Monografia - TEHB4
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DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Brasília
2022
Introdução
Jango – como João Goulart também era conhecido – tomou posse da presidência após
a renúncia de Jânio Quadros, ocorrida em 25 de agosto de 1961 – durando apenas um pouco
mais de 7 meses. João Goulart ocupou o cargo da presidência do Brasil entre os anos de 1961
e 1964, antes de sofrer um golpe, que resultaria na Ditadura Militar – compreendida entre os
anos de 1964 e 1985. A renúncia de Jânio Quadros e a chegada de João Goulart à presidência
significava uma ameaça aos militares, mais identificados com a direita, uma vez que havia o
medo de que o Brasil governado por Jango tomasse o caminho do comunismo (BRASIL,
2021). Desta forma, os militares se posicionaram contrários à posse de Jango. Uma das
medidas imediatamente adotada para dificultar o governo de João Goulart foi a adoção do
parlamentarismo, o que limitou seus poderes enquanto presidente. Ademais, Jango luta a
favor do retorno do presidencialismo, o que, de fato, ocorreu em 1963. João Goulart, enquanto
presidente, também foi vigorosamente criticado: “aluno bem comportado [dos comunistas] e
já sem nenhuma grandeza [no Comício da Central] (...) não oferecia senão slogans aos
trabalhadores (...) arrivista de esquerda (...) alma fraca (...) [promotor de um] golpe branco
[por meio de um] terrível dispositivo pessoal de maquinação, intriga e carícias tirânicas (...)
não lia livro algum (...) Dividiu o exército (...) Sitiou a Guanabara (...) Desmoralizou a
Petrobras (...) Começou a dividir a igreja (...) Seu derradeiro ato foi esmagar a Marinha”. 1
“Homem completamente despreparado para qualquer cargo público, fraco, pusilânime, e,
sobretudo, raiando os extensos limites do analfabetismo.”2 “Sabia-se despreparado (...)
homem indeciso (...) humilde (...) lutando contra sua própria inoperância.” 3 “A cegueira e a
tibieza do governo Goulart.”4 “As hesitações (...) sua lentidão (...) escassa formação
intelectual (...)”5. Ofensas eram dirigidas diretamente a João Goulart, a fim de desmoralizá-lo
1DINES, Alberto. Debaixo dos deuses. In Alberto Dines e outros, op. cit., p. 312, 313, 315, 332 – 334.
2CONY, Carlos Heitor. O ato e o fato: crônicas políticas, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964, p. 13.
3CALLADO, Antonio. “Jango ou o suicídio sem sangue”, in Alberto Dines e outros, op. cit., p. 249.
4FERNANDES, Florestan. “O significado da ditadura militar”, in Caio Navarro de Toledo (org.), 1964: visões
críticas do golpe: democracia e reformas no populismo, Campinas, Unicamp, 1997, p. 144.
5CASTELLO BRANCO, Calos. Retratos e fatos da história recente, 2ª ed., Rio de Janeiro, Revan, 1996, p. 119.
e justificar por meio deste a necessidade de um governo obstinado, isto é, um governo que
seja sólido e presente na luta contra o comunismo. O, até então, presidente possuía uma forte
popularidade e apresentava propostas que seriam inegáveis até para o próprio Regime Militar,
havendo a necessidade de ser enfrentada, de certo modo, como a reforma agrária, habitação
popular, analfabetismo e a reforma universitária, por exemplo (FICO, 2008). A elite brasileira
via o plano de governo de Jango como uma ameaça à democracia, levando a sua
radicalização.
6Os Estados Unidos, visando construir uma política hegemônica, inicia-se a implementação dos ideais do
Binômio de Integração-Segurança, no início do século XIX, após a consolidação das nascentes realidades
nacionais, momento em que as relações entre os países da América passam a ser regidas e determinadas no
embate entre a pluralidade de propostas, seja hegemônica, contra hegemônica e/ou emancipatória (NOVION,
2021). Os Binômios de Integração-Segurança possuem cinco fases/formulações, respectivamente:
Panamericanismo; Interamericanismo (Boa Vizinhança); Interamericanismo (Contra Insurgência); Aliança para
o Progresso (Anticomunismo) e o Neoliberalismo – trazendo a nova agenda de segurança –, sendo a Aliança
para o Progresso o considerável para a discussão central da presente produção acadêmica. A Aliança para o
Progresso surge no contexto da Guerra Fria, o qual os Estados Unidos visam a defesa do modelo capitalista
contra o comunismo e a nova potência pós Segunda Guerra Mundial, a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS).
7RABE, Stephen G. The Most Dangerous Area in the World: John F. Kennedy Confronts Communist
Revolution in Latin America, Chapel Hill, The University of North Carolina Press, 1999, p. 199. Ver também
Ruth Leacock, Requiem for Revolution: The United States and Brazil, 1961-1969, Kent, The Kent State
University Press, 1990, p. 119.
8Transcrição de áudio gravado por John F. Kennedy, no Salão Oval da Casa Branca, nos Estados Unidos. Áudio
na íntegra disponível em: https://arquivosdaditadura.com.br/documento/multimidia/pouco-antes-seu-assassinato-
kennedy
Ditadura Militar, então assumia o primeiro ditador do período, Ranieri Mazzilli. João Goulart
tinha ciência das mínimas consequências de quaisquer decisões e atitudes que viesse a tomar
diante do ocorrido, assim, ao perceber que não dispunha de apoio militar, devido a
movimentação das tropas mineiras em direção ao Rio de Janeiro, onde João Goulart estava,
no momento, se dirigiu a Brasília – a fim de encontrar-se com Darcy Ribeiro, o ministro da
educação de João Goulart – e, logo em seguida, a Porto Alegre, onde Leonel Brizola – ex-
governador do Rio Grande do Sul – pretendia organizar um movimento de resistência.
“Também existem relatos de que Goulart foi avisado, quando ainda estava no Rio de Janeiro,
do apoio norte-americano aos golpistas e da disposição dos Estados Unidos de reconhecer um
governo alternativo ao dele, o que certamente teria pesado em sua decisão de não resistir
(FICO, 2008). Após o golpe, João Goulart exilou-se no Uruguai, a fim de evitar que conflitos
maiores, como uma carnificina, optou por não criar um movimento de resistência. As decisões
e atitudes de Jango foram cruciais para que uma série de eventos previamente programados
ocorresse, dentre eles, a Operação Brother Sam:
Pareceu-nos, então, que o presidente não deixaria Brasília sem comunicar-se
com o país, dando-lhe noção dos rumos. Então ele delegou ao Tancredo a
tarefa de escrever um breve discurso. Coube a mim ir datilografando o texto
que Tancredo ia ditando, com algumas sugestões que ocorreram a alguns dos
presentes. No final, o presidente gravou-o para ser enviado às rádios e à TV.
Mas o fez com a voz tão sumida que não transmitia animo, segurança. [O
texto dizia que] ele instalaria o governo em Porto Alegre e de lá comandaria
a resistência à aventura golpista. Não guardei o texto do discurso e nunca o
vi reproduzido. Às 18h, fomos todos para a Base Aérea.9
9"Memória do esquecimento'', por Cesar Felício e Maria Cristina Fernandes, Valor Econômico, ano 6, n° 1.481,
31 de março e fim de semana, 1° e 2 de abril de 2006. Entrevista intitulada “Jango herdou crise de JK”, no
âmbito da matéria, Caderno Valor Eu & Fim de Semana, ano 6, n° 288, p. 16.
10Política de extermínio de opositores, coordenada de forma transfronteiras e transcontinental, alcança ações de
sequestros, desaparecimentos e assassinatos, produzidos por seus agentes em países da região, assim como na
tentativa de não se associarem a qualquer operação ou missão que viesse a fracassar, omitiu
tanto os documentos da Operação Condor quanto os da Operação Brother Sam. Ambas as
operações vieram a conhecimento do publico geral anos mais tarde – em 1992 e 1974,
respectivamente. A operação possuía foco maioritariamente na contenção de uma possível
revolta e movimentos de resistência, como estratégia de resposta ao golpe militar.
Conclusão
Desta forma, a partir das ameaças – internas e externas – de golpe até que de fato
ocorresse, João Goulart foi acusado de comunismo e incapacidade de governar a República
Federativa do Brasil, enquanto presidente deste. O contexto em que o golpe de 1964 é
perpetuado exige interpretação dos fatos, isto é, o contexto internacional, sendo este a Guerra
Fria. Os Estados Unidos, por sua vez, ao interferir na política interna de outros países do
mesmo continente demonstra que, além da defesa dos próprios interesses, há a necessidade de
que todos os países se mostrem subordinados e compreendam a soberania dos Estados
Unidos.
A Operação Condor, ao falhar, devido às condições impostas por João Goulart, evitou
no agravamento da tragédia que a a Ditadura Militar causou no país. Os movimentos de
resistência, por mais que não agissem a fim de evitar a Ditadura, foram peças principais para
que a Ditadura chegasse ao seu fim.
Referências
ANDERSON, Perry. A política externa norte-americana e seus teóricos. 1. ed. São Paulo:
Editora Boitempo, 2015.
Europa e nos EUA. O terrorismo de Estado, produzido em parceria pelas ditaduras do Brasil, Chile, Argentina,
Paraguai, Bolívia, Uruguai, e EUA, ocasionaram um atentado terrorista dentro do próprio território
estadunidense, que se pretende ‘bastião mundial da democracia’ (NOVION, 2020)
FICO, Carlos. O Grande Irmão: da Operação Brother Sam aos anos de chumbo: O
governo dos Estados Unidos e a Ditadura Militar Brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2008.