A Arte Do Conto Aula 1
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A ARTE DO
CONTO
PROGRAMAÇÃO
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nov
rom
crônica
CO RO
O
NT
MIC
romance
crônica
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube
mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não
foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar
com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no
artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também
numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas
beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
(parágrafo final de A terceira margem do rio; Rosa)
CADEIA DRAMÁTICA X SITUAÇÃO
Flashbacks
Muitos personagens
Excesso de divagações/ reflexões
Todos os dias, ao primeiro sol da manhã, mãe e filha sentavam-se na soleira da
porta. E deitada a cabeça da filha no colo da mãe, começava esta a catar-lhe
piolhos.
Os dedos ágeis conheciam sua tarefa. Como se vissem, patrulhavam a cabeleira
separando mechas, esquadrinhando entre os fios, expondo o claro azulado do
couro. E na alternância ritmada de suas pontas macias, procuravam os
minúsculos inimigos, levemente arranhando com as unhas, em carícia de cafuné.
Com o rosto metido no escuro pano da saia da mãe, vertidos os cabelos sobre a
testa, a filha deixava-se ficar enlanguescida, enquanto a massagem tamborilada
daqueles dedos parecia penetrar-lhe a cabeça, e o calor crescente da manhã lhe
entrefechava os olhos.
Foi talvez devido à modorra que a invadia, entrega prazerosa de quem se
submete a outros dedos, que nada percebeu naquela manhã – a não ser, talvez,
uma leve pontada – quando a mãe, devassando gulosa o secreto reduto da nuca,
segurou seu achado entre polegar e indicador e, puxando-o ao longo do fio negro
e lustroso em gesto de vitória, extraiu-lhe o primeiro pensamento.
(Marina Colasanti, E tinha a cabeça cheia deles)
DESAFIO