Aranha Marcio Iorio Manual de Direito Regulatorio Fundamentos de Direito Regulatorio 2014 Create
Aranha Marcio Iorio Manual de Direito Regulatorio Fundamentos de Direito Regulatorio 2014 Create
Aranha Marcio Iorio Manual de Direito Regulatorio Fundamentos de Direito Regulatorio 2014 Create
Laccademia Publishing
2014
Copyright © 2014 Marcio Iorio Aranha
All rights reserved.
1ª edição (2013)
ISBN 978-14-947-0383-7
CDD: 341.3782
CDU: 346.5:65
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio.
Aos alunos e professores dos cursos de pós-graduação em regulação de telecomunicações, integrantes do Centro de Políticas, Direito, Economia e Tecnologias
das Comunicações da Universidade de Brasília (CCOM/UnB), onde surgiu o interesse pelo aprofundamento da temática de direito regulatório.
Aos integrantes da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, que incentivaram o aprofundamento da pesquisa em Direito Regulatório, mediante
institucionalização da disciplina de graduação de Direito Administrativo 3 e da disciplina de Mestrado e Doutorado em Direito, Estado e Constituição
intitulada Estado e Regulação.
Aos professores e alunos do Centro de Estudos em Regulação de Mercados da Universidade de Brasília (CERME/UnB), que propiciaram o espaço
institucional de desenvolvimento e teorização do Direito Regulatório frente a um público especializado em diversos setores regulados
OBRAS DO AUTOR
Livros e capítulos de livros selecionados:
1. Direito das Telecomunicações: Histórico Normativo e Conceitos Fundamentais. 2ª ed., Coleford, UK: Laccademia Publishing, 2014.
2. Comentários aos artigos 221 a 224 da Constituição Federal brasileira de 1988: CANOTILHO, J. J. Gomes [et al.] (org.). Comentários à Constituição do Brasil. Coimbra/São
Paulo: Almedina/Saraiva, 2013, p. 2051-2077.
3. Coletânea de Normas e Julgados de Telecomunicações. Brasília: Getel/UnB, 2006 a 2013. (http://www.getel.org/GETELcbdt.html)
4. Glossário Brasileiro de Direito das Telecomunicações. Brasília: Getel/UnB, 2006 a 2013
5. Temas de Telecomunicações Referenciados. Brasília: Getel/UnB, 2011 a 2013.
6. Normas e Julgados do Setor de Telecomunicações. Brasília: Getel/UnB, 2011 a 2013.
7. Direito das Telecomunicações: estrutura institucional regulatório e infraestrutura de telecomunicações no Brasil. Brasília: Universidade de Brasília, 2005.
8. Política de Patentes em Saúde Humana. São Paulo: Atlas, 2001.
9. Interpretação constitucional e as garantias institucionais dos direitos fundamentais. São Paulo: Atlas, 1999 e 2000. (3ª edição de 2014).
Artigos selecionados:
1. The Institutional Indicator of Federalism from the Perspective of the TLICS Model: Juridical Variables for the ICT Comparative Studies. Comparative Law eJournal, Vol. 12,
No. 52, June 25, 2012, p. 1-13, ISSN 1556-5068.
2. Telecommunications Law Indicators for Comparative Studies (TLICS) Model: A Hermeneutical Approach. Americas Information and Communications Network Conference
2011, p. 283-294.
3. Diálogos Políticos-Jurídicos na Comparação de Modelos Regulatórios de Comunicação. RBPC 1, 2011.
4. Restricted mobility and fixed-mobile convergence in Brazil. Info (Cambridge. Print) 13:32-42, 2011.
5. Direito, Estado e Telecomunicações: a força gravitacional da banda larga. RDET 3(1): 1-42, 2011.
6. Digital TV in Brazil and its Interactive Possibilities through Mobile Networks. Cátedra Europa 2009. Ediciones Uninorte, 2009, p. 185-194.
7. Direito, Estado e Telecomunicações: o ano em que o espectro novamente encolheu. RDET 2(1): 1-44, 2010.
8. Direito, Estado e Telecomunicações: dos primórdios ao novo modelo regulatório. RDET 1(1): 1-76, 2009.
9. Democracia participativa e a agência reguladora de telecomunicações brasileira. In: Anais do I Seminário Internacional de Regulação de Serviços Públicos: Direito Comparado
da Energia Elétrica e das Telecomunicações. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2008.
10. Renovação dos contratos de concessão da Telefonia Fixa no Brasil. Notícia do Direito Brasileiro 13:225-238, 2006.
11. Mundialización informativa, informacional y cultural. Política y Cultura 26:71-91, 2006.
12. Ambiente normativo brasileiro de prestação de serviços em setores regulados: o caso da desestatização do Sistema Telebrás como arquétipo do direito administrativo de
conjuntura. Revista Notícia do Direito Brasileiro 12: 103-128, 2006.
13. Poder normativo do Executivo e teoria da regulação. Revista Notícia do Direito Brasileiro 9: 135-154, 2002.
14. Conteúdo essencial das cláusulas pétreas. Revista Notícia do Direito Brasileiro 7: 389-402, 2000.
15. As dimensões objetivas dos direitos e sua posição de relevo na interpretação constitucional como conquista contemporânea da democracia substancial. Revista de Informação
Legislativa 35: 217-230, 1998.
16. Jurisdição constitucional e política: interpretativismo, não-interpretativismo e suas alternativas políticas e jurídicas - Teoria estética - Estudo da obra “Contemporary
constitutional lawmaking” de Lief H. Carter. Revista de Informação Legislativa 33(132): 297-311, 199.
17. O método apropriado à interpretação da parte dogmática das constituições. Revista da Fundação Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios 5: 143-
155, 1997.
18. Intervencionismo social e neoliberalismo, ou liberalismo construtor: a precisão de seus conceitos mediante a análise da gradação do controle estatal e de sua política de
prioridades. Revista de Informação Legislativa 135(34): 237-251, 1997.
19. Segurança jurídica stricto sensu e legalidade dos atos administrativos: convalidação do ato nulo pela imputação do valor de segurança jurídica em concreto à junção da boa-fé e
do lapso temporal. Revista de Informação Legislativa 134: 59-73, 1997.
SUMÁRIO
[252]
Previstas na segunda metade da década de 1990 , as agências
executivas significam um signo, sinal, insígnia, rótulo, enfim, um símbolo
identificador da regulação operacional descentralizada. O nome ‘executiva’
indica que suas atribuições não são normativas, mas operacionais. Sua
criação busca administrar políticas públicas em matéria de serviços
públicos, diferenciando-as das agências reguladoras, que se preocupam
também com o preenchimento normativo secundário a partir das políticas
públicas oriundas do processo legislativo primário. O foco das agências
reguladoras, portanto, é a regulação normativa. A diferença entre agências
executivas e reguladoras é, portanto, funcional.
Agências executivas são autarquias e fundações públicas
[253]
federais que se candidatam a receber a insígnia de agência executiva,
mediante submissão a um contrato de gestão, onde se estabelecem metas a
serem alcançadas mediante apresentação de um plano estratégico de
reestruturação e desenvolvimento e níveis de qualidade na prestação de
serviços a usuários. A formação da agência executiva implica processo
[254]
interno de autonomia . O rótulo de agência executiva, no entanto, não
transforma a natureza da pessoa jurídica de direito público interno, que
[255]
continua como autarquia ou fundação pública . O que ocorre é que estas
autarquias ou fundações públicas com status de agências executivas são
destinatárias de mais um rol de normas que estabelecem prerrogativas
especiais derivadas da lei e que não derrogam o regime público – e nem
poderiam –, mas amenizam as limitações intestinas à própria estrutura
hierárquica da Administração Pública, refletindo-se, por exemplo, na maior
autonomia para abrir concursos, desde que haja vagas e recursos
disponíveis, podendo editar regras próprias de avaliação dos servidores para
progressão funcional, além da impossibilidade, por parte do Executivo, de
contingenciamento de recursos. Em troca desses benefícios, surgem deveres
específicos da autarquia para com o poder central, deveres estes derivados
do contrato de gestão firmado. Por isso, a agência executiva, em si mesma,
não é exceção ao regime público, desde que compreendida a extensão do
[256]
que pode vir a ser tratado no contrato de gestão. As críticas dirigidas às
agências executivas, portanto, não revelam incoerência de concepção, mas
evidenciam o risco da utilização de seu conceito para ultrapassagem de
fronteiras impostas pelo regime público.
A novidade no sistema das agências executivas está na sua íntima
conexão com as propostas recentes de compromisso da própria entidade da
administração indireta com o poder central e de aferição de resultados
[257]
como requisito de sua sobrevivência , algo caro à proposta, cuja
tramitação se iniciou no Congresso Nacional em 2004, para aplicação do
contrato de gestão também a todas as agências reguladoras brasileiras. A
criação de uma agência executiva, enfim, por se tratar tão-somente de signo
aposto a uma entidade de direito público preexistente, depende de Decreto
do Presidente da República, após o processo previsto na Lei 9.649/98, cuja
primeira concretização ocorreu na qualificação do Instituto Nacional de
Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO) como
agência executiva, por meio do Decreto sem número de 29 de julho de
1998.
Por outro lado, como instituições de regulação, em regra, setorial,
as agências reguladoras ou agências reguladoras e fiscalizadoras
[258]
brasileiras surgiram como mecanismos reguladores normativos, que
[259]
operam com poderes de supervisão, fiscalização e normatização de
atividades, sendo dotadas de maior agilidade na implementação de políticas
públicas em razão de sua estrutura especializada. Foram um novo passo no
[260]
processo descentralizador da Administração Pública, que se diferenciou
dos anteriores pela visível postura de maior desvinculação de suas decisões
frente a pressões políticas, como também à tentativa de redirecionamento da
política regulatória para os interesses dos usuários dos serviços concedidos,
permitidos ou simplesmente fiscalizados.
A inserção dos serviços em um regime especial, que partilha a
competição com os desígnios sociais, fez com que as agências reguladoras
brasileiras desempenhassem três tipos de regulação: regulação dos serviços
públicos, que são de titularidade do Estado; regulação das atividades
econômicas stricto sensu, que são de titularidade dos particulares; e
regulação social, mediante vinculação do setor ao dever de generalidade
dos serviços, de cumprimento da função social da propriedade afeta ao
serviço, ou mesmo, de potencialização do uso de bens públicos essenciais
ao serviço regulado. Como se pode notar, as categorias regulatórias variam,
mormente segundo critérios de escopo da atividade reguladora: regional,
geral, setorial, sobre serviços públicos, sobre atividades econômicas em
sentido estrito, rumo à princípios de regulação social, dentre outros.
A singularidade das agências reguladoras na estrutura
administrativa do Estado brasileiro não está isolada como política pública,
mas inserida no flanco de um movimento de objetivos mais abrangentes,
cuja compreensão é exigida para formação de visão multifacetada sobre
este fenômeno estatal.
Por detrás da criação das agências reguladoras, há política pública
voltada à consecução de medidas que aumentem a atratividade do mercado
brasileiro para o financiamento de infraestrutura. Em outras palavras, a
introdução do modelo de agências reguladoras na Administração Pública
brasileira resultou da identificação de um déficit de regulamentação
[261]
traduzido nos seguintes aspectos , cuja concretização persegue: política
tarifária definida e estável; marcos regulatórios mais claros, que detalhem
as relações entre os diversos atores de cada setor, seus direitos e obrigações;
mecanismo ágil e eficiente para a solução de divergências e conflitos entre
o poder concedente e a concessionária; garantias contra os riscos
econômicos e políticos dos investimentos em setores econômicos. Ditos
aspectos contribuíram para a criação de entes reguladores setoriais dotados
de atributos de especialidade, imparcialidade e autonomia decisória. As
novas características de maior autonomia e promoção dos interesses dos
usuários são, portanto, comumente esclarecidos por sua motivação de
aproximação ao mercado e de incentivo à competição, argumentos estes que
[262]
fugiriam à tradição jurídico-institucional brasileira.
O modelo adotado na década de 1990, no Brasil, entretanto, não
se rende a dita simplificação. Nem mesmo a afirmação de semelhança entre
[263] [264]
dito modelo e o praticado nas commissions norte-americanas ,
[265]
inicialmente esboçadas nas chamadas railroad commissions , é
convincente, já que o pressuposto existente no modelo brasileiro de
titularidade de grande gama de atividades prestacionais pelo próprio Estado
não encontra, segundo uma abordagem jurídico-formal, similar no modelo
norte-americano.
Pode-se, entretanto, afirmar que as agências reguladoras servem
como modelo regulador alternativo à regulação pelo próprio mercado ou à
regulação por intermédio de contratos administrativos. As agências
reguladoras vieram nesse contexto de satisfação da demanda por prestação
de serviços públicos e fiscalização de serviços privados mediante regulação.
Enfim, o modelo brasileiro de agências reguladoras assimila, em uma
mesma estrutura administrativa, duas formas de regulação de setores, quais
sejam: controle de andamento das atividades setoriais pelas agências;
transferência da prestação dos serviços públicos de um determinado setor
para empresas privadas e sua consequente regulação por intermédio de
contratos administrativos acompanhados pari passu por estruturas dotadas
de conhecimento técnico.
O ano de 1995 foi decisivo para introdução do modelo de
agências reguladoras no Brasil e a Lei Geral de Concessões e Permissões
(Lei 8.987, de 13 de fevereiro de 1995) foi um marco fundamental, que,
coerente com o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado proposto
pelo Executivo em 1995, determinou, no seu art.29, I, ser incumbência do
poder concedente regular e fiscalizar o serviço concedido e, no art.30,
previu que a fiscalização do serviço seria feita por órgão técnico do poder
concedente ou por entidade com ele conveniada e, periodicamente, por
comissão composta por representantes do poder concedente, da
concessionária e dos usuários. Um parêntese para retomada do tema das
comissões, que em nada se aproximam das commissions norte-americanas,
para que se evidencie que, no Brasil, elas têm caráter de ajuste periódico
dos interesses em jogo, possibilitando um ambiente interativo de construção
de soluções e de levantamento de problemas. Afiguram-se, portanto, em
meio de sensibilização da agência reguladora para questões relevantes na
óptica dos partícipes do processo, como também em meio para alcance de
consenso na diversidade.
Não foi somente a Lei Geral de Concessões e Permissões que
marcou o ano de 1995. As modificações constitucionais foram decisivas e
transpareceram, basicamente, não-discriminação entre capital nacional e
internacional aliado à abertura para o controle privado de atividades antes
reservadas ao Estado, como a possibilidade de concessão dos serviços
locais de gás canalizado (Emenda Constitucional n. 5, de 15/08/95), a
extinção do tratamento diferenciado dado às antes consideradas empresas
brasileiras de capital nacional (Emenda Constitucional n. 6, de 15/08/95), a
retirada da referência constitucional à predominância de armadores
nacionais e navios de bandeira e registros brasileiros e à reserva da
navegação de cabotagem e da navegação interior às embarcações nacionais
(Emenda Constitucional n. 7, de 15/08/95), a possibilidade de concessão,
permissão e autorização de serviços de telecomunicações não mais taxados,
a priori, de públicos, juntamente com a previsão de criação de um órgão
regulador do setor (Emenda Constitucional n. 8, de 15/08/95) e a retirada da
proibição dirigida à União de conceder qualquer tipo de participação na
exploração de jazidas de petróleo ou gás natural simultaneamente à
introdução da previsão de órgão regulador do monopólio de pesquisa e
lavra de jazidas de petróleo e gás natural, de refinação do petróleo, sua
importação, exportação e transporte (Emenda Constitucional n. 9, de
09/11/95).
Todas essas modificações implementadas pela política pública
setorial fizeram com que o sistema brasileiro de regulação migrasse do
modelo de estruturas integrantes dos respectivos Ministérios ou da
Presidência da República, com dependência orçamentária e decisória, para
um modelo pautado progressivamente na titularidade de instrumentos de
regulação e fiscalização setorial por parte de autarquias especiais, com
[266]
orçamentos próprios e relativa autonomia financeira do Poder Executivo.
Dessas considerações preliminares resulta a identificação das
agências reguladoras brasileiras como formas de regulação setorial com
personalidade de direito público interno, e função normativa secundária,
que excepcionalmente exteriorizam caráter operacional, como no caso do
mecanismo da intervenção, revelando a finalidade de fiscalização da
prestação dos serviços públicos concedidos ou permitidos, dos bens
escassos correspondentes e das atividades privadas afins.
As agências reguladoras brasileiras passaram por um processo de
[267]
especialização. Elas transpareceram a especialização funcional exigida
por seu objeto de análise e, assim, compõem a equação de edificação do
[268]
correspondente subsistema jurídico.
Existem, no Brasil, agências federais, estaduais ou municipais, de
acordo com a competência político-administrativa do poder concedente.
Visualizando-as a partir da especialização funcional, as agências federais
apresentam-se, hoje, como setoriais, remetendo-se aos setores de
telecomunicações, energia elétrica, petróleo e gás natural, vigilância
sanitária, saúde suplementar, recursos hídricos, transportes terrestres,
transportes aquaviários, dentre outros. No campo estadual e municipal,
inaugurou-se uma maior presença de agências de regulação geral, como a
[269] [270]
ADM , embora convivendo com agências setoriais, como a AMSS e a
[271] [272] [273] [274]
CSPE , ou mesmo, multissetoriais , tais como ASEP , AGERGS ,
[275] [276] [277] [278]
ARCE , ARCON , ARSEP e AGERBA . O modelo estadual tende a
formar núcleos de competência setorial específicas em razão de sua
potencial relação de fomento com a União, já que, no modelo brasileiro, a
atividade reguladora vinculada à gestão dos serviços públicos pode ser
transferida da União para os Estados-Membros da Federação por intermédio
[279]
de convênio , em face no disposto no art. 241 da Constituição Federal
brasileira de 1988, com redação dada pela Emenda Constitucional nº19/98,
que autoriza a gestão associada de serviços públicos, bem como a
transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens
essenciais à continuidade dos serviços transferidos. A possibilidade de
convênio, no entanto, depende da existência de lei, autorizando a gestão
associada dos serviços pretendidos, como ocorre com o setor de energia
[280]
elétrica, em que a lei regente permite a execução das atividades
complementares de regulação, controle e fiscalização dos serviços e
instalações de energia elétrica pelos Estados e pelo Distrito Federal,
mediante convênio de cooperação. O convênio, por sua natureza, não
transfere a titularidade do serviço do ente regulador, que pode retomá-lo a
qualquer momento, exigíveis as devidas compensações.
A partir do momento em que foram introduzidas no modelo
regulatório brasileiro, as agências reguladoras fizeram aflorar o conceito de
otimização funcional, que vem exigir dois requisitos para sua
[281]
implementação : autonomia da agência reguladora; e escolha de
instrumentos que incentivem a eficiência produtiva e alocativa. Fala-se
muito em independência da agência reguladora, cuja origem tem como
referência natural a distinção da doutrina norte-americana entre as regular
[282]
ou oldline agencies e as independent agencies , mas para maior precisão
terminológica, o ideal seria a utilização do conceito de autonomia, mais
[283]
condizente com a necessária interpenetração estrutural do Estado. Tal
autonomia não deve ser entendida como arbítrio do colegiado decisório –
autonomia sem vínculo finalístico. Ela é exatamente definida pelo seu fim
de promoção do interesse público visualizado preponderantemente, quanto
aos serviços, no interesse do usuário e da sociedade e, quanto à política
industrial, de um lado, na eficiência da atividade regulada e de outro, na
vinculação da atividade ao fim de incremento do espaço público. Estes
fatores, sob um ponto de vista jurídico, prevalecem sobre outros objetivos
de maximização do lucro e concentração de empresas em setores mais
rentáveis do mercado, do ponto de vista das prestadoras, e maximização das
[284]
receitas fiscais, do ponto de vista do Estado.
A autonomia característica das agências reguladoras não se
restringe à idéia abstrata de menor vinculação política. Ela demanda
conformações estruturais e organizações concretas, que se manifestam na
personalidade de direito público interno, na autonomia de objetivos, de
instrumentos, orçamentária, financeira e na autonomia decisória, que
engloba o processo de indicação e inamovibilidade de seus membros e
irrecorribilidade das suas decisões.
O primeiro passo para visualização de um grau de independência
das agências está na sua natureza jurídica de pessoa de direito público
interno, revelando, assim, seu destaque da Administração direta como
autarquia federal, estadual ou municipal, conforme o ente político – União,
Estados-Membros, Distrito Federal ou Municípios – a que estiver ligada.
Argumentos como o descrédito do dirigismo estatal absoluto, a
ineficiência e comprometimento político das atividades desempenhadas
pelas empresas estatais e as pressões internacionais de abertura dos setores
econômicos são carregados de preconcepções de mundo que valorizam um
dos inúmeros aspectos exaltados no momento histórico da opção pela
introdução das agências reguladoras na década de 1990 no Brasil. Eles
teriam feito com que uma das características apontadas ou desejadas para as
agências reguladoras fosse a sua autonomia do poder público central.
Pode-se enunciar, ainda, como outra causa da autonomia das
agências frente ao poder público central, a busca por um espaço público,
cuja presença somente pode ser sentida quando este não se confunde com
os interesses de governo. Ao controlar o órgão regulador, a Administração
Direta do Estado faz prevalecer o interesse político sobre a eficiência e
qualidade da prestação do serviço, sobre o próprio interesse público de
modicidade das tarifas e sobre o interesse público no equilíbrio da relação.
Apesar da fluidez das análises esboçadas, sob quaisquer dos pontos de vista
citados, a questão da autonomia de gestão da agência reguladora apresenta-
se como a pedra de toque do modelo idealizado no Brasil.
Independentemente do acerto ou equívoco das afirmações
anteriores, o fato é que a estrutura desenhada para regulação setorial, no
Brasil, permitiu a fixação de um esquema de forças quadripartite: a)
produtor da utilidade pública; b) usuário/consumidor; c) Poder Público
detentor da rede essencial à prestação do serviço ou titular do monopólio de
exploração e, finalmente; d) o próprio ente regulador. O modelo brasileiro
posicionou a agência reguladora em local equidistante dos outros três atores
do esquema de relativa autonomia. O ente regulador pode sobrevalorizar
um dos outros três componentes, mas o fará sob pena de perder sua
condição de espaço público de discussão e contato entre os atores setoriais
e, portanto, em detrimento da credibilidade perante os demais atores
preteridos. O próprio esquema de forças vem simplificado ao extremo, pois
não contempla a distinção intestina de interesses, por exemplo, aos próprios
usuários/consumidores, já que há usuários e consumidores efetivos e
potenciais; há usuários e consumidores assinantes e eventuais. Por exemplo,
os usuários e consumidores efetivos detêm o interesse natural de
diminuição tarifária, que poderá levar a diminuir o ritmo de expansão do
serviço para aqueles que ainda não o alcançaram, contrastando, assim, com
[285]
o interesse dos usuários e consumidores potenciais.
A complexidade do esquema de forças e, em certos setores, como
o de telecomunicações, energia, petróleo e saúde, do expressivo peso do
poder econômico, aumenta a preocupação com o conhecido risco de
captura da agência pelo setor regulado. O esforço em se evitar que as
agências passassem a fazer às vezes de meras promotoras do sucesso
econômico do setor regulado em detrimento dos valores públicos que as
justificaram não necessariamente resultou na conformação dos mecanismos
de controle social visualizados nas agências da década de 1990, mas serve
como aceno de composição do modelo de regulação setorial para um viés
[286]
de publicização das discussões. Aqui, a valorização do controle social
[287]
previsto nas estruturas centrais de decisão das agências reguladoras.
[1]
Vide KELSEN, Hans. Reine Rechtslehre. Einleitung in die
rechtswissenschaftliche Problematik. Viena: Franz Deuticke, 1934.
[2]
Evidenciando o conceito de poder constituinte francês como aquele que
introduzira o Estado como fenômeno da ordem jurídica, vide: ZWEIG,
Egon. Die Lehre vom “Pouvoir Constituant”: Ein Beitrag zum
Staatsrecht des französischen Revolution. Tübingen: J. C. B. Mohr/Paul
Siebeck, 1909. Sob o enfoque institucionalista, entendendo o Estado como
ente ou instituição jurídica, vide: ROMANO, Santi. Princípios de direito
constitucional geral. Trad. Maria Helena Diniz, São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1977, p. 61. No âmbito da teoria da constituição, afirmando que
o Estado só se concebe hoje como Estado Constitucional, vide:
CANOTILHO, J. J. Gomes Canotilho. Direito constitucional e teoria da
constituição. 7ª ed., Coimbra: Almedina, 2003, p. 92.
[3]
“O poder no sentido social ou político implica autoridade e uma relação
entre o superior e o inferior (...) O poder do Estado é o poder organizado
pelo direito positivo – é o poder da lei, ou seja, a eficácia do direito
positivo.” (KELSEN, Hans. General Theory of Law and State. Trad.
Anders Wedberg. Cambridge: Harvard University Press, 1945, p. 190).
[4]
Vide OLIVEIRA, Régis Fernandes de. Delegação administrativa. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1986, p. 17.
[5]
Vide LABAREE, Benjamin Woods. The Boston Tea Party. Boston:
Northeastern Classics, 1979.
[6]
Vide JONHSTON, David Cay. The Fine Print. New York: Penguin, 2012, p. 23.
[7]
Vide ARANHA, M. I. Interpretação constitucional e as garantias
institucionais dos direitos fundamentais. São Paulo: Atlas, 1999.
[8]
O direito não mais se restringe a ordenar situações estruturais, voltando
sua atenção para a “regulação de situações conjunturais, o que impõe sejam
as normas dotadas de flexibilidade e estejam sujeitas a contínua
revisibilidade” (GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito
pressuposto. 3a ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 23. Conferir também: p.
86; 88-89; 136-139).
[9]
WALDO, Dwight. The Administrative State: A Study of the Political
Theory of American Public Administration. New Brunswick (USA):
Transaction Publishers, 2007, p. 93.
[10]
BOLINGBROKE, Henry St John, Visconde de. The Idea of a Patriot
King. p. 381. In: The Works of Lord Bolingbroke. Philadelphia: Carey and
Hart, 1841, p. 372-429.
[11]
Idem, p. 380.
[12]
MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat, baron de la Brède et de. O
espírito das leis. 2a ed., Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1995.
[13]
Vide GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 3ª
ed., São Paulo: Malheiros, 2000.
[14]
A noção de expressão primária e secundária da função política fora
aprofundada por Goodnow, em 1900, quando ele identificou a presença da
função política em dois graus: o primário, de decisão sobre a vontade do
Estado; e secundário, de execução da vontade do Estado. Vide:
GOODNOW, F. J. Politics and Administration. New York: The Macmillan
Co., 1900.
[15]
MADISON, James; HAMILTON, Alexander; JAY, John. The Federalist
Papers. New York: New American Library, 1961 (1787-1788, Federalist nº
47), p. 303.
[16]
Vide SCIGLIANO, Robert. The Two Executives: The President and the
Supreme Court. p. 277-293. In: LAWLER, Peter A.; SCHAEFER, Robert
M. (org.). The American Experiment: Essays on the Theory and Practice
of Liberty. Lanham, MD: Rowman and Littlefield, 1994, p. 285-286.
[17]
Vide SCIGLIANO, Robert. The Two Executives: The President and the
Supreme Court. p. 277-293. In: LAWLER, Peter A.; SCHAEFER, Robert
M. (org.). The American Experiment: Essays on the Theory and Practice
of Liberty. Lanham, MD: Rowman and Littlefield, 1994, p. 111-117.
[18]
Vide GULICK, Luther; LYNDALL, Urwick (coord.). Papers on the
Science of Administration. New York: Institute of Public Administration,
1937.
[19]
Vide CROLEY, Steven P. Regulation and Public Interests: The
Possibility of Good Regulatory Government. Princeton: Princeton
University Press, 2008, p. 14.
[20]
Vide BAKUNIN, Mikhail Aleksandrovich. Statism and Anarchy. Trad.
Marshall Sharon Shatz, Cambridge: Cambridge University Press, 2002.
[21]
Vide KROPOTKIN, Peter Alekseevich. Anarchism: a collection of
revolutionary writings. Mineola (N.Y.): Dover Publications, 2002.
[22]
“Devemos selecionar dentre aqueles homens [guardiães e auxiliares] uns
poucos para serem governantes (...)” (GROTE, George (org.). Plato and the
other companions of Socrates. Vol. III, London: John Murray, 1865, p.
56).
[23]
Vide ANDERSON, Fulton H. (org.). Francis Bacon: The New Organon
and Related Writings. Indianapolis: The Boobs-Merrill Company, 1960.
[24]
“(...) o poder arbitrário, sendo exercido pela própria sociedade, geraria as
maiores inconveniências (...) [A lei suprema da razão] exclui igualmente a
arbitrariedade da teologia, os direitos divinos dos reis, a arbitrariedade da
metafísica e a soberania do povo.” (LENZER, Gertrud (org.). Auguste
Comte and Positivism: The Essential Writings. 5ª ed., New Brunswick
(N.J.): Transaction, 2009, p. 49-50).
[25]
Vide RILEY, Patrick (org.). Bossuet: Politics Drawn from Holy
Scripture. Cambridge: University of Cambridge Press, 1999.
[26]
Vide SOMMERVILLE, Jóhann P. (org.). Filmer: Patriarcha and Other
Writings. Cambridge: University of Cambridge Press, 2000.
[27]
Vide LOCKE, John. Two Treatises of Government. London: Whitmore
and Fenn, 1821.
[28]
Vide BROWNE, Stephen H. Speech to the Electors of Bristol: The Space
of Rethorical Virtue, p. 67-81. In: Edmund Burke and the Discourse of
Virtue. Tuscaloosa: The University of Alabama Press, 1993.
[29]
MACHIAVELLI, Niccolò. Comentários sobre a primeira década de
Tito Lívio: Discorsi. Trad. Sérgio Bath, 3ª ed., Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1994.
[30]
O uso da expressão Estado Trabalhador – workers’ state – é significativa
para a presente análise, quando Marx responde à crítica de Bakunin a um
governo do proletariado: “Ele [Bakunin] deveria ter se perguntado: que
forma podem assumir as funções administrativas em um Estado trabalhador,
se lhe agrada chamá-lo assim?” (McLELLAN, David. Karl Marx: Selected
Writings. Oxford: Oxford University Press, 1982, p. 563).
[31]
Vide SCHMITT, Carl. Sobre el parlamentarismo. Trad. Thies Nelsson e
Rosa Grueso, 2ª ed., Madrid: Editorial TECNOS, 1996.
[32]
Vide KELSEN, Hans. ¿Quién debe ser el defensor de la Constitución?
Trad. Roberto J. Brie, 2ª ed., Madrid: Editorial TECNOS, 1999.
[33]
Vide GUIZOT, M. Histoire des origines de gouvernement représentatif
en Europe. Tomo I. Bruxelles: Wouters, 1851.
[34]
Vide ARENDT, Hannah. Sobre a Revolução. Lisboa: Relógio D’Água
Editores, 2001.
[35]
Vide WALDO, Dwight. Op. cit., p. 89-103.
[36]
Vide ARANHA, M. I. Políticas públicas comparadas de
telecomunicações (Brasil-EUA). Tese de Doutorado: CEPPAC (UnB),
2005.
[37]
Vide OLIVEIRA, Artur Coimbra de. Republicanismo, instituições e a
ingestão de normas internacionais por setores regulados brasileiros.
Dissertação de Mestrado: Faculdade de Direito (UnB), 2011.
[38]
Vide GÉRANDO, Joseph-Marie de. Institutions de Droit Administratif.
Paris: Librairie de la Cour de Cassation, 1829.
[39]
Vide MACAREL, Louis Antoine. Éléments de Droit Politique. Paris:
Librairie de la Cour de Cassation, 1833.
[40]
Vide CORMENIN, Barão de. Questions de Droit Administratif. Paris:
Chez M. Ridler, 1822.
[41]
Vide CASTRO, Marcus Faro de. Violência, medo e confiança: do governo
misto à separação dos poderes. In: Revista Forense 382: 157-180,
novembro/dezembro de 2005.
[42]
TEIXEIRA, Victor Cravo. A trajetória do poder regulamentar no
pensamento político francês e seus reflexos no Brasil: um olhar para
além dos manuais jurídicos. Dissertação de Mestrado: Faculdade de
Direito (UnB), 2012, p. 102.
[43]
Vide LAFERRIÈRE, Édouard. Traité de la Jurisdiction Administrative et
des Recours Contentieux. Tomo I. Paris: Berger-Levrault et Cie, 1896.
[44]
Vide HAURIOU, Maurice. Précis de Droit Administratif et de Droit
Public Général. Paris: L. Larose, 1900.
[45]
DUGUIT, Léon. Les transformations du Droit Public. Paris: Librairie
Armand Colin, 1913, p. 88.
[46]
MOREAU, Félix. Le Règlement Administratif. Étude Théorique et
Pratique de Droit Public Français. Paris: Albert Fontemoing, 1902, p. 2.
[47]
Vide JÈZE, Gaston. Le Réglement Administratif. In: Revue Générale
d’Administration, p. 6-22, maio de 1902.
[48]
SUNDFELD, Carlos Ari. Serviços públicos e regulação estatal, p. 17-38.
In: Idem (org.). Direito Administrativo Econômico. São Paulo: Malheiros,
2002, p. 30.
[49]
Vide DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administração
Pública: concessão, permissão, franquia, terceirização e outras formas.
3ª ed., São Paulo: Atlas, p. 25.
[50]
Sueli Dallari sintetiza os usos do termo a partir do século XVIII: “O
conceito de regulação, no século XVIII, está ligado à técnica, expressando
um sistema de comando destinado a manter constante o valor de uma
grandeza, quaisquer que sejam as perturbações que a possam fazer variar,
como, por exemplo, o termostato. No século XIX, ele se difunde pela
fisiologia, significando os equilíbrios dinâmicos do corpo, e, assim,
definem-se seus traços essenciais: ‘manter um ambiente equilibrado; apesar
das perturbações exteriores, graças a um conjunto de ajustamentos’. Seu
uso só se dissemina nas ciências sociais, entretanto, durante o século XX,
sob influência do desenvolvimento da cibernética, que implica sempre um
mecanismo de auto-regulação, permitindo aos sistemas organizados corrigir
suas ações por meio das informações sobre seus resultados recebidas do
ambiente. É, então, a teoria dos sistemas que irá se introduzir na teoria das
organizações, na economia, na sociologia, na ciência política e no direito.”
(DALLARI, Sueli. Direito Sanitário. p. 57-58. In: ARANHA, M. I. (org.).
Direito Sanitário e Saúde Pública. Vol. I, Brasília: Ministério da Saúde,
2003, p. 39-64).
[51]
Vide AUTIN, J. L. Refléxions sur l’usage de la régulation en droit
publique. In: MIAILLE, M. La régulation entre droit et politique. Paris:
L’Harmattan, 1995.
[52]
Afirmando que “a linguagem e a prática da regulação têm ingressado, nas
últimas três décadas [1980, 1990 e 2000], na linguagem da política pública,
do direito e da economia” (BALDWIN, Robert; CAVE, Martin; LODGE,
Martin. (org.). Regulation: The Field and the Developing Area, p. 3-16. In:
The Oxford Handbook of Regulation. Oxford: Oxford University Press,
2010, p. 4).
[53]
OGUS, Anthony I. Regulatory Law: Some Lessons from the Past. In:
Legal Studies (London) 12(1): 1-19, 1983, p. 1.
[54]
Vide ELTON, Geoffrey Rudolph. The Tudor Revolution in Government:
Administrative Changes in the Reign of Henry VIII. Cambridge:
Cambridge University Press, 1953.
[55]
Vide BEVIR, Mark; TRENTMANN, Frank (org.). Markets in Historical
Contexts: Ideas and Politics in the Modern World. Cambridge: Cambridge
University Press, 2004.
[56]
A afirmação transcrita a seguir é um exemplo desse uso indevido do
termo ‘planejamento’ como sinômino de um formato estatal superado pelo
Estado Regulador: “Privatization and deregulation have created the
conditions for the rise of the regulatory state to replace the dirigiste state of
the past. Reliance on regulation – rather than public ownership, planning
or centralized administration – characterises the methods of the regulatory
state.” (MAJONE, Giandomenico. The Rise of the Regulatory State in
Europe. In: West European Politics 17(3): 77-101, Julho de 1994, p. 77.)
[57]
Vide PINTO, Álvaro Vieira. O conceito de tecnologia. Vol. I, Rio de
Janeiro: Contraponto Editora, 2005.
[58]
Moran elenca os principais autores e obras inaugurais do Estado
Regulador que utilizam o linguajar da ciência política. Em seu estudo, a
regulação, em sua dimensão de história institucional, é definida como uma
“tecnologia administrativa de controle de negócios por intermédio de
agências especializadas e apoiadas em leis específicas em oposição ao
controle via técnica de propriedade estatal” (MORAN, Michael. Review
Article: Understanding the Regulatory State. In: British Journal of
Political Science 32: 391-413, 2002, p. 392).
[59]
As agências são um “bem de produção de ordem superior”, na
terminologia de Vieira Pinto (PINTO, A. V., op. cit., p. 112). Elas
produzem bens de produção de ordem elementar de controle e incentivo de
setores da economia. Ao se identificar a agência reguladora como um bem
vital a setores da economia, opta-se, na lógica regulatória, por uma das
manifestações da libertação humana à medida que o processo histórico de
constituição das agências reguladoras lhes imprime com o esforço material
e mental necessário à sua institucionalização. As agências são mediações
entre o ser humano e sua contradição natural para alteração da realidade via
esse engenho humano. Assim, as agências são essenciais para a regulação
moderna pois se constituem na configuração histórico-institucional de
como, no Estado Regulador, a sociedade optou por mediar sua relação com
setores da economia.
[60]
Vide CROLEY, Steven P. Regulation and Public Interests: The
Possibility of Good Regulatory Government. Princeton: Princeton
University Press, 2008.
[61]
De acordo com a teoria da public choice, grupos de interesse competiriam
por bens regulatórios, ou mais friamente, pela compra de legislação de
políticos e burocratas, bem como outras medidas regulatórias para o
benefício de seus interesses privados.
[62]
Sobre os clássicos da teoria da public choice, vide: BLACK, Duncan. The
Theory of Committees and Elections. Cambridge: Cambridge University
Press, 1958; DOWNS, Anthony. Uma Teoria Econômica da Democracia.
Trad. Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos, São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1999 (Original de 1957); OLSON, Mancur. The
Logic of Collective Action: Public Goods and the Theory of Groups.
Harvard, 2002 (Original de 1965); ARROW, Kenneth J. Social Choice and
Individual Values. 2ª ed., New Haven: Yale University Press, 1963;
BUCHANAN, James M.; TULLOCK, Gordon. The Calculus of Consent:
Logical Foundations of Constitutional Democracy. Ann Arbor: University
of Michigan Press, 1965.
[63]
Vide ROSE-ACKERMAN, Susan; LINDSETH, Peter L. (org.).
Comparative Administrative Law. Cheltenham, UK: Edward Elgar, 2010.
[64]
Vide STEWART, Richard B. Regulation and the Crisis of Legalisation in
the United States. In: DAINTITH, Terence (org.). Law as an Instrument of
Economic Policy: Comparative and Critical Approaches. Berlin: Gruyter,
1988, p. 97-133; STEWART, Richard B. Regulation in a Liberal State: The
Role of Non-Commodity Values. In: Yale Law Journal 92 (1983), 1537-
1590.
[65]
SUNSTEIN, Cass R. After the Rights Revolution: Reconceiving the
Regulatory State. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1990, p. 13.
[66]
Vide BRAITHWAITE, John. Crime, Shame and Reintegration.
Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
[67]
Vide AYRES, Ian; BRAITHWAITE, John. Responsive Regulation:
Transcending the Deregulation Debate. Oxford: Oxford University Press,
1992.
[68]
GUNNINGHAM, Neil; GRABOSKY, Peter. Smart Regulation:
Designing Environmental Policy. Oxford: Clarendon Press, 1998.
[69]
Vide TEUBNER, Gunther. O direito como sistema autopoiético. Trad.
José Engrácia Antunes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.
[70]
Sobre o significado de modernização reflexiva, vide: BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Editora Unesp,
1995.
[71]
Vide GONÇALVES, Pedro. Entidades privadas com poderes públicos.
Coimbra: Almedina, 2005.
[72]
Vide COIMBRA, Artur. O papel do órgão regulador na resolução de
disputas entre operadoras de telecomunicações: a arbitragem e a mediação
à luz das experiências japonesa, inglesa e americana. In: Revista de
Direito, Estado e Telecomunicações 1(1): 111-159, 2009.
[73]
Vide LEMES, Selma Maria Ferreira. Arbitragem na Concessão de
Serviços Públicos – Arbitrabilidade Objetiva. Confidencialidade ou
Publicidade Processual? RDM 134: 148-163, abr./jun., 2004.
[74]
BRASIL. STJ. Resp 904.813/PR. Relatora Min. Nancy Andrighi. 3ª
Turma. Julgado em 20/10/2011. DJe 28/02/2012.
[75]
Não se fala em direção no sentido absoluto de crença moderna no devir
em detrimento do ser, mas exatamente na constatação de que o estudo da
normatização de condutas é um processo próprio ao ser social e não
simplesmente de predefinição de condutas individuais capazes de, por si só,
esgotarem a realidade. A propósito da persistência do ser, no século
inaugurador moderno (séc. XVII), como categoria maior do pensamento a
conviver com a proposta racionalista do devir, vide: BAUMER, Franklin Le
Van. O pensamento europeu moderno: séculos XVII e XVIII. Vol. I,
Lisboa: Edições 70, 1990, p. 47. Não se pode fugir, aqui, entretanto, à
crítica de subserviência ao pensamento moderno de substituição da meta
contemplativa dos Antigos (de estabilidade) por um fim utilitário e ativista
(de movimento) dos Modernos, embora temperado, nesta exposição, pela
compreensão de que a previsibilidade não é o único fundamento para o
esforço de se influenciar a realidade.
[76]
Vide BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo,
respostas da globalização. Trad. André Carone, São Paulo: Paz e Terra,
1999.
[77]
Sundfeld define o ‘direito global’ como o que se opõe ao direito
doméstico. “O direito global extrapola largamente as fronteiras do Estado
Nacional para buscar suas fontes também fora dele [mas] a simples
existência de órgãos e de fontes normativas internacionais nem constitui
novidade nem basta para caracterizar uma “nova era”. Esta é derivada,
portanto, não do surgimento, mas da intensificação do fenômeno”
(SUNDFELD, Carlos Ari. A Administração Pública na era do direito
global. p. 157-158. In: SUNDFELD, Carlos Ari e VIEIRA, Oscar Vilhena.
Direito global. São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 157-168).
[78]
A globalização não é um acontecimento estanque, é uma “onda que traduz
uma nova cultura (...) é o produto inevitável do chamado ‘efeito
demonstração’ derivado dos extraordinários avanços da tecnologia”
(CHACEL, Julian (org.). A globalização em debate. p. 5. In: Carta Mensal,
Rio de Janeiro, v. 46, n. 546, p. 3-14, set. de 2000). Pode-se identificar a
globalização como “um processo e não como um fato consumado”
(CALDAS, Ricardo W. O Brasil e o mito da globalização. São Paulo:
Celso Bastos Editor, 1999, p. 18).
[79]
O comentário de Eros Roberto Grau é revelador: “Modernas são a
economia japonesa e os regimes de protecionismo econômico interno norte-
americano e europeu, que não fazem nenhum exemplo de mercado livre. De
modo que ser moderno, hoje, é no mínimo já ter consciência de que o
mercado é impossível sem uma legislação que o proteja e uma
vigorosamente racional intervenção, destinada a assegurar sua existência e
preservação” (GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito
pressuposto. 3aed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 92). Ser
verdadeiramente moderno é intervir com vigor, força, conhecimento,
prospecção, enfim, é desenhar e implementar política pública.
[80]
“O termo de origem francesa ‘mundialização’ (mondialisation) encontrou
dificuldades para se impor, não apenas em organizações internacionais,
mesmo que supostamente bilíngues, como a OCDE, mas também no
discurso econômico e político francês. Isso se deve (...) ao fato de que o
termo ‘mundialização’ tem o defeito de diminuir, pelo menos um pouco, a
falta de nitidez conceitual dos termos ‘global’ e ‘globalização’.”
(CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã
Editora, 1996, p. 24 – Original: La mondialisation du capital. Paris: Syros,
1994).
[81]
A mundialização significa “que as decisões já não são nacionais ou locais,
pertencendo a alguma congregação supranacional de caráter mundial. Mas
para a Comissão Internacional de Juristas, o sentido talvez mais importante
[da globalização] é que ela evoca as novas redes que os cidadãos estão
formando e as relações cada vez mais estreitas, que matêm o movimento de
direitos humanos” (CLAPHAM, Andrew. La mundialización y el imperio
del Derecho. p. 17. In: La Revista de la Comisión Internacional de
Juristas – mundialización, derechos humanos e imperio del derecho. n.
61, 1999, p. 17-37).
[82]
O termo ‘realinhamento constitucional’ é utilizado por Oscar Vieira para
designar a influência dos fatores de pressão internacionais sobre os sistemas
constitucionais nacionais. Conferir: VIEIRA, Oscar Vilhena.
Realinhamento constitucional. In: SUNDFELD, Carlos Ari e VIEIRA,
Oscar Vilhena (coord.). Direito global. São Paulo: Max Limonad, 1999, p.
15-48.
[83]
Ao analisar a globalização sob o tríplice enfoque de regionalização,
direitos humanos e economia, Oscar Vieira identifica um realinhamento
bidirecional nos movimentos de regionalização (VIERIA, Oscar. op.cit., p.
28) e direitos humanos (VIERIA, Oscar. op.cit., p. 29). Haveria, nestes,
uma influência recíproca entre os movimentos citados e as posições
políticas dos países da comunidade internacional. Já no que diz respeito à
globalização econômica como “liberdade total ao capital internacional”
(VIERIA, Oscar. op.cit., p. 17), o autor não consegue identificar o
movimento de influência dos países neste fenômeno uniformizador:
“Diferentemente dos demais fenômenos da globalização, não temos neste
caso [da globalização econômica] a já mencionada via de duas mãos. Há
apenas uma assimilação dos padrões internacionais, sob a perspectiva de
que são essenciais para se participar do processo de globalização”
(VIERIA, Oscar. op.cit., p. 46-47).
[84]
Vide GALBRAITH, John Kenneth. O novo Estado Industrial. São
Paulo: Editora Nova Cultural, 1997. Para Galbraith, a substituição do
sistema de mercado pelo sistema de planejamento teria modificado a
estrutura de poder nas empresas e na sociedade em razão do aumento da
escala de produção, do avanço da tecnologia e do conhecimento
interdisciplinar, que exigem elevado tempo de maturação dos
empreendimentos cada vez mais complexos. A decisão teria migrado da
propriedade do capital para sua gestão. O controle, agora, estaria nas mãos
do administrador qualificado pelo conjunto de informações necessárias à
gestão do negócio mediante a criação de novas necessidades moldadas pelo
aparato propagandístico, derrubando por terra a soberania do consumidor.
Tal inteligência organizada da empresa constituiria sua tecnoestrutura,
cujas decisões técnicas e impessoais – tecnocracia – acabariam por
suplantar a liberdade individual de direcionar o desenvolvimento.
[85]
Bresser Pereira, ao definir o mercado como o mecanismo de alocação
eficiente de recursos por excelência, afirma a precedência do Estado
moderno ao mercado capitalista na medida em que é o Estado que garante
os direitos de propriedade e a execução dos contratos. Vide PEREIRA, Luiz
Carlos Bresser. A reforma do Estado dos anos 90: lógica e mecanismos
de controle. Brasília: Ministério da Administração Federal e Reforma do
Estado, 1997, p. 9-10.
[86]
“Não basta editar uma lei abstrata, genérica e distante, dizendo que
nenhuma exploração da atividade industrial pode ultrapassar certo limite de
poluição, causando dano à saúde do vizinho. É preciso que o Estado vá
trabalhando com a realidade todo o tempo, para definir, nas situações que se
põem, o que é ou não uma emissão de poluentes aceitável; assim obter-se-á
a paulatina diminuição da emissão de poluentes. É preciso impor graus
crescentes de restrições à emissão de poluentes, e para isso a lei é
insuficiente. Ninguém imagina que o legislador vá cuidar de regular o nível
de emissão de poluentes do bairro do Maracanã no ano de 1998; e, em
janeiro de 99, editar outra lei para estabelecer que já é hora de diminuir
ainda mais o nível de emissão de poluentes; e, no meio do ano,
considerando que aquele nível eleito foi otimista demais, editar nova lei
para voltar atrás. Alguém imagina que o legislador possa fazer isso,
dedicando-se, ele próprio, a um verdadeiro gerenciamento normativo da
realidade?” (SUNDFELD, Carlos Ari. Agências reguladoras e os novos
valores e conflitos. p. 1293-1294. In: Anais da XVII Conferência
Nacional dos Advogados. Justiça: realidade e utopia. Vol. II, Rio de
Janeiro: Ordem dos Advogados do Brasil, 1999, p. 1291-1297).
[87]
Eficiência esta que foi elevada à categoria constitucional com a Emenda
Constitucional nº 19/98, que alterou o art.37, caput da Constituição Federal
brasileira de 1988.
[88]
O direito administrativo sempre sofreu os influxos da evolução
tecnológica, como bem demonstram as regulamentações municipais do
direito de construir, que acompanham a evolução das técnicas de construção
e do crescimento correspondente dos riscos. A novidade de hoje está na
ampliação sensível deste fenômeno de regulamentação conjuntural para
setores da economia, no Brasil, submetidos a escassa regulamentação
estatal direta devido à suficiência da autorregulamentação das então
empresas estatais.
[89]
O termo publicatio é utilizado para denotar a transferência da titularidade
de atividades das mãos privadas para o Estado.
[90]
Vide GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. Teoria dos serviços públicos e
sua transformação, p. 64. In: SUNDFELD, Carlos Ari (coord.). Direito
administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 39-71.
[91]
Sobre as características e distinções entre o Direito Administrativo anglo-
americano e o Direito Administrativo de matriz francesa, vide: PESSOA,
Robertônio. Curso de direito administrativo. Brasília: Editora Consulex,
2000, p. 51-58.
[92]
O art.149 da Constituição Federal de 1934 estabelecia o dever do Estado e
da família de prestar educação. O anteprojeto da Carta Constitucional de
1934 era mais claro, pois previa, no título XI (Da Cultura e do Ensino), no
art.112: “O ensino será público ou particular, cabendo àquele,
concorrentemente à União, aos Estados e aos Municípios. O regime do
ensino, porém, obedecerá a um plano geral traçado pela União, que
estabelecerá os princípios normativos da organização escolar e fiscalizará,
por funcionários técnicos privativos, a sua execução”. A Constituição
Federal de 1937 foi mais clara: “Art.129. À infância e à juventude, a que
faltarem os recursos necessários à educação em instituições particulares, é
dever da Nação, dos Estados e dos Municípios assegurar, pela fundação de
instituições públicas de ensino em todos os seus graus, a possibilidade de
receber uma educação adequada às suas faculdades, aptidões e tendências
vocacionais”. A Constituição de 1946, por sua vez, assim disciplinou:
“Art.167. O ensino dos diferentes ramos será ministrado pelos podêres
públicos e é livre à iniciativa particular, respeitadas as leis que o regulem”.
A Constituição Federal de 1967 e Emenda nº1 de 1969 seguiram a mesma
linha: “Art.168. (...) §2o Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à
iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos
Podêres Públicos, inclusive bôlsas de estudo”. Finalmente, a Constituição
Federal de 1988 disciplina: “Art.205. A educação, direito de todos e dever
do Estado (...); Art.209. O ensino é livre à iniciativa privada (...)”.
Históricos normativos semelhantes podem ser desenhados para os setores
de saúde, abastecimento alimentar e sistema financeiro.
[93]
“A frustação com estas categorias ubíquas [de público e privado] surge
parcialmente porque elas são posicionadas para descreverem oposições em
nosso pensamento. No cerne de muitas de suas aplicações aparecem as duas
idéias de que o público está para o privado tal como aberto está para
fechado e como o todo está para a parte.” – tradução livre do original
(STARR, Paul. The meaning of privatization. p. 16. In: KAMERMAN,
Sheila B. & KAHN, Alfred J. Privatization and the Welfare State.
Princeton: Princeton University Press, 1989).
[94]
O conceito de serviço público como o “serviço disponível ao público”
serviu à justificação da provisão privada de serviços públicos sob a óptica
econômica de estratégias de fomento do mercado, mas não se adequa nem
satisfaz as exigências jurídicas de orientação da prestação de serviços
públicos e privados. Conferir: ROTH, Gabriel. The private provision of
public services in developing countries. Washington: Economic
Development Institute, 1987, p. 1.
[95]
Argumentando pela caracterização do modelo regulatório, segundo a
ideologia constitucionalmente adotada pela Constituição Federal de 1988
no Brasil, como afeto um ambiente concorrencial, mas avesso ao jogo dos
mercados, assim entendido aquele caracterizado pela livre iniciativa e a
livre concorrência, vide: CARVALHO, Carlos Eduardo Vieira de.
Regulação de Serviços Públicos na Perspectiva da Constituição
Econômica Brasileira. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.
[96]
Daí a afirmação de Eros Roberto Grau de que “a privatização dos serviços
públicos instala um autêntico caos em suas teorizações [do direito
administrativo], abalando a própria noção de serviço público, que lhe tem
servido de sustentáculo” (GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito
pressuposto. 3aed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 125).
[97]
Diz-se da relação em que o Estado detém uma posição privilegiada,
gerando efeitos de subordinação. Conferir: SUNDFELD, Carlos Ari.
Fundamentos de direito público. São Paulo: Malheiros Editores, 1992, p.
68.
[98]
Vide GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. Teoria dos serviços públicos e
sua transformação, p. 63-64. In: SUNDFELD, Carlos Ari (coord.). Direito
administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 39-71.
[99]
Autorização seria, neste caso, o “ato do Poder Público que libera o
desempenho de atividade econômica, a qual continua sujeita ao seu regime
próprio, de direito privado” (NETO, Benedicto Porto. Concessão de
serviço público no regime da Lei n. 8.987/95: conceitos e princípios. São
Paulo: Malheiros, 1998, p. 140). Os arts.126 e 131 da Lei Geral de
Telecomunicações são exemplos característicos desta concepção: “Art.126.
A exploração de serviço de telecomunicações no regime privado será
baseada nos princípios constitucionais da atividade econômica”. “Art.131.
A exploração de serviço no regime privado dependerá de prévia autorização
da Agência, que acarretará direito de uso das radiofrequências necessárias”.
[100]
Vide DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administração
Pública: concessão, permissão, franquia, terceirização e outras formas. 3a
ed., São Paulo: Atlas, 1999, p. 122-129.
[101]
Em sede da Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
1668, julgada em 20 de agosto de 1998, e referente a diversos dispositivos
da Lei Geral de Telecomunicações (Lei 9.472/97), o Supremo Tribunal
Federal pronunciou-se pela constitucionalidade do disposto no art. 65, III e
§2º, que trata expressamente da concomitância de prestação dos serviços de
telecomunicações em regime público e privado. No âmbito dos transportes,
o Recurso Extraordinário nº 220.999-7 resultou no posicionamento da Corte
no sentido de não se considerar como serviço público a atividade de
transporte aquaviário exclusivamente de mercadorias de empresas privadas.
[102]
Vide ORTIZ, Gaspar Ariño; MARTINEZ, J. M. De La Cuétera; LÓPEZ-
MUNIZ, J.L. El nuevo servicio público. Madri: Marcial Pons, 1997.
[103]
Vide GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. Teoria dos serviços públicos e
sua transformação, p. 62. In: SUNDFELD, Carlos Ari (coord.). Direito
administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 39-71.
[104]
Exemplo esclarecedor da desintegração vertical consta em Grotti: “É o
que já ocorre, no Brasil, com os serviços de navegação aérea ou de
transporte rodoviário: os aeroportos e rodovias são objeto de monopólio
natural, atividade não-competitiva de infraestrutura; essa infraestrutura é
utilizada, com liberdade e igualdade de acesso, pelos inúmeros prestadores
de serviço individuais” (GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. Teoria dos
serviços públicos e sua transformação, p. 63. In: SUNDFELD, Carlos Ari
(coord.). Direito administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000,
p. 39-71).
[105]
Fala-se, aqui, em riscos do serviço privado em si: se o serviço deixar de
ser prestado, o Estado não intervem para prestá-lo ele próprio. Não se está
comentando o risco dirigido ao prestador do serviço, pois, neste caso,
mesmo o prestador de serviços públicos está sujeito ao risco natural do
negócio. A propósito, as definições de concessão e permissão na Lei Geral
de Concessões determinam que o concessionário e permissionário de
serviços públicos os prestarão por “sua conta e risco” (art. 2o, II, III e IV da
Lei 8.987/95).
[106]
Vide BURNHAM, William. Introduction to the Law and Legal System
of the United States. 4ª ed., St. Paul: Thomson/West, 2006.
[107]
Em revisão da literatura sobre política regulatória, estudo da Revista
Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais salienta a
insuficiência da tradicional divisão binomial entre dois tipos de regulação
pública: regulação por agência regulatória; e regulação pela estatização.
Conferir: MELO, Marcus André. Política regulatória: uma revisão da
literatura. p. 8-9. In: Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em
Ciências Sociais, nº 50, 2o semestre de 2000, p. 7-43. A distinção
tradicional entre regulação via propriedade pública e via agência ou
comissão independente é imprecisa sob o enfoque jurídico, pois pressupõe
que a existência de bens públicos afasta a técnica de regulação via agência,
o que, de fato, pode ser verdade nos modelos de tradição anglo-americana,
mas não no modelo brasileiro, que comporta um rol mais elaborado de
espécies de regulação.
[108]
Vide STRAUBHAAR, Joseph. Tendências mundiais, p. 47. In:
SIQUEIRA, Ethevaldo (et al.). Telecomunicações: privatização ou caos.
São Paulo: TelePress Editora, 1993, p. 42-47. Relatando as esperadas
diferenças entre modelos regulatórios no mundo, cita, em 1993, a
experiência da Jamaica, que optara por contratos detalhados ao invés da
criação de órgãos reguladores.
[109]
Vide CARVALHO, Carlos Eduardo Vieira de. Regulação de Serviços
Públicos na Perspectiva da Constituição Econômica Brasileira. Belo
Horizonte: Del Rey, 2007.
[110]
Vide ROSANVALLON, Pierre. A crise do Estado-providência. Trad.
Joel Pimentel de Ulhôa, Goiânia: Editora Universidade Federal de Goiás e
Editora da Universidade de Brasília, 1997.
[111]
Costuma-se apontar a alteração de postura de intervenção direta para a de
intervenção indireta como resultado da crise fiscal do Estado dos anos 80 e
90. Conferir: PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A reforma do Estado dos
anos 90: lógica e mecanismos de controle. Brasília: Ministério da
Administração Federal e Reforma do Estado, 1997, p. 11-13.
[112]
Vide SALOMÃO FILHO, Calixto. Regulação da Atividade Econômica:
Princípios e Fundamentos Jurídicos. São Paulo: Malheiros, 2001.
[113]
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A reforma do Estado dos anos 90:
lógica e mecanismos de controle. Brasília: Ministério da Administração
Federal e Reforma do Estado, 1997, p. 17.
[114]
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A reforma do Estado dos anos 90:
lógica e mecanismos de controle. Brasília: Ministério da Administração
Federal e Reforma do Estado, 1997, p. 32 e seguintes.
[115]
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A reforma do Estado dos anos 90:
lógica e mecanismos de controle. Brasília: Ministério da Administração
Federal e Reforma do Estado, 1997, p. 33. “Para a agenda liberal tornava-
se, agora, necessário, ao mesmo tempo desregular e regular: desregular para
reduzir a intervenção do Estado; regular, para viabilizar a privatização”.
[116]
Há proposta de terminologia específica para os serviços submetidos ao
tratamento dito competitivo, em que coexistem regimes jurídicos distintos
na prestação da mesma atividade, como ocorre com as telecomunicações,
energia elétrica, vigilância sanitária dentre outros. A proposta de Sundfeld
segue orientação européia, que passou a chamá-los serviços de interesse
econômico geral. Conferir, a respeito: SUNDFELD, Carlos Ari. A
Administração Pública na era do direito global. p. 161: nota 6. In:
SUNDFELD, Carlos Ari & VIEIRA, Oscar Vilhena. Direito global. São
Paulo: Max Limonad, 1999, p. 157-168. Persiste, todavia, a questão de se
saber se a adoção desta terminologia esclarecerá ou confundirá ainda mais o
esforço de divisão do regime aplicado a cada tipo de serviço relativo a
setores econômicos.
[117]
Vide AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços
públicos. São Paulo: Max Limonad, 1999, p.164.
[118]
Preferiu-se a utilização do conceito de centralização e descentralização
por revelar, na sua ancianidade, a ligação de subordinação à Administração
Pública, que é o sentido visado na diferenciação entre controle pela
centralização e controle pela descentralização. Para uma análise da
centralização como subordinação, vide: URUGUAI, Paulino José Soares de
Souza, Visconde de. Ensaio sobre o direito administrativo. Fac-símile da
edição de 1960, Brasília: Imprensa Nacional, 1997, p. 346. Para uma
análise da centralização como unidade, vide: DEBBASCH, Charles. Droit
administratif. Paris: Éditions Cujas, 1972, p. 87-88. Themistocles
Cavalcanti, por sua vez, deriva a descentralização da necessidade de
especialização em face da complexidade funcional do Estado:
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Tratado de direito
administrativo. Vol. II, 5ªed., Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1964,
p. 83-84. Finalmente, esmiuçando a evolução dos significados dos termos
centralização e descentralização (descentralização política versus
administrativa; descentralização da decisão versus da gestão; territorial
versus por serviços ou institucional – p. 17 e seguintes) e criticando a
concepção unívoca de descentralização como transferência de competências
a pessoas jurídicas (p. 59), ressaltando a independência como essencial ao
conceito de descentralização (p. 69), vide: ORTIZ, Gaspar Ariño.
Descentralización y planificación. Madri: Instituto de Estudios de
Administracion Local, 1972. (Colección Estudios de Administración
Local).
[119]
AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços públicos.
São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 165 e seguintes; 181 e seguintes.
“Observamos que a preferência pela expressão “regulação desconcentrada”
em detrimento da expressão consagrada “desregulamentação” se prende a
que entendemos que a ausência de regulamentação é uma forma de
regulação imposta pelo Estado” (p. 165). Aguillar defende a adoção da
primeira nomenclatura, pois entende que a liberdade desfrutada pela
iniciativa privada nas atividades econômicas desregulamentadas é
“consequência de uma política regulatória estatal, uma política de
regulação pela desconcentração” (p. 211). O autor não utiliza o termo
desconcentração no sentido técnico-jurídico de oposição à descentralização
– diferença já sedimentada na doutrina de direito administrativo. Conferir:
DEBBASCH, Charles. Droit administratif. Paris: Éditions Cujas, 1972, p.
88-89; DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São
Paulo: Atlas; GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. São Paulo:
Saraiva; MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São
Paulo: Revista dos Tribunais; MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso
de direito administrativo. São Paulo: Malheiros; MUKAI, Toshio. Direito
administrativo. São Paulo: Saraiva.
[120]
AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços públicos.
São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 191 e seguintes.
[121]
Vide AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços
públicos. São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 212. A regulação operacional
“é manifestada pela preferência outorgada à iniciativa privada ou às
empresas e órgãos estatais para o desempenho de certas atividades de
interesse público” (p. 164).
[122]
A regulação normativa “diz respeito ao poder de regulamentar
efetivamente o setor que interessa ao Estado” (AGUILLAR, Fernando
Herren. op.cit., p. 164).
[123]
Fala-se em tendência, pois a opção regulatória estatal não está entre dois
pólos, mas em um continuum de centralização e descentralização, como
ressalta um pequeno estudo dirigido à Administração Pública Federal:
MARCELINO, Gileno Fernandes. Descentralização: um modelo
conceitual. Brasília: Fundação Centro de Formação do Servidor Público –
FUNCEP, 1988, p. 28.
[124]
A terminologia intervencionismo direto e intervencionismo indireto
também é utilizada, mas não permite todas as combinações possíveis como
ocorre com os termos regulação operacional e normativa, centralizada e
descentralizada. Adotando os conceitos de intervencionismo direto e
indireto, vide: MARQUES NETO, Floriano Azevedo. A nova regulação
estatal e as agências independentes. p. 74. In: SUNDFELD, Carlos Ari
(coord.). Direito administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000,
p. 72-98.
[125]
Para Floriano Marques, o intervencionismo indireto é caracterizado pela
concreta atuação do Estado “no fomento, na regulamentação, no
monitoramento, na mediação, na fiscalização, no planejamento, na
ordenação da economia” (MARQUES NETO, Floriano Azevedo. A nova
regulação estatal e as agências independentes. p. 74. In: SUNDFELD,
Carlos Ari (coord.). Direito administrativo econômico. São Paulo:
Malheiros, 2000, p. 72-98).
[126]
“O Estado tem que se organizar para fazer mais do que editar uma lei
geral para vigorar por tempo indeterminado e depois cuidar dos conflitos
individuais. E, para isso ele tem de intervir mais. Aqui está a questão. O
modelo que conhecemos – a separação de poderes tradicional e as funções
que competiam aos Poderes Judiciário e Legislativo – era perfeitamente
coerente com o baixo intervencionismo estatal. Se o Estado não está muito
preocupado em gerenciar a realidade ambiental de modo a ir apertando
paulatinamente as exigências para melhorar o meio ambiente; se quer
deixar os membros da sociedade acertarem suas diferenças
independentemente da ordem jurídica, aí pode realmente editar uma norma
geral que vigore por sessenta ou mais anos, como o Código Civil, e depois
solucionar os conflitos pelo Poder Judiciário. Mas, se o Estado quer
perseguir concretamente o valor ambiental, vair ter que intervir mais,
editando normas seguidamente, dando-lhes conteúdos cada vez menos
gerais, tratando de temas cada vez mais particulares. Assim, poderá realizar
o gerenciamento normativo dos conflitos (...) Como o Estado é obrigado a
intervir [normativamente, em princípio], ele criou as agências reguladoras”
– grifos nossos (SUNDFELD, Carlos Ari. Agências reguladoras e os novos
valores e conflitos, p. 1294 e 1296. In: Anais da XVII Conferência
Nacional dos Advogados. Justiça: realidade e utopia. Vol. II, Rio de
Janeiro: Ordem dos Advogados do Brasil, 1999, p. 1291-1297). Tal
gerenciamento normativo dos conflitos somente pode ser alcançado por
mecanismos institucionais de organização dinâmica e de contato direto
setorial, como as agências reguladoras. Planejar e replanejar
constantemente: estes são os conceitos basilares da política regulatória
normativa centralizada.
[127]
Themistocles Cavalcanti posiciona-se nitidamente a favor da segunda
corrente: “No primeiro grupo encontram-se as empresas, alguns
contabilistas incapazes de adaptarem os seus conhecimentos ao problema
mais geral, e finalmente alguns economistas e financistas clássicos,
temerosos de uma intervenção do Estado, no pressuposto de sua
incapacidade para administrar (....). Do segundo grupo, são os que se
colocam na posição de equilíbrio entre os interesses das empresas e dos
consumidores, mas consideram, em primeiro plano, os interesses desses
últimos para quem os serviços foram criados e a cujos interesses, portanto,
devem atender precipuamente” (CAVALCANTI, Themistocles Brandão.
Tratado de direito administrativo. Vol. II, 5ªed., Rio de Janeiro: Livraria
Freitas Bastos, 1964, p. 500-501).
[128]
Analisando a posição institucional dos poderes políticos adotada pela
Constituição Federal de 1988 do Brasil, vide: FERRAZ, Anna Cândida da
Cunha. Conflito entre poderes: o poder congressual de sustar atos
normativos do Poder Executivo. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1994.
[129]
MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat, baron de la Brède et de. O
espírito das leis. 2aed., Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1995, p.
118-119.
[130]
Aristóteles divide em três partes as que devem compor as formas de
constituição encarregadas de: deliberação sobre assuntos públicos; funções
públicas (executivas); e do poder judiciário. Conferir: ARISTÓTELES.
Política. Trad. Mário da Gama Kury, 3aed., Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 1997, p. 151-160.
[131]
Apontado como o inaugurador da doutrina teorético-constitucional do
equilíbrio dos poderes, Bolingbroke a enunciou em escritos exparsos.
Conferir: SCHMITT, Carl. Teoría de la constitución. Trad. Francisco
Ayala, Madri: Alianza Editorial, 1992, p. 187.
[132]
Locke ultima a divisão de funções em divisão de poderes legislativo de
um lado e executivo e federativo de outro. Conferir: LOCKE, John.
Segundo tratado sobre o governo. Trad. E. Jacy Monteiro, São Paulo:
Instituto Brasileiro de Difusão Cultural, 1963, p. 91-93 (Coleção Clássicos
da Democracia 11).
[133]
Vide MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat, baron de la Brède et
de. O espírito das leis. 2a ed., Brasília: Editora Universidade de Brasília,
1995, p. 121.
[134]
Quando o direito passou a funcionar como instrumento de implementação
de políticas públicas (regulação não exclusivamente de situações estruturais
mas conjunturais), “o direito torna-se contingente e variável. A ‘lei’, texto
normativo produzido pelo Legislativo, não pode mais ser tomada como
categoria absoluta: é necessário, mais do que nunca, distinguir entre lei em
sentido formal e lei em sentido material. Interpenetram-se os campos de
atuação do Executivo e do Legislativo: aquele a exercitar, amplamente,
função normativa; este, a produzir leis-medida. A leitura tradicionalmente
desenvolvida da ‘separação dos poderes’ perde todo o seu sentido” (GRAU,
Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 3a ed., São Paulo:
Malheiros, p. 136). E continua em outro capítulo: “a instabilidade de
determinadas situações e estados econômicos, sujeitos a permanentes
flutuações – flutuações que definem o seu caráter conjuntural –, impõe
sejam extremamente flexíveis e dinâmicos os instrumentos normativos de
que deve lançar mão o Estado para dar correção a desvios ocorridos no
desenrolar do processo econômico e no curso das políticas públicas que
esteja a implementar. Aí, precisamente, o emergir da capacidade normativa
de conjuntura, via da qual se pretende conferir respota à exigência de
produção imediata de textos normativos, que as flutuações da conjuntura
econômica estão a todo o tempo, a impor (...) [Dita capacidade normativa]
somente estará ungida de legalidade quando e se ativada nos quadrantes da
lei (...) O exercício da capacidade normativa de conjuntura estaria, desde a
visualização superficial dos arautos da “separação” de poderes, atribuído ao
Poder Legislativo, não ao Poder Executivo. A doutrina brasileira tradicional
do direito administrativo, isolando-se da realidade, olimpicamente ignora
que um conjunto de elementos de índole técnica, aliado a motivações de
premência e celeridade na conformação do regime a que se subordina a
atividade de intermediação financeira, tornam o procedimento legislativo,
com seus prazos e debates prolongados, inadequado à ordenação de
matérias essencialmente conjunturais. Por isso não estão habilitados, os
seus adeptos, a compreender o particular regime de direito a que se submete
[um] segmento da atividade econômica” (GRAU, Eros Roberto. op.cit., p.
172-173). Não se pode olvidar, no entanto, que essa argumentação implica
o reposicionamento do Legislativo à semelhança da desregulamentação
exigida na proposta neoliberal: “substituição de regras rígidas, dotadas de
sanção jurídica, por regras flexíveis, meramente indutoras de
comportamentos”, gerando “ampliação do conteúdo dos regulamentos (atos
do Poder Executivo em geral), instalando uma nova contradição” (GRAU,
Eros Roberto. op.cit., p. 98).
[135]
“A classificação das funções estatais em legislativa, executiva e
jurisdicional é corolário da consideração do poder estatal desde o seu
aspecto subjetivo: desde tal consideração, identificamos, nele, centros ativos
que são titulares, precipuamente, de determinadas funções. Estas são assim
classificadas em razão das finalidades a que se voltam seus agentes – isto é,
finalidades legislativas, executivas e jurisdicionais. Tal classificação, como
vimos, tem caráter orgânico ou institucional.” (GRAU, Eros Roberto. O
direito posto e o direito pressuposto. 3aed., São Paulo: Malheiros, 2000, p.
176).
[136]
Vide CLÈVE, Clèmerson Merlin. A fiscalização abstrata da
constitucionalidade no direito brasileiro. 2a ed., São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2000, p. 211.
[137]
Críticas são levantadas contra a ausência de um controle efetivo de
constitucionalidade dos atos normativos do Executivo, propondo-se, até
mesmo, a criação de uma ação direta de ilegalidade. Conferir: A
fiscalização abstrata da constitucionalidade no direito brasileiro. 2a ed.,
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 215. No entanto, a
discussão deveria, primeiramente, internalizar a compreensão da submissão
estrutural do Executivo à lei ao lado da inovação normativa funcional que
lhe é própria.
[138]
Tratando da Medida Provisória como ato normativo com força de lei e
extraindo desta característica a impossibilidade de sua retirada do
Congresso Nacional, pelo Executivo, conferir: Ação Direta de
Inconstitucionalidade 221/DF, relatoria do Ministro Moreira Alves,
j.29.03.1990, DJ 22.10.1993, p. 22.251 e RTJ 151/331-355.
[139]
Vide texto correspondente à nota 148, p. 24 deste estudo.
[140]
Vide MASHAW, Jerry L. Gli atti sub-legislativi di indirizzo della
pubblica amministrazione nell’esperienza degli USA. p. 117-123. In:
CARETTI, Paolo & SIERVO, Ugo de. Potere regolamentare e strumenti
di direzione dell’amministrazione: profili comparatistici. Bolonha: Il
Mulino, 1991, p. 111-140.
[141]
“Entende-se como função normativa a de emanar estatuições primárias,
seja em decorrência do exercício do poder originário para tanto, seja em
decorrência de poder derivado, contendo preceitos abstratos e genéricos”
(GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 3aed., São
Paulo: Malheiros, 2000, p. 180).
[142]
Partindo de definição de Alessi de que os regulamentos são estatuições
primárias impostas por força própria, mas emanadas de poder derivado,
“em uma tentativa de conciliação de critérios, teremos que a função
normativa (material) compreende a função legislativa e a função
regulamentar (institucionais) – mais a função regimental, se considerarmos
a normatividade emanada do Poder Judiciário” (GRAU, Eros Roberto. O
direito posto e o direito pressuposto. 3aed., São Paulo: Malheiros, 2000, p.
181). Assim, “quando o Executivo expede regulamentos – ou, o Judiciário,
regimentos –, não o faz no exercício de delegação legislativa (...) Logo,
quando o Executivo e o Judiciário emanam atos normativos de caráter não
legislativo – regulamentos e regimentos, respectivamente –, não o fazem no
exercício de função legislativa, mas sim no desenvolvimento de função
normativa.” (GRAU, Eros Roberto. op.cit., p. 184).
[143]
Vide MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat, baron de la Brède et
de. O espírito das leis. 2a ed., Brasília: Editora Universidade de Brasília,
1995, p. 121.
[144]
Para a exposição completa deste argumento com fundamentação
exaustiva, conferir: GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito
pressuposto. 3aed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 182-189.
[145]
Ação Direta de Inconstitucionalidade 221/DF, Relator Min. Moreira
Alves, j.29.03.1990, DJ 22.10.1993, p.22.251 e RTJ 151/331-355.
[146]
O trecho a seguir, que parece propositalmente inconclusivo, representa
bem a inutilidade do argumento gramatical em face da questão maior de
proibição de delegação de funções constitucionais: “Poder-se-ia
argumentar, em contrário, que o art. 5o, II, da Constituição não exige tanto
[tamanha restrição à atividade normativa da Administração]. Não dispõe ele
que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão por
comando legal; quer apenas que ninguém seja constrangido senão em
virtude de lei. Bastaria assim a lei conferir genericamente o poder ao
administrador, para que as normas que este viesse a editar encontrassem
conforto constitucional. Mas o problema se reconduz aqui ao da
impossibilidade de delegação de funções entre Legislativo e Executivo. Em
outras palavras, a interpretação do art. 5o, II, requer necessariamente a
consideração do limite a partir do qual se incidiria em inconstitucionalidade
por delegação indevida do poder de legislar.” (SUNDFELD, Carlos Ari.
Direito administrativo ordenador. 1aed., 2atir., São Paulo: Malheiros,
1997, p. 35).
[147]
Sobre os regulamentos de atribuição, vide: DELPÉRÉE, Francis. Le fonti
normative secondarie nel diritto belga. p. 51-52. In: CARETTI, Paolo &
SIERVO, Ugo de. Potere regolamentare e strumenti di direzione
dell’amministrazione: profili comparatistici. Bolonha: Il Mulino, 1991,
p. 47-67.
[148]
Norma secundária é considerada a “norma cujo titular não possa nunca
agir de iniciativa própria ou autonomamente”. Subordinadas são as normas
que “encontram seu fundamento na própria Constituição” – tradução livre
do original: DELPÉRÉE, Francis. Le fonti normative secondarie nel diritto
belga. p. 49-50. In: CARETTI, Paolo & SIERVO, Ugo de. Potere
regolamentare e strumenti di direzione dell’amministrazione: profili
comparatistici. Bolonha: Il Mulino, 1991, p. 47-67. A competência
subordinada existiria se se aceitasse, no Brasil, a presença de poderes
implícitos (inherent powers) no Executivo para produzir normas
regulamentares em espaços não atingidos por dispositivos legais: sua
competência seria subordinada, pois restringível por lei, mas não
secundária, pois não necessitaria de prévia abertura legal. A característica
subordinada da competência do Executivo brasileiro depende, no Brasil,
segundo a teoria hoje predominante, de prévia abertura legal: deve ser,
portanto, secundária. A jurisprudência norte-americana se afina com a
doutrina brasileira neste ponto: “a atribuição de poder à burocracia, tal
como ao Presidente, deve ter fundamento normativo em uma lei”
(MASHAW, Jerry L. Gli atti sub-legislativi di indirizzo della pubblica
amministrazione nell’esperienza degli USA. p. 138. In: CARETTI, Paolo &
SIERVO, Ugo de. Potere regolamentare e strumenti di direzione
dell’amministrazione: profili comparatistici. Bolonha: Il Mulino, 1991, p.
111-140: tradução livre do italiano).
[149]
Ao analisar o conceito de administração ordenadora como sucedâneo do
termo poder de polícia, Sundfeld salienta seu caráter derivado (secundário)
capaz de interferir nos contornos da vida privada: “Cada vez mais a lei se
ocupa em disciplinar diretamente as variadas facetas da vida privada. A lei
pode prever ou não a interferência do Executivo em sua aplicação. Em caso
positivo, estaremos diante de normas de direito administrativo (ex.: leis
municipais sobre construções urbanas, regras de trânsito, disciplina dos
preços na economia). (...) A administração ordenadora surge apenas na
primeira hipótese. Assim, inexiste setor que lhe pertença, por natureza. Só
existirá administração ordenadora se, quando, como e na medida em que o
legislador, ao regulamentar a vida dos indivíduos, houver cominado à
Administração um papel ativo em seu cumprimento.” (SUNDFELD, Carlos
Ari. Direito administrativo ordenador. 1a ed., 2a tir., São Paulo: Malheiros,
1997, p. 21).
[150]
“Evidentemente não estou a propor a liberação do Executivo para
“legislar”. Pelo contrário, reconhecer o desenho correto do princípio, tal
como contemplado pelo direito brasileiro, significa possibilitarmos o
controle do exercício da função regulamentar pelo Executivo, ao que se
recusam nossos publicistas, sob o argumento de que os regulamentos são
inconstitucionais...” (GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito
pressuposto. 3a ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 189).
[151]
A característica hierárquica atribuída à distinção entre lei e regulamento é
“de tipo orgânico” como ocorre no relato de Delpérée sobre o poder
regulamentar na Bélgica, em que os poderes legislativo e executivo estão
inseridos em uma relação “entre poder soberano e poder subordinado”
(DELPÉRÉE, Francis. Le fonti normative secondarie nel diritto belga. p.
47-48. In: CARETTI, Paolo & SIERVO, Ugo de. Potere regolamentare e
strumenti di direzione dell’amministrazione: profili comparatistici.
Bolonha: Il Mulino, 1991, p. 47-67).
[152]
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Reforma do Estado: o papel das
agências reguladoras e fiscalizadoras. p. 256. In: Fórum Administrativo,
ano 1, nº 3, maio de 2001, p. 253-257. Continua, na mesma página:
“igualmente se pode dizer que a prática é antiga, difundida e tolerada.
Todos têm presente as circulares e portarias de que certos órgãos da
Administração Pública usam e abusam, fazendo “leis” que não raro mais
interferem na vida do cidadão que as leis propriamente ditas.”
[153]
Floriano Marques divide o problema de acordo com o tipo de órgão
regulador: a) órgãos reguladores de natureza constitucional (ANATEL e
ANP); b)órgãos reguladores criados exclusivamente por lei (ANEEL,
ANVS, Câmara de Saúde Suplementar); c)órgãos reguladores de natureza
constitucional imprópria, que encontram referência no texto constitucional
só que sem designação expressa da sua constituição como órgão regulador
em sentido próprio (Banco Central – art.192, IV e Superintendência de
Seguros Privados – art.192, II da CF/88). Conferir, a respeito: MARQUES
NETO, Floriano Azevedo. A nova regulação estatal e as agências
independentes. p. 93-94: nota 49. In: SUNDFELD, Carlos Ari (coord.).
Direito administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 72-98.
[154]
Salaverría esclarece a distinção entre discricionariedade interna e
externa: “há que se furtar ao perigo de se confundirem duas maneiras
distintas em que comparece esta mistura de ‘técnica’ e ‘discricionariedade’
(pois somente a uma delas cabe conceber como genuína ‘discricionariedade
técnica’). Com efeito, uma coisa é entregar-se ao exercício da
discricionariedade sobre a base de – entre outros – dados técnicos
(econômicos, demográficos etc), e outra coisa distinta é que o espaço
discricional irrompa na entranha dos juízos técnicos mesmos”
(SALAVERRÍA, Juan Igartua. Discrecionalidad técnica, motivación y
control jurisdicional. Madri: Editorial Civitas, 1998, p. 26).
[155]
A própria objetividade dos dados técnicos é questionável. A “realidade
ensina que a técnica não é sempre e necessariamente fonte de regras
objetivamente válidas” (SALAVERRÍA, Juan Igartua. Discrecionalidad
técnica, motivación y control jurisdicional. Madri: Editorial Civitas, 1998,
p. 27).
[156]
Esta postura é criticável em face da já comentada ausência de
objetividade nos critérios técnicos, no entanto, é adotada por juristas de
peso. “Se a decisão é técnica, evidentemente há standards, e muito
precisos, a serem estrita e rigorosamente atendidos por quem toma a
decisão!” (GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto.
3a ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 159).
[157]
Vide SALAVERRÍA, Juan Igartua. Discrecionalidad técnica, motivación
y control jurisdicional. Madri: Editorial Civitas, 1998, p. 13. O pensamento
do autor pode ser resumido assim: a determinação da discricionariedade
somente é evidenciada definitivamente in concreto (p. 38) e frente a uma
decisão razoável do administrador, que assim afastaria a crítica do arbítrio,
cuja garantia para controle está na motivação essencial à ponderação da
discricionariedade (p. 44 e seguintes).
[158]
Vide MASHAW, Jerry L. Gli atti sub-legislativi di indirizzo della
pubblica amministrazione nell’esperienza degli USA. p. 119. In: CARETTI,
Paolo & SIERVO, Ugo de. Potere regolamentare e strumenti di
direzione dell’amministrazione: profili comparatistici. Bolonha: Il
Mulino, 1991, p. 111-140.
[159]
Vide DALLARI, Sueli Gandolfi. Direito Sanitário. p. 55 e seguintes. In:
ARANHA, Márcio Iorio (org.). Direito sanitário e saúde pública:
coletânea de textos. Vol. I, Brasília: Ministério da Saúde, 2003. (Série E.
Legislação de Saúde)
[160]
JUSTEN FILHO, Marçal. O Direito das agências reguladoras
independentes. São Paulo: Dialética, 2002, p. 31.
[161]
Vide PROSSER, Tony. Law and the Regulators. Oxford: Claredon Press,
1997.
[162]
“Regulation means government-imposed controls on particular aspects of
business activity. Note: This does not mean that each and every business
decision requires prior government approval. Instead, control will usually
be exercised through a mix of prior approvals (for example, a request for a
tariff increase) or after-the-fact reviews of performance (for example,
connection of a specified number of new customers). Regulation is only one
form of government control. Governments can also control enterprises
through ownership and fiscal incentives).” (BROWN, Ashley C.; STERN,
Jon; TENENBAUM, Bernard. World Bank Handbook for Evaluating
Infrastructure Regulatory Systems. Washington: World Bank, 2006, p. 16).
[163]
Vide CARVALHO, Carlos Eduardo Vieira de. Regulação de Serviços
Públicos na Perspectiva da Constituição Econômica Brasileira. Belo
Horizonte: Del Rey, 2007.
[164]
Definindo regulação como forma de controle estatal, vide: GARNER,
Bryan A. (org.). Black’s Law dictionary. 8ª ed., St. Paul: West Publishing
Co., 2004, p. 1311.
[165]
“Embora a etimologia sugira a associação da função reguladora com o
desempenho de competências normativas, seu conteúdo [da regulação] é
mais amplo e variado (...) a regulação contempla uma gama mais ampla de
atribuições, relacionadas ao desempenho de atividades econômicas e à
prestação de serviços públicos, incluindo sua disciplina, fiscalização,
composição de conflitos e aplicação eventual de sanções” (MOREIRA
NETO, Diogo de Figueiredo. Direito regulatório: a alternativa
participativa flexível para a administração pública de relações setoriais
complexas no Estado Democrático. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 45).
[166]
Vide CARVALHO, Carlos Eduardo Vieira de. Regulação de Serviços
Públicos na Perspectiva da Constituição Econômica Brasileira. Belo
Horizonte: Del Rey, 2007.
[167]
Entrevista dada por George Soros na CNN, Fareed Zakaria GPS, em 12
de outubro de 2008.
[168]
“In no system that could be rationally defended would the state just do
nothing” (HAYEK, Friedrich. The Road to Serfdom. Chicago: University
of Chicago Press, 1944, p. 38-39).
[169]
As funções de fiscalização, incentivo e planejamento constam das raras
passagens constitucionais (art. 174, caput da Constituição Federal de 1988)
expressamente atinentes à atividade reguladora do Estado.
[170]
Vide MARQUES NETO, Floriano Azevedo. A nova regulação estatal e
as agências independentes. p. 74. In: SUNDFELD, Carlos Ari (coord.).
Direito administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 72-98).
[171]
Para uma concepção de regulação como gerenciamento normativo de
conflitos, vide: SUNDFELD, Carlos Ari. Agências reguladoras e os novos
valores e conflitos, p. 1294. In: Anais da XVII Conferência Nacional dos
Advogados. Justiça: realidade e utopia. Vol. II, Rio de Janeiro: Ordem dos
Advogados do Brasil, 1999, p. 1291-1297. “O que é regular? É fazer este
‘gerenciamento’ que referi. Não limitar-se à distante edição de normas
abstratas capazes de cuidar da sociedade durante oitenta anos sem
transformação mais profunda (...)” (SUNDFELD, Carlos Ari. op. cit., p.
1295).
[172]
Observe-se que, aqui, regulamentação está sendo tratada como meio de
regulação estatal. Outra concepção dos termos regulação e regulamentação,
guardando sintonia com a terminologia – deregulation x regulation – e a
preocupação atual norte-americana de oposição entre regulação estatal
(exo-regulação) e regulação social (auto-regulação), encontra-se em:
GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 3a ed., São
Paulo: Malheiros, 2000, p. 93.
[173]
Eros Grau define a regulação como a atividade de “dar ordenação à
atividade econômica” e a regulamentação como uma sua espécie voltada a
dar ordenação à atividade econômica “através de preceitos de autoridade,
ou seja, jurídicos” (GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito
pressuposto. 3a ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 96).
[174]
A relação da regulação com monopólios da União vem inscrita no art.
177, §2º, III, da Constituição Federal de 1988, referente ao petróleo, gás
natural e outros hidrocarbonetos fluidos.
[175]
Cass Sunstein utiliza, indiferentemente, os termos regulation, law and
government, government regulation e legal regulation, no sentido de
intervenção em atividades de interesse público. Conferir: SUNSTEIN, Cass
R. Republic.com 2.0. Princeton and Oxford: Princeton University Press,
2007.
[176]
Sobre o conceito de sociedade-rede, vide: CASTELLS, Manuel. The
Network Society: From Knowledge to Policy. In CASTELLS, Manuel;
CARDOSO, Gustavo. The Network Society: From Knowledge to Policy.
Washington: Johns Hopkins Center for Transatlantic Relations, 2006, p. 3-
21.
[177]
“We are used to hearing tales of the unintended bad consequences of
government action. The Internet is an unintended good consequence of
government action, by the Department of Defense no less.” (SUNSTEIN,
Cass R. Republic.com 2.0. Princeton and Oxford: Princeton University
Press, 2007, p. 157).
[178]
Vide AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços
públicos. São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 163-209.
[179]
AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços públicos.
São Paulo: Max Limonad, 1999, p.165.
[180]
Vide WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1991, p. 140.
[181]
Vide AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços
públicos. São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 165-181.
[182]
Verificou-se a tendência de passagem do “poder de gerir a coisa pública
das mãos privadas do Imperador para inúmeros novos centros de poder”
(AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços públicos. São
Paulo: Max Limonad, 1999, p.181).
[183]
Este fenômeno não foi uniforme, como nada na história o é. Daí Aguillar
ressaltar uma manifestação de regulação normativa concentrada nas
concessões de construção e exploração de ferrovias a partir da primeira
metade do século XIX e na regulamentação da infraestrutura portuária.
Conferir: AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços
públicos. São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 184.
[184]
Art.137.A lei federal regulará a fiscalização e a revisão das tarifas dos
serviços explorados por concessão, ou delegação, para que, no interesse
collectivo, os lucros dos concessionarios, ou delegados, não excedam a
justa retribuição do capital, que lhes permitta attender normalmente ás
necessidades publicas de expansão e melhoramento desses serviços.
(CAMPANHOLE, Adriano; CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Constituições
do Brasil. 13ªed., São Paulo: Atlas, 1999. p. 722) – mantida a redação
original da época.
[185]
O art. 142 da CF/34 proibiu a garantia de juros aos concessionários.
Constituição Federal brasileira de 1934: “Art. 142. A União, os Estados e os
Municípios não poderão dar garantia de juros a empresas concessionarias
de serviços publicos”.
[186]
Esse período presenciou a criação do Conselho Nacional de
Telecomunicações com o Decreto 50.666/61 e a instituição do Código
Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4.117/62) revogado em sua maior
parte pela Lei 9.472/97.
[187]
Um dos objetivos fundamentais da Reforma Estrutural do Setor de
Telecomunicações proposta e já implementada pelo Governo brasileiro
desde 1995 foi “fortalecer o papel regulador do Estado e eliminar seu papel
de empresário” mediante a privatização e a criação do órgão regulador.
Conferir: BRASIL, Ministério das Comunicações. Diretrizes Gerais para
a Abertura do Mercado de Telecomunicações. Título II (Os fundamentos
da proposta), Capítulo 2 (Os objetivos da reforma), Figura 6. Esclarecedora
a posição exarada pelo Banco Mundial na Americas Telecom 2000,
realizada entre 10 e 15 de abril de 2000, no Rio de Janeiro, quando seu
representante, Carlos Braga, foi questionado pelo Governo de Porto Rico
sobre a ausência de linhas de crédito para empresas estatais prestadoras de
serviços de telecomunicações. A resposta revelou a decisão do Banco
Mundial em somente fomentar o desenvolvimento de empresas privadas de
telecomunicações em mercados livres, pois partiu do pressuposto de que a
concentração do serviço de telecomunicações nas mãos do Estado não
satisfaria as exigências de tecnologia e dinamização em um mundo
globalizado.
[188]
As transformações implementadas ocorreram porque o controle da
regulação pelo próprio gestor do serviço (DNAEE, DNER, TELEBRÁS,
ELETROBRÁS) fazia prevalecer o interesse da burocracia (interesse
secundário) sobre o interesse do consumidor (interesse primário). Conferir:
MARQUES NETO, Floriano Azevedo. A nova regulação estatal e as
agências independentes. p. 77. In: SUNDFELD, Carlos Ari (coord.).
Direito administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 72-98.
[189]
Esmiuçando o conceito de Estado Subsidiário, vide: DI PIETRO, Maria
Sylvia Zanella. Parceriais na Administração Pública: concessão,
permissão, franquia, terceirização e outras formas. 3a ed., São Paulo:
Atlas, 1999, p. 24-31.
[190]
Vide TÁCITO, Caio. Novas agências administrativas. In: Carta Mensal,
Rio de Janeiro 45(529): 33-44, abril 1999, p. 34.
[191]
O Decreto 83.740/79 estebeleceu um Ministro Extraordinário do
Programa Nacional de Desburocratização. Dentre os objetivos do
Programa, estava o de “impedir o crescimento desnecessário da máquina
administrativa federal, mediante o estímulo à execução indireta, utilizando-
se, sempre que praticável, o contrato com empresas privadas capacitadas e o
convênio com órgãos estaduais e municipais” (art.3o, g, do Decreto
83.740/79). Visava, também, o incentivo de uma “política de contenção da
criação indiscriminada de empresas públicas, promovendo o
equacionamento dos casos em que for possível e recomendável a
transferência do controle para o setor privado” (art.3o, h, do Decreto
83.740/79).
[192]
Art.1o, I do Decreto 95.886, de 29 de março de 1988.
[193]
Para a análise do histórico dos dispositivos normativos da desestatização
no Brasil, vide: MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 5a
ed., São Paulo: RT, 2001, p. 106 e seguintes.
[194]
Vide CARVALHO, Carlos Eduardo Vieira de. Regulação de Serviços
Públicos na Perspectiva da Constituição Econômica Brasileira. Belo
Horizonte: Del Rey, 2007.
[195]
CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988, art.151, I.
[196]
Da mesma forma, as chamadas sanções premiais são intervenção por
indução, mas não se caracterizam como regulação regional e sim geral ou
setorial dependendo do caso. Incentivos fiscais à indústria, em geral, para
investimento em meio ambiente não se configuram regulação regional, mas
geral sobre o subsistema ordenamental ambiental. Se tais incentivos fiscais
fossem dirigidos à determinado setor, eles se apresentariam também
gravados do caráter de regulação setorial.
[197]
CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988, art.159, I, c.
[198]
AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços públicos.
São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 214.
[199]
Como exemplo, vide, mais adiante, nota 269.
[200]
No Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). No
Reino Unido, a Monopolies and Merger Commission (MMC). Nos EUA, a
Federal Trade Commission (FTC).
[201]
Proposta de Carlos Ari Sundfeld na XVII Conferência Nacional da
Ordem dos Advogados do Brasil. “Talvez já seja a hora de pensar, também,
na criação de agências reguladoras do meio ambiente independentes em
relação ao Poder Executivo, para substituir os atuais órgãos incumbidos do
assunto” (SUNDFELD, Carlos Ari. Op. cit., p. 1291).
[202]
É o caso do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil.
[203]
À época de criação destas autarquias, costumava-se distinguir, por
inspiração do direito italiano, entre autarquias econômicas, voltadas a
regular a produção e o comércio, autarquias industriais, autarquias de
crédito, autarquias de previdência, autarquias corporativas, autarquias
educacionais. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Reforma do Estado:
o papel das agências reguladoras e fiscalizadoras. p. 254. In: Fórum
Administrativo, ano 1, nº 3, maio de 2001, p. 253-257.
[204]
O Instituto Brasileiro do Café (IBC) apresentava-se como entidade
autárquica criada pela Lei 1.779, de 22 de dezembro de 1952. O art.1o, I, e
da Lei 8.029, de 12 de abril de 1990, autorizou o Poder Executivo a
extinguir o IBC, o que se concretizou com o Decreto 99.240, de 7 de maio
de 1990. Atualmente, o Departamento do Café (DECAF) é responsável pelo
planejamento, coordenação e supervisão das políticas públicas concernentes
ao setor cafeeiro e integra a Secretaria de Produção e Comercialização na
estrutura do Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
[205]
O Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) foi criado pelo Decreto 22.789,
de 1o de junho de 1933. O art.1o, I, d da Lei 8.029, de 12 de abril de 1990
autorizou o Poder Executivo a extinguir o IAA, o que se concretizou com o
art.1o, I, d do Decreto 99.240, de 7 de maio de 1990. O Decreto 99.288, de 6
de junho de 1990, transferiu as atribuições do extinto IAA para a Secretaria
de Desenvolvimento Regional da Presidência da República (SDR/PR), que
foi transformada em Secretaria do Ministério da Integração Regional (MIR)
pela Lei 8.490, de 19 de novembro de 1992. Com a Medida Provisória 987,
de 28 de abril de 1995, o Ministério da Indústria, do Comércio e do
Turismo (MICT) assumiu os encargos do MIR. Em 22 de dezembro de
1995, o art.2o, III, b do Anexo I do Decreto 1.757 criou o Departamento de
Açúcar e do Álcool integrante da estrutura do então MICT. Finalmente, a
Medida Provisória 1.911-8, de 29 de julho de 1999 transferiu para o
Ministério da Agricultura e do Abastecimento a competência sobre a
matéria de política sucroalcooleira, onde funciona o Departamento do
Açúcar e do Álcool integrante da Secretaria de Produção e Comercialização
na estrutura do Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Atualmente,
a política pública sucroalcooleira concentra-se no Programa de Equalização
de Custos de Produção nos Estados do Nordeste em detrimento de
programas de incentivo específico de plantadores de cana. Tal programa foi
instituído pela Resolução nº 5, de 10/12/1998, do Conselho Interministerial
do Açúcar e do Álcool (CIMA), criado pelo Decreto sem número de
21/08/1997 revogado pelo Decreto atual de regência do CIMA: Decreto
3.546, de 17/07/2000.
[206]
O DNAEE originou-se da Divisão de Águas (criada pelo Decreto 6.402,
de 28/10/1940) do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM –
(criado na Reforma Juarez Távora, em agosto de 1934) então pertencente ao
Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Com a criação do
Ministério das Minas e Energia, em 1961, o DNPM foi vinculado a este
ministério. Sua Divisão de Águas foi transformada no Departamento
Nacional de Águas e Energia – DNAE (Lei 4.904, de 17/12/1965) e teve
sua denominação alterada para Departamento Nacional de Águas e Energia
Elétrica – DNAEE pelo Decreto 63.951, de 31/12/1968.
[207]
O Conselho Nacional do Petróleo (CNP) foi criado pelo Decreto
nº395/38 e teve suas atribuições definidas pela Lei 2.004, de 03 de outubro
de 1953.
[208]
Deste rol de agências reguladoras está excluída a Agência Brasileira de
Inteligência (ABIN), que assimilou a terminologia aplicada às autarquias
autônomas de regulação setorial, mas não detém suas características
distintivas. A ABIN não tem personalidade jurídica própria. É um órgão
integrante do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (art. 2o do
Decreto 3.448/2000), criado no âmbito do Sistema Brasileiro de
Inteligência (SISBIN) da Presidência da República (arts. 1o e 3o da Lei
9.883/99), sob supervisão interna da Câmara de Relações Exteriores e
Defesa Nacional do Conselho de Governo (art. 5o da Lei 9.883/99) e sob
controle externo do Congresso Nacional (art. 6o da Lei 9.883/99). Está sob a
direção monocrática de um Diretor-Geral (art. 8o da Lei 9.883/99), ao
contrário do modelo das agências reguladoras pautado em colegiados.
Assemelha-se, contudo, às agências reguladoras no procedimento de
nomeação de seu Diretor-Geral, mediante indicação e nomeação pelo
Presidente da República após sabatina no Senado Federal (art. 11, parágrafo
único da Lei 9.883/99). O Conselho Especial do Subsistema de Inteligência
de Segurança Pública, sob administração da ABIN, é vinculado ao Gabinete
de Segurança Institucional da Presidência da República (art. 3o do Decreto
3.448/2000) e tem o seu Regimento Interno aprovado pelo Chefe do
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, que é a
via de interação da Agência com os interessados no exercício de seu direito
a autodeterminação das informações pessoais.
[209]
Agência Espacial Brasileira (AEB) foi instituída pela Lei 8.854, de 10 de
fevereiro de 1994, com competência, dentre outras, de estabelecer normas e
expedir licenças e autorizações relativas às atividades espaciais (art.3º,XIII)
bem como aplicar as normas de qualidade e produtividade em tais
atividades (art.3º,XIV).
[210]
Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) foi instituída pela
Lei 9.472, de 16 de julho de 1997, regulamentada pelo Decreto 2.338, de 7
de outubro de 1997, com função de disciplinamento e fiscalização da
execução, comercialização e uso dos serviços de telecomunicações e da
implantação e funcionamento de redes de telecomunicações, bem como da
utilização dos recursos de órbita e espectro de radiofrequências. Tem fundo
próprio submetido a sua exclusiva administração (Fundo de Fiscalização
das Telecomunicações – FISTEL), criado pela Lei 5.070, de 7 de julho de
1966.
[211]
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) foi instituída pela Lei
9.427, de 26 de dezembro de 1996 com a finalidade de regular e fiscalizar a
produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica,
em conformidade com diretrizes do Governo Federal e com poderes
regulamentados pelo Decreto 2.335, de 6 de outubro de 1997. Sucedeu ao
Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE). Tem
atribuição de celebrar e gerir contratos de concessão e de permissão no
setor e de dirimir, no âmbito administrativo, divergências entre
concessionárias e consumidores.
[212]
Agência Nacional do Petróleo (ANP), instituída pela Lei 9.478, de 6 de
agosto de 1997, teve suas atividades regulamentadas pelo Decreto 2.455, de
14 de janeiro de 1998. Como autarquia reguladora da indústria do petróleo,
tem funções de normatização, contratação e fiscalização das atividades
econômicas integrantes da indústria do petróleo.
[213]
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) foi instituída pela
Lei 9.782, de 26 de janeiro de 1999 e teve suas atividades regulamentadas
pelo Decreto 3.029, de 16 de abril de 1999. Sua sigla foi mudada de ANVS
para ANVISA pela Medida Provisória 2.134-25, de 28/12/2000, produto de
modificação das prorrogações da Medida Provisória originária de número
1.814, de 26/02/1999. Autarquia especial vinculada ao Ministério da Saúde,
tem por objetivos, dentre outros, promover a proteção da saúde da
população, por intermédio do controle sanitário da produção e da
comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária,
inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a
eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e de
fronteiras.
[214]
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) foi criada pela Lei 9.961,
de 28 de janeiro de 2000, também vinculada ao Ministério da Saúde e com
a finalidade de promover a defesa do interesse público na assistência
suplementar à saúde, normatizando a atuação das operadoras setoriais,
inclusive quanto às suas relações com prestadores e consumidores,
contribuindo para o desenvolvimento de ações em âmbito nacional.
[215]
Agência Nacional das Águas (ANA) foi instituída pela Lei 9.984, de 17
de julho de 2000, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, integrante do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recurso Hídricos.
[216]
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), instituída pela Lei
10.233, de 5 de junho de 2001, autarquia especial supervisionada pelo
Ministério dos Transportes com independência administrativa, autonomia
financeira e funcional e mandato fixo de seus dirigentes (art.21,§2º) e
competência para regulação do transporte ferroviário de passageiros e
cargas ao longo do Sistema Nacional de Viação (art.22,I), de exploração da
infraestrutura ferroviária e arrendamento dos ativos operacionais
correspondentes (art.22,II), do transporte rodoviário interestadual e
internacional de passageiros (art.22,III), do transporte rodoviário de cargas
(art.22,IV), da exploração da infraestrutura rodoviária federal (art.22,V), do
transporte multimodal (art.22,VI) e do transporte da cargas especiais e
perigosas em rodovias e ferrovias (art.22,VII).
[217]
Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), instituída pela
Lei 10.233, de 5 de junho de 2001, autarquia especial supervisionada pelo
Ministério dos Transportes com independência administrativa, autonomia
financeira e funcional e mandato fixo de seus dirigentes (art.21,§2º) e
competência para regular a navegação fluvial, lacustre, de travessia, de
apoio marítimo, de apoio portuário, de cabotagem, de longo curso (art.23,I),
os portos organizados (art.23,II), os terminais portuários privativos
(art.23,III), o transporte aquaviário de cargas especiais e perigosas
(art.23,IV) e a exploração da infraestrutura aquaviária federal (art.23,V).
[218]
Agência Nacional do Cinema (ANCINE), instituída pela Medida
Provisória 2.228, de 6 de setembro de 2001, autarquia especial
supervisionada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior com autonomia administrativa e financeira (art.5º,caput) e mandato
fixo de seus dirigentes (art.8º,caput) e competência para regular as
atividades cinematográficas e videofonográficas (art.7º), com detalhamento
do audiovisual advindo da Lei 12.485, de 12 de setembro de 2011.
[219]
Office of Water Services (OFWAT), cujo Diretor (Director General of
Water Services) vem definido como o regulador econômico da indústria de
água e esgoto da Inglaterra e do País de Gales na Parte I, Artigo 1º,
Parágrafo 1º, do Water Industry Act 1991 (WIA91), fixando preços pelos
serviços de fornecimento de água e de esgoto, fiscalizando a qualidade dos
serviços, fiscalizando a saúde das empresas do setor, incentivando a
eficiência e a competição.
[220]
Precedida pela OFTEL (Office of Telecommunications), que fora criada
pelo Telecommunications Act de 1984, a Office of Communications
(OFCOM), com formato definido pelo Communications Act de 2003,
assimilou, dentre outras, as competências da OFTEL e hoje se apresenta
como reguladora da indústria de comunicações do Reino Unido,
envolvendo serviços de televisão, rádio, telecomunicação e comunicação
sem fio.
[221]
The Office of Gas and Electricity Markets (OFGEM) surgiu da reunião
do OFFER (Office of Electricity Regulation) com o OFGAS (Office of Gas
Suply), cujas bases normativas remontam ao Gas Act de 1986. Trata-se do
regulador da indústria britânica de gás e eletricidade.
[222]
Interstate Commerce Commission (ICC), festejada como a primeira
agência reguladora federal norte-americana, foi instituída pelo Interstate
Commerce Act de 1887 destinada a regular transportes em geral, à exceção
do transporte aéreo, tendo sido extinta em 1995.
[223]
Federal Communications Commission (FCC), instituída pelo
Communications Act de 1934 e qualificada como agência independente,
responde pela regulação da comunicação interestadual e internacional por
rádio, televisão, par de cobre, satélite ou cabo.
[224]
Federal Energy Regulatory Commission (FERC), foi a sucessora da
antiga Federal Power Commission (FPC), que, embora existente desde
1920, adquiriu as características de uma agência governamental
independente a partir de 1930. Criada em 1977, a FERC é citada
oficialmente como agência governamental independente que regula a
transmissão interestadual de gás natural, petróleo e eletricidade dos Estados
Unidos da América.
[225]
Regulierungsbehörde für Telekommunikation und Post (RegTP), trata-se
da Autoridade Reguladora para Telecomunicações e Correios da Alemanha,
entidade reguladora dos setores de telecomunicações e correios instituída a
partir de 1996 com a correspondente Lei Geral de Telecomunicações
(Regelungen des Telekommunikationsgesetzes – TKG). Em 13 de julho de
2005, foi renomeada para Bundesnetzagentur. Conferir: FARIA, Patrick. A
Agência Federal de Redes na República Federal da Alemanha. In: Anais
do I Seminário de Regulação de Serviços Públicos - Direito Comparado
da Energia Elétrica e das Telecomunicações. Brasília, 2007.
[226]
União Internacional de Telecomunicações (International
Telecommunication Union – ITU).
[227]
World Health Organization (WHO) – Organização Mundial da Saúde
(OMS).
[228]
Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO).
[229]
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
(UNESCO).
[230]
Universal Postal Union International (UPU).
[231]
International Atomic Energy Agency (IAEA) – Organismo Internacional
de Energia Atômica (OIEA).
[232]
No setor de telecomunicações, o espectro de radiofrequência e os
recursos de órbita são exemplos de bens finitos ou escassos.
[233]
Já na primeira metade do século XIX, os conselhos administrativos eram
tidos como auxiliares dos agentes políticos “para que a deliberação e a ação
que [deles] resulta seja ilustrada e acertada; para que esta melhor possa ser
fiscalizada; para que a responsabilidade seja mais patente e justa”
(URUGUAI, Paulino José Soares de Souza, Visconde de. Ensaio sobre o
direito administrativo. Fac-símile da edição de 1960, Brasília: Imprensa
Nacional, 1997, p. 126).
[234]
CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1934: “Art. 103. Cada
Ministerio será assistido por um ou mais Conselhos Technicos,
coordenados, segundo a natureza dos seus trabalhos, em Conselhos Geraes,
como órgãos consultivos da Camara dos Deputados e do Senado Federal.
§1o A lei ordinaria regulará a composição, o funccionamento e a
competencia dos Conselhos Technicos e dos Conselhos Geraes. §2o Metade,
pelo menos, de cada Conselho será composta de pessoas especializadas,
estranhas aos quadros do funccionalismo do respectivo Ministerio. §3o Os
membros dos Conselhos Technicos não perceberão vencimentos pelo
desempenho do cargo, podendo, porém, vencer uma diaria pelas sessões, a
que comparecerem. §4o É vedado a qualquer Ministro tomar deliberação, em
materia da sua competencia exclusiva, contra o parecer unanime do
respectivo Conselho.” (CAMPANHOLE, Hilton Lobo; CAMPANHOLE,
Adriano. Constituições do Brasil. 13aed., São Paulo: Atlas, 1999, p. 712).
[235]
Max Weber utiliza o conceito de colegialidade como meio específico de
mitigação da dominação. A colegialidade de funções diferencia-se, no
pensamento de Weber, da colegialidade de cassação. Nesta última, persiste
a decisão monocrática em meio a outras instâncias monocráticas de
adiamento ou cassação da decisão. Na colegialidade de funções, a
autoridade monocrática é substituída pela autoridade institucional, em que
a vontade de um é substituída pela cooperação de alguns. Conferir, a
respeito: WEBER, Max. Economia e sociedade. Vol.I, Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1991, p. 178-188.
[236]
Sobre o princípio da colegialidade, García-Trevijano Fos esclarece que
“constitui (....) o último dos que integram as bases fundamentais de toda
organização administrativa. Dividíamos os órgãos em ativos, deliberantes,
consultivos e de controle. Teoricamente, todos eles podem ser unipessoais
ou colegiados com uma única exceção: a dos órgãos consultivos, que têm
sempre natureza colegial (....). Os órgãos ativos costumam ser – na
administração geral do Estado – unipessoais. Os de controle costumam ser,
ao contrário, colegiados.” – tradução livre do original: FOS, Jose Antonio
Garcia-Trevijano. Tratado de derecho administrativo. Tomo II, Vol. I,
2ªed., Madri: Editorial Revista de Derecho Privado, 1971, p. 480.
[237]
Ao analisar os progressos do princípio burocrático monocrático, Weber
aponta defeitos e virtudes da forma colegial de decisão: “O trabalho
organizado em forma colegial (...) condiciona atritos e retardações,
compromissos entre opiniões e interesses contraditórios, realizando-se,
portanto, com menos precisão e menos dependência de autoridades
superiores e, por isso, de maneira menos uniforme e mais lenta” (WEBER,
Max. Economia e sociedade. Vol. II, Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1999, p. 212).
[238]
Vide WEBER, Max. Economia e sociedade. Vol. I, Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1991, p. 183.
[239]
“Superior ao conhecimento especial da burocracia é apenas o
conhecimento especial dos interessados da economia privada, na área
‘econômica’. Isto porque, para eles, o conhecimento exato dos fatos de sua
área é diretamente uma questão de sua existência econômica: erros numa
estatística oficial não trazem consequências diretamente econômicas para o
funcionário responsável, mas erros nos cálculos de uma empresa capitalista
causam-lhe perdas, ameaçando, talvez, sua existência. E também o
‘segredo’, como meio de poder, está mais seguramente guardado no livro
comercial de um empresário do que na documentação das autoridades. Já
por isso, a influência oficial sobre a vida econômica, na era capitalista, tem
limites muito estreitos, e as medidas do Estado nesta área desembocam tão
frequentemente em caminhos imprevistos e despropositados ou tornam-se
ilusórias devido ao conhecimento especial superior dos interessados”
(WEBER, Max. Economia e sociedade. Vol. II, Brasília. Editora
Universidade de Brasília, 1999, p. 227).
[240]
Vide WEBER, Max. Economia e sociedade. Vol. II, Brasília. Editora
Universidade de Brasília, 1999, p. 228-229.
[241]
O trecho a seguir é esclarecedor da abertura conceitual sofrida pelo
conceito de conselho: “Enquanto o conhecimento especial em assuntos
administrativos era exclusivamente produto de longa prática empírica e as
normas administrativas não eram regulamentos, mas componentes da
tradição, o conselho dos anciãos, muitas vezes com participação dos
sacerdotes, dos “velhos estadistas” e dos honoratiores, era tipicamente a
forma adequada de tais instâncias, que inicialmente apenas aconselhavam o
senhor, porém, mais tarde, por serem complexos perenes diante dos
soberanos alternantes, frequentemente usurpavam o poder efetivo. Assim, o
senado romano e o conselho veneziano, bem como o areópago ateniense até
sua derrubada em favor do domínio dos ‘demagogos’.” (WEBER, Max.
Economia e sociedade. Vol. II, Brasília. Editora Universidade de Brasília,
1999, p. 228).
[242]
São exemplos conhecidos de “conselhos” com função decisória, no
Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e os
Conselhos de Contribuintes. O Conselho Nacional de Desestatização –
CND, criado pela Lei 8.031/90 e integrado por cinco ministros de estado
tem amplos poderes sobre todo o processo de privatização, desde a escolha
das atividades ou empresas a serem privatizadas até a forma de privatização
e o destino dos recursos. Eventualmente deliberam nas sessões, o presidente
do Banco Central e outros ministros de Estado. O presidente do Conselho é
o Ministro do Planejamento e Orçamento. Mesmo o Conselho Nacional de
Política Energética (CNPE), com atribuição de propor medidas relativas aos
recursos energéticos ao Presidente da República (art.2o da Lei 9.478/97),
transpareceu vinculação das suas emanações por força do Decreto 2.455/98,
que, ao estabelecer as finalidades da Agência Nacional do Petróleo,
vinculou-a às diretrizes emanadas do Conselho Nacional de Política
Energética (art.2o do Decreto 2.455/98), que foge à característica
meramente consultiva em razão de seu funcionamento periódico e função
específica de propostas políticas energéticas. Não se quer dizer com isso
que suas decisões vinculam sem a necessária aprovação do Presidente da
República.
[243]
A presença, na Constituição Federal brasileira de 1988, do Conselho da
República e do Conselho de Defesa Nacional como órgãos meramente
opinativos é significativa.
[244]
Nem todos os exemplos são tão lúcidos assim. O Conselho Monetário
Nacional (CMN) tem sua composição restrita a 3 membros do Executivo
exclusivamente, quais sejam: Ministro de Estado da Fazenda; Ministro de
Estado do Planejamento e Orçamento; Presidente do Banco Central.
Funcionam junto ao Conselho Monetário Nacional comissões consultivas
estritamente técnicas (Normas e Organização do Sistema Financeiro,
Mercado de Valores Mobiliários e de Futuros, Crédito Rural, Crédito
Industrial, dentre outros).
[245]
Como exemplo, a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL)
comporta um Conselho Consultivo definido como órgão de “participação
institucionalizada da sociedade na Agência” (art.33 da Lei 9.472/97).
[246]
AGUILLAR, Fernando Herren. Controle social de serviços públicos.
São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 226.
[247]
Sobre os conselhos, “continuava a operar, de direito ou de fato, o controle
político, pela via de supervisão ministerial e a competência do Congresso,
definindo metas e a atribuição de recursos” (TÁCITO, Caio. Novas
agências administrativas. In: Carta Mensal, Rio de Janeiro 45(529): 33-
44, abril 1999, p. 36).
[248]
Considerando o CONTEL como comissão interministerial, vide:
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Segurança n.
19.227/DF, relator Min. Themístocles Cavalcanti, Tribunal Pleno, unânime,
j. 09/04/1969.
[249]
Murilo César Ramos analisa a semelhança entre o CONTEL brasileiro e a
FCC norte-americana e atesta o processo de centralização ministerial como
o fator de extinção do órgão regulador das telecomunicações no Brasil ao
falar do “órgão colegiado criado pelo Código Brasileiro de
Telecomunicações, emulado, ainda que frouxamente, na Federal
Communications Commission (FCC) norte-americana. CONTEL que iria
ser esvaziado progressivamente até sua extinção total nos anos 70,
substituído de fato e de direito por um Ministério altamente centralizador e
concentrador de poder.” (RAMOS, Murilo César. Saúde, novas tecnologias
e políticas públicas de comunicações. In: PITTA, Áurea Maria da Rocha
(org). Saúde & Comunicação: visibilidades e silêncios. São Paulo:
Hucitec, 1995. p. 69-70).
[250]
Expressão originária do italiano autarchia. O termo “foi usado pela
primeira vez pelo publicista italiano Santi Romano, em 1897, para
identificar a situação de entes territoriais e institucionais do Estado unitário
italiano” (MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 5a ed.,
São Paulo: RT, 2001, p. 77). O conceito basilar de autarquia está na
personalidade jurídica dotada de auto-administração e autosuficiência,
conforme enuncia a doutrina italiana em face de sua etimologia: “A palavra
italiana ‘autarquia’ traduz duas expressões gregas distintas e tem dois
significados em virtude desta origem distinta: em um primeiro significado,
indica a condição de um sujeito que é capaz de bastar a si próprio, de prover
suas próprias necessidades (autosuficiência); no segundo, serve para indicar
a posição de um ente a quem é reconhecida a capacidade de se governar, de
administrar os próprios interesses (auto-administração)” (ZANOBINI,
Guido. Corso di diritto amministrativo. Vol. I, 8ª ed., Milão: Dott. A.
Giuffrè Editore, 1958, p. 124). Tradução livre do original: “La parola
italiana ‘autarchia’ traduce due diverse parole greche e ha due significati,
secondo che deriva dall’una o dall’altra di esse: in um primo significato,
indica la condizione di un soggetto che è capace di bastare a se stesso, di
provvedere da sè ai propri bisogni (autosufficienza); nel secondo, vale a
indicare la posizione di un ente cui è riconosciuta la capacità di governarsi
da sè, di amministrare da sè i propri interessi (autoamministrazione)”.
[251]
TÁCITO, Caio. Novas agências administrativas. In: Carta Mensal, Rio
de Janeiro 45(529): 33-44, abril 1999, p. 37.
[252]
Lei 9.649, de 27 de maio de 1998, produto da Medida Provisória 1.549-
28, regulada pelos Decretos 2.487 e 2.488, ambos de 2 de fevereiro de
1998.
[253]
Fala-se em autarquias e fundações públicas federais, pois a lei criadora
das agências executivas é federal. Isso não impede a criação de agências
executivas semelhantes às federais no âmbito estadual e municipal, desde
que existam leis destes entes para embasarem o ato da Administração.
[254]
TÁCITO, Caio. Novas agências administrativas. In: Carta Mensal, Rio
de Janeiro 45(529): 33-44, abril 1999, p. 36.
[255]
Em razão de sua natureza jurídica de direito público interno, a ela se
aplica o rol de características publicistas, tais como: responsabilidade
objetiva do poder; controle dos atos estatais; fundamentação dos atos do
poder; discricionariedade; publicidade; transparência; supremacia do
interesse público; legalidade estrita; processo de produção de atos do poder;
dever de prestar contas; licitação etc. A respeito da caracterização do
regime de direito público, conferir a obra precisa, embora sintética e
introdutória: SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de direito público.
São Paulo: Malheiros, 1992.
[256]
Quanto aos efeitos do decreto, qualificando autarquias ou fundações
como agências executivas, Di Pietro defende que “dificilmente se poderá
ampliar a autonomia dessas entidades, por meio de decreto ou de contrato
de gestão [embora deixando em aberto à lei prevista no art.37, §8o da CF/88
a possibilidade de ampliação de dita autonomia], porque esbarrarão os
mesmos em normas legais e constitucionais” (DI PIETRO, Maria Sylvia
Zanella. Direito administrativo. 11a ed., São Paulo: Atlas, 1999, p. 388).
[257]
Nas agências executivas, predomina “o sentido de prévio compromisso e
a aferição de resultados como requisito de sobrevivência” (TÁCITO, Caio.
Novas agências administrativas. In: Carta Mensal, Rio de Janeiro 45(529):
33-44, abril 1999, p. 39).
[258]
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Reforma do Estado: o papel das
agências reguladoras e fiscalizadoras. In: Fórum Administrativo, ano 1,
nº 3, maio de 2001, p. 253-257.
[259]
No Brasil, as agências reguladoras manifestam-se por diversos atos
(súmula, aresto, ato, portaria, consulta, resolução). Destes, somente a
resolução tem propriamente caráter normativo qualificado como um poder
não-delegado e “temperado” (CUÉLLAR, Leila. As agências reguladoras
e seu poder normativo. São Paulo: Dialética, 2001, 142) ou mesmo como
uma espécie de alargamento do poder normativo do Executivo por
intermédio de lei-quadro (loi-cadre) correspondente (BRUNA, Sérgio
Varella. Agências reguladoras: poder normativo, consulta pública e
revisão judicial. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 73).
Nos EUA, têm-se como exemplos da diversidade de atos produzidos no
âmbito das agencies norte-americanas dotadas de poder normativo: rules,
adjudicatory orders, licenses, policy statements, manuals, circulars,
memoranda, advisory opinions, waivers, recommendations, regulations
(MASHAW, Jerry L. Gli atti sub-legislativi di indirizzo della pubblica
amministrazione nell’esperienza degli USA. p. 117. In: CARETTI, Paolo &
SIERVO, Ugo de. Potere regolamentare e strumenti di direzione
dell’amministrazione: profili comparatistici. Bolonha: Il Mulino, 1991, p.
111-140).
[260]
TÁCITO, Caio. Novas agências administrativas. In: Carta Mensal, Rio
de Janeiro 45(529): 33-44, abril 1999, p. 34.
[261]
MORAES, Luiza Rangel de. A reestruturação dos setores de infra-
estrutura e a definição dos marcos regulatórios. In: PAULA, Tomás
Bruginski de; REZENDE, Fernando (coordenadores). Infra-estrutura:
perspectivas de reorganização (Caderno de Regulação). Brasília:
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 1997, p. 12.
[262]
Fala-se, então, da dificuldade de assimilação do novo modelo de
“instituições independentes e com grande autonomia de ação” (Ibid., p. 5).
[263]
Parker assimila o conceito de commission ao de independent agency.
Também registra a qualificação de quarto poder atribuída às independent
agencies norte-americanas pelos órgãos de cúpula dos poderes Legislativo e
Executivo. Conferir: PARKER, Reginald. Administrative Law.
Indianápolis: The Bobbs-Merrill Company, 1952, p. 94: nota 62.
[264]
Deve-se atentar para a consideração de Caio Tácito sobre a
impropriedade da aproximação exagerada entre os conceitos de agências
reguladoras do Brasil e as commissions dos EUA, pois ela seria “antes
terminológica do que real” (TÁCITO, Caio. Novas agências
administrativas. In: Carta Mensal, Rio de Janeiro 45(529): 33-44, abril
1999, p. 37). Há, entretanto, aproximações úteis à compreensão das
agências reguladoras: a) o interesse no estudo do conceito de public utility
commission regulation está na discussão e fixação do grau de interferência
do Poder Judiciário nas suas decisões. A análise dos limites dos clássicos
cases envolvendo as commissions norte-americanas pode ser conferida em:
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Tratado de direito
administrativo. Vol. II, 5ª ed., Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos,
1964, p. 496-499. Desta discussão surge a extensão do poder revisório
judicial frente à discricionariedade do ato administrativo regulatório estatal;
b) a origem da cogitação das commissions aproxima-se muito do objetivo
das agências reguladoras brasileiras, pois aquelas foram introduzidas com
intuito de otimizar o controle das atividades estatais delegadas, outorgando-
se poderes de regular e de controlar de forma contínua as concessões
públicas por órgãos com conhecimento técnico necessário ao
direcionamento de determinados setores de atividade econômica; c) as
commissions também partilharam o momento histórico de retirada do
Estado da interferência operacional na economia, remetendo à função
legislativa a definição de standards, cuja regulamentação ficaria a cargo de
órgão técnico especializado.
[265]
Estas primeiras comissões estaduais norte-americanas ainda não detinham
caráter imperativo, mas simplesmente de estudos e consultas. Tais
comissões podiam ser vistas nos estados de Rhode Island (1836), New
Hampshire (1844), Connecticut (1853), Vermont (1855) e Maine (1858).
Comissões de caráter mandatório foram inauguradas em 1855, no estado de
Minnesota e Massachussets. Somente em 1871, o estado de Illinois instituiu
a primeira comissão com poderes de fixação de preços de serviços.
Conferir, a respeito: MELO, José Luis de Anhaia. Problemas de
urbanismo: o problema econômico dos serviços de utilidade pública.
São Paulo: s/e, 1940, p. 101.
[266]
Caio Tácito enumera as características comuns às agências reguladoras:
“constituídas como autarquias especiais, destacam-se da estrutura
hierárquica dos Ministérios e da direta influência da conduta política do
governo; gozam de autonomia financeira, administrativa e especialmente de
poderes normativos complementares à legislação; dotados de poderes
amplos de fiscalização, operam como instância administrativa final em
litígios sobre matéria de sua competência; e respondem, fundamentalmente,
pelo cumprimento de metas fixadas e pelo desempenho das atividades dos
prestadores de serviço, segundo as diretrizes do Governo e em defesa do
interesse da comunidade” (TÁCITO, Caio. Op. cit., p. 42).
[267]
Sobre o fenômeno de especialização das agências reguladoras, conferir:
MORAES, Luiza Rangel de; WALD, Arnoldo. Agências reguladoras. In:
Revista de Informação Legislativa, Brasília 36(141): p. 143-171,
janeiro/março 1999, p. 151.
[268]
O subsistema jurídico apresenta-se como um “conjunto de regras,
normas, princípios, finalidades e pressupostos adstritos a um dado setor da
vida humana” (MARQUES NETO, Floriano Azevedo. A nova regulação
estatal e as agências independentes. p. 84. In: SUNDFELD, Carlos Ari
(coord.). Direito administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000,
p. 72-98).
[269]
Agência Municipal de Desenvolvimento, criada pela Lei Municipal nº
1.565, de 30/12/1996, de Niterói, com o intuito de formulação de políticas
de desenvolvimento econômico-social do Município.
[270]
Agência Municipal de Serviços de Saneamento de Cuiabá (AMSS),
criada pela Lei Complementar nº41, de 23/12/1997. Embora tivesse caráter
operacional, por ter reassumido os serviços de água e esgoto de Cuiabá
antes exercidos pela Companhia de Saneamento do Estado, o fim que
motivou sua criação como agência, substituindo a anterior Secretaria de
Saneamento, foi o de regular e controlar as delegações para prestação dos
serviços públicos de saneamento no município de Cuiabá.
[271]
Comissão de Serviços Públicos de Energia, criada pela Lei
Complementar nº 833, de 17 de outubro de 1997, do Estado de São Paulo, e
inaugurada em 14 de abril de 1998 para exercer funções de regulação dos
serviços concedidos pelo poder concedente estadual com funções delegadas
da Agência Nacional do Petróleo ou da Agência Nacional de Energia
Elétrica, mediante convênios.
[272]
Para uma exposição sobre as vantagens do modelo multissetorial das
agências estaduais, vide: CONFORTO, Gloria. Descentralização e
regulação de gestão dos serviços públicos. Revista de Administração
Pública. Rio de Janeiro, FGV, 32(1):27-40, jan/fev 1998.
[273]
Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio
de Janeiro (ASEP-RJ), criada pela Lei Estadual nº 2.686, de 12/02/1997,
cabendo-lhe o exercício do Poder Regulador sobre as concessões e
permissões de serviços públicos nas quais o Estado do Rio de Janeiro
figure, por disposição legal ou pactual, como Poder Concedente ou
Permitente.
[274]
Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio
Grande do Sul (Agergs), criada pela Lei Estadual nº 10.931, de 09/01/1997,
alterada pela Lei 11.292, de 23/12/1998, onde consta expressa comunicação
à Assembléia Legislativa do teor de audiência pública sobre avaliação dos
indicadores de qualidade dos serviços e de pesquisa de opinião (art.14, §1o).
[275]
Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará
(ARCE), criada pela Lei nº 12.786, de 30/12/1997, destina-se à direção,
regulação e fiscalização dos serviços públicos delegados no Estado (art. 3o
da Lei estadual nº12.786).
[276]
Agência Estadual de Regulação e Controle de Serviços Públicos
(ARCON), criada pela Lei estadual nº 6.099, de 30/12/1997, cuja função é
de regular e controlar a prestação dos serviços públicos cuja exploração
tenha sido delegada a terceiros (art. 1o da Lei 6.099/97).
[277]
Agência Reguladora de Serviços Públicos do Rio Grande do Norte
(ARSEP), criada pela Lei estadual nº 7.758, de 09/12/1999, mediante
transformação da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado do
Rio Grande do Norte (ASEP-RN), criada pela Lei nº 7.463, de 02/03/1999,
com finalidade de regular, controlar e fiscalizar os serviços públicos
delegados (art. 2o da Lei 7.758/99).
[278]
Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia,
Transporte e Comunicações da Bahia (AGERBA), criada pela Lei estadual
nº 7.314, de 19/05/1998.
[279]
Os convênios são acordos entre entes públicos ou entre estes e privados
para consecução de objetivos comuns dentro de competências institucionais
comuns para o alcance de resultado comum em um ambiente de mútua
colaboração entre os partícipes. Conferir: DI PIETRO, Maria Sylvia
Zanella. Parcerias na Administração Pública. Concessão, permissão,
franquia, terceirização e outras formas. 3a ed., São Paulo: Atlas, 1999, p.
177-179. Assim, os convênios diferenciam-se dos contratos pelos aspectos:
a)estrutural, que se refere ao conteúdo da vontade expressa pelas partes.
Nos contratos, as partes visam a objetivo diverso, no acordo, ambas
pretende alcançar o mesmo fim; b) funcional, pois ligado ao interesse que
se pretende satisfazer. No contrato, as partes compõem seus interesses; no
acordo, elas os unificam por serem comuns; c) teleológico, que diz respeito
à satisfação específica do interesse público. O contrato é finalístico. A
Administração Pública é uma das partes, que obtém a satisfação do
interesse público mediante a prestação da outra parte. O acordo é
instrumental, pois o atingimento do interesse público se dá pela via da
cooperação entre entidades públicas; d) patrimonial, referente à
transferência econômica, que está presente nos contratos e é estranha ao
acordo de natureza pública. Nestes últimos, os recursos continuam afetados
ao interesse público que os motivou.
[280]
Lei 9.427, de 26/12/1996, art. 20, caput. O mesmo ocorre com o setor do
petróleo, em que a Lei 9.478, de 06/08/1997 prevê, no seu art. 8o, VII e XV
a possibilidade de fiscalização das atividades integrantes e a aplicação de
sanções por Estados ou pelo Distrito Federal mediante convênio. De fato, a
Comissão de Serviços Públicos de Energia – CSPE, criada pela Lei
Complementar 833/97, no Estado de São Paulo, tem competências no setor
de eletricidade, por delegação da ANEEL, no setor de petróleo e gás, por
delegação da ANP, e no setor de gás canalizado, como longa manus
estadual, que é o poder concedente deste serviço (art. 25, §2o da CF/88). A
lei brasileira de telecomunicações não abre tal possibilidade.
[281]
MORAES, Luiza Rangel de; WALD, Arnoldo. Agências reguladoras. In:
Revista de Informação Legislativa, Brasília 36(141): p. 143-171,
janeiro/março 1999, p. 145.
[282]
PARKER, Reginald. Administrative Law. Indianápolis: The Bobbs-
Merrill Company, 1952, p. 95.
[283]
“Independência é uma expressão certamente exagerada. No mundo
jurídico, preferimos falar em autonomia. Mas garantir a independência é
fazer uma afirmação retórica com o objetivo de acumular o desejo de que a
agência seja ente autônomo em relação à Administração Pública, que atue
de maneira imparcial e não flutue sua orientação de acordo com as
oscilações próprias do Poder Executivo, por força até do sistema
democrático.” (SUNDFELD, Carlos Ari. Agências reguladoras e os novos
valores e conflitos, p. 1296. In: Anais da XVII Conferência Nacional dos
Advogados. Justiça: realidade e utopia. Vol. II, Rio de Janeiro: Ordem dos
Advogados do Brasil, 1999, p. 1291-1297).
[284]
MORAES, Luiza Rangel de; WALD, Arnoldo. Agências reguladoras. In:
Revista de Informação Legislativa, Brasília 36(141): p. 143-171,
janeiro/março 1999, p. 146.
[285]
Prezando pela modicidade das tarifas como a necessária ponderação entre
todos os interesses em jogo, inclusive o dos consumidores potenciais na
ampliação da área de prestação do serviço e contra o que chama de
populismo regulatório, vide: MARQUES NETO, Floriano Azevedo. A nova
regulação estatal e as agências independentes. p. 86: nota 38. In:
SUNDFELD, Carlos Ari (coord.). Direito administrativo econômico. São
Paulo: Malheiros, 2000, p. 72-98.
[286]
A radicalização da transparência e da publicidade da atividade
regulatória é a forma existente de fazer frente à tendência de captura da
agência pelos regulados. Vide: Ibid., p. 89.
[287]
Entendendo a estrutura organizacional das agências como fortes
indicadores da autonomia do órgão regulador, vide: PECI, Alketa;
CAVALCANTI, Bianor Scelza. Reflexões sobre a autonomia do órgão
regulador: análise das agências reguladoras estaduais. p. 106. In: Revista de
Administração Pública, vol. 34, nº 5, set/out de 2000, p. 99-118.
[288]
“Quando reconheço ser constitucionalmente viável que elas [as agências
reguladoras] desfrutem de um tal poder [poder normativo], de modo algum
estou sugerindo que elas produzam “regulamentos autônomos” ou coisa
parecida, pois todas as suas competências devem ter base legal – mesmo
porque só a lei pode criá-las, conferindo-lhes (ou não) poder normativo [§]
A constitucionalidade da lei atributiva depende de o legislador haver
estabelecido standards suficientes, pois do contrário haveria delegação pura
e simples de função legislativa” (SUNDFELD, Carlos Ari. Introdução às
agências reguladoras, p. 27. In: SUNDFELD, Carlos Ari (coord.). Direito
administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 17-38).
[289]
A independência proposta “deve servir para que o órgão regulador seja
um instrumento de política governamental, e não um instrumento de
política de um governo” (MARQUES NETO, Floriano Azevedo. Op. cit., p.
87).
[290]
MORAES, Luiza Rangel de; WALD, Arnoldo. Agências reguladoras. In:
Revista de Informação Legislativa, Brasília 36(141): p. 143-171,
janeiro/março 1999, p. 146.
[291]
A previsão expressa da referida proteção estava contida no art. 26, caput,
da Lei Geral de Telecomunicações (Lei 9.472/97), mas foi revogado pela
Lei 9.986, de 18 de julho de 2000. Para o caso da ANEEL, a Lei 9.427/96
prevê a nomeação compartilhada dos diretores para mandatos não
coincidentes, não os protejendo expressamente da demissão ad nutum.
Sobre a fragilidade, no Brasil, da proteção do mandato com base em
decisões do Supremo Tribunal Federal, vide: SILVA, Fernando Quadros da.
Agências reguladoras: a sua independência e o princípio do Estado
Democrático de Direito. Curitiba: Juruá, 2003, p. 130-134.
[292]
A Lei Geral de Telecomunicações proíbe, no seu art.29, que o conselheiro
tenha interesse significativo, direto ou indireto, em empresa relacionada
com telecomunicações. Além disso, o conselheiro da ANATEL não pode
representar qualquer pessoa ou interesse perante a Agência no prazo de um
ano após ter ocupado o cargo (art.30).
[293]
Os diretores das agências não devem ocupar outras funções públicas ou
privadas. O caso da Asep (Agência Reguladora dos Serviços Públicos
Concedidos) do Rio de Janeiro exemplifica o comprometimento que o
modelo de autonomia das agências procura evitar. Cf. PECI, Alketa;
CAVALCANTI, Bianor Scelza. Reflexões sobre a autonomia do órgão
regulador: análise das agências reguladoras estaduais. p. 112. In: Revista
de Administração Pública, vol.34, nº.5, set/out de 2000, p. 99-118.
[294]
Defendendo a tese de pagamento aos ex-dirigentes das agências por
período mínimo de 12 meses após o fim do mandato para indenizá-los da
restrição do direito individual de trabalhar, vide: MARQUES NETO,
Floriano Azevedo. Op. cit., p. 85-86: nota 37.
[295]
ADIn1949-0/RS, relator Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno,
por maioria suspendeu liminarmente a eficácia do art.8o, da Lei 10.931, de
09/01/1997: “Art. 8o O Conselheiro só poderá ser destituído, no curso do
seu mandato, por decisão da Assembléia Legislativa”.
[296]
A independência de objetivos da ANEEL é ampliada mediante um
contrato de gestão negociado e celebrado entre a Diretoria e o Poder
Executivo, como instrumento de controle e avaliação de desempenho. (art.
7o, da Lei 9.427/96). Tal previsão não existe para o setor de
telecomunicações brasileiro.
[297]
O Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária é um exemplo vivo de
auto-regulação. Apresenta-se como organização não-governamental –
sociedade civil sem fins lucrativos –, fundada em 5 de maio de 1980,
constituída por entidades representativas das agências de publicidade, dos
veículos de comunicação, de anunciantes e de todas as demais entidades
que aderirem ao Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária e
se comprometerem a seguir as decisões do Conselho de Ética e do
Conselho Superior do Conar (art.9o do Estatuto Social do Conar), tendo por
objetivos sociais, dentre outros, zelar pela comunicação comercial,
promover a liberdade de expressão publicitária e a defesa das
prerrogativas constitucionais da propaganda comercial (art. 5º, I e VI do
Estatuto Social do Conar). O desrespeito de suas recomendações dá ensejo
a advertências, censuras públicas, suspensão ou eliminação do quadro
social (art.15 do Estatuto Social do Conar).
[298]
GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 3aed.,
São Paulo: Malheiros, 2000, p. 95.
[299]
A escassa jurisprudência do Supremo Tribunal Federal brasileiro sobre o
tema aponta a exigência de natureza jurídica de direito público para o
exercício de poder de polícia. A Representação nº 1.169/DF – relator Min.
Soares Muñoz, j.08/08/1984 (RTJ 111/87) – apresenta os conselhos federais
de fiscalização de profissionais liberais como autarquias corporativas. O
Mandado de Segurança nº 22.643-9/SC – relator Min. Moreira Alves, DJ
04.12.1998, Ementário nº1934-01 – determina a submissão dos Conselhos
Regionais de Medicina, como autarquias, à prestação de contas ao TCU.
[300]
Floriano Marques utiliza o termo regulação de caráter público para
diferenciar da autorregulação. Conferir: MARQUES NETO, Floriano
Azevedo. Op. cit., p. 83.
Table of Contents
Dedicatória
Agradecimentos
OBRAS DO AUTOR
Parte I Introdução ao Direito Regulatório
1 Estado, Poder e Direito público
2 Pressupostos teóricos do Estado Regulador
3 Teoria jurídica da regulação
4 Ordenamento jurídico dinâmico
5 Modernização do direito administrativo
Parte II Fundamentos de Direito Regulatório
1 Direito Regulatório e Estado regulador
2 Regulação: objeto de estudo do direito regulatório
3 Regulação no brasil
Bibliografia
SOBRE O AUTOR
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