Decisão Do Ministro Aroldo Cedraz Sobre Consignado Do Auxílio Brasil
Decisão Do Ministro Aroldo Cedraz Sobre Consignado Do Auxílio Brasil
Decisão Do Ministro Aroldo Cedraz Sobre Consignado Do Auxílio Brasil
Processo: 024.244/2022-8
Natureza: Representação
Órgão/Entidade: Caixa Econômica
Federal
DESPACHO
(BPC);
b) requisitos e formas de contratação do empréstimo consignado para
beneficiários do Auxílio Brasil e do BPC;
c) discriminação dos volumes contratados, valor médio dos empréstimos, taxa
de juros, prazo do empréstimo e valor médio do benefício para o Auxílio
Brasil e para o BPC, em separado;
d) esclarecimentos e justificativas para o início da concessão do empréstimo
consignado para beneficiários do Auxílio Brasil e do BPC, bem como
“Caixa para elas – Empreendedoras”, em outubro do presente ano, bem
como sobre o ritmo das contratações;
e) pareceres, notas técnicas, resoluções, decisões colegiadas que tratem sobre
precificação, critérios de concessão, taxas de juros, rentabilidade,
inadimplência esperada, aprovação da linha de crédito relativa ao crédito
consignado para beneficiários do Auxílio Brasil e do BPC;
f) esclarecimentos sobre a linha de crédito destinada ao público feminino
“Caixa para elas – Empreendedoras” – esclarecer sobre eventual ligação
com o crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil e do BPC e
demais detalhes do produto ofertado;
g) informações adicionais que julgar pertinentes para melhor elucidação dos
fatos.
6. Em petição à peça 7, o IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor demandahabilitação como interessado, com fulcro no art. 146 do
Regimento Interno, ou, subsidiariamente, acesso aos documentos não acobertados por
sigilo nestes autos, no que invoca a Constituição, a Lei 9.784/1999 e a Lei
12.527/2011.Alega ter interesse jurídico, por ser associação cuja missão institucional é a
defesa dos consumidores, o que inclui as relações desses com as instituições financeiras
e o Poder Público, e cujo papel institucional é o de atuar para que a Administração
Pública adote políticas para combater o superendividamento da população.
7. No mérito, o IDEC apresenta nota técnica que endossa o pedido de cautelar
formulado pelo representante, com as seguintes alegações: a) que grandes bancos não
ofertam o produto, considerando os riscos inerentes; b) que a constitucionalidade da Lei
14.431/2022 é questionada perante o Supremo Tribunal Federal nos autos da ADI
7.223; c) que vê com grande preocupação a instrumentalização de um banco público
para fins político-partidários às custas das camadas mais pobres da população; d) que é
imoral que recursos públicos destinados ao socorro de famílias em situação de fome
sejam convertidos em lucro para o sistema bancário; e) que há evidente confisco social,
pois o Estado fornece um crédito a famílias extremamente pobres e recebe juros pela
aplicação; f) que a taxa de juros praticada nessa modalidade de empréstimo alcança
51% ao ano, quase o dobro daquela praticada para beneficiários do INSS e servidores
públicos g) que o pagamento das parcelas mensais do empréstimoreduz o valor do
benefício a R$ 240,00, o que é inferior ao mínimo existencial prescrito no Decreto
11.150/2022; h) que o tomador do empréstimo terá de arcar com a dívida mesmo que
deixe de receber o Auxílio Brasil, como na hipótese de descumprimento das condições
elencadas no art. 18 da Lei 14.284/2021.
8. Registro ainda que o representantecomunicou haver encaminhado cópia da
representação ao Corregedor-Geral da Justiça Eleitoral (peças 11-12).
9. Destaco, por fim, que o Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico,
sorteado para atuar como custos legis neste processo (peça 4), ofereceu parecer à peça
que o art. 1º da Lei 14.431/2022 incluiu na Lei 10.820/2003 previsão expressa quanto à
possibilidade dessa modalidade de operação financeira, in verbis:
Art. 6º-B. Os beneficiários de programas federais de transferência de renda
poderão autorizar a União a proceder aos descontos em seu benefício, de
forma irrevogável e irretratável, em favor de instituições financeiras
autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, para fins de
amortização de valores referentes ao pagamento mensal de empréstimos e
financiamentos, até o limite de 40% (quarenta por cento) do valor do
benefício, na forma estabelecida em regulamento.
Parágrafo único. A responsabilidade pelo pagamento dos créditos de que
trata o caput deste artigo será direta e exclusiva do beneficiário, e a União
não poderá ser responsabilizada, ainda que subsidiariamente, em qualquer
hipótese.”
16. De igual forma, não cabe a esta Corte decidir acerca de eventuais infrações à
legislação eleitoral ou à higidez do processo eleitoral, cuja apuração se situano feixe de
competências da Justiça Eleitoral, conforme preconizado no art. 121 da Constituição
Federal c/c arts. 22, 23, 29 e 30 da Lei 4.737/1965 (Código Eleitoral). Nessa linha,
ainda que o representante narre possível interesse em provocar repercussão nas eleições
vindouras por meio do cometimento da suposta irregularidade de se apressar a
concessão de empréstimo consignado a beneficiários do Auxílio Brasil, compreendo
que qualquer avaliação sobre ilícito eleitoral ou repercussão eleitoral de ilícito
administrativo é estranha ao Controle Externo, cabendo sua apuração pelo órgão
competente da justiça especializada. Assim, considero pertinente encaminhar ao
Presidente do Tribunal Superior Eleitoral cópia deste despacho, da instrução precedente
e da inicial da representação, para que tome conhecimento do andamento das apurações
acerca desta representação no âmbito do TCU e para que, uma vez deslocada para a
correta jurisdição, avalie em sua esfera própria de atribuições a pertinência da adoção de
medidas cautelares inerentes ao caso.
17. Cumpre, assim, delimitar o objeto desta representação à apreciação quanto à
ocorrência ou não de irregularidades no âmbito da Caixa, mormente se aquela empresa
pública deixou de observar procedimentos operacionais ou análises de risco essenciais e
prévios à decisão de ofertar o empréstimo consignado aos beneficiários do Auxílio
Brasil. Note-se que a gestão de riscos é pilar essencial para a gestão de uma empresa
pública, tanto que a própria Lei das Estatais a menciona expressamente mais de uma vez
– vide, por todos, osarts. 6º,9º e 18 da Lei 13.303/2016.O fato de se tratar de banco
público realça a necessidade de se atentar para robusta gestão de riscos que, se
inobservada, além de afrontar diretamente essasnormas jurídicas, pode causar graves
prejuízos à empresa e ao controlador, o que, reafirmo, atrai a competência do TCU.
Veja-se ainda que a lei não obrigou o banco a ofertar o empréstimo, sendo essa uma
decisão tomada pelos órgãos de governança corporativa do banco.
18. Como bem apontado pela unidade instrutiva, os presentes autos carecem de
informações quanto ao volume de operações de crédito realizadas e a realizar, ritmo de
contratação de operações oucondições específicas de crédito. Penso, todavia, que para o
juízo de cognição sumária necessário para a presente etapa processual, que deve se
voltar ao exame da plausibilidade da irregularidade descrita pelo representante e ao
perigo de dano na mora em se adotar a medida acautelatória, faz-se mister o envio a esta
Corte, com urgência máxima, de todos os documentos e pareceres que subsidiaram a
tomada de decisão para início da oferta dessa modalidade de crédito consignado, sendo
certo que as demais informações poderão ser obtidas posteriormente, ao longo do
(Assinado eletronicamente)
Aroldo Cedraz
Relator