Trabalho Direito Das Obrigações

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Trabalho de Direito das Obrigações

2º ano de Solicitadoria
Noturno

Célia Lopes: nº 5894


Marcelo: nº 6291
Deborah Ribeiro: nº 5798
João Madeira: nº 5259
Índice:

1.Como o Direito das Obrigações se insere no Direito Privado? Quais são as


suas características? Que tipo de relações jurídicas são por ele reguladas?

2.Quais são os elementos do conceito de obrigação e como se articulam entre si?

3.Embora a mais relevante fonte das obrigações seja o ato de vontade, há outras
partes concretas que são articuladas para compor o regime geral. Cite-as e dê
exemplos da sua aplicação.

4.Os artigos 397º e 398º do código civil tem da formação do vínculo e o que se deve
compreender como interesse do credor, “digno de proteção legal”, previsto no nº2
do art. 398º

5.Relativamente á garantia ao cumprimento das obrigações, explique como a


garantia geral do património do devedor se articula com o regime de garantias
com eficácia real e qual a natureza do vínculo jurídico entre o credor e a coisa
neste último caso.

6.A combinação do art. 405º com o art.1305º, ambos do código civil, justificam em
grande medida que se “compreenda o direito da liberdade”. Comente essa
afirmação apontando os seus fundamentos.

7.Quais são as duas dimensões do princípio da autonomia privada?

8.O que se entende por responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva?


Por que a responsabilidade objetiva é excecional?

9.O que se entende por boa fé subjetiva e em que medida se justifica falar de boa
fé objetiva?

10. Qual é a garantia geral dos credores e de que maneira o regime de direitos
reais garantia introduzem-se nesse regime geral?
Trabalho de grupo de Direito das obrigações

1. Como o Direito das Obrigações se insere no Direito Privado? Quais são as


suas características? Que tipo de relações jurídicas são por ele reguladas?

“As obrigações são vínculos jurídicos por virtude dos quais uma pessoa fica adstrita para
com outra á realização de uma prestação” artº 397 CC.

Temos o Critério da posição dos sujeitos transmitido na frase acima transcrita e pode-se
chamar de sujeito ativo da obrigação, ou credor, o que pode exigir a prestação. E sujeito
passivo, ou devedor, o que tem o dever de prestar.

O direito das obrigações insere-se no direito privado, este, por sua vez, é constituído por
normas que regulam as relações jurídicas quer entre simples particulares quer entre estes
e o Estado ou outros entes públicos que intervenham não dotados do seu ius imperie.
Uma vez que, o Direito das Obrigações, se assume como um ramo do Direito Civil (que é
o Direito Privado Comum), goza das caraterísticas do Direito Privado que é a
igualdade e a liberdade. No Direito Privado, tudo é permitido, menos o que é proibido. A
noção de Obrigação em Direito é muito específica e é importante reter a seguinte
palavra: limite. Esta palavra é fundamental para se entender a ideia de obrigação
pois, quando ultrapassarmos o “limite” da constituição do nosso direito estaremos a entrar
na esfera jurídica do outro.

Desta forma percebemos o princípio fundamental do direito das obrigações,


nomeadamente o princípio da autonomia privada, explicita na liberdade contratual no artº
405 CC, que consiste na possibilidade que alguém tem de estabelecer as suas próprias
regras e, por conseguinte, a possibilidade de estabelecer os efeitos jurídicos que se irão
repercutir na sua esfera jurídica. Estes também destacados na Constituição da República
Portuguesa no artº 26 nº1, e 61º.

A autonomia privada pode ser manifestada no poder de livre exercício dos seus direitos, ou
de livre gozo dos seus bens pelos particulares, ou seja, na autonomia da vontade (soberania
do querer), caracteriza essencialmente o direito subjetivo. Sendo o negócio jurídico é o seu
principal instituto, e um manifesto, do princípio da autonomia da vontade.

Neste seguimento, podemos dizer que o Direito das Obrigações é então um direito
dinâmico que regula em particular a circulação de bens e serviços, (artigo 408.º, 874.º,
940.º); as prestações (que podem ser positivas ou negativas- de dar, fazer ou não fazer),
como por exemplo o contrato de prestação de serviços (1154.º e ss.), e a reparação dos
danos (a responsabilidade civil). É constituído pelo conjunto de normas jurídicas que
regulam as relações jurídicas obrigacionais ou de crédito, também designadas
simplesmente de obrigações

O Código Civil nomeia como fontes concretas das obrigações o contrato (artigo 405.º), o
negócio unilateral (artigo 457), a gestão de negócios (artigo 464.º), a gestão de negócios e
o enriquecimento sem causa (artigo 473.º) e a responsabilidade civil (artigo 483.º).
Em conclusão, o direito das obrigações, constitui, por isso, talvez o ramo de direito que
mais importância desempenha na formação do jurista, pois influência noutros ramos de
direito, como por exemplo o direito publico.

2.Quais são os elementos do conceito de obrigação e como se articulam entre si?

Diz-se “obrigação” a relação jurídica por virtude da qual uma (ou mais) pessoa pode exigir
de outra (ou outras) a realização de uma prestação (artigo 397º do Código Civil).
Os elementos essenciais da obrigação são o sujeito, o objeto e o vínculo jurídico.

Os sujeitos são o elemento subjetivo da obrigação. Há o sujeito ativo (credor, que tem o


direito de exigir a prestação) e o sujeito passivo (devedor, que tem o dever de prestar
determinado ato ou objeto). Os sujeitos são os titulares da relação jurídica.

O credor é a pessoa a quem se proporciona a vantagem resultante da prestação, o titular do


interesse (patrimonial, espiritual ou moral) que o dever de prestar visa satisfazer.

O devedor é a pessoa sobre a qual recai o dever (específico) de efetuar a prestação (o


comprador quanto à entrega do preço; a entidade patronal, quanto ao salário; o empreiteiro
quanto à entrega da obra). É, enquanto sujeito passivo da relação, quem está adstrito ao
cumprimento da prestação.
O objeto é a prestação de debito, a prestação devida ao credor. É o meio que satisfaz o
interesse do credor, que lhe proporciona a vantagem a que ele tem direito.
A prestação é o fulcro da obrigação, o seu alvo prático, e consiste, em regra, numa
atividade ou numa ação do devedor (entregar uma coisa, realizar uma obra, dar uma
consulta, transportar alguns móveis, etc.), mas também pode consistir numa abstenção,
permissão ou omissão (obrigação de não abrir estabelecimentos de certo ramo de comércio
na mesma rua ou na mesma localidade; obrigação de não fazer escavações que provoquem
o desmoronamento do prédio vizinho).
O vínculo jurídico é o nexo ideal que liga os poderes do credor ao dever do obrigado. Este
vínculo, constituído pelo enlace dos poderes conferidos ao credor, com os correlativos
deveres impostos ao titular passivo da relação, forma o núcleo central da obrigação, o
elemento substancial da economia da relação.
Através do vínculo que a ordem jurídica estabelece entre o credor e o devedor constitui-se
o elemento irredutível da relação, nele residindo o cerne do direito de crédito.
A relação de subordinação estabelecida entre os titulares da relação traduz-se logo no
poder que tem o credor de exigir a prestação, no dever que recai sobre o obrigado de
efectuá-la, e na sanção aplicável ao devedor inadimplente ou em mora, a requerimento do
credor lesado. (artigo 817º do Código Civil).
Todos estes elementos se articulam entre si posto que constituem a estrutura essencial da
relação obrigacional e, faltando algum desses elementos, tal relação jurídica não chega a
constituir-se ou poderá extinguir-se. Efetivamente, inexistindo sujeitos, não chega a
formar-se qualquer relação jurídica (pressupostos os dois polos acima indicados – credor e
devedor) e inexistindo o objecto e o vínculo jurídico a relação carece de qualquer
substracto, da sua razão de ser, tal como acima explicitado.

3. Embora a mais relevante fonte das obrigações seja o ato de vontade, há outras
partes concretas que são articuladas para compor o regime geral. Cite-as e dê
exemplos da sua aplicação.

A fonte principal do direito das obrigações, assim como de todos os outros direitos é a
lei. As obrigações, têm interesse em outras áreas jurídicas como nas áreas de direito
público, por exemplo no direito fiscal em que todos temos a obrigação de pagar
impostos. Porém o direito obrigacional é um dos ramos do direito privado e está
previsto no código civil, algumas das obrigações existentes como por exemplo, os
contratos e negócios unilaterais (Ato de vontade), a responsabilidade civil, o
enriquecimento sem causa, gestão de negócios e atos ilícitos.

A mais conhecida fonte do direito obrigacional, é o contrato, que surge de um ato de


vontade. O contrato é uma formalização jurídica que liga dois ou mais sujeitos a uma
obrigação que ambos criaram de livre vontade, nos termos do artigo 405º do Código
Civil. Essa obrigação pode ser, modificá-la ou extingui-la, um dos exemplos é o
contrato de compra e venda. Porém, existe os negócios unilaterais, onde apenas existe
ato de vontade de uma das partes, previsto no artigo 457º e seguintes do Código Civil,
um dos exemplos destes negócios, é quando um individuo tem um cão e o cão fugiu de
casa e coloca cartazes oferecendo uma recompensa monetária a quem encontrar o cão,
neste caso estará a criar um negócio em que qualquer indivíduo que veja o cartaz,
poderá vir a cumpri-lo, nos termos do art. 459º do Código Civil.

Outra fonte do direito das obrigações é a responsabilidade civil previsto no artigo 483º
do Código Civil. A responsabilidade civil, segundo o autor Heinrich Hoster no livro “A
parte geral do código civil português” este explica que “a responsabilidade pressupõe
assim a existência de um dano e o dever de indemnizar este dano na medida em que este
vai para além do risco geral de vida que cada um deve assumir individualmente ao
tomar, sempre que possível, conta da sua pessoa e cuidar dos seus bens e dos seus
interesses. Dever indemnizar aquele a quem o facto danoso é imputado por lei. Dai
nasce a responsabilidade civil.”, de forma mais simplificada, um individuo danificando
património alheio, cria para si responsabilidade civil de indemnizar o individuo
cujo património foi danificado. A responsabilidade civil pode surgir também de um ato
ilícito por exemplo quando um indivíduo danifica um automóvel de terceiro, por estar
em contramão da sua via, o sujeito tem a responsabilidade civil de indemnizar o dono
do automóvel pelos danos causados no mesmo. Porém a responsabilidade civil também
pode surgir de um ato lícito, por exemplo quando um individuo vai passear o seu cão,
um ato que é totalmente lícito, e deixa o animal fugir e o mesmo causa um acidente.

Existe também a Gestão de negócios, que está previsto o artigo 464º do código civil
“Dá-se a gestão de negócios, quando uma pessoa assume a direção de negócio alheio no
interesse e por conta do respetivo dono, sem para tal estar autorizada”, o que o artigo
quer dizer é que a gestão de negócios é uma exceção ao princípio, de que ninguém pode
agir sobre património alheio, havendo situações em que poderá um terceiro interferir. O
gestor é nome dado aquele que interfere no negócio alheio que deverá ter a consciência
que o negócio é alheio, que deverá atuar sempre no interesse do dono dos negócios, que
não poderá representar o negócio e que por fim não poderia, por razões de urgência,
comunicar-se com o dono do negócio, sendo obrigado a agir no seu interesse. Por
exemplo, supúnhamos que um individuo tem em sua posse um computador que pertence
a outro individuo, sabendo que o mesmo tenciona vende-lo, na ausência do dono do
computador o individuo, vende o mesmo a um interessado, assim agindo como gestor de
negócios sem ter a devida autorização para o fazer.

Por fim, necessita-se mencionar o Enriquecimento sem causa, previsto no artigo 473º do
Código Civil. O enriquecimento sem causa é quando um individuo sem qualquer
explicação, enriquece às custas de outro individuo tendo assim, o dever de devolver o
que lhe foi dado ou de restituir em caso, de já ter gastado parte do que lhe foi dado. Por
exemplo quando por engano um individuo transfere dinheiro a mais no pagamento de
um serviço a um credor, o credor tem o dever de devolver o dinheiro que lhe foi pago a
mais.

4. Os artigos 397º e 398º do código civil tem da formação do vínculo e o que se


deve compreender como interesse do credor, “digno de proteção legal”, previsto
no nº2 do art. 398º

Tendo em conta que vinculação é entendida por uma posição jurídica passiva a que
corresponde um direito. Este é um conceito amplo que comporta quer o dever
jurídico, quer a obrigação ou a sujeição. A obrigação traduz-se num vínculo jurídico
que se estabelece entre dois sujeitos, por força do qual um deles deve observar um
determinado comportamento (realização duma prestação) e o outro tem o direito de
lhe exigir esse mesmo comportamento. Os direitos obrigacionais, como os direitos de
crédito, existem com vista a um objetivo: o seu cumprimento, ou, como preceitua o
artigo 397.º do Código Civil, destinam-se “à realização de uma prestação”. Se o
devedor cumprir a obrigação mediante a realização da prestação a que está vinculado,
o direito extingue-se (artigo 762.º, n. º2 do Código Civil).

Na relação jurídica obrigacional ou de crédito o sujeito passivo toma o nome de


devedor e o sujeito ativo o de credor, constituindo uma prestação o comportamento ou
a conduta a que o primeiro está obrigado, vinculado, e o segundo a pode exigir. A
prestação representa sempre uma modalidade de conduta que pode consistir numa
ação ou numa abstenção. Se consiste numa ação a conduta será positiva, porém se
consistir numa omissão, então a conduta será negativa. No artigo 398.º, n. º2 do
Código Civil, estabelece-se o princípio de que a prestação não necessita de ter valor
pecuniário, devendo, contudo, corresponder a um “interesse do credor digno de
proteção legal” ou seja, a um interesse do credor que se revele sério e não uma pura
fantasia, de modo a ser merecedor da proteção do direito, cabendo ao juiz apreciar,
cada caso, se o interesse é ou não digno da tutela jurídica. Desta forma, encontram-se
delimitados os requisitos legais de prestação face ás generalidade; possibilidade física
e legal; licitude; e determinabilidade, e não contraria à ordem publica e aos bons
costumes. Conforme o art.º 280 cc que estabelece a nulidade do negócio jurídico e
281.ºcc.

A interpretação que prevalece exige apenas juridicidade. interpretando-as segundo os


critérios do artigo 236º e seguintes do Código Civil a fim de compreender se a
combinação foi ou não criadora de efeitos jurídicos. Apenas podemos considerar
obrigações se estivermos diante de uma questão jurídica, se estivermos perante uma
combinação de intenções de juridicidade, isto é, se a formação da proposta tem
caráter sério ou não.
A disposição n.º1 do art.º 398 do Código Civil estabelece que “As partes podem fixar
livremente, dentro dos limites da lei, o conteúdo positivo ou negativo da prestação”
dando-nos a ideia de liberdade de criação de obrigações, no entanto importa salientar
que nem todas as obrigações são de criação voluntária, pelo contrário, muitas vezes as
partes veem acontecer na sua esfera jurídica obrigações involuntárias, mas que são
impostas pelo sistema, como por exemplo, no caso da responsabilidade civil em que
ficamos adstritos a uma indemnização.

Quanto à disposição n.º 2 do art.º 398 do Código Civil, apresenta-se como um limite à
liberdade que as pessoas têm de criar obrigações da sua esfera jurídica, dando-nos
uma restrição do preceituado no n.º1. Quanto ao “interesse do credor, digno de
proteção legal”, exclui- se aqui quaisquer situações provenientes de outras ordens
normativas tais como a religião ou o trato social, por exemplo.

Assim, as obrigações têm como objeto um comportamento e esse comportamento é a


prestação. Citando a doutrina do Menezes Cordeiro, a propósito da definição do art.º
397, resulta que a prestação consiste na conduta a que o devedor se obriga a
desenvolver em benefício do credor, isto é, a conduta devida. É por isto que se
considera a realização da prestação pelo devedor como cumprimento, importando a
extinção da obrigação.

Numa obrigação que une duas ou mais pessoas há alguém que deve uma conduta, o
devedor, que se assume como o sujeito passivo da obrigação que tem o dever de
prestar, e alguém que tem o correspondente direito a essa conduta, o credor, sujeito
ativo que tem o direito a exigir que a prestação/conduta se realize.

5. Relativamente á garantia ao cumprimento das obrigações, explique como a


garantia geral do património do devedor se articula com o regime de garantias
com eficácia real e qual a natureza do vínculo jurídico entre o credor e a coisa
neste último caso.

Segundo o artigo 397º do Código Civil, uma obrigação “é um vínculo jurídico por
virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com a outra à realização de uma
prestação”, esta prestação a que o devedor está adstrito de realizar consubstancia-se
no cumprimento da obrigação a que está vinculado, pelo que a obrigação se extingue
no momento da realização da prestação como decorre do artigo 762º do Código Civil,
isto é, preferencialmente as obrigações devem extinguir-se pelo seu cumprimento.
Como se sabe, as obrigações podem derivar de várias fontes, as conhecidas “fontes
das obrigações”, sendo as mais importantes fontes das obrigações, os contratos e a
responsabilidade civil, estipulados nos artigos 405º e seguintes, e, artigos 483º e
seguintes, respetivamente, no entanto existem outras fontes, como por exemplo
enriquecimento sem causa estipulado no artigo 473º, negócios unilaterais, plasmados
nos artigos 457º e seguintes.

Sabendo que a mais comum fonte das obrigações são os contratos, é necessário
perceber como é que de um negócio jurídico emerge uma obrigação? Como se sabe
os contratos são realizados ao abrigo da liberdade contratual, prevista no artigo 405º,
ou seja, todos nós temos a liberdade de contratar, de fixar livremente o conteúdo dos
contratos, celebrar contratos diferentes dos estipulados no Código Civil, reunir num
mesmo contrato regras de dois ou mais negócios, entre outros… Contudo, a nossa
liberdade não é intangível, tem limites, e esses limites são alcançados quando
interferimos na liberdade de alguém, e por este motivo, de modo a garantir que os
sujeitos da relação jurídica, que estipularam aquele contrato livremente, não
prejudicam a esfera jurídica um do outro, ou de terceiros, o Código Civil estabelece
no artigo 406º sob a epigrafe “Eficácia dos contratos” na sua primeira disposição, o
seguinte: “O contrato deve ser pontualmente cumprido, e só pode modificar-se ou
extinguir-se por mútuo consentimento dos contraentes ou nos casos admitidos na lei”.
Esta disposição prevista neste normativo legal, vem evitar o incumprimento do
contrato, acautelando às partes, que a partir do momento em que o contrato se
aperfeiçoa, o mesmo deve ser cumprindo ponto a ponto, rigorosamente. O contrato
(facto jurídico lícito e voluntário), é uma das principais fontes das obrigações, e como
se sabe, o facto jurídico é um dos elementos que constitui uma relação jurídica, sendo
que juntamente a este, existem mais 3 elementos que integram uma relação jurídica,
sendo eles, os sujeitos, o objeto e a garantia.

Vejamos, a título de exemplo, um contrato de compra e venda de uma coisa móvel,


realizado por A e B, sendo que A é o vendedor e B é o comprador, ambos credores e
devedores na relação jurídica subjacente. Neste caso em apreço estamos perante um
contrato sinalagmático, pois emergem obrigações para ambos os sujeitos do negócio
jurídico, a obrigação de entregar a coisa, e a obrigação de pagar o preço, passando a
existir um vínculo entre ambas partes de interdependência, isto é, para que o negócio
se cumpra pontualmente, ambos os sujeitos dependem um do outro. Como no caso em
questão, está em causa um direito real, uma coisa, é correto afirmar-se que o mesmo
tem eficácia real, na medida em que tem que ser transferida a posse dessa mesma
coisa, assim como objeto em si.

Se observarmos o artigo 879º do Código Civil, este esclarece que, a compra e venda,
tem como efeitos essenciais: a transmissão da propriedade da coisa, ou da titularidade
do direito; a obrigação de entregar a coisa, e, a obrigação de pagar o preço. É então
nítido após esta breve explicação, que os contratos, geram para as partes, obrigações,
e em casos de contratos com eficácia real, é necessário a transmissão da propriedade
da coisa ou da titularidade do bem. Dado isto, e como os seres humanos, são um
pouco imprevisíveis, a probabilidade de uma das partes, ou até mesmo ambas, não
cumprirem com as obrigações derivadas de um contrato, são elevadas, e por este
motivo, de modo a garantir a segurança no tráfego jurídico, o Direito criou condições
e medidas para que as obrigações fossem cumpridas, sempre que os sujeitos não o
fizessem livremente, realizando a prestação/conduta ou comportamento a que estavam
adstritos. Ainda ao abrigo do exemplo dado a cima, vamos agora supor que B, não
pagava o valor pela coisa adquirida, entrando em incumprimento do contrato, e não
cumprindo a sua obrigação, que neste caso se traduzia na realização de uma prestação
de pagar o preço pela coisa móvel, prejudicando o direito de crédito a que o credor,
sujeito ativo da relação jurídica tinha direito a receber, sendo que neste caso a
obrigação a que estava adstrito o sujeito passivo, era uma obrigação pecuniária, ou
seja, deveria ter entregue uma certa quantia em dinheiro. A solução encontrada pelo
Direito, para quando os sujeitos não extingam pelo cumprimento a obrigação a que
estavam adstritos, está intrinsecamente conexa com um dos elementos da relação
jurídica, a garantia. Segundo José Falcão, em “Noções Gerais de Direito, p. 213” a
garantia consiste “na suscetibilidade de proteção coativa do poder de que é titular o
sujeito ativo da relação, a qual se traduz no conjunto de providencias coercitivas que a
lei estabelece para assegurar essa proteção”, dado isto, se o devedor não cumprir a
obrigação a que está adstrito podem as instâncias judicias decretar que seja retirado
do seu património bens suficientes para se fazer pagar o credor, tendo em atenção,
que, em nenhum momento é licito ao credor fazer-se pagar pelas suas mãos, não pode
fazer uso da autotutela, somente o Estado com o seu poder coercivo pode obrigar o
devedor, executando o seu património, a satisfazer o crédito do sujeito ativo da
relação. Contudo, a garantia, apresenta um conteúdo multifacetado, existem várias
categorias de garantias, sendo que a mais comum, é a garantia geral, constituída pelo
património do devedor, sendo que no Código Civil, ao abrigo do artigo 601º podemos
afirmar que esta garantia comum ou geral se consubstancia na penhora de todos os
bens do devedor, isto é, todo o seu património é suscetível de penhora, e o seu
património é precisamente a garantia geral do cumprimento da obrigação, sendo que
todos os credores, em pé de igualdade, podem fazer pagar os seus créditos pelo
património do sujeito passivo, tendo sempre em atenção aqueles bens que não são
suscetíveis de penhora, ou que apenas são parcialmente penhoráveis. A garantia geral
do cumprimento da obrigação é todo o património do devedor, no entanto os credores
comuns, tem um igual direito sobre esse mesmo património, isto é, nenhum credor
prevalece sobre o outro, sendo que, em casos em que exista pluralidade de credores e
o património do devedor não seja suficiente para pagar a todos os sujeitos ativos,
aplica-se uma regra de proporção - o rateio, dividindo- se entre todos os credores, o
total da venda dos bens penhorados, para que se faça pagar, pelo menos uma parte
do que é devido a esses credores. No entanto, existem situações, em que o credor
pretende acautelar ainda mais o pagamento do seu crédito, assim como o
cumprimento da obrigação por parte do devedor, e neste sentido surgem as garantias
especiais, que se subdividem em garantias pessoais (como por exemplo, a fiança, em
que uma terceira pessoa assume a responsabilidade do cumprimento da obrigação, em
caso do devedor não assumir a prestação - a fiança está representada no artigo 627º do
Código Civil), no entanto a questão colocada leva-nos a dar um maior enfase às
Garantias Reais, dentro destas podemos englobar por exemplo a hipoteca, o penhor, e
os privilégios creditórios… Um portador de uma garantia real, significa, ter direito de
preferência sobre todos os outros credores, isto porque um direito real, é um direito
absoluto, e sobrepõem-se a um direito de crédito, podemos afirmar que é muito mais
favorável para um credor se comportar um direito real de garantia do que apenas ser
portador da garantia geral/comum. As garantias reais, vão recair diretamente sobre
determinados bens, coisas em específico, que o credor se pode fazer pagar em caso de
não cumprimento da prestação devida. A partir do momento em um credor dispõem
de um direito real de garantia, dispõe de maiores chances de fazer pagar o seu
crédito, isto porque, este direito de crédito especial, dá-lhe a oportunidade, para além
de ter prioridade em relação aos outros credores, confere ainda, (como referem
Heinrich Horster e Eva da Silva em “A parte geral do Código Civil Português”)

“O direito à satisfação dos seus créditos pelos rendimentos, ou pelo valor da coisa,
sendo que todos eles são acessórios à dívida, expirando pela extinção da obrigação a
que serviam de garantia”.

A posição do credor, num contrato em que o mesmo tem uma garantia com eficácia
real, consiste precisamente no direito que o mesmo tem de garantir que sobre essa
mesma coisa, para além do direito real de propriedade, (quando é transferida a coisa
ou a sua titularidade, de que dispõe o comprador) existe também do lado do credor,
uma garantia real, um direito de crédito especial, que se mantêm como uma segurança
até integral cumprimento da obrigação pela outra parte, mostrando-se assim como
uma condição suspensiva, na medida em que se o devedor não cumprir, esta condição
é ativada e o credor pode utilizar do seu direito de garantia real, não saindo
prejudicado em casos de incumprimento.

Podemos afirmar que o vínculo entre o credor e a coisa, é um vinculo de natureza


real, na medida em que é independente do vinculo obrigacional que existe entre o
credor e o devedor, isto porque, quando o credor dispõem de uma garantia com
eficácia real, tem o direito de perseguir a coisa, neste seguimento inserimos o direito
de sequela, pois o mesmo pode perseguir a coisa que foi estabelecida como garantia,
mesmo que essa coisa já se encontre em poder de outrem que não o devedor, pois,
essa coisa em especifico é determinante para a satisfação do seu crédito.

A sequela, ou direito de seguimento está relacionada ao direito real, que é um direito


absoluto, dando ao credor a possibilidade de seguir a coisa para onde quer que ela vá,
mesmo no caso de já se encontrar na esfera jurídica de outra pessoa. Conexo a isto,
existe também a inerência que segundo o mestre José de Oliveira Ascensão em “O
direito, Introdução e Teoria Geral”, explicita que “a coisa continua a ser objeto do
direito real, mesmo que passe por mil mãos”.

Isto leva-nos a compreender, que sobre um mesmo bem podem existir dois tipos de
direitos reais, um direito real de propriedade, de que é portador o comprador da
coisa, e um direito real de garantia, de que é portador o vendedor, ou seja, em
contratos em que é necessário a transmissão da propriedade da coisa, o vendedor pode
garantir que em caso de não ser satisfeito o seu crédito, irá ter preferência sobre os
outros credores, e não colocará em risco o seu património, na medida em que tem o
seu crédito garantido, sabendo que, o seu direito real de garantia é absoluto e oponível
erga omnes - oponível a todos, enquanto que, os restantes dos credores, apenas são
titulares de um direito relativo, o direito de crédito.

Por exemplo, na compra e venda de um imóvel, um apartamento, para o comprador


significa um direito real, uma coisa imóvel, mas para o vendedor que é portador de
uma garantia real, pode significar um objeto de hipoteca, que devidamente registado
e respeitando a forma prevista na lei, vai garantir ao credor o cumprimento da
obrigação por parte do devedor, sob pena de o mesmo ver o seu apartamento
hipotecado por ter realizado a prestação a que estava adstrito.

6. A combinação do art. 405º com o art.1305º, ambos do código civil, justificam em


grande medida que se “compreenda o direito da liberdade”. Comente essa
afirmação apontando os seus fundamentos
Estabelece o artigo 405º do Código Civil, sob a epígrafe “Liberdade contratual”, que
“1 - Dentro dos limites da lei, as partes têm a faculdade de fixar livremente o conteúdo
dos contratos, celebrar contratos diferentes dos previstos neste código ou incluir
nestes as cláusulas que lhes aprouver.
2. As partes podem ainda reunir no mesmo contrato regras de dois ou mais negócios,
total ou parcialmente regulados na lei.”.
Estatui, por sua vez, o artigo 1305º do Código Civil, sob a epígrafe
“Propriedade das coisas”, que “O proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos
direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem, dentro dos limites
da lei e com observância das restrições por ela impostas.”.
Da análise destas duas normas se extrai desde logo que, no âmbito do Direito Civil,
as partes, os sujeitos da relação jurídica, dispõem de amplos poderes de conformação do
conteúdo dos vínculos jurídicos contratuais que estabelecem entre si (direito das
obrigações), mas também gozam de amplos poderes de exercício do direito de propriedade
(e doutros direitos reais). Diz-se, a propósito, que o não uso da coisa pelo proprietário é
ainda um dos direitos que juridicamente lhe assiste. Como características fundamentais do
direito de propriedade, temos que: a) o proprietário tem poderes indeterminados, mas
plenos e exclusivos, pois as limitações hão-de resultar da lei; b) elasticidade – o
proprietário limitado recupera a plenitude do seu direito de propriedade sempre que se
extingue o direito real menor que limitava o seu direito; c) perpetuidade, pois que não se
extingue pelo não uso, se bem que a lei possa sancionar esse não uso. É excecional a
propriedade temporária (artigo 1307º, nº2), mas extingue-se pela aquisição por outrem
(usucapião); d) goza de defesa extrajudicial (ação direta – artigo 1314º do CC, legítima
defesa) e judicial, especificamente pela ação de reivindicação (artigo 1311º do CC). Nos
termos do disposto no artigo 1311º, nº1 do CC, o proprietário pode exigir judicialmente de
qualquer possuidor ou detentor da coisa o reconhecimento do seu direito de propriedade e a
consequente restituição do que lhe pertence. Por outro lado, havendo reconhecimento do
direito de propriedade (como sucede no caso em apreço), a restituição só pode ser recusada
nos casos previstos na lei – cfr. nº2 do preceito citado.
É sabido que incumbe ao direito civil disciplinar as relações jurídicas respeitantes
às pessoas, aos bens e às suas relações, sendo, por isso, neste ramo do Direito que as partes
encontram ampla margem para expandir a sua vontade (o princípio da liberdade contratual
como emanação do princípio autonomia da vontade das partes consagrado expressamente
no já citado artigo 405º do Código Civil) especialmente por ser um campo de hegemonia
das normas dispositivas (facultativas, não imperativas), em contraposição à imperatividade
característica do direito público.
E daí que se entenda que os sujeitos da relação jurídico-civil gozam de ampla
liberdade de conformação do conteúdo dessas relações jurídicas e de exercício dos
correspondentes direitos.
Efetivamente, a autonomia da vontade é uma ideia central e fundamental no Direito
Civil na medida em que é reconhecida como condição de realização da personalidade,
atuando como liberdade de exercer ou não faculdades e poder de conformar e compor
interesses próprios. De acordo com a definição de Mota Pinto, “é ela que corresponde à
ordenação espontânea (não autoritária) dos interesses das pessoas, consideradas como
iguais, na sua vida de convivência – ordenação auto-formulada que é a zona reservada do
direito privado”.
Sublinhe-se, no entanto, a fisionomia paritária da livre composição de interesses,
característica do Direito Civil: além da conotação atrelada ao exercício da liberdade,
presente na sua etimologia, a autonomia vincula-se, sob a ótica da lei, à noção de
igualdade. Esses valores estiveram no seio da emancipação do Estado Liberal, amplamente
preocupado em garantir o espaço privado como uma reserva de não intervenção, isto é, de
autorregulamentação do desenvolvimento da atividade económica por meio do
estabelecimento de regras cujo cumprimento seria juridicamente exigível.
Horster (“A parte geral do Código Civil Português, p. 58) define a autonomia
privada como o princípio da conformação autónoma das relações jurídicas por parte do
indivíduo segundo a sua vontade. Explicita o mesmo autor que a autonomia privada
decorre do princípio geral da autodeterminação do Homem, que, participando no tráfico
jurídico privado, fá-lo de acordo com a sua vontade, sendo, portanto, a autonomia privada
uma emanação do princípio da Liberdade. No entanto, a autonomia privada, para além de
conceder aos sujeitos a possibilidade de adquirir direitos e contrair obrigações como bem
entender, necessita de uma urdem jurídica, ou seja, é necessário que seja atribuído ao
indivíduo um conjunto de certos tipos de relações que o mesmo pode disponibilizar para
que possa fazer uso da sua autonomia privada e agir de acordo com a sua vontade, vendo a
sua liberdade limitada pelo leque de possíveis relações atribuídas pelo Direito (como
estipulado no nº1 do artigo 405º do Código Civil que desde logo ressalva “dentro dos
limites da lei”, bem como nos direitos reais, o princípio do “numerus clausus”
estabelecido no artigo 1306º do Código Civil, limitando os sujeitos ao catálogo de direitos
reais que a lei prevê).
Em conclusão, pode-se afirmar que no âmbito do direito contratual o preceito
basilar que continua a servir de introdução à teoria dos contratos é o da liberdade
contratual, o qual consiste na faculdade que as partes têm, dentro dos limites da lei, de
fixar livremente o conteúdo dos contratos, celebrar contratos diferentes dos prescritos no
Código ou incluir nestes as cláusulas que lhes aprouver. Como acima se viu, a liberdade
contratual é um corolário da autonomia privada, concebida como o poder que os
particulares têm de fixar, por si próprios, a disciplina juridicamente vinculativa dos seus
interesses. A autonomia privada, que não se confunde com o dogma da vontade, é mais
ampla do que a liberdade contratual, que se limita ao poder de autorregulamentação dos
interesses concretos e contrapostos das partes, mediante acordos vinculativos.
Já no campo dos direitos reais, o princípio de “liberdade” presente no Direito Civil
ganha a sua expressão paradigmática no âmbito da regulação do direito de propriedade,
cujo titular dispõe dos mais amplos poderes de exercício (sendo um deles o seu não uso),
impondo-se a todos os sujeitos passivos, como direito absoluto, um dever geral de
abstenção. Com efeito, o direito de propriedade é o direito real máximo, mediante o qual é
assegurado a certa pessoa, com exclusividade, a generalidade dos poderes de
aproveitamento global das utilidades de certa coisa. É, assim, o poder exclusivo, direto e
imediato sobre uma coisa. Este conceito resulta do disposto no artigo 1305º do Código
Civil que, atribuindo ao titular do direito de propriedade os mais amplos poderes de uso,
fruição e disposição, não deixa de lhe apontar as limitações e restrições impostas pela lei.

7.Quais são as duas dimensões do princípio da autonomia privada?

No conceito de autonomia privada depreende-se que é uma expressão do princípio da


liberdade, permitindo tudo o que não for imposto ou proibido.
A autonomia privada denota-se por via do exercício dos direitos subjetivos e da
possibilidade de celebração de negócios jurídicos, sejam contratos ou unilaterais.
A liberdade contratual, preceituado no artigo 405º do Código Civil, abrange a
possibilidade de celebrar ou não celebrar determinado contrato (liberdade de
celebração), a possibilidade de fixação do conteúdo do contrato (liberdade de
estipulação), assumem-se como duas das mais importantes expressões que normalmente
associamos à autonomia privada
Desta forma, o princípio da liberdade contratual está demarcado pelas limitações
estipuladas pela ordem jurídica, decursivo da aplicação de outros princípios como, por
exemplo, a boa-fé ou a ordem pública. Fundamentalmente, é possível reconhecer três
espécies de limitações: a imposição de contratar; a proibição de contratar e a
necessidade de obtenção de consentimento de terceiros.
O princípio da autonomia privada contorna todo o Direito Privado, irrefutavelmente
com uma especial incidência no Direito das Obrigações. A maioria das regras jurídicas
estabelecidas tende, assim, a assumir natureza supletiva, apenas aplicando-se quando
não forem afastadas pela vontade das partes.
Para além da liberdade de celebrar, existem ainda as liberdades de extinção, como por
exemplo a possibilidade de distrair ou revogar, sendo que o primeiro se traduz num
acordo mútuo entre as partes para extinguir o contrato, enquanto a revogação,
normalmente é uma das partes que através do direito que lhe é atribuído, pode revogar o
contrato.
Contudo no âmbito da autonomia privada, excetuando a dimensão da liberdade
contratual, é de fazer ainda relevo às obrigações que emergem da nossa liberdade
contratual. Isto porque a liberdade de celebrar contratos acarreta a constituição de
obrigações para os contraentes que ao abrigo da sua autonomia privada celebram
negociações. Como se sabe os contratos são uma das principais fontes das obrigações, e
estes são celebrados ao abrigo da autonomia privada do Homem, que, através das suas
declarações negociais, proposta e aceitação, celebram um contrato e vinculam-se a
cumpri-lo pontualmente (preceituado no artigo 406º do Código Civil, - Eficácia dos
contratos), (“Pacta Sunt Servanda”), resultando, portanto, obrigações para ambos os
sujeitos.

Em suma, por um lado, ao abrigo da autonomia privada, somos livres de contratar e


estipular os termos desse mesmo contrato, no entanto, o contrato realizado ao abrigo da
autonomia privada, gera obrigações, pela sua característica de ser uma das principais
fontes da constituição das mesmas.
8.O que se entende por responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva?
Por que a responsabilidade objetiva é excecional?

A responsabilidade subjetiva (também designada “delitual”, baseada na culpa do


agente causador de danos) e a responsabilidade objetiva (também designada “pelo
risco”, que não assenta numa ideia de culpa, mas de “risco”) inserem-se no âmbito da
responsabilidade civil, que constitui uma das fontes das obrigações, e fundam-se no
princípio da obrigação de ressarcimento dos danos.
Dentro da rubrica responsabilidade civil cabe tanto a responsabilidade proveniente
da falta de cumprimento das obrigações emergentes dos contratos, de negócios
unilaterais ou da lei (responsabilidade contratual – artigo 798 e seguintes do Código
Civil), como a resultante da violação de direitos absolutos ou da prática de atos que,
embora lícitos, causam prejuízo a outrem (responsabilidade extra-contratual, também
designada “aquiliana” – artigo 483º e seguintes do Código Civil).

O Código Civil reconheceu expressamente as duas formas de responsabilidade


extracontratual, dando foros de autonomia à responsabilidade pelo risco, que tratou em
subsecção própria, atendendo ao nexo especial de imputação em que ela assenta, não
deixando de assinalar, quanto a esta, o seu carácter excecional por não se basear no
pressuposto da culpa do agente, conforme se vê do preceituado no nº2 do artigo 483º do
Código Civil: “Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos
casos especificados na lei”.

Nos termos do disposto no citado artigo 483º, nº1 do CC, aquele que, com dolo ou mera
culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a
proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da
violação. Esta norma, que consagra um princípio fundamental em sede de responsabilidade
civil por factos ilícitos requer, para que exista a obrigação de indemnizar, a verificação de
vários pressupostos, enunciados sumariamente como a ocorrência de um facto voluntário, a
ilicitude, a culpa ou nexo de imputação do facto ao lesante; a verificação de um dano e o
nexo de causalidade entre o facto e o dano.
A obrigação de indemnizar imposta ao lesante assenta, assim, em geral, numa
responsabilidade baseada na culpa do agente gerador dos danos; sendo a responsabilidade
independente de culpa (objetiva) prevista na lei civil a título excecional. E, na verdade, a
tendência geral dos autores e das legislações é no sentido de filiarem a responsabilidade
civil (obrigação imposta a alguém de reparar os danos sofridos por terceiro) no pressuposto
da culpa do lesante – dos danos que cada um sofra na sua esfera jurídica só lhe será
possível ressarcir-se à custa de outrem quanto àqueles que, provindo de facto ilícito, sejam
imputados a conduta culposa de terceiro. Tal assenta na ideia geral de que não seria justa a
solução de obrigar as pessoas a responder perante outrem por atos de que não são culpadas.
No entanto, há muito que se reconheceu que, na prática, a teoria da culpa nem sempre
conduz aos melhores resultados. Há largos e importantes sectores da vida em que as
necessidades sociais de segurança se têm de sobrepor às considerações de justiça
alicerçadas sobre o plano das situações individuais. Torna-se necessário, quando assim
seja, temperar o pensamento clássico da culpa com certos ingredientes sociais de carácter
objetivo. Foi no domínio dos acidentes de trabalho que primeiro se chegou a tal conclusão,
passando-se depois para o capítulo dos acidentes de viação e para várias outras áreas onde
a realização de tarefas com recurso a máquinas envolvem riscos inevitáveis de acidentes.
Dessa forma, ao lado da doutrina clássica da culpa, nasceu o princípio da teoria do risco
baseada numa ideia de solidariedade social e de socialização do risco.
O nosso ordenamento jurídico-civil também acolheu esta ideia de socialização do risco,
prevendo diversas situações em que existe obrigação de indemnizar independentemente de
culpa: artigos 499º a 510º do Código Civil.
Como já assinalado, a obrigação de indemnização independentemente de culpa latu sensu é
excecional, como é o caso da responsabilidade civil pelo risco, no quadro da probabilidade
da existência de um dano, no âmbito dos acidentes causados com a condução de veículos
automóveis (artigos 483º, nº2 e 503º a 508º do Código Civil). Esta responsabilidade funda-
se na ocorrência de um facto ilícito não culposo ou, noutra perspetiva, na verificação de
um facto stricto sensu de que resultem danos ou prejuízos reparáveis. Enquanto na
responsabilidade delitual são imputados os danos propiciados pela adequação dos meios
utilizados pelo agente, em prol de um fim ilícito, pelo contrário, na responsabilidade
objetiva não existe qualquer fim ilícito, nem tão pouco meios, igualmente ilícitos, para o
prosseguir.
A criação de um risco juridicamente relevante de lesão de um bem jurídico traduz-se na
possibilidade objetiva – entendida numa dupla perspetiva de probabilidade e idoneidade
abstrata – de originar um processo causal danoso. A probabilidade objetiva do dano e a
idoneidade abstrata da fonte de risco para o produzir serão as duas grandes balizas que,
apreciadas em função de uma perceção situada na normalidade social, traduzirão o juízo
jurídico de adequação fundante da imputação objetiva. Como assim, na responsabilidade
fundada no risco, os pressupostos da obrigação de indemnizar consistirão apenas na
existência do risco criado, além do dano e da causalidade entre ambos.

9.O que se entende por boa fé subjetiva e em que medida se justifica falar de boa
fé objetiva?

Fala-se de boa fé em sentido subjetivo, quando a ignorância de um vício manchar


determinado facto jurídico na esfera jurídica alheia originando danos, sendo esse o
sentido de referência à posse de boa-fé plasmado no art.º 1260 do Código Civil.

É um conceito que tem em conta o íntimo do sujeito analisando se ele sabia naquele
caso específico de determinada irregularidade praticada. Caso haja ignorância quanto a
isso, então ele terá agido de boa-fé subjetiva e a lei protegê-lo-á com alguns efeitos
benéficos. Por outro lado, podemos também falar de boa-fé num sentido objetivo,
definindo-o primeiramente como uma regra de conduta. Esse é o sentido da referência à
boa-fé nos arts.º.227n.º1; º.239; º.334; º.437, n. º1; º.762, n. º2. Todos estes institutos
correspondem a concretizações dos deveres de atuar segundo a boa fé que, de acordo
com a teorização de Menezes Cordeiro, se podem classificar em deveres acessórios de
proteção, de informação e de lealdade. Em causa no vínculo obrigacional estão regras de
comportamento que proporcionarão a satisfação do direito de crédito mediante a
realização da prestação pelo devedor. Assim, existe um padrão de conduta imposta a
ambas as partes: devedor e credor que deverão agir entre si com civilidade e de boa fé.

Para concluir, a boa fé faz também gerar na esfera das partes certos deveres acessórios
e esses podem ser: deveres de lealdade, deveres de proteção e ainda deveres de
informação. Estes deveres acessórios decorrem diretamente da ordem jurídica e não de
um contrato, ou seja, significa que enquanto a obrigação é de origem contratual, os
deveres acessórios são legalmente devidos, como resposta ao princípio da boa fé. Esses
deveres acessórios visam assegurar a realização do dever de prestação principal, em
termos que permitam tutelar o interesse do credor, porém também evitar que a
realização da prestação possa provocar danos para as partes.
10. Qual é a garantia geral dos credores e de que maneira o regime de direitos reais
garantia introduzem-se nesse regime geral?
A garantia geral dos credores encontra-se num dos princípios do direito das obrigações,
princípios da responsabilidade patrimonial, que se baseia no direito do credor de executar
o património do devedor, para que em caso de incumprimento satisfazer a obrigação. O
regime geral é a da responsabilidade com a universalidade do património, prevista no
artigo 601º e seguintes do Código Civil, com algumas exceções de bens que não são
suscetíveis de penhora, previsto no artigo 736º Código Civil ao artigo 739º Código Civil e
em situações de separação de património. Compete também a mencionar o artigo 817º da
secção III do código civil, sobre a realização coativa da prestação na subsecção I sobre a
ação de cumprimento e execução “Não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, tem
o credor o direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o património
do devedor…”, este artigo trata do direito do credor em perseguir o cumprimento das
obrigações, judicialmente. Convém mencionar que o devedor não terá hipótese de
escolher, quais dos seus bens patrimoniais que poderão ser penhorados, segundo o
conceito romano, ob ligatio.

Agora no que se trata ao regime de direitos reais de garantia. O direito real é o direito que
liga o domínio e a titularidade de uma coisa pertencente a um individuo, permitindo-lhes
o uso, a alienação ou a destruição da coisa. As garantias reais são garantias que conferem
ao credor o direito de se fazer pagar, utilizando certos bens imóveis ou moveis do devedor,
com prioridade sobre outros credores. Então podemos perceber que os regimes de direitos
reais de garantia introduzem-se no regime geral, anteriormente mencionado, com a
diferença de que a garantia real, é a garantia sobre um determinado objeto do devedor e
que lhe dá preferência sobre os outros credores, ao passo que, o regime geral parte do
principio da universalidade do património para ver cumprida a obrigação do devedor,
que não o fez voluntariamente, e neste regime os credores encontram-se em pé de
igualdade, nenhum prevalece sobre o outro.

VII | P á g i n a
Bibliografia:

Noções Gerais de Direito, José Falcão;

Direito das Obrigações, Luís Manuel Teles de Menezes Leitão, 16ª edição;

A Parte Geral do Código Civil Português, Heinrich Ewald Horster- Eva Sónia
Moreira da Silva, 2ª edição;

Introdução ao Estudo do Direito, A. Santos Justo, 10ª edição;

Dicionário Jurídico, Ana Prata, Vol. I, 5ª edição.

Código Civil e diplomas complementares, 24º edição, Quid Juris;

O Direito – Introdução e Teoria Geral, José Ascensão, 13º edição, Almedina

VII | P á g i n a

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