Monografia - O Sentido Da Religiao em Freud, Jung e Montefoschi - 2020
Monografia - O Sentido Da Religiao em Freud, Jung e Montefoschi - 2020
Monografia - O Sentido Da Religiao em Freud, Jung e Montefoschi - 2020
Curitiba - PR
2020
RAQUEL MIRANDA ARAUJO LIMA
Curitiba - PR
2020
Ao Ser que nos permeia.
AGRADECIMENTOS
Agradeço o amor fundamental de meus pais (in memorian), Luiz, homem comunicativo
Nogueira, que tanto nos ensina. Foi quem me guiou no despertar do meu amor ao ser,
compartilhou leituras importantes, que senti tão providenciais em minha vida enquanto
escrevia. Certamente uma profissional que inevitavelmente admiro como pessoa e ser
que é.
aprendizados.
“Talvez brincando
de correr atrás daquele
grande deus criança,
eu ultrapasse ali
onde se vive
a intimidade dos numens,
e descobri
o sono pequeno do vento
adormecido em seu grande respiro,
e surpreendi o sol,
à fresca nudez,
que me aquecia
em um espelho d’água.
Talvez tremeu
na sombra, ainda, daquele pudor, talvez temeu a
nova intimidade daquele silêncio.
Faz-se necessário encontrar o sentido da religião na vida de uma pessoa. Mais cedo
ou mais tarde essa palavra encontra alguma importância, pois que nascemos,
crescemos com algum amparo e depois é preciso assumir as rédeas de encontrar e
manter um amparo próprio. E nesse ponto, a religião seja como fé, seja como modelo
de crença ou outro significado, inevitavelmente surgirá, só não de uma mesma
maneira para todos, pois que não se tem um conceito pronto e fixo dessa palavra. A
religião surge como ideia de uma ou várias experiências com o sagrado, vivenciadas
por pessoas, e de variadas formas criam-se conceitos que uma parte de nossa mente
quer fixar, quer obter garantias. Impossível. O sentido da religião em três perspectivas
importantes da psicanálise nos fornece uma direção a olhar. Freud, criador desse
método terapêutico que reconhece o inconsciente como parte importante e atuante
no indivíduo, apresenta a religião como uma ilusão, um dilema a ser resolvido
futuramente. Jung, pesquisador empirista, por meio de suas experiências inéditas,
explicita pontos importantes do inconsciente e sobre a religião, a qual diz ser uma
função autônoma e primária natural da psique. Montefoschi, por sua vez, nos traz
uma abordagem que não somente abarca as duas anteriores, mas nos mostra uma
direção universal a seguir. Cabe a cada um, como parte importante de uma sociedade
e de um todo, encontrar esse direcionamento interno.
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................7
1.1 SIGNIFICADO E SENTIDO DA RELIGIÃO E SUA RELAÇÃO COM A
PSICANÁLISE
2 OBJETIVO...........................................................................................................12
2.1 JUSTIFICATIVA E MÉTODO................................................................12
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................14
3.1 O SENTIDO DA RELIGIÃO EM FREUD: O Futuro de Uma Ilusão........14
3.2 O SENTIDO DA RELIGIÃO EM JUNG: Psicologia e Religião................21
3.3 O SENTIDO DA RELIGIÃO EM MONTEFOSCHI: O Tema do
Universal...............................................................................................30
3.4 RELIGIÃO NO SÉCULO XXI................................................................36
4 CONCLUSÃO......................................................................................................39
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................44
7
1 INTRODUÇÃO
PSICANÁLISE
etimológica.
religio. Cícero2, na sua obra De natura deorum, (45 a.C.) afirma que o termo se
refazendo rituais, com atenção. Mais tarde, Lactâncio3 (século III e IV d.C.) rejeita
1
RELIGIONE em: https://it.wikipedia.org/wiki/Religione#cite_note-2
2
Marco Túlio Cícero (106–43 a.C.; em latim: Marcus Tullius Cicero, em grego clássico: Κικέρων; transl.:
Kikerōn) foi um advogado, político, escritor, orador e filósofo da gens Túlia da República Romana eleito
cônsul em 63 a.C. com Caio Antônio Híbrida. Era filho de Cícero, o Velho, com Élvia e pai de Cícero, o
Jovem, cônsul em 30 a.C., e de Túlia. Cícero nasceu numa rica família municipal de Roma de ordem
equestre e foi um dos maiores oradores e escritores em prosa da Roma Antiga. Ref:
https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADcero
3
Lucio Célio Firmiano Lactâncio, em latim : Lucius Caecilius (ou Caelius) Firmianus Lactantius , mais
conhecido simplesmente como Lactâncio (África , cerca de 250 - Gália , depois de 317), foi um escritor
romano , retórico e apologista da fé cristã , entre os mais famoso do seu tempo. Ref:
https://it.wikipedia.org/wiki/Lattanzio e https://pt.wikipedia.org/wiki/Lact%C3%A2ncio.
8
religião: Crença em forças superiores que regem o destino do ser humano, sendo
estas responsáveis pela criação do universo e, por isso, devem ser respeitadas;
2019)5; manifestação de tal crença por meio de doutrina e ritual próprios, que
(MELHORAMENTOS, 2020)7.
recolher-se, a fazer uma nova escolha, a retornar a uma síntese anterior para
“refazer uma escolha já feita (retractare, diz Cícero), revisar a decisão que dela
4
Agostinho de Hipona (em latim: Aurelius Augustinus Hipponensis), conhecido universalmente como
Santo Agostinho, foi um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo,
cujas obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e filosofia ocidental. Era o bispo
de Hipona, uma cidade na província romana da África. Escrevendo na era patrística, é amplamente
considerado como sendo o mais importante dos Padres da Igreja no ocidente. Suas obras-primas são De
Civitate Dei ("A Cidade de Deus") e "Confissões". Ref: https://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_de_Hipona
5
RELIGIÃO em: https://www.dicio.com.br/religiao/
6
RELIGIÃO em: FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3 ed.
revisada e atualizada. Curitiba: Positivo, 2004. p. 1729.
7
RELIGIÃO em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/religi%C3%A3o/
9
resulta, tal é o sentido próprio de religio. Ele indica uma disposição interior e não
Nota-se que sua origem etimológica não é única, visto que se trata não
atribuir novo aspecto, de ir além das aparências que é a abordagem que Jung
recupera.
é de dentro que ela surge ou, também, é vivenciada fora e percebida dentro, e,
portanto, nesse ponto é indiscutível seu aspecto subjetivo. Fato que não exclui,
porque o lugar fecundo não se encontra fora do ser e nem mesmo é inerte.
sua própria verdade autêntica, seu propósito, a partir do seu conhecer-se como
ser individual que também pertence ao todo, ser coletivo. Construção esta que
11
se faz na relação consigo e com o outro. No entanto, para que esta relação seja
em sua universalidade e chega assim a admitir que aquilo que o homem singular
cada ser, realizando o si mesmo, recupere suas partes constituintes para tornar-
8
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SjP_nRvHfuQ
12
2 OBJETIVO
Jung e Montefoschi?
superficial sobre o significado do termo religião e dar vez e voz ao que de fato
profundo de todo ser, que por sua vez, já sabemos, não é monopólio de nenhuma
para renovar suas crenças. Mudam-se os nomes, os papéis e até mesmo outras
reconhecida, que pede pela mediação individual interna, contínua, como um rio
perene.
13
dela, dos três autores: O futuro de uma ilusão de Sigmund Freud, Psicologia e
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1920, aborda o lugar que ocupa a religião como fruto de nossa cultura e
9
CIVILIZAÇÃO em: FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3 ed.
revisada e atualizada. Curitiba: Positivo, 2004. p. 478
10
CULTURA em: FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3 ed.
revisada e atualizada. Curitiba: Positivo, 2004. p.587
15
"canibalismo, incesto, e ânsia de matar ", considerados primitivos, mas que ainda
que deem o exemplo e a quem as massas reconhecem como seus líderes, é que
ambos são coexistentes, esta precisa ser defendida daquele com o uso das
normas. E como a psique também evolui, é natural que a coerção externa seja
não se deixa dominar. Neste ponto, é tarefa da cultura nos defender de suas
ele percebe que esta não pode protegê-lo do destino, volta-se à ideia de Deus
como um Pai poderoso que oprime, mas também protege, assim como a figura
paterna da infância.
Freud mostra que esta tem a natureza de uma ilusão, o que não é propriamente
um erro, pois quer atender a uma necessidade afetiva não diretamente ligada
com a realidade. Uma ilusão que brota de desejos humanos profundos: o desejo
encontra o ser humano, de ser acolhido após a morte, o desejo de que a vida se
perpetue.
Freud expõe a religião como uma neurose coletiva, pois que esta reaviva
de uma outra neurose. Então "...a religião seria a neurose obsessiva universal
Édipo, na relação com o pai.” (Freud 2011), porém dela seria mais difícil de se
curáveis.
superados, lhe sejam tomados e levados a uma solução aceita por todos.”
(Freud, 2011).
geração, que os indivíduos devem aceitar, respeitar e temer, pois tais dogmas
comunicam algo que o indivíduo comumente não encontra por conta própria, ou
da infância como também do temor diante das forças da natureza, ambos nunca
Mas caso a superação dessa neurose seja possibilitada, há então uma relação
adulta com a realidade hostil da vida; usa-se a inteligência que se tem aqui e
deixa começar a pensar e questionar por si, já sendo forçada a aceitar ideias
Freud apoia uma educação livre de dogmas e mais próxima à realidade cultural.
um palco. R. observa dois homens que estavam cuidando delas. Um deles quer
demonstrar uma brincadeira com uma das crianças, mas ela estava tímida e não
se manifestou. O homem chama então o nome de outra criança, que veio tão
rápido e era tão pequena que parecia um mosquito. R. só via a cabecinha dele.
Seus membros pareciam asas. R. então entra nos bastidores e descobre que ali
escolher uma criança para alimentar. Foi atrás do menino que parecia um
mosquito. Ele estava dormindo dentro de uma caixa de sapatos perto da porta.
Quando o pega no colo, ele já está como um bebê maior e mais claro. Fica com
ele, e ambos se afeiçoam. R. poderia voltar depois para alimentá-lo, mas quando
19
vai até a porta, o bebê se agarra tão forte em sua perna que precisa então ficar.
olhos. A feição da criança muda quando percebe esse olhar profundo. O agora
grandes. Ele olha para R. com medo. R. o acolhe e não sabe mais a hora em
primitiva de mosquito, parecia estar disfarçando sua inteireza que não poderia
ser mostrada. É ágil porém pequeno. Cresce em seu aspecto humano quando é
de levá-lo consigo.
colocou-se em risco ao escrever que a religião é uma ilusão que faz o crente
recusa da religião por Freud, recusa esta que parece ter que encontrar uma
em sua vida pessoal, ao menos até os 17 anos, Freud tenha participado da vida
religiosa dos pais, a educação recebida nunca se tornou uma escolha pessoal.
la em uma só categoria.
revisão coerente de algo quando a subjetividade afeta tal avaliação, mas ousa,
mesmo assim, fazer tal previsão para a religião e sugere uma superação racional
da mesma, o que não significa colocar outra crença sem sentido em seu lugar,
11
Metapsicologia é uma série de escritos teóricos de Sigmund Freud que descreve os métodos de
construção e funcionamento dos processos psíquicos e aspectos da dinâmica psíquica por meio do uso de
conceitos principalmente simbólicos e metafóricos retirados do mundo da física. É provavelmente o ponto
de contato máximo entre a psicanálise em sua dimensão clínica, a psicologia e a filosofia. A metapsicologia
consiste principalmente em teorias derivadas do trabalho clínico com pacientes ou da observação direta,
e foi desenvolvida por Freud na necessidade de construir um amplo arcabouço teórico para a psicanálise
além dos aspectos clínicos e intervencionistas, criando assim um teoria completa da mente. A
metapsicologia pode ser usada em referência direta à psicodinâmica, uma vez que descreve sua natureza
e a maneira pela qual os processos mentais são estruturados e sua utilidade na economia da energia
psíquica. Disponível em: https://it.wikipedia.org/wiki/Metapsicologia
21
o destino.
nota-se uma insatisfação em Freud. Ele ficou limitado em suas ideias acerca da
a religião como uma ilusão, um elemento a ser eliminado, não vê outra alternativa
a não ser deixar a resolução desse dilema para o futuro, revelando a ausência
e Religião em 1939, tema já antes vivenciado e estudado por ele, além de ser
A religião para Jung não tem o mesmo sentido que para Freud porque
forma de neurose, em Jung a religião é uma função psicológica, que ele chamou
de “função religião”.
12
Numinoso é um conceito derivado do latim numen significando "emoção espiritual ou religiosa
despertadora; misteriosa ou inspiradora". O termo foi popularizado pelo teólogo alemão Rudolf Otto em
seu influente livro alemão de 1917, Das Heilige (em português, O Sagrado), que apareceu em inglês
como The Idea of the Holy, em 1923. Ref: https://pt.wikipedia.org/wiki/Numinoso. Segundo o próprio
Jung (2013), “Qualquer que seja a sua causa, o numinoso constitui uma condição do sujeito, e é
independente de sua vontade.”
23
“função religiosa”, aspectos estes que foram percebidos pelo filósofo e teólogo
trágica que lhe é inerente, divisão que resulta nas duas partes (ego e
autêntica, o que deve ser assumido sem pular fases ou áreas evolutivas da
homem se oculta, [...] pois permite ‘... um contato real com Deus.’”
sacrifícios, meditação, prática da ioga, etc., com uma crença numa causa exterior
objetiva divina que precede tais práticas, e que tais sacramentos teriam um
(budismo, islamismo). Aqui Jung alerta que o psicólogo que se coloca numa
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verdade exclusiva e eterna, pois “uma vez que trata da experiência religiosa
Jung os relaciona à vida prática e vê que a neurose se interliga com a vida íntima
cura.
contra os sonhos que subestima a sabedoria interna. Jung afirma que a única
forma existencial imediata é a psíquica e que seus transtornos foram e ainda são
uma força incontrolável por meio racional, a exemplo do paciente com carcinoma
o qual reflete uma invasão à consciência por aspectos antes ignorados, quando
psique humana real; há uma subestima desta, e a isto Jung relaciona o medo e
favorável a uma consideração séria dos sonhos, como antigamente. Até mesmo
o protestantismo, ainda que tenha se livrado de alguns dogmas, sentiu falta das
revelações individuais.
detectar a raiz da ideia obsessiva, Jung lhe sugere que seus sonhos fornecerão
13
Benedictus Pererius (1535-1610) publicou em 1576 seu livro De principiis, de maior sucesso, depois de
ter ensinado filosofia no Colégio Romano dos Jesuítas. Ref:
https://link.springer.com/article/10.1007/s11191-004-2456-4
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Estão presentes meu pai, minha prima, minha irmã e também outras pessoas de
grande fogo em forma de Jesus crucificado e que vem lentamente para frente se
para tirar fotos. Meu pai está lá, mas não é o momento de eu abraçá-lo. Nos
organizamos para tirar fotos. Proponho-me a tirar, mas na minha foto estou só.
Sinto-me diferente. Volto à rua para continuar o teste de carros. Faço manobras
com a peça do carro riscada e mostro para minha irmã que diz não ter problema.
imagens.
pelo mundo. O auditório numa casa familiar (casa é onde se mora), também se
uma mulher indígena remete ao feminino autêntico e humano que precisa ser
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sonhadora, após bater a traseira do carro (atrás é o passado), volta com a peça
avariada e a mostra para a irmã, que é sensível e lhe diz palavras que tiram o
processos inconscientes em que o sonhos são elos visíveis, por isso considera
que um sonho seja parte integrante de uma série. Não se deteve a dogmas, mas
Jung não atribuiu seu sentimento religioso a uma crença porque ele se
colocou como objeto de sua própria experiência, se entregou a ela. Seu legado
individual?
las.
identificou com esse herói que tudo pode conseguir. Mas essa identidade, ainda
que necessária como etapa no processo evolutivo, limitou o ser humano a uma
satisfação egóica que hoje precisa ser superada sob a demanda de uma
evolução.
como responsável para que essa interação entre ambos aconteça. O homem é
criaram num momento histórico, não nasceu pronto nem deve ser eterno,
mesmo e não mais ficar refém de um sistema, ou seja, o Eu que cumpre seu
33
exigências.
inconsciente ela inclui o social, a relação com o outro, superando a visão egóica
Montefoschi amplia o olhar de Jung para uma nova síntese de seu legado,
nos livrarmos individualmente das correntes de nossa própria história, para então
nos socializarmos de forma livre e fluida que produza novas realidades. Livre de
revoltas individualistas.
a dialética da consciência.
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sujeito e objeto, e não mais como somente objeto, criação do criador, submissos
inconsciente coletivo”.
energia vital do amor, o feminino que traz em si o masculino e que deve superar
desordenadamente por uma colina. Ela sabe que ela e todos os presentes são
humano.”. Sacrifício este que renuncia idealismo e controle. Mas quem seria o
tendência, que era seu princípio guia, a transferiu para o anthropos (para o Eu).
ordenador que o guia? É em si que o homem deve reconhecê-lo, mas como outro
conhecimento que se coloca num plano de visão mais amplo e elevado de onde
dimensão social que se transforma no tempo. Assim ele poderá ser o colhedor e
por sua própria história, o que implica resolver seus problemas internos honesta
de cada um. Algumas vão porque tem o sentimento verdadeiro e outras vão
36
como que para adquiri-lo. Mas quantas pessoas vemos atuando, como atores,
criam normas que não se atualizam. Não se trata de julgamento, mas de uma
percepção, pois mesmo que isso não faça diferença para aqueles que vão
extraviar-se e retornar depois ao contato com seu Deus. É mais autêntico colher
segurança. “A resposta está dentro”. Sim, esta frase clichê implica um percurso
37
aprender arcaica, sem interação e diálogo, que não acompanha a evolução tanto
o religioso.
crença interna das pessoas, o que envolve por vezes jogos de poder e
manipulação. Está claro que existe uma dificuldade em lidar com as forças do
Senão todas, ao menos a maioria das instituições seguem uma ordem, uma
histórica. E essa busca por uma autoridade externa deveria coincidir com o
buscar aquilo que seu coração sente. Este deve ser o objetivo da religião: educar
necessidade.
4. CONCLUSÃO
religião, não como conceito rígido pois, vimos, trata-se de descrever aspectos de
natureza, a qual o ser humano precisa enfrentar, pois que esta não se deixa
caráter divino e depois também paterno: a religião, para suprir uma necessidade
afetiva não atendida, não diretamente ligada com a realidade, e por isso trata-se
de uma ilusão, um dilema sem resolução imediata, tarefa portanto para o futuro.
primária, e não o resultado de um desvio da libido. Tal função, chamada por ele
de “função religião”, faz com que o indivíduo tenha uma atitude de "observância
totalidade maior, o Si mesmo universal, que por sua vez está acontecendo
egóica, que hoje precisa ser superada para atender a demanda de ampliação de
próprio material aonde o futuro é criado, responsável pela própria história criada
vivenciando experiências.
a qualquer preço, sem discernimento, ânsia essa descomedida que pode estar
repressão controladora.
experiência é valorosa matéria prima para a próxima, e que assim nos damos
cultura ancestral indígena. Ao que parece foi uma sobreposição de valores, sem
pulsante, porém não assumida, talvez uma pulsão incontrolável que precisa ser
colocada em prática, mas que atormenta os repressores que não querem aceitar
verdades ditas universais. Porém nunca será uma verdade concreta, linear ou
espiritual perpassa além do material e por isso uma não acompanha a outra,
materiais, e para tal ele precisa de um espaço, o seu espaço genuíno que
intelecto. E a fim de que o espírito volte ao seu lugar, atuante de ser, aqui está
reconecta-las.
existente, mas antes ignorado. Dar voz à experiência individual, trazê-la para a
43
do realizar o humano, pois que a subjetividade é comum a todos, mas não igual
em algo para viver, nem que seja na própria vida. Porém a forma desse algo é
particular para cada indivíduo e não é escrupuloso impor uma forma única a algo
que não a tem. Cabe a cada ser humano cumprir sua existência tanto individual
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JUNG, Carl G., Psicologia e religião 11/1. Trad. Pe. Dom Mateus Ramalho
Rocha; revisão técnica de Dora Ferreira da Siva. Petrópolis: Vozes, 2013. 144p.
Ebook Kindle. Paginação irregular.