Do Sistema Nervoso A Mediunidade - Ary Lex (Matriz Alexandre)

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DO SISTEMA NERVOSO À MEDIUNIDADE

ARY ALEX

O SISTEMA NERVOSO
GLÂNDULAS ENDÓCRINAS

PERISPÍRITO – O TRANSE
ANIMISMO – AS MISTIFICAÇÕES
MEDIUNIDADE

OS FLUIDOS – OS PASSES
AS OPERAÇÕES ESPIRITUAIS

FESP – FEDERAÇÃO ESPÍRITA DE SÃO PAULO


DO SISTEMA NERVOSO À MEDIUNIDADE

PREFÁCIO
O movimento espírita muito deve ao dr. Ary Lex, que há mais de 40 anos
vem realizando um trabalho ingente de preservação da pureza doutrinária.
Trabalhador de primeira hora, figura austera, dedicada e de grande
inteligência, fez um trabalho, como ele próprio afirma, de arrancar os tocos da
gleba para que outros expositores pudessem arrotear e plantar as sementes do
ensino dos Espíritos e do Evangelho de Jesus. Ele próprio, embora possuidor
do dom da oratória fácil, preferiu ficar com a árdua tarefa, muitas vezes
antipática do crítico, do policiador que fala apontando erros doutrinários e
abrindo os olhos do entendimento aos espíritas ainda presos às práticas
exteriores, dogmas e fantasias.

Deste difícil trabalho, dr. Ary Lex editou o seu primeiro livro espírita
"Pureza Doutrinária", que sem sombra de dúvida é uma obra necessária e de
imprescindível estudo e reflexão. Obra editada pela Edições FEESP, da
Federação Espírita do Estado de São Paulo, é livro de estudo obrigatório na sua
Área de Ensino, no curso de Expositores e recomendada para todos os Centros
Espíritas.

No campo profissional, dr. Ary Lex é médico cirurgião. Foi diretor do


Centro Cirúrgico do Hospital das Clínicas, de 1946 a 1978, diretor dos
Ambulatórios, de 1980 a 1983 e Diretor executivo do instituto Central das
Clínicas, de 1983 a 1985, cargo no qual se aposentou. E autor do livro 'Biologia
Educacional", editado pela Cia. Editora Nacional, com mais de 20 edições, autor
do livro "Hérnias, usado nas faculdades de Medicina.

Com a autoridade de professor titular de Biologia Educacional, Biologia II


e Neuro-físico-anatomia e expositor, pesquisador, estudioso da Doutrina
Espírita é que o dr. Ary Lex traz a lume esta magnífica obra "Do Sistema
Nervoso a Mediunidade", resultado do seu profícuo trabalho.

Partindo da premissa de que o Espírito é o agente responsável por toda


vida mental e que dele partem o comando e o controle do corpo biológico, o
autor estabelece a ponte de união com a mediunidade através do Sistema
Nervoso, salientando as íntimas relações entre a atividade mental e as funções
dos órgãos e por ação das glândulas endócrinas, que com seus hormônios,
inundam praticamente todo o organismo e, por meio de mecanismos
extremamente complexos, comandam o funcionamento dos órgãos, dentro da
mais perfeita harmonia.
Capítulos importantes seguem-se ao estudo do Sistema Nervoso e
Glândulas Endócrinas: Perispírito, o Transe, Animismo e Espiritismo,
Mediunidade, os Fluidos, o Tratamento Espiritual e as Operações
Espirituais.
A sequência dos assuntos abordados, de forma didática e
pedagógica, mostra a longa experiência de professor. Senão vejamos. Nos
dois primeiros capítulos o leitor conhecerá à luz da ciência oficial os
complexos mecanismos do sistema nervoso e das glândulas Endócrinas que
comandam os órgãos e aqueles, por sua vez, são comandados pelo espírito
através do perispírito, corpo intermediário entre a alma e o corpo físico,
assunto este estudado no terceiro capítulo. A partir daí a compreensão dos
estados de transe e os fenômenos anímicos e mediúnicos que são os temas
seguintes tornam-se de fácil assimilação.
Em seguida, enfeixando a obra, o autor faz um magnífico estudo sobre
"Fluidos" para introduzir o leitor no estudo das terapias espíritas através dos
passes e cirurgias espirituais.
A linguagem é do professor que ensina e o conteúdo digno de um
pesquisador, estudioso da Doutrina Espírita. Escreve com naturalidade,
concisão e clareza, tornando a obra de cunho científico-doutrinário de fácil
leitura e compreensão.
Participou ativamente por mais de 40 anos do Conselho
Deliberativo da Federação Espírita do Estado de São Paulo e da União das
Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, foi fundador da Associação
Médico Espírita de São Paulo - AME-SP, onde exerceu o cargo de presidente.
Pertenceu à comissão de Doutrina da FE-3
ESP, desfeita em 1985, que tinha a finalidade de analisar as obras
espíritas editadas ou a editar, nos aspectos doutrinário e da estilística. Com
a proliferação exagerada de obras novas editadas no meio espírita e sem a
atuação daquela comissão à qual pertenceu o dr. Ary Lex, que era
considerada muito exigente, mas, ao nosso ver muito necessária,
lamentavelmente hoje há inúmeras obras que, ao invés de bem divulgar a
Doutrina Espírita, estão prestando um desserviço a causa espírita.
A FEESP, somente em 1993, através de sua Área de Divulgação
reativou a comissão de Doutrina com novos elementos, entretanto, deve
haver por volta de 500 títulos editados e não analisados nos 7 anos que se
passaram ...
Que o trabalho do dr. Ary Lex seja um exemplo de ideal espírita a ser
seguido por todos aqueles que amam a Doutrina Espírita e desejam vê-la
bem compreendida, vivenciada e respeitada.
Para mim, prefaciar o livro do grande Dr. Ary Lex é uma honra
imerecida, que agradeço do fundo de Minh ‘alma. Humildemente.

JÚLIA NEZU OLIVEIRA


CAP I - CONTROLES ORGÃNICOS
CONTROLES ORGÂNICOS - O SISTEMA NERVOSO

Segundo o Espiritismo, quando encarnados, somos compostos de:


corpo físico, Perispírito e Espírito ou alma. Para Allan Kardec, alma é
sinônimo de Espírito encarnado (pergunta 134 de "O Livro dos Espíritos").
"A alma, antes de ligar-se ao corpo, é um dos seres inteligentes que povoam
o mundo invisível. Depois, reveste, temporariamente, um invólucro carnal,
para se purificar e se esclarecer.
Certas doutrinas ensinam que alma e Espírito são diferentes e criam
uma terminologia variada. A Teosofia, por exemplo, admite a existência de
sete corpos, entre os quais o corpo astral. Essa designação tem causado não
raras confusões nos ambientes espíritas. Allan Kardec, grande pedagogo que
era, procurou sempre simplificar as coisas e evitar números excessivos de
termos e de neologismos.
O Espírito está unido ao veículo físico através do Perispírito,
verdadeiro elemento de ligação, cujos detalhes estudaremos em capítulos
posteriores. No que tange ao corpo orgânico, nele encontramos certos órgãos
e aparelhos como elementos incumbidos de atividades controladoras do
trabalho de todo o organismo, de modo a manter a harmonia funcional.
Estamos convictos desse fato e afirmamos, categoricamente, que o
Espírito é o responsável por toda a nossa vida mental, que dele partem as
ordens para os vários órgãos, além de receber, através dos órgãos dos
sentidos, todas as impressões do mundo exterior. Entretanto, o fato de ser
responsável, o Espírito não exclui a necessidade da existência de seus
instrumentos de atuação; na comparação de Kardec, o pianista precisa do
piano, em boas condições, para executar suas partituras. Por isso, de forma
didática, podemos esclarecer que o corpo físico está submetido a três setores
de comando: o sistema nervoso, as glândulas endócrinas e o Perispírito.

SISTEMA NERVOSO

Compõe-se de dois conjuntos de órgãos: o sistema nervoso da vida de


relação ou cérebro-espinhal e o sistema nervoso da vida vegetativa,
autônomo ou vago-simpático. Vamos estudá-los de maneira extremamente
resumida, colhendo, apenas, os dados que possam interessar aos Espíritas.
Esperamos que tais dados sejam instrumentos úteis, não só como cultura
geral, mas também para capacitar os leitores a melhor entenderem as
relações Corpo-Perispírito-Espírito e as raízes da mediunidade.

1 - SISTEMA NERVOSO DA VIDA DE RELAÇÃO

Esta parte do complexo sistema nervoso do homem abrange: encéfalo,


medula, nervos e plexos.
ENCÉFALO - É tudo o que está dentro do crânio ósseo.
Seus órgãos mais importantes são: o bulbo, a ponte, o cerebelo e o
cérebro.
BULBO - Está entre o cérebro e a medula, na altura da nuca.
Nele se encontram os núcleos autônomos que comandam a respiração,
os batimentos cardíacos e a pressão sanguínea. Um traumatismo que afete o
bulbo leva à morte, por parada cardíaca. Era com uma martelada na nuca
que, antigamente, se matavam os bois nos matadouros. Além desses
núcleos, verdadeiros centros de comando, passam pelo bulbo fibras motoras,
que descem do cérebro, trazendo ordens para a contração dos músculos,
bem como fibras sensitivas, que vão da periferia para o cérebro, levando as
sensações do tato, dor, pressão etc.
CEREBELO - É parecido com o cérebro, com dois hemisférios cerebelosos
e numerosas dobras, chamadas circunvoluções ce-rebelosas. Possui substância
cinzenta por fora e substância branca por dentro. Lembram os que as fibras vão
dar origem aos nervos: é por elas que passa o impulso nervoso. A principal
função do cerebelo é a coordenação motora do corpo. É ele que comanda o
equilíbrio, em tarefa conjunta com o ouvido interno ou labirinto e o córtex
cerebral. Lesões do cerebelo levam a perturbações na locomoção. Podemos
citar as labirintites, em que, por alterações no ouvido médio, a pessoa apresenta
a tontura giratória.

PONTE OU PROTUBERÂNCIA - Fica à frente do cerebelo e é formada


principalmente por fibras nervosas, que vão de um hemisfério cerebelar ao
outro e fibras que vão ao cérebro.
CÉREBRO - É a parte mais importante do encéfalo, porque suas regiões
estão ligadas às emoções, à aprendizagem, à linguagem e ao pensamento. Entre
as numerosas partes que o compõem, as mais importantes são: os hemisférios
cerebrais, o tálamo e o hipotálamo. Embora esta exposição possa parecer um
tanto árida, julgamos necessário apresentá-la, porque André Luiz cita, várias
vezes, esses termos, sem defini-los, e supomos que facilitaremos a
compreensão de seus ensinos.

O cérebro é formado por dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo,


que preenchem a quase totalidade do crânio. São revestidos por substância
cinzenta, por fora, (o córtex cerebral), e substância branca, por dentro. No meio
desta, que é constituída por fibras nervosas, encontramos vários núcleos
cinzentos. O córtex é responsável pela nossa atividade mental. Nos animais
inferiores, o córtex é pouco desenvolvido.

O cérebro abrange os lobos (pronúncia: primeiro ó aberto) frontais,


temporais, parietais e occipitais. A região frontal está ligada às funções
superiores - conhecimento, motricidade e expressão verbal. Uma lesão na
circunvolução frontal ascendente determina paralisia de partes do corpo ou de
toda uma metade (hemiplegia). É o que acontece com quem sofre um "derrame
cerebral, chamado pelos médicos de "acidente vascular cerebral". O centro da
linguagem falada está no pé dessa circunvolução, no hemisfério esquerdo.
Lesado, surge dificuldade para falar, na chamada amnésia verbal, pois a pessoa
perdeu os símbolos das palavras faladas, não conseguindo falar, embora tenha
a laringe e os demais órgãos da fala normais.

O lobo occipital comanda a visão, o lobo temporal, a audição e a memória.

O grande neurologista espírita dr. Nubor Facure, chefe do Departamento


de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas de Campinas, em conferência
proferida na Associação Médico-Espírita de São Paulo, disse o seguinte: "Em
termos anatômicos, não há no cérebro uma área com a função específica de
pensar.

Compreende-se, hoje, o pensamento como resultante da atividade


cortical cerebral com o um todo. Têm papel preponderante as porções
anteriores do lobo frontal esquerdo, o corpo caloso e as vias de associação entre
as diversas áreas do cérebro e entre os hemisférios direito e esquerdo."
(Boletim Médico-Espírita - Ano II - n°. 3 dezembro de 1985).
TALAMO - Já no século passado, Henry Head relacionava o tálamo com
as reações afetivas, o que foi confirmado por estudos posteriores. Podemos
dizer que ele confere a tonalidade emocional as reações orgânicas; é o
selecionador das recepções sensitivas.

HIPOTÁLAMO - Órgão citado por André Luiz em vários de seus livros.


Fica situado na parte inferior do cérebro, próximo à glândula hipófise. Exerce o
controle primário das funções autônomas.

A temperatura do corpo depende do hipotálamo. Quando o corpo precisa


perder calor, o hipotálamo determina uma dilatação dos vasos sanguíneos faz
aumentar a quantidade de suor e apressa a respiração. E centro nervoso
importante como regulador da secreção das glândulas endócrinas. Controla o
metabolismo, conjunto de trocas, pelas quais nosso organismo absorve os
alimentos. As sensações de fome e de sede dele dependem. Existem no
hipotálamo dois núcleos: um é o excitador do apetite, e outro, inibidor. Se o
primeiro for estimulado, o animal começa a comer sem parar e, se o segundo
for excitado, o animal passa a recusar os alimentos. Experiências feitas com
gatos mostraram que: destruindo-se o primeiro núcleo, com uma agulha de
platina com ponta incandescente, introduzida através do crânio, o gato recusa
a comida e morre de fome. Destruindo-se o segundo núcleo, o gato passa a
comer, até ficar com o estômago abarrotado. No ser humano, a hiperfunção
desse núcleo pode levar a um tipo de obesidade.

MEDULA - Abaixo do bulbo, situada fora do crânio e alojada dentro da


coluna vertebral, vamos encontrar a medula raquidiana ou nervosa (não
confundir com medula óssea, como erradamente encontramos em um livro
sobre passes e radiações).

A função da medula consiste em conduzir os impulsos provenientes do


cérebro, bem como os impulsos a ele dirigidos. O controle dos movimentos do
corpo é exercido pelo cérebro, através de fibras nele nascidas e que depois
percorrem a medula indo formar os nervos. Mas a medula pode também, sem
interferência do cérebro e da vontade, responder aos estímulos, nos chamados
atos reflexos simples. Por exemplo: quando picamos a pele do pé, a pessoa,
automaticamente, encolhe a perna, fugindo ao excitante, sem interferência da
vontade. Esse é um ato reflexo simples.

NERVOS - São formados por prolongamentos das células nervosas,


chamados axônios. Conjunto de axônios formam as fibras nervosas e os nervos.
Os núcleos dos quais partem os axônios ficam na substância cinzenta do
cérebro, do bulbo e da medula.

Existem nervos motores, sensitivos e mistos.

Os nervos se compõem de dois grandes grupos: os cranianos e os


raquidianos. Os cranianos são assim chamados por nascerem dos órgãos
nervosos, situados dentro do crânio. São em número de 12 pares: olfativo, ótico,
motor-ocular comum, patético, trigêneo, motor-ocular externo, facial, auditivo,
glossofaríngeo, vago ou pneumogástrico, espinhal e grande-hipoglosso. Não
estudaremos cada um deles, pois seria assunto demasiadamente fastidioso e
sem grande utilidade para os leitores. Lembramos, apenas, que o vago, o mais
importante dos nervos cranianos, dá, no seu trajeto dentro do tórax, ramos para
o coração, para os pulmões e para o esôfago. O abdome fornece ramos para o
estômago, fígado e plexo solar. Embora sendo nervo craniano, o vago pertence,
também, ao sistema nervoso autônomo.

NERVOS RAQUIDIANOS - Abrangem: 8 pares de ramos cervicais, 12


pares dorsais, 5 lombares, 5 sacros e o nervo coccigiano (total) - 31 pares.
Todos nascem da medula, escalonados ao longo da coluna vertebral. Saem da
coluna pelos buracos intervertebrais. Esses nervos contribuem para formar os
6 plexos de nervos da vida em relação: cervical, braquial (que dá ramos para os
membros superiores), intercostais, lombar, sacro e sacrogiano.

PLEXOS - São entrelaçamentos de nervos, formando uma verdadeira


rede.

2 - SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

O sistema nervoso autônomo ou da vida vegetativa forma dois longos


cordões, um à direita e outro à esquerda da coluna vertebral. Esses cordões são
interrompidos por pequenos nódulos, chamados gânglios simpáticos. Seus
ramos dirigem-se às vísceras, vasos sanguíneos e glândulas. Os ramos do
simpático se entrelaçam no abdome, atrás do estômago e do fígado, formando
o plexo solar, ao qual os Espíritos se referem com frequência. O plexo solar
envia nervos à maior parte das vísceras do abdome, formando 12 plexos
secundários. Além do plexo solar, fazem parte do sistema nervoso autônomo os
seguintes plexos: cardíaco, carotídeo, lumbo-aórtico e hipogástrico. É esquisito
que encontremos, em certas obras espíritas, referências a plexos nervosos que
não existem, como o plexo cerebral e o genésico.
O simpático comanda o funcionamento das vísceras, dos vasos
sanguíneos (artérias, veias e arteríolas) e das glândulas, agindo em estreita
conexão com o vago ou parassimpático. Funcionam em antagonismo: por
exemplo, na pupila dos olhos o parassimpático faz com que ela se contraia, se
estreite, e o simpático faz com que ela se dilate. A pupila se dilata, quando
olhamos objetos situados perto de nós, e se fecha, quando olhamos objetos
distantes. Quando vamos fazer exame de fundo de olho, o oculista pinga
atropina, que bloqueia o parassimpático e faz a pupila dilatar-se, para melhor
poder examinar a retina, situada no fundo do olho.

3 - SISTEMA NERVOSO - EMOÇÕES E AUTOMATISMOS

Certas emoções produzem vasoconstrição, isto é, diminuição do calibre


dos vasos sanguíneos, com menor afluxo de sangue à região do rosto, ficando a
pele pálida. Nas emoções de susto ou medo geralmente ficamos pálidos. Outras
emoções levam a uma vasodilatação, com aumento do afluxo de sangue à face
e, consequentemente, "rubicundez." (Este termo significa ficar rubicundo,
vermelho, corado). Os estados de agressividade, de ódio, deixam-nos com o
rosto congesto. Estes casos simples já nos mostram, claramente, a influência da
mente sobre o corpo.

Ademais, o vago é excitador do estômago e frenador do coração, ou seja,


diminui a frequência dos batimentos cardíacos. Como é excitador do estômago,
faz aumentar a secreção do ácido clorídrico, produzindo hiperacidez, o que
predispõe à formação das úlceras do estômago e duodeno. As emoções,
estimulando o vago, são consideradas, por isso, uma das principais causas
dessas úlceras. Durante mais de um século, usaram-se beladona e atropina, que
bloqueiam o vago e diminuem a produção de ácido, no tratamento das úlceras
gástricas e duodenais. As farmácias aviavam receitas com pós alcalinos e
beladona. Hoje, nas úlceras rebeldes aos tratamentos clínicos, procede-se à
operação chamada "vagotomia", que consiste em cortar o nervo vago, para que
seus estímulos não cheguem mais ao estômago e a produção de ácido diminua,
esperando-se, com isso, curar a úlcera.

Em artigo recente, H. Capisano (Ars Curandi - março - abril de 1992) diz:


'Há 50 anos, repetem-se trabalhos experimentais conjuntos, reunindo
psicanalistas, clínicos, fisiologistas, farmacologistas, com o objetivo de provar
aos incrédulos que fatores emocionais, com maior ou menor intensidade, têm
algum papel, ora mais, ora menos importante, na gênese de algumas doenças,
entre elas a úlceragastro duodenal. Angústia e desejo de fuga determinam
diminuição da motilidade e secreção gástricas. Insegurança e ressentimentos
causam hipermotilidade e hipersecreção gástricas. Os atos médicos e cirúrgicos
funcionam em relação às indicações objetivas e conscientes. Tais atos implicam
na redução da realidade humana à matéria. Aliviam-se sofrimentos físicos com
produtos farmacológicos ou com ressecção da parte doente, mas não se
resolvem conflitos." Ficamos contentes ao ler declarações desse tipo, partidas
de médicos não-espíritas, reconhecendo o valor da mente na origem das
moléstias. É meio caminho andado para reconhecer o valor do tratamento
espiritual.

As emoções ainda, através do vago-simpático, aumentam a secreção das


glândulas sudoríparas, produtoras do suor, principalmente as das axilas. É fato
sabido que, quando a pessoa tem emoções, principalmente ansiedade, emite
suor frio e fica com a camisa ou a blusa toda encharcada de suor. Nos exames
escolares, o jovem "sua frio". Podem, também, as emoções diminuir a secreção
das glândulas salivares, que produzem a saliva, e a pessoa fica com a boca seca.

Dissemos atrás que o vago é frenador do coração, de modo que uma


descarga vagal violenta pode determinar parada cardíaca e morte. Isto acontece
com os pugilistas que levam um soco na altura do plexo solar, no chamado
"golpe baixo".

Algumas emoções provocam taquicardia, isto é, aumento da frequência


dos batimentos do coração, por estímulo do simpático. Diz-se, amiúde: "Fiquei
nervoso e meu coração disparou."

Vejamos o que diz Clifford Morgan, em seu livro "Psicologia Fisiológica"


(Editora da USP - 1973): "Na emoção forte, há, também, mudanças glandulares.
Várias glândulas podem ser afetadas, mas as modificações mais importantes
ocorrem na glândula suprarrenal. A medula dessa glândula é diretamente
inervada pelo sistema simpático e descarrega no sangue suas secreções.

Admitiu-se, por muito tempo, que estados emocionais, principalmente


quando persistem por longo período, podem afetar, profundamente. vários
órgãos, danificando-os, às vezes diretamente, e, outras vezes, predispondo-os
às infecções. Entre os efeitos, temos a síndrome de adaptação geral dos
organismos em resposta à situação do 'stress', condição que faz o organismo
mobilizar recursos e queimar mais energias do que geralmente acontece. O
primeiro estágio, chamado de reação de alarme, consiste em mudanças
corporais típicas das emoções. Mas, se o 'stress' continuar por algum tempo, o
organismo passa ao segundo estágio, chamado 'resistência ao stress'. Nesse
estágio, o organismo se recupera de suas primeiras explosões de emergência e
tolera o 'stress' da melhor forma possível. Se o 'stress' é grave e perdura
bastante, atinge-se o terceiro estágio, o de exaustão. Neste, o organismo pode
debilitar-se e morrer."

Este trecho citado, de fonte extremamente valiosa, visa trazer aos


prezados leitores uma explicação exata, científica, embora resumida, do
conceito de "stress" e do que se passa durante o mesmo. Devemos evitar nos
incorporarmos àqueles sabichões que usam, a todo momento, a palavra
"stress", sem conhecer-lhe o significado. Para eles, tudo o que acontece na vida,
o cansaço, após o trabalho excessivo, as dificuldades econômicas pelas quais
passamos, enfim tudo o que consiste em dificuldade é "stress". "Meus filhos
estão me dando muito trabalho; por isso, tenho estado muito estressada." Está
se atribuindo ao "stress" um significado amplo demais.

As considerações por nós feitas neste capítulo visam enfatizar a


importância que têm as emoções e o psiquismo em geral sobre o organismo.
Hoje, a própria medicina já aceita este fato e partiu para uma terapêutica nova:
a "medicina psicossomática". Esta nova versão permite tratar o homem não
mais como um indivíduo formado apenas por matéria, apenas pelo organismo
físico, mas como um conjunto corpo-Espírito. Muitas vezes, temos que buscar
as causas de moléstias funcionais e até orgânicas em distúrbios da alma.

Os dermatologistas afirmam que certos eczemas e outras moléstias da


pele têm por causa um distúrbio emocional. Conhecemos pessoas neuróticas
que não se curaram com os tratamentos tradicionais e tiveram seus eczemas
curados com antidistônicos (tranquilizantes) e psicoterapia.

AUTOMATISMOS - Já pensaram os leitores como difícil seria a vida se,


para darmos um passo, precisássemos pensar em cada contração muscular
necessária para dá-lo? A ordem inicial, sem dúvida, parte do Espírito, mas os
detalhes para a realização do ato são coordenados automaticamente. Isto
acontece para andar, correr, saltar, patinar, nadar e muitos outros atos. Alguns
são semiautomáticos, como guiar automóvel. Todos se lembram de quando
estavam aprendendo a guiar - cada movimento com as mãos e pés tinha de ser
decidido pela vontade e com esforço.

Com o aprendizado, os atos se tornaram automáticos e pouca coisa tem


de ser resolvida conscientemente. Para aprender a escrever, ocorre o mesmo:
a criança procura copiar um modelo e cada traço, cada letra é feita com esforço.
Os traços saem tremidos, fora de linha, umas letras grandes demais e assim por
diante. Depois do aprendizado, a pessoa escreve rapidamente, sem nunca
pensar quais os traços que deve executar.

Essa automatização dos atos é muito útil para a humanidade: poupa


esforços conscientes, livrando a mente para atividades mais elevadas e mais
nobres.

4 - SISTEMA NERVOSO E CONSCIÊNCIA

Falamos em atos automáticos. Dissemos que muitos dos atos não exigem
que deles tomemos conhecimento, no momento, e que estão fora do domínio da
consciência. Referiremos, ao estudar os fenômenos anímicos e mediúnicos, os
fatos ditos supranormais, subconscientes. Diremos que muitos impulsos,
muitas ideias provêm do subconsciente. Muita coisa dele brota, durante os
sonhos, e muita coisa chega a influenciar nossa conduta. Que relação terão com
as capacidades do Espírito e do Perispírito?

Essas são as questões que procuraremos abordar, dentro de nossas


limitações e do plano deste livro, nos próximos capítulos.

No momento, impõe-se a nós dizer algo sobre a consciência.

Bibliotecas inteiras foram escritas, e o assunto continua nebuloso.


Explicações se sucedem a explicações, umas contradizendo outras.

Recentemente, destacou-se o filósofo austríaco Karl R. Popper, cujos


trabalhos tiveram repercussão mundial, que nós, como Espíritas, não podemos
pôr de lado. No livro "O Cérebro e o Pensamento', Popper e Eccles,
(companheiro de Popper), quando relatam o 'pensamento que pensa a si
próprio", estabelecem uma ponte entre as teorias espiritualistas e a
neurofisiologia da mente. O principal objetivo do livro é clarear a possível
função da consciência. Dizem eles que a Teoria da Evolução parece explicar o
aparecimento de um sistema nervoso complexo como o do homem e de alguns
animais superiores. Esse sistema nervoso é um conjunto biológico de reação às
mudanças do meio ambiente e se desenvolveu durante centenas de milênios.
Começou como tropismos simples dos seres inferiores, até chegar aos órgãos
extremamente especializados. Desenvolveram-se, então, órgãos com o objetivo
de transmitir informações do meio exterior ao cérebro e deste aos diversos
órgãos, determinando-lhes as reações apropriadas.
Popper afirma que a consciência é um tipo de percepção diferente dos
eventos externos e acentua a criatividade da mente, quando se depara com os
problemas do meio. Vem à tona, então, a possível semelhança das percepções
humanas com as dos animais. Eccles também acentua o automatismo do
aprendizado dos animais, mas Sagan admite nos animais a capacidade de
abstração. Eccles considera a consciência parte do Espírito, o poder ativo que
depende da matéria cerebral para sobreviver neste mundo, o qual não se
originou da matéria. Sentimos nesses conceitos que Popper e Eccles fugiram
dos rígidos conceitos da neurofisiologia, partindo para um raciocínio
metafísico. Chegam, praticamente, à concepção espírita, quando esta ensina
que o Espírito está ligado à matéria, dela se utiliza para sua vida terrena, mas
ele, Espírito, não é matéria, nem energia, nem se originou da matéria. É centelha
divina.

Através desta discussão, concluímos que a própria Ciência terrena, tão


materialista, quando aborda problemas transcendentais, acaba concordando
com as explicações da Codificação e admitindo a existência do Espírito imortal.
CAP. II – GLÂNDULAS ENDÓCRINAS
Estamos estudando as formas de comando e controle do corpo físico, para
podermos estabelecer a ponte de união com a mediunidade. Vimos, no primeiro
capítulo, o comando através do sistema nervoso, salientando as intimas
relações entre a atividade mental e as funções dos órgãos, bem como alguns
distúrbios, algumas doenças causadas por alterações no campo do psiquismo.

Estudaremos agora, resumidamente, a segunda forma de comando


orgânico, por ação das glândulas endócrinas. São glândulas de secreção externa,
ou exócrinas, aquelas que lançam seu produto no meio exterior ou no interior
dos órgãos ocos do aparelho digestivo. Como exemplo, temos: glândulas
salivares (produzem a saliva): glândulas sudoríparas (eliminam o suor, através
dos poros da pele); sebáceas (secretam uma gordura lubrificante da pele);
fígado (produtor da bílis); pâncreas (secretor dos 16 fermentos digestivos mais
importantes); lacrimais (produtoras das lágrimas etc.)

As glândulas endócrinas ou de secreção interna lançam seus produtos,


chamados hormônios, diretamente no sangue. Umas e outras funcionam de
forma automática, independente da vontade. Conscientemente, não
conseguimos aumentar ou diminuir a produção de suor, da bile, de enzimas
digestivas, bem como não controlamos, pela vontade, a secreção maior ou
menor dos hormônios. Por outro lado, como vimos, as emoções determinam
profundas alterações no funcionamento dos órgãos. (NOTA: A glândula mista:
secreções interna e externa) As principais glândulas endócrinas são as
seguintes: hipófise, tiroide, paratireoide, timo, suprarrenais, ovários, testículos,
epífise e a parte do pâncreas que exerce a secreção interna, fabricando insulina.
A falta desta leva a pessoa ao diabete.

Num livro de Espiritismo não teria sentido escrevermos um verdadeiro


tratado, estudando pormenorizadamente a anatomia, a fisiologia
(funcionamento) e patologia (doenças) de todas as glândulas endócrinas.
Citaremos, pois, de forma quase esquemática, alguns dados que possam ser
úteis aos Espíritas, em geral.

1 - HIPÓFISE

E uma pequena glândula, pesando apenas 4,5 centigramas, situada bem


no centro geométrico do crânio e encaixada numa cavidade do osso esfenoide,
chamada sela túrcica. Tem duas partes: uma anterior, bem maior, epitelial, que
produz vários hormônios muito importantes, e uma posterior, constituída de
tecido nervoso e por isso chamada de neuro-hipófise. Entre os hormônios da
hipófise anterior, lembramos: 1) Hormônio tireotrófico: 2) ACTH; 3) Hormônio
do crescimento; 4) Hormônio do metabolismo das gorduras; 5) Hormônios
sexuais, que atuam sobre os ovários e testículos.

1) HORMÔNIO TIRO-TRÓFICO - Regula o trabalho da glândula tiroide,


que estudaremos a seguir.

2) ACTH OU HORMÔNIO ADRENO-CÓRTICO-TRÓFICO: Age nos


processos de cicatrização e produção de colágeno, os quais estão perturbados
em certos tipos de reumatismos. Como droga, foi muito usado, nos anos de
1950 e 1960, e hoje está abandonado, pelas graves complicações que causava.

3) HORMÔNIO DO CRESCIMENTO - Quando é produzido em quantidade


insuficiente, a pessoa não cresce e surge o nanismo hipofisário (anões): quando
é fabricado em excesso, aparece o gigantismo. Um conhecido cantor patrício
tem nanismo hipofisário, em que a cabeça é despropositadamente grande em
relação ao tamanho do corpo. Os anões hereditários são homens em miniatura,
com todas as partes do corpo proporcionais.

Os tumores da hipófise levam à acromegalia, em que há um crescimento


excessivo das mãos, pés e queixos. Foi essa a doença que vitimou o grande
escritor patrício, Humberto de Campos, tão querido dos Espíritas, através dos
livros psicografados por Francisco Cândido Xavier, os primeiros com o próprio
nome e os últimos com o pseudônimo de Irmão X. Antes de desencarnar,
Humberto tinha perdido completamente a visão, porque o tumor havia
destruído os nervos óticos. Naquela época, a neurocirurgia, no Brasil, ensaiava
os primeiros passos, e Humberto de Campos morreu, quando foi operado.

4) HORMÔNIO DO METABOLISMO DAS GORDURAS - A alteração na


produção desse hormônio pode levar à obesidade hipofisária; os pacientes não
comem muito, mas engordam. Todo obeso tem a mania de dizer que sua
obesidade é problema glandular. Mas, na grande maioria dos casos, ela é devida
a excesso de alimentação. Destruição da hipófise acarreta a chamada "caquexia
hipofisária", com perda progressiva de peso, até a morte.

Uma Espírita, nossa conhecida, desencarnou com "caquexia hipofisária",


na década de 60. Quando a vimos, pela última vez, pesava menos de 30 quilos.
No caso dela, havia nítidos problemas reencarnatórios, aliados aos distúrbios
orgânicos.

5) HORMÔNIOS SEXUAIS QUE AGEM SOBRE OS OVÁRIOS E


TESTÍCULOS - É enorme a influência da hipófise sobre esses órgãos. A causa de
muitas insuficiências ovarianas, em que a doente tem problemas na
menstruação (escassa ou excessiva), é devida, primordialmente, não ao mau
funcionamento ovariano, mas, sim, a distúrbios da hipófise. Ela atua sobre os
ovários, por meio dos hormônios folículo-estimulante e luteinizante,
responsáveis pela normalidade do ciclo menstrual.

2 - TIRÓIDE

A tiroide ou tireoide é uma glândula situada na frente do pescoço em seu


terço inferior, tendo forma de uma letra H, com cerca de 6 centímetros de
largura, por 3 a 4 centímetros de altura.

Acima dessa glândula, palpamos a cartilagem tiroide, formadora da


laringe e conhecida vulgarmente como "pomo de Adão", mais visível nos
homens do que nas mulheres. É na laringe que se produzem os sons da voz, nas
cordas vocais situadas no seu interior. Com a passagem da corrente aérea pela
laringe, as cordas vocais vibram, emitindo os sons, como acontece nas cordas
de um violão ou violino. Os sons serão agudos, se as cordas estiverem esticadas.
Serão graves, quando elas estiverem frouxas. A voz dos homens é mais grave,
porque sua laringe é maior que a das mulheres.

A glândula tiroide produz um hormônio chamado tiroxina, que influi,


poderosamente, sobre todo o organismo. No caso de funcionamento excessivo
surge o hipertireoidismo, cujos principais sintomas são: nervosismo, insônia,
tremores das mãos, taquicardia, aumento da pressão arterial, olhos
esbugalhados (exoftalmo), suor excessivo etc. Embora se alimente
normalmente, o hiper tiroidiano costuma ser magro, porque seu metabolismo
é elevado. Nos doentes da tiroide, costuma ser medido o metabolismo basal,
que avalia o grau da hiperfunção. Hoje preferem os endocrinologistas medir os
hormônios T3 e T4. Os casos não tratados podem chegar à insuficiência
cardíaca grave. Paradoxalmente, no hipertireoidismo, a tiroide não costuma
estar muito aumentada de volume, embora funcione em excesso.

O funcionamento diminuído da tiroide acarreta o hipotiroidismo. Há um


crescimento, por vezes, enorme da glândula, formando o bócio, conhecido
vulgarmente como "papo". Pode chegar a dimensões imensas, tomando,
praticamente, todo o pescoço. Interessante é que, embora impressione pela
dimensão, o bócio não causa graves distúrbios. A causa dele é a falta de iodo na
alimentação e na água. É muito comum no Triângulo Mineiro e Goiás, onde não
raramente encontramos as pessoas "papudas".

3 - PARATIRÓIDE

São 4 pequeninas glândulas esféricas, do tamanho de um grão de arroz,


situadas aos lados da tiroide. Têm valor no metabolismo do cálcio, como
acontece na formação dos ossos. Se extirparmos essas glândulas, no cão, ele
apresentará convulsões semelhantes às do tétano, que desaparecem com
injeção de cálcio.

4 - TIMO

O timo é uma glândula essencial para o crescimento do feto; atrofia-se e


desaparece, após o segundo ano de vida. Está situado na parte alta do tórax,
atrás do osso chamado esterno (osso chato, na frente do tórax), ao qual estão
articuladas as costelas.

Pesa de 8 a 12 gramas no recém-nascido.

5 - SUPRARRENAIS

As suprarrenais são duas glândulas situadas acima dos rins.

Pelo seu nome, muitos poderiam pensar que têm funções semelhantes ou
complementares às dos rins, mas isso não acontece; apenas estão próximas a
eles. Vista em corte, a suprarrenal apresenta duas regiões: uma externa, ou
camada cortical, e outra interna ou camada medular. Esta secreta um hormônio
importante: é a adrenalina, que é lançada no sangue durante as emoções,
provocando taquicardia (pulso rápido), tremores, aumento da pressão arterial,
aumento da secreção sudorípara.

Estes seriam os mecanismos que o organismo humano utiliza como


reação à agressão do meio exterior, durante o "stress". Há numerosos estudos
sobre o papel da adrenalina. Fizeram-se experiências com cães. Colhia-se
sangue de dois cães muito agressivos e dosava-se a adrenalina no seu sangue.
Geralmente, ela 20
estava em baixos níveis. Depois, colocavam-se frente a frente os dois cães;
ambos mostravam sinais de grande irritação; latiam e procuravam atacar-se,
um ao outro. Nesse momento, colhia-se, novamente, o sangue de ambos e
media-se a taxa de adrenalina no sangue. Notava-se que a adrenalina sempre
aumentava muito.

Observações, também, foram feitas com rapazes de uma torcida em jogos


de basquete. O sangue colhido, após as emoções da torcida, revelou taxas altas
de adrenalina. Os pesquisadores concluíram que os esportes, além dos
benefícios advindos do aprimoramento físico, ainda são benéficos, por
excitarem os mecanismos de defesa do organismo.

A camada cortical das glândulas suprarrenais produz vários hormônios,


dos quais os principais são os corticoides, de ação complexa, os quais não
citaremos. Esses corticoides são, também, produzidos em laboratório:
cortisona, hidrocortisona, dexametasona, prednisona etc. São usados no
tratamento do reumatismo, alergias e outras várias doenças. Tais drogas
somente devem ser usadas sob controle médico, pelas intercorrências que
podem surgir.

Os tumores da camada cortical, geralmente cânceres, são extremamente


graves. Levam as meninas a tomarem forma masculina do corpo, com músculos
fortes e salientes, pelos abundantes por todo o corpo e, paradoxalmente,
menstruação aos 5 ou 6 anos. O tratamento é cirúrgico, com extirpação total da
glândula cancerosa, operação de alta mortalidade.

6 - OVÁRIOS

A mulher tem dois ovários, que ficam situados na pequena bacia, aos
lados do útero e das trompas. Neles encontramos os folículos ovarianos, onde
se formam os óvulos, que são os gametas femininos. Cada mês, ou melhor, cada
28 dias, um óvulo amadurece; o folículo se rompe, o óvulo sai do ovário e cai na
trompa, sendo levado até o útero. Caso nesse trajeto ele seja fecundado por um
espermatozoide (gameta masculino, produzido no testículo), transforma-se no
ovo. A multiplicação do ovo, dividindo-se sucessivamente, vai dar origem ao
embrião humano, que se fixa na mucosa do útero. Essa mucosa, durante cerca
de 15 dias, preparou-se para receber o seu hóspede importante, havendo nela
profundas modificações - aumento enorme do calibre das veias, aumente,
maior espessura da mucosa uterina. Caso o óvulo não seja fecundado, antes de
chegar ao útero, ele é eliminado e, todo o preparo da mucosa uterina para
receber o embrião, tornou-se inútil.

A mucosa entra em desagregação e é eliminada junto ao sangue que


brotou dos pequenos vasos rompidos. É a menstruação, que dura de 3 a 5 dias,
normalmente. Podemos dizer, meio filosoficamente, que cada menstruação é
uma gravidez fracassada.

O folículo ovariano secreta dois hormônios, cujas ações se completam: a


estrona e a progesterona, responsáveis pelo ciclo menstrual, que acabamos de
descrever. Mas o papel desses hormônios não se restringe a isso. Inundando o
organismo da mulher, após a puberdade, são eles responsáveis pelos caracteres
sexuais secundários da mulher, que lhe conferem as características femininas:
forma característica do corpo, com curvas típicas, camada gordurosa nos
quadris e seios, ombros mais estreitos que os do homem; ossos mais delgados;
pelos com distribuição feminina e ausência de barba; voz mais fina; apetite
sexual para o sexo masculino. Na insuficiência ovariana, há perturbação nas
menstrua ações, que geralmente ficam mais espaçadas e com menor
quantidade de sangue. As características femininas se atenuam; surgem pelos
no rosto, a silhueta torna-se musculosa, a voz mais grossa. Quando a
insuficiência ovariana é de grau leve, só aparecem as alterações da
menstruação.

7 - TESTÍCULOS

Os testículos ficam situados nas bolsas escrotais ou escroto.

Produzem o espermatozoide, gameta masculino, que é levado, através


dos canais deferentes, até as vesículas seminais, que são pequenos
reservatórios alojados abaixo da bexiga. Os milhões de espermatozoides, junto
com o líquido viscoso produzido pela próstata, vão formar o esperma, que fica
acumulado nas vesículas seminais. Durante o ato sexual, no orgasmo, as
vesículas se contraem violenta e ritmadamente e expelem, em jatos, o esperma,
através da uretra, para o interior da vagina. Este é o mecanismo fisiológico da
expulsão do líquido seminal.

Mas todo ato sexual tem um componente psicológico, mental, que é, por
assim dizer, seu início, culminando nas expressões orgânicas do ato.

Os testículos, além de produzirem os espermatozoides, na sua condição


de glândula mista (secreções interna e externa), fabricam o hormônio
testosterona. É esse hormônio o responsável pelos caracteres sexuais
secundários masculinos, que surgem na adolescência: massa muscular mais
forte que a das mulheres, ossos mais grossos, pelos abundantes pelo corpo,
laringe mais volumosa, barba, voz grossa e apetite sexual para o sexo oposto.

Nos casos de insuficiência testicular, o menino não amadurece: seus


testículos permanecem com o tamanho infantil; os pelos pudendos são claros e
escassos; a pele é macia; a barba não aparece ou está reduzida a pequenas
áreas; a voz continua fina (objeto de caçoada por parte dos colegas); costuma
haver gordura de tipo feminino, nos quadris e nádegas.

O apetite sexual tarda a aparecer, mas não há tendência homossexual,


embora o menino apresente aspecto físico afemina-do. É verdade que, muitas
vezes, é procurado como homossexual passivo e a pressão pode levá-lo a essa
perversão.

Por causa disso, enfatizamos a importância de pais e mestres serem


orientados a encaminharem para tratamento hormonal as crianças que
apresentem os sinais assinalados atrás. O tratamento bem-conduzido pode
trazer resultados extraordinários.

E a função exagerada dos testículos levaria, fatalmente, a um exercício


excessivo do sexo? Podemos tranquilamente afirmar, de acordo com grandes
mestres da endocrinologia, que isso não acontece. O excesso de testosterona
poderá aumentar a massa muscular, como acontece com os atletas que recebem
"anabolizantes", substâncias próximas quimicamente da testosterona, prática
considerada como "doping" e condenada em todos os tribunais esportivos. O
ato sexual é desencadeado predominantemente por impulsos mentais,
auxiliados por causas ambientais.

Poderemos ter uma visão mais ampla e mais nobre, aprendendo o que
André Luiz nos ensina em "Sexo e Destino" e no capítulo "Sexo e Corpo
Espiritual", de seu livro "Evolução em Dois Mundos". "A sede real do sexo não
se acha no veículo físico, mas sim na entidade espiritual, em sua estrutura
complexa. E o instinto sexual, por isso mesmo, traduzindo amor em expansão
no tempo, vem das profundezas, para nós ainda inabordáveis, da vida, quando
agrupamentos de mônadas celestes se uniram, magneticamente, umas às
outras, para a obra multimilenária da evolução."
O sexo é, portanto, mental em seus impulsos e manifestações,
transcendendo quaisquer impositivos da forma em que se exprime, não
obstante reconhecermos que a maioria das consciências encarnadas
permanecem seguramente ajustadas à sinergia mente-corpo, em marcha para
a mais vasta complexidade de conhecimento e de emoção.

"0 amor assume dimensões mais elevadas, tanto para os que se


'verticalizam' na virtude como para os que se horizontalizam na inteligência.
Uns, na própria sublimação, demandam o prazer da Criação, identificando-se
com a origem divina do Universo, enquanto outros se fixam no encalço do
prazer desenfreado e egoístico da auto adoração. Os primeiros aprendem a
amar com Deus. Os segundos aspiram a ser amados a qualquer preço. A energia
natural do sexo, inerente à própria vida em si, gera cargas magnéticas em todos
os seres, pela função criadora de que se reveste, cargas que se caracterizam com
potenciais nítidos de atração, as quais, em se acumulando, invadem todos os
campos sensíveis da alma. A descarga de semelhante energia se efetua,
indiscriminadamente, através de contatos, quase sempre desregrados e
infelizes, que lhes carreiam, em consequência, a exaustão e o sofrimento como
processos educativos."

"Compreendemos, pois, que o sexo reside na mente, a expressar-se no


corpo espiritual, e, consequentemente, no corpo físico. Ninguém escarnecerá,
lhe desarmonizando as forças, sem escarnecer e desmoralizar a si mesmo."

8 - EPÍFISE OU PINEAL

É uma glândula situada no interior do cérebro, no teto do 3° ventrículo,


que é uma cavidade entre os dois hemisférios cerebrais.

Histórico - Galeno (médico grego) julgava que a glândula pineal fosse a


passagem do Espírito. Descartes (filósofo francês) a considerava como sede da
alma. Madame Blavatsky (criadora da Teosofia) diz que o homem evolui por
raças, com ciclos. Para ela, estamos na quinta raça; na quarta, os indivíduos
tinham três olhos. O terceiro olho, ou deva, não existe na quinta raça, mas
deixou como resíduo a pineal, que é ligada ao carma. Quem quiser, aceite essas
fantasias da Teosofia, desprovidas de qualquer base científica.

Lesner descobriu o hormônio da pineal - a melatonina. Foi André Luiz


quem, em 1945, no livro "Missionários da Luz", divulgou no meio espírita
concepções completamente novas sobre a epífise. Logo, essas noções foram
amplamente difundidas e surgiram pessoas verdadeiramente apaixonadas pelo
assunto.

Citarei alguns desses ensinos, embora pessoalmente não os aceites: A


pineal é a glândula da vida espiritual. Controla o campo emotivo e é importante
na experiência sexual. Regula a evolução sexual. Começa a funcionar na
puberdade, aos 14 anos, mais ou menos. Reabre o mundo das sensações e das
emoções. O adolescente muda a personalidade, pois reabre a pineal e vem a
carga emocional das vidas passadas. Segrega hormônios psíquicos ou unidades-
força. É a glândula superior, que comanda todas as outras. Comanda as forças
subconscientes, sob a ação da vontade.

Não concordamos com essas afirmações, porque a maioria delas, embora


atraentes, não oferece qualquer possibilidade de prova científica. O próprio
conceito de hormônio psíquico é contraditório. Hormônio é algo material,
isolado quimicamente, que se pode pesar, dosar e administrar em quantidades
palpáveis. As coisas do campo psíquico não têm existência material. Falar em
hormônio psíquico é uma liberalidade de conceituação não-aconselhável.

Preferimos ficar, pelo menos, até a obtenção de provas científicas, com a


opinião da grande maioria dos neurologistas e dos endocrinologistas, que
consideram a pineal um órgão residual, com escassas funções e em vias de
desaparecimento. Willians, em seu Tratado de Endocrinologia, não aceita
funções para a pineal. Entre nós, o grande neurocirurgião Marino Jr., em
"Fisiologia das Emoções", diz que o centro das emoções é o hipotálamo.

9 - VISÃO GLOBAL

Acabamos de estudar, muito resumidamente, as funções das principais


glândulas endócrinas. Com seus hormônios, inundam praticamente todo o
organismo e, através de mecanismos extremamente complexos, comandam o
funcionamento dos órgãos, dentro de uma harmonia maravilhosa e que atesta,
exuberada-mente, a obra do Criador. Esse comando endócrino, se entrosa, se
entrelaça com a atuação dos nervos do sistema nervoso da vida de relação e os
do sistema nervoso autônomo, os quais participam, também, da coordenação
do trabalho dos órgãos. Tudo é feito de modo natural, espontâneo, sem
necessidade da participação consciente da vontade. É tão natural esse trabalho,
que nenhum de nós tem a menor ideia do que se está passando com os nossos
órgãos, a não ser quando eles adoecem. Os autores dizem que só sentimos os
órgãos, quando estão doentes.
Tudo o que dissemos até aqui, nestes dois primeiros capítulos, foi dentro
do campo da Ciência oficial. Assim, estudamos, de maneira muito resumida e
quase esquemática, aspectos da anatomia dos órgãos, seu funcionamento,
salpicando, a título de ilustração, alguns casos de distúrbios, de doenças desses
órgãos.

É até aí que a Ciência caminha, uma vez que ela não cogita da existência
no corpo físico de um princípio espiritual.

Vamos passar, daqui para a frente, a considerar o elemento novo que o


Espiritismo introduziu para a boa compreensão do fenômeno da vida na
espécie humana. Trata-se da concepção do Perispírito como elemento
intermediário entre o Espírito e o corpo físico e como terceiro elemento de
comando do organismo, magnificamente entrosado com os comandos até aqui
estudados - o nervoso e o endócrino. Estes, de certa forma, se subordinam ao
Perispírito.

Um leitor desavisado poderia objetar-nos: Será preciso buscar na Ciência


tantos conhecimentos relativos ao sistema nervoso e às glândulas endócrinas,
se o Perispírito, sozinho, explica tudo e reforma as noções científicas sobre o
assunto? Responderemos com Kardec: "O Espiritismo busca explicar todos os
fatos baseados nos conhecimentos que no seu progredir constante as ciências
lhe ofertam todos os dias." Em "A Gênese" - Capítulo IV, item 9, diz ele: ''Por
respeito a textos considerados como sagrados, seria necessário impor silêncio
à Ciência? Isto é uma atitude tão impossível quanto a de impedir a Terra de
girar. As religiões, quaisquer que sejam, jamais ganharam qualquer coisa por
sustentar erros manifestos. A missão da Ciência é a de descobrir as leis da
Natureza; ora, como essas leis são obras de Deus, não podem as ciências ser
contrárias às religiões fundadas sobre a verdade. Lançar o anátema ao
progresso, como inimigo da Religião, é lançá-lo à própria obra de Deus;
ademais, é isso completamente inútil, pois todos os anátemas do mundo não
impedirão que a Ciência caminhe e que a verdade venha à luz do dia. Se a
Religião se recusar a caminhar com a Ciência, a Ciência progredirá sozinha."

Allan Kardec nunca foi amigo de meias-verdades. Ele poderia ter


suavizado seus conceitos, se quisesse ficar bem com aqueles que vivem dizendo
que a Ciência é terrena e está toda errada.

Assim, a Religião ficaria dispensada de buscar bases e provas científicas.


Mas Kardec foi claro e categórico: "Pobre da Religião que não quiser caminhar
com a Ciência, pois ficará cada vez mais atrasada e sucumbirá. O objetivo maior
do Espiritismo é moral e religioso, mas só o atingirá com o auxílio permanente
dos argumentos filosóficos e das provas científicas."
CAPÍTULO III - PERISPÍRITO
1 - PERISPÍRITO - CONCEITO

A conceituação mais simples de Perispírito é a de Allan Kardec: "O


Espírito é envolvido por uma substância, que é vaporosa para ti, mas ainda
bastante grosseira para nós; suficientemente vaporosa, entretanto, para que ele
possa elevar-se na atmosfera e transportar-se para onde quiser. Como a
semente de um fruto é envolvida pelo perisperma, o Espírito propriamente dito
é revestido por um envoltório que, por comparação, se pode chamar
Perispírito" ("O Livro dos Espíritos" - Livro Segundo, Capítulo 1° - pergunta 93).

Os ensinamentos que os Espíritos nos trouxeram com a admissão do


Perispírito vieram ajudar a solucionar o difícil problema da atuação do Espírito
sobre o corpo material. Há séculos, os religiosos que aceitavam a existência do
Espírito, não conseguiam explicar como ele, sendo por definição imaterial,
poderia abrigar-se e atuar sobre a matéria densa. A alma é imutável em sua
essência. O corpo material, mutável, pelas transformações incessantes.

Povos antigos já suspeitavam da existência do Perispírito - os indianos


designavam-no como Liga Sharira; os egípcios, Ka; os hebreus, Nephesh; os
gregos, Ochema. O filósofo inglês, Cudd-wort, admitia um mediador plástico,
substância plasmável intermediária entre o Espírito e o corpo. Detalhes
interessantes podem ser encontrados em "A Evolução Anímica", de Gabriel
Delanne.

Na Parte Segunda, Capítulo VI, página 160, de "O Livro dos Espíritos",
Kardec ainda esclarece: "O Perispírito é o liame que une o Espírito à matéria do
corpo; é tomado do meio ambiente, do fluido universal; contém, ao mesmo
tempo, eletricidade, fluido magnético, e, até certo ponto, a própria matéria
inerte. Poderíamos dizer que é a quintessência da matéria. É o princípio da vida
orgânica, mas não o da vida intelectual, porque está pertence ao Espírito."

O Perispírito é o regulador das funções, o arquiteto que vela pela


manutenção do edifício, porque essa tarefa não pode, absolutamente, depender
das atividades cegas da matéria. (Reencarnação - Gabriel Delanne - Cap. II.)

O Perispírito não é o criador, mas, simplesmente, o organizador da


máquina que forma o corpo físico.
No prefácio do livro "Evolução em Dois Mundos", de André Luiz,
Emmanuel lembra que, quando o apóstolo Paulo falava em

"semear" corpo animal, consubstanciava "a ideia da evolução filogenética


do ser e, dentro dela, o corpo físico e o corpo espiritual como veículos da mente
em sua peregrinação ascensional para Deus".

André Luiz enaltece a importância do conhecimento do Perispírito e a ele


dedica longos capítulos de vários de seus livros.

Procura aí dar o conceito rígido da Ciência, compreensivelmente armada


contra todas as afirmações que não possa esposar pela experimentação fria, à
mensagem consoladora do Evangelho de Jesus Cristo, de que o Espírito
contemporâneo se faz o mais alto representante das atividades do mundo.

"Nele possuímos todo o equipamento de recursos automáticos que


governam os bilhões de entidades microscópicas, a serviço da Inteligência,
recursos esses adquiridos vagarosamente pelo ser, em milênios de esforço e
recapitulação, nos múltiplos setores da evolução anímica." André Luiz quer
dizer que, na estrutura do Perispírito, existem todas aquelas capacidades que
ele acumulou através de sua trajetória evolutiva, nas várias espécies animais.
Nessa linha evolutiva, o Perispírito animou o corpo orgânico de numerosas
espécies, até chegar ao homem, trazendo toda aquela bagagem das experiências
passadas.

"O próprio Perispírito evolui através de estágios inferiores, antes de


chegar ao ponto mais elevado da evolução." (Reencarnação - Delanne - Cap. II -
pág. 68.)

O Perispírito não está enjaulado no corpo físico, sem poder desprender-


se. Em "Obras Póstumas", no capítulo sobre manifestações dos Espíritos, 1 §.
parte, item 11, 2" Edição, lemos: "O Perispírito não está encerrado nos limites
do corpo como numa caixa. É expansível por sua natureza fluídica; irradia-se e
forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera que o pensamento e a
força de vontade podem ampliar mais ou menos."

Note-se bem que Kardec fala em atmosfera fluídica, noção simples e


cristalina. Não há necessidade de os Espíritos usarem a palavra "aura" para
exprimi-la. "Aura" diz muito com a terminologia católica e lembra um aspecto
de santidade, com aqueles círculos coloridos, envolvendo a cabeça dos santos.
Recomendaríamos que os Espíritas preferissem a designação atmosfera
fluídica e não "aura'.

"Através da atmosfera fluídica, somos vistos e examinados pelas


inteligências superiores, sentidos e reconhecidos pelos nossos afins. Isto
porque exteriorizamos, de maneira invariável, o reflexo de nós mesmos, nos
contatos de pensamento a pensamento, sem necessidade de palavras para as
simpatias e repulsões fundamentais." (Evolução em Dois Mundos - pág. 30.) 1 -
NATUREZA DO PERISPÍRITO

Dissemos que o Perispírito é tomado do fluido cósmico universal (FCU),


substância primordial que entra na constituição de todos os organismos e
coisas dos vários mundos. Ainda Kardec ensina que o Espírito tira seu
envoltório semimaterial do fluido universal de cada globo. Passando de um
mundo para outro, o Espírito muda de envoltório como muda de roupa. André
Luiz diz que o Perispírito "é o veículo eletromagnético", do qual o Espírito se
utiliza. Enfatizemos, então, para evitarmos confusões futuras: a determinação é
do Espírito; é ele quem ama, odeia, resolve e quer. O Perispírito é o instrumento
do qual o Espírito se serve.

A composição do Perispírito se eteriza, à medida que ele se depura e se


eleva na hierarquia espiritual.

A constituição íntima do Perispírito ainda escapa, completamente, aos


nossos métodos de pesquisa. Não obstante, têm surgido várias teorias que
procuram explicá-la. Vejamos uma delas: Mauro Quintela, em uma série de sete
artigos publicados na Revista Internacional de Espiritismo, de Matão, São
Paulo, analisa a teoria, segundo a qual o Perispírito seria formado por átomos
com maior espaçamento Inter atômico, isto é, átomos mais distantes uns dos
outros. Jorge Andréa, "Nos Alicerces do Inconsciente", diz: "É bem provável,
numa organização dessa natureza, que as unidades atômicas apresentem os
prótons e os elétrons ordinários com afastamentos maiores." "A matéria do
plano físico passa do estado sólido para o gasoso, quando as moléculas se vão
distanciando umas das outras. Assim se explica ser o Perispírito mais sutil e
rarefeito, devido ao maior afastamento de suas moléculas." Essa é a tese de
André Luiz, em "Libertação" (página 84); "Entre a Terra e o Céu" (página 125)
e em outros tópicos.

Uma segunda hipótese lembra a possibilidade de o Perispírito ser


formado de antimatéria. Antimatéria é a designação genérica de possíveis
partículas estudadas na Física Atômica, que teriam qualidades opostas àquelas
já aceitas pela Física (carga, spin etc.). Antimatéria é um campo de difícil
compreensão para nós, e, ainda, em plena efervescência entre os físicos. Não se
julguem, pois, ignorantes ou desatualizados os leitores que dela não tiverem
conhecimento, pois julgamos ser verdadeira audácia querermos explicar o
pouco conhecido (Perispírito) pela desconhecida (antimatéria). Infelizmente,
têm surgido na literatura espírita autores audazes ou mesmo irresponsáveis
que estão lançando elocubrações mentais de gabinete ou fantasias, à guisa de
conhecimentos modernos.

Uma terceira hipótese admite que o Perispírito seja constituído por


átomos mais simples e mais sutis, em cuja formação entrariam, apenas, as
partículas menos materiais do átomo comum. Essa teoria, provavelmente, se
baseia em explicações de André Luiz, encontradas no livro "Evolução em Dois
Mundos", página 96. "Decerto que, na nova esfera de ação, a que se vê
arrebatado pela morte, encontra o Espírito a matéria conhecida no mundo, em
nova escala vibratória. Elementos mais complicados e sutis, aquém do
Hidrogênio e além do Urânio." Tal afirmação não deixa de nos chocar, de nos
surpreender. Quando a Física estabelece a classificação dos átomos simples,
conhecidos, numa série que vai do Hidrogênio ao Urânio, este, o mais pesado
dos corpos simples, parece-nos uma ousadia alguém afirmar que, aquém do
Hidrogênio e além do Urânio existam corpos simples ainda desconhecidos pela
Física.

Pode-se aceitar tal ideia como uma concepção ainda hipotética, que
deverá ser comprovada cientificamente, no futuro. Precisamos ter cautela
suficiente para não acompanharmos, por exemplo, aqueles que, em voos ainda
mais ousados, referem a existência de mundos paralelos ao nosso, dos quais os
nossos sentidos grosseiros não tomam conhecimento. Paralelos, no sentido de
entrosados, "embricados" com o nosso, interpretando-o.

Evidentemente, ninguém poderá negar a existência de numerosíssimos


mundos no Universo, nesta e em outras Galáxias, povoados por Espíritos em
diferentes graus de evolução. Nem alguém negará, também, que os Espíritos,
por estarem em plano vibratório diferente do nosso, estão impedidos de nos
influenciarem e se comunicarem, através dos médiuns.

Ainda há uma quarta hipótese elaborada por Carlos de Brito Imbassahy,


físico, professor e Espírita, sobremodo conhecido em todo o Brasil, através de
vários livros e artigos no "Mundo Espírita" (Jornal editado em Curitiba). É a
teoria do Perispírito-campo.

Varley, que trabalhou com William Crookes, nas materializações famosas


de Katie King, montou células fotoelétricas, para, nas sessões, controlar a
entrada e a saída das pessoas ou objetos nas cabines mediúnicas. Diz ele que os
Espíritos, junto com os Perispíritos, modelam o feixe luminoso, ao passo que os
corpos materiais o cortam. Imbassahy admite que, uma vez desencarnado, o
Perispírito-campo pode agregar fluidos de outro plano, com o que constrói uma
película material, embora não necessite desses fluidos para existir. Imbassahy
conclui que o Perispírito seria o campo induzido pelo Espírito e não a camada
material que o recobre. Isto explicaria o fato de que, ao mudar de mundo, passa
a se revestir do material colhido no novo ambiente. Dentro da teoria de
Imbassahy, o Espírito, ao evoluir, vem "sutilizar o campo magnético" que o
cerca e apropriar-se de partículas cada vez mais quintessenciadas.

2 - FUNÇÕES DO PERISPÍRITO

Procuraremos resumir, da forma mais didática possível, o que for


oportuno e acessível, dentro da enorme literatura que já existe sobre o assunto.

Classificam os as funções do Perispírito em quatro importantes itens:

1 - Organizador biológico;

2 - Sede da memória;

3 - Intermediário entre o corpo físico e o Espírito;

4 - Atuação nas comunicações mediúnicas.

3 - PERISPÍRITO COMO ORGANIZADOR BIOLÓGICO

O Perispírito é o molde fluídico, a "ideia diretriz", o "esqueleto astral" ou


o "modelo organizador biológico" do corpo carnal.

Claude Bernard, fisiologista francês, no século passado, já dizia: "Em todo


germe vivo há uma ideia dirigente, a manifestar-se e a desenvolver-se na sua
organização. Depois, no curso da sua vida, o ser permanece sob a influência
dessa força criadora. É sempre o mesmo princípio de conservação do ser, que
lhe reconstitui as partes vivas, desorganizadas pelo exercício, por acidentes ou
enfermidades." Se, precedendo a vida fetal, constatamos a necessidade do
Perispírito para modelar a matéria, melhor ainda lhe compreendemos a
importância, ao examinarmos o conjunto das funções do organismo animal, sua
autonomia e a solidariedade que as reúnem em sinergia de esforços tendentes
à conservação do ser.

Como podemos entender de que forma age o Perispírito, durante a vida


embrionária, na formação do indivíduo? Gabriel Delanne faz uma comparação
com o eletroímã. Compõe-se este de um cilindro de ferro, em forma de
ferradura. Em volta dos dois ramos da ferradura é enrolado um fio de cobre. As
extremidades do ferro são os polos Norte e Sul do eletroímã. Passando a
corrente elétrica no fio de cobre, o ferro fica imantado. Se colocarmos um cartão
fino sobre os polos do ímã e polvilharmos sobre o cartão limalha de ferro (ferro
em pó), vamos notar um fato interessante: à medida que o pó cai, os pequenos
grânulos vão se dispondo em linhas irradiadas em torno dos polos, formando
raios ou linhas de força. Essa figura é chamada "espectro magnético". Foi a força
magnética do ímã que orientou as partículas a tomarem essa configuração.
Havia um campo magnético, invisível para nós, imperceptível mesmo, que
orientou a disposição das partículas.

Assim, também, age o Perispírito. Sabemos que o Espírito, acompanhado


do seu Perispírito, começa a se ligar ao corpo físico do reencarnante, desde o
começo da vida embrionária, no útero materno. Como esboço fluídico que é, o
Perispírito vai orientando a divisão celular, no sentido de formar órgãos e
tecidos dentro daquele esquema pré-estabelecido. Como campo
eletromagnético que é, pode, por isso, ser comparado ao campo do ímã, quando
orienta a disposição da limalha de ferro. Delanne diz que o corpo físico é o
espectro magnético do Perispírito.

Assim se explicam os casos de materializações, em que o Espírito,


acionando o mecanismo perispiritual, pode formar um corpo material
temporário, desde que o médium lhe forneça a força vital (ectoplasma)
necessária. Na linha evolutiva, o Perispírito passou por uma imensa série de
corpos vivos. Treinou, de início, a organização de formas rudimentaríssimas;
aperfeiçoou-se, durante milhões de anos e de numerosas reencarnações,
chegando, por fim, a animar corpos humanos.

As células do corpo humano estão em renovação constante.

Em todos os tecidos, exceto o nervoso, as células crescem, desempenham


suas funções, durante certo período, e depois morrem, sendo substituídas por
outras. Além dessa substituição das células, também as substâncias que a
compõem estão em permanente processo de renovação. Tais transformações
se dão no metabolismo celular, através do qual as células recebem do sangue o
oxigênio e as substâncias nutritivas e as incorporam. Ao mesmo tempo,
consomem energia, queimando os alimentos produtores de calorias. A proteína
das células, ao se desgastar, vai ser transformada em resíduos, como a ureia, os
quais serão eliminados para o exterior, principalmente pelos rins. Se não forem
eliminados, acumulam-se no sangue, causando graves intoxicações, como
acontece na uremia.

Podemos dizer que a matéria que forma nosso corpo está periodicamente
se renovando. Mas nós continuamos a ser nós mesmos. Há uma continuidade
do ser, dentro de um conjunto, cujas partes mudam constantemente. Algo,
nesse conjunto, resta estável, permitindo a permanência da individualidade
integral. Esse algo que mantém a continuidade é o Perispírito. Os tecidos,
quando se renovam, o fazem dentro desse esboço fluídico ou modelo
organizador biológico.

Quando um animal perde uma parte, por acidente ou doença, os tecidos


vizinhos se hipertrofiam, preenchem os espaços e, muitas vezes, assumem a
função daquela parte perdida. Nos animais inferiores, esta capacidade de
regeneração é verdadeiramente notável. Alguns vermes como as planárias,
muito encontradas em lagos e represas, têm a capacidade de regenerar seu
corpo, mesmo perdendo metade dele. Russell Hunter, em sua

"Biologia dos Invertebrados Inferiores" (Editora Polígono - 1969) refere


que, nos Turbelários, qualquer pedaço de um décimo de seu tamanho
regenerará um verme completo. As lagartixas, animais situados já bem acima
da escala zoológica, podem regenerar a cauda perdida.

"Desde que o Espírito é capaz, em certas condições, de reconstituir seu


antigo corpo material, é claro que possui um estatuto dinâmico que preside a
organização, ou entretenimento, e a separação do corpo terrestre."
(Reencarnação - Gabriel Delanne Cap.2°).

A Biologia não explica como a lagartixa regenera a cauda perdida. Como


as células que não têm consciência, nem visão global, nem poder de comando,
estando subitamente situadas numa superfície de corte, vão saber que algumas
devem formar os músculos da cauda, outras os vasos e nervos? Só a existência
de um comando central, que não desaparece com a destruição de partes do
corpo, poderá determinar a cada conjunto de células o crescimento e as funções
que irá desempenhar. Esse comando é o Perispírito.

Vejamos, agora, o que acontece no desenvolvimento do embrião. Ele vai


crescendo, orientado pelas determinações genéticas dos cromossomos,
incorporando os alimentos recebidos da mãe, através da placenta. Vai
preenchendo as regiões delineadas pelo Perispírito, que assim se afirmar como
esboço fluídico do corpo físico. Todavia, ninguém pode negar a influência da
herança na formação do feto. Há doenças que são herdadas, com toda a certeza,
através dos cromossomos, como o mongolismo ou síndrome de DOWN, em que
uma anomalia no número deles leva a esse tipo grave de deficiência mental.

Numerosas anomalias de nascença são herdadas através dos genes


situados nos cromossomos paternos e maternos. Há, ainda, as doenças
congênitas, sem alterações dos cromossomos, tendo as lesões do embrião
surgido durante a vida intrauterina.

Como exemplo, citamos as lesões congênitas da sífilis, em que o micróbio


causador ataca o embrião ou o feto, vindo do sangue da mãe. Radiações, vírus e
tóxicos também podem lesar o embrião, durante o seu desenvolvimento. É o
caso da "talidomida", droga que foi muito usada em medicina e causou, em
milhares de casos conhecidos, lesões graves no embrião, nascendo a criança
sem mãos, braços, pés, além de distúrbios neurológicos graves. Por isso, foi
proibida sua fabricação. A partir daí, a medicina e a farmacologia vêm se
preocupando muito em acompanhar os efeitos e contraindicações dos novos
remédios.

MARCAS DE NASCENÇA - Além dessas doenças, herdadas, também


alterações do Perispírito podem repercutir no organismo. Há casos,
cientificamente comprovados, dentre os quais as "manchas de nascença" foram
muito bem-estudadas, no Brasil, pelo dr. Hernani Guimarães Andrade, autor de
vários livros, dos quais O mais debatido é "A Teoria Corpuscular do Espírito".
Lembra ele que os estudiosos poderão achar contraditória a influência do
Perispírito em relação às leis da genética. A aceitação do Perispírito não exclui
a influência hereditária, pois as leis da genética ninguém pode negar. Na
verdade, os mentores espirituais chegam a referir a análise dos "mapas
cromossômicos" do Espírito que se está reencarnando. Tais mentores escolhem
os futuros pais de acordo com suas possibilidades genéticas, para eles
encaminhando o reencarnante. E, ainda, podem provocar certas alterações nos
cromossomos, visando possibilitar nele o aparecimento de aptidões ou
defeitos. Veja-se a reencarnação de Segismundo, narrada no livro "Missionários
da Luz".

Hernani Andrade relata o caso de uma jovem advogada, nascida no


interior de São Paulo, que, desde os dois anos de idade, manifestava pânico por
soldados armados. Mostrava grande amor pela França, embora seus pais
fossem de origem italiana.

Nasceu com duas curiosas marcas: uma cicatriz com aspectos de lesão
"périuro-contusa", no tórax, e outra, com características de ferimento
dilacerante, ao nível do rim esquerdo. Recorda-se de haver vivido em Vichy, na
França, e de ter sido assassinada, aos 15 anos, com um tiro no peito, desferido
por soldado armado de fuzil. (Espírito, Perispírito e Alma - Editora
Pensamento.) Outro caso interessantíssimo é o de Simone e Angelina, publicado
como monografia, em 1979. Simone, filha de pais brasileiros, nascida em São
Paulo, em 1963, com dois anos de idade, contava episódios ocorridos na
Segunda Guerra Mundial e pronunciava palavras em italiano, sem as ter
aprendido. Contava que se chamava Angelina e residia no Capitólio, em Roma.

Certa vez, um menino trouxera um objeto parecido com uma caneta-


tinteiro, achado na rua, e o entregara a Alfonsa Dinari, mãe adotiva de Angelina.
Ao abrir a caneta, detonou a mina, causando a morte dos três. A caneta era uma
bomba disfarçada, das que haviam sido distribuídas na Itália, para aterrorizar
a população. Dispensando maiores detalhes, muito bem apurados pelo autor,
interessam-nos, no momento, as marcas de nascença, correspondentes aos
ferimentos mortais provocados pela bomba. A menor apresentava as seguintes
marcas: a) marca ovalada, de 43 por 20 milímetros, no lado externo da coxa
direita; b) depressão óssea na região occipital do crânio (nuca), lembrando um
osso furado e deprimido. Com o correr dos anos, essa depressão óssea foi
diminuindo.

As marcas de nascença destes dois casos resultariam de uma gravação no


Perispírito dos traumas violentos causados na última encarnação, no corpo
físico, expressando-se, agora, no nascituro, cujo corpo, como vimos, é plasmado
sob a influência do Perispírito.

4 - PERISPÍRITO COMO SEDE DA MEMÓRIA No "O Livro dos Espíritos",


Allan Kardec toca neste assunto muito de passagem. Quem o divulgou, com
provas e detalhes valiosos, foi Gabriel Delanne, nos livros "Reencarnação" e
"Evolução Anímica",
É o Perispírito quem armazena, registra, conserva todas as percepções,
todas as volições e ideias da alma. É o guardião fiel, o acervo imperecível do
nosso passado. Em sua substância incorruptível, fixaram-se as leis do nosso
desenvolvimento, tornando-o, por excelência, o conservador de nossa
personalidade, por isso, é que "é nele que reside a memória".

Desde períodos multimilenares, em que o Espírito iniciou as


peregrinações terrestres, desde as formas mais elementares, até elevar-se às
mais perfeitas, o Perispírito não cessou de assimilar, de forma indelével, as leis
que regem a matéria.

Se não houvesse o Perispírito, verdadeiro arquivo, onde se registram


todas as impressões; se fosse só o sistema nervoso o local, em que ficam essas
impressões gravadas, quando a substância que forma o tecido nervoso se
renovasse, perder-se-ia, com a substituição, toda a memória do passado. O
materialismo não consegue explicar como a memória permanece, enquanto
toda a matéria que forma o cérebro foi trocada.

Quem pensa, ama, deseja, resolve é o Espírito. Essas funções mais nobres
não são do Perispírito. Ele é, apenas, uma biblioteca, um arquivo, do qual o
Espírito se serve para buscar dados.

Partindo destes, pode o Espírito humano raciocinar, comparar, imaginar


e decidir. Delanne diz que o Perispírito é o "armazém das lembranças, a retorta
em que se processa a memória de fixação e é nele que o Espírito se abastece".

5 - PERISPÍRITO E AUTOMATISMO

- Quando aprendemos a andar, falar, escrever, nadar, precisamos


executar uma série de movimentos mais ou menos padronizados, que, no início,
são conscientes, isto é, cada um deles se faz com um esforço consciente da
vontade. Com o treino, não precisamos mais pensar em cada detalhe dos
movimentos e eles se fazem automaticamente, caindo no domínio do
inconsciente.

Abordamos esse assunto ao focalizar o sistema nervoso. Em termos


espíritas, o que aconteceu foi o seguinte: a repetição dos atos criou associações
dinâmicas e estáveis no Perispírito, que pode ativá-las a qualquer momento.

Outro fato em favor da memória ter por sede o Perispírito acontece nas
amnésias. Chamamos de amnésia a perda da memória, total ou parcial,
referente a números, pessoas, imagens, episódios acontecidos com a própria
pessoa. Pode a amnésia ser provocada por doenças ou por acidentes. Faz parte
até da cultura popular dizer que alguém ficou desmemoriado por ter tomado
uma pancada na cabeça. Amnésias passageiras ocorrem, após ataques
epiléticos. Conta-se o caso de um cirurgião que, lançado do cavalo que montava,
não se feriu, mas passou a apresentar amnésia para os fatos da família. Sharpey
cita o caso de certa moça, que permaneceu em longa sonolência. Quando voltou
a si, tinha se esquecido de tudo. Precisou reaprender todas as noções, desde as
primeiras letras. Em outros casos, após alguma doença ou acidente, a memória
vai voltando aos poucos. O que jamais pode ocorrer é uma nova pancada na
cabeça fazer voltar a memória, como se encontra em certos romances
fantasistas.

Quando acontece de o indivíduo ter partes de seu cérebro profundamente


lesadas, às vezes com perda de massa encefálica, seria de supor que ele
perdesse, para sempre, as faculdades psíquicas, que eram atribuições daquelas
regiões. Se tais capacidades voltam à atividade, é sinal de que estavam
localizadas em alguma parte que não foi perdida, na doença ou no acidente. Essa
parte só pode ser o Perispírito. Ele vai comandar outras regiões do cérebro a
assumirem o papel daquelas perdidas.

O esquecimento das vidas passadas também se explica por mecanismos


perispirituais. Vimos que o Perispírito é o arquivo excepcional, em que se
registram todas as impressões colhidas no meio em que vivemos, nesta e em
outras encarnações, podendo trazê-las à tona desde que certas condições o
permitam.

Esta revivescência efetua-se pela vontade, auxiliada pela atenção, que


tem por objetivo modificar a vibração do Perispírito, fato necessário para que a
evocação das lembranças se torne consciente.

Podemos, agora, compreender o mecanismo do esquecimento das vidas


passadas: ao encarnar, tomou o Perispírito um "tipo vibratório" (dizemos
assim, por não encontrarmos palavras mais adequadas, sem entrar no campo
da Física) compatível com o organismo a ele ligado, que não oferece as
condições para a recordação de outras vidas. Essa lembrança será possível em
duas circunstâncias: após a morte do corpo carnal, ou nos estados de
desprendimento do Perispírito, em relação ao corpo. Delanne diz que a
revivescência é possível, quando damos a esse corpo fluídico movimentos
vibratórios análogos aos que ele registrou em outro momento de sua existência.
As lembranças referentes a uma vida anterior são mais frequentes entre as
crianças, que delas trazem, ainda, vivas as marcas, que serão depois soterradas
pela aluvião das impressões da atual existência.

No livro "Reencarnação no Brasil", página 125, Hernani G. Andrade narra


o caso "Rodrigo X Fernando". Citemos, apenas, o resumo do caso. "A
personalidade atual, Rodrigo, nasceu na cidade de Jaú, Estado de São Paulo, em
21 de dezembro de 1923.

Até, aproximadamente, os 12 anos de idade, ele se recordava bem de


vários fatos de sua vida anterior. Por ocasião de nossa primeira entrevista, aos
52 anos de idade, Rodrigo ainda mantinha, na memória, alguns episódios
apenas, tendo olvidado a maioria deles. Assim mesmo, conservava a recordação
de muitas passagens de sua infância, que foram sempre relembradas pela
família e comentadas, inúmeras vezes, pelos parentes mais próximos."

6 - REGRESSÃO DA MEMÓRIA

- As experiências pioneiras de regressão da memória, devemos ao


pesquisador espírita Albert de Rochas. Através do sono hipnótico, induzido, ele
conseguiu que alguns pacientes regredissem à vida intrauterina. Com o
aprofundamento do sono e a experiência adquirida, conseguia, com grande
sacrifício, regressão a duas ou três encarnações passadas. Jamais se gabou ele
de conseguir regressão a centenas de encarnações passadas, como apregoam
aqueles que se vêm dedicando à TVP (Terapia das Vivências Passadas). Todos
os conhecedores do assunto sabem que a vereda é de difícil trânsito, comuns
que são as causas de erro. Um sono hipnótico, induzido, presta-se, com
facilidade, à liberação das capacidades supranormais subconscientes (segundo
Bozzano) ou funções paranormais (no linguajar da parapsicologia). Liberadas
tais capacidades, o sensitivo pode personificar uma entidade, que se
apresentará como tendo sido a reencarnação anterior da pessoa hipnotizada.
Esse fato deve ocorrer, com grande frequência, nas pseudo regressões da TVP.

7 - PERISPÍRITO COMO INTERMEDIÁRIO ENTRE O CORPO FÍSICO E O


ESPÍRITO

Durante a vida terrena, o Espírito está intimamente ligado ao corpo,


através do Perispírito, o qual, como ensina a Codificação Kardequiana, participa
da vida corporal e espiritual. Dessa forma, as alterações do sistema nervoso
determinam perturbações no exercício das faculdades espirituais. Quando o
piano está com defeito, por melhor que seja o pianista, jamais poderá executar
com perfeição as partituras. Por outro lado, emoções geradas no Espírito
repercutem no corpo.

Chamamos de sensações as impressões colhidas pelos órgãos dos


sentidos (visão, audição, olfato, gosto e tato) e levadas pelos nervos sensitivos
ao cérebro e a outros órgãos do encéfalo.

Depois de um trajeto, mais ou menos longo, as sensações vão chegar ao


córtex cerebral, onde se vão transformar em percepções ou conhecimentos.
Essa mudança da sensação em percepção seria inexplicável, se não
admitíssemos o princípio espiritual.

Como uma sensação, qual corrente nervosa transmitida ao longo dos


nervos (por mecanismos hoje bem-conhecidos pela Fisiologia) vai transformar-
se em conhecimento? Como um simples impulso vai transformar-se em noções
do mundo exterior com relação a cores, movimentos, música, sons e assim por
diante? Os materialistas não conseguem explicar como essa corrente de
natureza energética se transforma em percepção e conhecimento.

A célula nervosa recebe a impressão levada pelos nervos e reage,


determinando as respostas simples dos movimentos ou as complexas tramas
do pensamento. Como isto se passa, na intimidade? A célula produzirá
ondulações, como as luminosas, ou térmicas? Ou o fenômeno se constituirá em
reações químicas do protoplasma celular?

O grande neurologista francês Paul Cossa focaliza o problema da


percepção no seu livro "Physiopathologie du Systeme Ner-veux (Masson
Editora-Paris). Na sua quarta parte (Sistema Nervoso e Vida Psíquica), depois
de estudar exaustivamente as bases fisiológicas da vida mental, Paul Cossa
termina seu livro com as seguintes expressões: "Assim, compreendemos
porque sua parte abstrata, totalmente livre de qualquer caráter obrigatório,
não pode enquadrar-se nos estreitos limites de localizações anatômicas. Basta-
nos ter pressentido que a explicação espiritualista não era, nem mais gratuita,
nem menos sensata que a explicação mecanicista." Assim, trocando em miúdos,
reconhece ele que não é razoável tentar colocar dentro de certas regiões do
cérebro o exercício das abstratas funções psíquicas. Diz, ainda, para grande
satisfação dos espiritualistas em geral e Espiritas, em particular, que as nossas
explicações não são gratuitas, nem menos sensatas que as dos materialistas.
Isto, proclamado por um grande mestre materialista, vem nos provar, como diz
Allan Kardec, que o Espiritismo pode apresentar argumentos e seguir a Ciência,
em todas as épocas da Humanidade.

No momento em que a própria Ciência encontra dificuldades para


explicar a mudança da sensação em percepção, ou espiritualização da sensação,
cai como uma luva aceitar o Perispírito. Ele é o órgão transmissor, funcionando
como um transformador elétrico, no qual a corrente entra com certa voltagem
e sai com voltagem diferente. O corpo recebe a impressão, o Perispírito a
transmite e o Espírito, sensível e inteligente, a recebe, analisa e incorpora. Mas
podemos ter um trajeto inverso. Quando há iniciativa que vem do Espírito,
como ordem para o corpo executar, o Perispírito a transmite ao sistema
nervoso, que a define como um impulso motor. Essa ordem vai, através dos
nervos motores, aos músculos, que se contraem, obedecendo à ordem recebida.

Surgem, assim, os movimentos: locomoção, fala, gestos da mímica, canto,


salto etc.

Alguns movimentos são automáticos, como os da respiração, do


bombeamento do sangue pelo coração e, mais profundamente inconscientes, as
contrações peristálticas do intestino. Também, nesse campo, a atuação do
Perispírito é inegável.

8 - CROMOTERAPIA

- O Espírito não toma conhecimento diretamente do mundo exterior.


Preso ao corpo carnal, só percebe os objetos, através dos órgãos dos sentidos.
Diz Delanne que "a luz, o som, só lhe chegam sob forma de vibrações, diferentes
segundo a cor, para a vista, e segundo a intensidade, para o som. Desde a
infância nos ensinaram que tal espécie de vibração chama-se vermelho e tal
outra, violeta. O Espírito não vê, quando encarnado, mas sente a vibração
correspondente ao vermelho."

Ademais, completaríamos: A cor só existe como tradução retiniana e


cerebral de uma vibração ou ondulação, que, em si mesma, não tem cor. Nos
outros mundos, a noção de cor deve ser completamente diversa da nossa. Por
isso, não temos o direito de criar toda uma fantasia em torno de possíveis
poderes curativos das cores, no que se costuma chamar de cromoterapia.

Vejamos, rapidamente, algumas dessas fantasias: O verde-claro é


antisséptico, sedativo e repousante. O escuro apresenta-se como energético. O
azul-escuro é excitante, coagulante; estimula e pressiona. O cinza é opressor,
produzindo sensação de solidão, isoladamente, e impede o recebimento de boas
impressões. O vermelho-forte representa dinamismo, atração e repulsa, ao
mesmo tempo; abafa, é irritante e agressivo, corrosivo; destrói células. O roxo
representa harmonia, amor, tranquilidade, estímulo a funções cardíacas e
glandulares. O amarelo-forte é estimulante mental.

É impossível apresentar tanta tolice junta! Afirmações


descompromissadas, totalmente anticientíficas, sem base alguma!

Quem veicula tais noções não se dá ao luxo de trazer qualquer prova. Vai
inventando coisas, e as pessoas crédulas vão aceitando.

9 - PERISPÍRITO E DESENCARNAÇÃO

- O Perispírito está tão profundamente ligado à matéria do corpo quanto


menos evoluído for o Espírito. Nas pessoas evoluídas, o Perispírito não está tão
entranhado, em sintonia com a matéria densa, de modo que, para elas, a
desencarnação é fácil e suave. Nos indivíduos mais embrutecidos, o Perispírito
fica muito preso, pelas íntimas ligações com a matéria. Nessas pessoas, o
Espírito e o Perispírito só vão desprender-se de todo com o auxílio dos Espíritos
incumbidos do atendimento aos recém-chegados ao Plano Espiritual. Um
Espírito atrasado referia a Kardec: "senti os vermes a corroer-me." (O Céu e o
Inferno - Cap. V, item 13.) Mesmo os Espíritos com um certo grau de evolução
ainda ficam muito ligados, não só ao corpo, como também ao ambiente familiar.
Por isso, são extremamente raros os casos de desencarnados recentes poderem
dar comunicações, por incorporação mediúnica. Podem ser vistos, isto sim,
pelos videntes. Se o médium for excelente, poderá até captar o pensamento do
morto, mas, para haver incorporação, é preciso um domínio das energias e do
processo da mediunidade, que o médium ainda não possui.

Ligado a esses fatos por nós assinalados, temos o problema da cremação


dos cadáveres.

No livro "O Céu e o Inferno", encontramos no capítulo l° da segunda parte,


e parágrafo 4°: "A extinção da vida orgânica acarreta a separação da alma, em
consequência do rompimento do laço fluídico que a une ao corpo, mas essa
separação nunca é abrupta. O fluido perispiritual só pouco a pouco se
desprende de todos os órgãos, de maneira que a separação só é completa,
absoluta, quando não resta mais nada do Perispírito ligado ao corpo. A sensação
dolorosa da alma, por ocasião da morte, está na razão direta da soma dos
pontos de contato existentes entre o corpo e o Perispírito e, por conseguinte,
também da maior ou menor dificuldade ou lentidão que apresenta o
rompimento.

Se, após a cessação completa da vida orgânica, existirem ainda


numerosos pontos de contato entre o corpo e o Perispírito, a alma poderá
ressentir-se dos efeitos da decomposição do corpo, até que o laço inteiramente
se desfaça. Daí, resulta que o sofrimento que acompanha a morte está
subordinado à força adesiva que une o corpo ao Perispírito."

Essa é a razão suficiente para que os espíritas sejam contrários à


cremação dos cadáveres, quando feita logo após a morte.

Depois de certo tempo, supondo-se que já tenha havido o início da


decomposição do corpo e o desligamento do Perispírito, não vemos
inconveniente na cremação. Essa foi a conclusão a que chegou à Comissão de
Doutrina da Federação Espírita do Estado de São Paulo (da qual fizemos parte),
em março de 1982, conclusão essa sancionada pelo Conselho da Casa. É muito
difícil definir qual seria esse prazo, após o qual a cremação não traria maiores
traumas ao Perispírito, pois variam muito as condições do desencarne, como já
foram citadas.

10 - DESPRENDIMENTO DO PERISPÍRITO

Dissemos que o Perispírito é expansível por sua natureza fluídica e se


irradia, formando, ao redor do corpo, uma atmosfera fluídica. Assim se entende,
facilmente, o mecanismo da mediunidade, por meio de um contato e uma
sintonia vibratória entre o Perispírito do comunicante e o do médium.

Não fiquemos, por enquanto, apenas no estudo da capacidade do


Perispírito do Ser vivo:

1°) SONHOS - A separação completa entre o Perispírito e o corpo só se dá


por ocasião da morte. Mas, em múltiplas circunstâncias, pode-se dar um
desprendimento parcial. O caso mais simples se dá durante o sono, em que a
pessoa pode manter contato com os Espíritos, receber orientações, visitar
ambientes do outro lado da vida e assim por diante.

André Luiz refere a existência de um cordão prateado, ligando o corpo ao


Perispírito, momentaneamente distanciado. Os videntes também expõem esse
fato. Esse cordão seria formado de ectoplasma. Quando o indivíduo volta ao
corpo, e acorda, pode trazer a lembrança dessas vivências. Esses são os sonhos
espirituais. Gostaríamos de enfatizar que existem, também, os sonhos
materiais, que são fantasias do subconsciente, às vezes ligadas a sensações do
corpo físico. Uma criança sonha que está correndo no campo, com os
coleguinhas, e fica com vontade intensa de urinar. Procura uma vegetação e aí
urina, com prazer. Mas ela está urinando na cama. Nos sonhos, somos
poderosos, invejados, valentes e fazemos mil coisas que não faríamos na vigília
ou que a sociedade proíbe.

Freud, o grande criador da Psicanálise, baseou toda sua teoria no estudo


dos sonhos, durante os quais brotaria, autêntico e pujante, o inconsciente, com
todas suas tendências e complexos.

É evidente que esses só poderiam ser os sonhos que chamamos de


materiais, na falta de termo melhor.

Os orientais e as pessoas místicas ou sugestionáveis acreditam na


interpretação dos sonhos. A esse respeito, existe extensa bibliografia, porém
não nos cabe, dentro de nossos objetivos, examinar tal assunto.

César Lombroso, "Hipnotismo e Espiritismo", afirma que os sonhos foram


os primeiros fatos que levaram os homens a crerem na existência de um Eu
inteligente e, em todas as épocas, julgaram ver neles os precursores de
qualquer acontecimento, posto que não tenham sido estudados
cientificamente. Os sonhos podem ser encarados como um meio-termo entre o
sono e a vigília. Muitos fenômenos referentes aos sonhos, segundo Lombroso,
poderiam ser explicados por maior acuidade dos sentidos, capaz de provocar
alucinações, de maior sugestionabilidade, e de tornar a memória mais aguda.

Miss Crellin, quando pequena, apanhou, por brincadeira, o anel da


professora e perdeu o diamante que nele estava incrustado. Debalde o
procurou; viu, entretanto, em sonho, o lugar em que o deixara cair e ali foi
encontrá-lo.

O sr. Herbert Leurs recebe importante carta e a perde. Debalde a procura,


um dia inteiro, em seu quarto. Sonha que a vê num canto daquele aposento e a
encontra. Lombroso atribui tais casos à "criptomnésia", revivescência da
memória em estado de sono. Nós, os Espíritas, não precisamos criar termos
novos para tentar explicar a lucidez, quando sonhamos. Trata-se, pura e
simplesmente, de um desprendimento do Perispírito, que, liberto
momentaneamente das amarras da matéria, pode exercer suas capacidades
latentes, muito mais amplas do que as exibidas, quando encarcerado na
matéria.

2°) DESDOBRAMENTO - Os profitentes de seitas orientais, de tipo


mágico-religiosas, buscam desdobrar-se voluntariamente.

Para consegui-lo, fazem os conhecidos jejuns prolongados,


acompanhados de meditação e técnicas de auto hipnose. Essas práticas, com
roupagens novas, têm sido divulgadas por espiritualistas do Ocidente, no Brasil,
inclusive. Sua aceitação está muito ligada à tendência do povo brasileiro em
acreditar em tudo o que é fantasioso, que cheira a mistério. Eles se esquecem
de que a Codificação nos aconselha a analisar tudo dentro da razão mais
exigente e dos conhecimentos científicos. Quando a pessoa não está
devidamente preparada e não tem uma adequada estabilidade emocional, essas
técnicas forçadas de viagens astrais acarretam sérios riscos, podendo ocasionar
desequilíbrios mentais. Conhecemos um famoso médium com quem aconteceu
isto.

Alguns povos primitivos, de longa data, vêm usando certas plantas,


especialmente cogumelos, para ampliar o domínio dos sentidos (visões
multicoloridas e arrebatadoras) e liberar faculdades anímicas ou paranormais,
como a clarividência. Os alcaloides contidos nessas plantas são venenosos e
podem causar até a morte.

Alberto Lyra, psiquiatra paulista de profunda cultura, desencarnado há


poucos anos, escreveu um interessante livro denominado "O Inconsciente, a
Magia e o Diabo no Século XX", (Distribuidora Record - 1973), em que aborda
vários assuntos atuais.

Estudando a auto projeção, relata que é conhecida com vários nomes:


projeção astral, desdobramento astral, projeção ESP, experiência
extracorpórea, viagem astral. Diz que o sensitivo se sente fora do corpo, em
plena consciência, podendo vê-lo, conseguindo afastar-se e encontrar-se em
outros lugares, enquanto o corpo físico permanece imóvel.

O desdobramento pode ocorrer, espontaneamente, em agonizantes, em


pessoas muito doentes, mas também em indivíduos com plena saúde física e
mental. Às vezes, recorre-se a processos especiais, usando anestésicos, drogas
excitantes, hipnose, ioga etc. Relata Lyra o caso de uma senhora que, durante a
experiência, sentia-se em estado cataléptico e um turbilhão tomava seu corpo.
"Comecei a me sentir subindo para o alto. Ouvia sons fortíssimos,
acompanhados de luzes de várias cores. O som era metálico, numa progressão
cada vez maior, e as luzes eram simultâneas. Vi-me rodeada de sons e luzes,
numa atmosfera indescritível. Tive vontade de ir além, porém não aguentei a
estridência dos sons. Pensei que ia estourar. Tive medo e voltei." Será isso
viagem astral ou alucinação?

A maioria vê o seu corpo físico e sente-se como uma duplicata,


geralmente com roupas. Muitos veem uma corda ou fio, ligando os dois corpos.
Há o perigo das "repercussões". O indivíduo autoprojetado pode sofrer um
choque em seu duplo extrafísico e este trauma ser transmitido ao seu corpo.
Algumas pessoas, no início da auto projeção, têm a sensação de estar em um
túnel ou passagem estreita. Ou, então, atravessam uma zona cinzenta, ou um rio
escuro, ou passam por uma nuvem.

Alberto Lyra lembra que é muito difícil ter prova concreta de que se trata
de uma projeção astral ou experiência extracorpórea. Outras hipóteses
poderiam explicá-la: a) Fabulação; b) Fenômeno puramente mental,
alucinatório; c) Combinação de telepatia e clarividência, com falsa sensação de
auto projeção; d) Projeção do pensamento.

Citamos essas outras explicações, para que nossos prezados leitores e os


Espíritas, em geral, estejam sempre alertas, no sentido de não irem aceitando
todos os fatos maravilhosos e sobrenaturais, sem uma acurada análise. Erasto
(O Livro dos Médiuns, questão 230, pág. 283), já nos recomendava "que é
preferível rejeitar dez verdades a aceitar uma mentira".

3- BILOCAÇÕES - Os fatos mais valiosos que provam a capacidade de


desprendimento do Perispírito consistem nas bi locações.

Em "Obras Póstumas", 2ª Edição, pág. 54, encontramos um capítulo


inteiro dedicado ao assunto. Diz Kardec: "Fica, pois, demonstrado que uma
pessoa viva pode aparecer simultaneamente em dois pontos diferentes; num,
com o corpo real; em outro, com o Perispírito condensado, momentaneamente,
sob a aparência de suas formas materiais."

"O juiz J ..., de Cantão, 'Obras Póstumas' págs. 48 e 50, mandou um dia seu
empregado a uma povoação vizinha. Passado algum tempo, ele o viu voltar,
tomar um livro da estante e folheá-lo. Perguntou-lhe, bruscamente, por que
ainda não houvera partido. A essas palavras, o empregado desaparece, o livro
cai e o juiz coloca-o numa mesa, aberto como tinha caído. Voltando o
empregado, à noite, o juiz perguntou-lhe se lhe acontecera alguma coisa na
viagem e se não houvera voltado do meio do caminho. - Não, responde o
empregado. Fiz a viagem em companhia de um amigo. Ao atravessarmos a
floresta, tivemos uma discussão sobre uma planta que achamos. Disse-lhe que,
se eu estivesse em casa, mostrar-lhe-ia a página do botânico, Lineu, que
provaria minhas razões. - Era justamente aquele livro que se achava sobre a
mesa, sendo a página em que estava aberto precisamente a indicada."

"Uma preceptora francesa, Emília Sagée, perdeu 19 vezes o seu lugar de


preceptora de crianças, porque, em todos os empregos por onde passou, havia
momentos em que aparecia duplamente. As meninas de um internato em
Neuwele, na Livânia, viam-na, frequentemente, no salão ou no jardim, enquanto
o corpo se achava em outro lugar, aparentemente adormecido. Outras vezes,
viam defronte ao quadro-negro, duas Emílias Sagée, uma ao lado da outra,
perfeitamente iguais, fazendo os mesmos movimentos, com a única diferença
de que só a verdadeira (corporalmente falando) tinha o giz na mão, com o qual
escrevia no quadro."

Os leigos poderiam objetar: Mas como? Então o Espírito se dividiu em


dois? Responderemos: - O Espírito é indivisível; não pode estar em dois lugares
ao mesmo tempo. Ocorre o seguinte: na bi locação, o Perispírito se desprende
parcialmente, ainda envolvendo o Espírito, formando, assim, o duplo fluídico, à
custa de uma condensação do Perispírito, podendo tornar-se visível e até
tangível. Dá, assim, a impressão de um ser real, que se movimenta. Mas o
desprendimento dele, em relação ao corpo orgânico, nunca é total, senão a
pessoa morreria. O Perispírito continua ligado ao corpo, através de um cordão
ectoplasmático, como foi explicado antes, quando falamos dos sonhos e das
viagens astrais. A condição necessária, como explica Gabriel Delanne, é ficar o
corpo como que adormecido, em transe ou em estado cataléptico. Não pode
haver atividade simultânea do corpo e do duplo, ou seja, não pode haver divisão
do comando espiritual.

11 - PERISPÍRITO E DOENÇAS - ESTIGMATIZADOS

Através do que expusemos nos dois primeiros capítulos, conclui-se que


as causas das doenças são muito numerosas. Podemos, didaticamente,
classificar essas causas em quatro grupos: orgânicas, funcionais, mentais ou
psíquicas e espirituais. As orgânicas são aquelas tratadas pela medicina oficial;
abrangem as doenças infecciosas, as perturbações glandulares, as doenças
circulatórias e as tumorais (cânceres em geral). As doenças funcionais são
aquelas em que não se encontram lesões, destruição de tecidos ou órgãos, nas
quais os aparelhos usados para detecção de lesões nada revelam. Nelas existem
perturbações no funcionamento dos órgãos; como exemplos, já citamos os
desequilíbrios do sistema nervoso autônomo. As doenças mentais ou psíquicas
determinam os mais variados distúrbios de conduta, nos campos intelectual,
emocional e da vontade. Costumam ser cuidadas por psicanalistas ou por
psiquiatras. Finalmente existem as doenças que têm por causa problemas
espirituais, entre os quais sobrelevam as obsessões.

É óbvio que essas doenças não são aceitas pela medicina oficial, pois não
admite que Espíritos de pessoas mortas venham influenciar a conduta e a saúde
dos vivos.

Essa barreira, entre os conceitos espíritas e os dos materialistas, qual


novo muro de Berlim, já começa a ser abalada e destruída, pouco a pouco. Os
próprios pesquisadores não-espíritas proclamam a interdependência corpo-
Espírito e a repercussão da atividade de um sobre o outro.

Júlio Chaves, médico carioca, já assinalava: "Não há doenças do corpo e


da alma, separadas. Todas as enfermidades do corpo são enfermidades da
alma." Admite, assim, que as lesões corporais nada mais expressam senão as
condições doentias da alma.

Maurício de Medeiros, médico e jornalista, diz: "Mas, se a Biotipologia nos


ensina que o indivíduo é um todo - soma e psique; se a velha concepção nos
mostra, há milênios, a influência recíproca entre corpo e alma, nenhuma
objeção se pode fazer a que busquemos a capacidade de ação da alma sobre o
corpo, sem nos limitarmos a um simples exame de superfície das suas relações,
mas descendo em profundidade às ações ocultas do inconsciente."

A explanação é um pouco longa e difícil, porém aprendemos nela o


seguinte: Primeiro - A Biotipologia, Ciência que estuda os tipos humanos, nos
mostra que há uma integração completa entre a alma e o corpo que a hospeda,
surgindo uma permanente influência de um sobre a outra e vice-versa. Segundo
- Devemos procurar aclarar essa capacidade de atuação, mas não podemos ficar
numa observação superficial. Precisamos penetrar mais fundo, pois iremos ver
a atuação do inconsciente sobre a conduta e as emoções. São conhecidas,
vulgares e banais as origens psíquicas de certas reações orgânicas, tais como
corar ou empalidecer pela cólera ou pelo medo, sentir a pele arrepiar de
emoção ou de susto. Tanto o paciente como o observador reconhecerão a causa
mental dessas reações orgânicas.

Nesse campo, encontramos o que os psicólogos chamam de


"somatizações". São expressões corporais derivadas de influxos mentais. Certas
neuroses podem se expressar como lesões orgânicas, como: urticária, eczemas
de origem nervosa, paralisias de regiões do corpo. Certos histéricos podem
apresentar paralisia de um braço, de uma perna ou até de metade do corpo, sem
nenhuma causa material. Presenciamos o caso de um senhor de meia-idade,
internado na Santa Casa de São Paulo, na clínica do prof. Celestino Bourroul.
Após contrariedades, esse paciente ficou com o corpo, da cintura para baixo,
totalmente paralítico.

Nosso mestre Celestino percebeu nele, a causa puramente psicológica e


disse ao doente que iria usar um medicamento novo, vindo da Alemanha.

Aplicou-lhe, em três dias sucessivos, injeções do tal remédio, em nossa


presença, alunos do 6°. ano da Faculdade de Medicina.

Para nossa estupefação, vimos, com as injeções de água destilada, o


paciente ficar em pé e andar. Era uma paralisia histérica, que, com forte
sugestão, foi curada. Quantos falsos tratamentos mediúnicos não terão
resultados semelhantes?

Outro exemplo brilhante está nos estigmatizados. Consiste no


aparecimento de lesões "sangrentas", nas mãos e na testa, provocadas por
êxtase místico. São Francisco de Assis foi o mais célebre dos estigmatizados.
Lombroso, sábio italiano, (Hipnotismo e Espiritismo - Edição FEB), diz que São
Francisco "experimentou, nos pés e nas mãos, sensações doloridíssimas,
seguidas de chagas sanguinolentas, por entre as quais se viam cravos formados
por excrescência de tecido celular, móveis, não podendo ser arrancados. Estes
estigmas duraram até a sua morte e nunca supuraram". Um aldeão da Sardenha,
convocado para o serviço militar, escandalizou o regimento com seus estigmas.

Repentinamente caía de joelhos, estático, recitando preces, enquanto na


testa, mãos e flanco esquerdo apareciam as marcas da Paixão. As lesões
cicatrizavam, também, de modo imediato.

O dr. Souza Ribeiro, médico e jornalista, que residiu em Campinas,


publicou em 1931, um livro intitulado "O Caso da Estigmatizada de Campinas"
(Editora "O Clarim" - Matão), do qual possuímos um exemplar raro. Relata o
caso da freira Amália, que, subitamente, ficou com febre muito alta e, no terceiro
dia, surgiram-lhe estigmas semelhantes aos de São Francisco de Assis.

Chamado o médico, dr. F.M., este encontrou, ainda, abertos e


sanguinolentos os estigmas dos pés, das mãos e tórax. Conhecemos o dr. Souza
Ribeiro, com quem dialogávamos longamente, (1946-1948). Espírita convicto,
era ardoroso na defesa dos nossos ideais e manteve polêmicas com padres,
através de jornais de Campinas. Argumentava sempre, dura e brilhantemente,
não poupando seus adversários, infelizmente, para mim, apresentava deduções
contra o valor da prece e contra o aspecto religioso do Espiritismo, que eu
defendia, e contradizia meus argumentos com brilhantismo.

Ainda no campo dos estigmatizados, temos alguns casos interessantes.


Na década de 40, surgiu, aqui, em São Paulo, uma senhora, tida como médium e
apelidada de "Santa de Bebedouro", por ter vindo dessa cidade do interior
paulista. Dizia-se que ela curava numerosas enfermidades com a simples
aplicação de passes. Por isso, logo começou a ser procurada por muita gente.
Tivemos um contato próximo com ela. Um nosso primo, portador de
tuberculose grave, estivera alguns anos em Campos do Jordão, submetido aos
tratamentos da época. Lamentavelmente, não melhorou e veio para São Paulo
passar os últimos dias de vida com a mãe. Alguém da família, que conhecia a
"Santa de Bebedouro" e passara a acompanhá-la, lembrou a possibilidade de
levá-la para ver o doente. E ela foi. Estavam presentes minha mãe e mais umas
oito senhoras, seis católicas. A "Santa" logo entrou em transe e passou as mãos
espalmadas ao longo das costas do paciente. Em plena luz do dia, todas viram
brotar numerosas gotas de sangue das palmas das mãos da "Santa". Disse que
eram substâncias nocivas que ela estava tirando dos pulmões do rapaz. A
credulidade dos presentes era tanta que duas senhoras embeberam seus lenços
no sangue que brotara; depois de secos, os lenços foram picados em pedaços
pelas senhoras, que levaram os pedacinhos como relíquias. A "Santa" disse que
o doente estaria completamente curado da tuberculose dentro de um mês.

O entusiasmo foi tanto que todas aceitaram piamente o prognóstico.


Contando minha mãe o fato a um estudante de medicina, que morava conosco,
este, ferrenho materialista, contestou o futuro restabelecimento do doente e se
prontificou a tornar-se espírita, caso ele ocorresse. Estando presente, eu lhe
disse que também não aceitava o milagre, pois cura de tuberculose avançada
não era possível daquela forma. Expliquei que, possivelmente, se tratava de
uma estigmatizada, como numerosas outras, nos ambientes religiosos, que
foram tidas como "Santas".

Meu primo, realmente, passados dois meses, estava sendo enterrado no


Cemitério São Paulo. E se eu tivesse sido fanático, sobrevindo depois o
resultado negativo do caso, como iria ficar o conceito dos Espíritas? Como
decorrência vem o conselho para que os Espíritas não se pronunciem
afoitamente sobre casos semelhantes. Como nos ensina Kardec: "Analisar tudo,
e só aceitar aquilo que resistir a toda crítica."

Mas voltemos a examinar as relações Corpo-Perispírito-Espírito. "É


principalmente nos períodos de maior intensidade emocional que as moléstias
de origem mental, inconsciente, se tornam mais frequentes. Esses distúrbios,
inicialmente curáveis, tendem a se tornar doenças orgânicas incuráveis. Hoje,
sabe-se que 80% das úlceras do estômago são de origem emociona!"

(Maurício de Medeiros).

Tudo isso que expusemos nos mostra que há no ser encarnado algo muito
profundo, muito poderoso, que faz surgir no corpo físico as consequências do
que se passa no psiquismo. São impulsos, dizem os psicólogos, que foram
gerados no inconsciente humano. São impressões gravadas no Perispírito,
diríamos nós, as quais formam o substrato da vida emocional.

12 - ORIGENS ESPIRITUAIS DAS DOENÇAS

André Luiz diz: "Assim como o corpo físico pode ingerir alimentos
venenosos que lhe intoxicam os tecidos, também o organismo perispiritual
pode absorver elementos de degradação que lhe corroem os centros de força,
com reflexos sobre as células materiais. Se a mente da criatura encarnada ainda
não atingiu a disciplina das emoções, se alimenta paixões que a desarmonizam
com a realidade, pode, a qualquer momento, intoxicar-se com as emissões
mentais daqueles com quem convive e que se encontrem no mesmo estado de
desequilíbrio." ("Nos Domínios da Mediunidade" - Cap. 4° - André Luiz.)

Vamos tentar esclarecer melhor o que está contido nesse lapidar


ensinamento. Vimos, antes, que o Perispírito ultrapassa os limites do corpo
físico e, assim, pode entrar em contato não só com os Espíritos desencarnados
(acompanhados de seus Perispíritos), mas também com as outras pessoas com
quem convive neste plano terreno. Havendo sintonia vibratória, surgem
intercâmbios fluídicos, bons e nocivos. Diz, ainda, André Luiz "que, se a mente
encarnada não conseguiu, ainda, disciplinar e dominar suas emoções e alimenta
paixões (ódio, inveja, ideias de vingança), entrará em sintonia com os irmãos
do plano espiritual, que também estejam perturbados. Esses Espíritos
endividados emitirão fluidos maléficos que irão impregnar o Perispírito do
encarnado, intoxicando-o com essas emissões mentais, podendo levá-lo até a
doença.

Esses ensinamentos nos transmitem algumas advertências: a) Procurar


disciplinar sempre as emoções, refreando as explosões agressivas ou maldosas;
b) Impedir que elas nos levem a descontroles emocionais, nocivos para o corpo
e para o Espírito, uma vez que alteram o equilíbrio fluídico do Perispírito; c)
Evitar a troca de experiência (convívio), com encarnados que apresentem
profundos desequilíbrios, pois suas influências podem levar os desprevenidos
a condutas menos dignas; d) Pensar e agir dentro dos ensinamentos cristãos.

Além das doenças causadas pelas falhas de conduta do Ser, nesta vida, há
aquelas que remontam ao passado. Devemos buscar em outras vidas as causas
das perturbações atuais. Emmanuel, em vários de seus livros, principalmente
"Pensamento e Vida", "Fonte Viva" e "Luz Acima", nos ensina que a enfermidade
deriva das violações que praticamos no passado, quando escolhemos o caminho
do mal de forma voluntária. Por isso, agora o Espírito vai receber as
consequências do mal praticado, como sofrimento físico ou espiritual. Assim, se
propicia o reajuste desse Espírito com débitos anteriores.

"É lícito procurar a medicina terrena, que pode aliviar muito e curar onde
for permitido; a Misericórdia Divina a pôs ao nosso alcance, embora com certas
limitações sociais e econômicas.

Mas, em todos os casos, para quem já adquiriu certa compreensão dos


níveis superiores da vida, é preciso esforço pessoal.

Em suma, é a doença (e o sofrimento) muito importante no processo de


redenção do Espírito. Não se trata de entronizar o sofrimento. O Espiritismo,
pura e simplesmente, esclarece o papel da dor na vida humana, mas, quando ela
desponta, cumpre dar-lhe o tratamento adequado, para que não venha a ser,
realmente, uma desgraça completa." (Carlos Toledo Rizzini - "Evolução para o
Terceiro Milênio" - Cap. 5°.)
CAPÍTULO IV – O TRANSE
Transe é um estado especial, entre a vigília e o sono, que abre as portas
do subconsciente. É um estado de sonolência, semelhante ao estado
sonambúlico.

O profeta, o iluminado, ficavam extáticos, tendo as percepções normais


do corpo carnal embotadas. Seu Espírito captava impressões em outro nível,
isto é, fora das potencialidades dos seus sentidos habituais.

O transe liberta, realmente, as capacidades do subconsciente, mas isso


não implica sempre no exercício da clarividência.

Se comparam os trabalhos dos antigos "metapsiquistas" com os dos


parapsicólogos atuais, vamo-nos defrontar com uma diferença fundamental:
nos estudos da Metapsíquica, os sensitivos geralmente agiam em estado de
transe, revelando, então, suas capacidades de telepatia, clarividência,
premonição e outras. Eram, na nomenclatura de Bozzano, as capacidades
supranormais, subconscientes. Nos experimentos da Parapsicologia, lida-se,
pelo contrário, com pessoas em vigília, sem estarem em transe, que usam seus
poderes paranormais. Surgem, então, as chamadas funções "psic.", termo criado
para nomear tais capacidades, estudadas pela Parapsicologia. Os
"metapsiquistas" estudam alguns médiuns excepcionais, procurando controlá-
los por todas as formas possíveis; enfim, fazem estudos de casos individuais. Já
a Parapsicologia usa métodos estatísticos, isto é, repete uma experiência,
numerosas vezes, e verifica os acertos. No caso das cartas do baralho, muito
estudadas por Rhine, os indivíduos dotados de capacidades "pisc." acertam as
respostas em proporção significativamente superior às médias previstas.

Diz Jaime Cervino, neurologista Espírita carioca, desencarnado aos 46


anos, em seu livro "Além do Inconsciente": "Existem fatos psíquicos que
ocorrem automaticamente, e o Espírito deles participa de modo passivo. Os
instintos, os hábitos e as próprias emoções são dessa ordem. Outros exigem
participação ativa, tais como as operações intelectuais, a vontade e a atividade
criadora.

O decréscimo dessa tensão mental, capaz de funções tão elevadas, é a


passividade, o caminho para o transe. O homem de intelecto funciona em
regime de alta tensão psíquica; o inspirado busca a passividade, que lhe amplia
a percepção extrassensorial.
A dissociação ou automatismo significa a existência de processos mentais
subconscientes que eventualmente podem emergir e mesmo se sobreporem à
consciência propriamente dita. No automatismo global, se o transe é profundo
(sonambulismo), ocorre perda da memória relacionada com aquele momento
da vida mental."

1 - FASES DO TRANSE

Poderemos avaliar, apenas, dois estágios extremos do transe,


considerando que existem, entre eles, todos os graus possíveis.

Os dois estágios são: 1°. - Transe superficial- Não há esquecimento das


impressões recebidas, porque o paciente está a par de tudo o que está
acontecendo, chegando a duvidar de que tenha estado em transe. 2°. - Transe
profundo ou sonambulismo (Neste estágio, a pessoa se torna muito
sugestionável, obedecendo a ordens, e apresenta, ao despertar, esquecimento
dos fatos (amnésia lacunar).

2 - DURAÇÃO E EXTENSÃO DO TRANSE

Às vezes, o transe é muito rápido, chegando a não ser percebido pelos


assistentes. Diríamos que houve um rápido mergulho no inconsciente. Nos
transes prolongados, há nítidas modificações no psiquismo. Em algumas
doenças mentais, tem-se a impressão de que a pessoa fica continuamente
obnubilada, como numa espécie de transe.

Charles Richet, fisiologista francês, usou o termo "hemissonambulismo"


para os fatos espontâneos que se dão, mesmo com o estado de consciência
inalterado. É esse um automatismo parcial. A pessoa ri, canta, discute com os
circunstantes, enquanto uma personalidade. A escreve frases perfeitas com a
mão direita.

Não concordamos, de forma alguma, com essa explicação. Poderia haver


uma divisão completa da personalidade: o mesmo cérebro daria ordens verbais
para a pessoa falar ou rir e, simultaneamente, se evidenciaria uma segunda
personalidade, capaz de escrever. A mente estaria bipartida. Essa hipótese foi
criada para fugir à única explicação cabível para o caso, ou seja, a hipótese
Espírita - mediunidade mecânica - em que um Espírito desencarnado usa os
centros motores do médium para escrever, enquanto este permanece
consciente.
3 - FORMAS DE TRANSE

O transe pode ser patológico (doentio), espontâneo e provocado.

1) TRANSE PATOLÓGICO - O caso mais elementar ocorre no chamado


"estado crepuscular" dos epiléticos e histéricos. O indivíduo tem a crise
convulsiva e depois fica longo tempo como que "abobado" ou "desligado",
falando coisas sem nexo, sem noção de espaço e tempo. Em certas epilepsias, o
paciente fica sem exercer totalmente o controle de seus atos, e,
automaticamente, se põe a andar e vai acordar, às vezes, a quilômetros de
distância de sua casa.

Este tipo de transe também ocorre nos delírios febris, nos estados de
coma, nas lesões traumáticas do cérebro. Bloqueado o contato com o meio
ambiente, o transe vai permitir o aflorar do subconsciente e a pessoa age sem
intervenção da vontade.

2) TRANSE ESPONTÂNEO - É encontrado em pessoas com tendências


hereditárias a entrar, espontaneamente, em transe. São os casos dos
sonâmbulos, que se levantam à noite, andam, falam, não reconhecem as pessoas
e, quando acordam, não se lembram de nada do que fizeram.

Gabriel Delanne, em seu excelente livro "O Espiritismo Perante a Ciência",


narra alguns casos muito interessantes de sonambulismo, com exercício da
visão, sem ser por intermédio dos olhos. Caso interessante é o de uma senhora
de constituição delicada e adoentada, que estava profundamente chocada com
a prisão do marido. Dr. Debay, em certa noite de verão, viu-a, à claridade da lua,
caminhando pelos telhados de uma casa muito alta.

Viu-a subir nos ângulos do forro, com o filhinho nos braços. Desceu,
depois, com surpreendente agilidade. Esse fato foi por ele presenciado várias
noites. Interrogada sobre seus passeios perigosos, sorriu, não querendo
acreditar; quando insistiram, confessou ela que tivera sonhos desagradáveis,
nos quais se via perseguida por soldados que lhe queriam tirar o filho.
3 - TRANSE PROVOCADO

Abrange o TRANSE HIPNÓTICO, O FARMACÓGENO (POR DROGAS) E O


MEDIÚNICO.

1) TRANSE HIPNÓTICO - O estado hipnótico é uma variante do processo


do sono. É um sono experimental, provocado, conduzido, que caminha e se
aprofunda dentro dos mesmos processos do sono normal. A distância que
separa o transe hipnótico do sono normal é proporcional à extensão do
território do córtex cerebral, a qual foi alcançada pela difusão inibitória. (A
inibição ou bloqueio da atividade cerebral leva o indivíduo a dormir). No
hipnotismo, usam-se, por exemplo, estímulos luminosos repetidos, os quais
cansam a zona cerebral da visão, nascendo, assim, um local de inibição da
atividade consciente, e o indivíduo entra em transe.

Como sabemos, há numerosas técnicas que permitem obter a hipnose:


técnica da fixação do olhar, reversão do olhar, representação cênica (em
crianças), entrecruzamento das mãos, do gongo, do diapasão, da luz intensa.
Citemos alguns exemplos:

1 - Você apenas aprenderá a soltar o corpo, a relaxar os músculos, a


repousar tranquilamente. Não tenha a menor preocupação quanto a isso. Não
se trata de dormir e sim repousar. São coisas diferentes.

2 - Suas pálpebras estão pesadas cansadas ... seus olhos fechados ...
completamente fechados pesados ... pálpebras coladas ... presas ... pesadas ...
pesadas como chumbo ... pesadas. Agora ... seus ouvidos já estão fechados ...
completamente fechados ... a qualquer ruído ... a qualquer barulho ... impossível
ouvir qualquer som ... apenas a minha voz ... exclusivamente a minha voz ...
durma tranquila e profundamente ... tranquila e profundamente durma.

Em todas as técnicas hipnóticas, usa-se sempre a sugestão.

Mas, em que consiste a sugestão? Para Mac Dougall, sugestão é um


processo de comunicação que resulta na aceitação convicta de ideias, crenças
ou impulsos, sem necessidade de fundamento lógico. Para G. Dumas, existe
sugestão, quando um indivíduo atua, pela vontade, sobre o automatismo do
outro, a ponto de fazê-lo realizar certos atos, sem que este tenha vontade ou
consciência. É como se a alma do hipnotizador tomasse, durante algum tempo,
conta do corpo do paciente. (Medeiros e Albuquerque.) Consequências do
Transe Hipnótico - Alterações motoras, sensoriais, da memória e das funções
orgânicas.

ALTERAÇÕES MOTORAS - A sugestão causa catalepsia, em que os


membros demoram na posição em que impomos, e movimentos automáticos.

ALTERAÇÕES SENSORIAIS - No transe profundo, os sentidos estão


superexcitados para os estímulos mais sutis. Há, também, insensibilidade à dor
e anestesia, podendo ser feitas até intervenções cirúrgicas sob hipnose.

ALTERAÇÕES DA MEMÓRIA - Na hipnose, a memória se amplia, de modo


que coisas totalmente esquecidas são relembradas.

Esse fato é designado pelos pesquisadores de hipermnésia. A regressão


da memória leva a pessoa hipnotizada a reviver o passado, remontando à
primeira infância e ao período fetal. Pode ser sugerida ao paciente uma
personalidade inventada (uma figura histórica, um soldado, um padre) e ele
procede imitando essas figuras.

Devemos esclarecer em que consiste a tão focalizada "sugestão pós-


hipnótica": quando hipnotizado, é sugerido ao paciente que, após acordar,
execute uma certa ação. Acordado, ele cumpre exatamente o que lhe foi
ordenado. Bernhein, um dos mestres do hipnotismo, sugere ao seu paciente
que, após despertar, pegue um guarda-chuva e a abra; saindo do transe,
imediatamente a pessoa faz o que foi determinado. Interrogada, não sabe
explicar o motivo da ação. Diz apenas que sentiu um impulso para fazê-lo.

A sugestão pós-hipnótica pode ser usada pelos Espíritas para explicar a


tendência de pessoas abnegadas, a realizarem trabalhos benéficos ao
semelhante, sem uma demorada decisão. Seriam Espíritos que, ao encarnarem,
receberam fortes orientações nesse sentido, partidas dos mentores que
programam as reencarnações. Exemplos deste tipo são numerosos em várias
obras de André Luiz.

ALTERAÇÕES DAS FUNÇÕES ORGÂNICAS - No transe hipnótico,


sugestões feitas aos pacientes podem levar a alterações funcionais e até
corporais. Por exemplo: modificações da frequência cardíaca, da pressão
arterial, da acidez gástrica e até mudanças na ação dos medicamentos. Certo
remédio que costuma diminuir a contração do intestino (peristaltismo) pode
produzir efeito laxativo, desde que o hipnotizador sugira esse efeito.
2) TRANSE POR DROGAS, OU FARMACÓGENO - Desde a Antiguidade
recorreu-se ao uso de certas drogas, durante os rituais religiosos. No Brasil, o
álcool é usado, associado ao transe, em alguns cultos africanistas, cultos esses
que fazem parte do "continuum mediúnico". Os mexicanos usavam os cactos
sagrado, o mescal. Os indianos consumiam o "soma", bebida inebriante extraída
de uma planta asclepiadácea. No Egito antigo, a pitonisa de Delfos fazia suas
profecias sentada num banquinho, colocado em cima de uma fenda no chão, de
onde se exalavam gases que a levavam ao êxtase. Em Calcutá, índia, um médico
encontrou um indivíduo que entrava em transe, quando ingeria o Cânhamo
indiano "Cannabis sativa"; ficava em estado cataléptico, com os membros duros
e imóveis, durante horas, nas posições mais bizarras possíveis.

Os anestésicos também podem produzir o transe. Velpeau relatou à


Academia de Ciências de Paris, o caso de uma senhora, que, sob o efeito do
clorofórmio, desprendeu-se e expôs o que se estava passando na casa de uma
amiga.

Atualmente, os parapsicólogos têm revelado um inusitado interesse pelas


drogas chamadas psicodislépticas ou psicolíticas, as quais produzem um transe,
com liberação das funções PSIC.

As mais importantes são a mescalina, a psilocibina e o LSD 25. A primeira


é extraída de um cacto do México e da América Central. Causa euforia (sensação
de bem-estar), ilusões e alucinações coloridas, alterações na personalidade e na
percepção do espaço e do tempo. Aldous Huxley, escritor inglês, em sua auto
experiência com a mescalina, julga ter atingido a "visão sacramental da
realidade".

A psilocibina, extraída de um cogumelo mexicano, também causa euforia,


estado de sonho "oniroide", exacerbação da memória e alteração na percepção
das cores. O LSD 25, que é uma dietilamina do ácido lisérgico, extraído de um
cogumelo do centeio, aumenta a introspecção e as percepções, dando falsas
noções do mundo. Causa, ainda, profundas alterações da afetividade, liberando
o material retido no inconsciente.

Essas três drogas citadas perturbam a atividade mental e produzem um


desvio delirante do julgamento, com distorção da apreciação dos valores reais.
Causam alucinações, estados confusionais mentais e despersonalização,
alterações, portanto, gravíssimas.
Segundo Cervifío, ao lado dessas graves perturbações de ordem
psicológica, podem se manifestar, no transe causado por drogas, percepções
extrassensoriais ou fenômenos PSI, estudados pela Parapsicologia. Tais
fenômenos colocariam o paciente em contato com uma realidade existencial
nova, além dos nossos conceitos de espaço e tempo. O cérebro humano não
suporta tal percepção do mundo, e isso pode levar a vítima a uma desagregação
de sua personalidade, caminhando para a loucura.

3) TRANSE MEDIÚNICO - Segundo Kardec, médiuns são as pessoas


capazes de servir de intermediárias entre os Espíritos e os encarnados. Daí, o
termo médium, isto é, intermediário. "Toda pessoa que sente a influência dos
Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é
inerente ao homem. Por isso mesmo, não constitui um privilégio exclusivo, e
são raras as pessoas que não a possuem, em estado rudimentar. Pode-se dizer,
pois, que todos são, mais ou menos, médiuns. Usualmente, porém, essa
qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem
caracterizada." (O Livro dos Médiuns à Cap. 14 - item 159).

Gustave Geley assim define: "O médium é um ser, cujos elementos


constitutivos (mentais, dinâmicos, materiais) são suscetíveis de
descentralização momentânea, isto é, capazes de funcionarem, episodicamente,
sem o comando direto de sua consciência, ou de seu Espírito.

Na verdade, para esclarecimentos, não devemos entender que, para o


exercício da mediunidade, seja necessário o médium estar em transe. Há vários
tipos de mediunidade, em que, no seu exercício, o médium permanece
completamente desperto e em sua consciência normal. Como exemplos, temos
a mediunidade intuitiva, a vidência, a mediunidade auditiva, a mediunidade
curadora e tantas outras. Não temos a intenção de abordar todas elas, pois
fugiria ao objetivo do nosso livro. Enviamos os leitores ao "O Livro dos
Médiuns", que estuda todas essas mediunidades, em detalhes, apresentando até
mais de uma classificação para elas.

Em outros tipos de mediunidade, o médium fica em transe, como


acontece na mediunidade escrevente ou na psicografia, mediunidade falante ou
na psicofonia, na pintura mediúnica e nas numerosas mediunidades de efeitos
físicos, materialização etc. As personalidades que se apresentam dizem-se
oriundas de outros planos de vida e se identificam como Espíritos. Kardec diz
que "ninguém imaginou os Espíritos como meio de explicar o fenômeno; foi o
próprio fenômeno que revelou a palavra".
O transe mediúnico permite a comunicação de personalidades de cultura
muito superior à do médium, o que não se explicaria pelo transe hipnótico. No
campo da literatura, temos exemplos brilhantes: o nosso Francisco Cândido
Xavier revive o estilo de numerosos escritores e poetas brasileiros, cada qual
com suas características inconfundíveis.

No caso de Patiente WorHl, a médium Curran escreve em dialeto anglo-


saxônico arcaico, reconhecido como autêntico. Charles Oickens morreu,
deixando incompleto o romance "The mis-tery of Ediwin Drood", o qual foi
terminado, em transe mediúnico, por um moço de parcos conhecimentos. Esse
caso teve grande repercussão na Europa.

Apesar de toda a aluvião de casos autênticos, temos de enfrentar aqueles


negadores sistemáticos, que procuram assimilar o transe mediúnico à histeria.
Esta doença pode acometer homens e mulheres, ao contrário do que
poderíamos supor, por causa do nome histeria (histero-útero). Os sintomas são
psíquicos e pseudoneurológicos: paralisias regionais, distúrbios da
sensibilidade (zonas de anestesia), temperamento teatral, exibicionismo. A
única coisa que há de comum entre hipnose, histeria e mediunidade é a
existência de automatismos. Richet, após longos estudos, declarou que se
negava a considerar os médiuns como doentes ou histéricos. Myers e Osty têm
opinião semelhante, chegando a evidenciar as características que permitam
diferenciar o transe mediúnico dos estados doentios semelhantes.
CAP. V – ANIMISMO E ESPIRITISMO
AS MISTIFICAÇÕES

Desde a Antiguidade, existem relatos de acontecimentos extraordinários,


que se passavam com certas pessoas. Tais fenômenos eram tomados como
milagres ou como bruxarias, conforme as circunstâncias; milagres, se
acontecessem nos meios religiosos, bruxarias, se fora da igreja. As pessoas que
faziam adivinhações, profecias, (magos, adivinhos, pitonisas), muitas vezes
eram bajuladas e endeusadas. Em outras ocasiões, principalmente as que
produziam efeitos físicos, vozes diretas e materializações, acabavam sendo
condenadas e levadas ao cadafalso ou às fogueiras.

Os povos antigos atribuíam tais manifestações a deuses, diabos, santos ou


à alma dos mortos. Assim, em torno dos fenômenos, foram criados os rituais
mais absurdos, que perduraram através dos séculos. As explicações, quando
raramente tentadas, eram destituídas do menor critério científico. Os
sacerdotes dos vários credos estimulavam o misticismo e o ritualismo, porque,
dessa forma, conseguiam maior domínio sobre as massas incultas e fanáticas.

Foi assim que se chegou à época da Codificação. Aqueles fenômenos que,


no século passado, eram objeto de curiosidade e brincadeiras de salão, como as
mesas girantes e a tiptologia (comunicação com os Espíritos através de
pancadas na mesa) foram submetidos por Kardec a um estudo detalhado, a uma
análise criteriosa. Kardec verificou que muitos desses fenômenos dependiam
da atuação de um Espírito desencarnado e exigiam um instrumento, um
intermediário entre o plano espiritual e o plano em que vivemos. Essa pessoa
que servia de intermediária foi chamada de "médium".

Mediunidade é, pois, a capacidade de as pessoas funcionarem como


intermediárias para que os Espíritos se comuniquem conosco. Portanto, sem a
intervenção de Espíritos desencarnados, não se pode falar em mediunidade.

Entretanto, bem sabia Kardec que existem muitos fatos que se dão em
circunstâncias especiais, onde não há intervenção dos Espíritos dos chamados
"mortos". Por exemplo, o sonambulismo, a cujo respeito os Espíritos assim nos
ensinam: "O sonambulismo é um estado de independência da alma, mais
completo que o do sonho, e então as faculdades adquirem maior
desenvolvimento. É o momento em que o Espírito pode deixar,
temporariamente, o corpo, que se acha entregue ao repouso indispensável à
matéria." (O Livro dos Espíritos - Livro 2" - Cap. VIII - pergunta 425).

Com relação à "dupla vista", hoje chamada "telestesia" (sensibilidade a


distância), esclarecem os Espíritos que "nela o Espírito está ainda em maior
liberdade, embora o corpo não esteja adormecido. A dupla vista é a visão da
alma".

Kardec insistiu bastante, provando-nos que tais fenômenos não são


mediúnicos. É preciso que estudemos bem o assunto, pois, ultimamente, muitos
Espíritas estão tendendo a considerar todos os fenômenos citados como
mediunidade. No "0 Livro dos Médiuns" (Cap. 19 - item 223), os Espíritos
esclarecem detalhadamente, a possibilidade de a alma do médium dar, ela
mesma, uma comunicação, neste caso exibindo um fenômeno anímico e não
mediúnico, pois não há participação de desencarnados.

Depois de Kardec, muitos filósofos e cientistas se ocuparam dos


fenômenos extraordinários, que estavam surgindo por toda a parte. Comissões
de estudos foram criadas, cujas conclusões, geralmente apressadas ou
dominadas por preconceitos, a nenhum progresso conduziram. Muitos
cientistas estiveram prestes a reconhecer a intervenção dos Espíritos, mas se
calaram ou tergiversaram (viraram as costas), por temor à oposição de seus
pares.

Charles Richet, grande fisiologista francês, auxiliado por Geley e outros


pesquisadores, criou o Instituto Metapsíquico Internacional, visando esclarecer
o problema. Todos os fenômenos, objeto de estudo, foram classificados como
Metapsíquico. Estes se dividiam em subjetivos e objetivos. Os primeiros
abrangiam a telepatia, a clarividência, a clariaudiência, a premonição, o
"desdobramento astral", a xenoglossia etc. Os segundos abrangiam a telecinesia
(raps, transportes de objetos), a levitação, a bi locação ou desdobramento, o
"poltergeist" e as ectoplasmias.

Seguiu-se um período em que grandes cientistas e filósofos de vários


países se entregaram aos estudos desses fenômenos, que foram chamados de
"supranormais". Não é oportuno citarmos trechos dos numerosos livros que
foram publicados a respeito, desses fatos, nem mesmo lembrarmos todos os
nomes de grandes cientistas de vários países que estudaram os fenômenos
supranormais. Alguns deles, como Wiliam Crookes, Wallace, Crawford
(ingleses), Ernesto Bozzano (italiano) e Zoelner (alemão), se renderam à
evidência Espírita. Entretanto, os que reconheciam a veracidade dos fatos, mas
não se haviam convencido totalmente, ou não tinham a coragem de se
intitularem Espíritas, ficaram com o rótulo de "metapsiquistas".

Isto se repete hoje com muitas pessoas que nada conhecem de


Parapsicologia e se instituíam parapsicólogos. Não queremos, com esta
afirmação, negar valor à verdadeira Parapsicologia, que congrega cientistas
honestos e dedicados. Ao lado destes, que apresentam os resultados de suas
pesquisas com cautela e dignidade, encontramos artigos de revistas e até
telenovelas, apresentando os médiuns como se fossem apenas portadores de
faculdades paranormais. É uma forma cômoda e bastante interessante, na
sociedade em que vivemos, de fugir à explicação Espírita do fenômeno. Mais
ainda. Os interessados em demolir a explicação Espírita fazem verdadeiras
acrobacias mentais com hipóteses, para defender, em cursos ou debates, uma
explicação "parapsicológica" dos fatos. Chegam a promover exibições teatrais,
como os saltimbancos do passado, nas feiras da Idade Média.

René Sudre, um dos "metapsiquistas" mais notáveis do começo deste


século, criou a teoria da "prosopopese - metagnomia", para tentar explicar as
incorporações mediúnicas. Tal teoria consiste em admitir a liberação dos
excepcionais poderes de clarividência e telepatia, levando a uma personificação
sonambúlica, por parte do médium. Esta capacidade do sensitivo, que
personifica um morto, seria uma faculdade supranormal, por superar os
poderes normais da mente do indivíduo, e do subconsciente, pois viria desse
setor do psiquismo humano.

Somos obrigados a reconhecer que muitas aparentes comunicações


mediúnicas podem ser assim explicadas, mas não todas.

Há um enorme acervo de fenômenos, que não podem ser encaixados


nessa teoria, nem com o auxílio dos costumeiros malabarismos explicativos.

O Congresso Espírita Internacional, reunido em Glascow (Escócia), em


1937, incumbiu Bozzano de apresentar tese sobre o controvertido assunto:
"Animismo ou Espiritismo? Qual dos dois explica o conjunto dos fatos?"
Atendendo à solicitação, publicou Bozzano, no mesmo ano, sua obra "Animismo
ou Espiritismo?"

No prefácio, diz ele: "Nem um nem outro logra, separadamente, explicar


o conjunto dos fenômenos supranormais. Ambos são indispensáveis a tal fim e
não podem separar-se, pois que são efeitos de uma causa única, e esta causa é
o Espírito humano, que, quando se manifesta, em momentos fugazes, durante a
encarnação, determina os fenômenos anímicos e, quando se manifesta
mediunicamente, durante a existência desencarnada, determina os fenômenos
espiríticos."

No Capítulo III, desse livro, acrescenta: "Segue-se que as duas classes de


manifestações resultam de naturezas idênticas, com a diferença, puramente
formal de que, quando elas se dão por obra de um vivo, entram na órbita dos
fenômenos anímicos propriamente ditos, e de que, quando se verificam por
obra de um defunto, entram na categoria, verdadeira e própria, dos fenômenos
Espíritas."

Alexandre Aksakoff, "metapsiquista" russo, diz: "Por conseguinte, nós


teríamos, nos fenômenos anímicos, manifestações da alma, como entidade
substancial, o que explicaria o fato dessas manifestações poderem revestir,
também, um caráter físico ou plástico, segundo o grau de desagregação do
corpo fluídico ou do Perispírito." ("Animismo e Espiritismo" - A. Aksakoff).

André Luiz, em "Domínios da Mediunidade" (Cap. 22 "Emersão do


Passado") narra uma reunião mediúnica, em que uma das senhoras enfermas
dá uma comunicação atribuível a uma pessoa que teria sido assassinada na
última encarnação. Interpelado por Hilário, Aulus assim esclareceu: "Isso quer
dizer que nossa irmã imobilizou grande coeficiente de forças do seu mundo
emotivo, em torno da experiência a que nos referimos, a ponto de semelhante
cristalização mental haver superado o choque biológico do nascimento no
corpo físico, prosseguindo como que intacta. É então que se dá a conhecer como
personalidade diferente, a referir-se à vida anterior. Mediunicamente falando,
vemos aqui um processo de autêntico animismo. Nossa amiga supõe encarnar
uma personalidade diferente, quando apenas exterioriza o mundo de si
mesma."

Neste trecho, poderia parecer que André Luiz considerasse o animismo


apenas como emersão do passado, mas ele mesmo, no livro "Mecanismos da
Mediunidade" (Cap. XXIII) torna-se mais explícito: "O corpo espiritual pode
efetivamente desdobrar-se e atuar, com os seus recursos e implementos
característicos, como consciência pensante e organizadora, fora do carro
físico."
Já é tempo de elaborarmos nossas considerações finais sobre o assunto.
Chamamos de fenômenos anímicos todos aqueles produzidos pelo Espírito de
um indivíduo vivo. Surgem em condições especiais de diminuição da atividade
vital, correspondendo a um processo semelhante ao da desencarnação, como
no sono natural ou no hipnótico, no sonambulismo ou no êxtase. Os portadores
dessas capacidades foram chamados, pelos "metapsiquistas", de sensitivos, e as
faculdades, de supranormais subconscientes. Mais recentemente, a
Parapsicologia as rotula como fenômenos paranormais, querendo salientar que
eles não estão acima da normalidade, mas ao lado dela. De qualquer forma, seja
quando estudados corno fenômenos anímicos ou paranormais, estes são
sempre exercidos pelo Espírito de um vivo. Portanto, não se trata de
mediunidade. Basta dizer que são aceitos por pesquisadores materialistas ou
agnósticos, que não admitem a existência do Espírito fora do corpo carnal e
muito menos sua comunicação com os vivos.

Poderia a muitos parecer que esta distinção que fazemos fosse coisa de
filigranas doutrinárias. Mas não é assim. Na prática mediúnica diuturna nos
Centros e Associações Espíritas é de fundamental importância sabermos se
estamos em presença de um Espírito desencarnado ou se as explanações são
frutos de capacidades do próprio encarnado. Não confundir ainda animismo,
que é autêntico e quase sempre independe da vontade do sensitivo, com fraude.
O animismo pode ser benéfico, pois, como diz Bozzano, "o animismo prova o
Espiritismo". No caso da fraude, há participação consciente do falso médium,
que assume a individualidade de mortos, para enganar os assistentes e, às
vezes, até tirar proveitos.

"Julgamos, pois, em princípio, que se deve desconfiar de quem quer que


faça desses fenômenos um espetáculo, ou objeto de curiosidade e de
divertimento, e pretenda produzi-los à sua vontade e de maneira exigida,
conforme já explicamos. Nunca será demais repetir que as inteligências ocultas
que se manifestam têm suas suscetibilidades e fazem questão de nos provarem
que também gozam de livre-arbítrio e não se submetem aos nossos caprichos."
("O Livro dos Médiuns" - Cap. XXVIII - item 318).

Completamos nós: a fraude deve ser decididamente combatida. O


animismo, estudado com atenção. Liberemos o animismo da conotação
vexatória que lhe é atribuída com tanta frequência nos arraiais Espiritas.

1 - MISTIFICAÇÕES E FRAUDES
Este assunto é focalizado, com muitos exemplos e detalhes, no "O Livro
dos Médiuns", Caps. XXIV, XXVI e XXVIII, nos quais são estudadas,
minuciosamente, as mistificações. Entretanto, não são definidas, com clareza e
precisão, as diferenças entre mistificação e fraude. Por isso, a maioria dos
Espíritas considera esses dois termos praticamente como sinônimos. Vamos,
pois, procurar, inicialmente, dar os conceitos. Na mistificação há uma
comunicação mediúnica real, mas o Espírito se apresenta como se fosse outro,
mais famoso ou mais conhecido. Procura enganar os assistentes quanto à sua
identidade ou quanto à posição espiritual. Na fraude não há Espírito se
comunicando, e o médium, consciente ou inconscientemente, forja a
comunicação.

Antes de prosseguirmos, repetimos que a mistificação e a fraude não


devem ser confundidas com animismo. Entretanto, se alguém se defrontar com
o exercício do animismo e disser isto ao dirigente da sessão, pode estar certo
de que este reagirá violentamente, dizendo que o médium é de confiança e seria
incapaz de enganar. Tal dirigente está confundindo, o que é quase habitual,
animismo com mistificação.

Todos os que militam, intensamente, nas hastes Espíritas devem ter


ouvido, muitas vezes, por esse Brasil afora, Bezerra de Menezes e outros
luminares da Espiritualidade, apresentando-se com linguajar de
semianalfabetos, e todos os presentes aceitando, piamente, a autenticidade da
comunicação. Essa aceitação comodista, sem análise, contraria, frontalmente,
os ensinos e conselhos da Codificação.

Poder-se-ia perguntar: os mentores permitem essa tentativa de ludibriar


a boa-fé? Vejamos o que responderam os Espíritos a Kardec: (pergunta 268 de
"O Livro dos Médiuns", item 21):

- Por que Deus permite aos Espíritos o sacrilégio de usarem


falsamente nomes veneráveis?

- Poderíeis também perguntar por que Deus permite aos homens mentir e
blasfemar. Os Espíritos, como os homens, têm seu livre-arbítrio para o bem e para
o mal, mas nem uns nem outros escaparão à justiça de Deus.

Item 23 - Certos Espíritos disseram possuir sinais gráficos inimitáveis,


espécies de selos, pelos quais podem ser conhecidos e comprovarem a sua
identidade. Isso é verdade?
- Os Espíritos superiores só possuem como sinais de sua identidade a
elevação de suas ideias e de sua linguagem. Qualquer Espírito pode imitar um
sinal material. Quanto aos Espíritos inferiores, esses se traem de tantas maneiras,
que só um cego se deixa enganar por eles.

Resposta à pergunta 289 - item 11 - A Providência pôs limites às revelações


que podem ser feitas aos homens. Os Espíritos sérios guardam silêncio sobre tudo
o que lhes é vedado revelar.

Quem insiste em obter uma resposta, se expõe às mistificações dos


Espíritos inferiores, sempre prontos a se aproveitarem das oportunidades,
para explorarem a vossa credulidade.

Pergunta 294 - item 28 - Os Espíritos podem dar orientação a pesquisas


científicas e descobertas?

- A Ciência é obra do gênio; só deve ser adquirida através do trabalho,


porque é somente pelo trabalho que o homem avança no seu caminho. Que
mérito teria se lhe bastasse interrogar os Espíritos para tudo saber?
Qualquer imbecil, a esse preço, poderia tornar-se sábio.

Acontece o mesmo no tocante às invenções e descobertas.

Cada coisa deve vir a seu tempo, quando as ideias gerais estarão maduras
para a receber e compreender.

Item 29 - Não vos deixeis, pois, arrastar pela curiosidade ou pela ambição,
por um caminho que não corresponda ao objetivo do Espiritismo, e resulte, para
vós, nas mais ridículas mistificações.

Quanto às perguntas sobre os outros Mundos, os Espíritos nos


esclarecem que, se os comunicantes são levianos, divertem-se ao nos dar
descrições bizarras e fantásticas, item 32, "pois tiram da própria
imaginação o relato de muitas coisas que nada têm de real". Se os Espíritas
tomassem em consideração tais explicações, não estariam dando tanto
valor aos livros, mediúnicos ou não, que tratam da vida no Planeta Marte
ou similares.

Como poderemos evitar as mistificações? A resposta dos mentores à


pergunta 303 esclarece a dúvida: "Sim, é claro, há para isso, um meio muito
simples, que é o de não pedir ao Espiritismo nada mais do que ele pode e deve
dar-vos. Seu objetivo é o aperfeiçoamento moral da Humanidade. Desde que
não vos afasteis disso, jamais sereis mistificados. Se jamais lhes pedissem
futilidades ou o que esteja além de suas atribuições, ninguém daria acesso aos
Espíritos mistificadores. Do que se conclui que só é mistificado aquele que o
merece. Se quereis ver nos Espíritos os substitutos dos adivinhos e dos
feiticeiros, então sereis mistificados. Deus não vos envia os Espíritos, para vos
aplainarem a rota da vida material, mas para vos prepararem a do futuro."

Aí estão, prezados leitores, conselhos maravilhosos que o Alto nos enviou,


através de seus mensageiros. Quanta coisa útil para a nossa vida presente!
Quantos ensinamentos para os dirigentes de sessões e seus frequentadores! "O
Livro dos Médiuns"

deveria ser estudado, continuamente, em todas as sessões práticas


Espíritas de nosso país, pois ele é sempre atual e útil. A FEESP, há longos anos,
utiliza, amplamente, esse livro em todos os seus cursos.

Ainda correspondente à pergunta 268, Kardec diz: "Esses Espíritos semi


imperfeitos são mais de temer que os maus Espíritos; seus embustes entravam
a marcha do Espiritismo e prejudicam a atividade dos médiuns, lhes
perturbando o discernimento necessário ao cumprimento de suas missões.
Grande número de criaturas sofrem a desorientação proveniente das confusões
semeadas no campo doutrinário e muitas chegam mesmo a perder as
oportunidades de um encaminhamento ardentemente solicitado na vida
espiritual. Dever dos Espíritas, portanto, é combater as mistificações e
desmascarar os Espíritos embusteiros, assegurando o progresso normal da
Doutrina, que eles empenham em ridicularizar com suas teorias absurdas. Esse
é o bom combate de que falava o apóstolo Paulo, em que os inimigos não são os
Espíritos nem as pessoas por eles fascinadas, todos dignos do nosso amor, mas
os erros semeados entre as criaturas ingênuas."

Quanto ao maravilhoso e ao sobrenatural, no Cap. II de "O Livro dos


Médiuns", item 11, encontramos que o "Espiritismo não é mais responsável
pelas extravagâncias que se possam cometer em seu nome do que a verdadeira
Ciência pelos abusos da ignorância ou a verdadeira Religião pelos excessos do
fanatismo."

Item 13 diz: - "O Espiritismo não aceita todos os fatos considerados


maravilhosos, ou sobrenaturais. Longe disso, demonstra a impossibilidade de
muitos deles, e o ridículo de algumas crenças, que constituem, propriamente
falando, a superstição".

É incrível, mas Kardec e os Espíritos que nos trouxeram a Terceira


Revelação já tinham a certeza das deturpações que iriam tentar invadir o
Espiritismo. Parece que já previam a revivescência da Astrologia, o tratamento
pelos cristais e pelas pirâmides, pela Cromoterapia, pela Iridoterapia e
quejandas fantasias.

FRAUDES - Um médium pode, conscientemente, forjar uma falsa


comunicação, geralmente atribuída a um Espírito evoluído.

Depois de toda uma existência dedicada ao Espiritismo, podemos afirmar


que este tipo de fraude é muito raro. Mais comuns são as fraudes
subconscientes, em que o médium, em transe verdadeiro, personifica uma
figura conhecida nos meios literários ou práticos. Esses casos, discutiremos no
próximo capítulo.

Kardec assinala que, de todos os fenômenos Espíritas, os que mais se


prestam à fraude são os de efeitos físicos (voz direta, transportes,
materializações). Em primeiro lugar, eles "se dirigem mais aos olhos do que à
inteligência e são os que o prestidigitador pode imitar. Em segundo, despertam
maior curiosidade do que os outros e se prestam a atrair multidões, podendo
levar a explorações financeiras". "Os espectadores, na maior parte,
desconhecendo a Ciência, procuram antes uma distração do que uma instrução
séria, e sabe-se que o divertimento é sempre mais bem pago do que a
instrução."

- A PARANORMALIDADE NA UNIÃO SOVIÉTICA

Os fenômenos paranormais e o "poltergeist" (fenômenos


impressionantes de combustão espontânea e outros) têm sido estudados na
União Soviética (hoje Rússia) por vários grupos de cientistas. Alguns deles
visam desenvolver formas de controle da mente humana, com objetivos
militares.

William Waack, em artigo publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", em


14-12-92, diz que é difícil traçar uma clara linha entre charlatanismo,
sensacionalismo e genuíno interesse científico, mas, pelo menos, um grande
esforço foi realizado na "psicotrônica". Esta expressão designa as técnicas de
controle do cérebro, desenvolvidas na URSS por um Centro de Tecnologia
chamado VENT. Foram elas apresentadas, em 1987, ao Conselho de Ministros
da URSS, num trabalho intitulado "Métodos de Utilização da Bioenergética na
Economia e Defesa". Abrangiam formas de exercer controle remoto dos estados
físico e psíquico das pessoas.

Vítor Sedletski, cientista de Kiev, URSS, desenvolve, além da elaboração


de um "radar psicotrônico", baseado em campos cerebrais, pesquisas no campo
da Parapsicologia. Um outro autor, Andrei Chervetski, realizou importantes
pesquisas para descobrir, no corpo humano, a natureza dos campos de
radiações biológicas. Tais radiações, designadas como "eletros sensibilidade",
abrangem a psicometria, a telepatia, a clarividência e o diagnóstico, sem
contato. Lembra Andrei o caso das transmissões telepáticas feitas entre um
agente e um receptor, este colocado dentro de um submarino.

Explicam os referidos soviéticos que a telepatia e os outros fenômenos


citados se dão devido à existência de um "campo energético informativo"
existente em torno da Terra e resultante da atuação dos seres vivos. Através
desse campo energético, seria possível obter ligações entre pessoas, cujos
organismos estivessem sintonizados adequadamente. Assim se explicariam,
facilmente, os fatos maravilhosos não-explicáveis por outras teorias, como a
Psicometria.

Como sabem os leitores, a Psicometria consiste em obter dados sobre


uma determinada pessoa pelo simples contato com um objeto "lenço, livros, por
exemplo" que tenha sido usado por ela.

A explicação mais corrente é a de que o objeto captou vibrações especiais


da pessoa, com a qual esteve em contato, vibrações essas que o objeto
conservaria e poderiam ser captadas e interpretadas por um sensitivo
especializado. Recomendamos, a quem estiver interessado no assunto, a leitura
do excelente livro de Ernesto Bozzano - "Enigmas da Psicometria".

Muitas experiências foram, também, realizadas na URSS no campo da


"Psicocinesia", ou seja, deslocamento de objetos, sem contato, pela força do
pensamento. Pesquisadores de S. Petersburgo e Moscou relatam que grandes
tensões emocionais podem chegar a movimentar objetos, incluindo, também,
os casos de "poltergeist", tão bem estudados no Brasil pelo dr. Hernani G.

Andrade. De acordo com os cientistas soviéticos, tais fenômenos são


produzidos por perturbações psíquicas do paciente, mas não explicam o
mecanismo íntimo deles. Criou-se até um grupo chamado de "exterminadores
de paranormais", que estão sempre filmando as pessoas que produzem o
"poltergeist". Dizem que seus filmes revelam que as próprias pessoas atiravam
os copos nas paredes ou punham fogo nos móveis.

Sabemos que a imprensa soviética tem dedicado muita atenção a esses


fenômenos, que surgem até em editoriais. Comenta-se que esse interesse é
despertado pela situação econômica e política do país, que trouxe grande
decepção para o povo. Os indivíduos perderam a confiança nos cientistas e
doutores e, por isso, buscam a saída no campo dos fenômenos espalhafatosos e
na fantasia, dizem os pesquisadores. Tais pessoas têm formação intelectual
exclusivamente materialista e não podem entender, nem de leve, que, por trás
de fenômenos de ordem física, existe uma causa espiritual. Não podem explicar,
dentro das leis conhecidas, tais fenômenos, e apelam para os malabarismos da
explicação e negação de tudo de positivo e comprovado que existe nesse campo.
CAP. VI - MEDIUNIDADE
A- DIVERGÊNCIAS SOBRE A MEDIUNIDADE

Vimos que, nos estados de transe, surgem manifestações que podem ter
duas causas diferentes: aquelas que provêm de um Espírito desencarnado e
outras que nada mais são do que afloramento do subconsciente do médium.
Estas constituem o animismo, equivalente àquilo que os parapsicólogos
aceitam com a designação de fenômenos paranormais ou fenômenos PSIC.

Os fenômenos Espíritas, depois que começaram a se produzir com


intensidade, no século passado, excitaram a curiosidade dos pensadores
materialistas e de muitos católicos. Uns e outros procuraram, a todo custo, às
vezes com verdadeiros malabarismos de raciocínio, obter uma explicação para
tão esquisitos fenômenos. Por isso, apareceram muitas teorias explicativas, que
Kardec chama de "sistemas". Os mais persistentes foram os sistemas de
negação, o sistema do charlatanismo e o sistema da alucinação.

De acordo com o primeiro, o observador simplesmente nega a existência


do fato. Não aceita a existência do Espírito, pois nada admite além da matéria,
e, logicamente, nega todos os seus efeitos inteligentes.

O sistema do charlatanismo ("O Livro dos Médiuns" - Cap. IV, item 38


atribui esses efeitos à fraude, à esperteza). Acusa os Espíritas, mesmo os
cientistas de alto gabarito moral e intelectual, de serem facilmente ludibriados
por charlatães.

No sistema da alucinação, os materialistas acham que os assistentes,


todos eles, são submetidos a uma ilusão dos sentidos, e veem e ouvem o que
não existe, pois veem a mesa levantar-se, no ar, sem qualquer apoio, mas ela
nem se moveu. Essa teoria menospreza, ao máximo, a capacidade de análise de
vários pesquisadores, verdadeiros sábios, que seriam joguete de sugestões,
levando-os a verem o que não existe.

Além desses sistemas, Kardec enumera os seguintes: sistema do músculo


estalante, das causas físicas, do reflexo, da alma coletiva, do sonambulismo,
sistema diabólico ou demoníaco, otimista, uniespírita ou monoespirita,
multiespírita e sistema da alma material. Quem quiser conhecer a refutação
desses sistemas, vai encontrá-la, de forma convincente, no Cap. IV 1" parte de
"O Livro dos Médiuns".
Após tantas explicações sem base, contemporâneas de Kardec, veio a fase
da Metapsíquica, em que os pesquisadores, geralmente de formação positivista,
procuravam explicar o fenômeno mediúnico, baseados nas capacidades
supranormais do subconsciente. Vimos, no capítulo anterior, que René Sudre,
pesquisador francês, materialista, e verdadeiro líder ante espírita, não aceitava
a comunicação dos Espíritos. Para ele, as personalidades que se manifestam nas
sessões Espíritas não passam do produto de uma sugestão, combinada com a
clarividência do médium (prosopopese-metagnomia).

Evidentemente, Sudre não produziu apenas conceitos sem base.


Trabalhou com a excelente médium, sra. Piper, que já havia sido investigada
por grandes cientistas, que se haviam convencido da autenticidade de sua
mediunidade. Mas ela estava em decadência, podendo, às vezes, não exercer a
mediunidade, sendo sugestionada em determinada direção pela vontade dos
experimentadores, principalmente porque eram, como diz Bozzano, pretensos
homens de Ciência, incapazes de se conservarem neutros, a fim de não
interferirem nos fenômenos. Interrogavam a médium, em transe, com
perguntas capciosas, visando obter as respostas que desejavam. Isto é
condenável, porque todos sabem que, por meio de sugestões adequadas, se
pode perturbar e até suprimir o exercício delicado da mediunidade,
dependente de fatores variáveis, e assim propiciar as manifestações do próprio
sonâmbulo.

Vejamos, agora, qual a posição das autoridades católicas, quanto aos


fenômenos mediúnicos. De modo geral, quando não podem negá-los, atribuem-
nos aos anjos ou, mais frequentemente, aos demônios.

Dr. Henri Bon, presidente do Comitê da Sociedade de Medicina S. Lucas


(Paris), escreveu, nos anos 40, um alentado e valioso livro: "Medicina Católica",
do qual temos a tradução castelhana pela Editora "Luís Pasteur", de Buenos
Aires. Diz ele, no Capítulo IV - "Possessão e Espiritismo": "Durante nossa
resenha, encontramos diversas manifestações mediúnicas (aparições,
telepatia, telestesia, premonições, levitação), em que um elemento
'preternatural' parece intervir, e nos obriga a examinar a invasão do médium
por uma entidade estranha, que fala pela sua boca ou escreve por sua mão: é
uma verdadeira possessão. Dado que é a prática mais corrente e mais típica do
Espiritismo, é por meio dela que poderemos apreciá-la. Poderíamos também
definir a possessão demoníaca: uma possessão espontânea, e a possessão
Espírita - uma possessão provocada."
"Mesmo descartando as observações espiritistas, em que o médium fala
ou escreve sob a influência de uma simples autossugestão, tais casos são
numerosos; mesmo descartando as observações que parecem explicáveis pela
telepatia, o Espiritismo apresenta um número importante de casos em que,
realmente, um ente estranho ao médium e aos assistentes se faz presente,
usando o médium de forma eficiente."

Henri Bon lembra o Cardeal Lepicier, quando este diz que "as
comunicações obtidas pelos médiuns nas sessões Espíritas não são
absolutamente milagres. Essas comunicações são devidas à intervenção dos
anjos decaídos, que atuam somente com permissão de Deus e não por ordem
dele. Se é característica de um Espírito sábio empregar a maior prudência antes
de admitir, em determinado caso, a realidade dos fatos discutidos, seria - por
outra parte - dar prova da maior frivolidade, rechaçar 'a priori' a verdade
objetiva desses fenômenos."

Vemos, pelas palavras do Cardeal Lepicier, que ele julga frivolidade negar
a verdade dos fenômenos mediúnicos. Embora não aceite nossa explicação
Espírita, ele não nega os fatos. O padre Quevedo, que, há anos, vem atacando,
violentamente, os Espíritas, negando, totalmente, as comunicações, deveria ser
mais cauteloso nas suas invectivas e seguir as recomendações do Cardeal
Lepicier.

Quanto às materializações, Henri Bon concorda com a possibilidade e a


frequência de aparições, imediatas e objetivas, de seres que têm todas as
aparências de vida e estão dotados de personalidade. Acha que as aparições
religiosas (de santos, por exemplo) e as mediúnicas têm alguns caracteres
comuns: objetividade, personalidade, palavra e a possibilidade de formação e
desaparecimento instantâneos, absolutamente independentes da vontade dos
experimentadores.

As aparições mediúnicas se produzem para demonstrar que são


possíveis. São débeis e fugazes, mas, quando suficientemente marcadas, são
perceptíveis em todos os testes e impressionam as chapas fotográficas. Só esse
fato de os Espíritos materializados poderem ser fotografados exclui, de modo
categórico, a objeção, tão repetida, de que as materializações não são reais e
sim fruto da alucinação dos assistentes.

Essa longa citação que fizemos da opinião do Cardeal Lepicier visa


mostrar que, mesmo entre os opositores do Espiritismo, há alguns que não
faltam com a verdade e não são tomados de uma ira ante espírita, a ponto de
negar aquilo que é real, palpável e controlável por instrumentos.

B - MEDIUNIDADE OU SUBCONSCIENTE?

Já nos referimos à postura ante espírita de René Sudre, que procura


explicar o fenômeno mediúnico, através de faculdades supranormais,
subconscientes. Para ele, haveria, simplesmente, personificações de mortos e
não verdadeiras comunicações. Citemos a Metapsíquica, assim definida por
Charles Richet: "Ciência que tem por objeto fenômenos fisiológicos ou
psicológicos, de natureza até agora misteriosa, devidos a forças que parecem
inteligentes ou a faculdades desconhecidas do Espírito." Foi para esse fim que
se fundou o Instituto Metapsíquico Internacional de Paris, o qual veio realizar
pesquisas muito interessantes.

Em São Paulo, tivemos, nas décadas de 30 e 40, uma Sociedade de


Metapsíquica, a qual, ao contrário da francesa, era composta quase
exclusivamente por Espíritas. Foi ela quem trouxe a São Paulo, em 1937, pela
primeira vez, o grande médium Francisco Cândido Xavier, ainda moço e pouco
conhecido do público.

Na presença de numerosos jornalistas, deu comunicações com excelente


conteúdo, em folhas de papel previamente rubricadas pelos presentes, a fim de
evitar trocas de papel, com dissertações feitas por outrem. O que mais
impressionou a todos foi uma comunicação, em inglês, (língua desconhecida
pelo Chico), de trás para diante, que só podia ser lida na frente de um espelho.

Jovem, ainda, e já militando nas hostes Espíritas, estive presente a essa


famosa reunião, realizada em local acanhado, no bairro da Bela Vista. Os jornais
da época não dedicavam espaço ao Espiritismo, mas o "Diário da Noite", em
edição de 2 de abril de 1937, focalizou o assunto, com fotografias do jovem
Chico Xavier, então com 26 anos de idade.

Desde fins do século passado, os não-espíritas, ao se defrontarem com os


fenômenos mediúnicos, embora sem profundo conhecimento do assunto, não
se pejaram de explicar a mediunidade, baseando-se nas capacidades do
subconsciente. Não só René Sudre, mas várias outros. Hartmann, alemão, em
1885, diz que a mediunidade é uma "hiperestesia sonambúlica da memória,
leitura dos pensamentos e clarividência". É uma força nervosa, que produz, fora
do corpo humano, efeitos mecânicos e plásticos. Essa explicação é nitidamente
fantasiosa. É aventurar-se demais. A força dos nervos humanos sair do corpo e
poder movimentar objetos, a distância?

Aqui, no Brasil, o grande higienista e escritor baiano Afrânio Peixoto


assim define a mediunidade: "Personificação subconsciente, sob as tendências
crentes da vigília." Quer dizer: a pessoa, que já admite, previamente, a
possibilidade de intermediar um contato com os Espíritos, vai a uma sessão,
onde, devido ao ambiente de misticismo, se autossugestiona e libera as
capacidades de seu subconsciente. Estas capacidades, que incluem a telepatia e
a clarividência, permitem ao pseudo médium personificar uma pessoa
geralmente famosa ou parente de alguém dos presentes.

Os materialistas não param aí; vão mais além. Se o médium não conhecer,
suficientemente, os dados biográficos da pessoa famosa (Joana D'Arc, Napoleão,
Washington, Getúlio Vargas) não tem importância. Por meio de uma telepatia
monstruosamente poderosa (mas jamais provada), o médium vai colher os
dados de que necessita na mente dos presentes que tenham cultura e conheçam
a biografia do personagem. Não só os colhe, mas também os seleciona, no meio
de milhões de impressões gravadas na memória dessa pessoa, aqueles dados
de que necessita para poder personificar o indivíduo comunicante. Já é
fantasiar em excesso!

Nunca se provou que a telepatia tenha tamanhos poderes.

Podem ser transmitidos, do agente ao sensitivo, uma palavra, uma frase,


um desenho, assim mesmo após muito treino e havendo uma rara afinidade
entre o transmissor e o receptor.

J.B. Rhine, criador da Parapsicologia, em seu livro "O Alcance de la Mente",


editado em Buenos Aires, diz: "A telepatia foi a primeira faculdade psíquica que
se estudou cientificamente. Pensou-se que a possibilidade de transmitir o
pensamento diretamente de uma mente a outra, sem o uso dos sentidos,
indicaria que o homem possui poderes mentais que transcendem à mecânica
cerebral. A prova da telepatia, pois, seria a refutação satisfatória do
materialismo e de sua teoria física da mente. No clima de profunda desilusão
intelectual, criado no último século, a telepatia permitia abrigar alguma
esperança e foi o mais ativamente estudado de todos os fenômenos psíquicos
que se investigaram, durante os primeiros decênios, a partir de 1880."
Rhine não pode, nem de longe, ser considerado Espírita e chegou à
conclusão de que a telepatia, em vez de dar força ao materialismo, vem,
praticamente destruir a explicação materialista, que admite como função do
cérebro todos os fenômenos supranormais e mediúnicos.

Com relação à clarividência, Rhine assim a define: "É a percepção de


objetos ou sucessos obtidos sem o uso dos sentidos. O termo clarividência,
embora literalmente signifique 'ver com clareza', na realidade, não tem relação
alguma com a vista. As impressões do clarividente podem apresentar-se em
forma de imagens visuais, porém podem apresentar-se de outras maneiras.

Toda apreensão direta de objetos externos, a qual não tem origem nos
sentidos, constitui clarividência."

Os leitores hão de ter estranhado que tivéssemos usado, nas últimas


páginas, várias vezes, a palavra médium, e só agora aparecêssemos com a
palavra sensitivo. Há uma grande diferença entre médium e sensitivo. Médium,
dissemos no capítulo sobre “Animismo e Espiritismo”, é a pessoa que transmite
os pensamentos ou ensinamentos dos Espíritos desencarnados. Sem estes, não
há mediunidade. Sensitivos são aqueles capazes de apresentar capacidades fora
das possibilidades normais, mas é sempre o Espírito do encarnado que as
agiliza. Lamentavelmente, muitos Espíritas confundem sensitivos com médiuns
e dizem:

"Não tem importância - tudo é mediunidade." Não é, não. Quem tiver,


ainda, dúvida procure se esclarecer com Kardec, no "O Livro dos Médiuns".

Uma grande dificuldade para interpretar os fatos, dentro das teorias


materialistas, surge, quando o pesquisador se defronta com um médium que,
em suas comunicações, exibe conhecimentos muito superiores aos seus e das
pessoas presentes.

Nenhuma clarividência seria capaz de criar cultura ou grande capacidade


de raciocínio. Com relação ao Chico, é desnecessário comentar o brilhantismo
de suas obras.

Quando o Chico ainda não era tão conhecido, levaram, certa vez, o grande
crítico literário Agripino Grieco a uma reunião, em que encontraria o médium.
Agripino era católico, mas de mente aberta e se encontrava em férias literárias,
em Belo Horizonte. O jornalista Almerindo Martins de Castro escreveu um
opúsculo Agripino Grieco e as Mensagens do Além", em que relata o que
ocorreu. Chegando ao recinto, onde entraria em contato com os anfitriões do
repasto espiritual, o convidado recebeu as primeiras profundas impressões do
ambiente, inteiramente novo à sua retentiva, habituada às deslumbrantes
pompas do culto católico.

Tudo ali era simples, modesto, afetuoso, fraterno, sentindo-se, diluída, no


anonimato impalpável dos fluidos, a presença de intensas vibrações.

A emoção de Agripino Grieco foi inenarrável, porque, na mensagem


recebida, havia frases, detalhes que somente ambos - o morto e o vivo - podiam
compreender e destacar do conjunto.

Não se poderia esperar que o mordaz crítico literário saísse Espírita da


reunião, mas suas declarações posteriores confirmaram a autenticidade da
comunicação.

O grande médium português, Fernando de Lacerda, publicou, a partir de


1908, quatro volumes do livro "Do País da Luz", em que reuniu comunicações
mediúnicas dos maiores escritores portugueses e brasileiros. Citamos, apenas,
alguns: Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Júlio Diniz, Alexandre
Herculano, Castilho, Padre Vieira, além dos franceses Victor Hugo, Zola,
Michelet etc. Cada um desses autores vem com seu estilo característico, com
seu modo próprio de pensar, com suas qualidades e até defeitos. Eça de Queiroz,
com sua fina ironia e Espírito crítico; Camilo e Herculano, com seu linguajar
rebuscado e clássico; Júlio Diniz, com seu modo sentimental de romancear;
Victor Hugo, a pena brilhante em arroubos literários, como depois se revelou,
no Brasil, através da mediunidade de Zilda Gama, nos excelentes romances
mediúnicos "Do Calvário ao Infinito" e "Redenção".

Ninguém poderia imitar, como reconheceram os críticos, tantos estilos


diferentes, conservando-se fiel à personalidade dos autores. Infelizmente, entre
nós, os livros de Fernando de Lacerda são pouco conhecidos.

Conhecemos pessoalmente d. Maria Modesto Cravo, médium de Uberaba,


em torno da qual nasceu o Sanatório Espírita de Uberaba, o primeiro do Brasil.
Analisamos, em duas ocasiões, durante cerca de dez dias, cada vez, hóspedes
que éramos dela, suas excepcionais capacidades mediúnicas - receitista de
comprovado valor, vidente, além das mediunidades psicofônica e psicográfica
(falante e escrevente). Foi com a colaboração desta notável médium,
precursora do Chico Xavier, em Uberaba, que o dr. Ignácio Ferreira conseguiu
manter em funcionamento, durante décadas, o Sanatório, obtendo percentual
elevado de curas de obsessões, como relata em seus livros "Novos Rumos à
Medicina" e "Psiquiatria em Face da Reencarnação", reedições da FEESP (1987
e 1990). Acompanhamos várias doutrinações de Espíritos obsessores, alguns
endurecidos, mas revelando profunda cultura, totalmente acima das
possibilidades da médium. Um deles, rebelde, discutia medicina conosco, com
argumentos quase irrespondíveis. Após várias sessões, em que o dr. Ignácio
lutou para esclarecê-lo, não se havia convencido ainda. Que contraste com o que
vemos por aí, quando Espíritos violentos, cheios de ódio, depois de meia dúzia
de palavras vazias, ditas pelo esclarecedor, jejuno de conhecimentos Espíritas,
logo se convence e sai falando um linguajar característico do pretenso
evangelizador.

Quanto à capacidade de d. Maria como médium receitista,


acompanhamos o caso de um menino de Rio Claro, cliente do Centro de Saúde
local, em que os médicos não tinham chegado a um diagnóstico. Solicitamos,
por carta, orientação do dr. Bezerra, através de d. Maria, e recebemos não só o
diagnóstico, como também o medicamento adequado. Os médicos terrenos
ainda duvidaram, mas os exames laboratoriais confirmaram o diagnóstico
mediúnico e o tratamento deu resultado.

A impossibilidade de explicar pelo subconsciente os fatos mediúnicos


torna-se berrante nos casos de xenoglossia ou mediunidade poliglota, em que
o médium fala ou escreve em língua desconhecida. Às vezes, o Espírito foi
parente de urna pessoa presente, com a qual trava diálogo em língua
estrangeira, provando a ela a autenticidade da comunicação, mesmo porque
cita fatos dela conhecidos. Em outras ocasiões, na psicografia, recebe o médium
mensagem em língua desconhecida de todos. Procurando-se, posteriormente,
um perito, este faz a tradução e reconhece a língua.

Denis Bradley, no seu livro "Rumo às Estrelas", que agitou a Inglaterra,


cita casos interessantes de xenoglossia por voz direta (as palavras são
transmitidas por um megafone e não pela boca do médium). Uma senhora
russa, casada na Dinamarca, dirigiu a palavra em dinamarquês a um Espírito
que se comunicava. Este esclareceu ser seu irmão falecido e disse: "Eu sou
Oscar; falemos em russo." O diálogo continuou nessa língua.

Em outra sessão, o porta-voz luminoso dirigiu-se a um dos presentes, o


japonês G. Komai. Após algum tempo, a voz tornou-se mais forte, dando o nome
do comunicante: "Otani". Ficando clara sua presença, houve uma conversa, em
japonês, com Komai. A língua era desconhecida do médium.

Os materialistas procuram fugir à verdade, quando dizem que o


fenômeno é telepático, podendo o sensitivo colher palavras da língua falada por
ele na mente dos presentes. Isto é um absurdo.

Como esclarece Bozzano, para manter um diálogo, é preciso conhecer a


estrutura orgânica de uma língua, que é pura abstração, não se podendo ver
nem perceber nos cérebros alheios.

Bozzano reuniu 11 categorias de fenômenos inexplicáveis por qualquer


teoria metapsíquica e que exigem a única explicação plausível, que é a Espírita.
Dessas 11 categorias, lembraríamos apenas as mais comuns e mais probantes
da mediunidade: 1 - Os casos de identificação de mortos desconhecidos dos
médiuns e dos presentes;

2 - Os casos de personalidades de mortos que conversam com facilidade


e escrevem corretamente em línguas desconhecidas do médium;

3 - Os fenômenos de bi locação no momento pré-agônico, mormente


quando visíveis, coletivamente, por todos os assistentes; 4 - Os fenômenos de
materialização de fantasmas, vivos e falantes, não raro falando e escrevendo em
línguas desconhecidas de todos;

5 - Algumas modalidades especiais de "correspondência cruzada";

6 - Os casos de crianças videntes no leito da morte de terceiras pessoas.

Nos casos de materializações, não se trata, pura e simplesmente, de


criações plásticas modeladas pela força do pensamento, mas de criações
orgânicas, subordinadas a uma ideia diretora (ou Espírito) completamente
estranha ao médium. No caso de Katie King, Espírito materializado e
longamente estudado pelo grande físico inglês William Crookes, não se tratava
de um duplo do médium. Era uma "entidade de posse de todos os atributos
intelectuais capazes de caracterizar uma individualidade psíquica
independente".

Tratava-se, de fato, de uma personalidade medianímica, cujo poder de


manifestação atingia tal grau de perfeição, que se podia manter em estado de
perfeita materialização, durante horas a fio, passeando, livremente, na sala das
sessões, tomando parte na conversa, materializando-se espontaneamente,
mesmo em plena claridade do dia, isto durante três anos sucessivos. A entidade
diz o nome pelo qual foi conhecida em vida, conta as vicissitudes dolorosas de
sua curta existência terrestre, procurando sempre provar sua independência
espiritual, mostrando-se aos experimentadores, ao mesmo tempo em que o
médium se deixa fotografar com ela e com William Crookes. A personalidade de
Katie King, longe de se entregar aos desejos sempre formulados mentalmente,
ou de viva voz, pelos assistentes, longe de refletir, automaticamente, a vontade
do médium ou de Crookes, age como quer: aconselha, exorta, censura, recusa-
se, não raro, a responder a perguntas indiscretas.

Não querendo entrar, a fundo, no mecanismo das materializações,


gostaríamos, apenas, de dizer que a substância necessária para formar a
materialização é fornecida pelo médium e pelos presentes. Tanto o médium
como os assistentes, mas principalmente o primeiro, fornecem um fluido
especial chamado ectoplasma pelos pesquisadores, o qual nada mais é do que
o fluido vital exteriorizado. Não se trata, aqui, de malabarismo explicativo, pois
o cordão ectoplasmático foi fotografado por vários cientistas, vendo-se nas
fotografias que ele liga o médium ao ente materializado. Mais do que isso.
Crawford pesava os médiuns antes e durante os fenômenos e constatou que
eles perdiam peso, enquanto durava a materialização, voltando o peso ao
normal, cessada a experiência.
CAP. VII – OS FLUIDOS
OS FLUÍDOS

(Queremos, antes de focalizar o assunto, lembrar que a maioria dos


Espíritas pronúncia, erradamente, a palavra fluido, com acento agudo na letra i
(fluído), quando a pronúncia correta é enfatizar a letra u (fluido). Por causa da
dúvida, tivemos a oportunidade de ouvir a opinião de vários conhecedores de
nossa língua e todos, unanimemente, condenam a pronúncia fluído. Os leitores
que não aceitarem nossa opinião devem procurar abalizados conhecedores do
português e verão que estamos com a razão.)

"Fluido - escreve-se sem acento agudo no u e no i."

A - CONCEITOS DE FLUIDOS

Dentro da Ciência oficial, usa-se o termo fluido para designar os líquidos


e gases, ou seja, a fase não-sólida da matéria. Os povos de língua inglesa estão
usando a palavra com sentido restritivo, isto é, fluido é sinônimo de líquido.
Lamentavelmente, os brasileiros estão se adaptando a esse conceito não-
aconselhável.

Veja-se por exemplo: "Fluido para breque", em vez de "óleo para breque".

Além dos três estados da matéria - sólido, líquido e gasoso - o grande


físico inglês William Crookes, que se tornou Espírita graças às materializações
de Katie King, salientou a existência de um quarto estado da matéria: o estado
radiante. Abrange todas as radiações ou emanações da matéria, como o raio X,
as emanações do rádium (alfa, gama), os raios cósmicos etc.

Em Espiritismo, o conceito de fluido é bem mais amplo que o da Ciência


oficial. Léon Denis afirma que a matéria, quando se rarefaz, fica invisível,
imponderável, toma aspectos cada vez mais sutis, os quais chamamos fluidos.

À medida que se rarefaz, ganha novas propriedades, entre as quais uma


irradiação progressivamente maior, tomando a forma de energia.

A Física moderna praticamente derrubou a separação rígida entre


matéria e energia, considerando-as, substancialmente, a mesma coisa, em graus
de concentração e estrutura diferentes.
André Luiz estuda, esparsamente, os fluidos, em vários de seus livros,
principalmente no "Evolução em Dois Mundos", onde diz, no capítulo 13: "No
plano espiritual, o homem desencarnado vai lidar mais diretamente com um
fluido vivo e multiforme, estuante e inestancável. É absorvido pela mente
humana, em processo semelhante ao da respiração, pelo qual a criatura
assimila a força que emana do Criador."

B - FLUIDO CÓSMICO UNIVERSAL

"O fluido cósmico universal é a matéria elementar primitiva, da qual as


modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos
da Natureza ('A Gênese' - de Allan Kardec - Capo XIV - item 2). Como princípio
elementar universal, oferece dois estados distintos: o de eterização ou de
imponderabilidade, que se pode considerar como o estado normal primitivo, e
o de materialização ou de ponderabilidade.

O primeiro permite os fenômenos espirituais ou psíquicos; o segundo, os


fenômenos materiais. Como a vida espiritual e a corporal estão em incessante
contato, os fenômenos dessas duas ordens se apresentam frequentemente ao
mesmo tempo."

(Idem - item 5) "O ponto de partida do fluido universal é o grau de pureza


absoluta, do qual nada pode dar uma ideia; o ponto oposto é a sua
transformação em matéria tangível. Entre os dois extremos, existem inúmeras
transformações, que mais ou menos se aproximam de um ou de outro. Os
fluidos mais próximos da materialidade e, por conseguinte, os menos puros,
compõem aquilo que se pode chamar de "atmosfera espiritual terrestre".

André Luiz inicia o livro "Evolução em Dois Mundos" com o seguinte


período: "O fluido cósmico é o plasma divino, hausto do Criador, ou força
nervosa do Todo-Sábio. Nesse elemento primordial, vibram e vivem
constelações e sóis, mundos e seres, como peixes no oceano." Esse período
precisa ser por nós demoradamente analisado. Em poucas linhas, encerra
noções novas para os estudiosos, que nem sempre conseguem entendê-las em
toda sua profundidade. A começar pelo conceito de plasma divino, que se
aproxima bastante do novo conceito de plasma, em Física Quântica. Embora
tenhamos recebido abalizadas explicações, por parte de um professor de Física
de nosso grupo de estudos, ainda não temos a pretensão de pôr aqui o conceito
físico de plasma. Queremos lembrar que este livro de André Luiz foi publicado
em 1958, praticamente antecipando conceitos que, bem mais tarde, a Ciência
iria comprovar.

A matéria sólida, segundo Kardec, não passa de um estado transitório do


fluido universal. Quando as condições de coesão cessam de existir, a matéria se
desagrega e volta a seu estado primitivo. A lei de analogia nos leva, diz Delanne,
a admitir que, entre os gases e o estado radiante, existe matéria, em diferentes
formas de rarefação, desde a mais grosseira, que se aproxima dos gases, até a
mais pura, que se apresenta no estado radiante.

"O Perispírito ou corpo fluídico dos Espíritos é um dos produtos mais


importantes do fluido cósmico. É uma condensação desse fluido em torno de
um foco de Inteligência ou Espírito.

Os Espíritos extraem o seu Perispírito do ambiente em que se encontram,


o que quer dizer que esse envoltório é formado dos fluidos ambientais.

A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de


adiantamento moral do Espírito." ("A Gênese" - Cap. XIV - itens 7,8 e 9).

(Idem - item 10) "Conforme o Espírito seja mais ou menos purificado, seu
Perispírito se formará das partes mais puras ou das mais grosseiras do fluido
próprio do mundo no qual ele se encarna. Produz o efeito de um reativo químico
que atrai a ele as moléculas assimiláveis, segunda a sua natureza, ou seja,
substâncias facilmente combináveis com o reativo.

Portanto, o envoltório perispiritual do mesmo Espírito se modifica


conforme o progresso moral deste, em cada encarnação.

Os Espíritos superiores, encarnando-se, excepcionalmente, em missão,


num mundo inferior, têm um Perispírito menos grosseiro que o dos nativos
desse mundo."

(Item 11) "O fluido etéreo é para as necessidades do Espírito o que a


atmosfera é para as necessidades dos encarnados. Ora, da mesma forma que os
peixes não podem viver no ar; que os animais terrestres não podem viver numa
atmosfera demais rarefeita para seus pulmões, os Espíritos inferiores não
podem suportar o brilho e a ação dos fluidos mais eterizados. Eles não
morreriam ali, porque o Espírito não morre, mas uma força instintiva os
manteria afastados, como nos afastamos de um fogo forte ou de uma luz muito
brilhante.
Eis por que não podem sair do ambiente apropriado à sua natureza. Para
mudá-lo, teriam, primeiramente, de se despojar de seus instintos materiais, que
os retêm em seus ambientes grosseiros."

C - TIPOS DE FLUIDOS

Compulsando as literaturas Espírita e esotérica, encontramos uma


miscelânea de conceitos, explicações e classificações.

Já que o próprio conceito de fluido varia de acordo com os vários autores


e escolas, sua classificação paira num terreno nebuloso.

Em todo o caso, com objetivo apenas didático e procurando deixar de lado


a exatidão dos conceitos à luz da Física moderna, podemos considerar três tipos
de fluidos: os fluidos espirituais, os magnéticos e o fluido vital.

C.1 - FLUIDOS ESPIRITUAIS

Os fluidos espirituais formam o ambiente, a atmosfera em que agem os


Espíritos. Extraem eles dos fluidos as substâncias que utilizam nos fenômenos
especiais que desencadeiam, fenômenos esses que, obviamente, escapam à
percepção humana.

Kardec lembra que "a qualificação de fluidos espirituais não é


rigorosamente exata, pois, no fundo, trata-se ainda de um tipo de matéria,
embora muito rarefeita ou quintessenciada. Nada há de realmente espiritual
senão a alma ou Princípio Inteligente.

Eles são designados como fluidos espirituais por comparação e,


sobretudo, em razão de sua afinidade com os Espíritos. Pode-se dizer que são a
matéria do mundo espiritual." ("A Gênese" - Cap. 14 - item 5.)

Mesmo a nossa matéria densa não é tão compacta como parece, pois, é
atravessada pelos fluidos espirituais e pelos Espíritos, aos quais ela não opõe
maior obstáculo do que os corpos transparentes em relação à luz. A própria
matéria sólida apresenta grandes vazios: os espaços intermoleculares, Inter
atômicos e intra-atômicos.

Quem sabe se, ainda no estado em que é perceptível aos nossos sentidos,
não será a matéria capaz de adquirir uma espécie de eterização que lhe confira
propriedades particulares? Quando Kardec faz essa pergunta, mal sabe ele que
se está antecipando em um século aos conhecimentos atuais da radioatividade.
Hoje é conhecimento elementar sobre os corpos radioativos que eles emitem
radiações e vão perdendo substância até desaparecerem.

O rádio, o cobalto, o tório, o césio emitem radiações, muitas delas usadas


em medicina (cobalto terapia, radioterapia), para combate às doenças e na
química mais refinada. Enfim, resumidamente, podemos afirmar que a matéria
se transforma em energia. Mas isso se dá lentamente na natureza: um grama de
rádio leva alguns milhares de anos para se transformar, totalmente, em
radiações e desaparecer como substância material.

Na bomba atômica há uma transformação súbita, pelo bombardeio dos


átomos de urânio, com liberação fantástica de energia, capaz de destruir
cidades.

"Os Espíritos agem sobre os fluidos espirituais, não que os manipulem


como os homens manipulam os gases, mas com o auxílio do pensamento e da
vontade. O pensamento e a vontade são, para os Espíritos, o que a mão é para o
homem. Pelo pensamento, eles imprimem a tais fluidos esta ou aquela direção.

Eles os aglomeram, os combinam ou os dispersam. Formam, com esses


materiais, conjuntos que tenham uma aparência, uma forma, uma cor
determinada. Mudam suas propriedades como um químico altera as
propriedades dos gases ou de outros corpos, combinando-os, segundo
determinadas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual." ("A
Gênese" - Cap. XIV - item 14.)

É assim, por exemplo, que um Espírito se apresenta perante um vidente,


sob as aparências que tinha, quando vivia na época em que se conheceram,
mesmo que isso se dê depois de diversas 92

encarnações. Apresenta-se com as roupas, os sinais exteriores e


cicatrizes, barba, membros amputados, que tinha então. Seu Perispírito toma,
instantaneamente, aquela forma, que desaparece, quando o pensamento cessa
de agir. Se, pois, ele foi uma vez negro e outra vez branco, apresentar-se-á como
negro ou branco, segundo a encarnação que será relembrada e à qual reportará
seu pensamento.

Este assunto deverá ser muito bem analisado, quando nos defrontarmos,
em nossa prática mediúnica, com as comunicações dos índios e "pretos velhos".
O Espírito evoluído, espiritualmente, poderá apresentar-se ao médium vidente
com o aspecto de um negro, referente a duas ou três encarnações passadas,
desde que deseje impressioná-lo, bem como aos componentes da sessão.

Para tal, deve contar com a anuência e o auxílio dos mentores espirituais,
que negarão seu apoio, quando se tratar de mera curiosidade ou de fanatismo.
De qualquer forma, o que não se pode é erigir tabus e adorações em torno das
comunicações dos pretos velhos.

O pensamento pode modificar as qualidades dos fluidos, impregnando-as


das vibrações boas ou más, provindas daqueles que as estão emitindo. Os maus
pensamentos deterioram os fluidos espirituais. Os fluidos projetados pelos
maus Espíritos são, por isso, viciados, enquanto os bons emitem fluidos
salutares.

Como os fluidos ambientais são modificados pela projeção dos


pensamentos dos Espíritos encarnados e desencarnados, os Perispíritos dos
vivos podem receber tais fluidos e se impregnar deles, sejam bons ou maus. Os
emitidos pelos obsessores podem ser eliminados, em trabalhos especiais, mas
o Perispírito do obsessor continuará de baixo padrão vibratório, enquanto este
Espírito não se regenerar, não se esclarecer.

Kardec lembra, ainda, que o Perispírito dos encarnados é de natureza


idêntica à dos fluidos espirituais e, por isso, os assimila com facilidade, como a
esponja se embebe de líquido. Tais fluidos agem sobre o Perispírito, e este, por
sua vez, reage sobre o organismo corporal, com o qual está em íntimo contato,
como vimos no capítulo sobre Perispírito. Se os fluidos forem de boa qualidade,
o corpo recebe uma impressão agradável. Se forem maus, a impressão é
desagradável, penosa. Tais fluidos, se tiverem ação persistente, poderão levar a
desequilíbrios psíquicos ou desordens orgânicas. E Kardec chega a dizer que
certas moléstias não têm outra causa.

C.2 - FLUIDOS MAGNÉTICOS

Não querendo entrar em detalhes sobre o histórico do magnetismo,


queremos lembrar que foi Mesmer, médico austríaco, nascido a 25/05/1734,
quem vulgarizou a teoria do magnetismo animal. Admitia, de início, a existência
de um fluido capaz de ser captado e acumulado por corpos metálicos especiais,
o qual poderia ser usado no tratamento de doenças físicas e mentais.
Posteriormente, passou a admitir o magnetismo humano, em que os fluidos
magnéticos poderiam ser transmitidos de uma pessoa a outra. Conseguiu
muitas curas, consideradas por seus contemporâneos como falsas curas
magnéticas, pois seriam devidas à sugestão.

O fluido magnético continuou não sendo aceito pelos pesquisadores, e a


prática foi substituída pela hipnose, hoje aceita pela Ciência. Braid afirmava que
não há qualquer fundamento no mecanismo magnético. Todavia, essa postura
não impediu que numerosos outros pesquisadores continuassem praticando o
magnetismo, como Puységur, Ou Potet, Champignon e outros. Eles achavam que
o fluido magnético formaria, em torno do corpo humano, uma espécie de aura,
ou atmosfera, a qual poderia ser impulsionada pela vontade do magnetizador
e, assim, agiria sobre as pessoas. O fluido magnético estaria, ainda, sujeito às
leis de atração e repulsão.

Michaelus, outro magnetizador ilustre, dizia que o desequilíbrio dos


fluidos magnéticos que impregnam os órgãos leva a distúrbios na sua função,
caracterizando a doença. Sempre que o normal equilíbrio é rompido, dizia ele,
por excessiva condensação dos fluidos ou por sua dispersão, é necessário
restabelecer esse equilíbrio advindo a cura.

O Espiritismo voltou a valorizar as ideias dos antigos magnetizadores,


mas deu-lhes uma conceituação um pouco diferente, limitando o papel do
magnetismo, face à importância da intervenção do mundo espiritual.

André Luiz diz que todas as agregações celulares emitem radiações, que
se articulam através de sinergias funcionais. Todos os seres vivos, dos
rudimentares aos complexos, se revestem de um "halo energético", que lhes
corresponde a natureza.

No livro "A Gênese", de Allan Kardec, encontramos no item 33, do


Capítulo XIV, úteis esclarecimentos.

"A ação magnética pode produzir-se por diversas maneiras: 1ª) Pelo
próprio fluido do magnetizador - é o magnetismo propriamente dito, ou
magnetismo humano, cuja ação é subordinada à potência e, sobretudo, à
qualidade do fluido.

2ª) Pelo fluido dos Espíritos que atuam diretamente e sem intermediário
sobre um encarnado; seja para curar ou acalmar um sofrimento; seja para
provocar o sono sonambúlico espontâneo; seja para exercer sobre o indivíduo
uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual.
3ª) Pelo fluido que os Espíritos derramam sobre o magnetizador,
servindo este de condutor. É o magnetismo misto, semi espiritual, ou, se assim
o quisermos, humano-espiritual. O fluido espiritual, combinado com o fluido
humano, dá a este último as qualidades que lhe faltam."

C.3 - FLUIDO VITAL

Antes de mais nada, devemos tomar cuidado, para não confundirmos


fluido vital com Perispírito. Os seres inorgânicos, ensina a Codificação, não
possuem vida nem movimentos próprios, sendo formados apenas pela
agregação da matéria. Como exemplos, temos todos os minerais: o ar, a água
etc. A lei da atração é a mesma, tanto nos corpos orgânicos como nos
inorgânicos. A matéria de ambos é a mesma, porém, nos corpos orgânicos, ela
é "animalizada", por sua união com o princípio vital.

"A vida é um efeito produzido pela ação de um agente sobre a matéria.


Esse agente, sem a matéria, não é vida, da mesma forma que a matéria, sem ele,
não terá vida. Ele dá vida a todos os seres que o absorvem, que o assimilam."
("O Livro dos Espíritos" - Livro Primeiro - item 63.) "O princípio vital apresenta
modificações conforme as espécies animais e vegetais. É ele que lhes dá
movimento e atividade e as distingue da matéria inerte. O movimento da
matéria não é a vida; ela recebe esse movimento, não o produz." ("O Livro dos
Espíritos" - item 66). Como vemos, a explicação da vida, pela Codificação, é
clara, cristalina: os minerais não têm vida, sendo utilizados como matéria
manipulável pelos vegetais e animais. Só estes dois podemos dizer que têm
vida. Entretanto, as correntes orientais infiltradas no Espiritismo dizem que
tudo tem vida, os minerais, inclusive, trazendo, com isso, muita confusão. Mas
os astros não se estão movimentando perenemente, dizem eles? As moléculas
não apresentam movimentos, bem como as estruturas intra-atômicas? Tudo
isto não atesta a vida dos minerais? Respondemos enfaticamente: Não!

Não podemos confundir movimentos dos corpos com vida. Se formos


apegar-nos a esse sofisma, diríamos que os relógios têm vida, porque suas
delicadas peças se estão movimentando.

Os órgãos estão impregnados de fluido vital. É ele que permite aos órgãos
do corpo humano funcionarem normalmente, mas é necessário que as células e
os tecidos que os formam tenham condições biológicas e fisiológicas de
funcionamento. Quando uma doença grave destrói a integridade do corpo
físico, estando os elementos essenciais para o funcionamento dos órgãos
destruídos ou profundamente alterados, o fluido vital não tem mais condições
de ação, e o indivíduo morre. Segundo a concepção Espírita, a pessoa morre,
não porque o fluido vital abandonou os tecidos, e as células, a seguir, morreram,
mas morre, porque as lesões celulares foram tão profundas que o fluido vital
não poderia mais agir.

O fluido vital se consome e é renovado permanentemente.

Não há possibilidade de ser absorvido através dos poros da pele, como


ensinam, de maneira infantil, certos livros ditos Espíritas.

A única função dos poros é excretar o suor, que contém água, sal e ureia,
numa função complementar à dos rins. Só excretam; não absorvem nada.

O fluido vital pode ser transmitido de uma pessoa a outra, e é isso que
acontece nos passes. Quando a pessoa morre, o Espírito, com seu Perispírito, se
liberta e vai para outras regiões do espaço. A matéria inerte vai para o solo,
onde sofre transformações, reintegrando-se em novos corpos, a princípio vital
retorna à massa fluídica do Universo.

A vontade é uma força importante, e é por meio dela que os Espíritos


agem sobre os fluidos, manipulando-os. Mas, para formar a materialização
visível e palpável das sessões Espíritas, eles precisam de um agente especial,
que é o fluido vital. É encontrado esse fluido no organismo humano; daí, a
necessidade da presença de um médium nas sessões de materializações.

Começamos este item lembrando que não devemos confundir fluido vital
com Perispírito. Agora, podemos entender a razão, o perispírito é um fluido
mais sutil, intimamente ligado ao Espírito, acompanhando-o durante os
processos de desdobramento, e vai com ele, após a morte do corpo físico, o
fluido vital, pelo contrário, é um elemento que apenas vivifica a matéria, mas
não tem individualidade, nem independência. É absorvido do fluido universal,
em parcelas e momentos variáveis, e a ele volta após ter exercido seu papel.

E o Espírito, será uma outra forma de matéria ainda mais sutil? Como
nossa mente só consegue raciocinar em termos físicos, não podemos conceber
o que seja, na sua intimidade, o Espírito.

Sabemos que não é constituído, nem de matéria, nem de energia. Mas o


que será, então?
"Dizemos que os Espíritos são imateriais, porque a sua essência difere de
tudo o que conhecemos pelo nome de matéria. Não podemos defini-los, a não
ser por meio de comparações sempre imperfeitas, ou por um esforço da
imaginação. Imaterial não é termo apropriado; incorpóreo seria mais exato,
pois, sendo uma 97

criação, o Espírito deve ser alguma coisa." ("O Livro dos Espíritos" - Livro
Segundo - Cap. 1° - item 82.)
CAP. VIII – TRATAMENTO ESPIRITUAL
O TRATAMENTO ESPIRITUAL

A - MEDICINA TRADICIONAL E MEDICINA ALTERNATIVA

Nos séculos passados, o tratamento das doenças era puramente empírico,


sem fundamentos científicos concretos. Usavam-se chás, extratos vegetais e
outras substâncias que a prática consagrara. Preparados em farmácias
rudimentares, usavam-se extratos de algumas plantas (raízes, cascas ou folhas),
aos quais se acrescentavam sais de uso tradicional: bicarbonato, silicatos
(caolim, por exemplo), sulfato de sódio. Várias dessas substâncias já vinham
sendo usadas por povos selvagens, como os índios do Brasil. As mais
empregadas eram o pó da raiz de ipeca, como antidiarreico: a casca da quina,
da qual se extraía o quinino, como antitérmico; o extrato das folhas da coca,
como analgésico; as folhas de erva-cidreira, como calmante; o quenopódio, o
quebra-pedras etc.

Bem mais tarde, foram identificadas as substâncias químicas ativas


existentes naqueles extratos ou pós e começaram a usar doses precisas das
substâncias puras. Assim se identificaram os alcaloides, substâncias poderosas
pelos seus efeitos terapêuticos, desde que usadas em doses adequadas, às vezes
muito próximas das doses tóxicas. A terapêutica foi se tornando mais científica,
porque se usavam drogas em quantidades certas, observavam-se os efeitos e
possível cura do paciente.

Os processos para diagnóstico também se aperfeiçoaram rapidamente.


De início, alguns exames simples de urina ou de sangue, as contagens dos
glóbulos sanguíneos, a dosagem da glicose no sangue (para evidenciar o
diabetes) ou da ureia etc. A descoberta dos Raios X representou um processo
extraordinário para fins dos diagnósticos. Lesões invisíveis e inacessíveis ao
manuseio das pesquisas foram percebidas e mensuradas. As biópsias
complementavam o conhecimento científico das lesões dos órgãos, avaliavam
sua malignidade e as possibilidades de cura.

Numerosas outras técnicas de exame foram surgindo e seu uso pelo meio
médico passou até a ser exagerado. Haja vista a tomografia, que revela detalhes
despercebidos ao Raio X tradicional, grande conquista técnica, que é exame
caríssimo e tem sido utilizado, às vezes, desnecessariamente. Entretanto,
salientamos que o diagnóstico se alicerça sempre em dados concretos, em
critérios científicos.

Todavia, no campo do psiquismo humano, o conhecimento das moléstias


mentais não acompanhou o mesmo progresso, em termos de documentação
objetiva das lesões ou perturbações das funções orgânicas. Como a medicina se
firmou na conduta de só tomar conhecimento daquilo que pode ser pesado,
medido, analisado por métodos científicos, o Espírito continuou fora de suas
cogitações. Muito menos poderia a medicina admitir possíveis influências de
Espíritos de mortos.

Criou-se uma barreira intransponível entre o que a Ciência aceita e aquilo


que a Religião admite. Todo tratamento que utiliza meios não-aceitos pela
Ciência é tido como exercício ilegal da medicina, ou charlatanismo.

Apesar de toda a ortodoxia da medicina oficial, o homem, na busca


incessante de cura para os seus males do corpo e da mente, foi buscar em outros
campos processos diferentes para atingir seus objetivos. Não se pode condenar
tal conduta, uma vez que o tratamento de certas moléstias ainda hoje apresenta
grandes dificuldades.

Foram surgindo, nas últimas décadas, formas de tratamento totalmente


inadmissíveis para a medicina oficial, algumas com fundamentos teóricos
razoáveis e sem descambar para a fantasia ou para o fanatismo. Mas grande
número delas representa distorções quase infantis e ausência absoluta de
critério científico.

Dentro do que se convencionou chamar de medicina alternativa,


encontra-se de tudo, desde algumas formas de tratamento em parte aceitáveis
até as mais disparatadas modalidades de fanatismo popular, de ritualismos os
mais primitivos e absurdos. Algumas dessas "medicinas alternativas"
incorporaram rituais trazidos de crenças orientais, africanas ou indígenas, que
lhes conferem um aspecto extremamente atraente para as mentalidades
ignorantes e místicas, tão frequentes em nossa população.

Um tipo de tratamento considerado medicina alternativa, até há pouco


tempo, é a homeopatia. Dados os bons resultados obtidos em numerosos casos
e, principalmente, à honestidade comprovada e competência dos pioneiros da
homeopatia, no Brasil, felizmente foi ela aceita, recentemente, pelas
Associações Médicas e Conselhos de Medicina, que, a incorporaram como uma
nova especialidade médica. (Conselho Federal de Medicina, resolução 1000 de
1980.) Entre nós, salientamos o trabalho de dois grandes médicos Espíritas: o
dr. Militão Pacheco e o dr. Luiz Monteiro de Barros, que foi, em duas gestões,
presidente da Federação Espírita do Estado de São Paulo. Ambos eram
homeopatas entusiasmados; tinham enorme clientela, prepararam dezenas de
discípulos e deram o exemplo da correção e do idealismo cristão. Fizeram muita
caridade, nunca exploraram os doentes e levantaram, bem alto, o conceito da
homeopatia no Brasil.

Isso não se pode dizer da proliferação recente de práticas misturadas com


crendices e ritualismos, como o tratamento pelas pirâmides, pelos cristais e as
espalhafatosas curas coletivas em certas igrejas, em que os crentes têm
verdadeiras crises histéricas e se dizem curados. A Terapia das Vidas Passadas
(TVP), introduzida há um decênio, em São Paulo, por alguns médicos e
psicólogos, é um assunto extremamente controvertido e polêmico; tem sido
tratado com emoção e exagero, da parte dos que o defendem bem como dos que
o atacam. Pessoalmente, embora tenhamos acompanhado, desde o início, a
instalação da TVP em nosso meio e reconheçamos a honestidade dos primeiros
praticantes, não aceitamos, de forma alguma, os resultados apregoados e seu
mecanismo de atuação. Não cabe entrar aqui em maiores detalhes.

O tratamento espiritual, pelos passes, principalmente, ainda não é aceito


pela medicina tradicional, mas tem sido, de certa forma, tolerado. Hoje já não
se vê mais o combate intransigente aos Centros Espíritas e ao Espiritismo, em
geral, promovido tão frequentemente, em tempos passados, por médicos
materialistas e pastores de igrejas.

B - BASE TEÓRICA DAS CURAS ESPIRITUAIS

Em medicina, não se usam, no tratamento das várias moléstias. apenas


substâncias químicas, hormônios, antibióticos ou vitaminas, coisas que são
visíveis, que têm peso, cor, sabor etc.

Neste século, depois da descoberta do Raio X, para obter imagens dos


órgãos, começaram a ser usados vários tipos de radiações, como tratamento de
enfermidades orgânicas e mentais.

Os choques elétricos foram usados amplamente, na Psiquiatria, para


tratamento de moléstias mentais, e aplicados em quase todos os sanatórios
psiquiátricos do Brasil. Era um processo muito violento, provocando
convulsões impressionantes; dava resultados medíocres e foi abandonado. Nos
sanatórios Espíritas que visitamos, na época, a opinião dos dirigentes era
dividida: uns aplicavam os choques, outros os condenavam.

Os Raios X, além de serem usados para diagnóstico, foram utilizados


como tratamento, principalmente nos cânceres. Entretanto, seu uso é perigoso,
pois pode causar gravíssimas queimaduras na pele (radiodermites), além de
lesar órgãos.

O rádium, o césio, o urânio e o cobalto, metais radioativos, são bastante


empregados, até hoje. É a radioterapia, usada como tratamento isolado dos
cânceres, ou aplicada no pós-operatório, após a retirada do tumor, como
reforço do tratamento. Porém, além de ser tratamento caríssimo, causa sérias
complicações, exigindo cuidados excepcionais. A guarda do material radioativo
tem de ser extremamente cuidadosa, para que se evitem acidentes, como o
ocorrido com o Césio, em Goiânia, o qual causou lesões muito sérias em dezenas
de pessoas.

Em todos esses tratamentos citados, emprega-se um meio imponderável


- as radiações - que escapam, totalmente, à percepção dos nossos sentidos. Sem
administrar drogas, estimulamos o crescimento de células ou as matamos. São
radiações invisíveis. Entretanto, atuam no organismo, como os fluidos, e
ninguém nega seu papel.

Outros tratamentos em que não se usam substâncias materiais consistem


na sugestão, na psicoterapia e hipnose, aceitas pela Ciência. Vimos, no capítulo
anterior, que a hipnose produz profundas alterações motoras, sensoriais e das
funções orgânicas. Referimos um caso em que, através da sugestão, o paciente,
com falsa paralisia, voltou a andar. Nesses casos, não se usam as radiações
conhecidas pela Física, mas entra em cena a força do pensamento, e se obtêm
resultados, às vezes, espetaculares.

Tudo isso, os senhores materialistas aceitam tranquilamente, sem opor


nenhuma dúvida ou objeção. Mas quando se trata dos passes Espíritas, não só
negam nenhum efeito deles, como condenam os Espíritas que os aplicam. É
contraditória tal atitude, pois, entre o uso das radiações conhecidas pela Ciência
e o emprego dos fluidos durante o passe, a diferença é muito pequena.

Essa discriminação mostra o preconceito dos materialistas frente ao


Espiritismo.
Se o pensamento de um vivo pode, na sugestão e no hipnotismo, agir
sobre outro, provocando neste modificações que podem levá-lo à cura ou ao
alívio dos sintomas, que não se dirá da vontade dos Espíritos evoluídos?

Está provada a ação do pensamento sobre a matéria. No l° Congresso


Espírita Internacional, realizado em Londres, em 1922, foi apresentado um
trabalho sobre a fotografia do pensamento. Após esse Congresso,
pesquisadores de todo o mundo têm repetido experiências, não de todo
conclusivas. Mas, com a Parapsicologia, o assunto voltou à tela. De fato, a
Parapsicologia admite os fenômenos PSI GAMA e PSI KAPA, (ou telecinesia).

Através da capacidade PSI KAPA, o sensitivo consegue movimentar


objetos, principalmente influenciando os números dos dados de jogar, nas tão
conhecidas experiências de J.B. Rhine, o bandeirante da Parapsicologia. Isto
corresponderia, na prática Espírita, à mediunidade de efeitos físicos.

O pensamento tem poder plástico, organizador, atuante sobre a matéria.


Teoricamente, se admite que possa até mesmo produzir ou modelar corpos
materiais, condensando a matéria dispersa. Bozzano, raciocinando
metafisicamente, lança a hipótese, em seu livro "Pensamento e Vontade" de que
o Universo seria a expressão do pensamento divino. Consideramos muito
interessantes as conceituações expressas nesse livro, mas é difícil poder
acompanhar seu raciocínio.

Nas materializações, é ainda à vontade, a força do pensamento do


desencarnado que manipulam o ectoplasma e o incorpora a seu Perispírito;
dentro desse molde fluídico, os fluidos se tornam mais densos e, por isso,
visíveis aos olhos humanos. A matéria toma a forma física desse Espírito,
quando foi um ser encarnado na Terra. A condensação é tão grande que a
materialização pode ser fotografada e palpada. Pessoalmente, assistimos, por
várias vezes, na década de 40, às materializações da "irmã noiva", no bairro de
Santana. Foram as mais autênticas materializações a que assistimos em toda
nossa vida. O grupo era pequeno (12 a 15 pessoas) e os familiares da médium
permitiam todo controle possível. Isto não ocorre na maioria dos casos, em que
há fraudes vergonhosas e os "donos" do médium não permitem qualquer tipo
de controle. Não daremos detalhes dessas materializações, para não fugirmos
ao escopo principal deste capítulo.

A manipulação dos fluidos, condensando-os ou lhes dando graus


vibratórios diferentes; a possibilidade de emissões fluídicas e magnéticas
podem alterar os órgãos, encaminhando-os para a cura. Tudo isso abre campo
para a aceitação dos passes.

C - O PASSE

Herculano Pires, no livreto "Obsessão - o Passe, a Doutrinação", (Editora


Paidéia), diz que o passe nasceu nas civilizações antigas como um ritual das
crenças primitivas. A agilidade das mãos sugeria a existência de poderes
misteriosos, praticamente comprovados pelas ações cotidianas da fricção que
acalmava a dor. As bênçãos foram as primeiras manifestações típicas dos
passes. O selvagem não teorizava, mas experimentava, instintivamente, e
aprendia a fazer e a desfazer as ações, com o poder das mãos.

CONCEITOS DE PASSE

"O passe é uma transfusão de energias, alterando o campo celular."


(André Luiz - "Nos Domínios da Mediunidade" - Cap. XVII).

"Todo efeito mediúnico é o resultado de uma combinação dos fluidos


emitidos pelo Espírito com os do médium. Por essa combinação, estes fluidos
adquirem propriedades novas, os quais, separados, ou não as possuiriam ou
teriam em menor grau."

("Obras Póstumas" - de Allan Kardec - item 52.)

"Pela identidade de sua natureza, este fluido, condensado no Perispírito,


pode fornecer ao corpo os princípios reparadores."

("A Gênese" - Cap. XIV - item 31.) MODO DE AÇÃO - Os passes variam
extremamente em sua atuação, dependendo de quem os aplica e de quem os
recebe etc.

Esta ação é, algumas vezes, lenta e reclama um tratamento seguido, como


no magnetismo comum; outras vezes, é rápida, como uma corrente elétrica. "O
princípio é sempre o mesmo: é o fluido que desempenha o papel de agente
terapêutica, e cujo efeito é subordinado à sua qualidade e às circunstâncias
especiais."

TIPOS DE PASSES
A ação magnética, segundo Kardec ("A Gênese"), pode ser de três tipos:
Magnética pura, espiritual e mista. Na primeira, o passista fornece os fluidos
magnéticos de seu próprio organismo.

Não há interferência dos Espíritos. Na ação espiritual (Kardec não fala em


passes), os Espíritos agem utilizando o médium apenas como intermediário,
utilizando os fluidos espirituais, manipulados pelos Espíritos. No passe misto,
o fluido espiritual se combina com o do encarnado e lhe confere propriedades
que o fluido do passista não possui. Este tipo de passe é o chamado
habitualmente de mediúnico, porque há um Espírito interferindo.

Em certas ocasiões, o passe é meio auxiliar no esclarecimento dos


Espíritos, nos casos de médiuns ainda em desenvolvimento, que não
conseguem controlar as manifestações de Espíritos violentos ou obsessores.

CONDIÇÕES DE QUEM DOA - O passista precisa estar em boas condições


de saúde e ter equilíbrio moral e intelectual, para que possa ser instrumento
útil. A insônia, a intoxicação por drogas ou excessos alimentares, a insuficiência
respiratória e cardíaca enfraquece, consideravelmente, a capacidade de
fornecer fluido. Também isso acontece na agitação nervosa, nos desequilíbrios
emocionais e nas paixões, que perturbam as funções equilibrantes dos fluidos.

Para ser passista, não é necessário ter mediunidade ostensiva. Léon Denis
diz: "Como o Cristo e os apóstolos, como os santos, os profetas e os magos, todos
nós podemos impor as mãos e curar, se temos amor aos nossos semelhantes e
o desejo ardente de os aliviar." ("No Invisível" - Cap. XV.) "Na mediunidade
curativa, suprime a enfermidade, quanto possível, com o amparo da medicina
criteriosa, mas unge-te de amor para socorrer o doente. Como no caso da
receita formulada por médico abnegado e culto, em teu favor, a lição do
Evangelho consola e esclarece, encoraja e honra aqueles que a recebem, mas, se
não for usada, não adianta." ("Na Seara dos Médiuns" - Emmanuel - Cap. 67.)
CONDIÇÕES DE QUEM RECEBE - Antes de mais nada, é preciso que a pessoa que
vai receber o passe tenha uma noção, embora superficial, do que é o passe, para
ficar em boas condições de receptividade. Já encontramos pessoas, saindo, após
recebê-lo, dizendo que a "média" médium estava "abençoando a gente."

O ideal será que a pessoa, além de receber os passes, receba, também, no


mesmo dia, noções de Espiritismo e do Evangelho, na chamada "Fluidoterapia".
Assim, além de ser beneficiada pelo passe, ela vai se reestruturando
espiritualmente.
PRÁTICAS DO PASSE

A transmissão do passe se faz pela vontade, a qual dirige os fluidos.


Deduz-se, pois, que muito mais do que posições, movimentos ou mímicas, é
importante a disposição mental de quem aplica e de quem recebe o passe. "As
encenações preparatórias: mãos erguidas para o alto e abertas para suposta
captação de fluidos pelo passista; mãos abertas sobre os joelhos, para melhor
assimilação fluídica; braços e pernas descruzados, para não impelir a livre
passagem dos fluidos e, assim por diante, só servem para ridicularizar o passe,
o passista e o paciente." (J. Herculano Pires) Os passistas ficariam mais
preocupados com os gestos que deveriam usar do que com a concentração
necessária para dirigir os fluidos. As orações em voz alta e em conjunto também
são um resíduo mágico.

O passe dispensa qualquer contato físico na sua aplicação.

Vimos passistas que dão verdadeiras massagens durante a aplicação. São


os chamados passes "arranca-botão". Criam, às vezes, situações
constrangedoras.

Os passes devem ser dados em ambiente próprio, dentro do Centro


Espírita, nas chamadas câmaras de passe. Evitar o passe em domicílio, exceto
quando o paciente não se possa locomover, para não favorecer o comodismo e
o temor das pessoas que não desejam ser vistas numa Casa Espírita. Os
passistas nunca devem dar os passes incorporados por Espíritos. Esta é uma
atividade que deve ser realizada em plena consciência.

Nunca admitir as práticas extravagantes, como a de se darem passes em


roupas, fotografias ou objetos de uso do paciente.

Isto é totalmente antidoutrinário, sendo fruto de influência da Umbanda.

Devem-se evitar certas práticas viciosas, como estalar os dedos, esfregar


as mãos, sopros, respiração ofegante, tomar água entre um passe e outros tipos
de invencionices. Essas práticas têm por objetivo impressionar as pessoas
atendidas, mas desvalorizam os passes.

O passista deve buscar, na prece, o elo de união com os planos espirituais


mais elevados, porque, através da oração, ele contará melhor com o auxílio dos
instrutores espirituais.
André Luiz recomenda, em "Conduta Espírita": "Interditar, sempre que
necessário, a presença de enfermos portadores de moléstias contagiosas, nas
sessões de assistência em grupo, situando-os em regime de separação para o
socorro previsto."

Gostaríamos de recomendar, com ênfase, aos nossos leitores, que


procurem um livro editado, há poucos meses, pela FEB, de autoria de Jacob
Melo, confrade do Rio Grande do Norte. Livro alentado, de redação muito boa,
estuda numerosas questões relacionadas com o passe; sem fantasias, sem
ideias orientais, dentro do verdadeiro sentido da Doutrina. Chama-se: "O Passe
- seu Estudo, suas Técnicas, sua Prática." Considero-o um dos melhores livros
escritos sobre os passes, em língua portuguesa.

Com relação à recomendação de André Luiz, Melo lembra que, evitar a


presença de pessoas com moléstias contagiosas, é medida puramente
preventiva e jamais discriminatória, pois pode haver contágio para outras
pessoas que estão buscando o passe.

Podem estar com o organismo combalido e mais propício a receber


infecções. O passe recomendado a esta categoria de doentes deve ser aplicado,
diz ele, em caráter individual e reservado, com os cuidados cabíveis e
recomendáveis para situações como essas.

Há sérias reservas quanto à aplicação de passes nos casos de obsessões


violentas, com subjugação do encarnado. Só o realizar, contando com inegável
apoio do plano espiritual e com companheiros altamente capacitados. De
qualquer forma, só como exceção.

Reservas, também, se fazem para aqueles que se recusam a seguir as


orientações recebidas, no sentido de deixar o uso do álcool, ou às assistir as
explanações doutrinárias. Insistimos ainda: deve-se procurar sempre entrosar
o passe num atendimento mais amplo ao necessitado, visando a seu
reequilíbrio completo. Não nos podemos resumir a aplicar o passe e perder de
vista o assistido, que, às vezes, continuará em ambientes viciosos, sem nenhum
esforço para a sua recuperação moral e progresso espiritual. Procurem os fazê-
lo assistir às palestras evangélicas, mas também mantenhamos com ele
entrevistas periódicas, em que receberá orientações.

TÉCNICAS DO PASSE
Existem numerosas técnicas de passe, cada uma com seus defensores;
entretanto, não nos devemos entusiasmar apenas por uma delas, julgando
todas as outras erradas. Divaldo Pereira Franco, em seu "Diálogo com
Dirigentes e Trabalhadores Espíritas", diz:

"Algumas técnicas são muito válidas, desde que não sejam condições sine
qua non, para que não troquemos os valores espirituais pelas preocupações das
fórmulas e para que não venhamos a criar um ritual, no qual o sentimento ceda
lugar à aparência. É muito que tenhamos a preocupação da nossa saúde moral,
a fim de transmitirmos o que possuímos de melhor."

As técnicas variam, desde a simples imposição de mãos até os passes


padronizados. Herculano Pires defende, entusiasticamente, a imposição de
mãos. É a técnica também preferida nos cursos do COEM. Basta estender os
braços para frente do corpo, pondo as mãos pouco acima da cabeça do paciente
ou sobre a parte que se deseja atingir, ficando as palmas das mãos espalmadas
para baixo, sem contração ou enrijecimento muscular.

Existem outras modalidades: os passes longitudinais, os passes


transversais, os circulares, os perpendiculares. Não os descreveremos, mas
indicamos aos interessados o livro de Jacob Meio e também o livro "Assistência
Espiritual", de Moacyr Petrone, diretor da "Área de Assistência Espiritual", da
FEESP.

Quanto aos passes padronizados, lembraríamos que foram introduzidos


na FEESP, ainda na década de 50, pelo Comandante Edgard Armond, que criou,
nessa época, as "Escolas de Aprendizes do Evangelho" e os "Cursos de
Médiuns". Esses cursos têm sido de enorme valor, na orientação das criaturas,
tendo-as despertado para o trabalho na seara do Mestre. Graças à colaboração
recebida de milhares de pessoas, que passaram por aqueles dois cursos, foi que
a Federação conseguiu manter, até hoje, após 40 anos, a maravilhosa atividade
assistencial da "Casa Transitória".

Os passes padronizados têm sido condenados por numerosos escritores


Espíritas por considerarem tais passes como um tipo de ritual. Seus defensores
não os consideram ritual, mas simplesmente a metodização necessária numa
Casa Espírita, que atende a mais de duas mil pessoas por dia, vindas em busca
de assistência espiritual. Lembram eles que, se liberassem a sistemática dos
passes, cada passista usaria movimentos totalmente diferentes dos demais,
introduzindo inovações pessoais. Numa sala em que há 10 ou 12 passistas,
atuando simultaneamente, ficaria um ambiente tumultuado, cada qual com
gesticulação diferente.

Nos trabalhos mediúnicos, para obter uma força magnética maior dos
presentes, será certo fazer uma cadeia em que todos dão-se as mãos? Essa
pergunta foi feita por Kardec aos Espíritos que elaboraram a Codificação. Eles
responderam: "A cadeia é um meio material, que não estabelece entre vós a
união, se esta não existir nos pensamentos; mais conveniente do que isso é
unirem-se todos num pensamento comum, chamando, cada um, de seu lado, os
bons Espíritos." ("O Livro dos Médiuns" - Cap. XXV item 282). Deve haver,
portanto, uma união pelo pensamento, sem sentimentos grosseiros ou
materiais, todos vibrando emoções espiritualizadas, num ambiente de
cordialidade.

Continuemos com Kardec: "A princípio, como se ignorassem as causas do


fenômeno, recomendavam muitas precauções, que depois se verificou serem
absolutamente inúteis. Tal, por exemplo, o contato entre os dedos mínimos das
diferentes pessoas, de modo a formar uma cadeia ininterrupta. Esta última
precaução parecia necessária, quando se acreditava na ação de uma espécie de
corrente elétrica. Depois, a experiência lhe demonstrou a inutilidade." Após
essas explicações tão claras, de Kardec, julgamos dispensável apresentar outras
considerações de nossa parte.

Os que propugnam pela formação das correntes por união das mãos estão
influenciados pelos magnetizadores do passado, os quais admitiam que o fluxo
magnético das pessoas fosse reforçado pelo contato das mãos. Mas o que
importa, de fato, como ensina a Codificação, é uma sintonia espiritual, podendo
se falar mesmo em uma corrente de pensamento.

RESULTADOS DOS PASSES

Será que todas as pessoas se beneficiam com os passes recebidos?


Sabemos que não. E era mesmo de esperar isso, pois a eficácia do passe vai
depender das condições de quem dá e de quem recebe, bem como das
possibilidades maiores ou menores do auxílio espiritual. "Não é possível
fornecer forças construtivas a alguém, ainda mesmo na condição de
instrumento útil, se fazemos sistematicamente desperdício de irradiações
mentais. A mágoa excessiva, a paixão desvairada, a inquietude obsidente
constituem barreiras que impedem a passagem das energias auxiliares."
(André Luiz - "Missionários da Luz" - Cap. 19).
Os trabalhos das Casas Espíritas procuram preparar o doente para
colaborar em sua cura. Esse trabalho deve ser feito com conhecimentos
doutrinários, mas, acima de tudo, com muito amor.

Sem a colaboração do assistido, por melhor que seja o passista, os


resultados serão sempre medíocres.

Não há lugar, na prática Espírita, para aquele passista que diz, cheio de
orgulho: "Todos os que atendi foram curados, porque tenho muito poder
fluídico". Este médium está desperdiçando seu tempo, por causa do orgulho,
que é porta aberta para as obsessões. Devemos fugir do fanatismo tão comum,
que leva os militantes a endeusarem os médiuns, tratando-os como semideuses,
ou pessoas que têm o privilégio exclusivo de serem assistidas,
permanentemente, por Bezerra de Menezes e outros luminares da
Espiritualidade. O fanatismo leva a confundir a fraude com a cura verdadeira.

O campo da cura Espiritual é maravilhoso, mas cheio de escolhos.


Encontramos, amiúde, tendências a espalhafatos, escanda-los, furos
jornalísticos e verdadeiros espetáculos circenses televisionados. Não há o
menor bom senso na verificação dos casos, nem o melhor controle dos
fenômenos, deixando sempre dúvidas. Só o grande conhecimento do
Espiritismo melhorará essa situação.

O Espiritismo muito tem a oferecer à Medicina. Deverão mesmo caminhar


juntos, pois ambos visam ao bem-estar físico e mental das criaturas. Podemos
até dizer que Medicina e Espiritismo se completam; ela, cuidando dos males
físicos e ele, dos males espirituais, que, como vimos, têm profundos reflexos
sobre o corpo orgânico.
CAP. IX – OPERAÇÕES ESPIRITUAIS
AS OPERAÇÕES ESPIRITUAIS

O tema é apaixonante. Quem o estuda, em nosso meio, infelizmente tem


mais decepções do que contentamentos. Encontra sempre relatos feitos por
leigos, de casos folclóricos, não dos cientificamente cercados de muito
fanatismo e credulidade fácil.

A- CONCEITO DE CURA EM CIRURGIA

No exercício da medicina, nenhum profissional encaminha para a cirurgia


qualquer paciente, sem estar adequadamente documentado o caso e feito o
diagnóstico preciso. O mesmo deveria acontecer, quando o paciente buscasse o
socorro de uma cirurgia espiritual. Mas não é isso o que ocorre, na maioria das
vezes.

Dizem os pacientes: "Procurei o 'médium' tal, e ele me operou do


estômago."

- 'Mas o que você apresentava no estômago? Fez radiografia ou


endoscopia antes'?

- "Não; eu cheguei lá e eles me disseram que eu tinha uma coisa no


estômago e me operaram." Ou então: "Minha irmã é epilética, e o dr. F. operou-
a. Fez um corte na testa; sangrou muito e ele disse que, com o sangue, saía a
doença."

Um conhecido escritor Espírita era cardíaco, foi operado de um pterígio


que não o incomodava; não foi cuidado do principal problema e desencarnou,
após alguns meses, em consequência da lesão cardíaca. Apesar disso, seu caso
foi publicado em periódicos Espíritas como grande sucesso do médium.

Além da comprovação prévia do diagnóstico, é preciso o


acompanhamento adequado da operação. Tal acompanhamento só terá valor
se o assistente entender do assunto. Ninguém pede aos médicos opinião sobre
a validade técnico - arquitetônica dos edifícios ou sobre a exatidão dos planos
financeiros do governo, mas todos se julgam aptos a avaliar a realidade e o valor
das operações espirituais.
Quando fui acompanhar as cirurgias do Arigó, várias pessoas me haviam
dito que ele introduzia a faca no olho do consulente.

Lá chegando, presenciei numerosos exames feitos por Arigó. Ele


introduzia, de maneira rápida, sem puxar a pálpebra, o canivete entre a
pálpebra e o globo ocular, provocando, depois, certa protrusão deste, raspando
a face posterior e tirando o canivete coberto com líquido serossanguinolento.
Era manobra difícil de ser executada, mesmo por um oculista, mas não havia
introdução do instrumento cortante dentro do globo ocular. É esse um exemplo
concreto de falha de observação por parte dos assistentes. Como essa,
numerosas outras se observam no campo da fenomenologia mediúnica.

Uma paciente, portadora de úlcera duodenal comprovada


radiologicamente, foi operada, sendo permitida a presença de acompanhantes.
A paciente saiu com um risquinho oblíquo no abdome, simulando uma incisão
cirúrgica. Os parentes, todos católicos, aceitaram a cura. Sabe-se que uma das
características da úlcera péptica é sua periodicidade: alternam-se fases
espontâneas de piora e de acalmia. Por efeito, provavelmente sugestivo, a
doente ficou assintomática durante algum tempo. Após quatro meses, mandei
fazer uma radiografia e a úlcera lá estava, inalterada.

Outra conclusão se impõe: o fato de o paciente sentir-se curado, para o


médico criterioso, não significa que a moléstia tenha cessado. É necessário que
se faça o seguimento do doente (fol-low-up). Aí vemos outra falha corrente nas
reportagens sobre as operações espirituais: além de não haver controle médico
prévio, não se faz acompanhamento do enfermo e, dessa forma, não se pode
saber se o doente ficou realmente curado.

Nas doenças cíclicas, como a úlcera péptica, o portador, mesmo sem ter
tomado medicamento algum, entra em fase de acalmia, que pode durar dias ou
até muitos meses. Isto explica o sucesso de muitas mezinhas, remédios caseiros,
que foram ingeridos num momento em que a úlcera ia entrar em fase
assintomática; só pode ser considerado efetivo se for excluído o efeito da
sugestão.

Nas pesquisas médicas, dá-se a um grupo de doentes o remédio que está


sendo testado e, a outro grupo, pastilhas de "placebo", substância inerte. Os
próprios médicos que estão em contato direto com os doentes não sabem quais
os que estão recebendo o medicamento novo. Nota-se sempre que uma alta
porcentagem de pacientes, aos quais foi administrado o "placebo", apresentam
melhoria dos sintomas. Em caso de hipertensão arterial, chega-se a constatar
significativa queda "tensional". Em suma, os pacientes melhoram, porque
pensam que estão recebendo um eficiente remédio novo.

Neste assunto, medicina e Espiritismo estão de pleno acordo.

Ambos admitem a enorme influência do fator emocional, ou, em outras


palavras, a influência da mente. Numerosas doenças surgem como
consequência de desequilíbrios emocionais e podem desaparecer, através de
uma terapêutica psicossomática.

Tudo isso não pode ser esquecido por quem se aventura ao tratamento
espiritual das desordens orgânicas ou funcionais.

B - CIRURGIA MEDIÚNICA DESARMADA E INSTRUMENTAL

Alguns médiuns que executam operações dizem que não fazem incisões,
porque operam o Perispírito do doente. Abre-se então, um vasto campo de
discussões.

Sabemos que o Perispírito é o "modelo organizador biólogo, o arcabouço


fluídico do corpo físico, o qual mantém, estimula, e organiza o corpo, desde o
período embrionário. Sabemos, ainda, que é, através dele, que o Espírito atua
sobre o organismo. Chegamos a entender que nele reside a causa mais profunda
das doenças psíquicas e até orgânicas.

Assim é lembrada a possibilidade de a medicina do Espírito ser atuante,


através da reforma íntima de cada um de nós, da melhoria e do progresso
espirituais que redundem no aperfeiçoamento do Espírito e do Perispírito,
como seu órgão de atuação aqui na Terra. Mas entre essa admissão e a aceitação
de que se possa praticar uma cirurgia no Perispírito, com escalpelos fluídicos e
antissepsias angelicais, vai uma distância muito grande.

Os passes e outras formas de fluidoterapia podem, por meio: energéticos


ou fluídicos, reequilibrar o Perispírito dos pacientes, com influência benéfica
sobre o corpo físico. Nesse campo, André Luiz, em seus numerosos livros, nos
traz ensinamentos muito oportunos, principalmente em "Evolução em Dois
Mundos" e

"Nos Domínios da Mediunidade", cuja leitura recomendamos às pessoas


que quiserem se aprofundar no assunto.
Quanto à cirurgia espiritual, usando instrumentos cirúrgicos, e mais fácil
de ser avaliada e controlada. Todavia, envolve problemas de anestesia,
antissepsia, hemostasia e profilaxia das infecções. Geralmente, os médiuns que
operam não usam nenhum tipo de anestesia medicamentosa. As pessoas
operadas por Arigó nunca se queixavam de menor dor. Os opositores do
Espiritismo diziam que ele hipnotizava os pacientes.

HEMOSTASIA - O cirurgião mediúnico pode ter o poder de fazer parar o


sangue, por processos ainda desconhecidos, por nós.

Observamos, em numerosos casos operados por Arigó, a hemostasia


imediata, em casos de extração de pterígio, lipomas e cistos. Esta nossa
afirmação foi violentamente contestada pelo padre Quevedo, em artigo
publicado, na Revista Brasileira de Medicina n° 5 - outubro de 1980, páginas
252 a 260. Mas a contestação não tem o poder de fazer desaparecer um
fenômeno comprovado repetidamente.

ANTISSEPSIA - Será que os fluidos têm a capacidade de matar os germes?


Teoricamente há essa possibilidade, pois várias radiações conhecidas têm esse
poder, a começar pelos raios ultravioletas. Entretanto, a comprovação prática
não tem sido feita. E não seria difícil. Colheríamos material da pele no local em
que vai ser feita a incisão e faríamos cultura, para identificarmos e
quantificarmos os germes. Realizada a intervenção espiritual, deveríamos
colher, novamente, material das adjacências da incisão e fazer novas culturas.
Havendo desaparecimento ou redução no número dos germes anteriormente
existentes, seria o sinal de que algo os destruiu. Essa pesquisa tem sido
realizada para testar os antissépticos usados em cirurgia. Os melhores
destroem de 95 a 98 dos germes da pele, no local em que são aplicados.

Para afirmarmos que as intervenções espirituais se fazem sem


contaminação dos tecidos, é mister acompanharmos os doentes.
Lamentavelmente, isto não tem sido feito e é tão simples

... Nem mesmo Arigó, o único médium que conheci a realizar autênticas
intervenções, nem ele se preocupava em acompanhar os operados, por falta de
formação científica. Não era elaborado prontuário, nem uma simples ficha. Se
houve supurações, ninguém sabe; se houve recidivas dos pterígios ou tumores,
idem.
"Ah! ele se saiu muito bem e, no dia seguinte, a mulher disse que estava
ótima."

Isso não tem valor em conceituação médica, que exige provas objetivadas.
Todavia, a imprensa noticia, em termos sensacionalistas, e as curas miraculosas
são difundidas por toda a parte. Ai de quem, principalmente se for médico ou
Espírita, ousar lançar alguma dúvida!

Um cirurgião mediúnico, de atitudes teatrais, espetaculosas, perante


centenas de pessoas boquiabertas, passa o dedo na sola do sapato e, em seguida,
na incisão, dizendo que é feita a antissepsia espiritual. Essa atitude fere os mais
elementares princípios da técnica cirúrgica, da ética médica e Espírita.

C - CASO ARIGÓ

Acompanhei, em 1962, em Congonhas do Campo, MG, o médium Arigó.


Após voltar, participei de mesa-redonda na televisão, no programa de Aurélio
Campos, para o qual foram convidados:

Herculano Pires, drs. Alberto Lyra, Belline Burza, Luiz Monteiro de Barros
e eu, representando a Associação Paulista de Medicina, por pertencer à
Comissão de Defesa de Classe.

A discussão, sempre em alto nível, durou cerca de quatro horas. Em dias


subsequentes, Herculano Pires publicou uma série de reportagens sobre as
operações de Arigó (Diário de São Paulo dias 27 e 29 de julho de 1962; e 2, 3 e
9 de agosto). A reportagem do dia 2 de agosto foi dedicada a uma entrevista por
mim concedida, na qual, ao lado dos aspectos positivos do caso, fiz críticas a
erros ou omissões. Admiti, como reais, quatro operações que presenciei, e as
descrevi, mas critiquei o receituário de Arigó e o fato de não fazer controle
científico dos fenômenos.

Herculano Pires publicou, a seguir, um livro sobre o "Caso Arigó", que


teve repercussão internacional.

O grande cientista polonês, naturalizado americano, Henry K. Puharich,


veio ao Brasil, acompanhado de uma equipe de cientistas, para pesquisas sobre
o médium, trazendo instrumental moderno. Dirigiu-se a Congonhas. Iniciou os
trabalhos com resultados alentadores, mas foi obrigado a interrompê-los, dada
a invasão da imprensa, que impediu qualquer pesquisa, como ele me declarou,
desalentado.
Em dezembro de 1972, Puharich encaminhou-me carta, apresentando o
jornalista John G. Fulier (Wesport - Conn. - USA), que veio colher subsídios para
um livro que pretendia publicar, como, de fato, o fez (Arigó, o Cirurgião da Faca
Enferrujada). Nesse livro, há trechos da entrevista que lhe concedi. Como
consequência, o National Enquirer publicou também uma reportagem, citando
nossa opinião, com várias fotografias. O Magazine Neswe-ek (Inglaterra)
igualmente fez trabalho sobre Arigó. L'Here d'Ê-tre (Côte-D'or - França),
fevereiro de 1972, publica longa matéria dobre o médium. Diz o jornal:
"Lorsque le sang commence à couler a profusion, Arigó I'essuga au moyen d'un
morceau de coton hydrofile, ce qui eut pour effet de stopper I'hémorragie."

(Quando o sangue começa a correr em profusão, Arigó o enxuga com um


pedaço de algodão, que serve para estancar a hemorragia.)

Lamentavelmente, Arigó desencarnou muito cedo num desastre de


automóvel, e nenhuma pesquisa rigorosa chegou a ser feita.

Começaram a surgir êmulos de Arigó, em vários Estados do Brasil,


incorporando sempre o dr. Fritz, mas, na sua totalidade, tratava-se de
ambiciosos charlatães, sedentos de publicidade, todos eles fugindo a qualquer
controle científico, mesmo que fosse realizado por médicos ou outros
profissionais reconhecidamente espíritas. Dado o baixíssimo grau de cultura de
largas faixas da população, dada ainda a tendência mística do povo, as
grosseiras mistificações têm sido aceitas como curas reais, ainda mais que têm
cobertura publicitária de pessoas interessadas na sua autopromoção.

Mas voltemos ao caso Arigó. O exame ocular era realmente


impressionante, pois, às vezes, com movimento brusco, introduzia o canivete
entre o globo ocular e a pálpebra, estando de costas, coisa impossível de ser
feita por qualquer prestidigitador.

Tive oportunidade de acompanhar, de perto, os quatro casos operados,


segurando o braço dos pacientes (lipoma e cisto sinovial do punho) ou a cabeça
(pterígio). Procurei conversar com os pacientes, para verificar se não estavam
hipnotizados. Não se queixaram de nenhuma dor, estavam calmos, sentindo,
apenas, sensação de frio na região operada. Nunca se sentiu cheiro de éter ou
de outras substâncias, que costumam ser espargidas pelos charlatães, para
impressionar o auditório. A extração de um lipoma do antebraço durou apenas
30 segundos. Notei que Arigó não usava o instrumento cortante como nós
cirurgiões o fazemos. Ele friccionava a costa do canivete (não-cortante) e o
tecido ia se abrindo sozinho. Tenho a impressão de que o canivete seria até
desnecessário. Após a retirada da peça, a incisão não era suturada e o atendido
era encaminhado a um auxiliar, que recobria a região operada com curativo.
Infelizmente, não havia acompanhamento posterior, nem habitualmente o
exame anatomopatológico das peças.

Arigó não fazia autopromoção e era até rude para com as pessoas que o
procuravam. Mãos rudes de trabalhador, dedos grossos, escolaridade apenas
de curso primário. O que fazia tinha maior valor do que teria se ele fosse
cirurgião, pois um médico pode fingir-se mediunizado e atuar dentro de seus
conhecimentos e habilidades profissionais.

Com relação ao 'Caso Arigó", concluindo, eu diria: a rapidez e a habilidade


em pessoa leiga em medicina, a ausência de instrumental adequado e de
anestesia levam-nos a admitir que suas "operações" escapam às capacidades
normais de um cirurgião.

Seriam poderes supranormais ou seria mediunidade? Certos detalhes por


nós observados falam em favor da segunda hipótese.

Muitos me perguntam: Arigó curava? Se eu pudesse sintetizar, assim


responderia: que ele operava, não resta a menor dúvida, mas se curava, não
podemos responder. Vimo-lo operar cistos e recusar atender a casos mais
graves. O cisto ou o pterígio não estavam prejudicando. Se o Plano Espiritual
quisesse ou pudesse resolver o problema do câncer, não incumbiria um
modesto camponês do interior de Minas Gerais de operar algumas dezenas de
casos. Se aqueles dedicados cientistas de todo o mundo, que buscam em
laboratórios os processos curativos desse mal, fossem inspirados pelos
Espíritos luminares, isto levaria à cura milhões de pessoas. Mas seria esse o
objetivo do Plano Espiritual? E a Lei de Causa e Efeito? Para nós, Arigó não veio
para ser um curador a mais, porém para chocar e traumatizar os homens da
Ciência e do povo, em geral, chamando a atenção para os poderes do Espírito,
bem como para a comunicabilidade dos Espíritos.

Lembremos o trabalho de William Crookes. As materializações de Katie


King não visaram trazer benefício físico a ninguém, mas abalaram o mundo
científico, provando aos homens a existência dos Espíritos e trazendo a prova
científica da sobrevivência, após a morte, Crookes, sempre duvidando, sempre
criando novos métodos de controle, pôde expor ao meio científico fatos
autênticos, que revolucionaram as ideias filosóficas e religiosas. O mesmo
deveríamos fazer nós, com relação às curas espirituais.

Buscá-las, estudá-las, submetê-las às mais exigentes condições de


controle. Não aceitarmos, como vem sendo feito, fanaticamente, tudo o que
surge e, em torno de fenômenos não-comprovados, não fazermos alardes
publicitários e exibições teatrais.

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