Usabilidade e Experiência Do Usuário de Sistemas de Informação
Usabilidade e Experiência Do Usuário de Sistemas de Informação
Usabilidade e Experiência Do Usuário de Sistemas de Informação
Palavras-chave
Experiência do usuário. Interfaces digitais. Usabilidade.
Abstract
The usability and user experience of information systems are very important aspects in the development process
of digital interfaces. Each of these elements contributes, objective and/or subjectively, for the identification of
fundamental aspects for creating interfaces to information systems. In this perspective, the study aims to pre-
sent reflections on the possible limits and relations between these two elements. It is a qualitative research,
based in bibliographic research on the Usability and user experience theme in international databases (Scopus
and Web of Science), without delimitation of area of knowledge and temporal, highlighting especially the terms
of relational form. From this study, it was possible to highlight the lack of studies able to unify the meaning of
these concepts and, consequently promoting the advancement and deepening of these thematic studies. Thus,
the study showed that Usability and User experience have numerous features, which stresses the need for a
deeper understanding on the part of researchers interested in these topics, due to the absence of consensus on
these issues.
Keywords
User experience. Digital interfaces. Usability.
Submetido em: 21/08/2019
DOI: 10.28998/cirev.2019v6n3c Aceito em: 11/11/2019
Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative Commons 4.0 Publicado em: 07/01/2020
1 INTRODUÇÃO
2 USABILIDADE
A definição de usabilidade provavelmente foi tentada pela primeira vez por Miller
(1971) em termos de medidas para “facilidade de uso", e estas foram desenvolvi-
das por Bennett (1979) para descrever a usabilidade. O conceito de usabilidade foi
discutido em primeiro lugar e uma definição formal detalhada [...] foi tentado por
Shackel (1981), e Bennett (1984) que modificou e desenvolveu a definição.
Conforme Galitz (2002), Bennett foi o primeiro a usar o termo usabilidade para des-
crever a eficácia do desempenho humano no uso de um sistema de informação. Já nos anos
seguintes, uma definição mais formal foi proposta por Shackel e modificado por Bennett. No
ano de 1991, Shackel definiu usabilidade como “[...] a capacidade de ser usada por humanos
de forma fácil e eficaz.” (GALITZ. 2002, p. 55).
Inúmeras são as definições do termo usabilidade, umas relacionadas às característi-
cas ergonômicas de um determinado produto; outras orientadas ao usuário, identificando a
relevância da minimização de esforço mental por parte desse, e ainda, a atitude desse indi-
víduo diante do uso de um produto; outras abordagens, com enfoque no desempenho e
interação do usuário frente a um produto e/ou interface; e também, definições relacionadas
ao contexto de uso. (DIAS, 2006).
Embora a usabilidade tenha um papel cada vez mais importante na Interação Huma-
no Computador (HCI), não existe uma definição universalmente aceita. De fato, os pesquisa-
dores têm tentado, individualmente, capturar e definir a essência desse conceito, mas sem
alcançar consenso. (CHEN; GERMAIN; RORISSA, 2011). A esse respeito, Pack (2003, tradução
nossa) conclui que “[...] o termo tem sido usado tantas vezes em tantos contextos que se
corre o risco de perder seu significado preciso.”.
Em um contexto de diversas definições de usabilidade, há também iniciativas institu-
cionais no sentido de dirimir ambiguidades a esse respeito. De acordo com a ISO/IEC 9126
(1991, p. 3, tradução nossa), usabilidade se refere a “[...] um conjunto de atributos de sof-
tware que evidenciam o esforço necessário para seu uso e para a avaliação individual de tal
uso por determinado conjunto de usuários.”. Nesse caso, sua abordagem está relacionada
ao produto e ao usuário. Ainda no ano de 1991, foi criada a Usability Professionals Associa-
tion (UPA), que no ano de 2012 passou a ser denominada de User Experience Professionals
Association (UXPA). Trata-se de uma associação de profissionais da experiência do usuário
que oferece suporte a pessoas que pesquisam, projetam e avaliam a experiência do usuário
de produtos e serviços, assim como é uma organização escolhida por profissionais de usabi-
lidade em todo o mundo. (USABILITY PROFESSIONALS ASSOCIATION, 2002).
Já a NBR 9241 – 11 destaca que a “usabilidade é a medida na qual um produto pode
ser usado por usuários específicos para alcançar objetivos específicos com eficácia, eficiência
e satisfação em um contexto específico de uso” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
NICAS, 2002, p. 3).
A usabilidade também pode ser considerada como a qualidade de uso de um produto
e/ou sistema a partir das necessidades de um determinado usuário. Esta característica de-
pende de tarefas específicas que os usuários realizam com o sistema e de fatores relaciona-
dos ao ambiente físico, tais como: iluminação, ruídos, interrupções de tarefas e disposição
de equipamentos. Ou seja, qualquer alteração em um aspecto relevante do contexto de uso
pode comprometer a usabilidade de determinado sistema. (DIAS, 2006).
Apesar da dificuldade no que diz respeito à personalização do conceito de usabilida-
de, sabe-se que esta característica traz inúmeros potenciais benefícios no contexto do de-
senvolvimento de interfaces. Dessa forma, Bevan (1998) aponta os seguintes benefícios,
como sendo:
Para Dumas e Redish (1999) usabilidade significa que os usuários de um produto de-
vem concluir, de forma rápida e de maneira fácil, suas tarefas. Sua definição se apoia em
quatro pontos:
Essa experiência pode ser positiva ou negativa. Isso dependerá da percepção do usu-
ário, e ainda, do sentimento do sujeito para com o produto e/ou interface no processo de
interação. A experiência do usuário engloba diversos aspectos apresentados como facetas
por Morville (2004), conforme descrição que segue:
útil (useful): desenvolver produtos e sistemas úteis, devendo ser aplicadas solu-
ções com aprimoramento contínuo;
utilizável (usable): oferecer facilidade de utilização continua; a usabilidade é ne-
cessária, mas não suficiente para contemplar as necessidades do usuário;
desejável (desirable): utilizar elementos de design emocional, como, imagem,
marca que dão poder e valor de identidade;
encontrável (findable): oferecer navegação e objetos localizáveis permitindo ao
usuário encontrar o que precisa;
acessível (acessible): atender a usuários com ou sem deficiência;
credível (credible): conquistar a confiança do usuário com relação ao ambiente e
ao conteúdo apresentado;
valioso (valuable): oferecer valor aos patrocinadores, de modo a atender à satis-
fação do usuário; valorar a missão para organizações sem fins lucrativos.
de análise para experiência do usuário é muito maleável, variando entre um único aspecto
de uma interação individual por parte de um usuário final até a totalidade da natureza das
interações de vários usuários finais com empresas que oferecem diversos serviços. Em ter-
ceiro lugar, o panorama da pesquisa sobre experiência do usuário é fragmentado e compli-
cado por diversos modelos teóricos com diferentes focos como hedônica, entre outros.
Ao realizar a pesquisa na base de dados Scopus, foi possível visualizar que o termo
usability possui registro a partir do ano de 1945, com o artigo de autoria de Dyer, H. S., inti-
tulado “The usability of the concept of prejudice”, publicado no periódico Psychometrika. No
entanto, o referido estudo congrega a perspectiva conceitual da palavra preconceito, não
havendo relação com a perspectiva da usabilidade de sistemas de informação em si. Identi-
ficou-se, ainda, que as produções relacionadas ao conceito de usabilidade foram impulsio-
nadas no início da década de 1970, tendo um maior destaque no final dessa década. Já o
termo user experience, teve um registro no ano de 1970 no periódico Journal of Chemical
YOON, SO-YEON; LAFFEY, JAMES; OH, HYUNJOO. Understanding usability and user
experience of web-based 3D graphics technology. International Journal of hu-
man-computer interaction, v. 24, n. 3, p. 288-306, 2008.
Ci. Inf. Rev., Maceió, v. 6, n. 3, p. 34-48, set./dez. 2019 42
Maria Aniolly Queiroz Maia/ Ricardo Rodrigues Barbosa/ Peter Williams
A identificação dos primeiros registros acerca das temáticas “usability and user expe-
rience” possibilitou o entendimento histórico dos referidos termos, notadamente, pelo fato
de serem termos considerados adicionais, que surgem como resultado da evolução das ne-
cessidades dos usuários.
Após identificação dos registros históricos, foi realizada a leitura dos artigos (total de
26) que contemplam a expressão “usability and user experience” em seus títulos. Assim, a
partir das produções analisadas, foi possível identificar que a usabilidade e a experiência do
usuário são termos bastante relevantes para a maioria das áreas do conhecimento, e que
mundialmente existem diversas pesquisas com enfoque nos referidos termos. No entanto,
alguns pesquisadores procuram realizar a distinção, caracterização e identificação dos ter-
mos, de modo a avançar nas pesquisas e, consequentemente, trazer contribuições para o
desenvolvimento de interfaces cada vez melhores sob a perspectiva das necessidades dos
usuários.
Nessa perspectiva, percebeu-se que são múltiplas as interpretações referentes à re-
lação da usabilidade com a experiência do usuário. Alguns estudos consideram a usabilidade
uma parte da experiência do usuário, enquanto outras pesquisas tratam a usabilidade como
condição para o sucesso da experiência do usuário. A esse respeito, destacam-se no Quadro
1 algumas das relações entre usabilidade e experiência do usuário, mencionadas e/ou des-
critas nos textos analisados.
A partir das explanações acima, pode-se dizer que os aspectos objetivos estão espe-
cialmente associados com a usabilidade; no entanto, fatores subjetivos (como emoções e
percepções) estão relacionados com a experiência do usuário. Assim, percebe-se que alguns
aspectos da experiência do usuário estão além do controle dos projetistas de sistemas, uma
vez que são elementos bastante subjetivos a serem identificados, na maioria das vezes, em
ambientes controlados (salas, laboratórios, escritórios, dentre outros).
Usabilidade e experiência do usuário são consideradas parte do Design Centrado no
Usuário, definido como “uma abordagem ao desenvolvimento de sistemas interativos cujo
objetivo é tornar os sistemas utilizáveis e úteis” (ISO 9241-210, 2010, p. 6). Vale ressaltar
que, antes da criação do padrão ISO 9241-210 (2010), utilizava-se o Padrão ISO 13407
(1999), que normatizava aspectos relacionados à usabilidade. No entanto, no ano de 2010 o
referido documento (ISO 9241-210, 2010) foi atualizado para considerar o contexto da expe-
riência do usuário.
A definição ISO 9241-210, referente à experiência do usuário, destaca que alguns
critérios de avaliação de usabilidade podem ser usados para avaliar aspectos da experiência
do usuário, ao destacar que a usabilidade pode incluir aspectos perceptivos e emocionais
que são tipicamente associados à experiência do usuário. Essa abordagem corrobora alguns
questionamentos referentes aos limites e relacionamentos entre os referidos conceitos.
(HAAKSMA; JONG; KARREMAN, 2018).
Em seu trabalho sobre a demarcação conceitual da experiência do usuário, Law e
Schaik (2010) enfatizam que os métodos, as técnicas e as ferramentas de avaliação e medi-
ção da experiência do usuário, em sua maioria, são extraídos dos aspectos utilizados no pro-
cesso de avaliação de usabilidade. E que as ferramentas (métodos, métricas e fatores), utili-
zadas no processo de avaliação da experiência do usuário, têm como objetivo verificar a in-
teração do usuário com o produto durante a realização de tarefas, e determinar, de forma
objetiva, mas principalmente subjetiva, o grau da experiência dos usuários ao utilizar o pro-
duto. (ARAÚJO, 2014).
A esse respeito, Araújo (2014) acrescenta que os métodos, tanto de avaliação de
usabilidade quanto da experiência do usuário, podem ser considerados complementares,
considerando que a usabilidade está inclusa na experiência do usuário. De fato, dependendo
dos fatores e métricas selecionadas, os métodos de avaliação da usabilidade podem ainda
ser utilizados para avaliar os fatores hedônicos da experiência do usuário. Para tanto, faz-se
necessário a identificação da fase do processo de desenvolvimento do sistema e escolha do
melhor método a ser aplicado, a fim de garantir uma experiência de uso efetiva.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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