A Responsabilidade Por Dívidas No Domínio Total
A Responsabilidade Por Dívidas No Domínio Total
A Responsabilidade Por Dívidas No Domínio Total
N.° 5
INSTITUTO DO CONHECIMENTO AB
m
ALMEDINA
ABREU
ADVOGADOS
INSTITUTO DO CONHECIMENTO AB PR ÉMIO IAB 2015
Colecgã o Estudos
Instituto do Conhecimento AB
N. Q 5
2016
ALMEDINA
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““
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INSTITUTO DO CONHECIMENTO AB PR ÉMIO IAB 2015
A responsabilidade por dívidas no domínio total
Nota Prévia
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TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
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A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
Abreviaturas
A Ano
AAFDL Associa çã o Acad é mica da Faculdade de Direito de Lisboa
Ac ./Acs. Acó rd ão/Acó rd ã os
AG Assembleia Geral
AktG Akticngcscllschaft Gesctz (lei alem ã sobre as Sociedades An ónimas
e em Comandita por Acções, de 6 de Setembro de 1965)
al ./als. al í nea /al í neas
/
anot. anots. anota çã o/anotações
art./arts. artigo/artigos
BFDUC Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
Cap. Capítulo
CC Código Civil
Cf. (cf.) Confira (confira)/Conferir (conferir)/Confrontar (confrontar)
CIRE Código da Insolvê ncia e da Recupera ção de Empresas
CIRC Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas
cit. citado (a)
CJ Colect â nea de Jurisprud ê ncia
CMVM Comissão de Mercado de Valores Mobiliá rios
Coord. Coordena çã o de
CPC Código de Processo Civil
CRCom Código do Registo Comercial
CRP Constituição da Rep ú blica Portuguesa
CSC Código das Sociedades Comerciais
CVM Código dos Valores Mobiliá rios
CT Código do Trabalho
DL Decreto-Lei
DSR Direito das Sociedades em Revista
ed . ediçã o(ões)
Ed . Editora
EPE Entidade (s) P ú blica(s) Empresarial (ais)
etc . et cetera
FBB Fundação Bissaya Barreto
FDUC Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
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TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
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A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
Introdução
1
Em princí pio, todas as normas a que nos referirmos sem menção do diploma respectivo
referem-se ao CSC ( DL n.- 262/86, de 2/12). Sempre que uma norma não pertencente ao CSC
seja citada sem referê ncia ao particular diploma a que respeita , resultará claro e manifesto
do texto, bem como da sua sequê ncia , qual o diploma legislativo em que a mesma se insere.
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A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
novas unidades empresariais com vista à sua fusão, tanto de ambas as unida-
des numa terceira e nova unidade, como por intermédio da icorpora ção da
adquirida na adquirente.4 Tal estratégia conduziu àquilo que é apelidado
doutrinalmente de “gigantismo empresarial ”5 e pode-se considerar como o
marco da alteração de paradigma económico-empresarial, que de “atom ís-
tico e concorrencial ”6, assente na empresa individual, se foi transformando
num fenómeno de concentração empresarial.
Este modelo econó mico de concentração na unidade 7 manter-se-ia como
dominante até meados do século XX, altura em que, acabada a 2- Guerra
Mundial, o impulso reconstrutor e a revolu çã o tecnológica abriram novas
perspectivas de negócios, tendo a economia entrado numa fase de forte cres-
cimento, que fez prosperar, expandir e aumentar de dimensão in ú meras uni-
dades empresariais. Em muitos casos, as empresas adquiriram dimensão e
expansão tal que a concentra ção na unidade (da qual a fusão societ á ria é o
maior expoente) deixou de responder satisfatoriamente à gest ão e organiza-
ção internas, bem como aos objectivos de diversifica çã o de actividades e de
internacionaliza ção que elas passaram a ter8, em grande parte impulsionadas
pela pujante sociedade de consumo e pela crescente globalização. Abriram -
-se, assim, as portas à expansão empresarial pela via externa9, nomeadamente,
através da mera colaboração empresarial (y.g., os agrupamentos complementa-
res de empresas, a “ joint venture”, as simples rela ções de participação entre
sociedades) e do controlo inter-empresarial, maxime o controlo inter-societário,
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o qual tem a sua manifestaçã o mais evidente nos grupos de sociedades, enquanto
modelo de concentração empresarial (societária) na pluralidade10.
Portanto, “a expansã o da sociedade anónima e a emergê ncia dos grupos de
sociedades são, a partir dos fins do século XIX, a expressão institucional das
novas tend ê ncias” 11, e, essencialmente após a d écada de 50 do século passado,
tais grupos passaram mesmo a desempenhar “o papel principal no quadro do
movimento geral da concentra çã o de empresas” 12 . Sobretudo porque, contra-
riamente à rigidez da fusão societ á ria , no grupo, as sociedades que o formam
mantê m a sua autonomia jurídica (manuten çã o das personalidades jur ídicas),
ao mesmo tempo que passam a ser submetidas a uma direcção económica uni-
tária 17,. Neste sentido, esta unidade económica acompanhada da manutençã o
da pluralidade jur ídica permitem uma maior coordena ção e flexibiliza ção
de actividades, de gestã o e de organiza ção das sociedades do grupo, já que a
produção se diversifica , passando a estar repartida por unidades societ á rias
distintas e geograficamente dispersas, o que favorece a descentraliza ção e,
consequentemente , passa a facilitar a gestã o empresarial e a implanta çã o do
grupo nos mercados estrangeiros através das empresas multinacionais e das
sociedades transnacionais14.
10
V.g., RAUL VENTURA , “Grupos...”, cit., p. 24. Pensamos que as diferen ças, n ã o apenas ter-
minol ógicas, entre empresa e sociedade e, consequentemente, entre grupos de empresas e
grupos de sociedades, são sintetizadas na perfei çã o por esta breve passagem da autoria de
MARIA DA GRAç A TRIGO, “ Grupos de Sociedades”, O Direito, Ano 123°, Tomo 1, 1991, p. 44,
pelo que, por isso, tomamos a liberdade de a citar: “Sendo a sociedade t ã o-só uma das técnicas
da organização da empresa , o fenó meno do agrupamento de empresas é bem mais amplo do que
o do agrupamento de sociedades. Mas sem dúvida que a té cnica mais adequada e utilizada para
a organizaçã o da empresa , especialmente da grande empresa , é a sociedade e em particular a
figura da sociedade anónima , pelo que efectivamente o estudo do agrupamento de sociedades
permite cobrir o estudo do agrupamento das unidades econó micas que são as empresas, ainda
que n ã o na totalidade ” (it á lico nosso).
11
Cf. F. CASSIANO DOS SANTOS, Estrutura Associativa e Participação Societária Capitalística ,
Coimbra Ed., 2006, p. 27.
12 CLAUDE CIIAMPAUD
apud ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 51.
13
Cf. idem , pp. 113 s.. A direcçã o econó mica unitá ria corresponde, no essencial , à presença
para o conjunto das sociedades agrupadas de uma pol ítica econ ó mico-empresarial geral e
comum ( corporate planning process ou Konzernpolitik ).
14
Cf. REN é RODI è RE , Droit Commercial - Grouppements Commerciaux , Dalloz, Paris, 1980,
p. 423 s..
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A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
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O nosso CSC cont é m um t ítulo dedicado à mat é ria dos grupos de sociedades
(Título VI - arts. 481.9 a 508.Q-F), sob a denominação de “Sociedades Coliga-
das”. O articulado deste t ítulo teve como principais fontes22 a lei das socie-
dades anónimas alemãs (§§ 15-22 e §§ 291-328 do “Aktiengesetz ” de 1965)
e a “Lei das Sociedades Anónimas” brasileira de 1976 (arts. 2439-247Q), bem
como alguns projectos legislativos que não chegaram a entrar em vigor: no
â mbito do direito comunit á rio, a “ Proposta de Regulamento de Estatutos de
uma Sociedade Anónima Europeia ” (versã o de 1975) e o “ Projecto de uma
9 - Directiva Comunitá ria sobre Coligações entre Empresas e os Grupos de
Sociedades” (versã o de 1984); e, no direito francês, a “ Proposition de Loi sur
les Groupes de Sociétés et la Protection des Actionnaires, du Personnel et des
Tiers” (versão de 1978), conhecida como “ Proposition Cousté ”.23/ 24
19
Diz-nos ENGR áCI A ANTUNES ( OS Grupos..., cit ., p. 168) que, entretanto, outros países optaram
pela regulação específica: p. ex., a Croácia , a Eslovénia, a R ú ssia e a Repú blica Checa . Contudo,
a maioria dos sistemas jur ídicos (v.g., o italiano, o austr íaco, o espanhol , o francês, o inglês e o
norte -americano) ainda trata o fen ó meno dos grupos societá rios de forma fragment á ria - v.
MARIA PALMA RAMALHO, cit., pp. 102-104, n . 171.
20
MARIA PALMA RAMALHO, cit., p. 100 s..
21
E a chamada perspectiva “ de baixo para cima ”. Desde meados dos anos 70, no entanto, uma
outra perspectiva passou a deter o enfoque, n ã o sobre a base, mas sobre a c ú pula grupai , ou
seja , sobre a sociedade- m ãe e os sujeitos que giram à sua volta , nomeadamente os seus sócios e
credores - é a chamada perspectiva de “cima para baixo”. V. ENGR áCIA ANTUNES, OS Poderes
nos Grupos de Sociedades ”, PDS , IDET, Almedina, 2008, pp. 155-159.
22 V
. o pt. 33. do Preâ mbulo do CSC .
23
Cf. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 272 s..
24
Para uma an á lise destes diplomas, v. RAUL VENTURA , “Grupos...”, cit.
460
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
Estas quatro rela ções vão ser divididas por dois capítulos diferentes, cons-
tando do Cap. II as três primeiras rela ções (também denominadas de sociedades
em relação de participação27) e do Cap. Ill apenas a ú ltima (“sociedades em relação de
grupo”), o que, por si, é demonstrativo da demarcação que o legislador quis fazer.
25
Vide ENGR á CIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 278, n . 578: “(...) “grupo de sociedades ”
(“ Konzern ”, “Gruppo di Societ à , “Groupe de Societés, “Corporate Group” ) tem constitu ído
o termo doutrinal gen é rico utilizado na literatura especializada , para designar, “ lato sensu ”,
o fenó meno geral da coliga ção e controlo entre sociedades (...) ”.
26
Ambas as sociedades integrantes da rela çã o (sujeito passivo e sujeito activo) terão de cum -
prir estes requisitos subjectivos do tipo e do estatuto pessoal . Caso contrá rio, ficam sujeitas,
n ão ao regime especial disposto nos arts. 481.® ss., mas ao regime societ á rio geral.
27
Em termos gerais, o regime das sociedades em rela çã o de participa ção implica a sujeição
a um conjunto de deveres e restrições, nomeadamente, deveres de comunica ção/informa ção
- cfr., v.g , arts. 484.®, 485.®/5, 486.®/3 - e proibiçã o de aquisiçã o de participações - cfr., v.g.,
arts. 485Q/ 2, 3, 487Q). Assim , p. ex., PAULO OLAVO CUNHA , Direito das Sociedades Comerciais,
Almedina, 2012, pp. 958-9.
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TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
28
PAULO OLAVO CUNHA , Direito das Sociedades..., cit., pp. 958 s..
29
Sã o elas: a detenção pela sociedade dominante de uma participação maiorit á ria no capital
da sociedade dependente (cf. al. a)) , a disposiçã o por parte da sociedade dominante de mais
de metade dos votos da sociedade dependente (cf. al . b)) , ou a possibilidade de a sociedade
dominante designar mais de metade dos membros do ó rgã o de administra ção ou do ó rgão
de fiscalização da sociedade dependente (cf al. cj).
30
PAULO LOPES MARCELO, A Blindagem da Empresa Plurissocietária , Almedina , 2002, p. 36.
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A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
Por ú ltimo, a relação de grupo foi, como se disse, consagrada num capítulo
autónomo do Título VI do nosso Código (Cap. Ill), o qual se decompôs em
três secções:
Secçã o I: grupos constitu ídos por dom í nio total (arts. 488.9 a 491.9);
Secçã o II: contrato de grupo parit á rio (art . 492.-);
Secçã o III: contrato de subordina çã o (arts. 493.- a 508 9).
O contrato de grupo paritário é uma manifesta ção, no nosso direito, dos gru-
pos de coordenação ou horizontais porque as sociedades que os integram
encontram-se colocadas num mesmo plano, n ã o havendo depend ê ncia ou
subordina ção entre elas, pese embora estarem todas submetidas a uma direc-
ção económica unit á ria . '1
Por sua vez, o domínio total (arts. 488.9, 489.9 e 491.Q) e o contrato de subordi-
nação* 2 (arts. 493.9 ss.) são duas previsões expressas no nosso CSC dos chama-
dos grupos de subordinação ou verticais (mais concretamente, o primeiro
tem sido considerado um grupo vertical de base n ã o contratual ou de facto -
.
tendo em conta o critério do facto constitutivo, i e., a detenção de 100% do capital
social '' -, enquanto o segundo é um grupo vertical de base contratual ) em que
existe uma direcção económica unitária entre todas as sociedades que integram
a rela ção de grupo à qual se junta uma situa çã o de dependência ou subordina-
ção hierárquica de uma ou vá rias sociedades-filhas a uma sociedade-m ãe, que,
para alé m de estar no topo da hierarquia, é quem determina aquela direcção
comum (sobretudo através da possibilidade de emissã o de instruções vincu-
lantes, mesmo desvantajosas - cf. art. 503.9).34
31
Veja-se a noção legislativa determinada pelo n .Q 1 do art. 492.9 para “contrato de grupo
parit á rio”: “ duas ou mais sociedades que não sejam dependentes nem entre si nem de outras
sociedades podem constituir um grupo de sociedades, mediante contrato pelo qual aceitem
submeter-se a uma direcção unitária e comum" (it á lico nosso).
32
Cf. a noção apresentada pelo art . 493.Q para o contrato de subordina ção: “ uma sociedade
pode, por contrato, subordinar a gest ão da sua pró pria actividade à direcçã o de uma outra
sociedade , quer seja sua dominante, quer n ã o” (cf. n .e 1).
33
Mas já n ã o se atendermos ao crité rio da regula çã o jur ídica , pois, segundo este, o dom í nio
total não ser á um grupo de facto, antes um grupo de direito: v. n . 35.
34
Cf. ANA PERESTRELO DE OLIVEIRA , C ódigo das Sociedades Comerciais Anotado, Coord.
MENEZES CORDEIRO, 2009, p. 1125, anot . 10.
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TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
35
Segundo o critério da expressa regulação jurídica , tem -se feito a distin ção entre grupos de di -
reito e grupos de facto - cfr., v.£., A. PERESTRELO OLIVEIRA, CSC Anotado, cit., p. 1125, anot. 9.
Nos grupos de direito a direcçã o econ ómica unit á ria resulta de um instrumento expres-
samente previsto na lei (o també m chamado “ modelo contratual ” de regula ção dos grupos
societ á rios, que tem origem germ â nica - para uma sinopse dos grupos societ á rios alem ães, v.
HANS- GEORG KOPPENSTEINER , OS Grupos no Direito Societá rio Alem ã o”, Miscelâ neasIDET,
N 9 4, Almedina, 2006), como acontece, ali ás, com o nosso regime das sociedades coligadas
que prevê, para que duas ou mais sociedades possam constituir um grupo em sentido estrito,
a possibilidade de escolha de um dos três instrumentos que referimos: o contrato de grupo
parit á rio, o contrato de subordina çã o ou o dom í nio total. Com efeito, segundo PEDRO PAIS
VASCONCELOS, “Constitui çã o de Grupo por Dom í nio Total Superveniente - o Tempo e o
Modo”, pp. 35-49, DSR , A 4, vol. 8, Almedina , 2012, p. 36, “ nenhumgrupo prescinde també m ,
pelo menos na sua constituição e extin çã o, da autonomia privada” (it á lico nosso), ou seja , da
possibilidade de se escolher o instrumento legal de constituiçã o do grupo. Resulta mani -
festo que a autonomia da vontade est á presente aquando da celebra çã o entre sociedades de
um contrato de subordinação ou de um contrato de grupo parit á rio, pois ao celebrarem um
destes contratos, as sociedades envolvidas sabem e aceitam que est ã o a constituir um grupo
por contrato de subordinação ou um grupo parit á rio. No entanto, nos grupos por dom í nio
total a autonomia da vontade nem sempre é absoluta , podendo existir situações de sujeição.
E o que sucede, p. ex., no dom í nio total inicial, em que a vontade de constituição da sociedade
originariamente dominada recai, obviamente, exclusivamente sobre a sociedade dominante.
J á no dom í nio total superveniente, se a detenção de 100% do capital advier de um processo
de negocia ção da participaçã o totalit á ria entre a futura sociedade dominada (rectius, os seus
sócios) e a futura dominante, pode-se dizer que a autonomia privada (a vontade) na consti-
tuiçã o do grupo est á dos dois lados; mas nem sempre nesta modalidade de grupo a autonomia
crivada é bilateral , podendo, v.g , surgir situações em que a vontade dos sócios da sociedade
n ão totalmcntc] dominada se sujeita à vontade da sociedade dominante (cf. art. 490.9/3) ou
vice-versa (cf. art. 4909/5).
A primeira modalidade de grupos (grupos de direito) contrapõem -se os grupos de facto,
nos quais aquela direcçã o unit á ria n ã o resulta de um instrumento tipificado na lei mas antes
da mera constata çã o fá ctica de que ela existe, n ã o relevando, por isso, a sua origem (esta
situa çã o tem sido doutrinalmente identificada com o “ modelo orgâ nico”, do qual o Projecto
da 9 - Dircctiva Comunit á ria é apontado como o exemplo paradigmá tico).
As nossas rela ções de simples dom í nio (art. 486.9) podem traduzir-se em grupos de fac-
to qualificado, quando uma sociedade , para alé m de exercer influ ê ncia dominante sobre
outra (s), opere uma verdadeira instrumentalizaçã o sobre ela (s) - p. ex., através de instru ções
vinculantes ilicitamente emanadas, transferê ncias de activos inter-societ á rias que originam
confus ã o de patrim ónios sociais, etc. pelo que a direcção unitária , ainda que il ícita, acaba
por existir facticamente e ser de semelhante intensidade (qualifica çã o) à que ocorre nos
grupos de direito (sobretudo, verticais). No entanto, para estas situa ções, diferentemente
do que sucede nos nossos grupos de direito verticais, n ã o est á expressamente prevista a
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A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
aplicação do regime previsto nos arts. 501 "- 504.9, aplicando-se o regime societ á rio geral.
Por isso - i.e.y por n ã o estar criado um regime legal de tutela (y.g., para os credores da socie-
dade dominada) nas situa ções em que existe um dom í nio (simples) nos termos da lei (art.
486.Q), mas materialmente o que se verifica é antes um grupo de facto qualificado -, a dou -
trina tem avan çado com solu ções excepcionalmente tuteladoras dos interesses dos credores
da sociedade dominada: a aplicação analógica do art . 501.9 (y.g., J. CALVãO DA SILVA , Banca ,
Bolsa e Seguros, t . I , Almedina , 2012, p. 88); a aplicaçã o desta norma por maioria de raz ã o
(v. O. VOGLER GUIN é, “A Responsabiliza çã o Solidá ria nas Rela ções de Dom í nio Qualificado”,
ROA , A 66, 1, 2006, pp. 295-325); a desconsideraçã o da personalidade colectiva do ente dominado
(y.g., DIOGO PEREI RA DUARTE , Aspectos do Levantamento da Personalidade Colectiva nas Sociedades
em Relação de Domínio, Almedina, 2007, pp. 345 ss.); o levantamento desta personalidade com
recurso à figura geral do abuso de direito (v. A. MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade
da sociedade com dom í nio total (501-/1, do CSC) e o seu â mbito”, RDS , A III , Vol . I , 2011,
pp. 112-114); e a responsabilidade da sociedade dominante enquanto administradora de facto
(v. J. M. COUTINHO DE ABREU, “ Responsabilidade Civil nas Sociedades em Relaçã o de Do-
m í nio ”, Scientia luridica - t . LXI, nQ 329, 2012, pp. 239-241). Independentemente de qual o
“ melhor ” crité rio a aplicar, uma coisa parece certa: a necessidade concreta de protecçã o dos
credores sociais da sociedade dominada ter á de ser sempre casuisticamente avaliada , e só em
situa ções limite se justificará .
36
ENGR á CIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 278, n. 578.
37
Cf., v.g., MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade da sociedade..., cit., p. 101, e ANA PE-
RESTRELO OLIVEIRA , Grupos de Sociedades e Deveres de Lealdade - Por um Critério Unit ário de
Solução do liConjlito do Grupo’', Almedina , 2012, p. 35. De acordo com as palavras de PEDRO PAIS
VASCONCELOS, Contratos Atípicos, Almedina, 2009, o contrato de subordinação é “ um contrato
que est á tipificado na lei embora n ã o exista tipificado na vida ”. Ora, se atendermos que foi a í
que o legislador desenvolveu o regime dos nossos grupos em sentido estrito - basta cf. que o
regime estende-se desde o art . 493.9 ao art . 508.9, englobando 16 das 21 normas dedicadas às
“sociedades em relaçã o de grupo”, sendo que os arts. 501.9-504.9 ainda se aplicam , por remissão
do art . 491.9, ao dominio total - não deixa, no m ínimo, de ser estranho.
38
Referem isto, p. ex., ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit, p. 278, e MARIA PALMA RAMA-
LHO, cit., p. 134.
465
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
gravosas reservadas para o dom í nio total (em especial, as responsabilidades pre-
vistas no art. 501 ® e 502.® exvi do art. 491 °) tê m claramente propiciado a “ fuga”
para o simples dom í nio39, situações que são assim reveladoras da desadequa ção
do nosso regime dos grupos de sociedades, o qual carecerá de uma reforma40.
39
De acordo com o “ Relató rio Anual [da CMVM] sobre o Governo das Sociedades Cotadas
em Portugal (2012)” p. 18, grá fico 2 (2), (dispon ível para consulta no seguinte link: http://
_ _ __ _ _
// w ww.cgov.pt / images/stories/ ficheiros/ relatrio anual sobre o governo das socieda-
_ _ _ _
des cotadas pt cmvm 2012.pdf ), a m édia do capital do accionista dominante - sendo que
50% das empresas cotadas tinham accionista dominante - situava-se nos 66,4%, i e., dentro.
dos valores que conferem uma [simples] rela çã o de dom í nio. Ainda que o Relatório analise
somente dados relativos às sociedades an ónimas cotadas em Bolsa , tal n ão deixa de ser um
indicador de que as rela ções de simples dom í nio são mais expressivas do que as de dom í nio
total. De facto, como refere MARIA PALMA RAMALHO, cit., p. 96, “as outras situações de do-
m í nio societá rio de facto que n ã o o dom í nio total ” sã o as “situações que correspondem, na
prá tica , à grande maioria das empresas plurissociet á rias”.
40
.
V g , MENEZES CORDEIRO, Direito Europeu das Sociedades, Almedina, 2005, pp. 784 s., segundo
o qual se podem encontrar 3 dados que revelam a desadequa çã o do nosso regime dos grupos
de sociedades: (1) o facto de a regulamenta ção jurídica sobre os grupos ser, essencialmente, de
importaçã o alemã , sem que a realidade social e econó mica portuguesa seja paralela à alem ã ao
ponto de estar provado que se justifique tal regula ção no nosso pa ís; (2) depois, o facto do nosso
regime dos grupos apenas se aplicar a sociedades com sede em Portugal , o que faz com que as
sociedades estrangeiras tenham um regime mais favorável ; (3) por ú ltimo, o facto de o grosso
da relação assentar no contrato de subordina çã o, instrumento sem tradições em Portugal .
466
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
das suas participações sociais (acções ou quotas), o que representa uma inte-
gração económico-empresarial mais intensa do que a do contrato de subor-
dinação ( porquanto, como melhor veremos infra, alia à direcção económica
unit á ria a situa çã o de unipessoalidade, i.e., a existê ncia de apenas um sócio),
mas n ão t ão intensa assim como a existente na opera ção de fusão-absorção
(cf. al. a) do n .9 4 do art . 97.Q), pois contrariamente ao que sucede com a socie-
dade incorporada , que juridicamente se extingue com a transferê ncia global
do seu património para a sociedade incorporante, no dom í nio total a socie-
dade-filha dominada mantém a sua personalidade jur ídica e continua patri-
monial e organizativamente separada (pelo menos, em termos jur ídicos) da
sociedade-m ã e dominante.41
O CSC previu duas modalidades distintas de dom í nio total atendendo ao
momento da deten çã o da participação totalit á ria. Se essa deten çã o for origi-
nária estaremos perante uma situa ção de dom í nio total inicial (art. 488.9),
em que uma sociedade decide constituir ab initio uma sociedade unipessoal,
subscrevendo nessa constituição a integralidade das acções 42 (ou quotas, por
interpreta ção extensiva) 43 desta ú ltima - unipessoalidade originária. A unipes-
soalidade pode também ser derivada, ou seja, nos termos do art. 489.9, trata-se
de um domí nio total superveniente, que se traduz , basicamente, no grupo
que se forma depois de uma sociedade adquirir directa ou indirectamente a
titularidade de 100% do capital social de outra sociedade que já existia , i.e.,
tinha outro(s) sócio (s) anteriormente à forma ção do grupo - unipessoalidade
superveniente duradoura*4 ou mantida45,.
41
Neste sentido, v.g., J . ENGR áCIA ANTUNES, A Aquisição Tendente ao Domínio Total - Da sua
Constitucionalidade, Coimbra Editora , 2001, p. 15 s..
42
Para RICARDO COSTA , “ Unipessoalidade Societ á ria ”, Miscelâ neasIDET, NQ 1, Almedina ,
2003, pp. 80-83, o dom í nio total inicial é uma “ unipessoalidade origin á ria condicionada
no tipo an ó nimo”, ou seja , apenas a constituição de uma SAU (n ão uma SQU), por parte de
uma das sociedades referidas no art . 481 °, implica a forma çã o de uma rela çã o de grupo por
dom í nio total inicial e a aplica ção dos inerentes efeitos jur ídicos.
43
Embora o texto da lei (art . 488.-) n ã o o preveja expressamente, n ão deixa de se discutir se
à constituiçã o de uma SQU, por qualquer um dos sujeitos previstos no art . 4819, se aplicam
-
as normas do grupo por dom í nio total (arts. 488.9, 491.®, 501.9 504.y) ou o regime dos arts
270.Q-A-270.Q-G - cf. infra , Cap. IV, A., 1.1.1.
44
Assim , PEDRO MAIA/A. PINTO MONTEIRO, “Sociedades anó nimas unipessoais e a Reforma
de 2006”, RLJ , A 139, 2010, p. 144 s..
45
Deste modo, RICARDO COSTA , “ Unipessoalidade...”, cit ., pp. 96-101.
467
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
Acabá mos de ver que um dos elementos-chave do dom í nio total é a existê n-
cia de apenas um sócio, pelo que, por causa dessa unipessoalidade46, poder á a
sociedade totalmente dominante exercer uma “ influência dominante” inilidível47
sobre a sua totalmente dominada, i.e., controla totalmente a assembleia geral da
sociedade dependente, e, por esta via , pode também alcançar o controlo da gerên-
cia ou da administração desta, uma vez que sendo sua sócia ú nica poder á des-
tituir os seus gerentes ou administradores sem quaisquer condicionamentos (cf. arts.
257.s/ l, 403.-/1, 430.Q/1 - tb. exvi 478.Q (470.Q/1, 2 - parte)), para além de tam-
bé m poder designar aqueles que bem entender.48 Temos ent ão esta caracte-
r ística da unipessoalidade como conferidora de amplos poderes de controlo
à sociedade dominante que é espec ífica do dom í nio total quando comparado
com as outras rela ções de grupo.
Ent ão e o controlo da sociedade dominante sobre a sua dominada resumir-
-se-á àquele que deriva directamente da unipessoalidade societá ria? Como
vimos, a possibilidade de destituiçã o sem limites pairaria sempre sobre as
cabeças dos gerentes ou dos administradores da sociedade dominada, os quais,
46
Mas veremos infra (n . 134) que a unipessoalidade pode, cm rigor, nem sempre existir.
47
Cf. art. 486.-, aplicável, juntamente com o art . 4879, à s situações de dom í nio simples e, por
maioria de raz ã o, ao dom í nio total (salvo no que toca à s presun ções ilid í veis).
48
Em virtude da existê ncia desta situaçã o de unipessoalidade , quando em causa estiverem
assuntos da competê ncia da AG da sociedade totalmente dominada , as regras gerais sobre
convoca çã o, reuni ã o e funcionamento dessa AG (fundamentadas pela exist ê ncia de uma
pluralidade de sócios) obviamente que n ã o se aplicarã o - p. ex., n ã o existirão os condiciona -
mentos de qu ó rum deliberativo à livre destituição e designação de gerentes e administradores pela
AG das sociedades por quotas ou an ónimas pluripessoais (cf. os arts. 257.9/ 2, 252.9/ 2, 392.9 e
391.-/ 2). Isto torna o procedimento de realiza çã o da AG da sociedade totalmcntc dominada
mais célere , passando as suas competê ncias próprias a ser exercidas pelo ó rgão executivo da
sociedade totalmente dominante, o que faz com que os gerentes ou administradores titulares
desse órgã o deliberem sobre os assuntos da compet ê ncia da AG da totalmente dominada de
uma maneira que se aproximará das assembleias universais ou totalit á rias (art. 543) - neste
sentido, v. ENGRáCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 890 s..
468
A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
por isso, tenderiam a respeitar as ‘ orientações” da sua sócia ú nica, mas, assim
sendo, eles ficariam numa posiçã o delicada, pois, por um lado, continuariam
a ter de observar, no interesse da sociedade que gerem ou administram, uma
conduta pautada pelo respeito dos deveres de lealdade para com esta socie-
dade (cf. art . 64.9/ l , al. bj)49 , mas, por outro lado, se n ão administrassem a
sociedade dominada no interesse da sociedade-m ãe ou do grupo como um
todo, arriscar-se-iam a ser destitu ídos. Assim , o órgã o de administra çã o do
sujeito passivo da rela çã o de dom í nio total ver-se-ia colocado perante uma
encruzilhada . Contudo, o legislador acabou por lhe facilitar a tarefa de esco-
lha do caminho a seguir, uma vez que permitiu à sociedade dominante o
exercício de um poder de direcção unitária ou comum sobre a sua dominada, como,
ali ás, também o possibilitou às sociedades-mães nas outras relações de grupo
(cf. arts. 492.-/1 e 493.-/1). Ora , é precisamente no â mbito duma destas rela-
ções (o contrato de subordina çã o), que o legislador previu a mais importante
das manifestações jur ídicas do poder de direcção unit á ria do grupo. Falamos
da faculdade, prevista no art. 503.Q, de emissão de instruções vinculantes, mesmo
com teor desvantajoso (n.9 2), da sociedade directora à administra çã o da socie-
dade subordinada.
Chegados a este ponto, cabe-nos referir a norma remissiva do art. 491 ®, em
que o legislador decidiu aplicar ao dom ínio total alguns dos mesmos efeitos
jur ídicos que foram expressamente previstos na Secçã o dedicada ao contrato
de subordinação, nomeadamente, os artigos 501.9 a 504950. Deste modo, sendo
o artigo 503Q relativo à manifesta çã o do poder de direcçã o unit á ria através do
direito de dar instruções, constatamos que a possibilidade da administra ção
da sociedade dominante emitir instruções vinculantes (inclusivamente preju-
diciais) à administração da sua dominada 51 é possibilitada por aquela remissão
4V
V. RICARDO COSTA , « Deveres gerais dos administradores e “gestor criterioso e ordenado ”»,
I Congresso DSR , Almcdina, 2011, pp. 178-185.
50
Tendo em conta o art. 491.s a contrario, são inaplicáveis ao dom í nio total os arts. 493.Q a 500.Q
e 505.- a 508.°, ou seja , todas as regras do contrato de subordinação que dependam da existência
de uma pluralidade de sócios ( yg., as que pretendem proteger a posiçã o dos sócios minorit á-
rios) ou que se prendam com a prepara ção, celebração, modifica çã o e termo desse contrato.
51
De facto, a tarefa de emissão de instru ções vinculantes à administra çã o da sociedade-filha
-
(cf. art. 503.-/1) cabe à sua sociedade mãe, em princ í pio, pela via do órgão de administração da
sociedade totalmente dominante, e n ã o pela via da assembleia geral da sociedade total mente
dominada (mesmo quando o sócio possa intervir nalgumas maté rias de gest ã o, situa çã o mais
469
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
legal para este artigo.52 Assim , com esta remissã o, temos um acréscimo na
legitimação jur ídica do controlo inter-societ á rio levado a cabo pela sociedade-
-mãe da relação de grupo por dom í nio total: ao controlo que, como vimos
supra, deriva da unipessoalidade societ á ria, teremos agora de somar o que
provém (em exclusivo nas relações de grupo, portanto, também no dom í nio
total) do poder de direcção unit á ria manifestado nas instruções vinculantes
permitidas pelo art. 503.9, sendo que, com elas, aparecer á igualmente legiti-
mado o dever da administraçã o da sociedade dominada seguir com prima-
zia o interesse da sociedade dominante ou do grupo visto como um todo55
(art. 503.Q/2, l3 parte), o que representa um desvio ao interesse societ á rio indi-
vidual que, doutro modo, administradores ou gerentes de entes societá rios
com autonomia jur ídica teriam de seguir. Por isso, com ENGR áCIA ANTUNES,
diremos que, assim, se procedeu ao “ reconhecimento jurídico da constituição
e organiza çã o do grupo”54, no caso, por dom í nio total.
A este reconhecimento jur ídico extremamente favorável aos interesses da
sociedade-m ãe ( maxime, por causa dele) contrapõem-se, de outra banda , meca-
nismos especiais deprotecção dassociedades-filhas e dos seus credores sociais. Refer imo-
-nos à responsabilização da sociedade dominante, por um lado, pelas perdas
sociais da sociedade dominada 55 (art. 502.956: mecanismo de protecçã o directa
-
plausível quando a sociedade filha for uma sociedade por quotas, atento ao confronto dos
-
arts. 246.9 e 259.9 com os arts. 373.9/3, 405.9 e 406.9 estes três ú ltimos tb. aplicá veis exvi art.
4789), uma vez que é aquele ó rgã o de administra çã o quem acaba por dirigir unitariamente
todas as sociedades do grupo, sendo que aquelas instru ções são uma manifesta çã o do poder
de direcção unit á ria e este é exclusivo dos grupos de sociedades, n ã o da unipessoalidade.
52
V. ENGR áCIA ANTUNES, O Grupos..., cit., p. 890 s..
53
Por isso, os administradores da sociedade dominada serã o irresponsáveis relativamente
aos actos ou omissões que praticam na sequê ncia de instru ções l ícitas recebidas (art. 504.9/3),
sendo esta responsabilidade transferida para a administra çã o da sociedade dominante (art.
504.9/ l/ 2), que é quem conduz a administração da sociedade dominada e do próprio grupo. V.,
desenvolvidamente, A. PERESTRELO DE OLIVEIRA , A Responsabilidade Civil dos Administradores
nas Sociedades em Relação de Grupo, Aimedina, 2007.
54
ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 288.
55 V., desenvolvidamente , esta
responsabilidade em ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit.,
pp. 820-842 e 897, n. 1772.
56
Nos termos desta norma , as perdas sociais da sociedade-filha apuram -se em termos de
contabiliza ção ( balan ço) anual , sendo que a sua compensaçã o só se torna exig í vel, por um
lado, se n ã o tiverem j á sido compensadas por reservas anuais e, por outro, somente após
o termo da rela çã o de grupo - a n ã o ser que haja insolvê ncia da sociedade-filha duran -
470
A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
No â mbito dos diplomas que, como vimos, serviram de fonte ao nosso regime
das Sociedades Coligadas, as fontes inspiradoras da responsabilidade pre-
vista no nosso art. 501.2 são o art. 29.9 do Projecto da 9- Directiva Comuni-
t á ria 55 - que constitui, essencialmente, a sua base -, bem como o § 322 do
AktG59 - que, por sua vez , já tinha sido o grande inspirador do próprio artigo
te a vigê ncia do grupo, situa ção que pode tornar exig ível a responsabilidade prevista no
art . 502 y ainda durante esta rela ção.
57
Pois, uma vez compensadas as perdas sociais, é o pró prio patrim ó nio social , enquanto
garantia geral dos credores, que se vê reforçado.
58
Esta norma projectava aplicar-se no caso de celebra çã o de um “contrato de subordinaçã o
para a constituição de um grupo ” (muito semelhante ao nosso contrato de subordina çã o) e
també m , por força do art. 35.- do Projecto, à “ declaraçã o unilateral para a constituiçã o de
um grupo subordinado” - cf. A . PERESTRELO OLIVEIRA , CSC Anotado, cit., p. 1204, anot . 3. A
“ declaração unilateral para a constituição de um grupo subordinado” (arts. 33.y ss. do Projecto)
é, em comparação com o nosso direito, um instrumento h í brido: um “ misto” de aquisição ten -
dente ao dom í nio total e de dom í nio total superveniente. Em termos do conte ú do do próprio
instrumento em si, a “ declara çã o unilateral para a constituição de um grupo subordinado”
é um instrumento an á logo à “aquisição tendente ao dom ínio total ” (art . 490.°, sobretudo no
que respeita ao seu n .y 3), estabelecendo, igualmente , um regime de aquisição potestativa
de acções e de protecção dos sócios minorit á rios. Mas, com a detenção de 90%, ou mais, do
capital de outra sociedade, a sociedade controladora acabaria , naturalmente, por exercer
uma interferê ncia quase total junto da sociedade controlada , da í que n ão seja de estranhar
que o Projecto da 9- Directiva - que, ademais, se baseia num modelo orgâ nico dos grupos -
pretendesse aplicar à “ declaraçã o unilateral para a constituição de um grupo subordinado ”
efeitos jur ídicos bastante semelhantes aos que o nosso direito positivo veio a prever para os
grupos por dom í nio total (cf. os arts. 24.y a 30 y, ex vi do art. 35.y, todos do Projecto, os quais
estã o próximos dos nossos arts. 501.9 a 504.9, ex vi do art . 491.y).
59
Na lei alemã , diferentemente do que sucede na lei portuguesa para o dom í nio total, a deten-
çã o de uma participação totalitá ria não constitui um grupo de direito, antes um instrumento
de dom í nio que se traduz num grupo de facto. Só quando existir “ integra çã o ” (Eingliederung)
471
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
do Projecto. Estas duas normas podem ser importantes para nos auxiliarem
na interpreta çã o do art. 501 ®, podendo ser convocadas a t ítulo de elemento
histórico. Vejamos, por isso, o seu conte ú do:
de uma sociedade noutra, nos termos do § 319, é que serã o aplicáveis as regras dos §§ 319 a 327,
no â mbito das quais se encontra previsto, no § 322, a responsabiliza ção da socicdadc-m ãc pelas
d ívidas da sua filha a partir da “ integração ”. Algumas incid ê ncias do regime da Eingliederung
aproximam- na da nossa “aquisiçã o tendente ao dom í nio total ”, pois, p. ex., a “ incorpora çã o”
c feita quando a sociedade integrante detém 95% das aeções da sociedade integrada , havendo,
por um lado, o direito de a sociedade dominante adquirir potestivamente as restantes ae ções
(5%) que perfa çam a totalidade do capital social e, concomitantemente, por outro lado, sendo
previstas disposições protectoras (compensat ó rias) dos [5% de] accionistas minoritá rios.
Cf. A . PERESTRELO OLIVEIRA , CSC Anotado, cit., pp. 1205 (anot. 6), 1163 (anot. 5) e 1156, n . 4.
60
Tradu çã o a partir de MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade..., cit., p. 95.
472
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
Quando aplicado, exvi legis art. 491Q, aos grupos constitu ídos por dom í nio
total , o art. 501Q deverá ler-se, mutatis mutandis, nos seguintes termos:
473
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
2. A ratio legis
O motivo-fim que esteve na origem da cria çã o desta norma foi a protecção dos
credores da sociedade dominada, sendo esta a sua ratio legis. É ent ã o esta teleolo-
gia que fundamenta a previsão da responsabilidade. Mas se ficá ssemos por
aqui pouco esclarecidos ficar íamos, dado que esse facto induz-se da epígrafe
do próprio artigo 5019. Aprofundemos, ent ão, a ratio legis.
O art. 501 °, ao estabelecer que a sociedade dominante responde pelas obri-
gações da sua dominada , não pretendeu operar uma substituição do sujeito
respons á vel , mas antes reforçar o cumprimento dessas obrigações, uma vez que,
nã o obstante este cumprimento continuar a recair sobre esta ú ltima socie-
dade (de facto, as obrigações continuam a ser “ da ” sociedade dominada), o
que acontece é que, por efeito desta norma, ambas as sociedades passam a
responder por aquelas obrigações.
Ora, se o legislador pretendeu um reforço do cumprimento das obriga-
ções, é porque previu que a devedora inicial (sociedade dominada), sozinha ,
nã o conseguiria satisfazer os interesses dos credores61. Quais ser ã o estes inte-
resses? Podemos afirmar que eles se prender ão, em ú ltima inst â ncia , com a
própria satisfa ção dos seus créditos, sendo que a garantia geral para essa satis-
fa ção será o patrimó nio do devedor (art. 601 ° CC).62 Neste sentido, o legis-
lador pensou que esse património, por alguma razão, poderia sair afectado,
sendo que, tratando-se de uma responsabilidade para tentar reforçar o cum -
primento de obriga ções, decerto que não seria uma afecta çã o favorável , ou
474
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
63
Tb. assim: ANA RITA ANDRADE , A Responsabilidade da Sociedade Totalmente Dominante,
Almedina , 2009, pp. 64-66.
64
A esse propósito, v. PEDRO DE ALBUQUERQUE , “ Da Prestação de Garantias por Sociedades
a D ívidas de Outras Entidades”, ROA, A 57, 1, 1997, pp. 136-143.
65
Cf. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit ., pp. 140-142.
66
Ibidem.
67
Vide F. CASSIANO DOS SANTOS, Direito Comercial Português, Vol. I , Coimbra Ed ., 2007,
p. 45 s..
475
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
68
Englobam -se no conceito de instruções vinculantes todos os actos da sociedade domi-
nante (independentemente da sua forma) que tenham como objectivo influenciar a gest ã o
da sociedade dominada , impondo a esta ú ltima a adopçã o de um comportamento activo
ou passivo (y.g., ordens directas, directrizes gen é ricas), desde que esses actos transportem
(expressa ou tacitamente) uma pretensã o de vinculatividade do órgã o de administra ção da
primeira sociedade (dominante), e cuja interpreta çã o por parte do ó rgã o de administração da
sociedade dependente seja neste sentido [de vinculatividade]. Cf. A. PERESTRELO OLIVEIRA,
CSC Anotado, cit., p. 1214, anot . 11.
69
V. idem., p. 1215, anot. 15. Trata-se da questã o controvertida da admissão de outros meios para
assegurar uma direcçã o comum e unitá ria , nomeadamente as interconexões de pessoal e os
administradores comuns: v. o Ac. do TRC de 12-09-06 ( Hélder Roque), proc. 69/04.9TBACN.
Cl, nos termos do qual se decidiu que a “a lei n ã o impede que um administrador de certa
sociedade seja designado administrador de outra sociedade que com aquela se encontre em
rela ção de dom í nio ou de grupo, ou seja , o exercício simult â neo de funções de administra -
dor, em ambos os tipos de sociedade ”. Segundo A. PERESTRELO OLIVEIRA , CSC Anotado, cit.,
p. 1215, anot. 15, c ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 730, n . 1418, a admissibilidade dc
administradores comuns nas sociedades que integrem o grupo acaba por ser um ‘'equivalente
funcional das instruções vinculantes ”, dado que na actua çã o do administrador da sociedade
m ãe designado para a administra ção da sociedade filha acabam por se manifestar as instru ções
gerais daquela sociedade.
70
Neste sentido, v.g., A. PERESTRELO OLIVEIRA , CSC Anotado, cit., p. 1176 (anot. 25); ENGR áCIA
ANTUNES, OS Grupos..., cit., pp. 926-928; L. BRITO CORREIA , “Grupos de Sociedades ”, NPDC ,
Almedina , 1988, p. 398 s.. Contra, v.g , L. LIMA PINHEIRO, Contrato de Empreendimento Comum
(Joint Venture) em Direito Internacional Privado, Almedina , 2003, p. 377.
476
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
71
Para uma an á lise do conteú do m í nimo de uma direcção unit á ria , v. ENGR áCIA ANTUNES,
Os Grupos..., cit ., pp. 120-122.
2
Sã o tb. contra (ou , pelo menos, formulam reservas): v.g , ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos...,
cit ., p. 928; BRITO CORREIA, cit., p. 399. Em sentido contrá rio, i.e., favoravelmente à emissão
de instru ções vinculantes desvantajosas no â mbito de uma rela ção de grupo parit á ria, v.g , A.
PERESTRELO OLIVEIRA , Grupos de sociedades..., cit., p. 158.
73
Apontando a mesma raz ão: ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 928. Com efeito, n ã o
nos parece que fosse a tentativa de o legislador evitar qualquer tipo de dependê ncia entre
as sociedades envolvidas no grupo de coordena ção a raz ão para n ã o se admitir as instru ções
vinculantes desvantajosas, pois, embora a direcção unitá ria seja consensual e horizontal entre
as sociedades que celebraram o contrato, o facto é que podendo funcionar um ó rgão comum
de direcção, será ele que vai acabar por determin á-la, pelo que haverá necessidade de dar um
m í nimo de instruções vinculantes (como, aliá s, menciona A . PERESTRELO OLIVEIRA , Grupos
de sociedades..., cit., pp. 157-159, «os grupos horizontais n ão sã o cm absoluto, afinal, “grupos sem
controlo”»), as quais, n ão obstante, poderiam perfeitamente ser prejudiciais (desde que as
sociedades envolvidas em pé de igualdade concordassem nesse sentido), n ão fosse a inexistência
de um regime protector dos sócios, das sociedades e dos seus credores para poder servir de contrapeso.
É que podendo os arts. 501.- e 502.Q ser consideradas normas excepcionais, n ão admitir ão
aplica ção analógica aos grupos parit á rios, nos termos do art . II .9 do CC.
477
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
Nesta sequê ncia, n ão serão, ent ão, as instruções [apenas] vinculantes o prin-
cipal fundamento para a consagraçã o do art. 501 °, mas antes aquelas que cons-
tituam os administradores ou gestores da sociedade dominada no dever de praticarem (ou
omitirem) actos lícitos (cf. art. 503 °/2, 2- parte) que, por um lado, se revelem desvan-
tajosos ou prejudiciais para esta sociedade (nomeadamente, para o seu património)74 os
quais de outro modo, nã o respeitariam o dever de cuidado dos administrado-
res para com a sociedade, presente no art. 64 °/ l, al. a), designadamente “a dili-
gê ncia de um gestor criterioso e ordenado”75 - e, por outro, sejam vantajosos para
a sociedade dominante ou outra sociedade do grupo. Mas, não se requer a verificaçã o
da concreta instrução desvantajosa, bastará a existê ncia abstracta do direito
de instruir vinculativa e prejudicialmente, ou seja , a mera possibilidade (o poder
potencial) das instru ções desfavoráveis serem emanadas, porque basta isto para
se verificar um risco de diminuiçã o do património social da sociedade-filha.
Destarte, com a emissã o de instru ções vinculantes desvantajosas, a socie-
dade dominante pode operar uma verdadeira instrumentalização da sociedade
dominada (y.g , através de transferências de activos e de capitais da sociedade domi-
nada para a sociedade- mãe ou outra sociedade do mesmo grupo76 - desde que essas
transferências se traduzam numa vantagem para a sociedade-mãe ou essa qual-
quer outra sociedade do grupo - cf. art. 503.Q/ 277), gerando-se uma permeabi-
~4
P. ex., a sociedade dominante pode instruir a sua dominada a encarregar-se de sectores do
mercado não rent á veis, a emprestar-lhe dinheiro gratuitamente, a fornecer-lhe bens a preços
inferiores aos do mercado, etc. V. estes exs. e outros em : COUTINHO DE ABREU , Grupos de
Sociedades e Direito do Trabalho, Coimbra , 1990, p. 9; e MEDINA CARREIRA, cit., p. 73.
75 V. RICARDO COSTA , “ Deveres
gerais..., cit., pp. 165-178 e 185-187.
76
També m poderão existir transferê ncias de lucros , mas no caso destas, sendo a sociedade
totalmente dominante sócia ú nica da sua totalmente dominada , obviamente que terá direito
à totalidade dos lucros distribu í veis desta ú ltima, n ã o havendo necessidade de emissã o de
qualquer instru çã o vinculante para que a transferê ncia se opere. A quest ão, contudo, põe-
-se em saber se, no dom í nio total , a transferê ncia de lucros se pode dar, pela via de instru -
ções vinculantes desvantajosas, da sociedade-filha para outra sociedade do grupo que n ão
a sua sociedade-m ãe totalmente dominante. N ã o se aplicando o art. 508- ao dom í nio total
e inexistindo no direito societ á rio um regime especial aplicá vel a convenções isoladas de
transferê ncias de lucros, deve-se responder negativamente à quest ão - neste sentido, p. ex.,
A. PERESTRELO OLIVEIRA, CSC Anotado, cit., p. 1231 (anot. 6 a 10).
Embora o art . 503.Q/4 pareça, à primeira vista, poder impossibilitar a transferê ncia de bens
do activo da sociedade totalmente dominada para a sua sociedade m ã e (ou outras sociedades
que integrem o mesmo grupo) sem que ocorra “ justa contrapartida”, o certo é que, interligan -
do esta norma com o art . 503.9/ 2, pode-se considerar que tal contrapartida pode ser a mesma
478
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
lização, flutuação ou confusão entre patrimónios das sociedades do grupo, que poderá
desprover de qualquer significado a garantia comum dos credores, uma vez
que o(s) património(s) da (s) sociedade (s) dominada (s), devido a essas conse-
quê ncias, pode(m) vir a tornar-se insuficiente (s) para satisfazer os créditos
dos credores desta (s) sociedade (s).7H
Perante tudo isto, para o risco inerente à explora ção empresarial na forma
de grupo por dom í nio total n ã o recair exclusivamente sobre os credores da
sociedade-filha, mas antes sobre o ente que com esta exploração consegue
retirar maiores proveitos ( maxime, maiores lucros) - a sociedade-m ãe -, o legis-
lador, pensamos que de acordo com o brocardo latino “ ubi comoda , ibi inco-
moda ”, consagrou uma norma que protege os interesses daqueles através da
responsabilização da sociedade totalmente dominante, que é quem tem o
poder de gest ão e por isso quem pode pôr em causa esses interesses através
da emissão de instruções vinculantes desvantajosas - responsabilidade objec-
tiva assente na distribuição do risco na empresa plurissociet á ria79.
Capí tulo III - A natureza jurí dica e as principais caracterí sticas da res-
ponsabilidade
coisa que a vantagem , impl ícita na primeira norma (“servirem os interesses” ), que tem de
estar associada a uma instru çã o desfavorá vel. Assim , o n.9 4 é perfeitamente desnecessá rio,
sendo que, para alé m disso, a ressalva que faz na parte final para o art. 502.9 deve ser objecto
de corrccção, uma vez que o legislador certamente se queria antes ter referido ao art . 508.9
(assim , RAú L VENTURA, NOVOS Estudos sobre Sociedades An ó nimas e Sociedades em Nome
Colectivo”, Comentário ao Código das Sociedades Comerciais, Almedina, Coimbra, 1994, p. 116-117).
78
V. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., pp. 796-798.
9
Neste sentido, v.g., ELISEU FIGUEIRA, “ Disciplina Jur ídica dos Grupos de Sociedades”, C ),
XV, 1990, p. 51; CALVãO DA SILVA, cit., p. 86.
80
V.g., RAUL VENTURA, “ Contrato de Subordina ção entre Sociedades ”, RB , n9 25, 1993, p.
123; ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., pp. 798-801; MARIA DE FáTIMA RIBEIRO, A Tutela
dos Credores da Sociedade por Quotas e a “ Desconsideração da Personalidade Jurídica ”, Almedina ,
479
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
a) A acessoriedade
Como o AUTOR bem explica 85, quando a obriga ção se constitui, domi -
nada e dominante n ão são co-obrigadas, a obriga ção recai somente sobre a
primeira, que j á podia mesmo estar vinculada no momento em que se come-
çam a produzir os efeitos do dom í nio total. A dominante só se virá a vincu-
lar posteriormente, quando e por o grupo começar a produzir os seus efeitos.
Em rela ção às obriga ções constitu ídas durante a vigê ncia do grupo, as fontes
continuam a ser diversas: a dominada obriga-se porque constitui a obrigação;
a dominante porque a dominada a constituiu. No entanto, o facto de ambas
estarem vinculadas em termos de fontes e momentos diversos n ã o impedi-
ria, por si só, que a obriga ção fosse considerada solid á ria, atendendo ao que
postula o art. 512.9/2 CC.
Só que a quest ão é que existe uma devedora inicial (sociedade dominada)
e uma devedora secundária (sociedade dominante), sendo a obrigaçã o da pri-
meira que vai determinar os termos em que a segunda se vincula. A obriga-
2009, p. 417; M . GRAç A TRIGO, c/ f., p. 93; F. PEREIRA COELHO, “Grupos de Sociedades”,
Sep. Vol. LXIVBFDUC, 1988, p. 32 s..
81
V.g., o Ac. do STJ de 31-05-05 (Fernandes Magalh ã es), proc. 05A1413 e o Ac. do TRL de
19-06-08 (Manuela Gomes), proc. 260/ 2007-6.
82
MANUEL JANUá RIO DA COSTA GOMES, “A sociedade com dom í nio total como garante.
Breves notas”, RDS , A I , N 9 4, Almedina , 2009.
83
JANUá RIO GOMES, Assunção..., cit., p. 968.
84
Tal como MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...”, cit., pp. 105-107.
85
JANUá RIO GOMES, “A sociedade...”, cit., pp. 874-881.
480
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
86
Cf. Idem , p. 881.
8
V.g., o n ã o preenchimento de todos os pressupostos do nascimento da rela çã o de grupo;
a exist ê ncia de um cr é dito sobre um credor da dominada que lhe permitisse alegar uma
compensa çã o total ou parcial entre as duas d ívidas; a não verifica ção de pressupostos di-
rectos de imputa çã o objectiva da responsabilidade do devedor prim á rio, p. ex., alegando o
n ã o decurso do per íodo de 30 dias de mora exigido pelo art . 501.s/ 2. Cf. JANUá RIO GOMES,
“A sociedade...”, cit., p. 876 s..
88
V.g., a n ã o verifica ção dos pressupostos da responsabilidade civil para a dominada se con -
siderar obrigada perante o credor - p. ex., o facto de n ão existir mora ou incumprimento; a
nulidade ou anulabilidade do negócio; a excepção de prescrição ou de nã o existê ncia do crédi-
to; a excepçã o de n ão cumprimento do contrato; a impossibilidade do cumprimento por facto
n ão imput ável à sociedade dominada . Cf. JANUá RIO GOMES, “A sociedade...”, cit ., pp. 877-881.
89
P. ex., a sociedade dominante n ã o pode alegar que o incumprimento da dominada n ã o lhe
é imput ável ou que fez uso das instruções vinculantes para obrigar a dominada a pagar mas
sem sucesso - cf. JANUá RIO GOMES, “A sociedade...” cit., p. 877. De facto, a responsabilidade
é objectiva ( i.e., independente de qualquer culpa da dominante) , assente na distribuição do
risco da explora ção empresarial plurissocietá ria , conforme se referiu no Cap. II , 2.1.1., supra.
481
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
b) A subsidiariedade
90
Cf. A . PERESTRELO OLIVEIRA , Grupos de Sociedades..., cit., Almedina, 2012, p. 602.
91
V.g., ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 813 s..
92
JANUá RIO GOMES, “A sociedade...” cit., p. 878.
93
Assim , idem , p. 869.
94
Cf. idem, p. 882 s..
95
Cf. idem , Assunção..., cit., p. 968.
482
A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
96
Ibidem . Em sentido idê ntico: MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...”, cit., p. 106 s..
A . PERESTRELO OLIVEIRA (Grupos de Sociedades..., cit., p. 601) considera que apenas existe
subsidiariedade fraca.
97
També m falam em responsabilidade subsidi á ria: MARIA AUGUSTA FRANç A, A Estrutura das
Sociedades Anónimas em Relação de Grupo , AAFDL, 1990, p. 67; PAULO OLAVO CUNHA, Direito
das Sociedades..., cit., p. 967.
98
JANUá RIO GOMES, Assunção..., cit., p. 994.
99
Idem, p. 995.
100
Se o credor intimar a sociedade dominante antes de decorrido o termo [m í nimo] de 30
dias, esta poder-lhe-á opor a excepçã o de inexigibilidade do crédito.
101
JANUá RIO GOMES, “A sociedade...” cit., p. 871.
102
CALVãO DA SILVA, cit., p. 86, alude ao art . 501-/3 para qualificar a responsabilidade como
subsidi á ria .
483
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
103
Encontramos manifesta ções deste princí pio, para as SQ, no art . 197.9/3: só o patrim ó nio
social responde para com os credores pelas d ívidas da sociedade (e n ã o o patrim ó nio pessoal
dos sócios) - mas cf. art. 198 ; para as SA , no art. 271.9: a responsabilidade dos accionistas
-
encontra -se limitada ao valor das acções que subscreveram , n ã o respondendo també m pelas
d ívidas da sociedade; e para as SCA , no art . 465.s/ l : os sócios comandit ários respondem ape-
nas pela sua entrada ; e os sócios comanditados respondem pelas d ívidas sociais nos mesmos
termos que os sócios da sociedade em nome colectivo: art. 175.9.
104
Esse património c formado por bens que, nos termos do art 6019 do CC, respondem pelas
d ívidas da sociedade, pelo que, atendendo ao princ í pio da separa ção patrimonial, “apenas o
patrim ónio social responderia pelas d ívidas das sociedades” (cf. ALEXANDRE SOVERAL MAR-
TINS, “ Da personalidade e capacidade jur í dicas das sociedades comerciais ”, Estudos de Direito
das Sociedades, 2010, pp. 98 e 99). Por outras palavras, os credores sociais não têm, por regra,
o direito de agir contra os accionistas, rectius, sobre o seu patrim ó nio - para se ressarcirem
do que lhes seja devido pela sociedade. També m assim para os sócios das SQ, se o contrato
de sociedade n ã o estipular, nos termos do art. 198.9, a responsabilidade directa dos sócios
para com os credores sociais.
484
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
íos
Contudo, a responsabilidade ilimitada tb. se pode verificar numa situaçã o de unipessoa-
lidade comum (cf. arts. 84.- e 270.e-F/4). V.g , v. PEDRO PIDWELL, A Tutela dos Credores da
Sociedade por Quotas Unipessoal e a Responsabilidade do Sócio Ú nico ”, DSR , A 4, Vol. 7,
Almedina, 2012, pp. 208-222 e 223-232. Para a distinção entre a responsabilidade do art. 501.e
e a do art . 84.Q, v. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., pp. 897-899.
106
MANUEL NOGUEIRA SERENS, A Monopolização da Concorrência ..., cit., p. 136, é, no entanto,
da opini ão que só muito excepcionalmente se pode afirmar a exist ê ncia da responsabilidade
ilimitada da sociedade dominante (do seu patrim ó nio) por d ívidas da sociedade dominada.
Pelo que o rem édio adequado para fazer face à ruptura com o princípio de associar a m á xima
liberdade das sociedades à sua irrestrita responsabilidade, será para o Autor, a desconsideração
da personalidade colectiva . Alguns autores associam mesmo o art . 501.Q a uma manifesta çã o
ou concretiza çã o legal da desconsidera çã o da personalidade colectiva - v., v.g., BRITO COR-
REIA , “Grupos de Sociedades”, cit., p. 395, OLIVEIRA ASCEN çã O, Direito Comercial , cit ., p. 612,
MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...”, cit., p. 81 s., A. PERESTRELO OLIVEIRA, Grupos
de Sociedades..., cit., p. 600 s.. No entanto, somos da opiniã o, na esteira de J .M . COUTINIIO
DE ABREU , C ódigo das Sociedades Comerciais em Comentário , Volume VII ( Artigos 481.- a 545. ),
Q
Coord . J.M. COUTINHO DE ABREU, Almedina , 2014, p. 270, bem como de ENGR áCIA ANTUNES,
Os Grupos..., cit., p. 799, n . 1566, que tal associa ção n ã o parece acertada , dado que a respon -
sabilizaçã o pela via da desconsideração da personalidade colectiva pressupõe sempre uma
actuação ilícita da parte dos sócios, nomeadamente, a subcapitalização material , a “ mistura
de patrimó nios”, o controlo da sociedade por um sócio, a “ descapitaliza çã o” volunt á ria da
empresa societ á ria , ou seja , como nos diz MARIA DE FáTIMA RIBEIRO, “ Desconsideração da
Personalidade Jur ídica e Tutela de Credores ”, Questões de Direito Societ ário em Portugal e no
Brasil , Almedina , 2012, p. 515, “tipicamente , para aqueles casos em que se entende que os
sócios agiram [ilicitamente] em preju í zo do ente societá rio e, reflexamente, dos seus credores ”.
Em todos estes casos se entende que o comportamento il ícito dos sócios deve corresponder
à perda do benefício da limitação da responsabilidade, defendendo-se a ’’desconsidera ção da
personalidade jur ídica” da sociedade com o objectivo de permitir aos credores a possibilidade
de exigirem a satisfa çã o dos seus créditos aos sócios da sociedade “ desconsiderada ”. Ora, a
responsabilidade da sociedade dominante prevista no art. 501.e ocorre independentemente
de facto il ícito, basta verificar-se uma rela çã o de grupo por dom í nio total (acompanhada
dos restantes pressupostos que analisaremos infra ) , pelo que n ã o poder á , assim, esta res-
ponsabilidade ser uma manifesta ção jur ídica expressa da desconsidera çã o da personalidade
colectiva.
485
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
3. Responsabilidade imperativa?
A. Os pressupostos da responsabilidade
107
Neste sentido, MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...”, cit., p. 110 s..
108
Idem, p. 111.
loy
ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 813, n. 1593.
no Rectius, a norma (art . 501.Q).
111
Idem .
486
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
112
Neste sentido, RICARDO COSTA , Código das Sociedades Comerciais em Comentário, Volume VII
(Artigos 481r a 545.-), Coord. J. M. COUTINHO DE ABREU, Almedina, 2014, p. 110 s..
113
Cfr, sobretudo, o n .9 1 do art. 465.9 e o art. 479.9. Ainda que se admitisse que a SCA se
pudesse constituir ou manter duradouramente com apenas 1 sócio comanditá rio - e tal n ã o
nos parece, dado que o art. 479.9 n ão estabelece nenhuma excepçã o para a sociedade poder
ser constitu ída por n ú mero inferior a 5 sócios comandit á rios, contrariamente à ressalva que
a parte final do n.91 do art . 273.9 faz para as SA) o certo é que ainda assim teria de integrar
um sócio comanditado, nos termos do art . 465.9. Assim , a SCA será pluripessoal por definição
do seu especí fico regime.
114
Neste sentido, v.g., ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., pp. 850-852; F. CASSIANO DOS
SANTOS, “Sociedades unipessoais por quotas, exercício individual e reorganiza ções empre-
sariais - reflexões a propósito do regime legal ”, DSR , A 1, Vol. 1, Almedina , 2009, p. 126;
A Sociedade Unipessoal por Quotas, Coimbra Ed ., 2009, pp. 74 s. e 85 ss.; COUTINHO DE ABREU,
“ Responsabilidade Civil nas Sociedades...”, cit., pp. 228 s..
487
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
115
Assim , v.g., RICARDO COSTA, “ Unipessoalidade...”, cit., pp. 94 ss., Idem , CSC em Comentário,
Volume VII (Artigos 48l.ç a 545.Q), cit., pp. 113-119; PEDRO MAIA/A. PINTO MONTEIRO, cit ., p. 147,
n . 26 (estes ú ltimos Autores, embora n ão adoptando expressamente esse sentido, dizem que
o regime dos grupos est á voltado para a an ó nima unipessoal).
116
Relacionada com esta quest ã o surge a questão do relevo da proibição do art . 270.9-C/ 2 , i.e.,
de saber se em face da proibição a í estabelecida uma SQU poderá ou nã o ter como sócio ú nico outra
SQU. F. CASSIANO DOS SANTOS, A Sociedade Unipessoal..., cit., pp. 88 s., ao defender a extensã o
teleológica do art . 488y/ l , e a sua integra ção à luz dos arts. 270 y -A ss., conclui que uma SQU
pode constituir outra SQU, a qual « n ão é uma sociedade unipessoal por quotas no sentido
dos arts. 270.y-A ss., mas antes uma sociedade por quotas unipessoal de grupo [ por domínio
488
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
total inicial ] (como uma an ónima pode ser...) » (cf. p. 89), estando sujeita ao regime da res-
ponsabilidade ilimitada (501-) dos grupos, pelo que , assim , n ã o seria posta em causa a ratio
do art . 2709-C/ 2, que é a de «evitar o encadeamento de responsabilidades limitadas de um
sujeito ú nico, que o regime dos grupos també m acautela, e é evitar assim a fuga ao regime dos
grupos » (cf. p. 85). Por sua vez , RICARDO COSTA, sendo da opinião que o sujeito passivo de
uma rela çã o de dom í nio total inicial n ão pode ser uma SQU (apenas uma SAU), em virtude
da proibição estabelecida no n .9 2 do art . 270.9-C e não só - cf. CSC em Comentário, Volume VII
( Artigos 481.9 a 545 °), cit., pp. 113-119 -, defende ainda que essa proibição tem relevo quando
uma SQ ( pluripessoal ), que seja sócia ú nica de uma SQU, se tornar supervenientemente numa
SQU. Para o Autor, ocorrendo essa situaçã o, apenas n ão funcionará a proibição do n .Q 2 do
art. 270.9-C e a consequente dissolu ção nos termos do n .9 3 do mesmo preceito normativo
se a SQderivadamente unipessoal - titular da SQU - evoluir para uma situa ção de dom ínio
total superveniente, através da tomada, no prazo de 6 meses, da deliberação prevista na al.
c) do n.9 2 do art . 489.9 - cfr. Código das Sociedades Comerciais em Comentário, Volume IV (Artigos
2469 a 270 Q- G), Coord . J . M. COUTINHO DE ABREU, Almcdina , 2012, p. 308.
1,7
Cf. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 858: « No silê ncio do legislador, sã o aqui de
considerar como inteiramente aplicá veis os requisitos subjectivos gerais de aplicabilidade das
normas em matéria de sociedades coligadas, previstos nos n9s 1 e 2 do art . 4819 (...) ».
118
Cf. COUTINHO DE ABREU, CSC em Comentário, VII (Artigos 481.9 a 545.Q), cit., p. 127.
119
També m assim , v.g , A . PERESTRELO OLIVEIRA, CSC Anotado, cit., p. 1157.
489
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
120
Assim , ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 296, n . 607
121
O problema verificou-se no Ac. do TRL de 26-04-90. Cf. DIOGO PEREIRA DUARTE , cit.,
p. 233.
122
V. ANA RITA ANDRADE , cit ., pp. 127-130. Igualmente neste sentido, v. RAUL VENTURA,
Contrato de Subordinação, cit .,p. 42. Por seu turno, PAULO OLAVO CUNHA , Direito das Sociedades...,
cit., pp. 972 s., ao apresentar vá rios aspectos que permitem a diferencia çã o entre SGPS c grupo
de sociedades, parece apontar em sentido contrá rio.
123
Cf HENRIQUE MESQUITA , OS Grupos...”, cit., p. 235.
124
Neste sentido, RAUL VENTURA , “Contrato de Subordina çã o...”, cit., p. 42. Sobre os grupos
bancá rios , v. CATARINA SILVA , OS Grupos Bancá rios no Regime Geral das Instituiçõ es de
Crédito e Sociedades Financeiras”, ROA , A 57, III , 1997.
490
A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
A regra quanto ao estatuto pessoal dos sujeitos vem estabelecida no proé mio do
art. 481.ô/2: “o presente t ítulo [“Sociedades Coligadas”] aplica se apenas a -
sociedades com sedeus em Portugal”.
Antes de mais, cabe precisar um ponto: qual é a “sede ” social relevante
para a aplica ção deste regime, a sede principal e efectiva ou a sede estatutária126 ?
Pois bem , o art. 3.Q/1 conté m uma regra de conflitos para determinação
da lei pessoal da sociedade. Na 1- parte da norma , o elemento de conexão
relevante é a lei do pa ís onde se situa o centro da sua administra ção e deci-
sã o, i.e., a sua “sede principal e efectiva ” Contudo, nos termos da 2 - parte da
norma, a lei da sede estatut á ria , quando esta sede se situar em Portugal e a
sede efectiva no estrangeiro, n ão pode ser oposta a terceiros - princípio da ino-
ponibilidade a terceiros da lei do pa ís onde se situa a sede efectiva da sociedade,
se a sede estatut á ria desta sociedade tiver sido estabelecida em Portugal 127.
Ora , tendo em conta a norma conflitual do art. 3.Q/1, independentemente
da sede estatutá ria se situar ou n ão em Portugal, se a sede principal e efec-
tiva das sociedades intervenientes no dom í nio total se situar em terras lusi-
tanas, o regime aplica-se sem qualquer d ú vida. De outro modo, se esta sede
se situar fora do nosso pa ís, assim como a sede estatut á ria , també m n ão pare-
cem restar d ú vidas de que, sem qualquer conexão espacial ao nosso território,
nã o poderá ser aplicado o regime das sociedades coligadas. Resta-nos, ent ã o,
a possibilidade da sede efectiva se situar fora do território nacional e a sede
estatut á ria se situar dentro do mesmo. Ser á que devemos atribuir relevâ ncia
a esta sede para aplicação das regras relativas, v.g , ao dom í nio total?
Em primeiro lugar, a norma material espacialmente autolimitada do
art. 481.Q/ 2 n ão parece introduzir um conceito de excepçã o relativamente ao
conceito relevante de sede presente no art. 3.s/ l. Ali ás, a determina ção do que
se deve entender por sede para o primeiro artigo só será mesmo conseguida
mobilizando-se o segundo artigo.
125
A lei nã o esclarece, contudo, se a “sede“ relevante é a sede principal e efectiva ou a sede esta-
tutária. V. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 308 s., n . 634.
126
V. a quest ão em ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., pp. 308-309, n . 634.
127
Cf., p. ex., Rui PEREIRA DIAS, Código das Sociedades Comerciaisem Comentário,Volume I (Artigos Is
a 84 ç), Coord . J. M. COUTINIIO DE ABREU, Almedina , 2010, p. 74 (coment á rio ao art. 3.Q).
491
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
Em segundo lugar, existe uma presunção (pelo menos, parece que os tri-
bunais têm tido esse entendimento) de que se aplica à sociedade a lei onde
ela se constituiu e se fixou a sua sede estatut á ria128 (a não ser que o contrato
de sociedade tenha posteriormente sido alterado na parte relativa à localiza-
ção da sede estatut á ria) .
Para além disso, parece dever ser atend ível a relevâ ncia que a 2- parte do
art . 3.Q/1 atribui à sede estatut á ria situada em Portugal por sociedade que
também tem a sua sede efectiva noutro pa ís. No contexto das rela ções exter-
nas, seguramente ( p. ex., perante credores, o que permitiria a aplicação do
nosso art. 501Q), ainda que se possa aceitar, em face da formula çã o literal do
preceito (mas já n ã o em termos de justiça), que nas rela ções internas funcio-
naria apenas a sede efectiva.
Assim sendo, independentemente da sede efectiva se situar fora de Portu-
gal quando a sociedade tiver a sua sede estatut á ria no nosso pa ís, pensamos
,
que as regras estabelecidas para as sociedades coligadas (logo, també m para
o dom í nio total) devem ser aplicadas à concreta sociedade, ainda que só nas
relações externas. Embora a sociedade passe a ter o centro efectivo da sua
administra ção e decisã o fora de Portugal , o facto de n ão ter decidido alterar
o seu estatuto na cl á usula relativa à sua sede estatut á ria (continuando a ser
mantida em Portugal ), pode evidenciar que a sociedade continua a ter cone-
xã o (interesses) com o nosso pa ís, de modo que faz sentido, por razões de
justiça e igualdade, que se lhe continuem a aplicar não só os inconvenientes
(y.g., art. 501.e) mas també m as vantagens ( p. ex. o art. 503.Q) que a lei portu-
guesa lhe possa reservar.
Feita esta incursão inicial para determinar qual o conceito de sede que est á
subjacente ao n.Q 2 do art. 481.8, passemos agora a analisar em termos mate-
riais o estatuto pessoal propriamente dito dos sujeitos: a necessidade das SA ,
SQ ou SC A (ambas as sociedades, i.e., tanto o sujeito activo da rela çã o como
o passivo) terem a sua sede em Portugal.
No dom í nio total superveniente, tendo em conta a letra da regra supra
enunciada , parece-nos que o legislador ter á querido que, quer o sujeito pas-
sivo da relação, quer o sujeito activo tivessem a sua sede em Portugal, n ã o obs-
128
Assim , Lu ís LIMA PINHEIRO, Código das Sociedades Comerciais Anotado, Coord. ANTó NIO
MENEZES CORDEIRO, Almedina , 2009, p. 76 (anot. 12) e p. 68 (anots. 16 e 17).
492
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
tante alguns autores129 dizerem que tal opçã o pode representar uma viola ção
do princí pio da igualdade consagrado no art. 13.9 da CRP (e at é mesmo do
art. 81r/ f ) também da CRP), assim como dos arts. 499/ 2, 2 - parte, 54.9, 55.9 e
18.9 do TUE, que proí bem que um Estado-Membro crie regimes diversos em
função da nacionalidade para os agentes económicos.
Por sua vez, quanto ao dom í nio total inicial, foi introduzida , com o DL
n .9 76-A / 2006, de 29 de Março, a al í nea d ) do n 9 2 do art. 481.Q, que consti-
tui uma ressalva em rela ção ao proé mio da norma e que, nos termos do art.
488.9/ l/ 2, vem permitir a constituição de uma sociedade anónima unipes-
soal (que terá a sua sede em Portugal ), por uma sociedade cuja sede nã o se
situe no nosso pa ís - vindo legitimar juridicamente uma prá tica que, mesmo
sem essa al í nea , ía sendo aceite por alguns not á rios. No entanto, a lei nã o nos
garante que com esta constituição se forma uma rela ção de grupo. PEDRO
MAIA e PINTO MONTEIRO130 são da opini ã o que esta rela çã o n ã o surgirá entre
a sociedade estrangeira e a sua sociedade unipessoal portuguesa , essencial-
mente, devido a dois argumentos.
O primeiro, parte da letra do art. 489.9/4, a) - que n ã o foi alterada pelo
legislador de 2006 -, que refere claramente que o grupo termina quando a
sociedade dominante deixa de ter a sua sede em Portugal , pelo que, assim
sendo, o art. 481.-/ 2, d ) nã o poder á ser considerado como uma verdadeira
excepçã o à norma espacialmente autolimitada ( proé mio do art . 481.9/ 2),
o que o fará somente abranger a constituição da referida sociedade anónima
com sócio ú nico estrangeiro (art. 488.9/ l e 2), sem que, com isso, estejamos
perante uma rela çã o de grupo por dom í nio total inicial (logo, n ã o se aplica-
rã o os seus efeitos, v.£., os arts. 501.9 e 503.9).
O segundo argumento - e, a nosso ver, o mais importante - liga-se à ratio
do proé mio do art. 4819/2 - pelo que também vale para a situa ção de dom í-
nio total superveniente -, que, paradoxalmente, acaba por ter uma finalidade
tuteladora dos credores da sociedade dominada. Efectivamente, embora , por
um lado, o facto de nã o se estar perante uma rela ção de grupo n ã o permita
129 V.g , L . CARVALHO FERNANDES/ JOã O LABAREDA , “A situa ção dos accionistas perante
d ívidas da sociedade an ónima no Direito portugu ês ”, DSR , A 2, Vol . 4, 2010, pp. 40-42; e
Rui PEREIRA DIAS, Responsabilidade por exercício de influência sobre a administração de sociedades
anónimas, Almedina, 2007, pp. 269 ss..
130
Cf. PEDRO MAIA /A. PINTO MONTEIRO, cit., pp. 140-144.
493
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
que estes credores façam uso da responsabilidade contida no art. 501.g - mas,
mesmo que o legislador tivesse optado por consagrar uma rela çã o de grupo,
sendo ent ão esta responsabilidade aplicá vel, os credores deparar-se-iam com
dificuldades vá rias, v.g., de ordem económico-financeira , log ística e jur ídica ,
para poderem exercer os seus créditos, o que n ão é difícil de perceber, dado
que teriam de pôr em marcha uma responsabilidade num ordenamento jur í-
dico de um outro pa ís mais ou menos longí nquo -, por outro lado, a sociedade
controladora estrangeira també m não poderá emitir instruções vinculantes
(art. 503 °), nomeadamente desvantajosas, à sociedade controlada , o que, segu-
ramente, evitar á a diminuição da garantia dos seus créditos (cf. Cap. II, 2.1.1.),
acabando por lhe conferir uma protecçã o superior à quela que o art. 501 ° con-
seguiria alcançar, em rela ção aos credores da sociedade dependente. E que,
pode até parecer outro paradoxo, mas mesmo estes credores n ão serão sempre
protegidos com o art. 501.-, bastando para isso pensar-se que a sociedade-m ãe
se pode livrar de qualquer patrim ónio, transferindo-o para uma sociedade-
-irm ã , que, por isso, n ão responderá perante os credores da sociedade-filha-
-devedora (sua irm ã)131. De facto, a responsabilidade por d ívidas do art. 501.Q
apenas é imputada à sociedade dominante, não ao grupo (que n ão tem per-
sonalidade jur ídica132, o que se justifica , porque seria praticamente o mesmo
que perder a autonomia jur ídica dos entes societ á rios que o compõem , auto-
nomia essa , que, como vimos, é a caracter ística de distin çã o dos grupos e a
que os impulsiona), nem às sociedades-irm ã s da devedora 133 que o integrem .
E é precisamente aquela situa çã o, i.e., o facto de sobre a sociedade
estrangeira n ã o recair a responsabilidade, mas també m não poder exerci-
tar o controlo por interm édio das instru ções vinculantes, que nos faz con-
siderar - também em linha com os Autores mencionados -, que, no caso do
art. 481.Q/ 2, n ão se estar á perante uma viola ção das normas da CRP e do TUE
supra referidas, uma vez que o princípio da igualdade - que, amplamente, é
o que acaba por estar subjacente a todos aqueles preceitos -, só estaria em
131
Assim , M . AUGUSTA FRANç A , cit ., p. 67 s.; M. DE FáTIMA RIBEIRO, cit., p. 418 s., n . 97.
132
Cf. JUSTINO DOMINGUEZ, “ Recientes Desarrollos del Derecho de los Grupos de Sociedades
en el Derecho Espanol ”, BFDUC , Coimbra Ed ., 2000, p. 83.
133
A. PERESTRELO OLIVEIRA ( Grupos de Sociedades..., cit., p. 664) considera , no entanto, que
a responsabilidade das sociedades-irm ã s (responsabilidade horizontal ) poder á acontecer
quando se verifiquem situa ções excepcionais extremas.
494
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
134
Contudo, em rigor, já n ã o se pode dizer que a titularidade total das participações sociais
seja uma condição necessá ria para a manutenção desta relaçã o de grupo. De facto, a socieda-
de dominante pode, posteriormente à formaçã o do dom í nio total, fazer uma venda parcial
de participações (ate 10 % do capital ) , sem que o dom í nio perca a qualificaçã o de “ total ”
nos termos da lei, mantendo-se, por isso, todos os efeitos jur ídicos que lhe est ã o associados
(cf. arts. 489.Q/4, c) e 488.Q/3). Até porque, sobrevindo posteriormente à constituição da si -
tuaçã o de unipessoalidade outro (s) sócio (s) que detenha (m) essa tal percentagem do capital
social até 10% da sua totalidade , em face do art. 490.Q (aquisição tendente ao dom í nio total ),
esse(s) outro(s) sócio(s) pode (m) ver-se forçado (s) a ficar sem as suas participações por ini-
ciativa da sociedade dominante (cf. n9 3) ou cle (s) pró prio(s) exigirem que esta as adquira
(cf. n .9 5 e n.9 6), pelo que, assim , a sociedade dominante, que tinha ficado momentaneamente
com uma percentagem de capital da dominada entre 90% e 99,99%, pode voltar, a prazo, por
força do art . 490.9, a adquirir a totalidade do mesmo. Para PAULO OLAVO CUNHA , Direito das
Sociedades..., cit., p. 960 s., qualquer percentagem situada entre esses dois valores faz surgir uma
rela ção de grupo por dom í nio total , pelo que o Autor nem sequer vê a participa ção totalit á ria
como uma condiçã o necessá ria para a forma çã o desta rela çã o.
135
Quanto às SCA , dado que sã o pluripessoais por definição, j á vimos que n ão podem ser
sujeito passivo de uma rela ção de dom í nio total: cf., supra , pt. 1.1.1.
495
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
136
Contrariamente ao que se passa , p. ex., para se dar uma aquisição [ potestativa] tendente
ao dom í nio total de sociedade aberta no mercado de capitais, em que tem de haver uma de-
ten çã o de 90% dos direitos de voto correspondentes ao capital social (cf. art . 194.- do CVM ).
137
Cf. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 338 s. e 861 s..
138
Para desenvolvimentos sobre estes eventuais impedimentos estatutá rios, v. A . SOVERAL
MARTINS, Cláusulas do Contrato de Sociedade que Limitam a Transmissibilidade das Acções, Alme-
dina , 2006.
139
Cf. PAULO OLAVO CUNHA , cit., p. 957.
496
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
dom í nio total entre uma primeira sociedade (dominante material indirecta) e
uma outra (dominada material indirecta) - contanto que, quer o sujeito activo
material, quer o sujeito passivo material, sejam uma das sociedades referidas
no art. 481 ° -, cuja totalidade da participa ção social da segunda é detida for-
mal e directamente por qualquer um dos sujeitos referidos no art. 483.9/ 2 e,
por isso, torna-se indirecta e materialmente detida pela primeira sociedade ,
ú ltima benefici á ria económica da participaçã o.140
Para alé m de ser uma condiçã o necessá ria , resta saber se a detenção tota-
lit á ria ser á condição suficiente - estando já cumpridos os pressupostos relativos
aos sujeitos - para que o dom í nio total nasça. Veja-se o que segue.
A determina ção do momento em que a rela ção de dom í nio total nasce é fun-
damental para a aplicação dos efeitos que lhe estão associados, como é o caso
da responsabilidade contida no art. 501.-.141
No domí nio total inicial , observados todos os requisitos da constituição
da sociedade unipessoal dominada142, pode-se considerar que o grupo nasce
com o registo definitivo do contrato que prevê essa constituiçã o143 (cf. art . 5.9
CSC e arts. 3.9/ l/ a), 15.9/1 e 70.9/ l / a) CRCom). O registo deste contrato tem ,
assim, efeitos constitutivos da rela çã o de grupo por dom í nio total inicial.144
140
Vg, a sociedade por quotas A domina totalmente a sociedade an ó nima D, n ão por deter
directamente a totalidade do capital social desta , mas porque existe um terceiro (C), por
exemplo, uma pessoa singular com um mandato sem representação (porque se houver repre-
sentaçã o n ão se trata j á de uma verdadeira interposiçã o de pessoa) que adquiriu a totalidade
das acções da sociedade D por conta de outra sociedade ( B), que, por sua vez, está subordinada
à primeira sociedade (A) por força de uma rela çã o de grupo por contrato de subordina çã o.
Assim , embora à primeira vista n ão parecesse existir qualquer relaçã o de grupo por dom í nio
total entre A e D, esta acaba por existir indirecta e sequencialmente por interm édio de uma
sociedade em rela ção de grupo seguida de uma interposta pessoa.
141
Cf. MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...” cit., p. 103.
142
Veja -os em ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 854.
143
Assim , MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...”, cit ., p. 103.
144
Assim , v.g., MARIA ELISABETE RAMOS, “Constituição das Sociedades Comerciais”, Estudos
de Direito das Sociedades (Coord. J. M. Coutinho de Abreu), Almedina , 2010, p. 69.
497
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
145
Privilegiam este entendimento, v.g., ENGR áCIA ANTUNES, Os Direitos dos Sócios da Sociedade-
-M ãe na Formação eDirecção dos Grupos Societários, UCP Ed ., Porto, 1994, p. 62; RICARDO COSTA,
“ Unipessoalidade...”, cit., pp. 97 e 99 s.; CASSIANO DOS SANTOS, A Sociedade Unipessoal..., cit.,
p. 73; A. PEREIRA DE ALMEIDA, Sociedades Comerciais - Valores Mobiliáriose Mercados, Coimbra
Ed ., 2011, p. 629.
146
Esta ú ltima norma refere-se apenas à dissoluçã o da sociedade dominante, mas, extensiva-
mente, por um argumento de igualdade de raz ã o, també m se dever á considerar que a rela çã o
de grupo se extingue quando a sociedade dependente se dissolver. Assim : ENGR áCIA ANTUNES,
Os Grupos..., cit ., pp. 904 e 711-713.
498
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
tomar na sua AG, ou a deliberação da al. a), ou a da al. b). E , não optar por
nenhuma destas delibera ções, significaria que os sócios tomaram a delibera-
ção de “ manutenção da situa çã o existente ” (al. c) do n.Q 2), ou seja, optaram
por que a sociedade dominante continuasse a ter uma detenção totalit á ria
(ou , pelo menos, não inferior a 90%, nos termos do art. 489.9/4, c) a contrario -
v. n. 134) no capital social da sua dominada . São estes, no essencial , os prin-
cipais argumentos literais mobilizados pelos defensores da tese do domínio
diferido 147.
Verificamos, assim, que, à primeira vista , existe uma incompatibilidade inter-
pretativa relativamente aos n.os 1, 2 e 3 do art . 489.Q, os quais permitem que a
doutrina defenda duas teses diversas e contradit órias entre si. Ora, atendendo
ao art. 9.Q/3 do CC, vejamos se é poss í vel a compatibiliza çã o normativa e a
consequente determina çã o do momento em que grupo começa a produzir
os seus efeitos jur ídicos (em especial , no art. 501.9).
Ser á que a ressalva feita no n.9 1 “ in fine ” pretende apenas mostrar que o
grupo já formado termina quando for tomada a deliberação da al. a) ou da
al. b), ambas do n .Q 2? O legislador previu, no art. 489.Q/4, eventos extintivos
(não taxativos148) da relação de dom í nio total , nomeadamente, a dissolução
da sociedade dominante ou da sociedade dependente (v. n . 146) - al. b) - e a
circunstâ ncia de a sociedade dominante, directa ou indirectamente, passar a
ter uma participa ção inferior a 90% do capital social da sua dominada - al. c)
-, tornando-se notório que a primeira causa extintiva engloba a tomada de
deliberaçã o do art. 4899/ 2, a), e o segundo evento extintivo, por seu turno,
pode ser ocasionado com a tomada de deliberação do art. 489.9/ 2, c), ou melhor,
esta ú ltima deliberaçã o só extingue a rela çã o de grupo se for conjugada com
o art. 489.9/4, c), pois, de outro modo, se existisse uma alienação de partici-
14~
Desenvolvem esta tese, v.g., M . AUGUSTA FRANç A , cit., pp. 138-146 e PEDRO PAIS VASCON-
CELOS, “Constituiçã o de Grupo...”, cit. pp. 35 s.; COUTINHO DE ABREU, CSC em Comentá rio,
Volume VII (Artigos 481 ° a 545.g), cit., pp. 129 ss..
148
Cf. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., pp. 902 e 908. Apresentando o autor como
outros eventos extintivos a altera ção da personalidade de uma das sociedades (fusã o e cisão)
e a alteração do tipo social (transformaçã o).
499
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
149
M. AUGUSTA FRANç A, cit., p. 139, parece chegar a conclusão semelhante à nossa . Recen -
temente ,igualmente neste sentido, COUTINHO DE ABREU, CSC em Comentário, VII , ( Artigos
481.Qa 545.ç), cit , p. 130.
500
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
150
Cf. CARLOS MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil , Coimbra Ed., 2005, p . 562. V. tb.
o Ac . do STJ dc 10 -12- 09 (Moreira Alves), proc. 312-C/ 2000.C 1-A . S 1 .
151
CARLOS MOTA PINTO, cit ., p. 562.
152
MANUEL DE ANDRADE apud M . HENRIQUE MESQUITA , “Anotação ao Ac órd ã o de 17
de Junho de 1999”, RLJ , N. 3908 e 3909, p. 342.
OS
153
V. o conceito em CARLOS MOTA PINTO, cit ., p. 379.
154
R . CAPELO DE SOUSA , Teoria Geral do Direito Civil , vol . 1 , Coimbra Ed ., 2003, p. 173.
501
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
Antes de mais, para se tratar de uma condição suspensiva, o dom í nio total
nã o pode produzir os seus efeitos essenciais enquanto não se verificar o acon-
tecimento condicionante, i.e., a relação de grupo só se tornaria perfeita se não
fosse tomada a deliberação da al. a) ou da al. b) do n ° 2 do art. 489 °, ou , se pre-
ferirmos, sefosse tomada a delibera ção da al. c) - de facto, interpretando o n °
1 “ in fine ” a contrario, é como se a í estivesse a ser dito: “ forma um grupo, por
força da lei , na condição de não ser tomada a delibera ção da al. a) ou da al . t í)”,
ou, recorrendo ao elemento sistem á tico: “ forma um grupo, por força da lei,
na condição de ser tomada a delibera ção da al. cf\
155
Quanto à estrutura da rela çã o jur ídica, v. CARLOS MOTA PINTO, cit., pp. 178-189.
502
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
Depois, o facto de o n.Q 1 dizer que o grupo se forma porforça da lei ( i.e., com
a verifica ção dos pressupostos da 1- parte do n.9 1), de o n.9 2, al. c), se referir à
‘ manutençã o da situação existente ’ e de o n.2 3 estipular que “enquanto não for
tomada alguma deliberação ” há já uma relação de grupo, por um lado, não obs-
tante evidenciar, com clareza, que o grupo j á est á constitu ído antes da AG ,
por outro lado, tal pode n ão querer necessariamente significar que a rela ção
de grupo j á começou a produzir os seus efeitos. Usando um raciocí nio ana-
lógico, é o que se passa com um negócio jur ídico que contenha uma condi-
ção suspensiva (cf. art. 270.2 CC), que n ã o deixa de ser previamente celebrado
(constitu ído) pelas partes e cujos elementos essenciais (y.g , a capacidade e
legitimidade das partes, a forma e perfeiçã o da declaraçã o negociai, os requi-
sitos do objecto) tê m de estar já presentes no momento dessa celebração, o
que acontece é que o negócio n ão começa a produzir os efeitos a que as par-
tes tendem com a sua celebra çã o, antes da condiçã o (elemento acidental do
negócio) hipoteticamente se verificar. Do mesmo modo, “ não se trata [na con-
dição legal] de um elemento constitutivo do pr óprio negócio (factualidade
negociai) e portanto de um requisito da sua existê ncia ou da sua validade.
Trata-se de algo exterior ao negócio, posto apenas como requisito da sua efi-
cácia . Os efeitos do negócio tê m como causa determinante o negócio mesmo.
A condi çã o legal será como a volunt á ria, simples condição tornada indispen-
sável para eles se produzirem ” 136.
Para al é m disso, o facto de o n .9 3 dizer o que acabá mos de mencionar
(“enquanto não for tomada alguma deliberação... ”), no nosso entendimento, tal
não se dirige à pró pria constituiçã o da rela ção de grupo, pois a isso já faz refe -
rê ncia o n.91, de modo que, sob pena de redund â ncia, se o grupo se forma
por força da lei, é óbvio que, enquanto não se realizar a AG para ser tomada
qualquer uma das deliberações, já haver á uma relação de grupo, se bem que
condicionada . De facto, o n .9 3 diz mais: “enquanto n ã o for tomada alguma
delibera ção, a sociedade dependente considera-se em rela ção de grupo com
a sociedade dominante e n ão se dissolve, ainda que tenha apenas um sócio \ Esta-
remos, a í, no per íodo de tempo em que o dom í nio total existe facticamente
mas está condicionado à tomada de posição dos sócios pela sua continuidade
(ou seja, estamos na pendência da condição), sendo que, enquanto não se rea-
156
MANUEL DE ANDRADE , Teoria Geral..., cit., p. 359 s., n . 2.
503
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
lizar a AG , obviamente que não se saber á qual ir á ser a sua vontade (se pela
manutençã o ou pela extin çã o do grupo), da í que o legislador pode [apenas]
ter querido acautelar possíveis pedidos de dissolu çã o. Com efeito, embora a
unipessoalidade (irregular) só possa determinar a dissolu ção se se verificar
por período superior a 1 ano - cf. art. 142.-/1, à) -, na prá tica pode-se verificar
que a AG prevista no art. 489.Q/ 2, não obstante dever ser convocada num prazo
de 6 meses157, já seja realizada passado 1 ano, pelo que, não fosse a excepçã o
do n.Q 3 do art. 489.9, e aplicar-se-ia a al. a) do n.Q 1 do art. 142.Q, motivando a
dissolução da sociedade dominada. Assim , é este o efeito ú til da norma: é por
se considerar em relação de grupo (duradoura/mantida - no caso da delibera-
çã o da al . c) do n .9 2 já ter sido tomada - ou sob condiçã o - enquanto n ã o for
tomada qualquer delibera çã o) com a sua dominante que a sociedade depen-
dente não se pode dissolver, dado que n ã o lhe será aplicável o regime geral
da unipessoalidade, o qual , podendo originar a sua dissolu ção, inviabilizaria
a continua çã o do grupo158.
Acresce que, se a sociedade dominante tivesse adquirido a participaçã o
totalit á ria de uma sociedade que já era unipessoal h á 4, 5 meses ou mais (sem
se tratar de uma situação anterior de grupo por dom í nio total ou de outra
forma de unipessoalidade duradoura, mas antes de unipessoalidade superve-
niente transitória , irregular), tal poderia, se n ão fosse o disposto no art. 489.9/3,
fazer com que a sociedade dominada fosse dissolvida enquanto n ã o fosse
realizada a AG do art. 489.Q/ 2 (o que inviabilizaria a continua çã o do grupo
constitu ído facticamente, nos termos do 489.9/ l), uma vez que estar íamos
numa situa çã o de unipessoalidade por per íodo superior a um ano, o que, por
isso, permitiria o pedido de dissolu çã o administrativa nos termos do referido
art. 142.9/1, al . a). Assim , a estipula çã o do art. 489.9/3 permite afastar uma das
consequências do regime geral da unipessoalidade, constituindo uma espe-
cialidade relativamente ao mesmo, i.e., prevalecendo sobre ele.
Assim, para se retirar um sentido ú til do art. 489.9/3, ele deverá ser lido
na sua globalidade: “ tomada a deliberaçã o prevista na al í nea c) do n ú mero
157
Note-se que a lei manda a sociedade dominante “convocar ” (e n ã o “ realizar ” ) a AG nos 6
meses seguintes à verifica çã o da situação de unipessoalidade. Assim , a realiza ção desta pode
acontecer para l á desse prazo.
158
Com conclusã o semelhante a esta (embora n ão nos fundamentos), M . AUGUSTA FRAN ç A,
cit., p. 144.
504
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
159
Cf. CARLOS MOTA PINTO, cit., p. 574.
160
PEDRO PAIS VASCONCELOS, “Constituição dc Grupo...”, cit. pp. 35 ss..
505
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
161
Idem, p. 45.
162
MANUEL DE ANDRADE , Teoria Geral ..., cit., p. 359, nota 2.
163
Cfr., v.g., PEDRO PAIS VASCONCELOS, “Constitui ção de Grupo...”, cit . pp. 43-44.
506
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
507
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
164
Quanto à s instru ções vinculantes, tal parece mesmo decorrer da pró pria lei que [só]
possibilita que a dominante as emane à sua dominada “a partir da publica çã o do registo
da delibera ção do art. 489.-/ 2/, c)” - art. 503.e/ l , parte inicial , ex vi 491.Q. Assim , ENGR áCIA
ANTUNES, OS Direitos..., cit., p. 64.
508
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
a situa çã o de “ limbo ” em que o grupo estaria colocado pela pend ê ncia “ad
eternum ” da condiçã o.
Destarte, sem efeitos, n ã o haver á qualquer retroactividade dos mesmos.
Mas, quanto à delibera ção que provoca a extinção do dom í nio total, já se pode
dizer que ela retroage ao momento em que o grupo se constituiu por força da
lei165: ao fazer com que os efeitos jur ídicos definitivos n ão se cheguem a pro-
duzir, o pró prio grupo formado de facto n ão se chega a converter num grupo
de direito ( para efeitos de aplica ção do regime jur ídico dos grupos por dom í-
nio total: arts. 501.Q a 504.9), extinguindo-se antes de alguma vez o ter sido.
Na realidade, entre o per íodo de detençã o de 100% do capital e a tomada
de qualquer uma das delibera ções extintivas do grupo, o dom í nio total
nunca chegou a ser mais do que uma situaçã o de unipessoalidade superve-
niente transitória166 especial ( porque a sociedade com sócio ú nico n ão pode-
ria ser dissolvida durante o per íodo da pend ê ncia da condiçã o, nos termos do
art. 489.9/3, o qual prevalece sobre o art. 142.9/1, al. a), e poderia ter-se conver-
tido em duradoura caso se verificasse a condiçã o), da í pensarmos que, como
forma de tutela dos credores da sociedade controlada durante esse per íodo,
poderia ser aplicada a responsabilidade do sócio ú nico no caso de insolvên -
cia desta sociedade (art . 84.Q) após a n ã o verifica ção do evento condicional
(verificando-se os pressupostos dessa norma167, claro).
Realmente, o art. 84.9 parece uma forma de tutela razoável , dado que
a unipessoalidade, com a nã o verifica çã o da condiçã o, n ã o se prolonga no
tempo, extinguindo-se passados 6 meses (ou pouco mais), situa çã o que n ã o
exigiria que acrescesse um regime espec í fico de tutela para os credores ( p. ex.,
o art. 501.9), os quais, n ão obstante pudessem ser prejudicados pela influ ê ncia
165
Sem se referir a uma condiçã o legal mas invocando a retroactividade da deliberação da
AG : F. PEREIRA COELHO, cit., p. 43 s., n . 105.
160 V
. uma breve descri çã o sobre a unipessoalidade transitó ria em PEDRO MAIA/A . PINTO
MONTEIRO, cit., p. 144 s..
167
Embora durante o per íodo mencionado no texto a sociedade dominante ainda n ã o pudesse,
juridicamente, emanar instru ções vinculantes à sua dominada (v. n . 164), nada impede que,
na prá tica , elas tenham sido dadas e acatadas, pelo que, v.g., o patrim ó nio da dominada pode
ter sido fragilizado ou ter havido uma confusão patrimonial sociedade-sócio, situa ções aptas
a ter desencadeado a insolvência da dominada, permitindo a aplica çã o da responsabilidade do
art. 84 " por, durante aquele per íodo , não serem observados os preceitos da lei que estabele -
cem a afecta çã o do patrim ó nio desta sociedade ao cumprimento das respectivas obriga ções
perante os seus credores.
509
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
dominante, pela direcçã o unit á ria n ã o o poderiam ser, dado que as instru-
ções vinculantes apenas podem ser dadas após a publica ção da delibera ção
da al. c) do n9 2 do art. 489.9 (art. 503.9/ l, parte inicial, ex vi 491.9). Para alé m
disso, o art. 481.9/ 2, al. c) acaba por defender uma situação semelhante para
uma hipótese que tem algumas analogias com o que tratamos: à sociedade
com sede no estrangeiro que seja considerada dominante de uma sociedade
Portuguesa também se aplica o art . 84.9. Contudo, no caso de se verificar uma
situa çã o de grupo de facto qualificado pendente condicione, sempre se poderá
admitir o recurso a soluções excepcionalmente tuteladoras dos credores da
sociedade dominada durante aquele per íodo (v. n . 35).
Perante os fundamentos legais apresentados, propendemos, em conclu-
são, para um nascimento ope legis condicionado da relação de grupo por
dom í nio total superveniente , no qual teriam de se verificar, no â mbito de
um processo de formação com efeitos jurídicos diferidos, sequencialmente , duas
fases: 1.-) a deten ção (directa ou indirecta) de uma participa ção social tota-
lit á ria (cumpridos os restantes requisitos relativos aos sujeitos); 2.-) os sócios
da sociedade dominante tomarem em AG a delibera ção da al. c) do n .9 2 do
art. 489.9. Na l - fase, estariam já verificados todos os pressupostos para o grupo
estar constitu ído. No entanto, os seus efeitos estariam suspensos até que se
verificasse a 2.- fase ( i.e., se preenchesse a condição, pressuposto legal de efi-
cácia), momento a partir do qual o grupo passaria a produzir os seus efeitos.
168
ENGR áCIA ANTUNES ( OsDireitos..., cit.) embora, por um lado, aponte neste sentido ( p. 62),
por outro, considera que o art . 489.9/3 deve ser interpretado restritivamente , para se adequar
à sua ratio legis ( pp. 63-68).
510
A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
De facto, se a aplica çã o dos efeitos do dom í nio total (y.g , arts. 501.Q, 502.Q)
se desse logo após a constituiçã o ope legis ào grupo, tal poderia traduzir-se, no
limite, na assunção de pesados encargos financeiros para a sociedade domi-
nante ( basta pensar-se que esta [também] responde pelas obriga ções anterio-
res ao grupo, sem ter oportunidade de previamente as conhecer, pelo que se
tivesse adquirido a participação totalit á ria de uma sociedade altamente endi -
vidada, tal poderia vir a traduzir-se num risco de insolvê ncia para a pró pria
dominante, e se esta já integrar um grupo, igualmente para este no seu todo170)
e que não se extinguiriam mesmo que os sócios desta viessem a decidir pelo
termo do grupo na AG do art. 489.9/ 2. Portanto, mesmo que ainda n ã o tives-
sem nada a ver com a forma çã o do grupo, os sócios da sociedade dominante
j á poderiam começar a ver os seus dividendos diminu ídos, os quais seriam
mediatamente influenciados pelas consequ ê ncias nefastas que esses encar-
gos provocariam no património da sociedade onde eram sócios: a sociedade
dominante. E tê m estas consequê ncias sem sequer terem dado - em princí-
pio - o seu assentimento a uma transforma ção t ão importante na actividade
e funcionamento da sociedade de que são sócios (com repercussões inevit á-
veis para eles mesmos), como seja a passagem de uma empresa individual a
uma empresa plurissocietá ria. Efectivamente, quem decide sobre a forma ção
do grupo171 é o colégio de administradores da sociedade dominante (SA ou
SCA) e n ã o os seus sócios, uma vez que a aquisição de participa ções sociais
169
Mas a sobreposição ainda se manteria quanto ao seu funcionamento: v. ENGR áCIA ANTU-
NES, Os Grupos ..., cit., pp. 148-150.
170
Insolvê ncia, essa , que, atendendo ao “efeito pirâ mide ” do capital social da sociedade-
-mãe - com o mesmo capital a ser utilizado de forma artificial como garantia de crédito, e n ã o
só, para as vá rias sociedades do grupo, o que necessariamente dilui o seu valor de garantia
para os credores -, pode n ã o ser assim t ã o dif ícil de acontecer. Cf. ENGR áCIA ANTUNES,
Os Grupos..., pp. 151-154.
171
Cf. n . 35, na parte atinente à autonomia da vontade na constituiçã o dos grupos.
511
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
noutra sociedade (mesmo da totalidade) configura uma maté ria de gest ão,
sendo que estas mat é rias, nos termos do proé mio do art. 406.9, conjugado
com os arts. 405.9/ l e 373.2/3 - para as SCA , ex vi 478.9 -, competem ao con-
selho de administra ção.172
Pelo contrá rio, como mediante a constituição ope legis condicionada do
grupo por dom í nio total superveniente os efeitos deste ( maxime, o art. 501 °
e o art. 503.9) só se produzem com o preenchimento da condi çã o legal pre-
sente no n.91, “ in fine”, do art. 489.9 (em conjuga ção com os seus n.9s 2 e 3,
de acordo com a interpreta çã o perfilhada supra), tal permite uma minimi-
zação das consequê ncias nefastas que poderiam derivar da sobreposição dos
poderes dos administradores sobre os dos sócios, no sentido em que passam
a ser os sócios a ter a ú ltima palavra sobre a manutenção ou nã o do grupo que
se formou condicionalmente com a aquisi ção da titularidade da participação
totalit á ria, aquisi ção essa determinada (em princípio) pela vontade do órgã o
de administração.
Os sócios da sociedade dominante tê m que ter direito a decidir de forma
ponderada sobre o destino a dar ao grupo que se formou de forma condi-
cionada , o que só poder á acontecer se o grupo ainda n ão tiver produzido
os seus efeitos (só assim poder ão ter todas as informa ções que reputem por
convenientes para poder avaliar as consequ ê ncias e as vantagens da conti-
nua ção ou n ão do grupo). De facto, se no momento em que a AG prevista no
n.9 2 do art. 489.9 se realizasse os efeitos do grupo j á se tivessem começado
a produzir, de que serviria a lei expressamente exigir a convocaçã o de uma
AG para os sócios decidirem sobre os destinos a dar ao grupo (manutençã o
ou extinção) se podiam tomar tal decisão quando o entendessem, no â mbito
de uma AG ordiná ria ou extraordiná ria , nos termos gerais? Daí que a previ-
são legal expressa de uma AG com uma ordem de trabalhos espec í fica , para
tomar uma das três delibera ções previstas nas al í neas do n .9 2, configura uma
172
Dissemos acima “em princí pio” porque quando a sociedade- m ãe seja uma SQisto já n ã o
ser á t ão l íquido, uma vez que, se os estatutos da sociedade n ã o dispuserem diversamente, a
aquisição de participa ções sociais noutras sociedades é uma das competê ncias supletivas da
AG (art . 246.9/ 2, d )). Mas esta ú ltima situaçã o trata-se da excepçã o e n ã o da regra, pois no
caso das SA e SCA j á n ão ser á assim e , para alé m disso, mesmo nas SQ, a competê ncia para
adquirir participações pode n ão deixar de recair sobre os gerentes, desde que o contrato de
sociedade assim o disponha (cf. arts. 259.9 e 246.Q/ 2, d) a contrario).
512
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
1 '
PEDRO PAIS VASCONCELOS, “Constituição de Grupo...”, c/í., pp. 44-45.
174
Em sentido contrá rio: PEDRO PAIS VASCONCELOS, “Constituição de Grupo...”, c/í., p. 47.
513
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
l 7S
Assim , ENGR á CI A ANTUNES, OS Direitos..., cit., p. 64.
514
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
dade dominada , a não ser que a dominante optasse pela dissolução daquela ,
podendo, ainda assim , continuar a ser pagos à custa do património liqui-
dat á rio que tivesse activo social suficiente (cf. arts. 146.9/1 e 154.9/1 - mas
art. 153.9/1). Isto tudo sem que houvesse raz ã o para tal, dado que o risco de
diminuição patrimonial da sociedade dominada que é produzido com a ema-
na çã o de instruções vinculantes desvantajosas, com a ausê ncia destas, nunca
chegou a existir, pelo que os credores nem sequer poderiam ter visto a garan-
tia geral dos seus créditos amea çada (cf. Cap. II, 2.1.1.).
Ao invés, de acordo com a forma çã o ope legis condicionada do grupo por
dom í nio total superveniente, a sociedade-filha e os seus credores não alcan-
çar ã o protecçã o por intermédio do art . 501.Q na pend ê ncia da condiçã o legal
(enquanto não for deliberada a manutenção do grupo) porque, em bom rigor,
como vimos, n ã o a necessitam , uma vez que inexiste durante esse per íodo o
fundamento da responsabilidade contida nesse normativo: as instruções vin -
culantes emitidas pela sociedade dominante à sociedade dominada, particu-
larmente as desvantajosas ou prejudiciais. Consequentemente, a sociedade
dominante e os sujeitos envolventes (em especial, os seus credores) estarão
protegidos pela não aplicação do art. 501.9, i.e., pelo facto desta sociedade não
responder com o seu património perante os credores da sociedade dominada.
iii) Em terceiro lugar, a formação dosgrupos por domínio total passa a estar mais
aproximada do regime de constituição dos grupos por contrato de subordinação
(e mesmo da fusão)'76 .
176
Idem , Os Direitos..., cit., p. 65 s..
515
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
art. 501.Q/1), noutros, após a publica ção do registo por depósito desse contrato
(cf. art. 498.Q e 503.s l, parte inicial).
/
Sendo aplicável ao dom í nio total e ao contrato de subordina çã o pratica-
-
mente o mesmo regime jur ídico (arts. 501.Q 504.Q - v. n . 50), convimos que
quanto mais aproximado for o momento em que esse regime começa a pro -
duzir os seus efeitos melhor, se mais razões n ão houvesse, por uma quest ão de
igualdade em si (i.e., pelo facto dos regimes, como o legislador o demonstrou
com a norma remissiva do art. 491.Q, deverem ter uma aplicação nos mesmos
termos), mas h á outras razões, como j á vimos acima , e é sobretudo por essas
que se pode dizer que a aproxima ção, no que toca ao momento do in ício dos
efeitos dos dois grupos, configurará uma quest ã o de Justiça: só assim se con-
seguirão evitar eventuais preju í zos calamitosos para a sociedade dominante
e, indirectamente , para os seus sócios e credores.
De outra banda , para os sócios da sociedade dominante poderem fazer
uma melhor avalia çã o sobre os riscos da explora çã o empresarial na forma
de grupo, deverão ser dotados na AG , no â mbito do direito à informação (cf.
arts. 214.Q, 288.Q ss., 478.Q), de todos os elementos informativos necessá rios
(y.g., através de relat ório que indique a situa çã o patrimonial da sociedade
totalmente dominada , o seu passivo social , posição de mercado, etc.)17", no
fundo, algo que se aproxime dos elementos que constam de um projecto de
contrato de subordina çã o (art. 495.9 - cujos elementos presentes nas al í neas
dessa norma n ã o sã o taxativos: cf. proémio do artigo), para que viessem a
tomar uma decisão ponderada sobre os destinos do grupo formado factica-
mente. E , n ã o obstante os receios que possam ser fundamentados nos efeitos
desvantajosos que ocorrem com uma relação de grupo (maxime, os arts. 501.Q
e 502.Q) - que podem desencadear mais frequentemente a delibera çã o de
venda de participações em montante suficiente para terminar o grupo, mas,
ainda assim (quando o endividamento da dominada nã o for preocupante e a
ligação a esta seja expectavelmente proveitosa para a dominante), manter um
n ú mero de participações que permita a existê ncia de uma rela çã o de simples
dom í nio (art. 486 °), onde esses efeitos n ão se aplicam -, uma boa informa-
ção sobre as potencialidades do grupo pode, inclusivamente, fazer os sócios
ter uma opçã o pela sua manutençã o, uma vez que a possibilidade de emissã o
177
Cf. Idem , Os Grupos..., cit., p. 865 s., n. 1702.
516
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
178
Assim, Idem , Os Grupos..., cit., p. 864.
517
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
Todavia , mesmo que fosse a constituição do grupo a ter que ser registada -
mas n ã o é é um facto que o art. 168.Q/1 confere, na 1- parte, a possibilidade
de prevalê ncia por parte de terceiros quanto a actos que tenham registo e
publica ção obrigatórios, mas depois ressalva essa possibilidade no caso de “a
lei privar esses actos de todos os efeitos”, sendo que já vimos que o dom í nio
total n ão produz os seus efeitos entre a forma ção do grupo e a verifica ção da
condi çã o legal , e um dos seus efeitos é a responsabilidade do art. 501 °, pelo
que, por isso, esta não poderá ser activada durante esse per íodo.
Resta-nos, ent ã o - em segundo lugar -, averiguar da possibilidade dos
credores poderem activar a responsabilidade após a tomada da deliberação
mas antes dela ser registada e publicada . Antes de mais, embora o legislador,
no art . 489.-/Ó, diga apenas que é a delibera ção da al. c) do n.9 2, bem como o
termo da rela çã o de grupo que estão sujeitos a registo obrigatório (nos termos
dos arts. 3 °/ l , u), 15.-/1 e 70.-/1, a) do CRCom), como as deliberações das ais.
a) e b) do n 9 2, conjugadas, respectivamente, com as ais. b) e c) do n .9 4, pro-
vocam o termo da rela ção de grupo, as mesmas (essas delibera ções) acabam
por constituir factos que conduzem ao termo do dom í nio total, pelo que, por
isso, terã o de ser registados (esses factos, essas delibera ções) na sequ ê ncia do
termo do grupo por essas vias. Portanto, a poderem os credores prevalecer-se
da responsabilidade do art. 501 °, n ão seria relevante a concreta delibera çã o
que tivesse sido tomada , pois qualquer uma das três acabaria por ter de vir a
ser registada , directa ou indirectamente. No entanto, se não verificada a condi-
ção legal ( i.e., se tomada a delibera çã o da al. a) ou da al. b) ) , a rela ção de grupo
nã o chegará a produzir efeitos, logo os eventuais credores da sociedade dominada
não podem fazer-se valer da responsabilidade do art. 501 ° se esta nunca chegou
a nascer.
Por outro lado, contrariamente ao dom í nio total inicial, em que o registo
do contrato de que fal á mos supra tem efeitos constitutivos da pró pria rela-
çã o de grupo, no dom í nio total superveniente, o registo da delibera çã o de
“manutenção da situa çã o existente” tomada na AG que o art. 489.9/ 2 manda
convocar, acaba por não ter efeitos constitutivos desta rela çã o de grupo, pelo
que de acordo com o art. 168 °/ l, 1- parte, já citado, os credores da sociedade
dominada podem prevalecer-se da responsabilidade prevista no art. 5019 após
o momento em que a deliberação da al. c) do n .9 2 do art. 489.9 seja tomada,
ou seja, mesmo antes da publicaçã o do registo desta.
518
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
179
Cf. SOFIA HENRIQUES, C ódigo das Sociedades Comerciais Anotado, Coord . MENEZES CORDEI -
RO, Almedina, 2009, pp. 502-504. À teoria da publicidade (negativa) contrapõe-se a teoria
da compleitude, nos termos da qual os actos sujeitos a registo sã o actos de produ çã o sucessiva
complexa, estando incompletos enquanto n ão forem registados (nã o estando o acto completo,
n ão poderia produzir efeitos em face a terceiros enquanto n ão fosse feito o registo).
180
Cf. SOFIA HENRIQUES, CSC Anotado, cit., p. 504.
519
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
diz que “os factos sujeitos a registo e publicação obrigatória nos termos do
n.9 2 do art . 70.9 do CRCom só produzem efeitos contra terceiros depois da
data da publicaçã o”. O contrato de subordinação est á sujeito a registo e publi-
ca ção obrigatórios, nos termos dos arts. 3.Q/ l/v), 15.-/1 e 70.9/ l, a) do CRCom ,
pelo que os efeitos decorrentes deste contrato (nomeadamente, as instruções
vinculantes) n ão podem produzir efeitos contra terceiros enquanto n ão for
efectuado o seu registo. Só que, à primeira vista , poder íamos pensar que no
caso do direito de emissão de instruções vinculantes não se est á perante uma
situa ção de oponibilidade de efeitos a terceiros, dado que as instru ções cons-
tituem uma rela ção bilateral entre o ente que as emite (directora) e o que as
recebe (subordinada) e, de acordo com a citada teoria da publicidade (negativa), o
acto sujeito a registo é opon ível erga omnes, entre as partes (art. 13.-/1 CRCom).
Só que a quest ão é que a emissão das instru ções vinculantes n ão afecta ape-
nas a sociedade subordinada, ali ás, os principais afectados com essa emissão
(sobretudo se forem desvantajosas) serão terceiros: os credores da sociedade
subordinada que podem ver o património social garante dos seus créditos
diminu ído, justamente, devido a essas instruções. Deste modo, como as ins-
tru ções vinculantes produzem efeitos contra terceiros, afectando-os desfavo-
ravelmente, justifica-se, tendo em conta as regras registrais apresentadas, que
apenas possam começar a ser dadas pela directora à sua subordinada após a
publicação do registo do contrato de subordinação.
No grupo por dom í nio total superveniente, a deliberação social da al. c)
do n.9 2 do art. 489.9, a qual determinou a continua ção do grupo e fez com
que os seus efeitos se produzissem - entre os quais, as instruções vinculantes,
que são um dos efeitos do grupo, pelo que nunca poderiam ser dadas ante -
riormente ao momento em que essa delibera ção é tomada , ou seja, em que
se verifica o pressuposto legal de eficácia do grupo -, també m est á sujeita a
registo e publica ção obrigatórios, de acordo com os arts. 489.9/6 do CSC e os
arts. 3.-/1/ u), 15.9/1 e 70.9/ l , a) do CRCom , pelo que os argumentos acabados
de expor relativamente ao contrato de subordina ção també m valem , “ muta-
tis mutandis”, para a relaçã o de grupo por dom í nio total, da í que igualmente
seja defensável que a sociedade dominante só possa emitir instruções vincu-
lantes à sua dominada após a publicação do registo da deliberação social de manu-
tenção do grupo (art. 4899/2, al. a)), portanto, “mutatis mutandis”, nos termos
do art. 503.9/ l, parte inicial, exvi do art. 491.9.
520
A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
Embora a lei se refira a “obrigações” (cf. art. 501 "/1), apenas de uma respon-
sabilidade por dívidas se tratar á182. Efectivamente, a sociedade dominante ape-
,
nas cumprir á prestações fungíveis 8\ normalmente traduzidas em dinheiro.184
521
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
185
V. ANTUNES VARELA, Das Obriga ções..., I, cit., pp. 845 ss..
186
Cf. JANUá RIO GOMES, Assunção..., cit., p. 292 s..
187
Cf. MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...”, cit., p. 102, n . 47.
188
També m assim , JANUá RIO GOMES, “A sociedade...” cit., p. 879.
189
Liem , Assunção..., cit., p. 295.
190
També m neste sentido: v.g., MENEZES CORDEIRO, O Levantamento..., cit., p. 81; “A respon -
sabilidade...”, cit., p. 103; ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 802. Ora, é irrelevante que
a d ívida derive de responsabilidade civil contratual ou extra - contratual. A d í vida també m
.
n ã o tem de ser forçosamente do dom í nio civil /comercial , poderá , v.g , tratar-se de uma d ívida
522
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
terceiros a limita ção do seu objecto social 191 (arts. 260 °/ 2 e 409.9/2, 478.Q), e
assim n ã o ficar vinculada 192; mas, a í, estaremos perante uma quest ão de ale-
gação de meios de defesa, neste caso, pró prios da sociedade dominada (que
já vimos poderem aproveitar à dominante) e n ão de irresponsabilidade em
virtude da fonte da obrigação.
No entanto, talvez seja de excluir a responsabiliza ção da sociedade domi-
nante, [apenas] ao abrigo do art. 501 °, por multas ou coimas que tenham sido
cominadas à sociedade dominada, respectivamente, no â mbito de responsa-
bilidade penal ou responsabilidade contra-ordenacional 193, uma vez que, de
acordo com os princípios dos respectivos dom í nios jur ídicos, qualquer uma
destas responsabilidades assume uma natureza pessoal e intransmissível194.
tributá ria ou laborai (contudo, no dom í nio do direito fiscal e do direito do trabalho, existem
já normas especí ficas responsabilizantes: cf. arts. 115.- do CIRC e 334.° e 101.-/1 e 3 do CT
(v., sucintamente, em ANA RITA ANDRADE , A Responsabilidade da Sociedade Totalmente Domi-
nante, cit., pp. 25-29, uma abordagem sobre as normas destes dois outros dom í nios jur ídicos.
Sobre os arts, do CT, embora com numera çã o do Código entretanto revogado, vide MARIA
RAMALHO, Grupos Empresariais..., cit , pp. 621-644).
191
Sobre os actos que nã o respeitam o objecto social , v. A. SOVERAL MARTINS, OS Poderes
de Representaçã o dos Administradores de Sociedades An ó nimas”, BFDUC , Coimbra Ed.,
1998, pp. 281 ss..
192
Assim , CARVALHO FERNANDES/JOãO LABAREDA, cit., p. 27 s., n . 21.
193
Ibidem.
194
Cf., embora noutro â mbito, o Ac. do TRL de 21-11-12 (José Sapateiro), proc. 670/11.4TTALM.
Ll 4. -
195
Cf o Ac. do STJ de 23- 01-96 (Lopes Pinto), proc. 087747.
523
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
196
Cf. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 804.
197
Assim , CARVALHO FERNANDES/ JOã O LABAREDA , cit., p. 23.
524
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
subordina ção (art. 495.9), não nos parece que as contas e, em geral, a situa ção
obrigacional e patrimonial da subordinada não fossem um deles, da í que a
directora - antes de o ser -, dispôs, em princípio, de todos os elementos que
tenha achado convenientes para poder efectuar uma cuidadosa aná lise dos
efeitos do grupo antes de firmar o contrato de subordinação. Por isso, se teve
conhecimento das d ívidas anteriores da sua subordinada e, mesmo assim ,
aceitou celebrar o contrato de subordinaçã o, pode-se dizer que est á a “assu-
mir ” os riscos que isso envolve, sendo que já sabia, de antem ã o, que um deles
seria a responsabilidade por essas d ívidas. Ainda assim , se algum v ício escon-
dido (que nã o lhe fosse exigível conhecer) lhe escapou , poderá sempre pedir
a anula çã o do contrato de subordina çã o nos termos gerais, o que ter á efeitos
retroactivos e, por isso, fará cessar a responsabilidade.198
Ora , no caso do dom í nio total superveniente, se se considerasse que o
grupo começa a produzir efeitos logo no momento em que a sociedade domi-
nante concentra a totalidade do capital social da sociedade dominada , em
princípio, nenhuma possibilidade haveria da primeira ter conhecimento sobre
as d ívidas (da segunda) que a esperariam (y.g., a n ã o ser que a dominada , antes
de o ser, a tivesse informado sobre a sua real situa ção), da í que, por compara-
ção com o contrato de subordinação, seja injusta a aplica çã o de uma respon-
sabilidade t ão abrangente - v., supra, 1.3., I , b).
MENEZES CORDEIRO, embora considerando que a letra do art. 489.-/ S
aponta nesse sentido199, reconhece a situa çã o de injusti ça que da í advé m 200,
pelo que chega a pô r a hipótese de uma redução teleológica parcial desse
preceito no sentido de a sociedade dominante n ã o responder pelas obriga-
ções anteriores da sua dominada, quando, de boa fé , nã o as conhecesse (nem
pudesse conhecer) 201. Contudo, perante o valor de segurança subjacente ao
art. 501.Q (que se sobrepõe às concepções de justiça), acaba por preferir que
essa situa çã o apenas possa acontecer em sede ú ltima de abuso de direito202.
198
Tb. assim, MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...”, cit., p. 107.
199
Idem , p. 103.
200
Idem, p. 108.
201
Ibidem.
202
Ibidem. Até porque para o Autor - como veremos infra (3. e B.) - a sociedade dominante
tem sempre a ú ltima escapató ria de desfazer o grupo nos 30 dias seguintes à sua forma çã o
fáctica e, assim , n ão responder pelas obrigações anteriores por faltar um dos pressupostos
de activação da responsabilidade - v. Idem, pp. 108-110.
525
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
203
Cf. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 804 s., n . 1573.
526
A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
204
Idem , Os Grupos..., cit., p. 803.
205 Tb. assim: M . Fá TIMA RIBEIRO, cit., p. 417 s., n . 97.
527
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
Ora, j á vimos que estes pressupostos evidenciam aquilo que pode ser ape-
lidado de subsidiariedade média: ao incumprimento do devedor inicial (domi-
nada) é acrescido o requisito do decurso de um prazo, o qual, só depois de
esgotado, faz com que a d ívida possa ser exigida ao devedor secund á rio: a
sociedade dominante.
Para MENEZES CORDEIRO208, este prazo de 30 dias não se pode verificar
apenas para as d ívidas constitu ídas durante o dom í nio total , sob pena de: i)
a responsabilidade pelas d ívidas anteriores correr o risco de ser imediata e
nã o subsidi á ria; ii) para alé m de que esse per íodo tem claramente a intenção
de permitir que a devedora principal - dominada - pague a d ívida ao credor,
da í que, se não se aplicasse à s obrigações anteriores, tal já não seria possibi-
litado. Deste modo, mesmo que a sociedade dominada já tenha atingido ou
ultrapassado os 30 dias de mora em relação a d ívidas anteriores, para o cre-
dor poder activar a responsabilidade do art . 501.Q relativamente a essas d ívi-
das, ter á de aguardar que se tenha esgotado um [novo] lapso temporal de 30
dias - sem preju í zo de, durante o mesmo, se continuarem a contar os juros
de mora e outros encargos209.
Como a interpreta ção do art. 489.° que apresent á mos supra aproxima o
dom í nio total do contrato de subordina ção - nomeadamente em relação ao
conhecimento das d ívidas anteriores -, a tese do AUTOR não terá, para nós,
206
V. ENGRáCIA ANTUNES, Os Grupos..., cit., p. 811. Atendendo que o que tem de ser cumprido
pela dominante será um d ébito fung ível (d ívida), as mais das vezes estaremos perante uma
situa çã o de mora (uma vez que o pagamento da d í vida , em princ í pio, ainda continua pos-
sível : cf. art. 804.s/ 2 CC), mas n ão é de descurar o incumprimento definitivo (cm vitude do
art. 808.8/ l, 2- parte) e mesmo o cumprimento defeituoso (desde que se considere que , v.g.,
o pagamento parcial da d ívida é uma forma defeituosa de cumprimento).
207
Sobre a constituiçã o cm mora, v. Idem , Os Grupos..., cit., p. 809 s..
208
MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...” cit., p. 107 s..
209
Ibidem.
528
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
210
Cf. n . 202.
211
Cf. MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...”, cit., p. 107.
212
Assim , ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 807, n . 1578. Em rigor, estamos perante um
termo impró prio ( legal ) , suspensivo e certo sobre a activação da responsabilidade: a lei (art. 501.-/ 2)
estipulou um momento a partir do qual o credor passa a poder exercitar a responsabilidade:
o decurso de um prazo de , pelo menos, 30 dias sobre a constituição em mora da sociedade
dominada (e de acordo com o que defendemos no texto, igualmente 30 dias sobre o momento
em que o grupo começa a produzir os seus efeitos, se a d ívida for anterior a esse momento).
Portanto, é certo que, se não decorrerem , pelo menos, estes 30 dias estipulados no interesse
da sociedade totalmente dominante, a responsabilidade não poderá ser activada, i.e., os seus
efeitos estarã o suspensos , sendo que n ão chegarão a produzir-se, de todo (a responsabilidade
n ão chegar á a nascer), caso, antes desse prazo (termo) se esgotar, se verificar que algum dos
outros pressupostos de que depende a activa çã o da responsabilidade deixou de existir, no-
meadamente a rela ção de grupo por dom í nio total terminar ( p. ex., pelo art . 4899/4) e/ou a
d ívida que a dominada constituiu e sobre a qual j á estava cm mora , por alguma raz ã o ( p. ex., o
sucesso de um meio de defesa peremptó rio extintivo) , tenha desaparecido. V. as modalidades
do termo em CARLOS MOTA PINTO, Teoria Geral..., cit ., pp. 578-580.
529
TIAGO DANIEL MENDES PL Á CIDO
Enquanto não estiver preenchido o pressuposto do decurso dos 30 dias sobre o ini -
cio da eficácia do grupo ou sobre a mora (nos termos que acabá mos de expor em
A., 3.), mesmo que já estejam verificados todos os outros pressupostos, n ão
pode o credor exigir o cumprimento da d ívida à sociedade dominante. Se,
entretanto, antes de decorridos os 30 dias , qualquer um dos outros pressu-
postos cessar, a conclusã o só pode ser uma: a responsabilidade n ã o pode ser
activada. Veja-se:
Em primeiro lugar, como é compreensível , se a mora cessar antes dos 30 dias
se esgotarem (y.g., a dominada cumpriu ou extinguiu a d ívida pelos demais
meios possíveis; invocou a exceptio non adiplenti contractus; provou que a mora
adveio de facto superveniente que n ão lhe era imput ável; etc.), falha um dos
requisitos e, portanto, a responsabilidade (não se tendo, sequer, constitu ído)
nã o se poderá dar; pelo menos, enquanto - no caso de cessar a mora mas n ã o
se ter extinguido a d ívida - não começar a decorrer novo prazo que atinja, no
m í nimo, 30 dias e, desde que, nesse momento se verifiquem todos os demais
requisitos.
Em segundo lugar, é a pró pria dívida que se pode extinguir durante o decurso
dos 30 dias (y.g., pela excepção de não existê ncia de crédito; pela excepçã o
de prescrição; pelo cumprimento ou outra causa de extinçã o al ém dele; etc.).
Aqui, faltando o próprio objecto da responsabilidade, ainda será mais evidente
a impossibilidade da sua activa çã o. Assim també m se passa com a fiança (cf.
art. 651.9 CC).
Perante isto, constatamos já que o art. 501.9 n ã o é nenhum “ remédio
absoluto” 214, ele pretende que a resolução da situa ção seja feita primordial-
mente entre a dominada (devedora principal ) e o credor - mesmo que para
tal seja necessá rio um “empurr ão” da dominante por interm édio de instru-
ções vinculantes à dominada nesse sentido (obviamente que a norma n ão
o diz , mas, pelo menos, é-nos legítimo pensar que tal possibilidade h á-de
ter passado pela mente do legislador) -, em linha , ali á s, com a dose sufi-
213
Acompanharemos de perto o pensamento de MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...”,
cit ., p. 109 s..
214
Cf. Idem, p. 110.
530
A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
215
Cf. pt. 2.2.2. deste Capítulo.
2 lf> Todavia , n ão foi este o entendimento no Ac. do STJ de 31-05-05 - cf n . 81.
2I~
MENEZES CORDEIRO, “A responsabilidade...”, cit., p. 110.
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218
Cf. ibidem.
219
Contra , novamente, o Ac. do STJ de 31-05-05 - cf. n. 81.
220
E o facto de ter sido dissolvida , n ão é impeditivo dos credores satisfazerem os seus créditos
com o património liquidatá rio da antiga dominada que tenha activo social suficiente (cf. arts.
146.Q/1 e 154.Q/1) . Mas não o tendo, e se isso se dever a instru ções ruinosas da dominante, ent ão,
mais uma vez , poderia o credor usar a vá lvula de seguran ça do abuso de direito.
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A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
do grupo (ou do registo deste facto)? Cremos que sim. Aqui a situa ção é bem
diferente: o preenchimento do lapso temporal de 30 dias, acompanhado da
verifica ção dos demais pressupostos, faz nascer a responsabilidade, com ple-
nos efeitos. Parece-nos que, nestas condições, a conjuga ção do n.9 1 e do n .9 2,
ambos do art. 501.9, nã o nega a possibilidade de activa ção da responsabilidade
após a extinçã o do grupo, contrariamente ao que se passa em rela ção à ces-
sa çã o de qualquer um dos pressupostos antes de se esgotar o per íodo de 30
dias; a lei é clara: verificados os pressupostos, a sociedade dominante e res-
U !
ponsá vel... pelas obrigações constituídas... até ao termo" do grupo, mas “a respon -
sabilidade não pode ser exigida antes de decorridos 30 dias”, pelo que podemos
dizer que, estando cumpridos todos os outros requisitos, só se esse prazo n ão
se verificar é que a sociedade não chega a ser “ responsável ”.
Se assim n ã o fosse , bastaria à sociedade cessar o grupo, em qualquer
momento, para se livrar de praticamente todas as responsabilidades (apenas
se sujeitaria aos cumprimentos que já tivessem sido pedidos).
Para além disso, o termo do grupo est á na disponibilidade da sociedade
dominante (que pode determinar o seu se e quando, da í que não seria justo
fazer recair essa incerteza sobre os credores), ao passo que o efeito suspen-
sivo do per íodo de 30 dias é do conhecimento geral dos credores, que sabem
que enquanto (e se) esse prazo n ão se esgotar n ão lhes adianta intimar a socie-
dade dominante a cumprir.
Concluindo: entendemos que o credor - atendendo às normas materiais
- só poder á activar a responsabilidade durante a vigê ncia do grupo se, esgotado
o prazo a que alude o art. 501.9/ 2, se verificarem todos os pressupostos no
momento da activa ção. Para poder activar a responsabilidade para lá do termo do
grupo tem, no específico momento deste termo, de estar igualmente esgotado
aquele prazo e verificados os restantes pressupostos, com a condição adicio-
nal de, no momento em que a activa çã o for feita , embora já n ão se verifique a
relação de grupo, terem de continuar a verificar-se todos os outros requisitos,
nomeadamente o ainda não cumprimento da d ívida. Se relevarem as regras
registais, estando preenchidos todos os pressupostos entre o momento do
termo do grupo e o da publicação do seu registo, poder á o credor ( provando-
-se que desconhece o termo ou não se provando que o conhece) ainda activar
a responsabilidade neste per íodo e, inclusivamente, mesmo após essa publi-
ca ção (caso todos os seus pressupostos estivessem verificados no momento
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221
E tal exigê ncia da responsabilidade pode ser feita independentemente de prazo de pres-
cri çã o relativamente à activaçã o desta responsabilidade , relevando os prazos de prescriçã o
de cada uma das d ívidas da sociedade dominada pelas quais a sociedade dominante subsi-
diariamente poderá responder.
222
Cf. ENGR áCIA ANTUNES, OS Grupos..., cit., p. 811 s..
223
Diversamente, CARVALHO FERNANDES/ JOãO LABAREDA, cit., p. 25, n . 19.
224
Assim, ANTUNES VARELA , Das Obriga çõesem Geral, Volume II , Almedina , 1997, p. 488, n . 1.
225
Cf. Idem, p. 486 s..
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A RESPONSABILIDADE POR D Í VIDAS N O DOM Í NIO TOTAL
o in ício as “ regras do jogo”. Talvez també m por isso se possa defender que
a intima çã o seja um ónus para o credor, i.e., após o prazo de 30 dias (depois
do in ício do grupo ou da mora - cf. A., 3), enquanto ele não exercesse a res-
ponsabilidade junto da sociedade dominante, n ã o continuaria a beneficiar
do avolumar dos encargos decorrentes da falta de cumprimento da d ívida;
pois, de outro modo, os juros e danos morat órios poderiam prolongar-se no
tempo por inacçã o do credor que, com o intuito de aumentar o valor total a
receber, poderia atrasar a exigê ncia do cumprimento da d ívida à dominante.
No entanto, nada impede que a intima çã o seja judicial, funcionando como
cita çã o para a acção judicial credit ícia 226. Se, citada, a dominante n ã o vier a
cumprir a d ívida voluntariamente, a acçã o segue com vista a exigir o seu cum-
primento a final (art. 817.9 CC). Quest ão que se pode colocar é se o credor pode
demandar conjuntamente a sociedade dominada e a sociedade dominante.
Em face da já constatada proximidade da responsabilidade com a fian ça , cre-
mos poder aqui mobilizar o art. 64LS CC (com as devidas adapta ções recla-
madas pelo dom í nio total), que permite a demanda conjunta. Aliás, mesmo
que o credor opte por demandar apenas a dominante, nada parece impedir
esta ú ltima de chamar a dominada à demanda , nomeadamente para facilitar
a sua defesa na alegaçã o dos meios de defesa que são próprios da dominada mas
que, numa lógica de acessoriedade, aproveitam à dominante (cf. Cap. Ill , L).
Se, entretanto, após a exigê ncia extra- judicial, ou durante a acção de cum -
primento (ou mesmo depois de ter havido condena ção nesta), a sociedade
dominante satisfizer o credor ( por cumprimento, pagando a d ívida, ou por
qualquer outra causa de extinção além dele: arts. 837 ° ss. CC), tal terá efeito
extintivo em rela çã o à d ívida da dominada e em rela ção à responsabilidade
da dominante perante o credor quanto à concreta d ívida (cf. art. 651.2 CC).
Por outro lado, se o credor dispuser de t ítulo executivo (rectius, “exequ í-
vel ) contra a sociedade dominante (art. 501.Q/3) 22 - v.g., o do art. 703.9/ l, a)
”
226
Deste modo, CARVALHO FERNANDES/ JOãO LABAREDA , cit., pp. 25 (n . 19) e 62 s..
227
A questã o do t ítulo executivo n ã o deixa , contudo, de suscitar perplexidade na doutrina.
JANUá RIO GOMES (“A sociedade...” cit., p. 869 s.) considera que o legislador “acaba por retirar
com a “m ão processual ” do art. 501.8/3 o que dera com a “ m ã o substantiva ” do art. 501.9/1",
pelo que, segundo o Autor, seria preferível a solu ção de permitir a execuçã o contra a domi-
nante com base em t ítulo executivo contra a dominada , mas apenas em rela çã o à s d ívidas
constitu ídas durante a vigê ncia do dom í nio total .
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228
Veja o tema da insolvê ncia dos grupos de sociedades de forma desenvolvida em: ANA
PERESTRELO DE OLIVEIRA , “A insolvê ncia nos grupos de sociedades: notas sobre a consoli-
daçã o patrimonial e a subordinação de créditos intragrupo, R D S I (2009), 4, pp. 995 e ss.,
e CARVALHO FF.RNANDES/JOã O LABAREDA, “ De volta à tem ática da apensa çã o de processos
de insolvê ncia (em especial , a situação das sociedades em rela çã o de dom í nio ou de grupo),
DSR , A 4, vol. 7, Almedina, 2012, pp. 133 ss..
22«;
Cf. A . PERESTRELO OLIVEIRA, Grupos de Sociedades..., cit. p. 602.
f
230
JANUá RIO GOMES, “A sociedade...”, cit., p. 882, n. 48, tem a opiniã o de que, nas relações
internas entre dominante e dominada após o termo do grupo, a poss ível recondu çã o ao regi-
me da fian ç a (e em particular ao direito de sub-roga çã o) requer uma cuidadosa pondera ção.
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A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
Conclusão
A direcçã o unit á ria e a pluralidade jur ídica das sociedades agrupadas torna-
ram a empresa plurissociet á ria - surgida com a expansã o concentracionista
- na alternativa mais lucrativa para a explora çã o da actividade econ ó mica,
só que, em contrapartida , externalizaram os riscos desta. Para os atenuar,
alguns legisladores reconheceram o fenómeno dos grupos societ á rios, como
o nosso, que previu as “Sociedades Coligadas”, regime dedicado à colabora-
ção e ao controlo entre [algumas] sociedades. Nele, destacam-se as normas
sobre os grupos stricto sensu , maxime o regime do contrato de subordina ção,
cujos efeitos mais relevantes (arts. 501.9-504.9) també m se aplicam ao dom í-
nio total, exvi 491.9.
Esta ú ltima rela çã o de grupo traduz duas situa ções de unipessoalidade:
uma origin á ria (art . 488.9) e outra superveniente (art . 489.9). Em ambas
manifestam-se duas formas de controlo: de um lado, o controlo que a socie-
dade dominante, por ser sócia ú nica , pode exercer sobre a AG da dominada ;
do outro, a direcção unit á ria que a administra ção da dominante põe em pr á-
tica ao dar instruções vinculantes (art. 503.9) à administração da dominada.
Da í que este amplo controlo tenha sido contrapesado com a tutela dos sujei-
tos que, à primeira vista, seriam os principais afectados pelo seu exercício.
De facto, com a possibilidade de emissão de instru ções vinculantes desvan-
tajosas à sociedade-filha, a sociedades-m ã e pot ê ncia a diminuiçã o patrimo-
nial daquela e, consequentemente, fragiliza a garantia geral dos seus credores.
Por isso, para proteger os interesses destes, reforçou-se o cumprimento das
obriga ções da dominada através da previsão do art . 501.9, que conté m uma
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A RESPONSABILIDADE POR DIVIDAS NO DOM Í NIO TOTAL
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