Cap 8
Cap 8
Cap 8
179
A equação (8.1) pode escrever-se na forma matricial
λx1
a11 x1 + a12 x2 + . . . + a1n xn
a x + a x + . . . + a x
21 1 22 2 2n n
= λx2
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
.
an1 x1 + an2 x2 + . . . + ann xn λxn
(A − λI)x = 0. (8.2)
2. Por outro lado, se det(A − λI) ! 0, então a equação (8.2) tem apenas a
solução trivial x = 0.
Definição 8.1 Seja A = (ai j )ni, j=1 uma matriz real ou complexa n × n dada. Consi-
deremos a equação
Ax = λx, λ ∈ C. (8.3)
180
1. Um número λ ∈ C tal que a equação (8.3) tem solução não trivial x ! 0
chama-se valor próprio de A. O vector x ! 0 correspondente chama-se
vector próprio associado ao valor próprio λ ∈ C.
Proposição 8.2 Seja T ∈ B(X) um operador linear definido num espaço normado
de dimensão finita. Então todas as matrizes representando o operador T nas
diferentes bases têm os mesmos valores próprios.
Podemos combinar os resultados anteriores para mostrar que um operador T ∈
B(X) possui pelo menos um valor próprio.
Proposição 8.3 Todo o operador linear definido num espaço normado complexo
de dimensão finita X ! {0} possui pelo menos um valor próprio.
A conclusão da proposição anterior não é verdadeira no caso dos espaços de
dimensão infinita, ver Exemplo 8.12 mais à frente.
181
,a b-
Prova. Uma matriz A diz-se de Hermite se e só se A = Ā& . Assim se A = c d
,
então . / . /
a b ā c̄
A= = = Ā& .
c d b̄ d̄
Portanto, temos a = ā, d = d̄, pelo que a, d ∈ R. Temos ainda b = c̄, por isso a
matriz A pode escrever-se como
. /
a b
A= .
b̄ d
(a − λ)(d − λ) − |b|2 = 0
⇔ λ2 − (a + d)λ + ad − |b|2 = 0 = 0.
As raízes são
0
(a + d)2 − 4(ad − |b|2 )
(a + d) ±
λ± =
2
a+d 10
= ± (a − d)2 + 4|b|2 ,
2 2
como (a − d)2 + 4|b|2 > 0, então as raízes λ± ∈ R.
No caso geral, procedemos do seguinte modo
x̄& Ax
Ax = λx ⇔ x̄& Ax = x̄& λx ⇔ λ = ,
x̄& x
onde x̄& x é real e se N denotar x̄& Ax, então
&
N̄ = N̄ & = x̄& Ax = x̄& Ā& x = N,
Exercícios
, a b
-
Exercício 8.1 Encontre os valores e vectores próprios da matriz A = −b a
, a, b ∈
R e b ! 0.
182
Exercício 8.2 Mostre que os valores próprios de uma matriz A anti-Hermiteana
(isto é, ĀT = −A) são imaginários puros ou zero.
Exercício 8.3 Mostre que os valores próprios de uma matriz A unitária (isto é,
Ā& = A−1 ) têm todos valor absoluto 1.
T λ := T − λI,
Rλ (T ) := T λ−1 = (T − λI)−1 ,
183
Definição 8.8 (Valor regular) Seja T : D(T ) → X um operador linear com
D(T ) ⊂ X. Um número complexo λ chama-se valor regular de T se
onde:
184
Em dimensão finita, isto é, dim X < ∞, o conjunto σd (T ) ! ∅ e σc (T ) =
σr (T ) = ∅. Mas em dimensão infinita, isto é, dim X = ∞ pode acontecer que
σd (T ) = ∅ no entanto o operador tem valores espectrais. O próximo exemplo
apresenta um operador com esta propriedade, isto é, T possui valores espectrais
que não são valores próprios.
R0 (T )w = (w2 , w3 , . . .)
T z = 0z ⇔ (0, z1 , z2, . . .) = 0 ⇒ z1 = z2 = . . . = 0,
185
De seguida vamos analisar com mais pormenor o problema da existência de
valores próprios de operadores auto-adjuntos limitados. Seja H é um espaço de
Hilbert complexo e T ∈ B(H) um operador auto-adjunto, isto é,
Como (x, x) = |x|2 ! 0 por x ! 0, então dividindo por (x, x) obtemos λ = λ̄.
Portanto, λ é real.
Um operador auto-adjunto pode não ter valores próprios, como mostra o se-
guinte exemplo.
186
Exemplo 8.12 Seja H = L2 ([0, 1]) e T ∈ B(H) definido por
É claro que T λ−1 não é limitado quando λ ∈ [0, 1] (quando t = λ, (T λ−1 x)(t) =
∞!); como D(T λ−1 ) é denso em L2 ([0, 1]), então concluímos que [0, 1] ⊂
σc (T ).
ρ(T ) = R\[0, 1]
σ(T ) = σc = [0, 1]
σ p (T ) = σr (T ) = ∅.
187
Teorema 8.13 Seja T ∈ B(H) um operador linear limitado auto-adjunto no es-
paço de Hilbert complexo H. Então
,T , = sup |T x| = 0 ⇒ T = 0
|x|=1
(T y1 , y1 ) − (T y2 , y2 ) = 2[(T v, w) + (T w, v)]
= 2((T x, T x) + (T 2 x, x))
= 4|T x|2 . (8.5)
|(T y, y)| = |y|2 |(T z, z)| ≤ |y|2 sup |(T z, z)| = K|y|2 .
|z|=1
= 2K(|v|2 + |w|2 )
= 4K|T x|. (8.6)
188
Portanto, de (8.5) e (8.6) resulta
(T λ x, y) = 0, ∀x ∈ H.
189
Escolhendo z = (T ∗ − T )w, obtemos |(T ∗ − T )w|2 = 0, ∀w ∈ $2 (C). Portanto,
as propriedades de norma implicam que (T ∗ − T )w = 0, ∀w ∈ $2 (C), ou seja
T ∗ − T = 0 e, portanto, T ∗ = T . Deste modo T é auto-adjunto.
T λ z = w ⇔ z = T λ−1 w.
Assim,
T λ z = w ⇔ (T − λI)z = w
5 z2 zn 6
⇔ z1 − λz1 , − λz2 , . . . , − λzn , . . . = (w1 , w2 , . . . , wn , . . .),
2 n
de onde resulta que
w1
z1 = ,
1−λ
2w2
z2 = ,
1 − 2λ
.. .. ..
. . .
nwn
zn =
1 − nλ
.. .. ..
. . .
190
2 3
É claro que para λ " 1, 12 , 13 , . . . n1 , . . . , o operador está bem definido e D(T λ−1 ) =
$2 (C), de onde resulta que D(T λ−1 ) é denso em $2 (C). Vamos, agora estudar T λ−1
quanto à sua limitação:
∞ ++ + ∞ + +
−1 2
1 nwn ++2 1 ++ n ++2
|T λ w| = +
++ ++ = ++ ++ |wn |2 .
n=1
1 − nλ n=1
1 − nλ
|T λ−1 en | = n,
Exercícios
Exercício 8.4 Seja H = $2 (C) o espaço de Hilbert das sucessões complexas de
quadrado somável. Consideremos o operador T definido por
5 6
z2 zn
T : $2 (C) → $2 (C), x 3→ T z := 0, z1 , , . . . , , . . . .
2 n
Encontre o espectro do operador T .
Exercício 8.5 Seja X = C([0, 1]) o espaço de Banach de todas as funções contí-
nuas no intervalo [0, 1] e T : X → X definida por
Calcule o espectro de T .
191
Exercício 8.6 Seja T : X → X um operador linear limitado num espaço de Ba-
nach X tal que ,T , < |λ|. Mostre que λ pertence ao conjunto resolvente de T , isto
é, λ ∈ ρ(T ). Conclua que σ(T ) ∈ D,T , (C), onde D,T , (C) é o disco com centro na
origem e raio ,T ,, isto é,
Calcule o espectro de T .
T z = (z2 , z3 , . . .).
192
1. A seguinte identidade é verdadeira
3. A aplicação
ρ(T ) 5 λ 3→ Rλ (T ) ∈ B(X)
é contínua.
ρ(T ) 5 λ 3→ Rλ (T ) ∈ B(X)
|T λ x| ≥ c|x|, T λ := T − λI.
193
Deste modo, |T λ x| ≥ c|x|, onde c = 1/k.
2. Suponhamos, que λ = α+βi, β ! 0 com vista a provar que λ ∈ ρ(T ); implicando
que σ(T ) ⊂ R. Como T é auto-adjunto, então para qualquer x ! 0 em H, (T x, x),
(x, x) são reais. Por outro lado, temos
(T λ x, x) = (T x, x) − λ̄(x, x),
pelo que
(T λ x, x) − (T λ x, x) = (λ − λ̄)(x, x) = 2iβ|x|2 .
O lado esquerdo é igual a −2iIm(T λ x, x). Portanto, dividindo por 2, tomando o
valor absoluto e usando a desigualdade de Cauchy-Schwarz, obtemos
|β||x|2 = |Im(T λ x, x)| ≤ |(T λ x, x)| ≤ |T λ x||x|.
Dividindo por |x| ! 0 resulta que
|T λ x| ≥ |β||x|, |β| > 0
e, pela alínea anterior, λ ∈ ρ(T ). Concluímos, pois, que se λ ∈ σ(T ), então λ é
real.
Prova. Já sabemos pelo Teorema 8.16-2. que o espectro σ(t) é real. Vamos mos-
trar que se λ = M + ε, ε > 0, então λ pertence ao conjunto resolvente ρ(T ). Seja
x ! 0 e definimos v := |x|−1 x de onde resulta x = |x|v. Assim,
(T x, x) = |x|2 (T v, v)
≤ |x|2 sup(T ṽ, ṽ)
|ṽ|=1
= (x, x)M.
Daqui resulta −(T x, x) ≥ −(x, x)M e, pela desigualdade de Cauchy-Schwarz
obtemos
|T λ x||x| ≥ −(T λ x, x)
= −(T x, x) + λ(x, x)
≥ (−M + λ)(x, x)
= c|x|2 , c := −M + λ = ε > 0.
194
Portanto, dividindo por |x| obtemos a desigualdade
|T λ x| ≥ c|x|
pelo que λ ∈ ρ(T ) pelo Teorema 8.16-1. Para λ < m a idea da prova é a mesma.
195
Como T é compacto, então a sucessão (T xn )∞ ∞
n=1 possui uma subsucessão (T yk )k=1
convergente. Por sua vez, a sucessão de números reais ((T yk , yk ))∞ n=1 possui uma
subsucessão ((T zl , zl ))∞
l=1 convergente para um número real λ ∈ R com |λ| ≤ ,T ,.
Vamos provar que
Como (T yk )∞ ∞
k=1 é convergente, então a subsucessão (T zl )l=1 também é convergente,
digamos
lim T zl = ψ.
l→∞
Temos
Temos ainda |T zl | ≤ ,T , = |λ| o que implica |ψ| ≤ |λ|. Daqui resulta a igualdade
(8.8). Por outro lado, de
lim T zl = ψ
l→∞
existe e
,T , = max |(T x, x)|.
|x|=1
196
Prova. Pelo Teorema 8.19, ,T , é um valor próprio de T . Seja x o vector próprio
correspondente a ,T , tal que |x| = 1. Temos,
(T x, x) = (,T , x, x) = ,T , |x|2 = ,T , ,
197
com vista à sua generalização a espaços de Hilbert com dimensão infinita. Para
cada vector próprio λi associamos o subespaço próprio E(λi ) definido por
E(λi ) = {x ∈ H| T x = λi x}.
A projecção ortogonal Pi := Pλi sobre E(λi ) é definida da seguinte forma
Pi : H −→ E(λi ), x 3→ Pi (x) := αi xi .
Pi está bem definida, de facto para cada x ∈ H, Pi (x) ∈ E(λi ), visto que
T (Pi (x)) = αi T xi = λi αi xi = λi Pi (x).
Portanto, a igualdade (8.9) pode escrever-se como
1 n n
1
x= Pi x =⇒ I= Pi
i=1 i=1
e a igualdade (8.10) dá lugar a
1n n
1
Tx = λ i Pi x =⇒ T= Pi . (8.11)
i=1 i=1
Isto é a representação de T em termos de projecções e dos valores próprios. Por
outras palavras, o espectro de T é utilizado para obter a representação de T , dada
em (8.11), em termos de operadores simples como são as projecções Pi .
Teorema 8.22 (Espectral) Seja T ∈ B(H) um operador auto-adjunto e com-
pacto. Então
1. Existe um sistema ortogonal (en )∞
n=1 de vectores próprios de T com valores
próprios correspondentes (λn )∞
n=1 tal que para qualquer x ∈ H temos
1 ∞
Tx = λn (x, en )en .
n=1
Se (λn )∞
n=1 é uma sucessão infinita, então λn → 0, n → ∞.
2. Inversamente, se (en )∞ ∞
n=1 é um sistema ortogonal em H e (λn )n=1 é uma su-
cessão de números reais finita ou infinita tal que λn → 0, então o operador
T definido por
∞
1
T x := λn (x, en )en
n=1
é linear auto-adjunto e compacto.
Prova. Sem prova.
198
Exercícios
Exercício 8.14 Seja T um operador compacto auto-adjunto em H cuja represen-
tação espectral é dada por (8.11). Mostre que
199