Patetadas de Arapiraca - Carlisson Galdino

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Patetadas de Arapiraca – Cárlisson Galdino 3


Cárlisson borges tenório galdino
Cárlisson Galdino nasceu em 1981 no município de
Arapiraca, Alagoas, sendo Membro Efetivo da
Academia Arapiraquense de Letras e Artes (ACALA)
desde 2006, com a cadeira de número 37, do
patrono João Ribeiro Lima.

Poeta, contista e romancista, possui um livro de poesias


publicado em papel, além de dois romances, duas
novelas, diversos contos e poesias publicados na Internet,
em seu sítio pessoal: http://www.carlissongaldino.com.br/.

Como cordelista, iniciou publicando o Cordel do Software


Livre, que foi distribuído para divulgação dos ideais desse
movimento social.

Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade


Federal de Alagoas, onde hoje trabalha, é defensor do
Software Livre e mantém alguns projetos próprios. Host

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do podcast sobre política e notícias Politicast:
http://politicast.info/.

Literatura de cordel é um tipo de poesia popular


especialmente no Nordeste brasileiro. Tradição de
Portugal, os livretos deste tipo de poesia eram vendidos
em feiras, pendurados em barbante (ou cordel).

Patetadas de Arapiraca é um cordel em setilhas (estrofes


de sete versos com estrutura de rima xAyABBA) de
redondilhas maiores (sete sílabas poéticas). As
informações para este cordel vieram de antigo diálogo
com oo historiador Zezito Guedes e do trabalho de
pesquisa do saudoso confrade (ACALA) Carlos Conceição.

2018

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Patetadas de Arapiraca
Quem anda por Alagoas
Pequena nesse Nordeste
E se afastando das praias
Vai em direção ao Oeste
Achará uma cidade
Que fica bem na metade
Do Estado, lá no Agreste

Seu nome é Arapiraca


O tema da nossa história
É uma cidade até grande
Se for ver estado afora
É a segunda maior
Só perde pra Maceió
Se ver quanta gente mora

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Seu nome vem de uma planta
Que, dizem, significa
De alguma língua de índios
Ramo que a arara visita
No censo que se seguiu
Passam de duzentos mil
De gente que nela habita

Dizem que essa arapiraca


Tava no meio, ora veja
Do povoado que havia
Não duvido que assim seja
Mas deixa de ser importante
Quando fizeram adiante
Uma grande de uma igreja

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A igreja Concatedral
Pra te falar a verdade
Até hoje é a imagem
Que nos dá identidade
A construção principal
Ela é o cartão postal
Da nossa bela cidade

Já foi muito conhecida


Por sua antiga feira
No campo da agricultura
Por cultura fumageira
Por seu time, o ASA, não
Ganhar uma competição
A mudança foi ligeira

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A feira mudou de canto
Quase desapareceu
O fumo não é mais forte
O ASA ganhou, perdeu
Tem um pouco de respeito
E a cidade desse jeito
Mudou enquanto cresceu

Mas quero falar agora


De um assunto esquisito
Das patetadas da História
Que nos livros não é dito
O que direi é verdade
Se duvidar, à vontade
Vá perguntar ao Zezito

Patetadas de Arapiraca – Cárlisson Galdino 9


Hoje com universidades
Com praça pra todo lado
Com bosque, lago, museu
Um shopping movimentado
Falta ao arapiraquense
Que estude um pouco e repense
Um pouco sobre o passado

Trouxe duas patetadas


Pra você ver que doideira
E sem demorar no papo
vou dizer logo a primeira
Logo quando começou
O povo daqui trocou
O nome da padroeira

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No ano de 64
No século dezenove
Fundador Manoel André
De repente resolve
Fazer uma tal viagem
Para trazer a imagem
De uma santa que comove

No Estado de Pernambuco
Em Bom Conselho existia
Um competente santeiro
Que essa imagem faria
Manoel trouxe de cavalo
Causando um grande abalo
Nossa Senhora da Guia

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Veja bem: era da Guia
A imagem do santeiro
Mas na confusão do dia
Tudo se mudou ligeiro
Num telefone sem fio
A santa que persistiu
Foi sendo do Bom Conselho

Mas a santa não mudou


A imagem da padroeira
É ainda a da Guia
Mudaram só a “carteira”
Bom Conselho no final
É o nome atual
Fala sério, que zoeira!

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Talvez essa confusão
Que na cidade ocorreu
Nem seja tão grave assim
Seja pra cristão ou ateu
Rei Roberto disse outrora
Que toda Nossa Senhora
É a mesma mãe de Deus

A segunda patetada
Tem mais sérios resultados
É também pouco mais nova
Vem do século passado
Devido a uma confusão
O dia da emancipação
Da cidade está errado

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Quando ocorre independência
Ou uma data parecida
Ninguém tem tempo pra festa
Na hora em que é conseguida
É preciso, muitas vezes
Passarem semanas, meses
Pra ter festança e bebida

Foi isso que aconteceu


Na nossa emancipação
Que foi no final de maio
Mas mudava a gestão
Do Governo do Estado
E tudo ficou parado
Durante essa transição

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Quem pegou esses papéis
Foi José Fernandes Lima
No dia 30 de maio
O governador assina
Mas só no novo governo
Do Pedro da Costa Rego
Que pra festa o povo anima

Como já disse, é normal


Atraso à primeira festa
Mas na segunda se ajeita
E em todas depois desta
Aqui, segunda, terceira
Basearam na primeira
Até hoje a real é esta

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Quando vai aparecer
Algum prefeito ou prefeita
Que corrija essa lambança
Goste da coisa direita
E leve à população
Toda essa discussão
De data nunca antes feita?

Tenho pra mim que a tristeza


Nessa infeliz trajetória
Se deve à nossa cultura
De evitar livros de História
O que pois, se esperaria
Em garra e soberania
De um povo que é sem memória?

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Quem não sabe de onde veio
Nem onde sonha chegar
Se depender de si mesmo
Nem vai sair do lugar
Mas sempre tem um sabido
Poderosos e bandidos
Pois só tende a piorar!

Precisamos de memória
Precisamos de leitura
Menos jogo e novela
Mais arte e literatura
Buscar a todo momento
Juntar mais conhecimento
Criar uma nova cultura

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Precisamos dar valor
À nossa própria cidade
Arapiraca é bem mais
Que fumo, igreja e padre
Que time de futebol
Que político sem dó
Cadê nossa identidade?

Vamos amar nossa terra


Corrigir a coisa errada
Estudar nossa História
Ajudá-la a ser traçada
Cada um tem seu papel
Até um outro cordel
(Espero, sem patetada)

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