Arteterapia e Saúde Mental Psicopatologia Psicossomática
Arteterapia e Saúde Mental Psicopatologia Psicossomática
Arteterapia e Saúde Mental Psicopatologia Psicossomática
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 45
1 ARTETERAPIA: A ARTE COMO INSTRUMENTO NO TRABALHO DO
PSICÓLOGO.
Fonte:www.euvejofloresemvoce.com.br
Fonte:www.namu.com.br
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O autor do trabalho, Raphael Domingues (1912-1979), foi um dos pacientes-
artistas de Engenho de Dentro que participaram de importantes exposições, dentre as
quais uma realizada em 1949, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, cuja
repercussão na imprensa e no meio artístico é examinada por Dionísio (2001). O autor
lembra que, nessa ocasião, o crítico de arte Mário Pedrosa cria o termo arte virgem
para designar os trabalhos dos nove participantes, então pacientes da Dra. Nise da
Silveira. Entre eles, Raphael e Emygdio de Barros (1895-1986) são hoje vistos como
grandes artistas esquizofrênicos.
À parte a discussão sobre a qualidade artística ou não dos trabalhos produzidos
em arteterapia, o importante para o psicólogo é que a atividade expressiva se torne
um instrumento à expressão e à reflexão dos sujeitos. Como atividade terapêutica, o
que aqui se pretende não é propriamente fazer arte, mas sim, exercitar a criatividade,
proporcionar que no fazer criativo se produzam outros modos de objetivação e de
subjetivação. Desse modo, ela pode ser utilizada como recurso no contexto da clínica,
da educação, da comunidade, da saúde pública, das empresas, em intervenções na
área de dificuldades físicas, cognitivas, emocionais e sociais junto a indivíduos,
famílias, grupos sociais e equipes de trabalho. Uma característica comum às terapias
com arte é que, por meio da vivência expressiva, o sujeito pode dar-se conta do que
de fato sente e, durante esse processo, pode verdadeiramente fazer algo que assim
o represente e a ele faça sentido (Andrade, 2000, p.33). Portanto, na arteterapia, o
fazer artístico se constitui como mediação no processo de autoconhecimento e de (re)
significação do sujeito acerca de si próprio e de sua relação com o mundo.
Outro ponto compartilhado entre as diferentes abordagens é o reconhecimento
da função terapêutica inerente à própria atividade artística e diretamente ligada à
criatividade. Para Ostrower, criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a
algo novo, é tanto estruturar quanto comunicar-se, é integrar significados e é transmiti-
los (2004, pp. 9,142). Assim, o sentido da arte como ferramenta para o psicólogo não
se restringe à sua função meramente expressiva, mas amplia-se pelo poder
transformador da arte como ação criadora. E aqui compreendo arte como um
processo de formatividade, ideia desenvolvida pelo filósofo italiano Luigi Pareyson
(1918-1991), que definiu a atividade artística como um formar, cujo resultado é um
ser, uma forma inteiramente nova, pois a arte é um tal fazer que, enquanto faz, inventa
o por fazer e o modo de fazer (1984, p.32).
Na perspectiva histórico-cultural em Psicologia, a atividade criadora é
compreendida como um processo no qual o sujeito reorganiza diversos elementos de
sua experiência, combinando-os de modo diferenciado e, com isso, produzindo o novo
(Vygotski, 1990). Nessa atividade, ele parte do que está dado, do que é conhecido,
reconfigurando em uma nova forma a partir da imaginação, o que culmina na
objetivação do produto da imaginação, a qual, ao materializar-se na realidade, traz
consigo uma nova força, que se distingue por seu poder transformador frente à
realidade da qual partiu (Zanella, Da Ros, Reis, & França, 2003, p.44). Vygostki, na
obra Psicologia da Arte (escrita entre 1924 e 1926), salienta a função transformadora
dessa atividade, que extrai da vida o seu material, produzindo algo acima desse
material, pois a arte está para a vida como o vinho para a uva (1998, p.307). Embora
esse não seja um autor de referência na arteterapia, a ideia de que o fazer criativo é
transformador perpassa esse campo.
Na visão de Ciornai, o propósito fundamental da arteterapia é resgatar a
criatividade na vida, ou seja, contribuir para que o sujeito aprenda a lidar criativamente
com os limites que a vida lhe impõe (1995, p.59), transformando-se assim em artista
da própria vida. Isso é possível porque a arte nos abre a uma realidade alternativa
(1995, p.61), na qual o homem pode perceber, figurar e reconfigurar suas relações
consigo, com os outros e com o mundo (1995, p.61). Portanto, no trabalho do
psicólogo mediado pelo fazer artístico, destaco como princípios fundamentais a
concepção da arte como atividade expressiva e criativa: não se trata apenas da
expressão da subjetividade, da objetivação de emoções, sentimentos e pensamentos
em uma forma artística (desenho, pintura, modelagem, etc.), mas especialmente da
sua transmutação pela arte, da sua reconfiguração em novas formas e em outros
sentidos, em um processo no qual, ao criar na arte, o sujeito se recria na vida.
Fonte:www.guiadaalma.com.br
Fonte:www.neyaraujo.blog.br
Para Silveira, essas imagens evocam o mito de Dafne, ninfa grega que foi
transformada em uma árvore para fugir ao assédio de Apolo. Ela entende que, na
linguagem mítica, própria do inconsciente, esse tema estaria vinculado ao temor da
mulher acerca da realização completa de seu ser feminino, representando, no caso
da autora da imagem acima ilustrada, a sua dificuldade em estruturar-se
subjetivamente como mulher.
Existem inúmeras técnicas que podem ser usadas pelo psicólogo em um
trabalho de arteterapia na linha junguiana, propondo-se atividades específicas ou
simplesmente disponibilizando ao indivíduo diferentes materiais à sua escolha
(papéis, giz pastel, tintas diversas, aquarela, argila, etc.). Embora Nise da Silveira
trabalhasse apenas com a expressão livre e espontânea dos pacientes, na arteterapia,
o psicólogo pode também estruturar as atividades expressivas a partir de alguns
objetivos ou temas pertinentes ao caso em questão, visando com isso a auxiliar a
pessoa em seu processo de individuação. Tal como postulado por Jung, a
individuação designa o processo no qual um ser se torna realmente uma unidade,
uma totalidade, pela integração consciente de seus vários aspectos inconscientes,
manifestando a sua unicidade: trata-se da realização de seu si mesmo, no que tem de
mais pessoal (2001, p.355). O processo de individuação é o crescimento psíquico, o
constante desenvolvimento da personalidade, no qual cada pessoa deve encontrar
seu modo único de se realizar (Von Franz, 1977). Na arteterapia junguiana, o
psicólogo acompanha a pessoa em seu caminho para a auto realização, dialogando
e procurando facilitar essa jornada através da arte.
Uma técnica muito utilizada na arteterapia junguiana é o desenho ou a pintura
de mandalas. O termo mandala vem do sânscrito e significa círculo mágico, e designa
figuras geométricas formadas a partir do centro de um círculo ou de um quadrado,
configurando um espaço sagrado (Raffaelli, 2009, p.47). Na teoria junguiana, a
mandala é um símbolo do self, isto é, do si mesmo, representando ao mesmo tempo
o centro e a totalidade psíquica (Jung, 2001).
A função terapêutica de desenhar mandalas está ligada à autodescoberta, pois
elas registram o estado psíquico do indivíduo em diferentes momentos,
representando, a partir de linhas, cores e formas, sua energia psíquica e a
organização de seu mundo interno. A partir daí, podem proporcionar insights
profundos, conduzindo a pessoa em sua jornada rumo ao self. Em seu livro
autobiográfico, Memórias, Sonhos e Reflexões, Jung relata a importância das
mandalas em sua própria vida profissional e pessoal:
Só quando comecei a pintar as mandalas vi que o caminho que seria necessário
percorrer e cada passo que deveria dar, tudo convergia para um dado ponto, o do
centro. Compreendi sempre mais claramente que a mandala exprime o centro e que
é a expressão de todos os caminhos: é o caminho que conduz ao centro, à
individuação (2001, p.174).
As mandalas podem auxiliar a restabelecer o equilíbrio interior perdido (Von
Franz, 1977, p. 212), uma vez que desenhá-las contribui para a (re) orientação da
energia psíquica em torno do centro ou self (circum-ambulação). Ao trabalharmos com
arteterapia na perspectiva junguiana, devemos evitar o uso da interpretação, por isso,
a melhor forma de fazer a leitura de uma mandala é pedindo à própria pessoa para
entrar em contato com o que desenhou, procurando perceber e integrar os sentidos
presentes naquela imagem.
Fonte: www.apaeitapetininga.com.br
A história da arteterapia no CAPS Geral SER III/ UFC teve início com a criação
dos primeiros grupos arteterapêuticos em junho de 2007. Houve a formação de dois
grupos, com encontros semanais nas manhãs e tardes de quintas-feiras. Cada sessão
tinha duração média de duas horas e meia. Atualmente, existem dez grupos em
funcionamento, utilizando-se das mais variadas linguagens artísticas, como pintura,
escultura, modelagem e música. Em janeiro de 2011, teve início o grupo de arteterapia
intitulado Arte & Amizade. O nome foi escolhido pelos próprios participantes e engloba
em seu significado a construção dos laços afetivos a partir do fazer artístico.
Inicialmente, o grupo teve composição de 15 membros, homens e mulheres com
idades de 20 a 35 anos.
O contrato terapêutico pactuado foi de seis meses. Cabe dizer que o período
estabelecido para a finalização das atividades do grupo foi ampliado, passando de
junho de 2011 para setembro do mesmo ano. A alteração no calendário se deu em
função de os resultados alcançados terem apresentado empiricamente um nível
satisfatório no que se refere à estabilidade psíquica dos usuários. Além disso, foi
considerada a necessidade de preparar e construir coletivamente no grupo a
aceitação das altas terapêuticas, uma vez que eles expressam apego especial a esse
tipo de terapia.
Salienta-se que, embora não tenha havido critérios rígidos para o ingresso
nesse grupo, procurou-se priorizar as pessoas que expressassem algum tipo de
interesse pela arte. Outro fator tido como prioritário ao acesso às atividades diz
respeito aos diagnósticos médicos dos usuários, em casos como esquizofrenia,
transtorno afetivo bipolar e alguns quadros de depressão. Usuários com esses
transtornos foram estimulados a fazer parte do grupo, desde que estivessem em
condições mínimas de frequentar as sessões (ausência de crises) e o mais
importante: manifestar o desejo de participar das atividades.
A prioridade dada às pessoas com interesse e afinidade com o fazer criativo e
a arte não se constitui necessariamente um critério para inclusão ou exclusão no
grupo, mas se apresenta como aspecto facilitador e norteador do processo. Isso
também não significa dar ênfase às técnicas e aos aspectos estéticos, ao contrário:
as nossas intenções vão ao encontro dos processos criativos e da livre expressão. A
arte é, então, vista como um instrumento de enriquecimento dos sujeitos, valorização
de expressão e descoberta de potencialidades singulares.
Fonte:www.jmisturinhas.blogspot.com.br
Dra. Nise percebeu grande harmonia nas imagens produzidas, sobre isto se
comunicou com Dr. Jung para discutir os significados. Jung esclareceu que algumas
imagens eram mandalas, estas buscavam compensar o caos interior sofrido pelo
paciente na tentativa de reconstruir a personalidade dividida. A partir da explicação do
Dr. Jung, pode-se entender a função terapêutica na produção artística do paciente.
Os símbolos, presentes nas criações plásticas, poderão estar presentes também nos
sonhos destes pacientes. A interpretação destes símbolos facilitará a compreensão
dos conflitos deste indivíduo por parte do arteterapeuta. O uso terapêutico da arte está
no fato de ser uma expressão simbólica da psique. Portanto, os símbolos são uma
forma de acessar o inconsciente e funciona como uma ponte para o consciente.
(JUNG, 1987).
Pode-se inferir a partir do exposto acima que, para facilitar o trabalho em
arteterapia é importante a utilização de materiais expressivos diversos, pois assim,
abrange muitas possibilidades e atende ao gosto de cada paciente. Esses materiais
podem servir para estimular a criatividade, e posteriormente desbloquear e trazer à
consciência informações guardadas na sombra. Este lado desconhecido da psique
humana ao se manifestar poderá contribuir para a expansão de toda a estrutura
psíquica. Através destes materiais, tintas, pincéis, dos materiais para colagens, da
modelagem, da dobradura, máscaras, de materiais naturais, como folhas, flores,
sementes, cascas de árvores ou da aproximação e experimentação com elementos
vitais como a água, o ar, a terra e o fogo e inúmeras outras possibilidades criativas,
talvez assim surjam os símbolos necessários, para que cada indivíduo entre em
contato com aspectos a serem compreendidos e transformados. As modalidades
expressivas podem ser tão variadas permitindo facilitar a melhor compreensão dos
símbolos. Ciornai (2005) nos conta que:
Fonte:www.silvioalvarez.blogspot.com.br
Parece ser um consenso que as oficinas de arte são uma ferramenta importante
como dispositivo na reforma, possibilitando outros modos de expressão, então por que
muitas oficinas se transformam em meros encontros de ocupação de tempo?
Deve-se entender que o trabalho é terapêutico se é o reconhecimento de um
direito, onde o sujeito realiza sua possibilidade. E essa concepção se desfaz quando
é uma mera técnica de tratamento, onde a instituição decide o processo (ROTELLI,
LEONARDIS e MAURI. 2001.p, 34).
A arteterapia pode promover o ser humano como um todo, aspectos psíquicos
e sociais, respeitando as suas individualidades e os ajudando a restabelecer relações.
O eixo central é a interação organismo-meio e essa interação acontece através
de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio. O
processo de criação provoca esta reorganização interna de sentimentos e
pensamentos e a partir deste ponto é possível estabelecer uma linguagem com o
externo, a realidade.
4.1 Conceitualização
Segundo Moura (2008) o termo “psicossomático” foi utilizado pela primeira vez
em 1818 por Heinroth, psiquiatra alemão, ao fazer referência a insônia e a influência
das paixões na tuberculose, epilepsia e cancro. No século seguinte as descobertas
de Freud permitiram uma melhor compreensão desses fenômenos. Em 1922 Deutsch
reintroduziu esse termo em Viena.
Antes da psicanálise, entendia-se que as doenças eram causadas por agentes
externos. Havia, é claro, muitas iniciativas em tentar compreender a relação corpo e
mente. O próprio surgimento do termo psicossomática em 1828 por Johann Heinroth
testemunha isto. Ele postula que paixões sexuais são importantes para a
manifestação de doenças como tuberculose, epilepsia e câncer, ressaltando a
importância dos aspectos físicos e psíquicos integrados nos processos de adoecer
(VOLICH, 2000, p. 43).
A psicossomática evoluiu das investigações psicanalíticas que contribuem para
o campo com informações acerca da origem inconsciente das doenças, e mais
especificamente dos estudos das paralisias e anestesias histéricas originados das
contribuições pré - psicanalíticas de Jean-Martin Charcot e Josef Breuer.
A expressão doença psicossomática foi utilizada inicialmente para referir-se
apenas a certas doenças como a úlcera péptica, asma brônquica, hipertensão arterial
e colite ulcerativa onde as correlações psicofísicas eram muito nítidas posteriormente
foi-se percebendo que tal concepção é potencialmente válida para todas as doenças
(MELLO FILHO, 2005).
Segundo Cardoso (2005), a história da psicossomática poderia ser dividida em
duas grandes correntes: de um lado, as correntes inspiradas nas teorias psicanalíticas
e com base no conceito de doença psicossomática; de outro lado, a inspiração
biológica, alicerçada no conceito de stress.
Já Mello Filho (1992) considera três fases distintas na evolução da
Psicossomática: a inicial ou psicanalítica, em que foi estudada, entre outros assuntos,
a origem inconsciente das doenças e o fenômeno de regressão; a intermédia ou
behaviorista, na qual houve uma tentativa para enquadrar os estudos feitos em
humanos e animais nas ciências exatas; e a atual ou multidisciplinar, em que é dada
importância às influências sociais e se considera a Psicossomática como atividade de
interação e integração de dados de diferentes áreas do saber.
Segundo Cardoso (1995), no fim do século XIX o campo da psicossomática
veio a estender por dois grandes ramos de investigação. O primeiro ramo da história
da psicossomática se refere à Escola Americana, representada por Franz Alexander
e Dunbar, cuja via de investigação tem como ponto de partida o modelo médico, onde
estes procuram correlacionar determinados tipos de personalidades com doenças
orgânicas específicas. As contribuições da Escola Psicossomática Americana,
especificamente Alexander e Dunbar, e as de Cannon e Selye foram fundamentais
para a consolidação do movimento psicossomático, assim como para a influência
sobre uma medicina integral e humanista.
O segundo grande ramo das investigações psicossomáticas foi formada pelos
integrantes da chamada Escola Psicossomática de Paris, composta entre outros por
Pierre Marty, de M’Uzan, David e Fain, tentaram elaborar uma teoria da economia
psicossomática atribuindo uma grande parte da etiologia a um determinismo
multifatorial com forte participação biológica. Para eles, falar de “doenças
psicossomáticas” é um equívoco, preferindo chamar de “pacientes psicossomáticos”
àqueles cuja manifestação sintomática preponderante aparece no plano orgânico e
não no psíquico. A falta de recurso psíquico para a elaboração dos conflitos decorreria
a sua característica preponderantemente “psicossomática” e o consequente
desequilíbrio psicossomático com a ocorrência de desorganizações orgânicas
progressivas (CARVALHO, s.d.).
Fonte:www.andreaalves.blog.br
6 HISTÓRIA DA ARTETERAPIA
Fonte:www.psicologado.com