RCMA - Adaptação para Português Do Brasil

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Temas em Psicologia

ISSN: 1413-389X
[email protected]
Sociedade Brasileira de Psicologia
Brasil

Gorayeb, Maria Angela M.; Gorayeb, Ricardo


“O que penso e sinto” – Adaptação da Revised Children’s Manifest Anxiety Scale
(RCMAS) para o português
Temas em Psicologia, vol. 16, núm. 1, junio, 2008, pp. 27-37
Sociedade Brasileira de Psicologia
Ribeirão Preto, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=513753244003

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ISSN 1413-389X Temas em Psicologia - 2008, Vol. 16, nº 1, 27 – 37

“O que penso e sinto” – Adaptação da Revised Children’s


Manifest Anxiety Scale (RCMAS) para o português

Maria Angela M. Gorayeb


Ricardo Gorayeb
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Resumo
A Revised Children’s Manifest Anxiety Scale (RCMAS) foi traduzida e adaptada para o Português e
aplicada em 374 escolares de oito a 13 anos para padronização das normas. Médias e desvios padrões são
apresentados. Outras 46 crianças foram testadas em intervalos de uma e cinco semanas para avaliação da
estabilidade em longo prazo. A Validade de Construto do instrumento adaptado foi aferida por meio de
Análise Fatorial. Para avaliação da Validade Concorrente os pais das crianças participantes responderam
a um questionário que investigou a presença de sintomas de ansiedade, os quais foram correlacionados
com os escores obtidos na escala de Ansiedade. Os resultados mostram que a versão da RCMAS em
Português tem boas qualidades psicométricas disponibilizando para os pesquisadores da área de Saúde
Mental brasileiros um instrumento de mensuração de ansiedade manifesta em crianças.
Palavras-chave: Ansiedade, Escala, Crianças, Mensuração.

Revised Children’s Manifest Anxiety Scale (RCMAS)


adapt to Portuguese in Brazil

Abstract
The Revised Children’s Manifest Anxiety Scale (RCMAS) was translated and adapted into Portuguese
and administered to 374 students from 8 to 13 years old for standardization. Another 46 children were
retested at intervals of one and five weeks for the assessment of the test-retest reliability. Means and
standard deviations are presented. A Factor Analysis of the Portuguese standardized version of RC-
MAS was done in order to assess its Construct Validity. To asses the Concurrent Validity data of the
instrument, parents of the participant children answered a questionnaire to investigate manifest anxiety
symptoms presence, to correlate with children’s scale anxiety scores. The results show that the Brazil-
ian version of the RCMAS has good psychometric properties, allowing its use in clinical and research,
generally supporting the use of a scale by Brazilian mental health researchers in the children’s manifest
anxiety assessment.
Keywords: Anxiety, Scale, Children, Assessment.

A avaliação da ansiedade com o uso de testes tais e internalizantes na infância. Existem vários
psicológicos é um importante meio para a com- instrumentos psicométricos para a avaliação da
preensão dos efeitos de diferentes estressores no ansiedade em crianças (Spielberger, Edwards, &
desenvolvimento de transtornos comportamen- Lushene, 1973; Reynolds & Richmond, 1978;

Endereço para correspondência: Maria Angela M. Gorayeb. Rua Conde Afonso Celso, 1887. Ribeirão Preto, SP,
Brasil, 14. 020-210. Fone/fax: +55 16 3621 1234. E-mail: [email protected].
Apoio Financeiro: Fapesp.
28 Gorayeb, M. A. M., Gorayeb, R.

March & Sullivan, 1999), entre estes se desta- culdades de aprendizagem (Paget e Reynolds,
ca a Revised Children’s Manifest Anxiety Sca- 1984); crianças com inteligência superior a mé-
le (RCMAS), também conhecida por seu nome dia (Reynolds, 1985); e adolescentes (Lee, Pier-
comercial: “What I Think and Feel” (Reynolds sel, Friedlander, e Collamer, 1988).
& Richmond, 1978). A RCMAS é composta de A RCMAS tem sido amplamente utilizada
37 itens, sendo que estes se dividem em duas es- nos Estados Unidos e também em outros países
calas, uma para avaliação de ansiedade e outra, com idiomas diferentes, demonstrando que as
chamada “escala de mentira”, destina-se a uma adaptações da escala mantêm suas qualidades
avaliação qualitativa da aquiescência social da psicométricas e provêm dados para estudos in-
criança e da validade das respostas na escala de ter culturais da ansiedade de crianças da Nigéria
ansiedade. (Pela & Reynolds, 1982); Uruguai (Rodrigo &
Uma revisão da história da RCMAS mos- Lusiardo, 1992); México (Richmond & Millar,
tra que a referida escala é o resultado da revi- 1984); Israel (Ginter, Lufi, Trotzy, & Richmond,
são psicométrica da Children’s Manifest Anxiety 1989); Inglaterra (Mertin, Dibnah, Crosbie, &
Scale (CMAS) cuja finalidade foi de atualizar Bulkeley, 2001); Japão e Canadá (Richmond,
as expressões inglesas e tornar a escala mais Sukemune, Ohmoto, Kawamoto, & Hamazaki,
fácil de ser aplicada, sem perder as qualidades 1984; Turgeon & Chartrand, 2003).
psicométricas do instrumento (Castaneda, Mc- Nos últimos 30 anos, a RCMAS tem sido
Candless, & Palermo, 1956). usada em estudos de validação de novos instru-
A Validade de Constructo do instrumento mentos de avaliação psicométrica em diferen-
foi avaliada por meio de Análise Fatorial por Ro- tes países para cujas populações de crianças e
tação Varimax na qual se obteve três fatores para adolescentes foi adaptada (Inderbitzen-Nolan &
a escala de ansiedade (Reynolds & Richmond, Walters, 2000; Muris, Merckelbach, Ollendick,
1979). Reynolds e Paget (1981) analisaram os King, & Bogie, 2002; Olason, Sighvatsson, &
fatores da escala completa, incluindo a escala Smari, 2004; Kamps, Roberts, & Varela, 2005;
de mentira, em uma amostra representativa de Yang, Hong, Joung, & Kim, 2006).
4.972 crianças Norte-americanas encontrando Outros tipos de estudo que empregam a
resultados que apoiaram o estudo anterior. A Va- RCMAS como instrumento de medida de an-
lidade de Constructo da RCMAS não é afetada siedade são os estudos clínicos que avaliam o
por aspectos étnicos e culturais como mostrado impacto de diferentes estressores na saúde men-
pelo estudo de Pina, Little, Knight e Silverman tal de crianças, por exemplo, em condições clí-
(2009), mantendo a divisão da ansiedade em três nicas tais como a Artrite Juvenil (Ding, Hall,
fatores também no Uruguai (Rodrigo & Lusiar- Jacobs, & David, 2008); Asma (Wolf, Miller,
do, 1992) e na Coréia (Yang, Hong, Jung, & & Chen, 2008); Adição à Nicotina (DiFranza et
Kim, 2006). al., 2004); Fibrose Cística (Sredl et al., 2003) e
A Validade Convergente e Divergente da Epilepsia (Williams et al., 2003). Estudos para
RCMAS foi avaliada por meio das seguintes determinar o papel da ansiedade como compo-
medidas concorrentes: Teste de Goodenough, nente ou fator preditivo para doenças mentais
IDATE infantil e Walter Problem Identification também já utilizaram a RCMAS como instru-
Checklist (Reynolds, 1982). A Sensibilidade da mento de avaliação, por exemplo, no Transtorno
RCMAS em discriminar pacientes com ou sem de Déficit de Atenção (Baxter & Rattan, 2004);
Transtornos de Ansiedade e mensurar a resposta Transtorno Obsessivo-Compulsivo (Mather &
a tratamentos foi avaliada por Seligman, Cartwright-Hatton, 2004) e Depressão com ide-
Ollendick, Langley e Baldacci (2004), com bons ação suicida (Carter, Silvrman, Allen, & Ham,
resultados. 2008).
Outros estudos procuraram fornecer dire- O instrumento também se mostrou eficaz
trizes para o uso da RCMAS com populações na avaliação de efeitos terapêuticos na redu-
especiais, tais como pré-escolares (Reynolds, ção de sintomas de ansiedade, tanto através de
Bradley, & Steele, 1980); crianças com difi- tratamentos medicamentosos quanto psicotera-
“O que penso e sinto” – Adaptação da Revised Children’s Manifest Anxiety Scale 29
(RCMAS) para o português.

pêuticos, em pacientes com Transtorno Hiper- experiência de terem residido em países de lín-
cinético (Mozs, Meiri, Bem-Amity, Sabbagh, & gua inglesa) que avaliou a tradução realizada. As
Weizman, 2005); Obesidade (Brehm, Rourke, modificações sugeridas pelos juízes foram acata-
Cassell, & Sethuraman, 2003) e Transtorno de das sempre que houve acordo entre os mesmos.
Estresse Pós-Traumático (Chemtob, Nakashima, A segunda técnica de adaptação foi a de
& Carlson, 2002). pré-teste, sendo que dois pré-testes foram reali-
No Brasil, há uma deficiência de instru- zados. No primeiro pré-teste, foi realizada uma
mentos psicométricos adequadamente valida- aplicação coletiva do instrumento, traduzido e
dos para o trabalho de atendimento e pesquisa adaptado segundo as sugestões dos juízes, numa
em saúde mental. Assim, os profissionais ficam amostra de 15 crianças. Após responderem à es-
menos habilitados para identificar e tratar crian- cala as crianças participaram de uma discussão
ças ou populações de risco quanto aos sintomas em grupo sobre a compreensão e modificação
de ansiedade e suas conseqüências para a saúde dos itens, de acordo com a linguagem coloquial
e desenvolvimento infantis (Noronha, Primi, & desta população. O segundo pré-teste contou
Alchieri, 2004). O objetivo deste trabalho foi com 16 crianças que responderam a escala indi-
traduzir a RCMAS para o português e avaliar vidualmente, justificaram suas escolhas de res-
as qualidades psicométricas da escala adaptada, posta e parafrasearam cada item após leitura em
provendo aos profissionais brasileiros em saúde voz alta feita pelo pesquisador. Estas crianças
mental um instrumento útil e prático para avalia- também tiveram a oportunidade de sugerir mu-
ção da ansiedade infantil. danças de palavras para facilitar a compreensão
dos itens da escala.
Método Estes procedimentos de tradução e adapta-
ção apontaram apenas três itens para modifica-
Participante ções mais significativas em relação à primeira
tradução feita pelos pesquisadores. Nenhum
Participaram da amostra normativa 374 es-
item foi excluído ou acrescentado em relação ao
colares do ensino fundamental de oito a 13 anos
instrumento original, portanto a versão em por-
de idade (idade média de 10,5 anos, sendo 184
tuguês da RCMAS também possui 37 itens. Para
meninos e 190 meninas). Um segundo grupo de
assegurar ainda mais a adequação desta versão
46 estudantes do quarto ano do ensino funda-
foi feita uma retro-tradução da escala por um
mental, com idade média de 10 anos (21 meni-
tradutor profissional e nenhuma diferença signi-
nos e 25 meninas), foi testado três vezes em dois
ficativa foi encontrada entre as duas versões.
diferentes intervalos de tempo para avaliação da
Os participantes da amostra para padroniza-
estabilidade em longo prazo. Os pais de todos
ção das normas foram testados em grupos nas
os participantes forneceram seu consentimento
suas salas de aula pelo próprio pesquisador, que
para a participação da criança no estudo e res-
seguiu as instruções padronizadas de aplicação
ponderam um questionário sobre sintomas de
do manual original Norte-americano. Após res-
ansiedade da criança.
ponder à escala, cada estudante levou para casa
um questionário para que seus pais indicassem a
Procedimento
possível presença de sintomas de ansiedade na
A Western Psychological Services forneceu criança em questão. Os sintomas investigados
a permissão necessária para o uso da RCMAS foram enurese, onicofagia, sudorese das mãos,
para fins de pesquisas. A RCMAS foi traduzida agitação motora, bruxismo, tiques e gagueira.
da versão original em inglês pelos pesquisado- O grupo no qual foi testada a estabilidade
res e a adaptação cultural feita através de duas da escala em longo prazo passou por três aplica-
técnicas. ções, sendo o primeiro intervalo de uma semana
A primeira técnica de adaptação utilizada foi e o segundo intervalo de cinco semanas entre as
a de estabelecimento de um comitê de juízes (sete aplicações.
juízes, psicólogos e professores bilíngües, com
30 Gorayeb, M. A. M., Gorayeb, R.

Tratamento dos Dados A Validade Concorrente foi feita por meio


da correlação dos escores de ansiedade e número
As análises de médias e desvios padrões fo- de sintomas de ansiedade relatados pelos pais no
ram feitas por segmentos de sexo e idade, tanto questionário destinado a essa finalidade. O teste
para a escala de ansiedade quanto para a escala de correlação utilizado foi o de Spearman (Fon-
de mentira. Os resultados da escala de ansiedade seca et. al,. 1988).
mostram uma distribuição normal (p=0,1). Além
disso, uma análise de variância multivariada foi Resultado
realizada por sexo e idade em relação aos esco-
res totais de ansiedade. O Alfa de Cronbach para a escala de ansie-
Os resultados para a escala de mentira não dade foi de 0,85. Há muitos estudos sobre a con-
apresentaram um resultado com distribuição sistência interna da RCMAS nos Estados Unidos
normal (p<0,001). A análise de variância dos es- e o último deles concluiu que o Alfa de Cronba-
cores totais de mentira por sexo e idade foi feita ch para a escala de ansiedade é em média de 0,8
através do teste de Kruskal Wallis. (Gerard & Reynolds, 1999). Nota-se que não há
Os resultados de Alfa de Cronbach para as discrepâncias entre os resultados de consistência
escalas de ansiedade e mentira foram analisados interna Norte-americanos e os do presente estudo.
separadamente. As médias de ansiedade e respectivos des-
Para a avaliação da Estabilidade em longo vios padrão estão apresentados na Tabela 1. Os
prazo foi aplicado o teste de Correlações de Pe- escores de ansiedade apresentam uma distri-
arson, separadamente para as escalas de ansieda- buição normal (p=0,1) (Teste de Kolmogorov-
de e mentira. -Smirnov). A análise multivariada aponta para
A análise fatorial foi feita por meio de Rota- diferenças entre os sexos (p<0,001). Os escores
ção Varimax Ortogonal (Wilkinson, 1990). de ansiedade diferem por idade apenas para a
amostra masculina (p=0,1) com escores mais
baixos para os meninos de 11 e 12 anos de idade.

Tabela 1: Médias e Desvios Padrão para a Escala de Ansiedade Infantil “O que penso e sinto”, por Idade e
Sexo (n=374).

A Tabela 2 mostra os resultados para a es- chmond et al.,1984). Houve diferenças nos es-
cala de mentira. Os escores de mentira não dife- cores de mentira por idade tanto para a amostra
rem por sexo (p=0,18), como foi encontrado no masculina quanto para a feminina. Entretanto,
estudo original Norte-americano (Reynolds & somente os escores da amostra masculina foram
Paget, 1983) e também em um estudo intercul- mais elevados para grupos de crianças mais jo-
tural com crianças japonesas e canadenses (Ri- vens (p=0,02), como encontrado em outros es-
“O que penso e sinto” – Adaptação da Revised Children’s Manifest Anxiety Scale 31
(RCMAS) para o português.

tudos (Reynolds & Paget, 1983; Richmond et tendência oposta (p=0,04). As escalas de ansie-
al., 1984; Pina, Silverman, Saavedra, & Weems, dade e mentira apresentam um coeficiente de
2001) enquanto a amostra feminina revela uma correlação insignificante.

Tabela 2: Médias e Desvios Padrão para a Escala de Mentira Infantil “O que penso e sinto”, por Idade e
Sexo (n=374).

Tabela 3: Análise de Variância da Escala de Ansiedade Infantil “O que penso e sinto”, por Sexo e Idade
(n=374).

A Tabela 3 mostra os dados da análise de fatores exatamente idênticos aos resultados ori-
variância por sexo e idade. Não havendo diferen- ginais Norte-americanos, um fator sendo com-
ças entre as variáveis, não foram aplicados testes posto pelos itens que apresentam a possibilidade
Post Hoc. de dupla negativa (28, 32 e 36) e um fator com-
Quanto à estabilidade em longo prazo, posto pelos itens restantes da escala de mentira
quando são comparados os resultados da primei- (4, 8, 12, 16, 20 e 24). As cargas fatoriais para a
ra com a segunda aplicação da escala de ansieda- escala de mentira são satisfatoriamente elevadas,
de, com um intervalo de uma semana entre elas, variando de 0,512 à 0,809.
o coeficiente de correlação encontrado é de 0,88. Os três fatores de ansiedade são bastante
Para o intervalo de cinco semanas entre a pri- semelhantes aos resultados Norte-americanos e
meira e terceira aplicações o coeficiente de cor- desta forma foram nomeados da mesma manei-
relação é de 0,75 (p< 0,01). Já a estabilidade em ra (Concentração, Preocupação e Fisiológico).
longo prazo para a escala de mentira apresentou Além disso, tais nomes descrevem muito bem o
um índice de correlação de 0,75 para o período conteúdo dos itens agrupados em cada um dos
de uma semana e de 0,64 para o intervalo de cin- fatores, como apresentado na Tabela 4. A Tabela
co semanas (p<0,01). 4 mostra também as cargas fatoriais para cada
A análise fatorial por cinco fatores resultou item, apontando a clareza da análise fatorial para
em dois fatores de mentira e três fatores de an- a versão em Português da RCMAS, com itens
siedade. A escala de mentira dividiu-se em dois carregados em apenas um fator.
32 Gorayeb, M. A. M., Gorayeb, R.

Tabela 4: Três Fatores resultantes da Análise Fatorial da Escala de Ansiedade Infantil “O que penso e
sinto”.
“O que penso e sinto” – Adaptação da Revised Children’s Manifest Anxiety Scale 33
(RCMAS) para o português.

O fator Concentração consiste de 11 itens Os resultados para a validade concorrente,


(03, 09, 11, 15, 21, 23, 27, 31, 33, 35 e 37), o fa- avaliada por meio da correlação entre o número
tor Preocupação tem 10 itens (01, 02, 06, 07, 10, de sintomas de ansiedade relatados pelos pais e
14, 18, 22, 26 e 34) e o fator Fisiológico agrupa os escores obtidos pela criança na escala, mos-
sete itens (05, 13, 17, 19, 25, 29 e 30). A variân- tram significância estatística para quatro sinto-
cia total é de 30,982%. mas (p<0,05). Poucas crianças apresentaram
De acordo com a técnica de Kaiser (Wi- cinco ou mais sintomas, o que pode não ter con-
lkinson, 1990) seria mais significante estatisti- ferido significância estatística ao resultado.
camente se a escala de ansiedade fosse analisa- A Tabela 5 mostra os resultados de médias
da por oito fatores. A variância neste caso seria de ansiedade correlacionados ao número de sin-
51,921%, mais significativa que na análise por tomas de ansiedade das crianças indicados pelos
cinco fatores (30,982%). As cargas fatoriais são seus pais. As crianças que apresentaram poucos
também mais altas para a análise em oito fato- sintomas também apresentaram escores de an-
res, como pode ser observado no Anexo 1, que siedade dentro da faixa de normalidade, segun-
mostra os agrupamentos dos itens da escala por do os dados de padronização de normas deste
oito fatores, com propostas de nomeações de mesmo estudo. Ao contrário, as crianças cujos
sub-escalas de acordo com o significado psicoló- escores foram mais elevados apresentaram três,
gico das assertivas de cada grupo. É apresentada quatro ou mais sintomas de ansiedade.
apenas a maior carga para cada item.

Tabela 5: Correlação entre número de Sintomas de Ansiedade Indicados pelos Pais e Média Bruta de An-
siedade das Crianças na Escala de Ansiedade Infantil “O que penso e sinto”.

Tal correlação positiva é um indicativo de na adaptação do instrumento para o espanhol no


que a versão em Português da RCMAS tem vali- Uruguai (Rodrigo & Lusiardo, 1992) e também
dade e sensibilidade, ou seja, propriedades ade- na versão hebraica de Israel (Ginter et al., 1989).
quadas para a mensuração da ansiedade manifes- Os dados de estabilidade em longo prazo,
ta em crianças no Brasil. realizada neste estudo por meio da reaplicação
do instrumento em intervalos de uma e cinco
Discussão semanas, são similares aos de Wisniewski, Mu-
lick, Gensaft, e Coury (1987), os quais foram
Escores de ansiedade mais elevados em de 0,88 para o intervalo de uma semana e 0,77
indivíduos do sexo feminino, como encontrado para o intervalo de cinco semanas para a escala
nesta pesquisa, foram encontrados também em de ansiedade e de 0,63 para o intervalo de uma
outros estudos, tais como na pesquisa normati- semana e de 0,75 para cinco semanas para escala
va Norte-americana (Reynolds & Paget, 1983); de mentira.
34 Gorayeb, M. A. M., Gorayeb, R.

Quanto à Análise Fatorial, é importante siedade infantis em sua prática clínica ou pes-
citar que quando ocorre uma diferença no quisas.
agrupamento de determinados itens em relação Novos estudos são necessários para ampliar
ao estudo original não há perda de significado os dados normativos para faixas etárias mais
psicológico, por exemplo, o item 30 (“Eu me abrangentes, populações especiais e aprofunda-
preocupo quando vou para a cama à noite”) que mento da avaliação das qualidades psicométricas
no estudo original obteve maior carga no fator com amostras maiores e mais representativas da
Preocupação, neste estudo obtém maior carga população infantil brasileira.
como fator Fisiológico. Não seria inapropriado
considerar que dificuldades para adormecer Referências
ou manter uma boa qualidade de sono sejam
sintomas de Transtornos do Sono, também Baxter, J., & Rattan, G. (2004). Attention deficit dis-
freqüentemente associados a Transtornos de order and the internalizing dimension in males,
Ansiedade (Flaherty et al., 1990). ages 9-0 through 11-11. International Journal of
Embora a análise por oito fatores resulte Neuroscience, 114(7), 817-832.
em maior significância estatística e significados Brehm, B. J., Rourke, K. M., Cassell, C., & Sethura-
psicológicos mais específicos para cada fator, man, G. (2003). Psychosocial outcomes of a
os autores do presente estudo recomendam que pilot multidisciplinary program for weight man-
os pesquisadores brasileiros utilizem a divisão agement. American Journal of Health Behavior,
por cinco fatores, uma vez que os resultados são 27(4), 348-354.
comparáveis aos vários estudos interculturais Carter, R., Silverman, W. K., Allen, A., & Ham, L.
que utilizam a RCMAS em todo o mundo. De- (2008). Measures matter: the relative contribu-
vido às boas qualidades psicométricas da versão tion of anxiety and depression to suicidal ideation
brasileira da RCMAS, clinicamente o instrumen- in clinically referred anxious youth using brief
to poderia ser analisado tanto para cinco quanto versus full length questionnaries. Depress
Anxiety, 25(8), 27-35.
para oito fatores.
Os sete sintomas de ansiedade investigados Castaneda, A., McCandless, B. R., & Palermo, D.
junto aos pais dos participantes deste estudo fo- S. (1956). The children’s form of the Manifest
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ram escolhidos pelos pesquisadores baseados
em sua experiência clínica e pela facilidade de Chemtob, C. M., Nakashima, J., & Carlson, J. G.
observação dos mesmos pelos próprios pais. A (2002). Brief treatment for elementary school
ausência de outros instrumentos psicométricos children with disaster-related posttraumatic
stress disorder: a field study. Journal of Clinical
validados para mensuração da ansiedade infan-
Psychology, 58(1), 99-112.
til não permite uma avaliação de validade mais
formal. DiFranza, J. R., Savageau, J. A., Rogotti, N. A.,
O objetivo de adaptar a RCMAS para a po- Ockene, J. K., McNeill, A.D., Coleman, M.,
& Wood, C. (2004). Trait anxiety and nicotine
pulação escolar brasileira foi bem sucedida uma
dependence in adolescents: a report from the
vez que as qualidades psicométricas do instru- DANDY study. Addict Behaviors, 29(5), 911-
mento adaptado e nomeado de “O Que Penso 919.
e Sinto” são bastante semelhantes às da escala
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Psychological functioning of children and
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para o português, com adequadas propriedades related to physical disability but not to disease
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“O que penso e sinto” – Adaptação da Revised Children’s Manifest Anxiety Scale 35
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“O que penso e sinto” – Adaptação da Revised Children’s Manifest Anxiety Scale 37
(RCMAS) para o português.

Anexo I

Agrupamento de itens da Escala de Ansiedade Infantil “O que penso e sinto” em 8 fatores e suas
cargas fatoriais

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