Imagem Corporal e Somatotipo - Investigações em População de Mulheres Universitárias
Imagem Corporal e Somatotipo - Investigações em População de Mulheres Universitárias
Imagem Corporal e Somatotipo - Investigações em População de Mulheres Universitárias
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Junho - 2014
Marcela Rodrigues de Castro
Rio Claro - SP
2014
796.1 Castro, Marcela Rodrigues
C355i Imagem corporal e somatotipo: investigações em
população de mulheres universitárias / Marcela Rodrigues
Castro. - Rio Claro, 2014
149 f. : il., figs., forms., quadros
Dedico esse trabalho a uma pessoa que me ensinou a diferença entre conhecimento e
sabedoria, que o verdadeiro saber não se encontra apenas nos livros e que é preciso parar e
“ouvir” o ritmo da vida. A você, tio Fernando (In Memorian) que se despediu cedo demais,
mas que deixou um legado importante a mim e em nossa família. E sei que de onde estiver
estará torcendo por mim. Obrigada por fazer parte da minha formação pessoal e acadêmica!
Até breve...
AGRADECIMENTOS
“Não vai ser fácil!”. Algo me dizia. Mas, eu não precisava que fosse fácil, eu precisava
fosse possível! E foi! E agora estou no começo do fim, e no fim do começo, pois, a estrada
mais longa ficou pra trás e agora é hora de iniciar um novo ciclo. Escrever esta parte da tese
significa retomar esse caminho, rever as dificuldades, as soluções, as derrotas, os sucessos, os
aprendizados, os choros e os risos. Mas, mais do que isso é momento de agradecer e lembrar
aqueles que me ajudaram, e por vezes, me carregaram até aqui.
Como não elevar os pensamentos a Deus e agradecer nesse momento, porque Ele
disse: “Mil cairão à tua esquerda e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti [...]. Nenhum
mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.
Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus
caminhos. Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra”
(Salmo 91). E eu acreditei, obrigada Senhor pela sua proteção em todos os momentos difíceis,
e por me fornecer discernimento e humildade para lidar com os sucessos.
Uma homenagem especial àqueles que me deram a base fundamental para chegar até
aqui: minha família! Aos meus pais, Mauro e Sueli, que me deram a vida, me forneceram
boa educação, com valores sólidos e verdadeiros que me permitiram lidar com as dificuldades
e não me envaidecer com as conquistas. Sei que o maior orgulho de vocês não é o título, mas
sim o caminho honesto que trilhei para consegui-lo.
Sinto também a presença de vocês que disseram um “até breve”: meus avós queridos,
Erodina e Zezé, e tios Paulo e Fernando (In Memorian), pois, não morre quem em nós ainda
vive. Além disso, acredito que “o fim é belo e incerto, depende de como você vê” (O Teatro
Mágico), e eu tenho certeza que vocês estarão aqui, sempre, e “só enquanto eu respirar, vou
me lembrar de você (s)” (Idem). O meu mais profundo agradecimento por contribuírem para
eu ser quem sou hoje.
Agradeço também a todos que de uma forma ou de outra, mais perto ou mais distantes
se fizeram presentes: tio Zé Carlos, tia Carmen, tia Jussara, tio Eduardo, tia Isabel, tio Ymin,
tia Rita, e a todos os primos. Vocês fazem parte da minha história e sempre vão fazer.
A vocês também meus irmãos, Rachel e Thiago, apesar da distância nesses últimos
anos sei da admiração e da torcida de vocês por mim. Para homenageá-los tomo emprestadas
as palavras de Drummond em “Boitempo”: “Ser irmão é ser o quê? Uma presença a decifrar
mais tarde, com saudade? Com saudade de quê? De uma pueril vontade ser irmão futuro,
antigo e sempre?”. Saudades das nossas brigas de infância, crescemos rápido demais, e a vida
se tornou muito séria. Obrigada por trazer novamente os bons ventos e o frescor do nosso
passado tão feliz!
Amo todos vocês! Sofremos de “lonjuras”, dito no bom “mineirês”, afinal,
segundo Simone de Beauvoir, “toda vitória oculta uma abdicação”, mas sei que
caminham sempre comigo! Obrigada!
Olhar para essa caminhada, neste momento, é também lembrar as despedidas e
ausências. Mas, mais ainda é contemplar os (re) encontros de vidas. E sem dúvida, meu maior
ganho nesse processo (re) encontrá-lo Luiz, meu amor, meu amigo, meu companheiro e...meu
esposo! Aprendi há muito tempo que não ENCONTRAMOS um amor, mas sim o
RECONHECEMOS, e hoje sei que isso é verdade. É impossível traduzir em palavras a
importância da sua presença nesse percurso, o qual sem você certamente seria muito tortuoso.
Obrigada por todo apoio, carinhos, colo, leituras críticas do meu texto, pelos sorrisos,
leitinhos quentes e sua presença constante. “Foi um passarinho que me contou que não vale a
pena esconder sentimentos, que não é bom viver sozinho e que todo mundo quer formar um
ninho... Eu concordo com o passarinho!” Te amo e que venham os próximos 58 anos!
O (re) encontro não teria sido completo sem vocês Jandira e Tamyres (My), sogra e
cunhada, obrigada por me permitirem entrar na sua família, por me apoiar, me ouvir e me
incentivarem, que juntamente com Tia Rô, Maria e Kimie torceram e oraram por mim
fazendo que eu sentisse que aqui eu tenho uma família.
Uma homenagem especial à família que Deus e a vida me permitiram escolher: meus
amigos! Com vocês, aprendi que “Somos todos anjos com uma asa só; e só podemos voar quando
abraçados uns aos outros” (Luciano de Crescenzo).
Inicio com vocês, Rapha e Lívia, com quem cresci e aprendi que ser amigo é mesmo na sua ausência
sentir a sua presença. E é nosso lema que nos conecta mesmo apesar da distância. Obrigada por se fazerem
presentes em cada momento.
Daniel (Dani), como olhar para trás e não sentir seu olhar de amigo, de irmão mais velho, obrigada por
me levantar tantas vezes, por me dar segurança e curtir comigo minhas vitórias. A você também João Paulo, meu
amigo, irmão e agora “dindo” e afilhado querido, obrigada pelos colos e conselhos, como é bom sentir o orgulho
nos seus olhos! Claudiney, meu amigo tão culto, nossas risadas e estudo de inglês antes da minha vinda, nunca
vou me esquecer daqueles momentos.
Flávia e Priscila, ainda ouço aquele “Lamento Nordestino” e vocês se despedindo de mim, e mesmo
distantes vocês me apoiaram e me encheram de ânimo para continuar. Norma (Normete), minha amiga querida,
obrigada pelas horas no telefone, pelas confidências trocadas, por acreditar no meu potencial e me encher de
mimos a cada ida minha a Juiz de Fora, sinto muito sua falta em meus dias. Obrigada também Grace
(Greicinhaaa!) a quem segui os passos e vim parar aqui, minha amiga agradeço pela parceria de tantos anos. A
Fabi, minha amiga, irmã, parceira acadêmica, seus traços estão na minha vida pessoal e profissional, obrigada
pelo apoio em todos os sentidos, pelos longos telefonemas me ouvindo e me aconselhando.
Um agradecimento especial às famílias do Sr. Paulo e D. Clélia; Joaquim, Maria, Gá,
Gil e João; que me adotam há muitos anos e acompanham à distância meu progresso e
crescimento, com um orgulho imensurável. Sinto muito falta de todos vocês, mas saibam que
tudo que me ensinaram continua indo comigo.
Sem dúvida a distância de todos vocês nunca significou falta, mas a saudade doía. E
novamente fui abençoada com novos amigos, a quem devo aqui registrar minha singela
homenagem e agradecimentos. Vera e Zeca, os primeiros a me receber, sem nem me
conhecerem, nunca me deixaram sozinha até que eu realmente me encontrasse, obrigada pelos
papos, por ouvirem sobre o projeto incansavelmente e pelos almoços agradáveis de domingo.
Regina, Anísio e Gui, meus primeiros alunos, que me confiaram seus corpos e reforçaram o
meu profissionalismo. Laurem e Maurício, agradeço por tantas vezes ouvirem meus anseios
acerca da pós, sobre estatística e ainda me presenteavam com “mimos da boa vizinhança”.
Milena (Mi) minha amiga linda, me sustentou e orou comigo em momentos difíceis, obrigada!
Após esse processo de doutoramento, mais do que o título levarei verdadeiras joias.
Ana Clara (Aninha), Thais (Thatazilda) e Bruna (Brunete), como é bom saber que nossos
laços jamais serão destruídos. Com vocês aprendi que a dor pode ser aliviada com sorriso, um
abraço, e claro, com café. Obrigada pelas risadas, e como falamos besteiras não é mesmo?
Mas termino essa caminhada com uma certeza: conquistei verdadeiras amizades, que estarão
comigo pelo resto da minha vida!
Leo e Sissy, meus amigos e “dindos” queridos, foi um prazer tê-los perto de mim a
todo o momento, vocês são verdadeiros presentes que recebi nesse caminho. Obrigada por
todas as vezes que me apoiaram e me ouviram. Vocês moram no meu coração!
Um agradecimento especial a um grupo que literalmente me adotou: Aline, Irlla,
Amanda, Vitinho e Yumi. Acho que vocês não tem noção da importância que tiveram esse
tempo todo, e aqui eu registro a minha gratidão por vocês não me deixarem na solidão, por se
tornarem meus amigos, por me escutarem, me levarem pra dançar (eita forró!), pelas esfirras e
papos. Tenham certeza: sem vocês teria sido muito, muito mais difícil!
Laurita, Carlos, Carmem e Marim, meus alunos, meus amigos, meus mestres, meus
exemplos. Todos esses adjetivos se misturam, mas vocês acompanharam e sentiram comigo
cada momento desse processo, obrigada pela confiança que depositaram em mim, pela
orientação em diferentes momentos, pelo brilho nos olhos de orgulho. Saibam, vocês fazem
parte disso, minha conquista é a de vocês também!
Existem pessoas que acreditam em um projeto, e outras que verdadeiramente
“militam” por ele. Esse foi o caso de três pessoas fundamentais para essa pesquisa acontecer:
Larissa, Mayara e Fernanda. Nós trabalhamos arduamente, mas nos divertimos na mesma
proporção, daria pra escrever um livro apenas acerca dos “causos” nas coletas. Se esse
trabalho hoje está pronto, devo isso a vocês! Fica aqui o meu mais profundo agradecimento, e
ao mesmo tempo saudades, desse tempo que não voltará mais.
Dois verdadeiros anjos guardiães estiveram presentes comigo. O primeiro é você Ana
Paula, ou melhor, Vi, minha amiga, minha irmã, minha “dinda”. Não conseguirei traduzir em
palavras o que sinto agora, pois, vai além de agradecimento, e sei que você sente o mesmo.
Por isso, me sinto abençoada por ter tido você ao meu lado, do início ao fim, sem você não
teria conseguido. Obrigada por tantas vezes que me fez enxergar as coisas de forma mais clara
quando a mente estava atordoada, e o coração pesado, obrigada por escutar meus choros, por
me acolher no seu colo. Obrigada também por todas as risadas, pelas novelas, pelo “besteirol”
sem fim que me fazia desconectar da imagem de pós-graduanda (séria) que sou. Esse sucesso
é seu! Te amo Vi!
O segundo anjinho chama-se Stephanie, minha irmã de alma, minha flor de Lis mais
linda, minha “dinda”! Sabe por que podemos comemorar hoje? Porque um dia você me disse:
“não desiste, porque você é meu exemplo”. Você se lembra disso? Pois, eu nunca me esqueci.
E foi exatamente isso que me impulsionou e me fortaleceu. Posso dizer que nós vencemos
amiga, porque essa vitória é toda sua. Não tem um só detalhe que você não saiba ou não tenha
coloca sua marca, você sentiu na carne esse doutorado tanto quanto eu. Não consigo nem
imaginar como seria sem sua presença. Por isso, espero que essa parceria se propague, e já
estamos colhendo frutos dela. Agradeço a Deus por ter te colocado na minha vida, dando a ela
mais brilho, mais coragem e reforçando a minha fé. “We are the champions, my friend…” Te
amo flor de Lis!
A todos meus amigos registro meu mais verdadeiro agradecimento, estou certa
que "um verdadeiro amigo é alguém que pega a sua mão e toca o seu coração” (Gabriel
García Márquez), e eu hoje me sinto abençoada por ter ao redor verdadeiros amigos,
que doutora ou não estarão comigo, no processo mais árduo que existe: a vida! Amo
vocês!
Registro aqui também minha homenagem aos alunos da Universidade Estadual
Paulista do Campus de Rio Claro que participaram efetivamente dessa pesquisa, que se
disponibilizaram, e doaram um pouco do seu tempo com compromisso e responsabilidade
para que essa pesquisa pudesse acontecer, e por todos que se engajaram na divulgação e na
seleção de outros participantes.
Agradeço ao financiamento na forma de bolsa de doutorado fornecido pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPS. Ao excelente
trabalho exercido pelas secretárias da pós-graduação Ivana e Rose, ah se todos os funcionários
públicos fossem iguais a vocês! Ao Centro de Estudos e Laboratório de Avaliação e
Prescrição de Atividades Motoras – CELAPAM – que me acolheu carinhosamente em um
momento de mudanças, especialmente Bárbara, Ana Cláudia, Loreana, Paula, Tiego, Fabrício
e Lucas, como eu disse a alguns de vocês: lamento não ter passado mais tempo com vocês,
espero reencontrá-los em breve. Obrigada por me receberem, me apoiarem e acreditarem no
meu trabalho, me permitindo fazer parte sua realidade.
Um dos “desafios” que tive que driblar ao longo da pós-graduação foi a estatística. Por
isso, registro aqui o meu profundo respeito pelo docente José Sílvio Govone, primeiro pelo
exemplo de professor que é, segundo pela paciência em me iniciar no mundo da estatística e
solucionar todas as minhas dúvidas. Tal processo foi reforçado pelo professor Diego Giulliano
Destro Christofaro, que cuidadosamente conseguiu me ensinar coisas que na minha visão
eram tão complexas, me deu segurança e me fez acreditar que eu realmente era capaz.
Agradeço a professora Maria Elisa por me guiar desde o início da minha vida
acadêmica e contribuir para a profissional e pessoa que sou hoje. Obrigada pelo carinho e
atenção em todos os momentos, pela presença apesar da distância, e pela parceria acadêmica
que foi sendo reforçada. Espero que possamos continuar nessa caminhada da vida juntas, por
bastante tempo.
“Às vezes quando imaginamos que nos perdemos, é então que nos encontramos” disse
Leonardo Boff. Tive certeza disso ao ser recebida pelo senhor, professor Ismael!
Generosidade é a palavra que usarei sempre para descrevê-lo, pois, certamente foi essa
qualidade que o fez me acolher. Obrigada por aceitar me orientar, e mais ainda por me dar
segurança, liberdade, por acreditar no meu potencial, por me acalmar. Apenas lamento por ter
passado tão rápido, tenho certeza que ainda teria muito a aprender com sua presença e da sua
equipe. Carregarei comigo o seu exemplo de orientador, aquele que possui capacidade de
reforçar as qualidades de seus orientandos. Obrigada por me oportunizar isso tudo! Vou sentir
saudades do sertão!
Sempre é preciso reconhecer quando chegamos ao final, fechando ciclos, encerrando
etapas. Tendo a certeza de que é preciso continuar, e que seremos interrompidos antes
mesmo de terminar, por isso é necessário fazer da interrupção um novo caminho. E como é
bom terminar essa trajetória e saber que inúmeras pessoas que se fizeram presentes
continuarão comigo! Que esse seja então apenas um recomeço...
EPÍGRAFE
(O Teatro Mágico)
RESUMO
This study aimed to understand the associations between somatotypical profile and body
image from a multidimensional approach, in which we include perceptual and attitudinal
dimensions. We sought to verifying whether the psychometric qualities of instruments
assessing dissatisfaction and body perception with a focus on real image of the subject,
dynamic image and somatotype (Escala de Silhuetas do Próprio Sujeito- ESPS, Escala de
Silhuetas Baseadas no Somatotipo - ESBS, Imagem Dinâmica do Corpo - IDC). The sample
included 142 undergraduate female students (21.81 ± 3.014 years) who underwent to
assessment of Body Mass Index and somatotype, according to the World Health Organization
and Heath-Carter protocols, respectively. To assess the attitudinal dimension we applied the
instruments: Body Shape Questionnaire, Body Attitudes Questionnaire, Body Image
Avoidance Questionnaire, Sociocultural Attitudes Towards Appearance Scale, Self Subject
Silhouettes Scale (ESPS) and Silhouettes Based on Somatotype Scale (ESBS). To measure
perceptual dimension 3 psychophysical tasks were used: ESPS, Estimation of Magnitude and
Estimation of Category. This last one was performed in two conditions: own body image and
body of the 4 unknown models. We performed descriptive analysis using measures of central
tendency, dispersion, relative and absolute frequency. To verify the association between
categorical variables we performed Chi-square test. To verify the normality of continuous
data we proceeded to Shapiro-Wilk test (p<0.05). We applied multivariate statistical variance
(one-way MANOVA) for variables that showed normal distribution. We applied the Kruskal-
Wallis test for analysis of variance to the results which were not normally distributed. To
verify the association between variables we applied the Mann-Whitney test for independent
samples and Spearman correlation. The ESPS, ESBS and IDC scales were considered valid,
reliable and stable tools to assess body image. The body dissatisfaction, body avoidance and
negative attitudes regarding appearance components are interconnected and influenced by
mesomorph and endomorphs somatotypical profiles. On the other hand, the high level of
dissatisfaction with overweight and desire to increase mesomorph, verified by silhouettes
scales, was not associated with somatotypical profile. There was no influence of
somatotypical profile in the perception of static and dynamic image, independent of the
viewing plane. The participants, in general, showed overestimation of their body shape in
different tasks. However, the findings require careful interpretation because the conduct of
ESPS may have suffered increment of some affective component motivating body
overestimation by more than 50% of the sample. Furthermore, look to yourself in the static
image is not correlated with watching yourself in moving, indicating that these perceptual
processes are different and independent of body shape. The somatotypical profile also do not
modulated the results concerning to the verification of perceptual quality about unknown
models. Apparently, the tasks are different, because in the Magnitude Estimation there was a
trend to accentuation the extremes: overestimation of larger body sizes and underestimation of
minors; in the task of dynamic image display, all models had their bodies assessed as larger.
We conclude that the attitudinal dimension is more susceptible to somatotypical profile
whereas the perceptual dimension dependens of the task.
Keyword: Body image. Somatotype. Attitudinal dimension. Perceptive dimension.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Página
Artigo I
Artigo II
AF Atividade Física
BAQ Body Attitudes Questionnaire
BIAQ Body Image Avoidance Questionnaire
BSQ Body Shape Questionnaire
CC Circunferência da cintura
CQ Circunferência de quadril
DC Dobras cutâneas
DENS Densidade
DF Diâmetro fêmur
DPS Distância Posicional do Somatotipo
DU Diâmetro biepicondilar de úmero
DSM-V Diagniostic and Statical Manual of Mental Disorders
Ecto Ectomorfia
Endo Endomorfia
ESBA Escala de Silhuetas Brasileiras para Adultos
ESBS Escala de Silhuetas Baseadas no Somatotipo
ESPS Escala de Silhuetas do Próprio Sujeito
G% Percentual de Gordura
H Estatura
IC Índice de Conicidade
ICD Imagem do Corpo Desconhecido
IDC Imagem Dinâmica do Corpo
IDCD Imagem Dinâmica do Corpo Desconhecido
IMC Índice de Massa Corporal
IMCG Índice de Massa Corporal Gorda
IMCM Índice de Massa Corporal Magra
Meso Mesomorfia
MPS Média Posicional do Somatotipo
n Expoente
PB Perímetro do braço corrigido pela subtração de TR
PM Panturrilha medial
PP Perímetro da panturrilha corrigida pela subtração de PM
R Raiz cúbica do peso (Kg)
r Razão de incremento
r2 Coeficiente de determinação
SATAQ-3 Sociocultural Attitudes Towards Appearance Scale
SB Subescapular
SE Supra espinhal
Sf Estímulo final
SFRS Stunkard’s Figure Rating Scale
Si Estímulo inicial
SI Supra Ilíaca
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
TCAP Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica
TR Tríceps
SUMÁRIO
Página
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 20
2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 23
2.1 Base conceitual de imagem corporal..................................................................... 23
2.1.1. Abordagens para análise da imagem corporal ............................................... 23
2.1.1.1 Dimensão perceptiva ......................................................................... 25
2.1.1.2 Dimensão atitudinal........................................................................... 25
2.2 Evidências científicas sobre imagem corporal: aspectos relevantes na literatura
............................................................................................................................... 27
2.3 Avaliação da imagem corporal ............................................................................ 32
2.3.1 A imagem corporal como um constructo .......................................................... 32
2.3.2 Avaliação da dimensão atitudinal .................................................................... 34
2.3.3 Avaliação da dimensão perceptiva: a imagem corporal sob o enfoque psicofísico
.......................................................................................................................... 35
2.3.4 Índices antropométricos, composição corporal e somatotipo enquanto
parâmetros na avaliação da imagem corporal ................................................... 38
3 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 42
4 OBJETIVOS .............................................................................................................. 45
5 HIPÓTESES ALTERNATIVAS................................................................................ 45
6 MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................................... 47
6.1 Delineamento ......................................................................................................... 47
6.2 Aspectos éticos ....................................................................................................... 47
6.3 População e amostra.............................................................................................. 47
6.4 Critério de inclusão e exclusão .............................................................................. 48
6.5 Instrumento para coleta de dados......................................................................... 48
6.6 Etapas e estruturação da coleta de dados ............................................................. 52
6.6.1 Fase I: Projeto Piloto ...................................................................................... 52
6.6.2 Fase II: primeiro encontro ............................................................................... 53
6.6.3 Fase III: construção dos estímulos e organização das tarefas .......................... 56
6.6.4 Fase IV: segundo encontro............................................................................... 59
7 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................ 66
8 RESULTADOS ........................................................................................................... 67
8.1 Verificação das qualidades psicométricas da ESPS e ESBS ................................ 67
8.1.2 Validade de conteúdo ....................................................................................... 67
8.1.3 Validade de constructo ..................................................................................... 68
8.1.4 Validade de critério ......................................................................................... 68
8.1.5 Fidedignidade .................................................................................................. 68
8.1.6 Análise estatística ............................................................................................ 68
8.1.7 Resultados ...................................................................................................... 69
8.1.8 Discussão e orientações para aplicação da ESBS e ESPS..................................70
8.2 Verificação das qualidades psicométricas da IDC ............................................... 72
8.2.1 Validade de constructo ..................................................................................... 72
8.2.2 Fidedignidade .................................................................................................. 72
8.2.3 Análise dos dados ............................................................................................ 72
8.2.4 Resultados ....................................................................................................... 72
8.2.5 Discussão e orientações para aplicação da IDC.................................................73
8.3 Artigo I: Relação entre aspectos atitudinais da imagem corporal e perfil
somatotípico ....................................................................................................................... 76
8.4 Artigo II: Relação entre aspectos perceptivos da imagem corporal e perfil
somatotípico ....................................................................................................................... 91
8.5 Artigo III: Percepção tridimensional e dinâmica e estática do corpo ............... 107
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 120
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 123
ANEXO I: Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa – UNESP – Rio Claro ................ 137
ANEXO II: Body Shape Questionnaire (BSQ) .......................................................... 138
ANEXO III: Body Attitudes Questionnaire (BAQ) .................................................... 140
ANEXO IV: Body Image Avoidance Questionnaire (BIAQ) ...................................... 141
ANEXO V: Sociocultural Attitudes Towards Appearance Scale (SATAQ-3) .............. 142
ANEXO VI: Escala de Silhuetas Brasileiras para Adultos (ESBA) ............................ 143
ANEXO VII: Stunkard’s Figure Rating Scale (SFRS) ............................................... 144
ANEXO VIII: Escala de Silhuetas Baseadas no Somatotipo (ESBS) ......................... 145
ANEXO IX: Somatocarta ........................................................................................... 146
APÊNDICE I: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - (TCLE) .................... 147
APÊNDICE II: Anamnese pré-teste ........................................................................... 149
20
1 INTRODUÇÃO
1
Cabe esclarecer que há na literatura controvérsias acerca dessa questão não explicitando se são as alterações na
imagem corporal que causam os transtornos ou características individuais tais como as de origem emocional,
cognitiva, comportamental, tendências suicidas e conflitos de autonomia (ver: DELINSKY, S.S. Body Image
and anorexia nervosa. In: CASH, T.F.; SMOLAK, L. Body image: a handbook of science, practice, and
prevetion, 2a edition. New York: Guildford Press, 2011.
2
A dor fantasma é uma sensação dolorosa referente ao membro (ou parte dele) perdido que pode se manifestar
em diversas formas tais como ardor, aperto, compressão ou até mesmo uma dor intensa e frequente (DEMIOFF;
PACHECO; SHOLL-FRANCO, 2007). Disponível em:
<http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v12/m347199.pdf > Acesso em: 12 jan 2014.
21
mesma amostra outras dimensões e componentes desse constructo que por essência é
multidimensional. A segunda refere-se à carência de estudos nesse contexto que investiguem
parâmetros de proporcionalidade, simetria e distribuição corporal, visando identificar
elementos e características da estrutura do corpo humano que possam desencadear alterações
importantes na imagem corporal.
Assim, o presente estudo origina-se da análise da imagem corporal partindo de um
entendimento amplo, que contempla tanto a dimensão perceptiva quanto atitudinal, e dentro
desta última seus quatro componentes – insatisfação geral subjetiva, afetivo, cognitivo,
comportamental – como proposto por Thompson e van den Berg (2002). Para avaliação da
estrutura corporal optou-se pelo somatotipo, na técnica proposta por Heath-Carter (1990), por
considerar a distribuição dos componentes corporais, especialmente tecido adiposo, massa
muscular, e a relação de proporcionalidade entre esses componentes.
Diante disso, a presente pesquisa tem interesse e motivação direcionados à
compreensão da relação da imagem corporal em função da morfologia humana no que tange
às características físicas da estrutura corporal. Tal entendimento ainda encontra-se sob a
perspectiva linear de corpo com a utilização de parâmetros como, por exemplo, o Índice de
Massa Corporal (IMC) que é fortemente relacionado à insatisfação corporal (ALVARENGA
et al., 2010; MARTINS et al. 2012; SWAMI; STEADMAN; TOVÉE, 2009). Tal parâmetro é
amplamente utilizado nesse contexto devido a sua fácil aplicabilidade e praticidade, contudo,
torna-se importante ampliar tal perspectiva investindo no aprofundamento do estudo das
relações entre imagem e estrutura corporal de forma multidimensional no intuito de fornecer
informações precisas e relevantes aos profissionais que lidam diretamente com o corpo,
podendo contribuir para que suas intervenções sejam mais assertivas no estímulo a uma
imagem corporal mais positiva.
Dessa forma, com a intenção de conduzir esta investigação para uma interpretação
complexa do que se entende por imagem corporal, transcendendo a percepção linear de corpo
para uma concepção que possibilite compreender se proporcionalidade e simetria corporal,
recorreu-se aos conhecimentos sobre composição corporal, psicofísica, cultura e imagem
corporal por meio do olhar de diferentes autores dentre os quais destacam-se: Carter e Heath
(2002); Da Silva e Ribeiro-Filho (2006); Gardner (1996, 2002, 2011); Pruzinsky e Cash
(2002); Cash e Smolak (2011); Thompson (1990, 2004); McCabe et al. (2006); Campana e
Tavares (2009).
23
2 REVISÃO DE LITERATURA
Sociocultural
Neurológica Cogntivo-
comportamental
Imagem
Corporal:
Abordagens
Teoria do
processamento Psicodinâmica
de informação
podendo ser caracterizada por duas dimensões: a perceptiva; que é relativa à capacidade de
julgar tamanho, forma e peso corporal e atitudinal; que envolve pensamentos, sentimentos,
crenças e comportamentos que o sujeito possui acerca de sua aparência corporal. Ambas
merecem ser olhadas com maior precisão e cuidado. Em 2011, Cash e Smolak acrescentam
outras abordagens: evolutiva, genética, neurocientífica, feminista (Teoria da Objetificação) e
positiva (CASH; SMOLAK, 2011), as quais incorporam novos elementos aos estudos em
imagem corporal.
medidas, palpação dobras em diferentes pontos do corpo, comparação do próprio corpo com o
de outras pessoas). Pesquisas relatam que tais comportamentos são comuns em populações
com excesso de peso (LATNER, 2008) e transtornos alimentares (TIMERMAN;
SCAGLIUSI; CORDÁS, 2009). Porém, recentemente White e Warren (2013) indicaram que
amostras não clínicas, como mulheres universitárias, também estão suscetíveis às mesmas
atitudes relativas ao corpo.
Componente Insatisfação corporal
Refere-se à autoavaliação negativa sobre o corpo que denota um profundo
descontentamento com o mesmo. Thompson (1990) destaca que a insatisfação corporal pode
estar associada aos componentes anteriores (afetivo, cognitivo e comportamental). Além
disso, o autor coloca ser o próprio conceito de insatisfação multidimensional diferenciado em
insatisfação com o peso, com a aparência e com o corpo.
A insatisfação com o peso é dada pela diferença entre o peso percebido pelo sujeito
como atual e o peso que o mesmo deseja para si. Já a insatisfação com a aparência refere-se à
aparência geral, podendo ser averiguado por instrumentos que se reportam a partes corporais
específicas ou com escalas das escalas de silhuetas considerando-se, portanto, a diferença
entre a imagem desejada e a imagem real. Por último, a insatisfação com o corpo refere-se ao
grau de importância ou estima direcionada pelo indivíduo para as diferentes partes do seu
corpo (THOMPSON, 1990). Thompson e Gray (1995) explicam que de forma geral a
insatisfação é fruto das relações sociais e culturais. Assim, esclarecem os autores, este é um
componente que possibilita diferentes interpretações e, portanto, deve ser avaliada com
instrumentos específicos.
No entanto, a busca “patológica” pelo corpo entendido como ideal tem feito crescer
indiscriminadamente o número de cirurgias plásticas para fins estéticos, trazendo para o
contexto médico pessoas aparentemente saudáveis. Um exemplo disso é o crescimento nos
últimos anos da busca por cirurgias plásticas corretivas. O Brasil ocupa o 2º país que mais
realiza tais procedimentos (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE CIRURGIA PLÁSTICA,
2011), sendo 70% deles de cunho estético (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA
PLÁSTICA – [SBCP], 2009), com objetivo de remodelar o corpo visando melhora na
aparência. A busca pela beleza per se pode afetar outras esferas da vida do indivíduo,
alterando a forma como ele se apresenta bem como a estima com seu próprio corpo. Sarwer,
Crerand e Magee (2011) alertam que o impacto em longo prazo da cirurgia plástica em
aspectos como a autoestima, sintomas depressivos e qualidade de vida estão ainda pouco
esclarecidos.
Além da aparência a função corporal também constitui-se de elemento fundamental
para imagem corporal, e juntos tornam-se fatores de motivação em grupos de obesos
mórbidos ao submeterem-se à cirurgia bariátrica (CASTRO et al., 2010; CASTRO et al,
2013). Tal procedimento provoca a redução de 40 a 60% do peso corporal (MARCELINO;
PATRÍCIO, 2011), o que ocorre é que essa mudança brusca nem sempre é acompanhada
proporcionalmente por mudanças na imagem corporal, podendo causar danos psicológicos
(CASH, 1990), levando à conclusão que intervenções cirúrgicas podem ser consideradas
“cirurgias da imagem corporal” (PRUZINSKY; EDGERTON, 1990).
Imagem corporal e atividade física: uma relação ainda não esclarecida
Em outra vertente, afora o contexto clínico e médico-cirúrgico, os estudos em imagem
corporal na atualidade têm sido conduzidos também em amostras não clínicas com foco na
saúde, na prática de atividades físicas voltadas para qualidade de vida (SEGAR et al.,2012;
ANDERSON; LIBONATI, 2012; FERRARI et al., 2012) e no contexto esportivo competitivo
(TORRES-MCGEHEE et al., 2009; URDAPILLETA et al., 2010). Os achados são ainda
inconclusivos, de forma que enquanto alguns autores afirmam que a prática de exercícios
reduz a insatisfação com o corpo (ROSENDAHL et al., 2009; FORTES; FERREIRA, 2011),
outros apontam para o contrário, especialmente atletas de alto rendimento possuem o foco
voltado para o corpo, e devido à cobrança constante estão mais pronos a desenvolverem
distúrbios de imagem corporal (DE BRUIN; OUDEJANS; BAKKER, 2007; SWAMI;
STEADMAN; TOVEÉ, 2009).
Especificamente em atletas, a insatisfação com o corpo somada ao elevado percentual
de gordura propicia o desenvolvimento de transtornos alimentares em especial as mulheres,
31
enquanto que para homens os fatores de risco são insatisfação corporal, percentual de gordura,
comprometimento psicológico para o exercício, idade e nível competitivo (FORTES;
ALMEIDA; FERREIRA, 2014).
Contudo, tais interpretações devem ser feitas com cautela uma vez que tais pesquisas
são transversais, e embora importantes, não é possível encontrar relações de causalidade em
um corte único. Recentemente, Ginis et al. (2014) realizaram estudo experimental testando o
efeito de treino aeróbico e resistido na imagem corporal e encontraram que a alteração na
percepção da gordura corporal bem como a autoavaliação positiva do condicionamento físico
na fase pós treino promoveu melhoras na imagem corporal. Todavia, tais pesquisas ainda são
raras, impossibilitando conclusões mais aprofundadas.
A insatisfação é proporcional aos valores IMC
Pesquisas apontam que a imagem corporal possui relação direta e proporcional com o
status nutricional (FERRARI et al., 2012,; LAUS et al., 2012). Por conta disso, parâmetros
antropométricos têm sido testados e apontados como indicadores na predição de alterações na
imagem corporal (TEHARD et al., 2002; PELEGRINI et al., 2011), a exemplo do Índice de
Massa Corporal (IMC), o qual em diversos estudos é apontado como preditor da insatisfação
com o corpo (CONTI; FRUTUOSO; GAMBARDELLA, 2005; KAKESHITA; ALMEIDA,
2006; GRAUP et al., 2008; PALLAN et al., 2011). Por outro lado, outras pesquisas apontam
que pessoas com peso dentro da normalidade apresentam níveis altos de distúrbios com a
imagem corporal (PINHEIRO; GIUGLIAN, 2006). Portanto, a questão entre valores
antropométricos e imagem corporal ainda não está totalmente resolvida. Como esta é a
temática central do presente trabalho a detalharemos mais adiante.
Correlatos neurais estão associados a aspectos atitudinais e perceptivos da imagem corporal
A pesquisa em imagem corporal historicamente vem se pautando em estudos que
correlacionam fenômenos, alterações e efeitos, na maioria das vezes, sem se preocupar com a
causa. A perspectiva neurológica vem passando por reestruturação em sua concepção da
imagem corporal e por meio de alta tecnologia como os escaneamentos cerebrais, vêm
associando as manifestações desse constructo a ativações de regiões de sistema nervoso
central (SUISMAN; KLUMP, 2011; OWEN; SPENCER, 2013). Estudos de Hashimoto e Iriki
(2013) em amostra não clínica detectaram ativação neural em áreas diferentes na percepção
corporal nos planos frontal e sagital, bem como no reconhecimento do próprio corpo e no
corpo do outro.
Pesquisas em pessoas anoréxicas vêm demonstrando anormalidades no tecido neural
de forma geral (TITOVA et al., 2013) e alterações na atividade do lobo parietal inferior, além
32
3
A validade pode englobar três tipos principais: 1) validade de conteúdo, a qual avalia o modo com que o
domínio específico do conteúdo é abordado pela escala; 2) validade de critério em que se verifica se a escala
possui associação empírica com algum critério considerado “padrão ouro” e está preocupada com a predição de
um determinado comportamento (podendo ser preditiva e concorrente); 3) validade de constructo, nesta é
verificada se a escala constitui uma representação legítima e adequada do constructo, se ela é sensível ao
domínio relacionado à variável observada (há dois tipos: validade convergente e discriminante) (Ver:
MORGADO et al. Diretrizes teóricas e metodológicas para criação de escalas de medidas em imagem corporal.
In: FERREIRA, M.E.C.; CASTRO, M.R.; MORGADO, F.F.R Imagem Corporal: reflexões, diretrizes e práticas
de pesquisa. Editora UFJF: 2014.)
34
forma contínuas e não ordinais, e que o número de silhuetas seja o suficiente para cobrir as
possibilidades na amostra pesquisada. Além disso, tanto no uso de escalas quanto de
questionários é necessário determinar se o que está sendo avaliado é traço ou estado, e se a
informação coletada é referente àquele momento ou por exemplo, o sujeito tem sentido nas
últimas 4 semanas (THOMPSON, 2004; CAMPANA; TAVAVES, 2009; CASH, 2011).
É importante esclarecer que não existe um “padrão ouro” em avaliação da imagem
corporal. Assim, o processo de avaliação precisa ser cuidadosamente planejado. A definição
dos instrumentos precisa ser rigorosa na verificação dos seus parâmetros psicométricos. Ou
seja, se a ferramenta escolhida é adequada para as características da população estudada.
Além disso, é extremamente recomendado que sejam utilizadas mais de uma medida de
avaliação (CASH, 2011; GARDNER, 2002).
O mesmo rigor também é recomendado para o ambiente de coleta, análise e
interpretação dos dados. Importante destacar a especificidade dos resultados, por se tratar de
um constructo fluido e subjetivo não é possível mensurar a imagem corporal de forma direta e
objetiva como, por exemplo, verificar a massa corporal de alguém em uma balança. Sendo
assim, os dados obtidos, seja por meio de questionários, escalas ou softwares, serão referentes
à dimensão que o instrumento se propõe a medir, e principalmente pertencentes àquele
contexto e momento da avaliação, portanto sujeito a mudanças.
É importante evidenciar que medidas atitudinais não tem valia para mensurar a
dimensão perceptiva, porém o inverso é verdadeiro (CAMPANA; TAVAVES, 2009). A
avaliação perceptiva demonstra a capacidade de estimar acuradamente o tamanho e forma
corporal (BENSON et al.,1999; TOVÉE et al., 2000; GARDNER, 2011). As técnicas
avaliativas dessa dimensão são inicialmente estruturadas na década de 60 quando descritos os
primeiros casos de transtornos alimentares, passando por reconceitualização na década de 80,
é repensada por autores, como Gardner, à luz da área da psicofísica (GARDNER, 2011),
como abordaremos no próximo item.
psicofísicas das variáveis não métricas (sem referência física conhecida) na testagem tanto de
magnitudes externas como internas (sentimentos, emoções etc.) (CAMPANA; TAVAVES,
2009). Portanto, a percepção da imagem corporal passa a ser concebida como resultado de
componentes sensoriais (informações visuais, táteis e cinestésicas) e não sensoriais
(interpretação das informações a nível neural, cognitivo e afetivo) (CASH; PRUZINSKY,
2002; MACCABE et al., 2006). O corpo, que é sujeito à métrica de uma escala, integra ambos
os componentes. A dificuldade está em identificar quantitativamente a contribuição de um e
de outro. Outra informação importante foi que distorções da percepção não se estendiam a
objetos e outras pessoas, mas era pessoal (CASH; PRUZINSKY, 2002; SMEETS, 1997).
Da Silva e Ribeiro-Filho (2006) pontuam que o problema não está em obter a
experiência perceptual, pois, nenhum aparelho é necessário para obter os perceptos, mas sim
descrever e investigar as individualidades de forma que estas possam ser reunidas e
compartilhadas. A solução da psicofísica para tal é emparelhar experiência perceptual aos
estímulos físicos, sendo estes um sistema de referência. Os autores consideram que a “arte da
psicofísica” consiste em elaborar protocolos precisos e simples para que sejam obtidos
resultados convincentes.
A partir desses conceitos, diferentes métodos de avaliação da dimensão perceptiva
foram criados e são classificados de acordo com a abordagem do corpo – métodos de partes
do corpo e métodos de corpo inteiro – e baseados nos procedimentos para estimativa do
tamanho – Métodos de réguas, Métodos de Marcação e Métodos de Distorção (BANFIELD;
McCABE, 2002; TAVARES; CAMPANA, 2009).
O método de distorção em vídeo (do inglês Distorting Video Technique), adotado para
essa pesquisa, consiste em expor ao avaliado imagens que podem sofrer alterações globais,
variando de mais estreito a mais largo, tendo como ferramentas lentes, espelhos e/ou
softwares, solicitando ao sujeito avaliado que realize ajustes de acordo com sua percepção
(FARRELL; LEE; SHAFRAN, 2005).
Grande parte dos pesquisadores contemporâneos interessados no estudo da dimensão
perceptiva da imagem corporal moveram seus esforços a construir softwares nos quais são
elaboradas tarefas psicofísicas com as imagens dos próprios avaliados. Os primeiros
programas possuem apenas duas dimensões e como foco de pesquisa mulheres com
transtornos alimentares (BENSON et al., 1999; TOVEÉ et al., 2003; LETOSA-PORTA,
FERRER-GARCÍA;GUTIÉRREZ-MALDONADO,2005;FERRER-GARCÍA; GUTIÉRREZ-
MALDONADO, 2008; CORNELISSEN; JOHNS; TOVÉE, 2013); sujeitos obesos
(JOHNSTONE et al., 2008); atletas (STEWART et al., 2003; URDAPILLETA et al., 2010) e
38
4
A Lei de Stevens propõe que a forma da relação entre a magnitude da sensação e a intensidade do estímulo é
uma função de potência (DA SILVA; RIBEIRO-FILHO, 2006).
39
Sem dúvida o parâmetro mais utilizado é o IMC gerando uma gama de estudos que
destacam relação diretamente proporcional entre tal índice e a insatisfação com o corpo
(CONTI; FRUTUOSO; GAMBARDELLA, 2005; KAKESHITA; ALMEIDA, 2006; GRAUP
et al., 2008; AUSTIN; HAINES; VEUGELERS, 2009; PALLAN et al., 2011; LAUS et al.,
2012) e comportamento alimentar inadequado (GAPIN; PETRUZZELLO, 2011).
No que tange à percepção do corpo, Madrigal et al. (2000) identificaram forte relação
entre IMC e distorção do tamanho corporal, em seu estudo investigaram sujeitos obesos e
perceberam que quanto maior o IMC maior é a subestimação do corpo. Resultados similares
também foram observados por Kakeshita e Almeida (2006) em população de universitários,
acrescentando que além das pessoas obesas, os homens de uma forma geral tendem a
subestimar seu tamanho e forma corporal, no entanto, mulheres tendem a superestimação.
O uso do IMC em composição corporal, segundo Ricardo e Araújo (2002) e Nevill et
al. (2006) pode implicar em resultados falsos positivos (elevada massa muscular e óssea,
baixo percentual de gordura) e falsos negativos (baixa massa muscular e óssea, elevado
percentual de gordura). Outros índices corporais devem ser considerados para verificação da
associação entre proporcionalidade da estrutura física e imagem corporal.
Assim, alguns autores tentaram agregar ao IMC outros índices antropométricos na
avaliação da imagem corporal, como o percentual de gordura aplicado em estudos com
escolares asiáticos (PALLAN et al., 2011), adolescentes brasileiras (CORSEUIL et al., 2009)
universitárias espanholas (ARROYO et al., 2008) e homens e mulheres praticantes de
musculação (DAMASCENO et al., 2012); e a tríade IMC, percentual de gordura e razão
cintura/quadril aplicadas em pesquisas com escolares brasileiras (GRAUP et al., 2008). Em
todos foi verificada relação entre níveis elevados desses parâmetros e insatisfação corporal.
Estudando dismorfia muscular Sardinha, Oliveira e Araújo (2008) constataram que a
razão circunferência do bíceps/panturrilha (denominado por eles de índice B/P) constitui-se
em bom diagnóstico (embora não deva ser usado isoladamente) da dismorfia corporal em
homens de 18 a 35 anos. Em outra vertente, as pesquisas de Tovée, Hancock, Mahmoodi,
Singleton e Cornelissen (2002); Fran, Liu, Wu e Dai (2004) e Crossley, Cornelissen e Tovée
(2012) investigaram quais são os índices antropométricos importantes na elaboração do corpo
ideal (no quesito de atratividade) entre homens e mulheres. Os autores destacaram que para
ambos os sexos o primeiro preditor de beleza é o IMC, a hipótese de ambas as pesquisas é que
há uma relação cultural envolvida com este índice que reflete fertilidade e saúde. No entanto,
explicam os autores, o refinamento do olhar do observador implica em analisar as relações de
40
3 JUSTIFICATIVA
4 OBJETIVOS
Objetivo geral
O presente estudo tem como foco principal analisar as possíveis relações entre a
estrutura corporal, mais especificamente o perfil somatotípico, com as dimensões perceptivas
e atitudinais da imagem corporal de mulheres, bem como refinar o aparato metodológico em
imagem corporal, procedendo à verificação das qualidades psicométricas de instrumentos que
considere a imagem real do sujeito.
Objetivos específicos
1. Identificar se o perfil somatotípico possui associação com parâmetros
perceptivos das dimensões corporais.
2. Verificar se o perfil somatotípico possui associação com a insatisfação
corporal, comportamento de frequência de evitação corporal, sentimento
negativo acerca do corpo e maior suscetibilidade à mídia.
3. Identificar se existem diferenças na percepção da imagem do próprio corpo e
do corpo de outra pessoa comparando imagens estática e dinâmica
4. Verificar as qualidades psicométricas de instrumentos de avaliação em imagem
corporal que contemplem a imagem estática e dinâmica da própria pessoa e o
perfil somatotípico.
46
5 HIPÓTESES ALTERNATIVAS
6 MATERIAIS E MÉTODOS
6.1 Delineamento
O delineamento do estudo é de caráter transversal.
5
A amplitude de IMC foi pensada seguindo alguns parâmetros: inicialmente optamos pela maior amplitude
possível na tentativa de abarcar maior possibilidade de perfis corporais, na sequência estabelecemos o parâmetro
inferior considerado saudável pela OMS, e o limite superior foi fixado mediante ao consenso existente na
literatura de que variáveis antropométricas aferidas em sujeitos muito obesos não são consideradas fidedignas.
49
VII. Carta somatotípica – formulário específico elaborado por Heath e Carter (1990) que
contém os componentes de endomorfia, mesomorfia e ectomorfia.
VIII. Questionários: aparato na avaliação da dimensão atitudinal da imagem corporal, todos
validados para o público brasileiro:
Body Shape Questionnaire (BSQ) (DI PIETRO, 2009): avalia a componente insatisfação
geral subjetiva e preocupação com a aparência. É composto por 34 questões em uma escala
tipo Likert, o avaliado aponta com que frequência, no último mês, experimentou os eventos
propostos pelas alternativas. O grau da frequência é pontuado da seguinte forma: nunca (1
ponto), raramente (2 pontos), às vezes (3 pontos) frequentemente (4 pontos), muito
frequentemente (5 pontos) e sempre (6 pontos). O escore total é associado ao nível de
preocupação com a imagem corporal: nenhuma preocupação (menor ou igual a 110 pontos),
preocupação leve (maior que 110 ou menor ou igual a 138), preocupação moderada (maior
que 138 ou menor ou igual a 167), grave preocupação (acima de 168). A consistência interna
da escala total apresentou alfa de Cronbach de 0,97 (Anexo II).
Body Attitudes Questionnaire (BAQ) (SCAGLIUSI et al., 2005): avalia o componente
afetivo da imagem corporal e desconfortos que mulheres podem ter com sua aparência. A
partir de 44 questões em escala tipo Likert as respondentes são avaliadas em seis fatores,
quatro atitudes negativas (sentir-se gorda, depreciação do corpo, importância do peso e da
forma do corpo, depósito de gordura nos membros inferiores) e duas atitudes positivas (força
e condicionamento físico e atratividade). A pontuação para cada resposta é dada de acordo
com o grau de concordância do avaliado para cada questão: concordo plenamente (5 pontos),
concordo (4 pontos), discorda (2 pontos), discorda plenamente (1 ponto). Quanto maior o
escore maior é o desconforto da avaliada com sua aparência. Foi verificada boa validade
discriminante e concorrente, bem como boa estabilidade por meio do teste e reteste variando
entre r=0,57 a r=0,85 para as subescalas e r=0,88 para escala total (Anexo III).
Body Image Avoidance Questionnaire (BIAQ) (CAMPANA et al., 2009): verifica o
componente comportamental da imagem corporal e objetiva avaliar a frequência de evitação6
do corpo. A escala possui 19 assertivas divididas em quatro fatores: vestuários, atividades
sociais, restrição alimentar e arrumação/pesagem. A pontuação para cada resposta é em escala
tipo Likert conforme o grau de concordância do avaliado: sempre (5 pontos), muito
frequentemente (4 pontos), frequentemente (3 pontos), às vezes (2 pontos), raramente (1
6
O termo evitação provém da tradução do termo em inglês “avoidance” e compreende um conjunto de
comportamentos tais como: recusar ser pesado, evitar olhar-se em espelhos e/ou reflexos de janelas, disfarçar a
forma utilizando roupas largas, evitar a exposição do corpo, buscar do isolamento social (WHITE; WARREN,
2013).
50
ponto), e nunca (zero ponto). Somam-se os pontos de todas as assertivas, quanto maior o
escore, maior é a evitação corporal. O modelo estrutural do BIAQ foi submetido à estimação
de Máxima Verossimilhança apresentando as medidas de ajustamento: Qui-quadrado
ponderado=3,43; RMSEA (Root Mean Square Error of Approximation)=0,068; NFI (Normed
Fit Index)=0,97; NNFI (Nonnormed Fit index)=0,97; CFI (Comparative Fit Index)=0,98; GFI
(Goodness-of-Fit Index)=0,94 e AGFI (Adjusted Goodness-of-Fit Index)=0,91. Atestando
validade do instrumento bem como estabilidade com a análise confirmatória (Anexo IV).
Sociocultural Attitudes Towards Appearance Scale (SATAQ-3) (AMARAL et al., 2011;
AMARAL et al., 2013): avalia a dimensão cognitiva que mensura a influência da mídia sobre
a imagem corporal. A terceira versão foi traduzida, adaptada e validada para o público
brasileiro de ambos os sexos (AMARAL et al., 2011; AMARAL et al., 2013). O instrumento
é composto por 30 perguntas em escala Likert de pontos, com amplitude de 1 (discordo
totalmente) a 5 (concordo totalmente). A pontuação pode ser feita pelo escore total da escala
e/ou separadamente por 4 subescalas: 1) Internalização Geral – avaliação da aceitação das
mensagens midiáticas em relação aos ideais estéticos; 2) Informação – avalia a importância
das mídias enquanto fontes de informação sobre a aparência; 3) Pressão – avalia a pressão
sofrida pelas várias mídias para que o sujeito invista no ideal corporal 4) Internalização
Atlética – avalia a adesão e aceitação do corpo atlético. Não há classificação por nível de
influência e sim considera-se que quanto maior o escore maior influência dos aspectos
midiáticos sobre a imagem corporal. A consistência interna da escala total apresentou alfa de
Cronbach de 0,91. Já para as subescalas, analisadas individualmente, esses valores ficaram
entre 0,74 e 0,90. Foi observada ainda boa validade convergente (p<0.01) bem como boa
estabilidade por meio de teste e reteste (Anexo V).
IX. Escala de silhuetas humanas: foram escolhidas três escalas de silhuetas femininas que
verificam o nível de insatisfação com o corpo, mais especificamente o descontentamento
com o peso e forma corporal. As duas primeiras são validadas para mulheres brasileiras, já
a última foi criada para mulheres brasileiras e portuguesas, mas não tiveram confirmadas
suas qualidades psicométricas verificadas, procedimentos os quais fazem parte do escopo
desse estudo e será apresentado no o item 7 na sequência:
Escala de Silhuetas Brasileiras para Adultos - ESBA (KAKESHITA et al., 2009): Este
instrumento foi criado baseado nas características corporais dos brasileiros apresentando
coeficientes de correlação entre teste e reteste positivos e significativos para o IMC real e
IMC percebido (r=0,84; p<0,01). Cobrindo um intervalo de IMC de 12,5 a 47,5 kg/m2, a
escala é composta por 15 silhuetas em cartões individuais e ordenadas de forma crescente de
51
tamanho a partir das quais a participante é instruída da seguinte forma: (1) “escolha a silhueta
que melhor representa seu corpo atual”, (2) “escolha a silhueta que representa o corpo que
desejaria se parecer” e (3) “escolha a silhueta que considera o tamanho ideal para o próprio
gênero em geral”. A insatisfação geral com a imagem corporal é definida pela diferença entre
a silhueta percebida e a desejada. A amplitude das respostas pode ser expressa em unidades
compreendendo o intervalo entre -14 (quatorze negativos) a +14 (quatorze positivos) ou em
valores de IMC entre -35(trinta e cinco negativos) a +35(trinta e cinco positivos). O valor zero
corresponde a sujeitos que se reconhecem como satisfeitos. Valores diferentes de zero
equivalem a indivíduos insatisfeitos, sendo valores positivos referentes à insatisfação com
excesso de peso e valores negativos referentes à insatisfação com baixo peso (Anexo VI).
Stunkard’s Figure Rating Scale - SFRS (Scagliusi et al., 2006): A versão original desse
instrumento foi concebida por Stunkard, Sorensen e Schlusinger (1983) sendo validada para
mulheres brasileiras por Scagliusi et al. (2006) obtendo boa validade concorrente (r=0.76,
p<0.0001) e discriminante (X2 (1)=19,2; p<0.005). São 9 silhuetas expostas em um único
cartão em ordem crescente de tamanho dentre as quais a participante é instruída da seguinte
forma: (1) “escolha a silhueta que melhor representa seu corpo atual”, (2) “escolha a silhueta
que representa o corpo que desejaria se parecer” e (3) “escolha a silhueta que considera o
tamanho ideal para o próprio gênero em geral”. A insatisfação geral com a imagem corporal é
definida pela diferença entre a silhueta percebida e a desejada. A amplitude das respostas
compreende o intervalo entre -8 (oito negativos) a +8 (oito positivos). O valor zero
corresponde a sujeitos que se reconhecem como satisfeitos. Valores diferentes de zero
equivalem a indivíduos insatisfeitos, sendo valores positivos referentes à insatisfação com
excesso de peso e valores negativos referentes à insatisfação com baixo peso (Anexo VII).
Escala de Silhuetas Baseadas no Somatotipo - ESBS (Pedretti, 2008): Foi construída pelo
autor com foco no público feminino do Brasil e de Portugal, englobando os três componentes
somatotípicos: endomorfia, mesomorfia e ectomorfia. É constituída por um conjunto de
dezessete silhuetas representando as condições somatotípicas. A cada silhueta é atribuída
valores de somatotipos, orientados em função da predominância de um entre os outros dois
componentes, aos subgrupos de silhuetas referidas, de forma que cubram todo o espectro de
possibilidades proposto por Carter e Heath (1990): 1-1-7; 1-7-1; 7-1-1. Diante das 17
silhuetas em cartões individuais dispostas em três colunas a participante é instruída da
seguinte forma: 1) “escolha a silhueta que melhor representa seu corpo atual”, (2) “escolha a
silhueta que representa o corpo que desejaria se parecer” e (3) “escolha a silhueta que
considera o tamanho ideal para o próprio gênero em geral”. A insatisfação geral com a
52
imagem corporal é definida pela diferença entre a silhueta percebida e a desejada. Os valores
possíveis de serem encontrados para a insatisfação situam-se entre -12 (doze negativos) e 12
(doze positivos). O valor zero corresponde a sujeitos que se reconhecem como satisfeitos.
Valores diferentes de zero equivalem a indivíduos insatisfeitos, sendo valores positivos
atribuídos ao desejo de aumento do volume corporal (mesomorfia) e valores negativos ao
desejo de uma redução do volume corporal (endomorfia) (Anexo VIII). Diante da inexistência
de outro instrumento que contemple o somatotipo, esta escala foi utilizada após passar pelo
processo de verificação das qualidades psicométricas, como será apresentado no item 7 deste
estudo.
ancoragem; 4) foi incluída nesse momento a tarefa de Estimação de Categorias, como uma
estratégia para verificação da percepção da imagem dinâmica e 5) por fim, ao invés de ter
apenas uma modelo para as tarefas com o corpo desconhecido, ampliamos para quatro
modelos representantes dos perfis somatotípicos central, endomorfo, mesomorfo e ectomorfo,
julgando que dessa forma ficaria mais coerente com a proposta da pesquisa. Cumpre ressaltar
que os dados referentes ao projeto piloto não foram aproveitados por conta dessas alterações.
7
Adaptação de nomenclatura realizada: optamos por não realizar tradução literal do nome original Balanced endomorph,
adotando a palavra equilibrado como a maioria dos autores brasileiros
8
Adaptação de nomenclatura realizada: adotamos abreviar o primeiro componente e hifenizá-lo ao segundo ao invés de
manter o original - Mesomorphic endomorph
55
A imagem real foi tratada no software Photoshop CS3 Extended (adobe®) compondo
os 7 estímulos distorcidos. Estes foram dispostos em ordem crescente de porcentagem, sendo
a imagem real do sujeito (sem distorção) considerada a de valor 100(%). Os 8 estímulos
justapostos formam a Escala de Silhuetas do Próprio Sujeito (ESPS) frontal e lateral,
individualizada para cada participante (Figura 5 e 6). A preparação de cada experimento para
avaliar uma pessoa, englobando todo o processo descrito, desde os cálculos dos estímulos, a
manipulação (distorção) da imagem e seu agrupamento em ordem crescente de tamanho
demorou em média 60 minutos.
Figura 3: Cálculo da razão de incremento - Exemplo com uma pessoa com IMC=25,2 Kg/m2
Figura 5: ESPS FRONTAL- Escala dos estímulos distorcidos mais a imagem do próprio corpo sem distorção
Figura 6: ESPS PERFIL- Escala dos estímulos distorcidos mais a imagem do próprio corpo sem distorção
sem distorção, com valor fixo de 100) e outra imagem distorcida (mais gordas ou mais
magras, cobrindo todas as possibilidades de distorção dentro da amplitude de IMC escolhida:
16,5 a 40 Kg/m2). Assim, a experimentadora apontou os estímulos na tela e a participante foi
instruída da seguinte forma: “Se esse estímulo padrão é igual a 100, quanto vale esse próximo
estímulo?”. Em seguida, foi substituído por um dos outros estímulos distorcidos, e assim
sucessivamente, tanto para imagem frontal quanto para de perfil.
A ordem dos estímulos foi randomizada, pois, segundo Gardner (2011) o observador
ancora-se na imagem anterior, sendo assim, nas escalas crescentes (que se iniciam pelo menor
estímulo) há tendência à subestimação e nas escalas descendentes (que se iniciam pelo maior
estímulo) o contrário. Este comportamento é denominado erro por antecipação.
Para verificação da percepção do corpo por meio da estimação da magnitude, foi
utilizada a lei de Stevens para descrever a relação entre a magnitude física do estímulo e o
julgamento perceptivo do mesmo, conforme a equação: R = K.En. Onde R é a magnitude de
julgamento subjetivo, K representa a constante escalar arbitrária (dependente da unidade de
medida), E o valor físico do estímulo e n é o expoente que determina a inclinação da reta
(descrevendo aumento geométrico) (DA SILVA; RIBEIRO-FILHO, 2006).
Conforme Da Silva e Ribeiro-Filho (2006) o expoente n é o parâmetro mais
importante, pois, irá representar o aumento relativo ao longo da escala, indicando, portanto, o
índice de sensibilidade perceptiva. Esta é diretamente relacionada ao tamanho do expoente,
sendo que se n for igual a 1 a função segue uma tendência linear, ou seja, a magnitude da
sensação numericamente mensurada varia diretamente com intensidade do estímulo, o que
indica constância perfeita. Caso o expoente seja menor que 1 indica que a sensibilidade
relativa é menor que aquela do contínuo numérico, indicando tendência à subconstância
perceptiva. Por outro lado se n for maior que 1 indica o contrário, sendo portanto uma
superconstância perceptiva. Dessa forma o expoente n servirá como parâmetro na avaliação
da sensibilidade perceptiva do tamanho e forma corporal.
O coeficiente de determinação (r2) gerado pela mesma equação indica que a resposta
pode ser explicada, em quase sua totalidade pelo estímulo, sendo que quanto mais próximo de
1 melhor é a relação estímulo-resposta. Como valores discrepantes indicam o não
entendimento da tarefa, foram excluídos os sujeitos que obtiveram r2 menor que 0,5. Desta
forma, para esta tarefa foram descartados da análise dos dados vinte e três participantes,
configurando totalizando 119 mulheres para esta tarefa.
62
de perfil). Destacando que como nessa foram incluídas quatro pessoas desconhecidas a serem
avaliadas, o tempo aumenta proporcionalmente.
Tarefa C – Índice de percepção do tamanho e forma corporal
Utilizando a ESPS com o mesmo procedimento descrito no Experimento 1, o índice de
percepção do tamanho e forma corporal é calculado a partir da subtração entre a silhueta
percebida e a silhueta real da participante. Semelhante ao índice de insatisfação, o índice de
percepção pode ser considerado em unidades entre -7 (sete negativos) e +7 (sete positivos) e
valores de IMC entre -23,5 (vinte e três e meio negativos) e +23,5 (vinte e três e meio
positivos). Foi parametrizado que o valor zero correspondente a precisão na percepção
corporal. Qualquer número diferente de zero indica imprecisão, sendo os valores positivos
correspondentes à superestimação do tamanho corporal, e valores negativos à subestimação
do tamanho corporal. O mesmo procedimento é realizado para percepção frontal e lateral do
corpo. Tal como no Experimento 1 a ESPS (componente perceptivo) é de rápida aplicação
demorando em torno de três a cinco minutos.
Experimento 3 - Percepção da imagem dinâmica do corpo
Ao contrário dos experimentos anteriores, que apresentam contínuos físicos
caracterizados por variáveis contínuas, o presente experimento envolve contínuos físicos
considerados discretos ou verificados pela qualidade dos estímulos. Dessa forma, é utilizado o
Método de Estimação de Categorias, que ao contrário do Método de Estimação de
Magnitudes, é dado um número limitado de categorias. Isto é enquanto no primeiro a
amplitude de respostas é infinita no segundo método a amplitude é limitada pelas categorias.
Assim, enquanto que para as escalas de magnitude os julgamentos são de razão, para as
escalas de categorias julgam-se as diferenças (DA SILVA; RIBEIRO-FILHO, 2006).
A tarefa da pessoa avaliada consiste em assinalar uma categoria a cada estímulo, de
modo que as categorias sejam equidistantes no contínuo psicológico. Como o objetivo deste
experimento é avaliar a percepção da proporção entre os componentes corporais por meio da
imagem dinâmica, optamos pela Somatocarta (Anexo IX) que de forma categórica representa
a composição corporal. Trata-se de um gráfico tridimensional, sendo os eixos x, y, z limites
representando o máximo do endomorfismo, mesomorfismo e ectomorfismo, respectivamente.
Os demais pontos no gráfico (embora numéricos) representam as diferentes possibilidades de
combinação entre eles (x, y, z), denotando assim a proporcionalidade corporal.
Resumidamente, cabe à participante emparelhar o estímulo, que no caso é a imagem
tridimensional do corpo, a um conjunto de categorias dispostas em um instrumento também
tridimensional. A descrição detalhada da tarefa segue abaixo.
64
central). A ordem da apresentação foi randomizada e foi solicitada à participante: “Após ver
esse vídeo localize e aponte na somatocarta o perfil corporal dessa pessoa”.
O cálculo da percepção do corpo de cada pessoa desconhecida foi realizado também
por meio do DPS conforme a tarefa anterior.
O tempo gasto pelas participantes tanto na Tarefa A quanto na Tarefa B foram
semelhantes, cerca de dois a três minutos. Lembrando que na Tarefa B a avaliação é referente
a quatro pessoas, o tempo aumenta proporcionalmente.
66
8 RESULTADOS
8.1.5 Fidedignidade
Como última etapa, atestamos a fidedignidade dos instrumentos que diz respeito à
estabilidade e reprodutibilidade dos resultados (ANASTASI; URBINA, 2000). Para tanto,
realizamos o reteste em 30% da amostra (45 mulheres), número que segundo Thompson
(2004) é suficiente para este fim. Destaca-se que as escalas foram aplicadas em dias distintos.
O intervalo entre os dois momentos (teste e reteste) foi de 30 dias para ESBS e 35 dias para
ESPS.
utilizando o software SPSS, v. 18.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, USA) com nível de significância
foi estabelecido em 5%.
8.1.7 Resultados
A verificação do desempenho das escalas na avaliação da imagem corporal, a validade
de conteúdo, apresentou os escores de concordância dos juízes acima dos critérios
previamente estabelecidos: 90% e 85% para ESPS e ESBS respectivamente. Além disso,
houve 75% de concordância entre os peritos em antropometria no quesito representatividade
somatotípica da ESBS e sua capacidade em avaliar a imagem corporal. Segundo Pasquali
(2003) esses são valores suficientes para assegurar a qualidade do instrumento. Todavia, os
peritos sugeriram as seguintes alterações: 1) apresentação da ESBS em cartões individuais; 2)
apresentação da imagem lateral da ESPS com os braços para trás e não para frente como
originalmente foi feito.
Foi demonstrada convergência entre as escalas com resultados significantes tanto para
ESPS e ESBA (rho=0,81; p<0,0001) quanto para ESPS e SFRS Scale (rho=0,75; p<0,0001).
Da mesma forma, houve convergência tanto para ESBS e ESBA (rho=0,65; p<0,0001) quanto
para ESBS e SFRS (rho=0,62; p<0,0001). Indicando que ESPS e ESBS avaliam com
segurança a insatisfação corporal em mulheres jovens.
Houve correlação positiva e significantes entre o IMC real do sujeito e o IMC
percebido na escala ESPS (rho=0,87; p<0,0001). O mesmo ocorreu para a correlação o
somatotipo real do sujeito e o somatotipo percebido na escala ESBS (rho=0,69; p<0,0001),
demonstrando correspondência entre as variáveis e atestando a validade de critério.
O teste de fidedignidade apresentou correlação entre teste (momento 1) e reteste
(momento 2) positiva e significante tanto para ESPS (rho=0,77; p<0,0001) quanto para ESBS
(rho=0,61 e p<0,0001). O índice Kappa indicou estabilidade temporal moderada tanto para
ESPS (κ = 0, 593; p <0,0005), quanto para ESBS (κ = 0,581; p <0,0005).
Os resultados apresentados acima são suficientes para indicar que as escalas ESPS e
ESBS possuem boas qualidades psicométricas, confirmando sua validade e fidedignidade
(AGRESTI, 2013; ANASTASI; URBINA, 2000; PASQUALI, 2003), estando estes em
consonância com outros estudos na área (SWAMI; SALEM; FURNHAM; TOVÉE, 2008;
GARDNER; JAPPE, 2009; GARDNER; BROWN, 2010a; ADAMI et al., 2012; CONTI et
al.,2013; MORGADO et al., 2013) sugerindo assim, que estes instrumentos encontram-se
válidos e estáveis para verificação da insatisfação corporal de mulheres jovens e que a ESPS
avalia satisfatoriamente a percepção corporal da mesma população.
70
A diversidade não só cultural, mas também corporal de um país como o Brasil torna
legítima a necessidade de instrumentos que contemplem tais características no que tange a
avaliação da imagem corporal. Dessa forma, tanto a ESBS quanto a ESPS podem agregar em
procedimentos avaliativos, diagnósticos e profiláticos das alterações da insatisfação corporal e
na distorção da percepção do corpo no caso da ESPS. Além disso, essa última ao considerar a
imagem real do sujeito torna-se uma ferramenta singular e específica do avaliado.
Acreditamos que essas informações possam agregar no âmbito prático, junto às intervenções
clínicas, bem como no contexto científico.
Todavia destacamos alguns procedimentos importantes a serem seguidos para
eficiência e fidedignidade dos resultados no caso da utilização das ferramentas:
9
O pesquisador deve ser contatado por meio do endereço eletrônico [email protected] para
obtenção da ferramenta
72
8.2.2 Fidedignidade
Atestamos também a fidedignidade do instrumento por meio do reteste em 45
mulheres aplicando novamente a tarefa IDC conforme recomenda Thompson (2004).
8.2.4 Resultados
Foi observada convergência significante entre ESBS e Somatocarta (rho=0,67;
p<0,0001). O teste de fidedignidade para o uso da Somatocarta apresentou correlação positiva
significante entre teste (momento 1) e reteste (momento 2) (rho=0,63 e p<0,0001). A partir do
índice Kappa é possível afirmar que a estabilidade temporal foi moderada (κ=0,
523, p <0,0005). Os valores de correlação observados e a significância estatística obtida
conferem aos instrumentos validade e confiabilidade (AGRESTI, 2013; PASQUALI, 2003;
ANASTASI; URBINA, 2000). Além disso, assemelham-se a outros estudos na área específica
(GARDNER; JAPPE, 2009; GARDNER; BROWN, 2010; SWAMI; SALEM; FURNHAM;
TOVÉE, 2008; CONTI et al., 2013; MORGADO et al., 2013) indicando que o instrumento é
útil na avaliação da imagem corporal dinâmica em populações de mulheres jovens.
8.3 Artigo I: Relação entre aspectos atitudinais da imagem corporal e perfil somatotípico
Resumo
Esta pesquisa objetivou verificar associações entre os quatro principais componentes
atitudinais da imagem corporal – insatisfação corporal, comportamento, afetivo e cognitivo
– e perfil somatotípico. Participaram 142 universitárias (21,81± 3 anos) submetidas à
avaliação do Índice de Massa Corporal e do somatotipo, conforme protocolos da
Organização Mundial da Saúde e Heath-Carter, respectivamente. Para avaliação da
imagem corporal foram aplicados os seguintes instrumentos: Body Shape Questionnaire,
Body Attitudes Questionnaire, Body Image Avoidance Questionnaire, Sociocultural
Attitudes Towards Appearance Scale, Escala de Silhuetas do Próprio Sujeito e Escala de
Silhuetas Baseadas no Somatotipo. Para análise dos dados contínuos procedemos à análise
multivariada de variância (MANOVA one-way) e para dados categóricos realizamos teste
de Qui-Quadrado. Concluímos que os componentes insatisfação corporal, evitação
corporal e atitudes negativas referentes à aparência, estão atrelados entre si e são
influenciados por perfis corporais com predominância mesomórfica e endomórfica. Por
outro lado, o elevado índice de insatisfação com o excesso de peso e desejo de aumentar a
mesomorfia, verificado por meio das escalas de silhuetas, não se associaram ao perfil
somatotípico.
Palavras-chave: Imagem corporal. Somatotipo. Dimensão atitudinal.
Abstract
This study aimed to investigate associations between the four major attitudinal components
of body image - body dissatisfaction, behavioral, affective and cognitive - and
somatotypical profile. The sample included 142 undergraduate female students (21.81 ± 3
years) who underwent to assessment of Body Mass Index and somatotype, according to the
World Health Organization and Heath-Carter protocols, respectively. To assess body
image the following instruments were applied: Body Shape Questionnaire, Body Attitudes
Questionnaire, Body Image Avoidance Questionnaire, Sociocultural Attitudes Towards
Appearance Scale, Self Subject Silhouettes Scale (ESPS) and Silhouettes Based on
Somatotype Scale (ESBS). To the analysis of continuous data we proceeded to multivariate
analysis of variance (MANOVA one-way) and to the categorical data we performed Chi-
Square test. We concluded that body dissatisfaction, body avoidance and negative attitudes
about appearance components are linked to each other and they are influenced by body
profiles with mesomorphic and endomorphic predominance. On the other hand, the high
level of dissatisfaction with overweight and desire to increase mesomorph component,
verified by silhouettes scales, was not associated with somatotypical profile.
Keyword: Body image. Somatotype. Attitudinal dimension.
77
Introdução
O componente da imagem corporal (IC) mais investigado até o momento é a
insatisfação geral subjetiva, definida por Thompson (1998) como o descontentamento com o
corpo, com a aparência e com o peso. Dentre as mulheres há maior prevalência, com caráter
mundial e em diferentes faixas etárias (SWAMI et al., 2010; RUNFOLA et al., 2013;
MARTINS et al, 2012; LEVINE; MURNEN, 2009; SLEVEC e TIGGEMANN, 2011; LAUS
et al. 2012).
Todavia, o foco majoritário na insatisfação corporal na grande maioria dos estudos da
área implica, muitas vezes, na desconsideração da sua relação e articulação com os demais
componentes atitudinais da IC, tais como os componentes afetivos, cognitivos e
comportamentais, negligenciando assim, o caráter multidimensional da IC (THOMPSON; van
den BERG, 2002; CASH; PRUZINSKY, 2002 LEGENBAUER; RÜHL; VOCKS, 2008).
A literatura vem demonstrando consequências na IC devido a alteração de um ou outro
componente atitudinal. Sabe-se, por exemplo, que o componente afetivo está estreitamente
relacionado à insatisfação. Estudo longitudinal recente demonstrou ser essa preditora da
disforia crônica em consequência de sentimentos negativos relacionados ao corpo
(ROSENSTRÖM et al., 2013).
O componente cognitivo é destacado nos estudos que investigam como pessoas
aceitam e sentem-se pressionadas por padrões de beleza propagados por canais midiáticos
(THOMPSON et al., 2004) e, consequentemente, como tal processo poderá incidir sobre a
satisfação com a aparência (SWAMI et al.,2010; HAUSENBLAS et al.,2013). Um possível
desdobramento dessa relação, refere-se a ações relativas ao corpo, de cunho autodefensivo no
intuito de prevenir e/ou evitar desconfortos corporais ou emocionais, conhecido como
componente comportamental (CASH, 2002).
Além da interpretação desarticulada dos componentes da imagem corporal, Cash e
Pruzinsky (2002) alertam que raramente os pesquisadores incorporam em seus estudos
aspectos objetivos da aparência (exceto massa corporal), o que auxiliaria a compreender a
relação entre autoimagem e parâmetros verídicos da aparência física. Podemos assumir que a
exigência sobre o corpo, tanto intrínseca (do próprio sujeito) quanto extrínseca (pais, amigos,
mídia entre outros) pode ser resultante de duas tensões: o corpo que se tem e o que se deseja
ter. Todavia, o corpo possui características singulares e, na comumente, não modificadas
facilmente, dentre elas a estrutura corporal.
Alguns estudos avançaram no sentido de verificar associações entre imagem corporal e
parâmetros antropométricos como IMC, razão cintura/quadril e percentual de gordura,
78
Metodologia
Aspectos éticos
Esta pesquisa teve aprovação no Comitê de Ética da Universidade Estadual Paulista-
Campus de Rio Claro/SP, sob o protocolo de número 298 e decisão de número 071/2012 e
todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido tendo ciência do que trata o
estudo e sua participação.
Participantes
Foi realizado cálculo amostral para população finita, estratificado por curso, baseado
no número total de estudantes do sexo feminino do campus de Rio Claro da Universidade
Estadual Paulista/UNESP. Assim, fizeram parte da pesquisa 142 mulheres (21,81± 3,014
anos) distribuídas nos cursos: Engenharia Ambiental (n=14), Ciências Biológicas (n=27),
Ciências da Computação (n=7), Ecologia (n=21), Educação Física (n=19), Física (n=8),
Geografia (n=14), Geologia (n= 4), Matemática (n=9) e Pedagogia (n=19).
Instrumentos e procedimentos
79
Componente comportamental
Aplicamos o Body Image Avoidance Questionnaire (BIAQ) (CAMPANA et al., 2009)
(Qui-quadrado ponderado=3,43; RMSEA=0,068; NFI=0,97, NNFI=0,97; CFI=0,98,
GFI=0,94 e AGFI=0,91) para identificação de comportamentos de evitação corporal.
Componente cognitivo
Utilizamos o Sociocultural Attitudes Towards Appearance Scale (SATAQ-3)
(AMARAL, CONTI, CORDÁS e FERREIRA, 2011) (alfa de Cronbach de 0,91 escore total e
subescalas entre 0,74 e 0,90) composta por subescalas (Internalização Geral, Informação,
Pressão, Internalização Atlética) para verificação da influência da mídia na imagem corporal.
Resultados
Questionários
Análise preliminar revelou que os dados foram distribuídos normalmente avaliados
pelo teste Shaprio-Wilk (p > 0,05); não existiam valores extremos univariados ou
multivariados, avaliada por boxplot e distância de Mahalanobis (p > 0,001), respectivamente.
Houve relação linear entre as variáveis dependentes para cada variável independente
verificado pela avaliação da dispersão, sem multicolinearidade (r < 0,6; p < 0,005) e houve
homogeneidade de variâncias-covariâncias matrizes. Os valores de tendência central (média,
mediana), dispersão (desvio padrão) e escores máximos e mínimos estão expressos na Tabela
1. Existem diferenças entre os grupos delineados pelos perfis somatotípicos acerca das
variáveis dependentes combinadas, no caso os componentes da imagem corporal F (36, 375)
= 1, 81, p <0,0005; Wilk de Λ = 0,623, η parcial 2 = 0,146. Acompanhamento de ANOVAs
univariadas mostraram que o perfil somatotípico tem efeito estatisticamente significativo
apenas sobre os componentes da imagem corporal expressos pelos instrumentos BSQ (F (3,
138) = 6,1; p <0,005; η parcial 2 = 0,11), BIAQ (F (3, 138) = 4,7; p <0,005; η parcial 2 =
0,94), “sentir-se gorda” (F (3, 138) = 10; p <0,0005; η parcial 2 = 0,18), “depreciação do
corpo” (F (3, 138) = 2,6; p <0,05; η parcial 2 = 0,54), “gordura nos membros inferiores”
(F (3, 138) = 1,7; p <0,005; η parcial 2 = 0,36), “atratividade” (F (3, 138) = 2,8; p <0,05; η
parcial 2 = 0,57). O teste de Tukey identificou diferenças com significância estatística entre
dois pares de grupos, GEC e GEN e GEC e GM, para os escores médios do BSQ (p=0,001;
p=0,003); BIAQ (p=0,002; p=0,01); “sentir-se gorda” (p=0,0001; p=0,0001); “gordura nos
membros inferiores” (p=0,002; p=0,0001).
Escalas de silhuetas
A análise descritiva dos dados é expressa por meio de frequência relativa e absoluta e
apresentada na Tabela 2. Não houve associação estatisticamente significativa entre as
variáveis tanto para a ESPS imagem frontal χ2 (6) = 5,8 (p = 0,42), quanto para ESPS imagem
lateral χ2 (6) = 11,5 (p = 0,08), a mesma tendência foi verificada com o instrumento ESBS
χ2 (6) = 9,25 (p = 0,16). Isso faz com que a hipótese nula de independência entre estrutura
física (somatotipo) e insatisfação corporal seja aceita, portanto elas não possuem nenhuma
relação.
82
Tabela 1: Medidas de tendência central e dispersão das variáveis atitudinais da imagem corporal
Perfil somatotipológico
*
Variáveis Amostra total Central Endomorfo Mesomorfo Ectomorfo
BAQ
88,1±21,5 70,5±26,1 90,7±20,4 91,1±20,5 66,3±16,4
Atitudes negativas (88,5; 40-147) (70,5; 52-89) (86; 40-147) (91; 40-147) (76; 40-102)
Fonte: próprio autor (2014). *Valores expressos como média ± desvio-padrão (mediana; mínimo – máximo). BSQ
(Body Shape Questionnaire); BIAQ (Body Image Avoidance Questionnaire); BAQ (Body Attitudes
Questionnaire); SATAQ-3 (Sociocultural Attitudes Towards Appearance Questionnaire)
83
Tabela 2: Caracterização da amostra: frequência relativa e absoluta das variáveis: insatisfação corporal (ESPS e
ESBS) e percepção corporal (ESPS)
Variáveis n %
Discussão
Este estudo teve como principal objetivo investigar conjuntamente os 4 componentes
atitudinais da IC, verificando suas possíveis relações com o perfil somatotípico. Foi possível
identificar que a estrutura corporal esteve relacionada com a insatisfação geral subjetiva
(BSQ), comportamento de evitação corporal (BIAQ), sentimento de excesso de peso, em
especial nos membros inferiores (BAQ). Ademais, tais elementos apresentam-se de forma
articulada e não são mutuamente exclusivos, justificando assim, o caráter multidimensional da
IC (CASH, PRUZINSKY, 2002).
A literatura específica aponta a importância da estrutura física na elaboração da IC,
indicando que mulheres com valores elevados de tais índices (percentual de gordura e IMC)
estão mais propensas à insatisfação corporal. (BUCCHIANERI et al., 2013; RUNFOLA,
2013; DAMASCENO et al., 2011; SWAMI et al., 2010; CONTI; FRUTUOSO;
GAMBARDELLA, 2005; KAKESHITA; ALMEIDA, 2006; GRAUP et al., 2008; AUSTIN;
HAINES; VEUGELERS, 2009; PALLAN et al., 2011; LAUS et al., 2012). Todavia, tais
parâmetros são lineares dificultando a interpretação sob o ponto de vista da proporcionalidade
corporal.
Na presente pesquisa mulheres ectomorfas tenderam a ser menos insatisfeitas quando
comparadas aos demais perfis. Nesse quesito, o tamanho corporal pareceu ter mais
importância do que a proporção entre tecido adiposo, muscular e linearidade. Resultados
semelhantes são encontrados nos estudos de Eklund e Crawford (1994), Stewart et al. (2003),
e de Bahran e Shafizadeh (2006), os quais verificaram uma relação negativa entre satisfação
corporal e componentes de endomorfia e mesomorfia. Em pesquisa recente, Stewart et al.
(2014) ao considerarem o perfil somatotípico em amostras com e sem transtornos alimentares,
e identificaram que todos os grupos desejaram o corpo mais próximo da ectomorfia. Este, é
84
coerente com o corpo extremamente magro, ainda idealizado pela maioria das mulheres
(SWAMI et al., 2010; STEWART et al., 2003).
Fortemente relacionado à insatisfação corporal está o componente afetivo, relativo às
experiências das emoções concernentes à aparência física (CAMPANA, TAVARES, 2009).
Em nossos resultados mulheres endomorfas e mesomorfas apresentaram sentimentos
negativos referentes à adiposidade corporal (“sentir-se gorda”), principalmente que os
membros inferiores são gordos (“gordura nos membros inferiores”). Interessante destacar que
o perfil mesomorfo diferentemente do endomorfo possui prioritariamente tecido muscular, e
ainda assim os dois grupos apresentaram o mesmo comportamento. Alleva et al. (2014)
destacam que mulheres que apresentam sentimentos negativos a respeito do próprio corpo
superestima feedback social sobre elas, podendo interferir nas relações interpessoais.
Por outro lado, mulheres ectmorfas demonstraram escores mais altas de atitudes
positivas referentes à aparência ao acharem-se atraentes fisicamente (“atratividade”) (apesar
de a significância ser apontada na análise, não foi confirmada no Post Hoc). Pesquisadores
explicam que a elaboração do corpo ideal para mulheres, no quesito atratividade, envolve
baixos valores de IMC e reduzidas proporções entre cintura/quadril (TOVÉE et al., 2002;
FRAN et al., 2004; SWAMI, 2011; CROSSLEY, CORNELISSEN, TOVÉE, 2012; PRICE et
al.,2013). Este último é impactado pelo percentual de gordura, uma vez que o crescimento
desta pode alterar tamanho e forma do corpo da mulher (FARIES; BARTHOLOMEW, 2012).
Assim, medidas que remetem ao corpo esguio, portanto, ectomorfo, são valorizadas por esse
grupo.
O componente afetivo comumente é investigado em populações clínicas como
mulheres com transtornos alimentares (TIMERMAN et al., 2010; HRABOSKT et al., 2009) e
que passam por alterações corporais marcantes, como gestantes (HILL et al., 2013). Em
ambos os casos, assim como na presente pesquisa, sentimentos negativos referentes à
aparência são correlacionados com a predominância da adiposidade, ainda que ela não seja
verdadeira, como no caso da mesomorfia. Rosenström et al. (2013) pontuam que a
insatisfação corporal atrelada aos sentimentos negativos referentes à aparência pode acarretar
disforia crônica em mulheres, independente da idade.
As condições descritas acima podem desencadear comportamentos prejudiciais, tais
como checagem (preocupação com medidas, palpação de dobras em diferentes pontos do
corpo, comparação do próprio corpo com o de outras pessoas) e evitação corporal (evitar
olhar-se no espelho e pesar-se, buscar o isolamento social). Nesse estudo, avaliamos apenas o
último, e observamos que houve a mesma tendência que nas demais variáveis, perfis
85
necessidade de inserir outros elementos que representam detalhes das características físicas da
morfologia humana.
O presente trabalho possui limitações de cunho metodológico. A primeira refere-se ao
desequilíbrio numérico entre os grupos, o que pode ter influenciado os resultados. Além disso,
não verificamos o comportamento de checagem corporal, aspecto que está intimamente
atrelado à evitação corporal. Recomenda-se que novos estudos considerem essas lacunas a fim
de enriquecer os resultados.
Considerações finais
Aspectos atitudinais da imagem corporal, especificamente insatisfação geral subjetiva,
evitação corporal e atitudes negativas referentes à aparência, estão atrelados entre si e são
influenciados por perfis corporais com predominância mesomórfica e endomórfica. Os dados
aqui obtidos possuem implicações teóricas e práticas. As primeiras referem-se à necessidade
da avaliação multidimensional e com características físicas reais da imagem corporal em
amostras não clínicas. As implicações práticas envolvem o uso de tais informações em
intervenções em áreas que lidam diretamente com o corpo, tornando-as mais assertivas e
eficientes.
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91
8.4 Artigo II: Relação entre aspectos perceptivos da imagem corporal e perfil
somatotípico
Resumo
Objetivou-se identificar relações entre o perfil somatotípico, comportamento e tendência
perceptiva relativa ao próprio corpo (em função do eixo de apresentação da imagem: frontal e
lateral) e ao corpo de pessoas desconhecidas (em função do perfil somatotípicos destas).
Participaram 119 universitárias (21,7±2,8 anos) submetidas à avaliação do Índice de Massa
Corporal (OMS) e somatotipo (Heath-Carter). Para avaliação da percepção da imagem
corporal utilizamos a Escala de Silhuetas do Próprio Sujeito e a tarefa psicofísica Estimação
de Magnitude. Esta última em duas condições: imagem do próprio corpo e do corpo de 4
mulheres desconhecidas à participante. Procedemos ao teste não paramétrico Kruskal-Wallis
para análise de variância em função das variáveis analisadas (acurácia perceptiva nas
diferentes condições e perfil somatotípico). Os valores de n e r2 foram emparelhados ao valor
1,0 (normativo) e analisados pelo teste Mann-Whitney para identificação da tendência
perceptiva e teste de Spearman para verificação de correlação da acurácia perceptiva do
próprio corpo de frente e lado. Para variáveis categóricas provenientes das escala de silhuetas
realizamos o teste Qui-Quadrado. O perfil somatotípico não influenciou a dimensão
perceptiva das avaliadas. Os resultados merecem cuidado na interpretação, uma vez que estes
foram diferentes em ambas as tarefas. A condução da ESPS pode ter sofrido incremento de
algum componente afetivo motivando superestimação corporal em mais da metade da
amostra. Em contrapartida, isso não ocorreu na tarefa de Estimação de Magnitude. Na
avaliação do corpo de mulheres desconhecidas houve tendência à acentuação dos extremos:
superestimação dos tamanhos maiores e subestimação dos menores.
Palavras-chave: Imagem corporal. Dimensão perceptiva. Somatotipo.
Abstract
This study aimed to identify relationships between somatotypical profile, behavior, and
perceptual bias on the own body (depending on the axis for the picture: frontal and by side)
and the body of unknown people (depending on somatotypical profile). The sample included
119 undergraduate female students (21.7 ± 2.8 years) who underwent to assessment of Body
Mass Index (WHO) and somatotype (Heath-Carter). To assess the perception of body image
was used Self Subject Silhouettes Scale (ESPS) and the psychophysical task Magnitude
Estimation. This last one was performed in two conditions: own body image and body of the 4
unknown models. We proceeded to the Kruskal-Wallis nonparametric analysis of variance
test due to the analyzed variables (perceptual accuracy in different conditions and
somatotypical profile). The values of n and r2 were matched to the value 1.0 (normative) and
analyzed by Mann-Whitney test to identifying the perceptual tendency, and Spearman
correlation test to verify own body perceptive accuracy from the front and by side. For
categorical variables from the range of profiles we conducted Chi-Square test. The
somatotypical profile did not influence the perceptual dimension of the participants. The
results deserve careful interpretation since they were different in both tasks. However, the
findings require careful interpretation because the conduct of ESPS may have suffered
increment of some affective component motivating body overestimation by more than half of
the sample. On the other hand, this did not occur in the Magnitude Estimation task. In the
evaluation of the body of unknown women there was a trend to accentuation the extreme:
overestimation of the larger sizes and underestimation of minors.
Keyword: Body image. Perceptive dimension. Somatotype.
92
Introdução
suspeitam haver uma categoria cognitiva referente a características físicas específicas tanto
para percepção do próprio corpo quanto para as demais pessoas.
Nesse sentido, amostras não clínicas têm sido investigadas na busca da relação entre
percepção da forma e tamanho corporal e parâmetros antropométricos. Madrigal et al. (2000)
ao investigarem sujeitos obesos identificaram relação diretamente proporcional entre IMC e
subestimação do corpo. Resultados similares foram observados por Kakeshita e Almeida
(2006) em população de universitários, acrescentando que, homens de uma forma geral tendem
a subestimar seu tamanho e forma corporal, enquanto mulheres tendem à superestimação.
Considerando que o uso do Índice de Massa Corporal (IMC) possa gerar resultados
falsos positivos (elevada massa muscular e óssea, baixo percentual de gordura) e falsos
negativos (baixa massa muscular e óssea, elevado percentual de gordura) (NEVILL et al.,
2006), pesquisadores em imagem corporal, há alguns anos, passaram a considerar a
morfologia humana pautada também na muscularidade, densidade óssea e estatura, ou seja, o
somatotipo (LYNCH; ZELLNER, 1999; BENSON et al., 1999; HILDEBRANDT;
LANGENBUCHER; SCHLUNDT, 2004; PULVERS et al., 2004; CAFRI; THOMPSON,
2004; PEDRETI, 2008). Todavia, esse parâmetro vem sendo comumente usado na elaboração
de instrumentos e não enquanto variável correlacionada à precisão da percepção de forma e
tamanho do corpo.
Assim, a presente pesquisa teve como objetivo identificar a influência do perfil
somatotípico no comportamento e tendência perceptiva relativa ao próprio corpo (em função
do eixo de apresentação da imagem: frontal e lateral) e ao corpo de pessoas desconhecidas
(em função do perfil somatotípicos destas). Acredita-se que mulheres prioritariamente
endomorfas e mesomorfas tendem à superestimação corporal enquanto mulheres centrais e
ectomorfas sejam mais acuradas independente do eixo de visualização e que isso não se
estende ao corpo desconhecido para nenhum dos grupos.
Metodologia
Aspectos éticos
Esta pesquisa teve aprovação no Comitê de Ética da Universidade Estadual Paulista-
Campus de Rio Claro/SP, protocolo 298 e decisão 071/2012. Os participantes assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido tendo ciência do que trata o estudo.
Participantes
A seleção das participantes foi baseada no cadastro de estudantes de graduação do
sexo feminino do campus de Rio Claro da Universidade Estadual Paulista/UNESP, a partir do
94
qual foi realizado cálculo amostral para população finita, estratificado por curso por meio da
seguinte fórmula: N= (Zα/2σ| E)2 .Onde: N = Número de indivíduos na amostra, Z α/2 = Valor
crítico que corresponde ao grau de confiança desejado, σ =Desvio-padrão populacional da
variável estudada e E = Margem de erro ou erro máximo de estimativa. Optamos pelo grau de
confiança de 90%, sendo o α de 0,10 e o valor crítico (Z α/2) correspondente de 1,96. Para
correção do tamanho da amostra utilizaremos a fórmula: N *= n/1+n/N. Onde: N*= amostra
corrigida, n= amostra obtida pela primeira fórmula e N = tamanho da população. Resultando
assim, em amostra de 142 mulheres, distribuídas nos cursos: Engenharia Ambiental (n=14),
Ciências Biológicas (n=27), Ciências da Computação (n=7), Ecologia (n=21), Educação
Física (n=19), Física (n=8), Geografia (n=14), Geologia (n= 4), Matemática (n=9) e
Pedagogia (n=19). Como critérios de exclusão foram controlados os seguintes parâmetros: a)
ter realizado exercício físico menos de três horas antes do teste; b) ter passado por situações
atípicas (insônia ou sono alterado) na noite anterior ao teste, e c) ter passado por algum evento
estressante (mau-humor, ansiedade, deprimida, triste, eufórica, dores musculares, tensão pré-
menstrual) no dia do teste; d) não possuir o IMC dentro da amplitude de 16,5 a 40 Kg/m2,
aceitando até 2 pontos de IMC para limite superior e inferior; e) não ter compreendido a
tarefa.
Os itens de a-c foram avaliados por meio de anamnese no momento da coleta, sendo
necessário obter resposta negativa em todos. O item d foi verificado por meio do cálculo do
IMC e o item e foi por meio de tarefa-teste prévia ao procedimento experimental. Houve um
caso de participante com 16,2 Kg/m2 (0,3 pontos de IMC abaixo do limite inferior) e outro
41,7 Kg/m2 (1,7 pontos de IMC acima do limite superior). Portanto, não foi necessário
descarte amostral nesse caso. Todavia, houve descarte de 23 mulheres por não entendimento
das tarefas, configurando um quadro de 119 participantes (21,7±2,8 anos). Estas foram
classificadas conforme o perfil somatotípico: central (GC, n=2), endomorfo (GEN, n=84)
mesomorfo (GM, n=20) e ectomorfo (GEC, n=13).
Instrumentos e procedimentos
Materiais utilizados: balança de plataforma (Tannita, digital, precisão de 0,1 kg),
estadiômetro com cabeçal móvel (Sanny, precisão 1 cm), fita métrica flexível (Sanny,
precisão 1 cm), adipômetro (Sanny, precisão 1mm), máquina fotográfica (Sony Cyber Shott);
notebook (HP, modelo Pavilion, tela de 14 polegadas), software de manipulação de imagens
Photoshop CS3 Extended (adobe®).
Avaliação antropométrica
95
discrepância entre silhueta percebida e real (LIECHTY, 2010). A amplitude das respostas da
ESPS está compreendida entre -7 (sete negativos) e +7 (sete positivos) unidades arbitrárias. O
valor zero correspondente à precisão na percepção corporal. Qualquer número diferente de
zero indica imprecisão, sendo os valores positivos correspondentes à superestimação do
tamanho corporal, e valores negativos à subestimação do tamanho corporal.
Resultados
Tarefa 1
Comportamento perceptivo
98
Tabela 1: Valores de expoente (n) e Coeficiente de Determinação (r2) – Média e desvio padrão
Grupos
Variáveis
dependentes GC GEC GEN GM TOTAL
n r2 n r2 n r2 n r2 n r2
0,7414 0,935626 1,0003 0,892213 1,0991 0,913550 1,1316 0,935786 1,0814 0,915327
IPCF*
79 ±0,3 ±0,005 17±0,4 ±0,07 65±0,4 ±0,09 22±0,4 ±0,04 95±0,3 ±0,08
0,7351 0,960243 0,7835 0,817447 1,0199 0,905847 1,1378 0,900336 1,0104 0,896178
IPCL**
60±0,2 ±0,02 88±0,4 ±0,2 49±0,3 ±0,09 24±0,4 ±0,05 18±0,4 ±0,12
ICD*** 1,1727 0,9619 1,5013 0,901370 1,3307 0,867609 1,3013 0,876828 1,3211 0,874432
ENDO 98±0,2 2±0,05 95±0,5 ±0,06 11±0,5 ±0,1 14±0,5 ±0,1 95±0,5 ±0,09
0,8977 0,8381 1,4705 0,848748 1,1610 0,829378 1,2416 0,869395 1,2075 0,838367
ICD MESO
2±0,07 7±0,05 04±0,5 ±0,06 58±0,4 ±0,1 32±0,7 ±0,06 77±0,4 ±0,09
0,3750 0,8452 0,8804 0,895660 0,6743 0,889018 0,5985 0,849598 0,6724 0,882383
ICD ECTO
9±0,05 9±0,06 24±0,3 ±0,08 90±0,2 ±0,09 30±0,3 ±0,1 64±0,3 ±0,09
0,5217 0,8893 0,9227 0,873031 0,7976 0,914773 0,7212 0,896177 0,7964 0,906660
ICD CENT
61±0,1 ±0,005 23±0,5 ±0,07 80±0,6 ±0,09 36±0,2 ±0,04 85±0,6 ±0,07
Fonte: próprio autor (2014). *Imagem do Próprio Corpo Frente** Imagem do Próprio Corpo Lado*** Imagem do Corpo
Desconhecido
Tabela 2: Valores de média e desvio padrão dos expoentes (n) nas tarefas de estimação de magnitude
Grupos
Variáveis
dependentes GC GEC GEN GM
n p n p n p n p
0,7414 1,0003 1,0991 1,1316
IPCF* 0,09 0,09 0,2 0,5
79 ±0,3 17±0,4 65±0,4 22±0,4
0,7351 0,7835 1,0199 1,1378
IPCL** 0,07 0,01* 0,7 0,5
60±0,2 88±0,4 49±0,3 24±0,4
ICD*** 1,1727 1,5013 1,3307 1,3013
0,08 0,002* 0,001* 0,006*
ENDO 98±0,2 95±0,5 11±0,5 14±0,5
0,8977 1,4705 1,1610 1,2416
ICD MESO 0,07 0,09 0,003* 0,2
2±0,07 04±0,5 58±0,4 32±0,7
0,3750 0,8804 0,6743 0,5985
ICD ECTO 0,07 0,01* 0,001* 0,001*
9±0,05 24±0,3 90±0,2 30±0,3
0,5217 0,9227 0,7976 0,7212
ICD CENT 0,08 0,09 0,001* 0,0001*
61±0,1 23±0,5 80±0,6 36±0,2
* Diferença significativa em relação ao expoente (n) verdadeiro 1 (p < 0,05)
Tarefa 2
A análise descritiva dos dados está apresentada na Tabela 3 e exibe inacurácia
perceptiva em mais da metade da amostra. Não houve associação estatisticamente significante
entre as variáveis tanto para a ESPSF χ2 (6) = 7,805 (p = 0,25), quanto para ESPSL χ2 (6) =
4,729 (p = 0,579). Isso faz com que a hipótese nula de independência entre estrutura física
100
(somatotipo) e percepção corporal seja aceita, portanto, elas não possuem nenhuma relação.
Ademais, houve relacionamento significante e positivo entre a percepção do corpo de frente e
lado (rho=0,63, p=0,001), demonstrando que a percepção independe do eixo de visualização.
Variáveis n %
Discussão
Este estudo objetivou identificar relações entre o perfil somatotípico, comportamento e
tendência perceptiva relativa ao próprio corpo (em função do eixo de apresentação da
imagem: frontal e lateral) e ao corpo de pessoas desconhecidas (em função do perfil
somatotípicos destas). Para tanto, realizamos duas tarefas perceptivas que envolvessem a
própria imagem da participante (STEWART al., 2012; GARDNER; BROWN, 2010b) e
basicamente buscamos responder três questões: 1) houve efeito de grupo em ambas as tarefas?
2) houve efeito do eixo de visualização da imagem em ambas as tarefas? e 3) qual o
comportamento perceptivo relativo a corpos desconhecidos?
Contrariando nossa hipótese, o perfil somatotípico, aparentemente, não foi
determinante na estimação do próprio corpo em nenhuma das tarefas, o que implica dizer que
nessa amostra a forma corporal não interferiu no comportamento perceptivo das mulheres.
Cornelissen et al. (2013) ao revisarem pesquisas acerca da dimensão perceptiva também
identificaram que esse aspecto não se correlaciona com a estrutura física do observador. No
caso, verificaram a influência do IMC na percepção de mulheres com e sem anorexia, e
constataram que a superestimação teve mais relação com aspectos atitudinais do que com o
percepto. Outra explicação provém do viés neurológico, pesquisas em pessoas anoréxicas com
distorções na percepção corporal, vêm demonstrando anormalidades no tecido neural
(TITOVA et al., 2013), alterações na atividade do lobo parietal inferior, além de redução do
volume cerebral na região da ínsula, hipocampo e giro fusiforme, o que não ocorre em
101
amostras não clínicas (BROOKS et al., 2011; PIETRINI et al., 2011; GAUDIO;
QUATTROCCHI, 2012) como a nossa.
Todavia, embora na tarefa 1 a tendência geral aponte para super-constância perceptual,
esta ainda é leve, uma vez que os valores estão bem próximos de 1. Por outro lado, na tarefa 2
é possível identificar que mais da metade da amostra superestima seu tamanho corporal.
Apesar de não ter sido escopo desse estudo verificar efeito entre tarefas, é possível
compreender que na segunda tarefa há um componente atitudinal embutido na questão
“escolha a silhueta que corresponde com seu corpo atual”, diferentemente de quando é
solicitado atribuir valor numérico a imagem. Stewart et al. (2012) em sua pesquisa
encontraram que grupos de anoréxicas e controle não diferem quanto a acurácia perceptiva a
alteração é de cunho atitudinal. Gardner e Brown (2010b) reforçam que aspectos atitudinais e
perceptivos são independentes um do outro, especialmente em amostras não clínicas, e que
avaliações com escalas de silhuetas induzem à superestimação. Portanto, os resultados devem
ser interpretados com cautela, pois, podem ser dependentes da tarefa, uma vez que conforme o
que for questionado ao participante, haverá maior contribuição perceptiva e/ou atitudinal
(CORNELISSEN et al., 2013).
Ao investigarmos o eixo de visualização da imagem verificamos que ver-se de frente e
de lado estão correlacionados. Esse resultado está em consonância com a pesquisa de
Urdapilleta et al. (2010) na qual avaliaram a percepção de nadadores e encontraram apenas
efeito de sexo: mulheres não alteram sua percepção conforme o eixo, porém homens sim. Por
outro lado, Hashimoto e Iriki (2013) em estudo com amostra não clínica detectaram ativação
neural em áreas diferentes na percepção corporal conforme os planos frontal e sagital. Os
autores sugerem que a manifestação dessa diferenciação se dê com envolvimento de aspectos
atitudinais e perceptivos.
Convém destacar que o grupo ectomorfo exibiu diferença significativa, tendendo à
subconstância perceptual (n<1) para visualização do corpo de lado. Contudo, acreditamos que
essa diferença seja explicada pela especificidade da tarefa: Cornelissen et al. (2013) destacam
que métodos de distorção em vídeo alteram o corpo apenas na horizontal, o que não condiz
com a alteração real da forma do ser humano. Além disso, os autores sugerem que tamanhos
muito maiores que a referência tendem a ser subestimados. Como o perfil ectomorfo já é
caracterizado pelo sujeito longilíneo, e isso é evidenciado ainda mais na visão lateral,
acreditamos que a manipulação dessa imagem possa ter se distanciado da realidade corporal.
Ao avaliarem mulheres desconhecidas as participantes (exceto GC) exibiram tendência
à super-constância perceptual (n>1) ao visualizarem a modelo endomorfa, e sub-constância
102
(TURTON et al., 2013) na mesma proporção em que é necessária sua investigação, bem como
exploração de novas propostas metodológicas acessíveis e práticas.
Considerações finais
A presente pesquisa demonstrou que o perfil somatotípico não influenciou a dimensão
perceptiva das avaliadas. Porém, os resultados merecem cuidado na interpretação, uma vez
que estes foram diferentes em ambas as tarefas. É possível que a condução da ESPS tenha
incrementado um componente afetivo que motivou superestimação corporal em mais da
metade da amostra. Em contrapartida, aparentemente isso não ocorreu na tarefa de estimação
de magnitude. Já na avaliação do corpo de mulheres desconhecidas houve tendência de
acentuação dos extremos, superestimar tamanhos corporais maiores e subestimar os menores.
O estudo da dimensão perceptiva na população brasileira ainda é bastante insipiente
dificultando intervenções em amostras clínicas e não clínicas. Nossas práticas ainda são
baseadas em estudos realizados em outras populações com características físicas e culturais
diferentes das nossas. Assim, esta pesquisa forneceu, ainda que de forma preliminar, uma
estratégia metodológica e informações a respeito do comportamento perceptivo de mulheres
universitárias, que podem auxiliar em pesquisas futuras.
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107
Resumo
O objetivo dessa pesquisa foi analisar e verificar a influência do somatotipo no
comportamento e tendência perceptiva de mulheres em tarefas de visualização da imagem
estática e dinâmica do próprio corpo, bem como na visualização de modelos desconhecidos a
elas. Participaram 142 mulheres (21,81± 3,014 anos) submetidas à avaliação do Índice de
Massa Corporal e do somatotipo, conforme protocolos da Organização Mundial da Saúde e
Heath-Carter, respectivamente. Para avaliação da percepção da imagem estática foi utilizada a
Escala de Silhuetas do Próprio Corpo (ESPS) e para percepção da imagem dinâmica foi
utilizada a tarefa psicofísica de Estimação de Categorias. Esta última em duas condições:
próprio corpo e corpo de 4 modelos desconhecidas. Procedemos ao teste não paramétrico
Kruskal-Wallis para análise de variância em função das variáveis analisadas. Os valores
referentes à percepção da imagem dinâmica e estática foram emparelhados ao valor zero (total
acurácia) e analisados pelo teste Mann-Whitney para verificação da tendência perceptiva. Foi
realizada correlação de Spearman para detectar associações entre as variáveis. Para verificar
associação entre as variáveis categóricas (somatotipo e ESPS) foi aplicado teste Qui-
Quadrado. Concluímos que o perfil somatotípico não influenciou a percepção da imagem
estática e dinâmica do próprio corpo, bem como do corpo desconhecido. Ademais, ver-se em
imagem estática não se correlaciona com ver-se em movimento, indicando que tais
processamentos perceptivos são diferentes e independentes da forma corporal.
Palavras-chave: Imagem Corporal. Dimensão perceptiva. Imagem estática. Imagem
Dinâmica. Somatotipo.
Abstract
The aim of this research was to analyze and verify the influence of somatotype on behavior
and perceptual trend of women in visualization tasks of static and dynamic image of their own
body as well as the visualization of models unknown to them. The sample included 142
undergraduate female students (21.81 ± 3.014 years) who underwent to assessment of Body
Mass Index and somatotype, according to the World Health Organization and Heath-Carter
protocols, respectively. To evaluate the perception of static image it was used the Self Subject
Silhouettes Scale (ESPS) and for dynamic image perception it was used the psychophysical
task of Estimation of Categories. This last one was performed in two conditions: own body
image and body of the 4 unknown models. We proceeded to the Kruskal-Wallis
nonparametric analysis of variance test due to the analyzed variables. The values on the
perception of dynamic and static image were matched to zero (total accuracy) and analyzed
by Mann-Whitney test to check the perceptual tendency. Spearman correlation was performed
to detect associations between variables. To assess the association between categorical
variables (somatotype and ESPS) it was applied Chi-Square. We concluded that
somatotypical profile did not influence the perception of static and dynamic body's own
image as well as the unknown body. Furthermore, look to yourself in the static image is not
correlated with watching yourself in moving, indicating that these perceptual processes are
different and independent of body shape.
Keyword: Body image. Perceptive dimension. Static image. Dynamic Image. Somatotype
108
Introdução
A consciência corporal implica em perceber, conhecer e avaliar o próprio corpo e o de
outras pessoas (BERLUCCHI; AGLIOTI, 2010). A percepção das dimensões corporais
envolve a capacidade de estimar o tamanho corporal (CORNELISSEN et al., 2013), sendo
elaborada e atualizada a partir da interação entre fatores sensoriais (tato, visão, cinestesia) e
não sensoriais (crenças, sentimentos e pensamentos) (THOMPSON; GARDNER, 2002;
MCCABE et al. 2006), processo que ocorre, na maioria das vezes, com a experiência do
movimento (GINIS et al., 2014).
Segundo Berlucchi e Aglioti (2010), se olharmos pela perspectiva neurocientífica essa
questão resume-se em entender as mensagens que o cérebro recebe do resto do corpo e como
elas são integradas e organizadas para execução de tarefas. No entanto, esclarecem os autores,
tais mecanismos são capazes de perceber e reconhecer a estrutura e movimentos de outros
indivíduos no intuito de interpretar gestos e ações para comunicação social. Assim, é possível
que haja uma categoria cognitiva que inclua tanto características específicas do próprio corpo
quanto de corpos de outras pessoas. Tal diferenciação é importante uma vez que a capacidade
refinada do ser humano em captar e detalhar a ação e linguagem corporal do outro lhe
proporcionará interações sociais mais eficazes (VANGENEUGDEN et al., 2014; ROCHÉ et
al., 2013; MILLER, SAYGIN; 2013).
O movimento do corpo humano revela uma série de atributos como peso corporal
(LAUSBERG; VON WIETERSHEIM; FEIREIS, 1996), estados emocionais (POLLICK et
al., 2001), sexo (HILL; JOHNSTON, 2001), identidade (TROJE; WESTHOFF; LAVROV,
2005) e possivelmente noções de proporcionalidade da morfologia corporal (CAZZATO et
al., 2012; O’TOOLE et al., 2011; VOCKS et al., 2007). Todavia, embora tais aspectos sejam
importantes na elaboração da imagem corporal, grande parte das avaliações da dimensão
perceptiva é realizada com visualização das imagens estáticas e bidimensionais como, por
exemplo, as escalas de silhuetas (LEGENBAUER et al., 2011; VOCKS et al., 2007).
Estudos em pacientes com transtorno de compulsão alimentar periódica
(LEGENBAUER et al., 2011) e bulimia (VOCKS et al., 2007) são exemplos dentre as poucas
pesquisas que investigaram a percepção do corpo sob a perspectiva estática e dinâmica no
contexto da imagem corporal. Legenbauer et al. (2011) e Vocks et al. (2007) utilizaram a
técnica de distorção de movimento, na qual os participantes visualizam um continuum de 15
pontos de luzes brancas em fundo preto exibidos em computador. A partir disso, geraram uma
figura andando no plano frontal. Após sua visualização foram feitas as seguintes perguntas:
“com qual imagem você realmente se parece?”; “com qual imagem você acha que se
109
parece?” e “com qual imagem você gostaria de parecer?”. Em ambos os estudos os sujeitos
acometidos por desordens alimentares apresentaram maior superestimação para imagem
dinâmica do que para a imagem estática, quando comparados com o grupo controle.
Esses achados demonstram a importância de incluir nas avaliações perceptivas o
componente dinâmico. Nesse tocante, há uma questão prática que se refere à percepção da
simetria e proporcionalidade corporal: estes são aspectos avaliados, ainda que de forma
inconsciente, quando se trata de beleza e estética corporal, assuntos pertinentes ao contexto da
imagem corporal (NEVILL et al., 2004).
Tendo como ponto de partida as questões levantadas por Legenbauer et al. (2011) e
Vocks et al. (2007), este estudo teve como objetivo analisar o comportamento perceptivo de
indivíduos de amostra não clínica em tarefas de visualização da sua imagem estática e
dinâmica, e se esta é influenciada pela estrutura corporal (somatotipo). Além disso, buscou-se
identificar se a qualidade perceptiva se estende para avaliação do corpo de outras pessoas com
perfis somatotípicos distintos. Nossa premissa é a de que mulheres endomorfas e mesomorfas
tenham maior tendência à distorção da percepção da visualização da imagem para todas as
tarefas (dinâmica e estática) e suas respectivas condições (próprio corpo, corpo
desconhecido).
Metodologia
Aspectos éticos
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual Paulista-
Campus de Rio Claro/SP, sob o protocolo de número 298 e decisão de número 071/2012 e
assinatura dos participantes do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Participantes
A seleção dos participantes foi baseada no cadastro de estudantes de graduação do
sexo feminino do campus de Rio Claro da Universidade Estadual Paulista/UNESP, a partir do
qual foi realizado cálculo amostral para população finita, estratificado por curso por meio da
seguinte fórmula: N= (Zα/2σ| E)2. Onde: N = Número de indivíduos na amostra, Z α/2 = Valor
crítico que corresponde ao grau de confiança desejado, σ =Desvio-padrão populacional da
variável estudada e E = Margem de erro ou erro máximo de estimativa. Optamos pelo grau de
confiança de 90%, sendo o α de 0,10 e o valor crítico (Z α/2) correspondente de 1,96. Para
correção do tamanho da amostra utilizaremos a fórmula: N *= n/1+n/N. Onde: N*= amostra
corrigida, n= amostra obtida pela primeira fórmula e N = tamanho da população. Assim,
fizeram parte da pesquisa 142 mulheres (21,81± 3,014 anos) dos cursos: Engenharia
110
Resultados
Considerando-se que o valor zero representa a precisão na percepção do corpo é
possível identificar que, de forma geral os participantes foram mais precisos na percepção da
imagem estática (IPEF, IPEL) (Tabela 1). Há um cuidado a ser tomado ao interpretar análises
de tendência central aplicadas a escalas de silhuetas (GARDNER, 2011), podendo gerar
interpretação errônea a respeito da qualidade perceptiva da amostra. Dessa forma,
demonstramos na Tabela 2 que realmente, há tendência da amostra à superestimação (mais de
50%), contudo existiram sujeitos que exibiram acurácia e subestimação perceptual dos seus
corpos.
Variáveis Grupos
dependentes GC* GEC* GEN* GM* TOTAL
IDC# 2,6±0,3 2,8±0,7 2,3±1,1 2,7±4,9 2,4±1,2
IDCD##ENDO 5,8±1,1 4,8±1,0 4,9±0,9 4,6±1,0 4,9±1,0
IDCD MESO 3,1±1,9 2,0±2,0 2,8±1,1 2,6±1,0 2,7±1,1
IDCD ECTO 1,8±0,3 2,3±0,8 1,9±0,6 2,9±1,1 2,0±0,7
IDCD CENT 2,3±0,5 2,5±0,7 2,5±2,5 2,4±0,8 2,5±0,8
IPEF° 2* 0 1* 1* 1
IPEL°° 2* 0 1* 1* 1
#Imagem Dinâmica do Corpo##Imagem Dinâmica do Corpo Desconhecido (valores expressos em média e desvio padrão) °Índice de
Percepção Estática Frontal – °°Índice de Percepção Estática Lateral (valores expressos em mediana) * Diferença significativa em relação ao
valor verdadeiro 0 (p < 0,05)
Não houve interação de grupo para nenhuma das condições da tarefa dinâmica: IDC
(H (3) = 3,4; p=0,3), e IDCD ENDO H (3) =3,2; p=0,3), IDCD MESO H (3) =6,4; p=0,9);
IDCD ECTO H (3)=4,4; p=0,2), IDCD CENT H (3)=0,4; p=0,9). Além disso, não houve
associação estatisticamente significante entre perfil somatotípico e percepção da imagem
estática tanto para visualização frontal da imagem IPEF χ2 (6) = 6,635 (p = 0,35), quanto para
114
visualização lateral IPEL χ2 (6) = 8,340(p = 0,2). Isso indica que o comportamento perceptivo
para as duas tarefas (dinâmica e estática) de percepção do próprio corpo e do corpo
desconhecido não é influenciado pela estrutura física (somatotipo) das avaliadas.
Ao emparelhar os valores das variáveis ao valor de total precisão (zero) foram
demonstradas diferenças significantes (p<0,05) para todos os grupos em ambas as tarefas. A
exceção foi o GEC, que para a tarefa de percepção estática tanto para frente quanto para lado
não apresentou diferença significativa (p=0,42) entre o escore mensurado e o valor de
precisão total. Em suma, é possível dizer que, de forma geral, houve tendência perceptiva de
superestimação nas tarefas estática e dinâmica tanto para o próprio corpo quanto para o corpo
desconhecido.
Variáveis n %
Discussão
O presente estudo teve como objetivo analisar e verificar a influência da estrutura
física corporal no comportamento e tendência perceptiva de mulheres universitárias em
tarefas de visualização da imagem estática e dinâmica do próprio corpo bem como na
visualização de modelos desconhecidos a elas.
Nossa hipótese de que os perfis endomorfo e mesomorfo apresentariam maior
superestimação em comparação com os demais nas tarefas foi rejeitada, uma vez que não
115
houve interação de grupo. Portanto, o perfil somatotípico, não modulou a percepção corporal,
sendo a tendência perceptiva geral direcionada ao aumento das dimensões corporais. A única
exceção foi o grupo ectomorfo, o qual na tarefa de visualização da imagem estática
apresentou valores próximos à normativa (zero equivalente à acurácia perceptiva).
Resultados semelhantes foram encontrados por Legenbauer et al. (2011) e Vocks et al.
(2007), em pesquisa com avaliação da percepção dinâmica e estática do corpo. Contudo,
ambos os estudos avaliaram amostras clínicas: obesos com e sem transtorno da compulsão
alimentar periódica no primeiro e bulimia no segundo. Os autores sugerem que tais resultados
estejam mais relacionados aos aspectos atitudinais (p.ex. insatisfação com a aparência) do que
aos perceptivos per se.
Embora não tenhamos avaliado aspectos atitudinais, acreditamos que eles possam ter
interferido nos resultados, uma vez que a experiência perceptiva rotineira (que inclui o
próprio corpo e de outros pessoas) possa modular a apreciação estética (MELE et al., 2013),
conduzindo à predileção por determinado padrão corporal, no caso a magreza. Suspeitamos
que talvez esse seja o motivo pelo qual o grupo ectomorfo foi mais acurado na tarefa estática:
por sua proximidade com os padrões considerados ideais de beleza.
O comportamento e tendência perceptiva da imagem dinâmica referente aos modelos
desconhecidos foram semelhantes à do próprio corpo: superestimação. Apesar de não ter
havido diferença significante em função dos perfis somatotípicos é interessante notar que a
modelo endomorfa teve seu tamanho mensurado como muito maior do que realmente é.
Cazzato et al. (2012) detectaram que há tendência em maximizar tamanhos extremos, em seu
estudo, e, além dos resultados semelhantes aos nossos, encontraram também que as modelos
mais magras foram julgadas como mais magras ainda. Os autores explicam que a apreciação
estética da forma e tamanho corporal não pode ser explicada apenas pela estrutura física e
proporcionalidade corporal, mas também pelas emoções evocadas pelo movimento. Ademais,
existe um viés de “intenção social” na visualização do movimento quando comparado com a
imagem estática, capaz de alterar a atividade neural e consequentemente a sensibilidade
perceptiva (ROCHÉ et al., 2013).
O exposto acima pode minimamente explicar nosso último achado: percepção estática
de frente e lado foram altamente correlacionadas, contudo, percepção estática e dinâmica não.
Roché et al. (2013) atribuem essa diferença ao fato de que o ser humano é habilidoso em
detectar e diferenciar intenções sociais. Eles explicam que a marcha contém características
sociais não evidenciadas na imagem estática. Por conta disso, a atenção viso-espacial do
observador tem por foco, na primeira situação, o tronco, e na segunda, as extremidades.
116
Considerando que a região do tronco concentra informações acerca do tamanho corporal, isso
pode explicar porque em nossa tarefa dinâmica os valores se distanciam mais da normativa
(zero) quando comparadas à tarefa estática.
Legenbauer et al. (2011) e Vocks et al. (2007) também encontraram diferenças
significativas entre tarefas estáticas e dinâmicas, porém como suas amostras são clínicas os
autores consideram que a imagem corporal estática esteja mais correlacionada à preocupação
com a forma, peso e desejo de emagrecer, enquanto que a percepção da imagem dinâmica
associa-se à insegurança e evitação corporal.
Cazzato et al. (2012) explicam que enquanto o sistema de percepção do movimento do
corpo pode extrair informação do mesmo a partir das posições relativas às partes corporais,
independente das suas dimensões, o sistema cognitivo envolvido na percepção da forma
(estática) corporal é influenciado por configurações relacionadas ao movimento do corpo.
Assim, destacam Vangeneugden et al. (2014), a dificuldade em avaliar e interpretar o
processamento preceptivo de imagens estáticas e dinâmicas reside no fato de que estes são
intimamente integrados.
Sob o ponto de vista neurológico existe uma dissociação entre mecanismos neurais
subjacentes na discriminação do corpo estático e em movimento (VANGENEUGDEN et al.,
2014) sendo necessárias redes neurais mais complexas na identificação de rostos e corpos em
movimento (O’TOOLe et al., 2011). O’Toole et al. (2011) ressaltam que a melhor
performance na precisão dos julgamentos da identificação humana provém da combinação
entre condição estática de percepção da face e condição dinâmica de percepção de corpo todo,
daí a importância do estudo de ambos.
Em suma, acreditamos que o entendimento amplo da dimensão perceptiva, envolvendo
estrutura física corporal, bem como elementos da percepção estática e dinâmica seja
fundamental para o refinamento de pesquisas no contexto da imagem corporal, em especial
aquele no qual existe relação com a atividade física, uma vez que estudos experimentais vêm
demonstrando que esta é capaz de promover alterações positivas na imagem corporal (GINIS
et al., 2014).
Concordamos com Vangeneugden et al. (2014) ao sugerirem o paradigma psicofísico
como estratégia avaliativa tanto da forma (estática) quanto do movimento corporal, e apesar
da alta tecnologia já existente, nos prestamos a buscar alternativas acessíveis e práticas.
Todavia, convém destacar suas limitações tais como a não eliminação de atributos sociais, o
que pode dificultar a separação entre aspectos perceptivos e atitudinais (Legenbauer et al.
2011). Estamos conscientes desta limitação no estudo bem como a amostra reduzida e o
117
Considerações finais
A presente pesquisa demonstrou que a estrutura física corporal, aqui representada pelo
somatotipo não influencia a percepção da imagem estática e dinâmica do próprio corpo bem
como do corpo desconhecido. Pudemos observar que ver-se em imagem estática não se
correlaciona com ver-se em movimento, o que indica que tais processamentos perceptivos
sejam diferentes e independentes da forma corporal.
Todavia, tais interpretações e generalizações requerem cuidados, uma vez que
consideramos essa investigação de cunho exploratório, merecendo, portanto, ser replicada em
amostras maiores incluindo o sexo masculino e outras faixas etárias. Tentamos avançar
ampliando os questionamentos acerca da percepção dinâmica do corpo humano, que até então
é focada em aspectos étnicos e de atratividade. Por isso, almejamos a exploração da avaliação
da proporcionalidade corporal na percepção do corpo em movimento.
Há no Brasil ainda uma lacuna nas pesquisas da dimensão perceptiva, o que nos obriga
a conduzir nossas práticas com base em estudos realizados em outras populações com
características culturais e físicas diversas. Assim, essa pesquisa forneceu, ainda que de forma
sucinta, alternativa metodológica e informações acerca da qualidade perceptiva de mulheres
universitárias que podem ser facilmente incorporadas em pesquisas futuras.
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120
9 CONSIDERÇÕES FINAIS
incrementado algum componente afetivo à mesma, que pode ter motivado a superestimação
corporal em mais da metade da amostra. Além disso, visualizar a própria imagem estática não
se correlacionou com visualizar a imagem dinâmica, indicando que tais processamentos
perceptivos foram diferentes para estas participantes.
O perfil somatotípico da amostra não modulou os resultados referentes à verificação
da qualidade perceptiva acerca das modelos desconhecidas. Por outro lado, aparentemente, há
diferenças entre tarefas, uma vez que na tarefa de estimação de magnitude houve tendência de
acentuação dos extremos, superestimação dos tamanhos corporais maiores e subestimação dos
menores; já na tarefa de visualização da imagem dinâmica, todas as modelos tiveram seus
corpos avaliados como sendo maiores.
Algumas limitações são apontadas nesse estudo. Inicialmente no que se refere ao
desequilíbrio numérico entre os grupos somatotípicos, o que dificultou as análises estatísticas,
podendo ter influenciado alguns resultados. Além disso, abrangemos apenas uma faixa etária
e o sexo feminino, o que pode dar um viés ao trabalho restringindo as generalizações, uma
vez que sabemos que fatores de idade e sexo interferem na imagem corporal. No estudo da
dimensão atitudinal não investigamos o comportamento de checagem corporal, aspecto que
está intimamente relacionado à evitação corporal. Todavia, isso elevaria a quantidade de
instrumentos aplicados, o que já consideramos também uma limitação, pois, embora tenhamos
dividido em dias alternados as coletas, o número de medidas tomadas pode interferir nos
resultados.
Além disso, vários aspectos na preparação do aparato metodológico de avaliação da
dimensão perceptiva precisam ser lapidados. Ao validar a ESPS não estabelecemos um valor
normativo, e utilizamos um número reduzido de silhuetas com organização em ordem
crescente, limitações que tentamos suprir com as demais tarefas. Outro fator importante em
técnicas de distorção em vídeo é a ausência da tridimensionalidade e o aumento da imagem
apenas no eixo horizontal, descaracterizando assim, a forma natural que o ser humano altera
sua composição corporal. Por fim, a imagem dinâmica utilizada na tarefa IDC não eliminou
atributos sociais do movimento humano (como, por exemplo, características da marcha, cor
de pele, tônus muscular, gestos, entre outros), podendo dificultar a separação entre dimensão
perceptiva e atitudinal. Encorajamos pesquisadores a ampliar a exploração desses quesitos a
fim de preencherem essas lacunas, enriquecendo assim, a pesquisa em imagem corporal.
Os dados aqui obtidos possuem implicações teóricas e práticas. As primeiras referem-
se à necessidade da avaliação multidimensional da imagem corporal que inclua características
físicas reais do avaliado. O estudo da imagem corporal no Brasil sob tal perspectiva ainda é
122
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137
ANEXO I
Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP – IB – UNESP – Rio Claro
138
ANEXO II
Body Shape Questionnaire (BSQ)
Gostaríamos de saber como você vem se sentindo em relação à sua aparência nas últimas
quatro semanas. Por favor, leia cada questão e faça um círculo apropriado. (Obs: Essa informação
do tempo de 4 semanas é apenas para esse questionário e não para os demais)
Use a legenda abaixo:
1. Nunca. 2. Raramente. 3. Às vezes. 4. Frequentemente. 5. Muito frequentemente. 6.
Sempre.
1-Sentir-se entediado (a) faz você se preocupar com sua forma
1 2 3 4 5 6
física?
2-Você tem estado tão preocupado (a) com sua forma física a
1 2 3 4 5 6
ponto de sentir que deveria fazer dieta?
3-Você acha que suas coxas, quadril ou nádegas são grande
1 2 3 4 5 6
demais para o restante de seu corpo?
4-Você tem sentido medo de ficar gordo (a) ou mais gordo (a)? 1 2 3 4 5 6
5-Você se preocupa com o fato de seu corpo não ser
1 2 3 4 5 6
suficientemente firme?
6-Sentir-se satisfeito (a) (por exemplo, após ingerir uma grande
1 2 3 4 5 6
refeição) faz você sentir-se gordo (a)?
7- Você já se sentiu tão mal a respeito do seu corpo que chegou a
1 2 3 4 5 6
chorar?
8- Você já evitou correr pelo fato de que seu corpo poderia
1 2 3 4 5 6
balançar?
9- Estar com homens (mulheres) magros (as) faz você se sentir
1 2 3 4 5 6
preocupado (a) em relação ao seu físico?
10-Você já se preocupou com o fato de suas coxas poderem
1 2 3 4 5 6
espalhar-se quando se senta?
11-Você já se sentiu gordo (a), mesmo comendo uma quantidade
1 2 3 4 5 6
menor de comida?
12-Você tem reparado no físico de outros homens (mulheres) e, ao
1 2 3 4 5 6
se comparar, sente-se em desvantagem?
13-Pensar no seu físico interfere em sua capacidade de se
concentrar em outras atividades (como por exemplo, enquanto 1 2 3 4 5 6
assiste à televisão, lê ou participa de uma conversa)?
14. Estar nu (nua), por exemplo, durante o banho, faz você se
1 2 3 4 5 6
sentir gordo (a)?
15-Você tem evitado usar roupas que o (a) fazem notar as formas
1 2 3 4 5 6
do seu corpo?
16-Você se imagina cortando fora porções de seu corpo? 1 2 3 4 5 6
17-Comer doce, bolos ou outros alimentos ricos em calorias faz
1 2 3 4 5 6
você se sentir gordo (a)?
18-Você deixou de participar de eventos sociais (como, por
1 2 3 4 5 6
exemplo, festas) por sentir-se mal em relação ao seu físico?
19 - Você se sente excessivamente grande e arredondado (a)? 1 2 3 4 5 6
20-Você já teve vergonha do seu corpo? 1 2 3 4 5 6
139
ANEXO III
Body Attitudes Questionnaire (BAQ)
Instruções: este questionário contém uma série de afirmativas. Por favor, leia cada uma delas e
marque na coluna que melhor demonstra como você concorda com cada uma destas afirmativas. As
opções de respostas são: Concordo Plenamente (CP), Concordo (C), Neutro (N), Discordo (D), e
Discordo Plenamente (DP).
CP C N D DP
ANEXO IV
Body Image Avoidance Questionnaire (BIAQ)
Marque um X na alternativa que melhor descreve a frequência que você tem estes
comportamentos atualmente:
Muito
Frequen- Rara-
Sempre Frequen- Às Vezes Nunca
temente mente
temente
Eu uso roupas de cores escuras
Eu uso um tipo específico de
roupas, por exemplo, minhas
“roupas de gorda”
Eu controlo a quantidade de
comida que eu como
Eu como somente frutas, legumes,
e outros alimentos de baixa caloria
Eu deixo de ir a encontros sociais
onde as pessoas vão falar respeito
do peso
Eu deixo de ir a encontros sociais
se as pessoas que estiverem lá
forem mais magras do que eu
Eu deixo de ir a encontros sociais
onde se tem que comer
Eu me peso
Eu sou sedentária
Eu me olho no espelho
Eu uso roupas que desviam a
atenção sobre meu peso
Eu evito sair para comprar roupas
Eu me visto bem e me maquio
(isto é, eu me arrumo bem)
Fonte: Campana, 2009
142
ANEXO V
Sociocultural Attitudes Towards Appearance Scale (SATAQ-3)
Leia os itens abaixo cuidadosamente e indique o número que melhor reflete o quanto você
concorda com a afirmação.Discordo totalmente = 1 Discordo em grande parte = 2 Nem concordo
nem discordo = 3 Concordo em grande parte = 4 Concordo totalmente = 5
PERGUNTAS 1 2 3 4 5
Programas de TV são importantes fontes de informação sobre moda e sobre
“como ser atraente”
Já me senti pressionado (a) pela TV ou por revistas a perder peso
Não me importo se meu corpo se parece com o de pessoas que estão na TV
Comparo meu corpo com o de pessoas que estão na TV
Comerciais de TV são importantes fontes de informação sobre moda e sobre
“como ser atraente”
PARA MULHERES: Não me sinto pressionada pela TV ou pelas revistas a ficar
bonita
PARA HOMENS: Não me sinto pressionado pela TV ou pelas revistas a ficar
musculoso
Gostaria que meu corpo fosse parecido com o dos (as) modelos das revistas
Comparo minha aparência com a das estrelas de TV e do cinema
Videoclipes não são importantes fontes de informação sobre moda e sobre “como
ser atraente”
PARA MULHERES: Já me senti pressionada pela TV ou pelas revistas a ser
magra
PARA HOMENS: Já me senti pressionado pela TV ou pelas revistas a ser
musculoso
Gostaria que meu corpo fosse parecido com o dos (as) modelos dos filmes
Não comparo meu corpo com o das pessoas das revistas
Artigos de revistas não são importantes fontes de informação sobre moda e sobre
“como ser atraente”
Já me senti pressionado (a) pela TV ou pelas revistas a ter um corpo perfeito
Gostaria de me parecer com os (as) modelos dos videoclipes
Comparo minha aparência com a das pessoas das revistas
Anúncios em revistas são importantes fontes de informação sobre moda e sobre
“como ser atraente”
Já me senti pressionado (a) pela TV ou por revistas a fazer dieta
Não desejo ser tão atlético (a) quanto as pessoas das revistas
Comparo meu corpo ao das pessoas em boa forma
Fotos de revistas são importantes fontes de informação sobre moda e sobre “como
ser atraente”
Já me senti pressionado (a) pela TV ou pelas revistas a praticar exercícios
Gostaria de ter uma aparência tão atlética quanto a das estrelas do esporte
Comparo meu corpo com o de pessoas atléticas
Filmes são importantes fontes de informação sobre moda e sobre “como ser
atraente”
Já me senti pressionado (a) pela TV ou pelas revistas a mudar minha aparência
Não tento me parecer com as pessoas da TV
Estrelas de cinema não são importantes fontes de informação sobre moda e sobre
“como ser atraente”
Pessoas famosas são importantes fontes de informação sobre moda e sobre “como
ser atraente”
Tento me parecer com atletas
ANEXO VI
Escala de Silhuetas Brasileiras para Adultos (ESBA)
ANEXO VII
Stunkard’s Figure Rating Scale (SFRS)
ANEXO VIII
Escala de Silhuetas Baseadas no Somatotipo (ESBS)
ANEXO IX
SOMATOCARTA
APÊNDICE I
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - (TCLE)
(Conselho Nacional de Saúde, Resolução 196/96)
Departamento de Educação Física
UNESP - Universidade Estadual Paulista - Instituto de Biociências de Rio
Claro
Eu Marcela Rodrigues de Castro convido você a participar deste estudo “Relações
entre percepção de dimensões corporais, somatotipo e satisfação com a imagem corporal”,
sob minha responsabilidade e orientação do Profo Dro Ismael Forte Freitas Junior. O objetivo
é avaliar como a constituição corporal (músculos, gordura, altura, densidade óssea) pode
interferir na percepção e na satisfação do indivíduo com o seu corpo. Para isso, você terá dois
encontros comigo no Laboratório de Ação e Percepção ou local de sua conveniência. No
primeiro encontro você será entrevistada acerca de dados gerais e atuais de condição de saúde,
e responderá a um questionário sobre o seu nível de atividade física. Em seguida, iremos
fotografá-la de corpo inteiro e filmá-la andando. Marcadores reflexores por meio de fita
dupla-face hipo-alérgica serão afixados em seu quadril, ombro e cintura. Para isso, você
deverá trajar roupa preta de ginástica. Iremos também registrar suas medidas antropométricas
(dobras cutâneas, diâmetro ósseo de joelho e cotovelo, circunferência de perna e braço, peso e
altura). Em um segundo encontro com intervalo de duas semanas, você irá realizar as
seguintes tarefas: inicialmente você irá observar na tela de um computador fotos distorcidas
do seu corpo, do corpo de três desconhecidos e de um cubo e responderá utilizando uma
escala numérica subjetiva a magnitude da alteração destas imagens. Na segunda tarefa você
verá na tela do computador a filmagem de corpo inteiro de 7 desconhecidos andando e
novamente responderá utilizando uma escala numérica subjetiva a magnitude destas imagens.
Em seguida, você responderá a três questionários e escolherá, de uma escala com sete
silhuetas, uma que reflete como você percebe e sente seu corpo. O tempo aproximado de sua
participação será de uma hora em meia em média. Para garantir sua privacidade e
tranquilidade, apenas os responsáveis pelo estudo e você estarão presentes na sala de
avaliação. Entenda também, que todas as informações coletadas no estudo serão confidenciais
e que seu nome e suas imagens não serão divulgados em hipótese alguma. As informações,
julgamentos numéricos e respostas nos questionários, serão utilizados para fins estatísticos,
científicos ou didáticos, ficando resguardado o seu anonimato, tanto em relação aos dados
coletados como imagens processadas. Os riscos da sua participação são mínimos e incluem:
148
APÊNDICE II
Anamnese pré-teste
Data ___________________________________________________
Nome ___________________________________________________
Idade ___________________________________________________
Curso ___________________________________________________
Questão 3: Marque com um X se hoje você passou ou está passando por algum
dos eventos estressantes abaixo: