Direito Constitucional II - Organização Do Estado e Dos Poderes

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Direito Constitucional II-

Organização do Estado
e dos Poderes
Prof. Rodrigo Flores Fernandes
Prof.ª Rosana Maria de Moraes e Silva Antunes
Prof.ª Maytê Ribeiro Tamura Meleto Barboza
Prof. Pablo Rodrigo Bes

Indaial – 2020
1a Edição
2020

Elaboração:
Prof. Rodrigo Flores Fernandes
Prof.ª Rosana Maria de Moraes e Silva Antunes
Prof.ª Maytê Ribeiro Tamura Meleto Barboza
Prof. Pablo Rodrigo Bes

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Conteúdo produzido
Copyright © Sagah Educação S.A.

Impresso por:
Apresentação
Olá Caro Acadêmico!

Esta disciplina abordará as questões relativas ao Direito Constitucional


II, principalmente aos assuntos pertinentes a Organização do Estado e dos
Poderes.

Na Unidade 1 será trabalhado a questão do Estado, em especial as


formas de federação, bem como os tipos de Federalismo.

Será trabalhado nesta unidade a organização político-administrativa


do estado, para explicar a repartição de competências da federação brasileira,
descriminando as competências da União, dos Estados, dos Municípios e do
Distrito Federal.

Também será trabalhado as competências da união, dos estados,


dos municípios e do distrito federal, distinguindo a intervenção federal de
intervenção estadual, como também saber identificar os princípios explícitos
aplicáveis à Administração Pública.

Verificamos os princípios explícitos aplicáveis à Administração


Pública e aos institutos de desconcentração e descentralização, por meio dos
quais se formam órgãos e pessoas jurídicas pertencentes à Administração
Pública Indireta.

Para isso, você deverá reconhecer o que é a Administração Pública


Direta e o que é a Administração Pública Indireta, comparando-as entre si.

Por fim, deverá distinguir servidor público de empregado público,


analisando os seus respectivos regimes previdenciários.

Na Unidade 2 trabalhar-se-á os Poderes do Estado Brasileiro, desde o


Poder Executivo, Poder Legislativo, Processo Legislativo e o Poder Judiciário.
Definindo os sistemas de governo adotados nas democracias ocidentais e as
competências do Chefe e dos ministros do Poder Executivo.

Na Unidade 3 será estudado as Instâncias Superiores do Poder


Judiciário Brasileiro, como também o Supremo Tribunal Federal (STF) e
o Superior Tribunal de Justiça (STJ), perpassando pela ordem social e o
empreendedorismo social.

Bons estudos!

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro


que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.

Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada!

VI
Sumário
UNIDADE 1 – DO ESTADO.....................................................................................................................1

TÓPICO 1 – DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO...................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 FORMAS DE ESTADO, DE FEDERAÇÃO E TIPOS DE FEDERALISMO..................................3
3 FORMAS DE INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E DESMEMBRAMENTO DE ESTADOS.......7
4 HIPÓTESES DE CRIAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E DESMEMBRAMENTO
DE MUNICÍPIOS.....................................................................................................................................8
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................11
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................12

TÓPICO 2 – DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS


E DO DISTRITO FEDERAL............................................................................................13
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................13
2 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA...................................13
3 COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO
FEDERAL.................................................................................................................................................15
4 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS E MATERIAIS....................................21
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................23
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................24

TÓPICO 3 – DA INTERVENÇÃO.........................................................................................................25
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................25
2 INTERVENÇÃO FEDERAL VERSUS INTERVENÇÃO ESTADUAL........................................25
3 PRESSUPOSTOS MATERIAIS E FORMAIS DA INTERVENÇÃO...........................................28
4 JURISPRUDÊNCIA DAS CORTES SUPERIORES ACERCA DA HIPÓTESE DE
INTERVENÇÃO.....................................................................................................................................30
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................33
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................34

TÓPICO 4 – DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA................................................................................35


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................35
2 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.......................................................35
3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA.................................................................38
4 SERVIDOR PÚBLICO VERSUS EMPREGADO PÚBLICO.........................................................41
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................43
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................44

VII
UNIDADE 2 – DOS PODERES DO ESTADO....................................................................................45

TÓPICO 1 – DO PODER EXECUTIVO................................................................................................47


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................47
2 SISTEMAS DE GOVERNO.................................................................................................................47
3 COMPETÊNCIAS DO CHEFE E DOS MINISTROS DO PODER EXECUTIVO.....................49
4 PROCEDIMENTO DE IMPEACHMENT.........................................................................................52
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................55
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................56

TÓPICO 2 – DO PODER LEGISLATIVO............................................................................................59


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................59
2 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO...............................................................................................59
3 COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO............................................................................64
4 OBJETO....................................................................................................................................................64
5 PRAZO.....................................................................................................................................................65
6 PODERES................................................................................................................................................65
7 IMUNIDADE PARLAMENTAR.........................................................................................................66
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................68
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................69

TÓPICO 3 – DO PROCESSO LEGISLATIVO....................................................................................71


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................71
2 LEI ORDINÁRIA VERSUS LEI COMPLEMENTAR................................................. 71
3 EMENDAS CONSTITUCIONAIS E CLÁUSULAS PÉTREAS....................................................73
4 PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO......................................................................................75
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................78
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................79

TÓPICO 4 – DO PODER JUDICIÁRIO...............................................................................................81


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................81
2 PODER JUDICIÁRIO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988..............................................81
3 QUINTO CONSTITUCIONAL...........................................................................................................84
4 SÚMULA VINCULANTE....................................................................................................................85
5 RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL..............................................................................................86
6 PRECATÓRIO JUDICIAL....................................................................................................................87
7 ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO..................................................................................88
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................91
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................92

UNIDADE 3 – INSTANCIAS SUPERIORES SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL......................95


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................95
2 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO ÓRGÃO GUARDIÃO DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL...............................................................................................................95
3 FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.............................................................98
4 COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS ATRIBUÍDAS A SUPREMA CORTE...................100
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................104
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................105

VIII
TÓPICO 2 – O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA.....................................................................................................................107
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................107
2 COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIAS..............................................................................................107
2.1 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL...................................................................................................... 107
2.2 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA..........................................................................................110
3 SÚMULA VINCULANTE E REPERCUSSÃO GERAL................................................................112
4 RECURSOS EXTRAORDINÁRIO, ESPECIAL E ORDINÁRIO................................................116
4.1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO..................................................................................................... 116
4.2 RECURSO ESPECIAL....................................................................................................................117
4.3 RECURSO ORDINÁRIO................................................................................................................117
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................122
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................123

TÓPICO 3 – DA ORDEM SOCIAL.....................................................................................................125


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................125
2 SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL.............................................................................................125
3 EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO........................................................................................132
4 IMPORTÂNCIA DO INCENTIVO DO ESTADO ÀS ÁREAS DE CIÊNCIA,
TECNOLOGIA E INOVAÇÃO.........................................................................................................137
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................139
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................140

TÓPICO 4 – EMPREENDEDORISMO SOCIAL..............................................................................141


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................141
2 O QUE É EMPREENDEDORISMO SOCIAL?...............................................................................141
3 AS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL......................... 145
4 AS AÇÕES DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL.....................................................................150
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................157
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................158

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................159

IX
X
UNIDADE 1

DO ESTADO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• Explicar as formas de Estado, em especial as formas de federação,


bem como os tipos de Federalismo.
• Analisar as formas de incorporação, subdivisão e desmembramento
de Estados.
• Descrever as hipóteses de criação, incorporação, fusão e
desmembramento de municípios.
• Explicar a repartição de competências da federação brasileira.
• Discriminar as competências da União, dos Estados, dos Municípios
e do Distrito Federal.
• Esquematizar a repartição de competências legislativas e materiais.
• Distinguir intervenção federal de intervenção estadual.
• Explicar os pressupostos materiais e formais da intervenção.
• Interpretar a jurisprudência das cortes superiores acerca da (im)
possibilidade de intervenção.
• Identificar os princípios explícitos aplicáveis à Administração
Pública.
• Comparar a Administração Pública Direta com a Administração
Pública Indireta.
• Distinguir servidor público de empregado público e os seus
respectivos regimes previdenciários.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 –
DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO
ESTADO

TÓPICO 2 – DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS


MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL

TÓPICO 3 – DA INTERVENÇÃO

TÓPICO 4 – DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1
CHAMADA

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em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO

1 INTRODUÇÃO
A organização político-administrativa do Estado é de suma importância
para que se possa entender as formas possíveis, o que é federação e federalismo,
bem como quais são as modificações previstas no ordenamento jurídico em
relação aos entes federativos.

Nesta unidade, você vai ler sobre as formas de Estado, em especial, a


federação e os tipos de federalismo. Conhecerá também as formas de incorporação,
subdivisão e desmembramento de Estados e quais as hipóteses de criação,
incorporação, fusão e desmembramento de municípios.

2 FORMAS DE ESTADO, DE FEDERAÇÃO E TIPOS DE


FEDERALISMO
As formas de Estado expressam como é o exercício do poder político no
próprio Estado.

Uma primeira classificação das formas de Estado seria Estado unitário


(simples), que se divide em:

• unitário puro;
• unitário descentralizado administrativamente;
• unitário descentralizado administrativa e politicamente.

O Estado unitário puro (centralizado):

[...] é aquele em que as competências estatais são exercidas de


maneira centralizada pela unidade que concentra o poder político.
A centralização do exercício do poder é, pois, a característica dessa
forma de Estado unitário (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 276).

3
UNIDADE 1 | DO ESTADO

O Estado unitário descentralizado administrativamente (ou regional) é


diferente do unitário puro, tendo em vista que são criados órgãos para o fim de
executar, por meio de delegação, as decisões políticas criadas pelo poder central.
Essa delegação também pode ser feita a pessoas, ou seja:

[...] o Estado unitário descentralizado administrativamente, apesar de


ainda concentrar a tomada de decisões políticas nas mãos do Governo
Nacional, avança descentralizando a execução das decisões políticas já
tomadas. Criam-se pessoas para, em nome do Governo Nacional, como
se fossem uma extensão deste (longa manus), executar, administrar, as
decisões políticas tomadas (LENZA, 2015, p. 711).

São exemplos de Estado unitário descentralizado administrativa e


politicamente a Espanha, França e Portugal.

DICAS

No Estado unitário descentralizado administrativa e politicamente, a


descentralização também ocorre na esfera política. Assim, os entes descentralizados
conseguem realizar uma análise da sua realidade e do seu caso concreto sobre as execuções
das decisões emanadas pelo governo central.

A segunda classificação das formas de Estado é o Estado composto, que


se divide em:

• confederação;
• união pessoal;
• união real.

A confederação é a união de Estados soberanos, por meio de um tratado,


para um determinado fim. Tal tratado será regido pelas normas do Direito
Internacional. Um exemplo de confederação são os Estados Unidos entre 1776
e 1787.

A união pessoal ocorre quando dois ou mais Estados soberanos passam


a ter somente um chefe de Estado. Um exemplo de união pessoal era Portugal
e Brasil no ano de 1826, em que Dom Pedro IV (Dom Pedro I no Brasil) repre-
sentava o governante. Tal forma já passou à categoria histórica, devido à forma
precária e sem qualquer vantagem política, não mais existindo atualmente.

Na união real, os Estados soberanos organizam-se internamente e, perante


relações internacionais, demonstram-se como uma só unidade. A união real é
uma situação que imperou de 1815 a 1822 entre os Reinos de Portugal, Brasil e
Algarve. São também exemplos de união real:

4
TÓPICO 1 | DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO

• sob a forma monárquica, Império Austro–Húngaro (1867 a 1918);


• sob a forma republicana, Tanganica e Zanzibar, desde 1964 (sob o nome de
Tanzânia).

A terceira classificação é o Estado federado, ou federação:

O Estado será federado (federal, complexo ou composto) se o poder


político estiver repartido entre diferentes entidades governamentais
autônomas, gerando uma multiplicidade de organizações
governamentais que coexistem em um mesmo território. Portanto, o
Estado federado é caracterizado por ser um modelo de descentralização
política, a partir da repartição constitucional de competências entre as
entidades federadas autônomas que o integram. O poder político, em
vez de permanecer concentrado na entidade central, é dividido entre
as diferentes entidades federadas dotadas de autonomia (PAULO;
ALEXANDRINO, 2017, p. 276).

O Estado federado ou federação restou adotado pela República


Federativa do Brasil, tanto o é que no art. 1º, caput, da Constituição Federal de
1988 está disposto: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]” (BRASIL, 1988,
documento on-line).

Os Estados federados possuem a sua realidade de forma individual, mas


é possível descrever algumas características comuns quando se denota a forma
federativa. São elas:

• descentralização política (a constituição determina autonomia aos entes);


• repartição de competência (garantia de autonomia entre os entes);
• constituição rígida como base jurídica (constituição federal distribuindo
competência entre os entes);
• inexistência do direito de secessão (proibição de separação da federação);
• soberania do Estado federal (o Estado federal é soberano, e os entes são
autônomos, mas fazem parte do todo);
• intervenção (instrumento para manter, na crise, a manutenção da federação);
• auto-organização dos Estados membros (formação das Constituições estaduais);
• órgão representativo dos Estados-membros (cada Estado-membro possui
representatividade perante o Estado — no Brasil — Senado Federal);
• guardião da Constituição (existência de um tribunal constitucional — no Brasil
— Supremo Tribunal Federal [STF]);
• repartição de receitas (certa autonomia financeira).

Com relação ao federalismo, adotamos neste capítulo a tipologia disposta


na doutrina de Lenza (2015, p. 713-717), que dispõe:

• federalismo por agregação ou desagregação (segregação);


• federalismo dual ou cooperativo;
• federalismo simétrico ou assimétrico;

5
UNIDADE 1 | DO ESTADO

• federalismo orgânico;
• federalismo de integração;
• federalismo de equilíbrio;
• federalismo de segundo grau.

O federalismo por agregação ou desagregação (segregação) denota tipos


de formação histórica, uma vez que são Estados independentes ou soberanos
que decidiram unir-se entre si e formar um só Estado, buscando, assim, a
indissolubilidade do vínculo federativo. É o caso dos Estados Unidos, da
Alemanha e da Suíça.

O federalismo por desagregação é um Estado unitário que resolve descen-


tralizar, por exemplo, o Brasil.

O federalismo dual ou cooperativo expressa o modo de separação das


atribuições ou competências. Assim, no federalismo dual, existe uma rigidez, não
se permitindo uma interpenetração ou cooperação entre os Estados-membros.
No federalismo cooperativo, expressa-se uma atuação comum ou concorrente
para que assim os Estados-membros atuem de forma conjunta. Também como
exemplo, citamos os Estados Unidos na sua origem.

O federalismo simétrico ou assimétrico analisa a esfera de desenvolvimento


e cultural de forma geral, pois no simétrico há uma homogeneidade no Estado
federado. Como exemplos, citamos os EUA, que expressam o federalismo
simétrico; já o Brasil expressa o federalismo assimétrico, uma vez que estabelece
um tratamento diferenciado entre os entes federados, o que pode decorrer da
diversidade de cultura e de língua presente no Estado.

No federalismo orgânico, a manutenção do Estado é pensada como um


todo em detrimento da parte, ou seja, há uma preocupação com um poder central.
É parecido com o federalismo de integração, em que há uma preponderância do
governo central sobre os demais entes para que assim se tenha uma interação
nacional.

O federalismo de equilíbrio busca a harmonia entre os entes para que


assim haja um fortalecimento das instituições. Já o federalismo de segundo grau
dispõe a ideia da Constituição Federal de 1988, que institui o municipalismo:

Ganham os Municípios o poder de auto-organização, sujeitos,


entretanto, aos princípios da Constituição Federal, aos da Constituição
do respectivo Estado, além de estarem obrigados ao respeito a uma
série de preceitos expressos, conforme o disposto no art. 29 da
Constituição Federal. Isto corrobora a tese de que a Constituição de
1988 consagra um federalismo de segundo grau (FERREIRA FILHO,
2012, p. 75).

A seguir, analisaremos as formas de incorporação, subdivisão e


desmembramento dos Estados, em razão da importância no entendimento da
organização político-administrativa.
6
TÓPICO 1 | DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO

3 FORMAS DE INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E


DESMEMBRAMENTO DE ESTADOS
Para se analisar as formas de alteração nos Estados-membros no Brasil,
citamos o art. 18, § 3º, da Constituição Federal de 1988:

Art. 18 A organização político-administrativa da República


Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta
Constituição. [...] § 3º Os Estados podem incorporar-se entre
si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros,
ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante
aprovação da população diretamente interessada, por meio de
plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar [...]
(BRASIL, 1988, documento on-line).

Nesse sentido, o art. 18 da Constituição Federal de 1988 disciplina que


pode haver um arranjo diferente em relação aos Estados ou Territórios Federais,
ou seja, respeitado o procedimento, há a possibilidade de os Estados ou Territórios
Federais incorporarem-se entre si, subdividirem-se ou desmembrarem-se para se
anexar a outros ou formar novos Estados ou Territórios Federais. O que não é
permitido é o direito de secessão.

Assim, é necessário distinguir incorporação, divisão e desmembramento.


Na incorporação, dois ou mais Estados se fundem e dão origem a um novo Estado
ou Território Federal, por consequência, os Estados deixam de existir da forma
que eram anteriormente. Nesse caso, o plebiscito, conforme disciplina o art. 18,
§ 3º, ocorre com as populações envolvidas. Na divisão, o Estado é separado em
novos Estados, ou seja, deixa de existir da forma que era para formar novos
Estados. No desmembramento:

[...] podem ocorrer três situações distintas: I) a anexação da parte


desmembrada a um outro Estado, sem a criação de um novo ente
federativo; II) a formação de um novo Estado-Membro; ou III) a
formação de um Território Federal. Ao contrário do que ocorre
na incorporação e na subdivisão, no desmembramento não há o
desaparecimento do ente federativo primitivo (ou originário). Tanto
no desmembramento por anexação quanto no desmembramento
por formação os Estados originários continuam a existir, apesar da
redução territorial e populacional (NOVELINO, 2016, p. 542).

O procedimento a ser adotado nos casos citados está também disciplinado


no art. 18. Assim, nesse sentido, é necessário, além do plebiscito da população
diretamente interessada, uma lei complementar por parte do Congresso Nacional.
Cabe referência à Lei nº 9.709, de 18 de novembro de 1998, que, no art. 7º, define
a população diretamente interessada:

[...] as consultas plebiscitárias previstas nos arts. 4º e 5º entende-se


por população diretamente interessada tanto a do território que se
pretende desmembrar, quanto a do que sofrerá desmembramento;
em caso de fusão ou anexação, tanto a população da área que se quer
anexar quanto a da que receberá o acréscimo; e a vontade popular
se aferirá pelo percentual que se manifestar em relação ao total da
população consultada (BRASIL, 1998, documento on-line).
7
UNIDADE 1 | DO ESTADO

Assim, é de suma importância a participação da população diretamente


interessada, sendo condição sine qua non para a modificação:

Note-se que, se o plebiscito for desfavorável, o procedimento


estará encerrado, constituindo, pois, a aprovação das populações
diretamente interessadas, verdadeira condição de procedibilidade do
processo legislativo da lei complementar. Caso, porém, haja aprovação
plebiscitária, o Congresso Nacional soberanamente decidirá pela
aprovação ou não da lei complementar. Em síntese, a negativa no
plebiscito impede o processo legislativo, enquanto a concordância dos
interessados permite que o projeto de lei complementar seja discutido
no Congresso Nacional, sem contudo vinculá-lo, pois esse deverá zelar
pelo interesse geral da República Federativa e não somente pelo das
populações diretamente interessadas (MORAES, 2017, p. 231).

A Constituição Federal de 1988, como demonstrado, estabelece o


procedimento para modificação do ente federativo Estado. No que compete
ao município, a Constituição Federal de 1988 é de suma importância pelas
inovações que trouxe em seu bojo, entre as quais, a elevação do município a
ente federativo, como analisaremos a seguir (BRASIL, 1988).

4 HIPÓTESES DE CRIAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E


DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS
A importância da Constituição Federal de 1988 em relação aos municípios
refere-se ao fato de elevar ao status de ente federativo o que, de certo modo, traria
uma maior autonomia e um autogoverno:

A inovação da Constituição Cidadã, com relação aos municípios,


foi tê-los inserido como componentes da federação, estruturando-
os como entidades políticas autônomas, dotadas de autogoverno,
podendo determinar os seus interesses da forma que melhor lhes
convier, respeitados, obviamente, os parâmetros constitucionais. As
Constituições anteriores não conferiam aos municípios a qualidade de
entes da federação brasileira, mas os enquadravam como entidades
relativamente autônomas. O autogoverno era característico apenas da
União e dos estados-membros, sendo destes últimos a prerrogativa de
estruturar a organização política dos municípios (AGRA, 2018, p. 389).

No que compete aos municípios, as hipóteses de criação, incorporação,


fusão e desmembramento estão dispostas também no art. 18 da Constituição
Federal de 1988, no § 4º:

Art. 18 [...]
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de
Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado
por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia,
mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após
divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e
publicados na forma da lei (BRASIL, 1988, documento on-line).

8
TÓPICO 1 | DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO

Antes da Constituição Federal de 1988, de acordo com Barcellos (2018, p.


258), a realidade era a seguinte:

Sob a vigência da Constituição de 1967/1969, a criação de Municípios


era regulada por lei complementar nacional, e a LC nº. 1/1967, art.
2º, previa exigências mínimas em termos de população (10 mil),
arrecadação tributária
(5 milésimos da arrecadação estadual de impostos) e estrutura urbana
(centro urbano com no mínimo 200 casas), além da consulta às
populações interessadas e de lei estadual autorizativa.
O art. 18, § 4º, da Constituição de 1988, em sua redação original,
mudou esse regime e passou a prever que a criação, incorporação,
fusão e desmembramento de Municípios dependeriam de lei estadual,
observados requisitos fixados em lei complementar estadual, e
consulta prévia às populações interessadas. Ou seja: quaisquer
eventuais requisitos seriam fixados pelos Estados.

Assim, nos casos dos municípios, havia um certo cuidado com as autono-
mias alcançadas com sua criação:

No caso dos Municípios, as hipóteses de criação, incorporação, fusão


e desmembramento (CF, art. 18, § 4º) foram alteradas pela Emenda
Constitucional nº 15/1996 com a finalidade conter a proliferação com
fins eleitoreiros de Municípios sem a estrutura necessária para o
exercício de suas autonomias (NOVELINO, 2016, p. 544).

Com a criação de muitos municípios, houve ajuizamento junto ao STF


de ações buscando a declaração da inconstitucionalidade das leis estaduais
que criavam os municípios, por não respeitarem os procedimentos necessários,
conforme a redação do art. 18, § 4º, da Constituição Federal de 1988. Porém,
diante desse quadro social brasileiro, houve, por parte do legislativo federal, com
a Emenda Constitucional nº 57, de 18 dezembro de 2008, o acréscimo do art. 96
nos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias:

Art. 96 Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e


desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até
31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na
legislação do respectivo Estado à época de sua criação (BRASIL, 2008,
documento on-line).

Assim, os requisitos expressos e necessários são:

• lei complementar federal estipulando período para que ocorra, porém, é


imprescindível a manifestação legislativa;
• lei ordinária federal declarando a viabilidade do município;
• consulta (plebiscito) da população envolvida provocada pela Assembleia
Legislativa, em lei estatual, conforme estabelece a Lei nº 9.709/1998, no art. 5º:
“O plebiscito destinado à criação, à incorporação, à fusão e ao desmembramento
de Municípios, será convocado pela Assembleia Legislativa, de conformidade
com a legislação federal e estadual” (BRASIL, 1998, documento on-line);
• lei ordinária estadual, respeitando o período estabelecido na lei federal, em que
é estabelecido a criação do novo município.

9
UNIDADE 1 | DO ESTADO

Com a criação do novo município, deve ser observado — em relação à


escolha dos representantes dos poderes Executivo e Legislativo, ou seja, de
prefeito, vice-prefeito e vereadores — o prazo do pleito eleitoral para que seja
simultâneo em todo o País, conforme o art. 29, I, da Constituição Federal de 1988:

Art. 29 O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos,


com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços
dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos
os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do
respectivo Estado e os seguintes preceitos: I — eleição do Prefeito,
do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos,
mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País (BRASIL,
1988, documento on-line).

Assim, abordamos neste capítulo as formas de Estado e federação, bem


como de que forma legal pode haver modificação nos entes federados (Estados e
municípios).

UNI

O STF declarou inconstitucionalidade de lei estadual que criou município


na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2240. Saiba mais acessando o link abaixo
https://goo.gl/MEVw9B

10
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A organização político-administrativa do Estado é de suma importância


para que se possa entender as formas que ele pode ter, o que é Federação e
Federalismo, bem como quais modificações são previstas no  ordenamento
jurídico em relação aos Entes Federativos.

• Foi visto as formas de Estado, em especial a Federação e os tipos de


Federalismo.

• Conheceu-se também as formas de incorporação, subdivisão e


desmembramento de Estados e quais as hipóteses de criação, incorporação,
fusão e desmembramento de municípios.

11
AUTOATIVIDADE

1 Em relação à organização político-administrativa, para formar um novo


Estado-membro, a Constituição Federal de 1988 estabelece, no que concerne
aos requisitos que:​​​​​​​

a) Far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei


Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos.
b) Far-se-ão por lei ordinária, dentro do período determinado por Lei
Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos.
c) Mediante aprovação da população diretamente interessada, por meio de
plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.
d) Mediante aprovação da população diretamente interessada, por meio de
plebiscito, e da Assembleia, por lei complementar.
e) Mediante aprovação de 10% da população diretamente interessada e do
Congresso Nacional, por lei complementar.

2 Assinale a alternativa correta no que tange à formação dos Estados quanto aos
requisitos estabelecidos constitucionalmente para a forma desmembramento/
formação: ​​​​​​​

a) O Estado A, originário, mantém sua existência, mas seu território é


desmembrado em dois Estados, formando assim A e B.
b) O Estado A deixa de existir e seu território é desmembrado em dois Estados,
formando assim B e C.
c) O Estado A, originário, cede parte de seu território ao Estado B, que passa a
ser ampliado.
d) O Estado A e o Estado B deixam de existir e cedem seus territórios, formando
um Estado único, C.
e) O Estado A e o Estado B mantêm suas existências e cedem seus territórios,
formando um Estado único C.

12
UNIDADE 1
TÓPICO 2

DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS


MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL

1 INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 distribui, entre os entes federados, o
que compete a cada um, seja de forma exclusiva ou concorrente. Assim, restam
estabelecidas as competências da União, dos estados, dos municípios e do
Distrito Federal.

Nesta unidade, você vai ler sobre a repartição de competências da


federação brasileira. Serão discriminadas as competências da União, dos estados,
dos municípios e do Distrito Federal, bem como explicada a repartição de
competências legislativas e materiais.

2 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS DA FEDERAÇÃO


BRASILEIRA
A forma federativa é também representada pela repartição de
competências entre os entes federativos. Nesse sentido, é importante a repartição
de competências de cada ente na República Federativa do Brasil, especificadas na
Constituição Federal de 1988.

Com relação aos critérios utilizados para a repartição de competências,


uma parte da doutrina afirma que o critério adotado é o princípio da predo-
minância do interesse. De acordo com Novelino (2016, p. 534):

A Competência para tratar de assuntos de interesse nacional ou


predominantemente geral foi atribuída à União. É o caso, por exemplo,
da competência para legislar sobre diretrizes da política nacional de
transportes (CF, art. 22, IX); emigração e imigração, entrada, extradição
e expulsão de estrangeiros (CF, art. 22, XV); normas gerais de licitação
e contratação (CF, art. 22, XXVII); ou, ainda, defesa territorial, defesa
aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional (CF.
art. 22, XXVIII). A competência para tratar de assuntos de interesse
predominantemente local, foi atribuída aos Municípios (CF, art. 30, I).
Aos Estados restaram competências residuais para tratar de assuntos
de interesse regional (CF, art. 25, § 1.0). Ao Distrito Federal, em razão
de sua natureza híbrida, foi atribuída competência para tratar de
assuntos de interesse regional e local (CF, art. 32, § 1º).

13
UNIDADE 1 | DO ESTADO

Também encontramos a visão de que o critério adotado para a repartição


das competências sofreu influência política, tornando-se, assim, uma espécie de
critério híbrido. Conforme Agra (2018, p. 398):

O critério escolhido foi híbrido, também influenciado pelas decisões


políticas tomadas em um contexto social determinado, pela tradição
histórica e pela real possibilidade de implantação das competências,
haja vista que aquelas matérias que necessitam de grande aporte
financeiro ou de uniformidade legislativa na federação devem ficar ao
encargo da União. As técnicas de repartição de competência podem ser:
a) numeração das prerrogativas para a União e o remanescente para
os demais componentes federativos; b) numeração dos poderes para
os estados-membros e o remanescente para a União; e c) competência
numerada para todos os órgãos federativos.

Com relação ao modelo de repartição de competências, a Constituição


Federal adota o modelo horizontal, em que não há subordinação ou
hierarquização, no exercício das competências, entre os entes federados,
como resta expresso nos arts. 21 a 23, 25 e 30. No modelo vertical, a mesma
matéria é atribuída a diferentes entes federativos — assim, cria-se uma relação
de subordinação, como, por exemplo, consta no art. 24, também chamada
de competência legislativa concorrente, em que cabe à União legislar de
forma geral, conforme dispõe o § 1º: “Art. 24 [...] § 1º No âmbito da legislação
concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais”
(BRASIL, 1988, documento on-line). Já os estados e o Distrito Federal têm a
competência de completar tais normas gerais, conforme expresso no § 2º: “Art.
24 [...] § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui
a competência suplementar dos Estados” (BRASIL, 1988, documento on-line).

Com relação aos municípios, a Constituição Federal estabeleceu a com-


petência legislativa para legislar sobre assuntos de interesse local e, quando
houver legislação federal ou estadual, a competência é suplementar, conforme
art. 30, I e II: “Art. 30 Compete aos Municípios: I — legislar sobre assuntos de
interesse local; II — suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
[...]” (BRASIL, 1988, documento on-line).

É de fundamental importância para o entendimento da repartição das


competências na federação brasileira o conceito de espécies de competências, que
são:

• administrativas;
• legislativas;
• tributárias.

14
TÓPICO 2 | DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL

DICAS

As competências administrativas dispõem sobre a atuação direta do ente


federado, ou seja, definem o limite e onde o ente federativo deve atuar de forma político-
-administrativa (por exemplo, art. 21 da Constituição Federal). Nas competências legislativas,
são definidas as matérias nas quais o ente tem competência para criar leis (por exemplo, art.
22 da Constituição Federal). Já as competências tributárias estabelecem ao ente federado
atribuição de instituir tributos (por exemplo, art. 145 da Constituição Federal).

Definidos alguns conceitos importantes para a compreensão da repartição


das competências, analisaremos a seguir as competências da União, dos estados,
dos municípios e do Distrito Federal.

3 COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS


MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL
As competências da União estão estabelecidas nos arts. 21 e 22 da
Constituição Federal, sendo que o art. 21 traz as competências administrativas
exclusivas da União, ou seja, que não podem ser delegadas, são elas:

Art. 21 Compete à União:


I — manter relações com Estados estrangeiros e participar de
organizações internacionais;
II — declarar a guerra e celebrar a paz; III — assegurar a defesa
nacional;
IV — permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente; V — decretar o estado de sítio, o estado de defesa
e a intervenção federal; VI — autorizar e fiscalizar a produção e o
comércio de material bélico;
VII — emitir moeda;
VIII — administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as
operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio
e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;
IX — elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do
território e de desenvolvimento econômico e social;
X — manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI — explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que
disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão
regulador e outros aspectos institucionais;
XII — explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento
energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde
se situam os potenciais hidroenergéticos;

15
UNIDADE 1 | DO ESTADO

c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária;


d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos
brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de
Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional
de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII — organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do
Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios;
XIV — organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de
bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência
finan- ceira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos,
por meio de fundo próprio;
XV — organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia,
geologia e cartografia de âmbito nacional;
XVI — exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões
públicas
e de programas de rádio e televisão; XVII — conceder anistia;
XVIII — planejar e promover a defesa permanente contra as
calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;
XIX — instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos
hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;
XX — instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive
habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXI — estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de
viação; XXII — executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária
e de fronteiras; XXIII — explorar os serviços e instalações nucleares
de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa,
a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e
o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os
seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida
para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e
a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos,
agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 49, de 2006);
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção,
comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual
ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da
existência de culpa;
XXIV — organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV — estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade
de garimpagem, em forma associativa (BRASIL, 1988, documento on-
line).

Já o art. 22 da Constituição Federal dispõe sobre competências legislativas,


que são privativas da União:

Art. 22 Compete privativamente à União legislar sobre:


I — direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
II — desapropriação;
III — requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em
tempo de guerra;

16
TÓPICO 2 | DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL

IV — águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;


V — serviço postal;
VI — sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
VII — política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
VIII — comércio exterior e interestadual;
IX — diretrizes da política nacional de transportes;
X — regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e
aeroespacial;
XI — trânsito e transporte;
XII — jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XIII — nacionalidade, cidadania e naturalização;
XIV — populações indígenas;
XV — emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de
estrangeiros;
XVI — organização do sistema nacional de emprego e condições para
o exercício de profissões;
XVII — organização judiciária, do Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem
como organização administrativa destes;
XVIII — sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia
nacionais;
XIX — sistemas de poupança, captação e garantia da poupança
popular;
XX — sistemas de consórcios e sorteios;
XXI — normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
garantias, con- vocação e mobilização das polícias militares e corpos
de bombeiros militares;
XXII — competência da polícia federal e das polícias rodoviária e
ferroviária federais;
XXIII — seguridade social;
XXIV — diretrizes e bases da educação nacional;
XXV — registros públicos;
XXVI — atividades nucleares de qualquer natureza;
XXVII — normas gerais de licitação e contratação, em todas as
modalida- des, para as administrações públicas diretas, autárquicas
e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
obedecido o disposto no art. 37,
XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos
termos do art. 173, § 1º, III;
XXVIII — defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima,
defesa civil e mobilização nacional;
XXIX — propaganda comercial.
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a
legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste
artigo (BRASIL, 1988, documento on-line).

Tais competências legislativas são privativas da União, porém, o parágrafo


único do art. 22 faculta que haja delegação legislativa aos Estados e ao Distrito
Federal, por meio de lei complementar, o que permitiria que o ente delegado
legislasse sobre determinada matéria. Assim, ao contrário do art. 21, em que a
competência é indelegável, no art. 22, respeitados os requisitos, a competência é
delegável.

No Texto Constitucional, há, de forma esparsa, outras competências da


União, como:

17
UNIDADE 1 | DO ESTADO

• art. 23 — competências administrativas comuns aos Estados, ao Distrito Federal


e aos municípios;
• art. 24 — competências legislativas concorrentes aos Estados e ao Distrito
Federal;
• arts. 145, 148, 149, 153, 154, I e II, e 195, § 4º — competências tributárias.

O art. 23 da Constituição Federal traça as chamadas competências


comuns. São competências materiais e administrativas, das quais são titulares
a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios. Assim, atuam em
igualdade, não havendo subordinação. A atuação de um ente federativo não
exclui a atuação de outro.

Art. 23 É competência comum da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios:
I — zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições
democráticas e conservar o patrimônio público;
II — cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das
pessoas portadoras de deficiência;
III — proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e
os sítios arqueológicos;
IV — impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de
arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
V — proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência,
à tecnologia, à pesquisa e à inovação;
VI — proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de
suas formas;
VII — preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII — fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento
ali- mentar;
IX — promover programas de construção de moradias e a melhoria
das condições habitacionais e de saneamento básico;
X — combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização,
promo- vendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI — registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos
de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus
territórios;
XII — estabelecer e implantar política de educação para a segurança
do trânsito.
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a
cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
bem-estar em âmbito nacional (BRASIL, 1988, documento on-line).

As competências concorrentes são competências legislativas à União, aos


Estados e ao Distrito Federal, conforme art. 24 da Constituição Federal:

Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concor- rentemente sobre:
I — direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e
urbanístico;
II — orçamento;
III — juntas comerciais;

18
TÓPICO 2 | DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL

IV — custas dos serviços forenses; V — produção e consumo;


VI — florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
poluição;
VII — proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
pai- sagístico;
VIII — responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;
IX — educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa,
desenvolvimento e inovação;
X — criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;
XI — procedimentos em matéria processual;
XII — previdência social, proteção e defesa da saúde;
XIII — assistência jurídica e Defensoria pública;
XIV — proteção e integração social das pessoas portadoras de
deficiência; XV — proteção à infância e à juventude;
XVI — organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União
limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão
a com- petência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende
a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário (BRASIL, 1988,
documento on-line).

Incumbe à União estabelecer normas gerais. Porém, caso a União não legisle
sobre isso, podem os Estados e o Distrito Federal legislar sobre as peculiaridades
da sua realidade, conforme o art. 24, § 3º, da Constituição Federal: “Art.24 [...] § 3º
Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades” (BRASIL, 1988, documento
on-line). Mas, se houver, edição de norma geral por parte da União e as normas
editadas pelos estados e pelo Distrito Federal forem incompatíveis, estas têm a
sua eficácia suspensa, conforme o art. 24, § 4º, da Constituição Federal: “Art. 24
[...] § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia
da lei estadual, no que lhe for contrário” (BRASIL, 1988, documento on-line).

As competências dos Estados são as chamadas competências


remanescentes, ou residuais, tendo em vista que podem legislar e exercer
competências que não lhe são vedadas pela Constituição, conforme o art. 25: “Art.
25 [...] § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas
por esta Constituição” (BRASIL, 1988, documento on-line). Outras competências
dos estados presentes no Texto Constitucional são:

• art. 18, § 4º — criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios;


• art. 25, § 2º — exploração de gás canalizado;
• art. 25, § 3º — instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões;
• art. 125 — organização da justiça;
• art. 144, § 10 — estruturar a segurança viária;
• arts. 145, 149, § 1º, e 155 — competências tributárias.

19
UNIDADE 1 | DO ESTADO

Com relação à competência do Distrito Federal, além dos já citados arts.


22, parágrafo único, 23 e 24, a Constituição Federal disciplinou no art. 32, § 1º,
o seguinte: “Art. 32 [...] § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências
legislativas reservadas aos Estados e Municípios” (BRASIL, 1988, documento
on-line). Outras competências do Distrito Federal presentes no Texto
Constitucional são:

• art. 30 — competências dos municípios;


• arts. 145, 149, § 1º, 149-A, 155 e 156 — competências tributárias.

A competência dos municípios está disposta no art. 30 da Constituição


Federal:

Art. 30 Compete aos Municípios:


I — legislar sobre assuntos de interesse local;
II — suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III — instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como
aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas
e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
IV — criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação
estadual; V — organizar e prestar, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local,
incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;
VI — manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do
Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental;
VII — prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do
Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
VIII — promover, no que couber, adequado ordenamento territorial,
mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano;
IX — promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local,
observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual
(BRASIL, 1988, documento on-line).

Outras competências do município presentes no Texto Constitucional


são:

• art. 144 — questão de segurança viária;


• arts. 145, 149, § 1º, 149-A e 156 — competências tributárias;
• art.182 — políticas de desenvolvimento urbano.

Restam discriminadas as competências de cada ente federado. Cabe,


por fim, esquematizar a repartição de competências legislativas e materiais, de
forma geral.

20
TÓPICO 2 | DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL

4 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS E


MATERIAIS
As competências legislativas podem ser divididas pelos critérios
horizontal (não há subordinação) e vertical (há subordinação). O Quadro 1
apresenta, de modo sintético, as competências legislativas estabelecidas pela
Constituição Federal para cada ente federado, de forma a não haver interferência
ou subordinação. São também competências legislativas em que primeiro cabe à
União estabelecer normas gerais — assim, os demais entes podem atuar de forma
a complementar a sua realidade e aos seus interesses.

QUADRO 1 – ESQUEMA DE COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

Competência
Competência legislativa (vertical)
legislativa (horizontal)

Competência concorrente — art. 24 —


União — arts. 21 e 22
União, Estados e Distrito Federal

Estados e Distrito Federal — competência


Estados — competência residual —
complementar — art. 24, § 2º (existindo
art. 25, § 1º
norma federal)

Distrito Federal, art. 32, § 1º Estados e Distrito Federal — competência


(competências atribuídas a Estados legislativa plena — art. 24, § 3º (inexistindo
e municípios) norma federal)
Municípios — competência complementar
Municípios — art. 30 — art. 30, II (existindo legislação federal e
estadual)

FONTE: o autor

Com relação às competências materiais (administrativas), a referência


direta é o art. 23 da Constituição Federal. Segundo Ferreira Filho (2012, p. 77):

A competência administrativa é, em princípio, correlata à competência


legislativa. Assim, quem tem competência para legislar sobre uma
matéria tem competência para exercer a função administrativa
quanto a ela. Entretanto, há todo um campo que é comum no plano
administrativo à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios (art. 23). Neste, todos esses entes federativos devem cuidar
do cumprimento das leis, independentemente da origem federal,
estadual, distrital, ou municipal.

Portanto, essas são as competências da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos municípios, permitindo um melhor entendimento da federação
brasileira.

21
UNIDADE 1 | DO ESTADO

UNI

O link a seguir traz na íntegra a Súmula Vinculante nº. 2 do Supremo Tribunal


Federal, relativa à competência legislativa da União para legislar sobre a exploração de
loteria. https://goo.gl/wQzjgE

22
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Constituição Federal de 1988 distribui, entre os entes federados, o que


compete a cada um — seja de forma exclusiva ou de forma concorrente.

• Assim, restam estabelecidas as competências da União, dos Estados, dos


Municípios e do Distrito Federal.

• Aprendemos sobre a repartição de competências da federação brasileira,


bem como serão discriminadas as competências da União, dos Estados, dos
Municípios e do Distrito Federal.

• Por fim, foi apresentado um esquema da repartição de competências legislativas


e materiais.

23
AUTOATIVIDADE

1 Segundo a Constituição Federal de 1988, compete privativamente à União


legislar sobre:​​​​​​​

a) proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico


e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos.
b) proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas.
c) serviço postal e populações indígenas.
d) preservar as florestas, a fauna e a flora.
e) zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e
conservar o patrimônio público.

2
Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:​​​​​​​

a) custas dos serviços forenses


b registros públicos
c) serviço postal
d) propaganda comercial
e) seguridade social

24
UNIDADE 1
TÓPICO 3

DA INTERVENÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988 especifica
quais são os seus entes federativos e as respectivas competências de cada um
deles, demonstrando, assim, a autonomia político-administrativa existente entre
União, estados e municípios brasileiros. Nesse sentido, podemos perceber que a
intervenção é ato excepcionalíssimo, pois infringe essa autonomia.

Neste unidade, aprenderemos a distinguir intervenção federal de


intervenção estadual e identificaremos quais são os pressupostos materiais
e formais para a decretação do ato. Por fim, analisaremos a jurisprudência
dos tribunais superiores acerca da possibilidade ou da impossibilidade de
intervenção.

2 INTERVENÇÃO FEDERAL VERSUS INTERVENÇÃO ESTADUAL


Primeiramente, para distinguirmos intervenção federal de intervenção
estadual, faz-se necessário retomarmos o art. 18, caput, da Constituição Federal
de 1988, que afirma: “A organização político-administrativa da República
Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988,
documento on-line). A partir da leitura desse dispositivo, depreendemos que a
República Federativa do Brasil é formada por entes que compõem a federação
(União, estados, Distrito Federal e municípios) e são autônomos nos termos da
própria Constituição. Tais termos, citados na parte final do art. 18, também estão
expressos de forma geral entre os arts. 21 a 24 da Constituição, bem como em
outros artigos esparsos no Texto Constitucional que não serão colacionados aqui,
tendo em vista que não são o cerne do presente capítulo (BRASIL, 1988).

Dessa maneira, a Constituição fornece meios para que haja a autonomia


disposta e expressa nos artigos já citados. Porém, quando o art. 18 cita “nos
termos desta Constituição”, já nos conduz à inferência de que existe um limite
também expresso no Texto Constitucional apesar da autonomia conferida pela

25
UNIDADE 1 | DO ESTADO

lei aos entes federativos. Portanto, existem casos legalmente previstos em) que
é possível que um ente federativo adentre a competência de outro ente com o
objetivo de intervir.

A esse respeito, Paulo e Alexandrino (2017, p. 316) explicam:

Porém, a Constituição brasileira admite o excepcional afastamento


dessa autonomia política, por meio da intervenção de uma entidade
política sobre outra, diante do interesse maior de preservação da
própria unidade da Federação. Por isso, o processo de intervenção
atua como antítese da autonomia, haja vista que, por meio dele, afasta-
se temporariamente a atuação autônoma do estado, Distrito Federal
ou município que a tenha sofrido. Em nosso País somente podem ser
sujeitos ativos de intervenção a União e os estados-membros. Não
existe intervenção praticada por município ou pelo Distrito Federal.
Cabe observar que, quando a União atua como sujeito ativo de
intervenção, ela não está somente agindo na qualidade e no interesse
da pessoa jurídica União, ordem jurídica parcial, mas, sim, no interesse
e na defesa do Estado federal, como ordem jurídica global.

Assim, a intervenção por parte da União origina a chamada intervenção


federal, que se fundamenta nos arts. 34 e 35 da Constituição. O art. 34 se refere à
intervenção realizada em um estado ou no Distrito Federal e o art. 35, à intervenção
nos municípios localizados em território federal. Já a intervenção realizada pelos
estados, denominada intervenção estadual, ocorre nos municípios pertencentes
ao estado interventor e se baseia no art. 35 (BRASIL, 1988).

No tangente à intervenção federal, encontramos duas espécies: a interven-


ção federal espontânea e a intervenção federal provocada. A primeira é assim
denominada porque pode ocorrer de ofício, ou seja, o Presidente da República
pode tomar a iniciativa para que ocorra a intervenção conforme o art. 84, X, da
Constituição: “Compete privativamente ao Presidente da República: [...] X —
decretar e executar a intervenção federal” (BRASIL, 1988, documento on-line).

As hipóteses de intervenção federal espontânea estão arroladas no art. 34,


I, II, III e V, do mesmo diploma legal. Vejamos:

Art. 34 A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal,


exceto para:
I — manter a integridade nacional;
II — repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em
outra;
III — pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
[...]
V — reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos
consecutivos, salvo motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta
Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei (BRASIL, 1988,
documento on-line).

26
TÓPICO 3 | DA INTERVENÇÃO

Quanto às hipóteses de intervenção federal provocada, verificamos dois


tipos: por solicitação e por requisição. Em síntese, a diferença reside no fato
de que, na intervenção provocada por solicitação, não há discricionariedade
(análise de conveniência e oportunidade) do Chefe do Poder Executivo, de
modo que o ato está vinculado ao decreto. De acordo com o art. 34, IV, da
Constituição, os casos desse tipo de intervenção são justificáveis para “[...]
garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação”
(BRASIL, 1988, documento on-line). Esse dispositivo combina-se com a primeira
parte do art. 36, I: “[...] no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo
ou do Poder Executivo coacto ou impedido [...]” (BRASIL, 1988, documento on-
line). Logo, a intervenção é de solicitação, visto que o Poder que sofrer coação
ou for impedido pode solicitá-la.

Com relação à intervenção provocada por requisição, o fundamento tem


como legitimados:

• o Supremo Tribunal Federal (STF), segundo o art. 34, IV, da Constituição


combinado com a segunda parte do art. 36, I, do mesmo diploma legal;
• o STF, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
nos termos do art. 34, VI, da Constituição;
• o STF com representação pelo(a) Procurador(a)-Geral da República, conforme o
art. 34, VII combinado com a primeira parte do art. 36, III, e a primeira parte do
art. 34, VI, combinado com a segunda parte do art. 36, III, ambos pertencentes
à Constituição e regulados pela Lei nº. 12.562, de 23 de dezembro de 2011.

Ademais, cabe destacarmos que os casos em que há intervenção municipal


estão dispostos no art. 35 da Constituição:

O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos


Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
I — deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos
consecutivos, a dívida fundada;
II — não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III — não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal
na manu- tenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
públicos de saúde;
IV — o Tribunal de Justiça der provimento a representação para
assegurar a observância de princípios indicados na Constituição
Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão
judicial (BRASIL, 1988, documento on-line).

Em caso de município localizado em território federal, o decreto de inter-


venção municipal é de competência da União, de forma que quem o decreta é o
Presidente da República. Além disso, cada estado-membro processa e decreta a
intervenção do município que pertence ao seu território.

Consideremos o ensinamento de Agra (2018, p. 427-428) acerca do assunto:

27
UNIDADE 1 | DO ESTADO

As intervenções municipais, sejam as praticadas pelos estados-


membros, sejam as praticadas pela União nos municípios dos seus
territórios, nos casos do art. 35, incs. I a III, da CF, não necessitam
de solicitação de nenhum dos três poderes, sendo classificadas
como espontâneas. No caso do art. 35, inc. IV, da CF, é necessária
representação por parte do procurador-geral de Justiça do Estado.
Exceto este último caso, em que não é exigida apreciação por parte do
Poder Legislativo, todos os demais requerem sua apreciação.

Demonstradas as distinções entre intervenção federal e intervenção


estadual, passemos à próxima etapa dos nossos estudos, que se propõe a
explicar os pressupostos materiais e formais da intervenção.

3 PRESSUPOSTOS MATERIAIS E FORMAIS DA INTERVENÇÃO


Para explicarmos os pressupostos materiais e formais da intervenção,
buscamos, na doutrina, a organização exposta por José Afonso da Silva no seu
curso de Direito Constitucional Positivo (SILVA, 2005).

Os pressupostos materiais se fundamentam nas situações em que a segu-


rança do Estado, o equilíbrio federativo, as finanças estaduais e a estabilidade da
ordem constitucional estão em risco. Assim, os pressupostos materiais podem ser
resumidos da seguinte maneira:

• Defesa do País, nos termos do art. 34, I e II: “[...] I — manter a integridade
nacional; II — repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em
outra” (BRASIL, 1988, documento on-line);
• Defesa do princípio federativo, conforme o art. 34, II a IV:

II — repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em


outra;
III — pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV — garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades
da Federação (BRASIL, 1988, documento on-line).

• Defesa das finanças estaduais, segundo o art. 34, V:

V — reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender


o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos,
salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios
receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos
estabelecidos em lei (BRASIL, 1988, documento on-line).

• Defesa da ordem constitucional, de acordo com o art. 34, VI e VII:

VI — prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;


VII — assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;

28
TÓPICO 3 | DA INTERVENÇÃO

d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta;


e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos
estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na
manutenção e desenvolvi- mento do ensino e nas ações e serviços
públicos de saúde (BRASIL, 1988, documento on-line).

Esses pressupostos são considerados formais porque justamente


disciplinam a forma como se operacionalizará a intervenção, bem como quais
são os limites estabelecidos pela Constituição (BRASIL, 1998). Silva (2005, p.
486) esclarece o tema:

A intervenção federal efetiva-se por decreto do Presidente da República,


o qual especificará a sua amplitude, prazo e condições de execução e, se
couber, nomeará o interventor (art. 36, § 1º). Há, pois, intervenção sem
interventor. É que ela pode atingir qualquer órgão do poder estadual.
Se for no executivo, o que tem sido a regra, a nomeação do interventor
será necessária, para que exerça as funções do Governador. Se for no
legislativo apenas, tornar-se-á necessário o interventor, desde que o ato
de intervenção atribua as funções legislativas ao Chefe do Executivo
estadual. Se for em ambos, o interventor será também necessário para
assumir as funções executivas e legislativas.

Vejamos quais são os pressupostos formais da intervenção, que estão


discriminados no Quadro 2 a seguir.

QUADRO 2 – PRESSUPOSTOS FORMAIS DE INTERVENÇÃO

Fundamento Forma

Verificação dos motivos que autorizam


Art. 34, I, II, III, e V, da Constituição Federal
a intervenção.

Solicitação do Poder Legislativo ou do


Executivo coacto ou impedido, ou de
Art. 34, IV, da Constituição Federal
requisição do STF, se a coação for exercida
contra o Judiciário.

Art. 34, VI, da Constituição Federal Requisição do STF, do STJ ou do TSE.

Provimento, pelo STF, de representação


do Procurador-Geral da República,
Art. 34, VII, da Constituição Federal
representação de Ação Direta Interventiva
(ADI).

Provimento, pelo STF, de representação


do Procurador-Geral da República,
Art. 34, VII, da Constituição Federal
representação no caso de recusa de lei
federal.

FONTE: Adaptado de Brasil (1988, documento on-line)

29
UNIDADE 1 | DO ESTADO

Ainda acerca dos aspectos formais, devemos lembrar que a Lei nº


12.562/2011, que regulamenta o art. 36, III, da Constituição Federal, dispõe
sobre o processo e o julgamento da representação interventiva perante o STF
(BRASIL, 2011).

Agora que já conhecemos os pressupostos materiais e formais da inter-


venção, avancemos no conteúdo e passemos à análise de algumas decisões do
STF acerca da possibilidade ou da impossibilidade de intervenção.

DICAS

Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi somente no ano


de 2018 que houve a expedição de um decreto pelo Presidente da República com vistas à
intervenção de um estado-membro. Trata-se do Decreto nº. 9.288, de 16 de fevereiro de
2018, que decidiu pela intervenção federal no estado do Rio de Janeiro com o objetivo de
pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública.

4 JURISPRUDÊNCIA DAS CORTES SUPERIORES ACERCA DA


HIPÓTESE DE INTERVENÇÃO
Ao estudarmos a jurisprudência das cortes superiores acerca da
hipótese de intervenção, cabe a análise de uma decisão do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul (TJRS) em que o Procurador de Justiça do Estado
ajuizou representação por intervenção federal em razão do descumprimento
de decisão do próprio TJRS sobre a intervenção estadual no município de Vila
Flores por causa da falta de pagamento de precatórios. A decisão do TJRS teve
a seguinte ementa:

REPRESENTAÇÃO POR INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO.


DETERMINAÇÃO DE INTERVENÇÃO EM MUNICÍPIO.
DESCUMPRIMENTO. ATO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO.
IMPOSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO. Representação por
intervenção federal no Estado, por descumprimento de decisão
do Tribunal de Justiça de intervenção estadual em município. Ato
político-administrativo. Descumprimento que não figura causa de
intervenção da União no Estado. Art. 34, VI, CF. Precedentes do STF.
DESACOLHERAM A REPRESENTAÇÃO, POR MAIORIA (BRASIL,
2010, documento on-line).

Tal decisão teve por base a jurisprudência do STF que considera determi-
nado caráter político-administrativo e, nesse sentido, há, na decisão do Chefe
do Poder Executivo, certa discricionariedade em expedir ato interventivo. A
jurisprudência que fundamentou essa tese conta com a seguinte ementa:

30
TÓPICO 3 | DA INTERVENÇÃO

E M E N T A: AGRAVO DE INSTRUMENTO - INTERVENÇÃO


ESTADUAL EM MUNICÍPIO — INEXECUÇÃO DE ORDEM
JUDICIAL (CF, ART. 35, IV) — REQUISIÇÃO, AO GOVERNADOR
DO ESTADO, DA EFETIVAÇÃO DO ATO INTERVENTIVO
— NATUREZA MATERIALMENTE ADMINISTRATIVA DO
PROCEDIMENTO DE INTERVENÇÃO — INVIABILIDADE DO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO — DIRETRIZ JURISPRUDENCIAL
FIRMADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL — RECURSO
IMPROVIDO. — O procedimento destinado a viabilizar, nas hipóteses
de descumprimento de ordem ou de sentença judiciais (CF, art. 34,
VI e art. 35, IV), a efetivação do ato de intervenção - trate-se de inter-
venção federal nos Estados-membros, cuide-se de intervenção estadual
nos Municípios — reveste-se de caráter político-administrativo, muito
embora instaurado perante órgão competente do Poder Judiciário (CF,
art. 36, II e art. 35, IV), circunstância que inviabiliza, ante a ausência de
causa, a utilização do recurso extraordinário. Precedentes.

Em outros casos levados aos tribunais superiores, às vezes há decisões


em prol da ilegitimidade ativa, pois, ao serem ajuizados, não respeitam o
procedimento adotado pela Constituição Federal, como na ementa a seguir:

INTERVENÇÃO FEDERAL — ALEGADO DESCUMPRIMENTO


DE ORDEM JUDICIAL POR PARTE DE ESTADO-MEMBRO —
CONDENAÇÃO PROFERIDA PELA JUSTIÇA ESTADUAL —
PEDIDO DE INTERVENÇÃO ENCAMINHADO DIRETAMENTE
AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PELO PRÓPRIO CREDOR
INTERESSADO — INADMISSIBILIDADE — ILEGITIMIDADE
ATIVA "AD CAUSAM" DO CREDOR - PEDIDO QUE HÁ DE SER
PREVIAMENTE DIRIGIDO AO PRESIDENTE DO TRIBUNAL
LOCAL — PRECEDENTES — RECURSO IMPROVIDO. — Não é lícito
ao credor do Estado-membro, agindo per saltum, formular, diretamente,
ao Supremo Tribunal Federal, pedido de intervenção federal, quando se
tratar de prover a execução de ordem ou decisão emanada de Tribunal
local. É que, tratando-se de condenação transitada em julgando,
proferida por órgão competente da Justiça estadual, falece legitimidade
ativa ad causam ao credor interessado para requerer, diretamente, ao
Supremo Tribunal Federal, a instauração do processo de intervenção
federal contra o Estado-membro que deixou de cumprir a decisão ou
a ordem judicial, pois, em tal hipótese, impor-se-á, à parte interessada,
a obrigação de previamente submeter o pedido de intervenção ao
Presidente do Tribunal local, a quem incumbirá formular, em ato
devidamente motivado, o pertinente juízo de admissibilidade. Se esse
juízo de admissibilidade for positivo, caberá ao Presidente da Corte
judiciária inferior determinar o processamento do pedido e ordenar o
seu ulterior encaminhamento ao Supremo Tribunal Federal, para que
este - apreciando, e eventualmente acolhendo, a postulação formulada
pelo credor interessado - requisite, ao Presidente da República, ser
for o caso, a decretação de intervenção federal no Estado-membro
que houver descumprido a decisão judicial exeqüenda. Precedentes
(BRASIL, 1998, documento on-line).

Um assunto que se destaca nos casos de pedido de intervenção é a ausência


de pagamento de precatórios, que são dívidas da Administração Pública. Frente a
isso, o STF formulou a seguinte decisão:

31
UNIDADE 1 | DO ESTADO

O Supremo Tribunal Federal exige a presença de determinados


requisitos nos casos de intervenção por inadimplemento de precatórios
judiciais: a) a possibilidade do interventor agir de maneira diferente ao
governante eleito;
b) a inexistência de meios menos gravosos e igualmente eficazes para
solucionar a falta de pagamento do precatório; c) a proporcionalidade
do pedido interventivo entre o objetivo perseguido (pagamento de
precatório alimentar) e o ônus imposto aos cidadãos provocado pela
medida extrema. Na hipótese examinada, não há falar na presença dos
referidos requisitos, o que impõe a concessão da segurança pleiteada
para obstar a determinação de intervenção estadual (BRASIL, 2009,
documento on-line).

Assim, no que compete à matéria sobre intervenção, denota-se que é


uma medida excepcional e que os tribunais superiores são unânimes em relação
a manter a autonomia político-administrativa dos entes federativos brasileiros.

32
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 autoriza, em


algumas situações excepcionais, que um ente federativo intervenha em outro
ente federativo, ou seja, a União pode intervir nos Estados e nos Municípios,
bem como o Estado pode intervir em seus Municípios.

• Aprendemos a distinguir a intervenção federal da intervenção estadual e em


que situações podem acontecer.

• Assim, foi explicado os pressupostos materiais e formais necessários para a


intervenção.

• Por fim, foi demonstrado a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal acerca


da (im)possibilidade de intervenção.

33
AUTOATIVIDADE

1 Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o Estado


pode intervir em seus Municípios no caso de:​​​​​​​

a) Deixar de ser paga, por motivo de força maior, por dois anos consecutivos,
a dívida fundada.
b) Tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção
e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
c) Não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos
de saúde.
d) O Tribunal de Justiça der provimento à representação para assegurar a
observância de princípios indicados na Constituição Estadual e para prover
a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.
e) Deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por um ano, a dívida
fundada.

2 Conforme a Constituição da República Federativa do Brasil, a União não


intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:​​​​​​​

a) Manter a integridade nacional.


b) Prover a execução de lei estadual, ordem ou decisão judicial.
c) Assegurar a observância do princípio da eficiência.
d) Pôr termo a qualquer comprometimento da ordem pública.
e) Prover a execução de lei municipal, ordem ou decisão judicial.

34
UNIDADE 1
TÓPICO 4

DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1 INTRODUÇÃO
Nos seus arts. 37 e 38, a Constituição Federal de 1988 expressa disposições
gerais acerca da Administração Pública e, nos arts. 39 e 40, aborda a questão dos
servidores públicos e das particularidades deles, com destaque para o regime
jurídico único que recai sobre esse grupo.

Neste capítulo, estudaremos os princípios explícitos aplicáveis à Admi-


nistração Pública e os institutos de desconcentração e descentralização, por meio
dos quais se formam órgãos e pessoas jurídicas pertencentes à Administração
Pública Indireta. Para isso, devemos reconhecer o que é a Administração Pública
Direta e o que é a Administração Pública Indireta, comparando-as entre si. Por
fim, distinguiremos servidor público de empregado público e analisaremos os
seus respectivos regimes previdenciários.

2 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Ao estudarmos os princípios expressos aplicáveis à Administração Pública
brasileira, necessariamente devemos colacionar o art. 37 da Constituição Federal
de 1988, uma vez que, no seu caput, encontram-se tais princípios:

A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência [...] (BRASIL, 1998, documento on-line).

A partir da leitura desse dispositivo, depreendemos que são cinco os


princípios explícitos relativos à Administração Pública:

• legalidade;
• impessoalidade;
• moralidade;
• publicidade;
• eficiência.

35
UNIDADE 1 | DO ESTADO

O princípio da legalidade evidencia a busca constante pela lei e se aplica


tanto ao âmbito público quanto ao privado, tendo em vista que o art. 5º, II, da
Constituição dispõe que “[...] ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei” (BRASIL, 1988, documento on-line). Assim,
para o particular, há a possibilidade de fazer tudo o que a lei não proíbe. Por
outro lado, no caso da Administração Pública, devemos adotar a interpretação
vinculativa e restritiva, segundo a qual a Administração só pode realizar os atos
previstos em lei.

Paulo e Alexandrino (2017, p. 357) explicam o funcionamento da legalidade


na esfera pública e na privada:

O princípio da legalidade administrativa tem, para a administração


pública, um conteúdo muito mais restritivo do que a legalidade geral
aplicável à conduta dos particulares (CF, art. 5º, II). Por outro lado, para
o administrado, o princípio da legalidade administrativa representa
uma garantia constitucional, exatamente porque lhe assegura que a
atuação da administração estará limitada estritamente ao que dispuser
a lei.

A impessoalidade, por sua vez, possui duas formas distintas de aplicação.


A primeira maneira de aplicar esse princípio consiste na proibição de promoção
pessoal por meio da maquinaria pública, de modo que o administrador público
não pode valer-se dos atos administrativos em prol de interesses pessoais. O art.
37, § 1º, determina:

A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas


dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou
de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos
ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
servidores públicos (BRASIL, 1988, documento on-line).

Assim, o desrespeito à Constituição pode levar o responsável a responder


por ato de improbidade administrativa, regulado pela Lei nº. 8.429, de 2 de
junho de 1992 (BRASIL, 1992).

A segunda forma de aplicar o princípio da impessoalidade visa proibir


o administrador público ou o responsável pelo ato de afastar-se do interesse
público, pois não pode haver pessoalização do ato administrativo. Logo, quando
a Administração Pública age, não deve buscar o favorecimento de ninguém
em particular, mas o bem público. Com o intuito de respeitar a legalidade, a
Administração Pública realiza concursos públicos e licitações para só então
efetuar contratos, por exemplo.

O terceiro princípio, a moralidade, impõe aos agentes públicos a atuação


profissional honesta, que consiste em agir com probidade. O termo “probo”
significa “honesto”, “reto” e, portanto, o agente que não atuar de forma proba, isto
é, honesta, responde pelo que chamamos de improbidade.

36
TÓPICO 4 | DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

É certo que a expressão “moralidade administrativa” não é de


compreensão instantânea e rigorosa, embora tenha sido erigida em
princípio constitucional a ser atendido pela Administração Pública
(art. 37). Ela abrange o sentido ético da conduta do administrador,
visando a fazer coincidir o licitum com o honestum. Quer dizer: em face
da moralidade administrativa o que não é honesto é ilícito, mesmo
que formalmente se atenha às normas vigentes. A moralidade repudia
frontalmente o brocardo non omne quod licet honestum est (FERREIRA
FILHO, 2012, p. 276).

O art. 37, § 4º, da Constituição versa que “[...] os atos de improbidade


administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível” (BRASIL,
1988, documento on-line). Nesse contexto, a violação do princípio da morali-
dade acarreta as consequências previstas no referido dispositivo, bem como a
declaração de nulidade do ato administrativo.

Já a publicidade determina que a atuação da Administração Pública


deve ser transparente e de acesso público, o que fundamenta o direito de acesso
à informação de todos os atos realizados. Esse sempre foi compreendido como
um princípio administrativo, pois se entende que o Poder Público, justamente
por ser público, deve agir com a maior transparência possível a fim de que os
administrados tenham, a qualquer hora, conhecimento do que os adminis-
tradores fazem. Sobretudo, exige-se que se publiquem atos que devem surtir
efeitos externos, ou seja, fora dos órgãos da Administração (SILVA, 2005).

Atentemos ao fato de que o princípio da publicidade encontra limite no


próprio Texto Constitucional, conforme constamos com base no art. 5º, XXXIII,
acerca do sigilo ser imprescindível à segurança da sociedade e do Estado:

[...] todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de


seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado [...] (BRASIL, 1988, documento on-line).

O último princípio expresso é o da eficiência, segundo o qual a Admi-


nistração Pública deve agir de forma eficiente, mediante ações qualificadas
nas atividades administrativas e, para tanto, outros princípios que facilitam o
entendimento podem ser somados, como o princípio da economicidade (atuação
que busque a economia de gastos) e o princípio da celeridade (busca pelo agir
mais rápido possível), dentre outros.

Assim, restam expostos os princípios expressos, também conhecidos como


princípios básicos, aplicáveis à Administração Pública Direta e à Administração
Pública Indireta. Neste momento, cabe explicarmos o que são a Administração
Direta e a Indireta, atentando às distinções entre uma e outra.

37
UNIDADE 1 | DO ESTADO

3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA


Para entendermos o que são a Administração Pública Direta e a Indireta,
devemos conhecer os institutos da descentralização e da desconcentração. A
desconcentração ocorre quando uma pessoa jurídica desconcentra a sua atuação
ao criar órgãos dentro da sua própria estrutura. Assim, há a divisão de funções
e prestações de serviço dentro da própria pessoa jurídica. Contudo, os órgãos
criados não possuem personalidade jurídica própria. Por outro lado, quando se
trata de descentralização, sucede a criação de novas pessoas jurídicas para que
sejam concedidas as competências para a atuação do serviço público:

A Administração Pública pode ser classificada em direta e indireta.


A Administração Pública direta é constituída por um conjunto de
órgãos administrativos ligado diretamente ao Poder Executivo de
cada ente federativo. A Administração Pública indireta é constituída
de forma descentralizada, por um conjunto de órgãos que está ligado
a entidades personalizadas, que, por sua, vez são ligados ao Poder
Executivo de cada ente federativo. A Administração Pública indireta
compreende as autarquias, as empresas públicas, as sociedades de
economia mista e as fundações públicas (AGRA, 2018, p. 431-432).

Assim, o Estado presta o seu serviço público de forma:

• centralizada - quando executa as tarefas atribuídas diretamente por intermédio


de órgãos e agentes da Administração Direta;
• descentralizada - quando desempenha algumas das suas atribuições por meio
de outra pessoa jurídica e não pela Administração Direta;
• desconcentrada - quando a execução das funções é dívida em órgãos, de modo
que a distribuição das atribuições se dá internamente, ou seja, dentro da mesma
pessoa jurídica.

A Administração Pública Direta é composta pelos entes federativos,


que são a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, sobre o quais
exerce atuação direta. Assim, a Constituição Federal de 1988 define quais são
as competências e a autonomia político-administrativa de cada um dos seus
entes. Em contrapartida, a Administração Pública Indireta é o conjunto de
pessoas jurídicas vinculadas (não são subordinadas) à Administração Pública
Direta. A sua competência é descentralizada, ou seja, diz respeito às pessoas
jurídicas que restaram, criadas pela Administração Pública Direta pelo instituto
da descentralização para realizar os serviços públicos de forma indireta. Essas
pessoas jurídicas são as fundações, as autarquias, as sociedades de economia
mista e as empresas públicas.

O fundamento para a descentralização da Administração Pública Direta


encontra-se no art. 37, XIX, da Constituição Federal: “[...] somente por lei específica
poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de
sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste
último caso, definir as áreas de sua atuação” (BRASIL, 1988, documento on-line).

38
TÓPICO 4 | DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Na esfera federal, há o Decreto-Lei nº. 200, de 25 de fevereiro de 1967, que


dispõe acerca da organização da Administração federal e que também pode ser
consultado para o entendimento da Administração Pública estadual, distrital e
municipal, pois estabelece no seu art. 4º:
Art. 4º A Administração Federal compreende:
I — A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados
na estrutura administrativa da Presidência da República e dos
Ministérios;
II — A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias
de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista;
d) fundações públicas.
Parágrafo único. As entidades compreendidas na Administração
Indireta vinculam-se ao Ministério em cuja área de competência
estiver enquadrada sua principal atividade (BRASIL, 1967, documento
on-line).

Nesse sentido, vale destacarmos algumas características das pessoas


jurídicas que compõem a Administração Pública Indireta. É o que faremos a
seguir.

Assim como os entes federativos, as autarquias são pessoas jurídicas de


direito público, conforme explicitado no art. 41 do Código Civil:
Art. 41 São pessoas jurídicas de direito público interno:
I — a União;
II — os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III — os Municípios;
IV — as autarquias, inclusive as associações públicas;
V — as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas
de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado,
regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas
deste Código (BRASIL, 2002, documento on-line).

As autarquias contam com personalidade jurídica de direito público


porque são as únicas criadas por leis específicas na Administração Pública Indi-
reta. As demais pessoas jurídicas são autorizadas como instituições. Além disso,
é interessante notarmos que as autarquias estão sujeitas à tutela, que é o controle
finalístico para verificar se a entidade está cumprindo as suas finalidades, e
possuem autonomia administrativa e financeira, embora não possuam autonomia
política. Os seus atos e contratos são administrativos e, portanto, sujeitam-se
à Lei nº. 8.666, de 21 de junho de 1993, e ao controle dos tribunais de contas.
São dotadas de patrimônio próprio, transferido do ente que a criou, que, logo,
são bens públicos. As autarquias também possuem os mesmos privilégios
conferidos à Administração Direta; possuem dirigentes próprios, podendo haver
a participação do Poder Legislativo na escolha (art. 52, III, d); e os seus agentes
são servidores públicos estatutários. São exem plos de autarquias o Banco Central
do Brasil (Bacen), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), o Instituto
Nacional de Serviço Social (INSS), entre outras (BRASIL, 1993).

39
UNIDADE 1 | DO ESTADO

As fundações são autorizadas a instituição por lei específica, mas a sua


constituição depende do registro no registro civil de pessoas jurídicas (art. 45 do
Código Civil) (BRASIL, 2002). Portanto, trata-se de pessoas jurídicas de direito
privado e a definição das suas áreas de atuação ocorre por intermédio de lei
complementar (art. 37, XIX, da Constituição) (BRASIL, 1988). Além disso, os seus
servidores são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a sua
finalidade possui caráter social, cujo viés pode ser a pesquisa, a educação, a cultura
etc. Para exemplificarmos algumas fundações, podemos pensar, por exemplo,
na Fundação Nacional do Índio (Funai), na Fundação Estadual de Proteção ao
Meio Ambiente (Fepam) e no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq).

As empresas públicas também são autorizadas à instituição por lei espe-


cífica. Entretanto, a sua constituição também depende do registro no registro
civil de pessoas jurídicas (art. 45 do Código Civil), como no caso das fundações
(BRASIL, 2002). Assim, as empresas públicas são pessoas jurídicas de direito
privado, prestam serviços públicos e podem explorar atividades econômicas,
possuem capital exclusivamente público, podem adotar qualquer forma societá-
ria e os seus servidores também são regidos pela CLT. Como exemplos, temos
a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBTC), o Serviço Federal de
Processamento de Dados (Serpro) e a Caixa Econômica Federal.

Por fim, as sociedades de economia mista se assemelham às empresas


públicas, uma vez que também são autorizadas a instituição por lei específica, mas
a sua constituição depende do registro no registro civil de pessoas jurídicas (art. 45
do Código Civil), e, logo, são pessoas jurídicas de direito privado (BRASIL, 2002).
Ademais, as sociedades de economia mista também prestam serviço público e
podem explorar atividades econômicas. Todavia, elas apresentam diferenças em
relação às empresas públicas por possuírem capital público e privado e pelo seu
tipo societário ser o de sociedade anônima. Como exemplos, podemos recorrer ao
Banco do Brasil S/A e à Petrobras S/A.

Entendidas a Administração Pública Direta e a Indireta, assim como a forma


como se desconcentram ou se descentralizam para melhor atender o interesse
público, resta-nos distinguir o papel do servidor público e o do empregado público,
bem como os regimes previdenciários próprios de cada grupo.

DICAS

As agências reguladoras são autarquias em regime especial. Além das


características próprias das autarquias, essas agências possuem prerrogativa de dirigente
com mandato fixo, de forma que os seus agentes só podem ser dispensados mediante
processo administrativo disciplinar, renúncia ou condenação judicial transitada em julgado.
São exemplos de agências reguladoras, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel),
a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), entre outras.

40
TÓPICO 4 | DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

4 SERVIDOR PÚBLICO VERSUS EMPREGADO PÚBLICO


Para melhor distinguirmos servidor público de empregado público,
primeiramente precisamos ressaltar que:

A expressão agentes públicos tem sentido amplo. Significa o conjunto


de pessoas que, a qualquer título, exercem uma função pública como
prepostos do Estado. Essa função, é mister que se diga, pode ser
remunerada ou gratuita, definitiva ou transitória, política ou jurídica.
O que é certo é que, quando atuam no mundo jurídico, tais agentes
estão de alguma forma vinculados ao Poder Público. Como se sabe, o
Estado só se faz presente através das pessoas físicas que em seu nome
manifestam determinada vontade, e é por isso que essa manifestação
volitiva acaba por ser imputada ao próprio Estado. São todas essas
pessoas físicas que constituem os agentes públicos (CARVALHO
FILHO, 2018, p. 707).

Assim, os servidores públicos são uma categoria de agentes públicos,


conforme determina a própria Constituição Federal. Perante a Constituição de
1988, com as alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº. 18, de 1998,
pode-se dizer que são quatro as categorias de agentes públicos (DI PIETRO, 2018):

1. agentes políticos;
2. servidores públicos;
3. militares;
4. particulares em colaboração com o Poder Público.

Em sentido amplo, trata-se de toda pessoa física que presta serviço


público às Administrações Direta ou Indireta, tem vínculo empregatício e cuja
remuneração é paga pelo erário público.

São denominados por uns de agentes administrativos, mas a expressão


não é adequada, porque diz menos do que o sentido que se deve
emprestar à expressão servidores públicos. Na realidade, existem
muitos servidores públicos que desempenham funções diversas
da função administrativa do Estado. Por outros, são denominados
de funcionários públicos, expressão também inadequada, já que,
além de banida da Constituição, tem sentido mais restrito do que
a de servidores públicos, e isso porque, na verdade, eram assim
considerados apenas os servidores estatutários que integravam a
estrutura dos entes federativos (Administração Direta), o que indica
que se tratava de uma categoria dos servidores públicos. Estes, por sua
vez, integram a Administração Direta, as autarquias e as fundações
públicas autárquicas, sob qualquer regime funcional (CARVALHO
FILHO, 2018, p. 710).

Dentro da categoria dos servidores públicos, estão compreendidos:

• os servidores estatutários, sujeitos ao regime estatutário e ocupantes de cargos


públicos;
• os empregados públicos, contratados sob o regime da legislação trabalhista e
ocupantes de emprego público;

41
UNIDADE 1 | DO ESTADO

• os servidores temporários, contratados por tempo determinado para atender


à necessidade temporária de excepcional interesse público (art. 37, IX, da
Constituição).

Esses indivíduos exercem função sem estarem vinculados a cargo ou


emprego público.

Com base nesses conceitos, podemos afirmar que há uma distinção entre
os servidores estatutários, que são todos os que ocupam cargo público efetivo, ou
seja, que foram aprovados em concurso público de provas ou de provas e títulos
(art. 37, II, da Constituição) e têm por regime previdenciário o regime jurídico
único. Vejamos o disposto no art. 40 da Constituição Federal:

Art. 40 - Aos servidores titulares de cargos efetivos da União,


dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas
autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de
caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo
ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas,
observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e
o disposto neste artigo (BRASIL, 1988, documento on-line).

No que tange aos empregados públicos, compreendem os ocupantes de


emprego público, ou seja, que foram contratados pela Administração Pública com
regime de contratação regido pela CLT e cujo regime previdenciário é o regime
geral da previdência social, conforme disposto no art. 201 da Constituição. São
exemplo aqueles que trabalham nas entidades da Administração Pública Indireta
de natureza privada, como empresas públicas, sociedades de economia mista e
fundações.

42
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Vimos que a Administração Pública Direta é composta pelos entes


federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios).

• Já a Administração Pública Indireta se refere ao conjunto de pessoas jurídicas


vinculadas à Administração Pública Direta.

• A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, expressa, a partir


dos artigos 37 e 38, as disposições gerais para a Administração Pública.

• Já os artigos 39 e 40 abordam a questão dos servidores públicos e das


particularidades deles, com destaque para o regime jurídico único que recai
sobre esse grupo.

• Verificamos os princípios explícitos aplicáveis à Administração Pública e aos


institutos de desconcentração e descentralização, por meio dos quais se formam
órgãos e pessoas jurídicas pertencentes à Administração Pública Indireta.

• Para isso, você deverá reconhecer o que é a Administração Pública Direta e o


que é a Administração Pública Indireta, comparando-as entre si.

• Por fim, deverá distinguir servidor público de empregado público, analisando


os seus respectivos regimes previdenciários.

CHAMADA

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em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja
as novidades que preparamos para seu estudo.

43
AUTOATIVIDADE

1 Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em


seu art. 37, são princípios explícitos para a Administração Pública Direta e
Indireta:​​​​​​​

a) Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e economicidade.


b) Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e excelência.
c) Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
d) Legalidade, indisponibilidade, moralidade, publicidade e eficiência.
e) Legalidade, impessoalidade, moralidade, probidade e economicidade.

2 O que constitui a Administração Pública Indireta, segundo a Constituição


Federal de 1988​​​​:

a) União, fundações privadas, autarquias, sociedade de economia mista e


empresas governamentais.
b) Fundações públicas, autarquias, sociedade de economia mista e empresas
públicas.
c) Estados-membros, autarquias, sociedade de economia mista e empresas
públicas.
d) União, estados-membros, Distrito Federal e municípios.
e) União, estados-membros, Distrito Federal, municípios e autarquias.

44
UNIDADE 2

DOS PODERES DO ESTADO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• Definir os sistemas de governo adotados nas democracias


ocidentais.
• Identificar as competências do Chefe e dos ministros do Poder
Executivo.
• Descrever o procedimento de impeachment.
• Descrever a estrutura do Poder Legislativo.
• Determinar os Poderes e o funcionamento das Comissões
Parlamentares de Inquérito.
• Explicar as imunidades parlamentares.
• Distinguir os procedimentos de formação das leis ordinárias e das
leis complementares.
• Descrever o procedimento de formação e as matérias passíveis de
emendas constitucionais.
• Esquematizar o processo legislativo ordinário.
• Analisar as normas constantes na Constituição Federal acerca das
disposições gerais do Poder Judiciário.
• Explicar o quinto constitucional, as súmulas vinculantes, a
reclamação constitucional e o sistema de precatórios.
• Esquematizar a organização do Poder Judiciário de acordo com as
suas competências.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em quatro tópicos. Em cada um deles você
encontrará diversas atividades que o(a) ajudarão na compreensão das
informações apresentadas.

TÓPICO 1 – DO PODER EXECUTIVO

TÓPICO 2 – DO PODER LEGISLATIVO

TÓPICO 3 – DO PROCESSO LEGISLATIVO

TÓPICO 4 – DO PODER JUDICIÁRIO

45
CHAMADA

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em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

46
UNIDADE 2
TÓPICO 1

DO PODER EXECUTIVO

1 INTRODUÇÃO
Para aprendermos com a devida profundidade o processo de impeach-
ment previsto na Constituição Federal de 1988, é necessário compreendermos
também os principais sistemas de governo que adotam a divisão entre os Três
Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), pois somente assim alcançaremos
as razões que justificam a instauração do processo contra o Chefe do Executivo.

Nesta unidade, estudaremos as principais características dos sistemas


denominados presidencialismo, parlamentarismo e semipresidencialismo,
que sintetizam as formas de governo presentes nas democracias ocidentais
contemporâneas. Além disso, também analisaremos as competências dos chefes,
ministros e secretários do Poder Executivo e, por fim, descreveremos como
sucede o procedimento de impeachment.

2 SISTEMAS DE GOVERNO
Inicialmente, é importante destacarmos que, dentre os sistemas de governo
existentes em todo o mundo, neste capítulo consideraremos somente os que se
fundamentam na divisão dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário),
ou seja, os que são utilizados nas democracias ocidentais contemporâneas,
conforme retratado pelo jurista Ferreira Filho (2012, p. 133):

[...] não é possível negar que os sistemas que rejeitam a confusão de


poderes, que se baseiam na separação do Legislativo, do Executivo
e do Judiciário, são, na democracia ocidental, especialmente ciosa
das liberdades individuais, as formas consagradas. De modo geral,
as democracias ocidentais adotam ou o parlamentarismo ou o
presidencialismo como regime de governo, com a exceção suíça.

Posto isso, iniciemos os nossos estudos pelo presidencialismo, que,


segundo Lenza (2015, p. 1.113), é:

47
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

O sistema de governo adotado pela CF/88, mantido pelo plebiscito


previsto no art. 2.º do ADCT, é o presidencialista, influenciado,
historicamente, pela experiência norte-americana. Trata-se, inclusive,
de tradição do direito constitucional pátrio, vivenciada durante toda
a República, com exceção do período de 1961 a 1963. Como se recorda,
a Emenda Constitucional nº 4, de 2 de setembro de 1961, à Constituição
de 1946, instituiu o parlamentarismo, sendo revogada pela Emenda
n. 6, de 23.01.1963, restauradora do regime presidencialista, tendo em
vista o resultado do referendo realizado em 6 de janeiro de 1963, que
decidiu pelo retorno ao presidencialismo.

Nesse sistema de governo, há uma grande concentração de poder em


torno da figura do Presidente da República, que é tanto a figura representativa
e negocial de determinado país em relação aos outros países (Chefe de Estado)
quanto o responsável pelo mais alto cargo dentro desse mesmo país no que tange
a assuntos governamentais (Chefe de Governo). Segundo Novelino (2016, p. 644):

Nesse sistema, as chefias do Estado, do Governo e da Administração


Pública são reunidas em uma só pessoa. Entre suas virtudes está a
legitimação popular obtida pelo Chefe do Executivo, em geral,
escolhido através de eleição direta. Isso torna o sistema mais aberto
à implementação de transformações profundas na sociedade. O
prazo fixo de mandato permite maior estabilidade administrativa e
previsibilidade da atuação estatal.

Assim, no presidencialismo, o Presidente da República também é o Chefe


do Poder Executivo, sendo que as suas competências (art. 84), responsabilidades
(arts. 85 e 86), eleições (art. 77), posse (art. 78), substituição (art. 79), impedimentos
(art. 80), vacância (art. 81), mandato (art. 82) e ausência (art. 83) estão regulados e
descritos na Constituição Federal de 1988 no caso do Brasil (BRASIL, 1988).

Outra possibilidade de sistema de governo é o parlamentarismo, cuja


característica distintiva é a divisão do Poder Executivo entre o Chefe de Estado
e o Chefe de Governo, de modo que a manutenção no cargo depende do apoio
político do Parlamento. Portanto, o Poder Legislativo e o Executivo influenciam-
se de maneira mais evidente, uma vez que ambos expressam as decisões
governamentais de forma colaborativa, pois um fundamenta o outro. Tal situação
evidencia-se na escolha do Chefe de Governo (Primeiro Ministro) por indicação
do Chefe do Poder Executivo, que pode ser o Presidente da República ou um
monarca. É o que acontece em países como Dinamarca, Espanha, Holanda e
Reino Unido, por exemplo.

A respeito do parlamentarismo, Paulo e Alexandrino (2017, p. 279-280)


sintetizam o seguinte, acerca da organização política do Chefe do Executivo,
Primeiro Ministro e próprio Parlamento com base nesse sistema:

Em resumo, temos o seguinte: (a) o Chefe do Executivo, que exerce


a chefia de Estado, escolhe o Primeiro Ministro, para que exerça a
chefia de Governo; (b) uma vez escolhido, o Primeiro Ministro elabora
um plano de governo e o submete à apreciação do Parlamento; (c) a
partir de então, o Primeiro Ministro somente permanecerá no poder

48
TÓPICO 1 | DO PODER EXECUTIVO

enquanto o seu plano de governo obtiver apoio do Parlamento; (d)


por outro lado, o governo poderá, em certas circunstâncias, dissolver
o Parlamento, convocando novas eleições, como forma de renovar a
composição parlamentar e, em consequência, aumentar o apoio ao seu
plano de governo.

Por fim, dentre os sistemas democráticos ocidentais, situa-se o semi-


presidencialismo ou semiparlamentarismo, que vigora em Portugal e na
Colômbia, dentre outros países. Podemos defini-lo como a junção dos dois
sistemas governamentais anteriormente descritos, cujos aspectos principais é a
limitação dos poderes do Parlamento e de outros direitos próprios do Chefe de
Estado, isto é, que ultrapassam a mera função representativa:

O Chefe de Estado é o Presidente da República que, eleito diretamente


pelo povo, exerce um mandato com prazo certo de duração.
Diversamente do que ocorre no parlamentarismo, não desempenha
apenas funções de natureza simbólica, exercendo atribuições
relevantes, tais como nomear o Primeiro-Ministro, dissolver o
Parlamento, propor projetos de lei, conduzir a política externa,
exercer poderes especiais em momentos de crise, submeter leis ao
tribunal constitucional, exercer o comando das Forças Armadas,
nomear funcionários de alto-escalão e convocar referendos. O Chefe
de governo é o Primeiro-Ministro, responsável pelas decisões políticas
cotidianas. Sua investidura e permanência no cargo estão sujeitas a
aprovação da maioria parlamentar que, mediante deliberação, poderá
substituí-lo a qualquer tempo (NOVELINO, 2016, p. 644-645).

Tendo em vista que a nossa Constituição assume o presidencialismo como


sistema de governo que deve vigorar no Brasil, faz-se oportuno adentrarmos as
competências do Chefe do Poder Executivo e da estrutura que o auxilia na tomada
das decisões resguardadas ao cargo de Presidente da República.

3 COMPETÊNCIAS DO CHEFE E DOS MINISTROS DO PODER


EXECUTIVO
As competências do Presidente da República, que é o Chefe do Poder
Executivo no Brasil, estão dispostas no art. 84 da Constituição Federal nos
seguintes termos:

Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da República:


I — nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II — exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior
da administração federal;
III — iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos
nesta Constituição;
IV — sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir
decretos e regulamentos para sua fiel execução;
V — vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI — dispor, mediante decreto, sobre:

49
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

a) organização e funcionamento da administração federal, quando


não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de
órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
VII — manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus
representantes diplomáticos;
VIII — celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a
referendo do Congresso Nacional;
IX — decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
X — decretar e executar a intervenção federal;
XI — remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional
por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do
País e solicitando as providências que julgar necessárias;
XII — conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário,
dos órgãos instituídos em lei;
XIII — exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover
seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são
privativos;
XIV — nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros
do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os
Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o
presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando
determinado em lei;
XV — nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do
Tribunal de Contas da União;
XVI — nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição,
e o Advogado-Geral da União;
XVII — nomear membros do Conselho da República, nos termos do
art. 89, VII;
XVIII — convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de
Defesa Nacional;
XIX — declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado
pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no
intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar,
total ou parcialmente, a mobilização nacional;
XX — celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso
Nacional;
XXI — conferir condecorações e distinções honoríficas;
XXII — permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente;
XXIII — enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de
lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos
nesta Constituição;
XXIV — prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de
sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes
ao exercício anterior;
XXV — prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;
XXVI — editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do
art. 62;
XXVII — exercer outras atribuições previstas nesta Constituição
(BRASIL, 1988, documento on-line).

Essas atribuições denotam competências que são restritas ao Presidente


da República no exercício das suas atividades como Chefe de Estado (art. 84,
VII e XIX), de Governo (art. 84, XI e XXIII) e da Administração Pública (art.84

50
TÓPICO 1 | DO PODER EXECUTIVO

I a III). Todavia, esse rol de capacidades não é taxativo, como podemos inferir
a partir do disposto no art. 84, XXVII, segundo o qual o Presidente poderá
“[...] exercer outras atribuições previstas nesta Constituição” (BRASIL, 1988,
documento on-line).

As competências privativas são assim designadas pois evocam a ação


unicamente daquele que exerce a Presidência da República mediante o cargo de
Presidente ou, no caso do seu impedimento, do indivíduo designado como seu
substituto. Dessa forma, trata-se de competências indelegáveis, cujas exceções
estão dispostas no art. 84, parágrafo único:

O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas


na primeira parte do art. 84, VI, XII e XXV, aos Ministros de Estado, ao
Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que
observarão os limites traçados nas respectivas delegações (BRASIL,
1988, documento on-line).

Dentre as competências expostas no art. 84, também merecem a nossa


análise as competências normativas, compreendidas nos incisos III, IV, V, VI, XI,
XIII e XXVI acima transcritos. Elas são de suma importância, pois conferem ao
Poder Executivo a competência normativa primária, responsável por viabilizar a
edição de medidas provisórias (art. 84, XXVI), a execução do poder regulamentar
(art. 84, IV) e a iniciativa legislativa (art. 84, III a V).

As competências dos ministros de Estado estão dispostas nos incisos do


art. 87 do mesmo diploma legal, conforme podemos conferir a seguir:

I — exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e


entidades da administração federal na área de sua competência e
referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República;
II — expedir instruções para a execução das leis, decretos e
regulamentos;
III — apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua
gestão no Ministério;
IV — praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem
outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República (BRASIL, 1988,
documento on-line).

Fundamentados nesses dispositivos, depreendemos que o rol de


competências dos ministros, assim como o do Presidente da República, não é
taxativo, visto que o art. 87, parágrafo único, dispõe: “Compete ao Ministro
de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na
lei” (BRASIL, 1988, documento on-line). Nesse sentido, dentre as atribuições
dos ministros, cabe destacarmos os atos que seriam próprios do Presidente da
República e cuja prática é transferida ao ministro em questão por intermédio de
outorga ou delegação do Chefe do Executivo.

Além disso, atentemos ao emprego do termo “referendar” no art. 87, I, ao


referir as competências dos ministros, pois:

51
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

[...] consiste em uma subscrição, uma simples assinatura do Ministro


em cuja pasta estejam as matérias versadas no ato a ser referendado.
Se se tratar de um ato que disponha acerca de matérias pertinentes
a mais de um Ministério, deverá haver mais de uma "referenda",
isto é, assinatura de mais de um Ministro, tantas quantos forem os
Ministérios envolvidos (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 615).

Analisadas as competências do Presidente e dos ministros do Poder


Executivo, é válido certo aprofundamento dos nossos conhecimentos acerca do
procedimento de impedimento do Presidente da República, uma medida que
é considerada excepcional no sistema presidencialista. Entretanto, o chamado
impeachment já ocorreu duas vezes na história recente da República brasileira
após o advento da Constituição da Federal de 1988, uma vez no ano de 1992, contra
o então Presidente Fernando Collor, e outra em 2016, contra Dilma Rousseff.

DICAS

Caso o mandato presidencial termine antes que o processo criminal seja


concluído, o Supremo Tribunal Federal (STF) entende que a prerrogativa de foro se encerra
e o processo deve ser encaminhado ao juízo competente, de acordo com as regras
processuais gerais aplicáveis (BARCELLOS, 2018).

4 PROCEDIMENTO DE IMPEACHMENT
No seu texto, a Constituição Federal de 1988 não faz uso do
vocábulo de origem inglesa impeachment, que pode ser traduzido como
“impedimento” ou “impugnação”. No seu art. 85, esse diploma legal menciona
a “responsabilidade do Presidente da República” e prevê quais são os ditos
crimes de responsabilidade (BRASIL, 1988).

O procedimento de impeachment extrapola o cargo de Presidente


da República, pois é cabível tanto nos crimes praticados pelo presidente
da República quanto naqueles perpetrados pelos ministros do STF, pelo
procurador-geral da República, pelo advogado-geral da união e pelos
ministros de Estado, nos crimes conexos com o Chefe do Executivo. Na esfera
estadual, o impedimento é cabível principalmente nos crimes praticados pelo
governador de estado, e, na esfera municipal, principalmente nas infrações
dos prefeitos municipais.

Para que o procedimento de impeachment se inicie, deve haver a


constatação de algum crime de responsabilidade, crime comum ou, ainda, crime
eleitoral. Frente a isso, a Constituição assim define os crimes de responsabilidade:

52
TÓPICO 1 | DO PODER EXECUTIVO

Art. 85 São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da


República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente,
contra:
I — a existência da União;
II — o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do
Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da
Federação;
III — o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV — a segurança interna do País;
V — a probidade na administração;
VI — a lei orçamentária;
VII — o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que
estabelecerá as normas de processo e julgamento (BRASIL, 1988,
documento on-line).

Admitida a acusação contra o Presidente da República por, no mínimo,


dois terços da Câmara dos Deputados frente à hipótese de crime de responsa-
bilidade, observa-se a Lei nº. 1.079, de 10 de abril de 1950, que regulamenta e
define esse tipo de crime, além de regular o seu respectivo processo de julgamento
(BRASIL, 1950). Tal processo deve ser realizado pelo Senado Federal, conforme
determina a Constituição no seu art. 52:

Compete privativamente ao Senado Federal: I — processar e


julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma
natureza conexos com aqueles (BRASIL, 1988, documento on-line).

Assim, de forma sintética, o procedimento segue estes passos (BRASIL,


1988):

1. A Câmara dos Deputados Federais admite a denúncia (art. 86).


2. O Senado Federal vota a instauração do processo e, caso positivo, o
Presidente é suspenso (art. 86, II). Se o julgamento não for concluído
em 180 dias, cessa o afastamento do Presidente sem prejuízo do
prosseguimento regular do processo (art. 86, § 2º).
3. No Senado Federal, o presidente do STF coordena o julgamento,
cuja decisão é tomada por, no mínimo, dois terços dos votos a favor
da perda do cargo e da inabilitação por 8 anos para o exercício de
função pública, contudo sem prejuízo das demais sanções judiciais
cabíveis (art. 52, parágrafo único).

Com relação à hipótese de crime comum, como o próprio nome refere,


corresponde a qualquer crime que consta no Código Penal e nas demais
legislações que versam sobre o tema. Nesses casos, o Texto Constitucional
apresenta a imunidade na vigência do mandato, que deve ser observada com
base no art. 86, § 4º: “O Presidente da República, na vigência de seu mandato,
não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções”
(BRASIL, 1988, documento on-line).

53
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

Após ser observada a imunidade, o procedimento sucede da seguinte


maneira (BRASIL, 1988):

1. A Câmara dos Deputados Federais admite a denúncia (art. 86).


2. Sucede a suspensão do Presidente da República se recebida a denúncia ou
queixa-crime pelo STF (art. 86, § 1º, I). Se o julgamento não for concluído em
180 dias, cessa o afastamento do Presidente sem prejuízo do prosseguimento
regular do processo (art. 86, § 2º).
3. O STF realiza o julgamento (art. 102, I, b), que deve observar o fato de que
o Presidente não está sujeito a prisão enquanto não sobrevier sentença
condenatória.
4. Com a condenação, além da pena imposta, há a suspensão dos direitos políticos
(art. 15, III).

Barcellos (2018, p. 410) explica a hipótese de crime eleitoral:

Uma outra possibilidade de cassação do mandato dos Chefes do


Executivo é a decisão da Justiça Eleitoral no âmbito de ação de
impugnação de mandato, por conta de abuso de poder econômico,
corrupção ou fraude, de que trata o art. 14, §§ 10 e 11 da Constituição.
Apurado que houve algum desses ilícitos, a consequência, entre outras,
será a cassação do mandato. A competência no âmbito da Justiça
Eleitoral é definida pelo juízo competente para a diplomação dos
eleitos. Assim, ação de impugnação de mandato contra o Presidente da
República será objeto de análise pelo TSE; no caso de Governadores, o
TRE; e no caso de Prefeitos, a Junta Eleitoral.

Desse modo, observamos o procedimento do impeachment frente a


casos de crime comum, de crime de responsabilidade e, por fim, de crime
eleitoral. Portanto, encerramos o presente estudo com essas informações e com
o conhecimento de quem é responsável pelo devido julgamento e quais são as
consequências constitucionais que recaem sobre o Presidente da República no
processo de impedimento.

54
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabelece que


o Poder Executivo é representado pelo Presidente da República, contando
também com os Ministros de Estados.

• Nesse sentido, o Presidente da República expressa e acumula as funções


de Chefe de Estado e Chefe de Governo, tendo competências que lhe são
privativas e indelegáveis. 

• Conhecemos os principais sistemas de governo expostos pelas principais


doutrinas, além de entender o sistema de governo da República Federativa do
Brasil.

• Também vimos a análise das competências dos chefes do Poder Executivo,


bem como dos seus ministros e secretários.

• E, por fim, vimos o procedimento de impeachment, situação que já ocorreu por


duas vezes na história recente da República brasileira.

55
AUTOATIVIDADE

1 Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no que


tange ao Poder Executivo, é correto afirmar que:​​​​​​​

a) a eleição do Presidente da República não importará a do Vice-Presidente


com ele registrado.
b) será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido
político, obtiver a maioria absoluta de votos, computando tanto os em
branco quantos os nulos.
c) o Vice-Presidente deverá substituir o Presidente em casos de
impedimento, sucedendo-lhe a vaga.
d) ao vagar os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, deverá
ser realizada uma eleição trinta dias depois de aberta a última vaga.
e) ao vagar os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, deverá
ser realizada uma eleição sessenta dias depois de aberta a última vaga.

2 No caso de vacância dos cargos de Presidente e Vice-Presidente da


República, o que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
determina?​​​​

a) Se essa vacância ocorrer nos últimos dois anos do período presidencial,


a eleição para ambos os cargos deverá ser realizada trinta dias depois da
última vaga, pelo Congresso Nacional.
b) Se essa vacância ocorrer nos últimos dois anos do período presidencial, a
eleição para ambos os cargos deverá ser realizada quarenta e cinco dias
depois da última vaga, pelo Congresso Nacional.
c) Se essa vacância ocorrer nos últimos dois anos do período presidencial,
a eleição para ambos os cargos deverá ser realizada trinta dias depois da
última vaga, pelo Senado Federal.
d) Se essa vacância ocorrer nos últimos dois anos do período presidencial,
a eleição para ambos os cargos deverá ser realizada trinta dias depois da
última vaga, pela Câmara dos Deputados.
e) Se essa vacância ocorrer nos últimos dois anos do período presidencial,
haverá uma eleição somente para o cargo de Presidente da República. Essa
nova eleição deverá ser realizada trinta dias depois da última vaga, pelo
Congresso Nacional.

3 Segundo a Constituição Federal de 1988, compete privativamente ao


Presidente da República:​​​​​​​

a) opinar em hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, nos


termos da Constituição.

56
b) celebrar tratados, convenções e atos internacionais, estando estes sujeitos a
referendo do Congresso Nacional.
c) dispor, mediante decreto, sobre: extinção de funções ou cargos públicos,
quando ocupados.
d) dispor, mediante decreto, sobre: organização e funcionamento da
administração federal; isso quando houver aumento de despesa, ou criação
e extinção de órgãos públicos.

57
58
UNIDADE 2 TÓPICO 2

DO PODER LEGISLATIVO

1 INTRODUÇÃO
Dentre os Três Poderes do Estado, o Legislativo é um órgão independente
cujas funções típicas são legislar e fiscalizar e que, de modo atípico, exerce função
administrativa e julgadora.

Entre os arts. 44 e 75 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988),


estão descritas a estrutura e as competências do Poder Legislativo brasileiro, que
em âmbito federal é representado pelo Congresso Nacional, subdividido em duas
casas: o Senado Federal e a Câmaras dos Deputados. Junto a cada casa funcionam
as comissões, que podem ser permanentes, como a Comissão de Finanças e
Tributação, ou temporárias, como as Comissões Parlamentares de Inquérito
(CPIs). Nesse contexto, os parlamentares escolhidos por voto desfrutam de
imunidade parlamentar, garantido o exercício do mandato com plena liberdade.

Nesta unidade, você vai analisar a estrutura do Poder Legislativo no


nosso País e os poderes das CPIs, de modo a determinar o seu funcionamento e os
seus poderes. Por fim, estudaremos as regras básicas da imunidade parlamentar,
reunindo assim três temas importantes para o exercício da plena democracia.

2 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO
Na divisão de funções entre os Poderes da República, cabem ao Poder
Legislativo, que é independente, as tarefas precípuas de legislar e fiscalizar.

Contudo, ele também pode exercer funções atípicas, como você pode ver
a seguir (BRASIL, 1988):

• Funções típicas — a atividade legislativa e a fiscalização contábil, financeira,


orçamentária e patrimonial do Poder Executivo (art. 49, X, da Constituição
Federal).
• Funções atípicas de natureza executiva — o provimento de cargos; a concessão
de férias e licenças a servidores; e o ordenamento da sua organização,
funcionamento, polícia etc. (art. 51, IV, da Constituição Federal).

59
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

• Função atípica de natureza jurisdicional — o Senado, que é uma das duas


casas do Congresso Nacional, é o responsável pelo julgamento do Presidente da
República em hipótese de crime de responsabilidade (art. 52, I, da Constituição
Federal).

Em âmbito federal, o Poder Legislativo brasileiro é bicameral e opera


por meio do Congresso Nacional, que é composto por duas casas: a Câmara dos
Deputados e o Senado Federal. A primeira é constituída por representantes do
povo e a segunda, por representantes dos estados-membros e do Distrito Federal.
Assim, verificamos que o Congresso se organiza com base na seguinte estrutura:

• A Câmara dos Deputados é a casa que representa o povo e conta com membros
eleitos pelo sistema proporcional em cada estado e no Distrito Federal cujos
mandatos vigoram por quatro anos.
• O Senado Federal é composto por três representantes de cada estado e do
Distrito Federal, que são eleitos pelo sistema majoritário e cujos mandatos
vigoram por oito anos.

O art. 57 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece que o


Congresso Nacional deve se reunir anualmente na capital do País e que os seus
trabalhos devem se desenvolver ao longo de uma legislatura composta por
quatro sessões legislativas ordinárias.

Durante a legislatura, ocorrem as sessões legislativas, que podem ser


ordinárias ou extraordinárias.

• As sessões ordinárias correspondem ao período normal de trabalho e estão


divididas em dois períodos legislativos. O primeiro ocorre entre os dias 2 de
fevereiro e 17 de julho e o segundo, entre os dias 1º de agosto e 22 de dezembro.
Entre um período e outro, acontece o recesso parlamentar.

ATENCAO

A sessão legislativa ordinária não é interrompida sem a aprovação do projeto da


Lei de Diretrizes Orçamentárias (art. 57, § 2º, da Constituição Federal), que deve ser aprovado
até o encerramento do primeiro período, compreendido entre os dias 2 de fevereiro e 17
de julho.

• As sessões extraordinárias ocorrem durante o recesso do Congresso Nacional,


ou seja, entre os dias 18 e 31 de julho e 23 de dezembro e 31 de janeiro. Nesses
casos, o Congresso pode ser chamado a se reunir por convocação extraordinária
em situações de emergência constitucional (decretação de intervenção federal,
por exemplo), urgência ou interesse público relevante.
60
TÓPICO 2 | DO PODER LEGISLATIVO

A sessão legislativa extraordinária difere da ordinária pelas peculiaridades


da sua instauração e das matérias abordadas. Vale ressaltarmos que nessas
sessões somente é possível deliberar sobre a matéria que motivou a convocação,
ressalvando as medidas provisórias em vigor na data da convocação, que são
incluídas automaticamente na pauta extraordinária (BRASIL, 1988, art. 57, § 8º,
da Constituição Federal).

Em certas hipóteses, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados reúnem-


se em sessão conjunta, conforme as previsões do art. 57, § 3º. Há também uma
previsão de sessão preparatória, que ocorre em cada casa a partir do dia 1º de
fevereiro no primeiro ano da legislatura para a eleição e a posse dos membros da
mesa diretora.

DICAS

A partir da Emenda Constitucional nº. 50, de 14 de fevereiro de 2006 (BRASIL,


2006a), os congressistas e os servidores estão proibidos de receber parcelas indenizatórias
em decorrência de convocação extraordinária.

Lenza (2014) aponta que as reuniões ocorridas nas sessões legislativas


podem ser realizadas por meio de reuniões (sessões legislativas):

• sessão ordinária (art. 57 da Constituição de 1998);


• sessão extraordinária (art. 57, § 6º, da Constituição de 1998);
• sessão conjunta (art. 57, § 3º, da Constituição de 1998);
• sessão preparatória (art. 57, § 4º, da Constituição de 1998).

As casas parlamentares possuem competências privativas. As competências


do Senado Federal estão previstas no art. 52 e as da Câmara dos Deputados, no art.
51, ambos da Constituição Federal (BRASIL, 1988). O exercício das suas deliberações
ocorre por meio de votação, que pode ser secreta ou pública. Ressaltemos que
algumas reformas no sistema de votação aboliram a votação secreta, embora
sessões secretas ainda aconteçam, como, por exemplo, a do art. 52, III.

ATENCAO

No Congresso Nacional, as decisões são tomadas pela maioria simples dos


votos desde que a Constituição Federal expressamente não exija quórum diverso, como
ocorre, por exemplo, no quórum para funcionamento, que exige a presença da maioria
absoluta dos membros. Há um quórum específico para a instalação da sessão e outro para
a aprovação de uma proposta deliberativa.

61
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

Na esfera dos estados-membros e municípios, a estrutura do Poder Legisla-


tivo é unicameral, uma vez que é composta por apenas uma casa. O Legislativo
estadual é exercido pelas assembleias legislativas, que representam o povo de
cada estado, ao passo que o Legislativo municipal é representado pelas câmaras
de vereadores. Da mesma forma, o Legislativo distrital também é unicameral
e representa o povo do Distrito Federal. Ademais, os deputados estaduais e
distritais, bem como os vereadores, são eleitos pelo sistema majoritário de votos.

No que se refere ao Congresso Nacional, analisemos o Quadro 1 para


melhor entendermos a sua estrutura formada por duas casas, cada uma com
especificações próprias para a eleição dos representantes.

QUADRO 1 – ESTRUTURA DO SENADO FEDERAL E DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

Senado Federal Câmara dos Deputados

Representante dos
Composição estados e do Distrito Representante do povo
Federal

Proporcional à população
Sistema de eleição Majoritário de cada Estado e do
Distrito Federal

Mandato 8 anos (duas legislaturas) 4 anos (uma legislatura)

35 anos de idade, no 21 anos de idade, no


Elegibilidade
mínimo mínimo

FONTE: o autor

Junto ao Congresso Nacional e às suas casas funcionam as comissões


permanentes e as temporárias (BRASIL, 1988, art. 58 da Constituição Federal).
Segundo Mendes, Coelho e Branco (2008), as comissões formam uma inter- face
da casa legislativa em parceria com as entidades da sociedade civil, que podem ser
ouvidas em audiências públicas, o que auxilia também a atividade fiscalizadora
dos poderes públicos. Da Silva (2018), por sua vez, define as comissões
parlamentares como um organismo constituído em cada Câmara, composto de
número geralmente restrito de membros, encarregado de estudar e examinar as
proposições legislativas e apresentar pareceres.

62
TÓPICO 2 | DO PODER LEGISLATIVO

O art. 58, § 1º, da Constituição estabelece: “Na constituição das Mesas e de


cada Comissão, é assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional
dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa”
(BRASIL, 1988, documento on-line).

As comissões temáticas ou em razão da matéria são permanentes e encon-


tram-se elencadas nos regimentos internos de cada casa. No Senado Federal, as
comissões estão previstas no art. 72, enquanto que no campo da Câmara dos
Deputados elas situam-se no art. 32, ambos os dispositivos pertencentes aos
regimentos internos de cada casa.

Dessa forma, as comissões permanentes são órgãos técnicos criados pelo


regimento interno da respectiva casa e que se constituem de parlamentares com
a finalidade de discutir e votar as propostas de leis apresentadas ao Congresso
Nacional. Em relação a determinadas proposições ou projetos, essas comissões se
manifestam com a emissão de uma opinião técnica sobre o assunto por meio de
pareceres antes que o assunto seja levado ao Plenário.

No que concerne a outras proposições, elas podem aprová-las ou rejeitá-


las sem a necessidade de passá-las pelo Plenário da casa. Ademais, a composição
parlamentar dos órgãos técnicos é renovada a cada ano ou sessão legislativa.

Na ação fiscalizadora, as comissões atuam como mecanismos de controle


dos programas e projetos executados ou em execução a cargo do Poder Executivo.
Essas comissões perduram enquanto constarem do regimento interno. São elas:

• Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural.


• Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.
• Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
• Comissão de Cultura.
• Comissão de Defesa do Consumidor.
• Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher.
• Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa.
• Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência.
• Comissão de Desenvolvimento Urbano.
• Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços.
• Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
• Comissão de Educação.
• Comissão do Esporte.
• Comissão de Finanças e Tributação.

As comissões temporárias ou especiais são criadas para apreciar uma


matéria específica e extinguem-se juntamente com o fim da legislatura ou o
cumprimento da finalidade para qual foi criada. A título de exemplificação,
podemos citar como comissão temporária as CPIs.

63
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

3 COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO


A CPI está prevista no art. 58, § 3º, da Constituição Federal da seguinte
forma:

Art. 58, § 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes


de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos
regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e
pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de
um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo
certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público,
para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores (BRASIL,
1988, documento on-line).

Assim, a nível federal, qualquer casa do Congresso Nacional pode


instaurar CPIs. Há, ainda, a possibilidade da criação de uma CPI mista, visto que,
de modo bicameral, o Senado e a Câmara dos Deputados podem trabalhar juntos.
As assembleias legislativas e as câmaras dos vereadores também podem instalar
CPIs, cada uma no seu âmbito de atuação.

As regras relativas às CPIs estão disciplinadas no já transcrito art. 58, § 3º,


da Constituição; na Lei nº. 1.579, de 18 de março de 1952 (BRASIL, 1952); na Lei
nº. 10.001, de 4 de setembro de 2000 (BRASIL, 2000); na Lei Complementar nº 105,
de 10 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001); e nos regimentos internos das casas.

As CPIs são comissões temporárias destinadas a investigar determina-


dos fatos. Elas são criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Fede-
ral em conjunto ou separadamente mediante requerimento de 1/3 dos seus
parlamentares.

Para a criação de uma CPI, são exigidos três requisitos indispensáveis:

• Requerimento subscrito por, no mínimo, 1/3 dos parlamentares;


• Indicação com precisão de determinado fato a ser apurado na investigação
parlamentar;
• Indicação de prazo certo para o desenvolvimento dos trabalhos.

4 OBJETO
Os objetos da CPI são a apuração e a reunião de dados e informações
para o exercício das funções constitucionais conferidas ao Parlamento. Trata-se
de fatos e acontecimentos de relevante interesse para a vida pública e a ordem
constitucional, legal, econômica e social do País. Logo, uma CPI não pode ser
instaurada para apurar fato exclusivamente privado ou de caráter pessoal e ela
também não dispõe de poderes universais, uma vez que os seus poderes são
limitados a fatos determinados. Além disso, é possível que existam quantas CPIs
forem necessárias para realizar as investigações recomendáveis, posto que fatos
inicialmente imprevistos podem surgir.
64
TÓPICO 2 | DO PODER LEGISLATIVO

Nesse sentido, podemos concluir que, diante de um mesmo fato, algumas


opções são apresentadas pelo ordenamento jurídico:

• Criar uma CPI na Câmara dos Deputados.


• Criar uma CPI no Senado Federal.
• Criar uma CPI em conjunto, isto é, na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal.
• Criar CPIs em outros entes federativos se houver interesse comum, de modo
que cada uma atue nos limites da sua competência.

Segundo o regimento interno do Senado Federal, é inadmissível qualquer


CPI acerca das matérias pertinentes à Câmara dos Deputados, às atribuições do
Poder Judiciário e aos estados.

5 PRAZO
A CPI é temporária e, portanto, conta com um prazo fixo. De acordo com
o regimento interno da Câmara dos Deputados, ela pode acontecer durante o
recesso parlamentar, cujo prazo é de 120 dias, prorrogáveis até a metade do prazo
mediante deliberação do Plenário.

Ela se extingue juntamente com a conclusão da tarefa, o termino do prazo


ou o término da sessão legislativa ordinária. É licito, contudo, à CPI que não
tenha concluído os trabalhos requerer a prorrogação, desde que não ultrapasse o
período da legislatura em que foi criada.

6 PODERES
As CPIs dispõem dos poderes de investigação próprios das autoridades
judiciais, além de outros previstos nos regimentos internos de cada casa. Para
Lenza (2014), elas realizam verdadeira investigação, materializada no inquérito
parlamentar. Os poderes instrutórios que lhes são conferidos assemelham-se aos
juízos de instrução.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a CPI, por autoridade


própria, sem a necessidade de um requerimento judicial, sempre que por decisão
fundamentada e motivada após observar as formalidades legais, pode solicitar
a quebra dos sigilos fiscal, bancário e de dados, além da requisição dos registros
telefônicos pretéritos, ou seja, de conversas já ocorridas. Entretanto, no caso das
interceptações telefônicas, é necessária ordem judicial nas hipóteses previstas no
ordenamento jurídico (cláusula da reserva jurisdicional). No conceito de poder
investigatório, cabem os atos de ouvir testemunhas, investigados ou indiciados.

Embora as CPIs tenham poderes conferidos para a investigação, eles


não são absolutos, uma vez que devem sempre respeitar o postulado da reserva
65
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

constitucional da jurisdição, o que significa que a CPI não pode praticar atos
propriamente jurisdicionais. Dessa forma, são vedadas à CPI as diligências de
busca domiciliar, interceptação telefônica e ordem de prisão, salvo no caso de
flagrante delito, como sucede na hipótese de falso testemunho.

Por fim, atentemos ao fato de que a CPI deve motivar todas as suas deli-
berações sob pena de ineficácia, da mesma maneira que se exige das decisões
judiciais (BRASIL, 1988, art. 93, IX, da Constituição Federal). A CPI não pode
impor penalidades ou condenações.

Ao término dos trabalhos, o relatório circunstanciado da investigação


deve ser encaminhado pelos presidentes do Senado Federal e da Câmara
dos Deputados com as conclusões à Mesa à Advocacia Geral da União ou ao
Ministério Público, ao Poder Executivo, à comissão permanente, à comissão mista
permanente e ao Tribunal de Contas.

DICAS

Não podemos confundir os poderes conferidos às CPIs com os poderes gerais


de cautela dos quais dispõem os magistrados nos feitos judiciais. Portanto, os poderes de
cautela do juiz não são atribuídos às CPIs.

7 IMUNIDADE PARLAMENTAR
Imunidade parlamentar é um conjunto de prerrogativas conferidas aos
parlamentares para garantir o exercício dos seus mandados em liberdade. A
Constituição Federal determina que durante o mandato os deputados e senadores
não podem ser presos, à exceção de flagrante de crime inafiançável. Nesse caso,
a decisão de prisão do congressista fica a cargo da Câmara dos Deputados ou do
Senado Federal, dependendo de qual casa o político pertence.

Segundo a doutrina, o foro privilegiado também funciona como uma


espécie de imunidade parlamentar. Segundo esse mecanismo, o congressista só
pode ser investigado e preso após decisão direta do STF.

Destaquemos que a imunidade parlamentar não é um direito do indivíduo,


mas sim do cargo ocupado e, por essa razão, trata-se de uma prerrogativa
impossível de ser renunciada pelo parlamentar.

As imunidades parlamentares são divididas em duas categorias:

66
TÓPICO 2 | DO PODER LEGISLATIVO

• material ou substantiva (art. 53, caput, da Constituição Federal);


• processual, formal ou adjetiva (art. 53, §§ 2º, 5º).

Em função da imunidade parlamentar material, os parlamentares ficam


isentos de processos penais e civis como consequência de opiniões, discursos ou
votos proferidos no âmbito das suas atividades políticas. O art. 53 da Constituição,
por exemplo, estabelece que “[...] os Deputados e Senadores são invioláveis, civil
e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos” (BRASIL, 1988,
documento on-line). Lenza (2014) afirma que a imunidade material é sinônimo de
democracia, pois garante que o parlamentar não seja perseguido ou prejudicado
em razão da sua atividade na tribuna.

Os deputados federais e estaduais, assim como os senadores, são imunes


em todo o território brasileiro. Já os vereadores estão protegidos apenas quando
as suas opiniões e os seus discursos são proferidos dentro das limitações do
município ao qual representam. Assim, a imunidade pode ser absoluta ou rela-
tiva. Na imunidade material absoluta, o parlamentar exerce a sua liberdade de
expressão dentro do Congresso Nacional, ao passo que, na imunidade material
relativa, ele desfruta da liberdade de opinar, falar e votar fora do Congresso,
sendo necessário averiguar se a manifestação do parlamentar está de acordo com
o exercício da sua função.

No que tange à imunidade parlamentar formal, a doutrina aponta o


foro privilegiado e os processos de prisão do parlamentar. De acordo com essa
prerrogativa, o parlamentar só pode ser cautelarmente preso na hipótese de
flagrante de crime inafiançável. Vale ressaltarmos que apenas os deputados e
senadores têm direito à imunidade formal, visto que os vereadores não gozam
da prerrogativa, possuindo apenas a imunidade material. Frente a esse tipo de
imunidade, os autos devem ser remetidos à casa parlamentar para que, pelo voto
da maioria dos seus membros, decida-se sobre a prisão, mediante voto aberto.

Aprovação da casa é condição necessária para a manutenção da prisão


em flagrante delito de crime inafiançável (prisão cautelar ou processual). Por fim,
as regras acerca da prisão dos parlamentares federais podem ser resumidas da
seguinte forma:

• Pela regra geral, antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória,


os parlamentares não podem ser presos, seja a prisão processual ou civil. A
única exceção à regra é flagrante de crime inafiançável.
• É possível a prisão em caso de sentença judicial transitada em julgado pelo
STF.
• Não há imunidade processual em relação a crimes praticados antes da
diplomação.
• Não há necessidade de prévio pedido de licença para se processar parlamentar
federal no STF, podendo a casa legislativa, por iniciativa de partidos políticos
nela representado e pelo voto da maioria dos seus membros, sustar o andamento
da ação penal de crime ocorrido após a diplomação.

67
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Poder Legislativo é um órgão independente que tem como função


típica  legislar e fiscalizar.  De modo atípico, exerce função  administrativa e
julgadora. 

• Nos artigos 44 a 75 da Constituição Federal brasileira, encontra-se  a estrutura


e a competência do Órgão Legislativo brasileiro.

• No âmbito federal, o Poder Legislativo é representado pelo Congresso


Nacional, que está dividido em duas Casas,  o Senado Federal e a Câmara dos
Deputados. 

• Junto às Casas, funcionam as Comissões, grupos integrados por legisladores,


organizados em função da matéria de sua competência (tema que será
analisado) e reunidos para apreciar projetos de lei e outras propostas
normativas, além de exercerem papel fiscalizador.

• As Comissões promovem, também, debates e discussões com a participação da


sociedade em geral, sobre todos os temas ou assuntos de seu interesse, podendo
ser permanentes ou temporárias.  

• Como exemplo de comissão temporária, pode-se citar as Comissões


Parlamentares de Inquérito (CPI). 

• É importe ressaltar que, para o exercício da plena democracia, os parlamentares


escolhidos por meio do voto contam com a imunidade parlamentar,  garantindo
o exercício do mandato com plena liberdade.

• Estudamos o Poder Legislativo, determinando  os poderes das Comissões


Parlamentares de Inquéritos. 

• Vimos também as regras básicas da imunidade parlamentar.

68
AUTOATIVIDADE

1 Em relação ao Poder Legislativo, é correto afirmar que: 

a)​​​​​​ O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, composto apenas


pela Câmara dos Deputados.
b) Os Deputados Federais e Senadores, desde a expedição do diploma, serão
submetidos a julgamento perante o Superior Tribunal de Justiça.
c) O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que é composto 
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.
d) Para que uma pessoa se candidate a cargo no Senado Federal e na Câmara
dos Deputados, a idade mínima é de 18 anos .​​​
e) O Poder Legislativo é dependente e está intimamente ligado ao Poder
Judiciário. 

2 Conforme a Constituição Federal, as sessões legislativas do Congresso


Nacional devem ocorrer: 

a) entre 15 de fevereiro e 30 de junho e entre 1.º de agosto e 15 de dezembro.


b) entre 1.º de fevereiro e 15 de junho e entre 2 agosto até 20 de dezembro.
c) entre 2 de fevereiro e 15 de julho e entre 15 de agosto até 1.º de dezembro.
d) ente 2 fevereiro e 17 de julho e entre 1.º de agosto até 22 de dezembro.
e) entre 2 de fevereiro e 15 de junho e entre 1.º de agosto até 1.º de dezembro.

69
70
UNIDADE 2 TÓPICO 3

DO PROCESSO LEGISLATIVO

1 INTRODUÇÃO
Em suma, podemos afirmar que um processo é a concatenação de vários
atos que se destinam a um determinado fim conjuntamente. Até mesmo as leis
devem obedecer a um processo legislativo no momento da sua criação, sendo que
ele é definido previamente pela Constituição Federal de 1988. Nesse sentido, cada
uma das espécies normativas estabelecidas pelo art. 59 do Texto Constitucional
deve obedecer ao processo legislativo, pois, do contrário, será considerada
inconstitucional. Portanto, essa é uma matéria de extrema importância, tendo em
vista que raras vezes compreenderemos o contexto de algo sem conhecermos a
sua formação e, logo, a sua evolução ao longo do tempo. Assim, ao estudarmos
o processo legislativo no âmbito do Direito Constitucional, faz-se necessário
aprendermos como as leis se originam — ou, pelo menos, como devem ser
originadas — para que possamos distinguir se estamos frente a uma situação
inconstitucional ou não.

Nesta unidade, avançaremos um pouco mais nos nossos estudos acerca


do processo legislativo, de forma que, ao terminar a sua leitura, você estará
apto a distinguir os procedimentos de formação das leis ordinárias e das leis
complementares. Além disso, você poderá descrever o procedimento de formação
das emendas constitucionais e definir quais são as matérias passíveis de ser
objeto desse tipo de dispositivo legal. Por fim, você contará com os insumos
fundamentais para perceber quais são as etapas do processo legislativo ordinário
e, assim, esquematizá-lo.

2 LEI ORDINÁRIA VERSUS LEI COMPLEMENTAR


Antes de diferenciarmos as leis ordinárias das leis complementares,
verificaremos quais são as suas semelhanças. O primeiro aspecto comum a
ambas é o fato de serem duas espécies normativas apresentadas pelo art. 59 da
Constituição Federal, cujo parágrafo único enuncia: “Lei complementar disporá
sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis” (BRASIL, 1988,
documento on-line). Ademais, é válido ressaltarmos que o campo ocupado pelas
leis ordinárias é residual, ou seja, remete a tudo o que não for regulamentado
por leis complementares, decretos legislativos ou resoluções (LENZA, 2011).

71
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

Nos seus processos legislativos, as duas espécies possuem três fases


distintas:

• iniciativa, na qual o processo é deflagrado;


• constitutiva, quando as propostas de leis são discutidas e votadas pelos
parlamentares, momento em que o Poder Executivo também se manifesta por
meio da sanção ou do veto da proposta em questão;
• complementar, que se refere à promulgação e à publicação da matéria.

Ambas as espécies se destinam a editar normas gerais e abstratas com o


intuito de regulamentar aquelas que estão presentes na Constituição (LENZA,
2011).

De acordo com Moraes (2014), são duas as diferenças existentes entre


as leis ordinárias e as leis complementares. A primeira corresponde a uma
diferença material, isto é, apenas as matérias previstas de modo taxativo na
Constituição podem ser objeto de lei complementar, o que justifica por que
determinadas matérias, devidamente elencadas pela Carta Magna, só podem ser
regulamentadas por meio desse tipo de lei. Já a segunda é uma diferença formal,
uma vez que se relaciona com o processo de formação das leis, ou seja, com o
seu processo legislativo, mais especificamente no que tange à votação. Afinal, o
quórum para a aprovação de uma lei ordinária é de maioria simples, de acordo
com a previsão do art. 47 da Constituição, enquanto que, para a aprovação de
uma lei complementar, é de maioria absoluta, nos termos do art. 69 do mesmo
diploma legal (BRASIL, 1988).

A partir dessa explicação, torna-se necessário compreendermos a diferença


entre maioria simples e maioria absoluta de votos:

Nos dois casos, busca-se a maioria, só que, para o quorum de maioria


absoluta, a maioria será dos componentes, do total de membros
integrantes da Casa (sempre um número fixo), enquanto para a
maioria simples a maioria será dos presentes à reunião ou sessão que,
naquele dia de votação, compareceram (LENZA, 2011, p. 531).

Dessa forma, encontramos que maioria absoluta é “[...] o primeiro número


inteiro subsequente à divisão dos membros da Casa Legislativa por dois. Note-
se que, nas votações por maioria absoluta, não devemos nos fixar no número
de presentes, mas sim no número total de integrantes da Casa Legislativa”
(MORAES, 2014, p. 687). Logo, a maioria absoluta de votos sempre corresponderá
a um número fixo, visto que se refere ao número de integrantes da Casa. Por
outro lado, a maioria simples indica tão somente a maioria dos representantes
que estiverem presentes em uma sessão específica.

72
TÓPICO 3 | DO PROCESSO LEGISLATIVO

3 EMENDAS CONSTITUCIONAIS E CLÁUSULAS PÉTREAS


A emenda constitucional configura outra espécie normativa e destina-se,
basicamente, a alterar, acrescentar ou retirar normas do Texto Constitucional. O
dispositivo que versa sobre o tema é o art. 60 da Carta Magna. Vejamos o seu
texto na íntegra:

Art. 60 A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


I — de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados
ou do Senado Federal;
II — do Presidente da República;
III — de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades
da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa
de seus membros. § 1º A Constituição não poderá ser emendada na
vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de
sítio.
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em
ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de
ordem.
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir:
I — a forma federativa de Estado;
II — o voto direto, secreto, universal e periódico;
III — a separação dos Poderes;
IV — os direitos e garantias individuais.
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida
por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma
sessão legislativa (BRASIL, 1988, documento on-line).

No seu corpo, o art. 60 expõe o procedimento de formação de uma emenda


constitucional desde a sua propositura até a promulgação, discutindo quais
matérias não podem ser alteradas por meio dessa espécie normativa e o que deve
ser feito caso o assunto de uma proposta de emenda constitucional seja rejeitada
ou prejudicada (BRASIL, 1988). A seguir, analisaremos cada um dos dispositivos
desse artigo para atingirmos uma melhor compreensão do procedimento que
envolve as emendas constitucionais e em quais situações elas não podem ser
utilizadas.

Primeiramente, insta salientarmos que a emenda constitucional decorre


do trabalho do Poder Constituinte Derivado Reformador, que é responsável pela
alteração do trabalho do Poder Constituinte Originário, o criador da Constituição.
Além disso, em termos jurídicos, o Poder Constituinte Originário é ilimitado, ao
passo que o Poder Constituinte Derivado é condicionado, de modo que se sujeita
a certos limites.

O art. 60, I a III, bem como os seus §§ 2º, 3º e 5º, informam as limitações
formais ou procedimentais relativas à emenda constitucional (LENZA, 2011). Os
incisos I, II e III desse dispositivo se referem à iniciativa de propor uma emenda
à Constituição, que é privada, pois apenas as pessoas elencadas possuem a

73
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

legitimidade necessária à apresentação de uma proposta de emenda constitucional


e, também, é concorrente, visto que todos eles estão legitimados a fazê-lo. Essas
pessoas são um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou
do Senado Federal, o Presidente da República e mais da metade das assembleias
legislativas das unidades da Federação, cada uma a manifestar-se pela maioria
relativa dos seus membros.

Já o art. 60, § 2º, diz respeito ao quórum de aprovação: “A proposta


será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos
respectivos membros” (BRASIL, 1988, documento on-line). Por sua vez, o art.
60, § 3º, dispõe acerca da promulgação, que deve ser realizada pelas mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal com o seu respectivo número de
ordem. Lenza (2011) explica que o número de ordem é o indicativo de quantas
vezes a Constituição foi alterada até aquele determinado momento desde que foi
promulgada a emenda. Ademais, o art. 60, § 5º, determina mais uma limitação
formal ou procedimental, que diz respeito à matéria que foi rejeitada ou tida
por prejudicada e que, dessa forma, não pode ser objeto de nova deliberação na
mesma sessão legislativa.

Com relação à limitação circunstancial já mencionada, encontra-se prevista


no art. 60, § 1º, que determina que a Carta Magna não pode sofrer alterações
em certas ocasiões, pois, nesses casos, o País provavelmente estará vivenciando
momentos de vulnerabilidade e mudanças profundas na maior legislação federal
que intensificariam o agravo. Trata-se das situações de intervenção federal, estado
de defesa e estado de sítio. Por fim, temos a limitação material, que, como o
próprio nome sugere, interessa-se pelas matérias que não podem ser alteradas por
meio de emendas constitucionais justamente por sofrerem a restrição estabelecida
pelo art. 60, § 4º. Denominam-se cláusulas pétreas e são as seguintes: “Forma
federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos
Poderes e os direitos e garantias individuais” (LENZA, 2011, p. 527).

Até o presente momento, em síntese estudamos que, para que haja uma
emenda à Constituição, ela deve ser proposta pelas pessoas que possuem iniciativa
privativa e concorrente. Em seguida, acontece a deliberação acerca do assunto, a
votação e, caso seja aprovada em dois turnos de votação em cada Casa, é enviada
para promulgação. Posteriormente, o Congresso publica a emenda.

UNI

Não podem ser objeto de emenda constitucional por serem cláusulas pétreas:

• a forma federativa de Estado;


• o voto direto, secreto, universal e periódico;
• a separação dos Poderes;
• os direitos e garantias individuais.

74
TÓPICO 3 | DO PROCESSO LEGISLATIVO

4 PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO


O processo legislativo compreende as normas estabelecidas pela própria
Constituição Federal para a criação das espécies normativas, que, conforme
estudamos anteriormente, de acordo com o art. 59 da Carta Magna, são as
seguintes: emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis
delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções.

A respeito do processo legislativo ordinário, Paulo e Alexandrino (2015,


p. 529) ensinam que:

O processo legislativo ordinário é aquele destinado à elaboração


de uma lei ordinária. Como é integrado por todas as fases e
procedimentos, nem sempre presentes nos outros processos
legislativos - que têm possibilidade de ser identificados em qualquer
dos processos legislativos disciplinados pela Constituição Federal,
ele serve de base para a compreensão dos demais [...].

De acordo com Moraes (2014, p. 664), “[...] o procedimento de elaboração


de uma lei ordinária denomina-se processo legislativo ordinário e apresenta as
seguintes fases: fase introdutória, fase constitutiva e fase complementar”.

DICAS

De acordo com Pimenta (2007), existem três espécies de processo legislativo:

1. Ordinário ou comum — elaboração de leis ordinárias.


2. Sumário — elaboração de leis ordinárias em caráter de urgência.
3. Especial — elaboração das demais espécies normativas, tais como emendas à
Constituição, leis complementares, leis delegadas, conversão de medidas provisórias,
decretos legislativos, entre outras.

O processo legislativo ordinário é organizado pela doutrina em três fases.


A fase introdutória, também chamada de fase de iniciativa, dá início ao processo
legislativo. Lenza (2011) afirma que as hipóteses de iniciativa nessa fase podem
ser classificadas em geral, concorrente, privativa, popular, conjunta, do art. 67,
parlamentar ou extraparlamentar.

A hipótese de iniciativa geral abarca o disposto no art. 61, caput, que elenca
as seguintes pessoas como competentes para instaurar um processo legislativo:
“[...] qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado
Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo

75
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República


e aos cidadãos” (BRASIL, 1988, documento on-line). A iniciativa concorrente se
dá quando a Constituição estabelece que compete a mais de uma pessoa a ordem
de dar início ao processo legislativo, como já constatamos a partir da leitura do
dispositivo anteriormente transcrito. A privativa é a hipótese de iniciativa segundo
a qual apenas pessoas podem iniciar o processo legislativo, pois, do contrário, há
vício formal. A iniciativa popular é uma forma pela qual o próprio povo pode
exercer o seu poder sem a intermediação obrigatória de qualquer representante,
como sucede com a apresentação de um projeto de lei. A iniciativa conjunta se
refere às hipóteses em que a Constituição estabelece competência para que várias
pessoas, em conjunto, iniciem o processo legislativo. Já o art. 67 traz, no seu bojo,
o princípio da irrepetibilidade, que diz respeito às hipóteses em que a matéria
do projeto de lei que foi rejeitada só pode ser objeto de novo projeto na mesma
sessão legislativa se houver uma proposta da maioria absoluta dos membros de
qualquer uma das Casas do Congresso Nacional. Por fim, a iniciativa parlamentar
é a que a Constituição prevê para todos os parlamentares que podem apresentar
projetos de lei e a extraparlamentar se refere às prerrogativas que o Chefe do
Poder Executivo, os tribunais superiores, o Ministério Público e os cidadãos
possuem (LENZA, 2011).

Posterior à fase introdutória, situa-se a fase constitutiva:

Nesta fase, uma vez apresentado o projeto de lei ao Congresso Nacional,


haverá ampla discussão e votação sobre a matéria nas duas Casas,
delimitando-se o objeto a ser aprovado ou mesmo rejeitado pelo Poder
Legislativo. Além da atividade legislativa, na chamada deliberação
parlamentar, caso o projeto de lei seja aprovado pelas duas Casas
Legislativas, haverá participação do chefe do Poder Executivo,
por meio do exercício do veto ou da sanção (deliberação executiva)
(PAULO; ALEXANDRINO, 2015, p. 671).

Então, é nessa fase que o projeto de lei toma forma, é discutido por ambas
as Casas do Congresso Nacional, assume caráter de objeto de votação e, após a
deliberação parlamentar, ainda passa pelo crivo da deliberação executiva, que
ocorre por meio da sanção ou do veto. A sanção nada mais é que a concordân-
cia do Presidente da República em relação a um projeto de lei aprovado pelo
Congresso. Se houver manifestação favorável do Chefe do Poder Executivo em
até 15 dias úteis, diz-se que a sanção é expressa. Do contrário, se houver silêncio
durante esse período, a sanção será tácita. Também é possível que seja total ou
parcial, de acordo com a concordância ou não com todo o projeto aprovado pelo
Congresso. O veto, por sua vez, é a discordância do Presidente com o projeto de
lei aprovado pelos parlamentares em até 15 dias úteis, a contar do momento em
que ele recebe o projeto de lei, excluindo-se o dia inicial e incluindo-se o dia do
término (MORAES, 2014).

76
TÓPICO 3 | DO PROCESSO LEGISLATIVO

Por fim, há a fase complementar, integrada pela promulgação e pela pu-


blicação da lei. A promulgação é o ato solene que afirma a existência da lei e
cujo objetivo é atestar a sua existência para que a legislação passe a produzir os
devidos efeitos. Já não faz mais parte do processo de formação da lei, uma vez
que a sua incidência recai sobre a lei já pronta. A publicação, do mesmo modo,
não integra a fase de elaboração da lei, mas é um pressuposto para a sua
eficácia. Para que a lei entre em vigor, faz-se necessário que ela seja publicada
anteriormente. Essa publicação ocorre por meio da divulgação no Diário Oficial
(PAULO; ALEXANDRINO, 2015). Portanto, embora sejam etapas pertencentes
à fase complementar e ocorram após a elaboração da lei em si, possuem caráter
fundamental, pois sem que haja a promulgação e a posterior publicação a lei
não possui validade.

77
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As espécies normativas devem respeitar o processo legislativo que


é determinado de maneira prévia pela Constituição Federal.

• Portanto, é muito importante que você conheça a forma correta de formação


das diferentes espécies normativas existentes.

• Do contrário, isto é, se a norma criada não seguir os parâmetros constitucionalmente


estabelecidos, será considerada formalmente inconstitucional, uma vez que
não obedeceu a forma correta para o seu surgimento.

• Estudamos a distinção entre os procedimentos para a criação de leis ordinárias


e de leis complementares.

• Também conhecemos o procedimento e as matérias passíveis de emenda


constitucional, além de ver o passo a passo do processo legislativo ordinário.

78
AUTOATIVIDADE

1 Assinale a alternativa em que constam as diferenças entre as leis ordinárias


e as leis complementares. 

a) Residual e formal.
b) Substancial e residual.
c) Material e formal.
d) Substancial e material.
e) Formal e convencional.

2 Com relação ao quorum de aprovação das leis, assinale a alternativa correta.

a) Para a aprovação de lei complementar exige-se a maioria simples dos votos.


b) Para a aprovação de lei ordinária exige-se a maioria absoluta dos votos.
c) Para a aprovação de lei complementar exige-se a maioria relativa dos votos.
d) Para a aprovação de lei ordinária exige-se a maioria qualificada dos votos.
e) Para a aprovação de lei complementar exige-se a maioria absoluta dos
votos.

79
80
UNIDADE 2
TÓPICO 4

DO PODER JUDICIÁRIO

1 INTRODUÇÃO
Neste unidade, você vai ler sobre o Poder Judiciário, um dos três Poderes da
União, independentes e harmônicos entre si, conforme o art. 2º da Constituição
Federal. Trata-se de um Poder indispensável e demasiadamente importante
em todo Estado Democrático de Direito. Tal Poder é incumbido de atribuições
altamente relevantes, como, por exemplo, a própria guarda da Constituição
Federal.

Por ser o Poder Judiciário matéria de extrema importância para uma


nação, é importante o estudo da sua organização e respectivas competências.
Serão abordados, neste capítulo, os dispositivos constitucionais que tratam das
disposições gerais acerca do Poder Judiciário. Você vai ler também sobre o quinto
constitucional, as súmulas vinculantes, a reclamação constitucional e o sistema
de precatórios.

2 PODER JUDICIÁRIO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


O Poder Judiciário é um dos três Poderes da União previstos pelo art. 2º
da Constituição Federal de 1988: “Art. 2º São Poderes da União, independentes
e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 1988,
documento on-line). É um Poder essencial para todo Estado Democrático de
Direito. Essa independência e autonomia conferidas ao Poder Judiciário fazem-
no exercer plenamente a sua atribuição. Uma delas, talvez a mais importante,
segundo o art. 102 da própria Carta Magna, é a guarda da Constituição Federal.

O Poder Judiciário é um dos três Poderes clássicos previstos pela doutrina


e consagrado como poder autônomo e independente de importância crescente no
Estado de Direito, pois, como afirma Sanches Viamonte:

81
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

[...] sua função não consiste somente em administrar a Justiça, sendo


mais, pois seu mister é ser o verdadeiro guardião da Constituição,
com a finalidade de preservar, basicamente, os princípios da
legalidade e igualdade, sem os quais os demais tornariam-se vazios.
Esta concepção resultou da consolidação de grandes princípios de
organização política, incorporados pelas necessidades jurídicas na
solução de conflitos (MORAES, 2014, p. 520).

O Poder Judiciário também é uma cláusula pétrea, isto é, trata-se de


matéria que não pode ser alterada por meio de emenda à Constituição, conforme o
disposto no art. 60, § 4º, III (BRASIL, 1988). Conforme mencionado, os três Poderes
da União — Legislativo, Executivo e Judiciário — são independentes entre si.
Porém, de acordo com Paulo e Alexandrino (2015), essa independência em relação
aos Poderes Legislativo e Executivo não é pressuposto fundamental para que se
tenha um Estado de Direito, ao contrário do que ocorre com o Poder Judiciário,
uma vez que, independentemente da forma de governo, seja ele presidencialista
ou parlamentarista, esse Poder deve ser plenamente independente, posto que lhe
é atribuída a guarda da Constituição, além de dar efetividade a princípios como
o da legalidade e da igualdade.

O exercício da atividade jurisdicional do Estado é função típica do Poder


Judiciário, que é caracterizada pela aplicação do Direito ao caso concreto, com o
objetivo de solucionar conflitos. A jurisdição é um poder/dever do Estado, ou seja,
não se admite a justiça privada. O Poder Judiciário no Brasil é dividido de modo
complexo, considerando o fato de ser uma República Federativa, subdividida em
estados-membros. De modo básico, o Poder Judiciário no Brasil está dividido em
duas esferas: as justiças dos estados e a justiça da União, sendo que se subdi-
videm em justiças comuns, justiças especializadas e, ainda, juizados especiais.

De acordo com Lenza (2011), o Poder Judiciário exerce, ainda, funções


atípicas, como:

• a de natureza executivo-administrativa (que seria a organização de suas


secretarias — art. 96, I, b; concessão de férias a seus membros e servidores —
art. 96, I, f );
• a de natureza legislativa (como a criação de regimento interno — art. 96, I, a).

Os artigos que tratam do Poder Judiciário estão presentes no Título IV,


Capítulo III, Seção I a VIII, entre os arts. 92 e 126 do Texto Constitucional. As
disposições gerais a respeito do Poder Judiciário correspondem à Seção I do
Capítulo III, do Título IV, de modo que passamos agora a analisar os principais
artigos. O art. 92 trata sobre os órgãos do Poder Judiciário:

Art. 92 São órgãos do Poder Judiciário:


I — o Supremo Tribunal Federal;
I-A — o Conselho Nacional de Justiça;
II — o Superior Tribunal de Justiça;
II-A — o Tribunal Superior do Trabalho;

82
TÓPICO 4 | DO PODER JUDICIÁRIO

III — os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;


IV — os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V — os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI — os Tribunais e Juízes Militares;
VII — os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios (BRASIL,
1988, documento on-line).

A competência desses órgãos, entretanto, será estudada em tópico específico.


O art. 93 da Constituição Federal dispõe sobre o Estatuto da Magistratura, dizendo
que deverá ser criada Lei Complementar de iniciativa do Supremo Tribunal
Federal (STF) para regular esse assunto, bem como os princípios que devem ser
observados. O art. 94, por sua vez, trata a respeito do quinto constitucional, que
será visto em tópico específico (BRASIL, 1988).

O art. 95 dispõe sobre as garantias dos juízes, que, basicamente, são três
(BRASIL, 1988):

• vitaliciedade;
• inamovibilidade;
• irredutibilidade de subsídio.

A vitaliciedade se refere ao fato de que os juízes não podem perder seus


cargos por decisão administrativa, devendo, para tanto, haver sentença judicial
com trânsito em julgado. Lembramos que, no primeiro grau, a vitaliciedade só se
adquire após dois anos no exercício da função, período no qual a destituição do
juiz dependerá de decisão do tribunal ao qual esteja vinculado. A inamovibilidade
impede que os juízes sejam retirados de seus cargos de modo compulsório, exceto
em caso de interesse público, de decisão tomada pela maioria absoluta de votos
do tribunal que os vincula ou, ainda, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Por fim, a irredutibilidade de subsídio impede que os salários dos juízes sejam
reduzidos, com exceção do disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e
153, § 2º, I (BRASIL, 1988).

O art. 96 trata sobre a competência privativa (BRASIL, 1988):

• dos tribunais;
• do STF;
• dos Tribunais Superiores;
• dos Tribunais de Justiça.

O art. 97 enuncia que: “Art. 97 Somente pelo voto da maioria absoluta de


seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público”.

O art. 98 dispõe sobre a criação de Juizados Especiais e de justiça de paz.


O art. 99 afirma que é assegurada autonomia administrativa e financeira ao Poder
Judiciário. O art. 100, por fim, dispõe sobre o sistema de precatórios, que será
analisado mais adiante.

83
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

O parágrafo único do art. 95 da Constituição Federal impõe certas


vedações aos juízes. São elas:

Art. 95 [...]
Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
I — exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função,
salvo uma de magistério;
II — receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em
processo;
III — dedicar-se à atividade político-partidária;
IV — receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições
de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
exceções previstas em lei;
V — exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes
de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração (BRASIL, 1988, documento on-line).

3 QUINTO CONSTITUCIONAL
O art. 94 da Constituição Federal diz respeito ao quinto constitucional. É
uma inovação trazida pela Carta Magna de 1988 e possui o seguinte enunciado:

Art. 94 Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos


Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto
de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira,
e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com
mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em
lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes
(BRASIL, 1988, documento on-line).

O art. 94 trata, portanto, do que chamamos de quinto constitucional.


Embora o referido artigo só faça menção a determinados tribunais, tal regra
também é válida para os tribunais do trabalho (arts. 111-A, I, e 115, I) e igualmente
para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), conforme art. 104, parágrafo único. Não
podemos dizer, porém, que a regra do quinto constitucional abranja todos os
tribunais brasileiros, pois os tribunais não mencionados possuem procedimentos
próprios (LENZA, 2011).

DICAS

Chamamos de quinto constitucional porque a Constituição Federal determina


que um quinto das vagas dos tribunais mencionados sejam preenchidas pelos membros do
Ministério Público e advogados que possuam os requisitos elencados, quais sejam:
• mais de 10 anos de carreira, no caso dos membros do Ministério Público;
• mais de 10 anos de efetiva atividade profissional, no caso dos advogados, que também
devem possuir notório saber jurídico e reputação ilibada.

84
TÓPICO 4 | DO PODER JUDICIÁRIO

Segundo Paulo e Alexandrino (2015):

Temos, enfim, o seguinte procedimento: os órgãos de representação


das classes dos advogados ou do Ministério Público indicam seis
nomes que preencham os mencionados requisitos (lista sêxtupla); em
seguida, o tribunal para o qual foram indicados escolhe três dos seis
nomes (lista tríplice); nos vinte dias subsequentes, o Chefe do Executivo
(Governador do Estado, caso se trate de Tribunal de Justiça estadual;
Presidente da República, nos casos de Tribunal Regional Federal,
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios e Tribunais de
Justiça do Trabalho) escolherá um dos três para nomeação (PAULO;
ALEXANDRINO, 2015, p. 724).

Trata-se de um tema polêmico, de certa forma, pois envolve a indicação


de membros. Há pessoas que são contra e defendem o ingresso na magistratura
apenas por meio de concursos públicos, enquanto outras defendem ser um bom
sistema, visto que é necessário, em ambos os casos (membros do Ministério
Público e advogados), que os indicados contem com mais de 10 anos de exercício
em suas respectivas funções.

4 SÚMULA VINCULANTE
Abordaremos, agora, a súmula vinculante. O art. 103-A da Constituição
Federal versa a respeito da função exercida pela súmula:

Art. 103-A O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por


provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após
reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que,
a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante
em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem
como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida
em lei. § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a
eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia
atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública
que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos sobre questão idêntica. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser
estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula
poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula
aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao
Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato
administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará
que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme
o caso (BRASIL, 1988, documento on-line).

Podemos dizer que as súmulas vinculantes têm força de lei. Tal tema foi
regulamentado pela Lei nº. 11.417, de 19 de dezembro de 2006.

A súmula vinculante foi inserida na Constituição Federal pela Emenda nº


45, de 30 de dezembro de 2004. É um enunciado do STF, que surge após várias
decisões reiteradas sobre determinada matéria constitucional. Dizemos que essas

85
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

súmulas possuem efeito vinculante, pois passam a vincular os outros órgãos do


Poder Judiciário, que deverão, necessariamente, segui-las em suas decisões. A
partir de sua publicação, também passa a vincular os órgãos da Administração
Pública direta e indireta, em todas as esferas: federal, estadual e municipal.

O surgimento das súmulas vinculantes se deu pela necessidade de unifor-


mização das jurisprudências, pois os tribunais, de acordo com o princípio da
igualdade, devem decidir casos semelhantes de forma igualitária, o que gera
maior segurança jurídica (MORAES, 2014) e, também, maior confiança por parte
da sociedade no Poder Judiciário.

DICAS

Somente as súmulas editadas pelo STF terão efeito vinculante. Os demais


tribunais podem editar súmulas, mas elas apenas documentarão o sentido das decisões
da referida Corte, sem vincular demais órgãos do Poder Judiciário. Ainda, ressaltamos que,
para que a súmula do STF se torne vinculante, é necessária a aprovação de, ao menos, oito
dos 11 ministros que integram a Corte em questão.

5 RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL
A reclamação constitucional é um instrumento jurídico que visa
resguardar a competência do STF, de forma a garantir a supremacia de suas
decisões. Existem três hipóteses de cabimento, sendo que as duas primeiras são
(BRASIL, 2014):

• preservar a competência do STF — quando algum juiz ou tribunal,


usurpando a competência estabelecida no art. 102 da Constituição
Federal, processa ou julga ações ou recursos de competência do STF;
• garantir a autoridade das decisões do STF — quando decisões mono-
cráticas ou colegiadas do STF são desrespeitadas ou descumpridas
por autoridades judiciárias ou administrativas.

A terceira hipótese de cabimento está relacionada aos casos de decisão


judicial ou ato administrativo contrário à súmula vinculante ou, ainda, que
venham a negar-lhe vigência ou sejam aplicadas de forma indevida. Nesses
casos, será cabível reclamação ao STF. Importante frisar que, nesse caso, não há
prejuízo dos demais recursos e meios de impugnação cabíveis. Havendo omissão
ou ato da Administração Pública, a reclamação é cabível após se esgotarem as
demais vias administrativas. Se o STF decidir pela procedência da reclamação,
anulará a decisão ou o ato reclamado, determinando que outro seja tomado, com
a aplicação da súmula ou não, a depender do caso concreto (LENZA, 2011).

86
TÓPICO 4 | DO PODER JUDICIÁRIO

UNI

Saiba mais sobre a reclamação constitucional, as suas hipóteses de cabimento


e outros detalhes no link abaixo.
https://goo.gl/QLc543

6 PRECATÓRIO JUDICIAL
O precatório judicial está disposto no art. 100 da Constituição Federal,
que já foi alterado algumas vezes por meio de algumas emendas constitucionais.
O caput do art. 100 disserta que:
Art. 100 Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,
Esta- duais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária,
far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos
precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação
de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos
adicionais abertos para este fim (BRASIL, 1988, documento on-line).

Segundo Lenza (2011), o precatório judicial consiste em um instrumento


por meio do qual se cobra um débito do Poder Público. Trata-se de um sistema
criado para que seja feito o pagamento dos débitos das Fazendas Públicas. De
acordo com o art. 100, § 5º, da Constituição Federal, as entidades de Direito Público
são obrigadas a incluir, nos seus orçamentos, a verba necessária para o pagamento
de seus débitos provenientes de sentenças transitadas em julgado constantes de
precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até
o final do exercício seguinte, quando terão os seus valores atualizados moneta-
riamente (BRASIL, 1988). De acordo com o § 3º do mesmo dispositivo legal:

Art. 100 [...]


§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de
precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em
leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer
em virtude de sentença judicial transitada em julgado (BRASIL, 1988,
documento on-line).

Existe uma ordem a ser cumprida para o pagamento dos precatórios:


pri- meiramente, devem ser pagos os de natureza alimentícia especiais, que são
aqueles cujos titulares possuam 60 anos ou mais ou portem alguma doença grave,
até o valor que equivalha ao triplo fixado pela lei como obrigação de pequeno
valor; em segundo lugar, os demais débitos de natureza alimentícia que não se
enquadrem nas condições citadas. Por último, os que não possuam natureza
alimentícia (PAULO; ALEXADRINO, 2015).

87
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

O precatório é, portanto, a forma que o Poder Público tem para ver os seus
débitos cobrados. Além disso, é preciso respeitar a ordem mencionada ao realizar
seu pagamento.

7 ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO


Conforme visto, de acordo com o art. 92 da Constituição Federal, são
órgãos do Poder Judiciário (BRASIL, 1988):

• o STF;
• o CNJ;
• o STJ;
• o Tribunal Superior do Trabalho;
• os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
• os Tribunais e Juízes do Trabalho;
• os Tribunais e Juízes Eleitorais;
• os Tribunais e Juízes Militares;
• os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

De acordo com Lenza (2011), o STF e os Tribunais Superiores (STJ, Tribunal


Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral e Superior Tribunal Militar) são
órgãos de convergência, visto que cada uma das justiças especializadas possui o
seu próprio Tribunal Superior. Todos os Tribunais Superiores convergem apenas
ao STF. Apesar de o STF e o STJ serem órgãos de convergência, também são órgãos
de superposição. Afinal, as suas decisões se sobrepõem às proferidas pelos órgãos
inferiores, quer sejam da Justiça Comum ou Especial.

Ou seja, além dos órgãos de superposição, que são o STF e o STJ, existem
também as demais justiças, que, a seu turno, subdividem-se em comum e especial.
A Justiça Comum é composta por (LENZA, 2011):

• Justiça Federal;
• Justiça do Distrito Federal e territórios;
• Justiça Estadual Comum.

A Justiça Especial é composta por (LENZA, 2011):

• Justiça do Trabalho;
• Justiça Eleitoral;
• Justiça Militar da União;
• Justiça Militar dos estados, do Distrito Federal e territórios.

É importante mencionar, também, a criação do CNJ, por meio da Emenda


Constitucional nº. 45/2004. Tal órgão, apesar de integrar a estrutura do Poder
Judiciário, não é dotado de jurisdição. É composto por 15 membros, que pos-
suem mandato de dois anos, sendo admitida uma recondução. São membros
integrantes do CNJ, de acordo com o art. 103-B:
88
TÓPICO 4 | DO PODER JUDICIÁRIO

Art. 103-B [...]


I — o Presidente do Supremo Tribunal Federal;
II — um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo
respectivo tribunal;
III — um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo
respec- tivo tribunal;
IV — um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo
Supremo Tribunal Federal;
V — um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
VI — um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior
Tribunal de Justiça;
VII — um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
VIII — um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo
Tribunal Superior do Trabalho;
IX — um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
X — um membro do Ministério Público da União, indicado pelo
Procurador-Geral da República;
XI — um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo
Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão
competente de
cada instituição estadual;
XII — dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem
dos Ad- vogados do Brasil;
XIII — dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada,
indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal
(BRASIL, 1988, documento on-line).

Segundo Paulo e Alexandrino (2015), cabe ao CNJ apenas a função de


realizar o controle da função administrativa e financeira do Poder Judiciário,
além de fiscalizar se os deveres funcionais são cumpridos.

Também é válido mencionar acerca dos Juizados Especiais. Eles se sub-


dividem em Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Os Juizados Especiais Cíveis se
dedicam a julgamentos de pedidos de reparação por danos que não ultrapassem
40 salários-mínimos; já os Juizados Criminais se dedicam à resolução de delitos
de pouca gravidade. Lenza (2011, p. 656) afirma que:

Em se tratando de Juizados Especiais, de acordo com a lei, o segundo


grau de jurisdição é exercido pelas Turmas Recursais, compostas
por três juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição,
reunidos na sede do Juizado (Colégio Recursal) (cf. arts. 41, § 1º, e 82
da Lei 9.099/95).

De acordo com Bottini (2006, documento on-line):

Desde sua origem, nos anos 80, os Juizados mostraram que é


fundamental e viável trabalhar com um novo modelo de Justiça,
orientado pelos princípios da eficiência, da oralidade, da informalidade
e da busca de solução de conflitos pela conciliação. Seu surgimento não
significou a mera criação de novos órgãos judiciais, mas a consagração
de uma nova cultura, de um novo modelo, que prioriza uma atuação
dos órgãos jurisdicionais voltada estritamente para sua finalidade
última e essencial: a superação de contro- vérsias. Assim, os Juizados

89
UNIDADE 2 | DOS PODERES DO ESTADO

trazem, em realidade, uma nova metodologia de fazer Justiça, um


novo sistema processual, com suas próprias bases principiológicas,
com seus próprios institutos dogmáticos, que marcam a superação da
processualística clássica e tradicional e de uma estrutura ensimesmada,
com notáveis dificuldades para exercer suas funções típicas.

Na verdade, de acordo com o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande


do Sul:

Os Juizados Especiais Surgiram no Rio Grande do Sul em 1982 —


por iniciativa do Desembargador Antonio Guilherme Tanger Jardim,
então Juiz de Direito da Comarca de Rio Grande — entrando em
funcionamento pela primeira vez naquela Comarca com o nome de
Juizados de Pequenas Causas.

Porém, foi a partir da Lei Federal nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que
os Juizados Especiais foram estendidos a todo o território nacional. De acordo
com o art. 2º da referida lei: “Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da
oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação”.

Ou seja, os Juizados Especiais visam simplificar a solução de conflitos,


dando preferência, sempre que possível for, à conciliação e à transação. Por
essa razão, prima pela oralidade, informalidade e celeridade, o que conse-
quentemente acaba gerando uma economia processual e acaba sendo bem mais
simples. Destacamos ainda que os Juizados Especiais têm competência tanto na
esfera estadual (Lei nº. 9.099/1995) quanto na federal (Lei nº. 10.259, de 12 de julho
de 2001), sendo que:

Há alguns pontos que diferenciam o Juizado Estadual do Federal, a


exemplo do valor da causa: no Juizado dos Estados, as causas que não
ultrapassem a vinte salários-mínimos, não necessitam de advogado;
todavia, se maior que vinte até quarenta salários-mínimos, a parte
deverá ter advogado. Nos Juizados Especiais Federais, as causas não
podem ultrapassar a sessenta salários-mínimos e, de conformidade
com o art. 10, as partes poderão indicar, “por escrito, representantes
para a causa, advogado ou não”. Se no Juizado Estadual há a exigência
de advogado para causas acima de vinte salários-mínimos, na Justiça
Federal não existe este requisito e a parte pode indicar qualquer pessoa
de sua confiança (CARDOSO, 2017, documento on-line).

Os Juizados Especiais são, portanto, importantes órgãos do Poder


Judiciário, pois visam proporcionar a todos os integrantes da sociedade que
solucionem seus conflitos de forma rápida e eficiente, a depender da complexidade
do conflito. Foi uma importante implementação ao sistema jurídico brasileiro,
pois alivia o Judiciário, fazendo as causas mais simples poderem ser resolvidas
com maior celeridade.

90
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Poder Judiciário é um dos três Poderes da União previstos pelo art. 2.º da


Constituição Federal de 1988: “Art. 2.º São Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. 

• Os artigos que tratam do Poder Judiciário estão presentes no Título IV,


Capítulo III, Seções I a VIII, entre os arts. 92 e 126 do texto constitucional, tema
importante no estudo do Direito.

• Afinal, o Poder Judiciário é o responsável por solucionar os conflitos da


sociedade.

• Aprendemos um pouco mais sobre os dispositivos constitucionais que tratam


das disposições gerais acerca do Poder Judiciário.

• Vimos também sobre o quinto constitucional, as súmulas vinculantes, a


reclamação constitucional e o sistema de precatórios.

CHAMADA

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91
AUTOATIVIDADE

1 Com relação ao Poder Judiciário, assinale a alternativa correta.

a) É um Poder independente, ao lado do Poder Executivo.


b) É um Poder da União, ao lado dos Poderes Executivo e Legislativo, porém
nenhum deles goza de independência.
c) Ao lado do Poder Executivo e Legislativo, o Poder Judiciário é um Poder da
União e todos são independentes e harmônicos entre si.
d) É um Poder independente, ao lado do Poder Legislativo.
e) Ao lado dos Poderes Executivo e Legislativo, o Poder Judiciário integra os
Poderes da União; porém, apenas ele é independente.

2 De acordo com o que você aprendeu acerca do quinto constitucional,


marque a alternativa correta.

a) Para que o membro do Ministério Público seja indicado para compor a lista
sêxtupla, deve ter mais de cinco anos de exercício na função.
b) Para que um advogado seja indicado para compor a lista sêxtupla, deve ter
mais de dez anos de atividade profissional, não sendo necessário que tenha
conduta ilibada.
c) Quem escolhe os três nomes que irão compor a lista tríplice é o Chefe do
Executivo.
d) O Presidente do Tribunal é o responsável por escolher, a partir da lista
tríplice, o nome do membro a ser nomeado.
e) O Chefe do Executivo é o responsável por escolher, a partir da lista tríplice,
o nome do membro a ser nomeado.

92
UNIDADE 3

INSTANCIAS SUPERIORES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• Reconhecer o Supremo Tribunal Federal como órgão guardião da


Constituição Federal.
• Explicar o que é a força normativa da constituição.
• Descrever as competências constitucionais atribuídas à Suprema
Corte.
• Analisar a composição e as competências do Supremo Tribunal 
Federal e do Superior Tribunal de Justiça.
• Definir repercussão geral.
• Explicar o que são os recursos extraordinário, especial e ordinário.
• Explicar o funcionamento da seguridade social e da Previdência 
Social no Brasil.
• Analisar os dispositivos constitucionais que tratam de educação,
cultura e desporto.
• Justificar a importância do incentivo do Estado nas áreas de ciência,
tecnologia e inovação.
• Definir o conceito de empreendedorismo social.
• Identificar as características do empreendedor social.
• Analisar as semelhanças entre as ações do empreendedorismo social.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em quatro tópicos. Em cada um deles você
encontrará diversas atividades que o(a) ajudarão na compreensão das
informações apresentadas.

TÓPICO 1 – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

TÓPICO 2 –
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

TÓPICO 3 – DA ORDEM SOCIAL

TÓPICO 4 – EMPREENDEDORISMO SOCIAL

93
CHAMADA

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94
UNIDADE 3
TÓPICO 1

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

1 INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 traz um sistema normativo e as disciplinas
de funcionamento de todo o território brasileiro. Os estados e municípios
brasileiros possuem as suas leis próprias, que devem estar em consonância com a
Constituição Federal. Com o passar do tempo e a evolução da sociedade brasileira,
as normas devem se adaptar às questões sociais, por meio de legislações novas ou
de decisões judiciais que dão aplicações diferentes à legislação.

Nesta unidade, você vai reconhecer o Supremo Tribunal Federal (STF)


como órgão guardião da Constituição Federal. Vai ver também que, por meio
da força normativa da constituição, as leis infraconstitucionais devem ter como
fio condutor a Constituição Federal. Por fim, serão descritas as competências
constitucionais atribuídas à Suprema Corte brasileira.

2 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO ÓRGÃO GUARDIÃO


DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Para se reconhecer o STF como órgão guardião da Constituição Federal,
é necessário voltarmos a sua criação já na fase republicana do País, uma vez que:

O Supremo Tribunal Federal foi criado pelo Decreto nº 510, de


22/6/1890, sendo regulamentado em nível constitucional em 1891,
pelo Decreto nº 848, de 11 de outubro, sucedendo ao antigo Supremo
Tribunal de Justiça, que por sua vez foi o sucessor da antiga Casa de
Suplicação. [...]. Na Constituição de 1891, o seu número era de quinze;
no texto de 1934, o número era de onze, que também era o estipulado
nas Cartas de 1937 e 1946. O Ato Institucional nº 2, de 1965, no seu art.
6º, aumentou o número para dezesseis ministros, aceito pela Carta de
1967. O Ato Institucional nº 6, de 1969, no seu art. 1º, voltou a diminuir
o número para onze, quantidade esta adotada pela Carta de 1988
(AGRA, 2018, p. 596–597).

95
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

Quando analisamos o Decreto nº 848, de 18 de outubro de 1890, verifica-


mos que o STF, já na sua criação, tinha como função precípua ser guardião da
Constituição Federal, conforme alíneas b e c do parágrafo único do inciso I do
art. 9º:

Art. 9º [...]
I. [...]
Paragrapho único. [...]
b) quando a validade de uma lei ou acto de qualquer Estado seja
posta em questão como contrário á Constituição, aos tratados e ás leis
federais e a decisão tenha sido em favor da validade da lei ou acto;
c) quando a interpretação de um preceito constitucional ou de lei
federal, ou da clausula de um tratado ou convenção, seja posta em
questão, e a decisão final tenha sido contraria, á validade do título,
direito e privilégio ou isenção, derivado do preceito ou clausula
(BRASIL, 1890, documento on-line).

Assim, percebemos que, nos exemplos citados, o STF era a última palavra,
em grau de recurso, quando algum tribunal ou juízes dos estados julgavam, de
forma contrária, à Constituição Federal ou quando uma interpretação de um
preceito constitucional puder levar à perda de direitos.

No que tange à Constituição Federal (BRASIL, 1988), o STF está


fundamentado nos arts. 101 a 103, que estabelecem:

• art. 101 — a composição do órgão;


• art. 102 — as competências originárias e em grau de recurso;
• art. 103 — os legitimados a propor Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
e a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC);
• art. 103-A — a aprovação de súmulas;
• art.103-B — a composição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que tem como
função, entre outras, a fiscalização do Poder Judiciário; na sua composição, está
o presidente do STF e outro ministro do STF, indicado pelo respectivo tribunal.

Como indica o caput do art. 102 da Constituição Federal, a função precípua


do STF é a guarda da Constituição Federal. Isso inspira a sua competência
(FERREIRA FILHO, 2012).

A República Federativa do Brasil, ao formar uma Constituinte para


elaborar a Constituição Federal, também discutiu a elaboração de uma Corte
Constitucional:

Acabou por permitir que o Supremo Tribunal Federal não só


mantivesse a sua competência tradicional, com algumas restrições,
como adquirisse novas e significativas atribuições. A Constituição de
1988 ampliou significativamente a competência originária do Supremo
Tribunal Federal, especialmente no que concerne ao controle de
constitucionalidade de leis e atos normativos e ao controle da omissão
inconstitucional (MENDES, 2015, p. 980–981).

96
TÓPICO 1 | SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

A Constituição Federal expressa, como supracitado, as competências


do STF, mas ressaltamos que o Brasil utiliza dois sistemas de jurisdição cons-
titucional: o norte-americano e o europeu. Conforme Silva (2014, p. 557):

A jurisdição constitucional emergiu historicamente como um


instrumento de defesa da Constituição, não da constituição considerada
como um puro nome, mas da Constituição tida como expressão de
valores sociais e políticos. Essa é uma questão fundamental, que se
coloca em respostas aos tipos de ataques que a Constituição pode
sofrer, surgindo disso dois sistemas: o norte-americano e o europeu.

DICAS

O sistema de jurisdição constitucional norte-americano trabalha com a ideia


de controle difuso, no qual é aplicado critério de natureza técnico-jurídica, ou seja, não
é exclusiva do STF a análise de constitucionalidade, pois pode ser realizada por qualquer
juiz no exercício da jurisdição. O sistema de jurisdição constitucional europeu dispõe da
ideia de controle constitucional concentrado, em que há análise política e ideológica da
Constituição Federal.

Assim:

O Tribunal possui natureza híbrida. Titulariza competências recursais,


à moda da Suprema Corte dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em
que exerce o controle concentrado de constitucionalidade, nos moldes
dos tribunais constitucionais europeus. A competência para tratar de
matérias constitucionais, na visão de José Afonso da Silva (2005a), não é
suficiente para converter o Supremo em autêntica corte constitucional,
seja por não exercer a jurisdição constitucional com exclusividade,
seja pela forma de recrutamento de seus membros, a sinalizar para
decisões pautadas por critérios técnico-jurídicos. Em sentido diverso,
Gilmar Mendes (1990) afirma que a gradual evolução do sistema de
controle difuso para o modelo de controle concentrado reforça seu
caráter de tribunal constitucional (NOVELINO, 2016, p. 689).

Nesse sentido, demonstraremos o intuito da criação do STF desde a sua


criação a partir da fase republicana do Brasil, bem como a sua fundamentação para
o reconhecimento como guardião da Constituição Federal. Para a compreensão
e o entendimento dessa guarda, passaremos à análise da força normativa da
Constituição Federal e depois serão descritas as competências atribuídas à
Suprema Corte.

97
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

3 FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


Para explicar a força normativa da Constituição Federal, primeiramente
cabe esclarecer que o tema é bastante extenso e complexo, uma vez que não resta
analisado apenas por uma área do Direito. Assim, neste capítulo, em apertada
síntese, demonstraremos e explicaremos a força normativa, de forma que
possamos compreender o motivo pelo qual o STF é o guardião da Constitui- ção
Federal, bem como a relação da força normativa com as competências atribuídas
à Suprema Corte.

Verificamos, do estudo da doutrina, que há uma evolução no conceito de


Constituição Federal, o que, aos poucos, aproxima a ordem máxima de um país e
do seu povo. Para Scalabrin e Santanna (2018, p. 15):

De fato, a concepção inicial (de que a Constituição é mero pedaço


de papel) foi superada para afirmar que a Constituição não é apenas
condicionada por fatores sociais, mas também pode influenciar e
modificar positivamente tais fatores. A Constituição tem, pois, uma
pretensão de eficácia social. Ela é dotada de força normativa. Noutras
palavras, a Constituição, enquanto documento escrito, enquanto
integrante da ordem jurídica, tem também (e não só) um objetivo
cogente: regular a sociedade, atribuindo direitos, impondo limites aos
poderes instituídos (limitações ao Estado).

A força normativa da Constituição Federal, em um olhar sociológico,


expressa a ideia de que a Constituição Federal está em sintonia com os interesses
sociais dominantes da sociedade, pois:

Se uma Constituição não estiver em sincronia com os interesses


dominantes, as elites sociais podem transformá-la em uma folha de
papel, sem importância alguma, retirando qualquer possibilidade
de concretude normativa. Havendo uma modificação nas classes
dominantes, também deve haver uma alteração na Lei Maior; caso
contrário, ela não valerá nada. Sempre que houver um antagonismo
entre a norma e o fato social, segundo a teoria sociológica, este último
preponderará sobre o primeiro (AGRA, 2018, p. 85).

A força normativa da Constituição Federal também é analisada pela seara


principiológica, tendo em vista que se trata de um princípio de interpretação da
Constituição Federal:

[...] esse princípio impõe que, na interpretação constitucional, seja dada


prevalência aos pontos de vista que, tendo em conta os pressupostos
da Constituição (normativa), possam contribuir para uma eficácia
ótima da Lei Fundamental. Segundo esse postulado, o intérprete
deve valorizar as soluções que possibilitem a atualização normativa, a
eficácia e a permanência da Constituição. Enfim, o intérprete não deve
negar eficácia ao texto constitucional, mas sim lhe conferir a máxima
aplicabilidade (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 71).

Merece grande destaque, quando se trata de força normativa da


Constituição Federal, o que traçou e construiu o doutrinador e professor Konrad

98
TÓPICO 1 | SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Hesse, uma vez que elevou o Texto Constitucional a um dever-ser para sociedade,
quando em trabalho. A força normativa da Constituição Federal dispõe:

A Constituição não configura, portanto, apenas expressão de um ser,


mas também de um dever ser; ela significa mais do que o simples
reflexo das condições fáticas de sua vigência, particularmente as
forças sociais e políticas. Graças à pretensão de eficácia, a Constituição
procura imprimir ordem e conformação à realidade política e social.
Determinada pela realidade social e, ao mesmo tempo, determinante
em relação a ela, não se pode definir como fundamental nem a pura
normatividade, nem a simples eficácia das condições sócio-políticas
e econômicas. A força condicionante da realidade e a normatividade
da Constituição podem ser diferençadas; elas não podem, todavia, ser
definitivamente separadas ou confundidas (HESSE, 1991, documento
on-line).

Assim, as normas contidas na Constituição Federal devem ser cumpridas


sob pena de cumprimento forçado em razão de serem dotadas de imperativi-
dade e pelo seu status de norma jurídica, mas não se pode enrijecer o texto
constitucional, pois como acima demonstrado, a Constituição Federal deve
acompanhar as transformações sociais. Tal ideia se coaduna com a chamada
Constituição aberta: “Grande parte dos publicistas vem anunciando a ideia
de uma Constituição aberta, no sentido de que ela possa permanecer dentro de
seu tempo e, assim, evitar o risco de desmoronamento de sua força normativa”
(LENZA, 2015, p. 143).

Nesse viés, a Constituição Federal respeita o contexto de ser uma


Constituição aberta, mas deve ser respeitado o procedimento de Emenda
Constitucional. Assim, a Constituição Federal expressa os direitos fun-
damentais e é:

[...] inquestionável força normativa de suas disposições — refletiu com


grande impacto sobre as relações entre os indivíduos e o Poder Público.
O indivíduo já não é mais súdito, e sim cidadão. O Estado, por todos
os seus órgãos e entidades, age por delegação do povo, afinal, e por
isso mesmo deve prestar contas de sua atuação. Vale dizer: o Estado
é instrumento e não mais fim em si mesmo. Nesse novo contexto,
as ideias de subordinação irrestrita dos indivíduos e de supremacia
absoluta do interesse público — identificado como o interesse do ente
estatal — sobre os particulares não podem sobreviver sem grandes
adaptações (BARCELLOS, 2018, p. 427).

DICAS

A força normativa da Constituição Federal pode ser interpretada como


fundamento da democracia, pois restam constituídas na norma constitucional as mudanças
sociais e, por consequência, a vontade do povo, que, por meio da soberania popular e pelo
sufrágio universal, elegeu seus representantes e estes expressam seus interesses na criação
e/ou modificação das normas.

99
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

Para Hesse (1991, documento on-line):

Finalmente, a Constituição não deve assentar-se numa estrutura


unilateral, se quiser preservar a sua força normativa num mundo
em processo de permanente mudança político-social. Se pretende
preservar a força normativa dos seus princípios fundamentais, deve
ela incorporar, mediante meticulosa ponderação, parte da estrutura
contrária. Direitos fundamentais não podem existir sem deveres, a
divisão de poderes há de pressupor a possibilidade de concentração
de poder, o federalismo não pode subsistir sem uma certa dose de
unitarismo. Se a Constituição tentasse concretizar um desses princípios
de forma absolutamente pura, ter-se-ia de constatar, inevitavelmente —
no mais tardar em momento de acentuada crise — que ela ultrapassou
os limites de sua força normativa. A realidade haveria de pôr termo à
sua normatividade; os princípios que ela buscava concretizar estariam
irremediavelmente derrogados.

Ademais, é pela força normativa que as normas — como exemplo os


direitos fundamentais, que estão expressos no art. 5º da Constituição Federal
— tornam-se providas de imperatividade e, assim, podem ser invocadas por
qualquer pessoa no que tange a sua oferta e garantia. Novelino (2016, p. 58):

Com o reconhecimento definitivo da força normativa da constituição,


todos os seus dispositivos passam a impor limites materiais também
ao Legislador, em especial, no que se refere à observância dos direitos
fundamentais, retirados da esfera de discricionariedade da política
ordinária.

Nesse contexto, passamos a descrever as competências atribuídas à


Suprema Corte por meio da Constituição Federal.

DICAS

Na história do STF, já houve casos de ministros que não eram bacharéis em


Direito. Floriano Peixoto, com base na Constituição Federal de 1891, que trazia como
requisito apenas o notável saber, nomeou o médico Barata Ribeiro e os generais Inocêncio
Galvão de Queiroz e Raymundo Ewerton de Quadros (AGRA, 2018).

4 COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS ATRIBUÍDAS A


SUPREMA CORTE
As competências constitucionais atribuídas ao STF estão dispostas no art.
102 da Constituição Federal (BRASIL, 1988, documento on-line): “Art. 102 Compete
ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-
lhe:”. Para um melhor entendimento deste capítulo, o art. 102 da Constituição
Federal será dividido conforme as suas competências:

100
TÓPICO 1 | SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

• originárias;
• recursal ordinária;
• recursal extraordinária.

As competências originárias são aquelas em que:

[...] apenas o Supremo tem a prerrogativa para solucionar o caso,


cabendo das suas decisões unicamente a ação rescisória e os embargos
declaratórios. Como exemplo, podem ser apontados o conflito de
competências entre tribunais superiores, o julgamento de algumas
infrações com foro privilegiado relativo à dignidade da função etc.
Em razão da complexidade e da essencialidade das matérias postas à
apreciação originária, seu elenco é exaustivo (AGRA, 2018, p. 598-599).

Conforme Constituição Federal (BRASIL, 1988, documento on-line):

Art. 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a


guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I — processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal
ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou
ato normativo federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 3, de 1993)
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios
Ministros e o Procurador-Geral da República;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e
da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes
de missão diplomática de caráter permanente; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 23, de 1999)
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas
nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data
contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União,
do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal
Federal;
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a
União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o
Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas
entidades da administração indireta;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando
o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos
estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal
Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma
única instância; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 22,
de 1999)
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da
autoridade de suas decisões;
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária,
facultada a delegação de atribuições para a prática de atos
processuais;

101
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou


indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos
membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta
ou indiretamente interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e
quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e
qualquer outro tribunal;
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de
inconstitucionalidade;
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma
regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do
Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,
das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas
da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo
Tribunal Federal;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o
Conselho Nacional do Ministério Público; (Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

Cabem alguns destaques para o entendimento do inciso I do art. 102.


A alínea a está fundamentada nas formas de provocação do STF para fins de
controle concentrado:

• ADC de lei ou ato normativo federal;


• ADI de lei ou ato normativo federal ou estadual.

Nessa senda, referente ao controle disposto na Constituição Federal,


citamos:

• Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) de lei ou ato


das esferas federal, estadual ou municipal no art. 102, § 1º;
• Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO), no caso de não serem
tomadas as medidas necessárias para tornar efetiva norma constitucional,
conforme art. 103, § 2º.

Todas as formas citadas podem ser analisadas por meio de pedido


cautelar, conforme art. 102, I, p.

Na alínea b, os crimes de responsabilidade são aqueles em que o Presidente


pratica no exercício do seu cargo, estando dispostos no art. 85 da Constituição
Federal (BRASIL, 1988). Nesses casos, o julgamento será realizado não pelo STF,
mas sim pelo Senado Federal.

Os crimes de responsabilidade também são de competência do STF em


recurso ordinário e ocorrem em duas situações:

102
TÓPICO 1 | SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

102 [...]
II — julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o
mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais
Superiores, se denegatória a decisão;
b) o crime político (BRASIL, 1988, documento on-line);

Os crimes de responsabilidade são também de competência do STF em


sede de recurso extraordinário (BRASIL, 1988, documento on-line):

102 [...]
III — julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em
única ou última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (Incluída
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental,
decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal
Federal, na forma da lei. (Transformado em § 1º pela Emenda
Constitucional nº 3, de 17/03/93) § 2º As decisões definitivas de mérito,
proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade
produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a
repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos
termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso,
somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus
membros. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Restou demonstrado neste capítulo que o STF é o guardião da Constituição


Federal e o significado da força normativa constitucional. Por fim, foram
abordadas as competências atribuídas à Suprema Corte brasileira.

103
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• O Supremo Tribunal Federal tem uma função primordial na história da


República do Brasil, uma vez que é o guardião da Constituição Federal, ou
seja, a última palavra em relação a leis dentro do Brasil é dada pelo Supremo
Tribunal Federal, conforme o que estabelece a Constituição Federal de 1988,
quando determina os limites e as suas competências.

• Ocorre que, com o passar do tempo e a evolução da sociedade brasileira, as


normas devem se adaptar às questões sociais, seja por meio de legislações
novas ou de decisões judiciais que dão aplicações diferentes à legislação.

• E, assim, por vezes, o Supremo Tribunal Federal é provocado a se manifestar


sobre tais mudanças.

• Vimos que o Supremo Tribunal Federal como órgão guardião da Constituição


Federal, bem como que é por meio da força normativa da constituição que as
leis infraconstitucionais devem ter como fio condutor a Constituição Federal.

• Por fim, vimos as competências constitucionais atribuídas à  Suprema Corte


Brasileira.

104
AUTOATIVIDADE

1 Segundo a Constituição Federal de 1988, compete, originariamente, ao


Supremo Tribunal Federal  processar e julgar:​​​​​​​

a) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, o Presidente


da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus
próprios Ministros e o Procurador-Geral da República.
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente,
os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-
Geral da República.
c) nas infrações penais comuns, somente o Presidente da República e o Vice-
Presidente. Os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e
o Procurador-Geral da República são de competência do Superior Tribunal
de Justiça.
d) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, somente o
Presidente da República e o Vice-Presidente. Os membros do Congresso
Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República são
de competência do Superior Tribunal de Justiça.
e) nas infrações penais comuns, somente o Presidente da República e o Vice-
Presidente. Os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e
o Procurador-Geral da República são de competência do Senado Federal.

2 A Constituição da República Federativa de 1988 dispõe a composição dos


Ministros do Supremo Tribunal Federal, bem como determina critérios
para a sua escolha, são eles:​​​​​​​

a) Cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de


idade, com diploma de ciências jurídicas e sociais, de notável saber jurídico
e reputação ilibada.
b) Cidadãos com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos de idade,
com diploma de ciências jurídicas e sociais, de notável saber jurídico e
reputação ilibada.
c) Cidadãos com mais de trinta e menos de setenta anos de idade, independente
da área de formação, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
d) Cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos
de idade, independente da área de formação, de notável saber jurídico e
reputação ilibada.
e) Qualquer pessoa com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco
anos de idade, independente da área de formação, de notável saber jurídico
e reputação ilibada.

105
106
UNIDADE 3
TÓPICO 2

O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR TRIBUNAL


DE JUSTIÇA

1 INTRODUÇÃO
O Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
são dois importantíssimos órgãos pertencentes ao Poder Judiciário brasileiro. A
função desses tribunais é dar o mandamento final em termos de interpretação
das normas: no caso do STJ, nos termos das leis infraconstitucionais, e, no caso do
STF, nos termos da própria Constituição Federal. Cabe a eles, portanto, a última
palavra na interpretação legal do ordenamento jurídico brasileiro.

Nesta unidade, você vai ler sobre como são estruturados os referidos
órgãos, os requisitos para ser ministro e as suas competências. Você também
vai ler sobre a súmula vinculante e a repercussão geral, com as suas definições,
finalidades e os seus critérios. Por fim, serão tecidas algumas considerações a
respeito dos recursos extraordinário, especial e ordinário.

2 COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIAS
A seguir, veremos como são estruturados o STF e o STJ.

2.1 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


O STF é o órgão responsável por ser o guardião da Carta Magna,
conforme caput do art. 102 do Texto Constitucional, que dispõe que (BRASIL,
1988, documento on-line): “Art. 102 Compete ao Supremo Tribunal Federal, preci-
puamente, a guarda da Constituição [...]”.

O STF é composto por 11 ministros, que se dividem em duas turmas,


formadas por cinco ministros cada. O presidente do STF não participa das
turmas, mas apenas das sessões do Pleno. Para o preenchimento dessas 11 vagas
de ministro, não há divisão preestabelecida, como no STJ. Assim, o Presidente da
República pode nomear livremente aqueles que preencham os requisitos, sendo

107
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

necessária, porém, a aprovação pelo Senado Federal, pela maioria absoluta de


seus membros (MORAES, 2014).

O caput do art. 101 da Constituição Federal define os requisitos necessários


para que uma pessoa possa ocupar a vaga de ministro do STF. Vejamos: “Art.
101 O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre
cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de
notável saber jurídico e reputação ilibada”.

O art. 12, § 3º, do Texto Constitucional, por sua vez, destaca os cargos
privativos de brasileiro nato, já o inciso IV enumera o cargo de ministro do STF.
Desse modo, podemos depreender os seguintes requisitos para que se possa
ocupar tal cargo (BRASIL, 1988):

• ser brasileiro nato;


• possuir idade entre 35 e 65 anos;
• possuir notável saber jurídico;
• ter reputação ilibada.

Para ser ministro do STF, é imprescindível que o nomeado seja brasileiro


nato, assim, não pode ser naturalizado. Com relação ao notável saber jurídico,
não se exige que a pessoa seja necessariamente bacharel em Direito e nem que
seja oriunda da magistratura (PAULO; ALEXANDRINO, 2015). Essa falta de
especificação sobre o que vem a ser o notável saber jurídico já ocasionou situações
absurdas no passado, como podemos perceber no seguinte fragmento:

A ausência de exigência de formação jurídica para os Ministros do


STF é uma tradição constitucional brasileira, que no final do século
XIX chegou a seus extremos de exagero, demonstrando a pouca
importância institucional dada à época ao tribunal. A 21/10/1893,
foi nomeado para Ministro do Supremo Tribunal Federal, durante
o recesso parlamentar, na vaga do Ministro Barradas, o médico
clínico Cândido Barata Ribeiro, que tomou posse e exerceu o cargo
durante quase um ano (25/11/1893–29/9/1894), enquanto se aguardava
a confirmação de sua nomeação pelo Senado Federal, que afinal a
rejeitou (MORAES, 2014, p. 566).

O art. 94 da Constituição Federal diz que:

Art. 94 Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos


Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto
de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira,
e de advogados de notável saber jurídico e de reputação ilibada, com
mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista
sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.

Ou seja, o que se conhece como quinto constitucional também exige o


notável saber jurídico, mas fixa outros critérios, como os dez anos de atividade
profissional. Nesse sentido:

108
TÓPICO 2 | O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

[...] a exigência do notável saber jurídico deveria ser substituída pela


presença de requisitos capacitários relacionados ou à qualificação
profissional de bacharel em Direito, com o exercício de no mínimo 10
anos de atividade profissional como advogado, membro do Ministério
Público, magistrado, ou à qualificação de jurista, comprovada pelo
título de doutor em Direito, devidamente reconhecido pelo Poder
Público (MORAES, 2014, p. 566).

Inegavelmente, o termo notável saber jurídico, mencionado pela Consti-


tuição Federal, é muito abrangente. Talvez fosse interessante uma delimitação
sobre o que, de fato, vem a ser esse notável saber jurídico, já que se trata de um
requisito para assunção de um dos cargos mais importantes do Poder Público.

Com relação à competência do STF, que é o órgão de cúpula do Poder


Judiciário no Brasil, já se viu que sua principal função, segundo o caput do
art. 102, é a guarda da Constituição Federal. Isso significa que “[...] é de sua
competência a missão de proferir a palavra final em questões constitucionais,
velando pelo respeito e pela supremacia da Constituição em todo o território
nacional” (PIMENTA, 2007, p. 346). O próprio art. 102, em seus incisos, trata da
competência do STF.

A competência pode ser originária, isto é, quando o tribunal analisa a


questão em única instância, ou pode ser também recursal, quando o STF analisa a
questão em última instância, por meio dos recursos ordinários e extraordinários,
que serão mais bem analisados em tópicos específicos (MORAES, 2014). A
competência originária para processar e julgar, do STF, está disposta no art. 102,
I, a a r, da Constituição Federal.

UNI

Um exemplo é a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo


federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal (art. 102, I, a, da Constituição Federal). O STF também deve processar e julgar
originariamente nas infrações penais comuns (art. 102, I, c, Constituição Federal):

• o Presidente da República;
• o Vice-Presidente;
• os membros do Congresso Nacional;
• seus próprios Ministros;
• o Procurador-Geral da República.

Já a competência recursal está descrita nos incisos II e III do referido


dispositivo, nas respectivas alíneas.

109
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

UNI

Um exemplo de competência recursal exercida por meio de julgamento de


recursos ordinários é o crime político (art. 102, II, b, da Constituição Federal) e de competência
recursal por julgamento de recursos extraordinários, quando a decisão recorrida contrariar
dispositivo da Constituição Federal (art. 102, III, a, da Constituição Federal).

2.2 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


O STJ é “[...] a última instância da Justiça brasileira para as causas
infraconstitucionais (não relacionadas diretamente à Constituição Federal),
responsá- vel por uniformizar, padronizar, a interpretação da Constituição em
todo o Brasil” (BRASIL, 2012, documento on-line). Esse tribunal é composto por
33 ministros, porém, diferentemente do que ocorre em relação à investidura no
cargo de ministro do STF, as pessoas que podem exercer tal cargo no STJ são
predeterminadas, de acordo com o que se pode chamar de terço constitucional,
de acordo com Alexandre de Moraes (2014, p. 566):

O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, 33 ministros


escolhidos pelo Chefe do Poder Executivo, porém não livremente,
pois, obrigatoriamente, deverão ser:
1/3 de juízes dos TRFs (Tribunais Regionais Federais);
1/3 de desembargadores dos Tribunais de Justiça Estaduais; 1/3
divididos da seguinte maneira:
1/6 de advogados;
1/6 de membros do Ministério Público Federal, Estaduais e Distrital.
No caso dos juízes dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de
Justiça Estaduais, o próprio Superior Tribunal de Justiça elaborará
lista tríplice, livremente, e a enviará para o Presidente da República.
Ressalte-se que, para a investidura no cargo de Ministro do STJ em
vaga destinada aos juízes dos Tribunais Regionais Federais ou aos
Desembargadores dos Tribunais de Justiça, não se exige que o nomeado
pertença originariamente à classe da magistratura, permitindo-se,
portanto, que tenha ingressado nesses tribunais pela regra do quinto
constitucional prevista no art. 94 da Constituição Federal.

A nomeação de ministros do STJ — embora também seja feita pelo Presi-


dente da República, como na nomeação de ministros do STF — não é livre, pois
a própria Constituição Federal, nos incisos do art. 104, trata de especificar quem
pode ser nomeado. Além dessa predeterminação sobre a divisão dos cargos de
ministro do STJ, há também alguns requisitos que as pessoas nomeadas devem
preencher (BRASIL, 1988):

• ser brasileiro nato ou naturalizado;


• possuir idade entre 35 e 65 anos;
• possuir notável saber jurídico;
• ter reputação ilibada.

110
TÓPICO 2 | O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Percebemos que, nesse caso, qualquer brasileiro, seja ele nato ou natura-
lizado, pode ser nomeado, desde que preencha os demais requisitos — como a
idade, o notável saber jurídico e a reputação ilibada — e se enquadre na divisão
pré-estabelecida constitucionalmente, conforme analisado.

ATENCAO

Para ser ministro do STF, o indivíduo nomeado deve ser, necessariamente, brasileiro
nato. Para ser ministro do STJ, porém, pode ser tanto brasileiro nato quanto naturalizado.

Podemos dizer que o STJ é um guardião das leis federais (JANNIS, 2017).
A sua função precípua é assegurar que as leis federais sejam cumpridas em
todo o território nacional, proporcionando uma uniformização das decisões dos
tribunais inferiores.

O Superior Tribunal de Justiça, com sede no Distrito Federal e


competência sobre todo o território nacional (CF, art. 92, § 2º), constitui
uma inovação da Constituição de 1988 sobre a estrutura judiciária
brasileira, criado com a finalidade de julgar as questões federais
chamadas de Justiças Comuns (Justiça Federal e Justiças Estaduais),
assegurando a supremacia da legislação federal em todo o território
nacional, bem como a uniformidade de interpretação do direito entre
os tribunais nacionais (PIMENTA, 2007, p. 351).

As competências do STJ estão elencadas no art. 105 da Constituição


Federal. Também se dividem em originária (art. 105, I, a a i, da Constituição
Federal) e recursal, que se subdivide em competência para julgar recurso
ordinário e competência para julgar recurso especial, respectivamente, conforme
art. 105, II e III e suas alíneas, da Constituição Federal.

UNI

Como exemplo de competência originária, podemos citar a competência


para processar e julgar as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados (art.
105, I, e, da Constituição Federal). Como exemplo de competência recursal para julgar
recurso ordinário, podemos citar o julgamento de habeas corpus decidido em única ou
última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do
Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória (art. 105, II, a, da Constituição
Federal). Como exemplo de competência recursal para julgar recurso especial, podemos
citar o julgamento de causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e territórios quando a
decisão recorrida contrariar tratado ou lei federal ou negar-lhes vigência (art. 105, III, a, da
Constituição Federal).

111
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

3 SÚMULA VINCULANTE E REPERCUSSÃO GERAL


A súmula vinculante foi inserida na Constituição Federal pela Emenda Cons-
titucional nº. 45, de 30 de dezembro de 2004. Ela serve como instrumento de
validade, interpretação e eficácia de normas determinadas, sobre as quais haja
controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre estes e a Administração
Pública. É uma forma de uniformização da jurisprudência, evitando a insegu-
rança jurídica e a relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

O objetivo desse instrumento processual é impedir que juízes de


outras instân- cias da Justiça brasileira decidam de forma diferente
da jurisprudência firmada no STF. A súmula vinculante tem poder
normativo, conforme estabelece a lei que a regulamentou (Lei
11.417/2006), razão pela qual vincula ainda a Administração Pública
em todas suas esferas a adotar entendimento pacificado da Suprema
Corte sobre o enunciado (BRASIL, 2015b, documento on-line).

O art. 103-A da Constituição Federal trata a seu respeito (BRASIL, 1988,


documento on-line):

Art. 103-A O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por


provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após
reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que,
a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante
em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem
como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida
em lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia
de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual
entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública
que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos sobre questão idêntica. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser
estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula
poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula
aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao
Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato
administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará
que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme
o caso.

Como visto, o STF pode aprovar, rever ou, ainda, cancelar súmula
vinculante. Isso pode ser feito por iniciativa própria ou dos que vierem a ser
estabelecidos por lei, de acordo com o § 2º do art. 103-A da Constituição Federal.
Segundo Paulo e Alexandrino (2015), a Carta Magna confere legitimação àqueles
que podem propor ação direta de inconstitucionalidade, elencados no art. 103,
I a IX, da Constituição Federal, além daqueles autorizados, futuramente, por
lei. Ademais, a Lei nº. 11.417, de 19 de dezembro 2006, art. 3º, estabeleceu como
legitimados:

112
TÓPICO 2 | O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Art. 3º São legitimados a propor a edição, a revisão ou o cancelamento


de enunciado de súmula vinculante:
I — o Presidente da República;
II — a Mesa do Senado Federal;
III — a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV — o Procurador-Geral da República;
V — o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VI — o Defensor Público-Geral da União;
VII — partido político com representação no Congresso Nacional;
VIII — confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional;
IX — a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do
Distrito Federal;
X — o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
XI — os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou
do Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os
Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e
os Tribunais Militares (BRASIL, 2006, documento on-line).

Nas palavras de Paulo e Alexandrino (2015), quatro são os requisitos para


a edição de uma súmula vinculante, sendo eles cumulativos:

• matéria constitucional;
• reiteradas decisões do STF sobre tal matéria;
• controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre estes e a Administração
Pública;
• controvérsia gerar grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos sobre questão idêntica.

De acordo com Pimenta (2007), apenas as súmulas editadas pelo STF é


que terão efeito vinculante. Os demais tribunais também podem editar sú- mulas,
mas estas somente poderão servir como estatísticas para as decisões da referida
Corte, sem vincular os demais órgãos do Poder Judiciário. Para que uma súmula
do STF se torne vinculante é necessária a aprovação de ao menos oito, dos onze
ministros que integram a Corte em questão, ou seja: dois terços dos Ministros do
STF devem aprová-la.

No que se refere à repercussão geral, esta pode ser considerada uma


espécie de filtro para verificar quais casos apresentam assuntos que possuem
real relevância a ponto de serem analisados pelo STF, em recurso extraordinário.
Foi implementada no art. art. 102, III, § 3º, por meio da Emenda Constitucional
nº. 45/2004, que ficou conhecida como a Reforma do Judiciário. De acordo com
o STF:

[...] pela sistemática da repercussão geral, os processos que tratem


sobre tema com repercussão geral reconhecida ficam sobrestados nas
demais instâncias do Poder Judiciário até que o STF profira decisão
sobre a matéria. Fixada a tese pelo Supremo, as instâncias anteriores
aplicam o entendimento do Tribunal aos demais casos sobrestados
(BRASIL, 2015b, documento on-line).

113
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

A Lei nº 11.418, de 19 de dezembro 2006, regulamentou aquele dispositivo


constitucional, tratando acerca da repercussão geral nos recursos extraordinários.
O seu intuito é diminuir o fluxo de processos que chegam ao STF, sobretudo
aqueles que não possuem relevância constitucional, como brigas particulares de
vizinhos, furto de galinha e assassinato de papagaio, como já ocorreu (LENZA,
2011, p. 668).

Criada pela Emenda Constitucional nº. 45/2004, a Repercussão Geral


permite ao STF deixar de apreciar recursos que não tenham maiores
implicações para o conjunto da sociedade. Com o filtro, a Corte passa
a analisar apenas processos que tenham reconhecida relevância social,
econômica, política ou jurídica. Ao mesmo tempo, determina que
as demais instâncias judiciárias sigam o entendimento da Suprema
Corte, evitando o encaminhamento de milhares de processos idênticos
ao STF. Todos os recursos extraordinários que chegam ao STF devem
conter uma preliminar de Repercussão Geral. A ausência deste
pressuposto pode levar à rejeição do recurso pela Corte. Em votação
eletrônica, os ministros analisam se a causa trazida ao STF possui os
requisitos da repercussão geral: relevância social, econômica, política
ou jurídica. São necessários oito votos, no mínimo, para se reconhecer
a Repercussão Geral a um recurso extraordinário (CNJ, 2009, s.p.).

Algumas questões permanecem:

• Qual é o critério utilizado para definir se existe ou não repercussão geral em


um determinado processo?
• Como saber quais são aqueles temas que realmente interessam à coletividade?
• Quais os assuntos que merecem ser analisados pelo STF em detrimento de
outros?

Para tanto, existem dois critérios (LENZA, 2011):

• critério objetivo — presume que haverá repercussão geral sempre que o


recurso seja no sentido de impugnar uma decisão que contrarie súmula ou
jurisprudência do Tribunal;

• critério subjetivo — diz que haverá repercussão geral sempre que se apresente
relevância do ponto de vista econômico, social, político ou jurídico, que
ultrapassem os interesses subjetivos da referida causa.

DICAS

Alguns exemplos de matérias com mérito da repercussão geral julgadas


(BRASIL, 2009):

114
TÓPICO 2 | O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

• Competência — Justiça do Trabalho e Justiça Estadual. Art. 114, I e IX, da Constituição


Federal. Decisão sobre forma de pagamento dos créditos previstos no quadro geral de
credores e no plano de recuperação judicial. Varig Linhas Aéreas S/A. Recuperação judicial
e falência. Lei nº. 11.101, de 9 de fevereiro de 2005.
• Compensação de prejuízos e Lei nº. 8.981, de 20 de janeiro de 1995.
• Auxílio-reclusão e renda bruta do segurado preso.
• Mandado de segurança — cabimento — impetração de mandado de segurança contra
decisão de juiz de juizado especial que defere liminar.
• Gratificação — dispensa de avaliação e extensão aos inativos.
• Previdenciário — cálculo de aposentadoria e impossibilidade da adoção de sistema híbrido.
• Isenção de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e revogação
por lei ordinária.
• Justiça do Trabalho — ação de interdito proibitório e greve.
• Inelegibilidade — dissolução de sociedade conjugal no curso do mandato.
• Vedação ao nepotismo e aplicação aos três poderes.

A repercussão geral é, portanto, um critério de admissibilidade, que visa


fazer o órgão de cúpula do Poder Judiciário se preocupar apenas em analisar
casos relevantes para toda a sociedade. Como o próprio nome diz, o recurso
extraordinário deve ter repercussão geral, ou seja, interessar a todos, coletiva-
mente. O STF é o guardião da Constituição Federal, e o excesso de demandas não
pode atrapalhá-lo em sua tão importante função, portanto, deve esse tribunal
abster-se da análise de assuntos ínfimos para poder concentrar-se no julgamento
daqueles processos que gozem de alguma relevância, seja ela do ponto de vista
econômico, social, político ou jurídico.

No entendimento de Alexandre de Moraes:

A maior discricionariedade concedida ao STF para análise dos


recursos extraordinários com repercussão no interesse público
assemelha-se a mecanismos do Direito Comparado, que visam
permitir uma maior seleção, por parte da Corte Suprema ou do
Tribunal Constitucional, dos recursos a serem julgados, pela
importância da matéria e repercussão da decisão no interesse geral
da sociedade, impedindo que o excesso de demandas atrapalhe
o STF no cumprimento de sua grave missão e guardião maior da
Constituição (MORAES, 2014, p. 606).

Pode ser que o STF reconheça que determinado processo não goze
de repercussão geral. Nesse caso, poderá reconhecer a inexistência de repercussão
geral, desde que haja manifestação de dois terços de seus ministros nesse
sentido (ao menos oito dos 11 ministros). Também é importante salientar que,
antes que o processo vá para o Pleno, para que seja analisado, deve passar por
uma verificação prévia de repercussão geral, realizada por uma de suas turmas
(cinco ministros) (LENZA, 2011).

Ou seja, para que determinado processo deixe de ser analisado pelo STF
por falta de repercussão geral, é necessária a manifestação nesse sentido de,
ao menos, oito dos 11 ministros, o que equivale a dois terços dos ministros da
referida corte.

115
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

4 RECURSOS EXTRAORDINÁRIO, ESPECIAL E ORDINÁRIO


A seguir, serão apresentados os diferentes tipos de recursos.

4.1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO


O inciso III do art. 102, da Constituição Federal, dispõe que compete ao
STF (BRASIL, 1988, documento on-line):

Art. 102 [...]


III — julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em
única ou última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição;
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

De acordo com Paulo e Alexandrino (2015), as decisões que ensejam a


interposição de recurso extraordinário são as proferidas por tribunais do Poder
Judiciário, tanto em segundo grau, como o Tribunal Regional Federal e o Tribunal
de Justiça, quanto superiores, porém, a Constituição Federal não exige que a
decisão recorrida seja decorrente de tribunal. De acordo com a Súmula nº 640
do STF: “É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de
primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial
cível e criminal” (BRASIL, 2003, documento on-line).

Para que seja cabível o recurso extraordinário, entretanto, três requisitos


são necessários (PAULO; ALEXANDRINO, 2015):

• prequestionamento da matéria — a controvérsia constitucional objeto do


recurso extraordinário deve ter sido debatida e decidida no âmbito do órgão
judiciário recorrido.
• ofensa à Constituição Federal — a ofensa presente no processo deverá ser direta
e frontal à Constituição Federal, não se admitindo o recurso extraordinário
para a discussão de ofensas meramente reflexas, isto é, quando o juízo sobre a
ofensa alegada depender do reexame de normas infraconstitucionais aplicadas
pelo Poder Judiciário ao caso concreto.
• repercussão geral das questões constitucionais — o recorrente deverá
demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no
caso, nos termos da lei, a fim de que o STF examine a admissão do recurso,
somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.

Tanto em relação ao recurso extraordinário quanto em relação ao recurso


especial, para que sejam conhecidos, é necessário um pré-questionamento. De
acordo com Didier Jr. e Cunha (2016, p. 310), “considera-se pré-questionamento
o enfrentamento, pelo tribunal recorrido no acórdão impugnado, da questão

116
TÓPICO 2 | O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

de direito que é objeto do recurso excepcional”. É preciso, porém, que o tema


tenha sido amplamente debatido pelos tribunais superiores e que tenha havido
verdadeira discussão sobre ele, assim, não pode ter sido meramente mencionado
pelos órgãos recorridos.

4.2 RECURSO ESPECIAL


O inciso III do art. 105, da Constituição Federal, dispõe que compete ao STJ
(BRASIL, 1988, documento on-line):

Art. 105 [...]


III — julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou
última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais
dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído
outro tribunal.

Dessa forma, o recurso especial é cabível quando, de alguma forma, há


controvérsia envolvendo lei federal, contrariando-as ou negando-lhes vigência,
conferindo validade a ato de governo local que as contrarie, ou, ainda, dando-lhe
interpretação diversa daquela que lhe tenha dado outro tribunal.

O recurso especial para o STJ é, na verdade, fruto da divisão das


hipóteses de cabimento do recurso extraordinário para o STF (antes
da Constituição Federal), que servia como meio de impugnação da
decisão judicial por violação à Constituição Federal e à legislação
federal. Com a criação do STJ, pela Constituição Federal, as hipóteses
de cabimento do antigo recurso extraordinário foram repartidas entre
o STF e o STJ. O recurso especial nada mais é do que um recurso
extraordinário para o STJ (DIDIER JR.; CUNHA, 2016, p. 306).

Além disso, ressaltamos que o recurso especial só é cabível contra acórdão,


uma vez que o dispositivo, além de se referir especificamente a tribunais, também
menciona o fato de que a decisão seja proveniente de única ou última instância.

4.3 RECURSO ORDINÁRIO


O recurso ordinário pode ser interposto tanto perante o STF (de acordo
com o inciso II do art. 102 da Constituição Federal) quanto perante o STJ (de
acordo com o inciso II do art. 105 da Constituição Federal). É conhecido como
recurso constitucional, pois tem suas hipóteses de cabimento previstas ao longo
do Texto Constitucional.

117
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

Cabe recurso ordinário para o STF, nas hipóteses previstas no inciso II


do art. 102 da CF. Já o inciso II do art. 105 da CF relaciona as hipóteses
de cabimento do recurso ordinário para o STJ. O recurso ordinário
é cabível no âmbito do processo penal e, igualmente, no âmbito do
processo civil. Cabe recurso ordinário para o STF e para o STJ em
casos de habeas corpus. Essas são hipóteses de cabimento do recurso
ordinário no processo penal. No processo civil, seu cabimento se dá
em outras hipóteses, que estão exatamente nos referidos dispositivos
constitucionais (DIDIER JR.; CUNHA, 2016, p. 293).

Vejamos quais são as hipóteses de cabimento do recurso ordinário na


esfera cível, de acordo com o art. 1.027 do Código de Processo Civil de 2015
(que fez a junção entre as hipóteses de cabimento desse recurso para ambos os
tribunais superiores):

Art. 1.027 Serão julgados em recurso ordinário:


I — pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os
habeas data e os mandados de injunção decididos em única instância
pelos tribunais superiores, quando denegatória a decisão;
II — pelo Superior Tribunal de Justiça:
a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos
tribunais regionais federais ou pelos tribunais de justiça dos
Estados e do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a
decisão;
b) os processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou
organismo internacional e, de outro, Município ou pessoa residente
ou domiciliada no País (BRASIL, 2015c, documento on-line)

De acordo com Didier Jr. e Cunha (2016), como o próprio nome sugere,
trata-se de um recurso realmente ordinário, embora se dirija ao STF e ao STJ. Em
geral, apenas recursos extraordinários e especiais são dirigidos a esses tribunais,
o que faz haver requisitos a serem admitidos ou que se atenham à matéria de
fato, entre outros detalhes. Porém, nesse caso, os referidos tribunais superiores
exercem competência recursal sem a necessidade de se limitarem à matéria fática.

O Quadro 1 apresenta as competências do STF e do STJ.

QUADRO 1 – COMPETÊNCIAS DO STF E DO STJ

STF (art. 102 da Constituição Federal) STJ (art. 105 da Constituição Federal)

Competência originária Competência originária

• Ação direta de inconstitucionalidade


(lei/ato normativo federal
ou estadual) e ação direta de • Nos crimes comuns: governadores
constitucionalidade (ação declaratória de Estado e Distrito Federal.
de constitucionalidade de lei) (lei/ato
normativo federal).

118
TÓPICO 2 | O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

STF (art. 102 da Constituição Federal) STJ (art. 105 da Constituição Federal)

Competência originária Competência originária

• Nas infrações penais comuns: • Nos crimes comuns e de


Presidente e Vice-Presidente da responsabilidade:
República, membros do Congresso Desembargadores de Tribunal de
Nacional, Ministros do STF e Justiça dos Estados e do Distrito
Procurador-Geral da República. Federal, membros do Tribunal
• Nas infrações penais comuns e nos de Contas do Estado e Tribunal
crimes de responsabilidade (não de Contas do Distrito Federal,
conexo com o Presidente): ministros dos Tribunais Regionais Federais,
de Estados e Comandante do Tribunal Regional Eleitoral,
Exército, Marinha e Aeronáutica. Tribunal Regional do Trabalho, dos
• Nas infrações penais comuns e Conselhos/Tribunal de Contas do
noscrimes de responsabilidade: de Município e do Ministério Público
membros dos Tribunais Superiores, da União que oficiem perante os
do Tribunal de Contas da União, tribunais.
chefes de missão diplomática de • Habeas corpus quando coator ou
caráter permanente. paciente pessoas referidas ou quando
• Habeas corpus quando os pacientes coator for tribunal sujeito à sua
forem as pessoas referidas. jurisdição, Ministro de Estado ou
• Habeas corpus, quando o coator for Comandante do Exército, Marinha e
o Tribunal Superior ou o paciente for Aeronáutica, salvo a competência da
autoridade/funcionários cujos atos justiça eleitoral.
estejam sujeitos à jurisdição do STF • Mandado de segurança e habeas data
ou crime sujeito à mesma jurisdição contra ato de Ministro de Estado,
em uma única instância. Comandantes do Exército, Marinha e
• Mandado de segurança e habeas Aeronáutica, ou Ministros do STJ.
data contra atos do: Presidente da • Conflitos de competência
República, Mesas da Câmara dos entrequaisquer tribunais (ressalva do
Deputados e Senadores, Tribunal de art. 102, I, o — Tribunal Superior),
Contas da União, DR, STF. e entre juízes vinculados a tribunais
• Litígio entre Estado estrangeiro diversos.
ou organismo internacional e • Revisões criminais e ações rescisórias
União, Estado, Distrito Federal ou de seus julgados.
Território.

119
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

STF (art. 102 da Constituição Federal) STJ (art. 105 da Constituição Federal)

Competência originária Competência originária

• Reclamação para preservação


• Causas e conflitos entre desua competência e garantia da
Uniãoe Estados/ Distrito autoridade de suas decisões.
Federal ou entre uns e outros, • Conflitos de atribuições entre
incluindo administração autoridades administrativas e
indireta. judiciárias da União, ou entre
• Extradição solicitada por autoridades judiciárias de um
Estado estrangeiro. Estado e administrativas de outro
• Revisão criminal e ação rescisória ou do Distrito Federal, ou entre
deseus julgados. as deste e da União.
• Reclamação (preservação • Mandado de injunção
desua competência e garantia quandoa elaboração da
da autoridade de suas norma regulamentadora
decisões). for atribuição de órgão/
• Execução de sentença — entidade/autoridade federal
causas,competência originária, (administração direta e
sendo facultada delegação de indireta), exceto os casos de
atribuições para prática e atos competência do STF e dos
processuais. órgãos da justiça militar,
• Ação — membros da magistratura eleitoral, do trabalho e federal.
direta/indiretamente interessados • Homologação de
e em que mais da metade dos sentenças estrangeiras e
membros dos tribunais de origem concessão de exequátur às
impedidos/interessados. cartas rogatórias.
• Conflitos de competência entre
STJou Tribunais Superiores
e quaisquer tribunais, entre
Tribunais Superiores.
• Pedido de medida cautelar em ação
direta de inconstitucionalidade.
• Mandado de injunção
quandoa elaboração da
norma regulamentadora
for atribuição do Presidente
da República, Congresso
Nacional, Câmara dos
Deputados, Senado Federal,
ou suas respectivas mesas,
Tribunal de Contas da União,
Tribunais Superiores, STF.
• Ações contra o Conselho Nacional
de Justiça e o Conselho Nacional
do Ministério Público.

120
TÓPICO 2 | O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

STF (art. 102 da Constituição Federal) STJ (art. 105 da Constituição Federal)

Competência em recurso ordinário Competência em recurso ordinário

• Habeas corpus decididos em única


• Habeas corpus, mandado de
ou última instância pelos Tribunais
segurança, habeas data, mandado de
Regionais Federais, Tribunais de
injunção, decididos em
Justiça, quando denegatória.
única instância pelos Tribunais
• Mandado de segurança decididos
Superiores, quando denegatória a
em única instância pelos Tribunais
decisão.
Regionais Federais, Tribunais de
• Crime político.
Justiça, quando denegatória a
decisão.
• Causas em que forem partes
Estado estrangeiro ou organismo
internacional, de um lado, e,
do outro, município ou pessoa
residente ou domiciliada no País.

Competência em recurso
Competência em recurso especial
extraordinário

• Causas decididas em única ou última


• Causas decididas em única/
instância pelos Tribunais Regionais
última instância, se decisão
Federais ou Tribunais de Justiça,
recorrida: contrariar dispositivo
quando decisão recorrida contrariar/
da Constituição Federal, declarar a
negar vigência a tratado/lei federal;
inconstitucionalidade de tratado ou
julgar válido ato de governo local
lei federal, julgar válida lei ou ato de
contestado em face de lei federal; der
governo local contestado em face da
a lei federal interpretação divergente
Constituição Federal, julgar válida lei
da que lhe haja atribuído outro
local, contestada em face de lei federal.
tribunal.

FONTE: Adaptado de Guilherme Lopes Athayde

121
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) são


dois importantes órgãos pertencentes ao Poder Judiciário brasileiro.

• A função desses tribunais é dar o mandamento final em termos de interpretação


das normas: no caso do STJ, nos termos das leis infraconstitucionais; no caso
do STF, nos termos da própria Constituição Federal.

• Cabe a eles, portanto, a última palavra na interpretação legal do ordenamento


jurídico brasileiro.

• Estudamos a estrutura dos referidos órgãos, os requisitos para ser ministro e


as suas competências.

• Vimos a súmula vinculante e a repercussão geral, com as suas


definições, finalidades e critérios.

• Por fim, estudamos algumas considerações a respeito dos recursos


extraordinário, especial e ordinário.

122
AUTOATIVIDADE

1 Assinale a alternativa que não menciona corretamente um requisito para


ser ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). 

a) Ser brasileiro nato ou naturalizado. 


b) Ter a idade mínima de 35 anos.
c) Ter a idade máxima de 65 anos.
d) Ter notável saber jurídico.
e) Ter reputação ilibada.

2 Assinale a alternativa que não menciona corretamente um requisito para


ser ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). 

a) Ser brasileiro nato, não pode ser naturalizado.


b) Ter a idade mínima de 35 anos.
c) Ter a idade máxima de 65 anos.
d) Ter notável saber jurídico.
e) Ter reputação ilibada.

123
124
UNIDADE 3
TÓPICO 3

DA ORDEM SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
A ordem social vem disposta no Título VIII da Constituição Federal, que
abrange importantes capítulos, como é o caso, por exemplo, da seguridade social,
da educação, da cultura e do desporto. Tendo em vista a relevância dessa matéria
constitucional, esta unidade se destina a analisá-la.

Assim, nesta unidade, você vai ler sobre o funcionamento da seguridade


social e da Previdência Social no Brasil. Além disso, você vai analisar os artigos
da Constituição Federal que tratam sobre a educação, a cultura e o desporto no
Brasil. Por fim, também verá a importância do incentivo, pelo Estado, às áreas de
ciência, tecnologia e inovação.

2 SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL


O Título VIII da Constituição Federal trata sobre a ordem social, que, por
sua vez, é dividida nos seguintes capítulos:

• disposição geral (art. 193);


• seguridade social (arts. 194 a 204);
• educação, cultura e desporto (arts. 205 a 217);
• ciência e tecnologia (arts. 218 a 219);
• comunicação social (arts. 220 a 224);
• meio ambiente (art. 225);
• família, criança, adolescente e idoso (arts. 226 a 230);
• índios (arts. 231 a 232).

De acordo com a disposição geral, consolidada pelo art. 193 da Constituição


Federal: “Art. 193 A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como
objetivo o bem-estar e a justiça sociais” (BRASIL, 1988, documento on-line).
Assim, passaremos a analisar alguns pontos da referida matéria, que, como visto,
possui extrema relevância para o Direito Constitucional, uma vez que trata de
direitos básicos não apenas do indivíduo, mas da coletividade. Nas palavras de
Pimenta (2007, p. 392):

125
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

A Ordem Social surge como matéria constitucional basicamente a


partir da criação do chamado estado social, momento em que questões
relativas ao bem-estar do cidadão e à justiça social, antes ausentes nos
textos constitucionais, ganham grande relevo dentro dos Estados,
sobretudo a partir da primeira grande guerra.

Ou seja, o estado social — e, consequentemente, a ordem social como


matéria abordada pelas Constituições — surgiu a partir da Primeira Guerra
Mundial, quando se passou a dar mais importância às questões diretamente
relacionadas ao bem-estar do cidadão e da sociedade.

Podemos dizer que a seguridade social, constante no Capítulo II, Título


VIII, da Constituição Federal, possui três pilares:

• saúde;
• previdência social;
• assistência social.

De acordo com o art. 194 da Constituição Federal: “Art. 194 A seguridade


social é um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência
e à assistência social” (BRASIL, 1988, documento on-line). Segundo podemos
verificar nos incisos do art. 194, o Poder Público é que detém a competência para
organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

Art. 194 [...]


I — universalidade da cobertura e do atendimento;
II — uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às
populações urbanas e rurais;
III — seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e
serviços; IV — irredutibilidade do valor dos benefícios;
V — equidade na forma de participação no custeio;
VI — diversidade da base de financiamento;
VII — caráter democrático e descentralizado da administração,
mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores,
dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos
colegiados (BRASIL, 1988, documento on-line).

De acordo com Kertzman (2015), os princípios constitucionais relacionados


à seguridade social são os seguintes:

Solidariedade (art. 3º, I, da Constituição Federal) — obriga o indivíduo


a contribuir ainda que não se tenha certeza de que irá algum dia utilizar os
benefícios e serviços oferecidos pela seguridade social.

Universalidade da cobertura e do atendimento (art. 194, parágrafo


único, I, da Constituição Federal) — segundo o qual todos devem ser cobertos
e atendidos pela proteção social, lembrando que a saúde e a assistência são
oferecidas a todos, apenas a previdência se destina aos contribuintes e seus
dependentes.

126
TÓPICO 3 | DA ORDEM SOCIAL

Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços entre as


populações urbanas e rurais (art. 194, parágrafo único, II, da Constituição
Federal) — segundo o qual não pode haver distinção no trato, nos benefícios e
serviços oferecidos às populações urbanas e rurais.

Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços


(art. 194, parágrafo único, III, da Constituição Federal) — refere que tais vantagens
serão oferecidas de forma selecionada, isto é, àqueles que verdadeiramente
necessitarem.

Irredutibilidade do valor dos benefícios (art. 194, parágrafo único, IV,


e art. 201, § 4º, da Constituição Federal) — segundo o qual o valor nominal do
benefício da seguridade social não pode sofrer diminuição.

Equidade na forma de participação do custeio (art. 194, parágrafo único,


V, da Constituição Federal) — prega que o custeio da seguridade social deve ser
feito de forma proporcional, considerando-se a capacidade contributiva de cada
contribuinte.

Diversidade da base de financiamento (art. 194, parágrafo único, VI, da


Constituição Federal) — afirma que os legisladores devem procurar diferentes
bases para o financiamento no momento de fixar as contribuições para a
seguridade social.

Caráter democrático e descentralizado da administração (art. 194, pará-


grafo único, VII, da Constituição Federal) — refere-se à gestão quadripartite,
formada pelos trabalhadores, empregadores, aposentados e governo.

O art. 195, caput, da Constituição Federal versa a respeito do custeio da


seguridade social:

Art. 195 A seguridade social será financiada por toda a sociedade,


de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos or- çamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I — do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na
forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
II — do trabalhador e dos demais segurados da previdência social,
não in- cidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas
pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;
III — sobre a receita de concursos de prognósticos;
IV — do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei
a ele equiparar (BRASIL, 1988, documento on-line).

127
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

Com relação à saúde, o art. 196 da Constituição Federal preleciona que:

Art. 196 A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL,
1988, documento on-line).

Já o art. 197 do mesmo diploma legal aduz que:


Art. 197 São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo
ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação,
fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou
através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito
privado (BRASIL, 1988, documento on-line).

O art. 198 do Texto Constitucional elenca as diretrizes e os preceitos


constitucionais da área da saúde, entre os quais, podemos citar como exemplos:

Art. 198 [...]


I — descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II — atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III — participação da comunidade (BRASIL, 1988, documento on-line).

O § 1º do art. 198 indica como será feito o financiamento do Sistema Único


de Saúde (SUS), dizendo:

Art. 198 [...]


§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art.
195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes
(BRASIL, 1988, documento on-line).

O art. 199 diz ser livre à iniciativa privada a assistência à saúde. De


acordo com os §§ 1º a 4º do referido dispositivo, as instituições privadas poderão
participar, de forma complementar, do SUS, de acordo com as suas diretrizes
e mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência aquelas
entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. Não pode haver destinação de
recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins
lucrativos.

Além disso, também é vedada a participação direta ou indireta de


empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, com exceção
aos casos previstos em lei. E, também, diz que a lei irá dispor sobre as condições
e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas
para fins de transplante, pesquisa e tratamento, assim como a coleta, o pro-
cessamento e a transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo
de comercialização (BRASIL, 1988).

Em continuação, o art. 200 traz as competências atribuições relativas ao


SUS, que são as seguintes:
128
TÓPICO 3 | DA ORDEM SOCIAL

Art. 200 [...]


I — controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de
interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos,
equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;
II — executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem
como as de saúde do trabalhador;
III — ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV — participar da formulação da política e da execução das ações de
saneamento básico;
V — incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico
e tecnológico e a inovação;
VI — fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle
de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo
humano;
VII — participar do controle e fiscalização da produção, transporte,
guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e
radioativos;
VIII — colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o
do trabalho (BRASIL, 1988, documento on-line).

No que se refere à Previdência Social, segundo dispõe o art. 201 da


Constituição Federal:
Art. 201 A previdência social será organizada sob a forma de regime
geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá,
nos termos da lei, a:
I — cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade
avançada;
II — proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III — proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV — salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos
segurados de baixa renda;
V — pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou
companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º (BRASIL,
1988, documento on-line).

De acordo com Kertzman (2015), no intuito de atender às necessidades


mencionadas no art. 201 da Constituição Federal, a Lei nº. 8.213, de 24 de julho de
1991, estabeleceu os seguintes benefícios previdenciários (art. 18, I e II):

Art. 18 [...]
II — quanto ao segurado:
a) aposentadoria por invalidez;
b) aposentadoria por idade;
c) aposentadoria por tempo de contribuição;
d) aposentadoria especial;
e) auxílio-doença;
f) salário-família;
g) salário-maternidade;
h) auxílio-acidente;
II — quanto ao dependente:
a) pensão por morte;
b) auxílio-reclusão (BRASIL, 1991b, documento on-line).

A lei ainda menciona outros dois, relativos tanto aos segurados quanto
aos seus dependentes, que são “[...] o serviço social e a reabilitação profissional”
(art. 18, III, da Lei nº. 8.213/1991) (BRASIL, 1991b, documento on-line).
129
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

ATENCAO

É válido ressaltar que o seguro-desemprego, apesar de possuir natureza


previdenciária, devido a razões políticas, foi excluído de maneira expressa pelo art. 9º, § 1º,
da Lei nº. 8.213/1991, de modo que, atualmente, não é pago pela Previdência Social, mas
sim pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Dessa forma, o seguro-desemprego não é um
benefício previdenciário.

A respeito dos regimes de previdência social existentes, “[...] considera-se


regime de previdência social aquele que ofereça aos segurados, no mínimo, os
benefícios de aposentadoria e pensão por morte” (KERTZMAN, 2015, p. 34).
No Brasil, existem três regimes:

• Regime Geral de Previdência Social (RGPS);


• Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS);
• Regime de Previdência Complementar.

O RGPS é aquele organizado pelo Estado, de natureza contributiva


e compulsória, cuja administração é realizada pelo Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), tendo as contribuições por ele arrecadadas fiscalizadas
e regulamentadas pela Receita Federal do Brasil. Trata-se de um regime de
repartição simples e seu benefício é definido. O RPPS é o regime do qual fazem
parte os servidores públicos da União, dos Estados e dos municípios que
sejam estatutários, obedecendo, desse modo, a normas especiais. Ressaltamos
que os militares também possuem o seu regime próprio, com normas também
diferenciadas. E, finalmente, o Regime de Previdência Complementar está
previsto no art. 40, §§ 14 a 16, da Constituição Federal, sendo dividido em dois
tipos (KERTZMAN, 2015):

• Regime de Previdência Complementar dos Servidores Públicos;


• Regime de Previdência Privada Complementar — facultativo.

Ainda com relação ao RGPS, salientamos que, de acordo com o art. 12


da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991 (igualmente constante no art. 11 da Lei nº
8.213/1991, regulamentado no art. 9º do Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999), são
obrigatórios os seguintes segurados (AMADO, 2016):

• empregado;
• empregado doméstico;
• trabalhador avulso;
• segurado especial;
• contribuinte individual.

130
TÓPICO 3 | DA ORDEM SOCIAL

Todo aquele que exerce atividade lícita remunerada deve contribuir para
a Previdência Social. O segurado facultativo, de acordo com o art. 14 da Lei nº
8.212/1991 (possuindo redação idêntica o art. 13 da Lei nº. 8.213/1991), é “[...] o
maior de 14 (quatorze) anos de idade que se filiar ao Regime Geral de Previdência
Social, mediante contribuição, na forma do art. 21, desde que não incluído nas
disposições do art. 12” (BRASIL, 1991b, documento on-line).

ATENCAO

O nome previdência complementar pode dar a entender que tal regime


tenha o intuito de complementar o RGPS. Mas não se engane, pois, para que se contrate
um plano de previdência privada, não há sequer a obrigatoriedade de ser filiado ao RGPS
(KERTZMAN, 2015).

Por fim, conforme mencionado, a seguridade social se refere às áreas


da saúde, previdência social e assistência social. O site do Ministério do Desen-
volvimento Social traz o conceito de assistência social:

Ela está organizada por meio do Sistema Único de Assistência


Social (Suas), presente em todo o Brasil. Seu objetivo é garantir a
proteção social aos cidadãos, ou seja, apoio a indivíduos, famílias e
à comunidade no enfrentamento de suas dificuldades, por meio de
serviços, benefícios, programas e projetos (BRASIL, 2015a, documento
on-line).

O art. 203 da Constituição aduz:

Art. 203 A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por
objetivos:
I — a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice;
II — o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III — a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV — a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência
e a promoção de sua integração à vida comunitária;
V — a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios
de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei (BRASIL, 1988, documento on-line).

As ações na área da assistência social, de acordo com o art. 204 da Consti-


tuição Federal, hão de ser realizadas com recursos do orçamento da seguridade
social, previstos no art. 195 do mesmo diploma legal, bem como de outras fontes,
além de serem organizadas de acordo com as seguintes diretrizes:

131
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

Art. 204 [...]


I — descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação
e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos
respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a
entidades beneficentes e de assistência social;
II — participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas e no controle das ações
em todos os níveis (BRASIL, 1988, documento on-line).

Insta salientar, todavia, que os estados e o Distrito Federal também podem


vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por
cento de sua receita tributária líquida, sendo vedada a utilização de tais recursos
no pagamento de (art. 204, parágrafo único, da Constituição Federal):

• despesas com pessoal e encargos sociais;


• serviço da dívida;
• qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos
ou ações apoiados.

Esses são, portanto, os três pilares que constituem a seguridade social no


Brasil, um sistema que objetiva, principalmente, a proteção dos indivíduos em
relação aos riscos sociais a que todas as pessoas estão sujeitas, como gravidez,
velhice, morte, entre outros.

3 EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO


Passamos agora à análise dos dispositivos constitucionais referentes à
Educação, cultura e desporto, respectivamente.

O art. 205, caput, da Constituição Federal prevê:

Art. 205 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL,
1988, documento on-line).

Destarte, podemos aferir que se trata de responsabilidade do Estado


e da família, mas deve ser incentivada por todos os integrantes da sociedade.
Na sequência, o art. 206 do mesmo diploma legal estabelece os seus princípios
norteadores, que são:

Art. 206 [...]


I — igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II — liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber;
III — pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência
de instituições públicas e privadas de ensino;
IV — gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

132
TÓPICO 3 | DA ORDEM SOCIAL

V — valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos,


na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por
concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº. 53, de 2006)
VI — gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII — garantia de padrão de qualidade.
VIII — piso salarial profissional nacional para os profissionais da
educa- ção escolar pública, nos termos de lei federal (BRASIL, 1988,
documento on-line).

Além disso, as universidades possuem autonomia didático-científica,


administrativa e de gestão financeira e patrimonial, devendo obedecer aos
princípios de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Ainda,
possuem o condão de admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na
forma da lei, o que se aplica às instituições de pesquisa científica e tecnológica (art.
207 da Constituição Federal). O art. 208 trata sobre certas garantias que devem ser
observadas pelo Estado quando da promoção da educação:

Art. 208 O dever do Estado com a educação será efetivado mediante


a garantia de:
I — educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita
para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
II — progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III — atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV — educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco)
anos de idade;
V — acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI — oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do
educando;
VII — atendimento ao educando, em todas as etapas da educação
básica, por meio de programas suplementares de material didático-
escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (BRASIL, 1988,
documento on-line).

De acordo com o art. 208, dos 4 aos 17 anos de idade, a educação básica
deve ser ofertada pelo Estado de forma gratuita a todos que, inclusive, não tiveram
a oportunidade de cursá-la na idade apropriada. Os parágrafos do mesmo artigo
ainda afirmam:

• que o acesso ao ensino obrigatório e gratuito se trata de um direito público


subjetivo;
• que o não oferecimento de tal ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta de modo irregular, gera responsabilidade da autoridade competente;
• que é de competência do Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazendo-lhes a chamada e zelando, junto aos pais ou responsáveis,
pela frequência destes à escola.

De acordo com o art. 210 da Constituição Federal, o Estado também deve


fixar: “Art. 210 Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e
artísticos, nacionais e regionais” (BRASIL, 1988, documento on-line).
133
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

ATENCAO

O ensino religioso é de natureza facultativa, considerando que o Brasil é um


Estado laico. Além disso, o ensino fundamental regular deverá ser ministrado em língua
portuguesa, ressalvada às comunidades indígenas a utilização das suas línguas maternas e
próprios processos de aprendizagem.

O art. 211, por sua vez, versa a respeito de um regime de colaboração entre
os sistemas de ensino, que deve ser organizado pela União, pelos estados, pelo
Distrito Federal e pelos municípios. Os arts. 212 e 213 tratam, respectivamente,
sobre a receita que deve ser aplicada pela União (nunca menos de 18% da receita
resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências), pelos
Estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios (nunca menos de 25% da
receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências) na
manutenção e no desenvolvimento do ensino (BRASIL, 1988).

O art. 214 diz que a lei abordará o plano nacional de educação, que possui
duração decenal, e deve buscar atingir os seguintes objetivos:

Art. 214 [...]


I — erradicação do analfabetismo;
II — universalização do atendimento escolar;
III — melhoria da qualidade do ensino;
IV — formação para o trabalho;
V — promoção humanística, científica e tecnológica do País;
VI — estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em
educação como proporção do produto interno bruto (BRASIL, 1988,
documento on-line).

No que tange à cultura, os dispositivos constitucionais relacionados são


os arts. 215, 216 e 216-A da Carta Magna. O caput do art. 215 diz que:

Art. 215 O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos


culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará
a valorização e a difusão das manifestações culturais.
[...]
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração
plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração
das ações do poder público que conduzem à:
I — defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II — produção, promoção e difusão de bens culturais;
III — formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas
múltiplas dimensões;
IV — democratização do acesso aos bens de cultura;
V — valorização da diversidade étnica e regional (BRASIL, 1988,
documento on-line).

O caput do art. 216 menciona o que pode ser considerado um patrimônio


cultural brasileiro:
134
TÓPICO 3 | DA ORDEM SOCIAL

Art. 216 Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I — as formas de expressão;
II — os modos de criar, fazer e viver;
III — as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV — as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V — os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL,
1988, documento on-line).

De acordo com Paulo e Alexandrino (2015), na intenção de promover


o engajamento de todos os entes federativos na promoção da cultura, a
Constituição Federal passou a dispor no art. 216-A, incluído pela Emenda
Constitucional nº. 71, de 29 de novembro de 2012, a respeito do Sistema
Nacional de Cultura:

Art. 216-A deve ser organizado em regime de colaboração, de forma


descentralizada e participativa, institui um processo de gestão e
promoção conjunta de políticas públicas de cultura, democráticas e
permanentes, pactuadas entre os entes da Federação e a sociedade,
tendo por objetivo promover o desenvolvimento humano, social e
econômico com pleno exercício dos direitos culturais (BRASIL, 2012,
documento on-line).

DICAS

A Lei nº. 8.313, de 23 de dezembro de 1991, mais conhecida por Lei Rouanet,
instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) e é o principal mecanismo de
fomento à cultura em nosso País. Foi criada pelo então secretário Nacional de Cultura, o
diplomata Sérgio Paulo Rouanet. A legislação dispõe sobre as normativas para o Governo
Federal deve destinar recursos para a realização de projetos artístico-culturais. A lei,
originalmente, foi elaborada com três mecanismos:

• Fundo Nacional da Cultura (FNC);


• Incentivo Fiscal;
• Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart).

O Ficart, porém, nunca foi implementado, embora o incentivo fiscal, também conhecido
como mecenato, tenha vigorado, chegando a ser, inclusive, confundido com a própria lei
(BRASIL, 1991a).

O art. 217 da Constituição Federal se debruça sobre o desporto. Tal dispo-


sitivo afirma ser dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não
formais, como direito de cada um, devendo, entretanto, observar:

135
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

Art. 217 [...]


I — a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações,
quanto a sua organização e funcionamento;
II — a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do
desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de
alto rendimento;
III — o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não-
profissional;
IV — a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação
nacional (BRASIL, 1988, documento on-line).

O mesmo dispositivo legal, nos §§ 1º e 2º, faz menção à justiça desportiva:

Art. 217 [...]


§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça
desportiva, regulada em lei. § 2º A justiça desportiva terá o prazo
máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para
proferir decisão final (BRASIL, 1988, documento on-line).

Embora Paulo e Alexandrino ressaltem que:

[...] apesar do seu nome — justiça desportiva —, trata-se de órgãos


administrativos, logo, os processos que tramitam em seu âmbito são
processos administrativos. Por essa razão, tendo em conta o princípio
da inafastabilidade de jurisdição (art. 5º, XXXV — “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”), as decisões
proferidas pela chamada justiça desportiva não são imutáveis, não
fazem coisa julgada, podendo ser submetidas à apreciação do Poder
Judiciário (PAULO; ALEXANDRINO, 2015, p. 1.044).

São esses, portanto, os artigos constitucionais referentes à educação, cultura


e ao desporto, três importantíssimos atributos necessários à formação de um
indivíduo, indispensáveis ao seu pleno desenvolvimento. Não é à toa que tais
temas estão previstos na Carta Magna, especificamente no título que trata
sobre a ordem social, afinal, uma sociedade próspera é aquela em que todos os
seus membros possuem acesso a não apenas estes, mas a todos os demais direitos
sociais existentes.

UNI

No link a seguir, você terá acesso ao portal do Ministério da Educação, no qual


poderá encontrar várias informações, tanto institucionais quanto a respeito dos programas
por ele realizados: https://goo.gl/OKvv0

136
TÓPICO 3 | DA ORDEM SOCIAL

4 IMPORTÂNCIA DO INCENTIVO DO ESTADO ÀS ÁREAS DE


CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
Os arts. 218 e 219 da Constituição Federal dispõem sobre a ciência e a
tecnologia. O art. 218 afirma que: “Art. 218 O Estado promoverá e incentivará o
desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a
inovação” (BRASIL, 1988, documento on-line).

De acordo com Paulo e Alexandrino (2015), existem duas espécies de


pesquisa: a pesquisa científica e a pesquisa tecnológica, sendo que a primeira
receberá tratamento prioritário do Estado e a segunda voltar-se-á à solução de
problemas brasileiros e ao desenvolvimento do sistema produtivo, tanto nacional
quanto regional (§§ 1º e 2º do art. 218 da Constituição Federal). Os demais
parágrafos desse dispositivo tratam, basicamente, de que:

O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de


ciência, pesquisa e tecnologia, e concederá aos que delas se ocupem
meios e condições especiais de trabalho. A lei apoiará e estimulará as
empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada
ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que
pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado,
desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos
resultantes da produtividade de seu trabalho. É facultado aos estados
e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita orçamentária a
entidades públicas de fo- mento ao ensino e à pesquisa científica
e tecnológica. O mercado interno integra o patrimônio nacional e
será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e
socioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica
do País, nos termos de lei federal (PAULO; ALEXANDRINO, 2015,
p. 1.045).

Além disso, os entes federativos possuem a faculdade de firmar instru-


mentos de cooperação com órgãos, entidades públicas e entidades privadas,
conforme art. 219-A da Constituição Federal. O art. 219-B da Constituição Federal
estabelece norma sobre o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação
(SNCTI). Este será organizado em regime de colaboração entre entes, sejam
eles públicos ou privados, visando à promoção do desenvolvimento científico e
tecnológico, bem como a inovação.

De acordo com informações do site do Ministério da Ciência, Tecnologia,


Inovações e Comunicações, são de competência desse órgão — que integra a
administração federal direta — os seguintes assuntos:

137
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

[...]
I — política nacional de telecomunicações;
II — política nacional de radiodifusão;
III — serviços postais, telecomunicações e radiodifusão;
IV — políticas nacionais de pesquisa científica e tecnológica e de
incentivo à inovação;
V — planejamento, coordenação, supervisão e controle das atividades
de ciência, tecnologia e inovação;
VI — política de desenvolvimento de informática e automação;
VII — política nacional de biossegurança;
VIII — política espacial;
IX — política nuclear;
X — controle da exportação de bens e serviços sensíveis; e
XI — articulação com os Governos dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, com a sociedade civil e com órgãos do Governo
federal para estabelecimento de diretrizes para as políticas nacionais
de ciência, tecnologia e inovação (BRASIL, 2019, documento on-line).

UNI

Um exemplo de instituição que fomenta a ciência, tecnologia e inovação,


atuando na formulação de suas políticas, é o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq). Trata-se de uma agência do Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), criado em 1951, que visa ao fomento da
pesquisa científica e tecnológica, bem como ao incentivo à formação de pesquisadores
no Brasil.

138
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Ordem social se refere ao conjunto de normas e instituições que regulam o bem-


estar do cidadão, principalmente no que se refere às áreas da saúde, seguridade
social e Previdência Social. 

• Educação, cultura e desporto são temas que estão diretamente relacionados à


saúde física e mental do ser humano, portanto, também são abrangidos.

• Estudamos sobre o funcionamento da seguridade social e da Previdência Social


no Brasil.

• Em seguida, conhecemos os dispositivos constitucionais que tratam da


educação, cultura e desporto.

• E, por fim, vimos a importância do incentivo estatal às áreas de ciência,


tecnologia e inovação.

139
AUTOATIVIDADE

1 Quais são as áreas que formam a seguridade social no Brasil?

a) Saúde e assistência social.


b) Assistência social e educação.
c) Assistência social e Previdência Social.
d) Saúde, assistência social e Previdência Social.
e) Educação, assistência social e Previdência Social.

2 Indique a alternativa que elenca corretamente os benefícios previdenciários


do Regime Geral de Previdência Social (RGPS).

a) Aposentadoria por invalidez; aposentadoria por idade; aposentadoria


por tempo de contribuição; aposentadoria especial; salário-maternidade;
salário-família; auxílio-doença; auxílio-acidente e pensão por morte.
b) Aposentadoria por invalidez; aposentadoria por tempo de contribuição;
aposentadoria especial; salário-maternidade; salário-família; auxílio-
doença; auxílio-acidente; pensão por morte e auxílio-reclusão.
c) Aposentadoria por invalidez; aposentadoria por idade; aposentadoria
por tempo de contribuição; aposentadoria especial; salário-maternidade;
salário-família; auxílio-doença; auxílio-acidente; pensão por morte; auxílio-
reclusão e seguro-desemprego.
d) Aposentadoria por invalidez; aposentadoria por idade; aposentadoria
por tempo de contribuição; aposentadoria especial; salário-maternidade;
salário-família; auxílio-doença; auxílio-acidente; pensão por morte; auxílio-
reclusão; serviço social e reabilitação profissional.
e) Aposentadoria por invalidez; aposentadoria por idade; aposentadoria
por tempo de contribuição; aposentadoria especial; salário-maternidade;
salário-família; auxílio-doença; auxílio-acidente; pensão por morte; auxílio-
reclusão; serviço social, reabilitação profissional e seguro-desemprego.

140
UNIDADE 3
TÓPICO 4

EMPREENDEDORISMO SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
As ações do empreendedorismo social têm aumentado consideravel-
mente nas últimas décadas, associadas ao próprio crescimento do terceiro
setor e da consciência de cidadania que a sociedade vem desenvolvendo na
contemporaneidade. No contexto atual, frente à impossibilidade do Estado de
prover as múltiplas demandas sociais, em função da redução de investimentos
públicos nessas áreas, o empreendedorismo social acabou sendo impulsionado,
assumindo hoje grande importância no contexto nacional e internacional.

Neste capítulo, você vai aprender o conceito de empreendedorismo social


e as suas principais características. Além disso, vai distinguir as várias ações de
empreendedorismo social que estão em prática na atualidade, percebendo as suas
diferenças e semelhanças.

2 O QUE É EMPREENDEDORISMO SOCIAL?


Para entender o conceito de empreendedorismo social, você precisa,
primeiramente, compreender alguns conceitos de economia e a política de
governança que rege os Estados na contemporaneidade. O mundo atual, segundo
Lazzarato (2006), sofreu algumas transformações no sistema capitalista que
afetaram a forma como a sociedade vive. Essas transformações cresceram na
década de 1990, no período da expansão da globalização entre as nações.

Sobre a globalização, Oliveira (2008, p. 1) comenta que


“[...] sua configuração é paradoxal, pois ao mesmo tempo em que há os
avanços tecnológicos, aliados aos avanços das informações e produção
abundante de conhecimento, deparamo-nos com níveis sociais e
humanos mais baixos e alarmantes de toda a história”.

Uma das mudanças promovidas pela globalização e que segue a lógica da


transformação do próprio capitalismo diz respeito às relações de governança do
Estado sobre as demandas sociais.

141
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

Dentro da lógica de um regime neoliberal, cabe ao Estado apenas prover


minimamente as demandas sociais daqueles que se encontram em condições de
desigualdade muito extrema no interior da sociedade. Aos demais, cabe seguir os
ditames do mercado, em que o esforço de cada um, dentro do regime democrático,
permitirá que se alcance, ou não, o lugar almejado e projetado para si.

DICAS

O regime neoliberal é a racionalidade utilizada hoje pela maioria das nações


capitalistas do mundo. A sua lógica trabalha sobre a conversão de todas as organizações e
pessoas em empresas. Dessa forma, dentro dessa lógica, todos somos empresários de nós
mesmos.

Outra importante transformação é o aumento da competitividade


entre as organizações empresariais. Isso exige um novo perfil profissional e
novas competências para a atuação dos profissionais nesse novo cenário. Essas
mudanças impulsionaram o surgimento do empreendedorismo capitalista,
motivando inúmeras pessoas a empreenderem os seus próprios negócios, bem
como a agirem com características empreendedoras no interior das empresas,
buscando agregar valor ao desenvolvimento das suas atribuições.

Frente a essas mudanças, o setor social também passou a demandar novas


ações para complementar a carência de iniciativas estatais, de modo que muitos
direitos sociais pudessem de fato ser garantidos a todos. Ao aprender sobre a
origem do empreendedorismo social, você vai perceber que ele surge como uma
evolução do termo empreendedorismo, amplamente utilizado nas empresas
privadas, e que trabalha com a ideia de “empresariamento de si”. Porém, no caso
do empreendedorismo social, os objetivos saem da esfera pessoal ou individual
e partem em direção ao bem-estar da coletividade. Outro aspecto que diferencia
radicalmente o empreendedor social do empreendedor típico de mercado é o fato
de este último perseguir o lucro e o aumento da rentabilidade do seu negócio,
enquanto o primeiro persegue a finalidade social para a qual está empreendendo
os seus esforços e empenhando a sua energia.

Para que fique claro o conceito de empreendedorismo social, cabe


definir primeiramente que não se trata de empreendedorismo capitalista ou
“de negócios”, nem da responsabilidade social desenvolvida por algumas
organizações. A responsabilidade social é um conceito que atrela as organizações
privadas às demandas sociais existentes, ou seja, uma empresa pode ter ações ou
projetos voltados para o social, organizadas de forma estruturada e sistemática.
Essas ações, porém, são institucionalizadas e não constituem empreendedorismo
social.

142
TÓPICO 4 | EMPREENDEDORISMO SOCIAL

O empreendedorismo — assim como o empreendedorismo social — teve


origem nos Estados Unidos, na década de 1980, com a criação da organização
social denominada Ashoka, fundada por Bill Drayton, com a finalidade de
desenvolver indivíduos que apresentassem atitudes inovadoras e que focassem a
transformação social. Segundo Oliveira (2008), atualmente a Ashoka funciona em
rede, atuando em mais de 40 países ao redor do mundo.

Certo e Miller (2008, documento on-line, tradução nossa) apontam que o


“[...] empreendedorismo social refere-se à identificação, avaliação e exploração
de oportunidades que resultam em valor social”. Esse valor social é percebido
a partir dos benefícios disponibilizados para as comunidades que recebem a
ação dos empreendedores ou dos empreendimentos sociais. Muitas vezes, o
empreendedorismo social se manifesta sob a forma de ações de cooperativismo
ou associativismo entre os membros da comunidade em questão.

Para compreendermos melhor essa questão do valor social como objetivo


de um empreendimento social, “[...] temos de substituir a pessoa unidimensional
da teoria econômica por uma pessoa multidimensional — uma que tenha, ao
mesmo tempo, interesses egoístas e interesses altruístas” (YUNUS, 2010, p.10).
Em outras palavras, temos interesses egoístas quando pensamos somente nas
nossas próprias necessidades e nos engajamos nas atividades laborais para ter
renda, poder consumir, comprar coisas, manter e melhorar o nosso padrão de
vida. Quando somos altruístas, preocupamo-nos também com aqueles que nos
cercam, com a sua existência e as suas condições de vida.

Para Melo Neto e Fróes (2002, p. 9), o

“[...] empreendedor social é um tipo especial de líder — suas


ideias e inovações não são incorporadas aos produtos e serviços a
serem produzidos e prestados. Mas, sobretudo, são adicionadas a
metodologia utilizada na busca de soluções para os problemas sociais,
objeto das ações de empreendedorismo”.

Em essência, enquanto o empreendedor capitalista busca transformar


as suas ideias em oportunidades de negócios rentáveis, o empreendedor social
focaliza a sua criatividade e inovação nas oportunidades que melhor contribuam
para a causa social na qual está empenhado. Então, o empreendedorismo social
se diferencia do empreendedorismo capitalista principalmente em dois aspectos:
o que faz e a quem se destina.

• Aquilo que faz: o empreendedor social não tem como foco a produção de
bens e serviços para serem postos à venda simplesmente, mas para que
essas operações possam solucionar os problemas sociais abrangidos pelo seu
trabalho.
• Quem é atendido: os esforços dos empreendimentos sociais, ao contrário dos
empreendimentos capitalistas ou de negócios, não são direcionados para o
mercado, mas sim para situações de alto risco social em que a população se
encontre. Esses segmentos populacionais normalmente envolvem situações
de exclusão social, pobreza e risco de vida.
143
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

Ao comparar os dois tipos de empreendedores (o de negócios e o social),


você verá que, enquanto o empreendedor capitalista atinge o seu sucesso a partir
do aumento da sua receita e lucratividade aproveitando oportunidades que o
mercado proporcionou, o empreendedor social mede o seu desempenho a partir
do impacto social causado pelas suas ações. Dessa forma, segundo Melo Neto
e Fróes (2002, p. 10), “[...] sua medida de sucesso é o impacto social. Ou seja, o
número de pessoas beneficiadas com a solução proposta no programa ou projeto
de empreendedorismo social”.

UNI

O empreendedorismo social é um processo de transformação da sociedade


que deve ter o seu impulso inicial a partir de ações das comunidades envolvidas no problema
que venha a ser objeto das ações empreendedoras sociais desencadeadas. Suponha
que, em determinada comunidade de periferia, os estudantes estejam apresentando um
alto índice de reprovação escolar. Uma ação de empreendedorismo social poderia ser a
promoção, pela associação de moradores locais, de um reforço escolar para esses alunos,
visando à melhoria da sua aprendizagem e o seu sucesso escolar.

Ao definir o empreendedorismo social, Oliveira (2008, p. 167) destaca


que se trata, antes de tudo, “[...] de uma ação inovadora voltada para o campo
do social. Neste sentido é um processo, que se inicia com a observação de uma
situação-problema local, em seguida procura-se elaborar uma alternativa para
enfrentar esta situação, e que é colocada em prática”. Essas ações típicas do
empreendedorismo social, segundo Oliveira (2008), são inovadoras, realizáveis,
autossustentáveis e provocam impacto social, bem como inspiram os governos
a criarem políticas públicas para as demandas sociais que são alvo dessas ações
empreendedoras.

O empreendedorismo social exige uma mudança de paradigmas, ou


seja, faz-se necessário desconstruir a maneira como pensamos, sentimos e
agimos em sociedade, buscando relações e interações sociais mais comunitárias
e solidárias. Essa mudança no estilo de vida da população é desafiadora, uma
vez que o empreendedorismo social apresenta seis dimensões específicas a serem
consideradas (MELO NETO; FRÓES, 2002):

1. dimensão psicossocial;
2. dimensão cultural;
3. dimensão econômica;
4. dimensão política;
5. dimensão ambiental;
6. dimensão regulatória/institucional.

144
TÓPICO 4 | EMPREENDEDORISMO SOCIAL

A dimensão psicossocial refere-se à mudança de comportamentos


que é requerida das comunidades, no seu engajamento, na participação e res-
ponsabilidade pelas ações sociais. A dimensão cultural foca nas questões de
valorização e preservação das culturas locais. A dimensão econômica se debruça
sobre as questões da geração de renda, do emprego e da melhoria da qualidade
de vida. A dimensão política envolve a criação de organizações sociais mais
atuantes, como as cooperativas e associações que focalizam o social. A dimensão
ambiental envolve o melhor uso dos recursos naturais e a diminuição dos
impactos ambientais. Por fim, a dimensão regulatória/ institucional se relaciona
com as políticas públicas que venham a incentivar os empreendimentos sociais.

Como você pode ver, o empreendedorismo social é uma área de grande


relevância para o funcionamento da sociedade, pois se encarrega de propor
parcerias e prestar serviços que apoiam, complementam e, em alguns casos,
até mesmo substituem a ação do Estado frente a problemas sociais urgentes
envolvendo populações de risco. No próximo tópico, você vai conhecer mais
detalhadamente as características do empreendedorismo social e dos seus
empreendedores.

DICAS

Uma das formas de empreender um negócio social que tem sido amplamente
utilizada no Brasil é a constituição de cooperativas que busquem abranger algum aspecto
da vida social de uma comunidade, trazendo benefícios mútuos. Uma cooperativa é
formada pela associação de pessoas que possuem um objetivo comum e que aderem de
forma voluntária à finalidade das suas ações, de acordo com as suas necessidades, sejam
elas econômicas, sociais ou culturais. As cooperativas são reguladas pela Lei nº. 5.764, de
16 de dezembro de 1971; mais recentemente, as cooperativas de trabalho tiveram atenção
especial na sua regulação a partir da Lei nº. 12.690, de 19 de julho de 2012.

3 AS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDORISMO
SOCIAL
Você já aprendeu que o empreendedorismo social se diferencia do
empreendedorismo comercial em alguns aspectos, como a finalidade da sua
atuação e o público a quem se destina. Você vai agora aprender um pouco mais
sobre as suas características (PARENTE et al., 2011):

145
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

• criação de valor social;


• criatividade e inovação;
• transformação social;
• visão de oportunidades;
• empatia;
• gestão de risco;
• proatividade;
• ação em grupos.

O empreendedorismo social apresenta como uma das suas principais


características — e talvez a que mais o diferencie dos empreendedores de negócios
— a possibilidade de criação e maximização do valor social para a causa que
objetiva. Dessa forma, os empreendedores sociais transformam e revolucionam
os modelos de produção desse valor social nas áreas da educação, da saúde,
do meio ambiente, entre outras, enquanto os empreendedores de negócios se
preocupam com as mudanças nas relações de produção que envolvem as suas
ações empreendedoras. O valor social também pode ser traduzido como lucro
social: enquanto as ações do empreendedor comercial geram lucro financeiro, as
ações do empreendedorismo social geram lucro social.

Assim, lucro social são os ganhos em termos de benefícios gerados à


comunidade pelas ações sociais empreendidas pelas cooperativas e associações
de pessoas que se mobilizam. Entre os muitos benefícios para as comunidades
locais, que podem ser entendidos como valor social a partir das ações do
empreendedorismo social, podemos citar, segundo Melo Neto e Fróes (2002):

• maior conhecimento;
• conscientização;
• autoestima;
• autossuficiência;
• participação;
• novas ideias e valores;
• sentimento de conexão;
• novo papel exercido pela população local — de mão de obra barata a proprietária
e gestora dos empreendimentos locais.

A criatividade e a inovação também são características do empreende-


dorismo social, pois remetem à necessidade de encontrar um novo processo
para realizar algo a fim de atingir os objetivos almejados junto à comunidade.
Para que haja criatividade e inovação, faz-se necessária a existência de canais de
comunicação abertos, que incentivem a participação e o engajamento de todos
os voluntários nas ações do empreendimento social.

Outra característica importante do empreendedorismo social é buscar


a transformação de algum aspecto da vida social das pessoas envolvidas. Por

146
TÓPICO 4 | EMPREENDEDORISMO SOCIAL

exemplo, uma cooperativa de material reciclado transforma a vida social das


pessoas: antes vistos como “catadores de lixo”, os empreendedores agora tra-
balham com material reciclado e, além de melhorarem as suas próprias vidas,
também estão ajudando na preservação ambiental e melhoria do planeta. É fácil
perceber como essa ação transforma a vida dessas pessoas, especialmente em
termos de aspectos psicossociais, econômicos e culturais, a partir das ações
empreendidas por essa organização empreendedora, cujo foco principal é
atender a uma demanda social.

Perceber oportunidades para realizar ações também é uma característica


do empreendedorismo social. Assim como no empreendedorismo comercial, isso
consiste muitas vezes na conversão de ideias locais em organizações que possam
materializá-las e oportunizar que elas atinjam os resultados esperados. Para isso,
os empreendedores sociais devem estar atentos ao funcionamento das dimensões
que envolvem o empreendedorismo social, procurando visualizar onde e quais
ações são necessárias.

ATENCAO

A empatia, o altruísmo e a solidariedade costumam caracterizar o


empreendedorismo social, pois são os valores normalmente percebidos e compartilhados
entre os empreendedores que se lançam a desenvolver ações sociais. Colocar-se no lugar
do outro e preocupar-se com a comunidade e com o coletivo fazem parte desse rol de
características.

Uma das marcas potentes que caracterizam o empreendedorismo social


é a gestão do risco, ou seja, o gerenciamento de segmentos da população que
se encontrem em situação de risco social, manifestada normalmente pela sua
vulnerabilidade. Dessa forma, podemos verificar as questões da pobreza e as suas
múltiplas carências, da falta de emprego, da violência doméstica, dos riscos de
vida diversos, entre tantas outras como possíveis áreas a serem gerenciadas pelas
ações do empreendedorismo social.

A proatividade e a forma como procuram agir, por meio da mobilização


de equipes ou grupos sociais, também é um aspecto essencial do empreen-
dedorismo social. O seu princípio básico é ter atitude, não ficar esperando que tais
causas sociais sejam atendidas pelo Estado, mas sobretudo valer-se da cidadania
e do engajamento da comunidade na busca por soluções para os problemas
enfrentados a partir da condução de ações organizadas e empreendedoras.

147
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

Em relação às características do empreendedor social, Araújo (2006, p. 70)


acrescenta ainda que
“[...] assim como o empreendedor privado, o empreendedor social
reúne características, tais como: capacidade de correr riscos, energia,
tenacidade, criatividade, flexibilidade, habilidade para conduzir
situações, iniciativa, capacidade de aprendizagem, envolvimento,
originalidade, inovação, entre outras.”

É importante perceber que o empreendedor social carrega consigo


muitas das características do empreendedor comercial, conforme cita a autora.
Porém, o seu foco será diferenciado nas finalidades para as quais canaliza tais
características.

Uma das características do empreendedorismo social também é a ênfase


no desenvolvimento local da comunidade na qual serão postas em prática as ações
planejadas. Melo Neto e Fróes (2002, p. 42) comentam que esse desenvolvimento
local se viabiliza por meio de dois mecanismos:

1°) o “empoderamento” da comunidade (no sentido da obtenção de


maior grau de informação, conscientização, senso do interesse coletivo,
e fortalecimento dos sentimentos de autoestima, autossuficiência etc.
2°) o reinvestimento da renda no espaço local.

Essas ações de desenvolvimento local são percebidas, por exemplo,


em regiões de grande pobreza e desemprego, onde pessoas da comunidade se
reúnem e, com os seus esforços de empreendedorismo social, canalizam os seus
talentos e a sua capacidade produtiva em torno de algo que possa alavancar renda
e melhorar as suas condições de vida. É o caso de associações de mulheres que
produzem artesanatos ou fabricam produtos culinários típicos das suas regiões
para, de forma organizada, conseguir comercializar os seus produtos e melhorar
as suas vidas e a localidade em que se inserem.

Procurando abranger de forma mais concisa e completa as múltiplas


características que compõem o perfil do empreendedor social na contem-
poraneidade, Oliveira (2008) divide-as entre conhecimentos, habilidades,
competências e posturas, conforme mostrado no Quadro 2.

148
TÓPICO 4 | EMPREENDEDORISMO SOCIAL

QUADRO 2 – PERFIL DO EMPREENDEDOR SOCIAL

Conhecimentos Habilidades Competências Posturas

• Saber aproveitar • Ter visão clara. • Ser visionário. • Ser


as • Ter iniciativa. • Ter senso de inconformado e
oportunidades. • Ser equilibrado. responsabilidade. indignado com
• Ter competência • Ser participativo. • Ter senso de a injustiça e a
gerencial. • Saber trabalhar solidariedade. desigualdade.
• Ser pragmático em equipe. • Ser sensível • Ser determinado.
e responsável. • Saber negociar. com os problemas • Ser engajado.
• Saber trabalharde sociais. • Ser
• Saber pensar e
modo • Ser persistente. comprometido
agir
empresarial • Ser consciente. e leal.
estrategicamente.
para resolver • Ser ético.
• Ser perceptivoe • Ser competente.
problemas
atento aos • Saber usar • Ser profissional.
sociais.
detalhes. forças latentes • Ser transparente.
• Ser ágil. e regenerar • Ser apaixonado
• Ser criativo. forças pouco pelo que faz
• Ser crítico. usadas. (campo social).
• Ser flexível. • Saber correr
• Ser focado. riscos
• Ser habilidoso. calculados.
• Ser inovador. • Saber integrar
vários atores em
• Ser inteligente.
torno dos
• Ser objetivo.
mesmos
objetivos.
• Saber interagir
com diversos
segmentos e
interesses dos
diversos setores
da sociedade.
• Saber improvisar.
• Ser líder.

FONTE: Adaptado de Oliveira (2018)

Da análise do Quadro acima, vale enfatizar o aspecto de transformador


social que o empreendedor apresenta. Isso necessariamente exigirá dele, além da
competência de ação exigida pelo terceiro setor, a capacidade de interagir com os
setores primário (público) e secundário (privado) para atingir o sucesso das suas
ações empreendedoras sociais.

149
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

DICAS

Muitas das organizações que atuam no terceiro setor, no Brasil e no mundo,


utilizam-se das ideias do empreendedorismo social para executar as suas atividades. Uma
vez que o terceiro setor se constitui por organizações de natureza privada, que procuram
cumprir com as demandas públicas não atendidas pelo Estado, é necessário que os
voluntários possuam os atributos de empreendedores sociais para realizarem bem os seus
afazeres e produzirem os benefícios sociais à coletividade.

4 AS AÇÕES DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL


As ações do empreendedorismo social são postas em prática tanto por co-
munidades específicas quanto pelas diversas organizações que atuam no terceiro
setor e procuram atender às demandas sociais que necessitam de ação organizada
e voluntária para transformar determinada realidade. O empreendedorismo
social se diferencia, no entanto, de um projeto social, por apresentar um
caráter de empoderamento da comunidade na qual atua — e não somente de
resolução de determinado problema. O que garante o sucesso de uma ação de
empreendedorismo social é o engajamento da própria comunidade por meio do
entendimento de que a sua participação e o seu envolvimento podem resultar na
mudança esperada.

Dessa forma, para conhecer algumas das ações que envolvem o empre-
endedorismo social, podemos retomar o conceito de inovação, uma vez que
uma ideia socialmente transformadora em geral envolve alto grau de inovação
e costuma ser central e essencial para que o empreendedorismo social tenha
sucesso. Os autores Melo Neto e Fróes (2002, p. 49) fornecem alguns exemplos
de ideias socialmente empreendedoras, que podem ser desenvolvidas de forma
comunitária ou por organizações sociais:

• combate a um tipo de exclusão social (por exemplo, a implantação


de uma rede de escolas de informática em comunidades de baixa
renda);
• abordagem holística de um problema social (por exemplo, os
projetos desenvolvidos pelo Instituto Renascer, que baixou em 60%
as reinternações hospitalares de crianças pobres no Rio de Janeiro);
• adoção de práticas preventivas valorizando a cultura local e a
identidade da comunidade (por exemplo, os projetos “Barraca da
Saúde” e “Trupe da Saúde”);
• adoção de ações lúdicas em ambientes tecnológicos e impessoais
(por exemplo, o projeto “Doutores da Alegria”);
• promoção da cidadania (por exemplo, as ações desenvolvidas pelo
Instituto de Defesa do Consumidor);
• novos insights (enfoques) sobre a abordagem de problemas sociais
(por exemplo, o projeto “Médicos de Família”);
• adoção de novas práticas de gestão (por exemplo, programas e
projetos de autogestão).

150
TÓPICO 4 | EMPREENDEDORISMO SOCIAL

É interessante perceber, a partir dos exemplos citados pelos autores, como


o empreendedorismo social se vale, por vezes, do estabelecimento de ações de
cooperativismo e associativismo para realizar os seus objetivos. Dessa forma,
consegue-se envolver as pessoas da comunidade, promovendo a sua participação
e o seu engajamento em busca de benefícios comuns.

Existem duas vertentes principais pelas quais o processo de empreende-


dorismo social se realiza: “[...] o empreendedorismo social comunitário e o
empreendedorismo voltado para organizações sociais” (MELO NETO; FRÓES,
2002, p. 132). Cada um desses tipos de empreendedorismo social apresenta
características próprias, conforme o Quadro 3.

QUADRO 3 – AS DUAS VERTENTES DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL E AS SUAS DIFERENÇAS

Empreendedorismo Empreendedorismo voltado


social comunitário para organizações sociais

O foco é a comunidade. O foco é nas organizações sociais.

Seu objetivo é melhorar o desempenho


Seu objetivo é fortalecer a cidadania, a
das organizações sociais atuantes na
organização e a integração comunitária.
comunidade.

Empreende a comunidade como


Empreende a organização social.
um todo.

Predomínio de ações institucionais. Predomínio de ações gerenciais.

Âmbito de atuação mais amplo. Âmbito de atuação mais restrito.

Gerenciamento de uma organização que


Gerenciamento da comunidade.
presta serviços à comunidade.

FONTE: Adaptado de Melo Neto e Fróes (2002)

Você pode perceber que, embora ambas sejam entendidas como ações
de empreendedorismo social, elas possuem aspectos particulares que devem ser
considerados. Ao referir-se aos empreendimentos comunitários, Singer e Souza
(2000, p. 254) destacam que “[...] tais empreendimentos constituem a base da
economia solidária, cuja característica marcante é a autogestão. E o seu modelo
predominante é o trabalho cooperativado”.

151
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

É claro que, para haver uma ideia empreendedora e para que esta possa
ser institucionalizada, organizada e estruturada dentro de um formato eficiente e
que atenda aos objetivos da comunidade, transformando a sua condição social a
partir da participação dos seus membros, é necessário que haja um suporte. Esse
suporte e essa orientação também são possíveis com o trabalho de organizações
sociais que tenham como objetivo desenvolver o empreendedorismo social e as
suas formas de gestão. Elas investem no capital humano local e buscam ampliá-lo;
como consequência, elevam também o capital social existente nessas comunidades
a fim de construir uma sociedade mais justa e sustentável.

DICAS

O capital humano corresponde ao nível de qualificação, escolaridade e


capacidade empreendedora que os membros da comunidade possuem, enquanto o capital
social é considerado como a forma de organização e participação destes na condução das
questões comunitárias.

Em relação aos tipos de ações de empreendedorismo social que crescem


na atualidade, visando combater os efeitos perversos da globalização, que
exclui e gera bolsões de pobreza ao redor do mundo, Oliveira (2008, p. 80)
comenta que “[...] merecem destaques outras ações crescentes e alternativas,
como do cooperativismo, de movimentos como os sem-terra, da criação do
fóruns internacionais de manifestos antiglobalização, como exemplo, o Fórum
Social [...]”. Também, ao analisarmos o âmbito educacional, percebemos que há
inúmeros exemplos de empreendedorismo social propostos a partir do trabalho
de organizações sociais.

Podemos citar como exemplo a atuação do Instituto Inspirare, criado no


estado de São Paulo, que reúne voluntários interessados em promover trans-
formações sociais a partir da busca por uma educação inovadora, tecnológica e
equitativa, atuando na formação de professores e junto aos públicos de estudantes
das comunidades onde se insere. O Instituto Inspirare opera a partir de parcerias
com várias outras organizações públicas e da sociedade civil para atingir os seus
objetivos.

152
TÓPICO 4 | EMPREENDEDORISMO SOCIAL

UNI

Para maiores informações sobre as ações de empreendedorismo social do


Instituto Inspirare, acesse o link a seguir.
https://qrgo.page.link/BSK3

Oliveira (2008) apresenta algumas organizações sociais que atuam de


forma inspiradora no empreendedorismo social. As organizações que estão
voltadas diretamente para a área da educação são as seguintes: Edisca, Centro
Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), Centro de Comunicação e
Cultura, e Crecheplan. Veja como atuam essas organizações e perceba como elas
procuram causar impacto social a partir do seu empreendedorismo.

• A Edisca é uma escola ofertada para meninas carentes do estado do Ceará,


visando construir um caminho alternativo à vida nas ruas e à prostituição.
Fundada por Dora Andrade, trata-se de uma escola idealizada para ajudar
crianças pobres a desenvolverem as suas habilidades. Na escola, além dos
conteúdos programáticos, são ofertadas aulas de dança, teatro, mímica, coral,
artes plásticas e música clássica. Dessa forma, as crianças permanecem mais
tempo na escola, na qual a participação dos pais também é promovida.
• O Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), fundado por
Sebastião Rocha, em Belo Horizonte, desenvolve atividades que objetivam
fazer com que os estudantes sintam prazer em frequentar as aulas. Para isso,
foi criado um projeto de educação popular que não se limita ao espaço físico
das escolas e aproveita as particularidades locais nesse processo educacional.
• O Centro de Comunicação e Cultura, localizado em Fortaleza e fundado
por Daniel Raviolo, trabalha com a publicação de jornais comunitários
autossustentáveis que apoiam a educação não formal das comunidades onde
atua. Para inserir-se nas escolas, foi criado o projeto Clube do Jornal Escolar,
que trabalha com base na responsabilidade civil, no meio ambiente e na
preservação do patrimônio histórico local.
• A Crecheplan, criada por Sílvia Carvalho, que foi bolsista da Ashoka, tem
o objetivo de desenvolver creches de primeira qualidade focando em uma
das maiores carências dessa etapa: a formação de seus profissionais. Dessa
forma, trabalha ofertando cursos de capacitação e formação continuada para
os profissionais da Educação Infantil que desenvolvem as suas funções nas
creches e pré-escolas do estado de São Paulo.

153
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

Podemos perceber que as ações de empreendedorismo social citadas


apresentam aspectos em comum, como a constituição da sua atuação em uma
área social que necessita de apoio, buscando transformar essas realidades. Essas
iniciativas de empreendedorismo social organizam as suas atividades a partir
do trabalho voluntário dos seus membros e procuram valer-se das caracterís-
ticas locais para compor as suas ações. Dessa forma, acabam reconhecendo
e valorizando os traços da cultura local. Além disso, percebemos que essas
iniciativas acabam por elevar o nível de capital social existente nos locais onde
atuam, pois promovem a participação, a cooperação e a multiplicação das suas
experiências entre todos.

Outra característica que merece destaque e que costuma fazer parte


das ações do empreendedorismo social é o fato de elas funcionarem como um
mecanismo que promove a auto-organização social dessas comunidades. Em
outras palavras, elas agem como uma tecnologia social que deixa de lado os
aspectos mais assistencialistas e os substitui pela perspectiva de emancipação e
transformação pelo caminho do empreendedorismo.

DICAS

O conceito de tecnologia social pode ser entendido como os diversos “arranjos


institucionais definidos e implementados por associações, governos federal, estadual e
local, universidades, sindicatos, equipes gestoras dos programas e projetos de desenvolvi-
mento social numa comunidade e pelos próprios membros da comunidade” (MELO NETO;
FRÓES, 2002, p. 64). Veja no quadro a seguir algumas tecnologias sociais atuais.

Denominação Características

Estratégia de indução ao desenvolvimento


que prevê a adoção de uma metodologia
participativa, pela
qual mobilizam-se recursos da sociedade
civil, em parceria com o Estado
Desenvolvimento Local Integrado e
(com os três níveis de governo), para
Sustentável (DLIS)
realização de diagnósticos da situação
de cada localidade, identificação de
potencialidades, escolha de vocações
e confecção de planos integrados de
desenvolvimento.
Processo dinâmico pelo qual comunidades
e seus membros identificam ideias e
Empreendimento oportunidades econômicas e sociais, e
Social atuam desenvolvendo-as e transformando-
as em empreendimentos comerciais e
industriais autossustentáveis.

154
TÓPICO 4 | EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Formados por pequenos produtores


de mercadorias que constroem para si
Clube da Troca um mercado protegido ao emitir moeda
própria que viabiliza o intercâmbio entre os
participantes.

Cooperativas especializadas em vender


serviços (de limpeza, de manutenção,
Cooperativas de Trabalho vigilância, etc.) a serem prestados nos locais
e com o uso de meios fornecidos pelos
compradores.

Núcleos de criação e desenvolvimento de


Incubadoras de Pequenos Negócios
pequenos negócios.

Instituições privadas sem fins lucrativos


Instituições Comunitárias de Crédito que ofertam microcrédito aos pequenos
empreendedores.

Associações que congregam diversos


Associações de Grupos de Produção
grupos de produção.

Associações para amparar famílias atingidas


Associações de Solidariedade
por problemas sociais.

Iniciativas que promovem debates sobre


Fórum de Economia Solidária
empreendimentos sociais comunitários.

Reunião de empreendimentos
Redes de Intercâmbio comunitários que se ajudam mutuamente
e, coligados, obtêm viabilidade econômica.

Voltados para causas sociais importantes,


como a reforma agrária, no caso do
Movimento Sem Terra, ou melhoria das
Movimentos Sociais condições de moradia, no Movimento
Sem Teto, ou para combater o racismo e o
preconceito sociais, no caso do Movimento
Negro.

FONTE: Adaptado de Melo Neto e Fróes (2002)

155
UNIDADE 3 | INSTANCIAS SUPERIORES

UNI

Para conhecer mais sobre as tecnologias sociais utilizadas nas ações de


empreendedorismo social, acesse o artigo de Ladislau Dowbor, intitulado “Redes de Apoio
ao Empreendedorismo e Tecnologias Sociais”, no link a seguir.

https://qrgo.page.link/56y4

UNI

Um exemplo interessante de empreendedorismo social é retratado no filme


O menino que descobriu o vento, do diretor Chiwetel Ejiofor. Baseado na história real de
William Kamkwamba, o filme relata a força de um jovem para construir um gerador de
energia eólica e irrigar as plantações da família no solo desértico africano. A obra mostra
as ações de gerenciamento comunitário necessárias para que a ideia empreendedora
do menino possa ser posta em prática, ajudando a resolver o problema da fome da
comunidade onde reside. Enfatiza ainda a importância do capital humano conquistado a
partir da escola e a sua biblioteca para que o capital social pudesse ser canalizado como
deveria e a iniciativa de empreendedorismo social tivesse êxito.

156
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• O empreendedorismo social desponta nas últimas décadas do século XX,


acompanhando as mudanças econômicas, políticas e sociais que ocorrem no
Brasil e no mundo, principalmente após a globalização.

• Dessa forma, as ações de empreendedorismo social, seja sob a forma comunitária


ou a partir de organizações sociais do terceiro setor, surgem para complementar
a ação do Estado frente às demandas sociais urgentes e que envolvam situações
de risco, sempre partindo do princípio do empoderamento local e da busca
global por uma sociedade mais justa e sustentável.

• Estudamos o conceito de empreendedorismo social, bem como as principais


características do empreendedor social.

• Vimos sobre as semelhanças entre as diversas ações de empreendimentos


sociais existentes hoje na sociedade brasileira.

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

157
AUTOATIVIDADE

1 Os anos de 1990, do século XX, foram marcados por grandes transformações


nos âmbitos político, econômico, social e cultural que afetaram todo o
planeta, uma vez que, nesse período, já se observava os processos intensos
da globalização. Essas mudanças fizeram emergir um novo conceito de
empreendedorismo, predominantemente social. Considerando que as
diferenças entre empreendedorismo capitalista e social são frutos desse
período, assinale a alternativa que apresenta a correta relação entre o
contexto e o surgimento do empreendedorismo social.

a) As tecnologias de comunicação e informação impulsionadas a partir da


globalização contribuíram para o surgimento do empreendedorismo social.
b) As formas de governo das nações capitalistas expandem a racionalidade
neoliberal após a globalização e impulsionam a emergência do
empreendedorismo social e das ações do terceiro setor.
c) A globalização afetou o contexto econômico, promovendo maior
competitividade entre as empresas privadas e favorecendo, dessa forma, o
empreendedorismo social.
d) Durante o processo de globalização houve uma expansão das ideologias de
cunho socialista, que promoveram o social e as suas ações empreendedoras
sociais.
e) A globalização fez com que as relações de emprego e trabalho se
reconfigurassem, aumentando a concorrência entre as pessoas e as
empresas e expandindo o empreendedorismo social que se vale dessa lógica.

2 O empreendedorismo social apresenta algumas dimensões específicas sobre


as quais esse processo se instala. Quando consideradas tais dimensões,
aumentam muito as possibilidades de que essas ações empreendedoras
atinjam seus objetivos e causem o impacto social desejado. Analise as
alternativas a seguir e marque aquela que apresenta a relação correta entre
a dimensão e suas características.

a) A dimensão regulatória/institucional envolve os movimentos de incentivo


e busca por novas organizações sociais e como torná-las mais atuantes na
comunidade.
b) A dimensão ambiental envolve os processos de criação e implementação
de locais apropriados ao desenvolvimento de ações sociais, principalmente
nos espaços urbanos.
c) A dimensão ambiental envolve os processos de criação e implementação de
políticas públicas de incentivo ao empreendedorismo social.
d) A dimensão psicossocial se refere à mudança de comportamentos que
é requerida nas ações de empreendedorismo social, o que envolve
participação, engajamento e solidariedade.
e) A dimensão cultural abrange os estudos da cultura ambiental local visando
o uso sustentável dos recursos naturais existentes na comunidade.

158
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