M-3 Contrato A Favor de Terceiro
M-3 Contrato A Favor de Terceiro
M-3 Contrato A Favor de Terceiro
2 É esta a definição de contrato para pessoa a nomear que nos dá A. Varela [2000], p.
429. Vide, para outras definições da figura, F. de Almeida [2012], p. 52, e, noutras
latitudes, E. Enrietti [1950], p. 76.
3 Exemplo - Um jogador de futebol famoso pretende adquirir um imóvel que pertence a
Maria. Se Maria soubesse que iria fazer negócio com uma pessoa famosa, provavelmente
iria impor um preço bem acima do valor de mercado.
O jogador famoso recorre a Pedro, seu amigo, para que faça o negócio com Maria, desde
que se reserve no direito de indicar quem assumirá os direitos e obrigações decorrentes
do contrato – no caso, o jogador.
Tal negócio é permitido pela lei, e se mostra importante, tanto para evitar especulações
quanto para evitar as despesas que possam vir a ser exigidas em virtude de uma nova
escrituração.
4 Outros Exemplos
pode assumir diversos tipos, p. ex. a compra e venda, o trespasse, etc, ou ser até atípico,
e no qual é convencionada a cláusula em questão. O contrato para pessoa a nomear foi
introduzido inovatoriamente no direito civil [angolano] apenas no atual CC, embora,
mesmo anteriormente a tal código legal, a figura, já pudesse ser utilizada, ao abrigo do
Independentemente de se saber qual é o regime e a natureza jurídica da
figura do contrato para pessoa a nomear, o que mais adiante se analisará,
dir-se-á, desde já, que a sua grande especialidade ou a sua grande
vantagem, consistem em ela permitir, que alguém, que não é outorgante
do contrato, nele não tendo tido pois qualquer intervenção, nem
chegando no mesmo contrato a ser sequer identificado, nem referido,
possa encabeçar mais tarde tal contrato, e, retroativamente, i. e., desde
a celebração dele. E isto mediante uma simples nomeação feita pelo
estipulante, e, naturalmente, a aceitação dela pelo nomeado. Traduzindo-
se, nos termos do CC, tal aceitação numa ratificação, ou então numa
procuração anterior à celebração do contrato6, procuração essa de que o
estipulante já podia até dispor quando celebrou o mesmo contrato, mas
que, por qualquer motivo, não quis usar. Assim, através desta figura, o
terceiro pode ficar completamente incógnito, desde a data da celebração
do contrato até à nomeação dele, pois que ninguém precisa então de
saber, a não ser, naturalmente, o estipulante, que ele, terceiro, virá
depois a tornar-se o verdadeiro contratante.
Esta situação de anonimato pode, em angola, durar muito tempo, pois
que, embora para a nomeação haja no nosso ordenamento jurídico um
prazo definido na lei, que é de só 5 dias (art. 453.º-1), o certo é que esse
prazo é supletivo, já que o promitens e o estipulante podem perfeitamente
convencionar para a nomeação outro prazo qualquer, não havendo até
qualquer limitação legal, pelo menos direta, à duração de tal prazo (art.
453.º-1)7 8.
E, efectuada a nomeação nos termos legais pelo estipulante, este, como
que por artes mágicas, misteriosamente, desaparece do contrato, dele se
sumindo, como se nunca lá tivesse estado 9.
Vantagem do contrato para pessoa a nomear
A sua grande especialidade ou a sua grande vantagem, consistem em ela
permitir, que alguém, que não é outorgante do contrato, nele não tendo
tido pois qualquer intervenção, nem chegando no mesmo contrato a ser
sequer identificado, nem referido, possa encabeçar mais tarde tal
excesso manifesto dos limites impostos pelo fim social ou económico do direito em causa
e, por isso, preencher, eventualmente, a figura do abuso de direito, a que alude o art.
334.º.
9 “ …el estiuplante quedará desligado de la relación jurídica y desaparecerá de la escena
10Vide, entre outros, M. Cordeiro [2010], p. 595, e, em outras paragens, C. Rosell [2000],
pp. 245 a 272; R. Caravaglios [2012], pp. 45 a 108; L. Serrano [2011], pp. 63 a 97; F.
Gazzoni [1988]; M. Espada [1999], pp. 1971 a 2007; e L. Freitas [2001], pp. 117 a 154.