A Teoria Da Sexualidade
A Teoria Da Sexualidade
A Teoria Da Sexualidade
A Teoria da Sexualidade
de outro
para fazer compreender o motivo da indignação geral, que
modo seria difícil de compreender. Fosse qual fosse a hipocrisia da
seguramente grande a sexualidade
-
e era
não podia, apesar de tudo, ser totalmente afastada da ciência: quises-
Se-se ou não, a sexologia existia e obras como a Psychopathia sexualis
de Krafft-Ebing haviam-no provado sem grande alvoroço. Não era
de perversões e
Sim o fato de Freud, rompendo com os catálogos entre o nor-
aberrações próprias da sexologia, abolir toda a fronteira
mal e o perverso e, sobretudo, entre a sexualidade do adulto e a pre
TOnsa inocência da criança. Por muito que descrevesse e classificasse
leitor
anomalias, a nada tinha de inquietante, uma vez que o
sexologia
normal encontrava nela a prova da sua saúde. Pelo contrário, os Três
Ensaios de Freud ofereciam uma imagem revoltante, onde o homem
a puberdade
de normas, em determinado
tendendo para
instinto sexual original
Freud opunha a noção de um
destinado a passar por
anos de vida e
a satisfação desde os primeiros
intermediários antes de se
orientar para a
toda a espécie de estádios
um considerável alarga
reprodução. Esta concepção pressupunha libertada da
sexualidade, que, em parte
mento do próprio conceito de
Sua estreita dependência dos órgãos genitais,
passava a ser uma fun-
do ser e suscetível, como ele, de
ção corpórea abrangendo o conjunto
fatos sexuais consi-
complicada evolução. Permitia também abranger
dizíam respeito às
derados até então anormais ou inexistentes o s que
classificar os fenômenos
crianças pretensos "perversos" e -
e aos
aberrantes, já não em função do modo mais ou menos chocante pelo
qual se afastam da norma, mas em função da evolução da libido, cuja
interrupção precisamente assinalm em cada caso.
* O objetivo de Freud nos Três Ensaios não é definir a sexuali-
dade, mas demonstrar, através do estudo das perversões e das neuro-
ses, que a definição usual só dá conta da realidade desde que recuse
existência aos numerosos casos aberrantes. Dizer que a sexualidade
tem por fim a união carnal de duas pessoas de sexo oposto, de acordo
com a definição corrente, é excluir o estudo de todos os desvios que
provam precisamente que, por natueza, o instinto sexual não está
obrigatoriamente ligado a um fim ou objeto amoroso definido como
norma. Freud propõe-se, pelo contrário, estudar a sexualidade normal
a partir desses desvios
freqüentes em que o instinto tão notavelmente
se liberta da sua pretensa finalidade.
e éo caso da -
erótico
do fetichismo,
do exibicionismo e do voyeurisme, do sadismo e do
- Freud verifica que, até certo masoquismo etc.
ponto, todas elas existem
indivíduo normal. A
na atividade do
homossexualidade, diz, dificilmente merece a de-
signação de perversão, pois resulta de uma constituição bissexual
é comum a todos e não há que
neuropata em que a análise não permita
descobrir uma parte de inverso na escolha do
às outras objeto sexual. Quanto
perversões, às que mais contrárias parecem à natureza e
normalmente provocam averso, eis o
que diz Freud:
São talvez
perversões mais repugnantes que melhor atestam a
as
ção do psiquismo transformação da tendência
na participa-
o resultado, nelas se
verifica uma participação da sexual. Por horrível que seja
ponde a uma idealização da tendência atividade psíquica que
manifesta tão fortemente como nestas sexual. Nunca a onipotência do amor se
corres
existência das relações mais întümas entreperversões.
o
Constantemente se revela a
há na de
que mais elevado
sexualidade.. Do céu- passando pelo mundo e de mais baixo
-
até ao inferno...1
1. Trois essais la
sur théorie de la
1925, pp. 54 e 55. sexualité, trad. Dr. Reverchon, Gallimard,
A PSICOPATOLOGIA DA VIDA QUOTIDIANA 159
levará a criança a procurar uma segunda zona será uma das razões
que
parte de valor equivalente: os lábios de outra
pessoa. Como se dissesse: "Infelizmente, não
posso beijar-me"...
**A esta
fase de organização,
papel prepoderante nela desempenhadodenominada oral por causa do
boca, sucede, pelas mucosas dos e da lábios
sem todavia lhe pôr completamente fim,
fase onde a zona
erógena essencial é outro orifício alimentar: o ânus.
uma segunda
Esta segunda
fase, denominada "sádico-anal"
comportamento agressivo da criança apresenta porque ligada a um
características que a primeira: exatamente as mesmas
apóia-se
essencial, o seu fim é determinado
em uma
função fisiológica
e é
auto-erótica porque dispensa pela atividade de uma zona erógena
qualquer "objeto" sexual. O erotis-
2. ld., pp. 85 e ss.
A PSICOPATOLOGIA DA VIDA QUOTIDIANA 161
as nossas investi-
Quero falar-lhe também da minha satisfação por ver que
gaçoes psiquiátricas encontraram acolhimento em um pastor com possibilidade
de acesso a tantas almas jovens e incólumes. Costumamos censurar à nossa psica-
nálise, meio a brincar mas também muito a sério, o fato de o seu emprego pressuu
por um estado normal e encontrar limite nas anomalias organizadas da vida psí-
quica, de tal modo que o 6Ñtimo das suas condiçóes de aplicação se verifica, pre-
cisamente, onde ela é inútil - no homem são. Ora, ser-me-ia grato acreditar que
esse otimo encontrará realização nas condições em que você trabalhas.
5.
P.,Fr-Pf. Briefe, 18-1-1909, p. 11.
A PSICOPATOLOGIA DA VIDA QUOTIDIANA 165
que a nossa clientela, venha de onde vier, é irreligiosa; nós próprios, na maioria,
o somos radicalmente e, como as outras vias de sublimação que para nós substi
tuem a religião não so acesslveis à maioria dos doentes, o nosso tratamento de-
senvolve-se a maior parte das vezes no sentido da solução pela satisfaço. Por
outro lado, não vemos nada de mal ou de interdito na satisfação sexual em si, que,
pelo contrário, reconhecemos como parte preciosa da atividade vital. Como sabe,
aquilo a que chamamos erotismo inclui o que vocês, diretores de consciência,
chamam amor e que não é de forma alguma limitada ao grosseiro gozo sensual.
lIhes não
Assim, os nossos doentes devem procurar junto dos outros homens o que
lhes devemos recusar na nossa
podemos prometer em uma esfera mais elevada e
própria pessoa. Eis a razão pela qual a nossa tarefa 6, naturalmente, muito mais
pesada e pela qual também no momento de ruptura da transferência muitas vezes
Creio que nenhuma outra pessoa além do pai teria conseguido obter da
criança tais confissQes. Os conhecimentos técnicos, que permitiram ao pai inter-
pretar as palavras do filho de cinco anos, eram indispensáveis; sem eles, as difi-
culdades técnicas da psicanálise em tão tenra idade teriam sido insuperáveis. Só a
conjugação da autoridade paternal e da autoridade médica na mesma pessoa e,
conseqüentemente, de um interesse ditado pela ternura e de um interesse de or-
dem cientffica permitira, neste caso, fazer uma aplicação do médico que, de ou-
tro modo, não teria sido possível...
7.
"Análise de uma
nayses, trad. Marie Fobia em um
Bonaparte Menino de Cinco
e Dr.
Loewensteins, Anos", Cing ps a-
Denöel & Steele t i .