Semarias Medievais Portuguesas
Semarias Medievais Portuguesas
Semarias Medievais Portuguesas
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Autor: Rau, Virgínia
Titulo: Sesmarias medievais
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EDITORIAL PRESENÇA
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SESMARIAS MEDIEVAIS
PORTUGUESAS
SESMARIAS MEDIEVAIS
PORTUGUESAS
Prólogo e adenda documental
por JOSÉ MANUEL GARCIA
EDITORIAL PRESENÇA
(1) Esta obra está integrada na colectânea dos seus Escritos Histó-
ricos, Porto, Porto Editora, 1972, pp. 39-145.
(') Cadernos de Ciências e Técnica Fiscal, Lisboa, 1964.
(3) Lisboa, Edições Cosmos, 3.ª edição, 1978 (l.ª ed., 1962).
(4) Encontra-se publicada na recolha dos seus Estudos de História
Medieval e Outros, Lisboa, Faculdade de Letras de Lisboa / História
Crítica. 1981, pp. 5-95.
(") Lisboa, 1974.
6
( ) Publicado nas actas do colóquio sobre o Papel das Áreas Regio-
nais na Formação Histórica de Portugal, Lisboa, Academia Portuguesa da
História, 1975, pp. 185-239.
(7) Sobre as suas investigações e as de outros autores veja-se o vasto
panorama que nos apresenta em «Ideário para uma História Económica
de Portugal na Idade Média», in Ensaios de História Medieval, Lisboa,
Editorial Vega, 2.• edição, 1979 (l.ª ed., 1965), pp. 17-50.
(") Veja-se a ob. cit. na nota 4, especialmente pp. 167-176 e pp. 211-
-230.
(9) Consulte-se a vasta bibliografia desta autora que apresentamos
na Introdução à 2." edição das Feiras Medievais Portuguesas, subsídios
para o seu estudo, Lisboa, Editorial Presença, 1982, pp. 18-29.
10
( ) Vols. I a IX, Lisboa, Portugália Editora, 1964-1970; vol. X,
Porto, Limiar, 1975; vol. XI, Lisboa, Editorial Caminho, 1980.
11
( ) Lisboa, Seara Nova, 1970. .
(") Volume II, Lisboa, Editorial Caminho, 1982. Ê uma síntese das
obras anteriores.
8
tos que merecem novos debates e um melhor tratamento, ainda
que haja investigadores que possam pôr justamente em causa
algumas das suas observações.
Assinale-se ainda a obra de Mário Júlio Costa, Raízes do
Censo Consignativo-Para a História do Crédito Medieval Por-
tuguês, Coimbra, Atlântida, 1961, apesar do seu cunho jurídico.
*
* *
No presente livro, Virgínia Rau começa por nos introduzir
no ambiente concreto da «reconquista», das presúrias, das distri-
buições de terras, do vocabulário utilizado e do seu significado
em relação às primeiras sesmarias, sendo de destacar uma das
suas reflexões que nos parece representar um pensamento estru-
turalmente subjacente nas atitudes da colectividade e que sinte-
tizou desta forma: «Em Portugal, nunca se perderia a primitiva
lembrança da aquisição de direitos sobre a terra mediante o cul-
tivo, e será transmitida de século em século através das sesmarias»
(pág. 39).
Na parte central do trabalho (capítulo V) aborda de uma
forma sintética a tão complexa crise do século XIV, em páginas
que se podem considerar das mais perspicazes que foram escritas
sobre o assunto. Depois de analisar a «lei das sesmarias», vai
então verificar os numerosos problemas resultantes da sua apli-
cação e das alterações que foi sofrendo até aos finais do reinado
de D. Afonso V.
O melhor estudo sobre a «lei das sesmarias» até agora reali-
zado é o que aqui nos apresenta Virgínia Rau (13 ). Apesar deste
facto, o documento continua a colocar algumas delicadas questões
que ainda não foram esclarecidas devidamente e que passam
nomeadamente pelo apuramento da data, local e circunstâncias
em que foi redigido, podendo ainda ser reanalisada a sua orgânica.
*
* *
A «lei das sesmarias» foi um dos poucos documentos com
carácter económico e social que sempre mereceu lugar de desta~
9
que nas principais cromcas respeitantes ao reinado de D. Fer-
nando, escritas desde o século XV até ao século XVIII.
Três autores se debruçaram sobre ela - Fernão Lopes, Duarte
Nunes de Leão e Frei Manuel dos Santos.
Fernão Lopes apresenta-a no capítulo LXXXIX da Crónica
do Rei Dom Fernando (1 4), obra escrita provavelmente entre 1436
e 1443. ·
Duarte Nunes de Leão resume-a na Crónica del Rei Dom
Fernando integrada na Primeira Parte das Crónicas dos Reis de
Portugal (15 ) publicada em Lisboa, em 1600.
Frei Manuel dos Santos expõe também uma versão sua na
VIII parte, livro XXII, cap. XIX, da M anarquia, Lusitana (16 ),
publicada em Lisboa em 1727..
Observemos como cada um dos referidos autores apresenta
a sua versão da lei:
Fernão Lopes: «Ainda que elRei visse em esta sazom, que o
reino tijnha muijtos aazos de seer mingoado de matijmentos, e
doutras cousas necessarias, por o que dito avemos, pero tam estra-
nho lhe pareçeo sua mingua, em respeito da avondança que em el
sohia daver, que com aficado deseio começou de cuidar, como
e per que maneira tal mingua de mantjimentos podia seer reco-
brada e mais nom poder vijnr tal desfallecimento; e posto que lhe
tal cousa pareçesse muijto comvinhavel, e de todo em todo deter-
minasse de a poer em obra, pero per que maneira, esto poderia
vijnr a bom fim~ emtendeo que lhe compria tomar comsselho;
e por que era cousa que perteeçia a todo o reino, fez chamar
condes, e prellados, e meestres, e outros fidallgos, e cidadaaons
de sua terra: E feito huum dia jumtamento de todos, pera ouvijr
por que eram chamados, propos huum por sua parte dizemdo:
«Que antre todallas obras da polliçia e regimento do mundo ... »
Duarte Nunes de Leão: (Título lateral) Leis Dei Rei Dom
Fernando mui utiles, insertas nas ordenações. «Fez el Rei Dom
Fernando muitas leis proueitosas, de que. algumas vão insertas nos
cinquo liuros das ordenações, de que são estas: § Do fidalgo, ou
clerigo que compra para vender. § Que as Igrejas, ou ordees não
comprem bees de raiz sem licença dei Rei. § Das Sesmarias. § Que
ninguem possa fazer coutadas senão el Rei. § Dos mercadores
estrangeiros como hão de vender & comprar suas mercadorias.
E alem destas, muitas pragmaticas sobre a agricultura & ordem
de laurar os campos, sobre as apurações de gente para a guerra,
pp. 134-136.
(1 6 ) Na única edição existente, pp. 134-136.
10
sobre a nauegação, sobre os vadios & ociosos; de que porei algüas,
que oje se houuerão com razão de tomar auiuentar, & guardar.
(Título lateral) Leis dei Rei Dom Fernando mui utiles sobre
agricultura.
Vendo que nos tempos passados este reino era hum dos mais
auondosos de Hespanha 1 de trigo, ceuada, & mantimentos, & por
falta de ordem, & policia 1 era polo contrario no seu tempo, em
cortes, que para isso ajuntou, fez algüas leis mui vtiles aa repu-
blica, & aaquelles tempos mui necessarias. Primeiramente mandou,
que todos os que tiuessem herdades ... »
Frei Manuel dos Santos: «Sobre o outro artigo das cortes, que
tocava na falta e carestia do pão, desejando ElRei dar remedio
aos danos futuros; e sendo informado que procedia a falta, não
tanto das suas doações de terras, e reguengos da Coroa, quanto
de não se cultivarem por todo o Reino muitas, que a ociosidade,
e menos applicação dos paisanos tomava em mato 1 fez, e publicou
huma Ley, a que podemos chamar Agrária; a qual se vê no Archivo
da Camera de Lisboa em hum livro antigo, que tem Cartas, e pro-
visões dos Reis, foi. 50. He tambem em Cortes, e na Villa de San-
tarem aos 26. do mez de Junho, Era de Cesar 1413, a summa della
vem a ser. «Que todos, que tivessem herdades ... »
As versões dos três autores não coincidem. Fernão Lopes
parece ter glosado a lei, cortando-lhe certas passagens como se
estivesse a ser apresentada em Cortes e conclui com o seguinte
comentário: «Estas e outras cousas, por se manteer esta horde-
namça, mandava elRei assi guardar, que nenhum era assi ousado
passar seu mandado: per cujo aazo a terra começou a seer muj
aproveitada, e crecer em avondamça de mantjmentos.»
Duarte Nunes de Leão, depois da sua apresentação, vai se-
guindo de perto o texto do autor anterior, ainda que devesse
acompanhar essa leitura pela das Ordenaçôes.. Não transcreve a
última parte da lei referente à criação dos gados e conclui glo-
sando Fernão Lopes: «Isto mandou guardar de maneira que em
pouco tempo se sentio grande auondança de mantimentos, & as
terras se aproueitarem & não hauer tantos maos feitos, como se
fazem onde ha homees ociosos.»
Frei Manuel dos Santos também não inclui a disposição rela-
tiva aos gados, pois, após escrever sobre a alínea referente às
trezentas libras, termina: «Atéqui a Ley Agraria.» Este autor,
que ao contrário do que se tem observado (17 ) não se limita a
copiar Fernão Lopes ou Duarte Nunes de Leão, embora o faça
muitas vezes, é infelizmente confuso e apresenta erros conside-
17
( ) Veja-se por exemplo a obra de Joaquim Veríssimo Serrão, His-
toriografia Portuguesa, volume III, Lisboa, Editorial Verbo, 1974, pp. 97-98.
12
Nos outros cronistas que aludiram à lei, as referências são
muito vagas. Cristóvão Rodrigues Acenheiro (1 9 ) apenas assinala
no reinado de D. Fernando, depois de registar construções de
muralhas, que: «Constrangeu as gentes do reino que lavrassem
as suas terras ou as perdessem.»
Manuel Faria e Sousa (2°) apenas diz que: «Deu leis provei-
tosas para o governo, à imitação de seus claríssimos progeni-
tores.»
Como se pôde observar, em nenhum destes autores se refere
uma «lei das sesmarias» e~ ainda que Duarte Nunes de Leão
refira de passagem entre as várias leis a «das sesmarias», não lhe
dá essa designação quando especialmente a trata. Manuel dos
Santos prefere chamar-lhe Lei AgráriGJ. A verdade é que a lei
assim passou a ser tratada, por o conjunto de disposições jurídicas
sobre a agricultura~ tomadas por Dom Fernando, ser reunido
nas Ordenações Afonsinas (21-), cap. LXXXI com o título «Das
Sesmarias»; aqui se escrevia após o referido título: «ElRei Dom
Fernando, de louvada e esclarecida memória em seu tempo fez
em esta forma que se segue» (depois do que vem: «I. Dom Fer-
nando pela graça de DEOS ... »). .
.. Como bem o notou Marcello Caetano (22), «a designação em
que ficou na história é imprópria, pois a entrega das terras em
sesmaria é apenas um pormenor no conjunto das disposições de
uma lei agrária de amplas ambições».
Desde os finais do século XVIII, mais concretamente desde a
anónima Memória para a. História da Agricultura em Portugal
(1792), que a «lei das sesmarias» tem suscitado um vivo interesse
por parte de inúmeros estudiosos que sobre ela teceram mais ou
menos rápidas considerações críticas ou glosagens. Com o trabalho
de Virgínia Rau, se não se pode dizer que o assunto ficou encer-
rado, deve-se no entanto considerar que ele adquiriu uma base
científica que, praticamente com a excepção das considerações
de Gama Barros, ainda não tinha atingido.
13
Que pensar hoje deste extenso e minucioso documento? Ele
reflecte-nos um complexo panorama de Portugal nos inícios do
último quartel do século XIV atravessando uma conjuntura eco-
nómica marcada por graves depressões e uma sociedade em vivo
conflito.
A principal força política que o motiva parece ser a da classe
média ligada às áreas rurais, constituída pelos homens bons e
cidadãos dos concelhos, que agem junto do rei no sentido de lhes
satisfazer as suas necessidades económicas em detrimento dos
trabalhadores por salário ou dos incapazes de promover a agri-
cultura.
A estruturação e formação do conjunto das medidas tomadas
denota um trabalho jurídico cuidado, por parte de legistas que tive-
ram um considerável esforço para alcançar a sistematização pos-
sível das decisões e ideias que, desde a lei de 3 de Julho de 1349,
vinham sendo efectuadas de forma mais ou menos desconexa e com
uma eficácia geralmente reduzida.
Observa-se aqui um elemento de grande interesse quanto à
fundamentação teórica desta «ordenação», que até agora ainda
não fora assinalada na história do pensamento económico portu-
guês. Na verdade, ela representa com clareza a formação esco-
lástica do ou dos responsáveis pela sua redacção, pois evidencia
a influência aristotélica logo no preâmbulo justificativo da lei, o
qual não consta das Ordenações Afonsinas.
A noção de que a famosa lei foi deliberada em cortes, pode-se
considerar ponto assente, quer pelas referências expressas no pró-
prio texto e em Fernão Lopes, quer pela indicação explícita de
Duarte Nunes de Leão e de Frei Manuel dos Santos, aceite por
Manuel Coelho da Rocha (23), Gama Barros (24), Virgínia Rau (25),
etc., havendo ~ única excepção mal fundamentada de João Pe-
dro Ribeiro (26). Tendo em conta esta realidade, há, no entanto,
que tentar concretizar quando e onde se teria realizado tal reunião.
Como já referimos, dos autores anteriores só Frei Manuel
dos Santos indicou a vila de Santarém, ainda que tivesse dado
uma data errada - 26 do mês de Junho.
João Pedro Ribeiro levantou alguns problemas às observa-
ções de M. dos Santos em virtude de este ser pouco claro, mas,
ainda que corrigisse alguns erros, cometeu outros 1 aumentando
a XV, Lisboa, Sá da Costa Editora, tomo VIII, 2.ª edição, 1950, p. 317.
20
( ) Na presente obra, p. 89.
(..) Dissertações Chronológicas e Críticas ... , vol. V, Lisboa, 1836,
pp. 119-120.
14
ainda mais a nebulosidade deste assunto. Num jwzo crítico sobre
a VIII parte da Monarquia Lusitana. que inseriu nas Dissertações
Chronológicas e Críticas ... (27 ) diz que a lei não é de 26 de Junho
mas de 28 de Maio, reportando-se ao documento A.N.T.T., Maço 1
de suplemento de Cortes, número 8 (que veio de Santarém), o que
é engano, pois o documento, onde está a lei1 encontra-se no
Maço I, de leis, n.º 137, onde na realidade a data é de 26 de Maio.
Este lapso é estranho pois ele datara bem a lei quer nas Memórias
sobre as Fontes do Código Philippino, quer nos Additamentos e
retoques à Synopse Chronológico. O que é certo é que aquele erro
passou para Gama Barros e outros autores que se referiram ao
assunto, incluindo Virgínia Rau (p. 90). Rebelo da Silva (28) tam-
bém a errara ao seguir M. dos Santos, datando-a de 16 de Junho
de 1376 (sic). Sobre a data veja-se a fig. 2.
Para lá destas confusões, não há dúvida que é difícil apurar
a realidade dos factos, tanto mais que as nossas cortes medievais
e as do Antigo Regime continuam a carecer de um estudo com-
pleto e problematizado, acompanhado da edição integral dos im-
portantíssimos manuscritos existentes. Na verdade, até agora, ape-
nas se assinalaram estudos circunscritos, pequenas sínteses, inven-
tários e edições parcelares. -
Dos diversos historiadores que as trataram, julgo que aquele
que deu uma perspectiva mais acertada do presente problema foi
Alfredo Pimenta, nas suas páginas sobre Cortes Medievais em
Portugal (29). Apesar de nem sempre as suas observações serem
muito aceitáveis, neste caso terá correctamente admitido a existên-
cia das cortes de Santarém em 1375. Baseando-se nos textos das
Ordenações Afonsinas e no documento da Câmara de Coimbra,
este datado de 1 de Junho de 1375 mas onde, segundo informa,
no capítulo IX contém a data da publicação do diploma: «em
Santarém na alpendrada do mosteiro de Sam Domingos aos 26 de
Maio da era de 1413», conclui em seguida que: «Como é de
supor que não houvesse distância entre a sua redacção e a sua
publicação, podemos dar-lhe a data de 26 de Maio de 1375; e
nada se opõe a que as Cortes de que a lei saiu se tivessem reu-
nido em Santarém» (3<>).
Esta hipótese é tanto mais verosímil quanto, segundo o itine-
rário de D. Fernando (31) (ainda que contenha alguns elementos
*
* *
Alguns anos depois da publicação das Sesmarias Medievais
Portuguesas, Virgínia Rau viria ainda a demonstrar a continua-
ção do seu interesse por alguns dos temas tratados, ao publicar
dois estudos: «Presúrias e sesmos no povoamento de Portugal até
ao século XIII» {33 ) e «Un document portugais sur la peste noire
de 1348» (34). No primeiro, resume os capítulos iniciais da pre-
sente obra, precisando a definição dos sesmos: «Lotes cada um
deles correspondente( ... ) em designação, aos seis dias da semana»
pertencendo ao território do concelho e sendo «destinados a fixar
e a prover cada povoador com uma quota~parte da propriedade
territorial». Publica ainda um esclarecedor documento inédito de
1336 pertencente ao concelho de Manteigas. O outro estudo sobre
a Peste Negra centra-se na apresentação de um precioso testemu-
nho sobre a catástrofe, que está contida no prefácio das Consti-
tuições de S. Pedro de Almedina, obra reencontrada pela autora.
Ainda sobre o tema anterior participou na orientação de um
trabalho de conjunto como directora do Centro de Estudos Histó-
ricos do Instituto de Alta Cultura anexo à Faculdade de Lisboa.,
durante parte dos anos de 1957 e 1958. Os resultados das pesqui-
sas foram publicados com o título: «Para o Estudo da Peste Negra
em Portugal» (35).
Um tema complementar das sesmarias medievais e em ligação
com a expansão portuguesa no início do século XVII foi ainda
tratado por Virgínia Rau num trabalho apresentado em 1944,
pp. 331-334. .
(") ln Bracara Augusta, XVIII-XIX, Tomo III, 1965, pp. 210-239..
16
como refere na nota da pág. 26, e publicado com o título: «Uma
tentativa de colonização da Serra Leoa no século XVII» (3 6).
De outros estudos que trataram das Sesmarias é de referir
um que é contemporâneo do de Virgínia Rau e concerne uma
área de expansão do século XV (os Açores), de autoria de Luís
da Silva Ribeiro, «Influência das Sesmarias no povoamento da
Terceira» (37 ).
Março de 1892
José Manuel Garcia
17
À MEMÓRIA DE MEU PAI
A MINHA MÃE
21
ventura, dons que me não sobejam. No entanto, percorri quase
página por página todos os livros das chancelarias reais até
D. Afonso V, servindo-me para os documentos deste reinado do
índice respectivo, devido à impossibilidade de passar um por um
os documentos inseridos nos trinta e aito livros que constituem
al chancelaria desse monarca. Idêntico trabalho foi feito para
documentos das principais ordens religiosas, bem como para a
Leitura Nova. Igual cuidado me mereceu a colecção da$ Gavetas,
servindo-me o índice como f anal bruxoleante de assuntos e de
datas, mas mais por intuição do que por indicações explícitas.
A bibliografia que me foi dado consultar é pouco vasta porque
escasseiam em Portugal e em Espanha trabmhos referentes à his-
tória rural da Meia Idade. Pelo que respeita à Inglaterra e à
França as dificuldades que ainda pesam sobre a Europa impedi-
ram-me a obtenção da maioria dos estudos publicados que, infe-
lit:mente, não figuram nos catálogos das bibliotecas públicas
nacionais.
De tudo quanto fica dito resultam bem nítidas as limitações
do estudo efectuado, mas, servindo-me das palavras de Marc
Bloch: «Le jour ou des études plus approfondies auront rendu
mon essai tout à fait caduc, si je piàs croire qu'en opposant à
la vérité historique des conjectures fausses je l'ai aidée à prendre
conscience d'elle-même, je m'estimerai pleinement payé de mes
peines.»
Para elaborar o meu traba1ho ampararam-me os valiosos con-
selhos e ajuda inestimável de Mestres e Amigos, entre os quais
me é grato recordar os Profs. Drs. Luís de ValdeiWellano, Paulo
Merea, João M. da Silva Marques e Orlando Ribeiro. A Maria
de Barros e Sá Mendes Leal e Maria Antonieta Pessanha Santos
devo auxílio constante na revisão da leitura dos documentos e na
preparação do original para a imprensa. Com o meu sincero
reconhecimento, a todos agradeço.
Lisboa, 31 de Dezembro de 1945.
22
INTRODUÇÃO
24
modernos, apénas a um «effeito da respectuosa impressão que em
nós costumão fazer as antigas instituições patrias, e os costumes
dos nossso maiores», como perguntou Aragão Morato? (1-) O des-
dém será filho de concepções políticas e sociais?
Quanto a mim, a instabilidade de critérios resulta da incom-
preensão do verdadeiro conteúdo histórico e valor da Lei das
Sesmarias, bem como dos seus antecedentes; portanto, de uma
errónea visão das condições sociais, económicas e agrárias que
levaram à plasmação duma determinada norma jurídica no rei-
nado de D. Fernando. Afigura-se-me que quase todas as afir-
mações deslocaram o problema, porque nortearam a investigação
exclusivamente no domínio jurídico, desprezaram o estudo das
suas raízes profundas1 que mergulham no seio da gleba nacional,
e menosprezaram todo o passado sem cuidar que, nos meados do
século XIV, já a agricultura se praticava regularmente há milhares
de anos. Os estudos e as conclusões formuladas foram feitos sobre
uma lei definida e articulada sem se atender ao processo de ges-
tação que a antecedeu. Infunde respeito e admiração aos histo-
riadores e juristas a estrutura do diploma promulgado por D. Fer-
nando, mas essa perfeição relativa não os pôs de sobreaviso, nem
lhes demonstrou que só uma série de experiências anteriores
poderia ter levado a essa medida de fomento agrícola. Tão-pouco
lhes ocorreu relacionar as disposições aí exaradas com outros sis-
temas tendentes a prover ao cultivo das terras ermas - como o
das presúrias seguido em toda a Península durante a Recon-
quista; ou com a Peste Negra que, rarefazendo a população
da Europa inteira, deixou as aldeias e os campos meio desertos
e fez ascender vertiginosamente o valor do trabalho humano; ou
com o fenómeno social do êxodo dos trabalhadores rurais para os
centros urbanos; ou, ainda, com a luta que, no espaço e no tempo,
se travou entre a agricultura e o pastoreio.
Igualmente a análise dos resultados ulteriores obtidos pela
promulgação da Lei das Sesmarias, é prejudicada pela falta de
inteligibilidade que resulta do desconhecimento da sua verdadeira
evolução e significado histórico.
As queixas formuladas em cortes por vários concelhos,
durante os séculos XIV e XV, reflectem mais a reacção provo-
cada pela sua viciosa execução, ou pelas prepotências daqueles a
quem competia executá-la, do que resulta contra a norma em si
mesma, contra o que ela determinava; tão-pouco conhecemos
capítulos alguns gerais, ou especiais, que nos permitam ajuizar
concretamente da sua ineficácia (2). Pelo contrário, nas cortes de
(1) Memoria sobre a lei das Sesmarias, em Hist. e Mem. da Acad.
R. das Ses. de Lisboa, VIII, p. 1, pâg. 223.
(2) Facto notado e sublinhado por Gama Barros, em Hist. da Adm.
Publ., Illf, pâgs. 707-708.
25
Coimbra, começadas em 1394, o concelho de Santarém apresentou
capítulos especiais, pedindo que a lei fosse aplicada em todo o
seu território (1) e, mais de cinquenta anos depois, nas cortes de
Lisboa de 1459, o concelho de Silves pediu a D. Afonso V auto-
rização para dar «de sesmarias» os bens arruinados que jaziam
no seu termo f). Da mesma forma, o concelho de Pinhel tinha
alcançado licença de D. João 1 para dar de sesmarias os pardieiros,
cortinhais e terras que não eram aproveitados, tanto na vila como
no termo (3).
Aduziram-se argumentos colhidos no estado da agricultura
nacional, para demonstrar que a panaceia não surtiu efeito e que
o défice cerealífero se mantivera. De nada serviu o preceito legal
para aumentar a cutivação frumentária mediante o aproveita-
mento de terrenos estéreis, nem tão-pouco ele agiu sobre o nível
dos preços e sobre a escassez de braços para a agricultura.
Não obstante, estes resultados negativos que os homens de
quatrocentos devem também ter conhecido, quando da expan-
são ultramarina, saiu do pequeno solar lusitano para se espraiar
avassaladora por terras de África e do Brasil (4).
A antinomia é flagrante e não passa despercebida a quem
meditar um pouco tal problema. Ressalta que os juristas e histo-
riadores fixaram somente um ponto dado de uma curva evolutiva,
o momento em que numa socjedade «em movimento» se alteram
e surgem estatutos tendentes a opor-se às transformações sociais
e económicas e em que alguns antigos usos são aproveitados para
enfrentar novos problemas. Compete-nos, hoje, ir mais longe,
procurar compreender o que foram as sesmarias e qual a sua
importância na vida económica e social de Portugal.
26
1
28
ef~ctivo, e os baldios, cabiam ao soberano por direito de con-
qmsta (1 ). «El rey jurídicaniente era el nuevo duefi.o por titulo
º!iginario, el sefior de derecho em nombre dei Estado.» (2) Toda-
via, Jogo uma parte dessa~ áreas era alienada para recompensar
serviços prestados por validos e homens de armas ou confiada
à actividade desbravadora de algum magnate eclesiástico, ou dei-
xada à exploração de súbditos não-nobres.
As dificuldades de defesa e de cultivo dos novos territórios
adquiridos, fazia com que os reis, sem intervenção prévia, deixas-
sem passar muitos bens para as mãos dos particulares, «quienes
por su propio interés defenderán o ayudarán, al menos, a defen-
derlos del enemigo exterior, y en todo caso harán que poco a
poco vayan aquellas tierras transformándose, de yermas y desér-
ticas en pobladas y productivas» (3).
Portanto, a Reconquista acarretou um movimento de coloni-
zação intenso no qual se integra a presúria, ocupação das terras
sem dono, das terras que por conquista tinham passado a fazer
parte da propriedade real (4).
. É de aceitar a opinião de Inácio de la Concha Martinez que
distingue uma primeira fase na ocupação das terras, em que
quase não intervem a autoridade real, e outra, em que se mani-
festa uma política de maior interferência da parte do rei, por
meio dos seus funcionários, na repartição e concessão dos terrenos
abandonados. Esta segunda fase é devida à progressiva estabili-
zação militar e populacional das novas províncias, que permite
ao soberano preocupar-se e intervir na sua normalização, bem
como procurar torná-las prósperas e eficientes económica e mili-
tarmente. Ele próprio escreveu em relação ao ocidente da Penín-
sula: «Es como resultado de las campafias de los reyes astur-
-leoneses primem, y castellanos después, cuando en los territorios
occidentales, bajo la dirección de los funcionarias reales, van
realizándose tales "presuras" por lós particulares, que ante la
29
facilidad de alcanzar ventajas materiales acuden así a facilitar el
cumplimiento de las aspiraciones de los monarcas.» (1)
Mas, como as presúrias dos séculos IX e X foram feitas, em
grande parte, por homens livres - ou que durante emigrações
agitadas se tinham liberto de antigas peias sociais - que não pos-
suíam «capital bastante, em servos, gado e utensílios de lavoura
para ocupar grandes extensões» (2), a ocupação teve _como ,c~n
sequência a formação de pequenas, ou, quando muito, medias
propriedades (3). Contudo, com o decorrer do tempo, essa massa
de pequenos proprietários, antigos presores, foi-se esfarelando pe-
rante a força e ambição dos poderosos. «Quizá haya que diferen-
ciar una mayor o menor intensidad en las diversas zonas de la
Reconquista, pero téngase en ~uenta que, aun _aceptan~o ~sa
diferencia, el hecho de la absorc1ón de los pequenos prop1etanos
por los funcionarios reales y por los grandes seííores eclesiásticos
o laicos es una realidad innegable en todos ellos.» (4)
Vejamos o que se passou no território onde nasceu e cresceu
Portugal.
Com solenidade, «cum cornu et albende de rege», que supõe
uma intervenção efectiva do rei, ou apenas com autorização régia,
ou ainda por iniciativa própria, os homens recém-vindos repar-
tiam e ocupavam a terra e sobre ela iam estabelecer o seu direito
de propriedade, garantindo assim o cultivo das terras abandona-
das mediante a reconstituição de núcleos de repovoamento (5). Foi
o que se deu no território bracarense com a acção do bispo Odoá-
rio, no século VIII e, posteriormente, na nona centúria, com a
do presor Vimara Peres em Portugale (6 ); no território conim-
30
brigense constitui exemplo flagrante a actividade dos presares da
Reconquista e o repovoamento do conde Sesnando (1).
Bem que possamos tomar o sentido do termo «autorização
régia» mais no de «intervenção», é incontestável que o poder real
intervinha muitas vezes para reconhecer as presúrias tomadas
tanto no território astur-leonês como na Catalunha; em Portugal
também o comprovam os documentos. No diploma, de 30 de Abril
de 870, em que a propósito da igreja de St.ª Eulália fundada na
vila «sonosello», Cartemiro e sua mulher afirmam: «Contesta-
mus ad ipsa eclesia illa hereditate per suis terminis que habuimus
de presuria que preserunt nostros priores cum cornu et cum alu-
ende de rege.» (2) Outras vezes~ as presúrias eram feitas sem algu-
ma intervenção régia, como o demostra um trecho duma carta
de 1045, inserta no célebre Livro de D. Mumadona: «Post hanc
causam uenit ordonio ranemiriz et sua mulier domna Geluira ad
multis temporibus in portugale et pressit ipsa villa per potencia
et sine ullo recabito.» (3) Caso que não deve ter sido único no
tumultuar da reconquista (4).
Mas, quando o soberano intervinha, fazia-o por intermédio
dos condes e de dignitários eclesiásticos, como se vê da dotação
feita em 870, da igreja de S. Miguel de Negrelos, no território
de Braga, em que os fundadores declaram: «edificauimus istius
domum in nostra villa que presimus cum comam et albende Ade-
fonsus principem et comite lucidii vimarani» (5 ). E também da
carta de composição entre os bispos de Coimbra e de Iria, datada
de 11 de Janeiro de 906, que contém: «... uilla uocabulo sancta
eulalia que seita est in silua scura in território brakalensis sedis
ubi dicent aquas sanctas quot prehendiderunt homines domni
nausti episcopi. .. » (~). O mesmo se conclui da «scriptura agnitio-
nes», de 1027, referente ao território bracarense, em que se regis-
tou: «exierunt meos auios pro ingenuos de oueto adprendendum
uillas sub gratia de rex domno adefonso maior et con corno de
('') Ruy de Azevedo, em Hist. da Expansão, I, pág. 27. Cf., do
mesmo autor, O mosteiro de Lorvão na reconquista cristã, sep. do Arq.
Hist. de Portugal, págs. 25 e segs. A este respeito, alguns does. interes-
santes em: Leitura Nova de. Sta. Cruz de Coimbra, liv. 3, fl. 161; Col.
Esp., Cabido da Sé de Coimbra, e. 20, m. 1, does. 40 e 49. Sobre presúrias
no território português, ver também: Gonzaga de Azevedo, Hist. de Port.,
II, págs. 88 e segs.
(') P. M. H., Dipl. et Chart., págs. 4-5.
{3) P. M. H, Dipl. et Chart., pág. 207. Sobre o vocábulo «recabito»,
ver: P. Merêa, Novos Estudos de História do Direito, págs. 75 e segs.
(') A propósito das presúrias efectuadas por iniciativa própria dos
presores, sem qualquer intervenção régia, ver: I. de la Concha Martinez,
La Presura, em AHDE, XIV, págs. 397 e segs. e 417; Gama Barros, Hist.
da Adm. Publ., II, págs. 11-13.
(") P. M. H., Dipl. et Chart., pág. 3.
(") P. M. H., Dipl. et Chart., págs. 8-9.
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ad partem occidentalis mea terra que habeo in illo campo de
apresuria ... » (1-). Concordo com I. de la Concha pelo que diz res-
peito à imprecisão da área inicial que podia ser abarcada pela
presúria, e aceito plenamente a sua hipótese de que era o próprio
presor o primeiro interessado em delimitar a terra, que assim
adquiria, a fim de garantir os seus direitos contra qualquer pos-
sível usurpação. Dois documentos portugueses são bem elucida-
tivos, um é a doação de vila «Porcas» feita por Álvaro Pires e
seu irmão Moniu Pires ao mosteiro de Paço de Sousa, em 1105 -
«... per suis locis et terminis nouissimis et antiquis he sunt que
fuerunt ab antiquis pressoribus determinatas ... » -; o outro, de
1109, é uma determinação judicial do limite comum das vilas de
Porcas e Travaços em que se contém: «... per ipsas diuisiones
antiquas que fuerunt ab antiquis pressoribus determinatas ... » (2).
E, assim, sou levada a afirmar, com um mínimo coeficiente
de erro, que todas as presúrias foram delimitadas; atestam-no
documentos respeitantes a transacções sobre propriedades, pois
quantos nos indicam explicitamente os confins do prédio, as suas
confrontações(3 ). Nalguns casos, o presor marcara com o arado
o perímetro do solo de que se apropriara e simbolicamente garan-
tira a posse pela ocupação que, na gleba, se traduz pelo cultivo (4);
noutros~ possivelmente, serviram os antigos limites. O nobre e o
prelado, a ordem militar e o mosteiro, rapidamente isolaram o
que lhes pertenciam com marcos e padrões que, quase em seguida,
serviram para marcar o limite jurídico e social da terra imune (5 ).
De tudo quanto sabemos sobre as ocupações por presúria
no território português, a partir do século X, ressalta que «o prin-
cípio geral era ficar ao ocupante e aos seus descendentes o domí-
nio do prédio» (6 ). Tal se depreende da carta de agnição da igreja
de S. Cristóvão e de S. Salvador de Gandarela, datada de 1038,
em que se registou o seguinte: «uenerunt suos bisauolos de gon-
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demarus suariz ad presuria et ad populandum terram per iussione
domini Adefonsi pricipis, et in ipsa presuria edificauerunt ibidem
ecclesias... et f ecerunt firmitatis et testamentos et obtinuerunt
illas in iuri eorum pacatas et post hec filii eorum et exinde neptis
et bisneptis usque nunc tempus et sine alios heredes, et non ex-
pectauerunt isti nominati desuper discutionem iudicii et presum-
pserunt de nastro iure manibus ipsas ecclesias et homines et ga-
nato sicut in noticias resonat et ad nostra lex presentaremus» (1-).
Na pendência entre o Mosteiro de Lorvão e os presbíteros Ero
e Froila, em 1086, estes últimos defenderam a propriedade da
igreja de Santa Eulália, situada no território da Sé de Viseu, e
que lhes disputava o mosteiro, dizendo: «comodo fabricarunt
ea ad appresuria pro illorum ereditate sicut et alios homines in
ilia terra» f). Nesta colisão, sobremaneira interessante, entre o
direito que resultava da presúria e o direito pré-existente, pois
provara-se no litígio que a igreja pertencera anteriormente ao
cenóbio de Sperandei, compuseram-se os contentores no tribunal
de Coimbra, ficando os presbíteros com a posse vitalícia da igreja
pagando o censo anual de «quatuor lenzos lineos» ao mosteiro
e para este reverteria a igreja depois da morte dos dois irmãos.
Em 1106, outros irmãos, também presbíteros, doaram à Sé de
Coimbra a igreja de Ribafeita, concelho de S. Pedro do Sul, «eccle-
sia nostra quam penitus una cum matre nostra Ledegundia no-
mine a fundamentis restaurauimus de appressuria de hereditario
iure» (3). Outro exemplo ainda (4 ), em Fevereiro de 1169, Maria
Soares, mulher de Pelagio de Sandia, com seus três filhos, vendeu
ao mosteiro de Santa Cruz de Coimbra «Una nostra hereditate
propria quam habuimos in territorio Colimbrie et apprehendímus
ín tempore de apresuria de fernando capituo ín loco quí dicitur
ladeia ín rabazal» (5 )
Assim, a partir de determinada época, entre nós como em
Leão e na Catalunha, a presúria tornara-se idêntica a qualquer
outra propriedade podendo ser vendida, escambada, herdada ou
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doada (1). Apenas quando colidia com direitos de propriedade
anteriormente adquiridos, é que a posse «jure hereditario» era
disputada ao presor. Não só o pleito entre os irmãos Ero e Froila
e o mosteiro de Lorvão nos permite formular tal hipótese, mas
também o testamento de Salvador Baveka datado de Julho de
1160 (2). O mesmo se verifica noutros pontos da Península; é lícito,
portanto, afirmar-se que a presúria não se podia realizar em
terras onde existissem direitos anteriores (3).
As consequências sociais e económicas da presúria encon-
tram-se bem explícitas na doação de uma herdade, feita em
Novembro de 1213, por Silvestre, monge de «Tomarei», ao mos-
teiro de St.ª Cruz de Coimbra: «Notum sit tam presentibus quam
futuris. quod ego Siluester frater de tomarei profiteor quod in
principio populationis de Aurem. frater meus domnus Gunsaluus
in ipso loco de Tomarei cepit hereditatem. in qua plantauit
uineam. edificauit ecclesiam. et domos. et cetera que humane uite
necessaria uidebanturn (4). Documento que também nos recorda
a curiosa figura de Gonçalo Ermiges, o Traga-Mouros, de que fala
a lenda (5 ).
Mas, da presúria provinha um pleno direito de propriedade,
ou apenas um direito possessório que só com o cultivo efectivo
e permanente ganhava estado e natureza jurídica?
Duas interpretações foram propostas: a tese de Luís Domin-
guez Guilarte defende que, no início, a presúria não criava um
direito real de propriedade e que este só podia surgir com o cultivo
da terra (6); a brilhante argumentação de Inácio de 1a. Concha,
baseada em enorme riqueza documental, demonstra, pelo con-
trário, que na presúria só a ocupação criava tal direito - «Antes
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terra continuar inculta, ou deixar de ser lavrada durante certo
prazo, caía em terra erma e revertia para o soberano que podia
dá-la de novo a quem a cultivasse (1).
A presúria, como sistema de aquisição de terras, só é possível
em épocas e regiões em que as necessidades guerreiras e sociais
tudo permitem ao conquistador; só é possível, digamos, em épocas
de violência e em regiões fronteiriças (2). Fixado o limite territorial
de um Estado, à medida que este se fortalece e organiza, tal pro-
cesso de obtenção de bens imóveis desaparece inelutavelmente (3).
Na primeira pausa da Reconquista, depois de alcançado o rio
Douro, a acção dos presores foi intensa nos territórios nortenhos
e vários documentos, que ainda hoje possuímos, no-la atestam (4 ).
Novo pulsar das armas cristãs para o sul levou a fronteira até à
linha Mondego-Serra da Estrela e, recomeça, nessa faixa, a apro-
priação de terras por cristãos e moçárabes (5 ), enquanto ao norte
do Douro a presúria vai desaparecendo, quiçá por saturação - a
densidade de população e o retalhamento da propriedade terri-
torial tornavam obsoleto o sistema da presúria no Entre-Douro e
Minho e para colonizar a agreste região transmontana o processo
devia resultar ineficaz (6 ).
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O mesmo se verifica consequentemente na Estremadura e no
Alentejo1 já depois de constituída a monarquia portuguesa. Com
o caminhar para as províncias meridionais 1 em face de uma dis-
tribuição peculiar do elemento humano, mais concentrado em
aglomerações de carácter urbano, a presúria vai decaindo e os
reis talham generosamente grandes latifúndios que entregam às
ordens monásticas e militares e aos grandes senhores, e concedem
também extensos alfozes aos concelhos que vão surgindo.
Depois de Portugal se ter separado de Leão e à medida que
as suas fronteiras se dilatavam, «com a acumulação das migrações
e com o desenvolvimento natural da povoação, as presúrias, a
ocupação de porções de solo pelas famílias livres de · condição
inferior, deviam tornar-se cada vez mais difíceis» (1-). Porém, a
ideia da apropriação por presúria ainda subsiste no século XIII
com a sua característica primtiva. Nas Inquirições ordenadas por
D. Afonso III, ao registar-se o inquérito feito no julgado de
Aguiar, paróquia de S. Pedro de Basas, uma das testemunhas,
Petrus Petri, declarou que «Dominus Rex debet habere medieta-
tem de basas cum suo termino et milites (2) debent habere medieta-
tem de presoria» (3 ). Idêntica ideia se contém no depoimento de Pe-
dro Rodrigues, que defendeu, em 1278, um herdamento que seu pai
«apres» em Vila Nova de Alvito, e em que afirmou o seu direito
de propriedade perante Estêvão Anes, chanceler del-rei, dizendo:
«nosso padre Roy periz o apres cum seu arado e eu cum ele por
nosso e em nosso per alí per íj o diuisamos e marcamos ... E o dícto
Seteuã rodríguiz iurou outrossí e iuraram que ambos andaram em
essa presoría e iuraram ambos outrossi por suer rodriguiz que
fora y cum eles e que andara eessa presoría e esse derrega-
mento» (4). Convencido da verdade, o poderoso chanceler entre-
gou ao legítimo proprietário a terra enclavada no seu couto de
Alvito. Na carta de couto dos herdamentos do mosteiro de
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S. João de Tarouca, situados na granja da <<Touça» termo de
«Namam», outorgada por D. Dinis, em 22 de Julho de 1306, ao
tratar das delimitações por padrões certos, consignou-se: «... a
outro padõ alto que esta em essa cabeça decendo pera a pressura
E desse padrõ indo pelos marcos e díuísoes que partem com her-
damento de cima da pressura que foy de Domjngos morgado ... » (1).
São igualmente do século XIII os últimos vestígios de pre-
súrias no território de Portugal, em diversos locais do Alentejo (2).
As que se fizeram depois da · conquista de Serpa, 1232, foram
anuladas subsequentemente pelo concelho de Évora por não
serem equitativos os quinhões «filhados» pelos presares (3). E os
«Costumes de Évora», comunicados a Gravão, quando tratam da
obrigatoriedade do serviço militar, prescrevem: «E dos solteyros
que nos mandastes dicer se lis deron herdamentos na presaria da
terra façam foro tambem coma os cassados se houuerem na
ualia.» (4)
No entanto, em Portugal, nunca se perderia a primitiva lem-
brança da aquisição de direitos sobre a terra mediante o cultivo,
e ela será transmitida de século em século através das sesmarias.
Graças às referências a presúrias e à obrigatoriedade do cultivo
como título de posse, podemos seguir melhor a evolução agrária
portuguesa durante várias centúrias.
Podemos mesmo, tomando em conta os factores naturais,
geográficos e históricos, distinguir uma dupla evolução na colo-
nização do norte e do sul de Portugal, que condiciona a divisão·
da propriedade, a distribuição dos habitantes e o seu estatuto legal.
Enquanto no n·orte do país uma população esparsa de cultivadores
rurais -que se foi mantendo não obstante o desaparecimento de
muitos afundados na miséria ou elevados à riqueza - viu surgir
alguns grandes domínios fragmentários, geograficamente dispersos,
no sul, nos monótonos plainos meridionais, as unidades agrárias
ergueram-se vastas e imponentes, o povoamento e a valorização
do solo acarretaram alterações nos processos até então usados e
a organização social fez-se à sombra emancipadora dos concelhos.
39
Num ponto, a exploração parcelar vinculada à vida econonnca
dos reinos cristãos, essencialmente agrícola, e persistência mais
arreigada dos quadros sociais pré-existentes; no outro, a influência
de uma economia em que o desenvolvimento dos centros urbanos,
durante o domínio mourisco, deixara marcas indeléveis, e o con-
sequente nivelamento social dos habitantes.
40
Il
42
momento em que surge o concelho, mas também lhe atribui um
lugar na hierarquia das magistraturas municipais (1).
Gama Barros (2) discordou da interpretação de Alexandre
Herculano e das suas conclusões, pois num caso, para ele, o que
o documento demonstrava era que para regularizar a divisão do
solo se recorria «à corporação administrativa do concelho, e ella
nomeava os agentes que haviam de executar o que ella resolvesse»;
quanto à razão do preceito «iudex quem concilium, uel sesmus uel
alcaides manuferirent si noluerit esse, pectet V morabitinos con-
cilio», inserido com pequenas variantes pouco importantes nos
forais de Penamacor, Proença-a-Velha, Sortelha, Idanha-a-Velha
e Salvaterra do Extremo, é a seguinte: «Trata elle de uma enti-
dade à qual a competencia de julgador pode ser dada pelo con-
celho, pelo sesmo ou pelos alcaides. Que essa entidade não era
nenhum dos magistrados ordinários resulta dos propios foraes,
porquanto o provimento destes fazia-se, como observámos, pela
forma definida n'uma disposição especial. Deve pois entender-se
que a hypothese prevista no trecho é a de receber alguem mau-
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dado do concelho, dos sesmeiros ou dos alcaldes para exercer
jurisdição n'um determinado caso, e recusar-se a aceitar a comis-
são. Depois da lei das sesmarias decretada por D. Fernando e das
alterações subsequentes, ... os sesmeiros apparecem muitas vezes
mas têm outras attribuições e são delegados do poder central.» (1)
Afigura-se-me que os dois grandes historiadores portugueses
se desviaram um pouco do caminho que os poderia conduzir à
perfeita resolução do problema e que apenas afloraram um dos
seus aspectos; no entanto, Herculano foi aquele que melhor o
compreendeu.
Quando o monarca, ou algum grande proprietário, outorgava
um determinado território aos municípios que se organizavam,
ou reorganizavam, estabelecia-lhes extremas em que os acidentes
geográficos, os rios, os penedos, algum casal ou povoação, certas
árvores mais frondosas, uns padrões - onde as demarcações natu-
rais eram pouco visíveis - circunscreviam o fim do termo. Outras
vezes, a carta de foral omitia as delimitações, como se o concelho
fosse planta bravia que podia bracejar até onde quisesse por terra
de ninguém, sem peias nem obstáculos f). Contudo, delimitado ou
não, adentro do alfoz do concelho uma divisão se impunha que
garantisse aos povoadores, ou moradores, as !eiras e casais pre-
cisos à vida dos agregados familiares, que preservasse os pascigos
necessários para o gado dos vizinhos e os bosques para eles irem
buscar lenha para uso caseiro e para os apeiros de lavoura (3).
44
Quando o foral determinava o número de courelas ou prédios
impunha-se a divisão equitativa entre os moradores, bem como
a reserva de áreas para usufruição comum (1). Se o número era
indeterminado, necessário se tornava atender, não só às necessi-
dades anteriormente inculcadas, mas também reservar terra para
distribuir a novos moradores e, até mesmo, para as famílias saídas
dos primeiros povoadores (2).
Como se chamavam esses homens indispensáveis à organiza-
ção agrária dos concelhos medievais?
Viterbo chamou-lhe Coireleiros: «Assim forão chamados os
homens bons do Concelho, chãos, e abonados, que antigamente
estavão destinados para repartir em Casaes, ou Coirelas as terras
conquistadas, desertas, ou bravias, aos Povoadores, que de novo
as hião romper, e habitar» (3 ). A partir da definição de Santa Rosa
de Viterbo, e se aceitarmos também a que ele nos dá de coirela (4 ),
podemos supor a existência de tais indivíduos em todas as regiões
em que os forais estatuem ou não a repartição das terras em
coirelas, ou casais. Mas, Viterbo implicitamente fez sinónimo de
coureleiro o termo sesmeiro (5 ) 1 identificando as respectivas fun-
ções atribuídas a um e a outro. Semelhantemente, Herculano
aproveitando a diferença de denominação, escreveu: «Üs sesmeiros
45
correspondiam na administração interna dos grandes municípios
aos courelleiros, também ás vezes denominados sesmeiros, das
terras reaes sem organisação municipal, dos concelhos rudimen-
tares, de parte dos imperfeitos e dos vastos predios particulares.» (1)
Penso ser possível estabelecer identidade, senão absoluta pelo
menos relativa, entre os fins a que se destinavam os dois cargos
e, consequentemente, entre os termos coureleiro e sesmeiro (2).
Depois da tomada de Cáceres, ao ser confirmado por Fer-
nando Ili, em 1231, o foral outorgado por Afonso IX, seu con-
quistador, nele se diz que este concedera «vnicuique vicino de
Caceres suas casas, haereditates, hortos, molinas, alcaçares, &
totas suas partitiones, quas fecerint per suos quadrellarios, vel
per mandatum Concilij, factae & apreguonatae in die Dominico:
& praestent similiter omnes partitiones, quas postea fecerint, tam
de aldeis, quam de Villa; & quae vna vice factae fuerint, nunquam
vlterius reuoluantur. Qui autem partitiones Concilij reuoluere, vel
quebrantare voluerit, non prestet ei, & pectet mille marapetinos
ad Concilium» (3 ). Alguns anos depois, mas ainda no século XIII,
o concelho da vila de Cáceres redigiu as suas Ordenanzas e para
elas transitou o trecho que diz respeito à divisão das terras com
a seguinte forma românica: «De sus casas. Mando E concedo a
cada un vicino de Caceres sus casas, heredades, hortos, molinos,
alcazares, et todas sus particiones que fueren fechas por sus Ses-
meros E por mandado de concejo en Domingo fecho, E presten.
Otro si, las particiones que una vez fueren fechas, taro de villa
quam de aldeas, presten, et non sean mas rebueltas, E quien las
quisier rebolver, peche mil mrs. al Concejo, E non preste. » (4)
Texto este que nos leva a identificar quadreleiros e sesmeiros.
O foral de Usagre, variante românica do de Cáceres, quando
trata «De partir heredades», consignou: «Quando conceio quisier
partir per conceio en die domingo manden a los sexmeros que
partan los que les mandaren de tal lugar a tal lugar et tomen
ommes bonos de conceio et eguen los sexmos. Et pues que fueren
eguados o se acordaren la mayor partida de los sexmeros que
fagan a que lo uala. Et echen suertes et conoscan los sexmeros
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cada uno su sexmo et fagalo uintenas. Et sexmero et el uintenero
herede et reciba todos los que heredo en las otras particiones.
Et non reciba heredero de otro sexmo nin de otra uintena, si non
fore poblador. Et si lo recibiere, pectet I. moraueti conceio; si
non saluese al foro. Et el sesmero tome II. quinnones ol cayere
por suerte et el uintenero tome un quinnion qual quisier, et los
otros sorteen, et otri non tome mas nin le preste. Si sexmero o
uintanero tierra furtare, o uendiere, o dinneros tomar por heredat,
salga del por tiello por aleuoso et non aya mas portiello, nin tes-
tigue. Todos los quinnones que uazios fallaren, denlos a pobladores
o los metan en pro de conceio. Los sexmeros nin los uintaneros
non se echen tras anno nin tras ferias a los herederos por heredat
de partición. Los sexmeros iueren por conceio et los uinteneros
en mano de los sexmeros et delante sus herderos. Qui fuer uinta-
nero en una particion, non sea uintanero en otra, et si fuere, non
preste. Tod omme que demandar heredat de particion, et pudiere
firmar con sexmero o con uintanero et II. uezinos que primero
le fue dada que a sua contentor o le cayo per suerte, prestele.» (1-)
(1) Fuero de Usagre (siglo XIII) anotado con las variantes del de
Cáceres, publ. por R. de Urefia e A. Bonilla, pág. 147-148. Comentando
as disposições deste foral, Soler y Pérez escreveu: «... las disposiciones e
capítulos 420 y 429, la primera confirmando las particiones hechas por
los sexmeros - por mandado del Concejo - a cada um vecino de Usagre
y diponiendo que una vez sean hechas (tan de villa quam de aldeas) esas
particiones, no se alteren, y la segunda citada, dictando disposiciones para
las nuevas particiones de herdades que mande el Concejo; tales que los
sexmeros partan asistidos de hombres buenos de Concejo, igualando los
sexmos, ·y luego hagan suertes, y cada sexmero distribuya su sexmo en
veintenas. Confuso es esto precepto; pero teniendo en cuenta que el
termino heredad y heredar es aún sinónimo de afincarse o tener propie-
dades rústicas, puede entenderse, y es la más clara explicación (que coor-
dina los fines de poblar una comarca desierta, propuestos al dar el Fuero,
con análogas disposiciones de otros Fueros y con la propia usual acepción
de la palabra sexmas en su valor actual, por ejemplo en Molina), la de
que los intentaren poblar un lugar o comarca desierta, lo pidieran al
Concejo, o éste por su própio impulso, decidiera probarlo, y se dividiera
en sexmos o sextas partes el lugar por medio de sus sexmeros (delegados
del Concejo en esa sexta parte del lugar dividido). y cada sexmo en
veintenas, o sean veinte partes. Y ese sexmero recibía y daba tierra
(heredar) a todo el que en anteriores particiones fué afincado, y no al
que esté afincado en otro sexmo o veintena, si no es problador, bajo pena
pecuniaria impuesta al sexmero o veintenero repartidor. Esas tierras
repartidas (salvo el sexmero y ·veintenero que podrán tomar dos quifiones
el primero y uno el segundo, donde quisieren de su jurisdición) se adju-
dican por suerte. Si el sexmero hurtare o vendiere tierra, prevalido de
su facultad, es castigado con expulsión. Los quifiones vacíos se dan a
pobladores nuevos o se meten a beneficio del Concejo, y, por último,
dispónese el juramento de los sexmeros en Concejo y de los veinteneros
en inanos de los sexmeros, y respétàse la prelación en la posesión de la
heredad o tierra. Tan importante disposición es vestígio el más estimable
para reconstituir el modo de los primitivos repartimientos de tierras des-
pobladas, que para ese efecto se dieron por los Reys a los Concejos de las
ciudades principales; y explícase por él la finalidade antigua de los sex-
meros, la división en sexmas que aún subsiste, per ejemplo, en Molina
y su Común y Tierra, cuya Junta aún se constituye por representaciones
de comarcas· con ese nombre conocidas; y explicase así la supervivencia
de una medida de tierra muy común, especialmente en el partido de
Molina, como veremos, que es el quiíion: el que en nuestro concepto
es la quinta parte de un término municipal antiguo, o sea una quinta
parte de cada veintena, resultando así cada sexmo dividido en cien
quiíiones.» F. Soler y Pérez, Los comunes de villa y tierra y especialmente
el del sefíorio de Molina de Aragón, págs. 47-48..
1
( ) O foral de Llanes, dado por Afonso IX, contém também um
parágrafo que se relaciona com a repartição de terras aos povoadores:
«Otrosy yo el rrey don Alfonso mando que juredes por juramento sobre
vuestros bierres que fielmente partades todas las mis heredades ... las quales
vos do a partir, & que las partades fielmente & que les <ledes aquellos
que la mi villa fizieron & poblaron & vuestros fueros fizieron. » El Fuero
de Llanes, publ. por A. Bonilla y San Martin, em Revista de Ciencias
jurídicas y sociales, n. º 1, pág. 116. Igualmente no foral que foi dado pelo
abade de Oíia, Pedro, aos colaços do mosteiro, se contém: «lnsuper damos
vobis illam terram, que este super parra! de Maza, ut dividatis eam inter
vos per sortes et possideatis eam iure hereditario in perpetuum.» E. de
Hinojosa, Documentos para la hist. de las instituciones de León y de
Castilla, pág. 93.
(2) J. Puyol y Alonso, Una puebla en el sigla XIII, em Revue His-
panique, XI, págs. 249-250, 287 e segs.
(3) O mesmo sucedeu em Madrid, cujo alfoz esteve repartido em
«sexmos» até meados do século XVIII. Ver: Documentos de! Arch. Gene-
ral de la Villa de Madrid, pág. 67, n. l. E também em Guadalajara. Ver:
F. Layna Serrano, Hist. de Guadalajara y sus Mendozas, II, págs. 329
e segs.
4
( ) J. Puyol y Alonso, ob. cit., em Revue Hispanique, XI, págs. 245
e 290; F. Alvarez Laviada, Chinchón histórico y diplomatico hasta finalizar
el sigla XV. Estudio critico y documentado del municipio castellano
medioeval, págs. 127-128 e 130-131.
48
quadrelleros conpartan por los sexmos con los escribanos todas
las cosas.» (1)
Para Francisco Soler y Pérez, depois de estudar diversos foros
medievais espanhóis, «la Sexma era la extensión de terreno (sexta
parte del total de una comarca) que se ponía al cuidado del Sex-
mero y que luego se dividía en otras partes, veinte em Cáceres
y Usagre, y cada una de estas veinteavas partes de cada sexta,
venía a constituir un término municipal, distribuído luego en lotes
o quiiíones» (2).
O senhorio de Molina fora igualmente dividido em «sexmas»
de que restavam quatro ainda nos princípios do século XX; estas
quatro compreendiam oitenta «grupos de población o términos
municipales, cifra que, dividida entre esos cuatro sexmos, corres-
ponde a veinte pueblos para cada una (veintenas del Fuero de
Usagre), y estos términos municipales están divididos en quiiíones,
que claro es no se correspondeu con la quinta parte dei término
laborale porque se han roturado tierras que han ido formando
quiiíones nuevos» (3).
Pelo que diz respeito aos documentos portugueses não me foi
dado encontrar nenhum em que a similitude resulte flagrante,
nem tão-pouco algum que resolva negativamente a questão (4).
A carta de doação de uma herdade feita pelo concelho de Castelo
Mendo aos cónegos regrantes de S. Vicente de Lisboa, datada
de 1229, fala de «sex sesmeyros qui fuerunt diuisores et demarca-
tores predictarum hereditatum» (5). Nessa mesma centúria, encon-
tramos documentos que nos mostram os sesmeiros ocupados a
demarcar, conjuntamente com outros funcionários, herdades e
coutos em Elvas, Beja, Monsaraz, Évora, Beringel e Marachi-
que C;). E também, não saindo do século XIII - Junho de 1282 -
sabemos que, quando D. Dinis mandou que os juízes e oficiais
de Tavira fossem ver os seus figueirais e vinhas no termo da vila,
deslocaram-se em obediência ao mandato real Pero Lourenço que
era «castelleyro» de Castro Marim e Paay Beiçudo com os tabe-
49
liães públicos de Tavira, acompanhados pelo alcaide, alvazis e
muitos homens bons. Como não pudessem ser certos dos figuei-
redos, quanto era lavrado e o que era por lavrar, fizeram-nos
medir pelos «quadréleyros» jurados, Pedro Garcia, João Domin-
guez e Martim Ramiriz, que lograram alcançar a estimativa
desejada (1-).
Fazendo uma aproximação entre os «quadréleyros» jurados,
peritos em agrimensura, que vemos actuar em Tavira, quarenta
e quatro anos depois de ter sido conquistada aos sarracenos, e os
sesmeiros nomeados em 1273 para procederem a uma nova e
equitativa distribuição de terras, depois de anuladas as presúrias
novas <{des que Serpa fora filhada a Mouros a ca» (2), uma seme-
lhança se vislumbra.
Mas ocorre perguntar: não os poderemos nós comparar com
os «quadrilleros» da Partida II, de Afonso o Sábio, a quem com-
petia a repartição dos despojos de guerra pela hoste? Serão, por
analogia, os «quadrelleros» indivíduos destinados a repartir as
terras havidas por conquista (3)? Encontramos nós aqui um elo
entre esses homens e a delimitação das terras tomadas por presúria
e, posteriormente, entre estes últimos e os sesmeiros, quando a
evolução social e económica já não permitia a apropriação mas
exigia uma repartição mais equilibrada do solo pela população (4)?
Impossível é esconder a minha ignorância a este respeito, e,
infelizmente, a muitos outros, como se verá no decorrer do meu
trabalho.
Contudo, um facto parece apurado: o aparecimento de uma
instituição, o sesmo, em cinco forais do século XIII, pertencentes
a cinco concelhos fronteiriços da Beira Baixa (5 ), e a presença
documentalmente provada da actividade de sesmeiros em Castelo
Mendo, em 1229 - desde essa data, ao sul do Tejo não mais se
extinguiram as referências a sesmos, sesmeiros e sesmarias.
Permita-se-me uma breve estatística dos diplomas que conheço
até 1375, data da publicação da lei das sesmarias, em que há
50
referências a sesmos, sesmeiros e sesmarias; verifica-se que três
dizem respeito à Beira Alta, seis à Beira Baixa, oito à Estrema-
dura, vinte e sete ao Alentejo e um ao Algarve. Apenas quatro
respeitantes à região ribeirinha da foz do Douro, ao julgado de
Gaia, aludem ao cargo de «sesmador dei-rei» (1).
Acresce que a toponímia só conservou os vocábulos sesmo e
sesmaria, até ao século XIX, nos distritos de Castelo Branco,
Leiria, Santarém, Lisboa, Portalegre, Êvora, Beja e Faro ('2); assim
como courela predomina nos de Santarém, Lisboa, Portalegre,
Êvora e Beja, e foro ou faros· nos de Sanfarém, Lisboa, Évora
e Beja (3).
É impossível tratar-se de uma coincidência. O aumento pro-
gressivo de sesmeiros aparece na razão inversa (no espaço e no
tempo) das referências a presúrias feitas no território de Portugal.
Enquanto estas desaparecem à medida que a nação se aproxima
dos seus confins meridionais, os sesmeiros, e portanto as sesma-
rias, multiplicam-se num crescendo ininterrupto (4 ). Encontramos,
talvez, o seu ponto de confluência na carta do concelho de Castelo
Mendo de 1229, e na de Évora de 1273.
A pouco e pouco temo-nos aproximado de um assunto de
magna importância, que é a origem e significação dos termos
sesmaria, sesmeiro e sesmo.
Concordam quase todos os filólogos em que a forma antiga
sesmo, «sexta parte», vem de seximus, «palavra formada na época
romana por analogia com septimus» (5 ), segundo José Leite de
Vasconcelos, e de onde veio sesmaJriaJ1 sesmar e sesmeiro (6 ). Esta
(1) Respectivamente em: Além-Douro. liv. 2, fl. 170-170 v.; fl. 172-v.,
fl. 173 e 178. Viterbo, ao tratar de «sesmo», indica que foi nos documentos
de Pinhel, Guarda, Trancoso, Salzedas e Tarouca onde encontrou fre-
quentes referências a eles. Ver: Viterbo, Elucidaria, II, págs. 321-322.
(2) Propositadamente omito a região de Alcácer do Sal e as suas
sesmarias dos negros. Ver: João B. da Silva Lopes, Diccionario postal e
chorografico, Lisboa, 1891.
(3) Parece-me poder inferir-se uma forma peculiar do regime da
propriedade e da exploração agrária nessas regiões que, vindos de tempos
remotos, se estereotiparam na toponímia sobrevivente. Ver: Courela e
Foro, 4no Diccionario postal e chorografico, de J. B. da Silva Lopes.
( ) A organização do reino, a modificação das condições económicas
e sociais, determinaram mutações necessárias ao fomento da colonização
interna e da agricultura.
(') J. L. de Vasconcelos, Lições de Filo!. port., 2. ª ed., pág. 300;
cf., do mesmo autor, Etnografia Portuguesa, II, págs. 531-532. Ver tam-
bém: F. A. Coelho, Diccion. Etymol. da ling. portug., e A. Nascentes,
Diccion. Etimol. da ling. portug.
(ª) O Prof. Paulo Merêa pronunciou-se sobre o assunto da seguinte
forma: «A palavra sesmaria, como sesmar e sesmeiro, deriva de sesmo
(sexmo, seismo), vocábulo que, equivalendo primitivamente a sexto (de
*seximum), veio mais tarde, por uma evolução pouco clara, a empregar-se
no sentido de courela, e também no de têrmo ou limite» (em Hist. da
Colonização Portuguesa no Brasil, III, pág. 182, n. 45).
5l
origem é a que Viterbo suspeitara quando tratou de Sesmaria:
«A origem deste nome parece que se deve procurar em Sesma
(hoje Sesmo) que era a sexta parte de qualquer coisa.» ( 1) Mas,
enquanto além Pirinéus, em França, poucos exemplos corihecemos
de sisme «shdeme» (2), as formas relacionadas com sesmo apare-
cem frequentemente nos textos peninsulares (3).
Mas que era sesmo, sesmar, sesmaria e sesmeiro (4)?
Recorrendo ainda ao Elucidário, ele diz-nos: «sesmo, sítio,
termo, ou limite, em que se achão estas terras, assim dadas dé
sesmaria», portanto, terras em que há sesmarias; e não contente
com esta definição, acrescenta: «Tambem podemos entender por
Sesmo, as terras abertas, desaproveitadas, e baldias, que suposto
não estivessem dadas, erão proprias para se darem de Sesmaria»..
Todavia 1 o espírito meticuloso do investigador parece ter ficado
insatisfeito e registou exemplos de sesmos da Segunda-feira, da
Terça-feira, etc., que achara com frequência em documentos de
Pinhel, Guarda, Trancoso, Salzedas e Tarouca. Ele próprio se
espanta: «Mas que razão haveria, para nomear estes Sesmos com
os dias da semana? Seria porque em cada hum delles respectiva-
mente se derão antigamente estas propriedades, e terras de Ses-
maria?» (5 )
Sem querer meter foice em seara alheia, e aproveitando
somente os ensinamentos que os especialistas ministram, afigura-
-se-me que Viterbo se aproximou da resolução do enigma.
Conjugando os extractos dos documentos que ele nos trans-
mitiu com a preciosa carta de doação dos alcaides e concelho de
Castelo Mendo, de 1229 (que até hoje ainda não fora aproveitada
devidamente), em que se fez doação de um herdamento ao Mos-
teiro de S. Vicente de Lisboa, alguma inteligibilidade se alcança (6 ).
(1) Viterbo pensou que indicava o foro de «seis hum». Refutaram
os juristas tal asserção, e com razão. Veremos subsequentemente a tribu-
tação que incidia sobre as terras dadas de sesmaria. Alguns autores diver-
gem ou mostram-se pouco positivos ao averiguar a etimologia da palavra,
quando esta se aplica a uma divisão territorial. Ver: Constâncio, Novo
Dic. crit, e etymol. da ling. port.; F. Monlau, Dic etimol, de la ling.
castellana.
(2) A. Thomas, em Romania, XLVII, pág. 388.
(3) Du Cange registou Sesmarius apenas num documento catalão;
Meyer-Lübke, REW, 7885, dá também o catalão Sesme = Bezirk. Nos
forais leoneses e castelhanos são frequentes os vocábulos «sexmo» e
«sexmero».
4
( ) Pergunta que já foi feita por A. Pimenta, Elem. de Hist. de
Port., pág. 55.
(") Viterbo, Elucidário, II, págs. 318 e 321-322.
6
( ) Gama Barros chamou a atenção para o facto desta carta, datada
de Janeiro de 1229, já se referir a um foral existente, quando aquele que
se conservou de Castelo Mendo tem a data de 15 de Março desse mesmo
ano. Teria existido um foral anterior, ou haverá erro na data do do-
cumento. Ver: Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III pág. 573, n. 4.
52
Sabemos que em 1194 foi vendida uma herdade ao Mosteiro
de Maceira por certos homens de Trancoso: «Nos homines de
Trancosi, de sesmo de sabato»; o Mosteiro de Salzedas comprou,
em 1202, uma propriedade junto à Guarda, a qual estava «in
sesmo de feria sexta»; e do mesmo mosteiro parece ter sido uma
outra herdade que era «in sesmo de feria secunda» (1).
Ora, no diploma anteriormente referido, verificamos que o
concelho e alcaides de Castelo Mendo: «Jccirco in sesmo dedimus
predicto monasterio in perpetuum hereditatem magnam et bonam
in loco qui dicitur paraisal.» E para que se pudesse construir uma
igreja em Castelo Mendo deram mais outra herdade: «in sesmo
dedimus hereditatem satis banam et multam in loco qui dicitur
freyxeo». Mas, há mais. Entre as tesemunhas, além de Gonçalo
Picot «qui tenebat uices dominj regis», aparecem seis alcaides
- «Silicet Johanes gomez de feria W. Petrus rodericj de feria iW
cum suis socíjs silicet cum petro egéé de luimiar de feria vjª et cum
fernando martinj de sabato» - e seis sesmeiros «qui fuerunt diui-
sores et demarcatores predictarum hereditatum et apeegauerunt
predictas hereditates de mandato domini regis sancíj domno bene-
dicto nomine monasteríj supradictj. Sunt autem istj Gondisaluus
petri de feria W. Johanes gondisaluj de feria iW. martineyros
de feria iiW. Menendus teyxos de feria vª. Menendus molneyro
de feria vjª petrus suríj de sabato» (2).
Se compararmos o conteúdo dos textos espanhóis (3) e por-
tugueses com a significação de sesmo que na actualidade subsiste
no distrito de Êvora (4) e na vizinha Espanha (5 ), é legítimo con-
1
( ) Viterbo, Elucidário, II, pág. 322.
(2) Ver Doe. 1. Idêntico número de sesmeiros existia em Beja, em
1254. Ver Doe. 4.
(3) É deveras interessante a definição de sesmar que nos dá o foral
de Cuenca, quando trata do dia da repartição da presa depois das algaras:
«Cum uentum fuerit ad diem particionis, primitus erectent bestias et
uulnera, postea sexment. Sexmare ideo dicitur quia miles et pedites, cum
simul fuerint, de iure non habent dare nisi sexmum. Milites cum soli
fuerint sine peditibus dent quintum. Pedites cum soli fuerint septimum.»
E em românico: «Quando viniere el dia della partiçion, primera mente
erepten las hestias & los feridos; & despues sexmen; & por esto es dicho
sexmar, parque los caualleros & los peones, quando fueren en vno, de
derecho non an de dar sinon sesmo; & los caualleros quando solos fueren
sin peones, den quinto, & los peones, quando fueren solos, den syedmo.»
Fuero de Cuencas, publ. por R. de Urefia y Smenjaud, págs. 646-648.
(4) «No distrito de Évora (Alandroal, Redondo, etc.) sêsmo é uma
das subdivisões dos terrenos em que se scindiu uma coitada (pastagem
reservada) ou outra propriedade, que teve de se repartir por vários indi-
viduas. Os sesmos são por vezes talhados em courelas (talhões)» - explica
J. Leite de Vasconcelos, Etnografia Portuguesa, II, págs. 531-532.
(") Divisão territorial em que estão compreendidas várias localidades
associadas para a administração dos bens comuns. Ver, a este respeito, os
estudos de J. Costa, El colectivismo agrario en Espafía, II, págs. 356 e segs.;
o de F. Soler y Pérez, Los comunes de villa y tierra, págs. 47-48; e de
54
Contudo, bem elucidativa é, quanto a mim, a carta de 29 de
Janeiro de 1305, na qual se põe fim à contenda entre D. Dinis
e certos vizinhos das Alcáçovas por razão de um herdamento na
vila, que o procurador dei-rei dizia ser reguengo o que os arguidos
contestavam. Eis como uma passagem da carta régia se refere ao
assunto: «o dicto meu procurador dizía que os de ssuso dietas
tragiam como nõ deuyam. E os de ssuso dictos diziam polo dieta
seu procurador que tragiam o dieta herdamento como deuíam ca
era sseu liure de todo foro de Regaengo e que lho deram pera
vinharias os sesmeiros que meu padre dera pera sesmar os herda-
mentos da dieta villa» (1).
Os sesmos eram os locais destinados a prover cada povoador
com uma quota-parte de propriedade territorial (2). Esgotados eles
pela vinda de novos moradores ou pela multiplicação das famílias
dos primeiros, só por compra, doação, ou outro qualquer título
legítimo, ou cerceando os baldios comunais, se poderia prover aos
problemas dos Joões-sem-terra. Portanto, os sesmos seriam assim
chamados porque de início o território distribuível de cada con-
celho estava repartido em seis lotes, onde só durante os seis dias
da semana, excluindo o domingo, superintendiam os seis sesmei-
ros, cada um num dia e no sesmo que lhe competia (3). Não é
raro encontrarmos consignado nos nossos documentos medievais
que o domingo era o dia de tribunal para os negócios do concelho,
nos outros dias a execução competia, permita-se-me a expressão,
aos respectivos homens bons sesmeiros que estivessem de serviço
e a cujo cargo estava essa acção administrativa (4 ).
Esta hipótese parece-me a que mais se coaduna com os do-
cumentos citados e assaz com a carta de D. Dinisi de 1292, em
55
que se ordenou a demarcação dos bens do Mosteiro de Alcobaça
na vila e termo de Elvas, e que eram do mosteiro desde a «pobrança
da terra», a fim de evitar que os vizinhos da ordem «filhassem»
alguns dos seus herdamentos. «Porem uos mando» - diz o sobe-
rano ao alcaide e juízes de Elvas - «que logo uísta a carta. uáádes
aos lagares hu eses Herdamentos iazem a uáám y uosco (sic) os
sesmeyros e os Tabelliões. e leuade o Registro en que som escritos
os Herdamentos e os sesmos desa vila. e chamade. y. os vezinos
com que eses Herdamentos partem, e oúúyde os todos. e punhade
de saber bem e dereytamente a uerdade dos Herdamentos que y
a hordím a e os outros outrosy. asy pelo registro como pera o
melhor poderdes saber» (1). Com tal demarcação relaciona-se, sem
dúvida, outro documento do século XIII - sem data mas que pela
letra mostra ser contemporâneo da carta antecedente - em que
o tabelião de Elvas registou os testemunhos de diversos homens
bons sobre uma propriedade no termo de Elvas que a ordem
demandava. Todos os que depuseram foram unânimes em reco-
nhecer que tinham estado presentes quando os sesmeiros deram
esta herdade de «susso dita a Alcobaza», apenas um disse que
o não presenciara, mas que tinha sempre ouvido dizer que era
de Alcobaça (2).
O mesmo se deduz do teor da carta de povoação da «pobra»
de Maiorga, nos coutos de Alcobaça, outorgada em 1303, pelo
dom abade Fr. Pedro, em que se contém: «E os sesmeiros deuem
asesmar o termo de suso dito em tal maneyra que aja cem casaes
com cem pobradores.» E mais adiante: «Üs sesmeyros deuem a
dar sesmarias a quantos quiserem morar na dita poboa.» (3) No
foral de Turquel, de 1314, figura igualmente: «Et pars terre que
remanet grangie est diuisata et terminata per Celerarium nostrum
et per Sesmarias demarcata», e «populatores debent habere oliue-
tum sicut Celararius et Sesníarij diuiserunt et demarcauerunt per
marcos ibi positus inter grangiam et ipsos» (4 ). Assim como a
carta de 8 de Março de 1319, em que D. Dinis concedeu a João
Domingues, "povoador" da "pobra" chamada do Moinho do Açor,
entre Coruche e Lavar, poder para dar "casarias e sesmarias" a
quantos nela quisessem residir e povoar (5 ).
Donde sesmeiros ser o nome dado aos seis homens que no
alvor do concelho repartiam as terras dos sesmos nos seis dias da
56
semana; sesmar o acto de repartir os sesmos e sesmarias as terras
distribuídas nos sesmos. Possivelmente, desde então, o que garan-
tia a posse da terra distribuída era o seu cultivo efectivo pelos
indivíduos a quem fora atribuída, além da satisfação dos encar-
gos que lhes coubessem por força do costume ou do foral.
Com o decorrer dos anos o sentido primitivo alterou-se, evo-
lucionou, chegando qualquer dos vocábulos a servir para designar
instituições e cargos diversos, mas mantendo ténues afinidades
com os seus longínquos avoengos (1 ). A própria natureza da ac-
ção do sesmeiro, transitória e temporária, intermitente e restrita,
deve ter influenciado a obliteração da primitiva significação. E da
mesma forma o facto de, passado o período inicial de divisão de
terras, o afã ter diminuído e com ele o número de sesmeiros que
baixou até chegar a um, ou quando muito dois, no século XV (2).
Os sesmeiros apareceram fruto da necessidade de dividir e
distribuir terrenos aos povoadores (3) nas regiões onde se reorga-
nizava a propriedade rural - quer a terra pertencesse ao rei, quer
aos grandes senhores, às ordens militares e monásticas (4 ). A sua
aparição deu-se a partir do momento em que a divisão tumul-
tuária pela presúria e a apropriação pelo cultivo não logravam
garantir a colonização e as arroteias das províncias conquistadas
e em que a ordem social já não tolerava tal sistema. Por isso,
a sua presença verifica-se a partir de determinada época e em
determinadas regiões, corre paralela ao desenvolvimento do regi-
me municipal, e é mais um reflexo da tentativa de organização,
por parte da coroa, utilizando as tendências económicas e sociais
da época. Numa palavra, o sesmeiro e a sua função andam ligados
intimamente aos grémios municipais e à sua economia agrária.
57
III
58
dos nomes dos homens que então eram sesmeiros, «Petrus rei-
mondj magno» e «Gondisaluus Gonsaluij», é idêntico ao que
aparece na doação como sendo alcaide: «Gondisaluus gonsaluij
tunc temporis alcaldis», e o outro figura entre as testemunhas
e não em último lugar (1). Por seu turno, a doação de S. Cucufate
ao Mosteiro de S. Vicente, de 1254, é feita pelo pretor, alvazis,
sesmeiros e concelho de Beja (2); e a carta de D. Afonso III, de
1256, mandando dar uma herdade em Pomares ao Mosteiro de
Alcobaça, é também dirigida ao pretor, alvazis, sesmeiros e con-
celho de Beja (3 ). A carta de confirmação da doação da herdade
de Moçarava, já designada por Vilaboim, a D. João de Aboim
e a sua mulher1 é feita pelos juízes, sesmeiros e concelho de El-
vas (4). Igualmente, a doação de 1260, de uma herdade no termo
de Marachique a D. Estêvão Anes, é firmada pelos juízes, sesmei-
ros, tabelião e concelho de Marachique (5 ).
Quando, em 1263, D. Afonso III coutou o herdamento de
Beringel, do Mosteiro de Alcobaça, ordenou ao alcaide, alvazis,
sesmeiros e tabelião de Beja que o fossem demarcar e departir
conjuntamente com o seu porteiro ('). A carta de D. Dinis, de
1293, mandando ver o que lhe era sonegado no reguengo de Évo-
ra-Monte, permite distinguir o almoxarife e o escrivão que eram
do rei e os sesmeiros que eram de Évora-Monte - «mando ao
meu almoxarife e ao escriuã e os sesmeyros desse logar de Euo-
ramonte» - (7).
Tais exemplos, e outros que se poderiam ainda aduzir, le-
vam-me a admitir a existência de um cargo cujas atribuições
principais eram de carácter administrativo, e o facto dos homens
nele investidos corroborarem em alienações de territórios muni-
cipais ao lado de magistrados como alcaides, juízes e alvazis,
demostra que ele devia ocupar um lugar na ordem dos cargos
do concelho; todavia, a sua própria transitoriedade e âmbito pe-
culiar condenavam-no à subalternidade, como se verá subsequen-
temente, até passar, no século XIV, mercê da intervenção cada
vez mais activa do poder real na vida interna dos concelhos, a
uma espécie de delegado do poder central.
Mas, a verificação de que o sesmeiro se integra nos quadros
concelhios, leva necessariamente a investigar as condições do
acesso a tal cargo.
59
Escolhiam os homens bons entre si os que deviam proceder
à distribuição das terras? A sua escolha era livre ou limitada pela
necessidade da confirmação real? Ou a nomeação dependia ex-
clusivamente do soberano?
Tanto os documentos espanhóis como os portugueses incul-
cam-nos que os primitivos repartidores de terras eram nomeados
pelo rei (1); ou melhor1 a distribuição de terras aos povoadores
era feita pelos representantes ou funcionários régios e, muitas
vezes, por delegação real, pelo concelho. Julio Gonzalez, depois
de estudar o repovoamento da Estremadura leonesa, deduziu que
nesse território «el rey, su representante o el concejo, procedían
a repartir el solar y el campo del alfoz entre los que acudiesen,
desejando terreno sin repartir para destinado a comúm aprove-
chamiento, especialmente montes y pastos» (2).
No repovoamento de Mansilla, em 1181, foi o concelho que
procedeu à distribuição de terras e vinhas no alfoz designado
pelo rei (3). Igualmente, foi o concelho de Segóvia, em 12971 ao
dar «carta-puebla» a El Espinar que autorizou o novo concelho
a ter quadreleiros para repartir os herdamentos e «solares» da
póvoa entre os moradores (4).
Assim, é lógico supor que os distribuidores de terras muni-
cipais fossem nomeados pelo concelho, naqueles pontos onde o
monarca delegara nos municípios a tarefa de repartir terras aos
povoadores, o que não exclui a possibilidade da escolha para tal
cargo necessitar da confirmação real. Em Portugal, só nos fins
do século XIV, conhecemos documentos que aludem à nomeação
de sesmeiros pelos concelhos e, então, esta é validada pela confir-
mação régia.
Quando se anularam as presúrias novas de Serpa, em 1273,
o concelho de Êvora «meteu» quatro sesmeiros para procederem
à avaliação e distribuição equitativa das terras (5 ). Na contenda
entre D. Dinis e certos homens por causa das rendas e direitos
(1) Pelo foral de Usagre sabemos que Afonso X deixou aos encarre-
gados do concelho, os sexmeros, a repartição das terras do termo; mas,
o mesmo rei, ao efectuar-se nova repartição dos herdamentos de Alicante,
ordenou ao seu alcalde e a mais dois indivíduos, em 1258, que «lo par-
tiessen de cabo». Também o seu antecessor, Afonso IX, em 1224, encar-
regara quatro homens bons de repartir todo o terreno da póvoa de Sancti
Spiritus. Ver: Memorial Hist. Espafíol, I, págs. 135-136; F. Soler y Pérez,
Los comunes de villa y tierra, pág. 58; J. Gonzales, Repoblación de la
«Extremadura» leonesa, em Hispania, XI, pág. 246.
(2) J. Gonzalez, Repoblación de la «Extremadura» leonesa, em
Hispania, XI, pág. 246.
(") J Gonzalez, Repoblación de Mansilla, em Hispania, VII, pág. 280.
(4) J. Puyol y Alonso, Una puebla en el siglo XIII, em Revue His-
panique, XI, págs. 273-274 e segs.
(') J. P. Ribeiro, Dissert. Chronol., III, p. 2, pâgs. 85-86.
60
do reguengo de Évora-Monte, «almuynas» e vinhas que tinham
forçado ao rei, este mandou, por carta de 25 de Fevereiro de 1293,
tomar providências: «Por que mando ao meu almoxarife e ao
meu escriuã e os sesmeyros desse logar de Euoramonte que váá
hy e sabham per u som esses Jogares que a mjm teyam filhados
e rrecebanos pora mjm.» (1) Noutra contenda sobre um reguengo
nas Alcáçovas, os indivíduos que o traziam defenderam-se com
os seguintes argumentos, que registou a carta de sentença de D.
Dinis, de 29 de Janeiro de 1305, em que se resolveu a questão: «Que
tragiam o dicto herdamento como deuíam ca era sseu liure de
todo foro de Regaengo e que lho derom pera vinharias os ses-
meiros que meu padre dera pera sesmar os herdamentos da dieta
villa» f). A carta de avença entre o concelho de Abrantes e o de
Alter do Chão, de Janeiro de 1295, contém: «os sesmeyros dAlter
deuiam a seer metudos polo Concelho de Aurantes»; para se con-
graçarem os dois concelhos, D. Dinis fez desaparecer esta e outras
sujeições do concelho de Alter, a troco de algumas concessões f ei-
tas ao de Abrantes (3 ).
A partir do reinado de D. Fernando parece não ter havido
alteração, pelo menos nalgumas regiões (4). Assim, em 1376, o rei
como sesmeiro das herdades e «adernas» reais no paul do Muge
o seu vedor das abertas, Pero Tristão (5 ). Masi por carta régia
de 30 de Março de 1378, confirmou os dois sesmeiros de Tavira,
que tinham sido eleitos pelo concelho, depois da morte dos ante-
cessores, segundo o uso da terra; a formalidade antiga é assim
descrita: «depois que essa terra foy do noso senhorío de portugal
e que senpre ouue em esa villa homeens çertos que Eram ses-
meyros que dauam sesmarias nas terras uagas aaquelles que as
queríam pobrar E que esas Eram. dadas e confirmadas per os
Reys que foram dante nos seendo primeyramente emlegudos por
ese Conçelho» ( 6). Em 24 de Outubro, desse mesmo ano de 1378,
(1) Aqui distingue-se nitidamente entre os dois funcionários régios
e os sesmeiros «desse logar» de Êvora-Monte. Mas, D. Dinis conferiu a
alguns «povoadores» o encargo de dar «casarias e sesmarias». Chanc. de
D. Dinis, liv. 2, fl. 52 v. e liv. 3, fl. 123 v.
(") Chanc. de D. Dinis, liv. 3, fl. 39. Idêntica significação deve ter
a passagem da carta de D. João I dada à vila de Pinhel, em que se alude
às terras abandonadas «antre as vinhas do sesmo dessa villa». Ver: Beira,
liv, 1, fl. 47-48; Viterbo, Elucidário, II, págs. 319-320.
(3) Chanc. de D. Dinis, liv. 2, fl 89 v.
(4) A lei das Sesmarias não faz referência a quem competia a nomea-
ção dos sesmeiros, somente indica que em cada cidade ou vila de cada
comarca e província das «correiçooens» fossem postos dois homens bons,
dos melhores da terra, e no caso de não se entenderem os dois sobre esti-
mativas e avaliações que então o juiz do lugar lhes desse um outro homem
bom, como terceiro, para desempatar segundo mais justo entendesse. Ord.
Afons., IV, 81, §§ 12 e 14.
(') Chanc. de D. Fernando, liv. 1, fl. 196 v.
(ª) Chanc. de D. Fernando, liv. 4, fl. 26; Gama Barros, Hist. da
Adm. Publ., III, pág. 704.
61
D. Fernando autorizou o concelho e homens bons de Coimbra a
escolherem dois homens bons para darem os pardieiros e chãos
do dito concelho de sesmaria, não obstante ter previamente en-
carregado Gil Anes, ouvidor da Rainha, de o fazer e este ter
passado cartas de sesmarias (1), como a que foi dada, em 1378,
a João Anes de Sousa 1 mercador, de metade de um chão a par
do adro da Sé (2).
Posteriormente, no reinado de D. João I, ainda em muitos
concelhos se mantém o uso da eleição dos sesmeiros competir ao
concelho, se bem que se acentue o costume da nomeação ou pro-
posta prévia dos concelhos ser ratificada pela confirmação régia.
Nos capítulos especiais de Beja, apresentados nas cortes de
Coimbra de 1394, um se refere ao costume antigo dos sesmeiros
serem homens bons eleitos pelo concelho e confirmados por carta
régia, e nele se registou o pedido feito para que se mantivesse
o costume. Como o rei pusera aí um sesmeiro, não eleito pelo
concelho, e sendo o termo da vila muito grande que bem com-
portava dois, rogaram os procuradores que el-rei mandasse «que
enlejamos dous homêês bõos pera sesmeiros segundo foe de
custume antíjgo e seiam confirmados por uossa carta». Respon-
deu D. João I que «pois ja hi he posto o dicto sesmeiro per nossa
carta que enlejam outro e que lho confirmaremos» (3). Em Loulé,
poucos anos antes, em 1386, o concelho representou ao rei que
na vila sempre houvera sesmeiros que o eram por carta dos outros
reis, mas como então não os havia aí «per nosa carta nem dos
outros Rejs e enujaram nos pidjr por merce que lhe <lesemos
vos jujzcs jeeraes por sesmejros em que no auto uos durase o
ofiçjo de uoso julgado E asy aos outros que ao djante depos uos
vjerem» (4). Por outro lado, sabemos que D. João I confirmou
à cidade de Silves o sesmeiro que fora eleito pelo concelho - assim
o fizeram posteriormente D. Duarte e D. Afonso V, respectiva-
mente em 1434 e 1439 (5 ). E também na carta régia de 25 de
Fevereiro de 1427 (que entrou nas Ordenações Afonsinas com o
carácter de lei geral e que, segundo nelas se declara, representa
a forma habitual seguida por D. João I na dada de terras e her-
dades de sesmaria), se contém a confirmação do sesmeiro de
Estremoz que fora proposto pelos juízes, vereadores, procuradores
e homens bons da vila (6 ).
(1) Chanc. de D. Fernando, liv. 2, fl. 35 v.; Estremadura, liv. 11,
fl. 197.
(2) Chanc. de D. Fernando, liv. 4, fl. 13 v.
(') Chanc. de D. João I, liv. 3, fl. 39.
(4) Foi esta carta confirmada por D. João II em 3 de Fevereiro de
1486. Chanc. de D. João II, liv. 8, fl. 180 v.; Odiana, liv. 2, fl. 280 v.-281.
(') Chanc. de D. Afonso V, liv. 18, fl. 30.
(ª) Ord. Af., IV, 81, §§ 20 e 21. Gama Barros, Hist. da Adm. Publ.,
III, pág. 704.
62
Decorrido algum tempo, no reinado de D. Afonso V, o pre-
ceito do diploma de 1427 mantém-se como o prova a carta de
21 de Dezembro de 1443, confirmando por sesmeiro de Serpa
a Álvaro Gonçalves (1-), a de Fevereiro de 1443, que autorizava
a vila de Virnieiro a escolher um homem bom para o ofício de
sesmeiro (2) 1 e a de 1451 referente ao sesmeiro eleito pelo conce-
lho de Tavira (3 ). Mas, mais, em 1453, por morte de Álvaro Gon-
çalves, foi eleito sesmeiro de Estremoz seu filho Rodrigo Álvares,
que recebeu carta de confirmação régia, em 3 de Abril desse
ano (4). Álvaro Martins da Costa recebeu carta de confirmação
do cargo de sesmeiro de Castelo de Vide - «pela gísa que o elle
atee aqui foy e ora ajnda he per autoridade do dicto Conçelho» -
em data de 7 de Junho de 1456 (5 ). E quando das cortes de Lisboa
de 1459, o concelho de Portalegre apresentou capítulos especiais,
em que dizia: «em esta uilla foy sempre costume de o Concelho
poer cada huu anno sesmeiro que de hos beens que jazem em
mortorios de sesmaria com acordo dos officiaaes do Concelho na
camara dhij» (6).
Gama Barros impressionado pela carta de D. Afonso V, de
6 de Fevereiro de 1439, em que nomeia para sesmeiro de Tavira
Afonso Vasques Pacheco, genro do almirante - «asj e pella gujsa
que o era fernã garçia de contreíras que se ora fínou» -, pensou
que no princípio do reinado deste soberano algumas vezes se não
guardava inteira conformidade com o diploma já citado de 1427,
o que o levou a afirmar: «A nomeação não recáe sobre a proposta
do concelho; é feita pelo soberano sem precedencia d'essa for-
malidade.» (7)
O que se passou é, porém, um pouco diferente daquilo que
supôs o insigne investigador. De facto, D. Afonso V nomeou para
sesmeiro de Tavira Afonso Pacheco, em 1439, mas logo em 1443
se esclareceu por que razão o fizera. João Garcia de Contreiras,
filho do sesmeiro Fernão Garcia de Contreiras, estava servindo
em Ceuta quando seu pai morreu e os oficiais da vila de Tavira
o elegeram para sesmeiro, como sucessor do pai. Depois da elei-
63
ção, mas antes que tivessem solicitado a confirmação do cargo
a D. Afonso V, Afonso Vasques Pacheco pedira ao rei o cargo
«calando a dieta enliçom», e este lho dera por crer que «a nos
pertençia de darmos os sesmeiros em essa villa», passando-lhe
carta na forma acostumada. Agravou-se João Garcia de Con-
treiras e pediu ao monarca por mercê «que pois asi fora enlegído
per os ofiçiães E elles estauam em posse de enlegerem em o dicto
emcarego e nos de confirmar ssegundo sse mostraria per mujtas
cartas que ja do dicto encarrego passaram que lhe dessemas nossa
carta de confirmaçõ». Tirou-se inquirição, e depois de verificada
a verdade da alegação de João Garcia, D. Afonso V, em relação
com os do seu desembargo, deferiu o pedido e confirmou-lhe o
cargo por carta de 15 de Junho de 1443 (1).
Todavia1 nalguns concelhos a nomeação do sesmeiro parece
depender apenas do alvedrio real. !É o que se pode deduzir da carta
de D. Afonso V, de 9 de Fevereiro de 1443 f), nomeando Lou-
renço Martins sesmeiro das Alcáçovas (3). Em data desconhecida,
o mesmo rei, a requerimento de Álvaro de Almada, dava por
sesmeiro de Serpa um tal Martim Esteves, mas, pelos arruídos
em que este se envolveu posteriormente, foi-lhe o cargo tirado
e dado a Martim Rico, em 22 de Junho de 1456 (4). E neste mesmo
ano, em Março, D. Afonso V, dava carta de sesmeiro de Bena-
vente a seu afilhado Afonso Fernandes (5 ).
Nos reguengos e outras terras da coroa, o encargo de dar as
sesmarias competia ao almoxarife 1 ou ainda ao contador del-rei.
Assim, foi João de Ornelas, contador e procurador do mo-
narca - com poder para em seu nome emprazar e aforar «quam-
tas e quaaes quer possyssõões e dar de sesmaria em todos seus
rreguemgos e fora delles de todo seu senhorio a persoas e pollos
preços e foros direitos que emtendesse por seu seruíço» -, que
«aforou de sesmaria» a Gonçalo de Aragão e a sua mulher um
1
( ) Chanc. de D. Afonso V, liv. 27, fl. 115 v., e liv. 11, fl. 85,. João
de Contreiras tinha um parceiro sesmeiro, como ele eleito pelo concelho,
chamado Luís Lopes; quando este último morreu foi eleito seu filho, Pero
Lopes da Franca, que recebeu a confirmação real do cargo em 1451.
É curiosa esta espécie de hereditariedade observada na eleição dos ses-
meiros de Tavira. O mesmo se deu em Estremoz (1453), e em Moura
(1452) um sobrinho é escolhido para o cargo que vagara por morte do tio.
Ver: Chanc. de D. Afonso V, liv. 11, fl. 85; liv. 3, fl. 44, e liv. 12, fl. 38 v.
2
( ) Chanc, de D. Afonso V, liv. 27, fl. 33, e liv. 15, fl. 15 v.
(3) Possivelmente, nas Alcáçovas, a nomeação do sesmeiro dependia
apenas do rei pelo facto de D. Afonso III ter dado os primeiros sesrneiros
para sesmar os herdarnentos da vila e, desde então, ter conservado o
soberano a intervenção directa na atribuição de tal cargo. Ver: Chanc.
de D. Dinis, liv. 3, fl. 39.
4
( ) Chanc. de D. Afonso V, liv. 13, fl. 60,
(") Chanc. de D. Afonso V, Iiv. 13, fl. 182; Gama Barros, Hist. da
Adm. Publ., III, pág. 711.
64
mato no termo de Santarém, mato que já fora olival e estava
situado na encosta do vale das Estacas, além do mosteiro de Santa
Clara, por carta de 1 de Julho de 1426 (1). Igualmente, é ao almo-
xarife e ao arrendador mor das terras da Rainha D. Isabel que
competia a distribuição dos bens desaproveitados na vila de Alen-
quer e seu termo, como o preceitua uma carta de D. Isabel, de
Maio de 1446 (2). E D. Afonso V, em Maio de 1456? encarregou
o seu contador e almoxarife na vila de Torres Novas de apre-
goarem os bens danificados, ou em mortório, e de os distribuírem
a quem os quisesse aproveitar (3). Foi contra o almoxarife dar
terras de sesmaria nas barreiras do muro da vila 1 que se queixou
o concelho de Torres Novas nas cortes de Lisboa de 1459 (4).
Quando em terras de senhorio, o rei delegava no donatário
não só a dada das sesmarias como a nomeação do sesmeiro.
D. João 1 assim o fez ao seu guarda-mor Martim Afonso de Melo,
cometendo-lhe a incumbência de dar sesmarias em Terena, em
1413. Alguns anos depois, por carta régia de 27 de Fevereiro
de 1450, D. Afonso V renovou a concessão a Nuno Martins da
Silveira, escrivão da puridade e senhor de Terena ( 5). Os Infantes
D. Henrique e D. João obtiveram poder para dar as sesmarias
nas suas terras, e nas das ordens de que eram governadores - por
eles ou por outrem em seu nome-, por cartas passadas em
1422 (6). Semelhante privilégio conseguiram os priores de Alco-
baça e do Hospital (7), o comendador de Aljustrel (8) e outros.
Diogo da Silveira foi investido de igual poder em relação à vila
de Pedrógão Pequeno, em 12 de Setembro de 1455, consignando
a carta régia que ele ou o seu almoxarife podiam dar as sesmarias
por tributos razoáveis (9 ). Também D. Pedro, filho do Infante
66
Pot todas estas cartas aduzidas, vemos que no século X\
o cargo de sesmeiro, ou a sua nomeação, em determinados con-
celhos, dependia da proposta e eleição do grémio municipal que
a confirmação régia sancionava, noutros pertencia ao soberano
que passava carta para dar bens de sesmaria a quem bem lhe
aprouvesse; nas terras da coroa o sesmeiro era um funcionário
régio e nas terras de senhorio delegava o rei no donatário ou nos
seus funcionários a nomeação daqueles que as haviam de dar (1-).
Mas que, sempre, a confirmação real legalizava a moneação feita,
pois que da mais remota origem pertencia ao soberano a outorga
da repartição das terras e daqueles que a deviam efectuar. Nas
cortes de Lisboa de 1459, ao responder aos capítulos especiais da
vila de Portalegre, D. Afonso V declarou: «E por que per nos se
poeem os sesmeiros geeralmente. se eles teem algüüa carta ou
priuillegio por que os deuam fazer amostre no e seer lhe a guar-
dado seu dereito» (2). Bem que, nas cortes gerais de 1472-73, os
procuradores dos concelhos referissem que até D. João I os
sesmeiros concelhios eram dois homens bons, eleitos e postos
pelo respectivo concelho, e que o primeiro de nomeação régia fora
o de Estremoz, no tempo de D. João, mas previamente eleito pelo
concelho (3), sabemos que a afirmação não é verdadeira porquanto
conhecemos pelo menos a carta de D. Fernando, de 30 de Março
senta igual variedade o nome, que as cartas regias dào a quem incumbem
das sesmarias; e foi precisamente esse um dos casos de que se tratou
nas côrtes de 1472 ... ; mas até então o sesmeiro, quando o seu provimento
o denominava juiz, exercia, segundo se deprehende d'essas côrtes, mais
ampla jurisdicção, e agora, no tempo de D. João II, não se mostra que
o facto envolvesse qualquer distinção no desempenho do cargo. E man-
dando D. João nas côrtes de 1481 que se cumpra á risca a lei de seu pae,
e que de conformidade com ella se julguem as demandas pendentes ou
futuras ácerca das sesmarias, a conclusão mais provavel é que não só a
lei dispunha que tornando-se contencioso o acto do sesmeiro competia aos
juízes ordinarios a decisão da causa, mas foi essa doutrina legal a que
prevaleceu. É tambem a das Ord. Man., que nem falam no officio de juiz
das sesmarias: «E se depois que as sesmarias forem dadas se recrecer
contenda se sam bem dadas, ou nam, se as Sesmarias esteuerem em terras
foreiras, ou tributarias a Nós, ou aa Coroa de Nossos Reynos, o conhe-
cimento de taes contendas pertence aos Nossos Almoxarifes; e se forem
em terras isentas, pertence o conhecimento aos Juizes Ordinarios dos
Lugares onde taes bens esteuerem» (IV, 67, 4). O mesmo autor também
demonstrou que nenhuma distinção honorífica se atribuía à diferença de
nome de sesmeiro e de juiz das sesmarias. Gama Barros, Hist. da Adm.
Publ., III, pág. 718, n. 1.
(1) Tal se verifica claramente na carta de D. Afonso V, de 26 de
Junho de 1464, a propósito de uns moinhos na ribeira de Avis, dados de
sesmaria a Fernão Afonso. Odiana, liv. 3, fl. 49 v-50.
(2) Odiana, liv. 3, fl. 141-142 v.
(3) Com respeito à doutrina que se fixou nas Ordenações Manuelinas
de que ao rei competia pôr os sesmeiros, ver: Gama Barros, Hist. da Adm.
Publ., III, pág. 718, n. 1.
67
de 1378, em que são confirmados pelo rei os sesmeiros de Tavira
que o concelho elegera (1).
A evolução social e política que se foi dando ao longo dos
séculos XIII e XV projectou-se curiosamente na condição social
dos homens investidos no cargo de sesmeiros. Na primeira cen-
túria eram os homens bons do concelho os escolhidos e os seus
nomes singelos não denotam galas nobiliárquicas. Em seguida, no
último quartel do século XIV, um sesmeiro é intitulado vassalo
dei-rei, outro vedor das abertas reais e outro ouvidor da rainha.
Caminhando na nova era social, que levara ao trono de Portugal
a chamada dinastia de Avis, nomeadamente no reinado de
D. Afonso V, acotovelam-se os homens bons dos concelhos com
grande número de ricos-homens do concelho do rei, apaniguados
e protegidos de grandes senhores, o «genro do almirante», escudei-
ros e criados de infantes e prelados.
Com a «degeneração do espírito democrático na vida muni-
cipal», são compreensíveis tais transformações; tinha mudado a
ordem das coisas e com ela os homens, seus escravos e seus
senhores.
68
IV
1
( ) Já aludi à hipótese de que só o cultivo efectivo das courelas,
recebidas quando do sesmar dos concelhos, garantisse a sua posse.
(2) Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 702.
(') Por exemplo, na doutrina da vivificação das terras improdutivas
recolhida em Espanha nas leis de mouros. Ver: F. B. Pérez, Estudos sobre
la historia dei régime agrario, págs. 127-128.
4
( ) Em Memorias de lit. portug. publicadas pela Acad. Real das
Sciencias, II, págs. 13-14.
69
um olival situado além do Mondego, defronte da cidade, e que
durante três anos permanecera inculto, pelo que os denunciou
ao rei um tal João Eanes; depois de um largo inquérito o soberano
outorgou que a dita colegiada perdesse o olival e ele fosse dado
ao denunciante, como este lhe pedira (1 ).
Quer ponhamos em dúvida a autenticidade do testemunho,
quer o aceitemos, só voltamos a encontrar outro fidedigno cerca
de um século depois, em 1305 (2). Ê então, em 28 de Março, que
perante o juiz e sesmeiro de Lavar, e em presença do tabelião
público desse lugar, Vasco Pires, mordomo do bispo de Êvora,
declarou que não havia razão para intervir na herdade que o bispo
tinha no termo de Lavar: «e peço uos e digo a uos Sesmeyro que
nõ auedes pera que enalhear o herdamento do bispo nem no dar
a nemgü.u ca en todalas cousas he bõo uízínho. E o dicto Johãm
pááez Sesmeyro disse. eu nõ lho embargarey ca he bõo uizínho» (3).
Encontramo-nos perante alguma coisa de semelhante, por denún-
cia ou por outra qualquer razão, o mordomo do bispo de Êvora
vê-se na contingência de fazer lavrar um instrumento público em
que o sesmeiro declara que não embargará o herdamento em
questão. Só uma razão poderosa, como o abandono de cultivo
punido pela lei e pelo costume, podia fazer perigar os direitos do
poderoso prelado de Êvora em face da autoridade do sesmeiro
de Lavar.
Por esta mesma época, a rainha D. Isabel mandou dar her-
dades em sesmaria no termo de Abrantes com a condição daqueles
que as recebessem, morassem e povoassem na. cerca do castelo
da vila, e que se tal não fizessem «que estas herdades e sesmarias
fossem dadas a outras pesoas que hi morar e pobrar quiserem».
Bastantes anos depois, em 1374, D. Fernando para alcançar o
mesmo fim renova as condições anteriormente estabelecidas, com
o consentimento de sua mulher lídima D. Leonor, a quem doara
Abrantes (4). .
A expropriação da terra ao proprietário, que a ·não aprovei-
tasse, ressalta nitidamente da ordenação dada ao corregedor de
Beja, Estêvão Perez, em 1332 (5 ). Depois das disposições relativas
(1) «Otorgo, e aprasme que o dito olival que havia o Preste e PP.
da dita Egreja que vos ho ajades quejando elles o havion, per ho non
amanharem em maneira que vos me ho notificaste, de guiza que vos
Joanne Eannes lhe daredes ha pensom, que alvidrarem os homens bons.»
Idem, II, pág. 14. .
(2) Como D. Afonso II reinou de 1211 a 1223, só nesse período
podemos localizar a sanção anteriormente indicada.
(3) Cartolário do Cabido de Évora, fl. 68 v.-69. Devo a possibilidade
de dar este documento à bondade do erudito Rev. Dr. Carlos da Silva
Tarouca.
(4) Chanc. de D. Fernando, liv. 1, fl. · 157.
(') Maço 10, n.º 7. de Forais antigos. fl. 30 v..• e fl. 33.
70
à for:na como os sesmeiros deviam dar as coutadas (1), o rei
preceituou o que o corregedor devia fazer para que as herdades
fossem rotas e lavradas; se alguns não lavraram ou não queriam
lavrar as terras que já tinham sido arroteadas, ou não queriam
romper as que ainda o não eram, que os convencesse e induzisse
a fazê-lo o melhor que pudesse, e no caso de entender que era
proveito da terra, «Senõ seiam çertos que el rey as dara a outros
que aronpam os matos e as que nõ forom lauradas» (2).
O mesmo se contém nos provimentos estabelecidos em Beja
pelo corregedor Afonso Eanes, no ano de 1339, com o alcaide,
alvazis e vereadores para bem comum de todos. Colhera o corre-
gedor informação que os sesmeiros davam os logradoiros do con-
celho, os que ficavam nos arredores da vila como os das aldeias,
das fontes e dos poços, de tal forma que o concelho deixava tudo
alienar e perder, de guisa que já não havia por onde sair o gado
e as cavalgaduras senão pelo alheio. Como era ilegal o que tinham
praticado os sesmeiros, resolveu o corregedor ver com o alcaide
o que se passava, mantendo o que fora dado como devia e revo-
gando o que o fora ilegitimamente; determinou também, da parte
do rei, qua daí por diante os sesmeiros não dessem mais logra-
doiros em redor da vila, ou nas aldeias e outros lugares, senão a
dada seria tida como nula e reverteriam as terras para o concelho,
pagando-lhe os sesmeiros dez libras por cada dada que assim
fizessem, a não ser que lhes assistisse o consentimento dos magis-
trados do concelho. Mas, registado aquilo que era defeso, o cor-
regedor mandou aos sesmeiros que dessem, tanto no corpo da vila
como nos arrabaldes e aldeias, todos os campos e pardieiros que
achassem desaproveitados há mais de dez anos, e isto depois de
serem apregoados durante um ano e um dia para os donos os
virem aproveitar, como el-rei mandava. «E que ainda que seiam
de fidalgos. ou doutros poderosos que os nõ leixern de dar comme
doutros quaesquer», na certeza de que se os sesmeiros deixassem
de o fazer por medo, rogo, negligência ou por outro qualquer
motivo, sendo-lhes pedidos os terrenos, el-rei os castigaria nos
corpos e nos haveres corno aqueles que não fazem o que devem (3).
Outro regimento dos corregedores de Entre Tejo e Guadiana,
alterado no ano de 1366, contém um artigo referente ao que
72
muitas das suas terras ficavam sem ser lavradas, pela qual razão
«as comarcas hu som som mingoadas de pã e de víjnho o que nõ
síjam de séérn; e no 21. º artigo, disseram os procuradores dos
concelhos, que dentro em pouco tempo todas as herdades do reino
seriam da igreja, porque a maior parte dos que passaram e passam
deste mundo lhe deixaram e deixam grande parte do que possuem.
Pediram ao rei que tal se proibisse, pois tendo assim as igrejas
tantas herdades as não podiam aproveitar «e desperecem e fazem
se matos. E que seria nosso seruiço de sêerem dadas pelos nossos
sesmeyros a algüus que as aprofeytassem» (1-). D. Afonso IV não
atendeu o primeiro pedido alegando que era contra direito e
razão (2), quanto ao que dizia respeito às herdades que não eram
aproveitadas, determinou que as suas justiças intimassem os res-
pectivos possuidores a aproveitá-las, marcando-lhes prazo para o
fazerem, e se o não quisessem executar que lhes enviassem um
«estorment0>> com a intimidação e a resposta dada e ele as man-
daria correger pelos bens das ordens (3).
Não logrou produzir efeito a determinação régia, e logo no
reinado seguinte, nas cortes de Elvas de 1361, se reacenderam
as queixas. Como tinham sido letra morta as resoluções de
D. Afonso IV, pediram os procuradores novamente ao rei «que
lhis dessemos tempo certo a que os lavrassem se nom que fossem
pera os Concelhos hu as assi tevessem». Respondeu D. Pedro que
se guardasse o que seu pai ordenara, «E por seer feito como deve
e sem outra delonga o que avemos por nosso serviço e por sá prol
Mandamos que elles e outrossi os Commendadores ajam seus
servidores e guaados e as outras cousas que lhis pera esto com-
prem de guisa que comecem a lavrar e afruitar essas herdades e
vinhas desde dia de Natal primeiro seguinte e dihi em diante as
adubem como devem. E mandamos que as Justiças lhis dem
servidores por sas soldadas e preços como lhis for compridoiro
com aguisada razom e requeiram esto que faça como deve e nos
Mandamos. E outrossi os Corregedores dessas Comarcas o façam
(1) Livro de Leis e Posturas Antigas, fl. 163 e fl. 166; Gama Barros,
Hist. da Adm. Publ., IV, pág. 23.
(') Datam do reinado de D. Dinis, de 1286 a 1291, as disposições
proibindo às corporações de mão-morta a compra de bens imóveis e de se
constituírem herdeiras dos professos. De pouco valeram, as constantes
excepções abertas pelo monarca tornaram-nas inoperantes.
(3) Ê o que se deduz do final do capítulo, que diz: «se o nõ quisserem
fazer enuijen mho dizer pela guissa que lhe he contehudo no primeyro
artigo que fala en razõ das Cassas dos Bispos e meestres priores e abbades.»
Remetendo para a resposta do 1. º artigo, encontramos: «E da fronta e da
Resposta delles assy ffilhem ende hüu estormento E se o elles assy nõ
fezerem envíjnelo dizer com o dieta estormento em que seia contehuda
ha Resposta dos ssobredictos E nos as mandaremos Reffazer dos béés des-
sas ordéés.»
73
fazer e se o nom fezerem como dicto he fação no saber a nos
pera tornarmos a ello e mandarmolo correger como a nos cabe
com aguisado» (1).
Dois comentários já feitos às providências decretadas por
D. Pedro fizeram sobressair a influência que teve a escassez de
trabalhadores rurais nos males de que se queixavam os procura-
dores em cortes. Reforçando o que escreveu Gama Barros (2),
Torquato de Sousa Soares não hesita «em afirmar que essa era
a origem do mal. E tanto assim, que é justamente nessa época
- desde o reinado de D. Afonso IV - que principiam a aparecer
as leis reguladoras da liberdade do trabalho» (3).
Mas além da classe eclesiástica, os mouros forros da cidade
de Silves foram alvejados nas cortes de Elvas de 1361 por não
aproveitarem terras no lugar de Loubret (4). Agravou-se o conce-
lho de Silves contra alguns deles por não aproveitarem o que
tinham no dito lugar como deviam, deixando-o inculto a ponto
das terras se encherem de mato bravio com coelhos e veados, o
que prejudicava e destruía as terras dos vizinhos cristãos .e tam-
bém as dos mouros. Não ousavam os sesmeiros da cidade dar
essas terras de sesmaria a cristãos porque delas devia o rei haver
a dízima, e posto que as pudessem dar ninguém as tomaria com
tal encargo preferindo antes dar certos foros por elas. Por isso
pediram ao soberano que desse tempo «aguisado aos dietas mou-
ros a que britassem os dietas matos e aproueitassem os dictos
lugares como compria. E se o nom fizesem que mandasse ao dieta
meu almoxarife e scpriuã que os desse de foro aguisado a taaes
pesoas de que eu pudesse auer o meu E por esto a terra seria
mjlhor pobrada». Acedeu D. Pedro ao que lhe pediam e mandou
dar carta ao concelho de Silves, em 30 de Maio de 1361 (5).
Tão explícitos como os das cortes de Lisboa e de Elvas foram
os artigos do concelho de Santarém nas cortes gerais de Lisboa
de 1371, no reinado de D. Fernando. No 19.º artigo diziam ao
rei que os prelados do reino tinham as suas casas próprias das
ordens onde habitavam, mas que as tinham deixado arruinar,
motivo que levara D. Pedro a mandar que as reedificassem, o
que não quiseram fazer continuando a· pousar nas casas alheias
e causando com isto grande dano ao povo. Pediram, de novo, que
o rei lhes ·marcasse teinpo determinado para as fazerem «e nõ
as fazendo que os conçelhos as aiam pera sy e as posam dar em
(') Vise. de Santarém, Algs. does. para servirem de provas à parte 2.g
das Memorias para a Historia e Teoria das Côrtes Gerais, págs. 4"5.
(') Gama Barros, Hist. da Adm. Públ., IV, pág. 23.
(3) Torquato Soares, em Hist. da Expansão, 1, pág. 91.
· (') No documento aparece escrito o nome da localidade das seguin-
tes formas: Loubret, Loubite e Loubet.
(') Chanc. de D. Pedro 1, liv. 1, fois. 60-61.
74
sesmarias». A este artigo respondeu D. Fernando que se guar-
dasse o preceituado por seu pai nas cortes de Elvas, «E se elles
ou sseus procuradores forem em elo negrigentes mandamos que
dos seus beens dem mantijmentos aa tãães que o façam fazer E se
os juizes forem em elo negrigentes mandamos ao corregedor da
comarca que faça correger esas casas aos juízes pelos seus bees
E sse o corregedor esto nõ rrequerer nos lho faremos correger
pelos seus bees e lho estranharemos commo no fecto couber» (1)
É este acervo de males indicados pelos concelhos do reino
durante longos anos, e as respectivas medidas adaptadas pelos reis
para lhe darem remédio, que vão ser enfeixadas no reinado de
D. Fernando e constituir uma das feições mais peculiares da
célebre Lei das Sesmarias.
76
urbano (1). Em breve estas duas correntes representativas de duas
culturas renovaram as modalidades de povoamento e a vida social
das classes inferiores, e um século depois da conquista de Lisboa,
Portugal tinha adquirido uma feição económica caracterizada pela
fusão da faina agrícola e pastoril e da piscatória e marítima (2).
Ora, duma sociedade que de início fora organizada para
suprir às necessidades da guerra e garantir o cultivo das terras,
numa e noutra região, em pouco tempo se desprenderam ele-
mentos que a crescente prosperidade do comércio e o desenvol-
vimento dos ofícios mecânicos absorveram, ao passo que outros
iam formando a legião dos vadios, dos «vagos». Por um lado,
o aumento da população, diminuídas as sangrias periódicas das
expedições guerreiras, fornecia braços suficientes para o cultivo
das terras, mas, por outro lado, o acréscimo de numerário, o bem-
-estar e a força social e económica que alcançavam dia-a-dia os
mercadores e os mesteirais em relação à situação gravosa do
trabalhador rural, fazia com que se abrissem clareiras nas filas
dos que amanhavam a terra. Como consequência da falta de mão-
-de-obra seguiu-se a carestia dos salários e a consequente tentativa
de os regular pela elaboração de taxas que os fixassem, bem como
o tabelamento dos preços dos produtos da terra. Ao mesmo tempo,
o proprietário rural defendeu-se da falta de trabalhadores e dos
salários ruinosos abandonando as lavras e transformando-as em
pascigos 1 aumentando assim a receita e diminuindo as despesas
da exploração agrária. E as coutadas aumentaram devoradoras,
ameaçando o pequeno lavrador agarrado tenazmente à sua gleba.
Um outro factor, e não dos menores, acentuou a crise da
agricultura no século XIV, foi a tão tristemente memorável Peste
Negra que dizimou a população da Europa e ajudou a transformar
toda a sociedade medieval (3).
Este rápido bosquejo não representa em especial o caso por-
tuguês ou espanhol, mas sim o europeu. Nuns pontos mais som-
77
brio, noutros mais leve e risonho, o complexo agrano dos fins
da Idade Média é bem elucidativo das dificuldades que assaltavam.
os povos e os seus governantes.
Vejamos de espaço o que se passava aquém Pirenéus.
Em Espanha, data do reinado de Afonso o Sábio a primeira
tentativa para fixar o preço dos géneros que, por excesso de con-
sumo e más colheitas sucessivas, tinham encarecido brusca-
mente (1 ). Nas cortes de Jerez, de 1268, lastimaram-se os povos da
«grant carestia que era en la tierra»; para lhe valer o soberano
regulou minuciosamente o valor da moeda, fixou o preço dos
géneros, taxou as soldadas e jornais dos mancebos e servidores
rurais conforme as regiões (2) e ordenou a perseguição dos va-
dios (3). Seguem-se anos após anos e os agravamentos apresentados
em cortes giram em volta dos mesmos assuntos - crise de mão-
-de-obra, alta excessiva dos salários e carestia dos géneros-, que
reflectem a drenagem dos trabalhadores para os centros urbanos,
onde encontravam remuneração imediata e a liberdade do traba-
lho à sombra das suas muralhas, unida à crescente protecção
real ao comércio e à indústra pastoril. Ao sobrevir a Peste Negra,
que atingiu a Península em 1348, agravou-se a situação e acele-
rou-se a transformação social e económica (4). As cortes de Valla-
dolid, de 1351, renovam a proibição de exportações de cereais (5),
estabelecem taxas de preços para os produtos agrícolas e tentam
entravar por todas as formas a marcha dos acontecimentos. Nelas
se publicou o conhecido Ordenamiento de menestrales y postu-
78
ras (1), sem dúvida extensivo a Leão e Castela, que compelia ao
labor do campo os vadios e os rurais (2), que fixou o máximo do
salário de diferentes categorias de trabalhadores rurais e saneio~
nou o costume de que um dia de trabalho é entendido de sol a
sol (3). As medidas tomadas em Valladolid foram confirmadas
pelas cortes de Toro de 1369 (4).
Como escreveu Robert S. Smith: «The Córtes de 1369
re-enacted this legislation which, unlike the acts of modern
lawmakers, set a "ceiling" to wages and a "floor" to the hours
of work.» (5)
79
A Espanha contribuiu com um diploma legislativo de grande
interesse para o estudo da crise da sociedade no fim da Idade
Média, que se integra na última tentativa da classe governante
europeia para desviar o curso veloz dos acontecimentos que, nos
fins do século XIV, transformaram toda a Europa. Urgia salvar
a economia agrária e os senhores fundiários, assim como as classes
patronais das cidades, das exigências do lavor popular, do pro-
gresso da libertação económica e social do proletário rural e
urbano. Contudo, o problema espanhol, se atendermos a que desde
a segunda metade do século XIII se desenvolvia e organizava
uma indústria pastoril preponderante, podfa ser resolvido de uma
forma diferente, mercê da substituição na economia do país da
riqueza provinda da terra pela usufruída da produção da lã e do
seu comércio (1-). Donde o despovoamento rural e a decadência da
agricultura serem factores de somenos importância na evolução
económica, política e social da Espanha até aos fins do século XVI.
Em Portugal, data do século XIII, de 1211, o primeiro diploma
legislativo que manda perseguir os vadios f), e da mesma centúria
é também o primeiro que se ocupa do tabelamento do preço de
certos géneros e da taxa dos salários dos servidores rurais - a lei
de D. Afonso III, de 26 de Dezembro de 1253 (3 ). A partir de
então a «população que vivia de soldada, estava sujeita a prescri-
ções rigorosas para a compelirem a trabalhar» (4 ). Traçara-se defi-
nitivamente uma linha divisória entre o homem trabalhando por
conta própria e o assalariado. Assim como a fortuna determinava
gradações e distinções de alcance jurídico entre os indivíduos
da população ordinária, era também o direito de propriedade
sohre bens avaliados em trezentas libras, conjuntamente com a
posse de um singel de bois para lavrar a terra, que libertava o
homem da obrigação de trabalhar por conta alheia, que o isolava
da classe dos proletários rurais.
Mas o desequilíbrio entre a oferta do trabalho rural e a pro-
cura dele torna-se flagrante no reinado de D. Afonso IV, conco-
mitantemente com a multiplicação das leis reguladoras da liber-
dade do trabalho. Contra a carestia ·dos salários e a falta de
servidores providenciou o rei numa lei, possivelmente de 1349,
80
em que se descrevem as causas que determinaram as medidas
tomadas; «Sabede que a mjm he dicto que em essa vila e em seu
termho ha homes e molheres que ante que deus desse a pestilençía
que hy ouue; guáánhauam dinheiros per affam de seus corpos
obrando cada hüu e cada hüa de seus mesteres e seruíços; e
seruyam esses concelhos como compria. E que agora que cobra-
ram algüus bees per mortes dalgüas pessoas que sse téém em tau
grandes que nõ querem obrar de seus mesteres e seruyços como
ante fazíam; E que por esto os dessa vila e termho rrecebem
grandes perdas e danos. E que outrossy ha hy outros muytos que
ssoyam a seruyr eu cauar e em podar e em laurar e em segar e
em vendímhar e em guardar gáádos e em fazer todolos outros
seruyços que a esse concelho compria. E que agora nõ querem
seruyr; salvo se lhís derem quanto eles quyserem. de guysa que
os senhores das vinhas e erdades e gáádos e doutras possissões.
vééndo em como os sobredictos querem deles leuar tam grandes
solairos que xe lhís nõ seguyría ende tã grande proueyto dos noues
e Rendas das dietas cousas. come as custas e despesas que hy
fariam leyxam porem dadubar e de laurar as dietas vinhas e
erdades e casas e outras cousas» (1); os gados ficavam ao abandono
causando ainda mais prejuízos e o homem foge do campo para a
cidade onde o ganho é fácil e a fortuna propícia (2). Para obstar
ao mal, D. Afonso IV ordenou que em cada freguesia os respec-
tivos concelhos nomeassem dois homens bons para procederem
ao arrolamento dos mesteirais e servidores rurais, tanto dos que
o eram anteriormente como dos «outros que ora hy ha pera
seruyr», e que feito isso os constrangessem a trabalhar segundo
seu mester e serviço taxando-lhe os salários no preço que enten-
dessem razoável. Se alguns a que «aconteceram aueres per rrazõ
da morteydade», ou por outra maneira, pedissem com direito e
razão para não usar dos mesteres e serviços que dantes usavam
que lho fosse consentido, segundo a pessoa e os haveres, e os
autorizassem a que se ocupassem de «mercadoría ou de lauoyra
ou doutro mester ou seruyço maís honrrado», conforme os inte-
resses do lugar onde vivessem, obrigando-os, porém, a ter cavalo
se os seus bens fossem compatíveis com esse encargo. Depois
de feita a ordenação e fixada a taxa dos salários, tudo seria publi-
81
cado em concelho e apregoado pelas povoações; os que violassem
o estabelecido seriam punidos com açoites, ou multas, prisões,
ou desterro do concelho conforme parecesse aos delegados muni-
cipais. Em seguida o diploma preceitua como se devia nomear
os homens encarregados de vigiar o cumprimento da postura, de
aplicar as penas, de recolher as multas e de acusar os culpados.
Como também fora representado que os criados não queriam ser-
vir senão às semanas e aos meses, abandonando muitas vezes os
patrões numa época do ano em que mais precisos eram, D. Afonso
IV mandou que o servidor fosse constragido a servir durante um
ano o patrão por uma soldada aguisada. E como as soldadas nem
sempre eram pagas como deviam - do que se queixavam os jor-
naleiros-, determinou, sem embargo de qualquer costume ou
lei em contrário, que em caso de queixa justa as fizessem pagar
pelos patrões dentro de três dias com as custas e perdas que
tivessem sofrido os queixosos, ou se o não quisessem fazer nesse
dia seriam forçados a pagar o dobro dentro de oito dias. «E a
gram rrazõ. he que poís an dauer pea os seruydores que seruír
nõ querem; que outrossy a aiam os senhores que lhis nõ quyserem
pagar as soldadas que lhís teueram mereçudas.» (1)
Nas cortes de Lisboa de 1352, queixaram-se os concelhos que
as posturas de nada valiam porque os transgressores ficavam im-
punes, mercê da fuga ou protecção superior, e não se sujeitavam
às soldadas estabelecidas. D. Afonso IV reforçou as medidas an-
teriormente tomadas com outras tendentes a impedir a passagem
dos servidores de uma para outra comarca. Contudo, nada ata-
lhava a falta de mão-de-obra e, em 1361, D. Pedro limitou-se
a aplicar os mesmos expedientes de seu pai para enfrentar idên-
ticas queixas e agravamentos (2). Diante de D. Fernando, nas
cortes de Lisboa de 1371, ressurge o mesmo problema sem que
novas providências venham obviar ao alastramento de tão per-
tinaz crise do trabalho.
Não é só a lei de D. Afonso IV que alude à redução da po-
pulação rural nos meados do século XIV, outros documentos
fazem referência aos efeitos desastrosos das esterilidades e pes-
tilências no povoamento do reino (3). Periodicamente, durante
toda a Idade Média, grandes esterilidades mergulharam o país
na mais negra misfria, morrendo à fome muita gente; mas ne-
nhuma parece ter sido tão devastadora como a de 1333 que atin-
1
( ) Livro das Leis e Posturas antigas, fl. 159-159 v.; Gama Barros,
Hist. da Adm. Publ., 1, págs. 486-487.
(2) Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., I, pág. 489.
(3) Além da Peste Negra houve em Portugal mais epidemias como
a de 1361, talvez a continuação da anterior, e a de 1415, que apenas
grassou no Porto, Lisboa e arredores.
82 .
giu não só Portugal, como a Galiza e Castela (1-). À fome seguia-
-se quase sempre a peste, sombra negra dos anos de má colheita,
ceifando vidas a esmo. Gonçalo Esteves de Tavares e sua mulher,
D. Leonor de Vasconcelos, legaram em testamento, datado de
1356, várias herdades e bens para a fundação de um hospital em
Correga1 mas como «poderia acontecer segundo as gentes ora mor-
rem que se hermaríam estas herdades», recomendaram como se
devia escalonar a distribuição dos legados e dos seus rendimen-
tos (2). Os capítulos especiais do Porto oferecidos a D. Pedro nas
cortes de Elvas, de 1361, aludem à abundância que havia na ci-
dade antes da epidemia (3). Do mesmo se lastima o concelho de
Santarém em 1364, porque a população era pouca na terra pelas
pestilências que Deus dera ao mundo (4). E, em 1377, o concelho
de Bragança representava a D. Fernando «Que ante da pestenença
p1imeira avya na dita vylla muytos omees de cavalo e de pee e
que ora nom ha hy a sexta parte da campanha que soia daber por
razom da pestenença e outro sy desta pestenença segunda que ora
f foy era despovorada» (5). Mas, no entretanto, outra causa se adi-
cionara ao flagelo: a guerra. É o próprio rei que o reconhece,
quando faz doação da aldeia de Patais ao mosteiro de Alcobaça,
e diz: «como as Rendas del saro muyto apoquentadas asy pellas
pestilenças que foram como pellas guerras que ouuemos» (6 ).
Ainda nas cortes de Elvas, de 1361, e nas de Lisboa, de 1371,
os concelhos pedem insistentemente providências em prol da agd-
cultura do reino e contra a falta de servidores rurais; através
das queixas ecoa sempre a razão dos excessivos salários exigidos
e de se eximirem à faina do campo um número sempre crescente
de homens, levados peias guerras e pelos mesteres domésticos
ou citadinos (7).
84
lhaniento» (1), e que fornecia temporariamente pastagem ao gado,
grandes extensões de terra por cultivar eram abandonadas aos
rebanhos. A servidão dos pastos comuns tendia· a extinguir-se
pelo excesso de coutadas que os donos alcançavam para proteger
não só a parte cultivada mas também a inculta das suas proprie-
dades (2), dificultando as deslocações do gado, que eram vulga-
res nalguns pontos do Alentejo, quando ascendiam às pastagens
de verão ou regressavam com o período invernoso~ seguindo os
caminhos especiais, as canadas, que os agricultores respeitavam
assim como os rebanhos a terra semeada (3 ).
Desde cedo a luta entre o lavrador e o pastor se adivinha
nalguns concelhos alentejanos. Quando interpelados por que razão
não agricultam a sua gleba têm sempre como desculpa a falta de
braços e a má qualidade da terra que pouco ou nada produzia.
«E porque per myngoa de mancebos e seruydores que nom po-
diam auer pera suas lauoyras segundo a mjm foy notorio» - es-
crevia D. Pedro, em 1 de Março de 1362, na carta em que respon-
deu aos agravos dos vaqueiros, ovelheiros e homens dos gados
de Entre-Tejo e Guadiana - «pero por esto faziam quanto fazer
podiam as herdades nom eram nem podiam seer todas lauradas
nem aproueitadas como deujam e muy gram parte ficauam por
laurar sem sua culpa e dellas eram manjnhas e mããs que nom
eram pera laurar nem foram nunca lauradas» (4 ).
Os reis protegeram sempre a criação de gados, mas tenta-
ram equilibrar os interesses frequentemente antagónicos dos gran-
des e pequenos proprietários, dos concelhos e dos criadores de
gado. Seguindo, em parte, o que se fizera nos reinados anteriores,
D. Pedro I resolveu, perante as exposições do concelho de Évora,
que uma parte de cada propriedade fosse coutada para o gado
destinado à lavoura do próprio dono, incluindo quatro vacas de
leite por cada arado, não podendo o seu número exceder dezas-
85
seis qualquer que fosse a porção de arados; a área coutada devia
ser sempre proporcional ao número de cabeças necessárias à cul-
tura da terra e não mais, e nela era vedado deixar pastar gado
alheio ou vender o pasto sob pena da terra ficar devassa. Outros
preceitos regulavam a espinhosa questão dos pascigos alenteja-
nos, mas não lograram resolvê-la, nem tão-pouco as medidas de-
cretadas em reinados posteriores (1). Ê contra a míngua de lavras
e contra as empresas latifundiárias de tipo pastoril que a produção
agrária portuguesa, deficitária, terá de travar os seus mais duros
combates além do Tejo.
Todos os diplomas sucessivamente elaborados para compelir
os homens a trabalhar no campo, reflectem a mesma situação an-
gustiosa da agricultura nacional e a mesma· orientação de carác-
ter coercitivo para a debelar. Enquanto se procurava promover
o aproveitamento da terra, punindo com a expropriação o pro-
prietário que a deixasse inculta, tentava-se fornecer-lhe os braços
necessários para o seu amanho, coagindo o niaior número de in-
divíduos ao mester da lavoura, e entravava-se o encarecimento
da mão-de-obra taxando os salários máximos.
Contudo, são as cortes de Lisboa, de 1371 e as de 1372, que
indicam o paroxismo da crise que havia mais de um século se
avolumava. As tintas do quadro não podem ser mais sombrias.
À falta de trabalhadores rurais jungia-se o excessivo salário dos
poucos que ainda laboravam 1 as guerras ruinosas e a depreciação
da moeda; às exigências do exército e da frota adicionavam-se
os abusos dos funcionários régios e dos senhores compelindo os
lavradores a cederem os seus produtos por um preço diminuto
e numa moeda desvalorizada sob o pretexto de atenderem às
necessidades do reino, revendendo-lhes depois astutamente a taxas
elevadas. Estiagens prolongadas e sucessivas agravavam a falta
de víveres, e o restolho das más colheitas era insuficiente para
manter os gados de lavoura fugidos dos pastos calcinados (2).
E a população desertava os campos ingratos em direcção às vilas
e cidades, numa derradeira esperança de mbsistência e de desafogo,
os proprietários abandonavam as suas lavras improdutivas e o
mato e a ruína espraiavam-se sobre as terras de Portugal.
A gravidade do problema e as instantes queixas do povo,
necessitavam de uma rápida intervenção do poder central que,
num esforço coordenador, atalhasse o descalabro em que afun-
àava a agricultura e a própria nação.
86
Ê então, que a argucia dos legistas elabora e estrutura um
diploma complexo em que todas as facetas da crise são previstas
e a todas se procura dar remédio. Aproveitando e fazendo revi-
ver certos preceitos antigos, leis esparsas e costumeiras isoladas,
erige-se uma das primeiras leis agrárias da Europa que mereça
tal nome. Para a servir e executar, recorre-se aos homens que
nos concelhos demarcavam e repartiam as terras e coutadas e,
do seu velho nome de sesmeiros e das glebas por eles dadas, o
diploma legislativo passou à posterioridade com o nome de Lei
das Sesmarias, não tendo com as antigas sesmarias senão um ponto
de contacto: a obrigatoriedade de cultivo como condição de posse
da terra e a expropriação da gleba ao proprietário que a deixasse
inculta. Tudo o mais é a codificação e aperfeiçoamento de precei-
tos legais anteriores referentes ao êxodo dos trabalhadores rurais,
à compulsão ao mester da lavoura, à taxa dos salários, aos falsos
mendigos e vadios, etc.
Corajosamente, com o seu duplo aspecto agrário e social,
deformada ou respeitada pelos homens que a aplicam, a lei fer-
nandina vai desafiar os séculos como testemunho perene da matu-
ridade precoce de uma nação europeia em face dos problemas do
homem e da terra.
Na vizinha Espanha, os esforços feitos em reinados contínuos
ficaram dispersos e o Estado desinteressou-se do problema agrá-
rio por razões de ordem económica. Pelo contrário, na longíqua
Inglaterra 1 dizimada pela Peste Negra, o Parlamento procurou
debelar a crise, em 1351, com o «Estatuto dos Trabalhadores»
que podemos comparar com a Lei das Sesmarias não só nos males
a remediar, como também em relação à taxa dos salários e à
limitação da faculdade do trabalhador rural procurar livremente
ocupações mais remuneradoras (1-). A semelhança resulta flagrante
quando vimos certas ofensas consignadas no diploma e que nos
mostram os servidores rurais procurarem melhorar vida no serviço
de «great men and other, unless they have livery and wages to
the double or treble or what they were to take» tempos antes.
O processo inglês pouco diverge do português para dobrar o rural
recalcitrante, pois coagia-o a alugar o seu trabalho na praça pú-
blica a quem o precisasse, a não ir servir no verão para fora da
localidade onde vivesse no inverno e a receber um salário fixado
por padrões antigos; os que desobedecessem eram punidos com
o máximo rigor.
Mas este estatuto não produziu o efeito desejado e outros
se lhe seguiram enquanto os vilões «gather themselves together
in great routs and agree by such confederacy that everyone shall
87
aid other to resist their lords with strong hand»·.. E pela greve, ou
pela revolta, o trabalhador rural lutou pela liberdade e pela livre
remuneração do seu trabalho até vencer passado o século XV (1).
O «Estatuto» longe de entravar a desintegração do «manor» con-
tribuíu para ela sujeitando o labor do trabalhador rural à oscila-
ção da procura e da oferta, minando o direito de preferência do
senhor em relação à mão-de-obra campesina (2).
Um mundo novo dealbava na Europa, fogachos se acendiam
num e noutro país, novos tempos e novas ideias renovavam a
sociedade e preparavam-na para outras tarefas sociais e empre-
endimentos económicos. Dos tempos que viram a luta entre ó
camponês e o senhor, o nascer da Lei das Sesmarias e dos Esta-
tutos dos Trabalhadores, num país insular e noutro voltado para
o mar, saíu o povo inglês para a aventura comercial e marítima
e o português para o desbravamento dos oceanos e colonização
de terras além mar. Enquanto o Estado castelhano cuidava dos
interesses pastoris, que forneciam ao erário régio pingues ren-
dimentos, descurando os problemas do despovoamento rural e
florestal bem como o da paralização da agricultura, Portugal deu
à cultura da terra o seu cuidado essencial, a criação de gado foi
apenas um complemento daquela actividade principal (3 ). E como
das duas, vida pastoril e vida agrícola, resultam técnicas espe-
ciais de trabalho que influem na vida dos homens, na sua evolu-
ção social e económica, também aqui os dois países peninsulares
seguiram rotas diversas que se estamparam nos seus costumes e
nas suas leis.
(') Um moderno historiador inglês resumiu brilhantemente: «These
Parliamentary laws in restraint of wages mark the gradual change from
a society based on local customs of personal services to a money-economy
that is nation wide. Bach mediaeval manor had been governed by its own
custom, which had now in many cases broken down, and here we have
an early attempt of Parliament to substitute national control. The avowed
purpose of the Statutes of Labourers is to prevent the rise of wages,
and to a lesser degree of prices also. Special Justices are appointed, to
enforce the Parliamentary rates, and to punish those who demand more.
So the battle of the landless labourers against the farmers backed by the
Parliamentary Justices went on, from the time of the Black Death to
the Rising of 1381 and after. Strikes, riots and the formation of local
unions were met by prosecution and imprisonment. But on the whole the
victory lay with the wage-earner, because of the shortage of labour caused
by the great pestilence and by its continuai local recurrence. Prices indeed
rose, but wages rose faster still.» G. M. Trevelyan, English social history,
pág. 11.
2
( ) G. M. Trevelyan, Hist. da Inglaterra, págs. 264 e segs.; W. Hals-
bach, A History of the English Agricultura[ Labourer, págs. 20 e segs.;
E. Lipson, The Economic History of England, 1, págs. 96 e segs.
(3) Sobre este assunto tratou magistralmente Júlio Klein, no seu
trabalho La Mesta, em relação à Espanha; em Portugal temos o circuns-
crito mas primoroso estudo de Orlando Ribeiro, Contribuição para o estudo
do pastoreio na Serra da Estrela.
88
VI
89
damos chamar ... »-, para a instabilidade do critério de Ribeiro
incluindo entre as duvidosas as cortes de Santarém e aceitando as
de Atouguia, e concluiu: «Sabe-se que este acto legislativo resultou
da reunião de cortes, mas ignora-se o local onde ellas se celebra-
ram, assim como a data da lei, que todavia não é posterior a 28 de
Maio de 1375 porquanto n'este dia a publicaram em Santarém.
Está incorporada nas Ordenações Afonsinas» (1-). Parece-me pos-
sível acrescentar que a data da lei também não deve ser muito
anterior a Maio de 1375. Se percorrermos atentamente a crónica
de Fernão Lopes reparamos que o cronista segue na sua narrativa
a ordem cronológica dos sucessivos acontecimentos de que se
ocupa, sem a preocupação de mesclar guerras com leis de fomento
comercial e naval, tratados e casamentos com batalhas e mon-
tarias. Ora, nos capítulos que antecedem o extracto da Lei das
Sesmarias, Fernão Lopes registou factos que se verificaram antes
da sua publicação (2), e nos que se lhe seguem o cronista descreveu
quase só acontecimentos posteriores (3). ·
Dispondo esquematicamente as causas que, implícita ou
explicitamente, estão consignadas no diploma e explicam a sua
elaboração, encontramos:
1) escassez de cereais ocasionada pelo abandono das la-
vras (§ 1).
2) carência de mão-de-obra pela fuga do trabalhador ru-
ral para outros mesteres e vida mais folgada (§§ 1, 5,
8 e 16).
3) encarecimento dos géneros e dos salários dos homens
do campo (§§ 1, 5 e 6).
4) falta de gado para a lavoura e seu preço excessivo (§ 3).
5) desenvolvimento da criação de gado em detrimento da
agricultura (§ 18).
6) oscilação perigosa entre o preço da terra pedido pelo
senhorio e o oferecido pelo locatário (§ 13).
7) aumento dos ociosos, vadios e pedintes (§§ 5, 9, 10
e 11).
Todos são velhos males conhecidos dos nossos reis, que se
avolumavam há décadas, e que não eram mais do que a sintoma-
tologia da subversão da sociedade de trezentos. Todavia, nunca tão
90
nitidamente tinham eles sido encarados no seu conjunto, nem
coordenadas as medidas julgadas eficientes para os debelar.
Propunha-se o diploma resolver a crise pela forma seguinte:
1) coagir o proprietário a cultivar a terra, ou quem a
tivesse por qualquer outro título, mediante a sanção
da expropriação(§§ 2 e 4). ·
2) facilitar o amanho da gleba obrigando ao mester da
lavoura todos os que fossem filhos e netos de lavra-
dores, os que não possuíssem bens avaliados até qui-
nhentas libras (1) e não tivessem ocupação profícua
ao bem comum nem senhor certo que necessitasse do
seu trabalho para obra de serviço proveitoso (§ 6).
3) evitar o encarecimento geral estabelecendo taxas de
salários para os servidores rurais e ao mesmo tempo
multas para quem lhes desse mais do que o fixado
(§. 6, 7, 15 e 16).
4) entravar a decadência da agricultura constrangendo os
lavradores a terem o gado necessário para a lavoura e
obrigando quem o possuía para vender a fazê-lo por
preço razoável e previamente fixado (§ 3).
5) fomentar o cultivo proibindo a criação de gados a não
ser àqueles que os necessitassem para lavrar herdades
suas ou de outrem (§§ 18 e 19).
6) regular o aproveitamento agrário fixando equitativa~
mente o preço das pensões, ou rendas, a pagar pelos
lavradores aos proprietários das terras (§ 13).
7) aumentar o contingente de proletários rurais compe-
lindo ao trabalho agrícola (2) os ociosos, os vadios e os
mendigos que pudessem fazer serviço de seu corpo
(§§ 8 a 11).
1
( ) Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, págs. 701-702.
92
sem aproveitar, concedendo-lhes todos os privilégios e graças de
que gozavam os povoadores da «pobra» de Muge, e a posse here-
ditária das terras, com a condição de lhes darem anualmente o
quarto dos produtos que nelas houvessem (1). Em 1378, como a
cerca da cidade de Coimbra era abandonada pela maioria dos
moradores, que iam viver para fora dela e para os arrabaldes,
ordenou o soberano que os que moravam nos subúrbios fossem
residir dentro da cerca, como cumpria a seu serviço e defesa da
cidade. Para atrair os moradores, e como não havia bastantes
casas na cerca, mandou dar de sesmaria os pardieiros e chãos
abandonados e maninhos, que nela houvesse, por Gil Anes, ouvi-
dor da Rainha. Surtiu efeito a ordenação régia e dentro em breve
várias pessoas pediam mais desses pardieiros e chãos maninhos,
que eram do concelho1 para edificarem moradas. Como o conce-
lho não se atrevesse a dá-los, pediu ao rei autorização para o fazer
nos termos em que o tinham sido por cartas régias anteriores, isto
é, dando-os aos requerentes «por dereyta herdade e como sua
cousa propria». D. Fernando acedeu à petição, por carta de 24 de
Outubro de 1378, e mandou que os juízes, vereadores, procurador
e homens bons da cidade escolhessem dois homens bons, sem
suspeita para darem os ditos chãos e pardieiros do concelho de
sesmaria àqueles que «os mester ouuerem pera fazerem em elles
casas em que morem e que as aiam em sua propria herdade de
guisa que se faça em esta jgualdade e que nom achemos hi ao
depois que se faz hi outra soltura nem mallicia E mandamos que
essas sesmarias se dem consírando os lugares e as pesoas que as
ham mester» (2). ·
Entre os que tinham beneficiado das primeiras sesmarias, da-
das pelo ouvidor da Rainha, figuram João Anes de Sousa, mer-
cador, e Afonso Perez. O primeiro recebeu em plena propriedade
metade de um chão pertencente ao concelho e situado a par do
adro da Sé, que jazia «en deuaso e en monturo grã tempo auja».
A única condição que a carta régia 1 de 11 de Fevereiro de 1378,
impunha a João Anes de Sousa era edificar casas e «nÕ alçar de
leuar dellas mãão ataa que as acabe e as more» (3). Dois dias de-
pois, a 13 de Fevereiro, e possivelmente nas mesmas condições,
obteve Afonso Perez um chão dentro da cerca junto da Porta
Nova (4 ).
93
VII
94
Em 1392, representou o concelho de Tavira que, no termo
da vila e na serra, havia pessoas que possuíam grandes extensões
de matos- que nada lhes tinham custado, pois lhes haviam sido
dados em sesmarias para os romperem e aproveitarem; como esses
indivíduos o não faziam nem consentiam que outros o fizessem
sem lhes darem uma ração «leicam em elles de laurar e seemearem
e em o que dizem que a dieta villa e termo recebeeo agrauo. por
quanto dizem. que se semeados fossem, avjrian major avomda-
mento de pã que o que ham». Por esta razão solicitou o concelho,
visto os que tinham os terrenos não os quererem romper e apro-
veitar, que eles fossem dados a todos aqueles que os arroteassem e
semeassem. Mandou D. João I, se assim era como eles diziam, que
quaisquer pessoas pudessem aproveitar e semear os tais matos sem
pagarem coisa alguma àqueles que, .tendo-os recebido de sesma-
ria, os deixavam improdutivos (1).
Quando da assembleia de Braga de 1387, o concelho de San-
tarém enviou capítulos especiais pedindo para dar de sesmaria os
pardieiros «em que se faziam muytos monturos que per azo do
gram fedor e mãão cheyro» causavam grande dano aos moradores
da vila. D. João I houve por bem autorizá-lo a escolher dois ho-
mens bons, adequados e idóneos, para marcarem tempo aos donos
dos pardieiros - «asy os que morarem em a dieta vylla como os
que morarem em outra parte fora dela»- para os aproveitarem
dentro de seis meses; não o querendo fazer, então os dessem de
sesmaria a quem os reparasse (2).
Dois anos depois, é de novo o concelho de Santarém que, nas
cortes começadas em Coimbra em 1394, apresenta capítulos espe-
ciais de agravos em que representa as grandes perdas e danos que
resultavam de muitos olivais não serem lavrados e aproveitados
pelos seus proprietários, que deixavam neles crescer o mato a que
depois lançavam fogo, causando assim grandes prejuízos aos que
estavam perto e bem tratados. Para evitar tais danos rogou ao
soberano que os donos fossem intimados a cultivá-los a tempo
certo, ou a darem-nos a quem o fizesse, e não o querendo assim
fazer que o concelho os pudesse meter em pregão e dar de sesma-
ria «a taaes pessoas que se obrigassem a os adubar e tirar de matos
pera se a terra nõ dapnar e se nõ dapnarem per eles os lugares
aprofeitados pelo ffogo que em eles pooe». Outorgou D. João I
95
o que lhe pediam e ordenou aos juízes de Santarém que assim o
fizessem cumprir (1).
Mas, a partir do primeiro decénio do século XV, as sesmarias
vão tomando maior incremento ainda, quiçá porque o incentivo
da posse da terra estimulava os que a não tinham, e porque o
nível demográfico ascendia em todo o reino (2). Assim, D. João I
e os seus sucessores intervêm frequentemente na nomeação e con-
firmação de sesmeiros a vilas e cidades, e distribuem a mãos lar-
gas o direito de dar terra em sesmarias.
D. João I serve-se delas, em 1413, para promover o povoa-
mento de Terena, que fora despovoada e arrasada durante a guerra
.com Castela (3); encarregou Martim Afonso de Melo, seu guarda-
-mor, de cercar a povoação, e para ela ser melhor e mais em
breve povoada, incumbiu-lhe o encargo de dar as sesmarias. Eis
como a carta régia, de 23 de Agosto de 1413, nos descreve a dada
das sesmarias: primeiro foram postos éditos por longo tempo inti-
mando os proprietários que tinham vinhas, herdades, casas e ou-
tros bens de raiz a virem-nos lavrar, aproveitar e correger senão
seriam dados de sesmaria aos que «sse uiessem morar ao dito
lugar per hos laurarem e aproueitarem», mas passou-se o prazo
marcado, e muito mais, e nenhum dos proprietários se apresen-
tou a cumprir o mandado régio; então, D. João I, vendo que al-
guns lavradores já começavam a vir habitar Terena e que outros
mais o queriam fazer 1 encarregou Martim Afonso de Melo de re-
partir os bens abandonados e dá-los de sesmaria aos lavradores,
moradores e àqueles que quisessem ir viver em Terena com suas
mulheres e filhos, segundo ele visse o que cada um precisava e
merecia, dando-lhes cartas assinadas por sua mão; os bens assim
distribuídos eram concedidos em plena propriedade, livre e desem-
bargadamente, contanto que aqueles que os recebiam, e seus her-
deiros, morassem e povoassem no lugar de Terena. O processo
resultou eficaz e Terena foi-se repovoando paulatinamente, conti-
nuando no reinado de D. Afonso V a afluírem agricultores e
povoadores para aproveitarem as terras maninhas e danificadas,
conquanto lhas dessem como D. João I ordenara. De tal forma
que Nuno Martins da Silveira, senhor de Terena e escrivão da
96
purida~e, obteve de D. Afonso V, em 1450, poder para dar as
sesmanas e passar carta delas com as mesmas condições e na
forma como o fizera Martim de Melo (1).
Parecida era a situação de Pinhel, também próximo da fron-
teira, cuja população se rarefizera durante a guerra da indepen-
dência. Não só na vila, como nos arrabaldes e termo, existiam
muitos pardieiros e cortinhais abandonados pelos donos, bem como
vinhas que havia mais de quarenta anos não eram aproveitadas e
se tinham transformado em matos, onde se acolhiam porcos, ursos
e outros animais bravios, aos quais às vezes lançavam fogo. Tal
abandono punha em perigo e danificava as casas, terras, vinhas
cultivadas, e até as pessoas, porque eram poucas e as «alimarias
muytas». Para obstar a semelhante ruína impetrou o concelho de
Pinhel licença para dar de sesmaria os ditos pardieiros, cortinhais
e terras a quem os aproveitasse. Deu-lha D. João I, mas só depois
de requererem os proprietários a cuidarem dos seus bens dentro
do prazo de um ano, e findo este, então «aquelle que esse conçelho
poser por sesmeyro as possa dar com acordo dos homens bõos
dessa villa»; todavia, o soberano impôs como condição que aqueles
que recebessem sesmarias as aproveitassem, adubassem e «as ajam
liuremente sem outra contenda pera elles e pera seus herdeyros e
sobçessores. E nam o ffazendo asy que lhes sejam tiradas e dadas
a outros que ás adubem e aproueitem per gujsa que as ditas pos-
syssõões sejam aproueytadas e melhoradas» (2).
Mas essas dadas de sesmarias suscitaram cobiças e o lugar de
sesmeiro começou a ser disputado. Nas cortes de Lisboa de 1459,
os procuradores de Pinhel expuseram ao rei o seu descontenta-
mento por ter sido nomeado sesmeiro da vila um tal João Apen-
teado, criado do conde de Marialva. Lembraram ao rei o que
Pinhel e a sua população sofrera durante as lutas com Castela,
no reinado de D. João I - antes das hostilidades moravam nos
arrabaldes quinhentos homens ou mais e «ora na villa nem no
arreualde viuem pouco majs de ij° E esto por a destruiçom da
guerra»-, e como, para evitar a cobiça dos que pediam o cargo
de sesmeiro, D. João lhes dera carta para não terem outro juiz de
sesmarias senão os juízes ordinários, o que sempre se observara
e D. Duarte confirmara. Estribado na sua razão, o concelho de
Pinhel pediu que D. Afonso V lhe mantivesse as suas cartas e pri-
1
( Odíana, liv. 3, fl. 279 v.-280 v.
)
2
( ) Esta carta, que se encontra registada no Livro 1 da Beira, a
fl. 47-48, e foi copiada por Viterbo na câmara de Pinhel, tem a data de
21 de Maio de 1475, o que é um erro, visto ter sido passada em nome de
D. João, senhor de Ceuta; portanto, não é anterior a 1415, nem posterior
a 1433. Ver: Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 709, n. 1;
Costa Lobo, Hist. da Sociedade em Portugal no século XV, pág. 80, n. 2.
97
vilégios e mandasse ao tal João Apenteado que não usasse mais
do ofício de sesmeiro, ao que o rei respondeu que pediam bem e
lhe aprazia outorgá-lo (1).
Por seu turno, no Algarve, os mouros moradores na vila de
Loulé tomavam de sesmaria terras abandonadas por alguns cris-
tãos que, com o tempo, tinham cobrado herdades no quarto, que
primeiramente foram dos mouros, e depois as tinham deixado dani-
ficar e tornar em matos, das quais a igreja não recebia dízima há
muito tempo; outras terras tinham-lhes sido dadas por cristãos
com a condição de as plantarem, e depois de plantadas «que os
mouros ouuessem as tres partes E os christããos que lhas derom
hüu quarto E que das suas herdades que asy teem pagam a
dizima a nos E os christããos do seu quarto paguam a dizima aa
jgreia». Como lhes fosse exigido o pagamento da dízima à igreja,
não só das herdades que lhes tinham sido dadas para aproveitar
pelos cristãos como das que haviam de sesmaria, apesar destas
últimas jazerem no quarto dos herdamentos da vila que lhes ficara
isento de todo tributo e foro (excepto o pagamento da dízima
dos produtos ao rei), por concessão do primeiro monarca que a
terra tomara aos mouros, apresentaram instrumento de agravo a
D. João I. Por sentença, de 8 de Dezembro de 1431, resolveu o
soberano o pleito ordenando que, se as terras havidas de sesmaria
no quarto tivessem pertencido a cristãos, os mouros pagassem pri-
meiro a dízima real e depois das novidades dessem outra dízima à
igreja. «E esto sse faça asy porquanto as dietas herdades primei-
ramente forom de mouros E depois veerom a poder de christããos»,
ao passo que nas outras, que foram de cristãos e passaram para
os mouros, eles pagassem primeiro a dízima à igreja e do que
ficava pagassem outra dízima ao rei (2).
As sesmarias são a penalidade sempre invocada para obrigar
os proprietários a lavrarem as suas terras. Assim o fez D. João I,
em 1426, para saber se no paul de «Açeca», junto de Santarém,
existiam algumas herdades particulares maninhas. Pelas feiras e
praças da vila de Santarém foram lançados pregões, e afixados
éditos nas portas dos paços do castelo e no pelourinho, para que
os donos viessem mostrar os seus títulos de posse a tempo certo
e, se o não fizessem dentro do prazo prescrito, as herdades seriam
dadas de sesmaria «e nom seriam mais sobrello ouuydos». Como
ninguém se apresentasse dentro do tempo determinado, as terras
do paul foram consideradas maninhas e bens vagos, revertendo a
posse para o rei (3).
1
( ) Chanc. de D. Afonso V, liv. 36, fl. 172-173 v.; Beira, liv. 2,
fl. 217; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 712.
(') Gav. 12, m. 1, n.º 11; Direitos reais, liv. 1, fl. 242 v.-243 v.
(3) Reis, liv. 2, fl. 8-9.
98
Ainda, em 1432, o rei se serve de semelhante arma para pro-
mover o arroteamento dos pauis e terras danificadas no termo de
Santarém, mandando o seu corregedor João Mendes fazer éditos
que a tempo certo cada um aproveitasse o que lhe pertencia, senão
seria dado de sesmaria. Decorridos os éditos, apresentou-se D. Fer-
nando de Castro, governador da casa do Infante D. Henrique (1),
dizendo que o paul de Trava fora outrora lavrado, mas que havia
mais de quarenta anos «era posto em danjficamento», e como nin-
guém viera dentro do prazo aproveitá-lo e ele tinha vontade de o
aproveitar e abrir, pediu por mercê que D. João Ilho mandasse
dar de sesmaria. Houve por bem o rei, em 10 de Fevereiro de 1432,
de lho conceder de sesmaria para ele e todos seus herdeiros e
sucessores, pelas delimitações que minuciosamente estabeleceu:
«E queremos que o aiam e pesuam el e seus herdeiros e sucessores
pera sempre e façam delle como de sua cousa propria polias gran-
des despesas que somos certo que se em el ham de fazer ante que
delle aia algü.u proueito e se despois ham de fazer conthinuada-
mente em seu repairamento em cada hüu anno» (2).
Algum tempo depois, em 1434, D. Fernando de Castro pre-
tendeu escambar o paul de Trava pelo de Boquilobo, perto de Tor-
res Novas, com o Infante D. Henrique. Ora o contrato de es-
cambo, se bem que confirmado e outorgado por D. Duarte, em 1 de
Março de 1434, depois de estabelecidas as demarcações do paul
de Boquilobo, não se realizou facilmente (3 ) porque D. Fernando
não possuía devidamente selada a carta de doação de D. João I.
Segundo D. Fernando, ele dera pela falta do selo -que atribuía
ao esquecimento de um seu escudeiro a quem encarregara de fazer
selar a carta - quando D. Duarte mandou que lhe fossem trazi-
das as cartas que requeriam ser confirmadas. Como desejava efec-
tuar o escambo com o Infante D. Henrique e a carta era, no seu
entender, daquelas que não necessitavam confirmação, apressou-se
a pedir a D. Duarte que lha mandasse selar com o seu selo.
A D. Duarte a cousa pareceu-lhe «doujdosa mandarmos poer
nosso seello em carta do dicto senhor porque ao depois por tempo
podia seer esguardado E veendo sinal do dicto senhor e nosso
seello diriam que fora em ello f ecta cousa errada do que se pudia
seguir grande duujda. E acordamos por mjlhor de mandarmos em
100
do Mondego, em Vila Nova de Anços e noutros lugares, para abri-
rem e fazerem as valas nas terras alagadiças que possuíam e não
o fazendo, que ele as pudesse tomar para si. Como era «ordena-
ção» do reino, que sempre se cumpriu e guardou no tempo an-
tigo - «que em tall caso eram requeridos hos senhorios e donos
das herdades. e terras que assi iaziam em pauues as beiras das her-
dades de seus Reguemgos. e que cada hüus abrissem e fezessem
suas abertas. quanto tamgia aas dietas suas terras e herdades.
E nom as abrimdo emtom tomauam as os reix pera si. ou as dauam
de sesmaria a quem abria as dietas abertas. E auíam as dietas her-
dades e terras pera si. ou seus sobçessores e as Remdas dellas»-,
D. João I concedeu a seu filho tal privilégio, mas com a condição
de primeiro requerer os donos das herdades e terras para abrirem
as valas dentro de um prazo determinado, e só depois as poderia
tomar para si e seus herdeiros, contanto que ele fizesse as abertas
e aproveitasse as ditas herdades e terras. Mercê esta que lhe foi
confirmada por D. Duarte em 1439 (1-), por D. Afonso V em 1448,
e a sua mulher, D. Isabel, pelo mesmo monarca em 1468 (2).
Em 30 de Outubro de 1422, obteve o Infante D. Henrique, já
regedor do mestrado de Cristo, poder para dar ou mandar dar de
sesmaria as herdades da ordem e as suas que estivessem desapro-
veitadas, mas, diz o rei na sua carta, «pela guisa e condiçõ que
na hordenaçom que nos sobre esto Teemos feyta he conteudo».
A razão apresentada pelo Infante era que, nas suas terras e nas
da ordem, existiam muitas herdades que não eram aproveitadas
e se perdiam por falta de amanho, mas se fossem dadas de sesma-
ria entendia que algumas pessoas as quereriam lavrar e aprovei-
tar. Deste poder de dar sesmarias teve carta de confirmação de
D. Afonso V, em 11 de Março de 1449 (3).
Porém, a D. Henrique interessou-lhe também o outro aspecto
das sesmarias, porventura como meio de aumentar os seus rendi-
mentos; em data que ignoro (4), obteve de seu pai o paul de Boqui-
lobo de sesmaria, que pouco tempo conservou pois dele fez doação
a D. Fernando de Castro, como já vimos, em 1436 (5).
Igualmente em 1432, a 16 de Junho, alcançava o Infante
D. João, como regedor e governador da ordem do mestrado de
Sant'Iago, privilégio para dar por si, ou por outrem em seu nome,
101
as herdades e bens da ordem de sesmaria (1). A razão invocada pelo
Infante foi que algumas pessoas tinham no Ribatejo, terra da dita
ordem, vinhas e herdades que não queriam lavrar e as deixavam
jazer em mortório, não obstante serem intimadas a aproveitá-las,
donde se seguia grande perda para a terra e para a ordem (2). Nem
sempre foi feliz a escolha dos sesmeiros da ordem, nem equitativa
e justa a distribuição de sesmarias, especialmente em Sesimbra,
cujo senhorio pertencia à Ordem de Sant'Iago (3).
Herdades ou bens desaproveitados, e consequente quebra de
rendas, são as razões aduzidas pelo Mosteiro de Alcobaça para
impetrar de D. João I o privilégio do dom abade dar as sesmarias
nos coutos de Alcobaça, visto as que dava não serem consideradas
válidas pelas justiças reais. Concedeu D. João o privilégio pedido,
por carta de 17 de Setembro de 14301 mas sempre com a condição
de mandar o Mosteiro fazer pregões por todos os lugares dos seus
termos para todos aqueles que traziam e tinham bens ou herdades
os aproveitassem e lavrassem, ou vendessem, escambassem ou doas-
sem a quem os frutificasse dentro do prazo de um ano e dia;
decorrido este tempo, e se não cumprissem o preceituado, o prior
e o convento os dariam às pessoas que entendessem que melhor os
aproveitariam (4). Logo o mosteiro mandou lançar pregão - no
dia 1 de Outubro, em Alvorninha, e a 18, na Póvoa de Santa
Clara - para quem tivesse herdades em bravio as rompesse den-
tro de um ano e dia. «Ouuide mandado do prior e regedor do mos-
teiro Dalcobaça» - clamava o pregoeiro do concelho - «todos
aquelles que teuerdes herdades algüas em brauio que as arrompa-
des e aproueytedes doje ata hiíu anno e hiíu dia» (5).
Os mesmos argumentos, de bens desaproveitados e quebra de
rendas, invocou o prior do Hospital ao pedir confirmação a
D. Duarte do poder que D. João I lhe outorgara para dar de ses-
maria as terras da ordem em 1435 (6 ), assim como o comendador
de Aljustrel, em 1444 (7), o prior do mosteiro de Santa Cruz de
102
Coimbra, em 1458 (1), e o comendador de Santa Vera Cruz, em
1463 (2). E as concessões régias que lhes conferiram a autoridade
solicitada são idênticas, nas suas condições e preceitos, às que
foram anteriormente outorgadas por D. João I, fixando-se sempre
num ano e dia o prazo para os donos das terras as aproveitarem
antes de lhe poderem ser expropriadas, mas introduzindo-se a
cláusula de que as sesmarias se não podiam dar senão a pessoas
que estivessem sujeitas à jurisdição da coroa (3).
À sombra das sesmarias também o povo miúdo aproveitava
para granjear o seu pedaço de terra. Quando D. João I, em 17 de
Julho de 1430, fez doação a Lambert de Orques do castelo e terra
de Lavar, concedeu-lhe não só as terras incultas e desaproveitadas
como as que só ultimamente eram lavradas por algumas pessoas
«por auerem a posse dellas», e mandou que aquelas «pesoas que
em o dicto termo se meterom em posse dalgílas terras e dizem que
lhe forom dadas de sesmarias que mostrem as cartas nosas de
como as teem e nom as amostrando que o dicto Lanbert as aja
pera sy» (4 ). O que demonstra cabalmente a tentativa de certos
indivíduos para criar direitos sobre a terra invocando as sesmarias
dadas e, por outro lado, que tal direito para ser reconhecido devia
basear-se num título legal outorgado pelo rei, nomeadamente nos
reguengos e terras da coroa.
(1) Estremadura, liv. 4, fl. 256-256 v.; Costa Lobo, Hist. da Sociedade
em Portugal no século XV, pág. 23.
(') Subsequentemente foi a mercê novamente outorgada por
D. Afonso V, em 1471, ao comendador Fr. Fernão Correia, e em 1473
a Fr.. Pero Gomes. Chanc. de D. Afonso V, liv. 16, fl. 29 v.; Odiana,
liv. 4, fl. 13 v.; Odiana, liv. 5, fl. 127-127 v.; Chanc. de D. Afonso V,
liv. 33, fl. 165 v.; Odiana, liv. 4, fl. 158 v.
(') Esta cláusula aparece pela primeira vez na carta de D. Duarte,
de 17 de Dezembro de 1435, concedida ao Prior do Hospital. Portanto,
posteriormente à promulgação da Lei Mental.
(4) Gav. 11, m. 3, n. 13; Chanc. de D. João I, liv. 4, fl. 123-123 v.;
Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., II, págs. 149-150.
103
VIII
(1) Ver: Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., I, págs. 490 e segs.
(2) É o que podemos concluir de diversas disposições de D.. João I
inseridas nas Ordenações Afonsinas, como as que dizem respeito à falta
de mancebos serviçais e aos vadios. Ord. Afons., IV, tít. 29 e tít. 34.
(3) Orden. Afons., IV, 81, §§ 20 a 22.
104
revela tambem que eram ellas, pelo menos desde 1427, as mesmas
que o poder central costumava mandar cumprir em relação a igual
serviço. Das attribuições que D. Fernando commetia aos sesmei-
ros, restavam na carta de D. João só aquellas que lhe conferiam
auctoridade para transmitirem os bens de que não tratassem os
donos, a indivíduos que os utilizassem; e essas mesmas estavam
já muito attenuadas do seu primitivo rigor. Consistiam agora em
dar as sesmarias a quem o sesmeiro entendesse que melhor e mais
cedo as havia de aproveitar, precedendo à concessão o lançamento
de pregões e editaes, por quatro ou cinco dias, na villa onde o
sesmeiro exercia o cargo e nas outras das comarcas de arredor,
intimando os proprietarios dos bens a que até um armo os viessem
lavrar e aproveitar, ou os vendessem, arrendassem ou aforassem
a quem isso fizesse. Se, expirado o prazo, os donos não tomavam
nenhum d'esses alvitres, o sesmeiro dispunha dos bens a favor de
quaesquer pessoas, que elle julgasse mais capazes de os tomarem
rendosos; e para essas pessoas, assim constituídas na obrigação de
os fazerem produtivos, se transmittiam para sempre como coisa
sua propria» (1).
Mas, a circunstância do diploma confiar ao critério dos ses-
meiros a resolução da expropriação e distribuição dos prédios in-
cultos ou desaproveitados, tomava particularmente perigosa a sua
acção e espinhoso o seu cargo, bem como precária a situação dos
que beneficiavam das sesmarias, sempre sujeitos à revisão da apre-
ciação feita por menos equitativa e justa. É natural pensar, tam-
bém, que deviam ser vulgares as demandas referentes a sesmarias,
pois com justiça ou sem ela, o proprietário tentaria por todas as
formas obstar à perda dos seus bens e apelar para quem o pudesse
evitar ou reparar.
Dos actos do sesmeiro, ou da forma como ele apreciara os casos
em que o proprietário fora despojado dos seus direitos, podia recor-
rer-se para as justiças ordinárias, se bem que a carta de D. João I,
de 1427, o não indique explicitamente. Competia aos juízes ordi-
nários verificar se as sesmarias tinham sido bem ou mal dadas,
mas, por vezes, as reclamações e embargos eram levados perante
os corregedores. Contra este facto se insurgiu o abade de Alco-
baça, D. Fr. Estêvão de Aguiar; depois de ter distribuído «peça»
de herdades nos seus coutos, observando as condições estabelecidas
por D. João I na carta de 1430, algumas pessoas tinham apresen-
tado demandas ao corregedor dei-rei quando este viera aos ditos
coutos, o que tivera como resultado desde então ninguém se atre-
ver a pedir sesmarias. A rogo de D. Fr. Estêvão, D. Duarte orde-
nou que o seu corregedor não tomasse conhecimento de tais feitos
105
e que todas as demandas deviam ser feitas perante os juízes das
sesmarias dos coutos de Alcobaça (1).
Que pertence aos juízes ordinários ver se as sesmarias foram
bem ou mal dadas, respondeu D. Duarte, em 1436, ao sesmeiro
de Estremoz, Álvaro Gonçalves (2). D.. Afonso V, em 1459, outor-
gou ao concelho de Pinhel o privilégio de não terem outro juiz
das sesmarias «saluo os Juizes ordinarios da dieta villa», revogando
o provimento de um João Apenteado como juiz sesmeiro de Pi-
nhel (3), e concedeu idêntica regalia ao concelho de Trancoso, para
onde nomeara juiz, da mesma forma, João Apenteado, mercê que
lhe fizera por ele ter estado na tomada de Alcácer (4 ). Contudo,
nas cortes de Lisboa de 1459, quando os procuradores de Torres
Novas apresentaram capítulos especiais, num deles, pediram para
as demandas sobre as sesmarias serem deixadas ao conhecimento
dos juízes ordinários, o que o almoxarife de D. Afonso V não
queria consentir. por dizer lhe pertencer o conhecimento de tais
demandas; respondeu-lhes el-rei «quanto ao juizo do almoxarife
nom rrequerem bem pois lhe pertençe per ofíçío E nom aos juízes
ordenairos» (5 ).
Nas cortes gerais de 1472 a 1473, realizadas em Coimbra e
Évora, solicitaram os procuradores dos concelhos para que aos
juízes ordinários e gerais competisse o julgamento das demandas
sobre sesmarias, como mandava a ordenação e ao contrário de
algumas cartas régias, que cometiam tais julgamentos aos sesmei-
ros, e não fosse dado o nome de juízes aos sesmeiros (6 ).
Não obstante algumas flutuações e divergências que mostram
os documentos, a doutrina legal que prevaleceu no reinado de
1
( ) Carta régia de 19 de Julho de 1435. Livro 1 dos Tombos de
Alcobaça, fl. 37.
(2) Álvaro Gonçalves fora proposto para sesmeiro de Estremoz pelos
juízes,vereadores, procuradores e homens bons da vila, e confirmado no
cargo por carta régia de 25 de Fevereiro de 1427 (Ord. Afons.., IV, 81,
§§ 21 e 22). Em 1436, obteve esclarecimento de D. Duarte sobre dificul-
dades no exercício do seu ofício e as resoluções régias, que deram res-
posta aos capítulos por ele apresentados, passaram para as Ordenações
Afonsinas (IV, 81, §§ 24 a 34). Continuou sempre como sesmeiro até
morrer, em 1453, sendo então seu filho, Rodrigo Álvaro da Guerra,
escudeiro e criado do Infante D. Henrique, escolhido pelo concelho de
Estremoz para desempenhar o mesmo cargo, que lhe foi confirmado por
D. Afonso V por carta de 3 de Abril de 1453. Chanc. de D. Afonso V,
liv. 3, fl. 44.
(3) Chanc. de D. Afonso V, liv. 36, fls. 172-173 v.; Beira, liv. 2,
fl. 217; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 712.
(4) Chanc. de D. Afonso V, liv. 36, fls. 149-150 v., Beira, liv. 2,
fl. 212; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 712.
(5) Chanc. de D. Afonso V, liv. 36, fls. 146-146 v.; Estremadura,
liv. 7, fl. 243-243 v.; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 713.
( ) Maço 2 de Cortes, nº 14, fl. 99-101; Gama Barros, Hist. da Adm.
6
106
D. Afonso V, e no do seu sucessor, foi de que «tornando-se
contencioso o acto do sesmeiro competia aos juízes ordinários
a decisão da causa» (1), até que com D. Manuel se fixou definiti-
vamente na seguinte disposição: «E se despois que as Sesmarias
forem dadas se recrecer contenda se sam bem dadas, ou nam, se
as Sesmarias esteuerem em terras foreiras, ou tributarias a Nós
ou aa Coroa de Nossos Reynos o conhecimento das taees conten-
das pertence aos Nossos Almoxarifes; e se forem em terras isentas,
pertence o conhecimento aos Juízes Ordinarios dos Lugares onde
taees bens esteuerem» (2).
Outras vezes, como já observamos ao tratar da situação dos
sesmeiros na administração municipal, cabia aos juízes o cargo
de sesmeiros, o que tornava a sua acção ainda mais perigosa,
porque se aliava ao poder de expropriar, o de escolher as pessoas
para quem revertia a posse dos bens perdidos pelos donos e o de
ajuizar da justiça das sesmarias dadas.
Contudo, o cargo de sesmeiro estava longe de ser cómodo
e fácil. Dificuldades sem número coartavam o sesmeiro no desem-
penho de um ofício por natureza tormentoso. Dessas dificuldades
podemos ajuizar pelos capítulos apresentados pelo sesmeiro de
Estremoz, Álvaro Gonçalves, a el-rei D. Duarte; as resoluções
régias que lhe deram resposta, em 1436, passaram como lei geral
para as Ordenações Afonsinas (3).
Álvaro Gonçalves, na sua longa exposição, começa por dizer
que nos oito anos que servia como sesmeiro dera muitos pardieiros,
vinhas, herdades de pão e olivais que estavam perdidos ou em
matos, e que em seguida tudo se tinha transformado em bens
cultivados e aproveitados, de tal forma que algumas pessoas
tinham prosperado e outras muitas «aqueece» tomarem herdades
de sesmaria. Mas, depois de dadas as sesmarias, de passadas as
respectivas cartas e os bens serem proveitosos, havia quem os
viesse embargar perante os juízes da vila que, por serem presen-
teados ou por afeição a quem lho' pedia, tiravam as sesmarias
cedidas pelo sesmeiro, e as pessoas a quem eram tiradas não
seguiam o pleito com temor de gastarem o seu dinheiro em pro-
longada demanda, do que resultava muitos recearem de pedir e
tomar sesmarias. «0 quadro que o sesmeiro descreve então ao
rei, destoa assaz dos beneficos effeitos que elle principiara por
attribuir à sua missão», pois continua dizendo que, pelos motivos
indicados, a terra ficava por semear, muitos olivais se perdiam,
grandes terrenos se transformavam em matos, muitas vinhas mor-
riam e herdades de pão se convertiam em sobrais; e, termina o
1
( ) Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 705.
(2) Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 706.
108
enchendo-se assim as terras de grandes sobreirais. A este capítulo
foi respondido que requeresse o sesmeiro aos senhores, dentro
de certo tempo, que as lavrassem em folhas, segundo o costume
da terra, e quando assim o não fizessem que as desse de ses-
maria (1).
Esta transformação dos campos em densos sobreirais, que
tanto afligia Álvaro Gonçalves, parece ter sido desejada pelos
proprietários das herdades. A razão é fácil de conjecturar. Desde
tempos remotos o sobreiro e a azinheira representavam papel
importante na vida agrária do Alentejo, porque o seu fruto servia
para alimento das varas de porcos e a sua casca para tintura
e curtimenta de peles. O concelho de Marachique ao doar a
D. Estêvão Anes, em Janeiro de 1260, um herdamento no seu
termo, cautelosamente inseriu esta condição: «... et quod nostri
ganati pascant et nostri porei comedant landem et bolotam in
ipso termino Sicut boni uícíni ... » (2). E Gonçalo Gonçalves, em
1459, invocava os seguintes argumentos para lhe ser coutada uma
propriedade no termo de Êvora: «Em a qual tijnha hüu bõo
soueral antijguo de muy grandes aruores de souereiras criadas
e taaes. que muitas dellas dauam cada hüüa hüu moyo de bolota
e mais. o qual era grande criaçam de gaados. e se ei:1grossauam
em elle cada hüum anno quinhentos e seiscentos porcos uallendo
a dita herdade e soueral setenta ou oitenta marcos de prata. e
que fora do Corregedor Johanne meendez. E dantes do berbalua.
e fora dantijgamente coutada per carta e emcoutos. e que per
fallicimento do dito Corregedor se perdera a dita carta de como
era coutada. e que algüüas pessoas por sentirem que a dita carta
era perdida se hyam ao dito soueral e ho cortauam e escascauam
e estroyam. Em tal guisa que as ditas souereiras que assi escas-
cauam e cernauam se secavam e perdiam. e que era muy pouco
proueito daquelles que o faziam. e grande perda de dampno delle.»(3 )
Por seu turno, a exportação de cortiça para Flandres fazia-se
de longa data. O foral da portagem de Lisboa - decretado por
D. Fernando mas contendo aditamentos e substituições de
D. João I - alude já a essa exportação; em 1438, os mercadores
portugueses residentes em Bruges afirmavam ao Duque Filipe
109
da Borgonha que o seu comercio e privilégio eram tão anti-
gos qne não havia memória em contrário (1-). No reinado de
D. Afonso V, este comércio internacional foi regulado por um
contrato entre o soberano e Martim Leme, burguês de Bruges,
em 7 de Junho de 1456. Por ele, Martim Leme obteve por dez
anos o monopólio da compra e exportação da cortiça que qui-
sesse, pelo preço de duas mil dobras e o terço do lucro. Quinze
dias depois, novo contrato, perfeitamente igual ao primeiro, faz
passar o estanque da cortiça para Marcos Lomelim, genovês,
sem que se possa hoje atinar com a razão da substituição (2).
É natural, portanto, que nalguns pontos os lavradores alen-
tejanos descurassem as suas lavras para se dedicarem à criação
de porcos e ao aproveitamento da cortiça, substituindo os proven-
tos do amanho da terra pelos lucros de outra forma de exploração
agrária.
110
IX
11 l
em relação à lei de D. Fernando no que tocava a lavoiras e
pastores de gado, que se guardasse o costume então em vigor no
reino e, se visse que cumpria fazer alguma mudança, ou os povos
lha requeressem e ela lhe parecesse bem, ele ordenaria aquilo
que entendesse ser mais conveniente (1). Quanto ao que ordenava
a lei acerca dos pedintes, o monarca determinou que todos, homens
e mulheres, pudessem pedir esmola onde e quando lhes apro-
vesse, excepto aqueles que, de antigamente, por costume geral
ou ordenação do reino, deviam solicitar licença régia (2). E, final-
mente, os diplomas de D. João I e de D. Duarte acerca das
sesmarias foram conservados integralmente, mas «naquellas terras,
Villas e Lugares, honde per usança antiga, ou per mandado dos
Reix, que ante nós forom, ou nosso, se acustumarom a dar as
terras e herdades de sesmaria» (3).
Temos um exemplo que neste ponto se cumpriu a ordenação,
e que as sesmarias só eram dadas nas vilas e lugares onde era
costume antigo fazê-lo, ou por ordem régia de qualquer tempo.
Nos capítulos apresentados por Aveiro nas cortes de Lisboa de
1456, queixou-se a vila de que os fazendeiros do Conde (4 ) queriam
fazer vigorar na terra as sesmarias quando «do fundamento do
mundo a esta parte em esta vílla nunca souberam que cousa he
sesmaria nem os moradores della tam pouco sabem que he»;
pediram pois~ que o rei não consentisse no novo costume e que
«cada hüu faça do sseu o que lhe prouuer», conservando assim
os bons usos e costumes da vila que el-rei prometera guardar.
Respondeu D. Afonso V, que se «amtijgamente deram sesmarías
em esse lugar que nos praz que sse dem E se ora nouamente sse
faz sem nosa autoridade nõ nos praz que sse faça E sse guoarde
em ello o custume antijguo» (5 ).
Mas, noutros pontos do país, por essa mesma época, as
sesmarias eram aproveitadas para promover a colonização de
determinadas zonas fronteiriças, tal como o tinham sido no tempo
de D. João I. A aldeia de Medelim, no termo da vila de Monsanto,
devido às guerras com Castela e pestilências sucessivas, vira
baixar a sua população de duzentos para cerca de trinta homens
112
nos meados do século XV.. Como algumas pessoas de fora parte
estariam dispostas a ir para ali morar se tivessem na aldeia
«algü.üas coussas de sem> e os próprios moradores a promoverem
o aproveitamento dos mortórios 1 o concelho de Monsanto solicitou
de D. Afonso V, a rogo dos homens bons de Medelim, que desse
autoridade para «poderem laurar e aproueitar as dietas erdades
E corejer as dietas cassas E as auerem por suas cada hílu como
as aproueitasse». O rei vendo o que lhe mandavam pedir, ordenou,
por carta de 29 de Maio de 1450, que os juízes de Monsanto
dessem na aldeia e seu termo de «sesmarias asy aos que se noua-
mente a ella ora veerem morar como aos moradores que ora hi
moram todallas erdades e pardieiros e vinhas e cassas derribadas
e beens e terras que asy jouuerem em perdíçom em mortorios e
matos e todallas que nõ forem aproueitadas» (1-).
Muitas vezes, a partir de D. Duarte, a acção do sesmeiro na
distribuição dos bens desaproveitados era limitada pela prescrição
de que só pessoas leigas e sujeitas à jurisdição da coroa podiam
receber sesmarias. Se bem que a generalidade das cartas régias
de D. Afonso V omitam tal cláusula, talvez possamos subentendê-la
quando os documentos inserem a condição das sesmarias serem
dadas a pessoas que o sesmeiro visse e entendesse que as podiam
bem adubar e aproveitar, de forma a torná-las proveitosas (2).
O facto de se procurar que as sesmarias se tornassem profícuas
pode ser interpretado não só no sentido económico de aproveita-
mento agrário, mas também na acepção fiscal, isto é, que o seu
cultivo resultasse em benefício do erário régio. Por ·conseguinte,
que os indivíduos que as recebessem ficassem sujeitos à tributa-
ção da coroa e à jurisdição da mesma~ no caso de não cumprirem
aquilo a que se obrigavam. Se a razão que presidia à dada das
sesmarias levava a aligeirar os encargos do agricultor, por outro
lado ao rei não convinha libertar por completo da sua alçada
113
jurídica e tributária os indivíduos a quem os bens assim eram
dados. Basta lembrar que um dos argumentos invocados pelas
ordens monásticas e militares, assim como por alguns grandes
senhores, foram as quebras de rendas originadas pelo abandono de
terras e bens dentro dos seus domínios. Apoiado no prejuízo dos
seus direitos, alcançou Diogo da Silveira, escrivão da puridade
de D. Afonso V, por carta régia de 12 de Setembro de 1455,
licença para dar de sesmaria os bens e herdades danificados na
vila de Pedrógão Pequeno e seu termo, vila que obtivera do
Prior do Hospital por emprazamento em três pessoas. «Manda-
mos» - escrevia o soberano - «que o dicto diogo da silueira ou
o sseu almoxarife as possa dar por foros ou trebutos aguisados» (1-).
Acresce que, em 1481, D.. João ainda príncipe e como senhor de
Alenquer, por sentir que «nõ avía o trabuto que avia daveer»
das herdades que possuía na vila e termo, mandou o seu almo-
xarife dar de sesmaria «hüüa terra de matos manynhos» a Martim
de Orta com a condição de a transformar em «quintaa>> e com
o foro de setenta e um reais cada ano (2). Legítimo é concluir que
igualmente o rei não deixaria fugir da malha fiscal os bens havidos
de sesmaria, quando eles nela se encontrassem enleados, e que
a jurisdição régia vigiaria atentamente, sempre pronta a intervir,
o homem e a terra que lhe era dada.
As medidas tomadas por D. João I e D. Duarte para cana-
lizarem e organizarem as forças sociais e económicas do país,
foram continuadas pelo Infante D. Pedro, como regente na meno-
ridade do herdeiro do trono. Portanto, podemos dizer que no
reinado de D. Afonso V se fixou a Lei das Sesmarias tal como
ela atingira os meados do século XV, depois de uma evolução
rápida através de múltiplas vicissitudes. Integrada no código afon-
sino, que representa «os esforços de tres reinados sucessivos para
coordenar a legislação e dar-lhe unidade, significando ao mesmo
tempo a decadência do direito local e o progressivo desenvol-
vimento da autoridade do rei» (3), a velha lei conserva-se, se bem
que despojada de grande parte dos seus elementos iniciais e da
sua violência, até que nova mutação, alterando a estrutura eco-
nómica e social de Portugal nos fins do século XV, lhe imprime
diversas modificações quando a integra nas Ordenações Manue-
linas. Como a máscara de uma pessoa idosa conserva nos vincos
dos seus traços as ambições, alegrias, tristezas e revoltas que a
vida nela gravou, assim a Lei das Sesmarias se desfigurou e modi-
ficou sob a acção dos legistas nacionais, lenta mas continuamente.
(1) Chanc. de D. Afonso V, liv. 15, fl. 82 v.; Estremadura, liv. 7,
fl. 298 v..-299; Beira, liv. 2, fl. 129 v.-130.
(') Chanc. de D. João II, liv. 22, fl. 15-16 v.; Estremadura, liv. 6,
fl. 239-240 v.
(3) Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., I, pág. 72.
114
X
(') Gav. 12, m. 1, n.° 11; Direitos Reais, liv. 1, fl. 242 v.-?43. y. _
( ) Não me parece de aceitar para o termo «ad~m.as» a sigmf1c;açao
6
116
isentos de qualquer tributo (1). D. Fernando não fez mais do que
seguir o estabelecido por D. Dinis na carta de foro do concelho
de Muge, datada de Dezembro de 1304 (2). Em 1378, o mesmo
soberano dispunha em favor do mercador João Anes de Sousa
e sua mulher Constanca- Martins de metade de um chão «en
deuaso e en monturo»~ na cerca de Coimbra, e que pertencia
ao concelho, para nele edificarem casas de morada; concedeu-o
ao casal por direita herdade para sempre, livre e isento, e as casas
que no dito chão construíssem ficar-lhes-iam· também livres e
isentas, sem foro nem tributo algum «e que façam dellas e en
ellas todo o que quiseren come de sua coussa propia» (3 ). Nas
mesmas condições, e no mesmo ano e mês, receberam sesmarias
dentro da cerca de Coimbra, Fernão Gonçalves, prior de S. Sal-
vador, Martim Gil Caeiro e sua mulher, Maria Martins e seus
filhos (4 ).
Elevado ao trono o Mestre de A vis, e firmada a paz com
Castela, procedeu-se ao repovoamento e à reconstrução de castelos
ou muralhas de povoações que os combates pela independência
tinham destruído nos territórios mais assolados pela guerra.
O encargo de cercar e repovoar Terena foi confiado a Martim
Afonso de Melo por D. João I, bem como a dada das sesmarias,
em 1413; a carta régia ordenava que os bens repartidos por Martim
de Melo fossem concedidos livre e desembargadamente e aqueles
que os recebessem podiam deles «fazer ho que fariam de sua
herança propia. Com tamto que eles e seus herdeiros morem
e pouoem em o dito lugar» (5 ). Também o Infante D. Henrique,
em 1432, e, possivelmente pela mesma época, o ilustre e poderoso
D. Fernando de Castro, obtiveram de D. João 1 os pauis de Trava
e Boquilobo de sesmaria em plena propriedade e hereditaria-
mente (6). A razão da liberdade régia encontra-se explicitamente
na carta de doação do Infante, em que D. João I consignou:
«E queremos que o aiam e pessuam el e seus herdeiros e sucesores
pera sempre e façam delle como de sua cousa propria pollas
117
grandes despesas que somos certo que se em el ham de fazer
ante que delle aia algüu proueito e se depois ham de fazer con-
thinuadamente em seu repairamento em cada hüu anno» (1).
Livres e isentos parecem igualmente ter sido dados alguns
matos no termo de Tavira, mas como aqueles que os traziam de
sesmaria não os aproveitavam devidamente e com exigências de
pagamento de certas rações impediam aos outros de o fazer, foi
ordenado pelo rei, em 27 de Janeiro de 1392, que quem quisesse
lavrar e romper tais matos os podia tomar e fazer «em elles sua
proll sem nenhüü.a outra Rezã que dello deem» (2).
O mesmo preceito mantém D. Afonso V quando nomeia
sesmeiro de Tavira Afonso Vasques Pacheco, em 14391 pois deter-
minou que os bens havidos de sesmaria seriam possuídos e logra-
dos para sempre como coisa própria e isenta, no caso de serem
cultivados, proveitosos e povoados (3). Condição que se manteve
em 1443, ao ser confirmado o legítimo sesmeiro da vila, João
Garcia de Contreiras, a quem Afonso Pacheco quisera furtar
o cargo (4), e em 1475, ao ser nomeado sesmeiro de Mourão
Rodrigo Anes de Valadares, escudeiro de Gonçalo Falcão então
alcaide-mor do castelo de Mourão (").
Em 16 de Junho de 1461, foi passado um alvará por Pero
Lopes da Franca e pelo seu parceiro João Garcia de Contreiras,
sesme!ros por carta del-rei em Tavira e seu termo, no qual se
ordenava ao porteiro e pregoeiro do concelho que apregoasse pela
vila uns chãos no arrabalde, além da ponte, a fim de se apresen-
tarem as pessoas que a eles tinham direito «se nam sejam certos
que o daremos de sesmaria ao doutor mestre afonso madeira
ffísiquo moor del Rey que nollo emuíou pedir pera em elles fazer
hüüas casas de morada». Como os sesmeiros estavam certos que
edificar casas no local indicado <<nom faz nojo ao Ryo. maís ante
lhe faz proueito», deram os chãos a Mestre Afonso. Tempo
depois, a 5 de Outubro, na praça da vila e em presença de Pero
da Franca, apresentou Luís Madeira, em nome de seu irmão
Mestre Afonso, o alvará anterior; declarou que, por estar ausente
João Garcia, fizera o porteiro trazer em pregão os ditos chãos
e pediu lhe fosse passada carta deles. Pero da França, visto seu
dizer, interrogou o porteiro para saber se os pregões tinham sido
118
feitos e se alguém se apresentara a dizer que tinha algum direito
sobre os terrenos, ao que o porteiro respondeu que lançara os
pregões como devia e ninguém se apresentara a reclamar seu
direito. Depois de verificar que tudo tinha sido feito e estava
em ordem, o sesmeiro «todo com a ffee do dicto porteiro. e de
como he seruiço de deus e del Rey e bem da terra hos chããos
serem fectos e aproueítados em casas deu de sesmaria os dictos
chããos. ao dito doutor. segundo sam deujsados suso escriptos, os
quaaes lhe deu. com tal condiçam que este anno prímeiro seguínte
que uem comece de obrar em elles de f fazer. bemfectoria. e nom
cesse atee que os tenha aproueitados em casas. e que possa delles
e em elles fazer. todo aquello que lhe prouuer como de sua cousa
propia e Jsenta e corporal possissam Real e autuai». Por sua
carta, logo o sesmeiro lhe deu posse dos chãos, «que per uirtude
della ele per si ou per quem lhaprouer sem outra algüüa aucto-
ridade sua nem de Justiça. os possa tomar e Reteer e possuir».
Luís Madeira, sempre em nome de seu irmão, aceitou a sesmaria
e obrigou-se por seus bens a aproveitá-la pela forma preceituada,
pedindo ao sesmeiro lhe passasse carta, o que logo foi feito pelo
tabelião dei-rei na vila. E, em 26 de Novembro de 1461, Mestre
Afonso Madeira obteve confirmação régia da sesmaria que lhe
fora dada em Tavira (1).
Outros casos ainda, e bem elucidativos. João Anes, carniceiro,
morador na vila de Estremoz, vendo como certa terra no termo
da vila do Redondo estava baldia e maninha começara de romper
um pedaço que transformara num pomar. Se bem que tencionasse
aproveitar uma área maior, não ousava fazê-lo porque a terra
estava nos confins dos concelhos de Estremoz e do Redondo, sobre
cujos termos havia litígio, sem se saber a que concelho pertencia
a terra maninha. João Anes requereu aos sesmeiros do Redondo
e estes deram-lhe a terra de sesmaria, mas os juízes e oficiais de
Estremoz impuseram-lhe, sob pena, que não tirasse carta dos
sesmeiros do Redondo sem estar bem determinado a qual dos
concelhos pertencia a terra em questão. O pobre carniceiro,
querendo beneficiar aquilo que já agricultara ou receando per-
dê-lo, resolveu pedir ao rei, que se encontrava em Estremoz, que
lhe desse a terra de sesmaria como sua cousa própria e dela
pudesse «auer os fruytos nouos e rremdas della». Foi mercê de
D. Afonso V conceder-lhe o que solicitava e, não só lhe deu a
sesmaria pelas demarcações estabelecidas pelos sesmeiros do
Redondo, mas também com as condições impetradas (2).
119
O Infante D. Henrique deu a Fernão Gonçalves em sesmaria
o local denominado «Cabeça de Maria Alva», que ficava no
sesmo da aldeia de «Johanne», termo da Covilhã, para nele fazer
um sumagral; era uma terra maninha, «cauadura» de dez homens,
que lindava com outras sesmarias. Tendo-a já aproveitada e feito
o sumagral, ardera a casa onde Fernão Gonçalves guardava as
suas escrituras e, entre elas, a carta da dita sesmaria; dirigiu-se
então ao Infante D. Fernando, que herdara o senhorio da Covilhã
do Infante D. Henrique, pedindo nova carta em substituição da
perdida. D. Fernando, depois de ouvir o sesmeiro e o escrivão
desse ofício, de verificar que a terra não era de igreja, nem de
ordem, nem de hospital, deu-lha novamente com o sumagral de
sesmaria para todo o sempre, como sua coisa própria, com todas
suas entradas, saídas, direitos e percalços como a havia em vida
do Infante D. Henrique, «E melhor se com dereito melhor poder
auer». Mas, ao confirmar a carta no ano seguinte, a 9 de Feve-
reiro de 1468, D. Fernando consignou que se cumprisse e guar-
dasse o que na sua carta era conteúdo contanto «que esta terra
seiam daquellas de que nõ pagam Reçam» (1-).
Durante todo o reinado de D. Afonso V, aqui e além, se
verifica que a regra nas sesmarias era a terra ser dada em plena
propriedade apenas com o encargo de arrotear. Tal se depreende
dos documentos anteriormente citados e também das sesmarias
de Medelim (2), de Benavente (3 ) e outras (4).
Apesar disto, não faltam alguns exemplos do concessionário
pagar foro e da concessão da sesmaria revestir a forma de um
contrato enfitêutico, pelo menos a partir do segundo quartel do
século XV (5).
Vejamos.
Pouco clara é a carta da Rainha D. Isabel em que manda
dar as herdades, olivais, casas e moinhos abandonados e danifi-
120
cados, na sua vila de Alenquer, a quem os quisesse aproveitar
como cumpria «dando os a pessoas leiguas e da nossa jurdiçam
que sempre a nos paguem o trebuto dellas segundo foro e custume
da dieta terra» (1-). E também o alvará do Príncipe D. João, de
4 de Julho de 1481, em que, como senhor de Alenquer, mandou
a Vasco Gonçalves, seu almoxarife, dar uma sesmaria no termo
da vila a Martim de Orta com o foro de setenta e um cruzados
cada ano, pagos pela maneira que se pagava o foro «das quintaas
de femã teelez e Ruy gomez e outros semelhantes e esto per uossa
carta ssellada segundo a hordenançã fecta sobre as sesmarjas» (2).
Condição idênticas, possivelmente, deviam revestir as sesma-
rias dadas por Diogo da Silveira na vila de Pedrógão Pequeno,
pois a carta régia, de Setembro de 1455, autorizou-o a dá-las por
foros e tributos «aguisados» a tais pessoas que as cultivassem e
lhe pagassem a ele, assim como aos seus herdeiros e sucessores,
foros e tributos em cada um ano (3).
Ao almoxarife de D. Afonso V em Penela, de nome Gonçalo
Anes, foi pedido de sesmaria um mato e monte bravio, situado
acima de Albarrel, por Álvaro Moreira em 25 de Agosto de 1455.
Logo Gonçalo Anes mandou pôr um alvará na praça da povoação
durante quinze dias e mais sem que alguém se apresentasse a
reclamar por sua a propriedade; visto «como lhe nam saya dono
ao dito luguar», outorgou-o a Álvaro Moreira de sesmaria por
suas confrontações e divisões declaradas, para ele, sua mulher
e todos seus herdeiros e sucessores. Dois anos passados, obteve
o concessionário carta de confirmação de D.. Afonso V, ressal-
vando-se nela, porém, que ao rei devia ser pago cada ano «aquelles
dereitos que por semelhamtes luguares paguam e nos deuem seer
paguos no dito loguo» (4).
Outros exemplos ainda se encontram na carta de 18 de Abril
de 1478, em que D. Afonso V deu de «sesmaría emfatíota» a Pero
Borges, fidalgo da sua casa e seu contador, o paul de Sta. Maria
da Virgem, no termo de Óbidos (5 ), e, na de 14 de Maio de 1478,
em que é confirmada a Pero Lobo, fidalgo da casa da Senhora
Princesa, uma sesmaria no termo de Alenquer, perto de Vila Nova
1
( ) Carta de 19 de Maio de 1446, inserta na confirmação de
D. João II, datada de 14 de Novembro de 1481. Chanc. de D. João II,
liv. 22, fl. 15-16 v.; Estremadura, liv. 6, fl. 239-240 v.
(") Esta carta de sesmaria foi confirmada por D. João, já como rei
de Portugal, em 14 de Novembro de 1481. Chanc. de D. João II, liv. 22,
fl. 15-16 v.; Estremadura, liv. 6, fl. 239-240 v.
(3) Chanc. de D. Afonso V, liv. 15, fl. 82 v.; Estremadura, liv. 7,
fl. 298 v.-299.
(4) Carta confirmada subsequentemente a Pedro Moreira por
D. João II, em 9 de Abril de 1484. Estremadura, liv. 3, fl. 116 v.-117.
(") Estremadura, liv. 7, fl. 108-109.
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NUllO& - KÜ&llfi Dl DOCUMlRUCâO CUUUR!ll 121
BIBLIOTECA
das Rainhas (1). Num e noutro caso estabelece-se um foro a pagar
- cem reais a Pero Borges e a Pero Lobo oito alqueires de trigo
por ano-, mas os documentos não contêm qualquer outro ele-
mento indicativo de um emprazamento. Pelo contrário, na ses-
maria de Pero Borges, não obstante o foro fixado, este foi-lhe
quitado em sua vida pela muita despesa que ele teria de fazer
no aproveitamento do paul antes que «delle possa auer proueyto»;
a doação é feita para sempre sem qualquer restrição à faculdade
de alienar e o rei abandonou «todo dereito e propríadade», que
no paul pudesse ter, reservando apenas para a coroa o foro mar-
cado, a pagar depois da morte de Pero Borges e pela pessoa ou
pessoas a que ele ficasse e «ao diamte ho teuerem e pessuirem».
João de Omelas, como contador e procurador do soberano,
por cuja carta de procuração tinha autoridade para emprazar,
aforar e dar de sesmaria todos os reguengos, «aforou de sesmaria»
um mato, que já fora olival, na «costa» do vai das Estacas, termo
de Santarém, além do Mosteiro de Sta. Clara, a um Gonçalo
de Aragão e a sua mulher Leonor da Costa, no dia 1 de Julho
de 1426. Depois de tirar inquirição e pôr éditos na vila, como
não se apresentasse ninguém a reclamar a propriedade do dito
mato abandonado e sem dono conhecido havia mais de cinquenta
anos, João de Omelas declarou-o maninho e, portanto, perten-
cente a el-rei. Entendendo ser serviço do monarca, deu-o de
sesmaria a Gonçalo de Aragão e sua mulher pelas confrontações
declaradas, para eles e todos seus sucessores, com todas suas
entradas e saídas, direitos e pertenças para que o «ajam e logrem
deste dia pera todo sempre e que façam delle e em elle o que lhe
aprouuer como de cousa que he foreyra com emcarreguo de foro».
O foro estabelecido foi de quarenta soldos da moeda antiga a
pagar anualmente por dia de S. João Baptista, devendo o primeiro
pagamento efectuar-se a partir de 1443. «E que o laurem e
esmoutem e moutem e ponham estacas de chamtõões e os corre-
guam e adubem em guysa que seja todo bem adubado» (2). A este
«estromento de sesmaria» não falta o direito de preempção, um
dos característicos da concessão enfitêutica (3).
Pelo ano de 1468, D. Afonso V deu de sesmaria ao seu criado
João Nicolas um pedaço de terra na serra de Sintra, «descomtra
ho mar», dentro da comarca de Cascais, com a condição dele o
1
( )Estremadura, liv. 7, f. 127-128 v.
(') Estremadura, liv. 4, fl. 142 v.. -144.
(') Como contém o documento: «sse por uemtura o vemder quíse-
rem que primeyro o rrequeyram ao almoxarife do dito senhor Rey se o
quizer tamto por tamto pera o dito senhor quanto outro por el der. E nom
o queremdo que o vemdam a tall pessoa que adube o dyto oliuall e pague
ao dito senhor e fazemdo o comtrayro <lesto que nom valha».
122
romper e de plantar vinhas, pomares e terras de pão, de lhe pagar
um real de prata de vinte e quatro reais brancos da moeda então
corrente e um pàr de «frangããos» por ano - o primeiro paga-
mento devia ser feito na Páscoa de 1479. Passou-se o tempo e João
Nicolas morreu sem ter aproveitado a sesmaria que lhe fora dada.
Então, um tal João de Coimbra, que fora criado do Infante D. Fer-
nando1 pediu que a mesma terra lhe fosse dada de sesmaria para
sempre. O monarca ponderou as razões do pedido: «e por quanto
o dito Joham njcollas nem outro por elle des ho dito tempo ate
ora nam fezera nenhüüa bemfeiturya nem jsso mesmo pagara o
dito foro segumdo me em todo era obrigado e a dita terra estaua
herma e manjnha em mato e feitãães e que per bem de mjnhas
hordenaçõões sobre taaes casos feitas eu podia dar a dita terra
de sesmaria a quem minha merçee fosse por o dito Joham njcollas
nam aproueytar a dita terra como dito he nem paguara o dito
foro por o quall cayra em comisso». E concedeu a sesmaria a
João de Coimbra, para sempre e hereditariamente, com o encargo
do foro que estabelecera anteriormente a Nicolas, definindo com
precisão o direito de opção e o laudémio (1-), bem como a obriga-
toriedade da posse ficar sempre em pessoas sujeitas à jurisdição
real; no caso da linhagem de João de Coimbra se extinguir a terra
revertiria para a coroa com todas as benfeitorias nela feitas (2).
Pode a sesmaria ter sido de início uma dada de terras que
não implicava regime especial, mas que, com o decorrer do tempo,
revestiu, de quando em vez, a forma de aforamento?
O rico e poderoso mosteiro de Alcobaça resolvia também o
problema do arroteamento das suas terras incultas mediante a
distribuição de sesmarias, mas, nos seus coutos, a partir dos fins
do século XV, a sesmaria implicava uma concessão enfitêutica (3).
(1) « ... se a vender qujser que o faça primeiro saber ao meu almo-
xarife do almoxarifado de sintra que ao dito tempo for pera mo fazer
saber se a pera mym qujser tamto por tamto quanto outrem por ella deer
e nam a queremdo eu assy comprar e auemdo elle dito Joham de coimbra
e pessoas que depos elle vierem auendo meu comsentimento o possam
vender com todo seu foro e emcarguo e bemfeiturias a pessoa ou pessoas
que me paguem liuremente della a coremtena ou a pensam ... ».
(2) Estremadura, liv. 7, fl. 129 v.-131.
(') As sesmarias nos coutos de Alcobaça foram reguladas pelas se-
guintes disposições, quando da reforma manuelina dos forais, em 1514:
«E Quamto aos sesmeíros de que se os dictos conçelhos ora agrauaram
de serem postos e dados pollo dicto moesteíro. E per consegujnte de nom
lhe guardarem sobre jsso nossas ordenaçõões. Nos vistas as escripturas
do dicto moesteíro E a posse em que atee agora por bem dellas esteue
auendo prinçipalmente respeito que todallas terras dos dictos coutos sam tri-
butarias e foreyras ao dicto moesteíro .6. (*) Auemos por bem e mandamos
que ho moesteíro per seus abades e ofiçiaaes ponham sesmeíros em cada
húu dos dictos lugares dos dictos coutos como atee quy fizeram. Com este
emtendímento e decraraçam a saber que ho manjnho ou sesmaría que se
123
Se folhearmos atentamente os célebres Livros Dourados encontra-
mos diversas cartas de sesmaria que têm o carácter jurídico de
emprazamentos.
Assim, a carta de 5 de Março de 1379, em que o abade
Fr. João de Ornelas concede um mato, que já fora vinha, na Cela
Nova, a Domingos Anes e sua mulher Catarina, é nem mais nem
menos do que um emprazamento, não lhe faltando sequer o di-
reito de preferência e o laudémio, características desse tipo de con-
cessão (1). O mesmo podemos afirmar da sesmaria dada a Afonso
Anes e a sua mulher, em 8 de Dezembro de 1436, situada no
termo da Castanheira (2), e das que receberam Fernando Anes,
antes de 1437, perto de Alfeizerão (3), e Mendo Afonso, em 1444,
em Aljubarrota (4).
Todavia, algumas cartas, poucas, são menos claras e não con-
têm referência a preferência nem Iaudémio, mas a natureza
parciária da pensão e da foragem pelo Natal são mais próprias dos
contratos enfitêuticos que dos censos (5 ), como se verifica na carta
de sesmaria dada a Gonçalo Pires em 10 de Janeiro de 1435 (6 ).
Estas cartas parecem-me não ser excepções, pois talvez possamos
considerar implícitos preferência e laudémio, porquanto os con-
tratos de índole enfitêutica constituem a regra nas terras de Alco-
baça (7). Retomando a argumentação de Gama Barros: à ordem
cistercence e às outras corporações eclesiásticas «só convinha a
alienação por emphyteuse que, demais, para os bens da Igreja era
ouuer de pedír pera se dar ha de seer scripta em petiçam Declaramdo
nella ho lugar e terra que pedem com todallas confrontaçõões que teuer
a dita Sesmaria Ou manynho A qual se dara ao que for sesmeíro da ordem
aos ofiçiaes ordenados pera elles a mandarem notifícar nos lugares homde
tocar a tal sesmaria Assy no mesmo conçelho como fora delle sela abran-
ger a confrontaçom. E despoís de seer pubricada segundo nossa ardenaçam
Achandosse que nam traz dapno a nenhúúas pessoas asy particullares
como a pubríca serujntya dos pouos entam se podera dar pollo dicto
sesmeíro pollo foro da terra sem mais outra mudança nem acrecenta-
mento. E fínalmente mandamos que se guardem em todo nossas ordena-
çõões das sesmarias sem embargo dos príujllegios nem vso da ordém».
Livro dos Forais Novos da Estremadura, fl. 124-124 v.
{*) O sinal â indica uma mudança de capítulo.
(') Livro 1 dos Tombos de Alcobaça, fl. 52.
(2) Livro dos Tombos de Alcobaça, fl. 63 v.-64 v.
(3) Livro 6 dos Tombos de Alcobaça, fl. 131 v.-132 v.
( ) Livro 6 dos Tombos de Alcobaça, fl. 24-25 V.
4
124
a única permitida pelas leis canonicas» (1). O insigne investigador
notou igualmente que, não só nos forais das ordens e dos parti-
culares, como nos aforamentos dos mesmos «o direito de opção
não se expressa frequentemente, talvez porque se subentendia sem-
pre, e o laudémio não é também dos que apparecem mais vezes» (2).
Aliás, como já vimos, os ordens religiosas estavam no direito
de dar as sesmarias nas suas terras (3), sem que o poder central
lhes tivesse imposto qualquer preceito legal que as regulamen-
tasse em relação à forma como era cedida a terra ao cultivador.
Portanto, afigura-se-me que, em terras de senhorio, os donatários
tinham o direito de aforar as terras abandonadas e os maninhos (4),
ao passo que nas terras concelhias elas eram dadas livres e isen~
tas (5 ), talvez, nalguns casos, sujeitas aos tributos impostos pelo
costume ou pelo foral (6 ). ·
(') Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., págs. 591 e segs., e 633
e segs.
(2) Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, págs. 585 e segs. e 633.
3
( ) Pelo menos desde o reinado de D. João l; mas, nos coutos de
Alcobaça, por exemplo, já se davam sesmarias antes da carta régia de
autorização, datada de 17 de Setembro de 1430, como do seu conteúdo
se infere.
(4) Tal é a opinião de Lobão (pelo menos em tempos posteriores),
que atribuiu aos donatários o direito de aforar os maninhos compreendidos
nas respectivas doações, desde que fossem ouvidas as câmaras e conforme
a lei das sesmarias. Ver: Lobão, Direito Emphyteutico, I, §§ 35-36, e
Direitos Dominicaes, § 44.
(') O preceito fixado nas Ord. Man., liv. IV, tít. 67, § 12, é o
seguinte: «... se as terras onde esteuerem forem isentas, se dem as Ses-
marias isentas; e se forem tributarias, com o tributo dellas as dem, e nom
lhes ponham outro tributo por mais fauor da lauoira ... ».
(º) Nos capítulos especiais apresentados nas cortes de Lisboa de
1495, o concelho de Torres Novas refere-se a certas terras que em outros
tempos tinham sido sesmarias e pagavam jugada aquelas pessoas que as
tinham e eram tributárias. Chanc. de D. Afonso V, liv. 36, fl. 146-146 v.;
Estremadura, liv. 7, fl. 243-243 v. Escasseiam-me conhecimentos para tratar
devidamente do aspecto jurídico das sesmarias, o que me obriga a deixar
somente aflorado tal assunto e a indicar a documentação que reuni para
que alguém possa construir sobre ela. O pouco que escrevi, fi-lo graças
a sugestões do Ex mo Sr. Prof. Paulo Merêa, a quem testemunho o meu
reconhecimento.
XI
(1) Até essa data nenhum documento nos ministra alguma informa-
ção a não ser os pedidos de dois concelhos requerendo que as sesmarias
fossem aplicadas no seu termo; são eles o do concelho de Silves. em 1361,
e o de Santarém, em 1371, respectivamente nas cortes de Elvas e de Lisboa.
Ver: Chanc. de D. Pedro I, liv. 1, fl. 60-61; Maço l, de Suplemento de
Cortes, n. º 6.
126
e, que não eram cultivados, o pudessem ser por quantos os qui-
sessem romper e arrotear (1-). Só bastantes anos depois, nas cortes
de Lisboa de 1459, outro concelho algarvio, o de Silves, voltou a
tratar de sesmarias. Então, no Algarve, estavam-se perdendo mui-
tos bens e terras que, outrora matos e mortórios, depois se tinham
convertido em hortas, vinhas e pomares, sendo alguns da Igreja
e outros de mouros; ora estes últimos não os queriam aproveitar
nem consentiam que se dessem de sesmaria, assim como se davam
a eles as terras que foram e eram de cristãos; solicitou o concelho
a el-rei que «pois elles pedem e ham das terras que foram e sam
de christããos por estarem em matos assim mandees que nos dem
as suas se aproueitadas nom forem segundo uossa hordenaçom».
A isto respondeu el-rei que lhe aprazia outorgá-lo (2).
Portanto, em certos pontos do território algarvio as sesmarias
eram acolhidas favoravelmente pelos concelhos e a sua aplicação
tomada como eficiente para promover o aproveitamento agrário
da região ('3).
No Alentejo, as sesmarias aparentam não suscitar nenhum
reparo, as vilas e cidades aceitam a actuação dos seus sesmeiros
e tudo parece decorrer normalmente.
Beja, afirmou em cortes, no ano de 1394, que o seu termo
era muito grande e nele havia que fazer não só para o sesmeiro
que D. João I aí pusera, mas também para outros que o concelho
elegesse (4). O concelho das Alcáçovas pediu em 1443, que o sobe-
rano providenciasse à falta que fazia um sesmeiro na vila para
poder dar os bens ou terras desaproveitados e que alguns homens
pediam de sesmaria (5 ). E o concelho do Vimieiro, também em
1443, dirigiu um pedido quase idêntico ao soberano para poder dar
bens de sesmaria (6 ).
No entanto, nalguns pontos da província alentejana, surgem
protestos e queixumes. Assim, Ouguela reclamou contra João Vas-
ques, alcaide da vila em nome de Rui Gomes da Silva, por ele dar
os bens «manjnhos» aos moradores de Campo Maior «leuando a
rraçã delles», quando, outrora, D. João I mandara que fossem
distribuídos aos vizinhos de Ouguela. D. Afonso V, em carta de
(1) Chanc. de D. João I, liv. 2, fl. 67 v.; Odiana, liv. 2, fl. 249 v.-
-250; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III pág. 708.
(2) Odiana, liv. 3, fl. 82; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III,
págs. 713-714.
(3) No reinado de D. João II o concelho de Silves foi agravado pelas
prepotências, erros e desonestidades do seu sesmeiro João Cinqueiro. Ver:
Chanc. de D. João II, liv. 2, fl. 37. Gama Barros, Hist. da Adm. Publ.,
III, págs. 719-720.
(') Chanc. de D. João I, liv. 3, fl. 39.
(") Chanc. de D. Afonso V, liv. 27, fl. 33.
6
( ) Odiana, liv. 4, fl. 215-215 v.
127
8 de Abril de 1456, respondeu que mandava carta ao concelho
para que João Vasques viesse citado à corte mostrar a razão que
tinha para tomar os maninhos e exigir ração deles; «E uos jnujae
vosso procurador E traga quaes quer estprituras cartas Requjry-
mentos que tuerdes per que o concelho os possa darn. Visto tudo,
el-rei proveria como melhor entendesse (1-).
Nas cortes de Lisboa de 1459, o concelho de Portalegre pro-
testou contra João Afonso que fora nomeado sesmeiro por carta
régia; desde sempre fora costume o concelho nomear cada ano
um sesmeiro que, com acordo dos oficiais do grémio municipal,
dava de sesmaria os bens que jaziam em mortório - narra o ca-
pítulo-, e «hora hü.u Joham affonso que o he por carta uossa»
usava do ofício muito em prejuízo do concelho porquanto dava os
bens aproveitados, e que tinham dono, a quem lhos pedia sem
autorização dos oficiais do concelho, do que resultava demandas
e contendas «antre as partes aas quaees ueem aRoydos e se ferem
o que sse nam soya de fazer». Pediu a vila que se voltasse ao cos-
tume antigo e se dessem as sesmarias na câmara como dantes, ao
que D. Afonso V respondeu reprovando o procedimento do ses-
meiro, que excedia as atribuições conteúdas no regimento que lhe
fora dado, e «mandamos lhe que o cumpra e guarde. E se em
algüü.a parte contra elle for. tomem estormento com sua Reposta
e seer lhe a dado escarmento qual deue. e prouydo como for Re-
zam e direito. E por que per nos se poeem os sesmeiros geereal-
mente. se eles teem algü.üa carta ou priuillegio por que o deuam
fazer amostre no e seer lhe a guardado o seu direito» (2).
A vila não apresentou título legítimo com que justificasse a
sua pretensão, pois quando volta a apresentar capítulos especiais
sobre sesmarias, nas cortes da Guarda de 1465, continuava a cargo
do sesmeiro posto pelo rei a dada das sesmarias (3). Portalegre
queixou-se, então, que o sesmeiro não guardava a mata da vila -
que era muito proveitosa aos moradores porque nela encontravam
paus para as suas vinhas a pouca distância da vila - e a dava de
sesmaria; os procuradores lembraram ao soberano que já em tem-
pos, quando estivera em Estremoz, lhe tinham pedido, e obtido, que
fosse impedido aos caçadores de a queimarem e danificarem.
«E agora Senhor em vez de a dita mata sser guardada vosso ses-
(1) Chanc. de D. Afonso V, liv. 13, fl. 162; Gama Barros, Hist. da
Adm. Publ., IV, pág. 102.
(") Odiana, liv. 3, fl. 141 v.; Gama Barros, Hist. da dm. Publ., III,
págs. 712-713.
(3) Em 1482, foi confirmado por carta régia o cargo. de sesmeiro de
Portalegre a Diogo Afonso «asy e pella guisse que ho elle Era e delle
husou atee ora per carta del Rey meu Senhor e padre». Chanc. de
D. João II, liv. 6, fl. 27-27 v.; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III,
págs. 718-719.
128
meiro a da de sesmaria o que Senhor em vida vossa nom sse acha
que de sesmaria sse desse nem a Rezãão nom ho comssemte sseer
dada» por ser tão proveitosa aos moradores da vila que já não
tinham onde ir buscar madeira senão com mui grande trabalho
por «híj nom aveer outro lugar homde os vãão colhem. Numa
palavra, o concelho pediu a D. Afonso V que mandasse que tais
sesmarias se não dessem na mata e as que o haviam sido fossem
anuladas. Respondeu D. Afonso que lhe prazia de não se bulir nas
que estavam aproveitadas ou roçadas, mas aquelas que o não eram
que não valessem, «E daquy em diamte sse nom dem mais» (1-).
Diferentes foram as reivindicações de Montemor-o-Novo,
apresentadas da mesma forma nas cortes da Guarda de 1465.
Segundo dizia um dos capítulos, na vila e no seu termo pediam-se
algumas terras de sesmaria que jaziam entre outras de lavradores
e, logo ao serem pedidas, aquele que tinha cargo de as dar, dava-as
e confirmava-as por suas cartas sem citar os vizinhos com que
extremavam. Disto se seguia grande dano porquanto ao redor da
terra assim pedida viviam cinco e seis lavradores, e como a dita
terra estava baldia fruíam-na todos juntamente, e outrossim as
águas que a terra tinha, os pastos e todo o outro logramento, «e
assy a dita terra he repaíro dos çímquo ou sseis lauradores que
aRedor della víuem por caussa da cada hü.u delles ou os maís nam
terem outra aguoa sse nam a que na dita terra podia estar. ou
nom tem tamta abastamça de terra pera pasto e mantem sse assy
todos nella em quamto estaa balldía». Mas, ao dar-se a sesmaria,
acabava-se o logradoiro e os lavradores confinantes eram prejudi-
cados, de tal forma que, por um casal que se fazia pelas sesmarias
perdiam-se dois ou três, e ainda era azo de grandes demandas em
que se despendia muito dinheiro. Tudo podia evitar-se se, antes
de ser dada a terra, fossem citados pelo pretendente os vizinhos
para dentro de certo prazo virem alegar na câmara e perante os
juízes e oficiais «sse teem allgüüa Razam lídíma a sse a dita terra
nom dar». No caso dos juízes e oficiais acharem que se devia dar
a sesmaria então o juiz das sesmarias «a dee e lha vaa demarcar
e apeegar. E nom sse fazendo nesta maneira. que toda dada que
per elle for dada ssem sse fazer a dita Citaçã e sse desembargar
pellos ditos juízes e ofíçíaaes na dita camara, seja nhiíüa». O capí-
tulo terminava pedindo também que, se as sesmarias estivessem
entre vinhedos, se não dessem senão para vinhas. Foi-lhe deferido
pelo soberano tudo quanto pediam, como consta da carta régia
passada na Guarda a 4 de Setembro de 1465 (2).
(1) Odiana, liv. 3, fl. 50; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III,
pág. 713.
(2) Odiana, liv. 3, fl. 52 v.; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III,
pág. 714.
129
Posteriormente, em 1478, o concelho de Lavar tomou como
argumento a utilidade pública para obter de D. Afonso V que a
«Cabeça do Açor» não fosse dada de sesmaria a ninguém porque
«era gramde Repaíro seu e elles laurarem em ella e sem ella lles
nam podían uíuer» (1).
Caminhando para o norte e entrando no senhorio da Ordem
de Sant'Iago, encontramos as reclamações e agravos do concelho
de Sesimbra a que providenciou o seu governador 1 o Infante
D. João, em 1430. Os queixumes eram motivados pela forma como
os sesmeiros da ordem davam as sesmarias, sem ouvirem os donos
dos bens e verificarem se eles eram daqueles que se deviam dar,
segundo o que preceituara D. João I; mas as maiores prepotências
eram as que se impugnavam a um dos sesmeiros, que o era por
carta do governador. Sozinho, sem parceiro e sem a aprovação
do comendador da vila, distribuía as sesmarias e, quando os que
eram prejudicados pelos seus actos opressivos se queixavam por
expoliados, ele proibia qualquer impedimento às sesmarias que dis-
tribuíra com multas elevadas para a chancelaria do mestrado.
A razão era, segundo dizia o concelho, o interesse pelos lucros que
obtinha daqueles a favor de quem dispunha dos bens alheios, cujos
donos legítimos se viam obrigados a defendê-los em demandas que
os faziam gastar o seu dinheiro e perder muitos dias de trabalho.
Para evitar tal abuso, o concelho pediu ao governador da ordem
que as sesmarias só pudessem ser dadas por dois sesmeiros juntos
e por outorgamento do comendador de Sesimbra ou do seu repre-
sentante; mas, previamente, os sesmeiros deviam ver os bens e
ouvir os seus proprietários e, depois de verificarem que eles os não
queriam aproveitar, lhes marcassem prazo de um ano para o faze-
rem ou para os venderem, arrendar ou aforar a quem o fizesse.
D. João não só deferiu o que lhe era pedido pelo concelho e orde-
nou aos juízes de Sesimbra que obstassem a que os sesmeirós pra-
ticassem aquilo de que eram acusados, mas também determinou
que as sesmarias fossem dadas como o concelho pedira, ficando
nulas todas as que tinham sido dadas contra as leis do reino ou
aquelas que o tinham sido sem o consentimento do comendador
da vila ou do seu delegado; os sesmeiros que desobedecessem ao
que então se determinou seriam multados, por cada vez, em mil
reais brancos para a camara do governador e para as obras da
cidade de Ceuta, e os juízes da vila ficaram encarregados de lhe
fazerem pagar a multa 1 aliás incorreriam em igual penalidade (2).
(1) É curioso notar que o rei defere o requerimento para «dar causa
pera que a díta uílla e termo seer bem pouorado». D. João II confirmou
o alvará
2
de D. Afonso V, em 1484. Odiana, liv. 2, fl. 267 v.-268.
( ) Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, págs. 709-710.
130
Ainda na Estremadura, Santarém, quando das cortes de Coim-
bra de 1394, julgou eficaz a dada de sesmarias no seu termo para
evitar a destruição de terras agricultadas por fogos que lançavam
ao mato de certos olivais confinantes1 que seus donos tinham
abandonados (1); o pedido do concelho para dar tais terras em
matos de sesmaria, a fim de obstar a semelhantes destruições, foi
deferido por D. João I que mandou aos juízes de vila «que façam
asy fazer» f).
Outra vila estremenha, Torres Novas, apresentou capítulos
especiais acerca das sesmarias nas cortes de Lisboa de 1459. Num
deles, queixou-se a vila que alguns vassalos del-rei, por morte de
certas pessoas ou por compra, tinham cobrado heranças que ou-
trora eram sesmarias e pagavam jugada e tributos, mas logo que
vieram à posse dos ditos vassalos tinham ficado francas; como
então o almoxarife do soberano os queria constranger a que pa-
gassem jugada, o concelho pediu que lhe· fossem mantidas suas
liberdades. A resposta que obtiveram foi que, se algum agravo era
feito aos privilegiados isentos de pagarem jugada, por bem dos seus
privilégios ou pessoas, tomassem «estormento» com resposta do
oficial que lho fez e sobre ele obteriam provimento. Noutro capí-
tulo também o concelho se agravou do almoxarife, po·r ele dar
sesmarias nas barreiras do muro da vila com prejuízo da fortaleza
porque, com o tempo, se podia arruinar o monte em que assen-
tava o muro e com ele as torres - coisa que D. Fernando não
consentira porquanto mandara derrubar muitos edifícios e fazer
grande cava. Quando sobre isto surgia alguma demanda, o almo-
xarife das sesmarias não consentia aos juízes ordinários que dela
tomassem conhecimento dizendo que só a ele pertencia, do que
resultava ninguém ousar «percalçar» com o almoxarife. Ao pedido
para que se não dessem tais sesmarias junto às barreiras e o almo-
xarife deixasse as demandas sobre as sesmarias aos juízes ordiná-
rios, D. Afonso V respondeu e mandou «ao contador que tanto
que hy for see emforme como sse dam estas sesmarias em taes
lugares E quanto perjuizo fazem ao castello E toda Emformaçom
nos faça saber pera sobre ello fazermos o que entendermos por
mais nosso serujço E bem do pouo E quanto ao juizo do almoxa-
( ) Eis o que pediu o concelho ao rei: «... que mandassemos que seus
1
1
( ) Chanc. de D. Afonso V, liv. 36, fl. 146-146 v.; Estremadura,
liv. 7, fl 243-243 v.; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 713.
2
( ) Beira, liv. 1, fl. 247.
(') Beira, liv. 1, fl. 47 v.; Viterbo, Elucidário, II, págs. 319-320.
Sobre a data deste diploma, ver: Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III,
pág. 709, n. 1.
132
por isso pediram a D. Afonso V que lhes mantivesse seus privilé-
gios e liberdades mandando a João Apenteado que não usasse mais
do dito ofício. Foi-lhes respondido pelo rei que pediam bem e lhe
prazia de lho outorgar (1).
O vizinho concelho de Trancoso, onde igualmente fora no-
meado juiz das sesmarias o mesmo João Apenteado, protestou
na assembleia de Lisboa de 1459. Sempre fora uso e costume, tão
remoto que a memória dos homens não era em contrário, e ainda
segundo a disposição do direito comum já lhes era tornado em
foro, de na vila os feitos das sesmarias serem ajuizados perante
os juízes ordinários - rezava o capítulo de Trancoso. Estando
assim nessa posse dera-se a inovação e viram o escudeiro João
Apenteado ser dado pelo rei por juiz das sesmarias - «... Joham
apemteado que se agora pera aca veo morar traz huua vossa le-
terra por que nolo daees por juíz Em esta vílla das dietas sesma-
rías ... » -, mercê que el-rei fizera por ele ter estado na tomada de
Alcácer. Duas razões de queixume oferece o concelho: a primeira,
pelo rompimento de suas liberdades, usos e costumes, a segunda,
porque a terra era muito pobre e «mesteírossa e mujtos nom teem
tam perfeítamente guisado pera rrepaírar seus bens E se os elles
nom podem correger fícam asy e bem seus herdeíros e corregen
os e todauja vyuem no seu pratijmonjo E se se loguo ouuesse de
conprir a hordenaçõ das sesmarías mujtos perderiom sua legytijma
contra rrezom e contra direito por que em tall lugar nõ se deue
tall hordenaçõ conprjrn. A isto respondeu D. Afonso V que, se
por ordenação antiga se não deram sesmarias na terra, se não
dêem; que a nomeação do juiz fique sem efeito e, se por direito
ou ordenação se derem sesmarias, sejam os juízes ordinários que
o façam (2).
Três anos antes, nas cortes de Lisboa de 1456, o concelho de
Aveiro obtivera provimento semelhante. Senhor, representara o
concelho, desde o fundamento do mundo a esta parte nunca na
vila se soubera que coisa era sesmaria nem tão-pouco os morado-
res dela; agora, <mouamente», os fazendeiros do Conde, a quem
pertencia a vila (3 ) queriam usar dela dizendo que, se alguns her-
damentos ficavam por aproveitar alguns anos, eles os dariam a
quem os aproveitasse sem seu dono haver nenhum lucro. Recla-
mou o concelho contra o novo costume e solicitou que cada um
pudesse fazer do seu o que lhe aprovesse e lhe fossem guardados
seus bons usos e costumes. Ao capítulo respondeu o monarca, se
(1) Chanc. de D. Afonso V, liv. 36, fl. 172-173 v.; Beira, liv. 2,
fl. 217; Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 712.
(') Chanc. de D. Afonso V, liv. 36, fl. 149-150; Beira, liv. 2, fl. 212;
Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 712.
(') O conde de Odemira.
133
antigamente se deram sesmarias na terra, que o façam, mas se tal
não acontecia e «sse ora nouamente sse faz sem nosa autorídade
nõ nos praz que sse faça E sse guoarde em ello o custume antij-
guo»; se porventura os oficiais do conde quisessem fazer o con-
trário «tomae estormento com sua Resposta E ser uos ha proueudo
como for djreito» (1-).
Medelim, na Beira Baixa, representou em 1450 que os seus
moradores e alguns homens de fora parte, que estavam dispostos
a vir morar na aldeia se nela tivessem alguma coisa de seu, que-
riam cultivar e aproveitar os mortórios que jaziam no seu limite;
por isso pediu, e obteve, autorização de D. Afonso V para
se darem sesmarias no seu agro pelos juízes de Monsanto (2).
O mesmo pensava Penamacor quando, antes de 1459, enviou
pedir a D. Afonso V, por sentir que era grande proveito e honra
da vila serem aproveitadas muitas coisas que se davam de sesma-
ria, que lhe desse os juízes da vila por sesmeiros, visto ter morrido
Lourenço Anes que desempenhara tal cargo (3 ).
«Dos primeiros annos do reinado de Afonso V, sem que pos-
samos dizer quanto à data senão que é anterior a 1442 e portanto
à promulgação do Codigo, já existem aggravos do povo contra a
f órma por que se davam sesmarias, e contra o facto de não serem
dadas também as terras da coroa ou das igrejas quando não apro-
veitadas. Accusavam os queixosos aos sesmeiros de que, ao cabo
de muitos annos desde que tinham mandado lançar pregão para
que quaesquer possuidores de bens desaproveitados os viessem
cultivar até um anno, ou ceder a quem os cultivasse, elles, sem
ouvir os proprietários, davam de sesmaria os bens que lhe pediam,
e até aquelles cujo abandono era mais moderno do que o pregão.
Justificando a queixa, allegava-se: «em que nos parece, senhor,
seer grande erro e agravo do povo o per tal modo feito por que
acontece a muitos teerem alguuns trabalhos, e outros nom seerem
nas terras per tempos, e nom podem assy acoder pera aproveitar
assy. os ditos herdamentos que lhe custaram muitos dinheiros ou
lhe ficaram de sua erança, que lhe som logo dados, per que se
recressem (?) antre cujos foram e aquel que os ha grandes omisios
e arriodos e demandas>>. Requeriam portanto ao rei que, por afas-
tar tudo isso e outras duvidas que ocorriam, e os sesmeiros cum-
prirem o seu dever, mandasse que, passado tanto tempo depois do
pregão que já este se presumisse esquecido, não dessem sesmaria
a quem lh'a pedisse senão intimando previamente o possuidor a
que viesse aproveitar em determinado prazo. O soberano responde
(1) Chanc. de D. Afonso V, liv. 13, fl. 57 v.-58; Gama Barros, Hist.
da Adm. Publ., III, págs. 711-712.
(2) Beira, liv. 2, fl. 78-78 v.
(') Beira. Iiv. fl. 44 v.
134
estabelecendo como regra geral que no caso de serem conhecidos
os donos, os intimem pessoalmente, e quando não sejam conheci-
dos nem achados, se faça a notificação por editos. Em relação às
terras da coroa ou das igrejas pretendia-se que houvesse procedi-
mento igual ao que estava ordenado para todas as outras, ficando
o concessionário adstricto aos mesmos encargos a que já o era o
seu predecessor na posse. E assim, dizem os requerentes, a lei será
toda igual. A efficacia da solução que o rei deu a este pedido,
parece que havia de ser assaz duvidosa. Se taes bens se conservas-
sem em estado de que resultasse prejuizo a quaesquer pessoas,
requeresse o procurador do concelho aos almoxarifes, ou aos prio-
res e clerigos das igrejas, que os beneficiassem e utilizassem de
maneira que aos donos dessem proveito, e aos vizinhos não cau-
sassem damno, para que o sesmeiro lhes assignaria prazo razoavel;
mas quando se tratasse de bens de igrejas, solicitar-se-hia tambem
a intervenção do bispo. Se o concelho não tirasse resultado d'estas
diligencias, escreveria ao rei declarando especificadamente quaes
eram os bens, e os meios que empregara para obter que os melho-
rassem. Depois de tudo visto com a resposta das partes, resolver-
-se-hia como fosse serviço do rei e bem do povo» (1).
De novo, nas cortes gerais iniciadas em Coimbra no ano de
1472 e terminadas em 1473 na cidade de Évora, a voz popular se
fez ouvir pedindo providências e sugerindo alterações na prática
das sesmarias. Não é já um concelho ou outro que protesta, mas
sim, talvez simbolicamente, todos os do reino. Em nove capítulos,
inseridos nos chamados Místicos, «os povos reclamam fortemente
contra a forma por que se executava a lei das sesmarias» f).
Começam por lembrar ao monarca que no título das sesma-
rias, no livro quarto das suas reformações, onde se trata do ofício
de sesmeiro, ele acharia que até ao tempo de D. João I, seu avô,
nunca no reino houvera sesmeiros, pois eram dois homens bons,
eleitos e postos pelos concelhos, que tinham cargo de constranger
as pessoas a aproveitarem seus bens; depois pelo dito rei fora feito
o primeiro sesmeiro, Álvaro Gonçalves, em Estremoz, mas a no-
meação régia tinha sido antecedida pela eleição do concelho (3).
Agora, D. Afonso não só os fazia por seu arbítrio mas ainda no-
meava alguns de fora dos lugares para onde eram providos, e
cujos termos desconheciam, donde resultava darem sesmarias de
(1) Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 710. A sumariação
perfeita que Gama Barros fez do diploma induziu-me na tentação de a dar
na íntegra, de preferência a escrever outra, sem dúvida, menos perfeita.
(') Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, págs. 714 e segs.
(3) Como foi notado anteriormente, a afirmação não é verdadeira,
já D. Fernando em 30 de Março de 1378 confirmara, por carta régia, os
dois sesmeiros de Tavira que tinham sido eleitos pelo concelho. Chanc.
de D. Fernando, liv. 4, fl. 26.
135
outiva sem lançarem pregões nem verem aquilo que davam, cau-
sando com isso muitas contendas e demandas. Pedem, pois, a
D. Afonso V, que os sesmeiros sejam eleitos pelos concelhos e
confirmados pelo soberano, como se diz na ordenação, e que anule
a nomeação daqueles providos só por si.
Dar terras de sesmaria é muito prejudicial - expõem nos dois
capítulos seguintes-, porque tira a uns e dá a outros; portanto,
a melhor forma de se dar era mandar primeiro chamar o dono
da terra que pediam de sesmaria, quer ela fosse para casa, para
vinha ou para pão, e marcar-lhe tempo para a aproveitar da ma-
neira que antes ela era; não o fazendo o dono como se determi-
nava, nem apresentasse boa razão para se opor, então o sesmeiro
a podia dar àquele que lha requeresse. Desconhecendo-se dono à
terra pedida, o sesmeiro devia mandar fazer éditos, apregoados e
fixados no pelourinho e praças da vila, declarando o nome de
quem pedia a terra, quais as confrontações desta e em que sesmo;
se alguém tivesse embargo a opor à concessão, que o viesse dizer
no prazo de um ano, senão seria dada a quem -a requeria se outro
embargo não houvesse.
Senhor, informam no outro capítulo, muitos matos e terras
os concelhos hão por bem terem baldios para suas coutadas de
bois e, em muitos lugares, até compravam terras para esse fim
assim como para malhadas de bois e outros gados. Como os ses-
meiros as davam, em detrimento do bem comum, pediram por
mercê que tais sesmarias se não dessem senão na câmara com os
juízes, vereadores e homens bons, e sem primeiro fazer «palura» (?)
à mesma câmara do concelho.
Muitas pessoas que possuíam boas herdades tinham algumas
testeiras de matos para coutadas de bois e malhadas de inverno,
e esses matos eram-lhe tão necessários e proveitosos como a terra
lavradia e aproveitada; pedem-vos, senhor, que defendais a esses
sesmeiros que tais matos dêem.
Há outros matos grandes de má terra, muito «sumeira e bar-
rísca» (1) ou charneca que se não podia romper nem escalvar «e
tornar propria para cereaes~ nem ainda cultivando-a em folhas ou
annos afastados, nem tão pouco é aproveitavel para vinhas ou oli-
vaes» (2). Se alguém solicitava tais terras não era senão para fazer
coutadas e, assim, pediam logo duas e três léguas de terreno para
depois obterem do rei que lhas coutasse, ou o faziam por poderio
ou favores. Representam, portanto, que tais terras não se deviam
136
dar e ficassem baldias para serventia dos concelhos; se fossem tais
em que pudessem fazer roças «ou boychas ou escaluardas» para aí
semearem pão, roçando o mato e queimando-o, que qualquer do
povo o pudesse fazer sem os concelhos, nem o senhorio da terra,
nem o almoxarife levarem ração, porque todos estes a queriam
levar, nascendo muitas vezes debate entre eles a tal respeito. «E por
senhor tirardes tall duuidà fazee merçe a voso pouo que sse nam
pague tall raçã. e assy usam em muitos luguares que a não
paguão».
Em muitas terras de senhorio, em especial nos mestrados e
priorados, queriam usar de uma nova prática: quando se despo-
voava um casal, que era de herdeiros e não era reguengo, nem
próprio ou foreiro todo de igreja ou comenda, imediatamente os
comendadores ou priores se apropriavam de tais terras e não con-
sentiam que elas se dessem de sesmaria, dizendo que os maninhos
eram seus; por esta maneira obtinham muitas terras e as encor-
poravam nas igrejas e ordens iludindo a ordenação que lhes inter-
dizia a compra de bens. Seja vossa mercê - pediram ao rei - que
das terras maninhas, em semelhantes circunstâncias, fosse feita
concessão aos concelhos, sem todavia deixarem de se dar de ses-
maria para se aproveitarem.
No capítulo seguinte, expuseram que o sesmeiro só devia dar
essas terras de sesmaria àqueles que se obrigassem a rompê-las
dentro de um até quatro anos e não mais, e isto segundo a quali-
dade da terra; se no dito tempo as não aproveitassem lhes pusesse
pena de quinhentos ou mil reais para o concelho, a carta de
sesmaria ficasse nula e a terra pudesse ser dada a outro qualquer
que a pedisse (1). Tudo isto devia figurar na carta passada pelo
sesmeiro a fim de se poder tomar conta da pena que nela ficava
registada, no caso de ser necessário; assim o praticavam já aque-
les sesmeiros sabedores do seu ofício.
O capítulo imediato refere-se às dúvidas que surgiam sobre a
legitimidade das sesmarias, ou por outra qualquer razão, e cujo
conhecimento, segundo a ordenação, pertencia aos juízes gerais e
não aos sesmeiros; agora viam por erro o soberano passar cartas
para os sesmeiros intervirem no conhecimento desses feitos defen-
dendo-o aos juízes gerais e ordinários. Por isso, suplicaram a
D. Afonso que mandasse cumprir sua ordenação, sem embargo
de tais cartas, e os sesmeiros não se chamassem juízes mas somente
sesmeiros.
(') Gama Barros a este respeito escreveu: «A imposição de multa
a quem não cultivasse a sesmaria no prazo que lhe tivesse sido determi-
nado, tornou-se preceito legal, e já o era, quando menos, em 1490, como
se vê de um dos capítulos especiaes de Lagos nas côrtes d'Evora d'esse
anno, e passou para as Ordenações Manuelinas.» Ver: Hist. de Adm. Publ.,
III, pág. 716 e n. 1.
Por desconhecerem as disposições das ordenações, alguns ses-
meiros davam de sesmaria bens que foram da coroa - o que per-
tencia ao almoxarife del-rei - ou de igrejas, capelas e órfãos - o
que igualmente lhes não pertencia fazer. Pedem, neste capítulo,
que nas cartas de confirmação dos sesmeiros se insiram as atribui-
ções e regimento do cargo, não só de conformidade com o precei-
tuado pela ordenação mas tirando muitas outras dúvidas «que a
dita ordenaçãão tambem não decrara. segundo as usamças das
terras» (1).
D. Afonso V respondeu a todos estes capítulos juntamente,
dizendo que mandou com muito diligência ver todas as ordenações
antigas e suas reformas em relação às sesmarias e, por modo de
lei e ordenação, mandou dar provisão a tudo que lhe pareceu
requerer emenda, adição ou limitação. Essa ordenação feita foi
assente nos livros das outras leis e ordenações, donde seus povos
poderiam haver cópia quando o desejassem; porém, quis e assim
o mandou ao Bispo de Coimbra que a publicasse ao povo conjun-
tamente com as respostas aos outros capítulos gerais apresentados
nas mesmas cortes (2).
«Dos termos em que D. Afonso respondeu aos capítulos» -
escreveu Gama Barros - «poder-se-hia concluir que já era então
elaborada, posto que ainda desconhecida, uma nova lei concer-
nente a sesmarias; mas D. João II, na assembleia d'Evora-Vianna,
1481-1482, diz que foi em côrtes d'Evora que seu pae a mandou
fazer. Em todo o caso a lei nova de D. Afonso V estava concluida
e devia estar já em vigor no principio do reinado seguinte, por-
quanto D. João II, .. ., extranha muito n'aquella assembléa que haja
quem não a cumpra» (3). De tal disposição legislativa nada conhe-
(2) Segue-se o princípio de um capítulo incompleto referente à orde-
nação das sesmarias, a de el-rei D. Fernando, e depois o fragmento
seguinte: «Senhor. quarnto aos outros pedímtes que pedem per vasas Cartas
de lícemça asy como pera samta maria de Roçavales e pera samtamtão
e pera samta maria do azinhoso e asy outros que taees licemças compram
e amdam alrotarndo seja vosa merçe que nam dees luguar de asy pedirem
e o defemdee com gramdes penas que mais roubam vosas terras e pouos
que ladrõees salteadores de caminhos segumdo cremos que vosa rnerçe
sabe ja suas praticas saluo samta maria daguaadelupe a que çerta ordem
ja temdees dada como se pera ella peeça». É natural, como já sublinhou
Gama Barros, que o capítulo incompleto se refira aos preceitos sobre
mendicidade determinados por D. Fernando e anulados pelas Ordenações
Afonsinas (liv. 4, 81, § 36), e que o fragmento transcrito, devido à seme-
lhança de conteúdo, pertença a esse capítulo de que apenas existem as
primeiras linhas. Ver: Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 716,
n. 2. As lacunas destes capítulos das cortes de 1472-1473 foram dadas a
conhecer por J. P. Ribeiro na Memória sobre as fontes do Codigo Filipino,
em Memorias de Literatura Portuguesa publicadas pela Academia das
Sciencias, II, págs. 90-91.
(2) Maço 2 de Cortes, n. 14, fl. 99-191.
(3) Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, págs. 717-718.
138
cernas e apenas chegaram até nós as respostas de D. Afonso V
e de D. João II que a ela se referem.
Mas, no entanto, que pensava o rei, as classes privilegiadas,
os grandes proprietários territoriais?
Dos diplomas fernandinos infere-se que o soberano tinha as
sesmarias como eficazes para promover o repovoamento das cercas
de algumas cidades e vilas, que a população abandonara em
parte (1), e frutificar pauis e maninhos (2). D. João I e os seus
sucessores seguem semelhante ideia, pois para repovoar Terena e
Lavar, para abrir os pauis de Asseça, de Trava e de Boquilobo,
para agricultar os reguengos de Alenquer e Torres Novas recor-
rem às sesmarias. ·
O Infante D. Pedro delas se serve para valorizar as suas ter-
ras do campo do Mondego; seus irmãos D. Henrique e D. João
acolhem-nas nas suas terras e nas das ordens de que eram gover-
nadores, assim como os priores de Alcobaça (3), de Santa Cruz de
Coimbra e do Hospital. ·
O poderoso Diogo da Silveira, escrivão da puridade, lançou
mão das sesmarias para aumentar suas rendas em Pedrógão Pe-
queno (4). Álvaro de Sousa, mordomo-mor de D. Afonso V e do
seu concelho, representou ao rei que em Miranda, Podentes, Jer-
melo, Ávila, Folgosinho, Vouga e nos termos desses lugares havia
muitos herdamentos em mortórios que causavam danos e perdas
aos vizinhos que tinham as suas casas, vinhas e terras cultivadas
e aproveitadas; alguns vizinhos, moradores e outras pessoas que
para esses lugares iam residir os pediam de sesmaria, pelo que
ninguém receberia nojo nem perda, mas não ousavam tomar tais
bens desaproveitados sem mandado régio. Pediu, portanto, Álvaro
de Sousa que el-rei lhe desse remédio e passasse carta aos juízes
dos lugares referidos para darem sesmarias de forma que ninguém
fosse prejudicado e a terra aproveitada (5 ).
Pelos capítulos apresentados por Aveiro nas cortes de 1456,
sabemos que os fazendeiros do conde de Odemira, que era senhor
139
da vila, se preparavam a introduzir as sesmarias em Aveiro, ino-
vação contra a qual o concelho protestou e houve provimento (1).
Em 1471, Lopo Vaz de Castelo Branco obteve carta régia
para dar de sesmaria os pinhais e terras que estivessem em baldios
no termo da vila de Coruche e «donos lhe nom souberem aaquellas
pesoas que lhes pedirem pera as auerem daproueítan> (2). Lopo
de Almeida, vedor da fazenda e senhor de Abrantes (3), alcançou
o cargo de sesmeiro da sua vila em 1473 (4 ); dezasseis anos depois,
em 1489, seu filho D. João de Almeida firmava as cartas de sesma-
ria da seguinte forma: «Eu o conde e Senhor dabrantes &. •. Jigo
que eu vy esta carta de sesmaria que foy fecta a pero fernandez.
e digo que me apraz como verdadeiro sesmeiro que sam e posso
dar todalas sesmarias de toda minha terra segundo mínha doaçam
que dei Rey meu Senhor tenho ... » (5)
Também outros fidalgos poderosos se aproveitaram das ses-
marias para aumentarem as suas propriedades. Assim D. Fer-
nando de Castro obteve o paul de Trava, gue depois trocou pelo
de Boquilobo com o Infante D. Henrique (6). Pedro Borges, vedar
da casa do príncipe D. João, recebeu de D. Afonso V um paul
em Santa Maria da Virgem, no termo de Óbidos (7). E a Pedro
Lobo, fidalgo da casa da princesa D. Leonor, mulher do príncipe
D. João, foi dada de sesmaria uma terra em juncal e monte mani-
nho junto de Vila Nova das Rainhas, em 1478 (8).
Até D. Filipa, filha do Infante D. Pedro, por mercê de seu
primo D. Afonso V, e em 1478, obteve de sesmaria o paul dos
«Ameaães» situado no termo de Torres Vedras (9).
Ora, como já vimos, além dos poderosos também a pequena
nobreza, a burguesia e o povo miúdo adquiriram a sua nesga de
terra mercê das sesmarias. Desde o mercador João Anes de Sousa
em Coimbra, no ano de 1378 (10), e Álvaro Moreira em Penela, em
1457 (11), até Mestre Afonso Madeira em Tavira, em 1461 (12 ), João
(1) Chanc. de D. Afonso V, liv. 13, fl. 57 v.-58; Gama Barros, Hist.
da Adm. Publ., III, págs. 711-712.
2
( ) Chanc. de D. Afonso V, liv. 16, fl. 98.
(3) Foi eleito conde de Abrantes em 1476. Ver: A. Braamcamp
Freire, Brasões da sala de Cintra, II, pág. 92 e segs., e pág 96.
(4) Mercê que foi renovada por D. João II em 1482. Chanc. de
D. Afonso V, liv, 33, fl. 132; Chanc. de D. João II, liv. 6, fl. 115 v.;
Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 718, n. 1.
(°) Estremadura, liv. 9, fl. 27-27 v.
(") Chanc. de D. Duarte, liv. 1, fl. 44-45 e fl. 193 v.-194 v.; Místicos
liv. 3, fl. 236 v.-237 v.
(7) Estremadura, liv. 7, fl. 108-109.
8
( ) Estremadura, Iiv. 7, fl. 127-128 v.
( ) Estremadura, liv. 7, fl. 151-152; Místicos, liv. 4, fl. 3-4 v.
9
140
Anes, carniceiro, no termo do Redondo por volta de 1464 (1), e
o escudeiro João de Coimbra na serra de Sintra, em 1478 (2),
todos obtiveram terras para arrotear ou para construir casas.
Tudo quanto sabemos sobre as sesmarias, e o próprio silêncio
de numerosas vilas e cidades onde elas vigoravam, é assaz eluci-
dativo (3 ). A não ser Aveiro 1 que desconhecia e repudiava a sua
prática, e Trancoso que contra elas protestou com rara perspicá-
cia (4), as outras terras do reino quase não reagiram. «Para alguns
concelhos em particular» - observou Gama Barros - «as sesma-
rias mereciam applauso, pois requeriam ao rei que extendesse o
seu uso ao território d'ellesi ou solicitavam auctorização para as
mandarem pôr em pratica. Ao applauso talvez não fossem extra-
nhos o facto de não residirem no concelho os donos dos predios
em que ellas teriam de recahir, e a probabilidade de serem mora-
dores que os viessem a obter. Se porém não as applaudiam, tam-
bem não era, em relação às sesmarias, contra a lei em si mesma
que, em capítulos geraes ou especiaes, os concelhos se manifesta-
ram mais vezes, mas sim contra os executores e os abusos varias
que à sombra d'ella se praticavam» (5).
1
( ) Odiana, liv. 4, fl. 44 v.-45.
(2) Estremadura, liv. 7, fl. 129 v.-131.
(3) Conhecemos mais de trinta cartas regras confirmando ou no-
meando sesmeiros nas vilas e cidades de Tavira, Loulé, Silves, Lagos,
Beja Serpa, Moura, Mourão, Terena, Alcáçovas, Vimieiro, Estremoz,
Cast~lo de Vide, Benavente, Abrantes, Coimbra, Monsanto, Penamacor,
Valhelhas e S. Vicente da Beira, entre os anos de 1378 e 1475.
(4) Ê interessante fazer a aproximação entre a exposição do con-
celho de Trancoso e o que escreveu V. A. Esteves de Carvalho, nos prin-
cípios do século XIX, nas Observ. Hist. · e Crit. sobre a nossa Legisl.
Agraria, pág. 26.
(") Gama Barros, Hist. da Adm. Publ., III, pág. 708.
141
CONCLUSÃO
142
tabilidade monetária e a alteração dos valores sociais. A rarefac-
ção da população campesina, pela peste ou pela fuga, a hipertrofia
dos centros urbanos1 conjuntamente com a nova autoridade social
de mesteirais e mercadores, geravam o grande drama económico
português e europeu. Para se opor ao êxodo da população do
campo para as cidades, à escassez de mão-de-obra e ao encareci-
mento dos salários, à decadência agrícola e ao aumento da indús-
tria pastoril, os legistas jungiram todos os elementos julgados sus-
ceptíveis de suster a crise e deram corpo a uma norma jurídica,
mais tarde denominada das Sesmarias.
Por isso, a lei é, como já disse, um diploma complexo em que
foram amalgamados usos e preceitos legais dos reinados antece-
dentes e cujo mérito real reside na estruturação então levada a
efeito para impedir a desagregação da economia do reino. E, se
por um lado, visa a obstar ao abandono das terras aráveis, por
outro - e disso não nos devemos esquecer - procura debelar um
conjunto doutros males económico-sociais. Ela é, portanto, um
elo de longa cadeia em que se adivinha, igualmente, o entrechocar
dos antagonismos entre ·o assalariado e o proprietário rural; e a
medida de tirar a terra ao seu dono, porque a não cultivava, é uma
' tentativa de solução do problema do latifúndio, intimamente en-
trelaçado com o incremento da indústria pastoril em detrimento
da produção agrária.
A sua própria complexidade demonstra que não nos encon-
tramos em face de uma lei agrária tendente somente a chamar à
produtividade frumentária as glebas incultas e desaproveitadas,
mas que se trata, sim, de um violento recurso para aumentar os
proventos do erário régio e, consequentemente, da nação. E como
todas as leis que procuram remédios radicais e urgentes, ou entra-
var a marcha de uma sociedade que se transforma, as sesmarias
fernandinas esbateram-se e modificaram-se por demasiado violen-
tas. Mas, porque nelas se procurava, como outrora, o adensa-
mento demográfico nos campos e se oferecia ao homem despro-
vido de bens o incentivo de alcançar gleba própria1 cuja posse lhe
era garantida pelo cultivo, as sesmarias foram um instrumento
precioso - na metrópole e, depois, no além-mar - para promo-
ver a colonização e aproveitamento de vastos territórios. Daí o
persistirem nas zonas menos densamente povoadas do país, ou na-
quelas onde a concentração da riqueza fundiária não permitia ao
cultivador possuir uma parcela de solo senão quando ganha ao
maninho particular ou concelhio; e também porque nessas zonas
se conservara a tradição de pertencer ao povoador, que a culti-
vasse, a terra distribuída quando da primitiva ocupação.
Portanto, mais como medida de colonização interna do que
como lei agrária as sesmarias sobreviveram, bem que, até certo
ponto, fossem assaz propícias ao desenvolvimento da agricultura.
143
Quase eternas como meio colonizador, serviram outrossim para
aumentar a área agricultada, pois abrindo clareiras nos matagais
do país, enxugando pauis e vivificando glebas, indirectamente pro-
moveram o aumento da produção pelo aumento das arroteias.
O facto de nas sesmarias se preceituar que nas terras «para pão»
se semeasse trigo, cevada ou milho, conforme fosse conveniente,
demonstra o conhecimento de que estas culturas estavam sujeitas
às possibilidades do solo e não ao capricho do legislador. Todavia,
as sesmarias não podiam só por si atingir o fim em vista porque
também os rudimentares processos de cultivo, então usados, eram
incapazes de fomentar uma suficiência de produção que ainda
hoje nos nega a nossa terra. Afigura-se-me, por isso, inadequado
falar da sua ineficácia porque ela o foi somente na medida em
que a sua própria índole assim o determinava.
O verdadeiro vício que macula tal lei é o de ter tentado orga-
nizar toda a vida rural portuguesa em volta das searas, da agri-
cultura propriamente dita, menosprezando o montado e o rebanho,
o olival e a vinha, a importância das «colheitas arbustivas e arbó-
rias». E também de não ter previsto que o pequeno proprietário,
por falta de meios, corria o perigo de perder a sua terra e ficava
à mercê das prepotências ou cobiças de funcionários nem sempre
conhecedores e idóneos.
Muito antes do liberalismo, dois concelhos do reino aponta-
ram com rara perspicácia dois factores primaciais para a sua
impopularidade e obliteração. Aveiro, em 1456, pediu que «cada
hü.u faça do sseu o que lhe prouuer»; Trancoso, em 1459, expôs
que por a terra ser muito pobre e «mesteírossa e mujtos nom teem
tam perfeítamente guisado pera rrepaírar seus bens E se os elles
nom podem correger fícam asy e bem seus herdeíros e corregeu
os e todauja vyuem no seu pratijmonjo E se se loguo ouuesse de
conprir a hordenaçõ das sesmarías mujtos perderiam sua legytijma
contra rrezom e comtra direito».
Finalmente, encarando a lei das sesmarias como revulsivo
social, podemos afirmar concretamente a sua inutilidade, porque
sabemos que foi nos portos movimentados, nas cidades marítimas
e comerciais, nas rotas do oceano, nas possessões ultramarinas,
que se alcançou a estabilidade e equilíbrio da grei.
Como toda a obra do homem, as sesmarias merecem o nosso
respeito não só pelo que contêm de perfeito mas até imperfeito,
como símbolo do caminhar constante das instituições através do
tempo para conseguir alcançar uma perfeição que a própria tran-
sitoriedade humana lhes nega sempre.
144
DOCUMENTOS (1)
146
2 - 1232 MAIO ...
(Col. Esp., c. 82, m. 2, doe. 41 (Nov. arrum.: C. R., S. Vicente, III 3))
Nouerint tam presentes quam posterj quod Ego Johanes suaríj cono-
mine albocaz una [cum] uxore mea Stephania . damus et concedimus
ffratri johanj quedam hereditatem pro abadia de alcobacia quam habemus
in termino de elbis in loco qui dicitur monte longo in via de arrochis .
sicut diui [di] tur cum hereditate ipsjus fratris . et quomodo diuiditur cum
johane petri de ouibus . damus ejs et concedimus ipsam hereditatem pro
animabus nostris . Qui presentes fuerunt uidentes et audientes .
Gondisaluus gonsaluij . tunc temporis alcaldis
Menendus fernandi ipsjus annis alcaldis
petrus reimondj de ipso tempore alcaldis
Gondisaluus martini (?) Comendator domus Calatraue in elbis
Petrus petri Comendator domus sancti jacobj
Martinus pelaiz de salzeda
petrus lupus adail
Sugerjus petri
petrus reimondj magnus
147
domnus Garsias
Martinus gonsaluii
Johanjnus .
pelagius petri notuit
Que fuit facta mense aprilis . Era . Mª. ccª. Lxxª. viiijª. - -
(Col. Esp., e. 83, m. 1, doe. 4 (Nov. arrum.: C. R., Alcobaça, VII, 3))
148
obtineat firmitatem; Fecimus inde presentem cartam per manum publicam
et sigili nostrj munímíne roborarj . Facta carta Maio mediante Era .
Mª. CC. Lxª. ijª. Qui presentes fuerunt .
(U coluna)
(2." coluna)
5- 1255 MARÇO 30
6 - 1256 MAIO 30
7-1259 MAIO
150
que estad super fontem ensosa . damus et concedimus uobis et omnibus
suscessoribus uestris predictam hereditatem . ut habeatis eam in cunctis
temporibus seculorum . et ut hoc in dubium non uertatur dedimus eis
istam nostram cartam apertam nostrj sigillj pendente munimine sigilla-
tam . data apud Eluas mense madíj . Sub . Era , Mª. CCª. Lxª. vijª. Qui
presentes fuerunt . fernandus garsie et Johanes menendj sesmaríj tunc .
Petrus martinj tunc iudex . Aria iohanis miles . Johanes sueríj dictus al-
bocaz . Petrus garsic . Stephanus alfonsj . Stephanus petri dictus ouri-
naza . Dominicus martinj carpentarjus . Dominicus petri faber . Rode-
ricus de cauto . Martinus petri puplicus tabellio dominj Regis Portugalie
in Eluis qui Notuit per mandatum Judicum . Petrus martinj et Dominicus
mons sanctus . et hoc signum fecit hujus Rej . .
(Lugar do sinal público)
8 - 1260 JANEIRO
1
( ) Segue-se uma palavra rasurada.
151
dariurn qui uenit de Garuã et uadit ad algarbium Et deinde quomodo
uadit directe ad Çirnalias de perna de veyras. Et deinde quomodo uertuntur
aque . ad moram . et ad veyras . et deinde quomodo partimus cum Loule
et uadit ad ipsum capud de almodouar ubi incepimus . Damus et concedi-
mus uobis et successoribus uestris predictam hereditatem cum omnibus
juribus et pertinencíís suis . introitibus et exitibus pascius . montibus fon-
tibus et ríuulis . in perpetuum possidendam . et quicquid infra terminos
supradictos includitur . Damus et concedimus uobis et successoribus ues-
tris totum iure hereditario in perpetuum . ut uos et omnes successores
uestri habeatis . et possideatis predictam hereditatem . libere . pacifice .
et quiete . et disponatis . et ordínetis . et faciatis de predicta hereditate
quicquid uobis . placuerit cunctis tenporibus seculorum . Saluo tamen
quod senper sit terminus de Marachiqui et quod nostri ganati pascant et
nostri porei comedant landem et bolotam in ipso termino Sicut boni ui-
cíni . Siquis uero uenerit tam ex nobis quam ex parte nostra quam ex
alia qui contra . hoc factum nostrum uenire uoluerit ; non sit ej licitum .
sed pro sola . temptacione pectet uobis et successoribus uestris uel cui
uocem uestram dediritis . ipsam hereditatem duplatam . et quantum fue-
rit meliorata ; et domino terre alíud tantam . hac nostra donationem
uolumus (?) in suo robore perdurante Et ut ista nostra donatio perpe-
tuum et firmum robur obtineat presentem donationis cartam uobis inde
fecimus per manum alfonsi martinj nostri publici . Tabellioni ,. et sigilli
nostri Concilíj munimine munitam (?) . facta carta in marachic mense Ja-
nuaríj . Era . Mª. CCª. Lxª. viijª. Qui presentes fuerunt . Petrus femandi
et Dominicus gunsalui judices . Petrus gunsalui et Dominicus dominicj
Sesmaríj . Dominicus menendi . Petrus didacj . Martinus johanis de
morta aqua Ego . alfonsus . supradictus Tabellio Notuit et his omnibus
supradictis interfui uidj . et audiui et hoc signum (lugar do sinal público)
meum fecj in testimonium hujus rej .
9 - 1263 OUTUBRO 3
152
totam hereditatem uestram de monasterio de Biringel quam uobis dedi
et cortcessi in termino de Begia quam uobis mandauj marcare et diuidere
per pretorem et aluaziles . et sesmarios et tabellionem de Begia et per
alios bonos homines de begia . et per circuitum terminorum et diuisionum
ipsius hereditatis mandauj eis erigere marcos et patronos curo martino
fortes meo portario· quem misi ad cautandum nomine meo predictam
hereditatem curo meo fuste et curo mea carta. Et cauto ipsam hereditatem
per terminos et diuisiones et marcos seu patronos qui et que inferius secun-
tur videlicet per primum marcum seu patronum qui est positus prope
aquam de alamo in uia publica que uenit de vlixbone ad begiam . et de
ipso marco eundo directe ad caput de monuestido ad alium marcum qui
est positus in uno plano in carrasca! prope domum Martini cansado . et de
ipso marco eundo directe ad predictum caput ubi est positus alius marcus
in uno cume prope quedam casalia uetera . et de ipso . marco eundo
directe ad predictum caput ubi est positus alius marcus in ualle de furnis
de cale . et de ipso marco ascendendo directe ad ·ipsum caput ubi est posi-
tus alius marcus in sumitate ipsius capitis de monuestido . et de ipso
capite de monuestido reuertendo et descendendo et eundo directe ad caput
rubeum ubi est alius marcus positus in aqua de Asseentes .. de monues-
tido . et de ipso marco eundo directe ad predictum caput rubeum ubi est
positus alius marcus prope quoddam azanbugiarium . in quibusdam casa-
libus ueteribus . et de ipso marco eundo directe et predictum caput ubi
est alius marcus positus in ipso capite rubeo quod est prope semedarium
de michaele . et de ipso capite rubeo reuertendo et eundo directe ad caput
magnum quod est prope Monbegia ; ex aduerso uersus ferreyram ubi est
alius marcus positus in uía que uenít de vlixbona ad begiam . et de ipso
marco eundo directe ad predictum caput magnum ubi est alius marcus
positus ad azambugiaríum prope domum Petri dominici . et de ipso marco
eundo directe ad predictum caput magnum ubi est alius marcus positus
prope uiam que ueriit de ferryra ad Begíam . Et de ipso marco ascen-
dendo ad ipsum caput directe ubi est alius marcus positus in sumitate
ipsius capitis magnj et de ipso capite magno reuertendo et eundo directe
ad caput de monbeía ; ubi est positus alius marcus ín sumitate ipsius
capitis de monbeía . et de ipso marco descendendo et eundo clirecte ad
aliud caput de azambugeyra quod stat supra monasterium de Biringel ubi
est alius marcus positus in uno plano prope uiam que uenit de Biringel ad
Begiam . et de ipso marco eundo directe et ascendendo ad ipsum caput
de azanbugeyra vbi est alius marcus positus in sumitate ipsius capitis . et
de ipso capite descendendo et eundo directe ad primum . marcum de
alamo ubi est positus alius marcus prope uiam que uenit de ferreyra ad
begiam . et de ipso marco eundo directe ad primum marcum qui stat
prope aquam de alamo in uia que uenit de vlixbona ad begiam ; ubi
prius íncepi . Per que loca terminas et diuisiones et marcos . seu patro-
nos ipsam hereditas in perpetuum sit cautata . quos marcos seu patronos
predictus meus portarius posuit et erexit in supradictis locis et in supra-
153
dictis diuisionibus de meo mandato perante pretorem . Aluaziles sesma-
rios . Tabellionem et alios bonos homines de Begía . per quos marcos
seu patronos termínos et diuisiones supradictas ; Ego cauto uobis abbatj
et Conuentuj monasterij alcobacie et cunctis successoribus uestris predic-
tam hereditatem in perpetuum in sex mille soldis usualis monete . Habea-
tis igitur uos et omnes successores uestri predictam hereditatem integram
et cautatam cum omnibus íuribus et pertinentíjs suis iure hereditario im
perpetuum liberam et abrasam ab omni íure et seruicío regali .. et ab omni
tributo et ab omni seruilj negocio ita quod nullum forum faciatis mihi nec
successoribus meis de ipso cauto nec de ipsa hereditate nec homines uestri
qui in eodem cauto populauerint . set predictum cautum _et predictam
hereditatem habeatis libere pacifice et quiete in perpetuum possidendum
et possidendam . Hoc autem cautum facío uobis et cunctis successoribus
uestris et firmiter confirmo hona uoluntate et integro animo pro remedio
anime méé . et quicquid ibi iuris regalis erat uel pertinere debebat in pre-
dicto cauto et in predicta hereditate ab hac die in antea ab omni iure
regali aufferatur . et in uestrum dominium et in uestram potestatem et
successorum uestrorum transfferatur . et sit traditum et concessum euo
perhenj . Si quis itaque uenerit qui predicti cauti terminos irrumppere uel
uiolenter intrare presupsserit sex mille soldos bone monete tam uobis quam
successoribus uestris uel cuj uocem uestram dederitis pro qualibet uice red-
dere teneatur . Regia potestate cogente si super hoc fuerit requisita . et
quantum dampnum fecerit in ipso cauto tam uobis quam successoribus ues-
tris quam ibidem conmorantibus dupliciter componat uobis uel cui damp-
num factum fuerit et insuper a sancte matris ecclesie sínu et consorcio
fidelium separetur . et maledictionam omnipotentis dei et beate marie et
omnium sanctorum . et meam habeat in eternum . et quando crediterit
subleuari tunc decidad et arescat . et cum datham et abirom quos terra
uíuos obsorbuit in inferno recipiat portionem . Cauto isto nichil ominos
suo robore perpetuo ualituro Et ut hoc cautum perpetuo roboris obtineat
firmitatem . presentem cartam feci fieri . et de mei sigillj plumbej muní-
míne communiri in testimonium huius rej . facta carta huius cautj in
Sactarena . iijº. díe Octobris Rege mandante . ERA Millesima Trecen-
tesima Prima.
(J.ª Coluna)
154
(2.' Coluna)
Magister Johanes
l
clerici Regis testes (1)
Martinus petri
Johanes fernandj
clericj dominj regis testes (')
Dominicus uincencíj
Domnus Stephanus iohannis Cancellarius Curie - - - - - - - confirmo
Domínicus petri notarius Curie scripsit
(Lugar do selo pendente, que falta)
(Col. Esp., e. 29, n.º 40. Traslados em pública forma: e. 29, n.º 36 e
c. 29, n. º 27)
('-) Por falta de caracteres tipográficos adequados, substituímos por uma chaveta
os traços obliquos que, nas colunas das testemunhas e dos clerici regis, partem da pala·
vra testes e clerici regia em direcção a cada nome, como é usual nos documentos por-
tugueses.
155
Em nome de deus e da sua graça Amen Porque a memoria dos ho-
meens de ligeyro sse oluída e esqueçe foy achada e dada scretura em
remedjo pera os feytos dos ho [meens] firmes e durassem e fezessem ffe .
aos que nos tempos futuros am de víjnr . Porem eu affonsso pella graça
de deus rey de portugal emsembra com minha molher a raynha dona
B [eatriz] filha do nobre rei de castella e de leom E com nossos filhos
Jnffantes Dom denis e Dom affonsso E nossa Jnffanta Dona branca.
A uos Dom steuam Abbade e conuento do moesteyro dalcobaça e a to-
dollos uossos soccessores por remedia da minha alma e de meu padre
e de minha madre e de meus auoos Couto a uos toda a uossa herdade
e o mosteiro [de] beringel a qual uos dey e outorgey no termo de beía
A qual uos mandey demarcar e departir pello alcayde e aluazíjs e sesmey-
ros e tabeliom de beia e per todos outros homeens bóós de beia E per are-
dor dos termos e das diuissoens dessa herdade mandey alçar Marcos e pa-
drõees com Martim fortes meu porteyro . o qual enuíey pera coutar em
meu nome a sobredicta herdade com meu fuste e com minha carta E couto
essa herdade pellos termos e diuissões e marcos ou padrõees . os quaes
adeante sse seguem Conuem a ssaber pello primeiro marco ou padrõ que
he posto a par dáágua do alamo na carreyra publica que uem de lixboa
pera beia E desse marco Jndo dereytamente aa cabeça de monuístido ao
outro Marco que he posto em hiiu chááo no carrasca! a par da casa de
Martim canssado E desse Marco Jndo dereytamente áá sobredicta cabeça
hu he posto o outro Marco em huu cume a par de huus casááes uelhos
E de[sse] Marco Jndo dereytamente aa sobredicta cabeça hu he posto
outro Marco no uale dos fornos de cal E desse Marco sobindo dereyta-
mente a essa cabeça hu he posto outro Marco em na çima dessa cabeça
de monuístido E dessa cabeça de monuistido tornando e decendendo e
Jndo dereytamente áá cabeça ruyua hu he outro Marco posto náágua das
asseentes de monuístido E desse Marco Jndo dereytamente áá sobredicta
cabeça ruyua hu he posto outro Marco a par de hiiu azambugeyro em
hiius cassááes uelhos E desse Marco Jndo dereytamente áá ssobredicta
cabeça hu he posto outro Marco néésa cabeça ruyua que he a par do
semedeyro de migeel E dessa cabeça ruyua tornando e Jndo áá cabeça
grande que he a par de mombeía doutra . parte contra ferreyra hu he
outro Marco posto no caminho que uem de lixboa pera beia E desse
Marco Jindo dereytamente áá ssobredicta cabeça grande hu he outro
marco posto ao azanbugeyro a par da cassa de pero domínguez E de
Marco Jndo dereytamente aa sobredicta cabeça grande hu he outro Marco
posto no camínho que vem de ferreyra pera beia E desse marco sobíndo
a essa cabeça dereytamente hu he outro marco posto na çima dessa
cabeça grande E dessa cabeça grande tornando e Jndo dereytamente áá
cabeça de monbeia hu he posto outro marco na çima dessa cabeça de
monbeía E desse Marco deçendo e Jndo dereytamente a outra cabeça
dáázambugeyra que esta sobre lo moesteyro de beríngel hu he outro Marco
posto em huu chááo a par do camínho que uem de beringel pera beia
E desse Marco Jndo dereytamente e sobíndo a essa cabeça da azanbu-
156
geyra hu he outro Marco posto em çima dessa cabeça E dessa cabeça
decendo e Jndo dereytamente ao primeyro Marco do alamo hu he posto
óóutro Marco a par do caminho que vem de ferreyra pera beia E desse
Marco Jndo dereytamente ao primeyro Marco que esta a par dáágua do
alamo no camínho que uem de lixboa pera beia hu primeyramente comecey
Pellos quaes logares e termos e diuisons ou Marcos ou padrões essa her-
dade pera sempre era coutada . Os quaes Marcos ou padrões o sobredicto
meu porteyro posse e alçou nos sobredictos lagares e nas sobredictas
diuisões de meu mandado perante o alcayde e aluazis e sesmeyros e ..... .
e outros homeens boos de beia . Pellos quaes Marcos ou padroens termos
e diuisoens sobredictos eu couto a uos abbade e conuento do Moesteyro
dalcobaça e a todos uossos soccessores a sobredicta herdade pera sempre
em seys mil soldos da moeda corrente . Ajades uos porem e todos uossos
soccessores a sobredicta herdade enteyra e coutada com todos seus derey-
tos e pertéénças e de [reyto] hereditarío pera sempre liure e rassa de todo
dereyto e seruíço real e de todo trebuto e de todo anegocio de seruido em
assy que nenhúu fforo nõ facades a mym nem a meus soccessores desse
couto nem dessa herdade nem os uossos homeens que em esse couto
poboarem mays o sobredicto couto conffirmo e de boa uóóntade e com
entegre coraçom por remedio da minha alma E todo dereyto real qual e
quanto hy era ou a nos no deyto couto e herdade pertééncia . deste dia
pera todo sempre do dereyto real seia tirado e em uosso poderio e senho-
rio e de todos uossos soccessores seia traspasado e dado e outorgado pera
todo sempre E se algúu uéér que do sobredicto couto os termos quiser
romper ou per fforca entrar seys mil soldos da boa moeda dara bem a
uos come a uossos soccessores ou a quem uossa voz derdes por cada hüa
uez seia teudo a dar . costrangendóós pello poderio real se sobre esto
ffor demandado e quanto dano ffezer nééste couto tambem a uos como aos
uossos soccessores como aos que hy morarem em dobro o correga a uos
ou a quem o dano ffeyto ffor E sobre todo esto do seo da santa madre
egreía e da conpanhía dos ffiéés seia apartado E a maldiçom de deus
todo poderosso e da bem auenturada santa maria e de todolos santos e a
mínha aJa pera sempre E quando cuydar séér leuantado entom caya e se
seque E com datham e abirom os quaes a terra uiuos asorueo no Jnfferno
reçebam raçom E este couto de todo em todo em sa ffirmedõõe pera sem-
pre seia ualedoyro E que este (1) couto pera sempre aia ffirmidõõe e ffor-
teleza ffiz ffazer esta presente carta e do meu seelo do chumbo ha ffiz
sséélar em testemunho desta cousa . ffeyta a carta deste couto em san-
tarem tres dias de oytubro El rey o mandou Era de Mil e treçentos e húu .
Testemunhas dom gonçalo garçía alfferez da corte conffirmou . Dom gil
Martinz Mordomo Dom affonsso lopes téénte riba de mínho conffirmou ;
Dom diego lopez téénte lamego confirmou . Dom Martim gil téénte sousa
confirmou Dom pero ponço téénte chaues confirmou Pereanes téénte euora
157
confirmou Méém rodrígez de briteyros téénte maya confirmou . Teste-
munhas dom Joham dauoym pero martinz petarinho Joham sueirez coe-
lho . roy graçia de pauía pero Martinz alcayde de lixboa pero Martinz
sobre Juiz pereanes reposteyro pero ffemandez copeyro Dom Martinho
arcibispo de bragaa confirmou Dom egas bispo de coínbra confirmou
Dom uicente bipo do porto confirmou Dom matheus bispo de lixboa con-
firmou Dom Martinho bispo deuora confirmou . Dom rodigo (sic) bispo
da guarda conffirmou Dom matheus bispo de uiseu confirmou Dom pero
bispo dalamego confirmou Mestre Johane Martim perez creligos dei rey
Joham ffemandez domingos uicente creligos dei rey Dom esteueanes chan-
celer da corte confirmou domíngos perez notayro da corte o escreueo ..
10 - 1292 DEZEMBRO 5
158
alguem por eles tenha esta carta . Dada en Sanctarem cinqui . dias de
Dezenbro . El Rey o mandou per Siluestre miguez . váásco perez a fez ..
Era . de ... Mil . trezentos . e trinta . anos. - - silvestry
No verso:
11 - 1293 FEVEREIRO 25
1
( ) Repetidas as palavras: por sy e por sas molheres cuíos procuradores eram
13-S. d.
160
dixe que essa heredade de susso dita que uira quando ffernã garçia e
ffernã adail sesmeyros a deram a Alcobaza . Pedro rodrigjz <lixe que essa
heredade de susso dieta que uira dar haos sesmeyros a Alcobaza ; Martjm
mendjz carpenteyro <lixe que el handaua y quando estes sesmeyros de susso
ditos derom esta heredade de susso dita derom (sic) a Alcobaza . e <lixe
que la deram como partia com Ayras fernandjz . Pedro eanes dixe que
handaua y quando os sesmeyros derom esta heredade de susso dita a
Alcobaza maes nõ la uira dar maes que lis houuio dizer que essa heredade
que a deram a Alcobaza . Domingos iohanis dito trombeyro dixe que el
handaua y quando estes sesmeyros de susso ditos ; derom essa heredade a
Alcobaza . e que ainda tragia el entõ a sina de Sancto spiritus ; Johane
mendjz sesmeyro . <lixe que el nõ handaua y quando estes sesmeyros de
susso ditos derom esta heredade . a Alcobaza e maes que ouuira senpre
dizer que era de Alcobaza . e el outorgou essa doazõ . e confirmou a
dante mim Tabaliõ de susso dÍto . e eu Tabaliõ de susso dito uj laurar
esta heredade de susso dita por de Alcobaza . e coler ende o pã por de
Alcobaza e chama la senpre por de Alcobaza . e ffrej ffernã gonçalvj
Celareyro de Alcobaza rogou me que lj desse este stromento scripto cum
mha mao e cum meu sinal . e eu Martjm perjz publico Tabaliõ a rogo
deste frey ffernã gonçalvj Celareyro este stromento scriuj e este meu sinal
pussj que tal est (lugar do sinal público) . . . - -
14 - 1305 MARÇO 28
15 - 1314 JULHO 16
Carta dentrega duma via e orta que e em campo mayor ao Bispo
de Badalhouçí.
Don Denís pela graça de deus Rey de portugal e do Algarue A quan-
tos esta carta viren faço saber que don ffrei Simhõ Bispo de Badalhouçe
uéo a mjn e disse mí que a Eigreia de Badalhouçe auya en canpo mayor
húa vinha e orta e casas e húu canpo que chaman o ssesmo e que as trou-
xerom senpre os Bispos de Badalhouçe a que dizian que foron dadas as
dietas cousas en sosmaría do começo da pobrança da terra ante que eles
ouuessen o ssenhoryo de Canpo mayor e que as auyan apartadamente
fora do Senhoryo e que· como quer que eu ouuesse Canpo mayor e o sse-
nhoryo del . como deuya que nõ podía auer as dietas cousas ca nõ anda-
ron nunca conno senhoryo E eu de prazer do dicto Bispo e meu mandey
hy apariço gonçaluiz que o enqueresse E el preguntou as testemuynhas que
lhy o dicto Bispo presentou e outras que eran moradores na terra E eu
uistas essas enquirições como quer que as demays das testemúyas dissessen
que os Bispos que fforon de badalhouçe trouxeron as dietas cousas Junta-
mente conno senhorío e per Razõ del . E que assi como eu auya o senho-
río de Canpo mayor que assi podia de dereíto auer as dietas cousas poys
eran do senhoryo Pero porque o dieto Bispo me trouxe cartas dalgúus
Cardeaaes meus amígos que mi Rogauan por el E porque ell sobresto uéo
a mjn e enuyou per algúas uezes e fez hi custa e mí pidíu que lhy fezesse
en esto merçéé a el e aa Egreía de badalhouçe desi entendendo en que
podería escusar as dietas cousas e que conpriam a el sobre dicto como
achou a Egreía de badalhouçe pobre e deslapidada . E eu por esto e por
mha alma que el e os outros Bispos que hy depoys ueeren aian Razõ den-
mentar mjn e os Reys que depos mjn ueeren en ssas orações querendo
fazer merçéé ao dicto bispo e aa ssa eigreia de badalhouçe abro mãão
das sobre dietas vinha e casas orta e Canpo sobre dicto E tenho por bem
que as aia o dicto Bispo e a eygreía de Badalhouçe daqui adeante sen
enbargo e sen contenda .. E mando e outorgo que nunca nenhúu meu
sucessor en nenhüu tenpo lhís possa tomar nen enbargar as dietas cousas .
En testemüyo desto dey ao dicto Bispo esta mha carta . Dante en lixbõa .
xbj . días de Julho El Rey o mandou Johan dominguiz a ffez Era . Mª.
iij". Lijª anos . Steuã da guarda .
(Chanc. de D. Dinis, Liv. 3, fl. 87)
162
16-1314 SETEMBRO 26
17 - 1361 MAIO 30
163
dízíma daquelles mouros que bem adubauam o seu E que o perdem pellos
outros que mal adubam E outrossy os christããos perdiam os seus lugares
que tijnham juntos com o dicto loubite pella dieta razam E diziam que
os sesmeyros da dieta cidade nom ousauam de dar os dictos lugares que
assy eram mal adubados no dicto lugar de loubet (sic) a christããos nenhüus
de sesmaria perque uos aiades delles dauer a dizíma E posto que os pude-
sem dar nenhüu nom os tomaria com o encarrego da dieta dizima que
ante dariam por elles certos foros A E pediam me por mercee que asignase
tempo aguisado aos dictos mouros a que brítasem os dictos matos e
aproueitasem os dictos lugares como compria E se o nom fizesem que
mandase ao dicto meu almoxarife e scpriuã que os desse de foro aguisado
a taaes pesoas de que eu pudesse auer o meu E por esto a terra seria
mjlhor pobrada A A esto Tenho por bem e mando ao dicto meu almo-
xarife e scpriuã que constrangam os dictos mouros que adubem os dictos
lugares e aproueytem como compre e lhes dem tempo aguisado a que o
façam E se o fazer nom quiserem ao dicto tempo o dicto almoxarífe e
scpriuam metam os dictos lugares em pregom e enujem me dizer quem
por elles mais da E eu mandarey dar mjnhas cartas de foro a essas pesoas
que sobre os dictos lugares lançarem E em testemunho <lesto mandey
dar ao dicto concelho esta mjnha carta dante em eluas trinta dias de
mayo e1 rrey o mandou per joham steuez seu uassallo steueannes a fez
era de mjl iijc lRix annos .. / /
18-1371 AGOSTO 8
164
mento a se nõ fazerem . em elles maaes nem outros dampnos E outro sy
pera nos dizerem algííus agrauamentos se os de nos ou dos nosos ofiçiaaes
ou doutros podrosos Reçebiam pera os mandarmos corregér com djreito e
aguisado E lhis fazermos merçee commo a nos cabya Os quaes nos disse-
rem e derom em escripto aquelas cousas que entenderom que se fazer
deujam por seruiço de deus e nosa prol comunal dos dictos Reynos em
que o bõo rregimento deses Reynos deuja . seer melhorado e acreçentado
E outro sy aquelles em que deziam eses pobóós que eram agrauados e
outras cousas em que pediam que lhjs fezessemos merçee segundo se
adeante segue Pedindo nos que quisesemos todo ueer e correger de guisa
que todos viuesem em paz e em asesego E nõ rreçebesem dhj em deante os
dictos agrauamentos e posesemos detremjnhaçõ a cada . hfm arrtigo qual
nosa merçee fose E nos ueendo o que nos os sobre dictos diserom e mos-
trarom auendo conselho com os da nosa corte E com outros muytos e
muy boons letrados e entendudos da nossa terra Respondemos a cada hííu
arrtigo commo se adeante segue
( .. . ......................................................... )
A Ao que djzem aos xviiijº arrtigos que os prelados da nosa terra
tynham suas casas propias das ordêês em que pousauam e as leyxarom
quaer E que noso padre mandara que as alçasem e ho nõ quiserom fazer
E que porem pousam nas pousadas alheas contjnuadamente do que se
segue gram dampno ao nosso poboo / E pedyam nos que fosse nosa merçee
de lhjs mandarmos que a tempo çerto que as façam e nõ as fazendo que
os conçelhos as aiam pera sy e as posam dar em sesmarias A A esto arrtigo
rrespondemos e mandamos que se guarde aquelo que per El Rey nosso
padre a que deus perdõõe foy mandado em esta rrazõ em nas cortes que
fez em Eluas E se elles ou sseus procuradores forem em elo negrigentes
mandamos que dos seus beens dem mantijmentos aa tãães que o façam
fazer E se os juízes foram em elo negrigentes mandamos ao corregedor da
comarca que faça correger esas casas aos juizes pelos seus beens E sse o
corregedor esto nõ rrequerer nos lho faremos correger pelos seus beens e
lho estranharemos commo no fecto couber .
( ............................................................... )
165
19 - 1374 JULHO 13
Dom fernando etc a quantos esta carta virem fazemos saber que nos
consírando como a ujlla dabrantes que sta dentro na cerca a qual demos
a Raynha dona lionor nossa molher lidíma possa seer pobrada damos e
outorgamos com consentimento da dieta Raynha priujllegio a todallas
pesoas que pobrarem e morarem conthinuadamente na dieta cerca dentro
per esta gujsa .
( ............................................................... )
A Outrossy porque nos he dicto que polia Raynha dona jsabel a que
deus perdoe foram dadas herdades em sesmarias no termo da dieta villa
a algúas pesoas sob condiçam que morasse e pobrase na cerqua do cas-
tello da dieta villa E que se hi nom morasem que estas herdades e sesma-
rias fossem dadas a outras pesoas que hi morar e pobrar quiserem A Tee-
mos por bem E mandamos que essas herdades e sesmarias que assy som
dadas aaquellas pesoas suso dietas sob a dieta condiçam e nom moram
nem querem morar na dieta cerqua que estas herdades e sesmarias seíam
dadas aaquelas pesoas que na dieta cerqua pobrar e morar quiserem Po-
rem mandamos aos jujzes e justiças da dieta villa e a outras quaees quer
do nosso senhorío a que esta carta for mostrada que a cumpra e a guar-
dem assy e pella guisa que que (sic) sem ella he contheudo e nom vaao
contra ella en nehúa guisa senã seíam certos que nos lho stranharemos
muj grauemente vmde al nom façades E por desto seerdes certos asinamos
esta carta per nossa mãão e mandamos sellar do nosso seello do chumbo /
/ dada na cacharia xiij dias de julho el rrey o mandou Joham afomso a
fez era de mjl iiijº xij annos . / /
20 - 1376 AGOSTO 9
Dom fernando etc a todallas justiças dos nossos regnos que esta carta
virdes saude sabede que nos mandamos dar o nosso paul de muja a lau-
radores pera sesmarias pera sempre E outorgamos a todos aquelles que
as hi tomarem o priujllegio e graças E mercees que foram fectos por nos
e pelos reís dante nos aos pobradores da nossa pobra de muja que os
posam auer pella guisa que no priujllegio he contheudo e possam auer per
ssy e pera seus sucesores todallas herdades nossas com sas adernas e darem
a nos o nosso quarto em saluo de todo o fructo que deus hi der em cada
hüu anno / os quaaes lauradores se obriguem a laurar as nossas herdades
166
e morarem em ellas per ssy e per seus homens e damos a elles as adernas
em saluo de que a nos nom deuem dar trebuto nehüu E mandamos a pero
tristam nosso vasallo e veedor das abertas do nosso senhorio que as de a
sesmarias e seia sesmeiro dellas pella guisa que vir que compre e for nosso
serujço E auemos por firme e stauel pera todo sempre todo aquello que
per elle for fecto em esta razã E em testimunho desto mandamos dar ao
dicto pero tristam esta carta asinada per nossa mãão e seellada do nosso
seello pendente E mandamos a gil annes nosso scpriuam desas obras que
possa fazer desto a cada hüa das pesoas cartas encorporando esta nossa
em ellas e fazer em ellas seu sinal e damos a el poder de o fazer e que
faça liuro em que seiam notadas pera nos auermos outras tãães cartas
como as que leuarem os lauradores / dante em villa noua da Rainha ix dias
dagosto el rrey o mandou afomso pirez a fez era de mjl iiijº xiiij annos . / /
21 - 1378 FEVEREIRO 11
167
seren come de sua coussa propia . a qual lhj outorgamos com todas suas
entradas e saídas e com todos seus djreitos e com todas suas perteenças
e com todos seus usos e serujdoes que aos dictos chaaos pertéénçem de
djreito e de fecto. / Outrosy lhjs outorgamos lyure e comprido poder pera
filhar per sy a pose da meyatade do dicto chãão sem outorgamento de
Juíz nem doutra pesoa qualquer / o qual Johaneanes se obrigou a fazer
as dietas casas e nõ alçar de (?) leuar dellas mãão ataa que as acabe e as
more E defendemos que nõ seía nenhúa pesoa tã oussada de qualquer
condiçã e estado que seia que uáá contra esto que nos mandamos E ou-
trosy mandamos e defendemos aas nosas Justíças que os nõ Reçebam a
ello as dietas pesoas nem conhoscam de nenhum fecto nem demanda que
lhjs sobre ello queiram fazer sen noso espeçyal mandado que nosa merçéé
he de elles auerem a meyatade do dicto chááo como suso dicto he por que
o auemos por noso serujço e prol e honrra da dieta Çidade e en testemu-
nho <lesto lhj mandamos dar esta nosa carta ,/ dante na dieta Çidade de
Coimbra onze djas de feuereiro (?) El Rej o mandou per Gill eannes
ouujdor da Rajnha e Corregedor na sua corte a que esto mandou lyurar /
/ Steuam domjngez a fez Era de mjll iiijº e dez e seys annos .
22 - 1378 FEVEREIRO 13
Carta per que o dicto senhor deu pera sempre húu chãão que sta den-
tro na cerca da cidade de cojnbra acerqua da porta noua de mãão djreita
quando saaem pera fora antre a dieta porta e a calçada que ora sta em
monturo a afomso pirez e a domjngas dançãã sua molher e a todos seus
herdeiros e sucesores que pos elles viesem pera todo sempre / Com condi-
çam que façam em o dicto chãão casas de morada e faça dellas como de
sua cousa propria sem dellas pagando trabuto algúu etc em cojmbra xiij
dias de feuereiro de mjl iiij° xbj annos . / /
23 - 1378 MARÇO 30
168
les que as queríam pobrar E que esas Eram . dadas e confirmadas per os
Reys que foram dante nos seendo primeyramente emlegudos per ese Con-
çelho e que ora auyades por sesmeyros em esa villa ataa o tempo dora
Vasco loourenço de monca [ra] pacho e afomso martjnz E que ora os
dictos sesmeyros se pasaram deste mundo e que ora emlegerades por
uosos sesmeyros lopo afomso neto desteuã fernandez e vasco gonçaluez
escudeyro moradores em esa villa porque dizedes que som homeens boons
e de boas conciançias e que nos envjauades pedjr por merçee que uo llos
confirmasemos por sesmeyros e vos mandasemos dello dar nosa carta de
confirmjanaçom (sic) . e nos veendo o que nos pedjr emvyastes e que-
rendo uos fazer graça e merçee esse Concelho damos lhj e confirmamos
lhj os dictos lopo afomso e vaasco gonçaluez por sesmeyros desa villa e
termho e pella gisa que o Eram os dictos vasco lourenço e afomso martjnz
e porem uos mandamos que os ajades por sesmeyros emquanto for nosa
merçee e uos dade lhjs juramento aos sanctos auangelhos que bem e derey-
tamente e sen outra maliçia o bem dos dictos ofiçios e dem eses smeyros
(sic) pella gisa que deuem de guysa que o noso serujço seia en ello aguar-
dado como deue e o poboo nõ Reçeba em ello grauamemto e en testemo-
nho desto mandamos dar esta nosa carta ao dicto Conçelho . dante en
torres nouas trinta djas de março El Rey o mandou per joham . afomso
ouuydor (sic) da Rejnha a que esto mandou ljurar Gonçalo domjnguez a
fez Era de mjll e quatroçentos e dez e seis anos
24 ~ 1378 OUTUBRO 24
169
26 - 1387 NOVEMBRO 21
171
27 - 1392 (?) JANEIRO 27
(Chanc. de D. João II, Liv. 19, fl. 2 v.º. Em leitura nova: Odiana,
Liv. 2, fl. 93 v. º e 249 v. º)
( 1) A carta omite a indicação de ano ou era, mas como D. João 1 se não inti-
tula senhor de Ceuta penso dever ser do ano de 1392. A este respeito, ver: Gama Bar-
ros, Hist. da Adm. Públ., III, pág. 708, n. 2.
172
28 -1394 DEZEMBRO 31
29 -1395 JANEIRO 1
173
nos enuyarom dizer em húu capitollo que Reçebem grandes perdas e
dapnos em os oliuaaes por os fogos que se em elles pooem porque a mayor
parte delles nõ som adubados porquanto aqueles cuios som nõ os querem
adubar e leixam nos . Jazer em matos . E nõ os querem dar a outras
pessoas que os adubariam . / E que porem por os fogos que assy elles
pooe. Reçebem grandes dapnos os lugares adubados . / E que nos pe-
díam por merçéé que mandassemos que seus donos os adubassem a tempo
çerto / ou os dessem a quem nos adubasse e nõ o querendo assi fazer
que o dicto Concelho os metesse em pregom e os desse de sésmarías a
taaes pessoas que se obrigassem a os adubar e tirar de matos pera se a
terra nõ dapnar e se nõ dapnarem per eles os lugares aprofeitados pelo
ffogo que em eles pooe . / A A Este capitollo . demos liuramento que
outorgamos que se faça como per elles he pedído E mandamos ao juizes
da dieta uila que o façam asy fazer . /
( ............................................................... )
E porem mandamos a pero martjnz que ora he Juíz por Nos na dieta
uíla . / E a outros quães quer que hi depos el veerem E aos nossos Cor-
regedores . E a todalas outras nossas justiças que conpram e guardem e
façam conprir e aguardar os dictos capitolos pela guísa que per Nos som
outorgados e nas Respostas delles he conthudo como dicto he . / E nõ
vãão nem consentam ir contra ello em nenhüa guísa que seía . / ca
nossa merçee he de seerem asy conpridos e aguardados . / Vnde ai nõ
façades . / dante na çidade de coinbra primeiro día de janeiro El Rey
o mandou per Aluaro perez . scolar em lex . coonigo de lixboa juiz dos
seus fectos a que esto mandou liurar nõ seendo hi os do seu desenbargo .
Aluaro gonçalvez a fez . Era de mil iiijº xxxiij anos
Aluarus petri
Canonicus ulixibonensis
30 - 1397 MARÇO 5
SAbham quantos esta Carta virem que nos frey Joham de dornellas
Abbade E o convento do moesteiro dalcobaça . Damos a vos domjnguja-
nes e a \rosa molher katarinannes moradores em a çella noua do nosso couto
e a todos vosos soçcessores que depos vos veerem pera todo sempre húu
mato que foy vínha que nos auemos antre as vinharias do dyto logo que
174
parte dagujom com Johã loucãão e com seus herdeyros e de Soam com
camjnho de serujdom desse conçelho E daurego com Johã de famãães e
com heens (sic) seus e de trauesia com camjnho que vay do dicto logo
da çella pera vall bõo . So tall preyto e condiçam que vos sobredictos
E os vosos soccesores commo dicto he façades vinha e pomar em o dicto
mato . A quall vinha e pomar adubaredes podaredes empaaredes legaredes
amergulharedes cauaredes e arrendaredes e profeitaredes bem e fielmente
em cada húu anno a seus tempos e sazõees todo aa vosa custa . E daredes
a nos e alio dito noso moesteiro outrosi em cada húu anno O quinto do
Vinho e das fruytas e de todas has outras cousas que vos deus em ella
deer conuem a saber o vinho no lagar e as fruytas aos pees das arbores e
as outras cousas nos Jogares que se sempre custumarom de dar todo
colheito e apanhado . aas vosas propias vosas despesas . E outrosy nos
daredes de foro da dieta nosa vinha em cada hüu anno por dia de Sam
mjguell de Setembro hüúa galinha bõõa e Reçebonda . E se vos sobre-
dictos e os dictos vosos soçcessores commo dicto he nõ fezerdes vinha no
dicto mato e pomar . ou os nom adubardes podardes ampaardes e le-
grardes e amergulhardes e cauardes e arrendardes e profeitardes bem e
fiellmente pella sobredicta gujssa ou a desemparardes per vosa culpa e
nigligençia ou per outra qualquer gujsa que seja ou nõ pagardes a nos e
ao dicto noso moesteiro os dictos nosos dereytos e foro em cada hüu anno
pella guisa que dicto he . e nõ guardades compridamente todas as sobre-
dictas clausulas e condições e cada húúa dellas commo nesta carta sam ·
contheudas que nos per nosa auctoridade sem outro Juizo e Justiça pos-
samos fillar as dietas nosa vinha e pomar com todas suas bemfeyctorias
e melhorias e lançar uos fora de todo e fazermos dello. O ·que per bem
tiuermos como de nosa cousa propria ficando vos sobredictos et os vossos
soçcessores sempre obligados de nos pagar do nõ profeytado o melhorado
assy commo do que o for e custas e perdas e dapnos que por a dieta rrazõ
fezermos e Reçebermos . Outrosy nõ pagando vos sobredictos e os vossos
soçcessores os dictos nosos dereytos E foro ahos ·tempos que dicto he que
dhy em diamte no los dedes e paguedes a saluo e com çinquo libras em
cada húu dia de pena em nome de Jnteresse . E de mays vos possamos
penhorar e constranger per nos por hos dictos nosos dereytos e foro e
por custas e perdas e dapnos que por a dieta rrazã fizermos e reçebermos .
E nõ vos possades per ello chamar forçados nem vos chamar a outra
justica senõ tam solamente comprirdes esta carta . E nõ ajades vos sobre-
dictos nem os vosos soccessores poder de vender ·dar nem obligar nem
emprazar nem apenhar nem scambhar nem partir nem spedaçar nem
per outra nenhúúa maneyra em alhear a dieta nosa vinha nem parte della
sem nosso mandado e outorgamento . mays profeitaredes todo bem e fiell-
mente . E a dieta nosa vinha e pomar andarem sempre emteiramente em
húúa pesoa de vos e nõ em mais que de e pague a nos e aho dicto noso
moesteiro os dictos nosos dereytos e foro commo dicto he ,. E se per
ventura qujserdes vemder . a dieta vinha e pomar faredes no lo primey-
ramente saber se o queremos tanto por tanto . E se o nõ qujsermos nos
- 175
N!JOOC - KOCUO Dl DOCUMENHCAO CUUUML - Uf&
comprar emtam o possades veender aa tall pesoa que de e pague a nos
E aho dicto noso moesteiro os dictos nosos dereytos e foro commo dicto
he E vos dar nos edes sempre a quarta parte do preço por que asy
for venduda . E asy per quantas vezes o for . E vos sobredictos nem os
vosos soccessores nõ venderedes a dieta nosa vinha e pomar a pesoa mays
poderosa nem de mayor condiçom que vos nem a caualleiro nem a dona
nem a egreja nem a moesteiro nem a clerigo nem a filhos dalgo nem a
mouro nem a judeu nem a outra pesoa per que nos e o dicto noso moesteiro
possamos perder ou mjnguar dos djtos nosos dereytos e foro . E contra
estas cousas e cada hüúa dellas nõ deuedes de poer contenda nem vos
chamar a outra justiça . se nõ tam solamente comprirdes esta carta . Ou-
trosy vos sobredictos nem os vosos soccesores nõ possades leixar a dieta
nosa vinha e pomar nem nos nõ vo lo possamos tolher guardando vos e
comprindo todas as sobredictas clausulas e condições e cada huua dellas
commo em esta carta som contheudas . E nos sobredictos dmjnguianes e
katarina anes por nos e por todos nosos soçcessores commo dicto he .
louuamos e outorgamos esta carta e nos obrigamos per todos nosos beens
mouíjs e de rraiz auudos e por aver . gaançados e por gaançar a comprir
e guardar todas has sobredictas clausulas e condiçõees e cada húúa dellas
commo em esta carta som contheudas so as penas sobredictas E em nome
de ynteresse . Em testimunho das quãees cousas . Nos sobredictos abbade
e conuento mandamos fazer duas cartas ambas de hüu theor a hüua que
fica Registada em o liuro da nosa notaria . E esta que mandamos dar
a vos sobredictos e a vossos soçessores commo dicto he . Seellada dos no-
sos seellos . Dante em o dicto noso moesteiro . v . Dias de março . Era
ce mjll e quatroçentos E xxxv . annos .
Traslado em pública-!arma.
31 -1413 AGOSTO 23
176
beens que teem em termo do dito lugar E porem fiando nos de martím
afonso de mello nosso guarda moor e do nosso consselho que o fara bem e
como compre a nosso seruiço . e por o dito lugar seer milhor pouohado .
E porque outrossi se Ja ujeram morar ao dito lugar de terena peça dos
lauradores e se querem hij vijr morar outros damos lhe emcargo e lhe
mandamos que ele desse de sesmaria e Reparta aos lauradores e morado-
res que morarem no dito lugar de terena e se a ele ujerem morar e pouorar
com suas molheres e filhos as ujnhas e herdades e todolos outros beens de
Rajz que sam no termo do dito lugar que nam sam laurados nem pouora-
dos nem adubados per seus donos . segundo elle uir que as cada húu
mereçe e deue dauer ; dando lhe dello cartas asignadas per sua maaom .
E queremos e mandamos e outorgamos que aaqueles . que asi o dito
martim afonso der e Repartir os ditos beens e ouuerem dello carta asig-
nada per sua mãão . E outrossi o trelado desta nossa carta em publica
forma fecto per auctoridade de Justiça que elles e seus herdeiros e des-
cendentes que depos elles ujerem . aJam pera sempre hos ditos beens
liure e desembargadamente . E possam deles fazer ho que fariam de sua
herença propia . Com tamto que eles e seus herdeiros morem e pouoem
em o dito lugar : À E porem mandamos a todolos Corregedores Jujzes e
Justiças e officiaaes e pessoas que esto ouuerem de ueer per qualquer
guisa que seja . que leixem esto assi fazer ao dito martim afonso pella
guisa que suso dito he . E cumpram e guardem e façam comprir e guardar
esta nossa carta pela guisa que em ella he comtheudo . e nam uaaom
nem comssentam hir comtra ella em nenhúúa guisa e al nam façades. dada
em lixboa xxiij .. dias dagosto . À El Rey ho mandou . Rodrigo afonso
a ffez . Era de mjl iiW Lj annos .
32 - 1421 FEVEREIRO 10
177
que lhe dessemas nossa carta . que as dietas pessõõas abrissem e fizessem
suas abertas seemdo por elle requeridas . pois elle quer abrir as suas .
á E nom as queremdo abrir . que elle ouuesse pera si as dietas suas
herdades e terras . e nom vemdo o que nos asi dizja e pedia e como he
ordenaçam do regno ,. a quall se comprio e guardou . sempre no tempo
antíjguo . dos outros Reix nossos amteçessores . que em tall caso eram
requerjdos . hos senhorios e donos das herdades . e terras que asi iaziam
em pauues as beiras das herdades de seus Reguemguos . e que cada hüus
abrissem e fezessem suas abertas . quanto tamgia aas dietas suas terras e
herdades . e nom as abrímdo emtom tomauam as os reix pera si . ou as
dauam de sesmaría a quem abría as dietas abertas . E auíam as dietas
herdades e terras pera si . ou seus subçessores e as Remdas dellas . Â
E vemdo outrosí como esta he bem proll do regno . Temos por bem e
damos poder ao dieta iffamte meu filho . que per si . ou por seu çerto
procurador ou requeredor possa requerer . ou mamdar requerer as dietas
pessoas que asi teuerem suas herdades e terras comjuntas . ou místícas .
amtre as dos dietas seus Reguemguos . que abram e facam suas abertas .
quamto a elles pertemçeer das suas terras . atee çerto tempo rezoado
como se sempre custumou . E nom as abrimdo e fazemdo atee o dicto
tempo . que elle possa tomar e tornar pera si as dietas herdades e terras
suas . E que emtam elle faça as dietas abertas e adube e aproueite as
dietas herdades e terras . e os logre e aia e possua com as remdas dellas .
elle e seus herdeíros e sobçessores e faça dellas e em ellas . como de sua
cousa propia e corporal possíssam . Â E porem mamdamos a todallas nos-
sas justiças e allmoxariffes e comtadores e a outros quãães quer nossos
offiçiães . que lho Ieixem asi fazer . e lhe cumpram e guardem e facam
comprir e guardar . sem embarguo nenhüu . E nõ vão nem comsimtam
hijr comtra ella em nenhfüia maneira que seia .. Ca asi he nossa merçee
de se fazer e comprir . e all nom façades . damte em a çidade deuora dez
dias de feuereiro . El Reí o mamdou pedreanes a fez era de mill iiij° lix
annos.
33 - 1422 OUTUBRO 30
dom Johã etc A quantos esta carta uirem fazemos saber que o Jfante
dom hanrrique meu filho nos dise que em suas terras e na terra da bordem
do mestrado de christo de que ell he Rejedor e gouernador ha rnujtas
terras e herdades que nom som adubadas nem aproueytadas e se perdem
per minga de adubio e que entendendo que algüas pesoas as adubariam e
aproueytariam se lhas desern de sesrnaría / que nos pidia que lhe <lesemos
178
lugar per as ell poder dar / E nos veendo o que nos asy dezia e pedia
porque o entendemos por proll e bem de nosa terra Teemos por bem e
damos lhe poder e lugar que el ou aqueles a que el dello der carrego
posam dar de sesmaria quaaes quer terras e herdades que el achar nas suas
terras e na terra da dieta bordem que nom som lauradas e aproueytadas
pela gisa e condiçõ que na hordenaçom que nos sobre esto Teemos feyta
he conteudo E porem mandamos a todalas nosas justiças a que esta carta
for mostrada E a outras quaaes quer que esto ouuerem de veer que o
façam asy comprir e guardar Vnde al nom façades dada em tentugal
xxx dias doutubro El Rej ho mandou afomso pirez a fez era do naçimento
de noso Senhor jhesu christo de mil iiijº xxij annos .
34 - 1426 JULHO 1
179
de vallos velhos que parte da parte do soaam com amdree esteuenz albar-
deyro . e da outra comtra ho abreguo com camínho que deçe por valle
affumdo . e da outra comtra aguyam com olíuall que trazia o mouro .
como parte pollo valle velho açíma comtra a villa e emtesta em çíma com
ollíval dafomso anes darrayollos . e dy como parte hymdo comtra o
abrego pera o dito valle velho e com outras comfromtaçõões com que de
direito deue de partír e que per a dita Jmquyriçam achara que avia delles
çímquoemta annos que lhe nõ sabiam dono nem per os ditos editos que
mandara fazer que nom sayra nenhüu que dissesse que era seu e que lhe
pertemçesse . polla quall rrezam ho ouue por manynho e que pertemçe
ao dito senhor Rey . e que em seu nome tomara a posse dele . e a tynha
e comtínoaua . E que ora avia por seruíço seu do dito senhor . que elle
a daua de foro e aforaua e aforou de sesmaria deu o dito mato dolíuall a
gomçallo daragã e a sua molher lianor da costa moradores na dita villa
na rribeyra e pera todos seus herdeyros e soçessores e filhos e netos que
delles desçemderem com todas suas emtradas e saydas e direitos e per-
temças que ao dito mato dolíuall de direito deue haver que o ajam e
logrem deste dia pera todo sempre . e que façam delle e em elle o que
lhe aprouuer como de cousa que he foreyra com emcarreguo de foro .
E que dem e paguem em cada hüu anno ao dito senhor Rey por dia de
sam Joham bautista por foro e pensam Rtª. ssoldos da moeda antíjgua.
E começaram de fazer a primeyra pagua por o dito dia de sam Joham
bauptista que ha de vyr de iiij" R viij annos e assy dy em diamte pollos tem-
pos seguímtes E que o Iaurem e esmoutem e moutem e ponham estacas de
chamtõões e os correguam e adubem em guysa que seja todo bem adu-
bado . que sse per uemtura o vemder quíserem que primeyro o rrequey-
ram ao almoxarife do dito senhor Rey se o quiser tamto por tamto pera
o dito senhor quanto outro por elle der . E nom o queremdo que o
vemdam a tall pessoa que adube o dyto olíuall e pague ao dito senhor . e
fazemdo o comtrayro desto que nom valha .. E o dito gonçallo daragam
per ssy e per a dita sua molher e herdeyros e sobçessores que depois delles
vierem . rreçebeo em ssy o dito mato dolíuall de foro sob as clausullas e
comdiçõões suso ditas e cada hüüa .dellas se obrigou per ssy e per seus
beens as comprír e manteer e paguar pella guysa que dito he a saluo com
todas custas e despesas que da parte do dito senhor Rey polla dita rrezam
forem fectas . e com dez rreaes bramcos em cada húu dia de penas e em
nome de penas e interesse . e em testímunho <lesto as ditas partes man-
darom e outorgarom ser fectos senhos estromentos dous e tres e mays o
que lhe comprírem . testímunhas vaasco martíjnz medidor do çelleyro . e
esteuam affonsso arrudam . pedralluarez criado de joham dornellas . e eu
pedraluarez taballiam sobredito este estromento per mandado e outorga-
mento das ditas partes pera o dito gomçallo daraguam escpreuy â Jtem
depoys desto prímeyro dia de setembro em o dito mato do dito oliuall
termo da dita villa e em presemça de mym pedraluarez sobredito e das
testímunhas que adiante sam escpritas o dito gomçallo daraguam que de
presemte estaua per bem deste estromento de foro suso escprito tomou e
180
cobrou a posse corporall rreall autuall e possyssom do dito mato e olíuall
per terra e pedra e eruas e rramos dolíueyras e matos e disse que per hy
comtínoaua a dita posse com protestaçam de nom fazerem emjuria a ne-
nhüüa pessoa. E por todo seu direito pedio assy dello húu e dous e mays
estromentos o que lhes compridoyros forem . testimunhas Joham da
guarda escpriuam damte o vigayro e aluara esteuenz morador na dita villa
na freguesya . esteueanes proue na dita freguesya a oussya de samtiaguo
e eu pedrealuarez taballiam sobredito que este estromento escpriuy em
que meu synall fiz que tall he .
35-1431 DEZEMBRO 8
18 l
mouros paguem de suas noujdades que ouuerem primeiramente a dizima
a nos E depois paguem das dietas noujdades outra dizima aa jgreia E esto
sse faça asy porquanto as dietas herdades primeiramente forom de mou-
ros E depois veerom a poder de christããos / E das herdades que os chris-
tããos ham no dieta quarto que primeiramente foram de mouros E agora
som delles christããos e per elles aproueitadas Mandamos que este meesmo
modo se tenha que os christããos de suas noujdades que ouuerem paguem
primeiramente húa dizima a nos / E do que lhijs ficar paguem outra
dizima aa jgreia pois que as herdades primeiramente forom de mouros
E agora som suas delles christããos E quanto he das herdades que sempre
forom de mouros E agora ajnda o som E nunca forom de christããos depois
que a terra foy tomada a elles mouros Mandamos que soomente paguem
os mouros de suas noujdades a nos a dizima E aa jgreia nõ paguem dizima
nenhúa E esto sse entenda assy das noujdades que som no dieto quarto
come fora delle E que este modo se tenha en qualquer parte dos nossos
Regnos en que mouros bens teuerem e ouuerem E se per uentujra as
herdades que os mouros ora teem ou ao deante teuerem primeiramente
forom de christããos depois que a terra agora foy gaanhada aos mouros /
/ Mandamos que das noujdades que ouuerem paguem primeiramente a
dizima aa jgreia E do que ficar paguem outra dizima a nos / E esto sse
faca asy pois primeiramente as dietas herdades forom de christããos E de-
fendemos que daquj en deante nõ seja nenhúu christãão tam ousado que
compre herdades de mouros no dieta quarto nem fora delle E qualquer
que o contraira fezer que perca o preço que der por as dietas herdades
que asy comprar E a uenda seja nenhúúa E as herdades fiquem E sejam
tornadas aaquelles mouros que lhas uenderem E que se os mouros quise-
rem uender suas herdades que as uendam a outros mouros come ssy de
guisa que nõ passem aa mãão dos christããos / Jtem quanto he ao segundo
agrauo en que dizem que o dieta vigayro manda a dous christããos aualiar
as suas vjnhas e figueyraaes depois que nõ teem frujto que djgam que
figos e huuas podem dar E que per tal aualiamento en lagar de leuarem
húa dizima leuom duas e tres e quatro / Mandamos que tal aualiamento
se nõ faça E que os clerigos tenham aquelle modo e maneira com os
mouros que com os christããos en leuar suas dizimas quando as delles
ouuerem dauer pello modo que dieta he / E mandamos ao veedor da
nossa fazenda E contadores e almoxarifes que ora som nas dietas comar-
cas E pollos tempos forem que façam comprjr E aguardar esta nossa sen-
tença E acordo segundo en ella he contheudo E nõ consentam aos clerigos
que por razõ das dietas dizimas façam outros agrauos aos mouros senõ
asy como per nos he determjnado E que esto seja poblicado ao vigayro
e a outros quaes quer clerigos que nos lhe encomendamos que nõ proçedam
a sentenças descomunhõ nem façam entrar os mouros da conuerssaçõ dos
christããos E se desta en algúa parte duujdarem que enujem seu vigayro
ou procurador perante o Jujz e desembargadores de nossos fectos e per
djreito e ordinações e custume lhe seja mostrado segundo que per nos he
mandado E fazendo os dietas vigayro e clerigos o contrayro desta E que-
182
rendo proçeder contra os dictos mouros / E mandamos a todallas nossas
justiças que nõ eujtem os dictos mouros de seus jujzes nem os prendam
nem leuem delles penas quando he polla dieta razom vnde hüus e outros
all nõ façam dante en a çidade de lixboa biij dias de dezembro El Rey
o mandou per diego afomso scollar en lex seu uassallo do seu desembargo
e jujz dos seus fectos Joham de lixboa a fez Era do naçimento de nosso
senhor Jhesu christo de mjl e iiijº e xxxj anos
didacus scolaRys
legum
37 - 1434 MARÇO 30
A dom fernamdo de crasto doaçam do paul de traua em termo da
uilla de samtarem pelas comfromtaçõees declaradas etc.
183
fernando de castro do nosso conselho E gouernador da casa do Jffante
dom anrrique meu jrmãão que mujto prezamos e amamos nos mostrou
húa carta do muj virtuoso Rey dom joham meu senhor e padre cuja
alma deus aia asignada per el pella qual lhe deu de sesmaría o paul de
traua que he em termo de santarem / a qual carta nom era asseelada por
quanto nos disse que dera carrego a húu seu scudeiro dello e nom o pusera
em obra segundo lhe per elle fora mandado E que agora quando man-
damos que viesem a nos todos aquelles que tijnham cartas que Requeriam
seer confirmadas el mandara pela dieta carta e a achara assy sem seello
per mingoa daujsamento E pedio nos que lha mandasemos sellar com
nosso seello pera dar ao dicto jffante pollo escambo que com el fizera
do dicto paul de traua da que lhe dera pollo paul de boqujmlobo por-
quanto entendia que nom compria auer de nos outra confirmaçã por nõ
seer daquellas que per nos aujam de seer confirmadas / a qual cousa a
nos pareceo doujdosa mandarmos poer nosso seelo em carta do dicto
senhor porque ao depois por tempo podia seer esguardado E veendo sinal
do dicto senhor e nosso seello diriam que fora em ello fecta. cousa errada
do que se pudia seguir grande duujda E acordamos por mjlhor de man-
darmos em esta nossa carta encorporar de uerbo a uerbo E asignar por
nos e asellar do nosso seello / da qual o theor he este .6. dom joham etc
a quantos esta carta virem fazemos saber que porquanto nos ouuemos
enformaçam que em termo da nossa villa de santarem auja pahuees e
outras terras que eram dampnjficadas de que se seguja perda aa terra /
/ mandamos a Johane meendes corregedor da nossa corte que fizesse
fazer editos que a certo tempo cada húu adubase e aproueitase o que seu
fosse se nom que nos as mandariamos dar de sesmaria os editos forom
fectos assy e pella guisa que nos mandamos E ora dom fernando de
crasto do nosso conselho e gouernador da casa do jffante dom anrrique
meu filho nos disse que ho paul de trauada (sic) que he em termo da dieta
villa fora em outro tempo laurado e aproueytado E que auja quarenta
annos e mais que era posto em danjficamento E que per os dictos editos
seerem fectos que nehüu nom veo que em ello fizese nehüu corrigí-
mento nem adubio E que porquanto sua uontade era de o assy aproueitar
E abrir que nos pedia que lhe fizesemos delle mercee e lho mandasemos
dar de sesmaria E Nos veendo o que nos dizia E pedia e auendo o por
nosso serujço e prol da nossa terra E querendo lhe fazer graça e mercee
Teemos por bem e damos lhe o dicto paul de traua de sesmaria pera el
e pera todos seus herdeyros e sucesores que depos el vierem per as díujsõões
suso scpritas a saber como parte o dicto paul de trauara (sic) com o paul
de villa de Rey ao porto do boy e desy como uay pera brunhera arredor
do campo ataa tocar na carreyra que uay da chamusca pera a dos trespos
e desy a beira do paul E desy como vay ao porto da cimalha da metira que
se chama da horta E dessy como se torna arredor do paul a beira da
charneca ataa tornar ao dicto porto daloy (sic)/o qual paul pellas díujsõões
suso dietas lhe damos pera que elle e seus herdeiros e sucesores adubem e
aproueitem e corregam em tal guisa que seia melhorado do que agora he
184
E queremos que o aiam e posuam el e seus herdeiros e sucesores pera
sempre e façam delle como de sua cousa propria pollas grandes despesas
que somos certo que se em el ham de fazer ante que delle aia algüu
proueito e se despois ham de fazer conthinuadamente em seu repairamento
em cada húu anno E porem mandamos aos jujzes da dieta nossa villa de
santarem e a todallas outras nossas justiças e officiãães e pesoas que esto
ouuerem de ueer per qualquer guisa que seia que assy lhe compram e
guardem e façam comprir e guardar esta nossa carta bem e comprida-
mente sem embargo nehüu assy e pella guisa que em ella he contheudo
E lhe nõ uãão nem consentam hir contra ella per nenhüa guisa ca nossa
uontade he de lhe fazermos mercee do dicto paul o mais firmemente que
o pudermos fazer pella guisa que dicto he E em testimunho desto lhe man-
damos dar nossa carta asignada per nossa mãão e seelada do nosso seello
dante em almeirim x dias de feuereiro el rrey o mandou fernã vieira a fez
anno do nacimento de nosso senhor jhesu christo de mjl iiij• xxxij annos
Porem mandamos a quãães quer officiãães e pesoas a que esto pertencer
que a compram e guardem e façam comprir e guardar segundo em esta
carta faz mençam vmde al nom façades dante em santarem xxx dias de
março el rrey o mandou paayo roiz a fez era de mil iiij• xxxiiij annos .
38 - 1434 MARÇO 31
A dom fernando de castro escaymbo que fez com o Jfamte dom
amrrique do paul de traua pelo de boquylobo per suas comfrontações
declaradas /
Dom Eduarte etc A quantos esta carta virem fazemos saber que
nos fomos certo que o muy virtuoso Rey dom Joham meu senhor e padre
cuja alma deus aia foe Requerido pollo Jffante dom anrrique meu jrmãão
que mujto prezamos e amamos que lhe desse de sesmaria o paul de bo-
qujmlobo que he em acerca de torres nouas porquanto em outros tempos
soya seer laurado e aproueytado E que auja quarenta annos e mais que o
nom era de que víjnha perda aa terra E que porquanto o el entendia
mandar abrir e aproueitar que nõ pusese duujda a lho dar E ante que
pollo dicto senhor fosse outorgado elle mandara fazer edictos nas villas e
lugares em cujos termos o dicto paul jaz pera se algúus teuessem algüas
herdades em elle que as aproueitase ataa tempo certo E se nõ que as
dariam de sesmaria / os quaaes edictos forom fectos E pasou o tempo
que foram asignados e mujto mais a que os aujarn de correger e aprouei-
tar E nõ as aproueitarom polla qual razam E pollo dicto paul seer aprouei-
tado aa terra e comarca darredor seguir proueito prougue ao dicto senhor
de o dar de sesmaria ao dicto Jffante E fomos certificado que lho deu
E tanto que lhe assy per ele foe outorgado o dicto Jffante escambou o
185
dicto paul com dom fernando de castro gouernador da sua casa do nosso
conselho por o paul da traua que lhe o dicto senhor tambem dera de
sesmaria do qual paul de boqujmlobo per bem do dicto escambo ho
dicto dom fernando foe logo em posse E porquanto nom era bem demar-
cado . Nos em seendo Jffante por tirarmos contenda que se poderia se-
gujr antre o dicto dom fernando e algüus outros herdeiros que tjnham
herdades que entestauam no dicto paul fomos per nossa pesoa ao demar-
car E demarcamo lla per esta guisa / des aberta dalmonda como se segue
per alfaldra do dicto paul como lhe logo mandamos poer marcos e diuj-
sõões per aquel lugar que achamos per homens antijgos naturaaes e cria-
dos do dicto campo que vierom perante nos que passaua de xxx e R'ª
annos que nom fora laurado E jndo assy todo de longo antre o campo
e ho dicto paul ataa o carril que vem do teio per djreito estil aos marcos
dantre santarem e torres nouas E dos dictos marcos djreitamente ao porto
do areeiro E dhi sair logo atraues fora do dicto paul ao termo de torres
nouas tomando e uoltando pella faldra do dicto paul pella entrada do
ualle de boquimlobo ataa o djreito do espínheyro que esta na terra de
fernã de gralhas seendo esso medes demarcado per aquel que per jujzo
de homens antijgos e sabedores dello foe achado que pasaua de trinta e
R,. annos que nom foe laurado por seer paul E des em djreito do dicto
espinheiro de femã de gralhas vijnr djreitamente aberta uelha real e per
ella vijnr çarrar com o começo da demarcaçam suso scprita E pedio nos
o dicto dom femando que lhe mandasemos dar nossa carta em que
aprouasemos por bõo o escambo que o dicto Jffante meu jrmãão fizera
com el do dicto paul de boquimlobo pollo dicto paul de traua E que o
pudese líuremente auer per onde per nos assy fora demarcado .ó. E Nos
visto seu Requerimento como he mujto razoado E as mujtas grandes ra-
zõões que teemos pera outorgar desy porque fomos certo que os dictos
pauees forom dados de sesmaria per o dicto meu senhor e padre ao dicto
Jffante o paul de boquimlobo E ao dicto dom fernando o paul de traua
E como o dicto Jffante deu em escambo per nosso outorgamento ao dicto
dom fernando o dicto paul de boqujmlobo pollo dicto paul de traua E que-
rendo lhe fazer graça e mercee Teemos por bem e aprouamos o dicto
escambo dos dictos pauees por bõo E mandamos que o dicto dom fer-
nando e seus herdeiros e sucesores aiam e posuam o dicto paul de boquim-
lobo de sesmaria com suas pertenças e entradas e saidas per as díujsõões e
marcos ante scpritos segundo per nos foe deujsado e demarcado E o adu-
bem e façam dello como de sua herdade propria E porem mandamos a
todollos corregedores jujzes e justiças e officiãães e pesoas a que esto
ouuerem de uer que lhe compram e guardem e façam comprir e guar-
dar esta nossa carta peila guisa que em eIIa he contheudo E per sua segu-
rança asignamos per nos e mandamos seellar do nosso seello pendente
dante em santarem trinta e hüu dias de março el rrey o mandou pay Roiz
a fez era de mjl iiijº xxxiiij annos .
186
39 - 1434 DEZEMBRO 27
40-1435 JANEIRO 10
187
ello tíuesse nõ embargando que lhe elle rrequeríra que nõ pousesse mays
mãão no dicto mato que elle asy tinha estercado pídíndo por merçee ao
dicto Sennhor e monges que lhe <lesem ho dicto mato de sesmaria pera ho
elle aproueytar e laurar e semear por seu foro e que mandasem aho dicto
pero de uouga que non pusese mays mãão em ell Segundo todo esto e
outras cousas mays compridamente eram contheudas em sua petiçam di-
zemdo ho dicto pero da uouga que o dicto mato pertençia a elle que ao
dicto gonçalo píríz negando lhe que o nõ tinha estercado . E visto todo
por o dicto sennhor o dizer de húúa parte e da outra mandou que fossem
lla ver o dicto mato dous homes bõos Jurados ahos sanctos auangelhos que
vissem se era estercado e a quem pertençia per dereyto . Os quaaes allo
forom pero afonso E ho namorado lauradores e visto per elles o dicto
mato disserom presente ho dieta sennhor que ho dicto mato pertençia ao
dicto gonçalo piriz que tinha parte dei estercado E que era home pera
ho bem aproueytar e arromper . E Visto todo por ho dicto sennhor e
monges derom ho dicto mato de sesmaria ao dicto gonçallo píríz pera elle
e pera sua molher e filhos . e netos e pera todos seus herdeiros so tall
preyto e condiçam que ell compeçe logo darromper e laurar E semear o
dicto mato arrompendo o bem E fiellmente em gujsa que daquj a quatro
annos seja todo rroto E que seja sempre semeado a saber hüu anno em
pos o outro em alqueuem sementado de booas sementes a boos tempos
E sazõees e que de todo o pom e legumes que lhe deus der em elle deí
e pague o quarto do pom e legumes na Eyra limpo de paa e de uasoura e
ho quarto do linho no tendall todo segundo [uso] da tera nom tirando
o dicto pom da eyra a menos o dereyto so pena de o perderem pera ho
dicto moesteiro . E que de mays em cada húu anno por dia de natall de
foro da dieta herdade começado logo este primeiro natall que veem na
era de trinta E seis em começo dell húu bõo capom e huua galinha . E ysto
asy sempre em cada húu anno . E nõ arrompendo nem laurando nem
semeando todo bem e fiell que paguem aho dícto moesteíro o verdadeyro
estimo que a dícta herdade dar poderia seemdo bem arrota e aproueytada .
E que eso mesmo nam na aproueytandb bem e fiellmente commo dicto
he que ho dicto moesteíro possa tomar suas terras e fazer dellas sua
prooll com toda a bemfeyctoria e melhoramento que hy for feycto e me-
lhorado ficando ymde obrigado a compoer e pagar todo o danaficamento
e estimos que ante for feycto e danjfícado sem se chamando a nenhúus
priuelegios . E o dieta gonçalo piriz que no presente estaua em sy tomou
e rreçebeo a dieta terra de sesmaría com todallas crausullas e condições
sobredictas so obrigaçam de todos seus beens que pera ysto obrigou e se
obrígou que nõ comprindo todo commo dicto he que posa seer çítado
E responder por ello e por o que dello naçer e deçender perante ho ouuj-
dor do dícto moesteíro . E por el e por sua sentença e mandado ser feycta
emxucaçom . Em seus beens sem embargo de nenhúus príuílegíos nem
foros nem custumes que em contrayro desta sejam que nõ valhom saluo
todavia cumprir e manteer todo o ·que dito he so obrígaçam dos dietas
seus beens que pera esto obrigou e em testimunho <lesto ho dicto gonçalo
188
píríz mandou fazer e outorgou este estormento pera o dicto moesteiro e
ho dicto sennhor dom abbade e seu conuento mandarom fazer húüa carta
dello aho dicto gonçalo píríz asinado por ell dicto Senhor e asellada do
seu seello . feycto dia e mes e Era testimunhas os sobredictos namorado .
e pedro afonso . e nuno gonçaluez e Rodrigo sueyro e Joham gonçalluez
de leyria e outras . E eu lorençianes tabaljam por ell Rey meu sennhor
no dicto moesteiro e seus coutos geerall que esto espriuj e aquj meu
sinall fiz que tall he . / / .. / / .
Traslado em pública-forma.
41 - 1435 JULHO 19
189
vaasquo ferrnandez seu vassallo e do seu desambargo em absençia de
rrodrigujanes scpriuam em logo de felipe afonso . Anno do nacímento
de noso sennhor jhesu christo . De mjll. iiij°. E xxxb. annos .
Traslado em pública-forma.
42 - 1435 DEZEMBRO 17
Dom Eduarte etc A quantos esta carta vijrem fazemos Saber que
frey nuno goncalluez prior da hordem do espital nos emujou dizer que
nas ssuas terras da dieta hordem som e jazem mujtas terras e vinhas e
cassas e pardeíros e herdades e beens en perdiçam e se uaam de todo a
perder por nom teerem quem os aproueitem nem adubem do que a nos
e a ell sse Recreçia gram perda dos djreitos que dellas poderíamos auer
E que nos pediam por merçee que lhe <lesemos licença e luguar que as
podese dar de sesmaria a quem as aproueitasem E nos vendo o que nos
asy dizia E pedía querendo lhe fazer graça e merçee Temos por bem e
damos lhe licença e lugar quel de e posa dar de sesmaria em todas suas
terras e da dieta hordem todallas herdades e pardeiros e vinhas e cassas
e beens e terras que asy jouuerem em perdiçã e mortorios e matos e
todallas outras que nom forem aproueitadas E porem mamdamos que
ante que as asy de que faça lançar pregõees E os edictos per as vinhas (sic)
e conçelhos ·e praças das villas e lugares da comarca daRedor em que
manda dizer que seus donos dos dictos pardeiros E cassas deRobadas e
vinhas e herdades que asy jazem em mortorios e matos que as uenham
adubar e aproueitar e correger e lauarar ou emprazar ou aforar ou vender
E fazer dellas sua prol per guisa que nenhúu nom Reçeba per ello perda
nem nojo nem dano nom vyndo ataa hum ano e día mandamos que el
de outros os dictos pardeíros casas deRibadas E vinhas e herdades que
asy jazem mortas em matos e nom som adubados E quellas que as pedem
e que as queserem laurar e adubar e proueitar e correger como lhe conpre
e fezerem mester com tanto que as nom de saluo se for a pesoas leigas
e da nosa jurdiçã E a outros nom e que o faça em tal guisa que nom aja
maljçía nem engano se nom seJa certo que [a] ell nos tornaremos por
ello e per seus beens lhe fazemos todo corregeer e emendar E esta merçee
lhe fazemos porquanto nos emviou mostrar outra tal carta que lhe foj
dada per o muy uitorioso e de grandes veertudes El Rej meu Senhor padre
que deus aja em sua groria E en stemunho desto lhe mandamos dar esta
nosa carta dante en euora xbij dias do mes de dezembro El Rej o mandou
per afomso giraldez e lujz martjnz seus vasallos e de seu desenbargo Ro-
drigo afomso fez Era de mjl E iiijº xxx e çinquo anos .
190
43 - 1436 MAIO 26
192
o dicto dom . fernando tem he contheudo E com a condiçom e modo
sobredicto em esta presente carta E faça delle e em elle como de sua
propria cousa como dicto he Reseruando em esto nossas jurdições e di-
reitos e da dieta Rainha E porem mandamos a todollos corregedores e
justiças offiçiãães e pesoas que esto ouuerem de ueer que lhe compram
e guardem e façam comprir e guardar esta nossa carta de doaçam e
aprouaçom e consentimento e autoridade como em ella he contheudo em
todo e por todo porquanto he nossa mercee de assy seer fecto sem outro
nehúu embargo que lhe sobre ello seia posto E per sua segurança lhe
mandamos dar esta nosa carta asignada per nos e seellada do nosso seello
pendente dante em monte moor o nouo xxbj dias de mayo martim gil a
fez era de mil iiij° xxxbj annos . / /
Liv. 34, fl. 172. Em leitura nova: Misticos, Liv. 1, fl. 291 v.º e Liv. 3,
fl. 236 v. Estremadura, Liv. 11, fl. 52 v.º)
0
;
44 - 1436 DEZEMBRO 17
193
pedro afonso marinheiro e entesta com vasco martinz e com pedro
affonso filho Dafonso steuez do monte / Pidindo nos por merce que lhe
dessemos a dita terra de sesmaría porquanto assi Jazia em mato brauio
auia mujtos annos segundo que nos fez certo per Joam delgado e per
Affonso vaasquez moradores no dito logo da Castanheira aos quaes foi
dado juramento aos santos euangelhos presente joam de lixboa tabaliam
do julgado do Mosteiro e disseram que des que se acordauam que poderia
auer quarenta ou cinqucenta annos nom virom a dita terra laurada nem
aproueitada mais sempre a sabem o dito tempo jazer assi em mato brauio
em tal guisa que o dito nosso Mosteiro des o dito tempo ata ora nunca
della ouue nenhüu proueito nem renda E nos visto seu dizer e pidir e
como a dita terra jaz em mato brauio como dito he querendo fazer merce
ao dito Affonso anes que no lla assi pedio . sintindo por bem e proueito
do dito nosso Mosteiro damos lhe a dita terra de sesmaria assi e pel!a guisa
que dito e diuisado he pera e! e pera briatiz rroiz sua molher e pera todos
seus herdeiros e descendentes que depois dei vierem com tal preito e con-
diçõ que logo em este anno presente começem de rromper e aproueitar a
dita terra e semear de boas sementes bem e fielmente a seus tempos e
sazões quando !he comprir e mester fezer . E darom elle dito Affonso
annes e briatiz roiz sua molher e todos seus herdeyros e descendentes a
nos e ao dito nosso Mosteiro em cada huum anno que a dita herdade
semearam jugada e dizimo nos logares acustumados assi e polla guisa que
he contheudo em scriptura pubrica que por sua parte he feita a nos e ao
dito nosso Mosteiro feita per o dito joam de lixboa e mais húa galinha
boa e recebonda de foro em cada huum anno por dia de sam Miguel de
Setembro . E os ditos Affonso annes e britiz rroiz sua molher e todos
seus herdeyros e descendentes non deuem vender a dita herdade a ne-
nhúa pessoa de maior condiçõ que elles per que nos percamos nosso
direito nem partir nem spedaçar nem per nenhúa guisa em alhear saluo
per nosso mandado e autoridade . Mas sempre ande enteiramente em
húa pessoa e mais non que a nos de e pague em cada huum anno o que
dito he . E vendendo elles a dita herdade per nosso mandado e autori-
dade como dito he que pague a nnos a nossa quarentena . Outrossi non
lauraudo elles nem semeando a dita herdade bem e fielmente e a seus
tempos do que lhe comprir e fezer mester nem nos pagando nosso direyto
e foro como dito he que nos possamos stimar a dita terra e leuar della
o verdadeiro stimo que ella poderia render ao dito Mosteiro se bem
aproueitada fosse e a possamos tomar e fazer della nossa prol como de
nossa cousa propria sem outra mais figura de juizo e pollo que vos deuer-
des do que dito he assi do direito e foro e istimos que nos vos possamos
mandar penhorar per nossos homeens e vos venderem vossos penhores
ata o dito Mosteiro ser compridamente pagado sem mais serdes citados
nem demandados . E isso mesmo po!los danos e perdas que nos e o dito
nosso Mosteiro por ello recebermos nõ vos chamando por ello sbulhados
nem forcados E se uos dito Affonso annes e vossa molher e herdeiros em
algum diodo fordes contra nos e contra o dito nosso Mosteiro e suas
194
cousas que logo vos possamos tomar a dita herdade sem outra mais auto-
ridade de justiça e fazermos della o que nos prouuer . E que pera esto e
pera· todallas cousas conteudas em esta carta vos nõ valha nenhúu priui-
legio nem liberdade nem foro nem graça nem merçe que por vos possaes
allegar . Outrossi se comprir . vos dito Affonso annes e vossa molher e
herdeitos possaes ser citados e responderdes perante o ouuidor do dito
Mosteiro que ora he e perante os que ao deante_ forem sobre qualquer
demanda que vos por esto pollo dito Mosteiro for feita assi pollo principal
como pollo accessorio e per sua sentença ser feita execuçam em vossos
beens . E o dito Affonso annes em seu nome e da dita sua molher e her-
deiros tomou em si a dita herdade que lhe ora assi pollo dito senhor era
dada de sesmaria com todallas clausulas e condições sobreditas e se obrigou
as manter comprir e goardar como dito he sob as ditas penas que em
esta carta e em o dito pubrico stromento que o dito senhor e seu mosteiro
dello tem som conteudas sob obrigaçõ de todos seus beens que pera ello
obrigou . E nos dito dom Abbade per esta nossa carta vos metemos logo
de posse da dita terra como dito he . E em testemunho <lesto vos man-
damos dello ser feita esta nossa carta signada per nos e sellada do
nosso sello pendente . ffeita em o dito nosso Mosteiro oito dias de dezem-
bro .. joam vasquez a ffez . Anno do nacimento de nosso senhor jesu
christo . de Mª. ccccª xxxxvj . A qual carta assi mostrada e liuda per mim
taba1iam logo o dito Affonso anes que hi de presente staua dis que el por
si e em nome da dita Beatriz ro!z sua molher e herdeiros e descendentes
se obrigaua como de feito logo obrigou a comprir e manter em todo e
per todallas [clasulas] e condições e cada húúa dellas que em a dita
sua carta de sesmaria que lhe ora assi pollo dito senhor dom Abbade e seu
conuento nouamente era feita compridamente som conteudas e sob as
ditas penas E o dito Senhor dom Abbade em seu nome e do dito seu
conuento pidio a mim tabaliam que com o trellado da dita sua carta por
sua goarda e do dito seu Mosteiro lhe desse este stromento . testimunhas
Rui fernandez e siluestre steuez e joam affonso scolar e joam vaasquez
e Diego lourenço veedor do dito senhor dom Abbade e outros . E eu
sobredito tabaliam que este stromento per mandado e outorgamento elo
dito Affonso annes pera o dito Mosteiro screui em que meu sinal fiz que
tal he . /
Traslado em pública-forma.
45 - 1439 FEVEREIRO 6
195
carta for mostrada Saude Sabede que Nos querendo fazer graça e merçee
afonso uaasquez pacheco jenro do almjrante Teemos por bem e damo llo
em esa ujlla e seu termo por sísmeíro asj e pella gujsa que o era fernã
garçia de contreíras que se ora finou que elle de e posa dar de sesmaría
todollos beens asij herdades e vijnhas e pardeeíros e terras e quaees quer
outras que jouuerem em mortorío e se uãão a perdiçom e que nõ som
adubadas nem aproueitadas E mandamos que ante que elle de os dictos
beens de sesmaría que ell faça lançar pregoees e os [e]dictos em a dieta
villa e seu termo per quatro e çinquo dias que todos aquelles que trazem
e teem algúus beens ou herdades ou pardeeíros e vijnhas e casas deRiba-
das e outras terras que nõ seJam deRíbadas (sic) E outras terras que nõ
seJam aproueítadas que dhi a húu ano e húu día as uãão adubar e aprouei-
tar ou uender ou dar ou escanbar ou aRendar ou emprazar ou trocar e
fazer dellas dellas (sic) seu proueíto per gujsa que nenhúu nõ Reçeba
perda nem noJo nem dapno a taaes pessoas que as adubem e laurem e
aproueitem e defrujtem em tal gujssa que seJam lauradas e aproueítadas
como deuem e conprem E deuem seer E nõ as vijndo laurar nem aprouei-
tar nem correger ataa o dicto anno e día como dicto he que entom o
dicto afonso uaasquez de e possa dar de sesmaría aaquellas pesoas que
elle vjr e entender que as poderam bem adubar e aproueitar e correger
como compre e pobrar pella gujsa que foram e mjlhor se poderem com
tanto que as nõ dem saluo se for a pesoas leígas da nossa Jurdiçam e a
outras nõ que o façam em tal gujsa que nõ aja hi malíçia nem engano
E as pesoas a que forem dados os dietas beens de sesmaría os laurem
como dicto he E os aJam e pessuam e logrem pera todo senpre como sua
coussa propía e ysenta sem outro nenhúu embargo que lhe sobre ello seJa
posto por que nossa merçee e uontade he de lhe darmos o dieta carrego
e a outro nenhúu nõ como dicto he Vnde ai nõ façades dante em a çidade
de lixboa bj dias do mes de feuereiro EI Rej o mandou per afonso giraldez
e lujs martjnz seus uasallos e do seu desenbargo Rodrigo afonso a fez
Ano do nasçimento de nosso senhor Jhesu christo de mjll e iiijº trinta e
noue anos .
46 - 1443 FEVEREIRO 9
196
todo esto E outras cousas mais conpridamente ssom contheudas / a qual
uista per nos E querendo fazer graça e merçee a lourenço martjnz criado
de dom fernando nosso primo por sseer pera ello pertençente Teemos por
bem E damo llo em essa uílla E sseu termo por sesmeíro Ao quall per esta
carta mandamos que faça lançar pergam per a dieta vílla e sseu termo
que todos aquelles que traçem E teem algílus beens ou erdades na dieta
uílla E termo della que dy a hílu ano .E día as adubem laurem E aporueí-
tem E defurtem (sic) em tall guíssa que elles seJam corregídos laurados
E aproueítados e nom os uindo correger E laurar E aproueítar no dieto
ano e día como dicto he que entom o dieto lourenço martjnz sesmeíro
os possa dar de sesmaría aquellas pessoas que ell uír entender que as pode-
ram bem adubar E aproueítar E correger como conpre de gísa que ssejam
bem adubados E aproueitados E corregídos E porem lhe mandamos que
assy lhe conpra E guarde E faça conprir E guardar pella guísa que aquy
he contheudo ssem outro enbargo Em testemunho desto lhe mandamos
dar esta carta dada em a çídade deuora ix dias de feuereiro per auturidade
do Senhor Jfante dom pedro títor E curador do dicto Senhor rrey rregedor
E com Ajuda de deus defemsor por ell de sseus rregnos E Senhorio rro-
drigo annes a fez Ano de nosso Senhor jhesu christo de mjll e iiijº Rt! iij
anos Eu lopafonso secretario do dicto Senhor rrey que esta carta fíz es-
preuer E aquy soespreuy .
47 - 1443 FEVEREIRO 13
197
a húu ano e día as adubem laurem E aproueitem ou as uendam ou dem
ou escambem com taaes perssoas que as adubem Iaurem E aproueítem
Em tall guíssa que elles ssejam lauradores (sic) E aproueitados E nom as
uíndo laurar nem aproueítar no dicto ano e día como dicto he que entom
o dicto ssesmeíro as possa dar de sesmaría aaquellas perssoas que ell uír .
E emtender que as poderom bem adubar E aproueitar correger como con-
pre de guisa que sejam bem adubados E aproueitados E porem mandamos
o dicto sesmeíro que assy conpra E guarde E faca conprir E guardar ssem
outro embargo em testemunho <lesto uos mandamos dar esta carta dada
em a cidade deuora xiij dias de feuereiro per auturidade do dicto Senhor
Jfante dom pedro títor E <mrador do dicto Senhor rrey rregedor E com
ajuda de deus defemssor por ell de sseus rregnos E Senhorío rrodrigo annes
a fez Ano de nosso Senhor jhesu christo de mjll e iiijº Riij.
48 - 1443 JUNHO 15
198
ssem eniíçom desse Conçelho a quall vista per nos com çertas cartas
antijgas que forom postas em a dieta enqueríçom . / Em Rolaçom com
os do nosso dessenbargo Acordamos . / E Teemos por bem E confirma-
mos uollo o dieto joham garçía Em Essa villa e sseu termo por nosso
sesmeiro asi e pella guíssa que o era fernain garçia sseu padre que elle
de e possa dar de sesmaria todollos beens asy herdades E vinhas pardieíros
terras e quaees quer outras que jouuerem em mortoreo e sse uaao a
perdiçom e que nom ssom adubadas nem aproueítadas E mandamos que
antes que de os dictos beens de sesmaria que elle faça lançar pregõões
E Edictos em a dieta villa e sseu termo per quatro ou çinquo días que
todos aquelles que trazem E teem algúus beens ou herdades pardieiros
uínhas cassas derrybadas e outras terras que nom seiam aproueítadas que
dhi a húu anno e húu dya os váám adubar e aproueitar ou uender ou dar
ou escaíbar ou arrendar ou enprazar ou trocar e fazer delles sseu proueíto
per guissa que nenhúu nõ Reçeba perda nem noío nem dapno . / a taees
pessoas que as adubem e laurem e aproueítem e defrutem em tall
guíssa que sejam lauradas e aproueítadas como deuem e· conpre e deuem
sseer E nom as víndo laurar nem aprouejtar nem correger ataa o dieto
anno e dja como dicto he que entain o dicto joham garçía as de e posa
dar de sesmaria aaquellas pessoas que elle vír E entender que as poderom
bem adubar e aproueitar e correger como conpre e pobrar pella guissa
que forom e mjlhor sse poderem . com tanto que as nõ de saluo a pessoas
leigas e do nossa Jurisdíçom e a outras nom e que o faça em tall guíssa
que nom aJa hi malíçea nem engano e as pessoas a que forem dados os
dictos beens de sesmaría os laurem como dicto he / os aiam e posuyam
e logrem pera todo ssenpre como ssua coussa propía e Jsenta ssem outro
algúu enbargo que lhe ssobre ello seia posto porque nossa mercee e von-
tade he de lhe darmos o dicto encarrego e outro nhúu nõ como dicto he
Vnde al nom façades dante em lixboa xb dias de Junho El Rey o mandou
per o doutor joham beleaugua deam da guarda do sseu dessenbargo e
per luís martjnz sseu vassallo outrosy do seu dessenbargo e das petiçõões
Rodrigo afomso a fez anno de nosso Senhor Jhesu christo de mjll iiijº
e Riij anos .
49 - 1443 DEZEMBRO 21
199
ficados O quall erra per uossa enliçom e nosa confirmaçom ho qual se
borra finara e ho dicto Ofiçio f [i] cara a ese conçelho e porquanto hy
auja muitos beens deneficados de que hos omees nõ aujam prouejto e
porque fiando nos da bondade he discripçom daluaro gonçalluez criado
de gomez da sillua comendador que ho farria bem e como deue e como
conpre a nosso serujço e prouejto da terra o eelegiees por sesmeiro
pedindo nos por merçee que uo !lo confirmasemos por sesmejrro E nos
veendo ho que nos asy dizer he pedir enujastes E querrendo fazer graça
e merçee ao dicto aluara gonçalluez Teemos por bem E damo llo por
sesmejro asy he pella gisa que ho hy Erra O dicto esteueannes que ho
dicto hofiçio tijnha Ao qual nos mandamos que ho faça lançar en pregom
em esa ujlla he termo que todos aquelles que trrazem E teem alghúus
beens Ou erdades em esa ujlla Ou seu termo que dy a húu ano e húu
dia as uãão adubar he laurar aprouejtar Ou uender dar ou doar / ou
escanbar / a taaes pesoas que as adubem he laurem e aprouejtem e
deffrujtem em tall gisa que sejom laurados e aprouejtados per tal gujsa
e manejra que ajamos delles prouejto e nõ as ujndo laurar nem prouejtar
ao dicto ano e dia como dicto he ho dicto aluara gonçalluez as posa dar
de sesmarría aquellas pesoas que ujr e entender que as poderrom bem
adubar e aprouejtar e coreger como compre de gisa que ajamos dellas
prouejto Porrem uos mandamos que ho ajaaes hy por sesmejro he lhe
lejxaae do dicto hofiçio usar e auer as prõees e dirreitos que a ell pertençer
E lhe nõ uaades nem consentades hir contrra ello em nenhüa gujsa que
seja Vnde al nõ facades dada em a cjdade deuora xxj dias do mes de
dezembro Ell rej ho mandou per ho doutor Ruj gomez daluarenga seu
uasallo he do seu desenbargo E per ho doutor Jam belleaugua etc afomso
trigo a fez ano do senhor de mjll iiij° R•! iij anos
50-1444 MAIO 15
200
Daljubarrota huum mato que elles e o dito Mosteiro ham no termo da
dita villa hu chamam a rrybeyra do balurdo que parte con certas con-
frontações segundo todo mais compridamente he contheudo em húa carta
da dita doaçam que dello os sobreditos mandarom fazer ao dito mendo
affonso . A qual logo hi foy mostrada scripta em pergaminho assinada
pero o dito dom Abbade e seellada do seu seelo e do do conuento . da
qual carta o theor della he este que segue . Dom Steuã daguiar per a
prouidencia de nosso Senhor jesu christo Abbade do mosteiro Dalcobaça
do conselho del rrey e seu smoler moor e monges conuento del todos
juntamente em cabido pera esto chamados per campã tangida segundo
custume de nossa ordem fazemos saber a quantos esta carta de sesmaria
virem que meendo affonso nosso criado morador em a nossa villa Dalju-
barrota lugar do dito Mosteiro nos disse que em termo da dita villa nos
auiamos hüu mato maninho que he onde chamão a rrybeyra do Balurdo
que parte com ffernam martínz cubeyro de cima a fúndo e em fundo
faz chaue antre a vinha e pumar do dito ffernam martinz e parte com
caminho pubrico que vay pera bemposta e com oliual do bugalho e com
matos maninhos e com outros com que de dereyto deue partir . O qual
mato nos disse que auia quarenta annos e mays que jazia em brauio e que
nos nem o dito nosso Mosteiro nõ auiamos nem auemos nenhüu proueyto
delle . e que porquanto o dito mato assi era brauio e custoso de rromper
que se lho quisessemos aforar a dinheiro pollo direito das nouidades que
em elle ouuer se for aproueytado por cousa arrezoada que elle aprouey-
taria o dito mato e arromperia e aproueytaria de vinha e pumar e oliual
e do que lhe comprir . E nos dito dom Abbade e conuento por dello
sermos certos mandamos ver o dito mato per joham vasquez nosso
scudeyro e scriuã da nossa camara per o qual fomos certos que o dito
mato era tal como o dito Mendo afonso dezia e esso mesmo per o dito
ffernam martinz e per pedro annes da rua noua a que mandados dar
juramento aos euangelhos per o dito joham vasquez e vendo e consi-
rando o proueyto do dito nosso mosteiro e nosso e por o dito mato ser
aproueytado damos lhe o dito mato de sesmaria deste dia pera todo
sempre com todas suas entradas saidas e direy.tos e pertenças em esta
maneyra a ssaber em tres pessoas seendo elle dito mendo affonso a pri-
meyra e elle nomee a segunda e a segunda a terceyra . as quaes nõ sejam
de maior condiçã que o dito Mendo afonso . Sob tal preyto e condiçom
que elle dito Meendo afonso e pessoas arrompam o dito mato e o pran-
tem de boas prantas de vinha e pumar a oliual e terra de pam e do que
lhe comprir e for necessario . des a feytura da presente ataa dez annos
primeyros seguintes E o sobredito Mendo afonso e pessoas que empos
elle veerem podem empem leguem amergulhem cauem arrendem a dita
vinha despoys que assy for feita e prantada . e Jsso mesmo ho pumar e
oliual se o fizer e semeedes a terra de pam se a fizer Iaurara e semeara
feitas as sobreditas cousas e cada húa dellas a seus tempos e sazões e ao
tempo que lhe comprir e quada que lhe mester for arroto e prantado
o dito mato e feytas todas as sobreditas cousas aa custa e propria despesa
201
del dito Mendo afonso e pessoas em tal modo que nom pereça per mingoa
de bemfeytoria antes seja sempre vinha e pumar e oliual melhorado e nõ
pejorado . e polla nouidade da fruyta e vinho e azeyte e pam e das
outras cousas que deus em eile der em vida do dito Mendo afonso e pessoas
de que nos auiamos dauer nosso direyto segundo foro e custume da dita
villa e das vinhas e pumares lugares que acerca do dito stam . O dito
mendo affonso e pessoas que empos elle vierem dem e paguem a nos e
ao dito nosso Mosteiro em paz e em saluo dentro em elle em cada hüu
anno de pensõ por a dita nouidade que em cada hüu anno ouuerem sete
liuras antigas de quinhentas por hüa das que ora correm de trinta e
cinquo liuras o Real . e de foro em cada hüu anno hüu par de boas galinhas
recebondas pagadas dentro no dito nosso Mosteiro pagada a dita pensam
e foro por dia de natal . e se o sobredito Mendo afonso e pessoas nõ
arromperem e prantarem o dito mato ata os ditos dez annos como dito he
ou ho nõ cauarem podarem emparem amergulharem arrendarem e bem
corregerem o dito lugar pella guisa aqui declarado ou nõ pagando ou
non querendo pagar a dita pensam e foro polla maneyra ja dita . e por
o dito dia e em o dito Mosteiro como dito he . E Jsso mesmo se for
contra nossos direytos e seruiço em algüu modo que nos per nossa auto-
ridade sem outra figura de juízo lhe possamos tomar o dito logar com
todas as bemfeytorias que em elle fforem feytas e lançar uos dello fora
e fazermos delle o que nos aprouuer como de nossa cousa propria ficando
o dito Mendo afonso e pessoas sempre obrigados a nos pagar do nõ apro-
ueytado como do que o ffor des o dito tempo em diante per stimo do que
sobre ello mandarmos fazer e mais as custas e despesas e perdas e danos
que por ello fezermos e recebermos e com dez reais brancos da dita
moeda em cada hüu dia de pena em nome de interesse pagada dentro no
dito nosso mosteiro E porquanto assy o dito mato he custosso darromper
e nõ pode dar proueyto tam çedo fazendo lhe graça e merçe que nõ pague
delle nenhüa renda nem foro estes seis annos seguintes e acabados os
ditos seis annos que entam dem e paguem a nos e ao dito nosso mosteiro
a· dita pensão e foro por o dito dia e tempo ia decrarado e começara de
fazer a primeyra paga o natal que vinra no anno do nacimento de nosso
Senhor Jesu christo de M. cccc. lj annos. e dhy em diante em cada hüu
anuo por o dito dia em o dito Mosteiro como dito he e se o sobredito
Mendo afonso e pessoas nom pagarem a dita pensão e foro ou nõ apro-
ueytarem o dito Jogar ou nõ comprirem todas as sobreditas condições ou
cada hüa dellas que nos dito dom Abbade e conuento os possamos por
todo e por parte dello constranger e mandar penhorar per nossos homeens
por todo o que nos forem deuedores e theudos de pagar assi pello principal
como pello accessorio . E se per uentura nos aprouuer ante os demandar-
mos elle ou as pessoas em juizo por todo o que dito he ou per algüa
parte e por todo o que dello nacer ou decender que nos os demandemos
presente ho nosso ouuidor que ora he do dito nosso Mosteiro ou perante
outro qualquer que o for ao tempo que tal demanda ouuer e per sua
carta ou porteyro sejam e possam ser citados e presente el responder e
202
fazer de ssy comprimento de dereyto e per sentença ou sentenças do dito
ouuidor se faça obra e exucução nos beens del dito Mendo afonso e pessoas
onde quer que os ouuerem por todo aquello que o dito ouuidor contra
elles achar que som deuedores e obrigados sem o dito Mendo afonso e
pessoas se chamarem por ello forçados nem sbulhados a foro custume
ley do reino cartas de meerce del rrey Rainha Jffantes nem doutros algúus
que ajam seu poder geraes nem spiciaes que ora tenham nem ao diante
possam auer que todo lhe nom valha saluo manter e pagar e comprir
em todo e per todo esta carta segundo em ella he contheudo . Outrossy
o dito mendo afonso e pessoas que empos elle vierem nom ajam poder
de vender nem partir nem espadaçar nem obrigar nem per outra maneyra
em alhear o dito lugar (1) nem parte delle sem nosso mandado e outorga-
mento saluo sempre seer em húa pessoas das sobreditas que nos de e pague
a dita pensam e foro e se o venderem seja per nossa autoridade e a tal
pessoa que de e pague a nos o que suso dito he . e mais a quorentena do
preço por que for vendido e assy de quantas vezes o for e que nõ seja
pessoa mais poderosa que o dito Mendo afonso nem a dona caualleyro
nem a fidalgo a clerigo de igreja nem a judeu nem a mouro nem a outra
pessoa defessa em direito de que nos nom ajamos ou possamos auer o
nosso direito E contra estas cousas nom possam poer contenda nenhúa
saluo todavia comprir esta carta como em ella he contheudo E o dito
Mendo afonso e pessoas noro possam leyxar o dito lugar nero nos nõ lho
possamos tolher guardando os sobreditos todas as condições e decrarações
aqui contheudas e obrigamos os beens do dito Mosteiro a lhe defendermos
o dito lugar de quem quer que sobre ello quiser poer embargo . e ffindas
e acabadas as ditas tres pessoas per a guisa que o dito he que entam o
dito lagar fique aos herdeyros do dito Mendo afonso com as condições
deste contracto saluo que nom paguem do ·dito herdaroento outra pensam
nem foro somente em cada húu anno pagarem a nos e ao dito nosso
Mosteiro o quinto e dizimo ·do vinho ffruyta e azeyte e quarto de paro
que deus der em o dito lagar nos lugares acustumados segundo foro da
dita villa e eu sobredito Mendo affonsso por mim e por os sobreditos
tomo e recebo em miro e louuo e outorgo esta carta e me obrigo per
todos meus beens e seus assi mouees e raiz auudos e por auer a com-
prirmos e guardarmos e mantermos todos as sobreditas cousas e condições
e cada hüa dellas como em esta carta sam contheudas sob as penas sobre-
ditas em testemunho das quaes cousas nos sobredito dom Abbade e
conuento mandamos fazer aos sobreditos esta carta assinada per nos e
asseelada no nosso seelo e do dito conuento.. Da qual o theor a nos fica
em huum stromento pubrico feito per pedro alluarez tabaliam nos coutos
do dito Mosteiro . Dada em o dito nosso Mosteiro quinze dias do roes
dabril lopo ffernandez a ffez anno do nascimento de nosso Senhor Jesu
christo de M. cccc xliiijº. A qual carta assi apresentada e liuda presente
1
( ) Repetido; o dito logar.
Traslado em pública-forma.
51-1450 MAIO 29
204
deRibadas E terras que nõ sejam aproueitadas em a dieta aldea E seu
limjte que dhi ha hüu anno día as vaam adubar E laurar E aproueitar
ou uender ou dar escanbar ou aRendar ou emprazar E fazer dellas sua
proll ou as dem a taaes pessoas que as adubem E laurem E aproueitem
E defruitem em tall gujssa que ellas sejam lauradas E aproueitadas E nõ
as víjndo laurar ou aproueytar ou dar a fazer o que susso dicto he ao dicto
anno e dia que emtam uos as day de sesmaría aquellas pessoas que uo llas
pidirem E vos veerdes que as poderom bem laurar e aproueitar E correjer
as quaaes darees a pessoas leígas da nossa Jurdíçom E aquelles que asy
dadas forem E as aproueitarem ajam por suas pera sy E todollos seus
erdeiros que despos elles vjerem pera senpre E nõ as aproueitando aquellas
pessoas a que forem dadas do dia que lhes dadas forem ataa hüu anno
e dia uos mandamos que as dees a outros que as aproueitem e dubem ataa
o dicto tempo E as ajam como dicto he Em tall gujssa fazee que nõ ande
hi maliçia nem engano senõ seede bem çertos que a uos nos tornaremos
E uo llo estranharemos grauemente segundo o casso Requerer . / porem
uos mandamos que compraeees asy esta carta sem a ello poeerdes outro
algüu embargo porquanto aueemos asy por nosso seruiço E proll da nossa
terra all nõ façades dada na nossa çidade deuora xxix dias do mes de mayo
el Rey o mamdou per os doutores Ruy gomes daluerenga e pero lobato
seus uassallos e do seu desenbargo e petiçõees afonso annes a fez anno do
naçimento de nosso Senhor jhesu christo de mjll e iiij° ltª annos .
52 - 1451 MAIO 13
205
E corregerem E aproueitarem e que sse adubadas e aproueitadas forem
que nom rreceberia nehúu per ellas nojo nem perda e que nehúu nom as
houssa de tomar ssem nosso mandado e que nos pedia por . merçee que
lhe ouuessemos a ello rremedio e lhe dessemos nossa carta . pera vos que
as fizessees dar de ssesmarias de guísa que nehúu . nom rreçebesse per
ellas dapno e a terra fosse aproueitada . E Nos uendo o que nos pedía
Teemos por bem e mamdamos a cada hüs de uos em sseu julgado que logo
vísta esta . carta façaaes lançar . pregooes E hedictos per esses lugares
e per os conçelhos e praças delles e per os lugares e termos E comarcas
em que mandamos que sseus donnos dos dictos pardieíros cassas derribadas
vinhas herdades e herdamentos que assy ssom mortos E jazem em matos
que as uenham adubar e aproueitar e correger e laurar e aproueitar . e
emprazar . ou aforar ou uender . ou . fazer dellas ssua proll de guissa
que nehüu nom rreçeba . per ellas perda nem dapno nem nojo . E nom
víjdo fazer o que dicto he . do día que os dictos pregooes E edictos forem
lançados ataa . húu anno conprido . / vos daae . de ssesmaria . os dictos
pardieiros cassas deRibadas vinhas e herdades que asy jazem mortas e
nom ssom adubadas aaquelles que uo lias pedirem que as quiserem
Iaurar . e aproueitar . e adubar . e correger como lhe conprir e fizer
mester com tanto que as nõ dem saaluo sse forem a pessoas leígas e da
nosa jurdicom e a outros nom e em tal guissa o fazee que sseja todo fecto
verdadeiramente e como sse . deua fazer e que nõ aja hi . malíçía . nem
engano sse nõ ssede bem çertos que a vos Nos tornaremos por ello e uo
llo estranharemos grauemente dada em almeirím xiij dias de mayo gonçalo
de moura . a fez anno de noso Senhor de mjl . iiij° Ij.
53 -1451 MAIO 16
206
he pedido E Porem ·mandamos a uos sobredictos que assy lhe leixees teer e
serujr o dicto ofiçio E auer os djreitos e percalços que a elle perteençem
assy e pella guissa que o tijnha e seruja o dicto luis lopes sseu padre / por-
quanto assy he nossa merçee Sem outro algúu enbargo que a ello
ponhaaes / dada em almeirim xvj dias de mayo martim aluarez a fez
ano de nosso Senhor jhesu christo de mjl iiijº Lj. Ruj galuã a fez estpre-
~ ct~ '
54-1452 ABRIL 29
BlfJUOTECA
sesmaría a quem os aproueitem como dieta he porem uos mandamos
que lhe compraees E guardes E faze comprir E guardar bem E conpri-
damente como em esta nossa carta e na hordenaçõ fecta a carta desta
he contheudo Unde al nom façades dada Em a çidade de lixboa xxix dias
do mes dabril E El Rey o mandou per o doutor beleauga dayom da guarda
do seu desenbargo nom sendo hy o doutor lopo vasquez seu conpanhom
Rodrigo affomso anno do naçimento de nosso Senhor jhesu christo
E iiij° Lij annos .
55 -1453 ABRIL 3
208
56 - 1453 AGOSTO 30
57 - 1454 AGOSTO 26
Dom afomso etc A todollos Juizes e Justíças dos nosos Reignos
a que desto o conheçimento perteemceer per quall quer guisa que seja
a que esta carta for mostrada Saude sabede que Johã afonso escudeiro
E noso vasallo morador em esa villa (1) nos emuyou dizer que em o dicto
loguo sse dauam de sesmarias per dous sesmeiros que hy eram postos
cada anno pello comçelho . Nom o teemdo nehúu per nosa carta II o
qual ofiçio E a dada delle pertemtençia (sic) a nos de o darmos a quem
nosa merçee fosse E que porem nos pidia por merçee que o proueesemos
do dicto offício II E Nos veemdo o que nos assi dizer E pidír emuyou II
E comfiamdo no dicto Johã afomso que o fara bem e como deue II Teemo
(sic) por bem 11 E damo lho por sesmeíro em essa villa e thermo que
possa dar de sesmarias aas pesoas que elle vir E emtemder que as milhor
e maís çedo laurarom e aproueítarom . I ao qual Joham affomso nos
mamdamos que ante que elle de os dictos beens de sesmaria que mande
lancar pregõões E edictos por quatro ou . b . dias em esa villa e nas
villas e comarcas daRedor que aquelles cujos os dictos beens forem E a
quem de djreito pertençem que ata húu anno os vaao laurar E adubar
E aproueitar ou os vendam ou enprazem ou aRendem ou os dem de foro
a pesoas que os laurem E aproueitem E corregam E nõ o fazendo elles
asi ataa o dicto tempo mandamos que o dicto Johã afomso os de e posa
dar de sesmaria a quaees quer persoas que elle entender que milhor e
mais cedo os posam laurar E adubar E aproueitar e pouorar pella guissa
que forom E asi melhor poderem fazer E que as persoas a que forem
dados os dictos beens de sesmaria os laurem Como dicto he E os aJam
e pesuam E logrem pera todo Senpre como sua cousa propria E ysenta
Sem outro nhúu embargo que lhe sobrello seja posto E em testemunho
<lesto lhe mandamos dar esta nosa carta dada em lixboa xxbj dias do mes
dagosto El Rej o mandou per o doutor João beleaugua dayã da guarda
E pello doutor lopo vaaz de serpa seu vasalo anbos do seu desembargo e
das petiçõões gregorío por bras afonso a fez Ano de mjl iiij° Liiij.
58 - 1455 FEVEREIRO 27
Dom afonso etc A uos corregedor por nos na comarca dantre teJo
e hudeana E aos Juizes da villa das alcaçouas saude sabede que nos que-
rendo fazer graça e merçee a Lourenço martjnz Criado e escudeiro de
dom fernando nosso primo que deus aJa Teemos por bem E damo llo em
essa villa e sseu termo por sesmeiro Ao quall mandamos que faça lançar
pregom per a dieta villa e termo que todos aquel!es que trazem e teem
algfius beens ou herdades no dieta villa e termo della que dhi a húu anno
e dia as dubem E laurem E aproueitem E defructem em tall guissa que
ellas sseJam corregidas e lauradas E aproueitadas E nõ as vijndo correger
1
( ) O diploma que antecede esta carta refere-se a Gomes Gonçalves, morador
em Setúbal.
210
e laurar e aproueitar no dieta anno e dia como dieta he que entam o dieta
lourenço martjnz sesmeiro as possa dar de sesmaria aquellas perssoas que
elle vijr E entender que as poderam bem aproueitar adubar e correger
como conpre de guissa que seJam bem adubadas e corregidas E aprouei-
tadas E porem mandamos a uos sobredictas Justiças E a uos dieta Lourenço
martinz que conpraes E guardees esta carta como em ella he contheudo
Sem lhe poerem nhúu enbarguo dada em lixboa a xxbij dias de feuereiro
fernã Roiz a fez ano de nosso Senhor de mjll iiijº Lb.
59-1455 SETEMBRO 12
211
olliuaaes ortas pumares casas pardieiros nem parecerem a aproueitar
E continuar segundo dicto he Mandamos que ho dicto diogo da silueira
ou o sseu almoxarife as possa dar por foros ou trebutos aguisados E man-
damos que as de a taaes pessoas que as façam adubar e aproueitar muy
bem E dem ao dicto diogo da silueira E a todos sseus herdeiros e ssoçces-
sores que despos ell veerem todos sseus djreitos e foros e tributos em cada
húu anno E all nom façades . dante em a nossa villa de santarem a xij
de ssetenbro El Rej o mandou per diogo dafomsseca lleçeençeado em lex
que ora per sseu espiçíal mandado tem carrego da correiçom da ssua corte
diogo llopez por vasco ferrnandez a fez ano de nosso Senhor jhesu christo
de mjl e iiij° Lb e por quamto aqui nom era o nosso sseello pendente
mandamos asseellar esta carta com o nosso sseello da puridade.
60 -1456-MARÇO 10
212
x dias do mes de março El Rej o mandou pelo doutor lopo vaaz de serpa
e gomez lourenço sobre dictos João de víla rreal a fez Anno de nosso
Senhor Jhesu christo de mjl iiijº Lbj.
61 - 1456 MAIO 20
A villa de Torres nouas carta per que foy mandado aaquelles que
olíuaaes vínhas e herdades moynhos e casas tíjnham em mortoríios os
aproueytassem afforassem ou vemdessem E nam o fazemdo . que o com-
tador e almoxarife ho podessem dar a quem o fezesse .
NOs el Rey fazemos saber a quamtos este aluaraa virem que a nos
he dito que em a nossa villa de torres nouas e termo della ha muytos
olíuaaes e vinhas herdades moynhos casas desaproueytadas em tall guysa
que nos nom avemos nenhúüas rremdas nem dereytos nenhúus das ditas
cousas nem seus donos porquamto jazem daníficadas e desaprouyetadas
como dito he . por a quall cousa nos rreçebemos gram perda e dampno .
E queremdo nos tornar a ello . mandamos ao nosso comtador em a dita
comarca e a quall quer outro nosso offiçiall a que esto perteençer e ao
nosso almoxarife em a dita villa que visto este ponha aluaraes deditos per
essa terra e per as comarquas darredor della , E apregoar per essa villa
e montes della e que mandees da nossa parte que seus donos dos ditos
olíuaaes vínhas herdades moynhos e casas que jazem em mortorios e daní-
ficados que os adubem e aproueytem e corregam ou emprazem ou aforem
ou vemdam em tall guysa que façam delles sua proll e nom jaçam em
mortorios e danificados como jazem e nos ajamos as rremdas e dereytos
delles . E nom vymdo elles fazer ho que dito he do dia dos ditos pregõões
e carta deditos que forem lamçados atee seys meses acabados . vos day
os ditos olíuaaes vinhas e herdades muynhos e casas que assy jouuerem
em mortorios e danyficados aaquelles que uo llos pydyrem e quíserem
proueytar e adubar e correger como lhe comprír e fezer mester . damdo
os a pessoas leyguas e da nossa jurdiçam que sempre como ataa ora fezes-
tes e dello tinhees mandado da Raynha minha molher cuja alma deus
aja . fecto em carnyde vímte dias de mayo . affonsso pirez ho fez anno
de nosso senhor jhesu christo de míll e iiij° Lvj annos
62 - 1456 JUNHO 7
Dom afomso etc Jtem carta de aluaro martjnz da costa noso vasalo
e vezínho e morador em castel da ujde per que o damos por sesmeíro da
dieta vílla e sseu termo asi e pela gísa que o elle atee aqui foy e ora ajnda
he per autoridade do dicto Conçelho etc. carta de sesmeíro em forma
dada em lixboa bij dias de Junho El Rej o mandou pello sobredicto doutor
lopo vaaz e gomez lourenço etc fílípafonso a fez anno de mjl iiijc Lbj .
63-1456 JUNHO 20
Dom afomso etc A quamtos esta carta vírem fazemos saber que
em as cortes que ora fezemos em a nossa müy nobre e ssenpre leall çidade
de líxboa nos foram apresentados çertos capítollos per [r] pero fernandez
procurador da vílla daaueíro dalgüüas cousas que aa dieta vílla pertençiam
os quaees per nos ao pee de cada hüu mandamos poer nosa Reposta
segundo sse adeamte segue . / /
( ............................................................... )
214
64 - 1456 JUNHO 22
65 -1457 JANEIRO 12
A Dom afomso etc a uos Joham Roiz homem comtador nos almo-
xarifados de coimbra e aueiro e a gomçalleannes nosso almoxarife em
penella e escpriuãees de nossos ofiçios e aos que hy depois uíerem por
nossos comtadores e almoxarifes escpriuãees e a outros quãees quer que
esto ouuerem de ver e esta nossa carta for mostrada saude sabede que da
parte daluaro moreira morador na leípa termo da dita villa de penella
nos foy apresemtado hum pruuico estormento feito e asinado per luís
afomso nosso taballiam em a dita vylla aos xxb do mes dagosto do anno
pasado de iiij< Lb pollo qual amtre as outras cousas se mostraua como
per o dito aluaro moreira foy Requerido a uos dito almoxarife que lhe
<leseis de sesmaria húu chãão que Jaz em mato e monte brauyo açíma
dalbarrel com ho bagual que foy de gil gomçaluez que parte do abreguo
com souto de sam miguel e com souto de pedro afomso taballiam e
emtesta com sesmaria de brras e soãão pella portella e vinha de uaqueiro
e com sesmaria de gomçalleannes filho de Joham pequeno e com gom-
çalleannes seu Jemrro e aguiam pella carreira que vem da Regouga cami-
nho de penella e como se vãão a emcruzilhada da portella hu se estrema
o caminho que vay pera casaleitam e vertemte lomba a fumdo a uinha
morta de gomçallo ferrnandez e como parte pello Ribeiro com souto afora
a eramça de sam Jorje e de sam miguel e que uos dito almoxarife fezestes
poer hüu aluara na praça pera ver se lhe saya algüu dono e que esteue asy
215
preguado quinze dias e mais e que pesoa algiiiia lhe nam saira por dono
e que uisto per uos como lhe nam saya dono ao dito luguar que asy o
dito aluaro moreira pedia e jazia em mato e monte brauyo que nam
sabem cuJo he outorguastes ao dito aluara moreira de sesmaria per suas
comfromtações e deuisõees sobreditas pera elle e sua molher e todos seus
soçessores e herdeiros  Pedimdo nos ho dito aluaro de moreyra que lhe
outorguassemos e conffirmassemos a dita sesmaria A E nos visto o dito
estormento e seu Requerimento E queremdo lhe fazer graça e merçe .
 Teemos por bem e lho outorguamos confirmamos o dito lugar de ses-
maria asy e pella guisa que lhe a ell foy dado per uos dito almoxarife
com tamto que elle dito aluaro moreira e seus herdeiros e sua molher e
soçessores que depos elle uierem nos dem e paguem em cada hiiu anno
aquelles direitos que por semelhamtes luguares paguam e nos deuem seer
paguos no dito loguo E porem uos mandamos que lho leixes teer lograr e
aproueitar o dito luguar e aver delles suas nouidades paguamdo a nos nos-
sos direitos segumdo a nos pertemçe . os aver commo dito he e uos dito
almoxarife fazey Registar em cada hiiu anno em ho dito liuro do almoxa-
rifado por se saber como o dito luguar temos dado ao dito aluaro moreira
pella guisa que dito he e uos serdes auisado pera em cada hiiu anno
Recadardes pera nos os ditos direitos que delles deuamos dauer sem outro
algiiu embarguo que lhe ssobre ello ponhãees em nenhiiiia maneira que
seia dada em lixboa a xij dias de Janeiro El Rey ho mandou per lopo dal-
meida do seu comselho e veedor de sua fazemda Joham afomso a fez
anno de mil iiijº lbij annos .
66 - 1459 FEVEREIRO 20
216
hy ouuesse pessoas que dello carrego teuessem pera as dar . E que nos
pedies por merçee que por se fazer como devia e sem afeyçam . vos desse-
mos nossa carta e auctoridade pera os Juyzes que ora eram ou ao diante
fossem per que podessem dar as ditas sesmarias a pessoas que as aprouey-
tassem laurassem e fruitassem . E nos visto vosso Requerímento e a dieta
vossa carta . e como o dicto vosso Requerimento nos pareçe seer bõo e
honesto .. E fundado sobre boa tençam e prol commúu . E honrra e pro-
beyto dessa villa . Teemos por bem e queremos e mandamos que os
Juyzes que ora sam e ao diante forem em essa villa sejam sesmeyros . e
dem has sesmarias segundo que as dam os sesmeyros de nossos Regnnos
e naquellas pessoas que as tomar e aprobeytar qujserem . e nos lugares
que as nos mandamos dar . os quaes jujzes que as asy derem guardem
a hordenaçam e Regra e Regimento e solemnjdades de direito que manda-
mos teer e guardar aos outros sesmeyros dos dictos nossos Regnnos ante
que as dietas sesmarias dem nom as dando nos lugares que ora per nos he
declarado . que as nom dem comprindo o vos asy . sem outro algúu em-
bargo que a ello ponhaes em nenhüüa gujsa que seja . e al nom façades .
dada em a nossa çidade deuora a xx . dias do mes de feuereyro . El Rey
o mando (sic) pello doutor lopo vaaz de serpa caualeyro de sua casa e do
seu desembargo e pitiçõões . Joham de villa Real a fez . anno do naçi-
mento de nosso Senhor Jhesu christo de mjl e iiijº . lix. annos. A qual
carta nos praz lhe asy confirmarmos se dello agora estam em posse . e asy
mandamos que se cumpra .
67 - 1459 JUNHO 23
Dom afonso etc a quantos esta carta virem fazemos saber que em
as cortes que ora fezemos em a nossa çidade de lixboa per aluaro lourenço
E rruy gomez procuradores de torres nouas nos forom dados çertos capi-
tollos E ao pee de cada hüu lhe mandamos poer nossa rresposta segundo
sse segue.
( ............................................................ )
217
soas tomem dello estormento com rresposta do ofiçial que lho faz E aue-
ram sobre ello proujmento .
( ............................................................ )
68 - 1459 JUNHO 25
Dom affonso etc A quamtos esta carta virem fazemos saber que
estamdo ora Nos em a nosa muj nobre E senpre leall çidade de lixbõa em
as cortes que em ella fezemos per lopo ffernandez fraíom E johã gomez
procuradores de trancoso Nos foram dados çertos capitollos E ao pee de
218
cada híiu delles lhe mandamos poer nosa rresposta segundo se adiamte
segue.
( ............................................................ )
Item Senhor temos per noso huso e custume per tamto e tamto Re-
motoo E longoo tempo que a memoria dos homens nõ he em comtraíro
E ajnda segundo a desposiçom do djreito cumun ja Nos he tornado em
foro de en esta villa nõ serem ajuizados os ffectos das sesmarias saluo
peramte os juízes hordenaíros ora Senhor estamdo Nos Em esta posse
vijmos híia enouaçõ a quall nunca aqui vymos que híiu escudeiro a que
chamam Joham apemteado que se agora pera aca veo morar traz híia
vossa leterra por que no llo daees por juíz Em esta vílla das dietas sesma-
rias E asy em termo della E sse esta merçee lhe fazees por elle hijr com
a uossa Senhoria na tomada dalcaçer no que sentijmos mujto grande agrauo
por mujtas rrazoes espressas que nos a ello mouem a primeira por rronpy-
mento de nossas lyberdades husos custumes E a segunda porque esta terra
he mujto pobre e mesteírossa e mujtos nom teem tam perfeítamente
guisado pera rrepaírar seus bens E se os elles nom podem correger ficam
asy e bem seus herdeíros e corregen os e todauja vyuem no seu pratijmo-
njo E se se loguo ouuesse de conprir a hordenaçõ das sesmarias de mujtos
perderiom sua legytijma contra rrezom e comtra djreito porque em tall
lugar nõ se deue tall hordenaçõ conprjr / /
A esto rrespondemos que se per ordenamça antijga se nõ derom
sesmarias en este lugar que se nõ deem E o juíz que dado pera ello he
auemo llo por escusado E mandamos que o nõ seja e se se deue per direito
ou hordenaçõ dar nos praz que as deem os juízes hordenaíros que pollos
tempos fforem os quaees os façam direitamente e sem algua saíoría senã
sejam çertos que lhes sera grauemente estranhado //
( ... ... ... . . . . . . . . . ... .. . ... . .. . . . .. . .. . ... .. . . . . ... ... ... ... )
DOm affonso etc . A quantos esta carta uirem fazemos saber . que
estando hora nos em a nossa muy nobre e leal cidade de lixboa . em as
Cortes que hora em ella fezemos . pellos procuradores da nossa cidade de
silues nos foram dados certos capitolos ao pee de cada hüu deles lhe man-
damos poer nossa Reposta segumdo se adiante segue .
( ............................................................ )
.6. Jtem outrossi Senhor sabera a uossa mercee . que em este uosso
Regno estam muytas terras e edjfficios e hortas e uinhas e pumares que
ja foram matos e mortoríos e estam todos em perdiçam . E alguus deles
som da jgreja e outros de mouros e nom os querem proueitar nem com-
sentir que se dem de sesmarias assi como se dam a elles as terras que
foram e sam dos christããos . seja uossa mercee que pois elles pedem e
ham das terras que foram e sam dos christããos por estarem em matos assi
mandees que nos dem as suas se aproueitadas nom forem segunda uossa
hordenacom . .6. A esto Respondemos que nos apraz .
( ... ... ... ... ... .. . ... ... .. . ... ... ... ... ... ... .. . .. . .. . ... ... )
.6. pedíndo nos por mercee hos ditos procuradores por parte do díto
Comcelho que por quanto se emtemdiam daJudar destes capítollos lhos
mamdassemos dar em esta nossa carta com nossas Repostas . E nos uísto
seu Requerimento a nos prouue dello e lhos mamdamos assi dar . porem
mamdamos ao ouujdor e Comtador Jujzes e Justíças e a quaaes quer
outras pessoas a que esto perteencer . que lhe cumpram e guardem as
dítas nossas Repostas assi e tam comprídamemte como em ellas he com-
theudo por que assi he nossa mercee . dada em a díta cidade de líxbõa
xxbj . dias do mes de junho . El Rey ho mandou per fernam da silueíra
seu Coudel moor que hora per seu espícíal mandado tem carrego des-
cpriuam de sua purídade . fernã vicente a ffez . anno de nosso Senhor
ihesu christo de míl iiij° lix .
70-1459 JULHO 26
220
que aos tres dias demande as armas e penas dellas se emtenda do dia que
o maleficio for cometido . E outros capitolos a que he proujdo per
Repostas .
DOm affonsso etc A quantos esta carta uirem fazemos saber . que
nas Cortes que hora fezemos em esta nossa nobre e sempre leal cidade de
lixboa per lourenço aabul procurador da uilla de portalegre nos foram
apresentados certos capitolos . os quaaes uistos per nos . ao pee de cada
hüu mandamos poer nossas Repostas segundo se adiante segue .
( ... ... )
221
71-1459 JULHO 28
Dom afonso per graça etc A quantos esta carta virem fazemos saber
que estando nos em (') esta çidade de lixboa em as cortes que em ella feze-
mos . per aluaro gonçallvez E aluaro Roiz procuradores de pinhell nos
forom dados certos capitollos E ao pee de cada huum delles lhe mamda-
mos poer nossas Repostas segundo adiamte segue I
( ............................................................ )
E quamto ao que dizees que a uos he dicto que húu Joham apenteado
criado do conde de mariaalua que he morador em trancoso ouue ora noua-
mente nossa carta de Juiz sesmeiro em esa villa de pinhell e seu termo .
E em trancoso e em outros lugarees em o que vos era ffecto agrauo E que
em tenpo del Rey dom Joham nosso avoo ouue guerra com castella veujam
soomente no arreuallde da dieta villa quinhentos homees e mais E que ora
na villa nem No arreualde viuem pouco majs de ij° E esto por a destruiçom
da guerra E que depoes desto algúas pesoas com cobiça pediram ao dicto
Rey ese Julgado de sesmarias E os moradorees da dieta villa e termo se
agrauam dello ao dicto Rey E elle consirando os grandes trabalhos que
pasados tijnham por estarem na frontaria lhes deu sua carta per que nom
ouuese outro Juiz de sesmarias saluo os Juízes ordenaríos da dieta villa os
quaaes senpre husarom dello atee ora E que pois que teendes a carta do
dicto Rej meu avoo I e confirmada per el Rej meu Senhor e padre que
deus aJa E per nos que nos pedijs que nos mantenhamos vosas cartas
E priujlegios e liberdades mandando ao dicto Joham apenteado que nom
que nom (sic) huse majs do dicto ofiçio .111
A esto Respondemos que podem [sic] bem a Nos praz de lho ou-
torgar 11
( ............................................................ )
222
72- 1461 NOVEMBRO 26
DOm affonso etc.. A quamtos esta carta uirem fazemos saber . que
ho doutor meestre afonso madeira nosso físico moor . nos apresentou
hüüa carta da sesmaría fecta em publíca forma . da qual o theor he este
de uerbo a uerbo . à Saíbham os que esta carta de sesmaria uirem que
aos cínquo dias doutubro do nascimento de nosso Senhor ihesu christo
de míl iiij< lxj annos . Em tauíra na praça . estando hij pero lopez da
franca sesmeíro per carta del Rey nosso senhor em a dita uilla perante
elle . Em presença de mym taballíam e das testemunhas sobestpritas . pa-
receo lujs madeira escudeiro morador em a dieta uilla . e amostrou huum
aluara fecto per mym taballiam e asígnado per o dito pero lopez e per
joham garcia de comtreiras caualleiro e sesmeiro . do qual o theor tal
he . à a. porteíro e pregoeiro do Concelho de tauíra joham garcia de
comtreiras caualleiro e pero lopez da franca sesmeíros per carta dei Rey
nosso Senhor em a dita uílla e seu termo uos mandamos que tragaaes em
preguam per a díta uilla e praças della se ha hij algüüa pessoa ou pessoas
que tenham dereíto em algüus chããos que saro no aRaualde daallem da
ponte desta uílla . assim como partem e díz da . esquína da casa que foi de
gomez lourenço pamdozes . e hora a tem antam lopez pescador atee em
direito des esquina de ffora do meirínho atee dar no esteíro . e emtrar
no Ryo quanto poder . Em tal guisa que fique Rua de seruídam . antre
hos uízínhos da dita Rua e as casas que se ham de fazer dos chããos que
hora pedem uenham no dizer . se nam sejam certos que o daremos de
sesmaría ao doutor mestre afonso madeíra ffísiquo moor del Rey que no
llo emuíou pedir pera em elles fazer hüüas casas de morada . E porque
nos soomos em conhecímento que ffectas as casas no díto lugar . nom
faz nojo ao Ryo . maís ante lhe faz proueito . por tanto nos praz de
lho darmos . ffecto em tauira xbj. dias de Junho luys fernamdez taba-
Iíam o ffez . Era de iiijc lxj à amostrado assí o dieta aluara per o dito lujs
madeíra em nome do dito doutor mestre affonso seu Jrmãão . per elle
foy díto ao díto pero lopez por aqui nom seer o dito Joham garcia seu
companham elle fezera trazer em pregam os dítos chããos . per esteuam
afonso porteíro do concelho da díta uílla que no presente estaua certos
meses . que porem pedía ao dito sesmeíro . que lhe mandasse fazer a
carta dos ditos chããos . E o dito sesmeiro uísto seu dizer fez pregunta
ao dicto porteiro se trouxera elle em pregam os ditos chããos e se lhe dis-
sera algüüa pessoa se tijnhà algüum dereito em elles . E o dito porteiro
disse e deu dessi fee . que da feítura do dito aluara . atee ora . elle
trouuera os ditos chããos em preguam per a dieta uilla e praças della . e
que nom achara nemhüüa pessoa que díssesse que em elle tijnha dereíto .
E uisto per o dito sesmeiro todo com a ffee do dicto porteiro . e de como
223
he seruiço de deus e del Rey e bem da terra hos chããos seerem fectos e
aproueítados em casas deu de sesmaría os dictos chããos ao dito doutor .
segundo saro deujsados suso estpritos . os quaaes lhe deu . com tal Con-
diçam que este anno prímeíro seguínte que uem comece de obrar em elles
de ffazer .. bemfectoria . e nom cesse atee que os tenha aproueitados em
casas .. e que possa deles e em elles fazer todo aquello que lhe prouuer
como de sua cousa propia e Jsenta e corporal possissam Real e autual . e
per esta carta lhe deu loguo posse dos ditos chããos . que per uirtude della
ele per si ou per quem lhaprouuer sem outra algúíla auctoridade sua nem
de justiça . os possa tomar e Reteer e pessuir . E o dito luis madeira em
nome do dito doutor seu jrmãão . aceptou a dita sesmaria e se obrigou per
seus beens de os aproueitar milhar . pella guisa que dito he . e pedia
dello hiíüa e mais cartas . E o dieta sesmeiro lha mamdou dar . teste-
munhas joham lourenço e lujs eannes e gil da costa e outros E eu lujs
fernamdez publico tabaliã del Rey em a dita uilla que esta escpreuy sob
meu signal fiz que tal he . E pidy nos o dito doutor mestre affonso que
lhe comfirmassemos a dita sesmaria como em o dito estormento he com-
theudo . E uisto nos seu Requerimento e querendo lhe fazer graça e
mercee . Teemos por bem e conffirmamos lha assi e pella guisa que no
dito estormento faz mençam . E porem mandamos aos jujzes e offiçiaaes
da dita uilla . assi aos que agora saro como ao diante forem . e a outros
quaees qúer jujzes e justiças officiaaes e pessoas que esto ouuerem de
ueer que lhe cumpram e guardem e façom bem comprir e guardar em
todo esta nossa carta de comffirmaçam e lhe non uãão nem comsentam
hir comtra ella em maneira algiíiía porque assi he nossa mercee . dada em
a nossa uilla de torres nouas . xxbj . dias de nouembro .. bertholameu
affonso a ffez anno de nosso Senhor ihesu christo de mil e iiij" lxj.
73 - 1464 JUNHO 26
224
danaficados pera os aproueítar E o dito nosso primo ao pee do dito
capítollo Respomdeo que vos allmoxarife e estpriuam lhe mandassees dizer
quejandos eram pera lhe seer dada prouyssam E em esto o dito nosso
primo sse partío . E por vos allmoxarife e estpriuam Resydentemente
vos emformastes per çerta jmquíriçam que presemte nos emuyastes açerca
dello de testemunhas amtíjgas e de bõa fama . Em a quall sse mostrou
aveer çímquoemta annos estes moynhos nom moerem desllapidados E pera
sse darem de sesmaria segumdo per vosso assynado vymos Requeremdo
nos o dito fernamdafomsso que lhos mandassemos dar de sesmaria per
nossa carta pera os aproueitar e fazer moentes e correntes / . E vemdo
nos sseu Requjrímento e vossa dílígemçía que em ello fizestes . queremdo
lhe fazer graça e merçe . Li. Temos por bem e damos lhe os ditos moynhos
de sesmaría segumdo per nossa hordenaçam he husado em nossos Regnnos
pera elle e pera todos sseus herdeíros e soçessores / . Porem vos man-
damos que segumdo vosso custume o metaaes de posse delles pera os
fazer e aproueitar e aveer e pessuír como coussa sua propía de que lhe
fezemos merçe / . E mandamos a vos Justiças que o mantenhaaes em
a dita posse obramdo elle em fazer o dito moynho e o manter segumdo
nossa hordenaçam sobre ello feita decrara segumdo custume dessa terra
e o que per nos e per os Reix damte nos he outorgado aos Sennhores
que da dita terra foram persuydores E o que per elles açerca dello tem
em a dita terra mandamdo sobre as sesmarias ssem lhe sser em ello posto
embarguo allgüu e ali nom façades / . Damte em a nossa vílla delluas
a xxbj . de junho díeguo lopez a fez anno de nosso Sennhor jhesu christo
de mjll iiij• lxíííj ..
74 - 1464 NOVEMBRO 2
75-1464NOVEMBRO 10
Dom afonso etc Jtem outra tall como esta açíma stprita . de luís
aiuarez scudeiro de frey paayo correa caualeiro da hordem de sã Johã
comendador doleiros e morador em a uilla daluor / per que o dam por
ssesmeíro em a dieta villa e seu termo Sem enbargo de o atee ora hi nõ
teer nhúúa perssoa per nosa carta o qual possa dar de ssesmaría todallas
herdades e beens e matos manjnhos que nõ forem aproueitados etc carta
em forma dada em castel branco dez dias do mes de Nouenbro El Rej
o mandou pollo doutor pero da silua do seu desembargo e das pitiçõões
fernã gonçalvez a fez ano de nosso Senhor Jhesu christo de mjl iiij°
Lxiiijº . (1)
76 - 1464 DEZEMBRO 6
226
comcelho do Redomdo andauam em letígyo sobre os termos a quall dos
ditos comcelhos pertemcya a dita terra maninha E posto que elle Reque-
resse aos sesmeíros da dita vylla do rredomdo e a elles prouuesse de lha
darem lhe fora posta pena pellos juizes e officiãees da dita ujlla destremoz
que nom tirasse carta dos ditos sesmeyros ataa nam ser termínado a
quall dos ditos comcelhos pertemçya e que per bem dello cessaua de fazer
algilüa bemfeytorya que assy vomtade tinha de fazer segundo Ja começado
tinha E que porem nos pedya por merce que por se nom perder o que
feyto tinha e elle acrecemtar em ella lhe dessemos nossa carta per que
elle podesse ter lograr e pessuir a dita terra de sesmarya e aproueytar e
fazer em ella como em sua cousa propia e auer os fruytos nouos e
rremdas della E nos uísto seu dizer e pedir e queremdo lhe fazer graça
e merçe Teemos por bem e damos lhe a dita terra manínha de sesmarya
e que elle a aja e possa auer lograr e pessuir e auer os fruytos nouos e
rremdas della como dito he per aquellas demarcaçõees que lhamte desto
os ditos sesmeíros da díta ujlla do rredomdo dauom E Porem nos man-
damos que sem embarguo dos ditos comcelhos assy andarem em com-
temda sobre ello lhe leíxees assy teer a dita terra de sesmarya pella guisa
que dito he sem lhe poerdes a ello outro algilu embarguo em nhilua guisa
que seja porquamto assy he nossa merce e all nom façades dada em
estremoz bj dias do mes de dezembro El Rey ho mandou per ho doutor
pero da silua do seu desembarguo e das petiçõees gomez fernamdez por
fernam gomçaluez a fez anno de nosso Senhor Jhesu christo de mjll e
iiij° lxiiijº.
77-1465 SETEMBRO 2
DOm Afomsso e etc A quantos esta nossa carta vírem fazemos saber
que em as cortes que ora fezemos em a nossa leall Cidade da guarda per
fernam dalluarez da syllueíra e mem louremço procuradores da nossa villa
de portalegre que a ellas mandamos víjr . Nos foram dados certos Capitol-
los espíçíaaes E ao pee de cada hilu nos lhes demos nossa Reposta dos
quaees o theor com nossas Repostas dalgüus he este que sse segue A Sen-
nhor estamdo vossa allteza em a vossa villa destremoz o dito Comçelho
emuyou pedir aa vossa Sennhoria per sseus procuradores porquamto esta
villa tem hüiia mata que he muyto proueitossa aos moradores della homde
colhem paaos pera suas vínhas E a queímauam e danyfícauam caçadores
227
que nella caçauam que vos pediam por merçe que vossa Sennhoria lhe
prouesse sobre ello com Remedio / . E visto que vos seu Requírímento lhe
destes a ello prouíssam e Remedio . E agora Sennhor em vez de a dita mata
sser guardada vosso sesmeíro a da de sesmaria o que Senhor em vida vossa
nom sse acha que de sesmaría sse desse nem a Rezãão nom ho comssemte
sseer dada por seer tam proueytossa aos moradores da dita vílla porque
homde ssoyamos achar os paaos a legoa e a legoa e mea o mais e duas
legoas . e agora os nom podem aveer em nhúúa maneíra ssoomente com
muy gram trabalho por híj nom aveer outro lugar homde os vãão
colher / . Por que pedímos a vossa Sennhoría que mandees que o dito
sesmeíro nom dee taaes sesmarías na dita mata E as que tem dadas que
sejam nhüüas e de nhüu vigor . A Nos praz que as sesmarias que ssam
dadas e aproueitadas ou Roçadas que sse nom bula com ellas E as que
ssam dadas de demtro da mata e nom aproueítadas . mandamos que nom
valha tall dada / . E daquy em diamte sse nom dem mais / .
( . . . ... . . . . . . ... .. . .. . .. . .. . ... ... ... ... ... ... ... .. . .. . ... ... )
A Pidímdo nos por merçe os ditos procuradores por parte da dita
villa que lhe mandassemos dar hii.üa nossa carta com ho theor dos ditos
Capitollos com nossa Reposta porque lhe eram neçessarios e sse emtem-
diam delles dajudar . E visto seu pedír lha mandamos dar segumdo dito
he / .. E Porem mandamos a todallas nossas justíças e pessoas a que
pertemçer que lha cumpram e façam comprir e guardar segumdo em. ella
he comtheudo sem outro embarguo . dada em a dita Çidade da guarda
dous días de setembro . dieguo gomçalluez a fez anno do naçímento de
nosso Sennhor Jhesu christo de mjll iiij° lxb . E eu duarte galluam secre-
tario do dito Sennhor Rey . a fiz espreuer
78 - 1465 SETEMBRO 4
Düm Afomsso e etc A quamtos esta carta virem fazemos saber que
em as cortes que ora fezemos em a nossa leall Çidade da guarda que per
os procuradores da nossa leall villa de monte moor o nouo que a ellas
mandamos víjr . Nos foram dados çertos Capitollos espiçíaaes E ao pee
de cada hii.u nos demos nossa Reposta dos quaaes dallgúus delles o theor
com nossa Reposta he este que sse segue .
( . .. . .. .. . ... . .. ... . . . .. . . . . ... ... .. . ... ... ... ... ... ... ... ... )
A Jtem Senhor algüus homeens pedem em esta villa e seu termo
allgüúas terras de sesmaría que jazem amtre lauradores. E tamto que as
assy pedem aquelle que tem carguo de as dar lhas da e comfirma per suas
228
cartas . nom mandamdo ao que lhas assy pede que primeiramente amte
de tall dada fazer . lhe çite todos os vezynhos lauradores que com a dita
terra partem . E desto se segue húu gramde dapnno . porquamto aRedor
da terra que assy he perdida víuem çimquo e seis lauradores que partem
com ella E por assy a dita terra estar valdia ham lograramento (sic) todos
jumtamente della E dal!güüas augoas que sse açerta de ter a dita terra
E assy dos pastos e todo o outro logramento E assy a dita terra he rrepaíro
dos çímquo ou sseis lauradores que aRedor della víuem por causa de cada
hüu delles ou os maís nam terem outra aguoa sse nam a que na dita
terra podia estar . ou nom tem tamta abastamça de terra pera pasto e
mantem sse assy todos nella emquamto estaa balldía . E por tall dada sse
assy fazer a dita terra que assy he dada sse couta toda como sse pouora ..
E os outros lauradores que deRador vyuem sse nam podem soportar tamto
que lhe a dita terra he defessa . dos logramentos que amte tíjnham e sse
danífiçam por esta caussa parte delles ou todos Assy que por hüu cassa!
que sse nouamente faz pollas sesmarías sse perdem dous ou tres . e ajmda
he hüu azo porque amdam em gramdes demandas hüus com os outros e
sse despemdem muytos dinheiros sobre este caso Allegamdo este jmcom-
ueníente o que no começo da dita dada sse pode bem prouer e Remediar
com direito . Seja vossa merçe que quamdo sse terras pedírem de sesmaría
que Ja fazem (sic) amtre os lauradores nos matos sse nam possam dar per
aquelle que o dito carreguo teem ssoomente mandando primeíro ao que
lhe tall sesmaría pedír que çite todollos vezínhos com que a dita terra
partír que a tempo comuínhauell venham alegar sse teem allgüúa Razam
lídíma a sse a dita terra nom dar . A qual Razam que assi derem seja
na camara peramte os juízes e ofiçíaaes e per elle detremynada sse he
de Reçeber ou nam . Esse achado for que sse deuem de dar que emtam
o díto juiz das sesmarias a dee e lha vaa demarcar e apeegar. E nom sse
fazendo nesta maneira . que toda dada que per elle for dada ssem sse
fazer a dita Çitaçã e sse desembargar pellos ditos juízes e ofíçíaaes na dita
camara . seja nhüüa E ysso mesmo qu·e se sse terras algüüas amtre as
vínhas ouuerem de dar que sse nom deem sse nam pera víjnhas e doutra
guíssa nom valha sua dada porque assi o semtímos por proueito comüu
e em ello nos farees Sennhor merçe / . A A Nos praz e mamdamos que
assy sse faça daquy em diamte E se sse doutra guíssa der que nom valha
a dada da dita sesmaria . A Pedímdo nos os ditos procuradores por parte
da dita villa que lhe mandassemos dar nossa carta com o theor dos ditos
capitollos com nossa Reposta porque lhe eram neçessarios e sse emtemdíam
delles dajudar . E visto seu pedir lha mandamos dar como dito he .
E porem mandamos a todallas justíças e pessoas a que pertemçer que lha
cumpram e façam comprir e guardar segumdo nella he comtheudo ssem
outro embarguo . dada na guarda íííj . dias de setembro . dieguo gom-
çalluez a fez anno de nosso Sennhor jhesu christo de mjll iiijº lxv.
229
79 -1466 JULHO 4
Dom afomso etc A quamtos esta carta vírem fazemos saber que os
caualeiros fidalgos e escudeiros juízes vereadores procurador Concelho
e homens boons da nossa villa de tauíra Nos estpreuerom per sua carta
como johã garçía de comtreíras caualeiro se finara ora da ujda deste
mundo O quall tijnha o ofíçío de sesmeíro em ella e fícaua ora vaguo
per sua morte E porquamto elles conheçiam por muy bõõa pessoa garçia
de valldees caualeiro seu filho e tall em que o dicto ofíçio bem cabíja
E sabíría muy bem serujr elles e enlegyam pera ello pydindo nos por
merçee que per nosa carta lho quisesemos confirmar E visto sseu rreque-
rímento E querendo lhe nos fazer graça e merçee ao dicto garçia de
valldees que o fara bem e como conpre a noso seruiço e bem da terra
Teemos por bem e damo lho por sesmeiro em a dieta villa e seu termo
asy e pella guisa como ho era o dicto Johã garçia de contreíras seu padre
E o foram os outros amte elle etc carta em forma dada em euora xxij
dias de setembro El Rej o mandou per dom Johã galuã bispo de cojnbra
stpriuam da sua paridade lopo ferrnandez a fez anno de mjl iiijc lxbj.
81 - 1466 OUTUBRO 16
Dom afomso etc Jtem carta dafomso de guymaraes Teemos por bem
e damo llo por sesmeíro da cidade de silues e sseu termo asy como ho
Era vicente martjnz que sse fynou E esto fazemos assy ao dicto afomso
de guymaraes a rrequerimento do Conçelho e homeens boons da dieta
çidade segundo vymos hüa ssua carta etc carta em forma dada em
hodemíra xbj dias doytubro etc lopo fenandez a fez . ano do nasçimento
de nosso Senhor Jhesu cristo de mjl e iiijc lxbj .
82 - 1466 DEZEMBRO 16
a dom afonso etc a quamtos esta nossa carta virem fazemos ssaber
que a nos diseram que em a nossa villa dalljgrete nã auja ssesmeíro que
o dicto ofiçío teuesse per nossa carta asy como os ha em outras villas
e lluguares de nossos rregnos e os dictos ofiçíos teem per nossas cartas e
ora queremdo nos fazer graça e merçee a pedro taauares fidalgo e caua-
leiro de nossa cassa / teemos por bem e damo llo por ssesmeiro em a
dieta villa dalljgrete e sseu termo o quall mandamos que tamto que for
em posse do dicto ofíçío faça llamçar preguooes pella dieta villa e
termo / deila que todos aquelles que hí beens teuerem e os ora nam
aproueítam que dhi a hum anno e dia os venham adubar e aproueetar
ou vender ou dar ou trocar e escambar com taaes perssoas que os dubem
e aproueetem e passado o dicto tenpo dano e dia nã os víjmdo aproueitar
emtam os dee de sesmaría a taaes perssoas que os adubem e aproveetem
e correguam como compre E este edicto e preguom sse entenda açerca
dos beens de que for em conhoçimento que ssom manjnhos e donos nam
ssouber e daquelles beens que for em conheçimento que donos teem per
sua carta os mande rrequerer que os mamde adubar e aproueítar ou
vemder ou dar como dicto he do dia que rrequerídos forem a húu anno
e dia E passado o dicto termo Sendo elle çertefícado por estpritura ppro-
blica como rrequeridos foram e elles nã veem aproueitar per [si] ou per
outrem sseus beens que entam o dicto ssesmeíro os dee de sesmaría a quem
os aproueite como dicto he e mandamos aos juizes vereadores pprocurador
comçelho e homeens boons da dieta vílla e a outros quaees quer a que esto
pertençer e esta nossa carta for mostrada que ajam daquy avante o dieto
pero taauares por sesmeiro como dieto he e o lleíxem seruír e hussar do
dicto ofiçio e auer todallas rrendas proes que ao dieto ofíçio djreitamente
pertemçem ssem outro allgúu embargo o quall pero taauares jurou em
a nossa chancelaría aos ssantos avamgelhos que bem e djreitamente obre
do dicto offíçío e cumpra e guarde nosso seruíço e as hordenaçooes açerca
desto fectas e ao pouo sseu djreito e all nõ facades I dada em a nossa
çidade deuora xbj dias de dezembro el rrey o mandou pellos doutores
pero da síllva e johã teixeira ambos do sseu dessembargo e petiçõoes /
fernã gonçallvez a ffez anno de noso Senhor jhesu christo de mjll iüjº
lxbj . 11
(Chanc. de D. João II, Liv. 24, fl. 65. Por ementa, Chanc. de
D. Afonso V, Liv. 35, fl. 12 v. º)
83 - 1467 DEZEMBRO 10
232
por bem e dou de sesmaria ou nouamente esta terra com ho dieto cuma-
gral cauadura dos dietos dez homens que aja deste dia pera todo sem-
pre . pera dello e ello fazer todo o que lhe aprouuer como de sua cousa
propria Com todas suas emtradas saydas e direitos e percalços como ho
auia em uida do . Senhor jnfante meu padre que deus tem . E melhor
se com dereito melhor poder auer . Sem sobre ello seer posta outra
duuida nem embargo algúu porque asy he minha mercee que o aja liure-
mente segundo suso declarado he per esta mínha carta que lhe mando
que a uaa ou mande aseellar aa minha chancallaria . Da dada della a hüu
anno . e nõ a hyndo ou mandar asy aseellar esta carta lhe nom ualha.
E fazendo o asy como lhe per mjm he mandado em todo e per todo lhe
seja goardada e comprída como se em ella contem . ho Senhor jnfante
lhe deu asy per ho dieto goncallo fernandez seu sesmeyro . que foy feita
em essa uilla de couilhãa . dez dias do mes de dezembro . Aluaro martinz
escripuam do dicto officio a fez Ano da era do nacimento de nosso Senhor
jesu christo de mil e iiijc lxbij Annos..
84 - 1471 JANEIRO 28
Dom afonso etc A quantos esta carta virem fazemos saber que con-
fíamdo nos da bomdade e destcriçam de lopo vaaz de castello branco
fidalgo de nosa casa que o fara bem e como compre a nosso serujço e ben
da terra E querendo lhe fazer graça e merçee Temos por bem e damos
lhe poder pera dar de sesmarias os pinhaes e terras que em· baldío juuerem
em termo da villa de chutuche ·e donos lhe nom souberem aaquellas
pesoas que lhes pedirem pera as auerem daproueítar E porem mandamos
a todallas nosas justiças e aos jujzes da dieta villa de curuche e a outros
quaes quer ofíçíaes e pesoas que esto ouuerem de veer que ajam o dicto
lopo vããz per ssesmeiro / / das dietas ssesmarias da dieta villa e outro
algüu nom e lhe leixem dar os dietos pinhaes e terras de ssesmarias a
quem quer que lhos asy pidir pera as auerem de aproueítar ssem lhe
poerem sobrello embargo algüu e as persoas a que asy der os pinhaes e
terras aueram suas cartas as quaes lhe seram dadas ssegundo custumam
de fazer o quall lopo vããz jurou em a nossa chamcelaria aos samtos
auangelhos etc dada em a dieta vila de curuche xxbiijº dias de janeíro
lopo ferrnandez a fez anno de nosso Senhor jhesu christo de mjll e iiijc
lxxj. E praz nos que as posa dar a mea legoa de curuche posto que sseja
termo de samtarem pero que asy he nosa merçee /
233
85 - 1471 FEVEREIRO 8
Dom afonso etc A quantos esta carta virem fazemos saber que frey
fernã correa comendador de santa vera cruz nos Enuyou dizer que nas
ssuas terras da dita hordem saro e jazem mujtas terras vijnhas e herdades
cassas e pardieiros e beens em pediçom e sse vãão de todo a perder por
nõ teerem quem os aproueitem nem adubem do que a nos E a elles sse
rrecreçia gramde perda dos djreitos que dellas poderíamos auer / pedjmdo
nos por merçee que lhe dessemas licença e lugar que as podesse dar de
sesmaria a quem as aproueitassem E nos vemdo o que nos asy dizer e
pedir enujou e queremdo lhe fazer graça e merçee Teemos por bem e
damos lhe licença e lugar que elle de e possa dar de sesmaria em todas
ssuas terras e da dieta hordem todallas herdades e pardieíros e vijnhas e
cassas e beens e terras que asi Jouuerem em perdiçom e mortorios e matos
e todallas outras que nõ forem aproueitadas E porem mandamos que ante
que asi der que faça lançar pregooes pellos Conçelhos e praças das villas
e lugares da comarqa darredor em que mande dizer aos donos dos dietas
pardieíros e cassas derribadas e vijnhas e herdades que asi Jazem em
mortorios que as venham adubar e aproueitar e correger e laurar ou
emprazar ou aforar ou vemder e fazerem dellas ssua proll per guissa que
nhiíu nõ Reçeba per elles perda noJo nem dampno e nõ vijndo ataa húu
ano e dia Mandamos que elle de a outros os dietos pardieiros e cassas
derribadas e vjnhas e herdades que asi Jazem mortas E em matos e nõ
saro adubadas aaquelles que as pedirem que as quiserem adubar e laurar
E aproueitar e correjer como lhe conpre e fezer mester / com tanto que
as nõ dem saluo sse for a perssoas leigas e da nossa jurdiçom E a outras
nõ E que o faça em tal guíssa que nom aja hi malíçia nem engano sse
nõ seja çerto que a elle nos tornaremos por ello e per sseus beens lhe
faremos todo correger E emendar e all nõ façades dada em a nossa villa
de santarem biijº dias de feuereiro pero Lourenço a fez anno do nasçí-
mento de nosso Senhor Jhesu christo de mjll iiijº lxxj .
86-1471 ABRIL 9
234
vos mandamos que daqui en deante o ajaees asi por sesmeiro e lhe leixees
dar as sesmarias e fazer o que a sseu cargo pertemçer E auer as proees
e percalços que lhe pertençem e deue auer assy como os tee qui ouue
e mjlhor E mais compridamente se o com djreito o poder fazer E auer
E a outro nehúú nam . / O quall Jurou em a nossa chamcelaria etc em
forma dada em santarem ix dias dabrill pedro aluarez a fez era mjl
iiij" lxxj ..
87 - 1472 MARÇO 19
Dom afomso etc a quantos estrcarta virem fazemos ssaber que con-
fiando nos da bondade de Rodrigeannes morador em a nossa villa de
castell da vide que o fara bem e como conpre a nosso seruiço e bem da
terra E querendo lhe ffazer graça e merçee Teemos por bem e damo llo
por ssesmeiro em a dieta villa assy e pella gujsa que o era Joham afomso
que o dicto ofiçio tijnha per nossa carta e ho rrenunçiou ssegundo sse
mostrou per húu estormento de rrenunçiaçom que pareçia seer ffecto e
asignado per Joham bello tabaliam em a villa de maruom aos omze dias
do mes de dezenbro de mjll e iiijº Lxxj annos E porem Mandamos a
todollos nossos Corregedores jujzes e Justiças e aos Juizes da dieta villa
de casstell da vide E a outros quaees quer ofiçiaes e perssoas que esto
ouuerem de veer que ajom o dicto Rodrigo annes por sesmeiro em a dieta
villa e outro algúu nõ e o leixem serujr e vssar do dicto ofiçio E auer
as proees e percalços delle que de djreitamente deue auer e ho auja o dicto
Joham afomso que ante elle foy o quall Jurou em a nossa chançelaria
ao ssantos avangelhos que bem e djreitamente husse do dicto ofiçio guar-
dando a nos nosso seruiço e ao pobboo sseu djreito o qual ofiçio lhe nos
asy damos apresentaçõ de vasco martjnz de mello do nosso consselho
e alcaide moor da dieta villa dada em a villa deluas xix dias do mes de
março lopo fferrnandez a ffez anno de nosso Senhor jhesu cristo de mjll
iiijº L'ª xxij.
88 - 1473 ABRIL 1
Dom afomso etc A vos juízes da ujlla dabramtes que ora ssõos e
ao diamte fordes Saude sabede nos queremdo fazer graça e merçee a fernã
lourenço escudeiro morador em essa ujlla por ssentirmos que he nosso
seruíço e bem da terra e dos moradores della Temos por bem e damo llo
em esa ujlla e sseu termo por sesmeíro porquamto nos disserom que o nõ
235
auja hi per nossa carta E porem lhe mandamos que faça lançar pregam
per esa ujlla e termo della que todos aquelles que hi bees tem e os nom
aproueitarem que dy a húu anno e húu dia os venham adubar e aproueitar
etc carta em forma dada em a nosa çidade deuora primeiro dia do roes
dabrill El Rey o mandou per os doutores pero da silua e joham teixeira
anhos do sseu dessenbargo e das pitiçoes pero aluarez a fez anno de noso
Senhor jhesu christo de mjll iiij° Ixxiij .
89 - 1473 ABRIL 20
Dom Afomso etc A quamtos esta carta vírem fazemos saber que
comfyamdo nos da bomdade e desquyryçom de vasco fernandez de gouuea
fydalguo / / de nossa cassa que o fara bem e como compre a nosso seruyço
E a bem da terra E porem o luguar / / de ualhelhas e seu termo nom
aver perssoa que per nossa carta tenha carego de dar as terras de matos
manynhos e de ssesmaryas / / E queremdo lhe fazer graça e merçee
Temos por bem E damos lhe careguo e luguar que elle possa daquy em
dyamte dar as dietas terras de matos manhynhos de sesmarya Aquellas
pessoas que lhas pydyam per as averem daproueytar E porem mandamos
a. todallas nossas Justyças E aos Juyzes do dicto loguo / / de ·ualelhas e a
outros quaees quer ofyçyaes E pessoas que esto ouuerem de ueer que
aJam o dicto· vasco fernandez de gouuea por sysmeyro de dar as terras
e matos manynhos / / do dicto Ioguo e seu termo e outro algúu nom o
quall Jurou Em a nossa chamcelaria aaos samtos auamgelhos que bem e
dereytamente husse do dicto ofyçyo guardamdo a nos nosso seruyco e ao
pouo seu dereyto dada em a nossa çydade deuora xx dias do roes dabryll
pero louremco a fez anno de nosso senhor Jesu (1) christo de mjll iiijº Ixxiij .
90 - 1473 JUNHO 16
236
dicto hofíçío tínha . II E uagou hora per sua morte . II E porem uos
mamdamos que ho aJaees daqui em díamte em essa vílla e seu termo por
sísmeiro E ho leíxees seruír E husar do dicto hofíçío em todo aquello
que a elle per bem de seu rregimento pertemçer E auer as prõees e per-
calços delle asy E pella guíssa que as auía E seruía ho dicto fernã lou-
remço . II nom lhe poemdo em ello embargo algúu . II o quall lopo
dalmeida Jurou em a nossa chamçelaría que bem e uerdadeiramente e
como deue hobre E husse do dicto hofíçío . II guardamdo em ello nossas
hordenaçõees e seu rregimento . II e nosso seruíço a nos E ao pouco
seu djreito . 11 E al nom façades dada em carníde a xbj días de
Junho . II El Rey ho mandou per Johã fferrnandez godínho bacharell
em leís e seu ouuídor que hora per seu mamdado tem carrego da correiçã
da sua corte . II afonso trigo a fez anno de nosso Senhor Jhesuu christo
de mjll e iiij° Lxxííj .
91 - 1474 FEVEREIRO 12
DOm Afomsso etc A quamtos esta vírem fazemos saber que a nos
disse dioguo gamçaluez laurador morador nas porcaríças nos disse que
a par do dicto lugar Jaz hüu manínho que nam he aproueítado nem ho
foy em nenhüu tenpo ho qual . Jaz na Ribeyra de bretonnell . e que
parte de hüüa parte com terra de garcia fernamdez seu cunhado e da
outra parte com gomçalleannes seu pay e des hij vay pera ho outeiro da
porta da trayçam . E que dally vay ao marco da barroca cegua e des
hij ao porto da cama . e pera cima do carualhoso ao cabeço alto ao
marco da cabra como vem e Retorna e dally pera ho porto da foz da
porcariça ho qual mato manínho Jaz brauyo sem ter nenhüu herdeiro
nem pessoa algüüa a que numca pertemcesse nem pertemça nem em elle
tenha direito algüu e por quamto elle tinha desejo e vontade de o Ronper
e aproueítar e laurar e fazer em elle mujta bemfeítoria nos pedia por
merce que lho dessemos de sesmaria E esto com emcarreguo de avermos
nos e nossos socessores pera sempre cada hüu anno ho oítauo do dicto
fruyto e cousas que em na dieta terra elle e seus herdeiros semearem e
colherem e ouuerem E porque seu Requerimento nos bõo e justo pareçeo
e seruiço de deus e nosso toda a terra brauya e manínha ser laurada e
aproueítada e queremdo lhe fazer graça e merce a uos lha damos e outor-
gamos ho deto manínho e terra brauja per todallas comfrontaçõees suso
contheudas limitada de sesmaria com ho dicto emcarreguo de oytauo
segumdo nos pedio E esto tam compridamente como a nos pertemça e
de direito lha possamos dar e se nossa dada nam faz perjuizo algüu her-
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deiro que nelle algüu direito tenha a quall lha damos e outorgamos pera
todo senpre pera elle e todollos seus socessores que delle decemderem que
a possam Ronper e aproueítar e fazer della todo ho que lhe prouuer e
semtir por seu proueyto como de cousa sua propria com ho dicto emcar-
reguo de oytauo como dicto he E per esta carta lhe damos autoridade e
poder que possa per sy tomar a posse do dito manínho e fazer em elle
todo seu proueyto a qual! por sua guarda lhe demos por nos asinada e
asellada do nosso sello dada na nossa Cidade deuora xij de feuereyro
EU Rey ho mandou per dom joham galuãão bispo de coínbra Comde
darganíl do seu comselho e escpriuam da sua poridade antam diaz a fez
anno de nosso Sennhor jhesu christo de mjll iiij° lxxíííj . /
92 - 1475 MARÇO 14
238
he custume e deuem de husar e obrar os outros couteiros da dieta comarca
sem outro embargue que lhe sobre ello seJa posto porquanto a nossa
merçee e voontade he delle teer por nos e auer a dieta sesmaría coutaria
pella guísa que dicto he e esto lhe fazemos por que nos mostrou outra
tal carta del Rej meu Senhor e padre que deus aJa / E Porem Mandamos
a todollos Corregedores Juízes e Justíças e aos Juízes da dieta villa de
mourã e a outros quaaes quer etc que aJam o dicto Rodrigeanes de vala-
dares por sesmeiro e couteiro em a dieta villa e seu termo e outro algüu
nam e auer as prooes proueitos e percalços delle que djreitamente delle
auer e auia o dicto Rodrigeanes e os outros que ante elle forem sem lhe
poerem sobre ello outro embargue algüu O qual Rodrigeanes Jurou em a
nossa chancelaria etc dada em euora a xiiij dias de março lopo ferrnandez
a fez Anno de míl iiijº lxxb (1)
93 - 1478 MARÇO 2
DOm Afomsso etc A quantos esta carta virem faço saber que Joham
de coymbra escudeiro criado do Jfante meu jrmãão que deus aja me
pedyo que lhe fezesse merçee de hüu pedaço de terra de sesmaria que he
na serra da mjnha villa de sintra des comtra ho mar de demtro das comar-
cas de cascaaes A quall parte per estas confrontaçõões que se adiante
seguem a saber partem de hüüa parte da portela da villa que he em çima
do vall de fradegas hindo polla ladeira da serra grande atrauees atee çima
das pedras estercadas e deçendo direyto a ellas e hindo per elas a fumdo
e per o espiguam da hurzeyra atee direyto domde se ajumtam as agoas
que vãão ter ha malueyra atrauessando o Ribeyro atee mea ladeyra da
sserra pera çima tornamdo pollo caminho das emfestas çarramdo na por-
tella da villa e com outras confrontaçõões com que de direito deuem partir
da quall terra o dito joham de coymbra disse que eu a tinha dada de ses-
marya a joham njcollas meu criado ja finado esto com condiçam que elle
a Ronpesse e aproueytasse e posesse em elas vinhas e pumares e fezesse
terras de pam e me paguasse de foro e penssam della húu Reall de prata
de vinte e quatro rreaes brancos de mjnha moeda ora corremte e. hüu par
de frangããos em cada húu anno fazendo a primeyra pagua per pascoa de
lxxix dizemdo o dito joham de cojnbra que porquanto o dito joham
239
njcollas nem outro por elle des ho dito tempo ate ora nam fezera nenhüüa
bemfeiturya nem jsso mesmo pagara o dito foro segumdo me em. todo era
obrigado e a dita terra estaua berma e manjnha em mato e feitãães e que
per bem de mjnhas hordenaçõões sobre tãães casos feitas eu podia dar a
dita terra de sesmaria a quem mjnha merçee fosse por o dito Johã njcollas
nam aproueytar a dita terra como dito he nem paguara o dito foro por
o quall cayra em comjsso Porem que me pedia que eu lhe fezesse merçee
da dita terra de sesmaria pera sempre pera elle e pera todos seus herdeiros
e sobçessores e deçendentes e açendentes que depos elle vierem per linha
direyta he eu visto seu dizer e pedir ante de lhe dar mjnha rreposta
scpreuij a christouam gonçaluez meu contador dalamquer que me scpre-
uesse e fezesse çerto como me a dita terra pertemçija em conprimento do
quall me ho dito contador emvjou o trelado da carta da merçee que eu
fiz ao dito joham njcollas que foy feita na mjnha fazenda a sete dias dou-
tubro de mjll iiij° lxbiijº em a quall carta sse continha as ditas confrom-
taçõões da dita terra e de como foram postas em o dito tempo por minha
parte tres cartas deditos a saber húúa nas portas da jgreja de sintra e
outra na jgreja de colares e outra na jgreja de cascaaes e que numca ne-
nhúüa pessoa sayra nem viera em o dito tempo contradizer a dita terra
nom ser minha em o dicto tempo isso mesmo me scpreueo per a dita carta
que a dita terra estaua em mato nem sse achaua que o dito joham nycolas
numca paguasse o dito foro e eu lhe podia dar a dita terra E ujsto todo
per mym auemdo Respeito aos serujços que o dito Joham de coynbra tem
feitos a my e ao dito meu Jrmãão e como o dito Joham njcolas numca li
atee ora fez nem hüúa bemfeituria em a dita terra nem Jsso mesmo me 1
pagou o dito foro como dito he como me era obriguado por o quall eu
posso dar a dita terra de sesmaria segumdo mjnhas hordenaçõões E que-
remdo fazer graça e merçee ao dito Joham de cojmbra e sentimdo assy
por meu serujço lhe faço merçee da dita terra de sesmaria com todalas
ditas confrontações pera sempre pera elle e pera todos seus herdeiros e
sobçessores açendemtes e desçendentes que vierem per linha direyta
per esta gujsa que elle dito Joham de coymbra e pessoas que depos elle
vierem me dem e paguem de foro e penssam da dita terra em cada húu
anno o dito Reall de prata e par de frangããos e elle começara de fazer
a primeyra pagua esta pascoa que vem de quatroçentos e setemta e oyto
annos e com estas condiçõões que se adiante seguem com comdiçã que
elle dito Joham de cojmbra e pessoas que depos elle vierem façam e po-
nham a dita terra em vinhas e pumares e a laurem de pam em gujsa que
de mato em que esta seia Renouada a todo o que dito he em gujsa que
sempre amde melhorada e narn pejorada . E acomteçendo sse de as ditas
vinhas e pumares depois de assy todo seer feito pereçerem per aguoa ou
per foguo ou terramotos ou per quall quer outro caso fortujto cuydado ou
nam cujdado que a ujr possa que elle dito Joham de coynbra e pessoas
que depos elle vierem sejam obriguadas de tornarem a fazer outra vez .
todo de nouo corno dito he e com condiçam que elle dito Joharn de coym-
bra e pessoas que depos elle vierem nam possam dar nem doar nem trocar
240
vemder escanbar nem em outra pessoa nem pessoas emalhear a dita terra
sem mynha liçemça . e se a vender qujser que ho faça primeiro saber ao
meu almoxarife do almoxarifado de sintra que ao dito tenpo for pera mo
fazer saber se a pera mym qujser tamto por tamto quanto outrem por
ella deer e nam a queremdo eu assy conprar e auemdo elle dito Joham
de cojmbra e pessoas que depos elle vierem auemdo meu comsentimento
a possam vender com todo seu foro e emcarguo e bemfeiturias a pessoa
ou pessoas que me paguem liuremente della a coremtena ou a penssam
nam seni.do dona nem fidalgo nem caualeyro nem escudeiro de lynha-
gem nem creriguo nam frade nem homem nem molher de Religiam nem
de hordem nem judeu nem mouro nem quall quer outra pessoa que o
djreito defende em tall gujsa que sempre a mym fique auer a dita terra
com sua bemfeiturya e possissõões e senhorio e djreito E aconteçendo de
a linhagem do dito Joham de coymbra de todo ser destinta e nam auer hy
quem a dita terra com djreito aja dauer que emtam fique liuremente com
todalas bemfeiturias melhoradas e nam pejoradas ha coroa dos meus Reg-
nos pera eu e meus sobçessores della fazermos o que nossa merçee for
e coni todalas outras clausolas e comdiçõões com que aforo e se custuma
aforar semelhantes foros e me pague em cada hiíu Anno a mym e a meus
sobçessores o dito Reall de prata de vinte e quatro rreaes brancos o Reall
e os ditos par de framgããos de foro em cada hiíu anno como dito he
A quall pagua faraa ao dito tempo e na maneira que dito he demtro em
a dita villa de simtra a meu almoxarife della segumdo ho paguam as outras
pessoas que mynhas eramças trazem . E porem mando ao dito almoxarife
e ao scpriuam do dito almoxarifado que ora sam e ao diante forem e a
quaes quer outros meus ofiçijaes e pessoas a que ho conheçimento desto
pertençer e esta mjnha carta for mostrada que metam loguo de posse da
dita terra ao dito joham de cojnbra e pessoas que depos elle vierem e lhe
leixem Iiuremente auer todalas noujdades de pam vinho fruytas e Rendas
e foros e quãães quer outras cousas que da dita terra aja dauer sem lhe
poerem sobre ello outro embarguo . O quall almoxarife fara Registar esta
minha carta em o liuro dos proprios do dito almoxarifado pera se em todo
tempo saber como de mym traz aforada a dita terra e sse aRecadar delle
e das dietas pessoas que depos elle vierem em cada hiíu anno o dito foro
e lhe cumpram e guardem e façam conprir e guardar esta minha carta
em todo e per todo como em ella he comtheudo e faz mençam e lhe nam
vam nem comsentam hir comtra ella em nenhiíiía maneyra que seja por-
que asy he mjnha merçee comprindo hiíus e outros assy sem outro ne-
mhúu embarguo . E por sua guarda e mjnha lembrança lhe mandey dar
esta mjnha carta per mym asinada e aselada do meu sello pendente . dada
em lixboa a duos dias do mes de março Bl rrey O mandou per dom Joham
dalmeida etc veedor de sua fazemda . Joham amdre a fez de mjl iiijº
lxxbiijº annos . /
DOm Afomsso etc A quantos esta mjnha carta virem faço saber que
esguardamdo eu ao mujto seruiço que tenho Reçebydo de pero borjes
fidalguo de mjnha casa e meu contador em a mjnha comarca dos almo-
xarifados de leiria e obidos assi nas partes dafrica como em castella e em
outras partes homde me senpre muy bem seruyo e queremdo lhe em algüa
parte galordoar como a mym cabe fazer aquelles que bem e leallmente
seruem como elle faz e jsso mesmo quamdo he proueito da terra e bem
do Regno ella ser aproueitada A Tenho por bem e lhe dou de sesmaria o
meu paull que estaa a sancta maria da virgem que he em termo da mjnha
villa dobidos conuem a saber des o começo da leuada do tomar dauguoa
do moinho que ora he de fernam vaz do Reguo que vem .. do bombarrall
açima domde tiram as moos tanto quamto sobe a dita leuada domde se
toma ha auguoa pera o dito moinho e assy como vem o dito paull a
emtestar ha ponte gramde da dita Sancta maria da virgem que atrauessa
do díto paul e assy da ponte pera fumdo ata emtestar na pomte da ficaria
que he Jumto com o paull que ora abrío dom Joham de noronha o qual
paull lhe eu assy dou de sesmaria emfatiota todo segumdo as demarcações
com que de djreito parte e deue de partir dancho e de lomguo tamto
quanto elle for e o dito pero borJes e seus herdeiros e ssobçessores me
paguaram de foro em cada hüu anno pello dito paull çem rreãães bram-
cos da moeda ora corremte ao quall pero borJes em sua vida me praz de
lhe fazer merçee como feito faço do dito foro e per seu faleçimento os
ditos seus herdeiros e sobçessores me paguram (sic) asy os ditos Çem
Reãães em cada húu anno ho quall foro lhe assy quito ao dito pero borJes
em sua vida porquamto eu vij o dito paull por uezes e sam çerto que em
memoria dos homeens nunca se vyo laurado nem aproueitado e elle pera
ho correger e laurar e abrir ha mester de fazer muita despesa primeiro que
delle possa auer proueyto . O quall paull o dito pero borJes possa assy
abrir e laurar e aproueitar e fazer em elle toda bemfeitoria que elle vijr
que he mais seu proueyto e o possa vender dar trocar escanbar e fazer
delle e em elle o que lhe aprouuer como de sua cousa propria e corporal
possissam porquamto eu lhe faço . delle pura Jnrreuogauell doaçam deste
dia pera todo senpre sem eu nem meus sobçessores em nemhüu tempo
podermos nelle ter nemhúu djreito porque daguora pera emtam tiro de
mym todo djreito e propriadade que nelle possa . teer ssoomente auerey
assy per faleçimento do dito pero borJes de hy em diante em cada hüu
anno de quall quer pessoa ou pessoas a que elle ficar e ao diamte ho teue-
rem e pessuirem os ditos çem rreãães de foro e mais nam e porem mando
ao almoxarife das Juguadas em a dita villa dobidos que varo ver o dito .
paull e o demarcar direitamente pelas ditas confrontaçõões ou per outras
com que de djreito deua de partir e meta em posse delle o dito pero borJes
242
E mando Jsso mesmo a martim gill prouedor contador aRemdador das
terras da dita Rainha e a quãães quer outros ofijçiaaes e pessoas a que
esta minha carta for mostrada e o conheçimento della pertençer que ora
sam e ao diante forem que aJam assy daquy em diante por seu do dito
pero borJes e sobçessores de depos elle vierem o dito paull e lhe leixem
ter auer lograr e pessujr e fazer delle e em elle o que lhe aprouuer pella
maneyra e comdiçõões ssuso ditas e o dito martim gill faça Registar esta
carta no lyuro dos meus proprios das terras da dita Rainha pera sse em
todo tempo saber como o dito pero borJes de mym traz o dito paull e per
seu falleçimento mandarem arrecadar delle o dito foro . O que huns e
outros assy cunpram e guardem e façam conprir todo e guardar em todo
esta mjnha carta segumdo em ella he contheudo sem outra duujda nem
embarguo que húus e outros a ello ponham porque assy he mjnha merçee
dada em lixboa dezoito e dias dabrill . Joham da fonsseca a fez de mjll
e quatroçentos e satemta e oyto annos Esto com tamto que da feitura
desta minha carta ello ho abra e aproueyte a quatro annos . II .
95 - 1478 MAIO 14
243
pente da marjnha per húu esteiro que say da pontinha mais do cabo comtra
aldea de pegas e asy se uay pello esteiro afumdo atee outro esteiro que
atrauessa pera ho Ryo comtra açenha que foy feita em villa noua e do
dito esteiro que vem da dita pontinha passa assy o dito esteiro que atra-
uessa e sse uay djreito ao Ryo que vay dalamquer he deujsado per marcos
que loguo mandey poer . e da parte de çima parte com estrada pubrica
que vay de lixboa pera santarem e da outra parte com esteiro que atra-
uessa e se uay da outra pontinha de çima e com terra e sesmaria de pero
lobo fidalguo da casa da Sennhora prinçesa a quall terra jaz assij em monte
manjnho per espaço de mujtos annos como dito he de gujsa que o dito
senhorio nam ha prol della polla quall Rezam chegou a mym o dito pero
lobo e me pedio que lhe desse a dita terra de sesmaria e que ha aprouei-
taria a dita terra . e eu lha dou e outorguo deste dia pera todo senpre
a todos seus herdeiros e sobçessores que depois dell vierem como parte
pollas ditas confrontaçõões com tall preito e condiçã que elle hadube e
faça pera paro e aproueite a dita terra e elle dito pero lobo e seus herdeiros
e sobçessores que depois delle vierem que a dita terra cobrarem dem e
paguem ao dito Sennhor Rey e aos que depois delles vierem que o dito
senhorio soçederem oyto alqueyres de triguo bõo e Reçebondo limpo de
paa e de vasoira em cada húu anno paguado por santa maria dagosto e
começara de fazer a primeira pagua do dito triguo por dia de sancta maria
dagosto que sera em a era de nosso Sennhor Jhesu christo de mjl ilijº
lxxix annos e di em diante fazer a dita pagua do dito triguo em cada húu
anno per o dito . dia como dito he . e Eu dito almoxarife per o poder
que tenho do dito Sennhor Rey per esta carta meto o. dito pero lobo em
posse e corporall possissam da dita terra e faça della e em ella como de
cousa sua propria e mando e outorguo que per sij mesmo e sem autoridade
de nemhüúa Justiça filhe a posse da dita terra e o dito almoxarife prome-
teo de nam hir escontra esto em parte nem em todo e obrigou os beens do
dito Sennhor a lhe manter e liurar e defender a dita terra de quãães que[r]
pessoas que lhe algüu embarguo qujserem poer sobre ella e em testemu-
nho dello lhe mandey dar esta carta asinada por mym e asselada com o
ssello do dito almoxarifado e peço ao dito Sennhor que lha confirme pella
gujsa que per mym he dada e per elle he mandado . ffeita em a dita villa
dalamquer a xxbij dias dabril fernam vããz scpriuam do dito almoxarifado
a fez anno de mjl iiW lxxbiij° . testemunhas que a todo foram presentes
aluaro gomez e Joham da Rocha homens do dito almoxarifado e outros
( ............................................................ )
Pedindo me o dito pero lobo por merçee que lha confirmasse e ouuesse
por confirmada ha dita carta de sesmaria asy e pella guisa e maneira e
condiçõões que em ella saro contheudas e Eu ujsto seu dizer e pedir e que-
remdo lhe fazer graça e merçee Tenho por bem e lhe confirmo e ey por
confirmada a dita carta de sesmaria assy e taro conpridamente como em
ella e em esta mjnha carta he contheudo E porem mando ao meu contador
dalamquer e a quãães quer outros meus ofiçiãães e pessoas a que esta
rnjnha carta for mostrada e o conheçimento della pertençer que ora sam
244
e ao diante forem que a cúnpram e guardem e façam em todo conprir. e
guardar segundo em ella he contheudo na maneyra sobredita sem outro
enbargo nemhüu que hüus nem outros a ello ponham porque assy he
mjnha merçee . dada em a nossa çidade de lixboa a xiiij dias do mes de
mayo . EI Rey o mandou per martim vããz de castellbranco fidalguo de
sua casa que orà tem carreguo de veedor · de sua fazenda per gonçallo
vããz seu pay . afonsso ssoeyro a fez . Anno de mjll iiij• lxxbiij .// .
96 - 1478 JUNHO 16
97 - 1478 NOVEMBRO 30
245
DOm Afonsso etc A quamtos esta minha carta . de confiimaçam
virem faço saber que da parte de dona felipa filha do jfante dom pedro
que deus aja minha muyto preçada e amada prima me foy apresentada
húa carta de sesmaria da qual o theor de verbo a verbo he este que se
ao diante segue .
A quamtos esta carta de sesmaria dada per mandado e autoridade
dei Rey nosso Senhor virem que no anno do nacimento de nosso Sennhor
Jhesu christo de mjl iiij° lxxbiijº annos xiij dias do mes de setenbro em a
uilla de torres vedras peramte gomez diaz almoxarife do dito Sennhor em
a dita uilla em presemça de mym escpriuam adiamte nomeado e das tes-
temunhas sob escpritas pareceo nuno . da costa escudeiro e tesoureiro da
Sennhora dona felipa filha do jfante dom pedro que deus aJa e apresen-
tou ao dito almoxarife húu aluara do dito Sennhor Rey per elle asinado
cujo theor de verbo a verbo he este que se ao diamte segue . .i:l El Rey
faço saber a uos gomez diaz meu almoxarife em torres vedras que vy
húúa carta que me escpreuestes e assy outra que me os officiaees e homens
boons escpreueram acerca do paul dos ameãees noteficando me como eu
mandey aos ereos do dito paul que o abrissem porque o eu queria mandar
abrir a minha custa e que elles o comtradisseram per bem do quall lhe
rnandey que logoo o abrissem senam que o mandaria dar de sesmaria e
que ha cimco annos que esto mandey e atee oJe nam fizeram no dito
pau! nenhúua bemfeitoria que nelle ha muitas eramças de desuairados
Senhorios cada húu pouca cousa a saber alcobaça sancta maria sam pedro
e santiago e outros muitos e ora dona felipa minha mujto preçada e
amada prima mo emuiou Requerer que lhe desse de sesmaria todo o dito
paul e assy como Começa da ponte de sancta maria do amecal como vay
agoas vertentes pera o dito paul ate o val de gaga e o dito valle aRyba
ate as cimalhas delles agoas vertentes pera o dito valle Resaluando algúúas
courellas que em ele sam aproueytadas e assy as aruores de fruito pera
todo meter em herdades de pam uinhas olyuãees e pumares e criaçam de
gados dizemdo que nam ousarees de dar tal sesmaria a menos de mo nam
fazerdes saber porque he muito seruiço de deus e meu e prol . dessa uilla
seria o dito paul e terras manynhas serem aproueitadas pedindo me que
uos mandasse a maneira que sobre ello tiuesseis E eu uos tenho em seruiço
de mo assy fazerdes saber e porque eu saro bem lenbrado que passou assy
como mo escpreuestes uos mando que loguo vades apeguaar e demarcar
o dito paul e terra que a dita minha prima pede de sesmaria e lhe fazee
delle vosa carta em forma a qual venha a mym pera lha confirmar por
quamto a mym praz fazer lhe merce aa dita minha prima do dito paul
e terras que jazem maninhas visto como lhe per mym foy mandado que as
aproueitassem e nam quiseram per este uos cometo poder e carrego que
costrangãees os ereos que tiuerem eramças aproueitadas ou canpos que
emtestem na valla do dito paul que abram quanto lhe couber e nam o
fazemdo loguo day as ditas eranças de sesmaria aa dita minha prima e lhe
asinay tenpo comuinhauel a que ella possa mandar abrir e aproueitar as
ditas terras o que assy comprir sem em ello poerdes outro enbargo em
246
maneira algüüa que seja por que assy he minha merce e o ey por meu
seruiço feito em euora a xxij dias dagosto vasco saraiua a fez anno de
mlj iiij° lxxbiij° E apresemtado assy o dito aluara como dyto he o dito
nuno da costa . Requereo ao dito almoxarife que o Comprisse e o dito
almoxarife em conprimento delle se foy logo comigo escpriuam e joham
afomsso homem do almoxarifado E o dito nuno da costa aapegar o dito
paul e terras e se posseram certos marcos e porquanto na dita demarcaçam
Recreceo algüüa duuida por hy· nam hir homem que soubesse determinar
como se entendiam as agoas vertentes o dito almoxarife disse que daua
como logo de feito deu o dito paul valle da gaga como vay aguoas verten-
tes per elles aa dita Sennhora . Contanto que ella meta o dito paul e terras
maninhas em herdades de pam vinhas e pumares e criaçõ de gados como
no dito aluara se contem da feitura desta carta a hüu anno e dia e por ella
ouue a dita Senhora por em posse Real autoal e corporal possissam do
dito paul e valle da gaga e terras maninhas Resaluando o que ora he
aproueytado e aruores de fruito a saber oliuãees e castanhãees e pinhãees
e assy outras aruores de fruito e todo o al ella aJa logre e pessua deste dia
pera todo sempre como sua cousa propria pera ella e todos seus herdeiros
que depos ela uierem . E quamto as vinhas e oliuaees o dito almoxarife
decrarou que daua a dita Sennhora tenpo pera os mandar fazer de quatro
annos E em testemunho de uerdade o dito mmo da costa em nome da dita
Senhora pedio ao dito almoxarife esta carta e o dito alÍnoxarife lha man-
dou dar e outorgou assy e mandou dar e asinou a nota della testemunhas
ho dito almoxarife e Ruy diaz taballiam e Joham de sintra escudeiro mo-
rador em a dita villa e aluareannes dourado morndor na disqueira e es-
teuam vicente morador nas lapas todo termo da dita villa e outros . e eu
fernam gil pruuico escpriuam do dito almoxarifado que esta carta de ses-
maria fiz e aquy meu sinal fiz que tal he â pedindo me por merce a dita
dona felipa que lhe comfirmasse a dita carta . de sesmaria asy como em
ella e em o aluara meu que lhe sobre ello dey aquy trelladado era con-
theudo E uisto per mym seu Requerimento e queremdo lhe fazer graça e
merce Tenho por bem . e lhe comfirmo e ey por comfirmado o dito paul
dos ameãees com suas terras e confrontaçõees e demarcaçõees assy e tam
conprydamente como· no dito aluara e em esta minha carta de comfirma-
çam he contheudo pella guisa e maneira sobre dita nam entramdo aquy
porem nesta comfirmaçam quãees quer beens de jgreja ou muisteiro que
no dito paul hy aja porquamto eu os nã posso dar de direito por assy
serem beens de jgrejas e esta confirmaçam lhe faço assy sem enbarguo
do aluara meu que ora pasey sobre a maneira que se auia de teer no abri-
mento e corregimento das terras que sam no dito paul E Porem mando
a martim gil comtador prouedor e aRendador moor das terras das Rainhas
e ao dito almoxarife de torres vedras e a quãees quer outros meus offi-
ciãees e pessoas a que esta minha carta for mostrada e o Conhecimento
della pertemcer que ora sam e ao diante forem que a cunpram e guardem
e façam comprir e guardar segumdo em ella he comtheudo ao qual martim
gil e almoxarife por esta mando que ha mandem assy meter em posse
247
do dito paul sem outro enbargo nem duujda que a ello ponham porque
assy he minha merce o qual martim gil mandara Registar esta minha
carta em os liuros dos proprios das ditas terras pera em todo tenpo se
saber como de mym traz o dito paul dada em euora xxx dias de nouenbro
EI Rey . o mandou per dom joham dalmeira etc veedor da sua fazemda
joham da fonseca a fez de mjl iiijº Ixxbiijº.
98 - 1481 AGOSTO 15
248
dada conprindo asy sem outra duujda porquanto asy he nosa merçee fecto
em beja quatro djas de julho afonso de baírros o fez anno de mjll ilijº
lxxxj E eu dieto almoxarife pello poder que tenho do dicto Senhor e visto
o dicto seu aluara e mandado E em como he tal perssoa que aproueytara
a dieta terra e a fara em quintaa como per elle dicto he Eu lhe dou a
dieta terra pellas dietas confrontaçõões em o dicto aluara do dicto Senhor
conteudas deste dja pera todo senpre E a todos seus herdeiros e soçesores
que depojs delles vierem como partem pollas dietas confrontaçõões e elle
dicto martim dorta E a todos seus herdeiros e soçesores que depojs delle
vierem que a dieta terra cobrarem dem e paguem ao dieto Senhor E aos
que depos elle víerem que o dicto Senhorio soçederem o dicto trebuto de
setenta e húu rreaes Em cada húu anno / E eu dicto almoxarife per o
poder que tenho do dieto Senhor / per esta carta ey por metido ao dieto
martím dorta em pose de toda a dieta terra / e faça della e em ella todas
aquellas coussas que a elle aprouuer e por bem tíuer / como de coussa sua
propia fazendo elle e os seus socesores que depos elle vierem que a dieta
terra cobrarem o dicto trebuto ao Senhorio como dicto he E mando e
· outorguo que per sy mesmo e sem autorjdade de nenhúúa justiça filhe a
posse da dieta terra e o dicto almoxarife por parte do dieto Senhor pro-
meteo de nõ hir contra esto em parte nem em todo E obrjgou os bees do
dieto Senhor a lhe manteer liurar e defender a dieta terra de quaaes quer
pessoas que lhe algúu enbarguo sobre ella quiserem poer E em testemunho
desto lhe mandey dar esta carta / asynada per mym e asseellada com o
sseello do dieto allmoxarifado E peço ao dicto Senhor por merçee que lha
confirme pela guyssa que per mym he dada e per elle he mandado fecta
Em a dieta ujlla dallanquer quinze dias dagosto fernã vããz estpriuam do
dicto allmoxarifado a fez anno do naçimento de nosso Senhor jhesu christo
de mjll iiijº lxxxj / / testemunhas hos homeens do dicto almoxarifado .
(Chanc. de D. João II, Liv. 22, fl. 15. v.º Em leitura nova: Estrema-
dura, Liv. 6, fl. 239)
249
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254
ADENDA À PARTE DOCUMENTAL
Virgínia Rau apresenta-nos uma exaustiva recolha de do-
cumentos que solidamente alicerçam a sua exposição e onde
poucos aspectos poderá ter descurado no que respeita ao tema
das sesmarias. No desejo de valorizar esta edição, sem a sobrecar-
regar de elementos adicionais, pareceu-nos, contudo, que seria
útil acrescentar três documentos relacionados com a problemá-
tica da crise do século XIV, dado que constitui uma das questões
centrais em torno da qual o tema em análise deve ser perspec-
tivado.
Os textos legislativos, agora acrescentados, são referidos por
Virgínia Rau (excepto o segundo), mas infelizmente não se encon-
tram tão acessíveis como seria de desejar. São eles: a circular aos
concelhos datada de 3 de Julho de 1349, documento parcialmente
transcrito nas pp. 80-84 desta obra; a lei de 18 de Fevereiro de
1364 onde se contêm previdências em benefício da lavoura de
Santarém e que, como bem salientou Oliveira Marques (1 ), pre-
nuncia a lei das Sesmarias, e finalmente a própria lei das Ses-
marias.
O primeiro foi publicado na íntegra por António Gomes Ra-
malho na obra Legislação Agrícola ou Colecção de Leis, Decretos,
Cartas e outros documentos oficiais de interesse agrícola, promul-
gados desde a funda'Ção da Monarquia até 1820 (2). Mais recente-
mente, foi republicado segundo a leitura de Maria Teresa Campos
258
Ordenações Afonsinas (=O), o da Câmara de Coimbra ( = C) e o
manuscrito vindo da Câmara de Santarém (=S) (1), tarefa melin-
drosa e difícil~ agravada pela irregularidade da escrita medieval.
Esperamos, contudo, poder contribuir para um melhor conheci-
mento de tão importante documento da nossa história.
José Manuel Garcia
1
( ) Para a leitura deste documento, agradecemos a amável colabo-
ração da dr.• Maria Ângela Beirante.
Colocamos entre parêntesis rectos os números colocados nas Orde-
nações Afonsinas.
S\BU01ECA
[LEI DE 3 DE JULHO DE 1349]
260
;i
cousas per que sse am de manteer. Ca despereceriam as vinhas e
as erdades e as outras cousas. Tenho por bem e mando uos que
en cada hüa freyguesia desse logar. ponhades dous homens boons
dessa freyguesia sem sospeita. Jurados aos sanctos auangelhos que
bem e dereitamente. sabham todos aqueles e aquelas que husauam
de mesteres e seruyam nos lauores das vinhas e erdades e gaados
e das outras cousas. e os outros que ora hy ha pera seruyr e que
o faça cada hüu screuer en ssa freyguesia de guysa que per eles
possades uos saber todos aqueles e aquelas que moram ou se
colhen em cada hüa dessas freyguesias que som pera os dictos
mesteres e seruyços e depoys que º' souberdes costrengede os que
cada hüu huse dos mesteres e seruyços que ssoyan. ou em outros
que uyrdes que som conuenhauijs. poendo lhis tausaçom pela
guysa que uyrdes que he aguysado e Razom segundo os tenpo-
raaes que deus deu. E se algüus dos sobredictos a que aconte-
cerom aueres per rrazom da morteydade ou per outra maneira
uos quiserem mostrar que per dereita rrazom nom deuem dusar
dos mesteres e seruyços de que ante husauam. vos conhecede
lhj delo chaamente e ssem delonga. E sse achardes que com
rrazom e aguysado nom deue husar deles. vos conssijrade a
pessoa qual. he e o auer que a e mandade lhy que huse de
mercadoria ou de lauoyra ou doutro mester ou seruiço mais
honrrado que o que ante auya qual uyrdes que a el perteece e
que a esse logar he mais conpridoiro. E aqueles que ouuerem
quantias pera teerem caualos segundo per mjm he mandado. cos-
trengede os que os tenham taaes quaes deuem. E depois que o
assy ouuerdes ordinhado e posta a taussaçom sobre todo como
dicto he pobricade o em concelho e mandade apregoar que todolos
moradores dessa vila e de seu termho. e os outros que ueerem
pera guaanhar algo per seus corpos aguardade essa taussaçom e
ordinhamento e poende peas daçoutes e de dinheiros e de prisões
e de degradamentos desse logar e de seus termhos quaes uirdes
que merecem aqueles que essa uossa taussaçom e ordinhamento
passarem. Conssijrando as pessõas e aquelo em que o nom guar-
darem. E fazede per tal guysa que aiam essas penas aqueles que
as merecerem. senom seede çertos que aos uossos corpos e aueres
me tornaria eu porem. como aaqueles que nom guardam mandado
de seu Rey e de seu Senhor nem a prol e boom uereamento da
terra. E pera esso que assy ordinhardes seer conprido e aguardado
como deue. Tenho por bem que escolhades hüu ou dous homens
dessa vila quaes uyrdes que ssom pera esso. que Requeiram como
sse aguarda o que per uos assy for ordinhado. e acusem aqueles
que o nom aguardarom~ de guysa que aiam a pena per uos ordi-
nhada. E sse for pena de dinheiros que eles aiam o terço E as
duas partes seiam do Concelho. e eles dous Jurem que bem e
dereytamente husem desse offizio e acusem aqueles que o mere-
261
cerem e nom outros E por esso nom tolho que cada hüu do poboo
nom acuse se quyser e aia o dicto terço se el acusar ante que aquel
ou aqueles que pera esto ordinhardes Ca tenho por bem que o possa
fazer e que aia esse terço sse primeiro acusar. E mando aos meus
almoxarifes e scriuam desse logo que sse acharem que as peas que
poserdes em dinheiros que as nom leuades ou quitades todas ou
parte delas. que eles as filhem e as guardem pera meu mandado
pera seerem metudos en algüas cousas que forem meu seruyço
e prol dessa terra.
Dos que andam pidindo
E se achardes que algüus homens e molheres ssom taaes que
possam seruyr em algüas das cousas sobredictas que andam pe-
dindo pelas portas e nom querem seruir e lhis dam as esmollas
que deuyam a seer pera os uelhos e mancos e cegos e doentes e
outros que nom podem guaanhar per que uyuam que de Razom e
daguysado as deuyam dauer poys nom an corpos pera fazer nenhüu
seruyço costrengendo os (sic) que seruham em aquelo que uyrdes
que conpre. E sse o nom quyserem fazer. açoutade os e deitade os
fora da vila. E nom consentades que os colham nas albergarias e
espitaaes. E dade pena qual uyrdes que he aguysada aos alber-
gueiros e a outros quaesquer que os em essas casas colherem.
Dos que am de seruir por soldada
Outrossy me ffoy dicto que os homens que ssoyam de morar
com amos pera laurar ou pera guardar os gaados ou pera fazer os
outros seruyços e lauores em que continoadamente todo o ano ha
mester de seruirem que nom querem seruir senom per domaas ou
per meses. e que <lesto se segue muy gram dano. porque en aquele
tenpo que mais conpridoiro he aos lauradores e aas outras pessõas
que todo o ano am mester seruydores continoadamente. os leixam
esses seruidores e lhis ficam en desenparo as lauoyras e os gaados
e as outras cousas. Neesto tenho por bem e mando uos que quando
algüu laurador ou algüa outra pessoa ouuer mester seruydor por
todo o ano e o achar e non quyser entrar com el. que o costren-
gades que more com el por hüu ano e fazede lhj dar soldada
aguysadamente pela guysa que dicto he. E porque esses seruidores.
dizem que seruem as soldadas e as nom podem auer daqueles a
que as merecem Tenho por bem que quando algüu seruydor
demandar perante uos algüu por algüa soldada. e achardes que de
dereito lha deue de dar. mandade que ata tres dias lha pague
com as custas e perdas e danos que xe lhj por essa rrazom seguy-
rem. E sse a esse dia lha nom quyser pagar. fazede lha pagar en
dobro desse dia que lha ouuer de dar a oyto. dias. Ca gram rrazom.
262
he que pois an dauer pea os seruydores que seruir nom queren.
que outrossy a aiam os senhores que lhjs nom quyserem pagar
as soldadas que lhis teuerem mereçudas. nom enbargando costume
ou ordinhaçom qualquer que seia em contrairo. a qual expressa-
mente Reuogo. E pela guisa como o fezerdes em todo. assy mho
enuyade dizer E eu mando ao meu Corregedor. dessa comarca
que chegue a essa vila e que ueia como uos aguardades as cousas
sobredictas e que uo lo estranhe sse achar que me algü.a das dietas
cousas sodes negriientes. E uos fazede apregoar o Concelho pera
lhy pobricardes esta carta. E depoys que for pobricada mandade
a todolos tabeliães que a Registrem em seus liuros e que a pobri-
quem em Concelho primeiro dia de cada mes em todo o ano so
pea de perderem seus ofizios e que me emujem dizer como e per
qual guysa fazedes guardar as cousas sobredictas e cada hüa delas.
E outrossy ao meu Corregedor. pera uos seer estranhado se em
algü.a cousa fordes negriientes como no ffecto couber. e nom
tenhades que tam solamente mando a uos esto fazer. ca per toda
a mha terra mando taaes cartas come esta. Dante. etc.
(Livro das Leis e Posturas, fois. 158v-160)
263
[LEI DE 18 DE FEVEREIRO DE 1364]
264
pesoas que forem conujnhauees pera serujr na laura como abe-
goões e per .outra maneira que seiam constrangidos que siruam
nos tempos que comprydoyros forem Outrossy em razam das !a-
uras dos vinhos tenho por bem e mando que os serujçaães da villa
~eiam todos scriptos em huum liuro do concelho cada freguezia
quantos soom e a todos estes seia posta tousaçom quanto aiam de
leuar pollo dia assy a podadores como a enpaadores e a. cauoões e
a mergulhadores e aos outros serujçaaes E porque esses obreyros
nom podem constranger os senhores das vinhas que lhes dem mais
daquello que deuem a auer se lho elles nom quiserem dar de seu
tallente Tenho por bem e mando que nom dem a esses obreyros
pena por mais leuarem E mando que aquel que lhe mais der que
racoeyros dellas e caualleyros e outras pessoas ham em essa villa
em as quaes elles e os seus soia de pousar e a ujlla era porem
pella primeira vez nom aia huum mez obreyros E por a segunda
que os nom aia esse ano e polia terceyra que seia imfame e nom
aportelado E que os mordomos dos homeens boons se lhes mais
derem mando que os azoutem e que sobre esto se filhe enquiriçom
cada mes pera se saber se mais dam a estes serujçaaes. Outrossy
por que as casas que as hordeens e abades e egreias e priores e
mjlhor apostada som agora derribadas e elles pousam nas pousadas
alheas Recebendo aquelles cujas som em esto agrauamento pera
esto seer corregido como cumpre tenho por bem e mando que os
senhores dellas as comecem de refazer e a enderençar des este
primeiro dia de março ataa huum ano E se o elles nom fizerem
que filhem tantos dos seus beens e rendas desses sobreditos asy
aas hordeens como aos outros per que se esto faça logo E mando
a domjngue annes arrepiado meu vasalo morador e vezinho dessa
villa e que faça fazer e comprir todas estas cousas e cada huuma
dellas pella guisa que per mjm he mandado que se cumpram e
façam E mando a afomso martinz jujz por mjm em essa ujlla e a
qualquer outro ou outros que hi forem jujzes ou aluazijs aos meus
homens dalcaydaria que lho ajudem a comprir e fazer quando os
el sobre esto requerer e demandar Outrossy me foy dito per uos
em razom dos rendeiros e dalmotecaria da ujlla e das faangas e dos
oliuaaes e do juramento dos vinhos e do uerde e do seco e das
matas do concelho que mandase ao juiz ou aluazijs que pellos
tempos forem que filhem inquiriçom sobre elles pera se saber se
pasam as posturas do concelho e pera lhes seer stranhado sobre
esto tenho por bem e mando ao dito jujz e aos outros que forem
jujzes ou aluazjs pollos tempos que saybham esto em cada huum
mez E se acharem que nom fazem o que deuem que lho estranhem
como no feito couber E que amostrem a mjm quando chegar a
a terra o que hi fizerom e seiam certos que se o assy nom fizerem
que eu lho estranharey nos corpos e nos aueres Outrossy diziades
que os meus officiaaes que correm o mordomado dessa ujlla e
265
termo e os quo tiram o rrelego e as jugadas e quintas e os que
tiram as portagens e os que quartam o pam nos reguengos e os
meus homens que ham de guardar a ujlla e os sacadores que
tiram as mjnhas diujdas que todos estes tem danada essa ujlla e
termo por grandes peitas que leuam como nom deuem E por
outros mujtos maleficios que fazem. E pediades me por mercee
que mandasse ao jujz ou aluazijs que pollos tempos forem que
tirem enquiriçom sobre estes em cada huum anno pera lhes seer
stranhado pella guisa que eu mandase e achasse por direito E eu
mando meu recado ao meu almoxarife e scripuam como sobre
esto façam de guisa que o meu serujço e a prol desa villa seia
guardado E quando virdes que o nom fazem fazedemo saber e eu
mandarey sobre ello saber a uerdade e farrey o que a mjm cabe
E em· testemunho <lesto uos mandey dar esta mjnha carta dante
em saluaterra de maagos x viij dias de feuereiro elrrey o mandou
per joham gonsallvez seu uasallo vicente lourenço a fez era de
mjl iiW e dous anos.
(Arquivo Nacional da Torre do Tombo,
Chancelaria de D. Pedro 1, Livro I, fl. 93)
266
[«LEI DAS SESMARIAS»]
26~
aaquell que asi for dada. E essa parte ou penssom que ho laura-
<lor assy ouuer de dar seia pera o bem do comüu em cuio termo
essas herdades jouuerem mais nom seia dada nem despesa em
nehüu huso se nom per nosso spicial mandado 6 :i..
[5] Outrossy porque os que ssoyam a sseer e forom laurado-
res ·6:2 e os outros que ham rrazzom de o seer e os que tem her-
dades pera laurar sse escusam da lauoira porque dizem que nom
ham nem 63 podem auer mamcebos que 64 lhes fazem mester pera
esto. Ca mujtos daqueles que husauam de laurar e que serujam
no mester da lauoira leixarom esse mester da lauoira e alcançarom
sse a paços e 6" colheramsse &s delles aos paços dos ricos homeens
e fidalgos pera o auerem viuenda mais folgada e mais solta e por
filharem o alheeo mais 67 sem reçeeo e delles por muj grandes
ssoldadas que lhes dauam 68 por seruirem em outros autos e mes-
teres nom tam profejtosos como he a 69 lauoira e outros que som
perteecentes pera serujr no mester da lauoira nom querem seruir 7Q
em ella e husam doutros ofícios e mesteres de que sse aa terra
non segue tamanha proll 71 e mujtos que andam uaadijos pella
terra chamandosse criados e 72 escudeiros ou moços da estre-
beira 73 nossos ou do Ifante ou dalgüu 74 dos condes ou doutros
poderosos e honrrados por seerem coutados e defesas da justiça
nos maaes e forças e .malefícios 75 que fizerem nom viuendo na
noS&a merçee nem com nehüu dos sobredictos. E algüus que sse
lançam a pedir esmolas nom querendo fazer outro seruiço, e
catam outras mujtas maneiras e aazos pera viuerem ouciosos e
sem afame nom serujrem. E algüus filham aujtos como de rrele-
giom e viuem apartadamente fazendo congregaçom contra a 76
defenssom do 77 direito nom entrando nem seendo professos em
nehüas 78 das 79 hordeens relegiosas stabeleçudas e aprouadas pella
santa egreia, nom 80 fazendo nem husando de fazer alguma 81 obrà
proueitosa ao bem do 82 comüu e sso figura de relegiosos e de
santa vida, andam pellas terras e lugares 83 pedindo e .juntando
algo e enduzendo mujtos que se ajuntem 84 a elles e per seu enduzi-
mento leixam os mesteres e obras de que husam e vãao star e
andar com elles nom fazendo outro seruiço nem outra s5 obra de
proueito. [6] Porem teemos por bem e mandamos que todolos
que foram s·a ou soyam a seer lauradores.
E outrossy os filhos e netos dos lauradores e todollos os 87
outros moradores asi nas çidades e villas como fora dellas que 88
ouuerem de sseu 89 meor contia 90 de quinhentas libras. quanto
quer que seiam menos 91 dessa 92 contia de quinhentas libras e
que nom aia nem huse de tal 93 e tam profeitoso mester pera o
comüu per que de rrazom e de direito deue a seer escusado de
laurar ou serujr na lauoira ou nom viuer continuadamente com
tal pessoa que o meresca e o aia mester pera obra de seruiço pro-
f eitoso que todos e cada hüu destes ssusodictos seiam costrangidos
269
pera laurar e husar do dicto mester e oficio da lauoira. E sse nom
teuerem herdades suas que per ssy queiram e possam laurar seiam
costrangidos e apremados pera vieurem com aquelles que os mester
ouuerem pera as lauoiras e os seruam e ajudem a fazer essa obra
da lauoira por ssa 94 soldada e preço aguisado segundo he taussado
pellas hordinhaçõoes que sobresto som feitas ou segundo taussa-
rem e aluidrarem aqueles que pera esto forem postos em cada
hüu lugar. ·
[7] E qualquer que der ao mançebo ou aaquel que ouuer de
serujr mais que aquelo que for taussado pellos regedores dos luga-
res ou per aquelles a que pera esto for dado carrego e 95 poder
pague 96 cinquoenta libras pela primeira uez, e pella segunda cento
e dhj en deante pague 96 essa quantia e demais seialhe stranhado
com pea de justiça como aaquel que quebranta 97 ley e uay comtra
mandado de sseu rey e senhor 98 • E estas penas seiam metudas em
rrenda pera o bem do comum.
[8] E mandamos que quaaesquer que acharem andar cha-
mandosse nossos ou da raynha ou do jfante ou de quallquer outro
que nom seia conhoçudo 99 notoriamente por daquell de que sse
chama 100 seiam logo presos e recadados pellas justiças dos lugares
pera sse ssaber como e per que maneira viuem e as obras que
fazem e de que guisa 101 vsam. E sse certidõoe nom mostrarem
como viuem e andam per recado certo ou por seruiço daquelles
canos disserem 102 que som que sejam costrangidos pera serujr 103•
E se sserujr nom quiserem seiam açoutados e todauia costranjudos
pera serujr por ssas soldadas taussadas como dicto he. [9] E por-
que a vida dos homeens nom deue seer auçeosa e a esmola nom 104
deue seer dada senom aaquel que per ssy nom pode guaanhar nem
merece 105 per seruiço de seu corpo per que sse mantenha. E se-
gundo o dicto dos sabedores e dos santos doutores mais justa cousa
he de 106 castigar ho pedinte sem necessidade e 107 que pode escusar
de 108 pedir fazendo algüa outra obra proueitosa que de lhe dar a
esmolla que deue sseer dada a outros pobres que nom podem
fazer outra 109 obra de seruiço.
Porem mamdamos que quaaesquer que assy forem achados,
asi homeens como molheres que andam no alotando e pedindo
nom husando doutro mester, sseiam vistas e catados pellas justiças
de cada hiíu lugar. E sse acharem que som taaes e de taaes corpos
e de tal hidade que possam serujr em algüu mester ou obra de
seruiço, posto que em algiía parte dos membros corporaaes seiam
minguados per ho com m toda essa 112 mingua podem fazer algüa
qualquer obra de seruiço seiam costranjudos pera serujr em aquellas
obras em que as dietas justiças ou aqueles que pera esto forem
postos virem que podem serujr por seu mantimento e por ssa
soldada. segundo entenderem que o 113 podem merecer de guisa
270
que nenhüu no nosso senhorio nom viua sem mester ou sem obra
de seruiço e 114 de proueito.
[10] E aquelles que acharem andar ou viuerem em abito de
rellegiosos 115 que nom som professos dalgü.uas 116 das hordeens
aprouadas como ssuso dicto he, diganlhes e mandem que uãao
laurar e husar de mester da lauoira fazendosse lauradores per
ssy se o fazer poderem e quiserem, ou sse nom que seruam aos
outros lauradores no mester da lauoira e costrangamnos pera ello
sem outro meeo. E os que serujr 117 nom quiserem nem obrar do
mester que lhes ns mandarem, des que lhes for mandado que
seruam e obrem do dicto mester quaaesquer que seiam das com-
diçõoes ssusadictas seiam açoutados pella primeira vez e costran-
gidos em 119 toda a guisa pera serujr 120.• E sse dhj en deante serujr
nom quiserem, seiam açoutados com pregom e deitados fora dos
nossos regnos. [11] E aquelles que forem achados tam fracos ou
uelhos ou doentes 121 per tall guisa que nom possam servir nem 122
fazer nehüa obra de seruiço ou algüus enuergonhados que ja
fossem 123 homrrados e caerom em mjngua e pobreza de 124 guisa
que nom podem escusar de pedir 125 esmollas e nom som pera
seruirem a outrem deem-lhes as Justiças Alvaraaes per que possam
pedir essas esmolas 126 seguramente. E quallquer homem ou molher
que acharem andar pedindo sem recado ou sem aluara da justiça,
denlhe a pena ssuso dieta.
[12] E pera sse comprirem e poerem 121 em obra estas cousas
que assy per nos som hordinhadas 128 teemos por bem e mandamos
que em cada hüa cidade :r29 e villa de cada hüa comarca e pro-
uencia e 13º das correiçõoes seiam postos 131 dous homeens boons
dos melhores cidadãaos que em essas çidades e 1 ª2 villas ouuer.
Os quaaes ajam 133 de ssaber e veer todalas herdades que ha em
cada hüa comarca que som pera dar pam e nom som lauradas
e aproueitadas 134 • E façam que seiam lauradas e aprofeitadas pera
dar 135 pam e aiam poder pera costranger os senhores delas que as
laurem ou façam laurar e semear pella guissa que ssuso he 136
scripto e hordinhado. [13] E per que os senhores das herdades
que as nom querem dar a outros, que as laurem, senom per gran-
des peensõões ou per muy grandes rendas e 137 os lauradores ou
aquelles que as ouuerem de laurar nom nas querem filhar
13
"
senom por muy pequenos preços ou por 139 muy pequenas comtijas
ou per uentura sem nehüu encarrego de dar pensam nem 140
parte aos senhores dessas herdades.
Porem e por nom auerem ocasiom ou aazo nenhüa das partes
de sse escusar e as herdades nom ficarem por laurar. teemos por
bem e mandamos que estes dous homeens boons que asi ficarem
e 141 forem escolheitos como dicto he em caso que se as partes
nom possam avijr tausem e alujdrem quanta e tamanha parte ou
penson os lauradores dem aos senhores 142 das herdades. E possam
272
[ 17] E pera esto que assy hordinhamos e mandamos fazer por
seruiço de Deus e proll de todolos do nosso Senhorio nom 179 seer
tomado nem enbargado per nehúu stabeleçemos e mamdamos que
qualquer e de quallquer stado e comdiçom que seia que per seu
poderio e 180 ssem razom direita 18·1 defender ou enbargar per
qualquer maneira fora de juizo algúu daquelles que mandamos
per esta hordinhaçom costranger ou que forem costrangidos pera
aquelles a que pera esto for dado poder ou oficio pera nom
serujrem ou obrarem em aquello que lhes for mandado, que
paguem a nos sse for ffidalgo qujnhentas libras cada uez que o
fezer ou tentar de o 182 ffazer e seia 183 logo per esse f eicto sem
outra sentença de juízo esterrado 184 do lugar hu morar. E sayasse
logo dhj sem outro mandado e 185 donde quer que nos esteuermos
a seis legoas. E sse fidalgo nom for que pague trezentas libras e
aia a dita 186 pena do dicto degredo e seiam logo penhorados e
costranjudos 187 e uendidos seus beens pella dieta quantia pela
guisa que he per nos 188 mandado que se uendam pellas outras
nossas diujdas.
E as justiças dos lugares e outrossy aquelles a que for dado
poder pera comprir 189 esto que per 190 nos he hordinhado o façam
saber ao nosso sacador e ao nosso almoxariffe e scripuam dos
nossos direitos 191 pera mandarem costranger pellas dietas quan-
tias 192 • E se o nom fezerem ou em ello forem negrigentes que esses
juízes e veedores 193 as paguem a nos em dobro.
274
damosuola dar. Porque nos mandamos que as façades comprir e
a guardar en todo pella guisa que em ellas he conthudo e per nos
he mamdado. Unde al nom façades.
Dante em Santarem vijnte e seis 21 º dias de Jumho ElRej o
mandou per Affomso Dominguez seu uassalo e do seu comsselho.
Steuom Dominguez os fez era de mjll e quatrocentos e treze anos.
275
NOTAS
1
[As 3 últimas palavras faltam], L.
2
O, L.
3
no mundo, L.
• [Falta], L.
' [Falta], C
• guardar, L.
? em, S.
~ honrra e boa fama, L e C.
9
[Falta], C.
1
11
º trigo, O.
partes, L.
"13 abastadas, O.
[Falta], O.
14
açerca, L.
10
lavras, o e e.
1
• dellas tomando ende outros mesteres e ocupando-se em outras
obras, S.
17
[Falta] , L.
10
[Falta], L.
1• s.
2
º
01
dessonrados, S.
[Falta], L.
~2 do Povo, O.
nouo, L.
2
• [Falta], L.
2
' [Falta], O.
"" [Falta desde pera até see], C.
2? perteeja, L.
28
qualquer outra, O.
2
• todollo, L.
30
senhorio das ditas herdades, O.
31
[As duas últimas palavras faltam], L; todalas herdades, S e C.
32
[Falta], O.
33 o.
34
puuer, O.
" [Falta], L.
36 s.
277
37
[Falta], O.
31
desta, O.
39
semeem L; semente S.
40 o.
.i [Falta], C.
42 o.
43
convinhavees, O.
44
45
os poderam, O.
valem, O.
46
ouuerem mester, S.
7
" as, L.
·t"S catar, S.
•• veredores, L.
"°31 as lavoiras, O.
tempo certo, O.
32
[Falta], L.
" suas negrigencias, O.
!i4 suas, O.
" as justiças, O.
56
lavrem e semeem por, L; nas lauvre e semee sob, O; as lauvre e
semee por, e.
57 s.
•• na, L.
•• [Falta], C.
"º1 [As três últimas palavras só em], S.
• Mandado especial, O.
2
• seer lauradores e forom., C.
63
[Duas últimas palavras], O.
64
65
nom teem mancebos nem os nom podem haver que, S.
[Cinco últimas palavras], S.
66
se acolhem, O; acolhem se, C; acolheram sse, S.
67 o.
'Eis dam,S.
o da, O.
1J"9
70
[As sete últimas faltam], L; pera lavrarem e servirem no dicto
mester da lavoira nom querem servir. O.
71
tamanho proveito, O.
12
ou, O.
73 o.
74
de cada huum, S.
73
[Falta], O.
76
a, O.
77
e de, L.
... nenhíía e de nhííua, L e C.
1
• [Falta], O.
"º
11
nem., O.
[Falta], L.
02
[Falta], O.
3
• [Falta], O.
" juntam, L.
•• [Falta], L.
'" forem, L.
17 s.
e, O.
SI
•• seu quantidade, O.
•o [Falta], O.
n meios, L e C.
278
91
<lesto, O.
"' [Falta], C.
•• [Falta], C.
5
& carrego e, O.
96
paguem, L.
97
quebra a, O.
98 o.
99
seiam conhecidos, O.
lfro daquelles que se chamam, O.
101 o.
1
ºª daquelles cujos disserem, O.
1
10
ºª servirem, O.
• [Falta], S.
1 5
10
º merecer, O.
• [Falta], O.
10'7 o.
108 o, o.
10"9 o.
11
º andem, S; andarem, O.
111
112
pera com, e.
esta, O.
113
a, O; [falta], S.
114
ou, o.
~-
115
abitos religiosos, O; andar em abito de religiosos ou viver,
116 em alguuas, O.
117
[Falta], S.
118
lhe, O.
119 o.
120
que seruuam, S.
121
tam fracos e tam velhos ou doentes, O; tam fracos ou doentes
ou velhos, S.
m [Duas últimas palavras], S.
"º foram., L.
1
'2" em, O.
125
pedir das, O.
12
• O; e nom som para servir a outrem que possam pedir essas
=
esmolas, S; C S, [excepto no fim onde se escreve sas esmolas]; [esta
frase não consta em L] .
1
'"' cumprir e poer, O.
»• assy son hordenadas per nos, O.
m cidade de comarca, S.
100
[Falta], O.
131
postas, L.
132 ou, O.
33
l. deuem, O.
13<1 o.
13~ s.
136
S e O; [he vem no fim do período] , L.
137
[Falta], L.
13
~ queiram, L.
139
[Falta], O.
149
1
ou, o.
" [As duas últimas palavras], O.
10
senhorios, O.
m [Falta], O.
u"' de, L.
10
[Falta], O.
279
l~
outrossy, L; entre ssy depois de desvairo, S.
147
[Falta], O.
148
sera, L.
1<9
dous homees bons for acordado, O.
100
forem contra ello, L.
151
[Falta], O.
152
desse, S.
ll'i3
[Falta], O.
154
terrentorio, O.
1'5
dos homeens, O.
106
dhi, o.
107
nom viverem, e.
158
avitos religiosos, O.
1•9
100
o.
[Falta], C.
161
souberem em essa, L.
102
163
o.
suso ditas, O.
104
se nom quiserem ou nom poderem, S.
1&5
mester ouuer, L.
106
das vinhas, S.
l~
acorrer, O.
108
escripta, O.
169
[Falta], L.
170
taixacom, O.
171
[Falta], L.
17'
173
o.
[Falta], O.
174
[Falta], O.
17•
[Falta], O.
176
177
elo, O; pera essa forem necessarios, C:.
pertencentes forem, O.
178
179
ho, L.
proll dos nossos Regnos nom, O.
l&O
[Falta], O.
181
dieta, L.
182
183
o.
seiam, O.
184
desterrados, O.
18•
[Falta], O.
186
[Falta], L.
187
constrangidos e penhorados, S.
188
per nos he, S.
U9
esto comprir, O.
190
a ca per, O.
191
dinheiros, O.
192
penas, O.
...
193
11>5
vereadores, O .
de seus, O.
ello, S; ellos, O.
198
197
o.
per outras, O.
198
ao mester da dita lavoira, O.
199
[Falta], O.
200
cumprirem, O.
...
"º' sortymento dessas, S .
Iauras, L.
280
:: trouuer ou ouuer, O; ouuer ou teuer, S.
ou, s.
2os · L
206
auçom, .
07
os, O.
" lavores e ffortalezas e obras e repairamentos dos logayres, S.
~s Martinz, S.
'º boons de Santarem ordinhações vos juiz e homeens bons do con-
9
BIBLIOTECA
LEI DAS SESMARIAS
SITUAÇÃO-
SOLUÇÕES PENAS OU ISENÇÕES
-DIFICULDADE
Falta de trigo e
cevada
Aumento da produção f
Carestia do trigo e
da cevada O não cumprimento da
ordenação implicava
Obrigatoriedade de que todos expropriação. Após um
os que tivessem herdades suas, prazo a determinar,
emprezadas; aforadas, etc., as as autoridades entrega-
lavrassem e semeassem e, se o vam as propriedades a
não puderam fazer totalmente: quem as lavrasse me-
a) cultivassem uma parte por si; - diante uma pensão cer-
b) cedessem a outra mediante ta (para o bem comum
/ uma parte, pensão, foro, etc. do lugar), caso o se-
r----'--..,---! nhor não estivesse de
Míngua de lavou- acordo, após a inter-
ras, ficando as ter- venção dos dois ho-
ras abandonadas mens bons
1
Abandono de ho-
mens das áreas ru• Isentavam-se os que ti-
rais para: Obrigatoriedade do regresso aos vessem rendimento ·in-
trabalhos da lavoura quer para - ferior a 500 libras ou
1 os que tivessem abandonado mester proveitoso.
a) se ocuparem em quer para os seus filhos ou ne-
mesteres urba- tos:
nos ou outros 1-o- a) ou em propriedades suas; Quem pagasse mais que
por melhor sol- b) ou servindo outrem por sol- _ o estabelecido pagaria
dada; dada de acordo com a orde- uma multa:
I nação ou contrato local. l. ª vez, 50 libras
2.• vez, 100 libras
b) irem servir no-
bres;
1
e) tornarem-se va-
dios e ociosos:
Os que não quiserem
1 Os que não puderem provar serão açoutados e de-
estar ª.o serviço de nobres ou ._ pois obrigados a traba-
1. falsos criados; 1- do Rei devem servir no campo lhar pela soldada fi.
'-----~,----' mediante contrato local xada
Apurar quais entre eles possam
2. pedintes; 1-- t~r al~uma. ocupação para que
1--......;..--...-----' nmguem viva sem mester
1 Devem ser desmascarados e Os que não quiserem:
obrigados a trabalhar na agri- L ª vez, açoutados;
3. falsos religiosos.
.___ _ _ _ _ ____, 1- cultura:
a) em terras suas;
_ 2. • vez, açoutados com
pregão e expulsos do
b) servir outros lavradores por
salário fixo. reino
Prólogo ... 7
Introdução 23
1 - A Reconquista. A presúria e a apropriação da terra pelo
cultivo como elementos colonizadores. As presúrias no terri-
tório português. Evolução da colonização medieval portu-
guesa ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 27
II - A delimitação dos concelhos e a divisão das terras pelos
povoadores. Coureleiros e sesmeiros. Origem e significação
dos termos sesmo, sesmeiro e sesmaria . . . ... ... ... ... ... 41
III - O cargo de sesmeiro e a hierarquia das magistraturas muni-
cipais. Eleição concelhia e confirmação régia durante os
séculos XIV e XV. A quem competia a dada de sesmarias
nos reguengos e terras particulares. Os juízes ordinários e
o cargo de sesmeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
IV - Obrigação de cultivo e aproveitamento como condição de
posse. A expropriação de terras desaproveitadas a partir do
século XIII. Os concelhos e suas reclamações em cortes
contra a incúria dos proprietários eclesiásticos .. . . .. .. . . . . 69
V - A Peste Negra e a crise da agricultura europeia no sé-
culo XIV. Taxa de salários e fixação dos preços dos géneros.
As cortes de Valladolid de 1351 e o «Ordenamiento de
menestrales y posturas». As leis reguladoras da liberdade de
trabalho em Portugal. Legislação de D. Afonso IV. Rare-
facção da população rural portuguesa. Os concelhos alente-
janos e o pastoreio. As cortes de Lisboa de 1371 e 1372 e
a crise nacional. A Lei das Sesmarias. O problema inglês
e os Estatutos dos Trabalhadores ... ... ... ... ... ... ... ... 76
VI - Data e proclamação da Lei das Sesmarias. Seu conteúdo e
significado, causas que explicam a sua elaboração. Resul-
tados que se procuravam alcançar com a aplicação da com-
plexa norma jurídica. Sesmarias fernandinas . . . . . . . . . . .. 89
288
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Lisboa
Rigorosa e erudita anéli8e histórica. fecunda e clara sll'ltese interprateliva,
estudo de Vlrgfnla Rau IObre as Sesmarias MedlevalS Portuguesas permll'llee
corno obra de referência obrigatória para todos os que procuram couhec:er 811·
pec_tos vérlOa da nossa hlalórla agrarta. desde as fonnas de apropriação
tetrt até aos problemas legislativos decorrentes do seu cuttlvo. Com ' 9 e
*
tudo e, bem 8?Slm, com Feiras Medlf1vais Portuguesas Jé ·reectttaoo ,_.
mnma colecçlo, Iniciou a autora uma nova e dinAmlca fase na historiografia
Portuguesa. contribuindo decisivamente para a construção de uma vasta e actual
Hlstóila Económica de Podugal.
..