COSTA, Mário Júlio de Almeida. História Do Direito Português 3 Edição. Coimbra, Almedina, 2008.
COSTA, Mário Júlio de Almeida. História Do Direito Português 3 Edição. Coimbra, Almedina, 2008.
COSTA, Mário Júlio de Almeida. História Do Direito Português 3 Edição. Coimbra, Almedina, 2008.
"Sem o exame direto das fontes em que deita suas raízes, nenhum
instituto recursai pode ser devidamente entendido em sua
evolução"(Moacyr Lobo da Costa, Origem do agravo no auto do
processo)
1- INTRODUÇÃO
2 THOMPSON, Augusto. Escorço histórico do direito criminal luso-brasileiro. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1976, p. 65/66. Na mesma linha segue a lição de P1ERANGELLJ: "Com o fortalecimento do
poder real e o surgimento do rei legislador, muitas condutas foram erigidas à categoria de crime,
alguns destes punidos com penas crudelíssimas. Apenas para exemplificar, mencionaremos: D.
Diniz de terminou que descrer de Deus e de Sua Mãe, Santa Maria, ou doestá-los, por quem quer
que fosse, constituía crime, sendo o criminoso queimado depois de se lhe extrair a língua pelo
pescoço" (PIERANGELLI, José Henrique. Processo penal: evolução histórica e fontes legislativas. Bauru:
Javali, 1983, p. 50). Ainda: "O Livro V, que passaria à história das três compilações como exemplo
do severo tratamento dispensado aos réus, notadamente àqueles desvestidos de linhagem ou
fortuna ... " (AZEVEDO, Luiz Carlos de. Introdução à história do direito. 3' ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010, p. 171).
Um dos aspectos que importa sublinhar tem a ver com um fenômeno geral
que ocorreu em Portugal, a partir de D. Afonso III, o qual, como não poderia
deixar de ser, influenciou em muito o Direito e o processo penal do país.
Na verdade, depois da guerra civil e da papal deposição de D. Sancho II
em 1248, acentua-se a centralização política e a intervenção da coroa na
4 LEMOS SOARES, António. Notas sobre os fundamentos históricos do processo penal português,
in : FERREIRA MONTE, Mário (dir.). Quefuturo para o direito processual penal? Simpósio em homenagem
a Jorge de Figueiredo Dias, por ocasião dos 20 anos do código de processo penal português. Coimbra:
Coimbra, 2009, p. 291 / 293.
5 GOMES DA SILVA, Nuno J. Espinosa. História do direito português . 3ª ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2003, nº 3, p. 64.
6 LEMOS SOARES, António. Op. cit., p. 293 / 294.
10 ALMEIDA COSTA, Mário Júlio de. Op. cit., p. 279. No mesmo sentido: "Os autores são unânimes
em exaltar a importância das Ordenações Afonsinas, principalmente, em razão do seu pioneirismo
e da época em que surgiu, constituindo-se no ponto de partida para a posterior evolução do Direito
português, inclusive e principalmente, para as Ordenações Manuelinas e Filipinas, as quais
mantiveram essencialmente o plano das primitivas e se limitaram a introduzir alterações em
diferentes lugares. As Ordenações Afonsinas são, assim, um marco fundnmental na história do
Direito português" (PIERANGELLI, José Henrique. Op. cit., p. 57).
11 Desde meados do século XIII até às Ordenações, as fontes de direito aplicadas em Portugal eram
os seguintes: Leis gerais dos monarcas portugueses; Resoluções régias; Costumes Jurídicos; Forais
e foros; Concórdias e concordatas; Colectâneas de Direito de origem castelhana que se aplicavam a
título subsidiário, como as Siete Pnrtidns, as Flores de Derec/10 e os N11eve tiempos de los pleitos, de
Mestre Jácome Ruiz (cf.: ALMEIDA COSTA, Mário Júlio de. Op. cit., p. 256 e ss.). V. ainda: O direito
subsidiário na história do direito português, in: BRAGA DA CRUZ, Guilherme. Obras espnrsns:
estudos de história do direito: direito moderno. Vol. II. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1981, p. 245
e ss.
12 Neste sentido: LEMOS SOARES, Antonio. Op. cit., p . 304/306.
13 CAETANO, Marcello. Op. cit., p. 531/532. -
14 É o que se retira de uma interessante nota, constante do Livro V, Título CXIX (no original Título
CVXIIII), das Ordenações Afonsinas em que se lê: «Foi ncnbndn eftn obrn em n Vi/ln de Arruda nos vinte
e ou/o dias do mez de Julho, Anno do Nnfimento de Noffo Senhor Jesus Crhisto de mil e quatrocentos e
quarenta e féis nnnos [... ]», in Ordenações Afonsinns, Livro V, 2• ed., Fundação Calouste Gulbenkian,
1999, p. 404.
15 Ordenações Afonsinns, Livro!, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2ª ed., 1984, p. 7-8.
16 Ordenações Afonsinas, Livro II, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2• ed., 1984, p. 1.
17 Ordenações Afonsinas, Livro III, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2" ed., 1999, p . 1.
18 Ordenações Afonsinas, Livro IV, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2" ed., 1999, p . 1.
19 Ordenações Afonsinas, Livro V, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2ª ed., 1999, p. 1.
20 LEMOS SOARES, Antonio. Op. cit., p . 307 / 308.
21 PEREIRA E SOUSA, Joaquim José Caetano. Primeiras linhas sobre o processo criminal. 2" ed.
Lisboa : Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1800, p. 1/2, nota 1.
22 Basta, para tanto, a conferência das disposições constantes do Livro II, relativas ao processo penal
das "minorias religiosas" que habitavam o reino durante o século XV (v., e.g., Ordenações Afonsinas,
op. cit., Livro II, Título LXXI, p. 432/433).
3 - DO PROCEDIMENTO (PERSECUTÓRIO/INQUISITÓRIO)
CRIMINAL
28 Revista do Ministério Público. Rio de Janeiro: MPRJ, n. 46, out. / dez. 2012
Afonsinas seriam, segundo o Título IV do Livro V27 e os Títulos LIX 28 e LXF9 do
Livro Ili, os seguintes:
- Libelo do acusador, do qual se deveria disponibilizar cópia ao acusado;
- Resposta do acusado, incluindo as exceções que pretendesse deduzir;
- Resolução das exceções e a pronúncia do juiz sobre o libelo;
- Contestação do acusado por confissão ou negação;
- No caso de confissão, desde logo se procedia ao julgamento.
Como dizia o texto das Ordenações:
"( ... ) E defpois que for citado, hua vez, venha o accufador com libello contra o
acufado e dêem-lhe o trelado delle e venha refponder alegando por sua parte
alguas eixeiçooes, Je as ouver. Determinado sobre eftas eixexooes, e pronunciado
sobre o libello, venha o acufado conteftar, negando ou confeffando, eJe conteffar
o Juiz o julgue fegundo o merecimento do feito (... )". 30
Se, pelo contrário, a contestação ocorresse por negação dos fatos constantes
no processo suscitavam-se:
- Artigos de acusação do autor, os quais deveriam ser julgados pertinentes
pelo juiz;
- Artigos contrários do réu, também sujeitos a juízo de pertinência;
- Indicação de testemunhas por ambas as partes num máximo de 30 por
cada uma, de maneira a provar o conteúdo dos artigos. Como se refere:
"( ... ) Je o negar, faça o acufador artigos; e julgados por perteencentes, venha o
Reo com os artigos contrairas ou dê fuá defefa. E pronunciado Jobre elles, fe
forem perteencentes, venha o accufador, e o accufado com as teftemunhas, que
nomearem, Jejam trinta por todos e cada huu, e mais nom, Jalvo Je os artigos
forem defvairados, poffam momear trinta a cad huu artigo (.. .)". 31
Podiam ser promovidas, no caso de negação por parte do imputado,
contraditas para impugnação das mesmas testemunhas ao que se seguia:
- A inquirição de testemunhas sobre os artigos suscitados:
"E PORQUE Je Jazem muitas malícias, poendo as contraditas na terra, Je as
teftemunhas Allá ouverem de Jeer perguntadas, Mandamos, que tanto que as
teftemunhas forem nomeadas, logo também o accufador, como o accufado venham
com as contraditas; e as que procederem, recebam-lhas, requerendo-lhes tres
27 Ordenações Afonsinas, op. cit., Livro V, Título IV (no original Título IIII), p. 22 e ss.
28 Ordenações Afonsinas, op. cit., Livro III, Título LIX (no original Título LVIIII), p . 200/201.
29 Ordenações Afonsinas, op. cit., Livro III, Título LXI, p . 204 e ss.
30 Ordenações Afonsinas, op. cit., Livro V, Título IV (no original Título IIII), p. 22.
31 Ordenações Afonsinas, op. cit., Livro V, Título IV (no original Título IIII), p . 22/23.
38 SÁ, Djanira Maria Radamés de. Duplo grnu de jurisdição. São Paulo: Saraiva, 1999, p . 83.
39 AZEVEDO, Luiz Carlos de. Origem e introdu ção da apelação no direito lusitano. São Paulo: FIEO,
1996, p. 104.
40 Essas queixas, querimas e querimônias foram tradicionalmente utilizadas no direito português
como sucedâneos recursais, à míngua de instrumento elaborado para impugnar as decisões judiciais.
De início, se prestaram, ao que parece, a impugnar decisões de toda as espécies; subseqüentemente
à introdução da apellatio, como se demons trará, foram utilizadas como artifício para driblar a
inapelabilidade das decisões interlocutórias.
41 AZEVEDO, Luiz Carlos de. Op. cit. , p. 104. Posteriormente, em artigo intitulado "Ainda a
origem da Apelação no Direito Lusitano" (in: Revista da Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo, v. 90, 1995, p. 67 e s.), AZEVEDO aprofunda a discussão acerca da preexistência da apelação
como costume e do real sentido da expressão "apele logo, ca tal como quero seja costume de meu Reyno",
contida na lei que consta no livro das leis e posturas, devidamente reproduzida no primeiro
trabalho do autor. A polêmica, travada com o autor português Marcello Caetano, diz respeito à
dúvida quanto à intenção do soberano: se pretendia positivar um costume ou se estava, de fato,
"criando" o costume com a feitura da lei. A conclusão de Azevedo, no segundo trabalho, é de que
"a introdução da apelação do direito lusitano ocorre com a edição da lei de D. Afonso III", sendo
difícil precisar quando exatamente teria dimanado o selo real, "mas é certo que se deu entre 1254,
e deste dez anos para a frente, pois os manuscritos repetem: Leiria, Coimbra e Lisboa, sendo esta
última cidade o local para onde D. Afonso vai transferindo em caráter permanente a sede de seu
reino". Desta forma, AZEVEDO conclui que a Lei de D. Afonso III, contida no Livro de Leis e Posturas,
somente eram utilizadas as querimas e querimônias, de ascendência germânica.
42 Apontamentos deste capítulo feitos a partir de: GUEDES, Clarissa. A impugnação das decisões
interlocutórias no direito lusitano, in : Revista eletrônica de direito processual, vol IV. Ano 3, jul.-dez. de
2009, p. 185 (disponível em www.redp.com.br).
51 LIMA, Alcides de Mendonça. Introdução aos recursos cíveis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1965,
p.15/20.
52 Conforme lembrado por AZEVEDO, ao tempo das Ordenações Afonsinas estes recursos já iam ter
aos Tribunais respectivos, dado o crescente aumento dé processos dirigidos à autoridade judicial
superior. Desde D. João I, a par da Casa da Justiça, que acompanhava o rei durante sua deambulação
pelos domínio da coroa, fora criada outra corte, a Casa do Cível, instalada primeiro em Santarém,
e, depois, definitivamente, em Lisboa. Por seu turno, Afonso V estabelece critério geográfico para
o julgamento das apelações: iriam para a Casa de Justiça, onde a Corte estivesse até cinco léguas
dela; se além deste termo, seguia o recurso para a casa do Cível em Lisboa (cf. AZEVEDO, Luiz
Carlos de. Op. cit., p. 176).
53 ALMEIDA, Candido Mendes de. Código Philipino 011 Ordenações e Leis do Reino de Portugal
Recopiladas por Mandado Del-Rey D. Philippe I. Rio de Janeiro: Typographia do Instituto Fhilornathico,
1870, p. 1283/1285 - Livro V, Títutlo CXXII.
54 ALMEIDA, Candido Mendes de. Op. cit., p. 1282, 2ª col., nota 3. De igual forma: "Ainda que as
Partes não appellem o mesmo Juiz he obrigado a appellar por parte da Justiça de seu Officio, ou haja
Parte que accuse, ou seja a Accusadora a Justiça (... ) O Juiz tem obrigação de appellar: 1. Não só
quando a Accusação começa por Queréla ou Devassa, mas também. II. No caso de injúria feita ao
Juiz, ou aos seus Officiaes. Ord . l. 5. tit. 50. § 5. Igualmente deve appellar. III Quando o Réo se
chama ás ordens. Ord. 1. 2. tit. l. § 28. IV. Quando o Juiz não pronuncia o Réo que está prezo"
(PEREIRA E SOUSA, Joaquim José Caetano. Op. cit., p. 155.).
55 Sobre o tema: "Mas, em todos os casos, da decisão que determinava o tormento, cabia apelação,
aguardando-se o resultado do recurso para a execução, tanto que a ser desde logo cumprido, o dano
tornar-se-ia irreparável" (AZEVEDO, Luiz Carlos de. Op. cit., p. 172).
56 PEREIRA E SOUSA, Joaquim José Caetano. Op. cit., p. 154, nota 1.
57 PEREIRA E SOUSA, Joaquim José Caetano. Op. cit., p. 157.
58 PEREIRA E SOUSA, Joaquim José Caetano. Op. cit., p . 157. "Ord. !. 3. tit. 70 § 4. 15. tit. 124. § fin.
O lermo para o seguimento da Appellação nas Causas Criminaes he o de trinta dias. Póde porém o Juiz
abbreviar esse termo, segundo a distancia do lugar. Ord. !. 3. til. 70. § 3. Cabeb. p. I. Cec. 40. 11. 4. Se o Réo
se ausenta, he citado por Editos de oito dias para o seguimento da Appellação ainda que fosse citado no
princípio da Causa pessoalmente. Assento de 13 de Novembro de 1647.
(... )
Ord. I 3. til. 68. § 5. Cabed. P. 1. Dec. 40. n. 10. Os autos vindo á Relação, posto que tenhão defeito de
solemnidades se revalidão nos casos graves. Ord. 1. I. til. 5. § 12. Not . do Desembargador Sardinha referida
no Reportaria da Ord. tom. 2. Pag. 77. Ediç. de Coimbr. não assim os que já na mesma Relação farão
sentenceados".
61 SARDINHA, António. A teoria das cortes gerais. 2ª ed. Lisboa: Biblioteca do Pensamento Jurídico,
1975, p . 67.
62 Neste sentido: AZEVEDO, Luiz Carlos de. Op. cit., p. 162.
63 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. V. 4, 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.
332.
64 BUZAID, Alfredo. Da apelação ex officio no sistema do código de processo civil. São Paulo: Saraiva,
1951, p. 23/24.
65 CABRAL NEITO, Joaquim. Recurso ex officio, in: Revista dos Tribunais, v. 692, jun. de 1993, p.
242.
66 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 6' ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p.
76.
67 Ordenações do Senhor Rey D. Affonso V, Livro V, Título LVIII, 15 e 16 (Fundação Calouste
Gulbenkian, p. 221): "15 -E se os querellosos quiserem acusar, e demandar, vaam per esses feitos en diante,
ataa que dem em elles livramento com direito; e se acusar nom quizerem, tomem esses Juízes o feito polia
Justiça, e façam essas acusaçoens aa custa dos quere/losos. ie beens teverem; e se nom aa custa dos Concelhos.
honde os malleficios sejam feitos, segundo he contheudo na Hordenaçom do Regno; e acabados esses feitos, se
as partes nom appellarem, appellem elles pera Nós polia Justiça. 16 -E em caso, que das querellas suso ditas
se mostre, que o querelloso foi mallecioso em obrigar o preso, ou dar a que relia, dizendo que foi dos casos suso
ditos ou cada huu delles, e se mostrar que foi em reixa nova, appelle o Juiz, e mande a appellaçom; e tanto que
esta assy acharem, prendam logo o querelloso, e nom o soltem atee que venha o desembargo da appellaçom; e
quando enviarem a appellaçom, enviem dizer como he preso o querelloso, pera lhe feer dada pena, e ao acusado
feer julgada emmenda e corregimento da perda e dampno, que por el/o recebeo".
68 Ordenações do Senhor Rey D. Manuel, Livro V: Título I. 2 (Fundação Calouste Gulbenkian, p. 5):
"E nomsoomente devem apellar da sentença definitiva, mas.ainda de qualquer interlucutoria que tragua /ai
agravo, que se nom possa despois repairar no caso d'apellaçam, assi como se o Juiz julguasse meter o preso a
tormento; cá dando loguo sua sentença á execuçam já nom poderá o preso repairar no caso d'apellaçam aquelle
dãno, que hi recebesse, se nom for justamente atormentado. E por tanto se de tal sentença a parte apellar, seer-
Ihe-há recebida apellaçam; e se a parte nom apellar, o Julguador apellará por parte da Justiça".
Título XLII, 3 (Fundação Calouste Gulbenkian, p. 126): "E em todos os casos sobreditos a Justiça haa
luguar, e se appellará por parte da Justiça, quando cada hua das partes nom apellar, ou desistir da acusaçam,
e esta assi da sentença definitiva dada em cada huu dos ditos casos, como da interlucutoria que aja força de
definitiuar (.. .)" .
Revista do Ministério Público. Rio de Janeiro: MPRJ, n . 46, out./ dez. 2012 41
de mais da marca; em que é mandado soltar o português, do qual querelando
algum estrangeiro se ausentou sem deixar procurador bastante; de sentença
que não pronuncia alguém em devassa ou querela; em que julga o Perdão do
Príncipe por conforme a culpa; de injuria. 74
Apelava-se ex officio não só nos casos de devassa, como também nos de
querela, desde que o delito fosse público. Esse foi o princípio que subsistiu no
direito das Ordenações Manuelinas e Filipinas.
Segundo concluiu BuzAio em seus estudos sobre o surgimento da apelação
ex officio, o instituto representou uma criação exclusiva do direito processual
penal lusitano e jamais foi transportado para o processo civil. O direito
português não conheceu a figura do recurso ex offtcio como instituto alheio às
causas criminais, porquanto invariavelmente atrelado aos procedimentos
penais. 75 Mas, em que pese a vocação criminal do instituto, seu uso no Brasil
pós-independência excedeu os contornos originários e expandiu-se para o
processo civil, sendo amplamente utilizado nas sentenças desfavoráveis à
Fazenda Nacional (Lei de 4 de outubro de 1831, art. 90).
No processo penal, a primeira previsão normativa do recurso de ofício
durante o período imperial remete à Lei n. 261, de 03/12/1841, que previa a
aplicação do instituto no caso de concessão de habeas corpus (art. 69, n. 7),
decisão do júri contrária à prova dos autos (art. 79, parágrafo 1°) e pena de
morte ou galés perpétuas (art. 79, parágrafo 2°).76
6 - CONCLUSÃO
7 - BIBLIOGRAFIA
Revista do Ministério Público. Rio de Janeiro: MPRJ, n. 46, out./ dez. 2012 43
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao código de processo civil.
Vol. V. Rio de Janeiro: Forense, 1974.
BORGES DE PINHO, David Valente. Dos recursos penais: breves notas sobre os
recursos na área criminal e sobre o habeas corpus. 2ª ed. Coimbra: Almedina,
2005.
BRAGA DA CRUZ, Guilherme. Obras esparsas: estudos de história do direito:
direito moderno. Vol. II. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1981.
BRAGA, Theophilo. História do direito portuguez - os forais. Coimbra:
Imprensa da Universidade, 1868.
BONILHA, José Carlos Mascari. Recurso de ofício. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2002.
BUENO, Eduardo. A coroa, a cruz e a espada: lei, ordem e corrupção no Brasil
Colônia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.
BUZAID, Alfredo. Da apelação ex officio no sistema do código de processo civil.
São Paulo: Saraiva, 1951.
CABRAL NETTO, Joaquim. Recurso ex officio, in: Revista dos Tribunais, v.
692, jun. de 1993, p. 242-246.
CAETANO, Marcello. História do direito português (sécs. XII - XVI) - seguida
de subsídios para a história das fontes do direito em Portugal do séc. XVI. 4ª ed.
Lisboa/São Paulo: Verbo, 2000.
COELHO DA ROCHA, Manuel Antonio. Ensaio sobre a história do governo e
da legislação de Portugal, para servir de introdução ao estudo do direito pátrio. 3ª ed.
Coimbra: Imprensa da Universidade, 1851.
COSTA, Moacyr Lobo da. A revogação da sentença: gênese e genealogia. São
Paulo: Ícone, 1995.
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 5ª ed. Lisboa: Fund ação
Calouste Gulbenkian, 2008 (trad. A.M. Hespanha e L.M. Macaísta
Malheiros).
GIORDANI, Mário Curtis. História do mundo feudal II/1: civilização. 3ª ed.
Petrópolis: Vozes, 1982.
GOMES DA SILVA, Nuno J. Espinosa. História do Direito Português . I vol.
Fontes de Direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985.
GUEDES, Clarissa. A impugnação das decisões interlocutórias no direito
lusitano, in: Revista eletrônica de direito processual, vol IV. Ano 3, jul.-dez. de
2009, p. 182-222 (disponível em www.redp.com.br) .