VERSAO FINAL Luciene Leal
VERSAO FINAL Luciene Leal
VERSAO FINAL Luciene Leal
SALVADOR
2020
LUCIENE LEAL ALVES GOES DOS SANTOS
ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA:
PESQUISA-AÇÃO NA EJA EM UMA ESCOLA MUNICIPAL DE
SALVADOR
SALVADOR
2020
FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
Dados fornecidos pelo autor
CDD: 374
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
Reconhecido Homologado pelo CNE (Portaria MEC nº 1009, DOU
de 11/10/13, seção 1, pág. 13.)
FOLHA DE APROVAÇÃO
AC Atividade Complementar
AEE Atendimento Educacional Especializado
AIPD Ano Internacional das Pessoas Deficientes
BNCC Base Nacional Comum Curricular
CENAP Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico CME
Conselho Municipal de Educação
CNE Conselho Nacional de Educação
CNFP Congresso Nacional de Formação de Professores CONFINTEA
Conferência Internacional sobre Educação de Adultos DOM Diário
Oficial do Município
DPEE Diretoria de Políticas de Educação Especial EJA
Educação de Jovens e Adultos
EMNSA Escola Municipal Nossa Senhora dos Anjos FEBEC
Federação Brasileira de Entidades de Cegos FENEIS
Federação Nacional de Educação de Surdos GR Gerência
Regional
IBP Instituto Bom Pastor
ICAE Conselho Internacional de Educação de Adultos LBI Lei Brasileira de
Inclusão / Estatuto da Pessoa com Deficiência LDB Lei de Diretrizes e Bases
LIBRAS Língua Brasileira de Sinais
MEC Ministério da Educação e Cultura
MORHAM Movimento de Reintegração dos Hansenianos MPEJA Mestrado
Profissional em Educação de Jovens e Adultos ONEDEF Organização
Nacional de Entidades de Deficientes Físicos ONG Organização Não
Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PDE Plano de Desenvolvimento da Escola
PDI Plano de Desenvolvimento Individual
PICEB Projetos Inovadores para Educação Básica PNA Programa
Nacional de Alfabetização de Adultos PNE Plano Nacional de
Educação
PPP Projeto Político Pedagógico
PROGEI Programa de Educação Inclusiva
RMS Rede Municipal de Salvador
SECADI Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
SECULT Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Lazer SEESP Secretaria de Educação
Especial
SEJA Segmento da Educação de Jovens e Adultos
SMED Secretaria Municipal de Educação
SRM Sala de Recurso Multifuncional
TA Tecnologia Assistiva
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNEB Universidade do Estado da Bahia
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Cidadania e a Cultura UTI
Unidade de Terapia Intensiva
SANTOS, Luciene Leal Alves Goes dos. Estratégias pedagógicas para alunos com
deficiência: pesquisa-ação na EJA em uma Escola Municipal de Salvador. 2020. Orientadora:
Prof.ª Dr.ª Patrícia Carla da Hora Correia. 145 f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Mestrado Profissional em Educação de Jovens e Adultos – MPEJA, Universidade do Estado
da Bahia, Salvador, 2019.
RESUMO
Esta pesquisa discute sobre às estratégias pedagógicas para alunos com deficiência na
Educação de Jovens e Adultos (EJA), em uma escola municipal de Salvador. A pergunta
direcionadora nos faz refletir sobre quais estratégias pedagógicas são utilizadas para alunos
com deficiência na EJA II, na Escola Municipal Nossa Senhora dos Anjos. O objetivo geral
foi compreender às estratégias pedagógicas utilizadas em uma escola municipal de Salvador
para trabalhar com alunos com deficiência na EJA II. Os objetivos específicos buscaram
discutir os processos epistemológicos, históricos e legais da EJA e sua interface com a
Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva; identificar quais estratégias
pedagógicas são utilizadas pelos professores com alunos com deficiência na EJA II; realizar
encontros formativos para os professores da EJA II, atendendo às suas demandas identificadas
no questionário respondido, bem como a socialização de possíveis estratégias pedagógicas. A
trajetória metodológica insere-se numa abordagem qualitativa, fundamenta-se na pesquisa
ação. Os dispositivos de coleta de dados utilizados são: pesquisa documental, questionário e
entrevista. Esse questionário foi utilizado como subsídio para a organização dos encontros
formativos e, posteriormente, utilizado no término dos mesmos para verificar quais os
avanços alcançados. A pesquisa tem como aporte teórico, reflexões acerca da Educação
Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva e a Educação de Jovens e Adultos. A análise e
a interpretação dos dados apontam para a necessidade de aprender com as diferenças e
entender que incluir é muito mais do que estar presente em um espaço físico. Para fazer com
que a inclusão escolar aconteça de forma integral, é preciso se dispor a conhecer cada dia mais
e manter um diálogo com seus pares como uma possibilidade necessária e possível. Como
produto final, disponibilizamos no site da orientadora os conhecimentos produzidos nos
encontros formativos através de trechos dos relatos dos professores, os slides, os materiais
trabalhados e socializados nos encontros formativos, para que outros interessados tenham
acesso e possam utilizá-los. Acreditamos que, desta forma, iremos contribuir de forma
significativa para a concretização dos caminhos possíveis da inclusão dos jovens e adultos
com deficiência.
ABSTRACT
This research discusses the pedagogical strategies for students with disabilities in Youth and
Adult Education (EJA) in a municipal school in Salvador. The guiding question makes us
reflect on what pedagogical strategies are used for students with disabilities in EJA II at the
Municipal School Nossa Senhora dos Anjos. The general objective was to understand the
pedagogical strategies used in a municipal school in Salvador to work with students with
disabilities in EJA II. The specific objectives sought to discuss the epistemological, historical
and legal processes of EJA and its interface with Special Education from the perspective of
Inclusive Education; identify which pedagogical strategies are used by teachers with students
with disabilities in EJA II; and hold training meetings for EJA II teachers, meeting their
demands identified in the answered questionnaire, as well as the socialization of possible
pedagogical strategies. The methodological trajectory, inserted in a qualitative approach, is
based on action research. The data collection devices used are: documentary research,
questionnaire and interview. This questionnaire was used as a subsidy for the organization of
the formative meetings and, later, it was used at the end of them to verify the progress
achieved. The research has as theoretical contribution reflections on Special Education from
the perspective of Inclusive Education and the Education of Youth and Adults. The analysis
and interpretation of the data point to the need to learn from the differences and understand
that including is much more than being present in a physical space. In order to make school
inclusion happen in an integral way, it is necessary to be willing to get to know each day more
and maintain a dialogue with peers as a necessary and possible possibility. As a final product,
we made available on the advisor's website the knowledge produced in the formative
meetings through excerpts from the teachers' reports, the slides, the materials worked and
socialized in the formative meetings, so that other interested parties have access and can use
them. We believe that, in this way, we will contribute significantly to the realization of the
possible paths for the inclusion of young people and adults with disabilities.
1
Neste momento, peço licença aos leitores para redigir o texto desta seção na primeira pessoa, bem como para
fazer uso do feminino, por compreender que essa subjetividade relata a história de vida de um ser único e
incompleto, que envolve percepções pessoais acerca dessa pesquisa.
16
encantada com a determinação daquelas pessoas: eu precisava oferecer o melhor de mim para
elas. Essa foi à minha segunda experiência com alunos jovens e adultos. Aprendi com eles que
era necessário ter um olhar e uma escuta sensível. É essencial valorizar todas as formas de
conhecimento, estabelecendo relação entre a área educacional e os outros campos do saber,
aplicados à Educação de forma interdisciplinar. Utilizei todas às estratégias metodológicas
que foram possíveis para lidar com esse desafio. Porém, trabalhar com pessoas com faixas
etárias tão diferentes, era instigante. Então, decidi fazer uma Especialização em EJA, na
Universidade do Estado da Bahia (UNEB). No turno matutino, trabalhava numa escola
particular de Educação Infantil: foi quando tive contato pela primeira vez com um aluno com
deficiência. Ele era autista não-verbal, porém escutava. Sempre foi muito ativo, carinhoso e,
no parquinho, gostava de brincar sozinho. Raramente olhava nos olhos. Na minha formação
pessoal e acadêmica, nunca tinha tido contato diário com pessoas com deficiência. Eu não
sabia direito como lidar com ele, nem quais caminhos seguir. Então, decidi ensiná-lo da
mesma forma como eu fazia com os outros alunos. Naquele contexto, escutar e observar se
tornaram ferramentas ainda mais preciosas. Foi na ação que percebi quais estratégias que
davam certo e quais eu precisava aperfeiçoar.
O tempo passou, prestei concurso para a Prefeitura Municipal de Salvador, e lecionei
para alunos do fundamental - Anos Iniciais e para jovens e adultos, no noturno. Entrei grávida
de quatro meses. Essa adaptação do primeiro ano foi bem difícil. Os polos extremos entre as
redes pública e privada eram muito grandes. A falta de estrutura mínima de trabalho era o que
mais me inquietava naquele primeiro momento; mas, com o passar dos meses, compreendi
que as carências não eram somente materiais e estruturais. Como não havia coordenador
pedagógico nessa primeira escola que lecionei, consegui trazer algumas contribuições para o
grupo devido à minha experiência como coordenadora pedagógica na rede particular. Nas
reuniões com os outros professores, começamos a organizar melhor o tempo pedagógico dos
alunos.
Meu primeiro filho nasceu. No momento do parto, não respirou, ficou na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) por 15 (quinze) dias. Começava então uma jornada de
acompanhamentos médicos e estimulação precoce, porque ele andava com o pé direito na
ponta do pé e aos 04 (quatro) anos, ele foi diagnosticado com paralisia cerebral. Foi nessa
época que adentrei de vez no universo da deficiência, fato que se tornou mais um motivo para
o fortalecimento dessa militância. Mesmo tendo recursos e acompanhamento de especialistas,
17
precisei estar atenta às necessidades dele e buscar estratégias diárias de superação. Após três
anos, o segundo filho nasceu, positivamente precisava dividir essa atenção. Na sala de aula não
era diferente: com meus alunos com deficiência, sempre trabalhei para transformar os limites
em desafios, para depois superá-los. Hoje, compreendo que muitas das dificuldades que
enfrentei foram por falta de experiência e preparo na minha formação. Apesar de buscar
continuamente essa construção, eu poderia ter errado menos. Não que o erro não seja
importante, mas muitos equívocos poderiam ter sido evitados. Neste percurso, entre ser
formada e ser formadora, aprendi que a experiência aliada à vontade de fazer a diferença na
vida dessas pessoas são os fatores que me motivam. E compreendo que existe uma grande
necessidade dos sujeitos dentro da escola, de serem compreendidos na sua história de vida e
em suas reais necessidades.
Aliados às dificuldades dos alunos de aprenderem, estavam o contexto familiar, os
conflitos vivenciados e as dificuldades de ressignificar as nossas estratégias como professores.
Eu sempre gostei de estudar, e ver aquelas pessoas depois de anos afastadas da sala de aula
são o que ainda mantinham aceso o desejo de estudar, sempre me conquistou. O desafio diário
de conciliar essa realidade com tantas outras não é uma tarefa simples, e exige do profissional
um grau de competência cada vez maior, bem como mais habilidades consolidadas.
Para poder melhorar essas estratégias, prestei outro concurso, e hoje também atuo
como coordenadora pedagógica na Rede Municipal de Salvador (RMS). As queixas sobre a
Educação Especial e a falta de uma formação específica do grupo de professores que agora
coordenava persistiam. A prefeitura costuma realizar encontros, palestras e formações, porém,
são ações pontuais. Então, senti a necessidade de fazer outra especialização, desta vez, em
Educação Especial, a qual me apresentou um mundo de possibilidades em um outro cenário
educacional inclusivo. Aprendi que precisamos garantir o direito de todos à aprendizagem
significativa, que emancipa o sujeito, respeitando às suas particularidades.
Nesse ínterim, percebo que a inclusão tem sido bastante debatida e adquire, na
atualidade, relevância e destaque, uma vez que existe uma busca pela construção da qualidade
de ensino para todos, um ensino comprometido com a formação da cidadania, aliado às
legislações educacionais em vigor. Esse processo de elaboração das ações é organizado nas
trajetórias da escolarização, nas vivências e nas trocas de experiências. E esse espaço
desafiador de produção de conhecimento no ambiente escolar pode oportunizar aos
professores prosseguirem em suas reflexões e conferirem procedimentos necessários para uma
efetiva inclusão dos alunos com deficiência na modalidade da EJA.
18
experiências, fazer pesquisas e ler trabalhos, com certeza fez parte da concretização desse
desafio.
Por consequência, esta pesquisa foi definida principalmente em razão de eu ter
encontrado nas escolas da rede municipal de Salvador, nas quais trabalhei essa dificuldade de
selecionar estratégias pedagógicas para utilizar com os alunos com deficiência na EJA. É
preciso analisar a questão dos desafios vivenciados nesse contexto onde, por falta de
informação e/ou preconceito por parte dos professores, esses sujeitos esbarram nas limitações
que os impedem de crescer cognitivamente dentro das suas potencialidades. É indispensável
que esse profissional tenha um repertório de conhecimentos para aperfeiçoar o seu fazer em
favor desses ou de quaisquer outros alunos.
De acordo com os dados coletados no site2da Rede Municipal de Salvador, constavam
433 (quatrocentas e trinta e três) escolas municipais, com 137.502 (cento e trinta e sete mil,
quinhentos e dois) alunos no ano de 2019. Dentre esses alunos, 4.940 (quatro mil, novecentos
e quarenta) são declarados no sistema de matrícula com algum tipo de deficiência. Da EJA,
participam 15.474 (quinze mil, quatrocentos e setenta e quatro) alunos, sendo esse
quantitativo subdividido em Gerências Regionais, a saber: Cabula, Cajazeiras, Centro, Itapuã,
Liberdade, Orla, Pirajá, São Caetano, Subúrbio I, Subúrbio II e Cidade Baixa. A Escola
Municipal Nossa Senhora dos Anjos (EMNSA), que é o campo de atuação desta pesquisa, é a
quarta maior escola em quantidade de alunos, que faz parte da Gerência Regional (GR)
Centro, que tem um total de 42 (quarenta e duas) escolas (2019).
Especificamente, encontram-se 605 (seiscentos e cinco) alunos com algum tipo de
deficiência na EJA, na rede municipal. Quando partimos para a EMNSA, são 734 (setecentos
e trinta e quatro) alunos, dentre os quais, 32 (trinta e dois) alunos com alguma deficiência. A
EJA II, que funciona no noturno, tem 173 (cento e setenta e três) alunos e, dentre estes, 04
(quatro) são alunos declarados no sistema de matrícula com alguma deficiência. Esses sujeitos
com deficiência precisam ser assistidos e visibilizados, o que justifica a relevância social
desta pesquisa.
Quando consideramos somente as limitações desses sujeitos, deixamos de olhar para a
pessoa, sendo ela com ou sem deficiência. A compreensão dessa concepção pode provocar
uma mudança de atitude, fazendo com que esse sujeito possa usufruir do direito à educação,
tornando-se sujeito autônomo. Essa ação não é uma tarefa fácil; mas, com certeza, é
desafiadora, porque nos faz refletir sobre a organização social, administrativa e política da
2
CADASTRO ESCOLAR. Educação Infantil. Salvador, 2019. Disponível em:
<https://www.educacao.salvador.ba.gov.br>. Acesso em: 05 janeiro 2020
20
escola, e nos faz pensar sobre o verdadeiro sentido desse espaço, evidenciando suas diferenças
e contradições.
A pergunta de partida que nos levou a tentar entender essa inquietação foi: quais
estratégias pedagógicas são utilizadas para alunos com deficiência na EJA II na
EMNSA? Ela nos provoca a pensar, não somente na ação, mas em como essas estratégias
pedagógicas estão acontecendo, e se realmente atendem às especificidades desses alunos. A
Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva perpassa exatamente por esse viés, de
uma Educação que respeita as diferenças, e efetivamente inclui.
Como objetivo geral, busquei compreender às estratégias pedagógicas utilizadas em
uma escola municipal de Salvador para trabalhar com alunos com deficiência na EJA II. Os
objetivos específicos foram: discutir os processos epistemológicos, históricos e legais da EJA
e sua interface com a Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva; identificar
quais estratégias pedagógicas são utilizadas pelos professores com alunos com deficiência na
EJA II; realizar encontros formativos para os professores da EJA II atendendo às suas
demandas identificadas no questionário respondido, bem como a socialização de possíveis
estratégias pedagógicas. Os conhecimentos produzidos nos encontros formativos através de
trechos dos relatos dos professores, os slides, os materiais trabalhados e socializados serão
disponibilizados no site da orientadora para que outros interessados tenham acesso e possam
utilizá-los.
Para justificar esta pesquisa, acredita-se que é preciso identificar quais estratégias
pedagógicas estão sendo utilizadas com esses jovens e adultos com deficiência, para que suas
especificidades sejam visibilizadas. Nessa perspectiva, é preciso estabelecer uma relação
estreita com o direito de acesso à aprendizagem desses sujeitos, para que se possa enriquecer,
sobretudo, a vida desse aluno. É preciso pensar sobre o nosso fazer pedagógico para
conseguirmos, de fato, efetivar à sua inclusão. Esses sujeitos conquistaram o direito de
acesso; precisamos agora garantir à sua permanência e, consequentemente, a qualidade de
ensino.
Dessa forma, acredita-se que, como professores, podemos contribuir de forma
significativa para a concretização dos caminhos possíveis da inclusão dos jovens e adultos
com deficiência. Os sujeitos são diferentes, independentemente de alguns terem deficiência.
Essas diferenças inerentes aos sujeitos não nos permitem classificá-los como anormais ou
especiais. A questão é que algumas pessoas têm deficiências e outras não. Os seus direitos não
estão atrelados a nenhuma condição.
21
Quando eu analiso as políticas públicas para às pessoas com deficiência, seja ela a
Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), o Documento Subsidiário à Política de Inclusão
(PAULON; FREITAS, PINHO, 2005), a Resolução CME nº 022/2010 (BRASIL, 2010), que
estabelece normas para a Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva para todas
as etapas e Modalidades da Educação Básica no Sistema Municipal de Salvador, a Lei
Brasileira de Inclusão (BRASIL, 2015), dentre outras, percebe-se que existe um esforço para
atender essas pessoas. A questão agora é atender ao acesso equitativo, de participação contínua
e aquisição efetiva da aprendizagem como determina a Declaração Mundial sobre Educação
para Todos (UNICEF, 1990).
Para tanto, é preciso que essas políticas públicas sejam conhecidas e efetivadas, para
que cumpram os papeis aos quais se destinam. Para consolidar esse caminhar, os diálogos
entre à sociedade civil e os órgãos governamentais precisam ser ampliados, para que o
pensamento de exclusão seja superado. O mundo muda e com ele surgem outras concepções,
desestabilizando certezas e antigas verdades. Por esses e outros motivos é que nós professores
precisamos estar atentos à aprendizagem de todos os alunos, pois cada um é singular.
Esse cenário de exclusão teve início com a Educação Especial em um contexto de
comparação, inicialmente através do atendimento assistencialista. Em seguida, veio a fase da
segregação, através do atendimento dessas pessoas em grandes instituições especializadas. A
fase da integração foi quando as instituições de ensino passaram a receber essas pessoas e,
finalmente, após essa trajetória, o conceito foi ampliado e surgiu a inclusão. Essa inclusão
pretende nos fazer pensar sobre as particularidades dos sujeitos, tenham eles deficiência ou
não.
De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica
(BRASIL, 2001), a Educação deve focar no ensino e na escola, e não na deficiência do aluno.
Essa ação está associada à perspectiva da inclusão descrita na Política Nacional de Educação
Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), por compreender que a
escola deve trabalhar para enfrentar o desafio de se ajustar para considerar a diversidade dos
seus alunos.
Partindo desse contexto de inclusão, o aluno com deficiência na EJA também possui
suas especificidades de demandas e precisa do acesso ao conhecimento com as mesmas
condições de aprendizagem, através de situações didáticas cognitivamente desafiadoras. Para
fundamentar a discussão sobre EJA e Educação Especial, contei com alguns teóricos que me
fizeram pensar sobre a inquietação desta pesquisa, que é vislumbrar quais estratégias
pedagógicas são utilizadas para alunos com deficiência na EJA II. Para isso, foi necessário
22
3
EPISTEMOLOGIA. In: Dicio, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Disponível em:
<https://www.dicio.com.br/epistemologia/>. Acesso em: 05 janeiro 2020
25
01), que "toda pessoa tem direito à educação". No entanto, apesar do empenho de muitos
países do mundo para assegurarem esse direito, vários problemas ainda persistem, a saber:
analfabetismo funcional, falta de acesso de milhões de crianças ao ensino primário, um
número expressivo de adultos que não concluíram o ciclo básico, dentre outros.
Paiva (2006, p.520) entende que “a questão da educação de jovens e adultos assume a
perspectiva de inclusão em sociedades democráticas, e que esta inclusão passa a se dar pela
conquista de direitos”. Esse conceito fundamental faz parte do que é a EJA na
contemporaneidade, pois complementa o pensamento de que esse direito foi negado
historicamente e de que existe uma necessidade social na busca de acesso a outros direitos.
Essa promoção de cidadania e a tomada de consciência podem recuperar o tempo perdido.
Essa necessidade de recuperar o tempo perdido nos apresenta uma visão limitada do
verdadeiro sentido da EJA na vida desses sujeitos. O direito à educação é muito mais do que
associá-la à questão da escolarização, muito menos da alfabetização. É no processo de
aprendizagem que os sujeitos se humanizam. Para Arroyo (2017, p.63), é preciso “reconhecê
los sujeitos de valores, justiça, dignidade, equidade, de consciência de si e do mundo”.
Podemos perceber essa premissa também na concepção de Paiva (2006, p.522), quando diz
que a:
[...]visão ainda muito corrente de que a educação de jovens e adultos se faz para
recuperar o tempo perdido daqueles que não aprenderam a ler e a escrever; passando
pelo resgate da dívida social, até chegar à concepção de direito à educação para todos
e do aprender por toda a vida, as enunciações variaram, deixando no
imaginário social a sua marca mais forte, ligada à volta à escola, para fazer, no
tempo presente, o que não foi feito no tempo da infância e da adolescência. Para
além da alfabetização, o sentido cada vez se afastou mais, nas políticas públicas, das
conquistas e do reconhecimento do valor da educação como base ao
desenvolvimento humano, social e solidário. Mais do que alfabetização, o direito
constitucional de ensino fundamental para todos sintetizou o mínimo a que se
chegara: o de aprender a ler e a escrever com autonomia. Isso significa ter domínio
suficiente para, em processo de aprendizado continuado, se manter em condições de
acompanhar a velocidade e a complexidade do mundo contemporâneo, que exige
aprender continuadamente, por toda a vida, ante os avanços do conhecimento e a
permanente criação de códigos, linguagens, símbolos e de sua recriação diária. E
exige, para isso, não só o domínio da linguagem escrita, mas também competência
como leitor e escritor de seu próprio texto, de sua história, de sua passagem pelo
mundo. Exige, ainda, reinventar os modos de sobreviver, transformando o mundo.
Portanto, esse direito se estende à vertente da escolarização, e não o contrário. O
processo de aprendizagem precisa ser contínuo, pois, emancipa os sujeitos na perspectiva do
saber para entender as complexidades do mundo contemporâneo. Esse saber é para toda a vida
e ultrapassa os limites dos muros da escola. Por essa razão, o professor precisa valorizar o que
esses sujeitos apresentam de conhecimento de mundo para que, juntos, possam reinventar os
modos de sobreviver.
26
Outras características são as marcas econômicas e sociais que constituem traços dessa
exclusão na vida desses sujeitos. São características comuns observadas nesse universo de
trabalhadores e trabalhadoras informais, excluídos, em sua maioria negros, oprimidos
socialmente, e em condição social, cultural e política de desigualdade. Arroyo (2006a, p. 221)
respalda essa realidade quando nos lembra que a luta da EJA se confunde com os setores
populares:
Os olhares tão conflitivos sobre a condição social, política, cultural desses sujeitos
têm condicionado as concepções diversas da educação que lhes é oferecida. Os
lugares sociais a eles reservados – marginais, oprimidos, excluídos, empregáveis,
miseráveis... – têm condicionado o lugar reservado a sua educação no conjunto das
políticas oficiais. A história oficial da EJA se confunde com a história do lugar social
reservado aos setores populares. É uma modalidade do trato dado pelas elites
aos adultos populares. (ARROYO, 2006a, p.221)
Apesar dos desafios diários impostos a esses sujeitos, esse lugar reservado de
pensamento pedagógico progressista tem inspirado concepções e práticas avançadas e
criativas nas últimas quatro décadas, segundo Arroyo (2006a). Essa é uma outra vertente que
faz parte da memória da EJA e que, muitas vezes, apresenta-se de forma contrária na história
oficial. Esse direito precisa atender aos interesses populares, inserindo a EJA no contexto
legal como parte integrante do ensino fundamental e do ensino médio. Paiva (2012, p. 85),
complementa afirmando que:
Nos últimos anos, os serviços públicos de educação organizam sua oferta à medida
que sofrem a ação direta dos demandantes, em busca de direitos, como mostram
estudos recentes. Demandas populares por educação, e formas de negociação
estabelecidas com os poderes públicos, em defesa de serviços que lhes sabem
devidos, associam a educação popular a uma das fontes do poder da sociedade na
constituição do direito à educação de jovens e adultos, ao responder à luta dos
trabalhadores pela educação.
O que percebemos é que esse direito continua sendo negado na perspectiva das
dificuldades que esses sujeitos enfrentam, seja no acesso ou na sua permanência. Sabemos que
muito já foi feito, mas concordamos que muito ainda temos de fazer para que possamos, de
fato, ter essa garantia. Para entendermos agora como esse processo aconteceu dentro de um
aspecto histórico, vamos fazer um breve relato da história da EJA, a partir de movimentos
importantes que aconteceram nestes cenários.
diagnóstico da EJA e apontam seus desafios, através de um ambiente de diálogo social. Essa
contribuição amplia e fortalece o debate rumo à produção de novos saberes e perspectivas,
reafirmando o compromisso de fazer com que a Educação se torne um direito para toda a
vida.
Para realizar esse relato, contamos com a colaboração de Ireland e Spezia (2012), que
relataram que a I CONFINTEA aconteceu em 1949, na Dinamarca, num contexto de pós
guerra e de tomadas de decisões em busca da paz, da qual participaram 106 (cento e seis)
representantes de 26 (vinte e seis) países e 21 (vinte e uma) organizações internacionais. O
Brasil não participou desse encontro. A conferência indicou que a Educação de adultos teria
de ser adequada às especificidades e funcionalidades desse tipo de atendimento, levando em
consideração à comunidade escolar e a ampliação de mais ofertas. Essa especificidade
também é defendida por Soares (2011).
A II CONFINTEA aconteceu 11 (onze) anos após a primeira, em 1960, no Canadá, com
47 Estados-Membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência, e a
Cultura (UNESCO) e 46 (quarenta e seis) ONGs. Esse foi um período de grande crescimento
econômico e intensas mudanças no mundo. A conferência reforçou o importante papel da
EJA, entendida como uma tarefa mundial que os países desenvolvidos deveriam auxiliar
aqueles em desenvolvimento. Para Arroyo (2012, p. 27), foi neste período que a Educação
surge “como um processo de humanização de sujeitos coletivos diversos”.
Em 1972, no Japão, aconteceu a III CONFINTEA, com a participação de 82 (oitenta e
dois) Estados-Membros, dos quais 03 (três) na categoria de observador. O seu tema central foi
“A Educação de Jovens e Adultos no contexto da educação ao longo da vida”. Foi nessa
época que foi criado, em parceria com a UNESCO, o Conselho Internacional de Educação de
Adultos (ICAE), com sede no Uruguai. Outra iniciativa refere-se ao Relatório de Edgar Faure,
que é um documento que apresenta uma mudança de paradigmas existentes na Educação,
pois, é preciso Aprender a Ser. Nele foi reconhecido que a Educação de Jovens e Adultos
pode vir a fortalecer a democracia e diminuir as taxas de analfabetismo, promovendo o
desenvolvimento econômico, social e cultural das nações.
Assim, “Essa situação era ainda mais crítica em meados dos anos 1980, quando eram
raras as iniciativas de formação inicial voltadas para a EJA”. (SOARES, 2016, p. 51). Para
Arroyo (2012, p. 26), apesar dessa situação, neste período, “uma vasta literatura na área
social, política e pedagógica traz essa marca: trazer os sujeitos de volta.” Por essa razão,
apesar dos poucos incentivos governamentais, os professores – como qualquer outra profissão
– precisam estar atentos a investir na própria aprendizagem.
28
época, apesar dessas iniciativas, houve uma redução dos investimentos mundiais, como
podemos observar a seguir:
O balanço da educação de adultos realizado na ocasião, sintetizado no Chamado à
ação e à responsabilização, não foi otimista. Em quase todos os países houve
redução do financiamento público para a aprendizagem dos adultos, em grande
medida decorrente da prioridade concedida por agências internacionais (como o
Banco Mundial) e governos nacionais à educação primária das crianças e
adolescentes. O potencial de contribuição da educação de adultos à solução dos
conflitos globais, ao combate à pobreza, à redução da violência, à preservação do
meio ambiente e à prevenção da AIDS não tem sido adequadamente aproveitado.
(DI PIERRO, 2006, p.18).
O Brasil foi palco da VI CONFINTEA em dezembro de 2009. Ela teve como tema:
“Vivendo e aprendendo para um futuro viável: o poder da aprendizagem e da educação de
adultos”, e foi organizada através do Documento Nacional Preparatório a VI Conferência
Internacional de Educação de Adultos (BRASIL, 2009). Essa conferência fez um balanço das
ações até então realizadas e as conquistas ocorridas, e teve como foco principal à articulação
da Educação e da aprendizagem, e a ênfase na questão das políticas públicas.
Pode-se perceber neste breve relato, que a CONFINTEA fomentou vários momentos
de discussão e aprendizado sobre a situação da EJA, mas ainda percebemos ações
fragmentadas e marcadas pela descontinuidade, no que se refere aos numerosos programas
federais, estaduais e municipais. Essa conjuntura pode desmotivar os estudantes da EJA, seja
pelo fechamento de turmas ou pela falta de profissionais capacitados para trabalharem com
essa modalidade.
Nesse sentido, quando observamos a linha do tempo da EJA, é possível enxergar que
essas políticas perpassam por interesses econômicos e programas assistencialistas, com intuito
meramente político, de forma aligeirada, pontual. Para Soares (2019, p. 04), “não é possível
mais conviver com a improvisação, isto é, sua prática exige ações mais permanentes” na EJA.
Os desafios atuais se constituem em: aperfeiçoar as metodologias que considerem suas
especificidades; pensar novas formas de articular o mundo do trabalho e da tecnologia;
investir em formação continuada e renovar o currículo para uma perspectiva interdisciplinar e
transversal, dentre outras ações. Para Di Pierro (2006), é possível que ela se constitua como
direito e não um favor prestado em função assistencialista, seja dos governos, da sociedade ou
de empresários.
Para aumentar, flexibilizar, diversificar e qualificar as oportunidades educacionais, o
lugar da educação de jovens e adultos na agenda da política educacional terá de ser
revisto, e pelo menos dois desafios enfrentados: formar educadores e ampliar o
financiamento público. (DI PIERRO, 2006, p.23)
ainda não se consolidou. As autoras realizam uma reflexão histórica da EJA, tendo por base o
Parecer do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica (CNE/CEB) nº
11/2000 (BRASIL, 2000), direcionador da construção das Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação de Jovens e Adultos, de autoria do Conselheiro Professor Carlos Jamil Cury.
Nesse âmbito, a EJA é apresentada como fruto de luta, que existe e resiste numa sociedade
ainda muito elitizada.
Outro fator importante é que a EJA, quando limitada às práticas da escolarização,
reduz à sua possibilidade de reflexão, no sentido mais amplo. Dessa forma, sistematiza à sua
importância a uma ação mecânica de ler e escrever. Essa perspectiva pode ser ampliada no
sentido de uma Educação ao longo da vida, à qual os sujeitos têm direito, como terreno
propício para alcançar outras possibilidades. Podemos observar esse horizonte nas palavras de
Di Pierro; Joia; Ribeiro (2001, p. 58):
A educação de jovens e adultos é um campo de práticas e reflexão que
inevitavelmente transborda os limites da escolarização em sentido estrito.
Primeiramente, porque abarca processos formativos diversos, onde podem ser
incluídas iniciativas visando à qualificação profissional, o desenvolvimento
comunitário, a formação política e um sem número de questões culturais pautadas
em outros espaços que não o escolar. Além disso, mesmo quando se focalizam os
processos de escolarização de jovens e adultos, o cânone da escola regular, com seus
tempos e espaços rigidamente delimitados, imediatamente se apresenta como
problemático. Trata-se, de fato, de um campo pedagógico fronteiriço, que bem
poderia ser aproveitado como terreno fértil para a inovação prática e teórica. Quando
se adotam concepções mais restritivas sobre o fenômeno educativo, entretanto, o
lugar da educação de jovens e adultos pode ser entendido como marginal ou
secundário, sem maior interesse do ponto de vista da formulação política e da
reflexão pedagógica.
Esse olhar mais apurado de reflexão pedagógica é sustentado pela ideia de que o ser
humano está em construção permanente, ou seja, inconcluso. Sobre isso, Freire (2000, p. 55)
diz que “É por isso também que a educação é permanente. Como não se dá no vazio, mas num
tempo-espaço ou num tempo que implica espaço e num espaço temporalizado, a educação,
embora fenômeno humano universal, varia de tempo-espaço a tempo-espaço”. O autor
acreditava que esse movimento é necessário para a sobrevivência, para nos conhecermos
melhor, bem como os outros e a natureza. Isso era o que ele chamava de construção da nossa
humanidade, em que esse movimento de procura faz e refaz seu saber e vai muito além das
práticas de escolarização.
4
ESTRATÉGIA. Significados. 7Graus. 2020. Disponível em: <https://www.significados.com.br/estrategia/>.
Acesso em: 05 janeiro 2020
37
Foi na década de 1950 que surgiram as primeiras escolas especializadas dentro de uma
concepção assistencialista, com instituições filantrópicas de atendimento. Com a aprovação da
Declaração Universal dos Direitos da Criança e do Adolescente (ONU, 1959), o direito à
educação gratuita e obrigatória foi garantido. Já na década de 1960, surgiu o conceito de
Normatização, com o objetivo de assemelhar às pessoas com deficiência às “condições
normais” da sociedade. Neste período, os pais das crianças a quem esse direito era negado
iniciaram um movimento que resultou na aprovação de leis, decretos e emendas, através da
sensibilização da sociedade, o que poderia minimizar sua marginalização. Outro aspecto
interessante apresentado por Mendes (2006, p. 388-389) é que:
Um fator também crucial que influenciou a mudança na filosofia de serviços nas
décadas de 1960 e 1970 foi o custo elevado dos programas segregados, no contexto
da crise mundial do petróleo. Até então, apenas os países considerados
desenvolvidos haviam criado um sistema educacional paralelo para os portadores de
deficiências. A partir da década de 1960, passou a ser também conveniente adotar a
ideologia da integração pela economia que elas representariam para os cofres
públicos. [...] Paralelamente, ocorria a explosão da demanda por ensino especial
ocasionada pela incorporação da clientela que, cada vez mais, passou a ser excluída
das escolas comuns, [...] o que também ajudou na organização política de grupos
que passaram a demandar por mudanças. [...] Esses interesses foram atendidos em
diferentes países com o estabelecimento de bases legais que instituíram,
gradualmente, a obrigatoriedade do poder público quanto à oferta de oportunidades
educacionais para pessoas com deficiências, a instituição da matrícula compulsória
nas escolas comuns e de diretrizes para a colocação em serviços educacionais
segundo o princípio de restrição ou segregação mínima possível.
Na década de 1970, o conceito de reabilitação foi consolidado; porém, ainda sem
condições adequadas de atendimento para atingir a eficiência no âmbito escolar. Sobre esse
período, Jannuzzi (2004) declara que a Educação Especial ficou mais em evidência, tanto pela
oficialização de um setor responsável por ela, quanto pela realização de assembleias,
seminários, resoluções e declarações com o objetivo de ampliar o atendimento a essas
pessoas.
Sobre esse conceito, percebemos que a ideia vem sendo reformulada, tanto da
concepção clínica quanto da terapêutica, o que demonstra uma preocupação do ponto de vista
do desenvolvimento integral dos sujeitos com deficiência. Essa mudança de concepção
transforma o olhar pelo ser humano que, ao longo da história, foi classificado por parâmetros
físicos, mentais e sociais, gerando rótulos e estigmas e, portanto, não deve ser isolado dos
aspectos social e educacional.
Essa mudança de olhar provocou uma mudança de atitude: quando olhamos apenas
para as limitações dos sujeitos, restringimos às suas possibilidades. Na década de 1980,
39
5
Organização das Nações Unidas: organização internacional formada por países que se reuniram voluntariamente
para trabalhar pela paz e o desenvolvimento mundiais.
ONU. As nações unidas no Brasil. Brasília, 2020. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/conheca/>. Acesso
em: 05 janeiro 2020.
40
1990a), que foi aprovada na Conferência de Jomtien, na Tailândia, em que se falou das
necessidades básicas de aprendizagem, universalização do acesso e promoção da equidade,
com metas e princípios de atuação. Nesse ínterim, a Conferência Mundial de Educação
Especial (UNICEF, 1990b) contou com a participação de 88 (oitenta e oito) governos e 25
(vinte e cinco) organizações, e aconteceu na Espanha. A Declaração e a Conferência
apresentaram a expressão “pessoas portadoras de deficiências” e em seguida, temos também a
Declaração de Santiago (SANTIAGO, 1993).
Outro documento importante é a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994, p.1), que
aconteceu na Espanha, e afirma que “escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva
constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias, criando-se
comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para
todos”. Para isso, era preciso aprimorar a Educação de forma efetiva, incluindo todas as
crianças, independentemente das suas dificuldades e diferenças. Sobre essa concepção de
acolher, Albuquerque (2011) chama a atenção quanto ao significado dessa palavra, que quer
dizer considerar, reunir, juntar. Essa necessidade de estarmos juntos em acolhimento é o que
nos ensina a conviver.
Neste contexto, o Brasil continua sendo influenciado por manifestações internacionais,
e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) /1996 (BRASIL, 1996) aparece
pela primeira vez um capítulo sobre a Educação Especial, garantindo que esse atendimento
deve ser preferencialmente na rede regular de ensino, tornando obrigatório o acesso dos
alunos. O termo “preferencialmente” leva a acreditar que, em alguns casos, esse atendimento
não seria possível, e a Lei utiliza a expressão “portadores de necessidades especiais” para
falar das pessoas com deficiência.
A LDB (BRASIL, 1996) coloca que, quando necessário, o aluno deve ter acesso ao
serviço de apoio especializado na escola regular, e que, o ensino precisa atender às suas
necessidades com currículos, métodos, técnicas e recursos específicos. Sobre esses recursos,
Correia e Neves (2019, p. 10) reforçam que é através deles que “os educandos se identificam e
desenvolvem autoestima, imaginação, confiança, controle, criatividade, cooperação, senso de
percepção e o relacionamento interpessoal” funcionando como “veículo estimulador”. Além
disso, não podemos esquecer que um dos objetivos da educação escolar é que todos os alunos
aprendam a conviver em grupo, respeitando suas limitações e particularidades.
Dando continuidade a essas políticas, destacamos também as Diretrizes Nacionais para
a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001) e o Documento Subsidiário à
Política de Inclusão (PAULON; FREITAS; PINHO, 2005). As Diretrizes Nacionais (2001, p.
41
05) apresentam a educação como “principal alicerce da vida social”, que “transmite e amplia a
cultura, estende a cidadania, constrói saberes”. Por sua vez, o Documento Subsidiário (2005,
p. 05) tem como objetivo orientar os sistemas educacionais em espaços inclusivos e de
qualidade, “que valorizem às diferenças sociais, culturais, físicas e emocionais e atendam às
necessidades educacionais de cada aluno”.
Outro passo importante foi a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência (BRASIL, 2008, p. 16), que trata dos direitos humanos e um novo conceito sobre
deficiência, considerando que “Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de
longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial”. Essa Convenção acredita que
a deficiência pode dificultar a participação dessas pessoas na sociedade, em igualdade de
condições com outras pessoas, além de propor o enfrentamento das barreiras ambientais e
atitudinais.
Para Diniz (2007), o conceito de deficiência é muito mais do que a condição física
desse sujeito. Ela é parte constitutiva da identidade dessa pessoa, quando analisamos na
perspectiva dos campos sociológicos e políticos, além de conceitos médicos. Quando uma
sociedade busca atender às necessidades específicas desse corpo com lesão, sejam elas
psicológicas, de acessibilidade ou de aprendizagem, ele passa a ter mais autonomia. Assim, a
deficiência vai continuar existindo e, consequentemente, nossos conceitos de aprendizagem
serão revistos.
Em seguida, destacamos também a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), que merece nossa atenção quando trata
do acesso à educação de qualidade como um direito de todos os alunos. Segundo a Política,
para atender às especificidades do termo “integração” ao invés de “inclusão”, é preciso um
conjunto de ações interligadas:
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir:
acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade
nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de
educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta
do atendimento educacional especializado; formação de professores para o
atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação
para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade
arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e
informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas
públicas (BRASIL, 2008, p. 14).
42
Outra conquista decorrente da LBI (BRASIL, 2015) diz respeito à igualdade e a não
discriminação, pois estabelece no seu Art. 7º que “É dever de todos comunicar à autoridade
competente qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos da pessoa com deficiência”.
Essa afirmação realça a responsabilidade de todos sobre essa violação. A Lei estabelece à
necessidade do atendimento prioritário, do direito à vida, bem como o direito à habitação e à
reabilitação. Dispõe também indicações sobre moradia, direito ao trabalho, à assistência e
previdência social, à cultura, ao esporte, ao turismo, ao lazer, ao transporte e à mobilidade.
Em seguida, a LBI (BRASIL, 2015) transcorre sobre a acessibilidade, o acesso à
informação e à comunicação, às tecnologias assistivas (TA), ao direito à participação na vida
pública e política, e ao acesso à Justiça. Como podemos perceber, ela apresenta um
detalhamento de orientações e ações que podem ajudar às pessoas com deficiência a
conquistarem cada vez mais o seu espaço na sociedade. Segundo o site da Câmara Paulista
para Inclusão da Pessoa com Deficiência6, ela “mudou uma série de leis, como a
Consolidação das Leis do Trabalho, o Código de Trânsito Brasileiro e o Estatuto da Cidade.
[...] O Código Civil agora só considera incapaz a pessoa que, por algum motivo, não consegue
expressar a própria vontade”.
Percebemos que as estratégias que a LBI (BRASIL, 2015) aponta para a escola ser
inclusiva estão relacionadas às metodologias, aos espaços e aos materiais que devem ser
capazes de atender a todos, e que, portanto, não precisam ser preparados exclusivamente para
pessoas com deficiência. Ela indica que as aulas precisam ser oferecidas também em Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS), que exista o desenvolvimento acadêmico dos alunos com
deficiência, que materiais inclusivos como o Braile sejam utilizados, como também a oferta
de tecnologias assistivas. Para Sartoretto (2010, p. 01) “A única diferença que há entre as
pessoas ditas normais e as pessoas com deficiências está nos recursos de acessibilidade que
devem ser colocados à disposição dos alunos com deficiências para que possam aprender e
expressar adequadamente suas aprendizagens”.
Outra contribuição importante da referida Lei, são as orientações quanto ao acesso à
Justiça e o que acontece com quem desrespeita suas exigências. Nessa conjuntura, a
deficiência está no meio e não nas pessoas, deixando de ser uma característica para se tornar o
resultado da falta de acessibilidade que o Estado e a sociedade inviabilizam. Resultado:
quanto mais oportunidades e acessos, menores serão suas dificuldades segundo suas
6
CÂMARA PAULISTA PARA INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. LBI, garante novos direitos
às pessoas com deficiência. São Paulo. 2020. Disponível em: <https://www.camarainclusao.com.br/noticias/lbi
garante-novos-direitos-as-pessoas-com-deficiencia/>. Acesso em: 05 janeiro 2020
44
parece, à primeira vista, algo simples, mas está carregado de significados que expressam a
concepção de um contexto histórico, impregnado de valores. Isso reverbera no conceito de
deficiência que evolui e se identifica com as concepções de sociedade descritas no preâmbulo
da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2007, p. 01-02): “a
deficiência é um conceito em evolução e resulta da interação entre pessoas com deficiência e
as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação
dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”.
Independente da nossa vontade e da nossa formação, precisamos enfrentar o mito da
homogeneização, pois somos diferentes por natureza, temos os mesmos direitos e a escola é
para todos. Sabemos e concordamos com esses princípios. Entretanto, quando estamos
envolvidos em situações diversas, costumamos agir de forma confortável, com ferramentas
que já fazem parte do nosso repertório pedagógico. Nesse sentido, vale dizer que os alunos da
Educação Especial estão em desvantagem, pois a maioria das pessoas podem não ter
convivido com pessoas com deficiência durante à sua formação. Portanto, vamos precisar de,
na caminhada, construir e reconstruir conceitos, o que pode levar um tempo para acomodação
e maturidade.
Aliados a essa realidade, temos os sujeitos da EJA que já têm em si suas
especificidades. Por essa razão, acreditamos no conceito de deficiência que se caracteriza pela
falta de acessibilidade, no sentido mais profundo que essa palavra possa representar, que
inclui o social e o atitudinal. O acesso pode promover uma qualidade necessária que ajuda
esse ser a usufruir de uma vida mais plena de direitos, com menos dificuldades. Esse
pensamento comunga com a percepção de que somos todos seres humanos, que precisamos
olhar primeiro para a pessoa e não somente para à sua deficiência.
Hoje, temos legislações que abordam o tema da inclusão nas escolas de ensino regular,
que determinam diretrizes e embasamentos necessários para que os trabalhos se efetivem.
Esse desafio precisa ser acolhido dentro da proposta curricular das instituições. A escola,
como instituição social, precisa veicular os saberes por meio de relações dialógicas e criação
de vínculos, no sentido de romper com a lógica da exclusão. Nessa perspectiva, precisamos
validar que o processo de conhecimento de cada aluno é singular e repleto de aprendizagens
significativas.
O diálogo permanente é uma das medidas mais eficazes no combate à falta de
informação e ao preconceito. Apesar dos aparentes avanços, é preciso que todos se envolvam
(escola, família, poder público) para que os direitos desses alunos sejam garantidos e a escola
se torne de fato inclusiva, independente de qualquer particularidade. Por essa razão, Correia;
46
Rocha; Santos (2020, p.250) afirmam que “A educação inclusiva não pode ser vista como
modismo, mas sim como uma nova forma de enxergar o mundo”, pois é assim que é
construída uma sociedade inclusiva, que oferecem oportunidades para que todos possam
conquistar sua autonomia.
Destarte, o conceito de inclusão compreensiva surge na medida que parte do fazer, do
real e não apenas do ideal (CORREIA, 2013). Esse conceito mais democrático reconhece as
dificuldades, porém propõe ajustes para cada situação, através de um processo de construção
contínuo, alternativo. A ação coletiva ajuda a minimizar as dificuldades e motivam as pessoas.
A escola, neste contexto, democratizou-se em relação à diversidade, mas não a novos
conhecimentos. Sobre isso, Mendes (2015, p.16) confirma que a escola “infelizmente continua
mantendo um padrão ideal aluno, [...] e que na escola não há lugar para a diversidade”.
A inclusão das pessoas com deficiência é algo possível dentro dessa ação coletiva, que
ultrapassa a readequação e a estrutura física, e aponta que temos uma tendência a nos
desviarmos de uma mudança efetiva de nossos propósitos e práticas. Essa concepção de
Mantoan (2003, p.16) remete à ruptura de paradigmas e, consequentemente à inclusão:
As escolas inclusivas propõem um modo de organização do sistema educacional que
considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas
necessidades. Por tudo isso, a inclusão implica uma mudança de perspectiva
educacional, pois não atinge apenas alunos com deficiência e os que apresentam
dificuldades de aprender, mas todos os demais, para que obtenham sucesso na
corrente educativa geral.
Esse é um dos desafios a ser superado, dentro da estrutura educacional que
conhecemos atualmente, com seus paradigmas cristalizados. Sobre isso, Mantoan (2003, p.12)
diz que “É inegável que os velhos paradigmas da modernidade estão sendo contestados e que
o conhecimento, matéria-prima da educação escolar, está passando por uma reinterpretação”.
A autora complementa afirmando que o mapa da Educação está sendo retraçado e que, para
isso, às diferenças da diversidade humana precisam ser cada vez mais desveladas e
destacadas: essa é uma condição imprescindível para compreendermos a nós mesmos e ao
mundo a nossa volta.
7
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Noticias. Salvador, 2019. Disponível em:
<http://educacao.salvador.ba.gov.br/noticias/>. Acesso em: 05 janeiro 2020
48
Inclusivos.
2019 SMED realiza Profissionai Tornar a capital baiana a primeira cidade a ter
capacitação s da toda sua rede municipal capacitada para
para educação e identificar os sinais precoces do Transtorno
profissionais saúde do Espectro Autista (TEA)
da educação
reconhecerem
os sinais de
autismo
crianças, adolescentes, jovens e adultos com deficiência. Inclusive, essa iniciativa não foi
contemplada no Quadro 01 porque não foi organizada pela SMED, mas por uma GR que faz
parte da Coordenadoria Regional da SMED. Apesar da indicação desse público, quando
analisamos à sua programação, percebemos que as temáticas não são direcionadas. A primeira
temática foi tratada no turno matutino, os aspectos legais da Educação Inclusiva através de
uma representante do Ministério Público. Em seguida, falou-se sobre o AEE, a avaliação
diferenciada e o papel da educação hospitalar e domiciliar. No turno vespertino, tratou-se das
TA, da matemática e das linguagens.
Outro fato interessante é que, durante esse período, não foi identificada nenhuma
formação que trabalhasse com a Educação Especial e a EJA juntas, ou que vinculasse às
especificidades dessas modalidades de ensino, o que nos preocupa. Acreditamos que, na rede,
encontrem-se vários professores com conhecimento técnico e científico, inclusive com
formação específica, atuando na EJA, e que tenham alunos com deficiência em suas salas de
aula que poderiam ser convidados pela SMED para fazer um seminário para compartilhar
experiências. É preciso trabalhar com essas especificidades, para que o fazer pedagógico seja
fortalecido. Sobre isso, Silva; Nunes (2020, p.76) dizem que:
Os docentes precisam ter uma formação que contemple os desafios para a inclusão,
os quais se apresentam nas mais variadas formas e contextos. Assim, os processos
de formação precisam ser discutidos e rediscutidos para que as práticas pedagógicas
sejam refletidas a partir da ressignificação da inclusão como paradigma escolar.
Como podemos verificar na prática, ainda encontramos barreiras, sejam elas de ordem
política, financeira ou social. Às vezes falta um olhar mais apurado, uma atitude sensível e um
querer fazer efetivo. É assim que pretendemos educar para a cidadania e para o respeito à
diversidade. Os professores precisam aprender a estimular o potencial dos alunos com
deficiência na EJA, valorizar suas particularidades. Nesse sentido, o órgão central que é à
SMED precisa efetivar esses encontros e fazer valer o que está no seu regimento.
50
4 A TRILHA METODOLÓGICA
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1987, p. 39).
Nesta quarta seção nos imbuímos da tarefa de apresentar os caminhos percorridos na
pesquisa, numa esteira de dispositivos necessários à trilha metodológica, que foram sendo
formados a partir do referencial da problemática condutora, que são às estratégias pedagógicas
utilizadas para alunos com deficiência na EJA II na EMNSA. Essa inquietação perpassa pela
abordagem qualitativa, a trajetória da pesquisa-ação, o lócus, os sujeitos, os dispositivos, a
dinâmica e à análise interpretativa.
O conceito de pesquisa aqui entendido, compreende uma investigação atribuída à
descoberta de novos conhecimentos, através de parâmetros científicos. Seus dispositivos
precisam estar entrelaçados, para que possam contribuir com as reflexões necessárias à sua
caminhada. Eles estão longe de ser um fim em si mesmo, pois podem deixar uma perspectiva
variada de interrogações, as quais poderão ser aprofundadas e gerarem outros
questionamentos, outras reflexões.
Dessa maneira, esta seção descreve o percurso realizado para, enfim, chegar ao
produto final. A seguir, vamos apresentar o planejamento das etapas e, posteriormente, de
forma detalhada, descrever todos os elementos trazidos na Figura 01.
Figura 1 – Desenho Metodológico
tiveram acesso aos dados e documentos que são destacados nesta pesquisa. Além disso, temos
atualmente na EMNSA 734 (setecentos e trinta e quatro) alunos, dentre eles 32 (trinta e dois)
com alguma deficiência no diurno e 04 (quatro) na EJA II, e 50% dos professores trabalham
na escola em todos os turnos. Por isso, acreditamos que as reflexões irão perpassar por todos
os segmentos.
O aporte teórico utilizado contribuiu no sentido de nos fazer entender qual a
importância de conhecermos os processos epistemológicos, históricos e legais da EJA. Em
relação à Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva, esse aporte nos ensinou o
quanto ainda precisamos nos apropriar sobre o caminhar dessa modalidade de ensino,
conhecendo e valorizando à sua trajetória: de lutas e vitórias. Esse repensar foi possível
através dos encontros formativos, em que vivenciamos o quanto é importante que tenhamos
esses conhecimentos compartilhados e, dessa forma, pudemos repensar sobre às estratégias
pedagógicas que estamos utilizando com esses jovens e adultos com deficiência.
8
Lamentação; expressão de sofrimento; queixa.
53
realidade, pois existe interferência dos sujeitos envolvidos. Outra questão é que, ao realizar
uma pesquisa no contexto educativo, a postura crítica se faz presente para que se percebam as
relações entre os sujeitos envolvidos e o objeto da pesquisa. Thiollent (1986p.14) nos certifica
de que ela é um:
[...]tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em
estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no
qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema
estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
Essa ação perpassa pela resolução de um problema vivenciado na realidade do grupo
e, por esse motivo, existe um envolvimento mútuo, pois todos tendem a ser beneficiados.
Thiollent (1986, p.16) ainda complementa, descrevendo seus principais aspectos:
a) há uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na
situação investigada; b) desta interação resulta a ordem de prioridade dos problemas
a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação
concreta; c) o objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela
situação social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nesta situação;
d) o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer
os problemas da situação observada; e) há, durante o processo, um acompanhamento
das decisões, das ações e de toda a atividade intencional dos atores da situação; f) a
pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-se aumentar
o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou o ‘nível de
consciência’ das pessoas e grupos considerados.
Assim, a pesquisa-ação agrega várias técnicas de pesquisa social numa estrutura
coletiva e participativa, que capta informações relevantes. Sua finalidade é prática, como
requer a essência desta pesquisa, que está de acordo com as exigências de um papel ativo na
realidade dos fatos observados, através de uma interação entre o pesquisador e às pessoas
implicadas na ação. A análise do objeto investiga à sua relação com o sujeito, compreende a
diversidade e supera a limitação de uma descrição, considerando suas qualidades, limitações e
distorções. Miranda e Resende (2006, p. 511) confirmam esse pensamento quando dizem que
a pesquisa-ação:
Se define por incorporar a ação como sua dimensão constitutiva [...] que articula a
relação entre teoria e prática no processo mesmo de construção do conhecimento [...].
Além disso, a própria investigação se converteria em ação, em intervenção
social, possibilitando ao pesquisador uma atuação efetiva sobre a realidade estudada
[...] em uma modalidade de pesquisa que considera a intervenção social na prática
como seu princípio e seu fim último.
Trata-se, então, de assumir uma unidade entre o sujeito e o objeto, em que esse objeto
não se revela pela descrição, mas por sua apreensão e compreensão da diversidade. O objeto
assume uma postura singular e ao mesmo tempo universal, particular e total, que não se revela
imediatamente, mas se explica, compreende e revela. Afinal, “somente um paradigma da
complexidade poderia apreender o ser humano” (MIRANDA; RESENDE, 2006, p. 515).
55
dialógica, que pode promover saltos qualitativos dentro do fazer pedagógico de todos os
envolvidos. Para ilustrar essa ideia do fazer fazendo, apresentamos a Figura 02: Figura 02 –
Representação da Pesquisa-ação para Thiollent
Fonte: Thiollent (1986)
Portanto, para Thiollent (1986, p.7), “a pesquisa-ação, além da participação, supõe
uma forma de ação planejada de caráter social, educacional, técnico ou outro”. Temos na base
da pirâmide as questões vinculadas à fase exploratória, o diagnóstico e a escolha do tema. O
problema surge do lugar da teoria e das hipóteses dos pesquisadores e dos demais
participantes. O saber construído foi concretizado através da organização e efetivação da
formação na AC, em que iremos divulgar os resultados. Na sua estrutura, ele também
apresenta a função do seminário, a observação empírica, os problemas de amostragem e de
representatividade qualitativa que nesta pesquisa não serão considerados.
Por essas razões, e dentro dessa perspectiva, é que o lócus desta pesquisa é a
instituição onde eu trabalho: para perceber como às estratégias pedagógicas utilizadas com
jovens e adultos com deficiência nos anos finais do Ensino Fundamental estão sendo
implantadas e implementadas para à sua efetiva inclusão, é preciso fazer parte do contexto.
Acreditamos que na área educacional essa metodologia de pesquisa se faz presente na medida
que não se limita a simples descrição dos fatos, mas que propõe ações e transformações
necessárias, pois parte de um contexto real e necessário.
reconhecimento da comunidade escolar e dos pais dos alunos como uma escola inclusiva.
Essa realidade pode ser evidenciada quando analisamos o crescente quantitativo de alunos
com deficiência ao longo dos anos, desde à sua fundação. Outro fator importante é que, na
escola, temos uma sala de AEE, com professores experientes e especializados, que abraçam a
proposta da inclusão e, junto com à coordenação pedagógica, oferecem apoio também aos
professores da sala regular.
A primeira informação demonstrou que 56% são do sexo masculino e 44% são do
sexo feminino. Fazendo um comparativo com os professores da EMNSA, da Educação
Infantil aos Anos Iniciais, percebe-se que existe um percentual significativo de homens em
relação às mulheres nos anos finais. A carga horária semanal de trabalho desses professores é
de 56% que lecionam 40 (quarenta) horas, seguida de 44% que lecionam 60 (sessenta) horas.
Essa realidade vivenciada por eles é comum entre os professores que trabalham no noturno.
60
Acreditamos que essa carga horária extensa pode trazer consequências para a saúde desses
professores, pois, além de terem a disponibilidade para lecionar, precisam realizar
planejamento, organizar avaliações e atividades, sobrando pouco ou nenhum tempo para o
lazer e às relações familiares.
Ao analisar a idade desses professores, vemos que 100% deles têm 41 (quarenta e um)
anos ou mais. Quanto ao tempo de docência na EJA, percebe-se que 44% têm entre 01 (um) a
5 (cinco) anos, 34% têm entre 06 (seis) a 10 (dez) anos e 22% têm acima de 11 (onze) anos.
Aliando o fator idade, que é a média de 41 anos ou mais, e o tempo de docência na EJA para a
maioria que é de 01 a 05 anos, podemos expressar que, apesar da idade, a maioria tem pouca
experiência nessa modalidade de ensino. Acredita-se que o fator experiência pode auxiliar
esse professor no seu caminhar, porém não é um fator decisivo à apropriação de
conhecimento.
Para conhecermos um pouco sobre a história acadêmica desses professores, partimos
para verificar algumas características da sua formação. Isso se fez necessário para
entendermos os fundamentos de algumas das perguntas abertas também disponibilizadas no
questionário e na entrevista. Assim, pudemos perceber que, dentre esses professores, temos
89% com Especialização e 11% que não têm Formação complementar, dados apresentados na
tabela 02, a seguir:
Tabela 02: Formação dos sujeitos da pesquisa
Formação para trabalhar com alunos com
Formação complementar Formação para
deficiência
lecionar na Educação de Jovens e
Adultos
89% Especialização 100% Não 89% Não 11% Não tem 11% Sim Fonte: A
autora (2019).
Quando perguntamos qual a formação complementar, eles responderam que têm
especialização em: Educação em Saúde, Metodologia do Ensino Superior; Fisiologia do
Exercício; Obesidade e Emagrecimento; Educação Física Escolar; Administração Pública com
aprofundamento em Gestão Pública; Educação Especial; História e Cultura Afro Brasileira e
Indígena; Psicopedagogia; e Língua Inglesa. Analisando as variadas especializações,
percebemos que elas não se repetem, ou seja, neste grupo de professores há um leque de
conhecimentos específicos em áreas diversas.
Quando passamos para a percepção da formação acadêmica, contamos com todos os
professores que lecionam na EJA, nos anos finais, nas disciplinas: Português, Matemática,
História, Geografia, Ciências, Inglês, Artes e Educação Física. No noturno, temos dois
61
professores de Artes e dois de Inglês, totalizando dez professores; desses, nove aceitaram
participar da pesquisa. As licenciaturas são cursos a nível superior importantes, no sentido de
ajudarem os professores a se apropriarem com mais profundidade na sua área de estudo, dos
seus conhecimentos e, assim, ampliar à sua qualificação.
Em relação à formação que esses professores têm que trata das especificidades da
EJA, observamos que 100% não têm uma formação específica. Sobre isso, Arroyo (2006b)
lembra de que é preciso conhecer essa modalidade com tantas especificidades ainda na
formação inicial, como condição primordial para uma prática efetiva e consciente, através de
um redimensionamento. Esse projeto de educação emancipatória poderá ser uma arma
eficiente em favor de uma transformação significativa.
Para Mamona (2016), ao estudar sobre a EJA, é comum se falar sobre as
especificidades dessa modalidade, o que é apontado em vários documentos que apresentam
caminhos de algo que é peculiar e deveria fazer parte da formação inicial dos professores.
Para a autora, essas especificidades mostram que eles não são qualquer jovem, nem qualquer
adulto, pois têm características próprias, como, por exemplo: sua juvenilização, cultura,
raça/etnia, prática pedagógica, estrutura, dentre outras. Esses aspectos carregam em si marcas
sociais e econômicas que caracterizam essa modalidade de ensino.
Por esses motivos, uma formação que contemple essas especificidades se faz
necessária, na medida que pretende estabelecer uma política própria e diferenciada para
atender esses alunos. Por essa razão, Paiva (2006) chama a atenção em relação ao direito
desse jovem e adulto na perspectiva da sua conquista histórica e, consequentemente, de acesso
a outros direitos. Neste contexto, os encontros formativos se fizeram necessários para que os
professores repensassem às suas práticas em relação as estratégias utilizadas nessa
modalidade, tendo em vista que eles não tiveram essa oportunidade quando na sua formação
acadêmica.
Outro fator importante dentro dessa demanda de formação é a necessidade de conhecer
as especificidades dos alunos com deficiência. Para isso, perguntamos aos professores se eles
possuem formação para trabalhar com alunos com deficiência: 89% disseram que não e 11%
disseram que têm. Quando partimos para analisar qual era essa formação para trabalhar com
alunos com deficiência, comprovamos que apenas uma professora informou que possuía
formação em Educação Especial: essa docente tem dois filhos diagnosticados com Transtorno
do Espectro Autista. Um fato curioso é que, no momento do preenchimento dessa questão,
dois professores perguntaram para a pesquisadora quem eram os alunos com deficiência no
noturno, o que demonstra que eles não conhecem as especificidades desses alunos.
62
por isso, elas precisam ser negociadas e compreendidas dentro de um contexto, com a
participação de todos.
Para ilustrar o conceito freiriano, Saul; Saul (2012) apresentam a Figura 04, a seguir.
Nela vemos que o PPP começa com a leitura da realidade, que permite chegar na intimidade
da escola e na compreensão do contexto dessa comunidade, suas práticas e necessidades; e
implica diálogo, uma troca constante de argumentações para compreender a partilha de
saberes, problematizando o objeto do conhecimento numa relação horizontal entre os sujeitos.
Assim, seus sonhos e esperanças têm uma intencionalidade, que é motor da transformação que
exige participação, dedicação e trabalho. Apesar dos constantes desafios na construção do
PPP, é a prática que nos aperfeiçoa, é nela que aprendemos a participar.
Figura 04 – Trama Conceitual Freiriana “Projeto Político Pedagógico”
9
Do grego “ou+topos” que significa “lugar que não existe”. EDUCAÇÃO. Significados. 7Graus. 2020.
Disponível em: <https://www.significados br.com.br/educacao>. Acesso em: 10 out. 2019.
67
de concretização dos sonhos em relação a uma escola que se propõe com qualidade
social.
Para darmos conta dessa perspectiva, é preciso saber fazer. Essa ação é possível
quando investimos na formação permanente dos educadores, pois “não é possível compreender
a educação como uma prática autônoma ou neutra” (FREIRE, 1989, p.16); ela implica a
compreensão de que somos seres inconclusos, que precisamos buscar constantemente
compreender o que está acontecendo ao nosso redor e, através desse entendimento, a
Educação ganha significado.
O Regimento Escolar é estabelecido pela Resolução CME nº 021/2010 (SALVADOR,
2010, p.01), que determina a elaboração ou reelaboração dos estabelecimentos que ministram
Educação Infantil e Ensino Fundamental que pertencem ao Sistema Municipal de Ensino de
Salvador para “assegurar a sua autonomia e cumprimento das normas legais vigentes”. Nessa
Resolução está estabelecido que o Conselho Municipal de Educação, no uso das suas
atribuições, tendo em vista o que dispõem os Artigos 11 e 18 da Lei Federal nº 9.394/96, que
fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), o seu Regimento Interno e
a Lei nº 8.069, de 1999 – Estatuto da Criança e do Adolescente, confirma que essas unidades
escolares serão normatizadas por Regimento próprio com fundamento legal.
Essa reorganização ou reelaboração integral do texto precisa contemplar os aspectos
administrativos, didáticos e disciplinares, e será mantida até a aprovação do novo Regimento,
passando a vigorar no ano subsequente à sua aprovação. Ela não apresenta um período
específico para as mudanças, ficando a cargo da escola e/ou das leis vigentes decidir fazê-la.
Na Resolução encontramos matérias pertinentes a cada Capítulo ou Título.
O Anexo I apresenta o Título I, que trata das Disposições Preliminares com
dispositivos permanentes referentes aos aspectos mais formais da identificação e
denominação da instituição de Ensino. O Título II sistematiza as finalidades e os objetivos da
instituição, sendo que o Capítulo I fala das finalidades e o Capítulo II dos objetivos. No Título
III, ela apresenta a organização gerencial e administrativa, onde o Capítulo I mostra os
princípios da Gestão e o Capítulo II a organização técnico-administrativa. O Título IV trata da
organização didática, em que o Capítulo I mostra a concepção pedagógica; o Capítulo II, a
organização didática; o Capítulo III, a estrutura curricular; e o Capítulo IV, o processo
avaliativo. No Título V são apresentadas as normas de convivência, em que o Capítulo I trata
do corpo discente; o Capítulo II, do corpo docente e técnico pedagógico; o Capítulo III, do
pessoal técnico-administrativo; o Capítulo IV, dos pais ou responsáveis; e o Capítulo V, da
68
dentro delas não encontramos nenhum relatório que comprove as deficiências. Quando
partimos para o sistema de matrícula, verificamos que eles aparecem com as seguintes
deficiências: deficiência intelectual (dois alunos), deficiência física (um aluno) e deficiência
auditiva (um aluno), no qual poucos frequentam às aulas. Segundo os professores, além
desses alunos, eles suspeitam de que mais oito que possuam alguma deficiência, sendo elas:
déficit de atenção (seis alunos) e deficiência intelectual (dois alunos).
4.5.2 O questionário
Após a análise do PPP, do Regimento Escolar e das Pastas do Alunos, aplicamos um
questionário e fizemos uma entrevista com questões fechadas e abertas (Apêndices A e C) com
nove professores e uma coordenadora pedagógica, por meio dos quais identificamos algumas
das suas características e quais os conhecimentos acerca dos pontos levantados na
problemática desta pesquisa. O resultado do material serviu para orientar os encontros
formativos, que foram realizados virtualmente por conta do novo Coronavírus.
Ao término desses encontros, aplicamos o questionário para verificar quais os
conhecimentos adquiridos pelos professores. Esse instrumento de coleta foi escolhido com o
objetivo de deixar os sujeitos participarem de forma tranquila, sem interferência do
pesquisador. Gil (2008, p. 121-122) ratifica essa estratégia quando diz que o questionário é
[...]uma técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são
submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos,
crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores,
comportamento presente ou passado etc. Os questionários, na maioria das vezes, são
propostos por escrito aos respondentes. Costumam, nesse caso, ser designados como
questionários auto aplicados. [...] garante o anonimato das respostas. [...] não expõe
os pesquisados à influência das opiniões e do aspecto pessoal do entrevistado.
Cervo; Bervian (2002, p.48) testificam esse conceito quando dizem que o questionário
“refere-se a um meio de obter respostas às questões por uma fórmula que o próprio informante
preenche”. Marconi; Lakatos (2003, p.201) complementam como sendo o questionário uma
“série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do
entrevistador”. Sendo assim, permite alcançar um número maior de pessoas. No caso desta
pesquisa, o questionário foi composto por questões abertas e fechadas, o que possibilitou à sua
interpretação com mais detalhes.
Para Minayo; Costa (2018, p.143), “No caso da investigação qualitativa, os
questionários têm um lugar de complementaridade em relação às técnicas de aprofundamento
compreensivo e dialético”. Essa possibilidade nos leva a compreender que seu objetivo é a
compreensão dessa vivência em relação aos fatos. Os dados qualitativos nesse contexto,
70
servem para conhecer e explicar “a magnitude de tais fenômenos”. Por essas razões, a
investigação qualitativa e o questionário são importantes e se complementam. Em seguida,
depois da leitura do questionário, foi necessário incluir uma entrevista, ambos com doze
perguntas, com a coordenadora pedagógica para podermos relacionar com as respostas dos
demais sujeitos – isso permitiu um aprofundamento das questões. Identificamos as falas dos
professores de acordo com a ordem de devolução do questionário, sendo: P1, P2, P3, P4, P5,
P6, P7, P8 e P9. Na entrevista, identificamos a coordenadora como C1.
4.5.3 A entrevista
A entrevista semiestruturada, cujo roteiro se encontra no Apêndice C, foi realizada
com a coordenadora pedagógica para produzir e organizar dados sobre a pesquisa. Surgiu da
necessidade de conhecermos as orientações da coordenação em relação às estratégias
pedagógicas utilizadas com alunos com deficiência na EJA II na EMNSA, e foi relacionada
com o questionário dos professores. A entrevista foi previamente combinada: primeiramente,
explicamos os objetivos da pesquisa através da leitura do TCLE. Ficamos na sala da
coordenação, ambiente onde acreditamos que ela se sentiria mais segura e confortável ao
responder às perguntas, as quais foram registradas na medida que iam sendo respondidas, para
uma maior precisão. Essa perspectiva é ampliada por Gil (2008, p.109), quando nos diz que
ela é:
[...] uma técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe
formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à
investigação. [...] é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca
coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. A entrevista é uma
das técnicas de coleta de dados mais utilizadas no âmbito das ciências sociais.
O seu roteiro predefinido permitiu maior clareza em relação às respostas, de forma a
investigar e aprofundar os conhecimentos sobre o que estava sendo perguntado. A entrevista
apresenta uma flexibilidade, um diálogo necessário que ajuda a envolver o sujeito no tema
específico. Para tanto, é preciso que o entrevistador conduza o entrevistado a se centrar no
assunto, disponibilize os dados e se aproxime da realidade no contexto, ampliando às
possibilidades de informação.
Sobre essa perspectiva, Minayo; Costa (2018) chamam a nossa atenção quanto à
pertinência desse instrumento privilegiado para pesquisas qualitativas, e sua importância para
a construção dessas informações, quando dizem que ela é o instrumento mais utilizado nas
pesquisas qualitativas, como veremos a seguir:
A entrevista, tomada no sentido amplo de comunicação verbal e no sentido estrito de
construção de conhecimento sobre determinado objeto, é a técnica mais utilizada no
71
Para Gil (2008), a pesquisa documental se vale de materiais que não receberam ainda
uma análise, podendo ser interpretados de acordo com o objeto da pesquisa, como, no nosso
caso, os documentos oficiais. Essa possibilidade de apropriação e aprofundamento faz parte
da abordagem qualitativa e requer do pesquisador um olhar mais apurado para as possíveis
especificidades e interpretações.
Lakatos; Marconi (2003) complementam esse pensamento quando dizem que a
pesquisa documental é a coleta de dados em fontes originais, como documentos escritos ou
não, pertencentes aos arquivos públicos, particulares de instituições e fontes estatísticas. Para
Laville; Dionne (1999), esse trabalho de pesquisa documental tem início com a coleta de
materiais.
Sendo assim, esta pesquisa não é uma acumulação cega, nem mecânica, pois coleta
informações que o pesquisador utiliza para perceber o fenômeno: ele precisa se apropriar das
especificidades desse material selecionado para que possa extrair e destacar os pontos
considerados relevantes, que refletem aspectos da problemática da proposta. Lüdke; André
(1986) complementam justificando que essas informações obtidas desvelam aspectos novos
de um tema ou problema. Assim, a análise documental se integra e se configura como uma
técnica importante na pesquisa qualitativa.
Nesse ínterim, realizamos a apresentação da proposta de trabalho para os professores,
o convite formal de adesão à pesquisa e esclarecemos as possíveis dúvidas. A vontade de
participar e encontrar soluções, foi demonstrada na aceitação ao convite e participação de cada
etapa do processo. Esse momento foi significativo porque os professores puderam entender
sua dinâmica, propósito e organização. Em seguida, solicitamos a assinatura do TCLE, e
aplicamos o questionário que foi utilizado antes e depois dos encontros formativos, conforme
as etapas previstas.
O questionário foi organizado em duas categorias: na primeira, tivemos à
caracterização dos professores, inclusive em relação à formação; e na segunda, apresentamos
quatro perguntas. Ele nos mostrou que os professores não tinham nenhuma formação
específica, e que à sua percepção em relação à Educação Especial na perspectiva da Educação
Inclusiva precisava ser ampliada. Em relação às estratégias pedagógicas utilizadas que
atendessem às especificidades dos alunos com deficiência, ficaram explícitas que precisavam
ser repensadas.
A partir da análise dessas respostas e de alguns comentários posteriores à aplicação do
questionário, organizamos os encontros formativos que aconteceram através da plataforma
digital do Google Meet, em virtude da pandemia do novo Coronavírus. Os temas trabalhados
73
nos encontros apresentaram subsídios teóricos e práticos, com documentos da escola e aportes
legais que respaldaram as ações planejadas. Assim, foi possível fazer com que os professores
refletissem sobre as estratégias utilizadas com os alunos com deficiência.
4.6.1 A formação
Em virtude da pandemia do novo Coronavírus no Brasil, as aulas presenciais foram
suspensas em março, e os encontros formativos foram realizados remotamente, através do
Google Meet. Essa plataforma é um serviço de comunicação por videoconferência
desenvolvido pela Google. Em virtude dessa modalidade de encontro, à estrutura
organizacional precisou de adaptações, porém manteve a mesma essência planejada
inicialmente.
No primeiro encontro, a pesquisadora apresentou para os sujeitos da pesquisa a
proposta e os dados encontrados, relacionados com as fundamentações teóricas. Entre o
segundo e o quinto encontros formativos tivemos a presença de alguns colaboradores que,
junto com a pesquisadora trataram sobre cada tema proposto. No sexto e último encontro,
todos os convidados participaram. Para conhecermos um pouco mais sobre cada convidado,
colocamos no Apêndice D um breve comentário sobre o seu currículo, juntamente com um
relato sobre a escolha da sua participação. Assim, apresentamos a seguir o Quadro 02 com a
estrutura geral dos encontros formativos:
Quadro 02 – Organização dos Encontros Formativos
Tema do Encontro Conteúdo Estratégia Avaliação
74
dispensável? depoimento. Kleber. Google Forms.
Colaboradora:
Maria do Carmo.
Para Severino (2013), é preciso entender o sentido das capacidades criativas dos
professores e explorar as ideias apresentadas, parte complexa desse processo, o que requer do
pesquisador uma tomada de posição, conforme se verifica através dos fatos e das afirmações
expostas. A partir daí, foram delimitados três elementos de análise construídos no decorrer da
pesquisa, a saber: concepção do professor em relação à Educação Especial na perspectiva da
Educação Inclusiva; formação do professor; e estratégias pedagógicas, os quais surgiram das
necessidades apontadas nos questionários, na entrevista e na escuta exaustiva das gravações
dos encontros formativos.
As convergências apresentadas nas falas da pesquisadora e no que estava escrito foram
relacionadas com os elementos de análise desvelados no processo. Na verdade, são três
elementos, mas existe uma relação entre eles, de modo que a concepção do professor está
relacionada à Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva; e a formação do
professor ligada a uma formação objetiva e subjetiva, em que a técnica e a concepção devem
andar de mãos dadas com o objetivo de gerarem estratégias pedagógicas que possam conduzir
à inclusão. Assim, representamos esse entrelace da seguinte forma (Figura 06):
Figura 6 – Relação dos Elementos de Análise