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Livro Direito

[1] O documento apresenta as unidades temáticas de uma disciplina de Direito Empresarial, incluindo conceitos introdutórios, tipos de empresas, administração de sociedades e responsabilidade de administradores. [2] Na primeira unidade, serão abordados conceitos gerais de Direito Empresarial como origem, evolução, definição e natureza jurídica. [3] As demais unidades tratarão de temas como características de empresas e empresários, estabelecimentos comerciais, formas de sociedades empresaria

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Rafael Neto R
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Livro Direito

[1] O documento apresenta as unidades temáticas de uma disciplina de Direito Empresarial, incluindo conceitos introdutórios, tipos de empresas, administração de sociedades e responsabilidade de administradores. [2] Na primeira unidade, serão abordados conceitos gerais de Direito Empresarial como origem, evolução, definição e natureza jurídica. [3] As demais unidades tratarão de temas como características de empresas e empresários, estabelecimentos comerciais, formas de sociedades empresaria

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Direito

Direito

1ª edição
2017
Palavras do professor
Olá, aluno! Seja bem-vindo à disciplina de Direito Empresarial.
Com grande prazer apresentamos o projeto didático do grupo Newton
Paiva da disciplina Direito Empresarial. Nossa disciplina é dividida em oito
unidades de aprendizagem que permitirão, dentre outros objetivos, anali-
sar as noções gerais do Direito Empresarial, via uma visão sistêmica e inter-
disciplinar da matéria sem se distanciar da efetividade prática e profissional.
Na primeira unidade, trataremos sobre a parte introdutória do Direito
Empresarial, quando estudaremos os aspectos voltados ao conceito pro-
priamente dito, sua definição, abordando as características e sua natu-
reza jurídica. Trabalharemos também, na mesma unidade, a autonomia,
as fontes e as funções do Direito Empresarial.
Em seguida, na Unidade 2, aprenderemos sobre as características ineren-
tes ao conceito de empresa e das pessoas que a exercem as atividades
empresariais, para que possamos compreender como funciona a sua apli-
cação. Assim, vamos compreender o conceito de empresa e empresário,
sua respectiva função social, bem como caracterizar e diferenciar o que
são agentes, prepostos e auxiliares do comércio e do empresário.
Na Unidade 3, poderemos compreender sobre o estabelecimento comer-
cial, estudando o conceito de matriz, filiais e sucursais, bem como os ele-
mentos conceituais de nome empresarial, estabelecimento e fundo de
comércio/empresa, trespasse. Veremos, ainda, os conceitos e as regras
gerais do direito de propriedade industrial.
Já na Unidade 4, poderemos adentrar nas diversas formas das sociedades
empresarias, quando faremos a distinção de cada uma, estudando suas
hipóteses de constituição.
Prosseguindo com nossos estudos, na Unidade 5 falaremos sobre as
sociedades empresarias especiais, pois elas possuem peculiaridades, tais
como a sociedade cooperativa e a sociedade advocatícia.
Seguindo adiante, na Unidade 6, apreenderemos sobre a administração
da sociedade. Para tanto, estudaremos atos e decisões do conselho fiscal
e os requisitos para as deliberações dos sócios. Veremos, ainda, situações
relacionados ao consórcio de empresas e grupos societários.
Já na Unidade 7, abordaremos acerca da responsabilidade dos adminis-
tradores, momento em que estudaremos a autoria, coautoria ou parti-

3
Palavras do professor
cipação em conduta ilícita, bem como a desconsideração da personali-
dade jurídica.
Por fim, na Unidade 8, estudaremos os aspectos materiais e processuais
que envolvem a recuperação judicial das sociedades empresariais.
Sem dúvida o tema é extenso e complexo, motivo pelo qual estudaremos
muita coisa, mas, ao mesmo tempo, perceberemos que ele está presente
em nossa realidade.
Ao longo da disciplina, vamos utilizar textos legais e a doutrina especiali-
zada do tema, tornando o aprendizado do assunto mais dinâmico.
Convido ainda para que você acesse os outros materiais disponibilizados
no ambiente do aluno para aprender ainda mais.
Então, foco nos objetivos e vamos aos estudos!

4
Unidade 1
Introdução ao Direito
Empresarial
1
Para iniciar seus estudos

Nesta unidade, veremos as noções gerais do Direito Empresarial e, para


tanto, analisaremos a origem e evolução da matéria tanto no direito
estrangeiro quanto no direito pátrio.
Ademais, para melhor compreensão do tema, traremos a base legal que
conceitua os atos de comércio, ou seja, os temas relacionados ao Direito
Empresarial no Código Civil.
Assim, sem mais tardanças, vamos aos estudos!

Objetivos de Aprendizagem

• Conhecer a origem e a evolução do direito empresarial.


• Estudar sobre a autonomia do Direito Empresarial: fontes e
princípio.
• Elencar o conceito, o objeto e os limites do Direito Empresarial.
• Diferenciar Direito Empresarial Interno e Internacional.
• Apresentar conceitos da teoria dos atos de comércio à teoria
da empresa.

5
Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

1 Introdução ao Direito Empresarial


O capítulo introdutório ao Direito Empresarial será de sua importância para toda a unidade, pois veremos concei-
tos gerais e que serão base ao longo dos nossos estudos. Sendo assim, preste muita atenção aos conceitos que
traremos a seguir, uma vez que eles serão nosso alicerce nesta matéria.

1.1 Direito empresarial: origem e evolução


O comércio é, sem dúvida, uma das práticas humanas mais antigas, razão pela qual podemos presenciar tais atos
desde os primórdios das sociedades, o que o torna uma das atividades mais importantes no cotidiano.
Temos notícias de que a atividade comercial era exercida desde a Antiguidade. Podemos constatar varias regras
relacionadas ao comércio no Código de Manu e no Código de Hammurabi, por exemplo.
Contudo, somente no século XI, com o surgimento das “Corporações de Ofício” que a relação comercial buscou
ser sistematizada, criando-se as normas e estruturas para dirimir possíveis conflitos. Para Rubens Requião:
É nessa fase histórica que começa a se cristalizar o direito comercial, deduzindo das regras cor-
porativas e, sobretudo, dos assentos jurisprudenciais das decisões dos cônsules, juízes designa-
dos pela corporação, para, em seu âmbito, dirimirem as disputas entre comerciantes (REQUIÃO,
1998, p. 10-11).
Inicialmente, o Direito Comercial era construído com base na teoria subjetiva, uma vez que deveria ser aplicável
apenas aos comerciantes matriculados nas corporações, ou seja, o marco para a aplicabilidade do Direito Comer-
cial fazia ilação ao indivíduo: o comerciante.

Corporações de ofício eram associações que surgiram na Idade Média para regulamentar o
processo produtivo artesanal nas cidades. Essas unidades de produção artesanal eram mar-
cadas pela hierarquia (mestres, oficiais e aprendizes), bem como pelo controle da técnica de
produção das mercadorias pelo produtor. Para mais conhecimento do tema, acesse: <http://
www.revistas.usp.br/rfdusp/article/viewFile/67461/70071>.

Com o passar do tempo, sobretudo com a Revolução Francesa, a concepção tradicional do Direito Comercial foi
perdendo sentido, dadas as diversas modificações sociais, políticas e jurídicas. Assim sendo, não fazia mais sen-
tido entender que o Direito Comercial estava relacionado à pessoa que pratica os atos comerciais, mas sim pela
análise da própria atividade comercial, surgindo com isso a teoria objetiva. Segundo os ensinamentos de Rubens
Requião:
E, malgrado a reação do direito territorial, se foi ampliando a competência dos cônsules aos
estranhos às corporações, que tivessem contratado com um comerciante nela inscrito. Ao
mesmo tempo, relaxa-se a exigência da matrícula como condição para o comerciante subme-
ter-se à jurisdição consular, estendendo-se sua competência a comerciantes não matriculados
(REQUIÃO, 1998, p. 12).

6
Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

Tal teoria foi influenciada pelos ideais de “liberdade, igualdade e fraternidade”, palavras de ordem da Revolução
Francesa, na qual se buscou excluir o privilégio de determinadas classes e, consecutivamente, assegurar a tutela
do direito a todos os indivíduos que exerciam atividades comerciais.

Figura 1.1 – Revolução Francesa.

Fonte: 14789656 (123RF).

Diante da consolidação da Revolução Francesa e do fomento do lema, as modificações ocorridas na França exer-
ceram influência na elaboração de legislações comerciais de outros estados, conforme informa Rubens Requião:
O sistema objetivista, que desloca a base do direito comercial da figura tradicional do comerciante
para a dos atos de comércio, tem sido acoimado de infeliz, de vez que até hoje não conseguiram os
comerciantes definir satisfatoriamente o que sejam eles (REQUIÃO, 1998, p. 13, grifos do autor).
Por fim, salientamos ainda que essa influência foi incutida na ordem jurídica nacional, conforme veremos
nesta unidade.

7
Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

1.2 Direito empresarial internacional e interno


Diante do atual cenário de globalização, é de suma importância estudarmos os vínculos relacionados à disciplina
no seu âmbito internacional e nacional, com o escopo de delimitar os requisitos para a determinação da nacio-
nalidade da sociedade.
O Direito Empresarial Internacional busca examinar as características, a regulamentação do mercado e as codi-
ficações existentes. Para tanto, envolvem diversas organizações econômicas e financeiras. Podemos citar como
uma das principais a Organização Mundial do Comércio (OMC), que se apresenta como uma via de solução de
conflitos entre os Estados, ou seja, busca regulamentar o comércio internacional por diretrizes gerais.

A OMC iniciou suas atividades em 1º de janeiro de 1995 e, desde então, tem atuado como a
principal instância para administrar o sistema multilateral de comércio. A organização tem
como objetivos: estabelecer um marco institucional comum para regular as relações comer-
ciais entre os diversos membros que a compõem; determinar um mecanismo de solução
pacífica das controvérsias comerciais, tendo como base os acordos comerciais em vigor; e,
por fim, criar um ambiente que permita a negociação de novos acordos comerciais entre os
membros – que atualmente conta com 160 e o Brasil é um dos fundadores. Sua sede está
localizada em Genebra (Suíça) e as três línguas oficiais da organização são o inglês, o fran-
cês e o espanhol. Acesse: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/diplomacia-
-economica-comercial-e-financeira/132-organizacao-mundial-do-comercio-omc>.

Figura 1.2 – Mundo, Terra, globo terrestre, mão, acesso ao mercado.

Fonte: 20613883 (123RF).

Não podemos deixar de mencionar a chamada lex mercatoria, que é um direito surgido dos usos, jurisprudência e
costumes internacionais. No âmbito internacional, as pessoas jurídicas são sociedades transnacionais, ou seja,
possuem matriz em um país, mas atuam em diversos outros.

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Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

Glossário

Transnacional: que ultrapassa os limites das fronteiras de um país. Fonte: <https://diciona-


riodoaurelio.com/transnacional>.

Nesse sentido, uma das principais distinções entre o Direito Empresarial Internacional e o Nacional se refere à
unificação das normas comerciais. É fortemente presente no âmbito internacional a autorregulamentação, que
consiste em ajustes comerciais feito pelos próprios Estados, em decorrência da livre concorrência.
Por tais motivos, a doutrina entende que no âmbito internacional vigore a técnica do “direito flexível”, em que se
prima pela harmonização normativa por meio de princípios reguladores.
Por seu turno, o Direito Empresarial Interno, quando analisado sob a perspectiva da pessoa jurídica, possui como
base legal os artigos 40 a 69 do Código Civil. Para Rubens Requião, podemos conceituar pessoa jurídica como
o ente incorpóreo que, como as pessoas físicas, pode ser sujeito de direitos. Não se confundem,
assim, as pessoas jurídicas com as pessoas físicas que deram lugar ao seu nascimento; pelo con-
trário, delas se distanciam, adquirindo patrimônio autônomo e exercendo direitos em nome pró-
prio. Por tal razão, as pessoas jurídicas têm nome particular, como as pessoas físicas, domicílio e
nacionalidade; podem estar em juízo, como autoras ou como rés, sem que isso se reflita na pessoa
daqueles que a constituíram. Finalmente, têm vida autônoma, muitas vezes superior às das pes-
soas que as formaram; em alguns casos, a mudança de estado dessas pessoas não se reflete na
estrutura das pessoas jurídicas, podendo, assim, variar as pessoas físicas que lhe deram origem,
sem que esse fato incida no seu organismo. É o que acontece com as sociedades institucionais ou
de capitais, cujos sócios podem mudar de estado ou ser substituídos sem que se altere a estrutura
social (REQUIÃO, 1998, p. 204).
A pessoa jurídica pode ser constituída por pessoas (universitas personarum) ou bens (universitas bonorum), sendo
subdivididas em pessoas jurídicas de direito público externo, pessoas jurídicas de direito público interno e pes-
soas jurídicas de direito privado.
Podemos citar, a título exemplificativo de Direito Público Externo, a Organização das Nações Unidas (ONU); nos
casos de Direito Público Interno, a administração pública direta (União, Distrito Federal, estados e municípios) e
administração pública indireta (autarquias, fundações públicas, agências reguladoras e agências executivas); por
fim, de Direito Privado (associações, sociedades civis e sociedades empresariais).
Existem diversas teorias relacionadas à natureza das pessoas jurídicas de direito privado, e, dentre elas, as mais
significativas são a teoria da ficção e a teoria da realidade: a primeira, cujo defensor foi Savigny, informa que é
fictícia a figura da personalidade jurídica, pois ela decorre de uma criação legal (sua finalidade seria a de facilitar
determinadas funções); já a teoria da realidade técnica, cujo defensor foi Ihering, entende que a pessoa jurídica
ocorre em virtude da união de um grupo de pessoas para fins específicos, sendo que, para esta corrente, a pessoa
jurídica é uma realidade social.

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Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

Não são admitidas a registro, nem podem funcionar, sociedade de advogados que apresen-
tem forma ou características de sociedade empresária, que adotem denominação de fan-
tasia, que realizem atividades estranhas à advocacia, que incluam como sócio ou titular de
sociedade unipessoal de advocacia pessoa não inscrita como advogado ou totalmente proi-
bida de advogar. Essa previsão está contida no art. 16 do Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei
nº 8.906/94).

Ademais, no caso das pessoas jurídicas de direito privado, existem duas hipóteses para a sua criação: por ato
constitutivo (escrito e preliminar) e pelo registro em cartório. Para que surta seus efeitos legais, o ato constitu-
tivo deve ser levado para registro, pois caso contrário existirá uma “sociedade de fato“. O registro em cartório
ocorre na junta comercial, exceto para as sociedades civis de advogados cujo registro ocorre na Ordem de
Advogados do Brasil.

1.3 Direito empresarial no Brasil


No Brasil, o Direito Comercial se iniciou em 1808, com a vinda da família real portuguesa e, posteriormente, com
a promulgação de normas comerciais, o estabelecimento do livre comércio e a criação do Banco do Brasil.
Neste período, as regras inerentes às atividades comerciais eram reguladas pelo Pacto Colonial, que tinha como
objetivo regrar as atividades comerciais das colônias junto à metrópole, situação que foi marcada pelo monopó-
lio da metrópole em face das colônias.

Figura 1.3 – Banco do Brasil e incentivo do livre comércio.

Moedas nacionais.
Fonte: 10281892 (123RF).

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Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

O Pacto Colonial era um conjunto de regras, leis e normas que as metrópoles impunham às
suas colônias durante o período colonial.

Em 25 de junho de 1850, sancionou-se o Código Comercial Brasileiro. Até então, as relações comerciais eram
regidas pelas leis portuguesas. Ademais, com o surgimento de um código comercial próprio, substituíram-se os
regramentos estrangeiros em detrimento das particularidades brasileiras.
O Código Comercial Brasileiro possuía fortes influências da legislação francesa, motivo pelo qual foi adotada a
teoria dos atos de comércio, corrente superada com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, que adotou a
Teoria da Empresa. Para Fabio Ulhôa Coelho:
O Direito Comercial brasileiro filia-se, desde o último quarto do século XX, à teoria da empresa.
Nos anos 1970, a doutrina comercialista estuda com atenção o sistema italiano de disciplina pri-
vada da atividade econômica. Já nos anos 1980, diversos julgados mostram-se guiados pela teo-
ria da empresa para alcançar soluções mais justas aos conflitos de interesse entre empresários. A
partir dos anos 1990, pelo menos três leis (Código de Defesa do Consumidor, Lei das locações e
Lei do Registro do Comércio) são editadas sem nenhuma inspiração na teoria dos atos do comér-
cio. O Código Civil de 2002 conclui a transição, ao disciplinar, no Livro II da Parte Especial, o direito
de empresa (COELHO, 2007, p. 26).
No Brasil, houve grande dificuldade para se definir um conceito para as relações jurídicas comerciais. Atual-
mente, a divergência entre a adoção da teoria dos atos de comércio e da teoria da empresa encontra-se supe-
rada, conforme se constata no Código Civil de 2002.

1.4 Direito empresarial: conceito, objeto e limites


Existem diversos conceitos que podem ser adotados para conceituar a disciplina Direito Empresarial. Neste contexto,
iremos defini-lo como um conjunto de normas que regra as atividades das empresas e daqueles que atuam nesta
atividade, bem como dos direitos diretos e indiretos ligados a tais atividades. Nas palavras de Fabio Ulhôa Coelho:
O Direito Comercial cuida do exercício dessa atividade econômica organizada de fornecimento de
bens ou serviços, denominada empresa. Seu objeto é o estudo dos meios socialmente estrutura-
dos de superação dos conflitos de interesses envolvendo empresários ou relacionados às empre-
sas que exploram. As leis e a forma pela qual são interpretadas pela jurisprudência e doutrina, os
valores prestigiados pela sociedade, bem assim o funcionamento dos aparatos estatal e paraes-
tatal, na superação desses conflitos de interesses, formam o objeto da disciplina (COELHO, 2011,
p. 22, grifos do autor).
O Direito Empresarial (anteriormente chamado de Direito Comercial) nasceu como um ramo autônomo do
Direito Civil, possuindo princípios e características próprias. Contudo, apesar da adoção da teoria das empresas,
corrente que modificou a perspectiva relacionada ao Direito Empresarial (substituiu a figura do comerciante para

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Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

a da empresa), não se incutiu o desaparecimento da autonomia desta disciplina. Este ramo se apresenta como
uma matéria cujo objetivo é regular as atividades empresariais.
Podemos notar que o objetivo do Direito Empresarial é regularizar as atividades empresariais e dos agentes que,
direta ou indiretamente, são considerados agentes econômicos.
Os limites da disciplina de Direito Empresarial estão ligados ao exercício das atividades empresariais. Todos os
indivíduos em sociedade necessitam de bens e serviços, sendo estes prestados por sociedades organizadas eco-
nomicamente. As atividades empresariais podem ser subdividas em diversos fatores, sendo eles: capital, mão de
obra, insumo e tecnologia. Nas palavras de Fabio Ulhôa Coelho:
As organizações em que se produzem os bens e serviços necessários ou úteis à vida humana são
resultado da ação dos empresários, ou seja, nascem do aporte de capital — próprio ou alheio —,
compra de insumos, contratação de mão de obra e desenvolvimento ou aquisição de tecnologia que
realizam. [...] Estruturar a produção ou circulação de bens ou serviços significa reunir os recursos
financeiros (capital), humanos (mão de obra), Omateriais (insumo) e tecnológicos que viabilizem
oferecê-los ao mercado consumidor com preços e qualidade competitivos (COELHO, 2011, p. 22).
O agente econômico incumbido de organizar as atividades empresariais da sociedade é denominado como
empresário, cuja definição está prevista no art. 966 do Código Civil: “Considera-se empresário quem exerce pro-
fissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”.
Destacamos as palavras a seguir para melhor compreensão do dispositivo legal. Vejamos:
Profissionalismo: para o exercício profissional de uma atividade empresarial, deverá existir habitualidade do
agente. De mais a mais, outro ponto importante refere-se à pessoalidade:
o agente no seu exercício empresarial, deve contratar empregados. São estes que, materialmente
falando, produzem ou fazem circular bens ou serviços. Isto é, não se considera profissional quem
realiza tarefas de modo esporádico (COELHO, 2011, p. 30).

Enunciado 199 do CJF – art. 967: “A inscrição do empresário ou sociedade empresária é


requisito delineador de sua regularidade, e não da sua caracterização”.

Atividade econômica: refere-se à busca de lucro pelas atividades empresariais, seja de meio ou fim, da ativi-
dade econômica. Para Fabio Ulhôa Coelho:
Note -se que o lucro pode ser o objetivo da produção ou circulação de bens ou serviços, ou apenas
o instrumento para alcançar outras finalidades. Religiosos podem prestar serviços educacionais
(numa escola ou universidade) sem visar especificamente o lucro. [...] a escola ou universidade
religiosas podem ter objetivos não lucrativos, como a difusão de valores ou criação de postos de
emprego para os seus sacerdotes. Neste caso, o lucro é meio e não fim da atividade econômica
(COELHO, 2011, p. 32, grifos do autor).
Destacamos que o ordenamento jurídico traz exceções para a conceituação de empresário. O art. 966, parágrafo
único do Código Civil, informa que:

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Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou
artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa.
Estes profissionais, mesmo que contratem outros empregados, não são considerados empresários: advogados,
médicos, dentistas, arquitetos etc. Salientamos que ressalvam-se os casos em que esta atividade se constitua
como elemento de empresa, ou seja, seja parte da atividade, e não a atividade empresarial em si.

Podemos citar como exemplo de elemento de empresa o caso de um médico que exerce
suas atividades como profissional em seu consultório, com auxílio de enfermeiras. Contudo,
no decorrer dos anos, o consultório transforma-se em um hospital, empregando diversos
profissionais. Neste contexto, o exercício da atividade empresarial organizada de exploração
no ramo de saúde pode ser entendido como elemento de empresa?

Organizada: é aquela que tem os fatores de produção (capital, mão de obra, insumos e tecnologia) explo-
rados de forma articulada pelo empresário. A organização da atividade empresarial é um dos principais ele-
mentos da empresa.
Produção ou circulação de bens ou de serviços: ocorre quando as atividades econômicas preenchem os requi-
sitos citados anteriormente, sendo que a produção é a fabricação de produtos ou mercadorias, e a circulação
decorre da atividade de prestar serviços ao consumidor, ou seja, é uma atividade intermediaria entre o produtor
e o consumidor.

Para mais conhecimento acerca dos enunciados do Conselho da Justiça Federal, acesse:
<http://www.cjf.jus.br/enunciados/>

Concluímos, assim, que o exercício empresarial decorre do desenvolvimento das atividades, seja por pessoas
físicas ou jurídicas, desde que organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, tendo
como suas características: habitualidade, atividade de produção, circulação de bens ou serviços, finalidade
lucrativa e organizada.

13
Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

Figura 1.4 – Exercício empresarial.

Características: habitualidade, atividade de produção, circulação de bens ou serviços, finalidade lucrativa e organizada.
Fonte: 48359892 (123RF).

1.4.1 Direito empresarial: autonomia, fontes e princípios

Compete, por oportuno, mencionar que a autonomia do Direito Empresarial decorre da existência de fontes,
características e princípios próprios. Dentre outros aspectos, notamos a existência de objetivos próprios, bem
como métodos interpretativos inerentes à disciplina, sobretudo diante da existência de atividades que não são
reguladas pelas normas civis, mas sim por disposições do Direito Empresarial, tais como registro público de
empresas etc.
Destacamos como características que diferenciam o Direito Empresarial dos outros ramos do Direito o fato de ele
ser cosmopolita, oneroso, informal e fragmentário: cosmopolita por tratar de questões comerciais abrangentes,
que transpassam a nacionalidade; oneroso, pois sua principal característica é o cunho econômico, ou seja, o
lucro; informal, pois visa à celeridade das transações mercantis; fragmentário, em razão da sua formação advir de
diversas origens jurídicas e costumeiras.
Por sua vez, fonte do Direito, em linhas gerais, pode ser conceituada como os modos em que surgem as normas e
os princípios jurídicos, ou seja, são os componentes que compõem o processo, sistêmico e lógico, de criação do
Direito. Nesse contexto, as fontes do Direito Empresarial são aquelas que surgem das praxes comerciais.

O Decreto-Lei nº 4.657/1942, alterado pela Lei nº 12.376/2010, em seu art. 4º, informa
que: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes
e os princípios gerais de direito”.

As fontes primárias do Direito Empresarial são: a Constituição Federal, o Código Civil, o Código Comercial, os
tratados internacionais, os decretos e as leis especiais e os princípios gerais do Direito Empresarial.

14
Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

As fontes secundárias do Direito Empresarial são: usos, costumes, analogia, jurisprudência e princípios gerais
do Direito. Os usos e costumes decorrem da prática hodierna de determinados atos aceitos por todos no âmbito
comercial. A analogia toma como base parâmetros utilizados em outro caso para suprir a lacuna do caso sob
análise. Jurisprudência é o conjunto de decisões uniformes dos tribunais sobre determinada matéria.
Por fim, os princípios gerais do Direito são os alicerces do ordenamento jurídico, haja vista que preveem enuncia-
dos de valor genérico e orientam a compreensão do próprio sistema jurídico.

Com a adoção de forma indireta, no Código Civil, da definição do termo jurídico empresa,
podemos entender que, não havendo o preenchimento dos requisitos previstos, inexistirá
pessoa jurídica?

Anteriormente citamos como fonte secundária do Direito Empresarial “os princípios gerais do direito”. Contudo,
é de suma importância destacarmos os princípios gerais do Direito Empresarial, que são: (I) Liberdade de inicia-
tiva, (II) Liberdade de Concorrência (ou Competição), (III) Preservação da empresa, e (IV) Função social da empresa.
O princípio da livre iniciativa possui previsão constitucional (art. 170, caput, da Constituição Federal), sendo
considerado como direito fundamental, ao passo que garante o direito de acesso ao mercado de produção de
bens e serviços.
Por este princípio, é resguardada a valorização do trabalho humano como a base da ordem econômica, cujo obje-
tivo é assegurar a existência digna do ser humano.
O da liberdade de concorrência (ou competição) se traduz no dever de lealdade de competição, ou seja, busca-
-se estipular parâmetros para a repressão de possíveis abusos de poder econômico. A concorrência abusiva ocor-
rerá todas as vezes em que a atividade econômica gerar um domínio de mercado, com a eliminação da concor-
rência ou dos lucros arbitrários.
Entrementes, o da preservação da empresa visa proteger a empresa de possíveis percalços que possam estar
suportando, facilitando sua recuperação e mantendo sua função social junto à sociedade.
Por fim, o da função social da empresa decorre da necessidade de se respeitar os direitos e interesses decorren-
tes da atividade empresarial exercida. Em outras palavras, trata-se da superação do individualismo em prol do
interesse da coletividade.

1.5. Teoria dos atos de comércio e Teoria da empresa


A criação do nome desta disciplina sofreu algumas alterações ao longo dos anos. Inicialmente foi chamada de
Direito Comercial, pois entendemos que ela estaria vinculada às práticas relacionadas ao comércio. Hoje em dia
é chamada de Direito Empresarial, uma vez que a noção de comércio está mais ampla.
Em outras palavras, a nomenclatura de Direito Comercial era utilizada em razão de a disciplina se relacionar à
análise dos atos praticados puramente de âmbito comercial, motivo pelo qual foi denominada como Teoria dos
Atos do Comércio.

15
Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

Esta teoria estava ligada intrinsecamente com as atividades cotidianas dos comerciantes. Assim, qualquer indiví-
duo que praticasse um ato de comércio estaria vinculado às normas do Direito Comercial, e não do Direito Civil.
Para Fabio Ulhôa Coelho: “[...] pela teoria dos atos de comércio. Sempre que alguém explorava atividade eco-
nômica que o direito considera ato de comércio (mercancia), submetia-se às obrigações do Código Comercial”
(COELHO, 2011, p. 22).
Com a promulgação do Código Civil de 2002, houve a unificação do Direito Civil e Comercial, substituindo a teo-
ria dos atos de comércio para a teoria da empresa.
A teoria dos atos de comércio tinha como critério o subjetivismo, ou seja, as atividades econômicas estavam
ligadas ao agente que as praticava, uma vez que bastava que tais atos fossem enquadrados como atividades
relacionadas ao comércio para que o negócio jurídico fosse submetido às regras do Direito Comercial.

A teoria dos atos do comércio, de construção francesa, teve vigência até a promulgação do
Código Civil de 2002.

A teoria da empresa, presente no Código Civil, entende que as atividades econômicas devem ser analisadas com
base na sociedade organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Conforme escreve Fabio
Ulhôa Coelho:
Em 1942, na Itália, surge um novo sistema de regulação das atividades econômicas dos particula-
res. Nele, alarga- se o âmbito de incidência do Direito Comercial, passando as atividades de pres-
tação de serviços e ligadas à terra a se submeterem às mesmas normas aplicáveis às comerciais,
bancárias, securitárias e industriais. Chamou-se o novo sistema de disciplina das atividades pri-
vadas de teoria da empresa. O Direito Comercial, em sua terceira etapa evolutiva, deixa de cuidar de
determinadas atividades (as de mercancia) e passa a disciplinar uma forma específica de produzir
ou circular bens ou serviços, a empresarial (COELHO, 2011, p. 26-27, grifos do autor).
Em outras palavras, a teoria adotada no Código Civil prevê que o importante é que a atividade econômica seja
organizada para a produção e circulação de bens ou serviços.
A base legal que representa a adoção da teoria da empresa se encontra no art. 966 do Código Civil e transcre-
vemos a seguir:
Art. 966 Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organi-
zada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.
De acordo com a norma legal, não basta o indivíduo praticar atos de cunho comercial, pois esta mesma ativi-
dade econômica deverá preencher os requisitos previstos na lei.

16
Direito | Unidade 1: Introdução ao Direito Empresarial

A atividade empresarial deve ser organizada para a produção ou a circulação de bens ou de


serviços. Empresário é aquele que exerce profissionalmente esta atividade. Neste sentido,
qualquer profissional que exerça atividade organizada será um empresário?

Assim, para que seja entendido que existe uma atividade comercial, devemos constatar a ocorrência de uma ati-
vidade econômica exercida com habitualidade e organização, visando à produção e circulação de bens e serviços,
seja por pessoa física ou pessoa jurídica.
Percebemos, na atual codificação, que não existe divisão entre atos civis e comerciais, uma vez que o importante
é a forma em que a atividade econômica é exercida.
Contudo, é de suma importância destacar que os atos de comércio não desapareceram, mas sim a sua dimensão
jurídica, ou seja, o ato de comprar e vender permanecem os mesmos, contudo, houve uma dicotomia entre atos
comerciais civis e mercantis. Esta conclusão podemos extrair do art. 2.037 do Código Civil sobre autorização à
aplicação das normas que não foram revogadas, do Código anterior. Vejamos:
Art. 2.037. Salvo disposição em contrário, aplicam-se aos empresários e sociedades empresárias
as disposições de lei não revogadas por este Código, referentes a comerciantes, ou a sociedades
comerciais, bem como a atividades mercantis.
Ou seja, as sociedades empresariais estão submissas ao regramento mercantil, quando constatado o exercício
de atividade econômica de forma profissional e organizada, visando à produção e circulação de bens e serviços
(ainda que não fosse enquadrada como atividade mercantil pela teoria dos atos de comércio). Nas palavras de
Fabio Ulhôa Coelho:
[...] pela teoria dos atos de comércio. Sempre que alguém explorava atividade econômica que o
direito considera ato de comércio (mercancia), submetia-se às obrigações do Código Comercial
(escrituração de livros, por exemplo) e passava a usufruir da proteção por ele liberada (direito à
prorrogação dos prazos de vencimento das obrigações em caso de necessidade, instituto deno-
minado concordata). A insuficiência da teoria dos atos do comércio forçou o surgimento de outro
critério identificador do âmbito de incidência do Direito Comercial: a teoria da empresa. [...] O
Direito Comercial, em sua terceira etapa evolutiva, deixa de cuidar de determinadas atividades (as
de mercancia) e passa a disciplinar uma forma específica de produção e circular bens ou serviços
(COELHO, 2011, p. 25-27, grifos do autor).
Concluímos esta unidade e, em especial, o tema das teorias das atividades econômicas. Pela leitura dos artigos
relacionados às atividades mercantis e constatando-nos sobre a superação da teoria dos atos de comércio pela
teoria da empresa, verificamos que esta privilegia a sociedade empresarial (teoria objetiva), em vez do agente
que pratica as atividades econômica (teoria subjetiva). Essa evolução vem ao encontro da própria transformação
global das relações comerciais.

17
Considerações finais
Nesta unidade de estudo, você pôde conhecer e aprofundar seus conheci-
mentos sobre as noções gerais do Direito Empresarial. Vamos recapitular:
• Compreendemos o conceito de Direito Empresarial e seu respec-
tivo objetivo: fomentar e regulamentar as práticas comerciais.
• Passamos, em seguida, a estudar suas características e peculia-
ridades, dentre elas a sua autonomia prática e acadêmica frente
aos outros ramos do Direito, suas fontes (primeiras e secundárias)
e, finalmente, seus princípios gerais.
• Vimos ainda a origem e o conceito da teoria dos atos de comércio
e sua superação pela teoria da empresa pelo Código Civil de 2002.

18
Referências bibliográficas
BRASIL. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto Lei nº
4.657/1942, alterado pela Lei nº 12.376/2010. Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 7 jun.
2017.

______. Lei nº 8.906/1994. Estatuto da Advocacia e da OAB. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8906.htm>. Acesso em:
7 jun. 2017.

COELHO, F. U. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. v. 1. 11.


ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.

______. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa. 23. ed. São


Paulo: Saraiva, 2011.

REQUIÃO, R. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Forense, 1998.

19
Direito
Unidade 2
Da empresa e das pessoas que a
exercem
2
Para iniciar seus estudos

Olá! Seja bem-vindo(a) ao estudo da Unidade 2: da empresa e das pes-


soas que a exercem. Nesta unidade você terá a oportunidade de conhe-
cer ainda mais o universo do Direito Empresarial, pois aprenderá qual é o
conceito de empresa e empresário, e assim poderá diferenciá-los. Além
disso, verá a função social de empresa e empresário e a funcionalidade
dos agentes, prepostos e auxiliares do comércio e do empresário.
Fique atento e bons estudos.

Objetivos de Aprendizagem

• Conceitos de empresa e empresário.


• Função social de empresa e empresário.
• Agentes, prepostos e auxiliares do comércio e do empresário.

22
Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

2.1 Conceitos de empresa e empresário


Para Coelho (2013, p. 71), segundo a definição de empresa criada pelo respeitado professor Waldirio Bulgarelli,
empresa é a “[...] atividade econômica organizada de produção e circulação de bens e serviços para o mercado,
exercida pelo empresário, em caráter profissional, através de um complexo de bens”.
De acordo com o conceito, a empresa possui um fim comercial, pois a atividade organizada de produção e
circulação de bens e serviços é voltada para o mercado. Assim, a definição de Bulgarelli, mencionada por Coelho
(2013) reflete a atual Teoria de Empresa adotada pelo Código Civil de 2002, além do conceito de empresário.
Durante anos, empresários e comerciantes eram considerados distintas classes profissionais, e isso se dava em
razão da superada “Teoria de Atos de Comércio”, entendida no revogado Regulamento 737, de 1850, que em seu
artigo 19, §§ 1º ao 5º, considerava como ato de comércio: 1) a compra e a venda ou troca de efeitos móveis ou
semoventes para os vender por grosso ou a retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu
uso; 2) as operações de câmbio, banco e corretagem; 3) as empresas de fábricas; com missões; de depósitos; de
expedição, consignação e transporte de mercadorias; de espetáculos públicos; 4) os seguros, fretamentos, risco
e quaisquer contratos relativos ao comércio marítimo; e 5) a armação e expedição de navios. 
Podemos perceber como a Teoria dos Atos de Comércio era uma teoria limitada, restritiva, que deixava de con-
siderar diversas figuras empresariais, mas, com os passar dos anos e o surgimento de novas atividades profissio-
nais, os legisladores, em 2002, entenderam por bem superar a Teoria dos Atos de Comércio para substituí-la pela
Teoria da Empresa.
A Teoria da Empresa foi materializada pelos legisladores no Novo Código Civil, de 2002, que unificou formal-
mente a figura do comerciante e do empresário. Dessa forma, as expressões conhecidas como atos de comércio
e comerciante foram substituídas para teoria da empresa e empresário.
Assim, de acordo com o atual artigo 966, do Código Civil, de 2002, considera-se empresário quem:
Exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de
bens ou de serviços.
“Parágrafo único Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa. (BRASIL, 2002).
A partir do conceito legal de empresário do artigo 966 do CC, podemos destacar como principais requisitos para
ser empresário:
1) Profissionalmente e habitualidade: segundo o entendimento do artigo, para ser empresário é requisito obri-
gatório a habitualidade profissional, ou seja, que esta seja a profissão e não um simples trabalho autônomo.

2) Efetivo exercício de atividade econômica organizada: significa que há uma finalidade lucrativa, mas é
importante que a atividade seja organizada, do contrário teríamos a figura do profissional autônomo, como
por exemplo, Ana é professora particular de inglês e dá classes de inglês na residência do aluno. Ana não
exerce atividade organizada, mas individual, não sendo por isso considerada empresária, mas uma traba-
lhadora autônoma. Mas vejamos se Ana, professora de inglês, possuir 50 alunos que mensalmente deslo-
cam-se até sua casa onde são ministradas aulas de inglês. E ao chegarem os alunos são atendidos por uma
recepcionista, realizam a matrícula e recebem os materiais didáticos elaborados por uma equipe técnica
que presta serviços para Ana Cursos, nome registrado. As aulas ocorrem em um espaço ambientado e os
alunos também são acompanhados por tutores. No segundo exemplo vemos que a atividade deixou de ser
individual e autônoma para ser organizada, e neste caso Ana é considerada empresária.

3) Produção ou a circulação de bens ou de serviços – esse terceiro requisito previsto no caput do artigo
966 do C.C afasta-se do revogado artigo 19 do Regulamento 737, de 1850, pois como sabemos havia uma

23
Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

restrição da incidência comercial a determinadas atividades, mas com a teoria de empresa em regra não
há restrição à atividade econômica de cunho empresarial. Aqui recordemos este requisito como base para
configuração de uma empresa. (BRASIL, 2002).

Mas, o que dizer dos profissionais que exercem profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística?
Por que não são considerados empresários?

2.1.1. Espécies de empresários

A empresa pode ser explorada por pessoa física, denominada empresário individual, indivíduo que exerce profis-
sionalmente atividade econômica organizada (art. 966, do C.C.). Também poder ser explorada por uma sociedade
empresária, ou seja, uma pessoa jurídica constituída sob a forma de sociedade cujo objeto social é a exploração de
uma atividade econômica organizada, conforme prevê a primeira parte do artigo 983, do Código Civil, em destaque:

Figura 2.1 – Considerados e não considerados como empresários

A sociedade empresária deve constituir-se segundo um


dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092, do C.C.

Recordemos:

Classificados Desconsiderados
como espécies como espécies de
de empresários empresários

Empresário individual Empresa Individual de


(art. 966, do C.C) Responsabilidade
Limitada (artigo
Sociedade empresária 980-A, do CC)
(art. 983, do C.C)
Quem exerce profissão
intelectual, de natureza
científica, literária ou
artística (§ único,
art. 966, do C.C).
Faculta-se a esses
profissionais a consti-
tuição de empresa
individual de responsa-
bilidade limitada (art.
980-A, § 5º, do C.C)

Associações (art. 53,


do C.C), fundações
(art. 62, do C.C) e
sociedade simples
(art. 982, 987 a
1.038, do C.C)

Legenda: Considerados e não considerados como empresários.


Fonte: Elaborada pela autora (2017).

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Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

Um ponto importante a destacar é o de que, na sociedade empresária, os sócios não são os empresários, mas o
empresário é a própria sociedade que, ao possuir o patrimônio próprio, possui a capacidade para adquirir direi-
tos e contrair obrigações. Desse modo, em caso de execução, primeiro serão executados os bens da sociedade
empresária (art. 1.024 CC) e, no caso de empresário individual, este responderá com todos os seus bens, até
mesmo os pessoais, pois o patrimônio pessoal do empresário individual confunde-se com o da empresa. Assim,
podemos dizer que a responsabilidade da sociedade empresária é subsidiária e, segundo o tipo social, poderá ser
limitada; já a responsabilidade do empresário individual é direta e ilimitada.
Com relação à responsabilidade do empresário individual casado, há divergência doutrinária. De acordo com o
Código Civil, em seu artigo 978, “O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que
seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real” (BRA-
SIL, 2002). Seguindo a interpretação do artigo, caso o imóvel seja o local da empresa e residência do casal, será
necessária a autorização, concordância do cônjuge, visto que o imóvel não é destinado unicamente à atividade-
-fim de empresa, mas também, antes disso, constitui residência conjunta do casal. Nos contratos de prestação
de serviços nos quais as partes contratantes são empresários e a função econômica do contrato está relacionada
com a exploração de atividade empresarial, é lícito às partes contratantes pactuarem, para a hipótese de denún-
cia imotivada do contrato, multas superiores àquelas previstas no art. 603 do Código Civil. (Lei n. 10.406/2002).

O empresário não pode opor os bens não registrados contra terceiros (C.C., art. 980). A sen-
tença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação
não podem ser opostos a terceiros antes de arquivados e averbados no Registro Público de
Empresas Mercantis).

2.1.2 Da capacidade e do registro

De acordo com o artigo 972, do Código Civil, “Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em
pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos” (BRASIL, 2002).
Incapaz pode ser empresário individual e responder com os seus bens em caso execução? Veja o que disciplina o
caput do artigo 974, do Código Civil:
Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa
antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. § 2o  Não ficam
sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da
interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que con-
ceder a autorização. (BRASIL, 2002).
Segundo a leitura do caput do artigo 974, do C.C., fica clara a regra de continuidade, assim, o incapaz, por meio
de representante ou devidamente assistido, pode continuar a empresa, logo, não é permitido a este iniciar a
empresa. Além disso, perceba que § 2o do mesmo artigo é uma exceção à regra geral, pois, como sabemos, em
caso de execução, o empresário individual responderá com os seus bens, inclusive os pessoais, no entanto,

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Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

segundo o § 2o do art. 974, do C.C., no caso do empresário individual incapaz, haverá uma separação patrimonial,
não fazendo parte os bens que o incapaz já possuía ao tempo da sucessão ou da interdição.

O § 3º do artigo 974, do C.C., lista alguns pressupostos a serem cumpridos no caso de sócio
incapaz. É ainda oportuno observar o que diz a Lei nº 11.101/2005 sobre a falência e o Enun-
ciado 197 da CJF em relação ao menor emancipado ser empresário. Vale destacar que a pala-
vra concordata, prevista no Enunciado 197 da CJF, deve ser lida como recuperação, haja vista
as alterações do Código Civil e do Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.cjf.
jus.br/enunciados/enunciado/380>.

Com relação aos impedidos, o Código Civil não admite o exercício da atividade empresarial, mas também não
afasta a sua responsabilidade, respondendo os impedidos pelas obrigações assumidas, incidindo inclusive em
falência (Lei nº 11.101/05). Além disso, os impedidos, desde que não exerçam o cargo de administração, poderão
integrar os quadros sociais como acionistas ou sócios. São impedidos de exercer empresa:
• Funcionários públicos civis da União, estados, municípios e Distrito Federal (Lei nº 8.112/90, art. 117,
inciso X);
• Militares das Forças Armadas e os militares da Polícia Militar que estejam na ativa;
• Corretores, tradutores juramentados, leiloeiros, despachantes aduaneiros, cônsules, nos seus distritos,
salvo os não remunerados, falidos, enquanto não reabilitados;
• Estrangeiros sem visto permanente;
• Magistrados, exceto como acionista ou quotista, e membros do MP;
• Chefes do Poder Executivo e membros do Poder Legislativo;
• Etc. (vide Registro Público de Empresas Mercantis).
Para que uma empresa seja considerada empresa, é indispensável o seu registro na Junta Comercial, antes do iní-
cio de sua atividade, pois, do contrário, a atividade empresarial será considerada atividade irregular. Em razão da
referida irregularidade, haverá a incidência das regras das sociedades em comum, ensejando responsabilidade
ilimitada, conforme prevê o artigo 986 e seguintes do Código Civil.
Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, antes do início de sua atividade [...]. (BRASIL, 2002).
Quando tratamos de registro de empresa, outras normas legais também devem ser observadas, como o Decreto
nº 1.800/96, a Lei nº 10.406/02 e a Lei nº 8.934/94 que, acordo com o seu artigo 32, incisos I ao III, determina
que o registro compreenda três etapas: a matrícula e seu cancelamento, o arquivamento e a autenticação.
A matrícula trata dos leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de
armazéns-gerais (inciso I do art. 32, da Lei nº 8.934/94).

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Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

Glossário

Trapicheiro – aquele que guarda ou administra trapiches, ou seja, armazéns.

O arquivamento se refere aos itens previstos nas alíneas, a, b, c, d e e do inciso II, do art. 32, da Lei nº 8.934/94,
quais sejam: dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis indi-
viduais, sociedades mercantis e cooperativas; dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata
a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976; dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autori-
zadas a funcionar no Brasil; das declarações de microempresa; de atos ou documentos que, por determinação
legal, sejam atribuídos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam
interessar ao empresário e às empresas mercantis.
O artigo 35 da Lei nº 8.934 prevê hipóteses proibitivas para o arquivamento. Veja:

Figura 2.2 – Proibições de arquivamento

IMPEDIMENTOS EM RAZÃO DA PESSOA QUE CONTRATA


• O titular ou administrador condenado pela prática de crime cuja pena vede o acesso à
atividade mercantil (art. 35, II).
• O titular casado que não tiver juntado a outorga uxória ou marital, em havendo a
incorporação de imóveis à sociedade (art. 35, VII, b).

IMPEDIMENTOS EM DEFESA DOS SÓCIOS CONTRATANTES


• Alterações societárias por decisão majoritária, quando houver cláusula restritiva (art. 35, VI).

IMPEDIMENTOS EM DEFESA DE TERCEIROS


• Atos de empresas mercantis com nome idêntico ou semelhante a outro já existente (art. 35, V).

IMPEDIMENTOS INTRÍNSECOS AO CONTRATO


• Atos de prorrogação do contrato social das empresas mercantis, uma vez findo o prazo nele
fixado (art. 35, IV).
• Atos que colidirem com os respectivos estatutos ou contrato não modificado anteriormente
(art. 35, I final).

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Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

IMPEDIMENTOS FORMAIS
• Documentos que não obedecerem à forma legal, ferirem os bons costumes e a ordem pública
(art. 35, I).
• Atos constitutivos que não designarem o respectivo capital ou não declararem precisamente
seu objeto (art. 35, III).
• Documentos relativos à incorporação de imóveis, quando não houver descrição e
identificação do imóvel, área, dados relativos à sua titulação e número de matrícula no
Registro de Imóveis (art. 35, VII, a).
• Contratos, estatutos e alterações de empresas ainda não aprovadas pelo governo, quando
esta for necessária (art. 35, VIII).

Legenda: Proibições de arquivamento.


Fonte: Negrão (2017, p. 185-186).

Segundo o professor Rubens Requião (2013, p. 161), “[...] a proteção ao nome empresarial decorre automatica-
mente do arquivamento dos atos constitutivos de firma individual e de sociedades ou de suas alterações (art.
1.666, do C.C.)”.
Já com relação à autenticação, esta ocorre nos instrumentos de escrituração das empresas mercantis registradas
e dos agentes auxiliares do comércio, na forma de lei própria (inciso III do artigo 32, da Lei nº 8.934/94) e das
cópias dos documentos assentados. Importa destacar que a autenticação é feita na folha de rosto do respectivo
termo de abertura.

Os empresários deverão valer-se do livro mercantil para registro de atividades da empresa,


conforme preveem os artigos 1.179 e 1.180 do Código Civil (art. 1.179 “O empresário e a
sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou
não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a docu-
mentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado eco-
nômico”; art. 1.180 “Além dos demais livros exigidos por lei é indispensável o Diário, que
pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica”).

Segundo a doutrina, os livros dividem-se em duas categorias obrigatórias: comuns e especiais; havendo também
os livros facultativos ou auxiliares, sendo que o empresário não é obrigado a instituir esses últimos em sua conta-
bilidade. Já o obrigatório comum deverá ser utilizado por todos os empresários, para registrar os atos da empresa,
sob pena de sanção penal, processual ou administrativa escriturar. Nesse sentido, observe a figura a seguir:

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Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

Figura 2.3 – Livros empresariais/comerciais

LIVROS EMPRESARIAIS/COMERCIAIS
Livro comum e obrigatório: Livros obrigatórios especiais: Livros facultativos ou auxiliares:
Diário Livro de balancetes diários e Livro Caixa, Razão, o borrador,
balanços dos estabelecimentos estoque, obrigações a pagar e
bancários (Lei nº 4.843/65), livro obrigações a receber o livro conta-
de registro de duplicatas para corrente e qualquer outro livro de
quem as emite (Lei nº 5.474/68, criação do empresário
art. 19), livro de registro de
inventário, livro de entrada e saída
de mercadoria dos armazéns-
gerais (Lei nº 1.102/03, art. 7º),
livros societários obrigatórios
(sociedades anônimas - art. 100,
Lei nº 6.404/76) e outros

Legenda: Dos livros.


Fonte: Elaborada pela autora (2017).

A exibição dos livros de modo parcial pode ser determinada de ofício ou a requerimento da parte interessada,
sendo cabível em qualquer ação judicial. Contudo, a exibição integral somente poderá ser determinada pelo juiz
a requerimento da parte interessada, sendo, por exemplo, cabível em ações de falência, liquidação, entre outras
(artigo 382, do CPC).
Importa destacar que o pequeno empresário, também chamado de microempresário, é dispensado da escritura-
ção, podendo valer-se do livro Caixa e registro de inventário (art. 11, da Lei nº 8.864/94).
Lembrando ainda que:
Art. 969 O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de
outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também inscrevê-la, com a prova
da inscrição originária. Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição do estabelecimento
secundário deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede.
(BRASIL, 2002).

2.1.3 Do registro do empresário rural

O Brasil é um país de significativa exploração rural, assim, atento ao empresário rural, o legislador concedeu-lhe
especialidades para o registro da empresa, vejamos:
Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode observadas as
formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para
todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. (BRASIL, 2002).
Ao produtor rural foi concedida a oportunidade de escolher a condição de empresário ou de não empresário.
Caso a firma individual, ou atos constitutivos, esteja inscrita no Registro Público de Empresas Mercantis, será o

29
Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

trabalhador rural considerado empresário individual ou sociedade empresária. Mas, caso o trabalhador rural opte
por não se registrar no Registro Civil de Pessoas Jurídicas e nem se sujeitar à Lei de Falência e recuperação, ou
outros processos, será considerado como não empresário.

Atente para as definições de empresa rural e empregador rural das Leis nº 4.504/64 e
nº 5.889/73.

Considerando o privilégio concedido ao trabalhador rural, importa mencionar que os artigos 971 e 984 do Código
Civil somente lhe serão aplicáveis caso opte por ser originariamente empresário, do contrário, não terão efeitos
os artigos 971 e 984 do Código Civil.

2.2. Função social da empresa e empresário


A questão da função social da empresa e do empresário ainda é um tema bastante polêmico nos dias atuais, prin-
cipalmente tendo em vista a violação das garantias trabalhistas, a corrupção pública e privada, os interesses eco-
nômicos em abuso ao acordo estabelecido na ata de formação da empresa e a finalidade para a qual é constituída
a empresa. Neste sentido a função social da empresa nos leva a refletir sobre elementos como: a solidariedade ou
altruísmo, pois a doutrina moderna defende que assim como o Estado as sociedades empresárias ao promover
emprego assumem a responsabilidade de garantir os direitos sociais e individuais de seus trabalhadores.
Assim nesta visão mais moderna as sociedades empresárias teriam grande impacto de atuação como, por exem-
plo, em solidarizar na construção de casas e melhora na qualidade de vida de famílias que em conseqüência de
dano ambiental causado por alguma entidade empresarial venham a padecer necessidade.
A empresa, ao ser estabelecida, não visa tão somente ao patrimônio e ao lucro, sendo esses dois dos fatores de
interesse para a sua constituição, mas também busca trabalhar em prol de uma responsabilidade social que não
deve ser confundida com a finalidade social da empresa e do empresário.
O empresário, ao constituir uma empresa, deve buscar a obtenção do lucro, que é a função social da empresa,
pois, quando esta cumpre com as normativas legais, principalmente os direitos trabalhistas e fiscais, gera lucro,
fomenta a criação de postos de trabalho e, conseqüentemente, beneficia a coletividade na produção, distribui-
ção de bens e prestação de serviços de cunho social, ambiental, tecnológico, entre outros.
A maioria dos doutrinadores, hoje, entende que não se analisa a propriedade separada da empresa, pois estas
caminham juntas, sendo que a função social consiste na produção de feitos dos direitos fundamentais.
Vejamos alguns artigos que tratam da função social.
• C.F. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguin-
tes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre
concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração

30
Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tra-
tamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte. IX - tratamento
favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede
e administração no país.    
• Lei nº 6.404/76. Artigo 116, § Único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a com-
panhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social.
• C.C. Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
• Lei nº 6.404/76. Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem
para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função
social da empresa.
• C.F. Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e
adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III
- observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-
-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
• C.C. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-
-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1o O direito de propriedade deve
ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o
equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2o  São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam
animados pela intenção de prejudicar outrem. § 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de
desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em
caso de perigo público iminente.
Segundo Coelho (2013, p. 81), a empresa cumpre a sua função social quando:
Gera empregos, tributos e riqueza, contribui para o desenvolvimento econômico, social e cultural da
comunidade em que atua, de sua região ou do país, adota práticas empresariais sustentáveis visando à
proteção do meio ambiente e ao respeito aos direitos dos consumidores. Se sua atuação é consentânea
com estes objetivos, e se desenvolve com estrita obediência às leis a que se encontra sujeita, a empresa
está cumprindo sua função social; isto é, os bens de produção reunidos pelo empresário na organização do
estabelecimento empresarial estão tendo o emprego determinado pela Constituição Federal.

Podemos perceber que o conceito elaborado por Coelho (2013) engloba a questão da responsabilidade social e
a própria função social da empresa e do empresário, demonstrando o quão ainda é polêmica a conceituação do
tema, que é tratado por duas teorias.
• Teoria Shareholders – como a finalidade da empresa é o lucro, as atividades empresariais desenvolvidas
devem incentivar o lucro que gere retorno aos acionistas.
• Teoria Stakeholders – essa teoria entende que a função social é cumprida quando a gestão da empresa
engloba todos que contribuem para o desenvolvimento da empresa.

31
Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

Sobre esse tema, leia o livro do professor Alexandre Di Miceli “Governança corporativa no


Brasil e no mundo: Teoria e prática” 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2015. E o livro Res-
ponsabilidade Social Empresarial e Empresa Sustentável - da Teoria À Prática - 2ª Ed. 2012,
Barbieri, José Carlos / Cajazeira, Jorge Emanuel Reis

2.3. Agentes, prepostos e auxiliares do comércio e do


empresário
Para que uma atividade empresarial desenvolva as atividades para as quais foi criada, não basta a figura do
empresário, mas de outros trabalhadores que, juntamente com o empresário, possam dar vida à empresa.
Com o avanço da tecnologia, as empresas passaram a ter em seus quadros organizacionais novos estilos de auxi-
liares que, em conjunto com outros trabalhadores, permitem que o fim da empresa seja alcançado.
Para Requião (2013, p. 237), existem três categorias de auxiliares: os dependentes internos, que estariam sujeitos
ao poder hierárquico direto do empresário (gerentes, balconistas, operários de fábricas etc.); os dependentes
externos, aqueles como os viajantes e pracistas que se dedicam a captar clientes fora do estabelecimento empre-
sarial; e os independentes, os corretores que têm a finalidade de aproximar os empresários para que contratem
ente si, os leiloeiros cuja função é vender mediante oferta pública as mercadorias a si confiadas e os agentes ou
representantes comerciais.
O agente, ou representante comercial, busca fazer com que as partes estabeleçam e concluam negócios. Para
tanto, veja o que dispõe a Lei nº 4.886/65.
Mas o que seria preponente? De acordo com o artigo 1.178, do Código Civil, “[...] os preponentes são responsá-
veis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa,
ainda que não autorizados por escrito” (BRASIL, 2002). E, segundo o seu parágrafo único, “[...] quando tais atos
forem praticados fora do estabelecimento, somente obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos
por escrito, cujo instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor” (BRASIL, 2002).
O Código Civil destinou os artigos 1.169 ao 1.178 para disciplinar a figura do preposto, que são todos aqueles
cujos atos concretizam a atividade empresarial. Segundo Requião (2013, p. 241), os prepostos cuja atividade
esteja vinculada ao objetivo da empresa devem:
Beneficiar exclusivamente ao preponente, visto que é vedado ao preposto negociar por conta
própria, ou de terceiro, e participar de operação do mesmo gênero da que lhe foi cometida, sob
pena de responder por perda e dados e de serem retidos, pelo preponente, os lucros da operação.
De acordo com o Código Civil, em seu artigo 1.169, “O preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-se
substituir no desempenho da preposição, sob pena de responder pessoalmente pelos atos do substituto e pelas
obrigações por ele contraídas” (BRASIL, 2002). Esse artigo segue as regras do contrato de mandato, previstas no
artigo 667 do Código Civil.

32
Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

Importa destacar que:


[...] o preposto, salvo autorização expressa, não pode negociar por conta própria ou de terceiro,
nem participar, embora indiretamente, de operação do mesmo gênero da que lhe foi cometida,
sob pena de responder por perdas e danos e de serem retidos pelo preponente os lucros da ope-
ração. (BRASIL, 2002, art. 1.170).
Vale ressaltar que em tal hipótese pode configurar-se o crime de concorrência desleal, previsto no artigo 195 da
Lei nº 9.279/96.

Caso o preposto, no exercício de suas funções, atue de modo doloso, responderá de modo
solidário a seus preponentes, competindo ao terceiro exigir o cumprimento da obrigação
contra o preposto ou contra o preponente. Art. 1.178 “Os preponentes são responsáveis
pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos à ativi-
dade da empresa, ainda que não autorizados por escrito” (BRASIL, 2002).

Já o artigo 1.172 do C.C. designa o gerente como preposto, destacando que os poderes do gerente são amplos,
mas que o empresário pode limitá-lo, quando do registro na Junta Comercial, por meio de averbação junto ao ato
constitutivo lá arquivado ou provando que a limitação e poderes eram conhecidos daquele que contratou com o
gerente (art. 1.174, C.C.).
O gerente é aquele que está encarregado de administrar setores, ou outros funcionários de uma empresa, mas
não se confunde com o sócio administrador, pois este não é preposto, mas representante da pessoa jurídica, na
qualidade de mandatário do sócio ou como seu órgão.
Além disso, o gerente recebe o nome de preposto em razão do contrato de preposição mercantil que possui ele-
mentos da prestação e do mandato que assina ao assumir a responsabilidade de ser gerente, subordinando-se
às ordens do empresário.
Importa destacar que quando a lei não exigir poderes especiais, considera-se o gerente autorizado a praticar todos
os atos necessários ao exercício dos poderes que lhe foram outorgados (art. 1.173, do C.C). E o preponente respon-
derá de modo solidário ao gerente pelos atos que este realize em seu nome, contudo, à conta do preponente.
O contador, por exemplo, é um dos principais auxiliares do empresário, pois é um preposto responsável pela
escrituração da empresa (C.C., art. 1.177), sendo admitida sua dispensa caso a localidade não possua contador
habilitado: “Sem prejuízo do disposto no art. 1.174, a escrituração ficará sob a responsabilidade de contabilista
legalmente habilitado, salvo se nenhum houver na localidade” (art. 1.174).

33
Considerações finais
Chegamos ao final de mais uma unidade, na qual você teve a oportuni-
dade de conhecer um pouco mais sobre o ramo do Direito Empresarial.
Então, antes de finalizarmos o estudo, recordemos os pontos principais
aqui estudados:
1. Vimos que, de acordo com Coelho (2013), segundo Waldirio Bul-
garelli, empresa é a “[...] atividade econômica organizada de pro-
dução e circulação de bens e serviços para o mercado, exercida
pelo empresário, em caráter profissional, através de um complexo
de bens”;
2. A Teoria da Empresa suplantou a Teoria de Atos de Comércio e
unificou a figura do comerciante e do empresário;
3. Empresário, segundo o artigo 966, do C.C., é aquele que exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produ-
ção ou a circulação de bens ou de serviços;
4. Vimos que não são considerados empresários, salvo se o exercí-
cio da profissão constituir elemento de empresa, os que exercem
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística,
ainda que com o concurso de auxiliares ou colaboradores (§ Único,
art. 966, do C.C.);
5. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em
pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos
(art. 972, do C.C.);
6. A empresa pode ser explorada por pessoa física, denominada
empresário individual, indivíduo que exerce profissionalmente
atividade econômica organizada (art. 966, do C.C.). Também
poder ser explorada por uma sociedade empresária, pessoa jurí-
dica constituída sob a forma de sociedade cujo objeto social é a
exploração de uma atividade econômica organizada, conforme
prevê a primeira parte do artigo 983, do Código Civil;
7. Segundo o artigo 974 do C.C., fica clara a regra de continuidade
da empresa pelo incapaz, por meio de representante ou devida-
mente assistido. No entanto, não é permitido ao incapaz iniciar a
empresa;

34
Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

8. Para que exista a empresa, é indispensável o seu registro na Junta Comercial, antes do início de sua ativi-
dade, pois, do contrário, a atividade empresarial será considerada atividade irregular;
9. O registro compreende três etapas: a matrícula e seu cancelamento, o arquivamento e a autenticação;
10. Os livros dividem-se em duas categorias obrigatórios: comuns e especiais, havendo também os livros
facultativos ou auxiliares;
11. Ao produtor rural foi concedida a oportunidade de escolher a condição de empresário ou de não empre-
sário (art. 971, do C.C.).
12. A questão da função social da empresa e do empresário ainda é um tema bastante polêmico nos dias
atuais. No que diz respeito a esse assunto, há duas teorias: a dos Shareholders (em que a finalidade da
empresa é o lucro e as atividades empresariais desenvolvidas devem incentivar o lucro que gere retorno
aos acionistas); e a dos Stakeholders (entende que a função social é cumprida quando a gestão da
empresa engloba a todos que contribuem para o seu desenvolvimento).
13. Para Requião (2013, p. 237), existem três categorias de auxiliares: os dependentes internos, que estariam
sujeitos ao poder hierárquico direto do empresário (gerentes, balconistas, operários de fábricas etc.); os
dependentes externos, aqueles como os viajantes e pracistas que se dedicam a captar clientes fora do
estabelecimento empresarial; e os independentes, os corretores que têm a finalidade de aproximar os
empresários para que contratem ente si, os leiloeiros cuja função é vender mediante oferta pública as
mercadorias a eles confiadas e os agentes ou representantes comerciais.

35
Referências bibliográficas
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 24 jun. 2017.

______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.
htm>. Acesso em: 24 jun. 2017.

______. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação


judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empre-
sária. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 24 jun. 2017.

______. Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994. Dispõe sobre o Registro


Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8934.htm>.
Acesso em: 24 jun. 2017.

______. Decreto nº 1.800, de 30 de janeiro de 1996. Regulamenta a Lei


nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, que dispõe sobre o Registro Público
de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1800.htm>.
Acesso em: 24 jun. 2017.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 17. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. v. 1 e 2.

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL (CJF). Enunciados. Disponível em: <http://


www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/380>. Acesso em: 2 maio 2017.

NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 13. ed. São


Paulo: Saraiva, 2017.

36
Direito | Unidade 2 - Da empresa e das pessoas que a exercem

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. v. 1 e 2.

VADE MECUM Tradicional. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

37
Direito
Unidade 3
Estabelecimento Comercial

Para iniciar seus estudos


3
Nesta unidade, estudaremos elementos essenciais ao Direito Empresarial,
abordaremos o conceito e as características do estabelecimento comer-
cial, bem como a divisão administrativa que pode ter uma sociedade
empresarial. Veremos ainda as noções gerais do direito de propriedade
industrial e seus reflexos práticos no cotidiano. Bons estudos.

Objetivos de Aprendizagem

• Conhecer as diferenças de matriz, filiais e sucursais.


• Descobrir os elementos conceituais de nome empresarial, estabe-
lecimento e fundo de comércio/empresa.
• Contextualizar a venda do estabelecimento (trespasse).
• Diferenciar os conceitos de aviamento, clientela e concorrência.
• Identificar os direitos de propriedade industrial: conceitos e regras
gerais.

40
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

3.1 Estabelecimento comercial


Primordialmente, esclarecemos o que vem a ser o estabelecimento comercial, ou seja, o conjunto de bens reuni-
dos para a prestação da atividade econômica. Para Coelho (2007, p. 77-78, grifos do autor):
O estabelecimento empresarial é a reunião dos bens necessários ao desenvolvimento da atividade econômica.
Quando o empresário reúne bens de variada natureza, como as mercadorias, máquinas, instalações, tecnologia,
prédio etc., em função do exercício de uma atividade, ele agrega a esse conjunto de bens uma organização racio-
nal que importará em aumento do seu valor enquanto continuarem reunidos. [...] O complexo de bens reunidos
pelo empresário para o desenvolvimento de sua atividade econômica é o estabelecimento empresarial.
É importante não confundir estabelecimento comercial com os bens que o integram, pois estabelecimento é
onde existe um conjunto de bens agrupados de forma organizada para o fim econômico. Por seu turno, os bens
seriam o valor patrimonial isolado dele. A valorização dos bens decorrentes de seu agrupamento organizado é
denominada de aviamento ou fundo de comércio/empresa, ou seja, é a sobrevalorização do estabelecimento.

O art. 1.142 do Código Civil informa que “Considera-se estabelecimento todo complexo de
bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”.

Os bens podem ser corpóreos e incorpóreos: bens corpóreos são os que possuem existência concreta (livros,
estantes etc.), ou seja, são passiveis de serem tocados. Já os incorpóreos são os que não possuem existência con-
creta (patentes de invenção, marca empresarial, entre outros).

Figura 3.1: Bens corpóreos de uma empresa.

Fonte: 41627444 (123RF)

O estabelecimento comercial pode ser alienado como garantia creditória, para tanto deve seguir o procedimento
previsto em lei, isto é, o contrato deve ser celebrado por escrito, averbado no registro público de empresas mer-
cantis e publicado na imprensa oficial, conforme informa o art. 1.144 do Código Civil:
Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabe-
lecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do
empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publi-
cado na imprensa oficial para que possa ser arquivado.

41
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Podemos perceber que, nos termos do artigo citado anteriormente, a alienação do estabelecimento comercial
é um direito inerente ao empresário, desde que existam bens suficientes para solver o passivo ou haja anuência
dos seus credores, seja ela expressa ou tácita. Não sendo cumpridos os requisitos legais, a alienação poderá ser
considerada ineficaz e ter sua falência decretada.

Súmula 451/STJ - 08/03/2017. Recurso especial repetitivo. Recurso especial representativo


da controvérsia. Execução. Penhora. Impenhorabilidade afastada. Sede do estabelecimento
comercial. CPC, arts. 543-C e 649, V. CCB/2002, art. 1.142. Lei nº 11.382/2006 (altera o CPC
- Processo de Execução). Lei nº 6.830/80 (Execução Fiscal), art. 11, § 1º. É legítima a penhora
da sede do estabelecimento comercial.

Por fim, mas não menos importante, nos termos do art. 1.147 do Código Civil, “Não havendo autorização
expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subse-
quentes à transferência”.
Estabelecimento comercial e ponto comercial são institutos que não devem ser confundidos: ponto comercial é o
local físico dotado de valor econômico, ou seja, integra o conjunto de bens reunidos para a atividade empresarial
que compõe o estabelecimento comercial.
Segundo os ensinamentos de Coelho (2007, p. 83),
Dentre os elementos do estabelecimento empresarial, figura o chamado “ponto”, que compre-
ende o local específico em que ele se encontra. Em função do ramo de atividade explorado pelo
empresário, a localização do estabelecimento empresarial pode importar acréscimo, por vezes
substantivo, no seu valor.
Assim, concluímos que o ponto comercial se refere ao local em que se explora a atividade comercial, enquanto estabe-
lecimento comercial é mais amplo e se refere a todos os bens utilizados no desenvolvimento da atividade empresarial.
Ademais, quando ocorre a cessão ou alienação do estabelecimento comercial, tal transação é chamada de tres-
passe – o qual exige que a venda do estabelecimento seja em sua totalidade, e não de determinadas coisas sin-
gulares (que integram o estabelecimento comercial).
Outrossim, não podemos confundir trespasse com cessão de cotas da sociedade empresarial: o primeiro busca
a venda do conjunto de bens que integram o estabelecimento comercial; já a segunda busca a venda da partici-
pação societária.
Além disso, para que surtem efeitos junto a terceiros, obrigatoriamente, deverá ocorrer a averbação da alienação
no contrato social da empresa com a respectiva publicação na imprensa oficial.
Ocorrendo o trespasse, o respectivo adquirente torna-se responsável solidário pelos débitos contabilizados ante-
riores à transferência. De mais a mais, os credores decaem no direito de cobrar o alienante se não o fizerem no
prazo de um ano, contados da data do vencimento das dívidas vincendas, ou da publicação da alienação quando
os créditos ainda não estiverem vencidos.

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Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Existe obrigação do adquirente do estabelecimento comercial em pagar por uma dívida não
contabilizada pelo alienante?

É importante mencionarmos que existem duas exceções:


• Débitos Trabalhistas (arts. 10 e 448 da CLT): o adquirente é responsável por sucessão nas obrigações tra-
balhistas.
• Débitos Tributários (art. 133 do CTN): caso o alienante continue a explorar a mesma atividade econômica,
ele será responsável legal pelas dívidas fiscais relacionadas ao estabelecimento, exceto se a compra ocor-
reu em sede de processo de falência ou recuperação judicial, casos em que o adquirente não responderá
pelas dívidas tributárias, trabalhistas ou decorrentes de acidente de trabalho, conforme disposto no art.
141, II, da Lei nº 11.101/05.
É oportuno salientarmos que o trespasse não sub-roga o adquirente nos contratos vigentes, pois com a alienação
ocorre a cessão dos créditos, negócio jurídico que produz efeitos desde a publicação do trespasse no órgão oficial.

Enunciado 234 da III Jornada de Direito Civil: “Quando do trespasse do estabelecimento


empresarial, o contrato de locação do respectivo ponto não se transmite automaticamente
ao adquirente”.

Por fim, não existindo autorização expressa, o alienante não poderá fazer concorrência ao adquirente no prazo
mínimo de cinco anos, contados do trespasse, hipótese chamada pela doutrina de cláusula de não restabele-
cimento. Contudo, a referida obrigação pode ser revista pelo poder judiciário quando abusiva ou estipulada por
prazo indeterminado, conforme enunciados 490 do CJF e informativo 554 do STJ:
Enunciado 490 do CJF: A ampliação do prazo de 5 (cinco) anos de proibição de concorrência pelo
alienante ao adquirente do estabelecimento, ainda que convencionada no exercício da autono-
mia da vontade, pode ser revista judicialmente, se abusiva.
Informativo 554 – STJ: É abusiva a vigência, por prazo indeterminado, da cláusula de “não resta-
belecimento” (art. 1.147 do CC), também denominada “cláusula de não concorrência”.
Portanto, o trespasse pode ser entendido como uma venda especial, pois deve cumprir determinados requisitos
previstos legalmente.

43
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

3.1 Matriz, filial, sucursal e agência


A bem da verdade, as nomenclaturas matriz, filiais e sucursais não possuem distinção jurídica, mas sim adminis-
trativa, ao passo que importa somente para fins de estrutura administrativa.
• Matriz: pode ser entendida como a sede principal na qual as filiais, sucursais ou agências estão subordi-
nadas.
• Filial: refere-se ao estabelecimento e possui o poder de representação da matriz, mas não tem poder
deliberativo autônomo. É importante mencionarmos que ela deve adotar a mesma denominação da
matriz, e a sua criação e extinção ocorrem por meio de alteração contratual. Possui responsabilidade no
campo jurídico.
• Sucursal: possui mais autonomia administrativa, uma vez que tem como característica realizar determi-
nada atividade da matriz com mais eficiência.
• Agência: é o estabelecimento que busca promover as atividades comerciais e pode representar um escri-
tório comercial da matriz.

Figura 3.2: Matriz de uma empresa.

Fonte: 16004068 (123RF).

Nos termos do art. 75, inciso X do Código de Processo Civil, a pessoa jurídica estrangeira será
representada em juízo, ativa e passivamente, pelo gerente, representante ou administrador
de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil.

44
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Outrossim, ao estabelecer uma das modalidades anteriores, existe a obrigatoriedade de averbar tais alterações
no contrato social da matriz que consta no registro público de empresa, bem como no local em que o respectivo
estabelecimento será instalado. Ou seja, haverá o registro no órgão de competência do novo endereço e a aver-
bação desta inscrição no local da sede da empresa.

3.2 Nome empresarial, clientela e concorrência

3.2.1 Nome empresarial

O nome empresarial é usado para fins de apresentação nas relações comerciais, sendo diferente de título do
estabelecimento e marca de produtos ou serviços, devendo atender aos requisitos exigidos pela lei e ao tipo jurí-
dico da sociedade. Conforme escreve Coelho (2011, p. 95-96),
[...] nome empresarial, que é aquele com que se apresenta nas relações de fundo econômico.
Quando se trata de empresário individual, o nome empresarial pode não coincidir com o civil;
e, mesmo quando coincidentes, têm o nome civil e o empresarial naturezas diversas. A pessoa
jurídica empresária, por sua vez, não tem outro nome além do empresarial. O Código Civil reco-
nhece no nome, civil ou empresarial, a manifestação de um direito da personalidade da pessoa
física ou jurídica (arts. 16, 52 e 1.164). Como elemento de identificação do empresário, o nome
empresarial não se confunde com outros elementos identificadores que habitam o comércio e a
empresa, os quais têm, também, proteção jurídica, assim a marca, o nome de domínio e o título
de estabelecimento. Enquanto o nome empresarial identifica o sujeito que exerce a empresa, o
empresário, a marca identifica, direta ou indiretamente, produtos ou serviços, o nome de domínio
identifica a página na rede mundial de computadores e o título do estabelecimento, o ponto. Na
maioria das vezes, por conveniência econômica ou estratégia mercadológica, opta se pela adoção
de expressões idênticas ou assemelhadas, o que, a rigor, não tem nenhuma relevância jurídica,
posto que nome empresarial, marca, nome de domínio e título de estabelecimento continuam
a ser considerados institutos distintos, ainda quando possuírem um mesmo conteúdo e forma.
Cada um destes elementos de identificação recebe, do direito, tratamentos específicos, próprios,
decorrentes de sua natureza, dos quais se cuida no momento oportuno (Cap. 5, itens 5 e 6; Cap.
7, item 3.2). Por ora, basta ressaltar que o nome empresarial não se confunde com esses outros
designativos empresariais.
Dependendo do tipo societário, o nome empresarial pode ser designado como firma ou denominação, que se
distinguem em dois planos: quanto à estrutura (ou seja, aos elementos linguísticos que podem ter por base) e
quanto à função.
Ocorrerá a adoção da razão social (também conhecida como firma empresarial) nos casos em que terá empre-
sário, seu nome civil, completo ou abreviado, podendo, facultativamente, ser seguida da designação do gênero
da atividade empresarial.
A denominação, por seu turno, é a essência do objeto da empresa, ou seja, o ramo de atividade desenvolvida,
podendo haver a combinação da atividade desenvolvida com nomes civis. Para melhor exemplificação, vejamos
o quadro a seguir:

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Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Figura 3.3: Firma ou denominação.

FIRMA DENOMINAÇÃO FIRMA OU DENOMINAÇÃO


Empresário individual Sociedade anônima Sociedade limitada
Sociedade em nome coletivo Sociedade em comandita por ações
Sociedade em comandita
simples

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

Ademais, a proteção do nome empresarial decorre do exercício regular da empresa, isto é, da inscrição na junta
comercial do estado, podendo admitir sua extensão desde que registrada nas demais juntas comerciais do país.
Assim, ocorrendo o falecimento de um sócio, deverá seu nome ser excluído no nome empresarial, exceto nos
casos de sociedade anônima.

Enunciado 491, da V Jornada de Direito Civil: “A proteção ao nome empresarial, limitada


ao estado-membro para efeito meramente administrativo, estende-se a todo o território
nacional por força do art. 5º, XXIX, da Constituição da República e do art. 8º da Convenção
Unionista de Paris”.

Destacamos o que estabelece o art. 1.164 do Código Civil e seu parágrafo único: o nome empresarial não pode
ser objeto de alienação. Contudo o adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se o contrato o
permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a qualificação de sucessor.
O registro do nome empresarial impedirá o uso idêntico ou semelhante por terceiros, sendo que, constatada a
violação desta premissa, poderá o prejudicado requerer a anulação da inscrição do nome empresarial feita ao
arrepio da lei.
Por fim, poderá se perder a exclusividade do uso do nome empresarial quando:
• Expirado o prazo de vigência da sociedade por tempo determinado, devendo a prorrogação da vigência,
se for o caso, ocorrer antes do seu vencimento.
• Ocorrer a ausência de arquivamento no período de dez anos consecutivos, salvo comunicação à junta
comercial. Na ausência dessa comunicação, a empresa mercantil será considerada inativa, promovendo a
junta comercial o cancelamento do registro, sendo que a reativação da empresa obedecerá aos mesmos
procedimentos requeridos para sua constituição.

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Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

3.2.2 Cliente, freguês e consumidor

Cliente: pode ser entendido como uma situação de fato, ou seja, um conjunto de pessoas que mantém relações
contínuas com o estabelecimento comercial. A denominação de cliente e freguês no Brasil possui diferença sig-
nificativa, uma vez que ambas se referem à pessoa que possui relação contínua com o estabelecimento comer-
cial.
Não obstante, para parte da doutrina, podemos definir freguês como um consumidor definido por sua posição
geográfica, ou seja, é aquele que transita perto do estabelecimento comercial.
Nesse sentido, as questões relacionadas à freguesia fazem ilação com as normas protetivas do ponto comercial.
Já as questões inerentes à clientela devem ser tratadas pelas normas de direito concorrencial.
Por seu turno, consumidor pode ser entendido como a atual maneira de identificar o indivíduo que mantém
relação com o estabelecimento comercial. Os arts. 2, 17 e 29, todos do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº.
8078/90), informam que:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pes-
soas, determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.
Logo, podemos entender que consumidor é toda pessoa física ou jurídica, mesmo por equiparação, que adquire
comercialmente bens ou serviços como destinatário final.
Nesse contexto, a proteção ao nome empresarial busca proteger a clientela e, consecutivamente, o lucro de
determinado estabelecimento comercial, pois a utilização de nome empresarial idêntico com outro pode con-
fundir o consumidor. Nesse sentido, escreve Coelho (2011, p. 104):
o direito protege o nome empresarial com vistas à tutela de dois diferentes interesses do empre-
sário: de um lado, o interesse na preservação da clientela; de outro, o da preservação do crédito.
Com efeito, se determinado empresário, conceituado no meio empresarial, vê um concorrente
usando nome empresarial idêntico, ou mesmo semelhante ao seu, podem ocorrer consequên-
cias, que devem ser prevenidas, em dois níveis. Quanto à clientela, pode acontecer de alguns
mais desavisados entrarem em transações com o usurpador do nome empresarial, imaginando
que o fazem com aquele empresário conceituado, importando o uso indevido do nome idêntico
ou assemelhado em inequívoco desvio de clientela. Quanto ao crédito daquele empresário con-
ceituado, poderá ser, parcial e temporariamente, abalado com o protesto de títulos ou pedido de
falência do usurpador.
Destacamos que a proteção ao nome empresarial não veda a livre concorrência entre os estabelecimentos
comerciais, apenas regra parâmetros que devem ser seguidos. Para Coelho (2011, p, 45),
A Constituição Federal, ao dispor sobre a exploração de atividades econômicas, vale dizer, sobre
a produção dos bens e serviços necessários à vida das pessoas em sociedade, atribuiu à iniciativa
privada, aos particulares, o papel primordial, reservando ao Estado apenas uma função supletiva
(art. 170). A exploração direta de atividade econômica pelo Estado só é possível em hipóteses
excepcionais, quando, por exemplo, for necessária à segurança nacional ou se presente um rele-
vante interesse coletivo (art. 173).

47
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Tais mecanismos protetivos visam coibir práticas empresariais ao arrepio da lei, uma vez que a Constituição Fede-
ral estabeleceu parâmetros para o exercício da liberdade de competição e de iniciativa.
As infrações contra a ordem econômica [...] é necessário conjugarem-se dois dispositivos de um
lado o objetivo ou efeitos possíveis da prática empresarial ilícita; de outro que elenca diversas
hipóteses em que a infração pode ocorrer (COELHO, 2011, p. 47).
Assim, entendemos que existem normas protetivas relacionadas aos elementos do estabelecimento comercial,
dentre elas o nome empresarial, porque com tais normas se busca limitar condutas tidas como abusivas.

3.3 Propriedade industrial


As normas protetivas da propriedade industrial estão previstas na Lei nº 9.279/96 e podem ser resumidas em
quatro aspectos: patente de invenção, de modelo de utilidade, registro de desenho industrial e de marca. Nesse
sentido, vejamos o quadro a seguir:

Figura 3.4: Direitos de propriedade industrial.

DIREITOS DE PROPRIEDADDE INDUSTRIAL


Concessão de patentes de invenção e de • De invenção
modelo de utilidade
• De modelo de utilidade
Concessão de registro de desenho industrial • De desenhos industriais
Concessão de registro de marca • De marca de produto ou serviço
• De marca de certificação
• De marca coletiva
Repressão a falsas indicações geográficas Definindo as regras para a indicação de
procedência ou denominação de origem
Repressão à concorrência desleal Definindo os crimes contra a propriedade
industrial: a) contra as patentes; b) contra os
desenhos industriais; c) contra as marcas; d)
por meio de marca, título de estabelecimento
e sinal de propaganda; e) contra indicações
geográficas e demais indicações; f) crimes de
concorrência desleal.

Fonte: Negrão (2014, p. 94).

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), autarquia federal, é responsável pelas normas relacionadas
à propriedade industrial, visando à sua função social, econômica, jurídica e técnica. Portanto, lhe cabe o registro
e a concessão, dentre outros aspectos, das marcas, patentes e desenho industrial.

48
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Autarquia é uma entidade da administração pública indireta, criada por lei específica, com
personalidade jurídica de direito público interno, patrimônio próprio e atribuições estatais
específicas. Goza de autonomia administrativa e financeira.

3.3.1 Patente, invenção e modelo de utilidade

Patente: garante a exploração exclusiva de uma invenção dentro de um país e durante determinado tempo. Em
outras palavras, impede o uso não autorizado de uma invenção. Ela decorre da invenção ou do modelo de uti-
lidade. Nos dizeres de Coelho (2011, p. 108, grifos do autor):
Invenção é o ato original do gênio humano. Toda vez que alguém projeta algo que desconhecia,
estará produzindo uma invenção. Embora toda invenção seja, assim, original, nem sempre será
nova, ou seja, desconhecida das demais pessoas. E a novidade, conforme se verá em seguida, é
condição de privilegiabilidade da invenção.
Modelo de utilidade é o objeto de uso prático suscetível de aplicação industrial, com novo formato
de que resulta melhores condições de uso ou fabricação. Não há, propriamente, invenção, mas
acréscimo na utilidade de alguma ferramenta, instrumento de trabalho ou utensílio, pela ação
da novidade parcial que se lhe agrega. É chamada, também, de “pequena invenção” e goza de
proteção autônoma em relação à da invenção cuja utilidade foi melhorada.
Invenção: é aquilo que é criado e pode ser explorado comercialmente. Para ela ocorrer, devem ser preenchidos
quatro requisitos: novidade, atividade inventiva, aplicação industrial e não impedimento.

Caso seja obtida uma invenção pelo empregado dentro do estabelecimento empresarial, a
atividade inventiva seria decorrência do contrato de trabalho ou o empregado faria jus aos
direitos de propriedade industrial?

Novidade: tudo aquilo que não está compreendido no estado da técnica, ou seja, cria-se algo do desconhecido.
Em outras palavras: não está compreendido no estado da técnica.
Atividade inventiva: sempre decorre da criação de um resultado novo para algo que já é conhecido. Nesse sen-
tido, a atividade inventiva ocorre quando se chega a um resultado novo de algo já conhecido.

49
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Aplicação industrial: tudo aquilo que possui aplicação industrial. Podemos citar como exemplo a invenção de
um motor que só funcionaria com um combustível que não existe.
O impedimento ocorrerá nos casos do art. 18, da Lei nº 9.279/96, e, mesmo havendo o preenchimento dos
requisitos anteriores se enquadrando nas hipóteses elencadas no referido artigo, não haverá a concessão da
patente – a qual tem prazo de duração determinado: 20 anos para a invenção e 15 anos para o modelo de utili-
dade (ambos contados do depósito do seu pedido).

Art. 18. Não são patenteáveis: I - O que for contrário à moral, aos bons costumes e à segu-
rança, à ordem e à saúde públicas; II - As substâncias, matérias, misturas, elementos ou pro-
dutos de qualquer espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e
os respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação
do núcleo atômico; III - O todo ou parte dos seres vivos, exceto os micro-organismos trans-
gênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade inven-
tiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta. Parágrafo
único. Para os fins desta lei, micro-organismos transgênicos são organismos, exceto o todo
ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção humana direta em
sua composição genética, uma característica normalmente não alcançável pela espécie em
condições naturais.

É importante mencionarmos que, se o titular da patente não exercer no prazo de dois anos seu direito de forma
regular, poderá ocorrer a licença compulsória para que outros empresários possam explorar o direito patenteado.
Salientamos que, mesmo após o licenciamento obrigatório o titular da patente persistir inerte, ocorrerá a cadu-
cidade da patente, com a perda de todos os direitos industriais do titular.

Patente pipeline: ocorre quando se solicita a patente de algo no Brasil que já está patenteado
no exterior. Neste caso, não se exige dele novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.

Para Coelho (2011, p. 110-111), além da caducidade, a perda da patente poderá ocorrer em outras três hipóteses:
Além do término do prazo de duração e da caducidade, são hipóteses legais de extinção da
patente: a) a renúncia aos direitos industriais, que somente poderá ser feita se não houver prejuízo
para terceiros (licenciados, por exemplo); b) a falta de pagamento da taxa devida ao INPI, deno-
minada “retribuição anual”; c) a falta de representante no Brasil, quando o titular é domiciliado
no exterior

50
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Portanto, podemos entender que a patente é a exploração exclusiva de uma invenção: é tudo aquilo que for
criado de algo desconhecido dentro de um país e durante determinado tempo.

3.3.2 Registro, marca e desenho industrial

Registro industrial: é o ato administrativo que constitui a concessão da exploração exclusiva da marca e do
desenho industrial. Por sua vez, marca pode ser entendida como a identificação de determinados produtos e/
ou serviços, enquanto desenho industrial seria o design de determinado objeto.
Escreve Coelho (2011, p. 111-112, grifos do autor) que o desenho industrial deverá preencher três requisitos:
O registro de desenho industrial está sujeito aos seguintes requisitos: a) Novidade — a exemplo do
que estabelece a lei relativamente aos objetos das patentes, o desenho industrial deve ser novo,
isto é, não compreendido no estado da técnica (LPI, art. 96). A forma criada pelo designer deve,
para merecer a proteção do direito industrial, propiciar um resultado visual inédito, desconhecido
dos técnicos do setor.
b) Originalidade — o desenho industrial é original quando apresenta uma configuração própria,
não encontrada em outros objetos, ou quando combina com originalidade elementos já conhe-
cidos (LPI, art. 97). Enquanto a novidade é uma questão técnica, a originalidade é estética.
c) Desimpedimento — a lei impede o registro de desenho industrial em determinadas situações
(LPI, art. 100). São exemplos de impedimento: desenhos contrários à moral e aos bons costu-
mes, ofensivos à honra ou imagem de pessoas ou atentatórios à liberdade de consciência; formas
comuns, vulgares ou necessárias
O prazo de uso exclusivo do desenho industrial é de dez anos, podendo ser prorrogado por até três períodos
sucessivos de cinco anos cada (LPI, art. 108).

Para mais informações sobre o INPI, acesse o site: <http://www.inpi.gov.br/>.

De mais a mais, como já citamos anteriormente, marca pode ser entendida como a identificação de determina-
dos produtos e/ou serviços, conforme escreve Coelho (2011, p. 112):
A marca é o designativo que identifica produtos e serviços. Não se confunde com outros designa-
tivos presentes na empresa, assim o nome empresarial, que identifica o empresário e o título de
estabelecimento, referido ao local do exercício da atividade econômica.
A marca pode ser compreendida como: (I) nominativa (formada por palavras, neologismos e combinações de
letras e números); (II) figurativa (constituída por desenho, imagem, ideograma, forma fantasiosa ou figurativa de
letra ou algarismo, e palavras compostas por letras de alfabetos); (III) mista (quando combina imagem e palavra);
(IV) tridimensional (quando a forma de um produto é capaz de distingui-lo de outros produtos semelhantes).

51
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Ademais, ela pode ser subdividida em: (I) marca de certificação e (II) marca coletiva. Na primeira, o produto ou
serviço cumpre os requisitos relacionados às normas de qualidade; na segunda, decorre a filiação do fornecedor
do produto ou serviço junto a uma entidade coletiva (associação, cooperativa, sindicato, entre outras), sendo que,
neste caso, somente a entidade pode solicitar o registro e estabelecer condições para seu uso pelos seus associados.
Os requisitos para que a marca possa ser registrada, conforme escreve Coelho (2011, p. 113, grifos do autor), são
os seguintes:
a) Novidade relativa — não se exige da marca que represente uma novidade absoluta, isto é, a
expressão linguística ou signo utilizado não precisam ser, necessariamente, criados pelo empre-
sário. O que deve ser nova é a utilização daquele signo na identificação de produtos industrializa-
dos ou comercializados, ou de serviços prestados. Por esta razão, inclusive, a marca é protegida,
em princípio, apenas no segmento de atividade econômica explorada pelo titular da marca, em
relação aos produtos ou serviços com os quais o identificado por ela pode eventualmente ser
confundido pelos consumidores.
b) Não colidência com marca notória — as marcas notoriamente conhecidas, mesmo que não regis-
tradas no INPI, merecem a tutela do direito industrial, em razão da Convenção de Paris, da qual
participa o Brasil (LPI, art. 126).
c) Não impedimento — a lei impede o registro, como marca, de determinados signos. Por exemplo,
as armas oficiais do Estado, ou o nome civil, salvo autorização pelo seu titular etc. (LPI, art. 124).
Para ser registrado como marca, não pode o signo correspondente enquadrar-se nos impedi-
mentos legais.
O registro da marca possui como objetivo evitar confusão pelo consumidor, isto é, busca autorizar o uso exclusivo
de uma identificação de um determinado produto ou serviço (por meio de expressões linguísticas, desenhos,
números logotipos etc.) para que não ocorra confusão com outros produtos ou serviços do mesmo gênero.
Um ponto importante que devemos comentar é o da marca de alto renome e marca notória: a primeira decorre
de seu notório conhecimento no ramo e possui proteção em todos os ramos de atividade; já a segunda, se apre-
senta como exceção ao princípio da territorialidade a proteção conferida a ela, pois, nos termos do art. 6 Bis da
Convenção da União de Paris (CUP), ela possui proteção, independentemente de estar registrada no Brasil.
A marca possui validade de dez anos, podendo ser prorrogável por períodos iguais e sucessivos, devendo o pedido
ser feito sempre no último ano de vigência do registro.

O art. 6 Bis da Convenção da União de Paris (CUP) informa que: “Por essa regra unionista, o Bra-
sil compromete-se, na qualidade de signatário da Convenção, a recusar ou invalidar registro de
sinal que constitua usurpação de marca regularmente protegida, via depósito ou registro, em
outro país também membro da Convenção, quando esta for notoriamente conhecida no país,
independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil”.

52
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Por fim, caso não ocorra a exploração econômica da marca registrada no prazo de até cinco anos, ocorrerá a
decadência do direito ao seu uso exclusivo. Rubens Requião (apud NEGRÃO, 2014, p. 98) faz uma interessante
classificação da marca quando distingue sua aplicação e finalidade:

Figura 3.5: Tabelas de classificação da marca quanto à aplicação e finalidade.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À APLICAÇÃO


CÓDIGO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL
Marca de produto Distingue produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de
ou serviço origem diversa.
Marca de Atesta a conformidade de um produto ou serviço com determinadas
certificação normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade,
natureza, material utilizado e metodologia empregada.
Marca coletiva Identifica produtos ou serviços provindos de membros de determinada
entidade.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FINALIDADE


Marca específica Destinada a assinalar um só objeto.
ou singular
Marca genérica ou Identifica a origem de uma série de produtos ou artigos, que por sua vez
geral são, individualmente, caracterizados por marcas específicas. Somente
pode ser usada quando acompanhada de marca específica.

Fonte: Negrão, Ricardo (2014, p. 98).

3.3.3 Processo administrativo no INPI

Como mencionamos, o INPI é uma autarquia federal responsável pelas normas relacionadas à propriedade
industrial, visando à sua função social, econômica, jurídica e técnica. As fases que compreendem o processo
administrativo junto ao INPI são:
a. Pedido: é a formulação do pedido pelo interessado, podendo ser feita por pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, devidamente instruída com os documentos indispensáveis.
b. Depósito: é o objeto referente ao pedido e que deverá vir acompanhado com a respectiva taxa (valor
cobrado pelo INPI pelo procedimento requerido).
c. Publicação: é o ato de tornar público o pedido para que os interessados possam se manifestar, caso quei-
ram. No caso de desenho industrial, a lei não exige a publicação.
d. Exame e Decisão: são os processamentos da análise do pedido e, consecutivamente, a decisão do órgão
acerca do deferimento ou não do pedido. Havendo o indeferimento, é possível apresentar recurso no
prazo de até 60 dias contados da publicação da decisão.

53
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

Ocorrendo o arquivamento da invenção ou modelo de utilidade, por inércia do requerente,


haverá a perda do requisito de novidade em caso de novo pedido.

54
Considerações finais
Nesta unidade, estudamos o conceito de estabelecimento comercial,
bem como as definições de matriz, filial, sucursal e agência. Posterior-
mente, analisamos as questões ligadas ao nome empresarial, clientela e
concorrência.
Estudamos, ainda, as características e peculiaridades da propriedade
industrial, dentre elas as questões relacionadas a patentes e marcas e, por
fim, o processo administrativo junto ao Instituto Nacional de Propriedade
Industrial.
Para melhor compreensão do tema, sugerimos responder às questões
desta unidade no caderno de perguntas.

55
Referências bibliográficas
BRASIL. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição Fede-
ral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 9 jun. 2017.

______. Lei nº 9.279/1996. Lei da Propriedade industrial. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9279.htm>. Acesso em: 9
jun. 2017.

______. Lei nº 10.406/2002. Código Civil. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 9 jun.
2017.

COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. v.


1. 11. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.

______. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa. 23. ed. São


Paulo: Saraiva, 2011.

INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI). Convenção


de Paris. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/legislacao-1/cup.pdf>.
Acesso em: 9 jun. 2017.

NEGRÃO, Ricardo. Direito Empresarial: Estudo Unificado. 5. ed. rev. São


Paulo: Saraiva, 2014.

56
Direito | Unidade 3 - Estabelecimento Comercial

58
Direito
Unidade 4
Das sociedades empresariais

Para iniciar seus estudos


4
Olá, seja bem-vindo ao estudo da Unidade 4 das sociedades empresa-
riais. Nesta unidade cuidaremos de estudar os tipos societários brasilei-
ros e para isso primeiro conheceremos o conceito da sociedade, como se
classifica, para logo aprofundar especificadamente as sociedades perso-
nificadas. Assim, fique atento e bons estudos.

Objetivos de Aprendizagem

• Das sociedades: conceitos e regras gerais. Classificação das socie-


dades: sociedades de pessoas e de capitais. Sociedades contra-
tuais e institucionais. Sociedades não personificadas e personifi-
cadas. Tipos societários: sociedade em nome coletivo, sociedade
em comandita simples, sociedade limitada, sociedade anônima,
sociedade em comandita por ações, e sociedade em Conta de
Participação.

60
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

4.1 Das sociedades: conceitos e regras gerais


Segundo Ricardo Negrão (2017) sociedade empresária é:
Contrato celebrado entre pessoas físicas ou jurídicas, ou somente entre pessoas físicas por meio
do qual estas se obrigam reciprocamente a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços (NEGRÃO,
2017, p. 284).
Lembremos que uma das principais regras para a sociedade é que ela nasce com o registro do contrato social no
órgão competente (sociedade empresária na Junta Comercial e a sociedade simples no Registro Civil das Pessoas
Jurídicas (CC, art. 985 c/c arts. 45 e 1.150)), pois como sabemos caso a sociedade empresária não se registre será
considerada irregular.
O conceito de contrato de sociedade, disciplinado pelo Código Civil em seu artigo 981 é base para as socieda-
des personificadas, não personificadas, assim como serve como base para as sociedades simples e empresárias.
Destaque-se que o Código inovou aqui ao entender que nem toda sociedade é pessoa jurídica. Nesse sentido
vejamos o que dispõe o artigo:
C.C. art. 981. “Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir,
com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica de a partilha, entre si, dos resultados”.

4.2 Classificação das sociedades: sociedades de pessoas e de


capitais
Antes de analisarmos as sociedades de pessoas e de capitais é importante saber que doutrinadores como Fabio
Ulhôa, Rubens Requião e outros classificam as sociedades em relação à responsabilidade dos sócios (pessoas,
capitais ou mista), a condição de alienação societária, a personificação (ser personificada ou não personifi-
cada), forma de capital, regime de constituição e dissolução (ser ou não empresária) e nacionalidade. Contudo,
o novo Código Civil classifica as sociedades como não personificadas (aquelas que não gozam de personalidade
jurídica - as sociedades em comum (arts. 986 a 990) e as sociedades em conta de participação (arts. 991 a 996))
e as sociedades personificadas (aquelas que gozam de personalidade jurídica – registro no Registro Público das
Empresas Mercantis ou no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (sociedades simples e empresárias)).
Para facilitar a compreensão observe o gráfico a seguir:

61
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

Figura 4.1 - Sociedades

Sociedades

Personificadas Não personificadas

Sociedades
Sociedades Sociedades Sociedade
em conta
Simples empresárias comum
de participação

Sociedades de Sociedade em nome coletivo;


atividades intelec- Sociedade em comandita simples;
tuais; e Sociedades Sociedade limitada; Sociedade
coopeerativas anônima; Sociedade em coman-
dita por ações

Legenda: Sociedades
Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Em relação à responsabilidade dos sócios a doutrina a classifica como sociedade de pessoas, sociedade de capi-
tais ou sociedade mista.
A sociedade de pessoas como o próprio nome faz refletir prevalece na relação societária, o affectio societatis,
ocorre uma aceitação recíproca entre os sócios. Nas sociedades de capitais a figura do sócio é vista de modo
secundário, não são relevantes as qualidades pessoais dos sócios, mas sim o capital, que fundamenta e forta-
lece a sociedade de capital. Já com relação à mista o objeto social da empresa poderia preponderar a pessoa dos
sócios e do capital.

Glossário

Affectio societatis – interesse comum das partes em associar-se.

Segundo a doutrina clássica são sociedades de pessoas as:


• Sociedades simples;
• Sociedade em nome coletivo;
• Sociedades em comandita simples (possuem elementos mistos);

62
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

• Sociedades em conta de participação (possuem elementos mistos);


• Sociedades limitadas (também poderá ser de capital).
Além disso, são classificadas como sociedades de capital as:
• Sociedades por ações abertas (valores mobiliários e ações da Bolsa de Valores);
• Sociedades por ações fechadas;
• Sociedade em comandita por ações.

4.2.1 Sociedades contratuais e institucionais

As contratuais são assim denominadas por serem constituídas por contrato escrito mediante cláusulas estabele-
cidas por sócios, ao passo que as institucionais são constituídas via aderência a um estatuto social.
Segundo o professor Gladston Mamede:
As sociedades contratuais (sociedades por quotas) são instituídas por meio do registro de um
contrato social que deve atender cláusulas mínimas (artigo 997 do Código Civil), podendo ainda
trazer cláusulas facultativas. Seu capital é dividido em quotas e pode apresentar natureza sim-
ples ou empresária. Em contraste, há as chamadas sociedades estatutárias ou sociedades insti-
tucionais. Seus elementos de identificação e as regras específicas por meio das quais existem e
são administradas estão definidos em estatutos e não em contratos. O estatuto, embora reflita
o conjunto das normas que orientam a existência e o funcionamento da pessoa jurídica, não se
apresenta como um contrato, não contendo direitos e obrigações recíprocos (artigo 53, parágrafo
único, do Código Civil), mas deveres para com a sociedade (MAMEDE, 2016, p. 38).
O professor Fábio Ulhôa Coelho (2013, p. 225), por exemplo, classifica a sociedade segundo o regime de consti-
tuição e dissolução da sociedade. Ulhôa considera como institucionais as sociedades em comandita por ações,
e as demais espécies societárias são por ele consideradas como contratuais. Ao passo que o professor Ricardo
Negrão (2017, p. 331) considera como contratuais as sociedades em comum, em conta de participação, simples,
em nome coletivo, em comandita simples e as limitadas, e como sociedades institucionais as sociedades anôni-
mas, comanditas por ações e cooperativas.

Como se trata de uma divisão doutrinária, veja os livros dos professores Fabio Ulhôa Coelho,
Ricardo Negrão e Gladston Mamede.

63
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

4.2.2 Sociedades não personificadas e personificadas

São consideradas como sociedade não personificada aquelas que sociedades desprovidas de personalidade
jurídica, mas são sociedades de fato e de direito, e ainda que não esteja registrada, tal situação não desqualifica o
contrato social, pois ainda que não possua os direitos inerentes das sociedades personificadas as sociedades não
personificadas também possuem obrigações.
Como vimos no quadro destinado à classificação das sociedades, as sociedades não personificadas são classifi-
cadas como sociedades em comum e a sociedade em conta de participação. Convém destacar que segundo a
doutrina a sociedade não personificada pode ser subdividida em: sociedade irregular e sociedade de fato. Como
já sabemos será considerada irregular quando a sociedade não tenha sido registrada, ou seja, possui o estatuto
social, mas este não foi registrado no órgão competente. E será sociedade de fato quando não haja sequer um
contrato escrito, mas somente o acordo verbalizado entre os sócios.
Assim, antes de passarmos ao estudo detalhado destes tipos societários vejamos o conceito de sociedades per-
sonificadas.
A sociedade personificada é aquela cujo contrato social e toda documentação necessária foi submetida ao
registro nos órgãos competentes, adquirindo assim personalidade jurídica e contraindo direitos e obrigações.
Segundo o quadro classificatório são consideradas como sociedades personificadas as sociedades empresárias e
sociedade simples e suas subdivisões.
A sociedade simples não é considerada empresária, pois ainda que exerça atividade lucrativa este não é o seu
objetivo principal, é o caso daqueles profissionais que exercem atividades intelectuais, de natureza científica
literária ou artística (C.C p.ú. do art. 966). Destaca-se ainda que de acordo com o p.ú. do art. 982 do Código Civil
a cooperativa também e considerada como sociedade simples.
E como vimos nas unidades anteriores, as sociedades empresárias são aquelas dotadas de personalidade jurídica
que têm como objeto social exploração de uma atividade econômica organizada (art. 966 do C.C.).

4.3 Tipos societários


Passaremos agora nesta ordem ao estudo sintetizado dos tipos societários das sociedades personificadas, em
sequência das não personificadas, a saber:

64
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

Figura 4.2 - Societários das sociedades personificadas

sociedade
em nome coletivo

sociedades em sociedade
conta de participação em comandita simples

sociedade em
sociedade limitada
comandita por ações

sociedade comum sociedade anônima

Legenda: Societários das sociedades personificadas


Fonte: Elaborado pela autora (2017).

4.3.1 Sociedade em nome coletivo

A sociedade em nome coletivo é regulada pelos artigos 1.039 a 1.044 do Código Civil e subsidiariamente pela
norma da sociedade simples. Os doutrinadores a consideram como um modelo genérico, composta exclusiva-
mente por pessoas físicas (sociedade de pessoas), destacando que se o contrato social de alguma sociedade
não mencionar o tipo societário, poderão os sócios optar pelo modelo da sociedade em nome coletivo, visto ter
requisitos simplificados quando comparada, por exemplo, com uma sociedade anônima.
Nesse tipo societário todos os sócios respondem pessoalmente às obrigações de forma solidária (passiva entre
os sócios, mesmo nos modelos de sociedade ilimitada pelos débitos da sociedade) e ilimitada. Destaca-se que o
credor deverá primeiro demandar a sociedade para só então demandar os sócios, por isso a noção de responsabi-
lidade é subsidiária porque primeiro o credor deverá esgotar os esforços na tentativa de receber da sua sociedade
em nome coletivo e caso não receba poderá então demandar os sócios que são garantidores do crédito socie-
tário nesses modelos em que há responsabilidade ilimitada. Nesse ponto poderá o credor escolher qual sócio
demandar podendo inclusive demandar a todos os sócios da sociedade em nome coletivo.
De acordo com o artigo 1.040 do C.C. somente os sócios podem administrar a sociedade em nome coletivo, não
é possível em tal sociedade contratar um administrador ou um não sócio administrador profissional, fato comum
e que é basicamente uma regra na sociedade de Capital.

65
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

Com respeito à sociedade em nome coletivo, temos os sócios. Sem prejuízo da responsabilidade perante tercei-
ros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade
de cada um (p.ú. art. 1.039 C.C.). Com relação ao contrato social este deve atentar aos requisitos referidas no art.
997 do Código Civil e deve constar a firma social (C.C. art. 1.041). No que diz respeito à firma social, como a res-
ponsabilidade dos sócios na sociedade em nome coletivo é ilimitada, o nome civil de todos os sócios, ou de pelo
menos um deles deverá conter a expressão “e companhia” ou sua abreviatura, ou seja, Cia., conforme dispõem
os artigos arts. 1.157 e 1.158, § 1º do Código Civil.
A sociedade em nome coletivo se dissolverá pelas causas previstas no artigo 1.033 do Código Civil e, se empre-
sária, também pela declaração de falência (art. 1.044 do C.C.).
C.C. artigo 1033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:
I – o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar
a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;
II – o consenso unânime dos sócios;
III – a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;
IV – a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;
V – a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

4.3.2 Sociedade em comandita simples

A sociedade em comandita simples é prevista nos artigos 1.045 ao 1.051 do Código Civil.
C.C artigo 1045. “Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os
comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidárias e ilimitadamente pelas obrigações sociais;
e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota. Parágrafo único. O contrato deve
descriminar os comanditados e os comanditários”.
Antes de analisar o artigo, saiba que comandita significa administrada e advém da expressão italiana accomandita
que significa depósito-guarda.
Agora veja, como se pode perceber, a sociedade em comandita simples possui duas categorias: os comanditados
pessoas físicas (sócios) responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais e, por isso, podem admi-
nistrar a sociedade.
Já no caso dos comanditários, que são aqueles obrigados somente pelo valor de sua quota, sejam pessoas físicas
ou jurídicas, a responsabilidade dos comanditários é limitada ao valor de sua quota, dessa forma não participam
da administração da sociedade. Contudo, na falta de sócio comanditado, os comanditários nomearão adminis-
trador provisório para praticar, durante o período referido no inciso II e sem assumir a condição de sócio, os atos
de administração (C.C. p.ú. art. 1.051).
Conforme vimos, o parágrafo único do artigo 1.045 do C.C prevê que o contrato social deve determinar os sócios
comanditados e os comanditários.
Dessa forma, não se esqueça:
Comanditados – responsabilidade solidária e ilimitada, pessoas físicas.
Comanditários – responsabilidade limitada, pessoas físicas ou jurídicas.

66
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

Importante destacar que no que forem compatíveis aplicam-se as normas da sociedade simples às regras da
sociedade em nome coletivo (C.C., art. 1.046 e p.ú). Ressalta-se que em caso de morte de sócio comanditário, a
sociedade, salvo disposição do contrato, continuará com os seus sucessores, que designarão quem os represente
(C.C. art. 1.050). E será dissolvida, por qualquer das causas previstas no art. 1.044 ou quando por mais de cento e
oitenta dias perdurar a falta de uma das categorias de sócio.

4.3.3 Sociedade limitada

A sociedade limitada é regulada pelos artigos 1.052 ao 1.087 do Código Civil. Nesse sentido vejamos o que dis-
põe o artigo 1.052:
C.C. artigo 1052. “Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de
suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”.
A partir da leitura do artigo podemos destacar dois pontos característicos da sociedade limitada, responsabili-
dade limitada e solidária. Além disso, segundo prevê o Código Civil em seu art. 1.053 e p.ú., admitem-se as regras
da sociedade simples ou da sociedade anônima competindo evidentemente ao sócio em caso de necessidade
decidir o tipo mais adequado e destacando.
No que diz respeito ao contrato social este seguirá no que couber os parâmetros da sociedade simples (C.C.
art. 997), ressaltando que faculta a sociedade limitada adotar firma ou denominação integradas pelas palavras
finais “limitada” ou sua abreviatura, “LTDA” (C.C. art. 1.058), pois a omissão da palavra “limitada” determina a
responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da
sociedade (§ 3º art. 1.158 do C.C).

Os sócios possuem liberdade para integralizar o capital social.

4.3.3.1 Das quotas e da administração

O capital social da sociedade limitada é dividido em quotas iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada
sócio (art. 1.055 do C.C.). Destaca-se que os valores do capital social poderão ser alterados para mais ou para
menos e obviamente uma vez que seja alterado o valor do capital social será necessário alterar o contrato, pois
do contrário geraria conflito.
Caso o capital seja aumentado, os sócios terão preferência para integralizar as quotas de que sejam titulares, até
trinta dias, após a deliberação, terão os sócios preferência para participar do aumento, na proporção das quo-
tas de que sejam titulares (art. 1.081, §1º). Importante dizer que pode a sociedade reduzir o capital, mediante a
correspondente modificação do contrato se excessivo em relação ao objeto da sociedade ou depois de integra-
lizado, se houver perdas irreparáveis, nesse caso será realizada com a diminuição proporcional do valor nominal

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Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

das quotas e para que se efetive faz-se necessária averbação na Junta Comercial e na ata da assembleia (art.
1.082, I e II c/c com art. 1.083 do C.C.).
Na sociedade limitada, salvo para efeito de transferência, a quota é indivisível em relação à sociedade (art. 1.056 do
C.C.), visto que tal sociedade prevê como participação o capital. Ao sócio é concedido na omissão do contrato ceder,
total ou parcialmente sua quota a quem seja sócio ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de ¼
do capital social. Importante salientar que a cessão tem eficácia quanto à sociedade e terceiros (art. 1.057 caput e
p.ú. do C.C.). Em caso de não integralização da quota do sócio remisso, os demais sócios poderão tomá-la para si ou
transferi-la a terceiros, excluindo assim o sócio remisso com as garantias legais cabíveis. (C.C., art. 1.058).
E como se dá a administração da sociedade limitada?
De acordo com a previsão legal do Código Civil, sócios (uma ou mais pessoas) ou não sócios da sociedade limi-
tada podem administrá-la, mas vale destacar que para que o não sócio, ou seja, um sócio nomeado administre
a sociedade precisará ser aprovado por unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado,
e de 2/3, no mínimo, após a integralização (C.C., arts. 1.060, caput, p.ú. e 1.061). Outro ponto a destacar é que
o administrador pode ser destituído do seu cargo, em qualquer tempo, do titular, ou pelo término do prazo se,
fixado no contrato ou em ato separado, não houver recondução e quanto ao sócio nomeado administrador no
contrato, sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas correspondentes, no mínimo,
a dois terços do capital social, salvo disposição contratual diversa (C.C. art. 1.063 caput e §1º).

4.3.3.2 Conselho Fiscal, deliberação dos sócios e dissolução

Na sociedade limitada pode o contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos
suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos na assembleia anual prevista no art. 1.078. Ressalta-se que
competirá à Assembleia dos sócios remunerar aos membros do conselho fiscal, e as atribuições e poderes conferi-
dos pela lei ao conselho fiscal não podem ser outorgados a outro órgão da sociedade, e a responsabilidade de seus
membros obedece à regra que define a dos administradores (art. 1.016). Vide o C.C. em seus artigos 1.066 ao 1.070.
Segundo o artigo 1.071, incisos I ao VIII do C.C., dependerá de deliberação dos sócios, além de outras matérias
indicadas na lei ou no contrato: a aprovação das contas da administração; a designação dos administradores,
quando feita em ato separado; a destituição dos administradores; o modo de sua remuneração, quando não
estabelecido no contrato; a modificação do contrato social; a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade,
ou a cessação do estado de liquidação; a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
o pedido de concordata.
Já com relação às reuniões, segundo o artigo 1.073, incisos I e II do C.C., poderão ser convocadas por sócio,
quando os administradores retardarem a convocação, por mais de sessenta dias, nos casos previstos em lei ou no
contrato, ou por titulares de mais de um quinto do capital, quando não atendido, no prazo de oito dias, pedido
de convocação fundamentado, com indicação das matérias a serem tratadas. As reuniões também poderão ser
convocadas pelo conselho fiscal, se houver nos casos a que se refere o inciso V do art. 1.069.

As deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade dos


que expressamente as aprovaram (art. 1.080 do C.C).

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Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

E quanto à exclusão do sócio e a dissolução da sociedade: é possível, não é possível, há regras?


Para saber a resposta acessemos o aprofundamento da sociedade limitada.

4.3.4 Sociedade anônima

A sociedade anônima ou companhia tem o capital dividido por ações, diferenciando-se assim da sociedade limi-
tada (quotas). Segundo o professor Gladston Mamede (2016) a sociedade por ações é:
Pessoa jurídica que tem por finalidade genérica a produção de vantagens econômicas: um sobre-
valor (superávit patrimonial) a ser apropriado por seus acionistas, que são os responsáveis diretos
(originários) ou indiretos (derivados) pelo investimento de capital que determinará a formação do
patrimônio empresarial usado na respectiva prática empresária (MAMEDE, 2016, p. 252).
Tal tipo societário é regulado por lei especial, especificadamente a Lei n. 6.404/1976, que regula as sociedades
por ações e, de acordo com o seu artigo 1º c/c artigo 1.088 do C.C:
Art. 1º da Lei 6.404/76 – “A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações,
e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subs-
critas ou adquiridas”.
Art. 1.088 do C.C. “Na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-
-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir”.
Como já sabemos, a sociedade anônima é uma sociedade dividida por ações e em razão disso os seus mem-
bros são chamados de acionistas ou sócios, além disso, é de responsabilidade limitada e condicional, ao valor de
emissão das respectivas ações. Outro detalhe: é instituída por estatuto social (público ou privado), diferenciando-
-se assim ainda mais da sociedade limitada (integralização do capital social).

A incorporação de imóveis para formação do capital social não exige escritura pública, art.
89 da Lei n. 6.404/1976 c/c inciso VII do art. 35 da Lei n. 8.934/1994.

O objeto social das sociedades anônimas pode ser empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública
e aos bons costumes e assim como ocorre na sociedade limitada que recebe a denominação LTDA. A Lei n.
6.404/1976 determina que no caso da sociedade por ações esta deve ser designada por denominação acom-
panhada das expressões “companhia” ou “sociedade anônima”, expressas por extenso ou abreviadamente, mas
vedada a utilização da primeira ao final (art. 3º da Lei n. 6.404/1976). Conforme a referida Lei, as Sociedades
Anônimas adotarão a denominação social em seu nome empresarial, e, desde o registro, a proteção do nome
empresarial será em nível inicialmente estadual

69
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

4.3.4.1 Espécies, classes e forma

Um dos principais pontos destacáveis da sociedade anônima é que ela é dividida em sociedade de capital aberto
e a sociedade de capital fechado. Parafraseando o professor Fran Martins (2016, p. 241) as sociedades abertas
têm as suas ações negociadas no mercado de capitais ou mercado de valores mobiliários (vide Lei n. 6.385/1976).
Importa somar que especialmente as Sociedades Anônimas de capital aberta serão fiscalizadas pela Comissão de
Valores Mobiliários.
Já as sociedades de capital fechado não são negociadas por intermédio das entidades autorizadas a negociar no
mercado de capitais ou mercado de valores mobiliários.

Companhia fechada e sociedade familiar é a mesma coisa ou são tipos societários distintos?
Reflita e consulte a bibliografia.

Com relação ao seu capital social este poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie
de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. Ressalta-se que a avaliação dos bens será feita por três peritos ou
por empresa especializada, nomeados em assembleia-geral dos subscritores, convocada pela imprensa e presidida
por um dos fundadores, instalando-se em primeira convocação com a presença de subscritores que representem
metade, pelo menos, do capital social, e em segunda convocação com qualquer número. Destaca-se ainda que a
escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação
comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade (vide artigos 7º, 8º e 177 da Lei n. 6.404/1976).
No que diz respeito às espécies, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seus titulares, de
acordo com o artigo 15, da Lei n. 6.404/1976, são: ordinárias ou comuns, preferenciais, ou de fruição ou gozo.
Para facilitar a compreensão observe o quadro diferenciador.

70
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

Quadro 4.1: Quadro diferenciador

Ordinárias ou comuns Preferenciais Fruição ou gozo


Conferem plenitude Conferem privilégios (art. 17, I, II e III da Lei Conferem a amortização
dos direitos sociais n. 6.404/1976 - prioridade na distribuição antecipada do valor que o sócio
aos acionistas, como de dividendo, fixo ou mínimo, prioridade no receberia em caso de liquidação
por exemplo, o reembolso do capital, com prêmio ou sem da sociedade (Lei n. 6.404/1976,
direito de voto (Lei n. ele; ou na acumulação das preferências e art. 44, § 5º). Fica claro que ela
6.404/1976, art. 16). vantagens de que tratam os incisos I e II), mas substitui a ordinária ou comum e as
podem limitar ou eliminar o direito de voto (§ preferenciais quando amortizadas.
1o art. 17 da Lei n. 6.404/1976).
As preferenciais poderão ser convertidas em
ações comuns, assim como ao reverso.
O estatuto pode assegurar a uma ou mais
classes de ações preferenciais o direito de
eleger, em votação em separado, um ou mais
membros dos órgãos de administração, art.18
da Lei n. 6.404/1976.

Legenda: Quadro diferenciador


Fonte: Elaborado pela autora (2017).

No que se referem à forma as ações deverão ser nominativas (deve constar o nome do proprietário no registro das
ações) ou escriturais (arts. 20 c/c 34 da Lei n. 6.404/1976).

4.3.4.2 Constituição, órgãos, acionista

Para que uma sociedade por ações seja constituída depende que haja:
• Subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações em que se divide o capital social fixado
no estatuto;
• Realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas
em dinheiro. Destaca-se que tal requisito não se aplica às companhias para as quais a lei exige realização
inicial de parte maior do capital social;
• Depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de
Valores Mobiliários, da parte do capital realizado em dinheiro.
• Regras gerais e comuns em relação à constituição: arts. 89 a 93 da LSA.
• Na seção referente às providências complementares, fixa a lei a necessidade de registro e publicação dos
atos constitutivos da companhia. Somente após essas providências é que a companhia poderá dar início
à exploração de suas atividades comerciais, de forma regular. Além disso, se houver incorporação de bem
ao capital social, deverá ser providenciada, por seus primeiros administradores, a transferência da titulari-
dade desse bem para a companhia, por transcrição no registro público competente. Ao final é muito rele-
vante deixar claro que as formas de criação/constituição de uma Sociedade Anônima poderá acontecer

71
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

por subscrição pública ou particular. Aquela exigirá a intermediação da Comissão de Valores Mobiliários e
de uma Instituição Financeira e esta será feita por escritura pública ou Assembléia de constituição.
Importante destacar que são órgãos da Sociedade Anônima, vide Lei n. 6.404/1976:

Figura 4.3: Órgãos da Sociedade Anônima

Assembleia-Geral Diretoria
(art. 121) (art. 138)

Conselho de Conselho Fiscal


Administração (art.140) (art. 161)

Legenda: Órgãos da Sociedade Anônima


Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Os acionistas segundo o artigo 19 da Lei n. 6404/1976 têm direito a participar dos lucros sociais, do acervo da
companhia, em caso de liquidação, fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais, preferência
para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus
de subscrição, observado o disposto nos artigos 171 e 172, e retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.
Já o acionista controlador é responsável por gerir a sociedade, sendo aquela pessoa, natural ou jurídica, ou o
grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que é titular de direitos de sócio que lhe
assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger
a maioria dos administradores da companhia; e usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e
orientar o funcionamento dos órgãos da companhia (art. 116, alíneas (a) e (b) da Lei n. 6404/1976). Ele tem como
finalidade fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social.

Caso o acionista controlador abuse o seu poder, responderá pelos danos causados
(Lei n. 6404/1976, art. 117).

4.3.5 Sociedade em comandita por ações

A sociedade em comandita por ações é disciplinada pelos artigos 1.090 ao 1.092 do Código Civil e pela Lei n.
6.404/1976 e, apesar do nome recordar a sociedade em comandita simples e também a sociedade anônima, não
se confunde com tais tipos societários, em razão de tais diferenças:

72
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

• Na comandita por ações, assim como a sociedade anônima o capital social é dividido em ações, e a res-
ponsabilidade dos acionistas é limitada e condicional. Na comandita por ações compete aos acionistas
administrá-la respondendo o diretor de modo ilimitado e subsidiário pelas obrigações da sociedade, cujo
capital social também é dividido em ações (Lei n. 6.044/1976, art. 280 e 281 c/c art. 1.090 e 1091 do
C.C.). E também na sociedade em comandita por ações não se aplica à sociedade as regras do Conselho
de administração, autorização estatutária de aumento de capital e emissão de bônus de subscrição con-
forme dispõe a Lei n. 6.044/1976 (vide artigo 284 da Lei).
• Difere da sociedade em comandita simples principalmente em razão da divisão do capital social e da admi-
nistração, pois esta se divide em quotas e os sócios comanditados respondem de modo solidário e ilimitado
pelas obrigações sociais. Já a sociedade comandita por ações divide-se em ações e a responsabilidade do
diretor ou gerente é subsidiária e ilimitada (art. 1.045 e art. 1.091 do C.C e Lei n. 6.044/1976, art. 281).
Outro detalhe característico da sociedade em comandita por ações é que a denominação ou a firma deve ser
seguida das palavras “Comandita por Ações”, por extenso ou abreviadamente e quando o diretor ou gerente for
destituído ou se exonerar continuará responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.
Além disso, conforme prevê o artigo 283 e seguintes da Lei n. 6404/1976 a assembleia-geral não pode, sem
o consentimento dos diretores ou gerentes, mudar o objeto essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de
duração, aumentar ou diminuir o capital social, emitir debêntures ou criar partes beneficiárias nem aprovar a
participação em grupo de sociedade.
E prescreve em um ano contado da publicação dos atos constitutivos o prazo para anular a constituição da com-
panhia, por vício ou defeito, em dois anos contados da deliberação o prazo para ação anular as deliberações
tomadas em assembleia-geral ou especial, irregularmente convocada ou instalada, violadoras da lei ou do esta-
tuto, ou eivadas de erro, dolo, fraude ou simulação, nesse sentido veja o que dispõe os artigos 285 e 276 da Lei n.
6.404/1976 referente à prescrição.

4.3.6 Sociedade em conta de participação

A sociedade em conta de participação é disciplinada nos artigos 991 ao 996 do Código Civil, e aplica-se subsidia-
riamente e no que lhe for compatível as regras da sociedade simples. A sociedade em conta de participação tem
como principal característica o fato de não dotar de personalidade jurídica, cuja atividade constituída do objeto
social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, ou seja, a sociedade existe apenas entre os sócios, mas não
perante terceiros. Em suma, quando dois ou mais indivíduos – sendo um deles um empresário – têm objetivos em
comum a desenvolver e desenvolvem atividades empresárias, compete somente ao sócio ostensivo a responsa-
bilidade da sociedade perante terceiros.
Contudo, segundo o Código Civil o sócio ostensivo obriga-se perante terceiro, visto que o sócio ostensivo atua
em seu próprio nome, ou seja, assume pessoalmente a responsabilidade das obrigações sociais.
Mas, o que é sócio ostensivo e como se denomina os demais sócios? Vejamos, sócio ostensivo é aquele que em
seu nome exerce a sociedade e somente ele pode obrigar-se perante terceiros. Os demais sócios são chamados
de sócios participantes, eles participam dos resultados correspondentes da sociedade, mas não figuram nas obri-
gações. (C.C, art. 991 e p.ú.).

73
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

Esse tipo societário não pode ter firma ou denominação e em consequência disso sua cons-
tituição independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito
(C.C., arts. 1.162 e 992).

Com relação aos efeitos se produz somente entre os sócios e, em caso de eventual inscrição e registro não lhe
será conferida personalidade jurídica (C.C., arts. 992 c/c 993).
Convém destacar que é permitido ao sócio participante fiscalizar a gestão dos negócios sociais, mas não pode
tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este pelas
obrigações em que intervier (C.C., p.ú. do art. 993). E no que diz respeito ao patrimônio da sociedade esta é
considerada, pois é a união da contribuição do sócio participante com a do sócio ostensivo, produzindo efeitos
somente em relação aos sócios (C.C., art. 994 caput e §1º).
Em caso de falência do sócio ostensivo será a sociedade dissolvida e liquidada a respectiva conta (C.C., art. 994
caput e §2º), mas se o falido for o sócio participante, sem dúvida, pode ocorrer apenas no caso de ele exercer
outra atividade paralela (C.C., art. 994, § 3º).
Outros particulares da sociedade em conta de participação é que o sócio ostensivo não pode admitir novo sócio
sem o consentimento expresso dos demais, salvo disposição em contrário (C.C., art. 995).
Exemplos de sociedade em conta de participação: operações de importação e exportação, incorporações pre-
diais e outros.

Chegamos ao final do estudo da Unidade 4, aqui abordamos de modo sintetizado os prin-


cipais pontos das sociedades empresárias, assim aproveite para aprofundar-se ainda mais
nos temas estudados, a partir da consulta de livros, jurisprudência e outros. Não deixe de
realizar o desafio desta disciplina. Bons estudos e até breve!

74
Considerações finais
1. O conceito de contrato de sociedade, disciplinado pelo Código
Civil em seu artigo 981 é base para as sociedades personificadas,
não personificadas, assim como serve como base para as socieda-
des simples e empresárias.
2. Classificação doutrinária em relação à responsabilidade dos sócios
(pessoas, capitais ou mista), à condição de alienação societária, à
personificação (ser personificada ou não personificada), à forma
de capital, ao regime de constituição e dissolução (ser ou não
empresária). Segundo o Código Civil divide- se em sociedade per-
sonifica e não personificada.
3. Sociedades contratuais são assim denominadas por serem cons-
tituídas por contrato escrito mediante cláusulas estabelecidas por
sócios e as institucionais são constituídas via aderência a um esta-
tuto social.
4. São consideradas como sociedade não personificada aquelas
sociedades desprovidas de personalidade jurídica.
5. Sociedade personificada é aquela cujo contrato social e toda
documentação necessária foi submetida ao registro nos órgãos
competentes.
6. Sociedade em nome coletivo é aquela em que todos os sócios
respondem pessoalmente às obrigações de forma solidária (pas-
siva entre os sócios, mesmo nos modelos de sociedade ilimitada
pelos débitos da sociedade) e ilimitada.
7. Sociedade comandita simples: os comanditados possuem responsa-
bilidade solidária e ilimitada, são pessoas físicas; já os comanditários
possuem responsabilidade limitada, são pessoas físicas ou jurídicas.
8. Sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao
valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela
integralização do capital social (C.C., art. 1.052).
9. Sociedade anônima: o capital social é dividido em ações, e a res-
ponsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço
de emissão das ações subscritas ou adquiridas (art. 1 da Lei n.
6.404/1976. Dividida em sociedade de capital aberto e a socie-
dade de capital fechado. E no que diz respeito às espécies con-

75
Direito | Unidade 4 - Das sociedades empresariais

forme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seus titulares é: ordinárias ou comuns, pre-
ferenciais, ou de fruição ou gozo. Seus órgãos são: a Assembleia-geral, Conselho de administração,
Conselho fiscal, Diretoria.
10. Sociedade em comandita por ações: o capital social é dividido em ações, e a responsabilidade dos acio-
nistas é limitada e condicional.
11. Sociedade em conta de participação: dois ou mais indivíduos, sendo um deles um empresário e tendo
todos os envolvidos objetivos em comum de desenvolver, desenvolvem uma ou mais atividades empre-
sárias, competindo somente ao sócio ostensivo a responsabilidade da sociedade perante terceiros.

76
Referências bibliográficas
Código Civil e Constituição Federal. VADE MECUM. 23. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 17. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. v. 1 e 2.

MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação


empresarial. São Paulo: Atlas, 2016.

MARTINS, Fran. Curso de direito comercial, 39. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2016.

NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 13. ed.


São Paulo: Saraiva, 2017.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 32. ed. São Paulo: Saraiva,
2013. v. 1 e 2.

77
Direito
Unidade 5
Das sociedades empresariais
especiais
5
Para iniciar seus estudos

Prezado aluno, seja bem-vindo à Unidade de Estudo 5. Na presente uni-


dade, estudaremos algumas das sociedades empresariais, dentre elas,
EIRELI, microempresarial, entre outras, visualizando para tanto as suas
principais peculiaridades. Bons estudos.

Objetivos de Aprendizagem

• EIRELI.
• Microempresa.
• Sociedade unipessoal.
• Sociedade cooperativa.
• Sociedade advocatícia.

80
Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

5. Das sociedades empresariais especiais


Inicialmente, como já abordado nas demais unidades, a Sociedade Empresária abrange vários tipos de sociedade,
podendo, em síntese, ser denominada como a reunião de pessoas com o objetivo de exercer profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços, visando ao lucro, que deve
ser compartilhado.
Nesta unidade, veremos as sociedades empresariais que possuem características peculiares, tais como: socie-
dade advocatícia, EIRELI, dentre outras.

5.1 Sociedade unipessoal

Sociedade unipessoal, em síntese, pode ser definida como a possibilidade de uma única pessoa constituir uma
sociedade, sob a forma limitada ou anônima, para explorar individualmente uma atividade econômica.
Esse tipo societário é subdividido em duas hipóteses: (I) subsidiária integral e (II) Empresa Individual de Respon-
sabilidade Limitada (EIRELI).
O primeiro caso decorre da Lei nº 6.404/76, que regra a sociedade por ações, mas que não é um instrumento de
efetiva limitação da responsabilidade, uma vez que não é possível separar o patrimônio individual do patrimônio
do empresário.
A subsidiária integral é constituída por escritura pública, ou seja, não pode ser constituída por instrumento par-
ticular; ou pode ser constituída por conversão de uma sociedade anônima em subsidiária integral em duas hipó-
teses: (a) aquisição da totalidade das ações da companhia e (b) incorporações de ações.
O segundo caso – a possibilidade da constituição de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) –
surgiu com a promulgação da Lei nº 12.441/2011, autorizando a constituição desse tipo societário.
Outrossim, a empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) pode ser constituída de duas formas: (I) ori-
ginária e (II) superveniente (derivada). A primeira existe desde 1976, mas, por suas características, não pode ser vista
como instrumento de efetiva limitação da responsabilidade de um empreendedor isolado. Por sua vez, a segunda
forma surgiu em 2011, por meio de alteração introduzida no Código Civil, conforme será melhor elucidado.
Nesse sentido, sociedade unipessoal originária é aquela que desde a sua constituição apresenta apenas um
único sócio; por sua vez, a sociedade unipessoal superveniente ou derivada constitui uma pluralidade de sócios
que foi reduzida a apenas um sócio em razão de diversas situações, tais como: retirada, falecimento, expulsão do
sócio etc. Importante mencionar que quando estivermos diante de uma sociedade unipessoal superveniente, a
própria Lei instaurará prazos para a nomeação de novo sócio, de modo a retomar a pluralidade de sócios.

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Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

Figura 5.1 – Sociedade unipessoal

Legenda: Sociedade unipessoal.


Fonte: 37352506 (123RF)

Importa mencionar que a EIRELI se sujeita às regras dos tipos societários e pode ser constituída tanto por sócio
único pessoa física como por jurídica. Caso seja pessoa física, só pode ser titular de apenas uma EIRELI, conforme
o artigo 980-A, § 2º, do Código Civil.

O artigo 44, do Código Civil, informa que: “São pessoas jurídicas de direito privado: I - as
associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os parti-
dos políticos. VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada” (BRASIL, 2002).

Segundo os ensinamentos de Negrão (2014), aplica-se à EIRELI as regras previstas para as sociedades limitadas,
no que lhe couber, sendo compatíveis, entre outras:
[...] as regras relativas à estimação dos bens conferidos ao capital social (art. 1.055, § 1º); o
aumento e a redução do capital (arts. 1.081, caput, e 1.082); a dissolução (art. 1.087, c/c arts.
1.033, I, V, e 1.044). (NEGRÃO, 2014. p. 55).
Podemos, ainda, destacar como requisitos para a constituição de uma EIRELI os seguintes: o primeiro refere-se ao
capital social, que deverá ser devidamente integralizado no momento da constituição e que represente o mínimo
de 100 vezes o maior salário mínimo vigente no país, segundo dispõe o próprio art. 980-A, do CC, in verbis:
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única
pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a
100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. (BRASIL, 2002).

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Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

O segundo é referente à unipessoalidade, pois ela terá um único titular (pessoa jurídica ou física), que terá res-
ponsabilidade limitada ao capital integralizado. Salienta-se que o § 2º do Art. 980-A, do CC, dispõe que a pessoa
natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única
empresa dessa modalidade.
O terceiro se refere ao nome empresarial, assim, a EIRELI pode adotar tanto denominação quanto firma, con-
forme dispõe o § 1º do artigo supracitado, vejamos:
Art. 980-A, § 1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão «EIRELI”
após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada”.
(BRASIL, 2002).
Importa mencionar que o registro serve para dar garantia, publicidade, segurança, autenticidade e eficácia aos
atos jurídicos das empresas, sendo que, para tanto, os órgãos de registro cadastram todos aqueles que exercem
atividade econômica no país.
Assim, tendo em vista que se aplicam à EIRELI as regras previstas para as sociedades limitadas, esta poderá ser
registrada tanto na Junta Comercial quanto no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (RCPJ), por força do disposto na
Nota da Coordenação-Geral de Tributação (Cosit) nº 446/2011, item 20, expedida pela Receita Federal do Brasil.

O Departamento Nacional de Registro de Comércio (órgão federal) é responsável pela expe-


dição das normas técnicas de comando das Juntas Comerciais, sendo estas os órgãos esta-
duais de execução dessas normas. Por sua vez, o Registro Público de Empresas Mercantis
(RPEM) é exercido em todo o território nacional, por órgãos estaduais e federais.

5.1.1 A sociedade unipessoal e a desconsideração da personalidade jurídica

Um dos principais obstáculos para a implementação do regime da sociedade unipessoal se refere à possibilidade
de fraude pelo empresário individual, uma vez que existe nesse tipo societário a separação do patrimônio da
empresa e do empresário.
O argumento da utilização da pessoa jurídica para a prática de atos desonestos – transferindo a responsabilidade
dos atos dos sócios para as empresas – é bastante difundido, sendo esse tipo de atuação, fraudulenta ou com
abuso de direito, já praticada pelos sócios ou acionistas das sociedades limitadas e pelas companhias.

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Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

Figura 5.2 – Fraude empresarial

Legenda: Fraude empresarial.


Fonte: 52409981 (123RF)

Conclui-se, assim, que o intuito da desconsideração da personalidade jurídica é proteger os credores e todos
aqueles que mantinham relações com as pessoas jurídicas que praticavam atos de forma ilícita, escondendo o
verdadeiro responsável pela prática de tais atos, dentre eles, os sócios, usando, assim, a pessoa jurídica como um
obstáculo para a reparação da fraude.
A teoria da desconsideração da personalidade pode ser definida como o afastamento da personalidade jurí-
dica com o objetivo de dar efetividade à possibilidade de correção de manobras fraudulentas de um ou mais dos
seus sócios.
Cumpre-nos ainda destacar que trata-se de uma suspensão episódica da eficácia do ato, sendo que a decisão
judicial não invalida e não desfaz o seu ato constitutivo, não importando a sua dissolução.
Especificamente com relação à sociedade unipessoal, destaca-se que a teoria da desconsideração é plenamente
aplicável, sendo a sua aplicabilidade, ou melhor, a sua responsabilização, semelhante à do empresário individual,
que tem a sua responsabilidade limitada.
A teoria da desconsideração da personalidade pode ser subdividida em: (i) teoria maior e (ii) teoria menor, con-
forme escreve Coelho (2007):
Há duas formulações para a teoria da desconsideração: a maior, pela qual o juiz é autorizado a
ignorar a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas, como forma de coibir fraudes e abusos
praticados através dela, e a menor, em que o simples prejuízo do credor já possibilita afastar a
autonomia patrimonial. (COELHO, 2007, p. 35).
Melhor elucidando, explicamos o que vem a ser a teoria menor e a teoria maior. A primeira (Teoria Menor), aplicável,
por exemplo no Direito do Trabalho e Direito do Consumidor, é menos elaborada, refletindo uma minoração no prin-
cípio da separação patrimonial. Por sua vez, a segunda (Teoria Maior) é a mais elaborada, necessitando, para a sua
aplicação, de requisitos específicos, sendo necessária a caracterização da abusividade e manipulação fraudulenta.

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Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

Ressalvamos que iremos abordar de forma mais aprofundada a figura da desconsideração da personalidade na
Unidade 7.
Ainda, não deve se confundir a desconsideração com responsabilização, posto que o sócio unipessoal é o res-
ponsável pelos atos de má gestão, e a responsabilização desses atos é pessoal, não dependendo de trâmite em
juízo e prova de abusividade nem de fraude, mas apenas o prejuízo.
Podemos concluir que a possiblidade de constituição de uma sociedade unipessoal é um avanço, uma vez que
possibilita a regularização e efetividade do empresário junto ao mercado de trabalho e, havendo a constatação
de fraude, existem meios processuais para punir o empresário infrator.

5.2. Microempresa e Empresa de Pequeno Porte

A Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da


Empresa de Pequeno Porte. A Microempresa (ME) e a Empresa de Pequeno Porte (EPP) são empreendimentos que
deveriam ter um tratamento simplificado por determinação constitucional (art. 179 da CF/88), podendo resumi-
-las como sendo empresas de pequena dimensão.
Além disso, devemos frisar que Microempresa e Empresa de Pequeno Porte são sociedades distintas. A Lei Com-
plementar nº 123/2006, alterada pela Lei Complementar nº 128/2008, conceitua essas sociedades com base
em suas receitas brutas anuais, conforme o art. 3º da LC nº 123/2006, vejamos:
• Microempresa: a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade
limitada e o empresário, devidamente registrados nos órgãos competentes, que aufira em cada ano-
-calendário a receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00.
• Empresa de Pequeno Porte: será aquela que possuir receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais).
Receita bruta é o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços pres-
tados e o resultado nas operações em conta alheia não incluídas as vendas canceladas e os descontos incondi-
cionais concedidos (§ 1º da LC nº 123/2006).
O enquadramento da empresa como Microempresa ou Empresa de Pequeno Porte visa a possibilitar a simplifica-
ção de seu funcionamento, motivo pelo qual estas podem optar por se inscrever no SIMPLES Nacional.
O SIMPLES Nacional é uma forma simplificada e englobada de recolhimento de tributos e contribuições, o qual
tem como base de apuração a receita bruta, tendo sido instituído em 1º de julho de 2006, pela Lei Complementar
nº 123/2006.
As pessoas jurídicas que se enquadram na condição de Microempresa ou Empresa de Pequeno Porte poderão
optar pela inscrição no Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e
Empresas de Pequeno Porte – SIMPLES.

Quando a empresa opta pelo enquadramento no SIMPLES Nacional, considera-se a receita


bruta de qual ano-calendário?

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Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

Ressalta-se ainda que a lei traz aspectos inerentes às licitações públicas, ao estímulo ao crédito, às relações de
trabalho, à capitalização, ao acesso à justiça e à inovação, dentre outros. Outrossim, ela determina normas gerais
para as Empresas de Pequeno Porte e Microempresas, entre elas, o regime tributário diferenciado (SIMPLES
Nacional), no âmbito dos Poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
É importante mencionar que o artigo 17, da Lei Complementar nº 123/2006, informa quais são as Microempre-
sas e Empresas de Pequeno Porte que não poderão optar pela forma de recolhimento simplificada, vejamos:
I - que explore atividade de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia,
gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, gerenciamento
de ativos (asset management), compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a
prazo ou de prestação de serviços (factoring); II - que tenha sócio domiciliado no exterior; III - de
cujo capital participe entidade da administração pública, direta ou indireta, federal, estadual ou
municipal; IV - (REVOGADO), V - que possua débito com o Instituto Nacional do Seguro Social -
INSS, ou com as Fazendas Públicas Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade não esteja
suspensa; VI - que preste serviço de transporte intermunicipal e interestadual de passageiros,
exceto quando na modalidade fluvial ou quando possuir características de transporte urbano ou
metropolitano ou realizar-se sob fretamento contínuo em área metropolitana para o transporte
de estudantes ou trabalhadores; VII - que seja geradora, transmissora, distribuidora ou comercia-
lizadora de energia elétrica; VIII - que exerça atividade de importação ou fabricação de automó-
veis e motocicletas; IX - que exerça atividade de importação de combustíveis; X - que exerça ativi-
dade de produção ou venda no atacado de: a) cigarros, cigarrilhas, charutos, filtros para cigarros,
armas de fogo, munições e pólvoras, explosivos e detonantes; b) bebidas não alcoólicas a seguir
descritas: 1 - alcoólicas; 2 - refrigerantes, inclusive águas saborizadas gaseificadas; (Revogado);
3 - preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados),
para elaboração de bebida refrigerante, com capacidade de diluição de até 10 (dez) partes da
bebida para cada parte do concentrado; (Revogado); 4 - cervejas sem álcool; c) bebidas alcoóli-
cas, exceto aquelas produzidas ou vendidas no atacado por: 1. Micro e pequenas cervejarias; 2.
Micro e pequenas vinícolas; 3. Produtores de licores; 4. Micro e pequenas destilarias; Produção
de efeito XI (Revogado); XII - que realize cessão ou locação de mão-de-obra; XIII - (Revogado);
XIV - que se dedique ao loteamento e à incorporação de imóveis. XV - que realize atividade de
locação de imóveis próprios, exceto quando se referir a prestação de serviços tributados pelo ISS.
XVI – com ausência de inscrição ou com irregularidade em cadastro fiscal federal, municipal ou
estadual, quando exigível. § 1º As vedações relativas a exercício de atividades previstas no caput
deste artigo não se aplicam às pessoas jurídicas que se dediquem exclusivamente às atividades
referidas nos §§ 5o-B a 5o-E do art. 18 desta Lei Complementar, ou as exerçam em conjunto com
outras atividades que não tenham sido objeto de vedação no caput deste artigo. (BRASIL, 2006).
Assim sendo, respeitadas as exclusões legais, será possível sua opção, que permitirá o recolhimento mensal e
unificado de diversas contribuições, dentre elas, CPP, PIS/PASEP, entre outras.
A simplificação buscada para as empresas que se enquadram como Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
também ocorre nas questões relacionadas à abertura e fechamento, uma vez que, dentre outras, é estabelecida
a impossibilidade de que outros órgãos envolvidos com o registro da atividade determinem mais documentos do
que os pedidos pela Junta Comercial.
Ademais, não é necessária a assinatura de advogado no contrato social, o que facilmente se verifica nos regra-
mentos elencados nos arts. 8º, 9º e 10 da Lei Complementar nº 123/2006.
Podemos verificar ainda no art. 56 da LC nº 123/2006, como o incentivo à associação, que as ME e EPP têm maior
força de contratação, podendo adquirir bens numa quantidade maior e negociar as condições de pagamento em
virtude da quantidade de compra.

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Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

Por fim, para encerrarmos o presente tópico, a ME e a EPP estão liberadas do pagamento de grande parte dos
emolumentos, permitindo-se, assim, o pagamento no cartório com o cheque, sem a exigência de que este seja
administrativo ou visado (art. 73, da Lei Complementar nº 123/2006).

O artigo 2º, da LC nº 123/2006, informa o tratamento diferenciado e favorecido a ser dis-


pensado às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, de que trata o art. 1o dessa Lei
Complementar.

Para finalizarmos o estudo sobre as Microempresas, não podemos deixar de abordar os órgãos vinculados a estas,
que lhes concedem um tratamento diferenciado e favorecido. São eles:
• Comitê Gestor do Simples Nacional, que é composto por quatro representantes da Secretaria da Receita
Federal do Brasil (como representantes da União), dois dos estados e do Distrito Federal, bem como dois
dos municípios, para tratar dos aspectos tributários, sendo vinculado ao Ministério da Fazenda.
• Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, que trata dos demais aspec-
tos, contando com a participação dos órgãos federais competentes e das entidades vinculadas ao setor.
• Comitê para Gestão da Rede Nacional para Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas
e Negócios (CGSIM), que tem o objetivo de tratar do processo de registro e de legalização de empresários
e de pessoas jurídicas, sendo este vinculado à Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da
República, composto, na forma definida pelo Poder Executivo, por representantes da União, dos estados e
do Distrito Federal, dos municípios e demais órgãos de apoio e de registro empresarial.

5.3 Sociedade cooperativa

A sociedade cooperativa está regulada na Lei nº 5.764/71, que define a Política Nacional de Cooperativismo e
instituiu o regime jurídico das cooperativas.
A cooperativa pode ser conceituada como sendo uma associação de pessoas organizada para a prestação de
serviços sem fins lucrativos. Para Coelho (2011, p. 38):
As cooperativas, normalmente, dedicam-se às mesmas atividades dos empresários e costumam
atender aos requisitos legais de caracterização destes (profissionalismo, atividade econômica organi-
zada e produção ou circulação de bens ou serviços), mas, por expressa disposição do legislador, que data
de 1971, não se submetem ao regime jurídico-empresarial. Quer dizer, não estão sujeitas à falência
e não podem requerer a recuperação judicial. Sua disciplina legal específica encontra-se na Lei n.
5.764/71 e nos arts. 1.093 a 1.096 do CC, e seu estudo cabe ao Direito Civil. (grifo do autor).
A sociedade cooperativa deve adotar denominação como espécie de nome empresarial (art. 1.155, § único, do
CC), sendo obrigatória a expressão “Cooperativa”. Ademais, os atos constitutivos devem ser arquivados na Junta
Comercial do estado, por força do art. 18 da Lei nº 5.764/71.

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Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

Importa entender que nesse tipo societário o ingresso é livre para todos os que desejam prestar os serviços ofe-
recidos pela cooperativa, desde que preencham as condições no estatuto constitutivo da sociedade.
Além disso, a sociedade cooperativa possui características que lhe são peculiares e que são autoexplicativas,
conforme previsão do artigo 1.094, do Código Civil, vejamos:
Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa: I – variabilidade, ou dispensa do capi-
tal social; II – concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da
sociedade, sem limitação de número máximo; III – limitação do valor da soma de quotas do capi-
tal social que cada sócio poderá tomar; IV – intransferibilidade das quotas do capital a terceiros
estranhos à sociedade, ainda que por herança; V – quorum, para a assembléia geral funcionar e
deliberar, fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no capital social representado;
VI – direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qual-
quer que seja o valor de sua participação; VII – distribuição dos resultados, proporcionalmente
ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser atribuído juro fixo ao
capital realizado; VIII – indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de
dissolução da sociedade. (BRASIL, 2002).

O artigo 982, do Código Civil, em seu parágrafo único informa que: “Independentemente de
seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa empre-
sária” (BRASIL, 2002).

Dessa maneira, observa-se que esse tipo societário possui peculiaridades que o distinguem dos demais tipos
societários, realizando atividades comerciais sem fins lucrativos em prol do interesse comum da sociedade.
A cooperativa pode exercer qualquer tipo de atividade comercial, sendo que as principais são de: (i) crédito, (ii)
consumo, (iii) produção, (iv) habitação e (v) trabalho. Nesse sentido, as cooperativas de crédito são, em sen-
tido amplo, associações que visam a eliminar o intermediário, obtendo para seus sócios as vantagens do auxílio
mútuo e de gestão direta.
No caso das cooperativas de consumo, o objetivo é afastar a figura do intermediário, de modo a conseguir melho-
res condições na aquisição de bens e serviços essenciais. As de produção, por seu turno, fazem a intermediação
entre o produtor e o consumidor. Nos casos da cooperativa de habitação, seu objetivo e propiciar melhores con-
dições para a solução de moradia de seus associados. Por fim, nas cooperativas de ensino, propicia-se um ensino
de qualidade aos seus associados, enquanto na cooperativa de trabalho busca-se aprimorar as condições eco-
nômicas de seus cooperados.

5.4. Sociedade advocatícia

Para encerrarmos a presente unidade de estudo, veremos um pouco sobre o que vem a ser uma sociedade advo-
catícia e algumas de suas peculiaridades.

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Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

Em síntese, advogados inscritos na OAB poderão reunir-se para colaboração profissional, visando à soma de
esforços e conhecimentos técnicos em sociedade de prestação de serviços de advocacia, sendo esta regida por
legislação especial, qual seja, a Lei nº 8.906/94, pelo Regulamento da advocacia, bem como Provimentos nº
112/2006 e 169/2015, do Conselho Federal da OAB, o que faz com que as regras inerentes à sociedade empre-
sária não se apliquem às sociedades de advogados.

Figura 5.3 – Sociedade advocatícia

Legenda: Sociedade advocatícia.


Fonte: 41650844 (123RF)

Com a alteração do Estatuto da Advocacia pela Lei nº 13.247/16, passou-se a admitir que advogados constituam
sociedade unipessoal de única pessoa, com as mesmas exigências disciplinadas pela sociedade de advogados
já disciplinadas pelo Estatuto, Regulamento da Advocacia, Código de Ética e Disciplina da OAB, e Provimento e
Resoluções do Conselho Federal da OAB.
O artigo 15, da Lei nº 8.906/94, Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil, estabelece que “[...]
os advogados podem reunir-se em sociedade civil de prestação de serviço de advocacia, na forma disciplinada
nesta lei e no regulamento geral” (BRASIL, 1994). Nesse contexto, a sociedade de advogados visa a facilitar os
advogados quanto às questões financeiras e administrativas do escritório, facilitando o exercício da advocacia.
É importante mencionar que a sociedade de advogados somente poderá ser constituída por pessoas habilitadas
para o exercício da advocacia (advogado), autorizada a participação de advogados estrangeiros como consul-
tores estrangeiros. Deve, ainda, estar presente o affectio societatis (vontade de constituir sociedade) e o intuitu
personae (prestação dos serviços de forma personalíssima).
O objetivo da sociedade de advogados é a prestação exclusiva de serviços advocatícios, sendo vedada a cumula-
ção de outras atividades comercias, conforme o artigo 16, da Lei nº 8.906/94, vejamos:
Art. 16 Não são admitidas a registro nem podem funcionar todas as espécies de sociedades de
advogados que apresentem forma ou características de sociedade empresária, que adotem deno-
minação de fantasia, que realizem atividades estranhas à advocacia, que incluam como sócio ou
titular de sociedade unipessoal de advocacia pessoa não inscrita como advogado ou totalmente
proibida de advogar. (BRASIL, 1994).

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Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

Outro ponto importante é o de que a denominação da sociedade deve ser obrigatoriamente formada pelo nome
do seu titular, completo ou parcial, com a expressão “Sociedade Individual de Advocacia”.
Ainda, o Estatuto estabelece que, com relação à responsabilidade, o titular da sociedade individual de advocacia
responde subsidiária e ilimitadamente pelos danos causados no exercício da profissão.

O Provimento nº 112/2006 revogou o Provimento nº 92/2000, ambos do Conselho Federal


da OAB, e regra a constituição e regularidade das sociedades de advogados. Para mais infor-
mações, acesse: <http://www.oab.org.br/leisnormas/legislacao/provimentos>.

Não podemos deixar de mencionar que, como já estudado, diferentemente das demais, as sociedades de advo-
gados e a sociedade unipessoal de advocacia serão registradas quando o registro dos seus atos constitutivos for
aprovado no Conselho Seccional da OAB em cuja base territorial tiver sede (§ 1º, do art. 15, da Lei nº 8.906/94).
Para tanto, deve-se realizar o pagamento da contribuição equivalente ao número de sócios e da taxa de registro.
Após o procedimento administrativo para a aprovação de seu contrato social, que pode ser celebrado por ins-
trumento público ou particular, a sociedade advocatícia adquire personalidade jurídica, sendo necessária uma
prévia deliberação do próprio Conselho Seccional da OAB ou de órgão a que delegar essas atribuições, na forma
do respectivo Regimento Interno.
Outro ponto que merece destaque é o fato de que nenhum advogado pode integrar mais de uma sociedade de
advogados, com sede ou filial na mesma área territorial do respectivo Conselho Seccional.
Outrossim, com o objetivo de incentivar a colaboração entre os escritórios, os ajustes entre as sociedades de
advogados visam a suprir determinada especialização, devendo esta ser também averbada na Seccional da OAB
à margem do registro da sociedade.
Ademais, não podem funcionar as sociedades que adotem denominação de fantasia, que realizem atividades
estranhas à advocacia, bem como não são admitidas a registro as que apresentem forma ou características mer-
cantis, ou incluam sócio não inscrito como advogado ou totalmente proibido de advogar.
Pode-se ainda especificar no contrato social o ramo de direito que a sociedade se dedicará, sendo vedado o registro
de sociedades em que não conste que o objeto único é a prestação de serviços de advocacia. Para maior compre-
ensão do tema, transcreveremos o artigo 2º, do Provimento nº 112/2006, do Conselho Federal da OAB, vejamos:
Art. 2º O Contrato Social deve conter os elementos e atender aos requisitos e diretrizes indicados a
seguir: I - a razão social, constituída pelo nome completo, nome social ou patronímico, dos sócios
ou, pelo menos, de um deles, responsáveis pela administração, assim como a previsão de sua alte-
ração ou manutenção, por falecimento de sócio que lhe tenha dado o nome, observado, ainda, o
disposto no parágrafo único deste artigo; (NR. Ver Provimento n. 172/2016), II - o objeto social, que
consistirá, exclusivamente, no exercício da advocacia, podendo especificar o ramo do direito a que a
sociedade se dedicará; III - o prazo de duração; IV - o endereço em que irá atuar; V - o valor do capi-
tal social, sua subscrição por todos os sócios, com a especificação da participação de cada qual, e a
forma de sua integralização; VI - o critério de distribuição dos resultados e dos prejuízos verificados
nos períodos que indicar; VII - a forma de cálculo e o modo de pagamento dos haveres e de eventu-

90
Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

ais honorários pendentes, devidos ao sócio falecido, assim como ao que se retirar da sociedade ou
que dela for excluído; VIII - a possibilidade, ou não, de o sócio exercer a advocacia autonomamente e
de auferir, ou não, os respectivos honorários como receita pessoal; IX - é permitido o uso do símbolo
“&”, como conjuntivo dos nomes ou nomes sociais de sócios que constarem da denominação social;
(NR. Ver Provimento n. 172/2016) X - não são admitidas a registro, nem podem funcionar, Socie-
dades de Advogados que revistam a forma de sociedade empresária ou cooperativa, ou qualquer
outra modalidade de cunho mercantil; XI - é imprescindível a adoção de cláusula com a previsão
expressa de que, além da sociedade, o sócio ou associado responderá subsidiária e ilimitadamente
pelos danos causados aos clientes, por ação ou omissão, no exercício da advocacia; (NR. Ver Provi-
mento n. 147/2012) XII - será admitida cláusula de mediação, conciliação e arbitragem, inclusive
com a indicação do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB; XIII - não se admitirá o registro e arquiva-
mento de Contrato Social, e de suas alterações, com cláusulas que suprimam o direito de voto de
qualquer dos sócios, podendo, entretanto, estabelecer quotas de serviço ou quotas com direitos
diferenciados, vedado o fracionamento de quotas; XIV - (Revogado). (Ver Provimento n. 169/2015).
XV - é permitida a constituição de Sociedades de Advogados entre cônjuges, qualquer que seja o
regime de bens, desde que ambos sejam advogados regularmente inscritos no Conselho Seccional
da OAB em que se deva promover o registro e arquivamento; XVI - o Contrato Social pode deter-
minar a apresentação de balanços mensais, com a efetiva distribuição dos resultados aos sócios a
cada mês; XVII - as alterações do Contrato Social podem ser decididas por maioria do capital social,
salvo se o Contrato Social determinar a necessidade de quorum especial para deliberação; XVIII - o
Contrato Social pode prever a cessão total ou parcial de quotas, desde que se opere por intermédio
de alteração aprovada pela maioria do capital social. 1º Da razão social não poderá constar sigla ou
expressão de fantasia ou das características mercantis, devendo vir acompanhada de expressão que
indique tratar-se de Sociedade de Advogados, vedada a referência a “Sociedade Civil” ou “S.C.”; (NR.
Ver Provimento n. 147/2012) § 2º As obrigações não oriundas de danos causados aos clientes, por
ação ou omissão, no exercício da advocacia, devem receber tratamento previsto no art. 1.023 do
Código Civil. (NR. Ver Provimento n. 147/2012). (OAB, 2006).
Ademais, no caso da sociedade de advogados, exige-se o controle das atividades da sociedade por documentos
idôneos, tais como livros contábeis, com o objetivo de conferir eficácia perante terceiros e que serão arquivados
no Conselho Seccional da OAB, nos termos do artigo 9º, do Provimento nº 112/2006, do Conselho Federal da
OAB, abaixo transcrito:
Art. 9º Os documentos e livros contábeis que venham a ser adotados pela Sociedade de Advoga-
dos, para conferir, em face de terceiros, eficácia ao respectivo conteúdo ou aos lançamentos neles
realizados, podem ser registrados e autenticados no Conselho Seccional competente. Parágrafo
único. Os Conselhos Seccionais devem manter o controle dos registros de que trata este artigo
mediante numeração sucessiva, conjugada ao número do registro de constituição da sociedade,
anotando-os nos respectivos requerimentos de registro, averbados na forma do art. 8º, caput,
inciso V. (OAB, 2006).
Por fim, mas não menos importante, a sociedade de advogados é responsável pelas obrigações que resultem do
exercício de sua atividade comercial. Importa mencionar que na hipótese da ocorrência de danos aos clientes,
por ação ou omissão, a sociedade de advogados, o sócio e o titular da sociedade individual respondem de forma
subsidiária e ilimitada, conforme rege o disposto no artigo 17 da Lei nº 8.906/94, vejamos:
Art. 17. Além da sociedade, o sócio e o titular da sociedade individual de advocacia respondem sub-
sidiária e ilimitadamente pelos danos causados aos clientes por ação ou omissão no exercício da
advocacia, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar em que possam incorrer. (BRASIL, 1994).
Assim, na atividade comercial da sociedade de advogados que gere danos ao cliente, responderá por esses danos
a sociedade e os próprios profissionais que atuam na sociedade, sendo assegurado o direito de regresso da socie-
dade em face do agente causador do dano.

91
Considerações finais
Nesta unidade estudamos o conceito de algumas sociedades empresa-
riais sui generes, dentre elas a sociedade unipessoal, que pode ser sub-
dividida em (i) subsidiária integral e (ii) Empresa Individual de Respon-
sabilidade Limitada (EIRELI). Vimos ainda as características inerentes à
Microempresa e à Empresa de Pequeno Porte, bem como o regime do
SIMPLES Nacional que estas podem adotar.
Posteriormente, compreendemos o conceito e as peculiaridades da
sociedade cooperativa e sua representatividade para a sociedade, e finali-
zamos estudando a sociedade advocatícia, momento em que abordamos
sua natureza, característica e funcionalidade
Convido você, para melhor compreensão do tema, a responder as ques-
tões desta unidade no caderno de perguntas.

92
Referências bibliográficas
BRASIL. Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política
Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades
cooperativas, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5764.htm>. Acesso em: 9 jun. 2017.

______. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as


Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 9 jun. 2017.

______. Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto


da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8906.htm>. Acesso em: 9
jun. /2017.

______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.
htm>. Acesso em: 9 jun. 2017.

______. Lei nº 12.441, de 11 de julho de 2011. Altera a Lei nº 10.406,


de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para permitir a constituição de
empresa individual de responsabilidade limitada. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12441.htm>.
Acesso em: 9 jun. 2017.

______. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui


o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte;
altera dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de
1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-
-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro
de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga
as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro
de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/
Lcp123.htm>. Acesso em: 9 jun. 2017.

93
Direito | Unidade 5 - Das sociedades empresariais especiais

COELHO, F. U. Manual de direito comercial: direito de empresa. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

______. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 1.

CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Provimento nº 112, de 10 de setembro de


2006. Dispõe sobre as sociedades de advogados. Disponível em: <http://www.oab.org.br/leisnormas/legislacao/
provimentos/112-2006/>. Acesso em: 28 jun. 2017.

NEGRÃO, R. Direito empresarial: estudo unificado. 5. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2014.

94
Direito
Unidade 6
Da administração da sociedade

Para iniciar seus estudos


6
Olá, seja bem-vindo ao estudo da Unidade 6 “Da administração da socie-
dade”. Nesta unidade cuidaremos de estudar a administração: Conselho
Fiscal e deliberações dos sócios, assim recordaremos a administração de
cada tipo societário para em seguida vermos o conselho fiscal e delibera-
ções dos sócios, logo estudarmos os institutos da transformação, incor-
poração, fusão e cisão de sociedades, bem como o consórcio de empresas
e os grupos societários. Assim, fique atento e bons estudos.

Objetivos de Aprendizagem

• Da administração: conselho fiscal e deliberações dos sócios. Dos


institutos: Transformação, Incorporação, Fusão e Cisão de socie-
dades. Consórcio de empresas. 6.4 Grupos societários.

97
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

6.1 Da administração: conselho fiscal e deliberações dos sócios


A administração é órgão da sociedade pelo qual se assume as obrigações e se exerce seus direitos (art. 1.022 do
Código Civil), ou seja, executa as decisões tomadas pela sociedade (em razão das deliberações dos sócios), com-
preendendo a gestão das operações da atividade econômica e a representação da sociedade perante terceiros.
Somente pessoa natural (física) pode ser administrador (art. 997 - VI, do Código Civil).
O contrato social ou estatuto social é o instrumento que deve ser escrito podendo ser publico ou privado utilizado
para constituição da sociedade empresária, e por meio dela os sócios assumem direitos e obrigações. Neste sen-
tido os atos realizados pelos administradores da sociedade empresária em realidade em razão do contrato social
são atos da sociedade - administração societária. Além disso o contrato social, além de cláusulas estipuladas
pelas partes deverá mencionar, nos termos do artigo 997 do Código Civil, tais requisitos: I - nome, nacionalidade,
estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade
e sede dos sócios, se jurídicas; II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; III - capital da sociedade,
expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuni-
ária; IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; V - as prestações a que se obriga o sócio,
cuja contribuição consista em serviços; VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e
seus poderes e atribuições; VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII - se os sócios respon-
dem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
Como já sabemos, a sociedade pode ser administrada pelo próprio sócio, por vários (administração simultânea ou a
conjunta), por prepostos, por um administrador não sócio ou outros designados como administradores que ao assu-
mirem as obrigações e direitos da sociedade poderão ou não representá-la perante terceiros e judicialmente (artigos
1.010 c/c 1.022 do C.C.), pois para isso dependerá do tipo social adotado pela sociedade (artigo 1.013 do C.C.).
Recordemos pelo quadro a seguir como se dá a administração nas sociedades estudadas na Unidade 4.

Figura: 6.1 - Quadro societário

Sociedade Sócios Administração Responsabilidade Artigos


S/A Acionistas Conselho de Individual e limitado ao Art. 1.088 e
Administração e a valor de emissão das 1.089 do C.C. e
(nome: diretoria ou somente ações que subscrever ou
Denominação. a diretoria adquirir de outrem, uma Lei 6404/76
Contudo, é vez integralizado não há
possível inserir Obs: O Conselho que se falar em cobrança
no nome de Administração de responsabilidades
empresarial nas Sociedades sociais dos acionistas. A
o nome de Anônimas de administração pode ser
pessoas naturais, capital fechado é feita por sócio ou terceiro.
por exemplo, facultativo, todavia,
para fins de nas de capital aberto
homenagem. ) e capital autorizado
este órgão é
obrigatório.

98
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

LTDA Cotistas Por sócios ou não Solidária e limitada, a Arts. 1.052


sócios responsabilidade e é -1.087 do C.C
(nome: firma ou restrita ao valor de suas
denominação) quotas, mas todos
respondem solidariamente
pela integralização total do
capital.
É administrada por uma ou
mais pessoas designadas
no contrato social ou em
ato separado.
Comandita por Acionistas Exclusivo por Solidária e ilimitada para os Arts. 1.090-
Ações acionista que atua diretores e limitada para os 1.092 do C.C e
como diretor. acionistas.
(nome: firma ou Lei 6404/76
denominação)
Comandita Comanditados e Exclusivo dos sócios Solidária e ilimitada para Arts. 1.045
Simples comanditários. comanditados. os comanditados -exerce -1.051 do C.C.
a função de administrador.
(nome: firma) Já os comanditários têm
responsabilidade individual
e limitada.
Na comandita simples
aplica-se a subsidiariedade
do benefício de ordem.
Sociedade em Comuns Exclusivo dos sócios Solidária e limitada; Arts. 1.039-
nome coletivo responsabilidade 1.044 do C.C.
subsidiária de ordem em
(nome: firma) que todos os sócios podem
administrar. Terceiros
estranhos à sociedade não
podem administrar.

Legenda: Quadro societário


Fonte: Do autor..

O Conselho Fiscal é um órgão independente de fiscalização dos atos e negócios sociais da administração especi-
ficamente em relação às contas e à legalidade e regularidade dos atos de gestão. É um órgão facultativo, pois está
a critério da companhia seu funcionamento permanente. Além disso, caso seja constituído, a função desempe-
nhada pelo Conselho Fiscal é indelegável. Como sua natureza é de fiscalização os membros da administração não
podem participar do Conselho Fiscal que será composto por membros próprios.
Importante destacar que em sociedades não empresárias como é caso da sociedade simples em consequência
do affectio societatis, nada dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios. Além disso,
Salvo estipulação que determine época própria, conforme preve a norma legal,  o sócio pode, a qualquer tempo, 
examinar os livros e documentos, e o estado da caixa e da carteira da sociedade (arts. 1.013 c/c 1.021 do C.C).
Assim vejamos como se dá a administração da sociedade limitada (LTDA) e na sociedade anônima (S/A).

99
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

1 - Sociedade Limitada – Nessa sociedade o Conselho Fiscal deve ser composto de três ou mais membros e respec-
tivos suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos na assembleia anual (Art. 1.066 do C.C). Ressalte-se que é
assegurado aos sócios minoritários, que representarem pelo menos um quinto do capital social, o direito de eleger,
separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente (§ 2o do Art. 1.066  do C.C.). Convém
ressaltar caso o membro ou suplente eleito não assine o termo de posse em 30 dias seguintes ao da eleição esta se
tornará sem efeito (vide caput e parágrafo único do art. 1.067 do C.C.). E com relação à remuneração dos membros do
Conselho Fiscal esta será fixada, anualmente, pela assembleia dos sócios que os eleger (Art. 1.068 do C.C.). O conselho
fiscal caso deseje poderá escolher contabilista legalmente habilitado para assisti-lo no exame dos livros, dos balanços
e das contas, destacando que tal função seria remunerada (parágrafo único do art. 1.070, do C.C.).
Além disso, é importante destacar que estão impedidos de ocupar o cargo de conselheiro fiscal:
• Os inelegíveis, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela controlada, os empre-
gados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro
grau, e além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que tem-
porariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno,
concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as nor-
mas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto
perdurarem os efeitos da condenação (§ 1o  do art. 1.066 e § 1o do art. 1.011 ambos do C.C.).
E quanto às atribuições além das previstas na lei ou no contrato social, os membros do conselho fiscal individual
ou conjuntamente terão a responsabilidade de:
• Examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira,
devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas; lavrar no livro de atas e
pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I deste artigo; exarar no mesmo livro
e apresentar à assembleia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as operações sociais do exercício
em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico; denunciar os erros,
fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade; convocar a assembleia dos
sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram moti-
vos graves e urgentes; praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este
artigo, tendo em vista as disposições especiais reguladoras da liquidação (Art. 1.069, incisos I ao VI do C.C.).
2 - Sociedades por Ações – nesse tipo societário somente pessoas naturais, residentes no País, diplomadas em
curso de nível universitário, ou que tenham exercido por prazo mínimo de 3 (três) anos, cargo de administrador de
empresa ou de conselheiro fiscal (Art. 162 da LSA) podem ser eleitos para o Conselho Fiscal, assim subentende-
-se que estrangeiro desde que cumprindo tais requisitos também poderia ser membro do Conselho Fiscal. Mas,
é importante destacar, caso na localidade da sociedade por ações não haja pessoas habilitadas, em número sufi-
ciente para o exercício da função, poderá o juiz dispensar tal requisito (§ 1º, art. 162 da LSA).

Segundo a Lei S/A o conselho será composto de, no mínimo, três e, no máximo, cinco mem-
bros, e suplentes em igual número, acionistas ou não, eleitos pela assembleia-geral. Res-
salte-se que a função é indelegável.

100
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

Caso o Conselho Fiscal não funcione de modo permanente, será instalado pela Assembleia-Geral a pedido de
acionistas que representem, no mínimo, um décimo das ações com direito a voto, ou cinco por cento das ações
sem direito a voto, terminando cada período de seu funcionamento na primeira Assembleia-Geral ordinária após
a sua instalação (§ 1º e § 2º, art. 161 da LSA). Podemos perceber que competirá aos acionistas decidir se o fun-
cionamento do Conselho será ou não permanente, podendo fazer o pedido de funcionamento feito em qualquer
Assembleia Geral da sociedade, além de ser um órgão colegiado, ou seja, decide por maioria.
Assim como o Código Civil prevê a remuneração dos membros que compõe o Conselho fiscal de uma LTDA, a Lei S/A
em seu § 3º do art. 162 determina que a remuneração dos membros do conselho fiscal, além do reembolso, obri-
gatório, das despesas de locomoção e estada necessárias ao desempenho da função, será fixada pela assembleia-
-geral que os eleger, e não poderá ser inferior, para cada membro em exercício, a dez por cento da que, em média,
for atribuída a cada diretor, não computados benefícios, verbas de representação e participação nos lucros.
E estão impedidos de serem membros do Conselho:
• Os membros de órgãos de administração e empregados da companhia ou de sociedade controlada ou do
mesmo grupo, e o cônjuge ou parente, até terceiro grau, de administrador da companhia e as pessoas impe-
didas por lei especial, ou condenadas por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão,
peculato, contra a economia popular, a fé pública ou a propriedade, ou a pena criminal que vede, ainda que
temporariamente, o acesso a cargos públicos. E, no caso da companhia aberta, as pessoas declaradas inabi-
litadas por ato da Comissão de Valores Mobiliários (§ 2º do art. 162 e §1º e § 2º do art. 147 ambos da Lei S/A).
Segundo a Lei 6.404/76 os membros do conselho fiscal têm os mesmos deveres dos administradores de que
tratam os arts. 153 a 156 e respondem pelos danos resultantes de omissão no cumprimento de seus deveres e
de atos praticados com culpa ou dolo, ou com violação da lei ou do estatuto. Destacamos ainda que os membros
do conselho fiscal da companhia aberta deverão informar imediatamente as modificações em suas posições
acionárias na companhia à Comissão de Valores Mobiliários e às Bolsas de Valores ou entidades do mercado de
balcão organizado nas quais os valores mobiliários de emissão da companhia estejam admitidos à negociação,
nas condições e na forma determinadas pela Comissão de Valores Mobiliários (art. 165 e 165 A da Lei S/A). E em
seu artigo 163 a Lei 6.404/76 arrolou as competências que terá o Conselho Fiscal, quais são:
• Fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e verificar o cumprimento dos seus
deveres legais e estatutários; opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu
parecer as informações complementares que julgar necessárias ou úteis à deliberação da assembleia-
-geral; opinar sobre as propostas dos órgãos da administração, a serem submetidas à assembleia-geral,
relativas à modificação do capital social, emissão de debêntures ou bônus de subscrição, planos de inves-
timento ou orçamentos de capital, distribuição de dividendos, transformação, incorporação, fusão ou
cisão; denunciar, por qualquer de seus membros, aos órgãos de administração e, se estes não tomarem
as providências necessárias para a proteção dos interesses da companhia, à assembleia-geral, os erros,
fraudes ou crimes que descobrirem, e sugerir providências úteis à companhia; convocar a assembleia-
-geral ordinária, se os órgãos da administração retardarem por mais de 1 (um) mês essa convocação, e a
extraordinária, sempre que ocorrerem motivos graves ou urgentes, incluindo na agenda das assembleias
as matérias que considerarem necessárias; analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais
demonstrações financeiras elaboradas periodicamente pela companhia; examinar as demonstrações
financeiras do exercício social e sobre elas opinar; exercer essas atribuições, durante a liquidação, tendo
em vista as disposições especiais que a regulam.

101
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

Glossário

Deliberação é ato de solucionar, resolver, tomar decisões.

Vejamos como se dá as deliberações na sociedade limitada e nas sociedades por ações, analisemo-las:
Na sociedade limitada conforme previsto no contrato social, as deliberações serão tomadas em reunião ou
em assembleia, que será obrigatória se o número dos sócios for superior a dez competindo aos administradores
sua convocação nos casos previstos em lei ou no contrato. Contudo, a reunião ou a assembleia será dispensada
quando todos os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que seria objeto da convocação.
Mandato com especificação dos atos autorizados devidamente registrados e juntados em ata, conforme prevê o
§ 1o do artigo 1.074 do Código Civil é o instrumento utilizado para que o sócio seja representando por outro sócio
ou advogado na assembleia. Um detalhe importante é que em caso de modificação do contrato, fusão da socie-
dade, incorporação de outra, ou dela por outra, terá o sócio que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos
trinta dias subsequentes à reunião, e em caso de silêncio do contrato social seguirá os trâmites legais, conforme
determina o artigo Art. 1.077 do Código Civil.
De acordo com o artigo 1.078 do Código Civil a realização da assembleia dos sócios deverá ocorrer ao menos
uma vez por ano. E quanto à proposta para aumento do capital terá os sócios preferência para participar do
aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares até trinta dias após a deliberação.
E, a sociedade limitada depende da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no con-
trato (art. 1.071 do C.C.):

Figura: 6.2 - Deliberação dos sócios LTDA

I - a aprovação das II - a designação dos III - a destituição dos


contas da administração; administradores, quando administradores;
feita em ato separado;

IV - o modo de sua VI - a incorporação, a


remuneração, quando V - a modificação do fusão e a dissolução da
não estabelecido no contrato social; sociedade, ou a cessação
contrato; do estado de liquidação;

VII - a nomeação e
VIII - o pedido de concordata (Obs. C.C2002 - a Lei posterior
destituição dos liquidan-
(11.101/05) aboliu o instituto da concordata, substituindo-o
tes e o julgamento das
pelo instituto da recuperação)
suas contas;

Legenda: deliberação dos sócios LTDA


Fonte: Artigo 1.071, incisos I ao VIII do C.C.de 2002

102
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

Já nas sociedades por ações segundo o artigo 166, incisos e parágrafos, o capital social da empresa será aumen-
tado por deliberação da assembleia-geral ordinária, para correção da expressão monetária do seu valor, por deli-
beração da assembleia-geral ou do conselho de administração, observado o que a respeito dispuser o estatuto,
nos casos de emissão de ações dentro do limite autorizado no estatuto, por deliberação da assembleia-geral
extraordinária convocada para decidir sobre reforma do estatuto social, no caso de inexistir autorização de
aumento, ou de estar a mesma esgotada.  
Além disso, a assembleia-geral poderá deliberar a redução do capital social se houver perda, até o montante dos
prejuízos acumulados, ou se julgá-lo excessivo (art. 173, incisos e parágrafos da Lei n. 6044/1976). E em caso
de proposta de redução do capital social, quando de iniciativa dos administradores, não poderá ser submetida à
deliberação da assembleia-geral sem o parecer do conselho fiscal. Destaque-se que uma das competências do
Conselho fiscal é fazer constar do seu parecer as informações complementares que julgar necessárias ou úteis à
deliberação da assembleia-geral (art. 163, inciso II da Lei n. 6044/1976).
Na sociedade em comandita por ações § 2o art. 1090 C.C os diretores somente poderão ser destituídos por deli-
beração de acionistas que representem no mínimo dois terços do capital social.

6.2. Dos institutos: Transformação, Incorporação, Fusão e


Cisão de sociedades
Como sabemos o mundo vive em um processo de profunda mutação principalmente no campo empresarial que
atravessa fases de aumento e diminuição de capital e inclusive criação e destituição da sociedade empresária
seja em razão de amargar incontáveis dívidas que possa ter, seja por ampliação dos negócios, por compartilhar
direitos e obrigações ou por simples expansão estratégica comercial.
Considerando esses e outros fatores, os principais mecanismos estratégicos comerciais adotados pelas empresas
são: da transformação, incorporação, fusão ou cisão societária.
Para o doutrinador Gladston Mamede (2016, p. 140), o correto seria “chamar o conjunto das operações de meta-
morfose societária, listando suas quatro espécies: transformação (ou mudança de tipo societário), incorporação,
fusão e cisão”.
Ainda para Gladston Mamede (2016, p. 140), a transformação em “sentido largo é a metamorfose societária, isto
é, qualquer alteração na infraestrutura jurídica da sociedade e em sentido estrito é (ou mudança de tipo societá-
rio) mudança do tipo societário, incorporação, fusão e cisão”.
Para facilitar sua compreensão sobre tais institutos observe o esquema a seguir:

103
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

Figura: 6.3 - Transformação

TRANSFORMAÇÃO
"Operação pela qual a sociedade passa, independentemente de
dissolução e liquidação, de um tipo para outro" (Art. 220 da Lei S/A).
"O ato de transformação independe de dissolução ou liquidação da
sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da constituição e
inscrição próprios do tipo em que vai converter-se" (Art. 1.113. do C.C.).

Exige o Não prejudica A falência da Admite


consentimen- os direitos dos sociedade renúncia ao
to unânime credores, que transformada direito de
dos sócios ou continuarão, somente retirada.
acionistas, até o paga- produz efeitos
salvo se mento integral em relação aos
prevista no dos seus sócios que, no
estatuto ou no créditos, com tipo anterior, a
contrato as mesmas eles estariam
social, caso garantias que sujeitos, se o
em que o o tipo anterior pedirem os
dissidente de sociedade titulares de
poderá lhes oferecia. créditos
retirar-se da anteriores à
sociedade. transforma-
ção, e somen-
te a estes
beneficiará.

Legenda: Transformação
Fonte: Código Civil e Lei n. 6.044/1976

Exemplo de transformação: Universidade X em formato de sociedade limitada, a fim de ampliar seus negócios
passa a vender vídeo-aulas em formato EAD, e devido ao amplo alcance que teve com a comercialização das
aulas on-line e buscando expandir-se ainda mais e obter recursos na bolsa de valores transforma-se em socie-
dade anônima.

104
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

Figura 6.4 - Incorporação

INCORPORAÇÃO
"É a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por
outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações"
(Art. 227 da Lei S/A).
"Na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas por outra,
que lhes sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas
aprová-la, na forma estabelecida para os respectivos tipos"
(Art. 1.116 do C.C.).

A deliberação Se a A.G. A incorporada, Aprovado o


dos sócios da aprovar o se aprovar o laudo de
sociedade protocolo da protocolo da avaliação e a
incorporada operação operação, incorporação,
deverá aprovar autorizará o autorizará extingue-se a
as bases da aumento de seus adminis- incorporada,
operação e o capital a ser tradores a competindo à
projeto de subscrito e praticarem os primeira
reforma do ato realizado pela atos necessá- promover o
constitutivo. incorporada rios à incorpo- arquivamento
mediante ração, inclusi- e a publicação
versão do seu ve a subscri- dos atos da
patrimônio ção do incorporação.
líquido, e aumento de
nomeará capital da
peritos para incorporadora.
avaliação.

Legenda: Incorporação
Fonte: Código Civil e Lei n. 6.044/1976

Bradesco confirma aprovação da incorporação do HSBC, veja sobre isso no link: <http://
exame.abril.com.br/negocios/bradesco-confirma-aprovacao-da-incorporacao-do-hsbc/>.
Acesso em: 2017.

105
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

Figura: 6.5 - Fusão

FUSÃO
"É a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar
sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações"
(Art. 228 da Lei. S/A).
"A fusão determina a extinção das sociedades que se unem, para
formar sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos e obrigações"
(Art. 1.119 do C.C.).

Se a A.G. Deliberação Criada nova A fusão será


aprovar o em A.G. sobre companhia, os decidida, na
protocolo de a constituição primeiros forma estabe-
fusão nomea- definitiva da administrado- lecida para os
çao de peritos nova socieda- res deverão respectivos
para avaliar os de, vedado aos arquivar e tipos, pelas
patrimônios sócios ou publicar os sociedades
líquidos das acionistas atos da fusão. que preten-
demais votar o laudo dam unir-se.
sociedades. de avaliação
do patrimônio
líquido da
sociedade de
que fazem
parte.

Legenda: Fusão
Fonte: Código Civil e Lei n. 6.044/1976

Ex.: A BRF Brasil, uma das maiores empresas alimentícias do mundo, é resultado da fusão da Sadia e da Perdigão.
Somente sociedades empresárias estão sujeitas a fusão ou também é possível a fusão, por exemplo, de partidos
políticos? Veja o aprofundamento do tema.

106
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

Figura: 6.6 - Cisão

CISÃO
"É a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimô-
nio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já
existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de
todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão"
(Art. 229 da Lei S/A).

A sociedade A cisão com Efetivada a As ações


que absorver versão de cisão com integralizadas
parcela do parcela de extinção da com parcelas
patrimônio da patrimônio em companhia de patrimônio
companhia sociedade já cindida, da companhia
cindida sucede existente caberá aos cindida serão
a esta nos obedecerá às administrado- atribuídas a
direitos e disposições res das seus titulares,
obrigações sobre incorpo- sociedades em substitui-
relacionados ração. Nesse que tiverem ção às extin-
no ato da tipo de cisão absorvido tas, na
cisão. Admite cabe aos parcelas do proporção das
cisão com administrado- seu patrimô- que possuíam;
extinção e res da compa- nio promover a atribuição
cisão com nhia cindida e o arquivamen- em proporção
versão de da que to e publica- diferente
parcela do absorver ção dos atos requer
patrimônio. parcela do seu da operação. aprovação de
patrimônio todos os
arquivar e titulares,
publicar os inclusive das
atos da ações sem
operação. direito a voto.

Legenda: Cisão
Fonte: Código Civil e Lei n. 6.044/1976

No que diz respeito às operações de incorporação, fusão e cisão, a doutrina entende que a compreensão de tais
contratos denomina concentração e desconcentração de empresas quais somente poderão ser efetivadas nas con-
dições aprovadas se os peritos nomeados determinarem que o valor do patrimônio ou patrimônios líquidos a serem
vertidos para a formação de capital social é, ao menos, igual ao montante do capital a realizar (art. 226 da Lei S/A).

Segundo o Código Civil, art. 1.122, até noventa dias depois de publicados os atos relativos à
incorporação, fusão ou cisão, o credor anterior, por ela prejudicado, poderá promover judi-
cialmente a anulação deles.

107
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

6.3 Consórcio
Para Rubens Requião (2013, p. 526) consórcio “é o contrato entre duas ou mais sociedades, sob o mesmo con-
trole ou não, para executar determinado empreendimento. Sua constituição prescinde de estarem as sociedades
consorciadas sob o mesmo controle (de fato ou de direito)”.
A definição proposta pelo doutrinador corrobora o conceito de consórcio estabelecido pela Lei S/A e em seu
artigo 278 – “As companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou não, podem constituir
consórcio para executar determinado empreendimento”. Nesse sentido, a definição da Lei n. 11.795/2008 traz
em seu artigo Art. 2o que:
Consórcio é a reunião de pessoas naturais e jurídicas em grupo, com prazo de duração e número
de cotas previamente determinados, promovida por administradora de consórcio, com a finali-
dade de propiciar a seus integrantes, de forma isonômica, a aquisição de bens ou serviços, por
meio de autofinanciamento. 
E como se denomina as pessoas que compõem o consórcio? Chama-se consorciado, que é a pessoa natural ou
jurídica que integra o grupo e assume a obrigação de contribuir para o cumprimento integral de seus objetivos
(Lei n. 11.795/2008, art. 4º). 
Trata-se de um contrato estabelecido entre sociedades para fim específico, como por exemplo, o consórcio de
festa, ou de carros no qual há um administrador e consorciados que pagam mensalmente determinado valor
com a expectativa de serem sorteados e receberem o produto objeto do consórcio.
O consórcio, por não ter a finalidade de fazer nascer uma nova sociedade, é desprovido de personalidade jurí-
dica, em razão disso as consorciadas obrigam-se somente naquilo previsto no respectivo contrato, respondendo
assim cada consorciada por suas obrigações, sem presunção de solidariedade.
Caso na relação haja, por exemplo, três consorciadas, e uma das consorciadas venha a falir, os efeitos da falência
não alcançam as demais, subsistindo o consórcio com as outras contratantes, e como relação aos créditos que
porventura tiver a falida serão apurados e pagos na forma prevista no contrato de consórcio. Destaca-se que o
contrato de consórcio e suas alterações deverão ser arquivados no registro do comércio do lugar da sua sede e a
certidão do arquivamento ser publicada.
Segundo a Lei n. 6.404/1976, em seu art. 279, incisos I ao VIII, o consórcio será constituído mediante contrato
aprovado pelo órgão da sociedade competente para autorizar a alienação de bens do ativo não circulante, do
qual constarão: 

108
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

Figura: 6.7 - Requisitos

I - A designação do consórcio se houver;

II - O empreendimento que constitua o objeto do consórcio;

III - A duração, endereço e foro;

IV - A definição das obrigações e responsabilidade de cada sociedade


consorciada, e das prestações específicas;

V - Normas sobre recebimento de receitas e partilha de resultados;

VI - Normas sobre administração do consórcio, contabilização, repre-


sentação das sociedades consorciadas e taxa de administração, se
houver;

VII - Forma de deliberação sobre assuntos de interesse comum, com o


número de votos que cabe a cada consorciado;

VIII - Contribuição de cada consorciado para as despesas comuns,


se houver.

Legenda: Requisitos
Fonte: Lei n. 6.044/1976

E o que ocorre se o consorciado for excluído do consórcio e não tiver sido sorteado? Fará jus à restituição da
importância paga ao fundo comum do grupo, cujo valor deve ser calculado com base no percentual amortizado
do valor do bem ou serviço vigente na data da assembleia de contemplação, acrescido dos rendimentos da apli-
cação financeira a que estão sujeitos os recursos dos consorciados enquanto não utilizados pelo participante (Lei
n. 11.795/2008, Art. 30). O dinheiro é retirado do fundo comum.
Mas o que seria fundo comum? São os recursos do grupo destinados à atribuição de crédito aos consorcia-
dos contemplados para aquisição do bem ou serviço e à restituição aos consorciados excluídos dos respectivos
grupos, bem como para outros pagamentos previstos no contrato de participação em grupo de consórcio, por
adesão. Ressalte-se que o fundo comum é constituído pelo montante de recursos representados por prestações
pagas pelos consorciados para esse fim e por valores correspondentes a multas e juros moratórios destinados ao
grupo de consórcio, bem como pelos rendimentos provenientes de sua aplicação financeira (Lei n. 11.795/2008
Art. 25 e parágrafo único). 

109
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

Quanto à prevalência de interesses o interesse do grupo de consórcio prevalece sobre o inte-


resse individual do consorciado, visto que o grupo de consórcio é autônomo em relação aos
demais e possui patrimônio próprio, que não se confunde com o de outro grupo, nem com o
da própria administradora (Lei n. 11.795/2008, § 2o  e § 3o do art. 3º).

Importante saber que compete ao Banco Central do Brasil a normatização, coordenação, supervisão, fiscalização
e controle das atividades do sistema de consórcios (Lei n. 11.795/2008, art. 6º).

Para aprofundar ainda mais o tema veja a Lei n. 11.795/2008.

6.4 Grupos Societários


Para Fran Martins (2016, p. 334) grupo de sociedades ou grupo societário “é o conjunto de sociedades, constantes de
uma controladora e outra ou outras controladas que, por uma convenção entre si, se obrigam a combinar recursos ou
esforços para a realização dos seus objetivos, ou a participação em empreendimentos ou atividades comuns”.
A doutrina classifica os grupos societários ou grupo de sociedades em três tipos: grupo de fato, grupo de direito,
e consórcios. Como acabamos de estudar o consórcio vejamos o que seria grupo de fato e o grupo de direito.
Para a doutrina o grupo de fato seria constituído pela sociedade controladora e suas controladas ou as socieda-
des coligadas definidas pelo Código Civil em três espécies: as controladas, as filiadas, e as sociedades de simples
participação.
Segundo o Código Civil as sociedades coligadas são aquelas cujas relações de capital são controladas, filiadas,
ou de simples participação, sendo considerada controlada por controle direto aquela sociedade de cujo capital
outra sociedade possua a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas ou da assembleia-geral e o poder
de eleger a maioria dos administradores (C.C., art. 1.098 caput e inciso I) e a controlada por controle indireto é
aquela sociedade cujo controle, referido no inciso antecedente, esteja em poder de outra, mediante ações ou
quotas possuídas por sociedades ou sociedades por esta já controladas (C.C., art. 1.098, II).

110
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

Segundo o C.C. em seu artigo 1099 “Diz-se coligada ou filiada a sociedade de cujo capital
outra sociedade participa com dez por cento ou mais, do capital da outra, sem controlá-la”.
E segundo o artigo art. 1.100. “É de simples participação a sociedade de cujo capital outra
sociedade possua menos de dez por cento do capital com direito de voto”.

E quanto ao grupo de direito ou holding?


Segundo a Lei n. 6.404/1976 controladora e suas controladas podem constituir grupo de sociedades, mediante
convenção pela qual se obriguem a combinar recursos ou esforços para a realização dos respectivos objetos,
ou a participar de atividades ou empreendimentos comuns. Além disso, deve ser brasileira, e exercer, direta ou
indiretamente, e de modo permanente, o controle das sociedades filiadas, como titular de direitos de sócio ou
acionista, ou mediante acordo com outros sócios ou acionistas.
Uma vez que a constituição do grupo de sociedades seja aprovada mediante convenção, deverá ser registrada no
comércio da sede da sociedade de comando e adotar a designação “grupo de sociedades” ou “grupo”, e a partir
de então e da data do arquivamento e registro será o grupo de sociedades constituído de fato (Lei n. 6404/1976,
arts. 267, 269 e 271).
E assim finalizamos o estudo da administração da sociedade, aproveite e consulte a bibliografia e aprofunde o
estudo dos temas aqui abordados e até breve!

111
Considerações finais
1. A administração é órgão da sociedade pelo qual se assume as
obrigações e exerce seus direitos.
2. Conselho Fiscal é um órgão independente e facultativo de fisca-
lização dos atos, negócios sociais da administração especifica-
mente em relação às contas, e à legalidade e regularidade dos
atos de gestão.
3. Na sociedade limitada, as deliberações serão tomadas em reunião
ou em assembleia, que será obrigatória se o número dos sócios for
superior a dez, competindo aos administradores sua convocação
nos casos previstos em lei ou no contrato.
4. Nas sociedades por ações, o capital social da empresa será aumen-
tado por deliberação da assembleia-geral ordinária, para correção
da expressão monetária do seu valor.
5. Transformação é a operação pela qual a sociedade passa, inde-
pendentemente de dissolução e liquidação, de um tipo para outro
(Art. 220 da Lei S/A).
6. Incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são
absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obri-
gações (Art. 227 da Lei S/A).
7. Fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades
para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direi-
tos e obrigações (Art. 228 da Lei S/A).
8. Cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do
seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para
esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida
(Art. 229 da Lei S/A).
9. Grupos societários são de três tipos: Grupo de fato - sociedades
coligadas são aquelas cujas relações de capital são controladas,
filiadas ou de simples participação. Grupo de direito - Segundo a
Lei n. 6.404/1976 controladora e suas controladas podem cons-
tituir grupo de sociedades, mediante convenção pela qual se
obriguem a combinar recursos ou esforços para a realização dos

112
Direito | Unidade 6 - Da administração da sociedade

respectivos objetos, ou a participar de atividades ou empreendimentos comuns. E temos o Consórcio,


conforme Lei n. 11.795/2008, Art. 2o, Consórcio é a reunião de pessoas naturais e jurídicas em grupo,
com prazo de duração e número de cotas previamente determinados, para executar determinado empre-
endimento.

113
Referências bibliográficas
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as
Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em: 2017.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.
htm>. Acesso em: 2017.

BRASIL. Lei n. 11.795, de 8 de outubro de 2008. Dispõe sobre o Sistema


de Consórcio. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2008/lei/l11795.htm>. Acesso em: 2017.

CARVALHO, Renato; BRONZATI, Aline Bronzati. Bradesco confirma apro-


vação da incorporação do HSBC. Revista Exame, 7 out. 2016. Disponível
em: <http://exame.abril.com.br/negocios/bradesco-confirma-aprova-
cao-da-incorporacao-do-hsbc/>. Acesso em: 2017.

MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação


empresarial. São Paulo: Atlas, 2016.

MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. 39. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2016.

NEGRÃO, Ricardo. Curso de direito comercial e de empresa. 13. ed. São


Paulo: Saraiva, 2017.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 32. Ed. São Paulo: Saraiva,
2013, v. 1 e 2.

VADE MECUM. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

114
Direito
Unidade 7
Responsabilidade dos
administradores de sociedades
empresariais
7
Para iniciar seus estudos

Prosseguindo com nossos estudos, na presente unidade abordaremos a


responsabilidade dos administradores, momento em que estudaremos a
autoria, coautoria ou participação em conduta ilícita, bem como a des-
consideração da personalidade jurídica. Bons estudos.

Objetivos de Aprendizagem

• Administrador, sociedade e atividade empresarial. Administrador


e autoria, coautoria ou participação em conduta ilícita. Adminis-
trador e a desconsideração da personalidade jurídica.

117
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

7 Responsabilidade dos administradores de sociedades


empresariais
Inicialmente, em continuidade aos estudos iniciados anteriormente, na presente unidade vamos estudar um
pouco sobre quem age em nome da sociedade e as suas responsabilidades.
O empresário e a sociedade empresária agem por intermédio de seus administradores, prepostos e gerentes, os
quais têm relevante papel na vida interna e externa da empresa.
Contudo, nem sempre os atos praticados em nome da sociedade empresária por meio de seus administradores
se coadunam com seu objeto social e muitas vezes são praticados com excesso de poderes, inclusive de forma
ilícita. Vejamos.

7.1 Administrador, sociedade e atividade empresarial

A Seção III do Capítulo I, do Subtítulo II, do Código Civil, estabelece as regras da administração das Sociedades.
Assim sendo, esclareceremos inicialmente que, o administrador da sociedade, no exercício de suas funções, deve
ter o cuidado e a diligência que todo homem costuma empregar na administração de seus próprios negócios.
De mais a mais, podemos elencar algumas restrições que limitam a administração, pois além das pessoas já
impedidas por lei especial, não podem ser administradores:
a. condenados por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, enquanto
perdurarem os efeitos da condenação;
b. condenados a pena que vede o acesso a cargos públicos, ainda que temporariamente, enquanto perdu-
rarem os efeitos da condenação;
c. os condenados contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as relações de
consumo, contra as normas de defesa da concorrência, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdu-
rarem os efeitos da condenação.

O artigo 1.011, do Código Civil, informa que: “O administrador da sociedade deverá ter, no
exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma
empregar na administração de seus próprios negócios. [...]”.

Outro ponto que deve ser observado é que o administrador, quando nomeado por instrumento separado, responde
pessoal e solidariamente com a sociedade antes de averbar o referido instrumento na inscrição da sociedade.
Caso não haja disposição expressa no contrato social, a administração da sociedade compete separadamente a
cada um dos sócios. Assim sendo, na ausência de previsão no contrato social, estes podem realizar todos os atos

118
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

de gestão da sociedade, não estando entre tais atos o objeto social, a venda de bens imóveis e a oneração, que
dependem de decisão da maioria dos sócios,
Entrementes, em casos em que a administração se dá por vários administradores separadamente, estes podem
impugnar a ação do outro, cabendo a decisão por maioria dos votos. Como em outras questões do nosso Direito,
sempre existem limitações a serem observadas, e com o administrador não poderia ser diferente.
É ainda vedado ao administrador substituir-se, sendo-lhe facultado constituir atos e operações que poderá praticar.
Quanto à revogação do seu mandato, esclarecemos que os poderes são revogáveis a qualquer tempo, ou seja,
são revogáveis os poderes conferidos ao sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio.
Contudo, são irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula expressa do contrato
social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios, por força do que estabe-
lece o art. 1.019 do C.C, in verbis:
Art. 1.019. São irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula expressa
do contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios.
Parágrafo único. São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a sócio por ato sepa-
rado, ou a quem não seja sócio.
Vejamos ainda que, quando, por lei ou contrato social, caberá aos sócios decidir sobre os negócios da sociedade,
as decisões serão tomadas por maioria de votos, observando-se, ainda, o valor das quotas de cada um.
Esclarece-se ainda que as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor das quo-
tas de cada um. Nos termos do art. 1.010 do Código Civil para a formação da maioria absoluta são necessários
votos correspondentes a mais da metade do capital (Parágrafo 1), por seu turno, prevalecera a decisão sufragada
por maior número de sócios no caso de empate e, se este persistir, caberá ao juiz decidir (Parágrafo 2).
Caso ocorra propositalmente retardo/omissão de providências que ocasionem dano irreparável, salvo nos casos
urgentes, é necessário o concurso de todos os administradores nos atos de competência conjunta.

Caso seja praticado um excesso por um administrador, este excesso pode ser suscitado por
terceiros caso o administrador prove que era de seu conhecimento a limitação de poderes
inscrita ou averbada no registro da sociedade, ou seja a operação de fácil constatação estra-
nha aos negócios da sociedade.

Os administradores são obrigados a prestar contas justificadas de sua administração aos sócios, apresentando-
-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e o de resultado econômico.

119
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

Figura 7.1 - Prestação de contas

Legenda: Inventário anual, balanço patrimonial e resultado econômico


Fonte: 36494685 (123RF)

Contudo, salvo estipulação expressa que determine época própria, o sócio pode, a qualquer tempo, examinar os
livros e documentos, e o estado da caixa e da carteira da sociedade.
Em síntese, as normas que dizem respeito ao tema da responsabilidade dos administradores estão contidas no
Código Civil, nos seguintes artigos: (I) Art. 1.011, que trata do dever de diligência do administrador (também pre-
visto na Lei das Sociedades Anônimas, Lei n. 6.404 de 1976); (II) Art. 1.012, que trata da responsabilidade pessoal
e solidária dos administradores por atos praticados antes da averbação do instrumento em separado de nome-
ação; (III) Art. 1.013, § 2º, que trata da responsabilidade dos administradores pelas perdas e danos causados à
sociedade por atos em desacordo com a maioria; (IV) Art. 1.015, parágrafo único, que trata da responsabilidade
dos administradores por atos praticados por excesso de poder; (V) Art. 1.016, que trata da responsabilidade soli-
dária dos administradores perante a sociedade e terceiros por atos praticados com culpa no desempenho de suas
funções; (VI) Art. 1.117, que trata da responsabilidade pelos prejuízos e pela restituição do valor dos créditos ou
bens sociais aplicados pelo administrador em proveito próprio ou de terceiros; (VII) Art. 1.158, § 3º, que trata da
responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores pelo emprego da firma ou denominação da qual não
conste a palavra “limitada” ou sua abreviatura, entre outros.
Estudemos agora o papel do administrador em algumas das sociedades.
Quando houver lacunas serão aplicadas as regras gerais dispostas no Código Civil acerca da sociedade simples
nas sociedades contratuais, onde pode se estabelecer como será a administração, ou seja, nesta Administração,
pode o administrador ser um dos sócios, todos os sócios ou até mesmo um terceiro não sócio.
Por sua vez, também se aplicam as regras gerais nas sociedades em nome coletivo, salvo dispositivo em contrário
no contrato social. Serão também utilizados de modo subsidiário os dispositivos da sociedade simples, com rela-
ção à administração, nas sociedades em comandita simples.
Quanto às sociedades limitadas, estas apresentam normas próprias, mas também podem ser aplicados os dispo-
sitivos gerais para tais sociedades em caso de omissão, o que também ocorre com a sociedade em nome coletivo
e na comandita por ações.
Especificamente, as sociedades limitadas podem ser administradas por uma ou mais pessoas designadas em
ato social ou no contrato social, podendo o administrador ser sócio ou não sócio.

120
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

Assim, sendo disposto no contrato social que todos os sócios serão administradores, a entrada de novos sócios
não os tornará automaticamente administradores, o que pode vir a acontecer em ato separado.
Outrossim, havendo mais de um administrador, sem disposição do poder que cabe a cada um no contrato social, a
responsabilidade será de todos os administradores por igual, podendo, individualmente, cada um gerir a sociedade.

Figura 7.2 - Sociedade limitadas

Legenda: Uma ou mais pessoas designadas em ato social ou no contrato social


Fonte: 53969355 (123RF)

Um ponto de grande discussão na administração da sociedade limitada é a possibilidade/impossibilidade de


uma pessoa jurídica ser administrador.
Para os que acham que existe a possibilidade, defende-se o fato de que não há vedação expressa na lei para tal
ato. Já para a corrente que não admite, defende-se o fato de que apenas deve ser administrador a pessoa natural,
como disposto no Enunciado 66 das jornadas de direito civil do Conselho de Justiça Federal.

Para saber mais, acesse o site <http://www.cjf.jus.br/enunciados/>. Acesso em: jun. 2017.

Quanto à sociedade anônima, explicamos a teoria dualista da administração da sociedade, ou seja, segundo ela
a sociedade é dividida em dois órgãos, o conselho de administração e a diretoria. Por sua vez, o administrador
eleito por grupo de acionistas não pode decidir em favor dos seus eleitores. Dentre os deveres dos administrado-
res podemos citar:

121
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

a. Convocar e participar das Assembleias-Gerais;


b. Prestar informações tempestivas aos acionistas antes das Assembleias-Gerais;
c. Empregar cuidado e diligência no exercício de suas funções;
d. Assegurar o funcionamento regular da sociedade;
e. Abster-se de praticar atos dolosos, culposos ou com desvio de poder;
f. Fiscalizar os demais administradores e comunicar aos órgãos competentes as irregularidades de que
tenha conhecimento;
g. Declarar, na posse, os valores mobiliários da sociedade de que é titular;
h. Prestar todas as informações legalmente exigíveis e zelar pelo cumprimento da lei, do estatuto e das deci-
sões que afetem interesses da companhia.
Já quanto às proibições dispostas na lei das S/A (Lei n. 6.404/1976), está a de usar, em benefício próprio ou de
outrem, com ou sem prejuízo para a companhia, as oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em
razão do exercício de seu cargo.
Na sociedade simples pura, os administradores são os representantes legais da sociedade, ou seja, é por meio
deles que a sociedade exprime as suas vontades. O contrato social deve mencionar as pessoas incumbidas da
administração juntamente com seus direitos e deveres.
Caso não seja mencionado no contrato social quem será o administrador, pode ser realizada por ato separado
essa nomeação, devendo ser adequadamente averbada.
Os poderes dos administradores são irrevogáveis quando estabelecidos no contrato social, sendo que, somente
poderão ser revogados por decisão judicial. Por sua vez, quando feito em ato separado, os sócios podem a qual-
quer tempo revogar os poderes do administrador, sendo esse sócio ou não.
Por sua vez, a administração da sociedade limitada, assim como ocorre na sociedade simples pura, se dá por
seus representantes legais, incumbidos de exprimir a vontade desta. Aqui também pode ser nomeado o adminis-
trador no contrato social ou em ato separado, ser ele sócio ou não sócio.

Cumpre-nos salientar ainda os quóruns especiais, pois se referem a um detalhe importante


na designação de sócios. Caso o capital social não esteja integralizado totalmente, o quórum
será de 100% (unânime). Por sua vez, se o administrador não for sócio e se o capital social
estiver integralizado o quórum para eleição deve ser de 2/3. Por fim, se a sua designação for
em ato separado ao contrato social, e o administrador for sócio, o quórum para tal deve ser
de 50% mais 1.

122
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

Na sociedade em nome coletivo, os gerentes são conhecidos como prepostos da sociedade, podendo os seus
poderes serem revogados a qualquer tempo. Outrossim, a gerência administrativa, com poderes outorgados
através de procuração, pode ser exercida por qualquer pessoa, sócio ou não.
Na comandita simples, temos que diferenciar sócios comanditados de sócios comanditários. Como já visto em
estudo anterior, os sócios comanditados são aqueles que assumem responsabilidade ilimitada dentro da socie-
dade e os sócios comanditários são aqueles que possuem responsabilidade limitada à importância da contri-
buição de suas respectivas quotas.

Glossário

Conforme estabelecido pelo Código Civil (em seus arts. 1.045 a 1.051) “as sociedades em
comandita simples são constituídas por pessoas físicas, tendo os comanditados responsabi-
lidade integral, plena de modo solidário e ilimitado, ao passo que respondem os comanditá-
rios pelo valor da contribuição de suas quotas na sociedade”.

Na sociedade por ações tem-se um Conselho de Administradores, sendo que os membros desse Conselho têm
de ser obrigatoriamente acionistas da sociedade, competindo a eles eleger ou destituir os diretores, fazer a ata
da Assembleia-Geral e da reunião do Conselho que eleger os diretores, e é também competência deste fixar a
orientação geral dos negócios sociais.
Nesse caso, não podem ser eleitas para cargos de administração da sociedade pessoas impedidas por lei especial,
condenadas por crime falimentar, entre outros, é necessário ter uma reputação ilibada.

Figura 7.3 - Sociedade por ação

Legenda: Não podem ser eleitas para cargos de administração pessoas condenadas por crime falimentar
Fonte: 17195786 (123 RF)

123
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

Cabe aos acionistas a escolha para administrar a sociedade (art. 1.091 do Código Civil), na sociedade em coman-
dita por ações.
Na sociedade em nome coletivo a administração social somente pode ser realizada pelos sócios, conforme esta-
belece o art. 1.042 do Código Civil.
De mais a mais, conforme disposto no art. 1.047 do Código Civil, na sociedade em comandita simples o sócio
comanditário não pode praticar nenhum ato de gestão, como participar das deliberações e fiscalizar as opera-
ções da sociedade, nem ter o nome na firma social.
Os atos de administração da sociedade dar-se-ão pelo sócio comanditado, que se reveste de grande importância den-
tro da sociedade, podendo este ser procurador da sociedade, com poderes especiais previstos no respectivo mandato.
Entrementes, existem algumas formas de administração da sociedade simples, e são elas:
a. Administração conjunta atribuída a todos os sócios que decidem conjuntamente, salvo em casos
urgentes, pois nesses casos um único sócio, ou um grupo deles, pode decidir isoladamente.
b. Administração disjuntiva, onde cada sócio decide isoladamente, exercendo a função de administrador,
podendo os demais impugnar uma ação pretendida por outro.
c. Administração conjunta facultativa a alguns sócios, onde existe uma flexibilização, pois as decisões
se dão por maioria de sócios, tornando-as obrigatórias para aqueles que exerceram a administração da
sociedade.
Outrossim, entre os deveres do administrador, temos o dever de diligência, lealdade, informação e prestação de
contas:
1. Dever de diligência, pois se exige probidade no exercício da administração social. Nos termos do Código
Civil (art. 1.011): “cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administra-
ção de seus próprios negócios”, incluindo boa-fé e diligência.
2. Dever de lealdade: pois o administrador deve ser leal às finalidades e interesses da sociedade, prestando
fielmente os serviços necessários para que ela atinja os fins para o qual foi constituída.
3. Dever de informar e prestação de contas: pois dele decorre o dever de prestar/informar contas aos
administradores, bem como o direito de fiscalização dos atos de gerência pelos demais sócios.

7.2 Administrador e autoria, coautoria ou participação em conduta ilícita

A Lei n. 12.846/2013, que dispõe sobre a responsabilização objetiva, administrativa e civil de pessoas jurídicas
pela prática de atos lesivos contra a administração pública, também prevê a responsabilização do dirigente ou
administrador da pessoa jurídica em razão de autoria, coautoria ou participação em ato ilícito, ou mediante a
desconsideração da personalidade jurídica.
Tal lei deixou claro que o administrador da pessoa jurídica pode ser diretamente responsabilizado por terceiro, se
colaborar, como autor, coautor ou partícipe, com conduta ilícita descrita nessa lei.
Desse modo, reforça-se o dever que já deriva das normas gerais, na medida de sua culpabilidade, a aquele que
participa de ato ilícito.

124
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

É importante observarmos a distinção entre sócio e mandatário feita por Ricardo Negrão, vejamos:
É possível, à luz do que dispõe o art. 1.019 do CC, distinguir, no caput, poderes de administra-
ção geral em relação aos sócios (poderes do sócio investido na administração), e, no parágrafo
único, aos poderes conferidos na qualidade de mandatários (“são revogáveis os poderes conferi-
dos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio”). A redação de toda a seção (arts. 1.010
usque 1.021) não permite uma conclusão única, pois distingue sócio e administrador, como se
este último pudesse não pertencer àquela categoria. O art. 1.013, ao estabelecer que “a adminis-
tração da sociedade, nada dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos
sócios”, permite se entender que, se o contrato social tiver cláusula expressa, a administração
tanto poderia competir aos sócios em conjunto ou, ainda, a não sócios, em conjunto ou separa-
damente (Negrão, 2014, p. 45).
Em outras palavras, a atribuição dos poderes de administração na sociedade incute na adoção de determinado
tipo societário e, consecutivamente, na responsabilidade do administrador pelos atos praticados.
O administrador, que é dotado do poder de decidir os atos imputáveis à pessoa jurídica, pode participar de
maneira decisiva para que a infração seja cometida, seja pessoalmente, ou por assim ordenar a prepostos, agen-
tes ou auxiliares da sociedade empresarial que atuem em nome ou apenas por conta desta.
Conclua-se, nesse ponto, que se afasta a possibilidade de o administrador alegar em sua defesa que a responsa-
bilidade do ato só seria imputável à pessoa jurídica sob a sua administração, quando participar ou efetivar con-
duta contrária à ordem pública expressamente tipificada em lei como ilícita, não se qualificando como ato regular
de gestão. No entanto, a maior dificuldade se dá quando o próprio administrador identifica que está atuando
de forma culposa, o que se dá quando ele age com: (I) deixa de adotar as cautelas necessárias (imprudência);
(II) deixa de agir diligente (negligência); ou (III) agir com inaptidão técnica (imperícia). Assim, tal conduta é facil-
mente percebida pelo administrador, já que ele comete o ilícito de forma deliberada.
O administrador acredita que está atuando de forma diligente em diversas situações, acreditando estar defen-
dendo o melhor interesse da companhia, mas por pressa, desconhecimento, ou falta de estrutura, adotando
medidas que, se analisadas pelas autoridades administrativas ou judiciais, indicam violação clara aos deveres
impostos pela legislação aos administradores, já estudados nessa unidade, dentre eles o dever de diligência.
O único caminho para uma atuação que afaste ou minimize suas responsabilidades é agir e compreender de
acordo com esses deveres.
Para melhor elucidar o já estudado, destaquemos ainda a responsabilidade dos administradores em algumas das
sociedades.
Nas sociedades limitadas, o ônus da prova será da sociedade quando for provado que o administrador exerceu
seu mister com excesso de limites. Ademais, em virtude da sua imunidade de responsabilização, este se utiliza
das mesmas regras concernentes às sociedades simples, não sendo responsabilizado enquanto agir nos limites
do contrato social.
Na sociedade anônima o administrador não é responsável pelas dívidas que contrair em nome da sociedade,
salvo nas hipóteses listadas pela lei n. 6.404/1976, nas quais a autonomia de atuação e a autonomia patrimonial
são afastadas, para imputar a responsabilidade diretamente aos gestores, que podem responder solidariamente
com a companhia, perante terceiros ou até mesmo individualmente.
Na sociedade simples pura, importante salientar que, em princípio, sendo o administrador órgão da pessoa jurí-
dica que externa sua própria vontade, a sociedade responde por todos os atos de seus administradores.
Em situações especiais o excesso dos administradores afastará a responsabilidade da sociedade pelos seus atos
(como disposto no artigo 1.015, incisos I e II, do CC).

125
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

Responde também o administrador pelo disposto nos artigos  1.016  e  1.017  do  CC. Deve, no contrato social,
constar os poderes e deveres do administrador, quanto à responsabilidade do mesmo na sociedade limitada, se
não estiver disposto fica subentendido que o administrador terá poder geral de administração.
Por sua vez, na sociedade anônima, a própria companhia responde pelos atos de gestão, acarretando em casos
excepcionais (casos de culpa ou dolo, bem como que violem o estatuto ou lei), reparação civil de danos eventu-
almente causados.
Ressaltamos também que um administrador não responde por ato ilícito realizado por outro administrador.
Assim, pode a sociedade entrar com ação de responsabilidade contra o administrador, cabendo à assembleia-
-geral ordinária a deliberação acerca da propositura de tal ação.
Esclarecemos ainda que a ação social de responsabilidade segue alguns requisitos legais previstos nos §§ 1º ao
6º do artigo 159 da lei n. 6.404/1976.
Já a ação individual de responsabilidade não necessita de nenhum desses requisitos.
Conforme estabelecido o Código Civil (em seus arts. 1.045 a 1.051):
[...] as sociedades em comandita simples são constituídas por pessoas físicas, tendo os comandi-
tados responsabilidade integral, plena de modo solidário e ilimitado, ao passo que respondem os
comanditários pelo valor da contribuição de suas quotas na sociedade.
Na Sociedade Limitada a administração não é exclusiva dos sócios, podendo ser delegada a um terceiro estra-
nho à qualidade de sócio, devendo-se verificar o patrimônio do administrador, vez que este responderá com seus
bens particulares em caso de desvio, excesso de poder e abuso.
Podemos concluir assim que, na Sociedade em Comandita Simples, em razão de os comanditários respon-
derem apenas pelo valor da contribuição de suas quotas, a administração e a responsabilidade será integral e
ilimitada dos sócios comanditados.
Tal delegação pode ser realizada no próprio contrato social ou em ato separado à designação dos administradores.

Devem os administradores ter dever de diligência, de lealdade, de informação e de sigilo,


podendo ser responsabilizados civilmente por prejuízos causados, culposa ou dolosamente,
ao patrimônio social, havendo um Conselho de Administradores composto por, no mínimo,
três membros eleitos pela Assembleia-Geral, que, obrigatoriamente, necessitam ser acionis-
tas, na Sociedade por Ações.

Já a administração da Sociedade Simples será individualmente de cada sócio, sendo que, caso não haja disposi-
ção contrária, os sócios responderão a terceiros e para a sociedade quando agirem culposamente.
Por sua vez, na Sociedade Anônima, o capital se divide em ações, vez que se obriga o acionista ou sócio apenas
pelo preço de emissão das ações que subscrever/adquirir.
Em tempo, na Sociedade em Comandita Por Ações responderá ilimitadamente, subsidiariamente e solidaria-
mente pelas obrigações o sócio comanditado.

126
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

7.3 Administrador e a desconsideração da personalidade jurídica

Como já estudado anteriormente, a teoria da desconsideração da personalidade pode ser definida como o
afastamento da personalidade jurídica, com o objetivo de dar efetividade à possibilidade de correção de mano-
bras fraudulentas de um ou mais dos seus sócios. Nas palavras de Fábio Ulhôa Coelho:
[...] a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, a partir da qual o juiz pode, em deter-
minados casos, sustar a eficácia episódica do ato constitutivo da sociedade empresária, afastando
os efeitos do princípio da autonomia patrimonial. Os casos em que o juiz está autorizado a des-
considerar a personalidade jurídica da sociedade empresária são os de manipulação fraudulenta
da técnica de segregação de riscos (concepção subjetiva da teoria) ou a confusão de patrimônios
ou de objetivos (concepção objetiva) (COELHO, 2013, p. 92).
Não se invalida o ato constitutivo, e nem acarreta a sua dissolução, a decisão judicial que desconsidera a perso-
nalidade jurídica da sociedade, ocasionando-se apenas a suspensão temporária de sua eficácia.
Na Sociedade Unipessoal ela também poderá ser aplicada, assim como ocorre na responsabilidade do empresá-
rio individual, respondendo ambos de forma ilimitada.
A teoria da desconsideração da personalidade pode ser subdividida em: (I) teoria maior e (II) teoria menor. Na
primeira o juiz ignora a autonomia patrimonial da pessoa jurídica quando há fraude e abuso, e na segunda um
simples prejuízo possibilita o afastamento da autonomia patrimonial.
A teoria maior é a mais elaborada, e necessita de requisitos específicos para ser aplicada, sendo necessária a
caracterização da manipulação fraudulenta ou abusiva do instituto. Por sua vez, a teoria menor, menos elabo-
rada, reflete uma minoração no princípio da separação patrimonial.
Não se deve confundir ainda a desconsideração com responsabilização, posto que, o sócio unipessoal é o res-
ponsável pelos atos de má gestão, e a responsabilização desses atos é pessoal, não dependendo de trâmite em
juízo, prova de abusividade, nem de fraude, mas apenas o prejuízo.
Outrossim, dependendo do modelo societário, somente responderão pelas dívidas os componentes da pessoa
jurídica nos limites do capital social investido, não afetando o patrimônio individual destes.
Em síntese, a responsabilidade dos sócios pelas dívidas da sociedade seria, em tese, subsidiária, devendo-se pri-
meiro atacar o patrimônio social.
Contudo, como já visto, ela é uma decisão judicial, pois para que ela ocorra o juiz deve determinar a inclusão dos
administradores ou sócios no processo, o que ocasiona a sua responsabilização com patrimônio particular em
caso de insolvência.
É um dos principais mecanismos que se possui para alcançar certos efeitos práticos.
Diversos são os entendimentos que regulam a matéria, posto que ela é utilizada para evitar fraudes, abusos e
transferência do risco.
Contudo, admite-se com a desconsideração da personalidade jurídica a responsabilização dos bens dos sócios e
daqueles que se retiram da sociedade sem meios de honrar os seus compromissos.
O Capítulo IV, do Título III, do Código de Processo Civil traz o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica, e as suas regras.
O art. 795, do NCPC, estabelece que os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade,
senão nos casos previstos em lei, sendo obrigatória a observância do incidente previsto neste Código para a des-
consideração da personalidade jurídica.

127
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

Salienta-se ainda que, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial, o
incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, sendo a sua instauração
imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas.
Dispensa-se ainda a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na
petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.
A instauração do incidente da desconsideração suspenderá o processo, com exceção da hipótese supracitada.
Ademais, nos termos do art. 135, do NCPC, haverá a necessidade de contraditório prévio, pois instaurado o inci-
dente de desconsideração da personalidade jurídica, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se
e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. Esclarece-se que a desconsideração também é conhe-
cida como disregard doctrine.
Ressaltam-se ainda os arts. 28, do CDC e art. 50, do CC, posto que, como já visto, existem duas correntes inter-
pretativas a respeito dos dois dispositivos que discorrem sobre o tema da desconsideração, sendo que a primeira
delas, conhecida como Teoria Maior, dispõe que para haver desconsideração da personalidade jurídica, tem de
existir comprovação de fraude. Já a segunda Teoria, conhecida como Menor, entende que para a aplicação da
disregard doctrine, basta apenas e tão somente a inidoneidade da sociedade pelo pagamento do crédito devido.
Concluímos assim que, poderá ser desconsiderada a personalidade jurídica sempre que ela for, de alguma forma,
obstáculo para o ressarcimento de prejuízos ocasionados.
Com amparo no art. 28 do Código de Defesa do Consumidor, invoca-se a teoria da desconsideração da perso-
nalidade jurídica das sociedades de capitais, a chamada disregard doctrine, para que seja atingido diretamente o
patrimônio dos sócios, dentre eles o administrador.
Salienta-se que esse preceito autoriza a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade pelo Juiz,
quando em detrimento do consumidor, forem praticados, entre outros, fatos, infração da lei, encerramento ou
inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração, isto significa dizer, quando forem praticados
atos de comércio sem a costumeira prudência, quando forem realizados gastos excessivos, ou ainda, quando
constituir obstáculo para o ressarcimento dos prejuízos ocasionados ao consumidor, fatos esses, na maioria das
vezes, que são praticados pelo sócio administrador.
Devemos ainda destacar que, em linhas menores, os credores podem avançar com a cobrança de seus créditos em
direção do patrimônio individual dos sócios ou de outros sujeitos componentes da pessoa jurídica na insuficiência.
Em várias oportunidades, o direito privado presenciou a utilização fraudulenta e abusiva da pessoa jurídica gera-
dora de prejuízos também aos terceiros que com ela se relacionavam, inclusive aos seus próprios sócios.
Foi criada a teoria da desconsideração da personalidade jurídica (disregard of the legal entity), com o objetivo de
coibir abusos.
Dentre outras hipóteses apontadas em lei, a concepção da função social da pessoa jurídica e da função social da
empresa, em situações de abuso da personalidade jurídica, fraude ou desvio de finalidade, observa-se através da
teoria em análise, podendo afastar-se episodicamente a personalidade jurídica para atingir o patrimônio pessoal
de sócios e administradores que causaram prejuízos aos seus credores por conta de seu uso indevido.
Contudo, não se pode confundir a desconsideração com a responsabilidade dos sócios, pois a sua responsabili-
zação poderá ser solidária nas sociedades simples.

128
Direito | Unidade 7 - Responsabilidade dos administradores de sociedades empresariais

Quando houver falência, encerramento por inatividade, estado de insolvência, provocados


por uma má administração, a desconsideração também será efetivada?

Salientamos também a desconsideração inversa da personalidade jurídica, onde ocorre a suspensão episódica da
eficácia do ato constitutivo da pessoa jurídica, para nela se buscar bens em seu patrimônio, por conta de dívidas
contraídas pelo sócio, tendo essa forte aplicação nas relações familiares. A título de exemplo, a suspensão episó-
dica pode se dar em casos em que o sócio, casado no regime de comunhão parcial, por conta da possibilidade de
seu divórcio, passa a adquirir bens com os rendimentos que seriam do casal, os colocando em nome da sociedade
empresarial, de modo a causar uma confusão patrimonial.
Assim, sem dúvida o administrador e a pessoa jurídica poderão ser sancionados por mecanismos de responsabi-
lização distintos (responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva).
O terceiro, no entanto, poderá se valer da desconsideração da personalidade jurídica para declarar o administra-
dor, pois, caso este seja culpado de usar a pessoa jurídica com abuso de direito ou com confusão patrimonial, em
solidariedade com as obrigações patrimoniais devidas pela pessoa jurídica, será condenado a indenizar.
Podemos concluir que, a possiblidade de constituição de uma sociedade unipessoal é um avanço, vez que pos-
sibilita a regularização e efetividade do empresário junto ao mercado de trabalho e havendo a constatação de
fraude existem meios processuais para punir o empresário/sócio infrator.

129
Considerações finais
Nesta unidade, estudamos o conceito de administrador, suas principais
características, atribuições, entre outros. Vimos ainda em cada uma das
sociedades o que vem a ser a figura do administrador e sua forma de
constituição.
Posteriormente compreendemos o conceito e a responsabilização de
cada sócio, momento em que abordamos a autoria, coautoria e partici-
pação do administrador em uma conduta ilícita.
Por fim, abordamos a desconsideração da personalidade jurídica, suas
características e o seu objetivo.
Convidamos agora você, para melhor compreensão do tema, a responder
às questões desta unidade no caderno de perguntas.

130
Referências bibliográficas
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em:
12 jun. 2017.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.
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BRASIL. Lei n. 12.846, de 1º de agosto de 2013. Disponível em: <http://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm>.
Acesso em: 12 jun. 2017.

BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em: <http://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 12 jun. 2017.

COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de direito comercial. 17. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.

Enunciado 66 das jornadas de direito civil do Conselho de Justiça Fede-


ral. Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/686>.
Acesso em: 12 jun. 2017.

Negrão, Ricardo. Direito empresarial: estudo unificado. 5. ed. rev. São


Paulo: Saraiva, 2014.

131
Direito
Unidade 8
Direito Societário e Recuperação
Judicial
8
Para iniciar seus estudos

Olá bem-vindo ao estudo da Unidade 8, Direito Societário e Recuperação


Judicial. Esta unidade encerra o estudo do Direito Empresarial e você terá
a oportunidade de rever vários pontos estudados no decorrer do curso.
Além disso, você entenderá como funciona o processo de recuperação
judicial, extrajudicial e falência. Aproveite também para rever as unidades
anteriores e bons estudos.

Objetivos de Aprendizagem

• Introdução ao tema.
• Da Recuperação judicial.
• Da Recuperação extrajudicial.
• Da falência.
• Dos crimes falimentares.
• Dos atos e prazos processuais.

134
Direito | Unidade 8 - Direito Societário e Recuperação Judicial

8.1. Introdução ao tema


Em tempos de crise, diversos empresários e sociedades empresarias tiveram que recorrer a determinados meca-
nismos para seguir o curso empresarial e garantir o lucro e a finalidade social da empresa.
A recuperação judicial, extrajudicial e a falência são, na realidade, medidas excepcionadas do ordenamento jurídi-
cas utilizadas a fim de tentar impedir a morte de um negócio empresarial. A Lei nº 11.101/05, composta por 201
artigos, responsável pela supressão da antiga Lei de falências, é responsável por regular a recuperação judicial, a
extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Para nos aprofundarmos, passemos ao estudo.

8.2 Da recuperação judicial


A recuperação empresarial é a situação na qual uma empresa se encontra em dificuldade econômico-financeira,
mas tal dificuldade é transitória/ temporária, ou seja, a crise é administrativa, todavia, não é o suficiente para
considerar a sociedade empresária inviável. Assim, a sociedade empresária incansavelmente se valerá de uma
estrutura de livre mercado, primando pela superação da crise, a partir do inevitável contato com os credores. De
maneira que, caso a crise atinja grandes patamares e o negócio ainda seja viável e possa ser salvo de uma falên-
cia, opta-se pela recuperação da empresa, que poderá ser: empresa;
• Extrajudicial (do Artigo 73 ao Artigo 160 da Lei nº 11.101/05); ou
• Judicial especial (ou plano especial ou recuperação, prevista do Artigo 70 ao Artigo 72 da Lei nº 11.101/05.
É aplicada somente em casos envolvendo microempresa e empresa de pequeno porte).
Para que um empresário ou uma sociedade empresária inicie um pedido de recuperação judicial, deverá com-
provar que exerce regularmente suas atividades há mais de dois anos; além disso, deverá: comprovar não ter
falido e, caso tenha, declarar como extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decor-
rentes; não ter, há menos de cinco anos, obtido concessão de recuperação judicial; não ter, há menos de cinco
anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Lei nº 11.101/05; e
também não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio-controlador, pessoa condenada por
quaisquer dos crimes previstos na Lei nº 11.101/05.
Quando se trata da competência, o pedido de recuperação judicial não é exclusivo do devedor, pois o seu côn-
juge sobrevivente, os herdeiros, o inventariante ou o sócio remanescente também são legitimados a requerer a
recuperação judicial. As obrigações acordadas antes da recuperação judicial deverão observar as condições pre-
viamente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se, de modo diverso,
ficar estabelecido no plano de recuperação judicial para que elas sejam sujeitas à recuperação.

135
Direito | Unidade 8 - Direito Societário e Recuperação Judicial

Figura 8.1: Recuperação judicial.

Legenda: Assinatura de documento.


Fonte: 47562338 (123RF)

Segundo o § 3o do Artigo 49 da Lei nº 11.101/05:


[...] credor titular proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arren-
dador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos
respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretra-
tabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em
contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá
aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade
sobre a coisa e as condições contratuais [...] (BRASIL, 2005).

Um dos principais pontos para a recuperação judicial é saber que existem outros meios constitutivos para que
se dê início ao processo de recuperação judicial. Segundo a Lei nº 11.101/05, Art. 50, incisos I ao XVI, são eles:
• Concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vin-
cendas;
• Cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária inte-
gral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legisla-
ção vigente;
• Alteração do controle societário;
• Substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos
administrativos;

136
Direito | Unidade 8 - Direito Societário e Recuperação Judicial

• Concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de


veto em relação às matérias que o plano especificar;
• Aumento de capital social;
• Trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos
próprios empregados;
• Redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou con-
venção coletiva;
• Dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garan-
tia própria ou de terceiros;
• Constituição de sociedade de credores;
• Venda parcial dos bens;
• Equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como
termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive
aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;
• Usufruto da empresa;
• Administração compartilhada;
• Emissão de valores mobiliários;
• Constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos crédi-
tos, os ativos do devedor (BRASIL, 2005).
Dessa forma, o devedor, ao constatar que a melhor estratégia para salvar o seu negocio é a recuperação judicial,
dará sequência ao trâmite judicial por meio de uma petição inicial ao juízo competente. Assim, vejamos como
dá-se o fluxo processual em caso de uma recuperação judicial. A parte devedora a ser recuperada deverá, por
meio de uma petição inicial, expor tais pontos:
• As causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-
-financeira;
• Apresentar as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as
levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância
da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: balanço patrimonial;
demonstração de resultados acumulados; demonstração do resultado desde o último exer-
cício social; relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção. Ressaltando aqui que as
microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e escrituração con-
tábil simplificados nos termos da legislação específica;
• A relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar,
com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do
crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos
registros contábeis de cada transação pendente;
• A relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, inde-
nizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e
a discriminação dos valores pendentes de pagamento;

137
Direito | Unidade 8 - Direito Societário e Recuperação Judicial

• Certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo


atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
• A relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor;
• Os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações
financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de
valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
• Certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e
naquelas onde possui filial;
• A relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte,
inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados
(BRASIL, 2005).

É importante ressaltar que, segundo o § 1o, artigo 51 da Lei nº 11.101/05, “os documentos
de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares, na forma e no suporte previsto em
lei, permanecerão à disposição do juízo, do administrador judicial e, mediante autorização
judicial, de qualquer interessado” (BRASIL, 2005) .

Verificando o magistrado que a petição inicial está conforme o preceito legal, deferirá o processamento da recu-
peração judicial e, no mesmo ato, de acordo com a previsão do Artigo 52 e incisos da Lei nº 11.101/05:
• Nomeará o administrador judicial;
• Determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça
suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de bene-
fícios ou incentivos fiscais ou creditícios;
• Ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, permanecendo os
respectivos autos no juízo onde se processam ressalvadas as ações previstas na Lei e as rela-
tivas a créditos e a exceções da Lei;
• Determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto per-
durar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores;
• Ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Pública Fede-
ral e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento (BRASIL, 2005).
Uma vez “deferido o processamento da recuperação judicial, os credores poderão, a qualquer tempo, requerer a
convocação de assembleia-geral para a constituição do Comitê de Credores ou substituição de seus membros
[...]” (BRASIL, 2005). Destaca-se que, uma vez deferido o pedido para recuperação judicial, salvo se obtiver apro-
vação da desistência na assembleia-geral de credores, o devedor não poderá desistir do pedido de recuperação
judicial (§ 2o e § 4o do Artigo 52 da Lei nº 11.101/05).
Importante salientar ainda que, caso o negócio esteja sob procedimento de recuperação judicial, o devedor ou
seus administradores não serão afastados de seus cargos; pelo contrário, seguirão mantidos na condução da

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Direito | Unidade 8 - Direito Societário e Recuperação Judicial

atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, mas, conforme prevê o
artigo da Lei nº 11.101/05, salvo se qualquer deles:
• Houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crime cometido em
recuperação judicial ou falência anteriores ou por crime contra o patrimônio, a economia
popular ou a ordem econômica prevista na legislação vigente;
• Houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei;
• Houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os interesses de seus credores;
• Houver praticado qualquer das seguintes condutas:
• Efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua situação patrimonial;
• Efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em relação ao capital ou gênero
do negócio, ao movimento das operações e a outras circunstâncias análogas;
• Descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operações prejudiciais ao seu fun-
cionamento regular;
• Simular ou omitir créditos ao apresentar a relação de que trata o inciso III do caput do art. 51
da Lei 11.101/05, sem relevante razão de direito ou amparo de decisão judicial;
• Negar-se a prestar informações solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demais
membros do Comitê;
• Tiver seu afastamento previsto no plano de recuperação judicial.

Figura 8.2: Comitê.

Legenda: Pessoas integrando um comitê.


Fonte: 39596734 (123RF)

Em tais casos, o juiz destituirá o administrador, que será substituído na forma prevista nos atos constitutivos do
devedor ou do plano de recuperação judicial.

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Seguindo a linha processual, uma vez que sejam aceitos os motivos alegados na petição inicial, será tal ato publi-
cado para ciência do devedor que, a contar da publicação, terá o prazo improrrogável de 60 dias para apresentar
o plano de recuperação. Importante saber que o plano deverá conter:
• a discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados, conforme o Art. 50 da
Lei nº 11.101/05, e seu resumo;
• a demonstração de sua viabilidade econômica;
• e um laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional
legalmente habilitado ou empresa especializada.

Assim como ao devedor é dado conhecer a situação do processo, o juiz competente do caso,
segundo Art. 53 da Lei nº 11.101/05, “[...] ordenará a publicação de edital contendo aviso
aos credores sobre o recebimento do plano de recuperação e fixando o prazo para a mani-
festação de eventuais objeções [...]” (BRASIL, 2005).

8.2.1. Dos atos e prazos processuais

Com relação aos prazos, segundo o Art. 54 da Lei nº 11.101/05:


O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento
dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho venci-
dos até a data do pedido de recuperação judicial”. Além disso, não poderá “[...] prever prazo supe-
rior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador,
dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de
recuperação judicial (BRASIL, 2005).
Como em qualquer ação processual é permitido que a outra parte manifeste contrariedade ao alegado pela parte
que deu início à ação. De igual maneira, na ação de recuperação inicial, segundo o Art. 55 da Lei nº 11.101/05,
“[...] qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de recuperação judicial no prazo de 30
(trinta) dias contado da publicação da relação de credores” (BRASIL, 2005).
Dessa forma, em caso de objeção ao plano de recuperação judicial, competirá ao juiz convocar assembleia-geral
de credores para que esta delibere sobre o plano de recuperação. Destaca-se que “a data designada para a rea-
lização da assembléia-geral não excederá 150 (cento e cinqüenta) dias contados do deferimento do processa-
mento da recuperação judicial” (BRASIL, 2005).
Além disso, “[...] desde que haja expressa concordância do devedor e em termos que não impliquem diminuição
dos direitos exclusivamente dos credores ausentes [...], o plano de recuperação judicial poderá sofrer alterações
na assembléia-geral” (BRASIL, 2005).

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E, como logo veremos, segundo o § 4o, Art. 54 da Lei nº 11.101/05, caso seja “rejeitado o plano de recuperação
pela assembléia-geral de credores, o juiz decretará a falência do devedor” (BRASIL, 2005).
Aqui, é importante destacar que não é o juiz que decide aceitar o plano de recuperação proposto pelo devedor,
mas, sim, os credores, atuando o juiz como um mediador.
Se os credores aceitarem o plano de recuperação judicial e cumpridas as obrigações vencidas no prazo de até 2
(dois) anos depois da concessão da recuperação judicial o juiz decretará por sentença o encerramento da recu-
peração judicial e determinará, nos termos do artigo 63 da Lei 11.101/05:
• O pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial, somente podendo efetuar a quitação
dessas obrigações mediante prestação de contas, no prazo de 30 (trinta) dias, e aprovação do relatório;
• A apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas;
• A apresentação de relatório circunstanciado do administrador judicial, no prazo máximo de 15 (quinze)
dias, versando sobre a execução do plano de recuperação pelo devedor;
• A dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do administrador judicial;
• A comunicação ao Registro Público de Empresas para as providências cabíveis.

Contra a decisão que conceder a recuperação judicial caberá agravo, que poderá ser inter-
posto por qualquer credor e pelo Ministério Público. E em todos os atos, contratos e docu-
mentos firmados pelo devedor sujeito ao procedimento de recuperação judicial deverá ser
acrescida, após o nome empresarial, a expressão “em Recuperação Judicial” (art. 59, § 2o c/c
art. 69 da Lei 11.101/05).

Se ao final dos 2 (dois) anos for constatado o descumprimento das obrigações estabelecidas pelo juiz e pelo
plano, a recuperação judicial será convolada em falência. Contudo caso ao final dos 2 (dois) anos seja constatado
o fiel cumprimento das obrigações estabelecidas, o juiz dará por encerrado a recuperação judicial. Cabe desta-
car que na prática há planos que preveem o parcelamento das obrigações em 10 (dez) anos, 14 (catorze) anos
e inclusive 20 (vinte) anos e ainda que todas não tenham sido cumpridas o juiz verificara aquelas obrigações
prometido para os anos iniciais do plano de recuperação, pois do contrário ficaria impossibilitada a recuperação
judicial de qualquer negócio.

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8.3 Da Recuperação extrajudicial


Para o professor Ricardo Negrão (2017, p. 241) a recuperação extrajudicial é:
A modalidade de ação integrante do sistema legal destinado ao saneamento de empresas regula-
res, que tem por objetivo constituir titulo executivo a partir de sentença homologatória de acordo,
individual ou por classes de credores, firmado pelo autor com seus credores. Sues efeitos podem
estar aos credores não aderentes de uma mesma classe, desde que cumpridas determinadas con-
dições previstas em lei.
A recuperação extrajudicial é disciplinada nos artigos 161 ao 167 da Lei 11.101/05 e recebe tal nome por ser um
acordo iniciado fora de um juízo, mas posteriormente é homologado por um juízo competente, pois do contrario
não terá validade, visto que o plano de recuperação extrajudicial produz efeitos após sua homologação judicial.

Convém destacar que caso o devedor esteja pendente de pedido de recuperação judicial ou se houver
obtido recuperação judicial ou homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos
de 2 (dois) anos, não poderá propor e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial (§ 3o,
art. 161 da Lei 11.101/05).

Conforme disposição da Lei 11.101/05 o devedor poderá requerer a homologação em juízo do plano de recupe-
ração extrajudicial, juntando sua justificativa e o documento que contenha seus termos e condições, com as assi-
naturas dos credores que a ele aderiram. E o juiz, ao recebê-la, ordenará a publicação de edital no órgão oficial e
em jornal de grande circulação nacional ou das localidades da sede e das filiais do devedor, convocando todos os
credores do devedor para que apresente suas impugnações ao plano de recuperação extrajudicial, observado o
prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação do edital.
Caso haja impugnações ao plano de recuperação extrajudicial, o devedor terá o prazo de 5 (cinco) dias para se
manifestar, e uma vez finalizado o prazo os autos serão conclusos imediatamente ao juiz para apreciação de
eventuais impugnações e decidirá o juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, acerca do plano de recuperação extrajudicial,
homologando-o por sentença se entender que não implica prática de prejudicar credores, provando-se o conluio
fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida e que
não há outras irregularidades que recomendem sua rejeição.
Homologada a recuperação extrajudicial o devedor deverá de igual maneira cumprir o estabelecido no plano de
recuperação.

8.4 Da falência
Segundo Gladston Mamede (2016, p. 220) a falência é:
Procedimento pelo qual se declara a insolvência empresarial e se dá solução a mesma, liquidando
o patrimônio ativo e saltando, nos limites da forca deste, o patrimônio passivo do falido aten-
dendo aos princípios da celeridade e da economia processual.

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A insolvência, a impontualidade, o idadimplemento, a execução frustrada, os atos de falência, o descumprimento


do plano da recuperação judicial são algumas das causas determinantes da falência. A insolvência jurídica, por
exemplo, contempla a impontualidade e a crise em si (passivo superior ao ativo) Quanto ao inadimplemento em
seu sentido genérico é dividido em parcial e total. O primeiro dos quais se aproxima da acepção de impontuali-
dade, conforme a doutrina mais profunda nos anuncia.
Neste sentido segundo doutrinadores a insolvência é aquela entendida na sua acepção jurídica pela ocorrência
de um dos fatos que dão causa a falência descrita no artigo 94 da Lei 11.101/05, quais são:
• Sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou
títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na
data do pedido de falência;
• Executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes
dentro do prazo legal;
• Pratica de qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial: proce-
der à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar
pagamentos; realizar ou, por atos inequívocos, tentar realizar, com o objetivo de retardar pagamentos
ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro,
credor ou não; transferir estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os
credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo; simular a transferência de seu principal
estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor; dá ou
reforçar garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraça-
dos suficientes para saldar seu passivo; ausentar-se sem deixar representante habilitado e com recursos
suficientes para pagar os credores, abandonar estabelecimento ou tentar ocultar-se de seu domicílio, do
local de sua sede ou de seu principal estabelecimento; e deixar de cumprir, no prazo estabelecido, obri-
gação assumida no plano de recuperação judicial.

Figura 8.3: Falência.

Legenda: Gráfico negativo


Fonte: 33502392 (123RF)

Desta forma quando a sociedade empresária é afetada por uma crise de cunho estrutural, que a torna inviável e
de impossibilidade de recuperação será caso de falência e não de recuperação judicial ou extrajudicial.

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8.4.1. Dos atos e prazos processuais

Como já sabemos o juiz poderá convolar a recuperação judicial em falência seja por deliberação da assembléia-
-geral de credores, pela não apresentação do plano de recuperação por parte do devedor, se o plano de recu-
peração tiver sido rejeitado o plano ou por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recu-
peração. Contudo convém destacar que o próprio devedor poderá requerer a autofalência, ou seja, o próprio
devedor declara-se como falido. Além do próprio devedor também poderão requerer o falência o cônjuge sobre-
vivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou
do ato constitutivo da sociedade e qualquer credor (art. 97, inciso I ao IV da Lei 11.101/05).
Aquele que der início ao pedido de falência que se dá por meio de uma petição inicial, devera atentar-se para o
fato que as obrigações a título gratuito e as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação
judicial ou na falência, salvo às custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor não são exigíveis do devedor,
na recuperação judicial ou na falência (art. 5º, incisos I e II da Lei 11.101/05) .

De acordo com a Lei 11.101/05 o juízo competente para decretar a falência é o juízo do local
do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Bra-
sil. Segundo a doutrina o processo de falência corre em um juízo universal, salvo aqueles que
dependam de justiça especializada, ações trabalhistas.

Assim como se dá na recuperação judicial verificada a petição e comprovado que cumprem os requisitos legais o
juiz dará seguimento ao procedimento citando o devedor, para que no prazo de 10 (dez) apresente a contestação
e além disso, poderá o devedor pleitear sua recuperação judicial.
De acordo com o artigo 99, incisos I ao XIII da Lei 11.101/05, caso seja decretada a falência do devedor a sen-
tença, dentre outras determinações deverá conter:
• Síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que forem a esse tempo seus administradores;
• Fixar o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa) dias contados do pedido
de falência, do pedido de recuperação judicial ou do 1o  (primeiro) protesto por falta de pagamento,
excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados;
• Ordenar ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação nominal dos credores, indi-
cando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos, se esta já não se encon-
trar nos autos, sob pena de desobediência;
• Explicitar o prazo para as habilitações de crédito;
• Ordenar a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas as hipóteses previstas
nos §§ 1o e 2o do art. 6o desta Lei;
• Proibir a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido, submetendo-os
preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver, ressalvados os bens cuja venda faça parte
das atividades normais do devedor se autorizada a continuação provisória;

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• Determinar as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das partes envolvidas, podendo
ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus administradores quando requerida com fundamento em
provas da prática de crime definido na Lei 11.101/05;
• Ordenar ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da falência no registro do devedor, para
que conste a expressão “Falido”, a data da decretação da falência e a inabilitação;
• Nomear o administrador judicial, que desempenhará suas funções na forma do inciso III do caput do art.
22 da Lei11.101/05, sem prejuízo do disposto na alínea a do inciso II do caput do art. 35 Lei 11.101/05;
• Determinar a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras entidades para que infor-
mem a existência de bens e direitos do falido;
• Pronunciar-se a respeito da continuação provisória das atividades do falido com o administrador judicial
ou da lacração dos estabelecimentos;
• Determinar, quando entender conveniente, a convocação da assembleia-geral de credores para a cons-
tituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a manutenção do Comitê eventualmente em
funcionamento na recuperação judicial quando da decretação da falência;
• E ordenar a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de
todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, para que tomem conhecimento
da falência.
A sentença ainda que seja declaratória tem natureza constitutiva, sendo admitido o recurso de agravo da decisão
que decreta a falência, e da sentença que julgar- la improcedente do pedido cabe apelação. Os prazos do agravo
e da apelação seguem aqueles previstos no CPC.

E você recorda de quanto tempo são os prazos para agravo e apelação previstos do Código
de Processo Civil?

A partir do momento que seja decretada a falência se dará início ao processo de liquidação dos ativos, para que
assim na medida do possível sejam liquidados os débitos existentes. Competirá ao administrador judicial a arre-
cadação dos bens e documentos, a avaliação e venda dos bens dos bens, separadamente, no local em que se
encontrem e requere ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias.
O administrador judicial ou pessoa por ele escolhida e que esteja sob sua responsabilidade ficará encarregado da
guarda dos bens, podendo ainda o falido ou qualquer de seus representantes ser nomeado depositário dos bens.

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Convém destacar que não serão arrecadados os bens absolutamente impenhoráveis e ainda que haja
avaliação em bloco, o bem objeto de garantia real será também avaliado separadamente. E caso não seja
possível a avaliação dos bens no ato da arrecadação, o administrador judicial requererá ao juiz a conces-
são de prazo para apresentação do laudo de avaliação, que não poderá exceder 30 (trinta) dias, contados
da apresentação do auto de arrecadação (§ 4o do art. 108 c/c  § 1o  do art. 110 da Lei 11.101/05).

Logo após a arrecadação dos bens, com a juntada do respectivo auto ao processo de falência, será iniciada a
realização do ativo, observando a seguinte ordem de preferência, conforme prevê os incisos I ao II do art. 140 da
Lei 11.101/05:
• Alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;
• Alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente;
• Alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor;
• Alienação dos bens individualmente considerados.
A alienação dos ativos poderá ser realizada por meio de leilão, por lances orais; por propostas fechadas e até por
pregão. Como a modalidade de pregão é hibrida subdivide-se em duas fases a do recebimento de propostas e por
leilão por lances orais, de que participarão somente aqueles que apresentarem propostas não inferiores a 90%
(noventa por cento) da maior proposta ofertada.
Com a liquidação dos ativos se dará inicio as restituições, pagamento dos créditos extra concursais, e por fim dos
retardatários. As importâncias recebidas com a realização do ativo serão destinadas ao pagamento dos credores,
atendendo à seguinte ordem preferencial: os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento
e cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; os créditos com garantia
real até o limite do valor do bem gravado; os créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo
de constituição, excetuadas as multas tributárias; e os créditos com privilégio especial (art. 83 da Lei 11.101/05).
Ainda segundo previsões da Lei 11.101/05 em se tratando da restituição o proprietário de bem arrecadado no
processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir
sua restituição. E da decretação da sentença a coisa reclamada deverá ser entregue no prazo de 48 (quarenta e
oito) horas. Além disso, o requerente que tiver obtido êxito no seu pedido ressarcirá a massa falida ou a quem
tiver suportado as despesas de conservação da coisa reclamada. E caso não couber pedido de restituição, fica
resguardado o direito dos credores de propor embargos de terceiros, observada a legislação processual civil.
A continuação a lei em seus artigos prevê que quando for concluída a realização de todo o ativo, e distribuído o
produto entre os credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo de 30 (trinta) dias
e uma vez julgadas as contas do administrador judicial, ele apresentará o relatório final da falência no prazo de
10 (dez) dias, indicando o valor do ativo e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o dos pagamentos
feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com que continuará o falido. Devendo
ainda apresentar o relatório final, encerrando assim o juiz a falência por sentença.

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Direito | Unidade 8 - Direito Societário e Recuperação Judicial

A sentença de encerramento será publicada por edital e dela caberá apelação.

Convém ainda destacar que da sentença que declarar extinta as obrigações será comunicada a todas as pessoas
e entidades informadas da decretação da falência. E após o trânsito em julgado, os autos serão apensados aos
da falência. E uma vez verificada a prescrição ou extintas as obrigações nos termos da Lei 11.101/05, o sócio de
responsabilidade ilimitada também poderá requerer que seja declarada por sentença a extinção de suas obriga-
ções na falência.

8.5 Dos crimes falimentares


Os crimes falimentares ou, como denomina a Lei nº 11.101/05, os crimes em espécie, são disciplinados do Artigo
168 ao Artigo 178, prevendo penas de reclusão, detenção e alternativas. Convém destacar que crime é considerado
um fato típico, antijurídico e culpável, conforme a teoria analítica. Isso para fins introdutórios e basilares. Os crimes
em espécie deverão somente ser dosados depois de decretada a falência, a concessão da recuperação judicial ou a
homologação do plano em recuperação extrajudicial. Veja quais são crimes previstos na Lei nº 11.101/05:
• Fraude a credores – Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a
recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte
ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar vantagem indevida
para si ou para outrem. Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa (BRASIL, 2005).
Admite aumento, redução ou substituição da pena de pena e também prevê a hipótese de concurso de pessoas.       
• Violação de sigilo empresarial – Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empre-
sarial ou dados confidenciais sobre operações ou serviços, contribuindo para a condução do
devedor a estado de inviabilidade econômica ou financeira: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4
(quatro) anos, e multa.
• Divulgação de informações falsas – Divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação
falsa sobre devedor em recuperação judicial, com o fim de levá-lo à falência ou de obter
vantagem:   Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
• Indução a erro -  Sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no processo
de falência, de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a
erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembléia-geral de credores, o Comitê ou o
administrador judicial: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
• Favorecimento de credores – Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência,
conceder a recuperação judicial ou homologar plano de recuperação extrajudicial, ato de
disposição ou oneração patrimonial ou gerador de obrigação, destinado a favorecer um ou
mais credores em prejuízo dos demais: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

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Direito | Unidade 8 - Direito Societário e Recuperação Judicial

• Desvio, ocultação ou apropriação de bens - Apropriar-se, desviar ou ocultar bens perten-


centes ao devedor sob recuperação judicial ou à massa falida, inclusive por meio da aquisi-
ção por interposta pessoa: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
• Aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens – Adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem
que sabe pertencer à massa falida ou influir para que terceiro, de boa-fé, o adquira, receba
ou use: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
• Habilitação ilegal de crédito – Apresentar, em falência, recuperação judicial ou recupera-
ção extrajudicial, relação de créditos, habilitação de créditos ou reclamação falsas, ou juntar
a elas título falso ou simulado: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
• Exercício ilegal de atividade – Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou incapacitado
por decisão judicial, nos termos desta Lei: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
• Violação de impedimento - Adquirir o juiz, o representante do Ministério Público, o admi-
nistrador judicial, o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou o
leiloeiro, por si ou por interposta pessoa, bens de massa falida ou de devedor em recupera-
ção judicial, ou, em relação a estes, entrar em alguma especulação de lucro, quando tenham
atuado nos respectivos processos: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
• “Omissão dos documentos contábeis obrigatórios - Deixar de elaborar, escriturar ou
autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação
judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração
contábil obrigatórios: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não cons-
titui crime mais grave” (BRASIL, 2005, grifo nosso).

Para maior aprofundamento SOS temas abordados nesta unidade consulte o livro de Dinis,
Gustavo Saad, Grupos societários: da formação a falência, Rio de Janeiro: Forense, 2016.

E assim finalizamos o estudo do Direito Societário e recuperação judicial, não deixe de realizar o nosso fórum
desafio. Bons estudos e até breve!

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Considerações finais
Chegamos ao final da nossa última unidade de ensino. Aprendemos
muito até aqui. Os pontos principais abordados nessa unidade foram:
1. Lei 11.101/05 é responsável por regular a recuperação judicial, a
extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresá-
ria.
2. Tipos de recuperação – Judicial (art. 1 ao 69 e 73 da Lei 11.101/05);
Extrajudicial ou Judicial especial (art. 73 ao 160 da Lei 11.101/05);
ou plano especial ou recuperação prevista nos art. 70 ao 72 da Lei
11.101/05 é aplicada somente em casos envolvendo microem-
presa e empresa de pequeno porte.
3. A Lei 11.101/05 prevê diversos prazos e atos que deverão ser cum-
pridos pelas partes em ações de recuperação e também falência.
4. A insolvência, a impontualidade, o protesto, a execução frustrada,
os atos de falência, o descumprimento do plano da recuperação
judicial são algumas das causas determinantes da falência.
5. De acordo com os artigos 168 ao 178 da Lei 11.101/05 os Cri-
mes falimentares ou crimes em espécie são: Fraude a credores,
Violação de sigilo empresarial, Divulgação de informações falsas
Indução a erro, Favorecimento de credores, Desvio, ocultação ou
apropriação de bens, Aquisição, recebimento ou uso ilegal de
bens, Habilitação ilegal de crédito, Exercício ilegal de atividade,
Violação de impedimento, Omissão dos documentos contábeis
obrigatórios.

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Referências bibliográficas
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 17. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013, v. 1 e 2

MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação


empresarial. São Paulo: Atlas, 2016.

MARTINS, Fran. Curso de direito comercial, 39. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2016.

NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 13· Ed.


São Paulo: Saraiva, 2017.

VADEMECUM, 23. ed. Saraiva, 2017.

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