Ebook - Como Hackear A Graduação - V 2.0 - Giovanni Begossi

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

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iíndice
04 Prefácio

07 Introdução

14 Conselho 01: Fuja de projetos sem resultado

19 Conselho 02: Faça um intercâmbio

26 Conselho 03: Se aproxime de pessoas que te apoiam

30 Conselho 04: Crie um projeto

34 Conselho 05: Domine os regulamentos da Universidade

39 Conselho 06: Aprenda idiomas

43 Conselho 07: Estude gestão de tempo

50 Conselho 08: Cague para as aulas ruins

53 Conselho 09: Não negligencie os eventos sociais

55 Conselho 10: Procure um (bom) estágio

63 Conselho 11: Desenvolva sua oratória

70 Conselho 12: Faça um TCC em uma área que você goste

76 BÔNUS: Foda-se a láurea!

82 Posfácio

85 Anexos
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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

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Ter um diploma universitário nunca foi requisito para o sucesso
(42% dos brasileiros mais ricos não foram para a Universidade1). A grande
mudança recente é que, diferentemente de algumas décadas atrás, ter
um diploma cada vez mais deixa de ser uma garantia de sucesso, na
medida em que um terço dos brasileiros tem ensino superior2. Você
provavelmente já ouviu falar sobre como inclusive pessoas com douto-
rado (ou seja, uns 10 anos só de ensino superior) estão trabalhando como
Uber3, pois sua qualificação extrema ainda assim não lhes rendeu um
trabalho em sua área.

Mas a universidade pode ser um catalisador.

A grande maioria das pessoas hoje na faculdade estão ali


somente por estar. Ingressaram por pressão social e estão levando o
curso com a barriga, sem nem saber de verdade se estar ali foi escolha
delas ou dos pais. Como para quem não sabe aonde quer chegar qualquer
caminho serve, tenderão a escolher o caminho que requer menor esforço.
Comemoram quando o fim de semana chega e odeiam a segunda-fei-
ra, sem se dar conta do privilégio que é estar em uma universidade.

Nas próximas páginas, você encontrará insights valiosos para po-


tencializar o impacto dos seus anos universitários. Talvez nem todos se
apliquem 100% à sua realidade, ao seu curso, à sua faculdade. Mas eu
estou disposto a apostar dinheiro de que esse livro vai te ajudar mais do
que 99% dos livros que você decora para passar nas provas.

1 Qual a formação superior dos bilionários? Disponível em: <https://blog.geracaodevalor.


com/qual-formacao-superior-dos-bilionarios/>. Acesso em: 13 jun. 2021;
2 Taxa de brasileiros com ensino superior chega a 34,3%. Disponível em: <https://revis-
taensinosuperior.com.br/ensino-superior-diploma/> Acesso em: 11 jul. 2021;
3 Falta emprego até para quem tem doutorado. Disponível em: <https://www.correio-
24horas.com.br/noticia/nid/falta-emprego-ate-para-quem-tem-doutorado/> . Acesso em: 11 jul.
2021.

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Ah, uma dica: use a ferramenta de realce (highlight) do seu leitor
de PDF para destacar em amarelo aquelas sacadas que virarem uma
chave em você e, em azul, dicas práticas que você quer implementar. As-
sim, você vai tirar muito mais proveito deste material.

Agora, deixe-me te mostrar como hackear a graduação.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Fala, tudo bem? Meu nome é Giovanni Begossi e eu quero te con-


tar uma história.

Quando eu entrei no curso de direito da Universidade Federal do


Rio Grande do Norte (UFRN), em 2014, era o “aluno perfeitinho”.

Eu não faltava a nenhuma aula, prestava extrema atenção mesmo


quando a aula não era tão boa e não ia nem ao banheiro para não perder
conteúdo. Na minha cabeça, todo mundo tinha algo a somar na minha
formação e seria uma grande falta de respeito não prestar atenção ao
professor, que se dedicou tanto para estar ali. Além disso, eu fazia todas
as lições de casa com muito zelo, mesmo que alguns professores nem
lessem. Eu acreditava que ao menos estava aprendendo algo.

Meus dois primeiros anos na Universidade foram assim.

Até que, em 2015, no meu 4º período do curso, eu recebi uma


ligação que mudou minha vida. Eu estava em um dos laboratórios de in-
formática do setor I da UFRN quando meu celular tocou e uma voz falou:
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INTRODUÇÃO

— Oi, Giovanni?
— Sim. — respondi.
— Aqui é da Secretaria de Relações Internacionais, você se
inscreveu no processo seletivo da Bolsa Fórmula Santander, certo?
— Uhum, me inscrevi.
— Então... você foi selecionado. Você poderia dar uma passadinha
aqui na Reitoria?

Esse foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Eu saí do


laboratório e tudo parecia estar em câmera lenta. Comecei a reparar no
sol, na grama verde. Comecei a lembrar de todas as madrugadas estu-
dando para provas, todos os dias em que, por 2 anos, eu acordei às 4:30
da manhã para poder pegar o ônibus das 5:20 e viajar sentado da zona
norte à zona sul da cidade de Natal e chegar pontualmente para a aula
das 07:00. De repente, tudo isso fez sentido. Todo esse esforço valeu
a pena, pois eu tinha acabado de receber a notícia de que eu ganharia
R$ 16.000,00 para estudar onde eu quisesse no mundo.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Em janeiro de 2016, eu embarquei para meu intercâmbio em


Coimbra, Portugal.

Quando eu desci do avião e respirei o ar de Lisboa, foi quando real-


mente caiu a ficha: “isso está acontecendo”. Esse foi, definitivamente, o
melhor ano da minha vida. Eu realizei meus sonhos de morar com amigos
e perto da Universidade, de ver neve, de viajar para Paris…

Durante esse intercâmbio, uma coisa que me marcou muito foi


o compromisso dos professores. Eu cursei 09 matérias e, em um ano,
nunca algum professor faltou ou sequer remarcou a aula (de onde eu vim,
não era incomum acordar com um e-mail do professor dizendo que não
haveria aula por algum motivo). Mas não só isso, as aulas eram muito pro-
10
INTRODUÇÃO

fundas no conteúdo, e os professores, extremamente rigorosos na cor-


reção de qualquer exercício ou prova. Sem desmerecer alguns grandes
professores que lecionam na UFRN, eu finalmente me senti em uma “Uni-
versidade”. Eu me senti desafiado: se minha estratégia de estudar (ou
decorar) conteúdo na madrugada anterior à prova tinha me rendido uma
média de 9.6, em Coimbra isso geralmente me daria um 5 ou 6.

Em 2017, quando eu voltei para o Brasil, eu deixei de ser o aluno


perfeitinho.

Eu passei a faltar às aulas que eu considerava superficiais. Se a


chamada fosse oral e eu fosse obrigado a ir a uma aula ruim, eu ficava
no fundo da sala lendo (e não eram sequer livros sobre direito, mas ro-
mances em inglês para treinar a língua). Comecei a usar os 25% de fal-
tas a que eu tinha direito de acordo com o regulamento na maioria das
matérias — mas continuava sem faltar nenhuma vez naquelas matérias
em que os professores eram realmente bons.

O Giovanni de 2014 acharia tudo isso um completo desrespeito


com o docente. O Giovanni de 2017 começou a perceber que o verdadeiro
desrespeito era ser coagido a comparecer a uma aula nitidamente ruim
apenas para “não reprovar por falta”.

Eu lembro que alguns colegas de turma (que ainda eram “alunos


perfeitinhos”, e continuaram assim até o fim da graduação) falaram na
época: “assinar a lista de presença por outra pessoa é imoral! É basica-
mente corrupção! É falsidade ideológica! É crime, está no Código Penal!”.

Mesmo sendo considerado “imoral”, “corrupto” e até “criminoso”


por alguns, minha consciência não poderia estar mais tranquila. Imoral,
para mim, é um professor de uma Universidade Federal, remunerado
com dinheiro de impostos de uma população que sofre tanto, dar uma

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

aula superficial, não corrigir as atividades que são entregues, fazer uma
prova 100% objetiva e ainda colocar o monitor para corrigir. Imoral, para
mim, era ser obrigado a usar o que eu tenho de mais valioso, meu tempo,
pra assistir uma aula que não é digna dele, quanto mais do tempo combi-
nado de 50 alunos reunidos. Imoral, para mim, era o tacitamente vigente
pacto de mediocridade, em que o professor finge que ensina e o aluno
finge que aprende, em um sistema que privilegia a decoreba e é possível
tirar 10 em diversas matérias sem aprender nada, e no qual os alunos
passam centenas de horas durante 5 anos decorando mil assuntos que
nunca vão usar, mas saem da graduação sem serem fluentes em inglês
ou saber falar bem em público.

Eu comecei a entender que meu compromisso não era com as


regrinhas da Universidade, e sim com quem estava financiando meu
estudo, a sociedade brasileira. Para os trabalhadores brasileiros, pou-
co importa se eu assinei a lista de presença, o que importa é o que eu
vou fazer com a oportunidade que eu recebi e que a maioria do povo
brasileiro nunca terá. Havia um princípio por trás que me autorizava a
quebrar as regras.

Então eu comecei a ser muito mais crítico e consciente sobre


como eu usava o meu tempo na Universidade.

E deu resultado.

No meu último ano como aluno da graduação (2019), eu me tornei


bicampeão potiguar de debates, bicampeão brasileiro de oratória, viajei
(pela terceira vez) a Portugal para ser Juiz-Chefe do Campeonato Mundi-
al de Debates em Língua Portuguesa, fiz o Estágio-Visita da Câmara dos
Deputados, apresentei um TCC de mais de 100 páginas com nota máxima
e menção honrosa, passei no exame da Ordem dos Advogados do Brasil
e fui o aluno laureado da minha turma, tudo isso conciliando mais de 10
matérias por semestre e estágio em um escritório de advocacia.
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Quando eu entrei na faculdade, eu não tinha ninguém para me
aconselhar. Então minha experiência universitária foi na base da tentati-
va e erro. Errei bastante, mas também aprendi muito, e esse aprendiza-
do me levou a ter cada vez mais acertos. O que eu vou te passar neste
livro é a compilação de 12 conselhos que eu daria a mim mesmo se
estivesse entrando hoje na Universidade. Assim, você ganhará tempo
e potencializará o grau de impacto da sua passagem pela Universidade.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

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CONSELHO 01

Nos meus dois primeiros anos da Universidade, eu ingressei em


3 projetos de extensão universitária. Um deles, sobre educação popu-
lar em direitos humanos para presidiários, havia feito uma apresentação
muito boa para os calouros.

O motivo de eu ter ingressado nesses projetos era por ter me en-


cantado com a ideia por trás deles. Foi maravilhoso ingressar na Univer-
sidade e conhecer estudantes que usam seu tempo livre para ajudar pes-
soas marginalizadas e fazer a diferença na sociedade.

Até aí, tudo bem. Mas o tempo foi passando e eu comecei a me


sentir cada vez mais infeliz em todos esses projetos. Só que eu não sabia
de onde vinha essa infelicidade.

Certo dia, foi marcado um encontro de um desses projetos no sí-


tio de um integrante. A ideia era se isolar durante um fim de semana para
planejar as atividades do ano, se conhecer melhor e se divertir. Marca-
mos no sábado, às 9h, em um ponto de encontro para que os estudantes
que tinham carro pudessem dar carona aos que não tinham.

Como eu morava na Zona Norte da cidade e o encontro era na


Zona Sul, a mais de 1h de distância, e os ônibus não são confiáveis (espe-
cialmente no fim de semana), eu planejei sair de casa às 7h. Assim, daria
tempo tranquilamente de esperar o ônibus por 45min (no pior cenário
possível) e ainda chegar com 15min de antecedência, até porque eu não
tinha plano de dados no meu celular para avisar que estava chegando
caso me atrasasse (apesar de isso ser algo muito básico para alguns,
no começo do curso eu não tinha esse dinheiro, então dependia de wi-fi
para me comunicar). E a última coisa que eu queria era ser visto como “o
cara pobre, chato e inconveniente que mora longe, depende de ônibus, é
incomunicável e faz todo mundo esperar por ele”.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

O que aconteceu naquele dia me deixa triste até hoje.

Para sair de casa às 7h, eu acordei por volta das 6:20 e comi al-
guma coisa. Acabou que eu cheguei com muita antecedência, porque
apesar de ter me preparado para um tempo de espera maior, o ônibus
passou rápido. Sem problemas, isso foi planejado. Mas você consegue
chutar a que horas o comboio finalmente partiu em direção ao sítio?

14h00min. Duas horas da tarde.

Aparentemente, as pessoas acordaram umas 8h, sentiram pre-


guiça e acharam que foi uma má ideia ter marcado tão cedo, então re-
marcaram. Porém, como eu saí de casa às 7h, não vi.

A pior parte foi que a última pessoa a chegar foi uma garota que
morava em um condomínio de luxo literalmente do lado do ponto de en-
contro, tinha carro e, quando chegou, falou a seguinte frase que nunca
esqueci: “desculpa a demora pessoal, estava almoçando”.

E lá estava eu, morrendo de fome por ter tomado café da manhã


às 06:20 e gastando os R$ 5,00 de emergência que eu tinha na carteira
para comer um cachorro quente e não passar mal.

Essa história ilustra bem um fenômeno comum em projetos uni-


versitários que eu só consegui entender depois. Por mais que a ideia,
o discurso por trás de um projeto fosse bom, às vezes o grupo é com-
posto predominantemente por pessoas de classe média alta que querem
“pagar” de críticos ajudando os pobres, mas falham por falta de compro-
metimento e método. Reuniões que são marcadas para começar às 17h
começam às 18:30, e a maior parte é gasta com conversa paralela e des-
focada. Como é possível causar uma mudança real na sociedade assim?

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CONSELHO 01

Se você quer entrar em um projeto, são duas as principais coisas


que você tem que avaliar: as metas e resultados. Onde ele quer chegar?
Em quanto tempo? O que ele já conquistou? Você quer estar com pes-
soas que são comprometidas, e não apenas que soam comprometidas.
Não só isso, essas metas e resultados estão alinhadas com o que você
quer para o seu futuro? De nada adianta ser produtivo na coisa errada.
É como escalar rápido uma escada que está apoiada na parede errada,
você só vai chegar mais rápido onde você não quer.

O mesmo raciocínio se aplica a projetos de pesquisa. Avalie os


resultados do professor orientador, não o discurso.

Anos depois, eu percebi que o motivo pelo qual eu acabei entran-


do em 3 projetos logo no início do curso foi porque nós, seres humanos,
temos a necessidade de pertencimento. Estamos sempre buscando nos
inserir em grupos. E o motivo de eu não ter saído dos projetos mesmo
estando infeliz foi pela necessidade de agradar os outros. Inclusive, eu
tinha medo de sair desses projetos e não conseguir entrar em nenhum
outro, visto que os projetos têm alunos em comum e alguém poderia me
queimar dizendo: “Ah, o Giovanni não tem compromisso, a gente selecio-
nou ele e ele vazou logo depois”. Então, eu só consegui me afastar quando
arrumei uma “desculpa” e falei: “pessoal. vou fazer um intercâmbio, então
vou precisar sair do projeto”.

Hoje, eu sei que poderia ter sido sincero (em especial comigo
mesmo) e saído dos projetos muito antes. Eu falaria algo como: “pessoal,
eu gostei da ideia do projeto, mas alguns acontecimentos me mostraram
que estamos sendo ineficientes e eu prefiro usar meu tempo de outra
forma”.

Tenho certeza que teria gente que falaria que eu era convencido
ou até mesmo que eu não tenho consciência social, pois caso tivesse não

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

estaria “só criticando sem tentar ajudar a melhorar”. Mas, sinceramente,


não tenho a obrigação de mudar a cabeça de 10 pessoas de 20 e poucos
anos que acham que estão arrasando em um projeto com zero relevância
na vida real e que se sumisse ninguém daria falta. Prefiro me juntar com
10 pessoas que já entenderam o jogo e conseguir mais resultados.

Então não fique com medo de sair de um projeto que não estiver
te dando retorno e nem ligue para os julgamentos. Seu tempo é extrema-
mente valioso e você não é obrigado a ficar por pressão de ninguém.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

O primeiro e mais importante passo para fazer um intercâmbio é


decidir fazer.

Quando ingressei na Universidade, eu já tinha fixa na minha cabeça


a ideia de fazer um intercâmbio. Eu cresci vendo filmes americanos de
como os estudantes basicamente moravam com amigos no campus e
tinham muita liberdade, e queria experimentar isso. Então, logo nos pri-
meiros dias de aula, eu já me informei sobre qual era o órgão responsável
por intercâmbios na UFRN (era a Secretaria de Relações Internacionais)
e perguntei por oportunidades. Foi quando descobri que vários editais de
bolsas eram publicados todo ano.

Um desses editais, chamado “Fórmula Santander”, previa 8


bolsas para a minha Universidade, sendo 1 para o Centro de Ciências
Sociais Aplicadas, no qual o meu curso (direito) se inseria. Ou seja, eu te-
ria que concorrer com todos os alunos de direito, administração, econo-
mia, serviço social, turismo… por apenas 1 vaga. “Ok, é difícil, mas vou
tentar mesmo assim”, pensei.

Mesmo que eu só pudesse concorrer a uma bolsa tendo concluí-


do 20% do curso, eu já tinha analisado os pré-requisitos do edital para
que, quando eu pudesse concorrer, tudo corresse bem. Um dos requis-
itos era nota, então foquei muito em melhorar minha média no início do
curso (ao final do terceiro semestre era 9,7). Além disso, considerando
que eu poderia tentar as bolsas todos os semestres até ter 80% do curso
concluído de acordo com o edital, eu teria diversas chances ao longo da
graduação, então minha estratégia foi simplesmente cuidar das notas e
tentar todas as oportunidades que aparecessem.

Quando finalmente chegou meu momento de concorrer, o edital


que previa 8 vagas para a Universidade e 1 vaga para o meu Centro agora
previa apenas 1 vaga para toda a Universidade. Ou seja, eu teria que con-

20
CONSELHO 02

correr com alunos de medicina, engenharia…

Fiquei desanimado, confesso. O que já era difícil, ficou quase im-


possível (a UFRN tem mais de 43.000 estudantes). Porém, acabou que
eu passei na minha primeira tentativa. E isso não teria acontecido se eu
não estivesse preparado para a rejeição. Quando você entende que o pior
que pode acontecer é você receber um não e nada mudar, fica mais fácil
ir atrás das oportunidades mais loucas possíveis. Você perde 100% das
chances que não tenta.

Inicialmente, eu queria ir para o Reino Unido para treinar meu


inglês, mas fiquei com receio do custo de vida em libras, então acabei
optando por Coimbra, uma cidade universitária com baixíssimo custo de
vida. Quando eu cheguei em Portugal para meu intercâmbio, eu sabia que
ia ser bom. Mas a experiência superou todas as minhas expectativas e
mudou quem eu sou.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Só para dar alguns exemplos: cursei apenas as matérias que eu


queria, incluindo inglês, alemão, negociação internacional, teatro e di-
reito constitucional I e II (mesmo eu já tendo cursado na minha Universi-
dade, fiz de novo só porque gostava muito); vi a neve pela primeira vez;
dividi apartamento com amigos; morei a 5 min a pé da Universidade;
me juntei à Sociedade de Debates da Universidade de Coimbra; virei
voluntário de uma Companhia de Teatro e Recriação Histórica e viajei fa-
zendo feiras medievais; me juntei aos Toastmasters (uma organização
internacional que treina comunicação e liderança); participei de 7 tornei-
os de debate (um deles em Paris) e de 3 model united nations; fiz 4 cursos
de oratória e ministrei 6 turmas do meu próprio curso de oratória, usando
o dinheiro que ganhei para estender meu intercâmbio por mais 6 meses
(inicialmente iria ficar só um semestre).

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E sabe o que é interessante? A maioria dessas experiências não
me rendeu um “certificado de horas”. Eu não tenho um certificado do
campeonato de debates em Paris, ou do voluntariado na Companhia de
Teatro. Eu literalmente paguei a mesma matéria duas vezes, era impos-
sível aproveitar aquilo “formalmente”. Mas eu estava preocupado com a
experiência, com o aprendizado. Pare com essa noia de só fazer cursos
para ganhar um certificado de horas extracurriculares e comece a ir atrás
do que vai somar na sua formação.

Não há dúvidas, a viagem para Portugal mudou a minha vida.

Mas ela quase não ocorreu.

Quando eu cheguei em Coimbra, encontrei vários outros


brasileiros. Perguntei para um deles:

— Você também está aqui pela bolsa do Santander?

E ele respondeu:

— Não, não. Eu queria muito fazer um intercâmbio, então econo-


mizei o dinheiro de 1 ano de estágio.

Isso foi um tapa na minha cara. Eu tinha o sonho de fazer inter-


câmbio, mas tinha condicionado totalmente esse sonho a conseguir uma
bolsa, algo que não dependia 100% de mim. Mesmo estudando muito,
simplesmente poderia ter alguém com a nota um décimo maior, então eu
tive sorte. Sequer passou pela minha cabeça que, com planejamento, eu
poderia guardar parte da bolsa de estágio durante um tempo para, perto
do final do curso, fazer um intercâmbio.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Mas se uma viagem ao exterior é extremamente inviável para


você, lembre-se que você pode fazer uma mobilidade acadêmica nacio-
nal. Sim, você pode fazer um intercâmbio para outra Universidade dentro
do Brasil.

Enquanto eu estava em Coimbra, um dos meus melhores amigos


estava em um intercâmbio em Brasília. Minha turma da UFRN recebeu 3
garotas do Tocantins que estudaram em Natal por um semestre. Eu achei
a ideia muito legal: 3 amigas que viajaram de carro para passar 6 meses
morando e estudando juntas em uma cidade que tem praia.

E existe uma opção ainda mais low cost: se você tem família
em alguma parte do Brasil, talvez eles possam te receber por 6 meses.
Assim, nem aluguel você pagaria.

A real é que quem quer, dá um jeito. Quem não quer, dá uma


desculpa.

Fazer um intercâmbio aumenta as suas referências. Você


vai entrar em contato com outros professores, outras ideias, outros
paradigmas. Se você ainda mora com seus pais, você vai ter que conciliar
os estudos com fazer compras, cozinhar, lavar louça, lavar e passar rou-
pa, e limpar a casa. Mas talvez o maior amadurecimento venha do auto-
conhecimento. Quando a gente se afasta de tudo que a gente conheceu
até então (locais, pessoas...) e se joga em uma situação completamente
nova, é como se todas as vozes externas se calassem, e finalmente você
pudesse ouvir a sua própria voz interior, livre de ruídos. Você descobre
quem você é de verdade.

Então nem pense duas vezes. Apenas faça um intercâmbio e me


agradeça depois.

24
Você descobre
quem você é
de verdade

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

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CONSELHO 03

Você já deve ter ouvido falar que nós somos a média das 5 pes-
soas com quem mais convivemos. O poder da ambiência é gigantesco
nas nossas vidas.

Quando eu entrei na Universidade, me juntei a um grupo de es-


tudantes da minha sala. Nós fazíamos trabalhos juntos e tínhamos um
grupo de Whatsapp em que 90% das mensagens eram falando mal dos
outros. Inclusive, uma coisa que aprendi foi: se o seu grupo fala mal dos
outros pelas costas, quando você sai, o assunto é você.

Na época, eu estranhava algumas atitudes, mas sempre


relativizava porque pensava “ah, é só o jeito deles”. Novamente, a necessi-
dade de pertencimento e de agradar os outros fazia com que eu não me
posicionasse.

Eu comecei a entender que eu deveria parar de normalizar certos


comportamentos quando recebi a melhor notícia da minha vida, de que
eu iria fazer um intercâmbio em Coimbra, e compartilhei nesse grupo.
Nunca vou esquecer a resposta:

— Nossa, Portugal é a periferia da Europa.

A pessoa que falou isso tinha acabado de voltar de férias


familiares na Alemanha, e os demais riram e concordaram.

Eu percebi de uma vez por todas que aquele grupo era meio tóxico
para mim depois que fui para o intercâmbio e a “amizade” acabou com-
pletamente. Ninguém nunca me perguntou como estava sendo a viagem,
nem nunca mais falei com nenhuma daquelas pessoas. É uma sensação
muito chata ser completamente substituível e esquecível. Eu gastei 2
anos da minha vida andando com pessoas que não ligavam pra mim.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Quando cheguei em Portugal, eu conheci pessoas com quem


a amizade fluiu muito mais. Havia respeito, interesse e admiração
mútuos. A gente se incentivava, ficava feliz pelas conquistas uns dos
outros. Gostávamos de estar juntos sempre que possível. Mantenho con-
tato com essas pessoas até hoje. Um deles, com quem dividi apartamen-
to, me chama de Ministro Gigi, tamanha a confiança que ele tem no meu
potencial.

Hoje, eu entendo que aquelas atitudes dos meus “amigos” an-


tigos não eram normais. Não é normal que, quando você compartilha
uma conquista, seus amigos tentem diminuir o feito ao invés de ficarem
genuinamente felizes. O nome disso é mentalidade de escassez. Pessoas
com esse pensamento acham que se alguém está ganhando, ela está
perdendo, daí sua incapacidade de sentir-se feliz com a felicidade alheia,
inclusive (e talvez principalmente) de pessoas próximas. O contrário dis-
so é mentalidade de abundância, a crença de que há o suficiente para
todos e você pode (e deve) celebrar as conquistas de seus amigos como
se fossem suas.

Quando voltei do intercâmbio, passei a ser muito mais exigente


e seletivo com as minhas amizades. Eu percebi que eu era mais feliz e
produtivo quando estava próximo das pessoas certas. Foi quando me
aproximei de alguns dos meus melhores amigos da UFRN e com quem
tive momentos inesquecíveis.

Sobretudo, estar perto de pessoas que te apoiam te dará a


confiança e a segurança emocional de encarar seus maiores desafios de
peito aberto e cabeça erguida.

Com quem você anda molda quem você é, então escolha seus
amigos com cuidado.

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CONSELHO 03

Só que tem uma coisa que a maioria das pessoas não sabe sobre
amizades.

Você não atrai quem você quer, você atrai quem você é. Leia isso
de novo.

Todo mundo quer ter um bom círculo de amizades, composto por


pessoas leais, companheiras, good vibes, compreensivas, prestativas…
e esquecem de desenvolver nelas próprias as habilidades que valorizam
nos outros!

Então, se você quer amizades top, seja um amigo top. Se você


quer um namorado incrível, seja você mesmo o tipo de pessoa que
gostaria de namorar. Não cace borboletas, cuide do jardim.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

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CONSELHO 04

Em 2017, quando voltei do intercâmbio, peguei todo o conheci-


mento acumulado de debate competitivo, adquirido durante 1 ano de-
batendo pela Sociedade de Debates da Universidade de Coimbra, me
juntei a uns amigos e fundamos a União de Debates Competitivos do RN
(UDC-RN), da qual fui presidente em 2017 e 2018.

Fundar um projeto é muito empolgante. Você pode fazer as


coisas do seu jeito, ver o que funciona e o que não funciona. Existe algo
de mágico em criar algo do zero e pensar: “nossa, se eu não tivesse feito
isso, isso simplesmente não existiria”.

Mas a melhor parte é o aprendizado.


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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Ao fundar um projeto, você irá desenvolver inúmeras habilidades


cruciais para a sua vida. Enquanto fundador e presidente da UDC-RN,
aprendi na prática sobre liderança, diplomacia, marketing, captação
de patrocínios, planejamento e execução de eventos, trabalho em equi-
pe… Além disso, aprimorei minha didática ao ensinar as pessoas como
debater, e minhas técnicas de persuasão ao “vender a ideia” pelos corre-
dores da Universidade.

Além de todo esse desenvolvimento pessoal, liderar um projeto


tem um efeito colateral bem interessante: você é visto de modo diferente
por colegas e professores. É a chamada “autoridade percebida”, quan-
do as pessoas reconhecem um valor em você sem você precisar ficar se
vendendo (autoridade declarada). Você acaba ganhando uma espécie de
“capital social”.

Talvez você esteja se perguntando: “poxa, mas o que eu posso


fundar na minha Universidade?”

Qualquer coisa que faça seus olhos brilharem.

Se eu estivesse no curso de direito hoje, gostaria de contatar


um bom professor de Direito Constitucional e fundar um projeto em que
estudantes fizessem uma análise de constitucionalidade das leis que
tramitam na Câmara dos Vereadores da minha cidade. Imagina que
legal: você está aprendendo e fazendo networking, ao mesmo tempo em
que está tendo um impacto real na discussão de leis que vão literalmente
reger a vida de centenas de milhares de pessoas. E mais: aposto que
muitos membros talentosos seriam chamados pelos vereadores para
cargos comissionados após demonstrarem sua qualidade de escrita e
análise, transformando a vida desses alunos e a de suas famílias.

32
Talvez seu curso ainda não tenha um centro acadêmico, uma
atlética ou uma empresa júnior. Talvez sua faculdade não tenha uma so-
ciedade de debates ou um model united nations. Você pode fundar uma
revista para alunos publicarem artigos, um projeto que ensine nas es-
colas públicas noções básicas daquilo que você aprende na graduação.
Existem centenas de possibilidades.

Também existe sempre a opção de liderar um projeto que já existe.


Você receberá muitos dos benefícios que acabamos de analisar. Porém,
entre fundar e liderar, eu optaria por fundar simplesmente porque o de-
safio (e consequentemente, o aprendizado) é muito maior.

E aí, qual a marca que você vai deixar na Universidade?

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

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Uma coisa que quase ninguém faz é ler — ler de verdade — os
regulamentos que regem a graduação. Eu fiz isso e descobri que tinha
certos direitos que eram pouco divulgados.

Um deles foi o direito ao “regime de estudos domiciliares”. Quan-


do entrei no curso, tinha ouvido falar que isso existia para pessoas que
engravidassem ou contraíssem doenças contagiosas. Assim, elas pode-
riam estudar mesmo sem comparecer fisicamente na Universidade.
Porém, lendo atentamente o regulamento da minha faculdade, perce-
bi que havia uma terceira hipótese: representação da Universidade em
eventos desportivos, artísticos ou científicos.

Na época, eu viajava muito para campeonatos de debate que


ocorriam no fim de semana e acabava levando falta nas aulas da sexta
e da segunda. Uma vez por semestre, eu faltava 15 dias para participar
de algum campeonato muito importante e distante, como o Mundial de
Debates em Lisboa. O problema era que eu estava quase reprovando por
falta.

Então preparei um modelo de requerimento para pleitear esse


tal de regime de estudos domiciliares. E deu certo. Na verdade, deu tão
certo que enviei esse modelo para outros alunos que debatiam e eles
também começaram a usar. Pouco tempo depois, esse modelo se tornou
basicamente o padrão para se pedir o regime de estudos domiciliares, e
o exercício desse direito se tornou simples e recorrente, salvando várias
pessoas de reprovar por falta (inclusive eu).

Graças ao regime de estudos domiciliares, pude viajar para


representar a UFRN em competições de debate nas cidades de Fortale-
za, João Pessoa, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Vitória e Lisboa. A
maioria das viagens ocorria no meio do semestre, e por três vezes passei
mais de 15 dias seguidos fora de Natal, tudo isso sem receber faltas.

35
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 05

Outra questão que também aprendi lendo os regulamentos


foi como utilizar o ônibus da universidade. No início, era um mistério.
Porém, lendo e tirando dúvidas com servidores, fomos desvendando
o passo-a-passo administrativo, que envolve: a disponibilidade dos
motoristas, o requerimento para a gasolina, os termos de
responsabilidade que os alunos têm que assinar, a ida de um servidor
público como responsável… em determinado momento, a UDC-RN
chegou a levar um ônibus lotado de estudantes para campeonatos de de-
bate em João Pessoa e Fortaleza. Esses estudantes não pagaram nada
para ter uma experiência incrível.

Um direito escondido que descobri nos regulamentos foi o uso es-


tratégico da quarta prova. Na minha Universidade, os alunos têm direito
a faltar, sem qualquer justificativa, uma das 3 avaliações do semestre de
cada disciplina e realizar a chamada “quarta prova”. A maioria dos alunos
tinha medo da quarta prova porque ela também serve para os alunos que
ficaram em “recuperação”, então automaticamente associavam a quarta
prova a deficiência acadêmica.
36
Eu comecei a usar a quarta prova para melhorar a minha perfor-
mance acadêmica.

Basicamente, em momentos muito críticos do semestre, em que


eu teria mais de uma avaliação por dia, eu escolhia a dedo algumas pro-
vas para faltar. Isso tinha dois benefícios: 1) enquanto todos estudavam
para duas provas, eu estudava só para uma, me estressando menos e
me dando melhor; e 2) a quarta prova geralmente é no final do semestre,
quando a maioria das minhas aulas já tinham acabado, me dando tempo
de sobra para estudar.

Lembro até hoje que alguns colegas da minha turma estavam


voltando do intervalo para fazer uma prova de “Ética Jurídica” e falaram:

— Ué, você não vem? Agora é prova.

Eu respondi:

— Hoje não estou muito afim, vou fazer a quarta prova. — Me olha-
ram como se eu fosse um ET. Me senti um super rebelde.

Também é bom ter noção do que os professores podem e não po-


dem fazer. Por exemplo, na minha Universidade, só se pode fazer uma
avaliação 3 dias depois de disponibilizar a nota da avaliação anterior. Sa-
ber esse tipo de coisa te dá munição para uma eventual negociação de
prazos entre sua turma e o professor.

Outro benefício que adveio de ler os regulamentos: auxílio finan-


ceiro. Eu sabia que era possível pedir uma ajuda de custo para participar
de certos eventos, mas não sabia como funcionava. Lendo o regulamen-
to, descobri que cada aluno tinha direito a dois requerimentos de auxílio
financeiro por ano, e que esse auxílio era maior a depender da distância

37
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

do evento que você participaria. Então, me programei para, com meses


de antecedência, pedir um auxílio financeiro por semestre para ir a um
campeonato de debates que fosse distante (por exemplo, Portugal).
Então, em 2018 e 2019, eu recebi mais de R$ 5.000,00 em auxílios
financeiros para representar a UFRN em competições (e depois prestar
contas de que esse dinheiro foi gasto com isso, obviamente).

Tente essa experiência: faça download do regulamento da


graduação da sua Universidade e leia, grifando os pontos importantes.
Você pode se surpreender.

38
39
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Uma coisa que deveria ser óbvia, mas que muitos universitários
esquecem, é que este é o melhor momento para dominar o inglês e quiçá
começar uma terceira língua.

Quando estamos na graduação, a gente tem a sensação de que


está muito ocupado (“ah meu Deus, tenho 6 provas e 3 seminários esta se-
mana!”). Porém, depois você ingressará no mercado de trabalho, e depois
terá uma família para cuidar. Acredite, você tem tempo.

Na verdade, se você parar para pensar, é um pouco absurdo uma


pessoa se graduar no ensino superior (supostamente, a nata intelectual
do país) e não ser fluente em inglês. Nós passamos tantas horas adquirin-
do um conhecimento extremamente especializado (parte do qual sequer
será usado), mas esquecemos algo tão básico como saber falar inglês.

Quando eu viajei para Coimbra, uma das minhas melhores de-


cisões foi colocar “English II” e “English III” na minha grade curricular.
Eram matérias da faculdade de letras, não da faculdade de direito. Mas
como não havia qualquer impedimento para fazer isso, aproveitei. Foi
um ano inteiro de aulas com uma senhorinha do Reino Unido chamada
Penelope. Eu gostava tanto da aula dela que chegava antes para conver-
sar (em inglês, ela nem sabia português) e ficava mais tempo depois da
aula. Tomávamos chá juntos e ela me indicava autores para ler em inglês,
como John Grisham. Anos depois, continuamos trocando e-mails. E o
mais legal de tudo isso: eu tive as melhores aulas de inglês da minha vida
“de graça”, pois eram matérias da faculdade.

Virou um clichê dizer que inglês é importante, mas o inglês literal-


mente mudou minha vida. Desde 2020, eu dou aula de debates em inglês
para crianças em uma edtech chinesa chamada Speechtopia, trabalhan-
do com o que eu gosto e ainda ganhando em dólar. Se uma oportunidade
dessas aparecesse na sua frente hoje, você estaria preparado?

40
Eu tive as
melhores aulas
de inglês
da minha vida
“de graça”

41
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 06

Na minha opinião, você deveria ter como meta se tornar


fluente em inglês e ao menos começar uma terceira língua até o fim da
graduação.

E dá pra aprender de maneira low cost! Você pode fazer um curso


de inglês acessível (ou até gratuito no YouTube), negociar com um profes-
sor particular de trazer 3 alunos para uma aula em grupo e a sua sair de
graça, cursar inglês como matéria na faculdade, assistir filmes e séries
com legendas em inglês, mudar o idioma do seu celular para inglês, ler
livros de romance em inglês, como Jogos Vorazes e Harry Potter (eu lia
durante as aulas ruins)... ou fazer tudo isso ao mesmo tempo! Se você
procurar direitinho, irá achar até grupos de conversação em que pes-
soas se encontram em um lugar público, como um shopping, com o único
objetivo de conversar em inglês (e é de graça). Você mesmo pode criar
um desses grupos.

Como a estratégia de estudar idiomas como uma matéria da


faculdade deu tão certo em Coimbra, quando eu voltei ao Brasil resolvi
fazer alemão I e II, pois havia essas matérias no curso de letras da UFRN.
Assim, eu pude ter um primeiro contato com a língua de modo completa-
mente gratuito. E ainda tinha um incentivo extra para priorizar o estudo,
já que, por ser parte da minha grade curricular, e não um curso extra, as
provas afetavam minha média.

Acabou que eu não me identifiquei muito com o alemão, mas em


2020 comecei a debater online em espanhol durante a quarentena (mes-
mo sem saber a língua). Essa experiência foi maravilhosa. Fiz amigos em
toda a América Latina e na Espanha, desenvolvi uma nova língua (hoje
consigo conversar em espanhol), trouxe para o Brasil os dois primeiros
títulos open de debates em língua estrangeira e fui o primeiro brasileiro
a ser da equipe de juízes-chefe do Campeonato Mundial Universitário de
Debates em Espanhol (CMUDE). Como eu queria ter aprendido espanhol
na graduação!
42
43
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 07

Imagine a pessoa mais foda do mundo para você. Pode ser alguém
que está vivo ou uma personalidade histórica: Steve Jobs, Madre Teresa,
Nelson Mandela, Leonardo Da Vinci... pensou? Agora entenda uma coisa:
essa pessoa teve as mesmas 24h por dia que você tem.

Quando eu estava em Portugal, apareceu a oportunidade de


realizar um curso de “soft skills para advocacia”. Seria uma semana in-
teira, manhã e tarde, dedicada ao aprendizado de habilidades como tra-
balho em equipe, inovação, gestão de tempo, negociação, comunicação
e liderança, tudo isso promovido por um dos maiores escritórios de
advocacia de Portugal. Eu estava bastante animado com a oportunidade,
pois sabia que isso seria como ouro no meu currículo quando eu estivesse
buscando estágios em escritórios no Brasil.

Só que a minha inscrição foi indeferida.

O curso, que custava € 50 euros (algo como R$ 300 reais hoje em


dia), era para estudantes que residiam permanentemente em Portugal,
até porque os 2 melhores alunos ganhariam um estágio de verão naquele
escritório. Eu simplesmente não era o público-alvo.

Mesmo tendo sido recusado, eu acordei cedo, compareci na sala


de aula em que o curso iria acontecer com 50 euros na mão e disse:
“Oi, tudo bem? Meu nome é Giovanni e eu sou um intercambista bra-
sileiro aqui em Coimbra. Quero ser advogado e esse curso me ajudaria
muito. Estou com o dinheiro aqui comigo e queria saber se poderiam
reconsiderar minha inscrição”.

Para a minha sorte, uma pessoa tinha faltado, então não só eles
permitiram que eu participasse, como ainda recebi o kit que essa pessoa
receberia, com caderno e caneta desse escritório. E que bom que eu não
desisti no primeiro não, porque o curso foi absurdamente proveitoso.

44
De todas as soft skills estudadas, a que mais explodiu a minha
mente foi gestão de tempo. Fomos instados a colocar em uma planilha
do Excel o que fazíamos nas 24h do dia. Todas as atividades, mesmo que
aparentemente insignificantes, deveriam estar ali.

Essa planilha gerava um gráfico em pizza que mostrava como an-


dava nosso uso do tempo. Logo depois, aprendemos uma técnica chama-
da “Matriz de Covey” (também conhecida como “Matriz de Eisenhower”),
que se baseia em dividir todas as atividades em 4 quadrantes de acordo
com urgência e importância:

NÃO
URGENTE URGENTE
IMPORTANTE

Q1 Q2
FAÇA DECIDA
AGORA FAZER
IMPORTANTE

Q3 Q4
NÃO

DELEGUE MINIMIZE

Comecei a usar essa matriz ainda em 2016, durante o intercâm-


bio, e deu tanto resultado que uso até hoje. Então deixa eu te explicar
como funciona.

Primeiro, você tem que entender o que é importância e o que é


urgência. Uma atividade é importante quando te leva para mais perto do
seu “eu ideal”. Então, se daqui a 5 anos você quer estar fluente em inglês
(digamos que seu eu ideal é fluente), uma atividade importante é fazer
um curso de inglês. É crucial que você faça uma reflexão profunda so-
bre quais são seus objetivos de longo prazo, pois só assim você poderá
45
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 07

separar as atividades importantes das não importantes. O conceito de


urgência é mais fácil. Algo é urgente quando cria uma pressão em nós.
Precisamos fazer logo ou haverá uma grande consequência. Existe um
prazo a se cumprir, uma deadline. Ir para o hospital porque você teve um
piripaque, estudar para uma prova que está muito próxima e fazer aquela
tarefa no estágio são atividades urgentes.

A maioria das pessoas vive no quadrante 1 (urgente e importante).


São pessoas que vivem “apagando incêndio”. Até fazem coisas impor-
tantes, mas falta planejamento e equilíbrio. Daí se estressam tanto que,
para aliviar, acabam passando muito tempo em atividades “quadrante 4”
(não importantes e não urgentes), como jogar videogame em demasia,
maratonar diversas séries, assistir a reality shows… a raiz da procras-
tinação está em viver agoniado no quadrante 1, aí queremos jogar tudo
pro alto e mergulhar de cabeça no quadrante 4 por um pouco de alívio
momentâneo.

O quadrante 4 é o pior. São as atividades inúteis, total perda de


tempo, geralmente utilizadas como uma válvula de escape. Uma coisa
que muita gente não percebe é que o quadrante 4 não te traz felicidade
duradoura, mas apenas um prazer efêmero de curto prazo. Ou você vai
dizer que sua felicidade vem de assistir BBB? Se você pudesse conversar
com seu eu do futuro, você acha que ele estaria te encorajando a usar
seu tempo assim ou falaria “pare com esta merda!”?

Aqui, é bom fazer uma clarificação: todos nós temos atividades


quadrante 4. Ninguém é super produtivo 100% do tempo. O truque está
em minimizar essas atividades e substituí-las por fontes de prazer mais
saudáveis (o “lazer produtivo”), como praticar um esporte que você ama
ou viajar com seus melhores amigos. Por isso eu me apaixonei por de-
bate competitivo e acabei participando de mais de 50 torneios de debate
ao longo de 5 anos: eu me divertia ao mesmo tempo em que melhorava

46
minha oratória e argumentação, fazia networking, viajava e ainda apren-
dia muito sobre diversos temas, desde uberização da economia e gentri-
ficação a Brexit e niilismo.

Há ainda quem vive muito no quadrante 3. São pessoas que


pensam que são produtivas por estarem sempre ocupadas e fazen-
do coisas urgentes, mas essas atividades não as levam aonde elas
querem chegar. Por falta de prioridades próprias, elas vivem em função
das prioridades dos outros. Entenda isso: se você não tem um plano,
você é uma peça no plano de alguém.

Por fim, há quem viva primordialmente no quadrante 2. São as


pessoas altamente eficazes. Elas proativamente escolhem investir seu
tempo em atividades que não são urgentes (se você não comer comida
saudável ou não se exercitar hoje, nada vai acontecer repentinamente),
mas que trarão um excelente resultado no longo prazo. Essas pessoas
até lidam com urgências, mas são urgências genuínas (como uma corrida
até o hospital de vez em quando). A maioria das atividades importantes
não se tornam urgências.

Aplicando tudo isso à realidade da graduação, você pode estar


afogado em demandas de um projeto que nem é tão importante assim
para o seu futuro. Talvez você esteja fazendo tudo de última hora, e até
consiga tirar boas notas, mas se estressa, não aprende muito e ainda
sacrifica sua saúde. Ou então pensou “não tenho tempo para encaixar um
curso de inglês durante a graduação”, quando esta é a melhor época para
fazer isso.

Uma das grandes mudanças paradigmáticas da minha vida


adveio da compreensão de que devemos focar no quadrante 2 e de que
o principal problema não é falta de tempo, mas falta de prioridades. Nas
palavras do bilionário brasileiro Flávio Augusto: “se falta de tempo fosse

47
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 07

realmente uma justificativa para não realizar os seus projetos, apenas os


desocupados teriam sucesso”.

Em certa época da minha graduação, o meu dia estava extrema-


mente lotado. Saía cedo de casa, pegava 2 ônibus até a Universidade,
assistia aula de manhã, pegava 1 ônibus até o estágio, esquentava no
microondas o almoço que eu levava na bolsa, trabalhava pela tarde,
pegava 1 ônibus de volta à Universidade para pagar mais umas matérias
de noite, e depois pegava 2 ônibus para ir para casa, chegando umas 23h.
Alguns hacks de produtividade que me ajudaram foram: estudar a
matéria ou ouvir podcasts no ônibus (eu me sentia privilegiado, pois
enquanto quem tinha carro era obrigado a dirigir, eu tinha um “motorista
particular” e poderia focar somente em estudar) e dar pequenos cochilos
onde eu podia (20min após o almoço em uma sala vazia no meu estágio
e mais 20min na sala do meu projeto de pesquisa antes das aulas notur-
nas). Além disso, eu não perdia nenhum tempo preparando comida, pois
minha mãe me ajudava. É importante ter apoio.

Muita gente me pergunta como eu consegui ter boas notas a pon-


to de ser laureado se quase não tinha tempo de estudar. Nunca consegui
me adaptar a técnicas como pomodoro. O que funcionava para mim era
simplesmente estar presente de corpo e alma nas aulas. Experimente
isso. Ao invés de assistir passivamente e fazer algumas anotações, tente
analisar criticamente o conteúdo que está sendo dado. Faça pergun-
tas na sua cabeça enquanto assiste a aula, do tipo “como posso aplicar
isso?”. Esse tipo de pensamento vai fixar mais o conteúdo na sua cabeça.
De resto, eu revisava algumas horas de madrugada no dia da prova.

Caso você queira aprender mais sobre gestão de tempo, reco-


mendo que você leia o livro “os 7 hábitos das pessoas altamente
eficazes”, de Stephen Covey. Nele, você vai aprender com maior
profundidade a Matriz de Covey e outras noções importantes para

48
conquistar grandes objetivos no longo prazo sem sacrificar sua saúde
física e mental.

Para finalizar, vou te explicar o princípio do equilíbrio P/CP


(Produção/Capacidade de Produção). Você já deve ter ouvido falar da
história da galinha dos ovos de ouro. Um fazendeiro descobriu que uma
de suas galinhas botava ovos de ouro todos os dias, tornando-o rico.
Porém, sua ganância o fez matar a galinha dos ovos de ouro em busca
de mais ovos, e assim ele perdeu a fonte dos ovos de ouro, indo à ruína.
Nessa analogia, o ovo de ouro é o P, e a galinha é a CP.

Se você focar muito em produzir um resultado P (como tirar boas


notas), mas não investir na capacidade de produção CP (como cuidar
da sua saúde), você estará matando a galinha dos ovos de ouro, pois
perderá a capacidade de produzir esse resultado P no longo prazo.

Como anda a saúde da sua galinha dos ovos de ouro?

49
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

50
Só você é capaz de avaliar o que é uma aula ruim. Eu tive mais
consciência disso depois de estudar um ano inteiro na Universidade de
Coimbra. Mas provavelmente você tem um conjunto de aulas boas, au-
las medianas e aulas ruins. Aulas ruins são aquelas aulas tão superficiais
que você sente que conseguiria dar uma aula melhor que o professor se
estudasse uns dias antes e fizesse uma apresentação, ou que aprenderia
mais lendo o livro sozinho. Se esse é o caso, tem algum problema com
essa aula, e com esse docente.

Nós fomos ensinados durante nossa vida inteira que deve-


mos “prestar atenção”. Mas prestar atenção é um meio, não um fim.
A finalidade é o aprendizado. A grande sacada é perceber que, às vezes,
prestar atenção em uma aula ruim é um desserviço ao aprendizado, visto
que você poderia estar utilizando aquele mesmo tempo de forma melhor.
Na verdade, tem algumas aulas que eu cheguei a sentir que estava
desaprendendo ao invés de aprendendo, de tão ruim que era. Já se
sentiu assim também?

Então eu comecei a parar de sentir remorso em faltar às aulas


ruins. Parar de sentir remorso com outras pessoas assinando meu nome
na lista de chamada. Parar de sentir remorso de chegar no fim da aula
apenas para responder a uma chamada.

O pior tipo de professor, na minha opinião, é aquele que dá uma


aula ruim e ainda obriga o aluno a assistir com uma chamada oral no
início e no fim da aula. Eu realmente me sinto assaltado no meu tempo e
na minha produtividade. Nesse casos, apesar de não ser minha primeira
opção (eu preferiria faltar), eu sentava no fim da sala e simplesmente lia.
E não eram nem livros sobre a matéria. Eu gostava de ler principalmente
livros de ficção em inglês (como os livros do John Grisham, que a Sra.
Penelope recomendou). Hoje, eu trabalho 100% do tempo em inglês.
Também lia livros sobre política, sociologia, relações internacionais e
economia.
51
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 08

Olhe a sua grade curricular e todas as matérias que você já pagou


e vai pagar. Agora substitua mentalmente as aulas mais inúteis com algo
que você quer muito aprender, mas não tinha tanto tempo ou energia.
Olhando para essa nova grade aprimorada, ela não parece bem mais útil
para o seu futuro?

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53
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 09

Olhando para trás, uma coisa que eu gostaria de ter feito mais
vezes seria ter participado das festas e das calouradas. No início,
eu achava que era perda de tempo, um mero “ode à luxúria”, então só par-
ticipava de eventos acadêmicos (palestras, workshops...), pois achava
que eram os únicos a ter um impacto no meu futuro. Depois, percebi que
os eventos sociais eram uma ótima oportunidade de conhecer pessoas,
o que também teria um impacto no meu futuro (quiçá o maior impacto).

No meu curso, havia 3 churrascos por semestre. Eu estava literal-


mente no meu penúltimo ano da universidade quando fui a um pela pri-
meira vez. Outro evento para ficar de olho são os encontros regionais e
nacionais de estudantes do seu curso.

O próprio trote foi algo que mudei de opinião.

Eu tinha uma visão extremamente crítica de toda a ideia de ras-


par o cabelo e se humilhar perante os veteranos, tanto que fui o único da
sala a não raspar o cabelo. Eu achava que era uma tradição autoritária,
sem sentido e um verdadeiro atentado à dignidade. Mas acabou sendo
algo leve e um evento social que fortaleceu muito a amizade entre diver-
sos grupos na minha sala. E eu estava de fora.

Não estou dizendo para ir a festas todo final de semana (acho que
não é tão produtivo), mas é importante não se fechar totalmente a essas
experiências que podem trazer amizade, diversão e networking.

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55
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 10

Se o seu curso não possui estágio, ainda assim leia este capítulo,
pois vou falar sobre currículos, entrevistas e dinâmicas de grupo, o que
também vai te ajudar no mercado de trabalho!

Quando voltei de Portugal, no meu quinto período, tinha


consolidado na minha mente que queria um estágio em um bom escritório
de advocacia, e que pagasse um salário mínimo (o que na minha época
era uma bolsa top em Natal). Eu havia trabalhado duro para construir
um bom currículo e acreditava ser merecedor do melhor dos estágios.
Assim, enviei meu CV para o e-mail dos maiores escritórios de advoca-
cia do Rio Grande do Norte. A maioria ignorou, alguns disseram que não
tinham vagas. Um me chamou para uma entrevista, mas me ofereceu
apenas R$ 400,00. Segui buscando.

Até que meu pai, que era gerente de uma empresa, conseguiu
uma entrevista com o escritório que prestava serviço àquela empresa.
Aqui, uma nota rápida: sim, o mundo é feito de indicações, então ao invés
de reclamar que não tem contatos, faça uma lista dos contatos que es-
tão ao seu alcance. Por exemplo, você pode pedir para um professor que
sabe da sua qualidade te recomendar.

A entrevista deu tudo certo e fui contratado! Nesse escritório, a


bolsa era por volta de R$ 600,00. Não era o que eu queria, mas teria que
dar para o momento.

Foi uma época muito desafiadora, pois estava lidando com a


realidade de uma empresa pela primeira vez. Mas eu dava 100% de mim
todo dia e aprendia bastante.

Só que alguns atritos começaram a surgir. Eu pedia para chegar


mais tarde dois dias na semana para poder cursar alemão, e meu chefe
fazia cara feia. Eu pedia para usar o meu direito de estagiar apenas

56
metade do horário em épocas de avaliação (conforme a Lei de Estágio4),
e meu chefe fazia cara feia. Até que, na última sexta-feira do meu ter-
ceiro mês como estagiário, fui demitido.

Fiquei arrasado. Eu nunca tinha nem ouvido falar de alguém que


tenha sido demitido enquanto estagiário. Meu chefe falou que era eu quem
tinha que me adequar às necessidades do escritório, não o escritório se
adequar às minhas. Só que essa demissão foi uma das melhores coisas
que me aconteceram.

Um mês depois, eu já havia conseguido um estágio em que


eu trabalhava menos horas, que pagava o salário que eu queria desde o
início (quase o dobro do salário do primeiro estágio) e que era flexível com
meus compromissos acadêmicos. O estágio nesse segundo escritório foi
tão maravilhoso que meus chefes me permitiram não estagiar às quartas
para poder me dedicar à UDC-RN, patrocinaram o meu projeto e ainda
me deram um auxílio financeiro para competir em Portugal.

Eu encontrei o estágio dos meus sonhos. Tanto que fiquei de 2017


até 2020, passando de estagiário para advogado júnior até advogado
júnior coordenador.

E isso não teria acontecido se eu não tivesse sido demitido! Não


só isso, eu não teria sido contratado no meu estágio dos sonhos se não
tivesse obtido a experiência do meu primeiro estágio, ao qual eu sou
extremamente grato pela experiência, ainda que não tenhamos dado
match.

4 Art. 10. A jornada de atividade em estágio será definida de comum acordo entre a insti-
tuição de ensino, a parte concedente e o aluno estagiário ou seu representante legal, devendo
constar do termo de compromisso ser compatível com as atividades escolares e não ultrapas-
sar:
§ 2º Se a instituição de ensino adotar verificações de aprendizagem periódicas ou finais, nos
períodos de avaliação, a carga horária do estágio será reduzida pelo menos à metade, segundo
estipulado no termo de compromisso, para garantir o bom desempenho do estudante.

57
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Eu encontrei
o estágio dos
meus sonhos

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CONSELHO 10

Às vezes, a gente acaba indo para um lugar que não é o certo


para nós. Um lugar em que não nos sentimos valorizados. Eu sei o que é
isso. Mas se você continuar estudando, persistindo e sendo íntegro, dias
melhores virão. Confie em mim, não desista!

Em Lisboa, fiz um curso de empregabilidade com uma


profissional de RH que me ajudou muito. Agora, vou compartilhar com
você as melhores dicas que aprendi nesse curso sobre 3 coisas impor-
tantes na hora de buscar um estágio: currículo, entrevista e dinâmica de
grupo.

1. Currículo

Um currículo ideal é sucinto, organizado, personalizado,


agradável e estratégico.

Seu currículo deve ter de preferência apenas uma página, e no


máximo duas páginas, mas nunca mais do que isso. Um currículo longo
não faz você parecer culto, e sim prolixo.

Organize-o em tópicos e subtópicos, nada de textões, e deixe


bastante espaço em branco para dar um ar mais clean. Na ordem dos
tópicos, o primeiro e principal deve ser experiência profissional, como
um estágio anterior (a não ser que seja seu primeiro estágio).

Você deve personalizar seu currículo para cada lugar que envia.
Não é para enviar o mesmo para todos os lugares. Isso porque você pode
fazer pequenas adaptações que farão seu currículo brilhar muito mais.
Por exemplo, se você fez um minicurso, publicou um artigo ou cursou
uma disciplina optativa sobre o tema que é o carro-chefe do lugar em
que você quer estagiar, traga essa informação.

Se o seu currículo tiver um design agradável, isso pode ser um


59
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

diferencial. No segundo estágio que eu consegui (aquele que foi muito


bom), literalmente me falaram: “eu vi pela forma que você fez o currículo
que você sabe como se apresentar”. Para atingir esse objetivo, você pode
brincar com ícones e logos, além de trazer informações de uma forma
gráfica (como uma barrinha quase cheia que mostra seu nível de inglês).

Por fim, seja estratégico no conteúdo que coloca no currículo.


Se o seu endereço é do lado do escritório, deixe isso destacado. Se
você tem carro, deixe isso destacado. No meu caso, eu morava em um
lugar com estereótipo de ser ruim, além de depender de ônibus. Então
propositalmente omiti essa informação no currículo, pois ela não me aju-
dava. Assim, tive a oportunidade de fazer uma boa primeira impressão na
entrevista a ponto de a pessoa não ligar para meu endereço.

Para te ajudar, vou fazer uma coisa que nunca fiz antes. Com base
em todos esses princípios, eu criei do zero o meu próprio modelo de
currículo. Até hoje, eu apenas havia compartilhado esse modelo com
alguns amigos próximos. Ao final deste livro, anexei dois currículos:
o currículo que me deu meu primeiro estágio, quando eu ainda não tinha
muito material, e o currículo que me rendeu um trabalho pagando um
excelente salário em um grande escritório de São Paulo, quando eu já tinha
mais experiência (o design também amadureceu). Espero que te sirva de
inspiração e te ajude a conquistar o estágio dos seus sonhos!

Obs.: se você quiser o meu currículo em formato PowerPoint (.ppt)


para editar as informações e fazer o seu de modo mais fácil, me pede por
direct no Instagram (@giovannibegossi) que eu te envio.

Feito isso, só falta enviar o currículo como anexo em um e-mail


bem redigido e que sirva como uma “carta de apresentação”, explican-
do o porquê de você querer estagiar naquele lugar. Se na sua área as
empresas forem ativas no LinkedIn, é possível enviar currículos direta-
mente lá, então pode valer a pena organizar seu perfil.
60
CONSELHO 10

2. Entrevista

Seu currículo foi tão bom que te chamaram para uma entrevista,
uhu! O próximo passo é estudar tudo sobre a empresa.

Veja o site e as redes sociais como LinkedIn e Instagram. Essa


empresa recebeu algum prêmio? Qual a qualificação dos sócios? Estude
como se você fosse fazer uma prova. Se você aparecer para a entrevista
totalmente informado sobre a empresa, isso será muito bem visto. Além
disso, você pode usar alguma informação para criar uma conexão: “eu
vi no site que vocês valorizam muito X, e isso me interessou muito porque
eu...”.

Chegou o grande dia! Não esqueça de ir arrumado e perfumado,


isso faz diferença. Se você não tiver carro, tente ir de Uber ao menos na
entrevista. E lembre-se: é melhor chegar com meia hora de antecedên-
cia do que com 1 minuto de atraso. Uma vez na sala de entrevista, sorria
e demonstre confiança! Pense que essa vaga já é sua, você só está ba-
tendo um papo para ajustar alguns detalhes. Às vezes, mesmo que tenha
alguém com um currículo ligeiramente melhor, só pelo seu carisma e
apresentação a empresa pode preferir trabalhar com você.

3. Dinâmica de grupo

Se por acaso o seu processo seletivo envolver uma dinâmi-


ca de grupo, lembre-se que eles estão avaliando sua capacidade de
trabalhar em equipe!

Então coisas como ser proativo na organização da discussão,


encorajar as pessoas mais tímidas a dizerem sua opinião e apresentar
seus pontos de forma respeitosa contarão muitos pontos. Ser rude, indi-
vidualista e monopolizar a discussão custarão pontos.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Para encerrar, uma última dica sobre estágios: não deixe de


buscar um estágio no melhor lugar do mundo só porque você não se sente
preparado. Uma amiga minha, em plena pandemia da COVID-19 e mesmo
estando na primeira metade do curso, conseguiu um estágio à distância
em um escritório de advocacia em São Paulo que ofereceu uma bolsa in-
crível e ainda enviou um notebook por correio para Natal. Eu só consegui
o meu trabalho dos sonhos de ensinar debate para crianças porque con-
fiei no meu potencial e tive a coragem de me candidatar a essa vaga em
inglês, algo que parecia super distante.

Mire no céu para acertar as estrelas.

62
63
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Talvez você já tenha ouvido falar sobre ROI (Return On


Investiment). O retorno sobre o investimento é uma métrica financeira
usada para medir a probabilidade de se obter um retorno de dinheiro
quando você faz um investimento. Esse conceito também é muito útil
para avaliar o conhecimento que você está adquirindo.

Quando você paga uma faculdade ou uma pós-graduação, por


exemplo, você está fazendo isso porque tem uma expectativa de ganhar
mais dinheiro com o conhecimento que você vai adquirir que a quantia
que você investiu com a mensalidade. Ou seja, você busca ROI. A mesma
lógica está em pagar um curso de inglês. Quando eu paguei € 50 euros
naquele curso de soft skills para advocacia, sabia que isso seria apenas
uma fração do meu primeiro salário quando voltasse ao Brasil.

Agora escuta essa: até hoje, eu nunca encontrei algo que tivesse
mais ROI que estudar comunicação. Ok, talvez Bitcoin... mas certamente
o ROI de estudar comunicação é altíssimo!

Quando eu estava no ensino médio, eu tomei a decisão de entrar


no grupo de teatro da minha escola. Foi uma das melhores experiências
da minha vida. Ser ator por 2 anos, convivendo com o palco e auditórios
lotados, me fez desbloquear e aprimorar diversas habilidades comuni-
cativas: lidar com o nervosismo e evitar o branco, expressão corporal,
modulação vocal, contato visual etc.

Já na faculdade, eu participei (como aluno) do meu primeiro


curso de oratória, e ele foi um divisor de águas para mim. Os conheci-
mentos que aprendi lá não só me permitiram “tirar notas mais altas em
apresentações de seminário”, mas destravar um mundo de possibilidades
acadêmicas, pessoais e profissionais. No mesmo semestre, eu ganhei o
I Torneio Potiguar de Debates.

64
Nunca
encontrei algo
que tivesse mais
ROI que estudar
comunicação

65
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 11

Eu fiquei viciado em aprender sobre oratória, uma espé-


cie de “vício saudável”. Eu achava que era quase um super poder, uma
magia que estava aprendendo a dominar. Quanto mais eu aprendia a me
comunicar, mais longe eu chegava. Não estou falando apenas sobre
palestrar para um auditório cheio. É sobre ser cativante e se conectar
profundamente mesmo em uma conversa a dois, sobre ser memorável
e se destacar em qualquer ambiente ou grupo, sobre ser naturalmente
persuasivo simplesmente sendo você mesmo.

Então, quando eu fui para Portugal realizar meu intercâmbio, eu


comecei a me enfiar em todos os espaços possíveis que poderiam me
ajudar a levar minha comunicação para um outro nível. Eu me tornei
voluntário de uma companhia de teatro que fazia feiras medievais (já
fui camponês, soldado romano e bobo da corte — até aprendi a fazer
malabarismo!). Ganhei diversas competições de oratória, em português
e em inglês, em discursos preparados e de improviso, enquanto membro
do Coimbra Toastmasters Club, no qual treinava oratória semanalmente.
Toda quarta-feira, às 21:00, eu religiosamente estaria na sede da
Sociedade de Debates da Universidade de Coimbra para o debate-treino
semanal.

66
Até cursei a disciplina “Oficina de Teatro”. Mais do que isso,
eu percebi que tinha tanto conhecimento de oratória acumulado que
comecei eu mesmo a ensinar oratória, lançando a primeira edição do
meu curso lá em Coimbra. As vagas para a primeira turma encerraram
em menos de 24h. Aí veio a segunda, a terceira… foram 6 edições no total.

Quando voltei de Coimbra, fui campeão ou melhor debatedor


de mais de uma dezena de torneios de debate em português e em
espanhol, me tornei bicampeão brasileiro de oratória e praticamente não
havia uma competição que eu participasse e não recebesse algum prêmio
ou reconhecimento. Até na simulação legislativa que ocorreu no Está-
gio Visita da Câmara dos Deputados fui o Deputado Relator, responsável
por proferir o voto e guiar a discussão sobre o projeto de lei que estáva-
mos analisando. Saindo da faculdade, fui promovido a advogado júnior
coordenador com menos de 6 meses de OAB, contratado como coach de
debates em inglês por duas empresas, uma da China e outra do Canadá,
e saí da casa dos meus pais para trabalhar em São Paulo.

Depois de tudo isso, eu posso te afirmar com toda a certeza:


estudar oratória traz retorno. A pergunta não é “se” você deve melhorar
sua oratória, mas “como”.
67
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 11

E eu te digo. A melhor forma é: se coloque em situações que te


obriguem a exercitar sua oratória!

Pode ser participando de grupos que treinem diretamente comu-


nicação (Toastmasters, sociedades de debate...). Pode ser fundando um
projeto, em que você vai ter que passar nas salas de aula o divulgando.
Pode ser puxando conversa com alguém que você geralmente não fala
antes da aula começar. Ou pode ser com algo tão simples como fazer uma
pergunta ao professor. Assim, durante alguns segundos, a atenção de to-
dos estará em você e você começará a se acostumar. Você pode também
fazer perguntas em congressos. Neles, geralmente você pergunta com
um microfone em um auditório lotado. No começo, o coração só falta sair
pela boca, eu sei. Mas comece fazendo isso, e daqui a um tempo será
você dando a aula ou a palestra.

Estudar oratória também é importante para se livrar de uma vez


por todas da timidez e do medo de julgamento, que estão te privando de
diversas oportunidades que você nem sabe que existem. Quem não é
visto não é lembrado.
68
Uma boa dica é seguir bons comunicadores no Instagram. Preste
atenção em como eles falam, tente entender o porquê de serem tão per-
suasivos a ponto de captar sua atenção nas lives e nos vídeos, e replique
na sua vida.

Porém, o jeito mais direto e efetivo de desenvolver a comuni-


cação é fazendo cursos de oratória. Isso vai te poupar tempo, pois você
vai adquirir conhecimento especializado de alguém com experiência e
resultados na área, e que portanto tem autoridade para te dizer o que
funciona e o que não funciona. Eu digo “cursos”, no plural, porque mesmo
ministrando o meu próprio, eu gosto de fazer outros (inclusive em inglês)
para aprender cada vez mais, visto que o ROI de estudar comunicação
é tão grande. Então recomendo que você faça tantos quanto possível.
De posse desse conhecimento, você vai estar em uma vantagem absur-
da em relação a quem não sabe se comunicar. É quase como o Neo ma-
nipulando a Matrix para desviar de balas. Chega a ser uma concorrência
desleal.

Então, da próxima vez que você se deparar com um curso de


oratória, eu recomendo você dar uma chance, pois mesmo que, no pior
cenário, seja um curso mais ou menos, provavelmente você terá apren-
dido algo. Porém, no melhor cenário, se o curso for realmente bom, pode
mudar sua vida.

69
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

70
O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é um martírio para a
maioria esmagadora dos alunos. E isso se dá porque a maioria insiste no
mesmo erro: não falar sobre um tema que te inspire. Pior, muitos fazem
um TCC com um tema dado pelo professor e pelo qual não sentem um
mínimo de afinidade. Sim, já vi isso inúmeras vezes!

E não é pra menos. A maioria das faculdades não preparam de


verdade os alunos para a pesquisa. Tem até professor que cobra artigo
como avaliação! Daí a pessoa dá a luz a 10 páginas em um fim de semana,
lendo 2 ou 3 autores, fazendo um resumo, inserindo sua própria opinião
e chamando isso de “artigo”, quando mal sabe o que é estado da arte,
referencial teórico, metodologia (que não é sinônimo de regras da ABNT),
problemática… aprendi essas coisas me inscrevendo em todos os
workshops e cursos de produção científica que via pela frente no início
do curso. Sugiro que faça o mesmo.

Mas como o foco deste capítulo não é pesquisa no geral, e sim


TCC, vou só dizer o seguinte: cuidado com a fetichização do currículo
lattes. De que vale publicar várias pesquisas que, de tão superficiais, não
vão ser lidas ou compartilhadas? Dito isso, vou te ensinar como eu fiz um
TCC de mais de 100 páginas em um mês e meio, obtendo nota máxima e
menção honrosa.

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COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 12

Desde o início do curso, eu pensava: “vou fazer meu TCC com uma
pesquisa de 2 anos, para ser bem profundo”. Errei feio, errei rude!

Por mais que eu quisesse fazer um trabalho que me deixasse


orgulhoso, os últimos 2 anos de curso chegaram, e eu tinha outras pri-
oridades. Fui obrigado a pensar no meu TCC ao pagar a matéria TCC I,
em que eu tinha que entregar o projeto. Resolvi escrever sobre ativismo
judicial e os limites entre direito e política, um tema bastante espinhoso.
Eu me interessava pelo assunto na época, mas a escrita não fluía. Acabei
seguindo com esse projeto em TCC I e TCC II só para conseguir a nota,
mas já sabendo que provavelmente o trabalho não seria sobre isso.

Dito e feito. Um semestre antes da deadline para apresentar


o TCC, mudei de tema. Pensei em falar sobre os limites da liberdade de
expressão no humor. O que diferencia uma piada de mau gosto de um
crime de injúria? A ideia era interessante, porém, novamente, não fluía.

Até que um dia eu estava em uma das minhas aulas preferidas,


com um professor culto e humano que admiro muito. Depois da aula,
fiquei mais um pouco na sala conversando com ele e outro colega. Ele
estava lendo um livro sobre pós-verdade, e eu logo me interessei. Depois,
a conversa rumou para o então recente vazamento, pelo Intercept, das
mensagens secretas entre o juiz Sergio Moro e o membro do Ministério
Público Deltan Dallagnol, que basicamente combinaram estratégias
no processo envolvendo o ex-presidente Lula, cuja condenação (agora
anulada pelo STF) o retirou das eleições de 2018, que elegeu Bolsonaro.
Curiosamente, Bolsonaro nomeou Moro como ministro de seu governo.

Esse tema mexia muito comigo porque eu achava um verdadeiro


absurdo. Era como se tivessem vazado conversas entre o técnico de um
time de futebol e o árbitro da partida em que se via conversas como “se
você pular assim, eu vou dizer que foi pênalti” e, por causa da vitória por

72
esse gol de pênalti, o time que perdeu tivesse ficado de fora de dispu-
tar a final do campeonato mais importante do país — e ainda por cima
o árbitro tivesse sido contratado para fazer parte do time vencedor.
Tenho certeza que você consegue sentir a minha indignação enquanto
lê isso. Não importa qual seja sua posição política, se você preza pela
democracia, você sabe que tem algo errado aí. E me irritava muito ver
juristas renomados relativizando essa questão.

Então, eu decidi: é sobre isso que quero falar. Não fazia sentido,
para mim, falar sobre qualquer outra coisa enquanto isso estava aconte-
cendo na minha frente.

Faltando um mês e meio para entregar o TCC, mudei o tema pela


terceira vez.

Durante esse um mês e meio, eu me tornei uma máquina.


Estudava e escrevia com prazer, pois sentia que estava dando um ver-
dadeiro contributo à sociedade. Finalmente a coisa estava fluindo! Mais
do que isso, eu senti que de fato estava trabalhando naquela pesquisa há
2 anos, pois desde há muito tempo já lia espontaneamente livros sobre
sociologia e política que se aplicavam diretamente ao meu TCC. Esse foi
um grande pulo do gato: eu podia citar diversos livros que eu lia natural-
mente, porque gostava. Não tive que ler vários livros de modo forçado
apenas para escrever o TCC.

Por ter achado finalmente um tema que me inspirasse e com


o qual eu tinha tanta afinidade a ponto de poder aplicar o conhecimen-
to que vinha acumulando durante anos, produzi um TCC que me deixou
orgulhoso. Dei o título de “Lawfare, pós-democracia e pós-verdade no
caso Lula: análise da potencial violação do direito fundamental ao juiz
natural por Sergio Moro e seus impactos na democracia brasileira à
luz dos diálogos divulgados pelo The Intercept”. Modéstia à parte, não

73
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO CONSELHO 12

só cheguei à mesma conclusão que os ministros do Supremo Tribunal


Federal muito tempo antes, como este foi um trabalho extremamente
organizado e bem escrito.

Gostei tanto do resultado que enviei por e-mail para diversas


autoridades, incluindo todos os autores que citei no trabalho, além de
ter entregado uma cópia física no Congresso Nacional quando realizei o
Estágio-Visita da Câmara dos Deputados. Inclusive, eu enviei o TCC para
o e-mail de todos os ministros do STF (eu gosto de acreditar que eles
leram e se convenceram, e só não me citaram no voto deles porque
pegaria mal citar um estudante da graduação, e não alguém com
doutorado…). Eu lembro que me senti muito lisonjeado quando recebi
uma resposta do advogado do Lula na ONU, em inglês, dizendo que havia
enviado a pesquisa para a equipe jurídica do Lula no Brasil. O Governador
do Maranhão na época, Flávio Dino, também me respondeu.

Faça um trabalho que você tenha orgulho de compartilhar.

Se você tiver curiosidade ou quiser uma inspiração para o seu


próprio TCC, vou deixar o link do meu aqui (apesar de fazer mais sentido
se você for de humanas).

Finalmente, para concluir o tema do TCC, vou te dar uma dica final:
assista apresentações de TCCs. Após ver a apresentação e a avaliação
dos professores, você vai poder repetir os acertos e, mais crucialmente,
evitar os erros quando for fazer sua própria apresentação (por exemplo,
passar do tempo, o erro mais comum).

74
Faça um trabalho
que você tenha
orgulho de
compartilhar

75
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

76
BÔNUS

Eu não vou mentir, eu queria ser o aluno laureado. Sempre


fui competitivo e nisso não foi diferente. Mas hoje tenho uma visão bem
diferente.

Nos Estados Unidos e em algumas partes da Europa, por


exemplo, importa se você se graduou magna cum laude (“com grandes
honras”) ou summa cum laude (“com a maior das honras”). No meu tem-
po em Portugal, conheci escritórios de advocacia que não contratavam
estudantes com média geral abaixo de 14 (o máximo deles é 20). Porém,
aqui no Brasil, se preocupar demasiadamente com nota pode trazer mais
prejuízos que benefícios.

Deixa eu te explicar como ganhei a láurea acadêmica.

77
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Após consultar o sistema da minha Universidade, fiquei sabendo


que ganha esse prêmio quem tiver o maior “IEAN”, ou Índice de Eficiência
Acadêmica Normalizado. Para aumentar o IEAN, é fácil. Bastam seguir
esta fórmula: IEAN = MCN × IECH × IEPL. O difícil é entender o que é MCN,
IECH e IEPL:

Como eu sou de humanas, chamei um grande amigo meu da área


de TI para me ajudar. Fui até a casa dele e passamos algumas horas
“hackeando” a fórmula do IEAN, simplesmente entendendo elemento por
elemento. Nós transformamos a arte de ser laureado em uma ciência
exata.

O que descobrimos era uma coisa que ninguém sabia: mais


importante que tirar boas notas, o IEAN é extremamente influenciado
pela quantidade de carga-horária que você acumula. Se você adiantar
o curso, pagando todas as matérias em menos tempo que o previsto (9
períodos ao invés de 10, por exemplo), o sistema te recompensa multipli-
cando sua nota final. Na visão do sistema, você está sendo “eficiente no
uso dos recursos”, fazendo mais com menos. Só que o peso disso era tão
absurdo a ponto de algumas matérias de 60h que você paga a mais fazer
uma pessoa de média 8,5 ter um IEAN maior do que uma outra com média
9,5. E todos sabemos o quanto de esforço é necessário para se ter uma
média 9.5.
78
Como eu não queria adiantar o curso e encurtar minha experiência
universitária só para ser laureado, descartei essa possibilidade. Então,
chegamos a uma outra ideia maluca: ao invés de terminar em 9 períodos
um curso de 10, eu poderia fazer em 10 períodos a carga-horária de 11.

Então, eu comecei a pagar matérias como se não houvesse


amanhã. Eu saí de pagar 7 matérias (390h) no meu 6º período para 11 no
meu 7º (540h) até o famoso semestre em que paguei 18 matérias. Sim,
18 matérias. E tenho o print para provar:

Não tentem isso em casa, crianças!

Como alguém que moveu montanhas para ser laureado, estou em


uma posição melhor do que ninguém para te dizer: não vale a pena.

79
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO BÔNUS

Claro, foi divertido hackear a fórmula e manipular o sistema. Tam-


bém aprendi bastante a gerir meu tempo, já que além de 18 matérias eu
estagiava e viajava para competir em torneios de debate competitivo.
Mas eu não faria isso de novo por 3 motivos muito simples:

1. É um prêmio irrelevante

A realidade do mercado de trabalho no Brasil é que ninguém liga


para sua nota, e sim para o que você sabe fazer. Você não ouvirá em uma
entrevista de trabalho “qual foi sua nota na matéria X?”, e sim “qual sua
experiência com X”? Então ser laureado não faz a mínima diferença para
nada.

2. É um prêmio injusto

Imagine um estudante que criou um projeto revolucionário que


mudou a vida de pessoas reais, ou que de alguma forma tenha deixado
um legado de mudança positiva durante sua passagem pela Universi-
dade. Mas o “melhor aluno”, aquele que merece ser exaltado na noite de
colação de grau na frente de todos, é aquele que tirou mais notas 10? Não
faz sentido. Mesmo que a Universidade quisesse incentivar a “excelência
acadêmica”, esse prêmio não faz isso. Uma pessoa que seja literalmente
a melhor do Brasil em uma matéria, se não for tão boa em outras, vai ter
uma média baixa. O prêmio reconhece a pessoa que tem “maior média”,
ou seja, a pessoa que se mata de estudar para absolutamente todas as
matérias, o que é incompatível com se dedicar de verdade para algumas
em que deseja ser excelente.

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3. É um prêmio contraproducente

Para ser laureado, você tem que tirar notas altíssimas em todas
as matérias, o que requer muitas horas de estudo, inclusive estudos
inúteis sobre coisas que você não vai usar e sequer se identifica. E, no
fim das contas, você pode passar sua graduação inteira fazendo isso só
para perder o prêmio para alguém que tem uma nota um décimo maior.
Se você usar esse tempo para outras coisas (eu teria começado a em-
preender e estudar marketing digital muito mais cedo), isso terá um im-
pacto muito maior no longo prazo. Além disso, tirar 10 é muito diferente
de aprender. O prêmio só vê nota, e não aprendizado. Como aprender de
verdade todas as matérias é bem difícil, basicamente esse prêmio incen-
tiva a decoreba, um entendimento superficial da maior quantidade pos-
sível de matérias de modo a garantir uma grande quantidade de notas
altas. Vale a pena gastar tanto tempo e energia mental para lotar o seu
cérebro de informações aleatórias, tudo isso por uma chance de receber
esse prêmio que no Brasil não serve de nada?

Com base em tudo isso, o que eu posso te dizer é: foque em viver


o máximo de experiências possível na graduação, e não em se matar para
concorrer a um prêmio que não tem efeito prático apenas para pagar de
fodão ou fodona. O melhor é ser foda, independentemente do prêmio.

Não, o coleguinha que ganhou a láurea acadêmica não é


melhor do que você (quiçá, sequer aprendeu mais que você). É apenas
uma pessoa que teve maior logro em seguir a fórmula matemática.
E tenho certeza que você vai conquistar coisas muito mais importantes
ainda.

81
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

82
Ufa! Foi bastante coisa, né? Eu sei. Agora, respire.

Se você chegou até aqui, meus parabéns! Você faz parte de uma
minoria que quer ter uma graduação de alto impacto e está fazendo os
passos necessários para atingir esse objetivo.

Vou te pedir apenas um favor.

Se você sentir que algum dos conselhos deste livro te ajudou,


envie este PDF para alguém que você acha que precisa deles também.
Você pode estar causando uma grande mudança na vida dessa pessoa.

E se você por acaso sentir vontade de guardar essas dicas pre-


ciosas só para você, para obter uma “vantagem competitiva” sobre os
outros, deixe-me te lembrar que isso é uma mentalidade de escassez.
É muito difícil ser abundante na vida se você insiste em hábitos
escassos. Uma pessoa que quer ter um jardim bonito não reserva um
espaço para ervas daninhas.

Compartilhe, transborde o conhecimento que você adquire,


e você verá como as coisas vão melhorar na sua vida.

Ah, e aproveita e me envia uma mensagem dizendo o que achou


do ebook ou qualquer dúvida no meu Instagram (@giovannibegossi).
Eu quero te conhecer!

Agora vai lá, é a sua vez de hackear a graduação.

83
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

Transborde o
conhecimento
que você adquire

84
85
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

G I O VA N N I B E G O S S I
Objetivo: realizar estágio jurídico

DADOS PESSOAIS ATIVIDADES E INTERESSES

Brasileiro +55 84 99631-0225


10/02/1995 [email protected]
Membro
Sociedade de Debates da Idealizador e palestrante
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL Universidade de Coimbra Public Speaking Autumn School

Março/2017 Junho/2017
Pesquisador
Estágio Grupo de Pesquisa “CF
Silva de Medeiros Advogados Brasileira e sua concretização Ex-membro
Foco em direito civil/consumidor/imobiliário
pela Justiça Constitucional” Coimbra Toastmasters Club

EDUCAÇÃO CURSOS

 Soft Skills Spring School (27h/a)


2014 Atualmente Vieira de Almeida & Associados, Portugal (2016)

Bacharelado em Direito  Comunicação e Empregabilidade (18h/a)


Sociedade de Debates da Universidade de Lisboa (2016)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Média de conclusão: 9,45 | Top 0,94% do curso

2016 CONQUISTAS

Intercâmbio acadêmico Debate competitivo


Universidade de Coimbra
Bolsista do programa Fórmula Santander
 Finalista e 9º melhor orador no Open do Porto
Sociedade de Debates da Universidade do Porto (2016)

2010 2013  Finalista (Final de Iniciados) no Open de Belém


Sociedade de Debates da Universidade de Lisboa (2016)
Técnico em Informática  1º lugar no I Torneio de Debates da SdD UFRN
Instituto Federal de Educação, Ciência Sociedade de Debates da UFRN (2015)
e Tecnologia do Rio Grande do Norte
Model United Nations (MUN)
 2º melhor orador na II Simulação do Parlamento
Europeu
LÍNGUAS E INFORMÁTICA Sociedade de Debates da Universidade de Lisboa (2016)

 Menção Honrosa em simulação da Corte


Inglês Alemão Interamericana de Direitos Humanos
Simulação Intermundi do UNI-RN (2015)

 Menção Honrosa em simulação do Supremo


MS Word MS PowerPoint MS Excel Tribunal Federal
Simulações de Tribunais Constitucionais da UFRN (2015)

86
G I O VA N N I Natal/RN +55 84 99631-0225

BEGOSSI 10/02/1995 [email protected]

OAB/RN 18.546 linkedin.com/in/giovannibegossi/

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL ATIVIDADES E INTERESSES

Agosto/2017 Atualmente

Adv. Júnior Coordenador Sócio Extraordinário


Macedo Dantas e Ramalho Advocacia Sociedade de Debates da Idealizador e palestrante
Foco: direito civil/empresarial Universidade de Coimbra Public Speaking Autumn School
Atividades desempenhadas: criação de teses,
redação de peças, definição de estratégia
processual, audiências, despachos, atendimento
ao cliente, gestão da equipe de Advogados
Júnior, revisão de peças, definição de metas
Pesquisador
Estágio (até abril/2020) Grupo de Pesquisa “CF Fundador e ex-presidente
Brasileira e sua concretização União de Debates Competitivos
pela Justiça Constitucional” do Rio Grande do Norte
Março/2017 Junho/2017

Estágio
Silva de Medeiros Advogados
CERTIFICAÇÕES
Foco: direito civil/consumidor/imobiliário
Atividades desempenhadas: redação de peças,
pesquisa de jurisprudência, atualização de dados ▪ Soft Skills Spring School (27h/a)
em sistema jurídico Vieira de Almeida & Associados, Portugal (‘16)

▪ Estágio-Visita de Curta Duração (40h/a)


EDUCAÇÃO Câmara dos Deputados (‘19)

▪ Liderança na Prática (16h/a)


Fundação Estudar (’18)
2014 2019
Bacharelado em Direito CONQUISTAS
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Láurea acadêmica: melhor concluinte de 2019.2
Monografia aprovada com distinção: Lawfare,
pós-democracia e pós-verdade no caso Lula (ver LinkedIn)
Public Speaking

2016 ▪ Bicampeão do Campeonato Brasileiro de Oratória


Instituto Brasileiro de Debates (’18 e ‘19)
Intercâmbio acadêmico
Universidade de Coimbra ▪ 1° lugar nas modalidades de discurso preparado e
Bolsa de Estudos Internacional “Fórmula Santander” de improviso, em português e inglês
Disciplinas: Inglês Jurídico, Negociação Internacional, Coimbra Toastmasters Club (’16)
Direito Constitucional I e II, dentre outras

2010 2013 Debate competitivo


▪ Campeão ou melhor orador de mais de uma dezena
Técnico em Informática de torneios de debate, em português e espanhol
Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Norte ▪ Juiz-chefe dos Campeonatos Mundiais de Debate
em Língua Portuguesa (Lisboa‘19) e em Espanhol
2011 (Madrid‘20)

Simulações jurídicas
Técnico em Informática para internet
Instituto Metrópole Digital | UFRN ▪ Prêmio Bonsai de despacho e sustentação oral
1° lugar na modalidade despacho e 2° lugar na
modalidade de sustentação oral nos casos Temer e Luiz Carlos
Cancellier | José Delgado & Dutra Advogados (‘19)

Menção Honrosa em simulação da CIDH


LÍNGUAS E INFORMÁTICA ▪
Advogado das vítimas nos casos “Carandiru” e “Raposa
Serra do Sol” | Simulação Intermundi do UNI-RN (‘15)
Inglês Alemão Espanhol
▪ 2 Menções Honrosas em simulação do STF
Ministro em julgamento da constitucionalidade do
instituto da colaboração premiada (‘17) e amicus curiae em
Pacote Office Astrea DataJuri, SoftUrbano julgamento da constitucionalidade de dispositivos do NCPC
87 (’15) | Simulação de Tribunais Constitucionais da UFRN
COMO HACKEAR A GRADUAÇÃO

editorial
Coordenação
Giovanni Begossi

Revisão
Ravena Cristianny Barbosa de
Albuquerque Pereira

Comunicação e Marketing
Agência Space 125

Projeto Gráfico e Diagramação


Juliana Vasconcelos dos Santos
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