Universidade Federal de Goiás Escola de Música E Artes Cênicas
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NOEL CARVALHO
GOIÂNIA
2013
NOEL CARVALHO
GOIÂNIA
2013
Engana-se quem julga essas artes populares como formas simples: elas são,
isto sim, muito elaboradas, são artes da coordenação! São diferentes
instrumentos soando em vozes complementares, estabelecendo polirritmos, e
diferentes personagens que já delineiam passos de dança e mímicas
diferenciadas.(BUENO, 2001 p.99)
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................2
1. O BUMBA-MEU-BOI................................................................................................7
1.1 A LENDA E A BRINCADEIRA..............................................................................8
1.2 MOMENTOS: O DESENROLAR DA BRINCADEIRA........................................10
2. SOTAQUES...............................................................................................................15
4. PROCESSOS DE APRENDIZAGEM.....................................................................27
CONCLUSÃO ...............................................................................................................31
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................33
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INTRODUÇÃO
2 O mascarado é um personagem das cavalhadas, uma festa tradicional de Pirenópolis que ocorre após a
festa do Divino Espírito Santo. As máscaras podem ser de pano (conhecida por Catolé), de borracha,
industrializada ou de papel em forma de Boi, Onça ou Homem.
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1. O BUMBA-MEU-BOI
A figura do boi desde muito tempo tem um papel fundamental para distintas
sociedades e uma forte ligação com o homem em diversas culturas. O homem
historicamente respeita o bovino, pois através dele obtém o alimento (o leite, o queijo, a
manteiga, a carne) ou trabalha para conseguir alimentação lavrando a terra, moendo a
cana e transportando cargas pesadas. É uma questão de sobrevivência. O boi aparece
também na Bíblia, no momento em que o menino Jesus nasce é este animal que o abriga
e aquece. Na cultura hindu, a vaca é considerada um animal sagrado. Segundo Arthur
Ramos, há culturas africanas que cultuam o boi historicamente.
Pessoa responsável por carregar a imagem de São João durante a brincadeira. Bumba-meu-boi São
Cristóvão de Viana.
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Boi do Maracanã, 2013. Couro bordado com São João em detalhe na cara do Boi.
Após o período junino, o Boi “já cumpriu sua missão” e “deve morrer” para
que no próximo ano um novo Boi possa “renascer” e assim completar o ciclo. A data da
morte do Boi varia de acordo com o grupo, mas geralmente situa-se entre agosto e
setembro. Essa festa é permeada por uma energia eufórica diferente das outras, pois
como o Boi deve morrer, mas não quer, foge em determinados momentos. Tudo faz
parte de um teatro, porém muito real e espontâneo. Muito embora a fuga do Boi seja
esperada, também há espaço para o inesperado. O Boi é achado e então volta para a
brincadeira e neste estágio ele deve ser laçado e conduzido ao mourão, onde é amarrado
e abatido. Tudo isso é acompanhado por toadas que dão sentido à brincadeira. No
momento que o Boi morre, o amo canta um aboio. É um momento de caráter triste.
Além do dia de São João, há outras duas datas importantes: o dia de São
Pedro, 29 de junho, e o dia de São Marçal, dia 30 de junho. No dia de São Pedro, os
grupos de Bumba-meu-boi, de todos os sotaques, da Ilha de São Luís, e alguns do
interior, vão até a capela de São Pedro para sua homenagem. A partir das duas horas da
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GUARNICÊ
Compositor: Coxinho
Bumba-meu-Boi de Pindaré – sotaque da baixada
Anoiteceu
O galo cantou
Vaqueiro vai na igreja
Que o sino dobrou
É pra reunir
Vamos guarnicê
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REUNIDA
Compositor: Apolônio Melônio,
Bumba-meu-boi da floresta – sotaque da baixada
Se ordem é ordem
Todos têm que obedecê
A turma de São João Batista
Agora eu vou guarnicê
No sotaque da matraca
Vi o pandeiro bater
Reúne, reúne, guarnece
É assim que o santo qué pra fazer.
LA VAI
Compositor: Coxinho
Bumba-meu-boi de Pindaré - sotaque da baixada
LA VAI
Compositor: Tião Carvalho
Bumba-meu boi do grupo Cupuaçu – sotaque de matraca e baixada
La vai, La vai
A turma do morro quando desce é uma beleza
Corre morena vem ver
Boi chegou bonito colorindo a natureza
Aqui se canta uma toada avisando que o Boi chegou e/ou pedindo licença.
Esse é o momento dos “brincantes” apresentarem, mostrarem quem está chegando e
qual é a sua intenção ali.
BOI CHEGOU
Bumba-meu-boi Brilho da Sociedade – sotaque de costa-de-mão
LICENÇA
Compositor: Zé Olhinho e Ciriaco
antigo Bumba-meu-boi de Pindaré - sotaque da baixada
URROU
Compositor: Coxinho
Bumba-meu-boi de Pindaré - sotaque da baixada
URROU
Boi de Lauro – sotaque de zabumba
Já urrou, urrou
Minha beleza de gado
Esse ano eu fiz uma força
Mandei arrumar meu cercado
Que eu não desejo ver
O meu gado misturado
Quem se une com quem não presta
Acaba ficando estragado
Na sequência vem o “Adeus”. Como diz o ditado “tudo que é bom dura
pouco”. No Bumba-boi isso nem sempre é verdade, dizer adeus não significa
necessariamente que os “brincantes” vão para casa descansar, pois a brincadeira pode
durar a noite inteira. Adeus significa que estão se retirando daquele local para ir para
outro lugar, que pode ser outro espaço de apresentação, ou, finalmente, suas casas. A
despedida muitas vezes vem acompanhada da esperança de retorno àquele local de
apresentação onde o brincante foi feliz e de rever a “assistência” - o público. Assim, a
toada se encerra com “(...) adeus morena, algum dia eu vou voltar”.
ADEUS
Compositor: Humberto
Bumba-meu-boi de Maracanã – sotaque de matraca
ADEUS
Compositor: João Câncio,
Bumba-meu-boi de Pindaré – sotaque da baixada
2. SOTAQUES
por ser “amado” por muitos brasileiros e, por outro lado, muitos brasileiros começaram
a gostar de futebol por ser um destaque. Assim, temos hoje o futebol transformado em
símbolo identitário nacional, sendo o Brasil conhecido mundialmente como “o país do
futebol”, algo que não nasceu da natureza, e sim, que foi construído.
Trazendo esse raciocínio para o contexto deste trabalho, os grupos de
Bumba-meu-boi do Maranhão, por mais distintos que sejam, todos tem uma
característica em comum: a devoção à São João. É essa característica que faz com que
compartilhem a identidade de serem Bumba-bois maranhenses. No entanto, os
diferentes sotaques, ou características próprias de cada grupo, levam à uma classificação
onde se destaca cinco grandes categorias de Bumba-meu-boi no Maranhão: “Bumba-
meu-boi da Baixada”, “Bumba-meu-boi de Matraca”, “Bumba-meu-boi de Zabumba”,
“Bumba-meu-boi de Costa-de-Mão” e “Bumba-meu-boi de Orquestra”(SANTOS
NETO, 2010).
O Boi de Orquestra é o sotaque de Bumba-meu-boi mais recente. Surgiu na
região das cidades de Rosário e Axixá, no interior do Maranhão. É chamado de Boi de
Orquestra devido à presença de um naipe de sopros composto por trompete, trombone e
saxofone, que se encarregam das melodias e acompanham o canto. Além dos sopros,
utiliza-se também o banjo para o acompanhamento harmônico e o bumbo e o maracá
para marcar o ritmo.
atenção de todos para o início e final da função. O amo sempre começa cantando
sozinho para em seguida entrar o coro repetindo sua chamada. Outra característica
recorrente são as melodias executadas quase sempre em ritmo anacrústico ou de
maneira acéfala e terminando com a antecipação da tônica no compasso anterior, isto é,
a tônica não acontece no final em tempo forte. Nos sotaques da Baixada, Costa-de-mão
e Zabumba, há presença de vozes fazendo a terça da melodia. Às características
identificadas por Santos, acrescento também outra: a ênfase no pulso.
Além das particularidades aqui citadas, percebo que há outras similaridades
entre os sotaques que mostram ‘parentesco’ ou proximidade entre eles, como os chapéus
de fita dos sotaques de “Costa-de-mão” e de “Zabumba”, a fisionomia dos bois e o
caráter mais agressivo desses ‘sotaques’. Já nos sotaques de “Matraca” e da “Baixada”,
pode-se identificar estruturas rítmicas semelhantes, porém organizadas de maneiras
distintas. Todavia, essa é uma reflexão que exigiria mais tempo para se aprofundar, o
que não cabe aqui, mas pode servir como tema para um próximo trabalho.
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experiência muito importante para mim e a alegria que senti ali é indescritível, só
vivenciando para compreender.
A ilha de São Luís têm atraído pessoas pela crença em uma vida melhor.
Essas pessoas quando se mudam pra lá levam consigo sua cultura, no caso em questão,
o Boi.
As pessoas que se mudavam para São Luís e vinham de uma mesma região
iam morar perto umas das outras, formando pequenas comunidades. Em uma dessas
comunidades, o Bairro de Fátima, surgiu o primeiro Boi da Baixada de São Luís, o Boi
de Pindaré, fundado em 1960 por João Câncio. Com o passar do tempo alguns
integrantes desse grupo foram se desmembrando aos poucos e formando outros grupos
do mesmo sotaque, como o Boi Unidos de Santa Fé, o Boi da Floresta, o Boi de Penalva
e o Boi Oriente.
Acontece que quando essas pessoas chegam ao novo ambiente, para cultivar
sua cultura e fazer sua ‘brincadeira’ muitas vezes precisam se adaptar; adaptação esta,
que no sotaque da baixada, pode ser observada nos instrumentos utilizados. Enquanto
no interior são usadas caixas, taróis, repiniques e matracas, na capital São Luiz são
utilizados pandeirões de variados tamanhos, maracás, tambor-onça e matracas. Pode-se
observar que no primeiro caso os instrumentos de pele são tocados com baquetas; já no
segundo caso são utilizados instrumentos de pele tocados à mão. Em conversa com o
Amo de Boi Zé Olhinho, Bueno (2001) constata que essa hibridação renovou o sotaque
da Baixada e adaptando-o ao novo contexto. “Contou (Zé Olhinho) que foi o próprio
João Câncio quem organizou o sotaque com pandeiros e matracas” que já eram
utilizados nos Bois da Ilha.
3.1. PERSONAGENS
Pai Francisco (ou Nego Chico) é o empregado da fazenda que cuida do bem
mais precioso do patrão, o Boi. É casado com Catirina, que lhe dá muita “dor de
cabeça” mas, por seu amor a ela, acaba furtando o Boi do patrão. Mãe Catirina é a
esposa de Francisco. Esta se vê grávida e com um desejo um tanto quanto estranho:
comer a língua do Boi. Até aí tudo bem, se o boi não fosse o Boi precioso do patrão. Ela
faz de tudo até que convence seu marido a roubar o Boi, com o pretexto que seu filho
nasceria com cara de língua de boi se não saciasse seu desejo.
Os Vaqueiros, como o próprio nome já diz, são os vaqueiros da fazenda. São
eles que buscam o boi furtado por Pai Francisco e Catirina e também chamam os índios
para curar o Boi. Na brincadeira eles formam o cordão com seus chapéus alegres e
coloridos e tem a enorme responsabilidade de vigiar e cuidar do Boi.
Há também a presença de Índios e Índias: personagens que representam o
espírito protetor da mata e remete à ancestralidade humana. Protege o boi e todo espaço
de brincadeira com suas roupas cheias de penas. Outro personagem mítico é o
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batalhão com seu maracá, instrumento regente e de herança indígena, e o apito que
chama a atenção ou dá o aviso de que a música chegou ao fim. Há grupos em que há
outra figura que é o “cabeceira”. Não é nenhum personagem, mas é o integrante que
dirige o grupo. Mas na maioria dos grupos o Amo é quem assume o papel de dirigir o
grupo.
Em uma festa na casa de um casal amigo pude fazer outra observação. Era
uma festa de músicos e artistas regada com muita música ao vivo de qualidade. Um
garoto filho de um dos convidados brincava livremente entre os músicos, dançando,
indo de um lado para o outro, com passinhos quase pulando e balançando os braços
paralelos ao corpo. No momento que a música para, o garoto para também. (Anexo 5)
Nesse caso o garoto brinca com a música, exercitando sem perceber elementos como o
ritmo e dinâmica além da apreciação musical ativa, desta forma tendo o
desenvolvimento da percepção como ponto de partida para o acesso aos conceitos
musicais.
Assim, pode-se concluir com Jusamara Souza:
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BUENO, André Paula. Bumba-boi maranhense em São Paulo. São Paulo: Nakin
Editorial, 2001.