Resoluções Do Encontro Nacional de Direitos Humanos Do PT - Partido Dos Trabalhadores
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Mesmo assim, os anos de governo Lula e Dilma impuseram a essa hegemonia várias derrotas
pontuais. Por isso, o golpe de 2016 precisava apresentar às classes dominantes uma
plataforma de seus interesses reprimidos por esse ciclo de governos de esquerda. Dessa
forma, a Ponte para o Futuro de Temer e sua continuidade na agenda econômica de Paulo
Guedes sintetizam esse caminho das elites na destruição da democracia brasileira: foram a
justificativa para a unanimidade construída no capital contra Dilma, o PT e a esquerda, numa
plataforma neoliberal que visava, na apropriação do patrimônio e do fundo público, as
condições para um novo ciclo de acumulação de riquezas e poder.
Foi preciso lançar mão novamente da criminalização da esquerda, de Lula diretamente, pela
perseguição judicial da Lavo Jato, para impedir que a esquerda retornasse ao governo nas
eleições de 2018. As instituições do Estado Democrático de Direito, corrompidas pela Lava
Jato e coniventes com Temer, permitiram interditar a candidatura Lula e assegurar todo tipo de
Seguramente Bolsonaro não era a opção imediata do núcleo duro do golpismo de 2016 para
as eleições de 2018. Mas, a necessidade de uma mão pesada do Estado para a imposição da
agenda neoliberal paralisada pela crise política do governo Temer permitiram a Bolsonaro
ganhar as eleições com a agenda neoliberal na economia, representada no governo pelo Posto
Ipiranga Paulo Guedes, a agenda anticorrupção na política, representada no governo pela
entrega do Ministério da Justiça ao chamado superministro Sérgio Moro e pela agenda de
revogação dos direitos sociais e culturais conquistados pelas mulheres, pelo movimento
negro, pelos povos indígenas, pelos LGBTQIA+, entre outros segmentos, alvos de toda sorte de
argumentos preconceituosos e discriminatórios, representada no governo pela ministra
Damares Alves e pelo próprio Presidente.
Aqui, salientamos que há também outras duas questões que são inescapáveis para quem
deseja tratar de direitos humanos no Brasil: as forças armadas e as polícias militares.
No que se refere às Forças Armadas, sabemos bem que o governo Bolsonaro defende forças
armadas que sejam tutoras do poder civil, antagonistas da democracia e dos Direitos
Humanos e subordinadas ao Comando Sul dos Estados Unidos. A atual cúpula das forças
armadas é cúmplice desta conduta do governo Bolsonaro. Não há como separar as FFAA da
catástrofe que é o governo Bolsonaro. Transformaram-se em peça fundamental desde o apoio
ao golpe contra a presidente Dilma, à prisão do Lula e construção da candidatura do atual
governante. Mais do que participar do governo, avalizam e conduzem as diretrizes políticas e
orientações governamentais, aceitam o programa neoliberal de ajuste fiscal, que envolve a
eliminação de direitos e privatizações, a supremacia do capital financeiro e submissão à
hegemonia americana. As FFAA são uma força importante de governo Bolsonaro, ocupando
cargos, exercendo funções chaves e definindo orientações. Os compromissos são mais
profundos do que aparentam, os vínculos nasceram na campanha, na montagem do atual
governo e na viabilização de suas políticas. Desta feita, nós: defendemos mudanças
estruturais nas instituições políticas, entre as quais o papel das FFAA nas suas relações com a
sociedade e com Estado e o governo.
O desafio do PT e das esquerdas é fundir as bandeiras da luta democrática com uma visão
programática por novas instituições políticas, o que deve ser considerado na discussão – já
realizada pelo PT – acerca da necessidade de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Já as Polícias Militares brasileiras são as que matam em escala industrial. Não é possível
falar-se em democracia quando, na prática, a PM tem licença para matar. Há toda uma sorte
de violências e humilhações, praticadas no dia a dia dos centros urbanos e especialmente das
periferias, cujo alvo principal é o jovem negro e pobre. Essa intimidação diária e constante é
Terrorismo de Estado.
Assim, acreditamos que a ação das forças armadas e a ação das polícias são temas que
precisam ser tratados de forma enfática, profunda e publicamente. Sem isto, não haverá
direitos humanos em nosso país.
Foram inúmeros os estudos divulgados por ocasião do trágico patamar de 500 mil mortes no
Brasil por COVID-19, em junho de 2021, comparando as taxas de letalidade pela doença nos
vários países do mundo. A marca lamentável dos 500 mil óbitos no Brasil motivou diferentes
pesquisas que nos remetem ao debate sobre o caráter efetivamente genocida da política de
gestão da pandemia no Brasil. Não há sociedade humana que tenha passado por um
genocídio das proporções do que verificamos no Brasil, com a massiva violação de direitos
humanos da maioria da população, que não passe por pelo menos três grandes diretrizes em
suas lutas, que com certeza se desenrolarão, em suas consequências, por anos ou décadas:
Memória, Verdade e Justiça; Políticas Públicas para as Vítimas da COVID e a sociedade
atingida; Responsabilização dos envolvidos nos crimes e ações do genocídio.
A oposição que o PT oferece ao governo Bolsonaro, desde o seu primeiro dia, foi pautada por
dilemas ainda em aberto na elaboração partidária. As lacunas na elaboração estratégica do
Partido para enfrentar esse governo de extrema-direita se fizeram sentir em várias
oportunidades em que crises de governo estiveram a ponto de gerar crises institucionais
capazes de precipitar as chances reais de afastamento de Bolsonaro. A agudização da crise
social e política com a crise sanitária da pandemia tornaram possível a aprovação do Fora
Bolsonaro por parte do PT e dos partidos de esquerda somente em maio de 2020, e desde
então esse eixo se incorpora a outro eixo fundamental da resistência democrático, a
campanha Lula Livre.
Fora Bolsonaro e Lula Livre eram eixos fundamentais e articulados da proposta das esquerdas
do PT para o 7º Congresso Nacional do PT para o período. Eixos que incorporavam direitos
humanos em todas as suas dimensões ao centro de ação partidária, visto que a resistência ao
governo e o enfrentamento da Lava Jato colocam em debate toda a regressão de direitos
vivenciada desde o Golpe de 2016. Essas duas campanhas lançam pontes também com todas
as lutas dos movimentos sociais contra a revogação de direitos. Do movimento sindical,
contra as reformas trabalhistas e previdenciárias que, aprovadas, aprofundaram a
precarização das relações de trabalho e a o aviltamento das condições de trabalho de cada
vez mais amplos setores da classe trabalhadora. Dos movimentos populares por políticas
sociais, destruídas pelos ajustes fiscais e pelo desmonte de programas governamentais
criados em nossos governos nas áreas da moradia, da saúde, da educação, da assistência.
Dos movimentos de mulheres, LGBTQIA+, dos povos indígenas, quilombolas e do movimento
negro, pelos ataques constantes de natureza misógina, racista, LGBTfóbica e genocida do
núcleo duro do pensamento reacionário de Bolsonaro e seu governo.
A conquista dos direitos civis e políticos de Lula com as decisões do STF sobre a sua
inocência e a suspeição de Moro nos processos da Lava Jato teve consequências imediatas e
profundas sobre o ânimo geral da sociedade e dos movimentos políticos e sociais da
esquerda brasileira. Uma voz potente se afirmou no plano nacional e internacional contra as
políticas de Bolsonaro, sintetizada no discurso realizado no Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC em 10 de março desse ano. O “efeito Lula” se associa ao “efeito das ruas” a partir de 29
de maio, quando a campanha Fora Bolsonaro passa a realizar seus atos nacionais de massa
em locais abertos à participação presencial da militância e do povo, colocando Bolsonaro nas
cordas.
Diante do exposto, este processo de encontro setorial de Direitos Humanos deve se colocar
fortemente esse objetivo: realizar um processo politizado, amplo, consistente, de realização de
encontros com o quórum exigido para Secretarias Setoriais, que devser reconhecido pela
Direção Nacional do PT, conforme prevê a resolução do 3º Congresso Nacional do Partido. É
preciso que esse processo atual de organização setorial repercuta diretamente no centro da
discussão e elaboração partidária, a Comissão Executiva Nacional e o Diretório Nacional do
PT, por todo o exposto nos capítulos anteriores sobre a centralidade desse agente no
enfrentamento da extrema-direita neofascista e neoliberal hoje no governo federal.
ELEMENTOS PARA UM PROGRAMA DE GOVERNO COMPROMETIDO COM OS DIREITOS
HUMANOS
Esboçando plataforma mínima de direitos humanos para contribuir no desenho do que será a
campanha Lula-2022 , listamos algumas prioridades:
2. Recriar, desde o primeiro dia de governo a democracia, revogando todas medidas golpistas
(decretos, portarias, etc) e começar o desmonte do Estado de exceção;
3. Convocar nos primeiros dias de governo uma grande Conferência Nacional Popular de
Direitos Humanos, que vai desenhar as linhas mestras do Plano Nacional de DH 4, recriando e
reconstruindo toda arquitetura institucional das políticas de proteção, defesa e promoção dos
DH no Brasil;
4. Recriar os Ministérios das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, bem
como a Secretaria Nacional de Juventude, LGBTI e das Pessoas com Deficiência;
5. Instituir uma política de reparação e punição. Memória, Verdade e Justiça. Processar e punir
os responsáveis pelo genocídio (Covid), criar uma política de promoção da memória, da
verdade, com a criação de uma justiça de transição. Tribunal de Manaus para julgar Bolsonaro
e seus cúmplices;
6. Implantar políticas imediatas para acabar com o extermínio em massa de jovens pretos,
priorizando a redução dos homicídios – hoje são 45 mil pessoas por ano
11. Criar o Sistema Nacional de Direitos Humanos – com marco legal aprovado no Congresso,
estrutura federal, estadual e municipal – política federativa –
12. Desarmar o país, campanha massiva anti-armas, rever toda legislação bolsonarista,
política radical de redução do número de armas circulando no país, retomar Estatuto do
Desarmamento.
13. Reconstruir todas políticas para as pessoas com deficiência, em todas áreas do governo, ir
além do “viver sem limites”, assegurar mais recursos e estrutura;
14. Recomeçar a promoção de direitos das LGBTI; estruturar uma política nacional de defesa e
promoção dos direitos da população LGBTI, com verba federal, marco legal, indução de ações,
transversalidade; criar o Transcidadania nacional;
18. Reconhecer a cidadania plena das pessoas migrantes, através de políticas públicas de
acolhida, integração económica, social e cultural, lutar pelo direito ao voto e garantir espaços
de participação, revogar o decreto de Temer que regulamenta a Lei 13445 de 2017 e
regulamentar o artigo 120 que institui uma política nacional de migração ampla, participativa e
acolhedora.
19. Reconstruir a política de saúde mental que respeita os direitos humanos, valorizar a rede
de atenção psicossocial, retomar o investimento nos CAPS; focar no SUS – voltar às diretrizes
da reforma psiquiátrica, nenhum financiamento às organizações privadas auto-denominadas
“comunidades terapêuticas”;
20. Garantir dinheiro; sem recursos não há políticas públicas; o orçamento para o conjunto
das políticas de promoção e defesa dos DH será enormemente ampliado.
Diante dos desafios do momento presente e os riscos à democracia que esse governo de
Bolsonaro representa, é preciso transformar a Secretaria e o NAPP de Direitos Humanos, que
deve ser constituído para acompanhar as ações do governo e propor iniciativas ao Partido e
às bancadas, num grande formulador de denúncias dos retrocessos em Direitos Humanos no
País e de alternativas a serem disputadas nos movimentos sociais, no Parlamento e nos
nossos governos. O PT deve formular e aprovar resoluções sobre direitos humanos,
enfrentando o conservadorismo presente na sociedade sobre muitas das temáticas de direitos
humanos: as posições mais retrógradas de Bolsonaro encontram respaldam em importantes
segmentos da opinião público, e portanto cabe à Secretaria conduzir com o Partido o
enfrentamento político e ideológico a todo tipo de negacionismo, fundamentalismo,
obscurantismo presentes no governo e na sociedade, fazendo nítida polarização e disputa por
hegemonia.
Os traços do escravismo, dos longos períodos de autoritarismo na vida republicana, entre elas
a ditadura de 1964, do latifúndio, da violência do Estado contra os pobres, as mulheres, os
povos indígenas, comunidades quilombolas, ciganos, negros e negras, LGBTQIA+, pessoas
com deficiências e doenças raras, crianças e adolescentes, juventudes, entre tantos
segmentos oprimidos e discriminados, torna obrigatório esse embate permanente. Do legado
de nossos governos, ficam como prioridades a defesa dos conteúdos organizados pela
Comissão Nacional da Verdade, pelo PNDH 3 (Programa Nacional de Direitos Humanos 3),
pelas políticas públicas dos Ministérios e órgãos do governo federal nas gestões Lula e Dilma
desmontadas pelos dois governos do Golpe. Esse legado permanece atual, deve ser defendido
e aprimorado no programa partidário, atualizado e aprofundado em suas linhas essenciais.
2. CRIAR a Secretaria Nacional de Direitos Humanos ; criar interlocução real com a Executiva Nacional PT, com as
bancadas da Câmara Federal, do Senado e com Lula;
3. Lula Presidente: prioridade é contribuir na construção do programa e campanha, defendendo que os DH sejam
prioridade, sem recuos e concessões;
4. Dar visibilidade à Secretaria Nacional de DH; transformá-la em instrumento de disputa política e ideológica para fora do
Partido, com voz pública, com incidência nacional;
5. Trabalhar para reconectar o PT organicamente com os movimentos de DH, feministas, da juventude, das pretas e
pretos, das LGBTI;
6. Impulsionar um salto qualitativo no PT, construindo uma cultura de defesa dos DH mais forte e orgânica;
8. Criar plataforma e uma articulação nacional das candidaturas dos DH no PT em 2022,com acompanhamento e apoio
estrutural (o fundo partidário deve privilegiar candidaturas dos DH);
9. Orientar e dirigir o conjunto do PT em todas questões nacionais de visibilidade. O Partido deve ter posições públicas
(notas, posts, vídeos) nos casos de violações de DH, não pode se omitir; disputar todo dia contra o neofascismo,
demarcar nosso campo;
10. Trabalhar em sintonia e de forma coordenada com as Secretarias de Mulheres, Combate ao Racismo, Juventude,
Meio Ambiente, Cultura e LGBT.
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