Taxa Natural Desemprego Brasil A Partir Analise Estrutura Mercado Trabalho
Taxa Natural Desemprego Brasil A Partir Analise Estrutura Mercado Trabalho
Taxa Natural Desemprego Brasil A Partir Analise Estrutura Mercado Trabalho
Ruben Doege
Maurício Vaz Lobo Bittencourt*
Resumo: Este trabalho estima a taxa natural de desemprego do Brasil a partir da análise da
estrutura do mercado de trabalho. Para tanto inicialmente são analisadas algumas teorias produzidas
sobre o desemprego, que explicam o comportamento otimizador dos agentes e sua conseqüência
para a determinação do salário de equilíbrio. A taxa natural de desemprego é uma variável não
observável, estimada a partir do sistema de equações construído de acordo com o modelo de
barganha salarial de Blanchard. A estimação é feita por meio da transformação das equações em
forma de estado espaço. O problema da mudança de metodologia da PME, em 2002 é contornado
de acordo com o sugerido por da Silva Filho (2008).
Palavras-chave: Taxa Natural de Desemprego, Forma Estado Espaço.
Abstract: This paper estimates the Brazilian natural rate of unemployment through the analises of
the labor market structure. Initially some theories about unemployment are analized, which explain
the individuals optimizing behaviour and its consequence to the determination of the equilibrium
wage. The natural rate of unemployment is an unobservable variable estimated in the system of
equations built according to Blanchard's wage bargaining model. The estimation is realized through
the transformation of the equations in state space form. The methodology change in PME in 2002
issue is solved following the suggested by da Silva Filho (2008).
Keywords: Natural Rate of Unemployment, State Space Form.
Introdução
Mestrando em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná. Email:
[email protected]
*
Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná. Email:
[email protected]
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levaram o desemprego na união européia a saltar de cerca de 3% no início dos anos 70 para
mais de 10% no final da mesma década (Bean, 1994). O fenômeno de elevação do
desemprego foi bastante acentuado nos países da comunidade européia, mas não é uma
exclusividade destes. Muitos outros países convivem com taxas altas e constantes de
desemprego por grandes períodos de tempo, desafiando assim economistas e formuladores
de políticas econômicas.
O presente trabalho irá realizar a estimação da taxa natural de desemprego do Brasil
como originalmente proposta por Friedman (1968) e Phelps (1968), ou seja, uma taxa que
reflita a estrutura do mercado de trabalho, e que vigore no equilíbrio, após todos os ajustes
terem sido realizados.
Apesar de sua importância teórica e empírica pouco trabalho sobre a taxa natural de
desemprego tem sido produzido no Brasil. Os trabalhos existentes realizam a estimação ou
por meio da Curva de Phillips ou através da decomposição da série temporal em suas partes
de tendência, ciclo e sazonalidade. Não foram encontrados estudos que estimem esta taxa
como um elemento de um sistema macroeconômico mais complexo, que, além da inflação
considere também a estrutura do mercado de trabalho em questão. O presente estudo se
propõe a auxiliar a preencher esta lacuna da literatura econômica nacional e contribuir na
discussão empírica, realizando a estimação da taxa natural de desemprego brasileira a partir
de um ponto de vista estrutural. Como objetivo principal está posto o desafio de descobrir
qual a taxa de desemprego natural do Brasil e o seu comportamento no tempo, bem como
seus determinantes.
A estimação empírica está fundamentada no modelo de barganha salarial de
Blanchard (1991) e nas modificações propostas por Salemi (1999). A estimação é realizada
através de máxima verossimilhança com informação completa. As equações são
transformadas na forma de estado espaço e utiliza-se o filtro de Kalman
I - Revisão de Literatura
A taxa natural de desemprego é um conceito originalmente desenvolvido por
Friedman (1968) e Phelps (1968), entendida como uma taxa produzida pela estrutura do
mercado de trabalho e pela natureza das relações entre firmas e trabalhadores. A partir dos
trabalhos iniciais destes autores muito foi feito na tentativa de formalizar o conceito
introduzido e especificar os seus determinantes.
Phelps introduziu na economia a noção de informação imperfeita e de fricções de
mercado (Aghion et al. 2001). Trazidos para a discussão do mercado de trabalho estes dois
conceitos mostram de que maneira o desemprego pode atingir o equilíbrio num nível
superior ao friccional. As relações entre firmas e trabalhadores são caracterizadas por
informação imperfeita. O trabalhador conhece muito melhor suas próprias habilidades e
disposição para exercer esforço do que o seu empregador. Mas ele não conhece as
condições de trabalho e o salário pago por todas as firmas do mercado. Um trabalhador
desempregado pode enfrentar dificuldades em tomar conhecimento de oportunidades de
trabalho disponíveis. Trabalhadores empregados podem formar sindicatos e demandarem
maiores salários, podem não exercer esforço satisfatório no desenvolvimento de suas
atividades ou podem ainda praticar mecanismos que reduzam a produtividade daqueles que
se oferecem para trabalhar por um salário mais baixo.
Se o nível natural de desemprego depende de fatores estruturais, então não existe
um trade-off entre inflação e desemprego no longo prazo, dado que a inflação é um
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1
HAYEK, 1985, p. 42-43.
2
Layard, R., Nickell, S., Jackman, R. Unemployment. Oxford: Oxford U. Press, 1991.
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Na seção anterior foi dito que a natureza das relações existentes entre firmas e
trabalhadores leva à determinação do salário de equilíbrio acima daquele que limpa o
mercado, resultando em excesso de mão-de-obra ou desemprego. Isto não significa que os
agentes sejam irracionais, muito pelo contrário, é através do comportamento otimizador de
trabalhadores e firmas que se dá o estabelecimento deste salário de equilíbrio elevado. A
racionalidade por trás deste resultado será apresentada nesta seção.
que a situação é semelhante nas outras capitais que entram na pesquisa mensal de emprego
(PME).
Embora o objetivo seja garantir o bem estar dos indivíduos o salário mínimo pode
gerar distorções econômicas e resultados indesejados. O mercado de trabalho é o âmbito em
que se encontram ofertantes e demandantes, ou seja, trabalhadores oferecendo sua mão-de-
obra e empregadores decidindo contratá-los ou não. De maneira natural surge um preço que
equilibra este mercado, o salário. O estabelecimento de um salário acima daquele que seria
atingido numa situação de concorrência perfeita gera um desequilíbrio entre oferta e
demanda, criando excesso de oferta.
Foguel (1998) avalia os efeitos produzidos pelo salário mínimo não somente sobre o
nível de emprego, mas sobre uma série de indicadores do mercado de trabalho. O autor
encontra que no período analisado (1982 a 1987) o desemprego passa de 5% para 5,5%
como resposta a um aumento de 10% no salário mínimo. Corseuil e Carneiro (2001)
encontram um efeito fraco, mas negativo, do salário mínimo sobre o emprego formal e
também fraco, mas positivo, sobre o emprego informal.
Os trabalhos empíricos analisados encontram uma relação negativa entre o nível de
emprego e o salário mínimo, embora seja claro que esta relação não é tão direta e depende
das características do mercado de trabalho em questão.
3
Replacement ratio, no original em inglês.
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que estima a taxa natural de desemprego por duas metodologias distintas, a já mencionada
tendência da série temporal e também por meio do aparato da Curva de Phillips. Portugal,
Madalozzo e Hillbrecht (1999) estendem os resultados do trabalho de 2000 ao apresentarem
novas estimativas para a NAIRU e ao incorporar esta medida a um modelo de metas de
inflação. A metodologia utilizada é a mesma do estudo anterior e os resultados são bastante
coerentes com a teoria da curva de Phillips. Os anos de grande pressão inflacionária são
aqueles em que a taxa de desemprego está abaixo da NAIRU, ocorrendo o contrário nos
anos em que a inflação apresente comportamento de baixa.
O que desperta a atenção é a conclusão dos autores de que não há necessidade de se
manter o desemprego sempre em patamar elevado para que a inflação se mantenha baixa,
mas de que interessa olhar a estrutura do emprego/desemprego do país. Nas palavras dos
autores “the quality of jobs and the skills of the labour force can be questioned. The
importance of more flexible labour regulations on reducing the equilibrium rate of
unemployment is highlighted together with the incentive to invest on human capital. We
think that these parameters should be deeply analysed to lower the unemployment without
accelerating the inflation.”4
O aparato metodológico da curva de Phillips também é utilizado por Lima (2003)
com o objetivo de se obter estimativas para a NAIRU. Para o autor, ainda que as
estimativas produzidas sejam muito imprecisas, sua importância se atesta pelo
comportamento da taxa natural em relação à observada. Durante os anos de alta inflação o
desemprego observado é inferior à NAIRU, o contrário ocorrendo no período de inflação
baixa.
Um trabalho mais recente, de da Silva Filho (2008), também afirma que pouco
trabalho tem sido realizado sobre o tema desemprego para o Brasil. Para o autor este fato é
estranho, dado que a estabilidade econômica permite que questões de longo prazo entrem
na agenda dos economistas. O objetivo deste trabalho é a estimação da taxa natural, e o faz
através do ferramental da curva de Phillips, de maneira semelhante aos estudos citados
anteriormente. O autor observa que desde 1994 a curva de Phillips não se verifica no Brasil.
Ou seja, a partir da adoção do Plano Real deixou de existir um trade-off entre inflação e
desemprego. Ao contrário, a correlação tem sido positiva. As estimações apresentadas
mostram uma NAIRU em torno de 7,5% a 8,5%, bastante inferior à taxa observada de
desemprego. De maneira semelhante à Portugal, Madalozzo e Hillbrecht (op cit) o estudo
conclui que o crescimento econômico pode levar à diminuição do desemprego sem causar
elevação da inflação.
A primeira dificuldade com a qual se depara quem pretende trabalhar com dados de
desemprego no Brasil é a revisão metodológica implantada em 2001 pelo IBGE5 na
principal pesquisa de mercado de trabalho do país, a PME6. Esta mudança de metodologia
causou uma quebra na série histórica de desemprego, dado que os dados produzidos pela
4
PORTUGAL, MADALOZZO, HILLBRECHT, 1999, p. 18.
5
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
6
Pesquisa Mensal de Emprego, realizada em seis regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre).
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pesquisa antiga são incomparáveis com os dados produzidos pela nova pesquisa. Esta
quebra na série pode ser verificada na figura 1.
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2
PME ANTIGA PME REVISTA
0
1980.01
1981.03
1982.05
1983.07
1984.09
1985.11
1987.01
1988.03
1989.05
1990.07
1991.09
1992.11
1994.01
1995.03
1996.05
1997.07
1998.09
1999.11
2001.01
2002.03
2003.05
2004.07
2005.09
2006.11
2008.01
2009.03
Figura 1 – Série de Desemprego PME – 1980.01 a 2009.07.
A figura deixa claro que existe uma quebra na série no ano de 2002, quando ela sai
de um valor em torno de 6,5% para mais de 11% no mês seguinte.
A sugestão dada pelo trabalho segue a recomendação de da Silva Filho (2008).
Como as duas pesquisas foram divulgadas concomitantemente durante algum tempo uma
alternativa é calcular a diferença entre as médias das séries neste período em que ambas
foram divulgadas e utilizar esta diferença como um fator de extensão da nova pesquisa. A
principal suposição neste caso é de que as pesquisas não diferem em sua dinâmica, apenas
em nível. O período utilizado para o cálculo das diferenças nas médias foi o ano de 2002,
de janeiro a dezembro. A série construída desta forma recebeu o nome de UN1 e está
demonstrada na figura 2, juntamente com a PME antiga.
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1981.01
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1983.01
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1986.01
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1990.01
1991.01
1992.01
1993.01
1994.01
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1996.01
1997.01
1998.01
1999.01
2000.01
2001.01
2002.01
2003.01
2004.01
2005.01
2006.01
2007.01
2008.01
2009.01
PME antiga Série construída (UN1)
IV - Metodologia
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wr awt*1 1 a wtr1 1 awt*2 1 a wtr2
b ntr1 Et 1 nt 1 b ntr2 Et 2 nt (4)
A equação (4) amplia a equação (3) de duas maneiras. Primeiro, ela permite
que w * , w r e n r variem ao longo do tempo. Segundo, ela permite que o processo de
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Esta definição de salário de reserva não leva em consideração os efeitos do salário sobre a
disposição dos trabalhadores em exercer esforço, como visto na teoria de salário eficiência.
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barganha ocorra em dois períodos. Uma fração dos trabalhadores barganha o salário de
um período à frente, enquanto outra fração 1 barganha o salário com dois períodos de
antecedência. Na equação (4) wt* j é o salário que mantém empregados aqueles que estavam
nesta situação em t-j, wtr j é o salário de reserva que em t-j espera-se que prevaleça em t e
ntr j é o emprego que em t espera-se que ocorra em t-j caso todos os trabalhadores sejam
pagos ao salário de reserva.
As equações motivadas pelo modelo de barganha salarial de Blanchard com as
alterações propostas por Salemi e que serão estimadas através do método de máxima
verossimilhança com informação completa são as seguintes:
N t N t 1 ' Z t Nt (5)
U t N t 1 U t 1 N t 1 2 U t 2 N t 2 pt 2 f t ut (6)
Wt 0 1 ' Qt 1 2 U t 1 N t 1 3 U t 2 N t 2 4 pt 5 f t wt (7)
Pt ' Qt 1 pt (8)
A equação (5) é a taxa natural de desemprego, uma variável não observável que será
obtida a partir deste sistema de equações simultâneas.
A equação (6) é motivada pela equação de desemprego do modelo de Blanchard.
O processo de barganha salarial toma forma através da equação (7) e a dinâmica de
mudança dos preços é capturada através da equação (8).
As variáveis utilizadas no sistema de equações serão descritas mais adiante, na
seção destinada a realizar as estimações empíricas. Entretanto, pode-se adiantar que o vetor
de variáveis contém as variáveis que provocam alterações no salário de reserva. Como
explicado na seção de revisão de literatura, estas variáveis tentam capturar a força dos
sindicatos, a participação relativa da população jovem, o salário mínimo e o seguro
desemprego.
t 1 F t t 1
Onde F é uma matriz rxr e t um vetor i.i.d N(0,Q).
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Hamilton, J. D.
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E t m | t , t 1 ,... F m t
y t A' x t H ' t wt
t 1 F t t 1
rxr rx1
rx1 rx1
E t 1 't 1 Q
rxr
y t A' x't H ' t wt
nxk kx1 nxr
nx1 rx1 nx1
E wt w't R
nxn
V - Resultados
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benef = SD_médio11/ w
lsm _ real = log do salário mínimo real
un = taxa de desemprego observada
exp ec = expectativa de inflação
= inflação
i = taxa Selic
w = rendimento médio real efetivo das pessoas ocupadas
m = taxa de crescimento da base monetária
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Onde SD_médio é a razão entre o total de seguro desemprego pago no período e a quantidade de
beneficiários.
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unt 1 un 1 n 1 2 un 2 n 2 3 exp ec 1 1 4 i 5 n 1
6 w 1 e2
wt 0 1 exp ec 2 un 1 3un 2 4 i e3
t 1 exp ec 2 i 3 m e4
Como pode ser observado na tabela 5 o modelo possui uma boa especificação, dado
que todos os seus parâmetros são significativos a 1%. A variável estado também é
significativa, a 5%, assim como o são as suas defasagens, estas também a 1%.
A análise individual dos parâmetros das equações que compõem o sistema mostra
resultados esperados, mas, também, alguns inesperados. Um resultado condizente com a
expectativa é com relação ao parâmetro . Este parâmetro encontra-se dentro do círculo
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unitário, o que demonstra a inexistência de histerese para a taxa natural. A discussão que
houve em torno da elevação das taxas de desemprego na comunidade europeia a partir dos
anos 70 muitas vezes apresentou a histerese como uma possível explicação. Entretanto,
alguns autores apresentaram evidências em contrário, levando à rejeição desta hipótese
(KRUGMAN, 1994; PHELPS, 1995). O resultado apresentado na tabela 5 não sugere a
existência de histerese na taxa natural de desemprego da economia brasileira.
O parâmetro associado à atratividade dos pagamentos de seguro desemprego
apresentou sinal contrário ao esperado. Apesar de significativo, não faz muito sentido
imaginar que elevados benefícios pagos aos desempregados, aumentando a utilidade obtida
pelo indivíduo, estejam relacionados de forma inversa à taxa natural de desemprego. A
teoria produzida a respeito e apresentada no início do trabalho desautoriza esta
interpretação.
A diferença entre a taxa observada de desemprego e a taxa natural, constante na
equação do desemprego, alinha o modelo à teoria, que preconiza que a taxa natural de
desemprego funciona como um atrator para a taxa observada. Como era de se esperar, seus
parâmetros são significativos. Não só a diferença entre as taxas corrente e observada, mas
também o valor da taxa natural de desemprego se mostra importante para a determinação
do nível de desemprego observado.
De forma condizente com as referências teóricas deste trabalho , o salário
barganhado no período anterior está associado de forma positiva com o desemprego no
período atual. A determinação do salário, por sua vez, é negativamente relacionada com as
taxas de desemprego dos períodos anteriores. À relação entre a barganha salarial por parte
dos trabalhadores e o nível de desemprego, Blanchard deu o nome de efeito medo. O
resultado do modelo confirma a existência deste fenômeno. Quanto maior for o desemprego
corrente, menor será a disposição que os trabalhadores terão para reivindicar salários
maiores. É mais racional garantir a manutenção do emprego numa situação econômica
adversa do que arriscar perdê-lo e enfrentar dificuldades para a recolocação em troca de um
possível aumento salarial.
A variável a que o modelo se propunha encontrar mostra aspectos positivos, mas
também alguns não tão bons. Na média do período a taxa natural de desemprego
encontrada foi de 9,69%, inferior ao desemprego efetivamente observado de 10,25%. O
fato da taxa natural de desemprego situar-se abaixo da taxa observada significa que não
foram adotadas políticas monetárias com o intuito de, ilusoriamente, aquecer o mercado de
trabalho. Os empregos que, porventura fossem criados através de emissão monetária
necessariamente teriam que ser mantidos por meio de maiores emissões, com
consequências inflacionárias inevitáveis. Numa situação de escalada dos índices de inflação
o governo se vê obrigado a adotar políticas impopulares de contenção do nível de preços, o
que provoca uma perda de dinâmica do mercado de trabalho e elevação das taxas de
desemprego. Como explicado por Hayek, a consequência previsível de uma política
monetária frouxa no presente é a geração de desemprego no futuro.
Com a taxa natural de desemprego, na média, inferior à taxa observada, espera-se
que não haja pressão inflacionária. De fato o aumento de preços não foi uma grande
preocupação do período. Como mostra a tabela 4, a média mensal de inflação foi 0,59% no
período. A figura 8 mostra que no período em que a taxa natural de desemprego foi
significativamente maior do que a taxa observada a economia brasileira passou por uma
escalada nos índices de preços. Entretanto, duas características encontradas na taxa natural
sugerem cautela na sua interpretação. Um dos fatores é a grande variabilidade dos dados de
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VI – Conclusão
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