Pmo SBM v003 n001 Medeiros e Gravina
Pmo SBM v003 n001 Medeiros e Gravina
Pmo SBM v003 n001 Medeiros e Gravina
ISSN 2319-023X
GEOMETRIA DINÂMICA
RESUMO
Este artigo trata de uma experiência didática com foco nas transformações geométricas no plano e no uso do
ambiente de geometria dinâmica GeoGebra. A experiência, na forma de oficina, foi com professores do Ensino
Fundamental. Tendo como conteúdo matemático as transformações geométricas, a proposta integrou
geometria e arte através da construção de pavimentações do plano e de mosaicos de Escher. O trabalho foi
desenvolvido dentro dos princípios da Engenharia Didática e, para a realização das análises, usamos a teoria
sócio-histórica, cuja referência principal é a obra de Vygotsky e, também, a teoria dos registros de
representação de Duval, que trata do processo de aprendizagem da matemática sob o ponto de vista da
semiótica. A partir das análises foi possível constatar que os professores participantes se apropriaram dos
recursos e do sistema de representação que se tem no GeoGebra, bem como dos conceitos da geometria das
transformações.
Palavras-chaves: Transformações Geométricas; Arte; Geometria Dinâmica.
INTRODUÇÃO
O objetivo da oficina foi fazer a formação de professores para o uso de tecnologias, com concomitante
aprendizagem de conceitos da geometria das transformações. Também tivemos como propósito desencadear
um processo multiplicador de uso de tecnologia na escola – aos nossos alunos, então professores, caberia
transpor para as suas salas de aula a experiência vivida ao longo da oficina. Assim estaríamos também
provocando possibilidades de mudanças nas práticas pedagógicas, quando os professores nelas incorporam as
tecnologias.
A oficina tratou de discutir novas formas de trabalhar a geometria escolar. Para isto, escolhemos o software
de geometria dinâmica GeoGebra 1, uma ferramenta com consistente organização de conteúdos e menus, e
produzida dentro da filosofia do software livre. Escolhemos o tema das transformações geométricas no plano
1
GeoGebra é um software de matemática dinâmica e multiplataforma de livre distribuição que pode ser encontrado no site
<www.geogebra.org>.
1
Medeiros & Gravina.
e pavimentações, porque este é um assunto fortemente sugerido nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
a ser trabalhado a partir das séries finais do Ensino Fundamental. Feita as escolhas, lançamo-nos nas leituras
e reflexões que subsidiaram a concepção e implementação da experiência de formação de professores. Neste
artigo apresentamos um recorte de tal proposta. O trabalho completo encontra-se na dissertação de mestrado
“Geometria Dinâmica no Ensino de Transformações no Plano – uma experiência com professores da Educação
Básica” 2, apresentada pelo primeiro autor do artigo no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Matemática
do Instituto de Matemática da UFRGS.
2
Disponível em < http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/54888>
2
Medeiros & Gravina.
educação escolar que encontramos na obra de Vygotsky devem ser consideradas não como descrições das
realidades educacionais, mas como propostas para renovar a educação.
Segundo Moll (2010), Vygotsky afirma que “o fato central em nossa psicologia é o da mediação”. É fato que
nas nossas atividades utilizamos instrumentos que atuam como mediadores, dentre os quais se destacam as
ferramentas e os signos. Segundo Moysés (2010), no caso da aprendizagem da Matemática, muitos são os
instrumentos que podem atuar como mediadores – por exemplo, a linguagem oral e escrita, os objetos
concretos do mundo físico, os objetos virtuais como softwares. Radford (2006) destaca a função mediadora
dos signos na reconstrução da ação que leva a internalização do saber. Já Mariotti (2009) afirma que a
internalização do saber também depende de intercâmbios sociais que fazem uso do registro especial de
linguagem que é o ‘discurso do professor’ – o professor é um especialista na cultura matemática e pode atuar
como um mediador no processo de desenvolvimento cognitivo do aluno.
Existem, pelo menos, dois níveis de desenvolvimento cognitivo identificados por Vygotsky: um real, já
formado, o que significa que processos mentais já estão estabelecidos; e um potencial, ainda a acontecer, e
que diz respeito a capacidade de aprender com outra pessoa. Ainda segundo Vygotsky, aprendizagem e o
desenvolvimento estão inter-relacionados, e dependem das interações sociais que acontecem naquilo que ele
denomina de zona de desenvolvimento proximal. Moysés (2010) destaca que o trabalho na zona de
desenvolvimento proximal exige a interação entre aluno e professor e que o aluno progride no seu processo
cognitivo quando tem alguém que sabe pô-lo a pensar. Radford (2006) também descreve que Vygotsky em
uma de suas palestras 3 chamou a atenção para o fato de que o ser humano está imerso em mundo de
dispositivos artificiais (artefatos) e que estes dispositivos alteram o curso do desenvolvimento natural dos
processos psíquicos, indo além de simples dispositivos de auxílio; e além dos dispositivos físicos, existem os
dispositivos abstratos, como por exemplo os sistemas semióticos. Duval (2009) afirma que a pluralidade de
sistemas semióticos permite uma diversificação das representações de um mesmo objeto e isso aumenta as
capacidades cognitivas dos indivíduos e suas representações mentais. As representações mentais funcionam
sempre em simbiose com os sistemas semióticos - a partir de nossa imagem mental criamos a representação
que nos permite a comunicação e a partir da representação que já existe, interiorizamos novas imagens
mentais.
A articulação dessas diferentes representações é condição para a compreensão em Matemática. É essencial
não confundir o objeto matemático, como, por exemplo as retas, com suas representações, pois um mesmo
objeto matemático pode ter muitas representações diferentes. “A análise do conhecimento não deve considerar
apenas a natureza dos objetos estudados, mas igualmente a forma como os objetos nos são apresentados ou
3
Em uma conferência em 1930 na Academia de Educação Comunista.
3
Medeiros & Gravina.
como podemos ter acesso a eles”. (Duval, 2011, p.15). Duval (2011) denomina registros 4 as diferentes
representações semióticas que se fazem presentes na Matemática. Os registros são sistemas cognitivamente
produtores de possibilidade de criação de novo conhecimento e o autor classifica estes registros: as frases em
língua natural, sendo este registro discursivo o primeiro registro para o funcionamento do pensamento; as
equações; as figuras; os gráficos e os diagramas. Na aprendizagem da Geometria, diferentes são os registros
utilizados: o registro em língua natural quando definimos os objetos geométricos; o registro figura quando
desenhamos o objeto; o registro algébrico quando descrevemos os objetos por meio de equações.
Associada ao conceito de registro tem-se a noção de transformação de registro, também introduzida por Duval
(2009). Duas são as transformações: o tratamento e a conversão. O tratamento é a transformação de uma
representação em outra, dentro de um mesmo registro - por exemplo, acrescentar elementos geométricos em
figura que apoia uma argumentação. A conversão é a transformação de uma representação em outra dentro de
novo registro; por exemplo, passar do registro em língua natural, quando definimos um objeto geométrico,
para o registro figura quando desenhamos o objeto. Na próxima sessão vamos tratar dos diferentes registros
que podem ser usados de forma simultânea no software GeoGebra.
4
O emprego da palavra registro cristaliza a tomada de consciência de outro modo de funcionamento cognitivo do pensamento,
modo mais potente para os matemáticos. Isso confere a essa palavra um valor teórico. (Duval, 2011).
5
Disponível para download em <www.geogebra.org >. Neste site, que pode ser acessado em diversos idiomas, e nele tem-se mais
informações sobre o GeoGebra.
4
Medeiros & Gravina.
outro modo de obter o círculo é escolher no menu a ferramenta Círculo dados Centro e Um dos seus Pontos e
com esta escolha estamos trabalhando com o registro discursivo.
No menu Exibir do GeoGebra tem-se o Protocolo de Construção (registro discursivo) que permite
acompanhar o procedimento de construção de um objeto geométrico (registro figura). A Figura 2 ilustra estes
diferentes registros no GeoGebra.
Os exemplos apresentados acima ilustram de que forma diferentes ações feitas no GeoGebra propiciam o
trabalho com os diferentes registros de representação elencados por Duval. E no caso do estudo da Geometria
enfatizamos, em especial, a importância da mobilização de dois registros – o discursivo e a figura.
5
Medeiros & Gravina.
• A transformação de translação
A noção de translação está relacionada ao conceito de vetor (do Latin “vehere” = transportar). Um vetor é
dado pela direção, sentido e comprimento de uma família de “setas” equivalentes. Na Figura 4 temos duas
famílias de setas equivalentes, portanto indicando dois vetores. As setas das famílias são usadas para
representar o vetor.
6
Medeiros & Gravina.
A translação determinada pelo vetor v, representado pela ‘seta’ UV, é a transformação que associa cada ponto
A do plano ao ponto A′ de forma tal que:
- se A não pertence a reta determinada pela ‘seta’ UV, os pontos A, A′, V e U, nesta ordem, formam um
paralelogramo,
- se A = U então A´= V; se A é diferente de U e pertence a reta determinada pela ‘seta’ UV e, então A´ pertence
a mesma reta e e´ tal que as ‘setas’ determinadas pelos pontos U e A, V e A´, respeitando esta ordem de
correspondência, são equivalentes.
A translação é uma isometria (isto se demonstra) e assim transforma qualquer figura em outra congruente. Na
Figura 6 tem-se o vetor u representado por uma seta, o triângulo ABC e o triângulo A′B′C′ que é o seu
transladado. Para obter tal resultado no GeoGebra, o procedimento é: usando ferramenta do menu inicialmente
constrói-se um Vetor u e depois com a ferramenta Polígono se constrói o triângulo ABC; com a ferramenta
Translação por um Vetor seleciona-se o triângulo ABC e após o vetor u e então é produzido o triângulo A′B′C′.
Com a ferramenta Mover pode-se mudar a posição dos vértices do triângulo ABC, e este movimento resulta
em alteração no triângulo A′B′C′, mas ele se mantém sempre um transladado do primeiro triângulo.
7
Medeiros & Gravina.
A Figura 7 ilustra sucessivas translações segundo um o mesmo vetor. Nesta construção, inicia-se com uma
reta definida por dois pontos para dar a ideia de um ‘cordão esticado’. Em seguida, com a ferramenta Polígono
constrói-se um pentágono na forma de ‘bandeirinha’. A partir deste pentágono são feitas sucessivas translações
segundo um mesmo vetor (a seta está destacada na Figura 7, da primeira para a segunda ‘bandeirinha’) e ,
desta forma, se obtém coleção de ‘bandeirinhas’ coloridas. Ao ser aplicada a ferramenta Mover nos vértices
do primeiro pentágono, todas as bandeirinhas se modificam, simultaneamente, mantendo-se congruentes, entre
si.
• As transformações de reflexão
A reflexão de centro O é a transformação geométrica que associa a cada ponto A do plano, um ponto A′ tal
que:
8
Medeiros & Gravina.
Aparece então o ponto A′, que é a reflexão de A em relação ao ponto O e pode ser observado que os segmentos
segmentos OA e OA´ se mantém congruentes, ao aplicar-se Mover no ponto A.
A reflexão segundo a reta r é a transformação geométrica que associa a cada ponto A do plano, um ponto A′
tal que:
- se o ponto A pertence a reta r, então A=A´
- se o ponto A não pertence a reta r, então A´ pertence a reta perpendicular à r passando por A e OA e OA′
são segmentos congruentes entre si, sendo que O é o ponto de interseção da reta perpendicular com r
A rotina de uso desta transformação no GeoGebra é: constrói-se uma reta r a partir de dois pontos, a qual será
o eixo de reflexão; depois constrói-se um ponto A que não pertence a reta r. Com a ferramenta Reflexão em
Relação a uma Reta, seleciona-se primeiro o ponto A e depois a reta r e assim obtém-se o ponto A′, que é o
refletido de A. Na Figura 9 tem-se a construção feita no GeoGebra.
A reflexão segundo uma reta é uma isometria (isto se demonstra) e, portanto, transforma cada figura F em
outra F′, congruente à primeira. Vamos ver como isto funciona no GeoGebra: constrói-se uma reta r e um
triângulo ABC, tal que os vértices A,B e C estão no mesmo semiplano em relação à reta r. Com a ferramenta
Reflexão em Relação a uma Reta seleciona-se o triângulo ABC e depois a reta r e obtém-se o triângulo A′B′C′,
o refletido do primeiro. A Figura 10 ilustra esta transformação. Movimentando um dos vértices do triângulo
9
Medeiros & Gravina.
ABC com a ferramenta Mover, o triângulo refletido também se modifica, mas se mantém sempre o refletido
do primeiro triângulo.
• A transformação de rotação
Dado um ponto fixo O no plano e um ângulo de medida α, a rotação de cento O e amplitude α é a transformação
que a cada ponto A do plano Π associa o ponto A′ de forma tal que:
- se A= O então A´= O
- se A é diferente de O então o ângulo formado pelas semiretas OA e OA’ tem medida α, sendo que ângulo
é medido no sentido anti-horário da semireta OA para a semirreta OA′
O procedimento para fazer a rotação do ponto A em torno do ponto O sob um ângulo α = 45º no GeoGebra é
o seguinte: constrói-se o ponto O e depois o ponto A. Com a ferramenta Rotação em Torno de um Ponto por
um Ângulo, seleciona-se o ponto A e, em seguida, o ponto O e de imediato o software disponibiliza uma caixa
de diálogo contendo as opções para escolha da amplitude do ângulo e o sentido da medição – escolhe-se um
ângulo de medida α = 45º e escolhe-se o sentido anti-horário de rotação – e como resultado tem-se o ponto
A´. A Figura 11 ilustra o resultado do procedimento feito.
10
Medeiros & Gravina.
A rotação também é uma isometria (isto se demonstra), portanto transforma uma figura F em outra F′,
congruente à primeira. A rotação de um triângulo, no Geogebra, assim funciona: constrói-se um ponto O
(centro de rotação) e com a ferramenta Polígono constrói-se o triângulo ABC; escolhe-se a ferramenta Rotação
em Torno de um Ponto por um Ângulo, seleciona-se o triângulo ABC e o ponto O, e escolhe-se como medida
de ângulo, por exemplo, α=60º e escolhe-se sentido anti-horário, e assim obtém-se o triângulo A′B′C′ que é o
rotacionado do triângulo ABC. A Figura 12 ilustra esta transformação.
Pode-se fazer sucessivas rotações de uma figura em torno de um mesmo ponto, segundo um mesmo ângulo,
obtendo-se assim uma coleção de figuras rotacionadas e todas congruentes à figura inicial. A Figura 13 ilustra
o resultado de sucessivas aplicações da rotação em torno do ponto B (neste caso o ponto B é o centro de
rotação), segundo um ângulo de 45º e no sentido anti-horário, que inicia com a rotação do triângulo ABC.
Aplicando a ferramenta Mover em qualquer um dos vértices do triângulo inicial ABC, todos os vértices
correspondentes sofrem a mesma movimentação. Na construção ilustrada na Figura 13, escolheu-se cores
diferentes para cada triângulo, criando um efeito tipo ‘hélices de um cata-vento’.
11
Medeiros & Gravina.
vídeo 6 de sensibilização 7. O quinto encontro ficou destinado para a organização das práticas das professoras e o último
para a apresentação dos resultados.
Como material de apoio utilizamos o CD Mídias Digitais I 8 (Figura 14) constituído de sete módulos, dentre os quais
destacamos os módulos I e II como os principais recursos consultados pelas professoras. O CD serviu como fonte de
pesquisa para os conceitos básicos de Geometria e fonte de sugestões de atividades para serem desenvolvidas com os
alunos, utilizando o GeoGebra.
O primeiro encontro ficou destinado às atividades coletivas de familiarização com o software. Foram
abordados os conceitos básicos da Geometria Plana, tais como, ponto, reta, segmento; foram explorados o
menu das transformações geométricas e também alguns dos outros recursos (retas paralelas e perpendiculares,
ângulo, triângulo, paralelogramo, mediatriz, bissetriz, círculo). Ao abordar os conceitos da Geometria Plana,
tivemos como objetivo revisá-los, pois as professoras já tinham conhecimento sobre o assunto. Esta revisão
se fez por meio da utilização de um roteiro de construção de figuras no GeoGebra.
Em relação à exploração do menu das transformações geométricas planas, esperávamos que as professoras
reconhecessem a conservação de algumas propriedades das figuras sujeitas aos movimentos de reflexão,
6
Arte GeoGebra <http://www.youtube.com/watch?v=5fHFi3xbCfQ&feature=related>, Tesselation slideshow
<http://www.youtube.com/watch?v=5-3tOa9CPb0> , Igrejas Matrizes da Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do
Sul (em DVD – UNIFRA - Centro Universitário Franciscano), Escher e a Geometria <
http://www.youtube.com/watch?v=6aRFy73cZxY>, Matemática em toda parte, Construção/ Pavimentação com polígonos
<http://www.youtube.com/watch?v=y__0a7TDbfs>, Escher Style <http://www.youtube.com/watch?v=h2AWKgU0cN4>.
7 Segundo Moran (1995), um bom vídeo é interessante para introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade, a motivação
translação ou rotação. Esperávamos que, usando o dinamismo de figuras que se tem no GeoGebra e que é
revelador de invariantes geométricos, elas reconhecessem que tais transformações preservam as distâncias e
os ângulos, o paralelismo e o perpendicularismo. Mas foi ainda com bastante hesitação nos procedimentos de
construção que ao final do primeiro encontro as professoras apresentaram suas primeiras produções.
No segundo encontro foi feita uma exploração coletiva das ferramentas Polígonos e Polígonos Regulares do
GeoGebra. A atividade também exigia o uso do menu das transformações para construir uma pavimentação
regular e uma semirregular. Nessa atividade o objetivo foi de que as professoras estabelecessem a diferença
no uso das ferramentas Polígono e Polígono Regular. Quando se utiliza a ferramenta Polígono Regular,
obtém-se figura que, sob a ação da ferramenta Mover, não se deforma, diferentemente daquilo que acontece
quando se usa a ferramenta Polígono. Quanto ao conhecimento matemático, teve-se como objetivo a
identificação das condições necessárias para a construção de uma pavimentação com polígonos regulares. Foi
após esta atividade de construção que foi apresentado o Teorema de Kepler 9:
Existem exatamente onze maneiras de se cobrir o plano utilizando-se exclusivamente polígonos
regulares sujeitos às condições: a) se dois polígonos regulares intersectam-se, então essa interseção é
um lado ou um vértice comum; b) a distribuição dos polígonos regulares ao redor de cada vértice é
sempre a mesma. (Alves & Dalcin,1999, p.12).
10
Com a utilização do teorema de Kepler e fazendo uso da notação das 11 possibilidades de pavimentações
com polígonos regulares (a saber, (3,12,12), (4,6,12), (4,8,8), (6,6,6), (4,4,4,4), (3,6,3,6) , (3,4,6,4), (3,3,3,3,6),
(3,3,3,4,4), (3,3,4,3,4) e (3,3,3,3,3,3)), cada professora teve como tarefa construir uma das pavimentações.
A professora C. fez sua pavimentação, ilustrada na Figura 16, utilizando a ferramenta Polígono Regular para
construir o hexágono regular e depois, usando vetores determinados por vértices do hexágono regular, aplicou
a transformação de translação. Entre os hexágonos regulares coloridos de vermelho, formaram-se triângulos
9
A primeira pessoa a exibir os mosaicos semirregulares foi J. Kepler, em um trabalho publicado em 1619, no qual está este teorema.
Alves e Dalcin demonstram este teorema apresentando todas as possibilidades de formação dos mosaicos regulares e semirregulares.
(Alves e Dalcin, 1999).
10
A notação (3, 12, 12) indica que em cada vértice tem-se o encontro de três polígonos regulares: um triângulo e dois dodecágonos
regulares.
14
Medeiros & Gravina.
equiláteros, os quais a professora coloriu de azul. Observamos que sua proposta de mosaico não está incluída
na categoria dos semi-regulares do teorema de Kepler, pois a distribuição dos polígonos em torno dos vértices
não se mantém sempre a mesma (em alguns vértices a distribuição é (6,3,3,6) ,em outros é (6,3,6,3) ou ainda
(3,6,6,3)).
Na Figura 17, temos a produção da professora D que resultou em mosaico que respeita o arranjo (3, 3, 4, 3,
4).
Para o terceiro encontro foi proposta a reprodução de mosaico que tivesse sido visto em algum local da cidade.
Nesta atividade foi solicitado uma descrição dos elementos geométricos utilizados na construção; comentários
sobre o local onde foi visto o mosaico; a construção do mosaico no GeoGebra; considerações sobre a
construção realizada, informando sobre as dificuldades encontradas, tanto de Geometria quanto de utilização
do software GeoGebra. Na Figura 18 tem-se uma destas reproduções, feita pela professora D.
15
Medeiros & Gravina.
A construção começa com um quadrado e depois foram determinados sucessivos pontos médios, iniciando
com aquele correspondente ao do lado do quadrado. Feixes de retas paralelas passando por estes pontos foram
construídos, na tentativa de criar uma malha quadriculada que ajudasse na construção das pétalas do mosaico.
Esta estratégia não funcionou como esperado e então a professora solicitou nossa ajuda. Sugerimos então que
utilizasse uma ferramenta que ainda não havia sido utilizada – o Arco Circular definido por Três Pontos. Ela
selecionou os três primeiros pontos para produzir o primeiro arco de círculo, com sucesso, e usando a
transformação de reflexão segundo uma reta ela conseguiu fazer a primeira pétala da flor. E foi usando
sucessivas reflexões segundo retas que foram construídas as demais pétalas, de modo a completar o padrão do
mosaico. Feito o primeiro mosaico, foi com a transformação de translação que ela construiu, ao lado, o
segundo mosaico. Foi possível observar que a professora D, ao longo dos encontros, foi aumentando o nível
de complexidade de suas construções. Isso indica um amadurecimento na apropriação das ferramentas do
software e no domínio dos conceitos geométricos em questão. Ao final de sua reprodução, foi aplicada a
ferramenta Mover e o mosaico manteve suas propriedades geométricas.
Na Figura 19, vemos a produção da professora L. Ela iniciou sua construção com um segmento AB e após
construiu dois círculos com centros em A e B, respectivamente, e raio com medida igual à do segmento AB .
16
Medeiros & Gravina.
No quarto encontro foram explorados os mosaicos de Escher. Este artista utilizou padrões geométricos e
transformações geométricas no seu trabalho com mosaicos. Com o GeoGebra é possível fazer a construção de
pavimentações com movimentos no estilo de Escher, conforme ilustra a sequência de procedimentos dada na
Figura 20. Inicia-se com um hexágono regular, diferentes ‘recortes’ são rotacionados em torno de vértices do
hexágono (destacados como recortes verde, azul e vermelho) e assim obtém-se o polígono padrão inicial ;
segue-se então com a aplicação da transformação de rotação sobre este polígono.
Hexágono regular Polígono qualquer P, usando como Rotação de P em torno de vértice Mesmo procedimento para os Construção da peça final, usando vértices do
um dos lados o lado do hexágono comum com o hexágono, de ângulo demais lados do hexágono hexágono e os pontos criados. Sucessivas
de 120 graus rotações da peça final, de ângulo de 120 graus.
Na primeira atividade, que fez uso de applets com mosaicos dinâmicos (disponíveis no CD Midias Digitais
I), foi solicitado que as professoras participantes identificassem o polígono padrão inicial, bem como a
transformação geométrica utilizada para produzir a pavimentação. Na segunda atividade, elas foram
convidadas a produzir mosaicos no estilo de Escher, Na Figura 21 tem-se a produção de uma das professoras
– uma pavimentação que que muda dinamicamente seu desenho, conforme são movimentados vértices do
polígono padrão inicial, colocado em destaque.
17
Medeiros & Gravina.
O quinto encontro foi reservado para organizar a apresentação das experiências que as professoras fizeram
com seus alunos. Relembramos que no início da oficina foi combinado com as professoras que elas iriam
aplicar com seus alunos os conhecimentos adquiridos durante a formação. Na realização de suas práticas as
professoras propuseram atividades similares aquelas desenvolvidas na formação. Mas também surgiram
algumas ideias diferentes: relacionar os mosaicos com a arte do patchwork; fazer reproduções de habitações
de animais, como por exemplo colmeias; reproduzir algumas formas geométricas encontradas na natureza, as
flores por exemplo. No último encontro, as professoras relataram suas experiências.
Diríamos que ao longo da realização da oficina, houve muita participação e muito interesse por parte das
professoras. Elas constantemente indagavam sobre os objetivos na utilização do vídeo de sensibilização, sobre
a utilização do software, sobre a pertinência da sequência de atividades e sobre as alternativas para ensinar
Geometria na escola. Na perspectiva de Vygotsky, a troca de experiência e a interação social fizeram com
que as professoras pudessem internalizar os conhecimentos trabalhados na oficina, e nisso as indagações e
discussões foram fundamentais. Em diversos momentos da oficina, houve a necessidade da nossa intervenção
como professora mediadora. No primeiro encontro observamos as dificuldades iniciais e, a partir de nossa
intervenção, constatamos os progressos das professoras quanto ao uso dos recursos do GeoGebra. Procuramos
atuar na zona de desenvolvimento proximal, ou seja, fizemos intervenções necessárias para que o
conhecimento, que era potencial nas professoras-alunas, se transformasse em real.
Os conceitos relativos as diferentes transformações geométricas foram introduzidos através do GeoGebra e de
forma a integrar Arte e Matemática. Através da aplicação da sequência de atividades foi proporcionada uma
gradativa aquisição de conhecimento sobre o GeoGebra; nenhuma das professoras, bem como seus alunos,
conhecia o software. Além disso, na perspectiva de Duval (2011), o software permitiu a mobilização de
diferentes registros de representação, bem como os tratamentos e as conversões de registros.
18
Medeiros & Gravina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Baquero, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
BORBA, M.; VILLARREAL, M. Humans-with-Media and the reorganization of mathematical thinking. New
York: Springer, 2005.
Borba, Marcelo de Carvalho; Penteado, Mirian Godoy. Informática e Educação Matemática. São Paulo:
Autêntica, 2007.
Brasil. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasilia, DF: Ministério da Educação e do Desporto,
1998.
Carneiro, V. C.G. Engenharia Didática: um referencial para ação investigativa e para formação de professores
de Matemática. Zetetike. Campinas, v.13,p. 85-118, 2005.
Duval, Raymond. Semiósis e Pensamento Humano: Registros Semióticos e Aprendizagens intelectuais. São
Paulo: Livraria da Física, 2009.
Duval, Raymond. Ver e Ensinar a Matemática de outra forma. São Paulo: Proem, 2011.
Gravina, Maria Alice. Os ambientes de geometria dinâmica e o pensamento hipotético-dedutivo. Tese de
Doutorado, Porto Alegre: UFRGS, 2001.
Gravina, Maria Alice; Barreto, M. Mídias Digitais I. Material Didático. Curso de Especialização: Matemática,
Mídias Digitais e Didática para a Educação Básica. Porto Alegre, UAB/IM/UFRGS, 2009. Disponível em:
<www6.ufrgs.br/espmat/disciplinas/midias_digitais_I/>
19
Medeiros & Gravina.
20