Democracia Restritiva Integralismo e Democracia (1945-1965)
Democracia Restritiva Integralismo e Democracia (1945-1965)
Democracia Restritiva Integralismo e Democracia (1945-1965)
Resumo:
Este trabalho tem por objetivo a análise do discurso sobre democracia difundido pelo
Partido de Representação Popular (PRP) no período de 1945 até 1965, tempo de atuação
dessa legenda, que tem como principal expoente teórico o então presidente do partido,
Plínio Salgado. Esta pesquisa está inserida numa discussão sobre o movimento
integralista, pois foi através do PRP que o movimento integralista se rearticulou no
contexto de redemocratização pós Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido este trabalho
vem a se somar com demais pesquisas interessadas em compreender as práticas
políticas de movimentos ou partidos considerados de direita.
∗
Acadêmico do curso de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE,
campus de Marechal Cândido Rondon. Bolsista do Programa de Iniciação Científica
PIBIC/CNPq/UNIOESTE. Pesquisa orientada pelo professor doutor Gilberto Grassi Calil. E-mail:
[email protected] .
uma transformação que tornou possível aos seus inimigos abraçá-la,
oferecer a ela as mais altas expressões de louvor em seu vocabulário
político. A redefinição americana foi decisiva; mas não foi o fim do
processo, e seria necessário mais de um século para completá-lo. Na
“democracia representativa”, o governo pelo povo continuou a ser o
principal critério de democracia, ainda que o governo fosse filtrado pela
representação controlada pela oligarquia, e povo foi esvaziado de conteúdo
social. (Wood, 2003: 194)
1
Sobre o movimento integralista na década de 1930 ver TRINDADE, Hélgio. Integralismo (o fascismo
brasileiro na década de 30). São Paulo: Difel, 1974.
2
Gilberto Grassi Calil desenvolveu uma análise da constituição do PRP como rearticulação do movimento
integralista no processo de redemocratização de 1945 em: CALIL, Gilberto G. O integralismo no pós-guerra:
a formação do PRP (1945-1950). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
poder em outubro de 1945, por um golpe, Getúlio Vargas pretendia articular as
massas e demais grupos sociais para tomar o controle do processo de retorno a
democracia. É interessante perceber como se realiza essa transição. Sob o
controle da burguesia é que o processo transitório ocorreu, o processo de
redemocratização foi vigiado e guiado pelos interesses da burguesia3. Os partidos
que representavam a classe burguesa procuraram nesse momento sempre o
apoio dos militares para combater uma possível efetivação da representatividade
da massa trabalhadora. Isso ocorreu tanto no início, com a deposição de Vargas,
mas também durante os governos que sucederam, até o momento que esses
grupos se articularam através das forças armadas, e se expressaram através
destes impondo o regime militar a partir 1964.
Percebemos então que a rearticulação do movimento integralista foi
realizada sob a bandeira do Partido de Representação Popular devido aos fatores,
circunstâncias, que envolviam o processo de “redemocratização”. Salgado
percebeu essa necessidade de adequar-se à nova conjuntura: “não reabrimos o
nosso antigo Partido Integralista, mas estamos todos os seus adeptos, com raras
exceções, em plena atividade no Partido de Representação Popular, o qual,
adotando os princípios filosóficos do integralismo, atualizou o programa, sem fugir
às normas da constituição da República e das circunstâncias modernas” (Salgado,
1947: 82).
A ideologia integralista desde sua presença inicial nos quadros da AIB é de
embate ao liberalismo, baseada na idéia de que a liberdade ameaçaria a base
social em seu equilíbrio, seria contraditória à autoridade necessária para manter a
ordem. A rejeição da democracia liberal revela-se nas críticas existentes às
instituições, de maneira que o Estado integral idealizado teria sua organização
diferenciada, negaria o pluralismo, as pessoas seriam organizadas em suas
classes, em modelo corporativo. Sobre a concepção de democracia peculiar
apresentada pelo PRP o que se observa é que ela vai remeter, e muito, à doutrina
3
Uma análise do contexto de redemocratização pode ser encontrada em ALMIRO, João. Os democratas
autoritários: liberdades individuais, de associação política e sindical na constituinte de 1946. São Paulo:
Brasiliense, 1980.
dos anos em que o movimento integralista era representado pela AIB e
expressava abertamente um discurso autoritário.
A “conversão” do integralismo à democracia podemos dizer que foi
originada ainda com Plínio Salgado no exílio em Portugal. Nesse período de exílio
são editados livros que desenvolvem uma concepção de “democracia cristã” que
foi utilizada para sustentar a formal conversão à democracia. Em O conceito
Cristão de Democracia, livro de autoria de Salgado publicado em Portugal,
podemos encontrar as principais idéias utilizadas na argumentação do discurso
democrático integralista no período de atuação pela legenda do PRP. O elemento
principal utilizado na argumentação do “conteúdo democrático” do conceito de
democracia defendido por Salgado era o espiritualismo. As críticas ao liberalismo
vão continuar, mas agora com uma intensificação de que a concepção de
democracia defendida pelo PRP seria a “verdadeira democracia”.
Plínio Salgado considerava que o agravamento das tensões sociais, dos
problemas da sociedade de modo geral, era resultante da escolha de uma
concepção de mundo materialista. O liberalismo, capitalismo e comunismo eram
apresentados como representantes da escolha desta concepção. A concepção
espiritualista era apresentada como oposição a tal escolha, e pela qual o destino
da sociedade seria o da ordem e de paz: “Ou adotamos uma concepção segura do
Universo e das leis a que está subordinado, assim como do Homem e do seu
papel no mundo do Espírito, ou então nada faremos de definitivo como construção
de ordem e de paz” (Salgado, 1945: 19). Os problemas sociais eram todos
englobados no princípio de escolha de uma dessas concepções, de modo que, a
situação da época era apresentada da seguinte maneira: “Temos chegado a uma
crise suprema da qual só poderemos sair pela escolha definitiva de um dos dois
conceitos – o materialista ou o espiritualista. De um como de outro decorrem todas
as conseqüências de ordem social, econômica e política, seja no ambiente
nacional, seja no internacional” (Idem, 1945: 17). Com esta opção pelo
espiritualismo se pretendia dar base à “princípios religiosos” que norteariam a
sociedade. O espiritualismo seria a crença em Deus e no destino sobrenatural do
homem. Tais princípios eram necessários para regular a sociedade. Definida desta
forma a concepção espiritualista, baseada em “princípios religiosos”, foi utilizada
como elemento de suporte para conceitos perrepistas. Segundo a concepção de
Salgado: