As Viagens Simbólicas Da Iniciação Do Aprendiz

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AS VIAGENS SIMBÓLICAS DA

INICIAÇÃO DO APRENDIZ
17 AGOSTO, 2013LUIS DE FIGUEIREDOARTIGOS

A quarta instrução do Grau de Aprendiz trata de vários conceitos e


ensinamentos direcionados à sua formação como Maçom, sendo estes de
fundamental importância e relevância para o contínuo desbaste de sua pedra
bruta e de seu aperfeiçoamento moral e espiritual. Inicia atestando a existência
de um Grande Arquiteto do Universo, que dotou a todos os seres humanos do
livre arbítrio, permitindo-lhes discernir o Bem do Mal, desde que dirigidos por
uma sã Moral, sendo esta ensinada na Maçonaria através de seu sistema de
mistérios e alegorias (GOMG, 2004) e com base no ensinamento de amor a
Deus e ao próximo.

Para ser Maçom, o homem deve ser livre e de bons costumes, sendo esta
liberdade representada pela sua individualidade e sua condição de não ser
escravo de suas paixões e seus preconceitos. Para tanto, na sua Iniciação, o
Aprendiz é despojado de todos os metais e tem seus olhos vendados,
significando seu desprendimento das vaidades do mundo profano e sua
necessidade de instrução para construção de sua Moral Maçônica.

Neste momento, são relembradas ao Aprendiz as três Viagens Simbólicas que


realizou em sua Iniciação. Estas viagens possuem caminhos e significados
diferentes, e representam níveis através dos quais é obrigado a passar para
que, ao final, possa receber a Luz da Verdade. Especificamente quanto a estas
viagens, me dedicarei, neste trabalho, em explicá-las com maior profundidade.

O simbolismo das viagens é um dos temas centrais da literatura universal,


como nas viagens lendárias dos gregos Jasão e Ulisses e nas modernas sagas
dos descobrimentos. A vivência das viagens fascina e concentra a atenção do
ser humano – o distanciamento do lugar, o sentimento de ausência, a
promessa de aquisição de novos conhecimentos e a descoberta do oculto
(ZELDIS, 1995).

As Viagens Simbólicas, no Ritual de Iniciação, se realizam seguindo o Caminho


do Sol, ou seja, num sentido circular denominado dextrorsum (advérbio latino
que significa “para a direita”, num sentido indireto ou retrógrado, como o dos
ponteiros do relógio, ao contrário do termo sinistrorsum, que significa “para a
esquerda”, em alusão ao movimento direto realizado pela Terra). Este
movimento circular também contém um simbolismo e significado psicológico,
pois traça no Pavimento da Loja um Círculo Mágico, ou Mandala, tendo no
centro o Altar. Além disso, o próprio movimento de Circunvolução traduz uma
das formas mais primitivas, tradicionais, utilizadas nos rituais de diversas
cerimônias religiosas.
A primeira viagem é, talvez, a mais difícil de ser realizada, e caracteriza-se por
caminhos tortuosos, perigosos, de muitas dificuldades e obstáculos, em meio a
ruídos e trovões. Segundo Leon ZELDIS (1995) estes ruídos e trovões
possuem dois significados, ou simbolismos. Primeiramente, representam de
forma física o caos presente na criação e na organização dos mundos. De
forma moral, representam os primórdios do homem e da sociedade,
conduzidos ainda pelas paixões e excessos que não foram dominados pela
razão, ou seja, o homem em seu estado e mundo profano. A conquista da
energia moral, portanto, permite ao homem lutar contra suas paixões e
obstáculos do mundo (CAMINO, 2007). Pode-se aqui, por exemplo, tecer
historicamente um paralelo entre a era do feudalismo e a era do iluminismo, ou
entre a “era das trevas” e a “era das luzes”. Ao final desta primeira viagem, o
Neófito bate à primeira porta, localizada ao Sul, e lhe é permitido passar.

A segunda viagem é uma etapa de transição, e caracteriza-se por uma estrada


menos difícil do que a primeira, mas não menos importante, com o ruído de
armas e espadas batidas umas contras as outras, e da água. Os ruídos
representam, simbolicamente, o período histórico das batalhas e combates que
o ser humano travou para se colocar entre seus semelhantes. Representa,
pois, a “idade da ambição” do homem (GOMG, 2004) e a sua luta para vencer
suas paixões e obstáculos do mundo. O barulho da água simboliza os rios que
deve atravessar para chegar ao seu objetivo maior, ou seja, a sua Iniciação e a
Luz da Verdade.
O fato da segunda viagem apresentar menos dificuldades e obstáculos significa
que eles tendem a desaparecer à medida que o homem persiste em seguir no
caminho da Virtude, apesar dele ainda não estar totalmente liberto dos
combates (CAMINO, 2007). Ao final desta viagem, o Neófito bate à segunda
porta, localizada no Ocidente, e é purificado pela água.

A terceira e última viagem, e a mais solene das três, realiza-se por uma estrada
plana e suave e de muito silêncio. A facilidade encontrada nesta viagem
representa a tranqüilidade e a paz obtida pelo homem que consegue ordenar e
moderar suas paixões. Como resultado, atinge sua “idade da maturidade e da
reflexão” (GOMG, 2004). Ao final desta viagem, o Neófito bate à terceira porta,
localizada no Oriente, e é purificado pelo fogo, estando em condições de
receber a Luz. A purificação pelo fogo é um conceito encontrado em várias
culturas, e conforme destaca CAMINO (2007), na Iniciação do Aprendiz as
chamas do fogo objetivam inflamar de amor o coração do Maçom, através de
ações de caridade para com seus semelhantes.

As três portas pelas quais passa o Neófito simbolizam a Sinceridade, a


Coragem e a Perseverança (GOMG, 2004), e representam as três disposições
necessárias à procura da Luz da Verdade, sendo o processo de Purificação
necessário para livrá-lo dos seus preconceitos e prepará-lo para receber a Luz
e buscar a Sabedoria. Conforme aponta Leon ZELDIS (1995), o processo de
purificação pelos quatro elementos da natureza – Terra, Ar, Água e Fogo –
representa uma recapitulação da Obra Alquímica, cujo trabalho inclui extrair os
metais da terra – escavar, triturar, peneirar, flotar e fundir – e transformá-los em
metais refinados e preciosos. O metal do Profano é transformado, mediante o
processo de Iniciação, em metal refinado e precioso, fundamental para a
composição dos Elos da Cadeia Fraternal.

A quarta instrução continua recordando ao Aprendiz as etapas de sua Iniciação


– os três passos num quadrilongo, as espadas empunhadas pelos IIr.’. e
apontadas em direção ao AP.’., representando os raios da Luz da Verdade, o
juramento, os indícios pelos quais se reconhecem os MMaç.’. (o S.’., a P.’. e o
T.’.), o Avental, a apresentação da Loja, os conceitos e simbolismos da Pedra
Bruta e Pedra Polida, os instrumentos de construção dos MMaç.’. – o
Esquadro, o Compasso, o Nível e o Prumo -, o Maço e o Cinzel, e a Prancheta
de Desenho. Finalizando, explica o significado do Sol e da Lua e do Pavimento
Mosaico com a Orla Dentada.

Trata-se, portanto, de uma instrução riquísssima e de extrema importância para


o desenvolvimento contínuo do AP.’.M.’., pois recorda seus passos iniciais na
Maç.’., quando da Iniciação, e clarifica todo o significado simbólico dos
mistérios e alegorias da Moral Maçônica.

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