittcessonte antecipação da quer ver na morte r:rrta ,rfufitrn actualidaderr, mas unta
.ractunl po.çsibilidade, que é uma maneira de ser essencial ao
mor.te>>. Ek-sistir é avançar em direcção ao nada, saindo
clo ser. Avançar pârâ a morte consiste em aproximar-se do l)rcein, o único ente consciente do seu fim. Ser possível não
ponto para onde convergem o possível e o impossível, o significa, portanto, ser em potência, no senticlo em que Aris-
ser e o nada, e oncle tudo estará no todo no Dasein. t«itcles o entende como <<o que pode passar ao acto>>. O ser,
Porque o toclo não pode ser senão esse ponto ondc lrara Heidegger, não é <<actl>>) ele é sempre ,gossíuelrr.
coincidem toclos os contrários, como na ponta dum piã<r l)oderia estabelecer-se aqui uma comparação com o
.,Pos.çest>> cle Nicolau de Cusa. A possibilidade ftindamental
giranclo sobre si e cujo movimento acelerado se confunde
com a irnobilidade. tlo ser é o nada, a possibilidade vivida pelo Dasein nâ morte
Encarando, assim, â morte de frente como a possibi- rlue é a perda do seu ser. Essa é a razão pela qual o autor fala
lidade que o torna impossível, o Daseitt compreende-se :t dc <«ntecipação>> (Vorg'ffi e não de ,ractumlizaçíto>>. A possi-
si próprio colno nada. Ele entende que irá em brevc lrilidadc de já não ser, é mais do que uma futura actualidade,
cleixar de ser todas as suâs possibilic{ades e isolar-se parrt ó urn morrer perpétuo, umâ aniquilação sem fim, em suma
não ser n-rais do que cle próprio: ,rA absolu.tidade da m.ol'tr' lxrstante próxirna da ,ridentidade inrluieta do ser e do nadarr,
cortrprccniitlt na rnúecipoÇão isolu o Dasein T'rt??to o -ri pní- lrclrr tltrll [ [cirlcggcr definia o devir.

-l'r-
ctpÍruro euATRo
TEMPORALIDADE
E QLIOTIDUI,{E,IDÁDtr

§ó7 A ternporalidade fundamenta â totalidade articulada


do ser do Dasein Este ek-siste temporalizando-se. Ele
implica, assim, umâ certa multiplicidade: ,rÁ totalidade
originríria da constitttição do Dasein, sendo articulada, longe
de banir a nrubiplicidade, pelo contr'ít'io, exige-a..', O que
significa que a origem ontológica do Dasein nã.o é urn ser
simples e uno, mas um simples processo: .rÁ origem
ontológica do ser do Dasein nao é Tnenos irnpona'nte do que o
rlue é originado dela, m.rts, r) partida, excede-o etn potêncin e
à {tlo-
todo o ot'iginar', n0 cã.rupl ontológico, é de-generaçã0.r,
sofia de Heidegger está mais próxima duma filosofia da
totalidade do que da unidade do ser. Não poderia, com
efêito, haver um Ser-IJno para uma ontologia em que a
totalidade do ser é constituída pela temporalidade. Por
não conceber o ser do ente a pârtir dum Ser
transcendente, imutável, infinito e uno, Heidegger vê no
ser uma efervescência, um transbordamento, um excesso,
pelo qual ele irrompe para fora cle si e degenera.

157
Pcla rrbcrtul'a que o constitui, o ser tl<> l)tseht torlrâ-scl -si t partir da possibilidade na qunl o Dasein existe a codt ius-
transp2lrente e percebe-sc no âcto de sc lançar adiantc. 1,. tante. O pr».uir toruta ontologicamente po.rsíuel Ltru ente que é de
por essa razão que a interpretação temporal do Dnscitt tal foruna que existe, compreendemdo, no seru poder-se»r. A exis-
quoticliano tomará como ponto de partida as estruturas clc tência pode ser âutênticâ ou inautêntica. Tal como o por-vir.
que é constituída a abertura, a saber, o compreender, rr O porvir autêntico é a antecipação da possibiliclade última
afecção, a decadência e o falar. Este capítulo articular-se-á, do Dasein deixando-o ad-vir a si mesmo, ao seu poder-ser
assim, como se segue: a temporaliclade da abertura eln mais próprio: a morte. No porwir inautêntico, o Dasein é
geral (§68); a temporalidade do ser no mundo e () <<arrastado» para os âssuntos quotidianos a pârtir dos quais
problerna da transcendência (§69); â remporalidade da ele compreende o seu ser: ele é .<na Espera"rr. ..O porwir
espacialidade correspondente ao Dasein (§70); o sentido inautêntico tem o carácter da Espera.r,
temporal da quotidianeidade do Dasein (§71). O compreender não se explica unicamente a partir do
§ó8 A abertura do ser do Dasein fá-la ek-sistir lançan- futuro. Ele não se temporalizaria, se não fosse igualmcnte
do-o aí. No entanto, o ser do Da-çein, ou seja, o cuidado, determinaclo pelo passado e pelo presente. O presente
não foi ainda interpretâdo de modo temporal nos seus âutêntico é o instante. Não, como o dissemos, no sentido
momentos estruturais. E por essa razão que iremos exa- de nrmc, dum agora fechado sobre si mesmo e medicla clo
minar, agora, cada um deles, a fim cle ver como a tempo- que acontece. Ele é instante no sentido de ekstase, de saída
ralidade realiza a unidade estrurural do cor-rjunto. pela qual o ser do Dasein ek-siste. O presente autêntico é,
numa palavra, o que tornâ presente. O presente inautên-
tico, denomina-o Heidegger como o <<presentificaru (Ge-
genwrirtigen). Ele tem em comum com o instante o facto
L) A TEMPORALIDADE DO COMPREENDER
cle tornar presente. Mas ao contrário do instante, que é
um ekstase pelo qual o Dasein se abre ao porwir e ao
Não confundamos compreender e conhecer. Vimos no
passado, o presentificar soliclifica o presente e fecha-se em
§31 que compreender significa projectar. Trata-se dum si mesmo, onde se perde pela curiosidade. Assim, só o
Iixistencial e não duma ,rfauildader> da alma: <<apreendido de
presente autêntico é o suporte da compreensão âutêntica.
fi»rua originariamente Existencial, o comltreendet- significa: ser- No que respeita ao passado, este é autêntico enquanto
p'ojectando para um poder'-ser', p0?'mordo qual o Dasein existe
<<r'epetição>> (Wieder'-boh.mg). O que quer dizer que não se
tt ütda instante>>. O compreender projecta, o que o Dasein trata clum momento do tempo que desliza parâ trás de
p,xlc ser, e coloca-o diante dele próprio. E um Existencial nós, mas dum ekstâse temporal que permite ao ser do
;rrccisamente porque ele íaz ek-sistir o ser do Dasein. F,k- Dasein ek-sistir nesse instante: o passado corltinua pre-
.;istindo, o ser, lançado para fora, volta-se para si mesrrro.
sente. Pelo contrário, o passado inautêntico é um <<presen-
l'stc voltar pârâ o ser que tem a haver, é um retorno em te-passado>> pelo qual o ser do Dasein não se aproxima do
, lirccção ao futuro. Ele tem â ser o que foi e o que ele foi, sô-
seu passado, mas dele se afasta, acaba por esquecê-lo e
1,, ,i. () ÍLturo fá-lo ad-vir. E neste sentido que ele surge na esquece-se com ele, porque o passado fazparte do seu ser.
1,.r,;r' tlo compreender: ,rna base do compreender-se pr.ojectando-
\t' utt'ttt(t possibilidade existencinl estrí o pot-uir, enqttantl adztit -n- * Iisperlr
trrdr,rz. gervârtigen, espcrar algo contando con'r isso (V. 1?.)

158 159
I)orlcmos, irssim, pôr a descoberto seis nroclos do com- cor-n a condição de se sublinhar que se trata do <<fuu.tro
prcendcr a partir dos três ekstases temporais, consoantc inautêntico>>, eue é Espera e não antecipação. Porque a
forem considerados do ponto de vista autêntico ou inautên- Espera que acompanha o medo não está imbricada no
tico: a antecipação (Vodanfen) e a expecrariva (Emuattung), o futuro ekstático. Ela está separada do objecto ameaçaclor,
instante (Augenblick) e o presentificar (Gegenwartigen), a aincla não presente, ao ponto de se crispar mais por ela pró-
rep etição (Wi e derh o hut g) e o esquecimento (I,/ergessenheit). pria clo que por câusa desse objecto. E, por essa razão que
Finalmente, é de reter que dos três ekstases, o porvir tem â Aristóteles definia o medo como uma perturbação que afasta
prirnazia no processo de temporalização do compreender. para longe do objecto que mete medo, que âmeâça, e de que
fugimos para esquecer. Assim, vemos que a ekstase que
lança o Da.çein no medo, lança-o também no esquecimento.
B) A TEMq)RAL\DADE DA AFECçÃO f,WLNDLTCHT(ETT) Ora, o esquecimento foi definido corrlo o ,gassado inautên*
tico>>- Finalmente, o Dasein assustado e afastado, não pensa
O compreender é um projectâr. Quânto à afecçã o, ela diz mesmo mais no que se vai tornar. Ele permânece no mo-
respeito ao estar-lançaclo. Há assim uma relação entre eles. mento presente, como o habitante duma casa em chamas,
<<O compreemdet nunco
fhtttto liaremente, é sempr-e aJeaado.r, que pensa primeiro em salvar as coisas que tem à mão,
A temporalidade encontra-se iguahnente na afecção. Como esquece o seu bem e permanece dentro de casa. Tal é o pre-
assim? Diante do seu estar lançado, deposto diante de si, sente do medo, <<1)resente inautêntico>>. Esta análise temporal
o Duein tem a escolha entre entregar-se-lhe ou desviar- da afecção inautôntica do rnedo, mostra-nos que ela se com-
-se, consoante opte pela existência autêntica ou pela exis- põe das ekstases inautênticos cla temporalidade. llla con-
tência inautêntica. Encontrar-se ..aír> só é possível porque firma, assim, a nossa tese, â saber, que a temporalidade
o ser do Dasein ek-siste ek-stasiando-se a pârtir do pas- realiza a conexão do todo estruturado que é o ser do Dasein.
sado. A Befindlichkeit ftnda-se primariamente no <<pas- Passemos, a.gora, à análise da afecção autêntica, a
sado-presente>> (Gewesenbeit). O que significa que o seu angú-rtia. Tal como o medo, a angirstia é o sentimento de
carácter Existencial é urn <rrecondttzi?- a...>>. Seria fasti- estar lançado, mas ao contrário do medo que esquece a sua
dioso e inútil analisar â temporalidade de todas as afec- condição de estar lançado, a angústia encara-o de frente,
ções que acompanhâfir o sentimento de encontrar-se embora ainda sem o assumir ou aceitar como o fará a
lançado aí. Assim, limitar-nos-emos ao sentimento autên- existência resoluta. A angústia angustia-se perânte um ente
tico da angústia e ao sentimento inautêntico do medo. ameaçador. Mas ela distingue-se do meclo pelo facto do
Comecemos a análise pela temporalidade da afecção ente perante o qual ela se encontra não lhe dizer mais nada,
inautêntica, o medo. Será que o <<passado-pr-esente>>) o <<se?-- ser dotado de falta de sentido. A.ngustiar-se perânte... não
-.çiclor, (Gezuesenheit), constitui o seu sentido Existencial? tem, pois, o carácter de estar à Espera de... A angústia
Parcce que não. Com efeito, o medo apresenta-se como a não espera nada, pela razã.o de que este perante o quê ela se
cxpectativa clum mal futuro. O seu sentido temporal ângustia está já ,raír>, é o próprio Dasein. O porwir que
prin-rário vem-lhe, assim, aparentemente do futuro. Mas constitui a angústia não é, por conseguinte, o porvir

160 161
irrrrutêntico, a Espera, lnàs a antecipação, o /to,t uir. arfiOn- cquívoco. Limitar-nos-emos a considerar a curiosidade,
riro. Na angústia, o Dn.çein dír-se conra de que ele não pode uma vez que é â este nível que â temporâlidade mais espe-
projectar-se sobre um ente qualquer e fica como que para- cífica da decadência se cleixa melhor distinguir. A curio-
lisaclo. Esta irnpossibilidade repenrina revela-lhe a possi- siclade, como dissemos no §36, é a tendência pela qual o
biliclade do seu poder-ser âurêntico, a morte. O chao abre- Dnsein se preocupâ essencialmente em poder ver. A sua
-se debaixo dos seus pés e ele tem que decidir-se pelo característica é a cle consistir na vontade cle ver parâ \zer.
abismo: ,<a angtístia anqustia-se pelo Dasein no estado nu, tal Ora, o que se dá a ver, dá-se no presente inautêntiro da pre-
conto e-çtí lançado na esrranbezarr. O Dasein angustiâclo recua sentificação. Mas este presentificar não se liga à coisa
para a solidão e prepara-se para clar o salto que o fará trâns- vista, de que se afasta logo que vista, de tal fbrma que daí
por o limiar da existência resolutai <<a on.Eístia reconduz de resulta um constante..à E,spera de...rr. A presen-
facto no ?tosso estar-lançado, enquantl este se l)?-esta a uma 1to.r.ríael tificação surge como uma modificação ekstática clo estar à
repetiçiío. E assim t eaela igualmente a possibilidade dtlm pod.er"- Iispera de. Iiste ..saltita» atrás do presentificar,
-se, próp,io (lae., repeti?udo-se rrc por-uir-, deaerrí aoltar- oo aí lan- sacrificanclo-se ao presente inautêntico. Absorwido numa
çadon. O passado que temporaliza a angústia é, portanto, a agitação constante, o Dasein deixa de ser/estar ..aírr, pâssan-
repetição, ou seja, o passadl autênticl. O ruedo enlouquecia clo a ser/estar errr todo o lado e em parte alg'uma. O ekstase
num presente-prisão. A angústia, pelo contrário, é o ponto do passaclo e a ekstase do porwir são submergidos no
de retorno, o molnento de decidir ek-sistir lucidamente, de presente inautêntico.
forma resoluter, rumo à sua possibilidacle suprema.
O presente que temporaliza a angústia é o instante, o p?.e-
se?lte autê?ttico. Assim, a afecção âutêntica é de facto tempo_ D) A TEMPORALIDADE DO FAUR
rahzada pela temporalidade autêntica e, tal como a afecção
inautêntica, ela funda-se principalmente no passado. Em A discursiviclade (die Rede) é a capacidade de elaborar
resllrrro, o medo, inautêntico, é temporaltzado pelâs ekstases significações. Ela exprime-se pela linguagem e dá à abertura
inautênticos: o esquecirnento, â presentiflcação, a Espera; a clo aí a sua articulação. A linguagem é um modo de
angústia, autêntica, é temporalizada pelas ekstases expressão que só se torna autêntico na poesia e no silêncio.
autênticos: â repetição, o instante e a antecipação. A temporalidade do falar não é expressamente analisada por
I{eiclegger. Ele limita-se a afirmar que o cliscurso, expri-
mindo-se pela palavra no mundo próximo, funda-se no
C) I TEMP1RI\LIDADE DÁ DECttnnNCt,t presente. Podemos admitir que a temporalidacle do discurso
não tem nada a ver com os modos gramâticais do tempo e
'fal como o porvir é a ekstase dorninante do compre- que não se deve confundir o problema linguístico do tempo
ender, o passado é o da afecção, e o presente é aekstase com o da temporaliclade cla linguagem.
que dá o selr sentido Existencial à decadê,cia. Analisámos Este parágrafo confuso, ou pelo menos complexo,
esta última, examinando a conversa, a curiosidade e o termina coftr uln resumo no qual Heidegger mostrâ corrro

162 163
() tcrrr)() sc temporaliza enr cada um dos
]rxistenci:ris: rr
cornpreensão autêntica temporaliza-se a partir do poralidade que o firndamenta. Ser no mundo é ser tempo-
porvir-,
a afecção a partir do passado e a linguagem a paitir ral. A análise da constituição temporal do ser no mundo
cl,,
presenre. Nenhum ekstase é isorado. 1oão*e ii,,b.i"rr.,., reduz-se, portanto, às questões seguintes: de que forma é
uns nos outros, segundo a ordem de presença rlualquer coisa como o mundo possível? Em que sentido
citada. por
ourras palavras,. a temporalização não significa o mundo..érr? O que transcende o mundo e como? Como
uma
sucessão das ekstases. Em sumâ, <<a temporalidadc pode o ente interior ao mundo e independente estar
tem.poraliza-se ent cada ekstase de mameir.a total, simultaneâmente em estreita dependência com o mundo
o qr* qurr.
dizer qu.e é na unidade ekstática do tumporoliraça'o que o transcende? A interpretação temporal do ser no
a cadrr mundo que constitui objecto deste parágrafo será com-
in-çtante plena da temporaridnde que se
Tuiaa n totaridade do posta da seguinte forma:
todo est,utut'al da existê1tcin, ttafacticirta-cle
e da clecndência, po.r.
outras palaur-os, a nnidade dlt est?.utr.t?.a clo cuiclado>r. a) a temporalidade da preocupação cir-cunspecta;
o
que significa que o tempo não se acrescenta d<r b) o sentido temporâl da preocupação cir-cunspecta;
exterior ao ser do Dasein E,le não é um quadro no c) o problema temporal da transcendência do
qual sc
desenrolam acontecimentos: ele está no cerne mundo.
do ente
como o que, do interior, o temporahza. Mas se
o ente só
o é pela temporalização, então deverá haver uma
relação
entre o ser e o tempo. O ..e» não exprime, portanto, a) A ternpor.alidade da preouEaçã.0 cir,-u.tnspecta, quotidiana
uma
simples justaposição, ou uma relaçãà qualqu..,
ligação fundamental. De facro, ,
_r, .._,
ir"riao ào Ser surgirá O ser do Dasein,já o dissemos, ek-siste, sai de si, para in-
cada vez mais como um questionamento sistir, entrar no mundo e habitá-lo. Sem abrigo, preocupado
sobre o Aberto.
A aberrura define.o.Ser_cámo o que se escapa â si em encontrar com que fabricar um habitat, ele apenas vê o
mesmo,
como ek-srase originário. O Ser, para Heiãegger, que lhe pode servir de utensílio. O seu primeiro contacto
não é:
ele ek-siste. E, por isso que ele é ináap az der. com o mundo que o rodeia surgiu-nos sob a forma dum
ãlirr,rr. p"lo
seu nome e de dizer: <<eLr sou>>. lidar (Um.gang), consistindo em utilizar utensílios. Os
§ó9 A temporalidacle é a força expulsante pela qual o utensílios, entes à-mão, não estão nunca isolados, mâs em
ser se encontra fora de si. o ser ek-siste ek-sàsianáo-.", ligação entre si. A relação do Dasein com os entes é, assim,
,rrr unidade eksttítica da rcmporaliclade,
or.r. seja, a uniclade d, a de estar junto deles de forma preocupada. A preocupação
ser'-fora-de-si-mesmo nas tro por-uir, surgiu-nos como um elemento do cuidado. Ora, o cuidado
fugas" do ser-sido e cro
p,'esente, é a condiçao de possibilidade exigida é fundamentado na temporalidade. Logo, a preocupação
para que unx ente
qtrc existe caTno 0 selt ,raí,, possa se?>>. Ora, vimos deve resultar duma temporalização. Vejamos como.
no início da
analítica que o Dasein é ser-no_mrrrdo. po.t"rrto, Todo o ente susceptível de servir constitui objecto
;;;"__
dum atentar (Gezorirtigen) particular por pârte do Dasein
..l,lclr:rlrlrócs,,
lrara traduzir o alernão Entriickungen (N. R.)
preocupado, na mira de todas as utilizações possíveis.
E clesta forma que o utensílio será tornado presente para

164
165
ser utilizado. Mas esta utilização pressupõe, por seu l:rcl., unr utcnsílio c o consiclero como um ente qrrrrlqucr quc sc
que o Dasein..retenha, aquilo parâ o quê esse utensílio jri encontrâ aí diante de rnim. Podernos dizer clo tnartelo cle
serviu. E certo que tudo isto não se apresenta de maneir-rr que nos servimos: ele é pesado, a sua utilização exige fbrça.
explícita ao Dasein, q*e o esquece na realização das surrs O martelo é, então, corrrpreendido como utensílio. Mas
tarefas. Seja como for, a preocupâção não deixa cle sc podemos dizer igualmente: este martelo pesâ tanto. Neste
temporalizar segundo os três ekstas es: o Dasein atende it caso, não o consiclerâmos mais em função da sua utilização,
utilização a fazer dos entes à-mão como utensíri<ls mas do seu corpo material. A perspectiva é diferente. O
(porvir); ele torna-os presentes tenclo ern vista a st*r procedirnento prático dá lugar âo enunciado teórico, em
utilização (presente); ele conservâ a sua utilização j,Í que o ente é consiclerado enquânto tal. Tal é o método
conquistada (passado). científico, ele consiclerâ o ente do ponto de vista que faz
dele o objecto do seu esnrclo. A temporalidade própria da
ciência é, assim, Lr7Ír <<to'nta?' presente>> que se distingue da
b) Á t,ansforunaçã.0 da p,eocupação ent nctiaidacle cienttfiur preocupação prática, no senticlo em que eltr apenas retém do
e o seu significado temporal ente o que se clá na verdade.

A análise precedente mostrou-nos como a preocupação


se temporaliza. o Dn-çein preocupado percebe os entcs c) O problerila tem.poral dn ty'an.çcendência do mrmdo
como utensílios, como referimos. Mas há uma outrâ forma,
teórica e já não prática, de considerar os entes clo mu,do. Não esqueçâmos que estâmos a analisar a temporali-
Falamos do modo científico. senc{o esra preocupação clu,r dade do ser-no-mundo. Acabámos de ver que a :urilizaçã.o
tipo diferente da analisada até aqui, será necessário concluir. dos entes intramundânos e a sua objectivação científica
que ela deverá fundar-se numâ temporaliclade diferer-rtc? são duas maneiras cle ser no rnundo. Põe-se agora â ques-
Antes de responder a esta questão, interroguemo-nos corn() tão de saber <<clnto qnalquer coisa cl'm0 o mando é
se pode passâr da utilização d,m utensílio à reflexão sobrc ontologicomeTxte pzssíuel ma sua ruticlade cont o Dasein? De t1trc
esse utensílio. Dizer que esta passagem se efectua a partir clo ((sef'
fottnn deae o nttmdo pÍtro qtte o Dasein po-rsa existir cctnto
rnomento em que deixamos cle nos servir dele não ó sev'-no'?ttttndo?r, O t-nundo surge à preocupação prática e à
srrficiente, porque esse ente não se tornará por isso, e ipso objectivação científicâ como exterior. O Dosein encontra-
fucto, em objecto dum saber científico. por outro laclo, ,, -se, assim, ,rfrtce> a si próprio. Mas, por outro lado, ele
trabalho teórico não pode prescindir do aspecro prático, arcí é/está <<n0>> mündo. Como é isso possível?
Irresmo, por exemplo, na utilização dum lápis. Não há teorirr O mundo ftz parte do ser do Dasein Este é o único
sem prática, como não há prática sem teoria. ente capàz de utilizar outros entes e de os conceber. Mas
Onde procurar, e,tão, o que distingue teoria e prática? põe-se â questão de saber como determinar a relação dos
Na maneira de ver, responcle Heidegger, quando eu cleix<r entes intramundanos com e.ste ente: o homem. Para res-
de olhar determinado ente, este martel,o poi exemplo, co,r() ponder a isto, devernos recordar que cada ente apenas o é

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c'l(l.,lr,to pcrtcnccnclo :ro conjunto clos cr-rtcs. os cr-rtcs
aprescntârarn_se_nos como <<pragrnatâ>>, utensílios, do ser'--çido. Ilnrluanto o Dasein se ten4)oralizt, rtnt. rrttmdo ó
e cacllr igltalmente. Teruporalizando-se quanto a0 seu se7-) coTno teTttpo-
utensílio surgiu ligado a um corrrplero de utensílios.
O que é irnportante reter cle tudo isio é que o conjunto, rolidade, o Dasein é essencialmente) coTn base tta constituição
ou o complexo, eue constitui o rn.,ndo, não cleve scl- ekstítico-horizontal desta, "em rtnt mundo". O ntundo nã.0 é
entendido como uma <<soma>r. por outras paiavras, nem -çubsiste?zte) nent à mão, temlloraliza-se no ternpoT.alidade.
o Ele estrí/é rtí corn t fo,a de si das ek-stoses. Se nenhrtm. Daseirr
mundo não se reduz à soma dos entes. O carácter
cle ek-si.rtir', tarnbérn nenhurn rnundo estí/é aí>>.
<<conjunto>> pertence a cada ente.
A cornpreensão do Este presente que ,.irt'ontper,, 1ão é urn instante iso-
ente supera sempre o ente particular. Desta com_
preensão, apenas o Dasein é capaz, porque só lado, mas uma presença transborclante à qual pertencem
o Dasein o passado e o futuro. Heidegger exclui a ideia duma
p9d" superar o ente inte.rogando_r. ,áb.. o seu ser.
Neste superar, ele compr...J. que ele é essencialmente eternidade transcendente dum Ser que seria Deus. A eter-
poder-ser: ..o Dasein existe poo àor.,e r.tm poder._ser nidade, a seus olhos, não supera o tempo, é o tempo que
de si â gera, no sentido em que ele é transbordamento sem fim
próprioo. O que significa que o Dasein erisie
por mor de da presençâ, parâ trás e parâ a frente. Assim, ele pode falar
sr mesmo, ou seja, da sua ipseidade. Mas
està ipseidacle da unidacle ek-stática da temporalidacle, mantendo ao
não deve ser confundida com o ego clo Doseirt
i,ste nao mesmo tempo a distinção clas ek-stases temporais, porque
é uma substância, é uma relação, 'u.m <<ser_em
dit ecção esta unidade é uma unidade em movimento no interior do
Ele dirige-se para o mundo projectanclo_se ,rã1".a>>.
O seu próprio circuito: é a unidade dum ser que ek-siste
mundo é o .rpar-n-rJuê final> nÀ q.rul ele realiza
o seu rumo a si mesmo através do Dasein. O que explica por que
próprio fim.
Tal corno o Dasein, o mundo não é substância. Ele é razã"o, quando a palavra transcendência surge pela pri-
exterioridade e o que exterioriza essâ exterioridade meira vez sob â penâ de Heidegger, é da úanscendência
éa do mundo que se trata. Porque a transcendência escla-
temporalidade. Eis porque o mundo surge .o_o
o rece-se a partir da temporalidade que opera a exterio-
horizonte da tempora,zaÇão. o horizonte é o <rem-critec-
rização: ,rftmdando-se na unidnde borizonttl da tempora-
çao-a-quê da ek-stase>>, o que escapa constantemente e
recua no momento em que se julgava alcançá_lo, lidnde ek-strítica, o ntundo é transcendênciarr. Trata-se duma
tocá_lo. transcendência ..horizontal>r, nâ linha do ternpo, e não
O mundo não é, po.tr.rto, ;r, subsistena", ,r"rn ,rrn
à-mão' Ele temporaliza-se nâ temporaricracre exteriori- vertical, na linha do Ser eterno. Assim, o mundo é trans-
zando-se. O mundo ek-stasiado junta_se, por cendente, porque ele é o horizonte cla temporalidade e é
assim dizer temporalizado pelo Da.çein. É po.qrr" o Da.çein ek-siste, se
pelo irrterior, à exterioridacle do Dasein,.rr]o ,..
ek_siste, temporaliza, qrre ele transcende o rnundo. O mundo é o
porque exteriorizado pela temporalidade: <rassim
como o resultado clesta transcendência.
presente in ompe, na unidade da ternporalização
da teru_ §70-71 Este capítulo rermina com duas considerações
pot'alidade, do po,ui, e do ser-sid.o, assim. tarnbéru
ie ternporariza que constituem o objecto dos dois últimos parágrafos. No
o dutn p.'esente co-originariamente c,m 0s horizontes cro'porvir e
§70, Heidegger levanta a questão de saber em que medida

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a espaci:rliclade do Dasein não seria susceptível de colocar
ern causâ a sua tese, a saber, que a temporalidade é a
essência do ser do Dasein Tal seria o câso, com efeito, se
a espacialidade reivindicasse os mesmos direitos que â tem-
poralidacle. Mas, podemos imaginar perfeitamente a res-
posta de Heidegger. Toda a suâ argumentação consiste
CAPITL]LO CDiCO
em mostrâr que o próprio espaço se fundamenta nâ tempo-
ralidade: ,ré openas com base na temporalidade ek-strítico-hori- TT,MPORÁLIDADE
zontul que é possíael a iruupção do Dasein no esp/tÇo>>. E HISTORULIDADE
No §71, ele sublinha que, até âgorâ, a quotidianeidade
clo Da-çein não obteve ainda o seu fundamento temporal.
Vimos, corn efeito, llue a temporalidacle do ser do Dasein
não deve ser confundida com o tempo de calendário. Mas,
conforme veremos mais tarde, não se deve daí concluir
que este aspecto não pertence à essência do Dasein: ..O facto
de, enquanto o seu tempo passtl, ele mnntet' ern dia o contat' do
"tem.1)0" e de regulav' esse "ctílcttlo" gt'ttços à astronomia e ao
§72 Não esqueçamos qlre o nosso objectivo é verificar
calendrír'io, niio 1)ertertce de ignal modo essencirt.lntente ao em que medida o ser do Dnsein constitui um todo. Mos-
Dasein existente? E apenas se conseguil.mls integrar na nlsstt trando que este é <<ser'-para-o-firn r, âpenas apresentámos
inteT'pretaÇã0 da temporalidade do Dasein o <<prouir>, um elemento de respostâ. Ora, não poclemos considerar
quotidiano, bem corno o contat' co717 o "tem.po" co?71 qlte ele -çe unicamente a morte que é o fim do Dasein E, preciso
p?'eocu.pa nesse proair', que a nossa interpretação -rerrí
consiclerar igualmente o começo, isto é, o nascimento.
sttficientemente ampla, para nos pennitir eleaar o sentido Então, poderemos abarcar com o mesmo olhar todo o
ontolrigico da quotidianeidade como tal à categoria de problema-
espâço interrnédio, <<o encadeamento da aidn, onde ?to en-
Contudo, corno nõo é ontt'n coiso rlue é uisada, sob o título de
tantl o Dasein se ?nantém clnstantemente durna on. dautt'a
quotidioneidade, senão a própria tem,poralidade e como é estn maneira e qlte passut despercebido na attílise do ser-todo>>.
rlue possibilita a se?' do Dasein, a delimitação conceptual snfi-
Não afirmaremos que o encadeamento da vida se compõe
ciemte da quotidianeidade nã.o poder'á r'ealizar'se senão no
duma sequência de vivências, na linha clos quais o Drtseitt
rluudro da ehtcidação futtdamental do senticlo do ser ent geral e
saltitaria de agora em âgora. Porque este tempo não é um
dnç srtrrs p ossía eis modifi cnções.r,
quadro que se trate de preencher com ocupações diversas,
ele é a presençâ transbordante de que frzem parte o
porvir e o passado. O Dasein estende-se entre o nasci-
mento e a morte, não como entre dois pontos do tempo,
em que um não é mais e o outro ainda não é,Inas como a

tn t7t

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