A Arte Do Conto Aula 1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 21

IMERSÃO

A ARTE DO
CONTO
PROGRAMAÇÃO

Por que estudar e escrever contos?: Os poderes dos


grandes contistas
Como você também pode adquirir esses poderes?

Dando adeus aos principais vícios da escrita


POR QUE ESTUDAR E ESCREVER
CONTOS?
• O conto é o melhor gênero para desenvolver a Concisão
• Economia dramática e Emoção: todos os recursos devem ser
empregados com a finalidade de provocar uma emoção específica
• O conto é o gênero perfeito para mentes muito criativas (e um
pouco indisciplinadas). Ele permite que você passeie por diferentes
estilos, gêneros, temáticas, sem prejudicar a sua escrita.
• Mercado Editorial
O QUE NÃO É UM CONTO?

Um conto não é um romance mais


curto.
Todo conto é uma narrativa breve, mas
nem toda narrativa breve é um conto.
FICÇÃO RELATO
Imaginação, elaboração, fantasia verdade

Qualquer fato: Fato cotidiano


Cotidiano ou
inusitado ance

el a

to
con
nov
rom

crônica

CO RO
O
NT
MIC

Narrador SEMPRE diferente de autor Narrador = Autor


NARRATIVAS LONGAS NARRATIVAS BREVES

romance
crônica

CADEIA DRAMÁTICA SITUAÇÃO conto


novela ARCO DRAMÁTICO MICRO
CONTO
CONFLITO
ALGUNS PRINCÍPIOS PARA ESCREVER UM
BOM CONTO
CLÍMAX

Diferentemente do romance, o conto deve ser interrompido


no ponto exato do seu clímax.
Todos os mares do mundo agitavam-se dentro de seu coração. Ele a
estava levando para esses mares: ele a afogaria. Agarrou-se com as duas
mãos às grades de ferro.
— Vem!
Não! Não! Não! Era impossível. Suas mãos agarraram-se ao ferro em
desespero. No meio dos mares ela deu um grito de angústia!
— Eveline! Evvy!
Ele correu para o outro Lado do cordão de isolamento e a chamou, para
que o seguisse. Gritaram para que fosse em frente, mas ele continuava a
chamá-la. Ela o encarava com o rosto pálido, passivo, como um animal
indefeso. Seus olhos não demonstravam qualquer sinal de amor,
despedida, ou reconhecimento.
Eveline, James Joyce
Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A pedra
estava fria, certamente sinhá Vitória tinha deixado o fogo apagar-
se muito cedo.
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de
preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As
crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio
enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de
preás, gordos, enormes.
(Baleia, Graciliano Ramos)
EFEITO ESTÉTICO

Diferentemente do romance, a ênfase do conto não é


contar uma história, mas produzir um efeito estético >>
emoção atordoante.
EFEITO ESTÉTICO

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube
mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não
foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar
com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no
artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também
numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas
beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
(parágrafo final de A terceira margem do rio; Rosa)
CADEIA DRAMÁTICA X SITUAÇÃO

Diferentemente do romance, o conto não deve explorar


uma cadeia dramática, mas, sim, uma situação.
PERSONAGENS

O caracterização do personagens do conto deve ser


minimalista >> Caracterização em torno de um elemento.

“Não é preciso correr atrás de um grande número de


personagens: dois devem constituir o centro de gravidade”.
DESCRIÇÕES

• A descrição deve ser pictórica/ evocativa.

• A descrição é mais interessante se filtrada pelo olhar da


personagem.
DESCRIÇÃO DA AMBIENTAÇÃO

Objetividade máxima. Ao invés de:

“Havia uma estante junto à parede que abundava em livros


variegados”
Escreva:
“Havia uma estante”
DESCRIÇÃO DA NATUREZA

“As descrições da natureza devem ter um caráter breve e à


propôs:
É preciso prender se a pequenos detalhes de agrupá-los de
modo que, ao fechar os olhos, durante a leitura, o leitor veja o
quadro.
Por exemplo: ao invés de descrever um céu de lua cheia, mostre
o através de um caco de vidro que cintilava como uma estrela
vívida, refletindo a lua...
EMOÇÃO

Quanto mais pesado o tema, maior a objetividade com que se


deve tratá-lo. A emoção fácil deve ser evitada a todo custo.

“A CACHORRA Baleia estava para morrer.Tinha emagrecido, o pelo


caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo,
onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas.
As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e
a bebida”.
(...)
Então, Fabiano resolveu matá-la.
O QUE EVITAR

Flashbacks
Muitos personagens
Excesso de divagações/ reflexões
Todos os dias, ao primeiro sol da manhã, mãe e filha sentavam-se na soleira da
porta. E deitada a cabeça da filha no colo da mãe, começava esta a catar-lhe
piolhos.
Os dedos ágeis conheciam sua tarefa. Como se vissem, patrulhavam a cabeleira
separando mechas, esquadrinhando entre os fios, expondo o claro azulado do
couro. E na alternância ritmada de suas pontas macias, procuravam os
minúsculos inimigos, levemente arranhando com as unhas, em carícia de cafuné.
Com o rosto metido no escuro pano da saia da mãe, vertidos os cabelos sobre a
testa, a filha deixava-se ficar enlanguescida, enquanto a massagem tamborilada
daqueles dedos parecia penetrar-lhe a cabeça, e o calor crescente da manhã lhe
entrefechava os olhos.
Foi talvez devido à modorra que a invadia, entrega prazerosa de quem se
submete a outros dedos, que nada percebeu naquela manhã – a não ser, talvez,
uma leve pontada – quando a mãe, devassando gulosa o secreto reduto da nuca,
segurou seu achado entre polegar e indicador e, puxando-o ao longo do fio negro
e lustroso em gesto de vitória, extraiu-lhe o primeiro pensamento.
(Marina Colasanti, E tinha a cabeça cheia deles)
DESAFIO

Escrever um conto curto (de até 2.000 caracteres)


pensando em todos esses recursos.

Você também pode gostar