Tendências Pedagógicas Na Prática Escolar
Tendências Pedagógicas Na Prática Escolar
Tendências Pedagógicas Na Prática Escolar
"Os professores estão na mira de todos os discursos. São o alvo mais fácil a abater". (Nóvoa, António. Pátio,
2003:24)
INTRODUÇÃO
A prática escolar está sujeita a condicionantes de ordem sócio-políticos que implicam em diferentes
concepções de homem (comum a filosofia e a pedagogia) e de sociedade, consequentemente, diferentes
pressupostos sobre o papel da escola e da aprendizagem.
Segundo Tadeu Atila Mendes, repassando-se as concepções de homem (biológica, sociológica,
arqueológica e filosófica), pode-se estabelecer um conceito no prisma da educação: "Ser biológico, que atua a
nível individual, social, desenvolve-se e traça a história pelas relações. Logo o homem sob o ângulo educacional é todo
abrangente e complexo".
Observando-se essa definição, é importante considerar que o modo como os professores realizam seu
trabalho na escola tem a ver com os pressupostos teóricos, implícita ou explicitamente.
Embora haja dificuldades na síntese das diferentes tendências pedagógicas, cujas influências se refletem
no ecletismo do ensino atual; esta aula propõe a apresentação das correntes filosóficas sob a ótica de Demerval
Saviani (1980), aliadas às tendências pedagógicas sob a teoria de José Carlos Libâneo (2000).
CORRENTES FILOSÓFICAS
As correntes filosóficas da educação muito têm em comum com os pensadores da época moderna e
contemporânea, entretanto eles retomaram e interpretaram àqueles de épocas anteriores. Segundo SAVIANI (1980),
são elas:
1- Concepção Humanista Tradicional (Positivismo)
Esta concepção engloba um conjunto de correntes que tem em comum o fato de derivarem a compreensão da educação
de uma determinada visão de homem, o qual constitui-se de uma essência imutável e à educação cabe conformar-se
com essa essência, não havendo lugar para inovações e as mudanças são consideradas acidentais.
2- Concepção Humanista Moderna (Existencialismo)
Esboça-se numa visão do homem centrado na vida. A existência precede a essência, conforme afirma Dewey:
"Educação é vida; vida é desenvolvimento e a finalidade do desenvolvimento é mais desenvolvimento".
3- Concepção Analítica (Fenomenologia)
Pressupõe que a tarefa da filosofia da educação é efetuar a análise lógica da linguagem educacional. O significado
de uma palavra só pode ser determinado em função do contexto que é utilizada, entende-se por contexto
linguístico e não sócio-econômico ou político.
4- Concepção Dialética (Dialética)
Vê o homem como conjunto das relações sociais e a tarefa da filosofia da educação é explicitar os problemas
educacionais. Não nega a visão tradicional, nem a moderna, pois admite que a realidade é dinâmica.
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
l-Tendências Pedagógicas Liberais
Sustentam a ideia de que a escola tem por função prepara- os indivíduos para o desenvolvimento de papéis
sociais, de acordo com as aptidões individuais, ou seja, o indivíduo se adapta aos valores e normas vigentes na
sociedade de classe, por meio do desenvolvimento da cultura individual.
Estas tendências desconsideram as diferenças entre classes sociais, já que a escola difunde a ideia de igualdade de
oportunidades, sem contar a desigualdade de condições.
1.1- Tendência Liberal Tradicional
- Iniciou-se no século XIX e domina grande parte do século XX (utilizado hoje);
- Acentua o ensino humanístico (cultura em geral);
- Papel da escola é o preparo intelectual para a sociedade (sem relação com o cotidiano do aluno, desconsiderando
sua classe social);
- Conteúdos são os valores, a tradição e a cultura;
- Centrada no professor (relação professor-aluno caracterizada pela autoridade).
1.1.1- Pressupostos de Aprendizagem
- Repassa conhecimentos;
- Criança é um adulto em miniatura (considera a capacidade de assimilação da criança idêntica a do adulto, apenas
menos desenvolvida).
l .2- Tendência Liberal Renovada Progressivista (Pragmatista)
- Europa século XIX, influenciando o Brasil dos anos 1930;
- Acentua o sentido da cultura (como desenvolvimento das aptidões individuais);
- Papel da escola é adaptar o aluno ao meio onde vive (assumir seu papel na sociedade, adaptando as necessidades
do educando ao meio social — imita a vida);
- Centrada no aluno (o professor está à disposição do aluno);
- "Aprender fazendo" (trabalho em grupo - valoriza as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do
meio natural, social, etc...).
1.2.1- Pressupostos da Aprendizagem
- Auto-aprendizagem (atividade de descoberta ambiente como meio estimulador);
- Tomada de consciência (Biaget - estrutura cognitiva empregada em novas situações);
l .3- Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva
- Europa século XLX, influenciando o Brasil dos anos 1930;
- Papel da escola é promover o auto desenvolvimento pessoal (buscar por si os conhecimentos
- formação de atitudes);
- Preocupação com os problemas psicológicos (menos com os pedagógicos ou sociais);
- Adequação pessoal às solicitações do ambiente (visa uma mudança dentro do indivíduo);
- Centrado no aluno (professor facilitador, especialista em relações humanas).
1.3.1- Pressupostos de Aprendizagem
- Aprender é modificar suas próprias percepções (apenas se aprende o que estiver significativamente relacionado
com essas percepções);
- auto-avaliação (retenção se dá pela relevância do aprendido em relação ao "EU", tornando a avaliação escolar sem sentido).
l .4- Tendência Liberal Tecnicista
- Segunda metade do século XX, 1960-1970;
- Aparece com a Reforma doEnsino - Lei 5.692/71;
- Influências do estruturalismo linguístico e apresenta a concepção de linguagem corno instrumento de comunicação;
- Ligada ao sistema capitalista (aperfeiçoamento da ordem social vigente);
- Papel da escola articula-se diretamente com o sistema produtivo (produzir indivíduos competentes para o mercado de
trabalho);
- Sem preocupação com as mudanças sociais;
- Aluno é depositário do conhecimento (professor é o elo de ligação entre a verdade científica e o aluno).
l .4. l - Pressupostos de Aprendizagem
- Corrente psicológica behaviorista (Skinner);
- Aquisição do conhecimento por meio da imitação e formação de hábitos;
- Ênfase na repetição (drills);
- Instrução programada (hábitos do uso correio da linguagem).
2- Tendências Pedagógicas Progressistas
A pedagogia progressista designa as tendências que sustentam, implicitamente, as finalidades sócio-políticas da educação.
Partem de uma análise crítica das realidades sociais, não institucionalizadas em sociedades capitalistas, sendo apenas
instrumento de luta de professores com outras práticas.
2.1- Tendência Progressista Libertadora (Conhecida como Pedagogia de Paulo Freire)
-Anos 1960;
- Antiautoritarismo;
- Defesa da autogestão pedagógica (vincula à educação a luta e organização de classe do oprimido);
- Desconsidera o papel informativo (ato de conhecimento) na relação educativa (experiência vivida);
- Conhecimento não é suficiente (sem uma nova teoria do conhecimento se os oprimidos não têm acesso a ela, para que
possam reelaborar e reordenar seus próprios conhecimentos e apropriar-se de outros);
- Consciência crítica (o saber mais importante é descobri-se oprimido e liberar-se da exploração política e
económica);
- Ultrapassa os limites da pedagogia (situando-se no campo da economia, da política e das ciências sociais).
2.1.1- Pressupostos de Aprendizagem
- Força motivadora (decorre de uma situação problema, analisada criticamente por exercícios de abstração, para alcançar, por
meio de representações concretas da realidade, a razão dos fatos);
- Ato de conhecimento da realidade concreta (situação real vivida pelo aluno só tem sentido se resulta de uma aproximação
crítica);
- Processo de compreensão, reflexão e crítica (conhecimento que o educando transfere representa a resposta à situação
de opressão).
2.2- Tendência Progressista Libertária
-Anos 1960;
- Antiautoritarismo
- Autogestão pedagógica (vincula à educação a luta e organização de classe do oprimido);
- Educação popular, informal (pessoas mais livres, negação de toda forma de repressão);
2.2.1- Pressupostos de Aprendizagem
- Somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em situações novas;
- Saber sistematizado (relevante se for possível seu uso prático);
- Aprendizagem grupai.
2.3- Tendência Progressista Crítico-Social dos Conteúdos
- Final dos anos 1970;
- Primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais (diferente da Libertadora e da Libertária);
- Saber elaborado (escola serve como mediação entre o indivíduo e o social);
- Participação organizada e ativa na democratização da sociedade (preparação do aluno para o mundo adulto e suas
contradições).
2.3. l - Pressupostos de Aprendizagem
- Aprendizagem significativa (parte do que o aluno já sabe - Ausubel/ Moreira).
3- Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96
- Revalorização das ideias interacionistas (Piaget, Vygotisky, Wallom - o conhecimento é resultado da ação que se passa
entre o sujeito e um objeto).
3.1- Pressupostos de Aprendizagem
- O conhecimento não está só no sujeito (inatistas) nem só no objeto (empiristas), resulta na interação de ambos.
3.2- Língua Portuguesa
- Leitura como processo permite a possibilidade se negociação de sentidos em sala de aula (o processo de leitura não é
centrado no texto, ascendente (bottom-up / empiristas), nem no receptor, descendente (top-down/inatistas), mas
ascendente/descendente, a partir de uma negação de sentido entre enunciador e receptor);
- Receptor retirado da condição de objeto do sentido do texto (como ocorria tradicionalmente
- decifra-lo, decodifíca-lo)
- Linguagem como forma de atuação do homem e o mundo e das modernas teorias sobre os estudos do texto
(Linguística Textual, Análise do Discurso, Semântica Argumentativa e a Pragmática, entre outros).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Tendências Pedagógicas Liberais (relacionadas às Concepções Humanista Tradicional e a Humanista
Moderna) se declararam neutras e nunca assumiram compromisso com as transformações da sociedade, embora, na
prática, procurassem legitimar a ordem económica social do sistema capitalista. No ensino da Língua Portuguesa,
predominam os métodos de base ora empiristas, ora inatistas com o ensino da Gramática Tradicional, sob algumas
influências teóricas do Estruturalismo e do Gerativismo (Reforma do Ensino, Lei 5.692/71).
Já as tendências Pedagógicas Progressistas, opõem-se às Tendências Pedagógicas Liberais, pois
apresentam uma análise crítica do sistema capitalista, de base empirista (Paulo Freire) e marxista (Gramsci); no
ensino da Língua Portuguesa valorizam o texto produzido pelo aluno, a partir do seu conhecimento de mundo,
assim como a possibilidade de negociação do sentido na leitura.
A partir da LDB 9.394/96, com a difusão das ideias de Piaget, Vygotisky e Wallom, numa perspectiva sócio-
histórica, buscam aproximação com modernas correntes do ensino da Língua Portuguesa que consideram a linguagem
como forma de atuação sobre o homem e o mundo, processo de interação verbal, construindo a sua realidade
fundamental.
receptor, descendente (top-down/inatistas), mas ascendente/descendente, a partir de uma negação de sentido entre
enunciador e receptor);
- Receptor retirado da condição de objeto do sentido do texto (como ocorria tradicionalmente
- decifra-lo, decodifíca-lo)
- Linguagem como forma de atuação do homem e o mundo e das modernas teorias sobre os estudos do texto
(Linguística Textual, Análise do Discurso, Semântica Argumentativa e a Pragmática, entre outros).
BIBLIOGRAFIA
HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
_____________. Democratização da Escola Pública. São Paulo: Loyola, 1990.
SAVIANI, Demerval. Educação: do Senso Comum à Consciência Filosófica. São Paulo:
Autores Associados, 1986.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação. São Paulo: Cortez, 1998.
- Artigos
www.ufsm.br. SILVA, Délcio Barros. Tendências Pedagógicas na Prática Escolar Brasileira e
suas Correntes Filosóficas.
revistacientifica.famec.com.br. MENDES, Tadeu Atila. Articulações Entre Correntes Filosóficas
Tendências Educacionais - Destaque à Tendência Tradicional.
www.ead.ufms.br/biblioteca_digital/artigos/tendencias_pedagogicas.php.
ANEXOS
Esquema das principais características das Tendências Liberais e Progressistas sob a forma de mapas conceituais1.
1. Tendências Liberais
PEDAGOGIA TRADICIONAL
Período séc. XIX e XX Escola objetiva o preparo intelectual Johann Friedrich Herbart
(1776-1841): Metodologia
de aulas-expositivas:
comparações, exercícios, lições
Conhecimento: Dedutivo. São Relação professor-aluno: João Amos Commenius
apresentados apenas os resultados, para autoridade e disciplina. (1627): Princípios para
que sejam armazenados ensinar artes por modelos
completos, perfeitos e
Homem: Receptor passivo. Inserido Avaliação: centrada no produto do trabalho Saviani (1980): Professor é a
em um mundo que irá conhecer garantia de que o
pelo repasse de informações. conhecimento seja
conseguido independente do
Educação = Produto: Alcançado Conteúdos: passados como verdades Émile Chatier: Defende o
pelo conhecimento dos modelos pré- absolutas - separadas das experiências. ambiente austero, sem
estabelecidos. distrações.
Mundo: E externo. O homem se Metodologia: Aulas expositivas, Snyders (1974): Busca
apossa dele gradativamente pelo atividades de repetição, aplicação, levar o aluno ao contato com
conhecimento. memorização; Exercitar a vista, mão, as grandes realizações da
inteligência. Gosto e senso moral.; humanidade. Ênfase aos
Privilégio verbal, escrito e oral; modelos, em todos os campos
Atividades intelectuais e raciocínio do saber.
abstrato.
10
Herbert Read (1943) - Inglaterra: Arte como experiência.
Segunda metade século XX Brasil 1960- PEDAGOGIA TECNICISTA
1970 Escola: Produzir indivíduos Lei de Diretrizes e Bases da
competentes para o mercado de Educação Nacional - 5692/71
trabalho. Introdução da Disciplina Educação
Artística
Homem: Consequência das influências Conteúdos: Baseia-se nos Skinner - O homem é produto do
ou forças do meio ambiente. princípios científicos, manuais e meio - análise funcional. Popham,
módulos de auto-instrução. Briggs, Papay, Gerlach, Glaser -
Modelos de instrução e sistemas.
Mundo: Já construído.O meio pode Relação professor-
ser manipulado e pode também aluno:
selecionar. Professor é o técnico e responsável
pela eficiência do ensino.
Teorias: Behavioristas, Positivismo, Comportamentalismo, Instrumentalismo.
Cultura: Espaço experimental.
2. Tendências Progressistas
PEDAGOGIA LIBERTADORA
Anos 60 Escola: Ênfase ao não-formal. E crítica, questiona as relações Paulo Freire
do homem no seu meio
Conhecimento: O homem cria a Relação professor-aluno: Relação horizontal, posicionamento Maurício Tragtemberg
cultura na medida em que, como sujeitos do ato de conhecer.
integrando-se nas condições de seu
contexto de vida, reflete sobre ela e
dá respostas aos desafios que
encontra.
Avaliação: Auto-avaliação ou avaliação mútua. Miguel Gonzáles
Arroyo
Metodologia: Desenho, trabalhos manuais, artes aplicadas,
músicas e canto coral passam à categoria apenas atividades
artísticas.
Nas artes: Alunos e professor dialogam em condições de
igualdade, desafiados por situações-problemas que devem
compreender e solucionar; libertação de opressões, identidade
cultural de aluno; estética do cotidiano; educação artística
abrange aspectos contextualistas.
PEDAGOGIA LIBERTARIA
Escola: Transforma o aluno no sentido libertário e auto-gestionário, como forma de resistência ao Estado.
Metodologia: Livre-expressão. Contexto cultural. Educação estética.
Conteúdos: São colocados para o aluno, mas não são exigidos. São resultantes das necessidades do grupo.
Relação professor-aluno: Professor é conselheiro, monitor à disposição do aluno.
Nas artes: Educação Artística abrange aspectos contextualistas. Libertação de opressões, identidade cultural. Expressão,
revelação de emoções, de insight e de desejos. Libertação de impulsos criadores em experiências de grupo
12
Fins dos anos 70