13 CA - Modelação Hidrológica - Angola
13 CA - Modelação Hidrológica - Angola
13 CA - Modelação Hidrológica - Angola
º Congresso da Água
2 - CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Av. Rovisco Pais 1, 1049-001, Lisboa, Portugal
e-mail: [email protected]
Resumo
O conhecimento das disponibilidades hídricas de uma bacia hidrográfica é uma questão
crucial para o bem-estar das populações que dependem do recurso água para a sua
sobrevivência e qualidade de vida. Em regiões onde as redes de monitorização hidro-
meteorológica apresentam deficiências importantes, a modelação hidrológica apresenta-se
como um importante instrumento que permite ultrapassar as dificuldades colocadas por essa
escassez de dados hidrológicos. É esse o caso de Angola onde durante as últimas décadas
a monitorização de variáveis hidrológicas foi escassa ou quase inexistente.
Este artigo apresenta uma aplicação do modelo de balanço hídrico sequencial mensal de
Thorthwaite-Matter a várias bacias hidrográficas de Angola. Dada a fraca cobertura espacial
da precipitação no território, os valores da precipitação nas bacias hidrográficas analisadas,
obtidas com base nos polígonos de Thiessen, foram corrigidos tendo por base as superfícies
médias da precipitação mensal obtidas com base nas estimativas de precipitações mensais
dadas pelo projeto de monitorização por satélite Tropicall Rainfall Measuring Mission
(TRMM) 3B43. Verificou-se que, não obstante da simplicidade dos polígonos de Thiessen, a
inclusão das superfícies do TRMM não conduzem a melhores resultados no modelo de
balanço hídrico. A evapotranspiração potencial foi calculada através de várias metodologias,
tendo a fórmula de Turc conduzido aos melhores resultados.
Para a validação do modelo hidrológico compararam-se os resultados dos escoamentos
mensais obtidos no modelo com os valores do escoamento medido nas estações
hidrométricas através de várias estatísticas, entre as quais o coeficiente de eficiência de
Nash-Sutcliffe (NSE).
Tema: Avaliação das disponibilidades de água, incluindo modelação hidrológica.
1. INTRODUÇÃO
A compreensão e a capacidade de modelação do regime hidrológico de bacias hidrográficas
são extremamente relevantes para o planeamento dos recursos hídricos e, concretamente,
para a caracterização das disponibilidades hídricas. A modelação do balanço hídrico de uma
bacia hidrográfica assume uma importância ainda maior quando escasseiam dados de
monitorização, como é o caso de Angola.
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Angola é um país tropical que abrange bacias hidrográficas de grandes rios africanos, cuja
importância é fundamental para a qualidade de vida das populações, não só para
abastecimento urbano e agrícola, mas também para a produção de energia elétrica.
A medição de alturas hidrométricas nos grandes rios de Angola iniciou-se na década de 50
tendo cessado por completo, em meados da década de 80. A medição das restantes
variáveis hidrológicas, em especial a precipitação, temperatura do ar e evaporação de Piche
iniciou-se numa data anterior ao início da medição das alturas hidrométricas e continuou a
ser efetuada até aos dias de hoje, em especial nas sedes de província, com muitas
vicissitudes que conduziram a falhas de registos significativas. A utilização de modelos
hidrológicos que permitem o cálculo do escoamento a partir de variáveis climáticas de que
se disponham de registos, concretamente a precipitação e a temperatura do ar é, por isso,
muito útil num país como Angola.
Este artigo apresenta uma aplicação do modelo de balanço hídrico sequencial mensal de
Thorthwaite-Matter a várias bacias hidrográficas de Angola. O modelo recorre a um único
reservatório para descrever a retenção de água no solo e condicionar a repartição da
precipitação em evapotranspiração, retenção e escoamento superficial. Os dados do modelo
são as séries de precipitação e de evapotranspiração potencial mensais, a partir das quais
são calculados a evapotranspiração real mensal e o escoamento mensal.
Dada a fraca cobertura espacial da precipitação no território, os valores da precipitação nas
bacias hidrográficas analisadas, obtidas com base nos polígonos de Thiessen, foram
corrigidos tendo por base as superfícies médias da precipitação mensal obtidas com base
nas estimativas de precipitações mensais dadas pelo projeto de monitorização remota
TRMM 3B43. Verificou-se que, não obstante da simplicidade dos polígonos de Thiessen, a
inclusão das superfícies do TRMM não conduzem a melhores resultados no modelo de
balanço hídrico.
Não existindo medições diretas da evapotranspiração potencial em Angola, foi necessário
estimar esta variável por métodos indiretos que recorrem a dados de outras variáveis
meteorológicas. Avaliou-se a qualidade das estimativas da evapotranspiração potencial
calculadas pelos métodos de Thorthwaite, Turc, Hargreaves-Samani e Blaney-Criddle, que
exigem um menor número de elementos meteorológicos.
Com base nos resultados obtidos verificou-se que o modelo de balanço hídrico sequencial
mensal de Thorthwaite-Matter, com a evapotranspiração potencial calculada pela fórmula de
Turc apresenta resultados razoáveis em Angola.
Para a validação do modelo hidrológico compararam-se os resultados dos escoamentos
mensais obtidos no modelo com os valores do escoamento medido nas estações
hidrométricas através de várias estatísticas, como o coeficiente de eficiência de
Nash–Sutcliffe.
2. MODELO DE THORTHWAITE-MATTER
A simulação matemática em hidrologia recorre a um conjunto de relações matemáticas que
descrevem os vários processos do ciclo hidrológico. A transformação das variáveis de
entrada nas variáveis de saída, através de um conjunto de processos inter-relacionados e
dependentes entre si, pode ser descrita de forma matemática com diferentes graus de
generalidade, complexidade e simplificação (Pitman, 1973). O valor de um modelo
hidrológico está relacionado com a sua capacidade de gerar, de forma consistente, um
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resultado que possa ser aplicado na construção ou avaliação de soluções para problemas
reais de recursos hídricos, a partir de informação que esteja disponível para ser usada como
input do modelo.
Os modelos hidrológicos de balanço hídrico têm como variáveis de entrada a precipitação e
a evapotranspiração potencial e como principais variáveis de saída o escoamento que aflui à
rede hidrográfica e a recarga que alimenta os aquíferos. Estes modelos procedem à
determinação sequencial, ao longo do período de simulação, do balanço hídrico de um dado
intervalo de tempo, por regra o mês ou o dia. Têm sido largamente utilizados para analisar e
simular componentes do ciclo hidrológico em diferentes domínios como na classificação
climática das várias regiões, na avaliação do balanço hídrico global ou na avaliação do
impacto das alterações climáticas.
Entre os modelos de balanço hídrico sequencial mensal destaca-se, pela sua simplicidade, o
modelo de Thorthwaite-Matter, proposto em 1948 por Thornthwaite e posteriormente
modificado por Matter, em 1955 (Thornthwaite e Matter, 1955). O modelo de
Thorthwaite-Matter é um modelo agregado que ignora a heterogeneidade espacial das
várias grandezas que afetam os processos hidrológicos. Tem como variáveis de entrada
(variáveis independentes) os valores mensais da precipitação e da evapotranspiração
potencial, e como variáveis de saída (variáveis dependentes), o escoamento afluente à rede
hidrográfica e a evapotranspiração real.
O modelo recorre a um único reservatório para descrever a retenção de água no solo e
condicionar a repartição da precipitação em evapotranspiração, retenção e escoamento
(Figura 1).
Superfície
...............
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(1)
(2)
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(4)
Na sua versão original, Thorthwaite e Matter sugerem que se considere que o excedente
contribui, em partes iguais, para o escoamento do passo de cálculo que lhe deu origem e do
passo de cálculo seguinte, correspondendo a primeira parcela ao escoamento direto ou
superficial e a segunda ao escoamento subterrâneo que demora mais tempo a afluir à rede
hidrográfica. Assim, o excedente divide-se em partes iguais no escoamento nos intervalos
de tempo i e i+1, ficando metade do excedente armazenada na bacia hidrográfica até ao
intervalo i+1 (McCabe e Markstrom, 2007). O escoamento no intervalo i pode ser calculado
pela equação (5).
(5)
Vários outros autores assumiram, a posteriori, que o excedente se divide num número
infinito de parcelas de acordo com um parâmetro , menor que um. O excedente dá
origem a um escoamento igual a no intervalo i, ficando o restante, ,
disponível para os intervalos de tempo seguintes. A distribuição de pelos
intervalos de tempo futuros é também função do parâmetro , pelo que o escoamento no
intervalo i+1 incluirá uma parcela igual a , o escoamento no intervalo i+2
incluirá uma parcela igual a , e assim sucessivamente. Com esta hipótese, o
escoamento no intervalo i pode ser calculado pela expressão (6).
(6)
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3. EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL
3.1 Introdução
Os métodos indiretos para estimação da evaporação ou da evapotranspiração, a partir de
variáveis meteorológicas, podem ser classificados em métodos empíricos e em métodos
fisicamente baseados. No primeiro conjunto encontram-se os métodos de Thorthwaite
(1948), Blaney-Criddle (1950), Turc (1961) e Hargreaves (Hargreaves e Samani, 1982). O
segundo conjunto inclui, essencialmente, a fórmula de Penman e a suas variantes,
nomeadamente a metodologia de Penman-Monteith (Penman, 1948; Montheith, 1981; Allen
et al., 1998).
O método de Penman-Monteith necessita de variados elementos meteorológicos para o seu
cálculo, sendo o método recomendado pela United Nations Food and Agricultural
Organization (FAO) como modelo global padrão para estimativa da evapotranspiração de
uma cultura de referência. Em Angola, o uso deste método é difícil uma vez que os
elementos meteorológicos necessários não estão disponíveis, em quantidade e precisão
suficiente, para permitir o cálculo da evapotranspiração.
A qualidade dos dados de entrada condiciona a precisão dos resultados obtidos no cálculo
da evapotranspiração. Droogers e Allen (2002), Samani (2000) e Samani et al. (1986),
referem que os erros associados aos instrumentos que medem a radiação solar e a
humidade relativa são significativos. Jensen et al. (1997) questionam, ainda, a validade dos
dados relativos à velocidade do vento, uma vez que os mesmos são válidos para um local
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13.º Congresso da Água
específico, podendo não ser representativos da área em análise. Assim, diversos autores
recomendam a utilização de modelos para o cálculo da evapotranspiração potencial que
requerem menos variáveis meteorológicas. Shahidian et al. (2012) verificaram que as
diferenças entre os valores da evapotranspiração potencial mensal obtidos com base em
métodos mais simples e, onde intervêm menos variáveis meteorológicas conduziram a bons
resultados e, com pequenas diferenças, quando comparados com as incertezas na
estimativa da evapotranspiração de métodos maios elaborados.
3.2 Métodos para o cálculo da evapotranspiração
No caso de estudo, a quantificação da evapotranspiração potencial foi efetuada com base
nos métodos de Thorthwaite, de Blaney-Criddle, de Turc e de Hargreaves-Samani que
exigem um menor conjunto elementos meteorológicos.
O método de Thornthwaite (1948), apresentado pela primeira vez em 1944, é um método
empírico que relaciona, a temperatura média mensal do ar com a evapotranspiração, tendo
sido desenvolvido para condições de clima húmido e, por esse motivo, normalmente
apresenta subestimativas da evapotranspiração potencial em condições de clima seco. A
evapotranspiração potencial mensal é dada com base na equação (8).
(8)
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4. PRECIPITAÇÃO
A precipitação mensal em cada uma das bacias hidrográficas estudadas foi calculada de
duas formas. A primeira resulta da aplicação dos polígonos de Thiessen aos registos de
precipitação das estações udométricas. A segunda procura ultrapassar os problemas
decorrentes da fraca cobertura espacial dos dados in situ e recorre as estimativas da
precipitação mensal do projeto TRMM 3B43, versão 7, obtidas por monitorização remota.
O projeto TRMM foi desenvolvido pela Agência Aeroespacial Norte-americana (NASA), em
parceria com a Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), e teve por objetivo a
medição da precipitação tropical e subtropical por sensores instalados em satélites e a
verificação da sua influência no clima global (Huffman et al., 1995, 2007). O produto TRMM
3B43, versão 7, fornece as estimativas da precipitação mensal desde 1998, com uma
discretização temporal de 3h e uma discretização espacial de 0,25°0,25° lat/long. Pombo e
Oliveira (2014) estudaram estas estimativas e as de outros produtos (CMORPH e
PERSIANN) e concluíram que as estimativas do produto TRMM são as que apresentam os
resultados mais consistentes quando comparadas com os dados in situ, sugerindo o seu uso
conjunto com as medições in situ para melhorar as estimativas de precipitação mensal.
As estimativas do segundo método utilizado neste trabalho para estimar as séries de
precipitação mensal sobre as bacias hidrográficas resultam de uma correção às estimativas
do primeiro método, em que o fator de correção mensal é um rácio obtido, por bacia
hidrográfica, entre a precipitação mensal média calculada com base nos dados do TRMM
por co-crigagem, e a precipitação mensal média dada pelo primeiro método.
O segundo método exigiu a geração de doze superfícies, uma para cada mês,
correspondentes ao valor médio mensal da precipitação. Recorreu-se à co-crigagem sendo
a variável independente as estimativas mensais médias da precipitação do TRMM. A
abordagem adotada evita a produção de 12xn anos de superfícies de precipitação mensal.
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13.º Congresso da Água
Para o presente estudo foram selecionadas as estações hidrométricas com pelo menos 10
anos de dados completos, tendo-se identificado 35 secções, localizadas em quatro bacias
hidrográficas principais (Bengo, Catumbela, Cuanza e Cunene). A escolha deste limite teve
em conta a necessidade de o período ser suficientemente longo para o poder subdividir em
dois períodos: um primeiro subperíodo usado na calibração do modelo e um segundo para a
sua validação.
Para obter bons resultados nos modelos de balanço hídrico é necessário que ambos os
subperíodos sejam representativos da variabilidade hidrológica da bacia hidrográfica e que
incluam períodos de anos secos e húmidos. Infelizmente, face ao número de anos
disponíveis das séries foi difícil assegurar esta variabilidade, em ambos os subperíodos,
tendo-se optado por calibrar o modelo para o conjunto total de dados disponíveis de cada
série e depois efetuar duas validações, uma para cada subperíodo, e verificar a qualidade
dos resultados obtidos. É expectável que os resultados obtidos para cada um dos
subperíodos sejam piores do que os obtidos com a série total, já que esta última, dada a sua
dimensão, consegue assegurar a existência de anos característicos, o que já não se verifica
com as séries de cada um dos subperíodos. Adicionalmente, os resultados da calibração
foram também validados confrontando os valores dos parâmetros do modelo para as várias
bacias entre si e com as características das bacias hidrográficas.
A calibração do modelo hidrológico tem por objetivo identificar os valores a atribuir aos
parâmetros do modelo que conduzem a um melhor ajustamento entre os escoamentos
simulados e os escoamentos observados, sendo a qualidade desse ajustamento medida por
um indicador pré-estabelecido. Esse indicador é, em geral, objeto de otimização, existindo
um grande número de propostas alternativas (Diskin e Simon, 1977; Sorooshian et al., 1983;
Yen Gan et al., 1997 e Gupta et al., 1998), tendo-se neste trabalho adotado o coeficiente de
eficiência de Nash-Sutcliffe (NSE) (Schaefli e Gupta, 2007; Gupta et al., 2009;Tekleab et al.,
2011; Rientjes et al., 2011) e o erro médio (EM), também designado de erro de ajustamento.
O indicador NSE é adimensional e mede a capacidade do modelo em estimar uma grandeza
comparando os resultados do modelo com uma estimativa de referência, neste caso os doze
valores do escoamento mensal médio. O coeficiente NSE varia entre - e 1. Valores
negativos de NSE significam que a média dos valores observados é melhor que os valores
estimados. O valor zero significa que a média dos valores observados é tão boa como a
estimativa do modelo e o valor 1 corresponde a uma eficiência perfeita do modelo.
Os parâmetros NSE e EM são dados pelas equações (12) e (13), respectivamente.
1 Considerou-se ano completo mesmo que a série apresentasse cerca de 5% de falhas diárias.
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(12)
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Tabela 3 (cont.). Localização das estações hidrométricas com NSE maior que zero.
Modelo de balanço hídrico com dados de precipitação das estações de monitorização
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uma menor amplitude (160 mm e 190 mm) que as bacias do rio Cuanza (125 mm e
320 mm). Verifica-se também que nas bacias pertencentes ao Alto Cunene, o parâmetro
toma o valor de 160 mm e nas pertencentes ao Médio Cunene toma o valor de
190 mm. O parâmetro varia entre 0,25 e 0,35, sendo que em todas as bacias hidrográficas
analisadas do rio Cunene, o parâmetro toma o valor de 0,35.
As duas bacias hidrográficas pertencentes ao rio Cuanza que apresentam maior valor de
, EH de Povoação do Cuanza e EH de Chimbunde, são bacias contiguas e em que o
solo predominante é do tipo arenossolos, isto é, solos com elevada permeabilidade. A partir
da EH de Povoação do Cuanza os solos são do tipo ferralssolos e luvissolos cálcicos, solos
de textura argilosa, pelo que apresentam menor permeabilidade.
A diferença de valores obtida para das bacias hidrográficas do rio Gango (pertencentes
ao rio do Cuanza) também poderá ser justificadas com base no tipo de solos. Efectivamente,
de acordo com a carta de solos verifica-se que, em cerca de 50% da bacia hidrográfica da
EH de Gango (bacia de cabeceira), são predominantes os arenossolos e a restante área é
composta por ferralssolos. A área de bacia entre as duas estações hidrométricas é, na
totalidade, composta por ferralssolos.
Relativamente ao rio Cunene verifica-se que na unidade hidrográfica Alto Cunene,
representada pelas bacias hidrográficas das EH de Jamba Ia Homa e Jamba Ia Mina, são
predominantes os ferralssolos, já na unidade hidrográfica do Médio Cunene os arenossolos
ocupam uma grande percentagem da área das bacias hidrográficas das EH de Vila Folgares
e de Xangongo.
Os valores obtidos para o parâmetro são, assim, consistentes com os tipos de solo
predominantes nas bacias hidrográficas.
Tabela 4. Resultados das estatísticas do balanço hídrico de Thorthwaite-Matter,
com dados de precipitação das estações de monitorização
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Hmáx = 320 mm, = 0,30
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Rio Gango (Cuanza) - EH Vila Verde
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Rio Cutato (Cuanza) - EH Banga
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Jul/71 Jul/71
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Jun
Out
Ago
Jul
Set
Mar
Mai
Jan
Fev
Abr
Nov
Dez
Jun
Out
Esc.Obs. Esc. Calc. Esc.Obs. Esc. Calc. Esc.Obs. Esc. Calc.
= 97%
Média do Esc mensal (mm)
= 87% = 97%
Mai
Jan
Abr
Dez
Jun
Ago
Out
Jul
Set
Fev
Nov
Mar
Mai
Jan
Abr
Dez
Jun
Ago
Out
Jul
Ago
Set
Jul
Fev
Nov
Fev
Set
Mar
Mai
Nov
Jan
Abr
Jun
Dez
Out
= 96%
Média do Esc mensal (mm)
= 87% = 98%
Média do Esc mensal (mm)
40 60
30 40
40
20
20
10 20
0
0 0
Mar
Mai
Jan
Dez
Abr
Jun
Ago
Out
Jul
Fev
Set
Nov
Mar
Mai
Jan
Abr
Dez
Jun
Ago
Out
Jul
Set
Fev
Ago
Nov
Jul
Fev
Set
Mar
Mai
Jan
Abr
Jun
Nov
Dez
Out
30 20 60
15
20 40
10
10 20
5
0 0 0
Ago
Jul
Set
Mar
Mai
Jan
Fev
Abr
Nov
Dez
Jun
Out
Mar
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Abr
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Jun
Ago
Out
Jul
Set
Fev
Nov
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
20
13.º Congresso da Água
de Ruacana (Cunene) e em quatro das seis bacias localizadas no rio Lucala mas nestas
últimas, apenas, para o período posterior a 1967/68.
Uma vez que as precipitações nas bacias hidrográficas usadas nos modelos de balanço
hídrico anteriormente apresentados tiveram, apenas, por base os dados das estações de
monitorização que, em muitas zonas, apresentam fraca cobertura, investigou-se se os
resultados de monitorização remota da precipitação do projeto TRMM poderiam melhor as
estimativas da precipitação média sobre as bacias hidrográficas e, consequentemente, os
resultados do modelo.
As séries de precipitação mensal sobre cada bacia hidrográfica foram recalculadas
multiplicando o valor calculado pelo método de Thiessen por um coeficiente que é dado pelo
rácio entre a precipitação mensal média obtida com correcção do TRMM e a precipitação
mensal média obtida com base nos polígonos de Thiessen. Trabalhando com médias
mensais foi necessário gerar apenas uma superfície por mês, o que tornou o processo muito
menos moroso apesar de mais simplificado. Este processo evitou a geração de n anos x 12
superfícies de co-crigagem, que poderá conduzir a melhores resultados.
Na Tabela 5 apresentam-se os resultados das estatísticas obtidas para o modelo de balanço
hídrico sequencial com base nas novas séries de precipitação mensal.
Tabela 5. Resultados dos modelos de balanço hídrico de Thorthwaite-Matter com correção das
precipitações com base no projecto TRMM na bacia principal do rio Cuanza
21
13.º Congresso da Água
Relativamente às restantes bacias hidrográficas, cujo valor de NSE obtido foi negativo, num
total de 20, verificou-se que 17 apresentaram um resultado pior desta estatística. Apenas
três bacias hidrográficas, localizadas no rio Cuanza melhoraram, mas de forma pouco
significativa.
De acordo com os resultados obtidos pode-se concluir que a distribuição espacial da
precipitação dada pelo TRMM não melhora, em geral, os resultados da precipitação nas
bacias hidrográficas dado pelo método tradicional e mais simples dos polígonos de
Thiessen, apenas, com os dados das estações de monitorização.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados apresentados anteriormente pode concluir-se que os valores
obtidos para os parâmetro do modelo, e , apresentam conceptualmente valores
aceitáveis. O modelo de balanço hídrico de Thorthwaite-Matter nas bacias hidrográficas
analisadas consegue representar a variabilidade temporal dos escoamentos mensais ao
longo dos anos denotando-se uma certa fragilidade em anos secos, uma vez que não
consegue, em alguns casos, representar a variabilidade temporal dos escoamentos
mensais.
Há, no entanto, um conjunto de bacias hidrográficas em que o modelo não foi capaz de
explicar a variação do escoamento mensal, tendo em contas as estimativas da precipitação
mensal. É necessário continuar a investigação para perceber a razão desta discrepância.
Relativamente aos escoamentos máximos, verifica-se que o modelo caracteriza bem as
bacias hidrográficas que apresentam dois picos por ano e as que apresentam, apenas, um
pico por ano. No entanto, o valor máximo não é muitas vezes bem representado pelo
modelo de balanço hídrico, uma vez que os resultados dos escoamentos calculados, na
maioria das situações, são superiores aos observados. Tal situação poderá não ser um
problema do modelo, mas, poderá corresponder a uma má extrapolação da curva de vazão,
para valores superiores a um dado limiar.
Verificou-se que, não obstante da simplicidade dos polígonos de Thiessen, a inclusão das
superfícies do TRMM não conduzem a melhores resultados no modelo de balanço hídrico. A
melhor forma de utilizar estes produtos de monitorização remota na melhoria das
estimativas da precipitação em Angola, é outra das áreas de investigação que merece ser
prosseguida.
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