Caderno de Propostas 2022
Caderno de Propostas 2022
Caderno de Propostas 2022
PÁG. 21 LGBTQIAPN+
PÁG. 33 Juventudes
PÁG. 40 Educação
PÁG. 47 Saúde
PÁG. 55 Cultura
Se você chegou até aqui, provavelmente já deve saber que eu sou Dani Portela. Mulher negra
de pele clara, filha por adoção de um ex-preso político que foi vitimado por terríveis torturas
durante o último período de ditadura militar em nosso país, mãe de Alice, historiadora, profes-
sora e advogada. Estou vereadora em Recife e candidata a Deputada Estadual de Pernambuco.
A candidatura atual é mais um passo na minha história que se acelerou em 2018 quando
assumi a missão de liderar uma chapa majoritária que disputou o Governo de Pernambuco.
Com pouquíssimo orçamento para aquela campanha, enfrentei – junto com o meu partido
– uma disputa por corações e mentes. Conquistamos o apoio de milhares de pessoas e nos
fortalecemos com a militância de base e o bem qualificado debate de ideias e propostas para
tornar o nosso estado um lugar ainda melhor. Encontrei apoio nas mais diversas áreas onde
me apresentei, mostrei que eu e o PSOL temos muita capacidade de ocupar espaços de poder
e governar cidades, estados e todo este nosso país. Por tudo isso, conquistamos os votos de
188.087 pessoas.
Naquela campanha, eu reforcei minha certeza de que “Eu sou porque nós somos”, este prin-
cípio da filosofia Ubuntu me ajuda a manter a compreensão de que sou parte de algo maior
e coletivo. De acordo com esta filosofia de origem ancestral africana, nós só nos concretiza-
mos como pessoas por meio de outras pessoas e, portanto, não podemos ser plenamente
humanos sozinhos. Este é o fundamento da minha atuação na política. Por causa disso, decidi
continuar contribuindo para as disputas institucionais e colaborar para a ampliação do único
partido político em que militei na minha vida. Temos nos fortalecido e crescido sem abrir mão
de continuar a ser um partido onde não cabem golpistas nem fascistas! Assim, em 2020, eu
me candidatei a vereadora da capital pernambucana e fui eleita como a mulher negra mais
votada naquele ano e em toda a história da Câmara Municipal do Recife. Assim, espero contri-
buir para ampliar a bancada do PSOL no Legislativo Estadual.
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Como “eu sou porque nós somos”, reuni muitas parcerias no processo de elaboração de pro-
postas para minha atuação como deputada. Este processo foi realizado com o diálogo franco
e sincero com pessoas, organizações e movimentos sociais que me inspiram e ajudam a defi-
nir prioridades de atuação. Para concretizar essa construção coletiva, realizamos ao longo de
nossa pré-campanha um conjunto de reuniões transmitidas simultaneamente pela internet.
Chamamos estas reuniões de Papos Abertos. O objetivo destes Papos foi avançar nos diálogos
com agentes importantes em diferentes áreas de atuação e absorver o máximo possível de
suas contribuições em relação a cada tema que definimos como estratégico para o parlamen-
to estadual. Estes papos começaram com um pequeno núcleo de colaboradores que foram
fundamentais para planejar e sistematizar os debates internos que realizamos durante a pré-
-campanha. Além deles, toda a equipe de campanha participou e contribuiu para mobilizar e
tornar possível a realização dos Papos. Porém, o fundamental é que sempre estive muito bem
acompanhada nessas experiências, foram centenas de pessoas que passaram por esse pro-
cesso de diálogo. Nunca esquecerei que pude contar com todas elas para refletir sobre o que
preciso fazer como deputada estadual, guardarei com especial carinho a lembrança de que
estas pessoas dedicaram algum tempo de suas vidas para ajudar a construir este Caderno de
Propostas. Muito obrigada!
Vale ainda dizer que eu participei pessoalmente de todos estes Papos Abertos. Digo isso não
porque considere que a minha presença seja a única forma de construir e vencer as batalhas
que precisamos enfrentar. Como eu acredito que “eu sou porque nós somos”, tenho muita
convicção de que minhas lutas são também de outras pessoas. Este Caderno de Propostas é
um importante produto do processo de diálogo que constituiu estes Papos Abertos, ele reflete
as 13 reuniões que realizamos e, portanto, tem o mesmo número de temas estratégicos. As-
sim, este documento se concretiza como uma carta de compromisso para minha atuação no
Legislativo estadual. Não existe nenhuma obrigação legal para que candidaturas proporcionais
apresentem um plano de atuação, mas fizemos isso na eleição para a vereança em Recife e
voltamos a fazer nesta eleição porque consideramos muito importante planejar nossa atua-
ção. O planejamento é um excelente ponto de partida para uma ação responsável. Precisamos
passar as canetas da lei e da gestão para mãos mais responsáveis. Nosso Estado merece e
precisa de mais atenção e competência política e administrativa na gestão e na legislação.
Pernambuco pode melhorar!
Este Caderno de Propostas é uma plataforma para minha atuação futura; com ele, eu e a
equipe teremos mais uma base de consulta e orientação para o desenvolvimento de nosso
trabalho na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Estruturamos nosso planejamento em
dois eixos, que constituem as maiores convergências de minha atuação. O primeiro eixo reú-
ne as ações focadas em enfrentar opressões e reduzir desigualdades. O segundo se foca na
diretriz de garantir e ampliar direitos. Para efeitos de planejamento, agrupamos, de um lado,
as propostas que se referem a segmentos da população que têm sido historicamente mais
oprimidos e vulnerabilizados. No outro eixo concentramos propostas que versam sobre políti-
cas universais e territoriais. Os eixos se complementam mutuamente, pois sabemos que aquilo
que enfrenta opressões e reduz desigualdades também garante direitos e vice-versa. Assim,
agrupamos os treze temas que integram as estratégias da atuação que pretendemos concre-
tizar na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Em cada tema, distribuem-se as centenas de
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propostas que reúnem muitas contribuições oriundas dos Papos Abertos e foram acrescidas
de outros compromissos que assumirei como deputada estadual de Pernambuco. Além das
contribuições produzidas nos papos abertos, também nos inspiramos muito no documento
intitulado “Direito ao Futuro”, que é o programa do PSOL para as eleições de 2022 e, obvia-
mente, nas proposições que apresentamos nas eleições anteriores. As pessoas que quiserem
acompanhar meu trabalho encontrarão neste Caderno de Propostas uma boa mostra do que
pretendemos fazer nos próximos quatro anos.
Extraímos deste documento, uma Carta de Prioridades de Dani Portela na ALEPE; esta Carta é
uma síntese de nossa proposta de atuação no Legislativo estadual, ela contém 50 proposições
que consideramos prioritárias e estão melhor explicadas neste Caderno de Propostas, que
evidencia a importância de cada tema estratégico e registra como eles entraram na minha
trajetória pessoal e se afirmam como urgentes no Pernambuco de hoje.
Além das propostas relacionadas com cada eixo, tenho três propostas que se atravessam
simultaneamente nestes eixos e também são prioridades para a minha atuação na ALEPE. A
primeira delas diz respeito à intenção de resistir a qualquer indício de autoritarismo. Direta-
mente relacionada a esta proposta de respeito à democracia, destaco meu compromisso de
incidir na Assembleia Legislativa para fortalecer e ampliar a participação popular na gestão e
legislação estadual. Por fim, mas não menos importante, minha terceira proposta transversal
consiste em articular diferentes forças políticas para a necessidade de revisar a Constituição
Estadual de Pernambuco em matéria de orçamento público. Nosso estado é um dos poucos
onde o Poder Legislativo tem mais limitações do que as previstas na Constituição Federal em
relação ao processo orçamentário. Isso reduz a prática democrática porque limita a ação le-
gislativa e não dá condições adequadas para o pleno funcionamento do sistema de controle
mútuo dos diferentes Poderes.
Por fim, quero dizer que – como “eu sou porque nós somos” – não estranhe a mudança do
sujeito desta publicação, pois eu sou Dani Portela e não estou sozinha! Por isso, neste Caderno
de Propostas, às vezes escrevo me referindo a mim como pessoa individual, mas em muitos
lugares escrevemos como uma pessoa coletiva, a primeira pessoa do plural, nós. Essa alternân-
cia existe porque a minha atuação está sendo construída junto com muita gente. Espero que
toda essa gente boa e muitas outras pessoas possam dizer “Nós somos Dani Portela”. Eu sou
a mulher da flor, mas não carrego esta flor sozinha. Bote a estrela no peito e a flor na cabeça,
venha semear com a gente. Espero que meu nome e a minha pessoa ajudem a representar a
semente de um mundo melhor, que muitos de nós estamos dispostos a plantar, cultivar e aju-
dar a fazer com que floresça. Com o seu apoio, espero em breve poder espalhar essa semente
na Assembleia Legislativa de Pernambuco.
50.000
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EIXO 1
ENFRENTAR OPRESSÕES E
REDUZIR DESIGUALDADES
políticas para as mulheres
Começo este Caderno de Propostas com o tema de políticas para as mulheres porque esta
é uma marca da minha trajetória, desde o nascimento, passando por boa parte de minha
atuação política e profissional. Eu me junto a muitas outras mulheres na expectativa e na luta
por uma sociedade melhor para as mulheres, principalmente, para as negras e periféricas. Sa-
bemos que quando o nosso país for melhor para as mulheres, ele também será melhor para
todas as pessoas. Falo em mulheres no plural porque sou apenas uma delas e porque somos
muito diversas, temos diferentes origens, crenças, credos, religiosidades, idades, vivências,
profissões, orientação sexual, sexualidade, raças etc. Somos mulheres cis, trans, travestis, lésbi-
cas, bissexuais, com deficiência, trabalhadoras domésticas, trabalhadoras informais, mulheres
vivendo com HIV/Aids, mães, profissionais de saúde e tantas outras. Sonhamos com cidades,
estados e países governados por mulheres comprometidas com as nossas pautas, que promo-
vam geração de emprego e renda, que se preocupem com a empregabilidade das mulheres,
que consigam aumento e ampliação de creches, escolas em tempo integral e tantos outros di-
reitos que impactam diretamente nas nossas vidas. Queremos falar sobre direito das mulheres
à cidade, sobre segurança e sobre tantas pautas que nos atravessam, como direitos sexuais e
reprodutivos, saúde, educação, etc.
A gente vive no quinto país mais violento para as mulheres e num estado em que 86 mulheres
foram mortas por feminicídio em 2021, o que dá mais de sete por mês, como aponta o Anuário
Brasileiro de Segurança Pública1. Além disso, em 45 dias, quatro travestis foram assassinadas
neste ano2. Não é aceitável que Pernambuco seja o estado onde, a cada hora, cinco mulheres
registrem violências, conforme aponta Dossiê elaborado pela Articulação Permanente de En-
frentamento à Violência contra a Mulher do Estado de Pernambuco3. A própria forma como
se organizam as delegacias dificulta o acesso ao direito de prestar queixa e buscar justiça:
1 https://fogocruzado.org.br/artigo-feminino-como-alvo/
2 https://www.brasildefatope.com.br/2022/02/16/ao-menos-tres-travestis-foram-assassinadas-em-apenas-um-fim-de-semana-em-pernambuco
3 https://marcozero.org/cinco-mulheres-sao-violentadas-a-cada-hora-em-pernambuco-e-movimentos-exigem-politicas-publicas/
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30% das delegacias não possuem delegados titulares, segundo a Secretaria de Defesa Social
(SDS)4. Muitos serviços não funcionam 24h, fazendo com que muitas mulheres só possam
buscar ajuda entre 8h e 17h. Nesse cenário, lutamos ainda para sermos atendidas de forma
acolhedora e sem pré-julgamentos.
Sabemos que, além de campanhas de conscientização em relação às violências contra as mu-
lheres, é preciso prevenir e evitar de forma efetiva a morte de mulheres. Prevenir violências
contra as mulheres implica, dentre outras coisas, em garantir investimentos em geração de
emprego e renda. Para muitas mulheres, a primeira forma de violência é a econômica, o que
as leva a outra forma de opressão e violência, que é de ordem psicológica e, por sua vez, às
demais formas de violência contra as mulheres no âmbito moral, físico e sexual. Enfrentar as
violências é também possibilitar às mulheres o cuidado em relação à saúde mental para que
se fortaleçam e rompam o ciclo de relacionamento abusivo. Prevenir violências contra as mu-
lheres é também falar de ampliação de creches e de horários de funcionamento de creches
e escolas, para garantir que as mulheres mães e cuidadoras possam estudar, trabalhar, se
divertir etc.
Defendemos que os serviços de atenção e proteção às mulheres atuem de forma articulada e
que os dados sobre violência estejam disponíveis num único canal, pois para planejar políticas
públicas de forma mais eficaz, é fundamental que os dados estejam disponíveis. Não é admis-
sível que a gente more no estado em que 99,5% dos empregos formais perdidos em 2020, no
auge da pandemia de Covid19, tenham sido de mulheres. Não é admissível que o desemprego
em nosso país e em nosso Estado tenha o rosto de mulheres negras e com baixa escolarida-
de. Denunciamos também que as mulheres estão adoecidas não só física, mas mentalmente,
faltam profissionais adequados para atendê-las e tratá-las. Sabemos que as políticas estão
interligadas e, juntas, podem promover vida digna para as mulheres.
Ainda vivemos na cultura do estupro, que naturaliza essa forma de violência. São mais de 180
estupros por dia no Brasil. A cada oito minutos, uma mulher é estuprada e, a cada 15 minutos
no Brasil, uma criança de até 13 anos é estuprada e 80% dos casos de violência sexual contra
crianças e adolescentes acontecem em suas próprias casas, que deveriam ser um lugar seguro.
O estado que a gente quer é aquele em que as mulheres possam viver sem medo, sair de
casa e se deslocar em segurança, ter uma gestação, um parto e um puerpério com dignidade,
acolhimento e respeito, ter pleno acesso aos serviços de saúde e não ser violentadas, desfru-
tar plenamente de suas sexualidades e viver com justiça reprodutiva e com suporte adequado
de políticas públicas que contribuam efetivamente para a criação e proteção das filhas e dos
filhos. O estado que a gente quer é também aquele onde possamos falar de cuidado, autocui-
dado, de moradia digna, de cultura, lazer, esporte, economia feita pelas e para as mulheres. A
gente quer, sobretudo, que o Governo de Pernambuco priorize as mulheres no planejamento
orçamentário e na execução das políticas públicas, levando em consideração suas especifici-
dades, sejam elas cisgêneras, transsexuais, travestis, lésbicas, com deficiência, idosas etc. É
pela vida das mulheres!
4 https://jc.ne10.uol.com.br/colunas/ronda-jc/2021/11/14354971-descaso-30-das-delegacias-em-pernambuco-nao-tem-delegados-titulares.html
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Diante disso, propomos:
• Fiscalizar se está sendo implementada a Formação da Promoção da Igualdade de Gênero no
Ensino Fundamental;
• Defender uma educação para a diversidade, com práticas de enfrentamento ao racismo, ao
machismo e à LGBTQIA+fobia;
• Monitorar a oferta e a demanda de centros de referência e casas-abrigo no estado, bem
como se a estrutura física e profissional é suficiente;
• Fiscalizar os serviços que integram a Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres
em Pernambuco;
• Defender uma rede integrada de serviços de saúde e de enfrentamento à violência;
• Incidir para que todas as Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres (DEAM) fun-
cionem 24h por dia e 7 dias na semana e que haja humanização no atendimento;
• Reivindicar capacitação permanente sobre diversidade de gênero e raça às equipes da rede
de enfrentamento à violência contra as mulheres;
• Defender ações de caráter preventivo, no campo da educação, e criação de programas de
responsabilização e reflexão para homens autuados por crimes de violência contra a mulher,
com o objetivo de diminuir os níveis de reincidência e produzir masculinidades calcadas no
respeito e na não-violência;
• Reivindicar a criação do Observatório Estadual da Violência contra a Mulher para subsidiar a
formulação de políticas públicas de prevenção e enfrentamento à violência contra a mulher;
• Apoiar a implementação de pacto ou programa estadual de enfrentamento à violência con-
tra a mulher, articulado com ações na área de segurança pública que visem à superação da
discriminação racial e de gênero;
• Cobrar que o Formulário Nacional de Avaliação de Risco seja preenchido nos serviços que
atuam no atendimento às mulheres em situação de violência doméstica e familiar;
• Defender que o Estado fomente a existência de Centros de referências de atendimento à
mulher em todas as cidades de Pernambuco para que as mulheres não fiquem desassistidas
ou precisem se deslocar para outros territórios;
• Defender o diálogo do estado com as gestões municipais para divulgar os serviços de atendi-
mento e proteção às mulheres em situação de violência e levar o debate para as comunidades;
• Elaborar um projeto de lei para indenização às mulheres vítimas de estupro;
• Defender que o Governo do Estado implante práticas de defesa pessoal para mulheres nas
aulas de educação física a partir da educação infantil até a universidade em toda a rede de
ensino particular, filantrópico e público, contemplando a capoeira, jiu-jitsu, muay thay e todas
as práticas disponíveis no território;
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• Defender a acessibilidade de mulheres com deficiência às delegacias e aos meios de denun-
ciar as violências sofridas por elas;
• Legislar para que seja feito concurso público para dotar a Secretaria Estadual da Mulher de
equipe profissional efetiva;
• Acompanhar as atividades do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM-PE);
• Incentivar e debater sobre como as empresas e os órgãos públicos podem assegurar espa-
ços para que as crianças de até 12 anos possam ficar enquanto as mães e os pais trabalham;
• Cobrar que a gestão estadual garante espaço nas festas públicas de grande aglomeração um
local reservado e adequado para crianças de até 12 anos e seus responsáveis;
• Reivindicar que sejam realizadas campanhas educativas sobre o respeito à maternidade dig-
na como ferramenta de provocar o debate sobre justiça reprodutiva e a proteção das crianças;
• Cobrar que o estado realize gratuitamente atividades culturais no período de férias para
crianças em que as responsáveis e os responsáveis estejam trabalhando
• Atuar para garantir que as dimensões de gênero e raça sejam incorporadas na elaboração,
implementação, monitoramento e avaliação de todas as políticas e programas implementados
pela gestão estadual;
• Monitorar nas peças orçamentárias (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei
Orçamentária Anual) a suficiência de recursos para a ampliação e o funcionamento com exce-
lência dos órgãos que lidam diretamente com as políticas para as mulheres;
• Realizar audiências públicas sobre temas específicos que impactam, principalmente, a vida
das mulheres, como segurança, fornecimento de água, violência doméstica, mortalidade ma-
terna, dentre outros;
• Lutar, sobretudo, pelo fim da violência contra as mulheres e pela saúde da mulher em todos
os ciclos de vida;
• Cobrar que seja assegurada a decisão do STF para que mulheres com filhas e filhos de até 12
anos possam cumprir prisão domiciliar;
• Reivindicar ações que visem à prevenção e ao combate a qualquer forma de violência contra
as mulheres cisgêneras e transgêneras;
• Defender a realização de campanhas de enfrentamento ao racismo, ao feminicídio, à violên-
cia doméstica e sexual contra as mulheres cisgêneras e transgêneras;
• Cobrar a criação de espaços de referência para atendimento, acolhimento e reinserção no
mercado de trabalho de mulheres egressas do sistema prisional e suas famílias e que sejam
de fácil acesso;
• Reivindicar políticas e programas para o fortalecimento da autonomia econômica das mu-
lheres com qualificação profissional, estímulo às ações afirmativas nas empresas fornecedoras
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da gestão estadual e também ações de produção e comercialização com base na economia
solidária;
• Cobrar a criação de programas específicos de Geração de Trabalho e Renda, destacando os
modelos de cooperativismo e associativismo numa perspectiva da Economia Solidária, incen-
tivando a participação de mulheres negras;
• Cobrar o desenvolvimento e implementação de programas de fortalecimento sociopolítico e
econômico voltados para as mulheres, principalmente, as negras, Lésbicas, Bissexuais, Transe-
xuais e Travestis (LBTs) e com deficiência;
• Cobrar a realização de ações afirmativas para maior inserção da mulher no mercado de tra-
balho, sobretudo, as negras, LBTs e com deficiência;
• Realizar audiência pública sobre violências obstétricas e morbi-mortalidade materna;
• Cobrar que a gestão estadual implemente e monitore a mudança do modelo de assistência
obstétrica, atualmente centrado em profissionais da medicina, para uma estratégia multipro-
fissional que incentive o parto normal e respeite o protagonismo da parturiente, como tam-
bém monitore as irregularidades e denúncias recebidas;
• Acompanhar as reuniões e encaminhamentos do Comitê Estadual de Estudos de Mortalidade
Materna;
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• Cobrar do Governo de Pernambuco que monitore rigorosamente as demandas, ofertas, fun-
cionamento e financiamento de maternidades/Casas de Parto nos municípios para reduzir o
número de gestantes vindas do interior para a capital do estado e, consequentemente, reduzir
a superlotação de serviços de saúde do Recife e possibilitar mais proximidade da parturiente
com seus familiares;
• Defender que o Governo de Pernambuco distribua absorventes para pessoas que menstru-
am e que estejam em situação de vulnerabilidade social;
• Propor ao Governo de Pernambuco a distribuição gratuita de contraceptivos orais e injetá-
veis em farmácias cadastradas;
• Defender o diálogo do estado com as gestões municipais para que disponibilize teste rápido
de gravidez na atenção básica;
• Fiscalizar se o estado está garantindo os serviços de abortamento assegurados pela legisla-
ção brasileira;
• Defender a implementação de grupos terapêuticos, através das Práticas Integrativas e Com-
plementares em Saúde (PICs), especificamente, para mulheres, através do SUS de acordo com
a legislação;
• Defender que sejam promovidas práticas de cuidado e autocuidado no estado como um
todo para as mulheres;
• Cobrar a formação de profissionais de saúde para lidar com as questões específicas das mu-
lheres que lésbicas, travestis e transexuais, que compõem o segmento LGBTQIAPN+;
• Cobrar políticas de saúde mental, sobretudo, para mulheres negras e periféricas;
• Cobrar políticas públicas efetivas que garantam a justiça reprodutiva e saúde sexual;
• Incidir pela garantia da acessibilidade comunicacional nos centros de saúde, com atenção
especial aos hospitais que tratam da saúde da mulher, maternidades e hospitais que acolham
mulheres vítimas de violência sexual e/ou doméstica;
• Cobrar a realização do exame da eletroforese da hemoglobina e coombs indireto durante o
pré-natal e o devido acompanhamento às gestantes com doença falciforme.
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Enfrentamento ao racismo e
promoção da igualdade racial
Quem me acompanha sabe que a pauta do enfrentamento ao racismo é basilar na minha
história e na minha atuação política. Assumi, como vereadora do Recife, o compromisso de
trabalhar em prol da equidade étnico-racial por acreditar, inclusive, que a persistência do ra-
cismo impede de concretizar uma democracia plena. Com a presente candidatura à deputada
estadual, reafirmo este meu compromisso, agora o ampliando para todo o estado de Pernam-
buco. Estado em torno do qual nasceu o mito da democracia racial, mas que, na prática, é
umas regiões do país onde podemos visualizar com mais nitidez que a população não-branca
não tem igualdade de oportunidades e direitos. Assim, seguirei lutando na pauta antirracista
em busca da concretização de uma sociedade justa e igualitária para todas as pessoas, o que
é pressuposto da plenitude do estado democrático.
Como bem destacam os movimentos sociais, o racismo não é uma invenção da população ne-
gra, mas sim um sistema de dominação e opressão contra grupos raciais e étnicos que histori-
camente passam por processos de exclusão e vulnerabilização social. Nosso desejo, enquanto
militantes da pauta, é um dia não precisarmos mais falar sobre o racismo e as desigualdades
geradas por ele, mas diariamente continuamos a nos confrontar com tantos casos e com
uma sociedade que segue estruturada por esse sistema, que segue indispensável enfrentar o
racismo e lutar pela promoção da igualdade étnico-racial. Estamos falando não somente de
relações pautadas no racismo, mas de uma estrutura que acaba por determinar as posições
sociais a serem ocupadas pelas pessoas em função de sua cor; o racismo ainda estrutura o
modo como muitas pessoas acessam ou não o direito a viver de forma plena e justa.
Para falar de enfrentamento ao racismo, preciso inicialmente relembrar um pouco da história
da nossa nação: o Brasil foi o último país a abolir a escravidão. Como falei acima, foi em torno
de terras e pessoas pernambucanas que se difundiu para o mundo a ideia de que aqui existia
uma democracia racial. Em paralelo a essa mitológica democracia, continuava-se a empregar a
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estratégia de miscigenação como diretriz política para branqueamento dos negros brasileiros
e apagamento da história de violência a fomos submetidos em meio ao projeto colonial e que,
de vários modos, continuamos a ser confrontados no presente. A eugenia marcou toda uma
era da política brasileira, que tentou nos excluir do mercado de trabalho, do projeto moder-
nizador e de industrialização nacional. Mas nós sempre fomos um povo lutador e, enquanto
tentavam nos matar, nós nos comprometíamos a resistir.
Sabemos que muito tempo se passou, mas nos dias atuais a fome e o desemprego voltaram a
ser uma realidade para a população brasileira, estamos em um país em que, segundo a Pes-
quisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)1, quase 50% das crianças vivem na pobreza
e mais de 24 milhões de pessoas não sabem se vão comer alguma coisa durante as 24 horas
do dia. O mais alarmante é que durante o governo Bolsonaro mais de 2 milhões de famílias
entraram na extrema pobreza. Sabemos que a fome no Brasil tem cor, ela atinge diretamente
a maioria das famílias negras. Não por acaso, 6 em cada 10 famílias chefiadas por pessoas
negras, convivem com algum nível de insegurança alimentar em nosso país2. Não é essa a
sociedade que queremos.
Outros povos também estão sofrendo com o contexto político brasileiro. Desde 2019, a vio-
lência contra indígenas aumentou em 150%3. São ameaças de morte, homicídios e tentativas
de homicídio, violência sexual, lesão corporal dolosa, racismo e discriminação étnico-cultural.
Além disso, há um número crescente de suicídios e de mortalidade infantil contra povos in-
dígenas que vivem constantemente sendo ameaçados e atacados pelos defensores do agro-
negócio. Não é à toa que os números de violência têm aumentado diante de um governo
que disse expressamente que não assinaria a demarcação de nenhuma nova terra indígena.
Como se não bastasse isso, o Governo Federal ainda dificulta a finalização do processo de de-
marcação e registro de 536 terras indígenas. É nítido que não existe possibilidade de pensar
equidade étnico-racial sem pensar nos povos indígenas e em como o racismo tem atuado no
contexto brasileiro histórico e contemporâneo.
Eu sempre digo que o racismo não nos dá trégua e se apresenta nas mais variadas formas.
Uma de suas manifestações mais fortes em nosso estado é de ordem religiosa. O racismo
religioso dialoga com a violência histórica que o povo negro tem sofrido. Segundo dados do
Disque 100, entre 2015 e 2019, os casos de intolerância religiosa aumentaram 197% e cerca
de 60% desses casos são contra as religiões de matriz africana. Por isso, reafirmamos o que
o movimento negro defende: não estamos falando simplesmente de intolerância, mas de
racismo. O crescimento da violência contra o povo negro está diretamente ligado ao avanço
da violência contra os territórios que esse povo ocupa e constrói. Não é coincidência esse au-
mento na mesma época em que existe o aumento da fome, de assassinatos protagonizados
pela polícia ou do aumento da população carcerária, que nesse país tem como maior vítima a
população negra.
Não podemos esquecer que vivemos no estado onde 97,3% das pessoas assassinadas pelas
polícias no ano de 2020 eram negras. A violência sofrida pela população negra se aprofun-
da, principamente quando pensamos o contexto pernambucano, dando-nos elementos para
1 https://olheparaafome.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Relatorio-II-VIGISAN-2022.pdf
2 Idem
3 https://www.brasildefato.com.br/2020/09/30/casos-de-violencia-contra-indigenas-aumentam-150-no-primeiro-ano-de-bolsonaro
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afirmar que continua em curso a tentariva de extermínio do povo negro, mas nós continua-
mos nos comprometendo a resistir. Em 2021, Pernambuco teve o terceiro maior número de
assassinatos do país. Quando olhamos a taxa proporcional, segundo o Monitor da Violência,
Pernambuco é o estado brasileiro que mais assassina pessoas por 100 mil habitantes, um dos
piores estados para um jovem negro viver no país, segundo o Mapa da Violência. Estamos no
centro da violência, dentro de um dos países mais violentos do mundo, mas ainda temos outra
questão: nesse mesmo estado, segundo o Mapa da Violência de 2020, está uma das piores ci-
dades para uma pessoa negra viver, o Cabo de Santo Agostinho. Como aponta o levantamento
Fogo Cruzado, este é o município do Grande Recife onde tiroteios e homicídios mais aumen-
taram no ano de 2022. ou melhor, a cidade onde existe a maior desigualdade entre brancos
e negros do Brasil, que é o Cabo de Santo Agostinho. Segundo dados da Secretaria de Defesa
Social4, somente em fevereiro de 2022, foram registrados mais de 30 homicídios na cidade.
Sabemos quais corpos são atingidos por essas balas e por isso denunciamos que continuam
a tentar exterminar o povo negro, em especial, a juventude negra. Em busca de mudar essa
realidade, que insiste em tirar nossas vidas, eu tenho me movido.
Por isso, é indispensável que a gente se pergunte quais políticas afirmativas Pernambuco tem
hoje para enfrentar as desigualdades e promover a equidade racial. Quais programas do atual
Governo de fato reconhecem a população negra como um grupo social que tem direitos ga-
rantidos? Como o Governo de Pernambuco tem atuado para garantir o direito à vida para a
população negra? Quando fazemos essas perguntas básicas e olhamos os números do estado,
vemos que a resposta é que o povo negro ainda luta para ser considerado humano no contex-
to pernambucano e brasileiro, pois a nossa humanidade ainda não é garantida na realidade
cotidiana do nosso estado e do país. Por isso, as propostas deste tema de enfrentamento ao
racismo e promoção da igualdade racial levam em conta o grande desafio de transformar
Pernambuco em um estado mais seguro para a população negra, para os povos indígenas e
para os ciganos.
Por isso, as propostas da nossa candidatura ao Legislativo Estadual para enfrentamento ao
racismo são:
• Ampliar o debate sobre a criação de delegacia especializada no atendimento de racismo em
Pernambuco;
• Monitorar dados sensíveis visando a enfrentar e combater as subnotificações referentes a
casos de racismo no sistema de justiça;
• Defender a criação de centros de referência que acolham vítimas de racismo em caráter
multidisciplinar e interdisciplinar, garantindo em especial o acolhimento psicológico, jurídico e
socioassistencial;
• Elaborar políticas públicas que estimulem a população pernambucana a conscientizar-se
sobre a necessidade de enfrentamento ao racismo para concretização da democracia;
• Defender a criação de um memorial e de um espaço público de referência do povo negro e
de outros povos tradicionais em Pernambuco;
4 https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2022/02/23/com-30-assassinatos-em-janeiro-cabo-de-santo-agostinho-tem-maior-numero-mensal-de-homicidios-desde-2004.
ghtml
17
• Reivindicar a criação de uma Secretaria de Estado que paute a promoção da igualdade racial
com garantia de dotação orçamentária;
• Fiscalizar nas peças orçamentárias (PPA, LDO e LOA) a previsão de recursos para enfrenta-
mento ao racismo, bem como monitorar a execução financeira deste orçamento no âmbito
estadual para garantir políticas de promoção de igualdade racial;
• Fiscalizar a implementação no estado da Lei Federal 10.639/2003, que versa sobre o ensino
da história e cultura afro-brasileira e africana, ressaltando a importância da cultura negra na
formação da sociedade brasileira;
• Fortalecer o Dia Nacional da Consciência Negra, no âmbito estadual.
• Defender a implementação em Pernambuco da Política Nacional de Saúde Integral da Po-
pulação Negra;
• Reivindicar o preenchimento do quesito raça/cor nos instrumentos de coleta de dados na
Saúde, e a realização de treinamento para abordagem, análise e ampla divulgação do perfil da
saúde da população negra;
• Defender o acesso à saúde das populações quilombolas e de outros povos tradicionais;
• Defender o fortalecimento da participação dos movimentos negros na esfera de controle
social das políticas de saúde, garantindo os princípios da gestão participativa do SUS;
• Defender o fortalecimento da participação dos movimentos negros na esfera de controle
social das políticas de educação;
• Defender o fortalecimento da participação dos movimentos negros na esfera de controle
social das políticas de Assistência Social;
• Defender o fortalecimento da participação dos movimentos negros na esfera de controle
social das políticas de segurança pública e direitos humanos;
• Incentivar a realização de pesquisas sobre Saúde da População Negra;
• Fomentar a valorização dos saberes e práticas populares de saúde, em especial, os produzi-
dos pelas religiões afro-indígenas;
• Legislar para o enfrentamento de práticas do racismo obstétrico;
• Defender a realização de campanhas informativas para a população negra sobre cuidados
com a saúde, em especial, sobre doenças que acometem principalmente a população negra, a
exemplo da anemia falciforme, Diabetes mellitus (tipo II), Hipertensão arterial e Deficiência de
glicose-6-fosfato desidrogenase;
• Reivindicar a efetivação da Política Estadual de Atenção Integral às Pessoas com Doença
Falciforme e Outras Hemoglobinopatias;
• Fortalecer as representações dos povos e comunidades tradicionais e representações do Mo-
vimento Negro no Comitê Estadual de Saúde da População Negra e nos Conselhos de Saúde;
18
• Fomentar, junto à gestão estadual, campanhas educativas nas diversas mídias sobre racismo
e temas relacionados à saúde e aos direitos da população negra;
• Defender a elaboração, reprodução e distribuição de materiais educativos (com campanhas
acessíveis em braile, audiodescrição, letras ampliadas e libras) sobre racismo e temas relacio-
nados à saúde da população negra;
• Promover a inserção da juventude negra no debate das políticas públicas voltadas para a
população negra;
• Fomentar políticas públicas para reconhecimento formal dos territórios tradicionais, que cor-
respondem ao conjunto de medidas jurídicas, ambientais e sociais de garantia do bom cum-
primento da função social da propriedade e das condições necessárias à reprodução cultural,
social e econômica destes territórios, com preservação de seus recursos ambientais naturais;
• Fortalecer as políticas de ações afirmativas para a promoção da igualdade de oportunidades;
• Pautar a implementação da reserva de vagas para pessoas negras e indígenas nos concursos
públicos do estado de Pernambuco;
• Legislar com vistas à criação de uma Comissão de Igualdade Racial e Enfrentamento ao Ra-
cismo na Assembleia Legislativa;
• Legislar para a criação do Estatuto da Igualdade Racial de Pernambuco;
• Legislar com vistas à criação de um selo de igualdade racial, que incentive empresas e órgãos
públicos do estado a desenvolver políticas afirmativas de equidade racial e diversidade em
suas estruturas internas;
• Incentivar a criação de um Plano Estadual de Enfrentamento ao Racismo Ambiental, com
especial atenção às emergências climáticas, levando em conta as áreas que têm déficit habi-
tacional no estado.
19
20
LGBTQIAPN+
Começo este tópico relembrando que eu ouço com muita frequência, principalmente de pes-
soas provenientes de setores conservadores da sociedade, que LGBTQIAPN+ seria apenas “um
conjunto de letras” de difícil compreensão. Sempre que escuto isso, eu faço questão de afirmar
que “Não estamos falando de letras, mas de vidas, de pessoas com direitos que precisam ser
garantidos”. Não me canso de explicar que esta sigla representa o conjunto de pessoas que se
identificam como lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer, intersexuais, assexu-
ais, pansexuais, não-binários e outras identidades de gênero e orientações sexuais que não se
encaixam no padrão cis-heteronormativo.
Reduzir LGBTQIAPN+ a um conjunto de letras de difícil compreensão é negar a importância da
luta, das pautas e da existência das pessoas que compõem o segmento LGBTQIAPN+. Estas
pessoas estão presentes no cotidiano da nossa sociedade e são vitimadas pela sistemática
ausência de políticas que garantam seus direitos. As vidas das pessoas que compõem este
segmento populacional são frequentemente atravessadas por discriminações, exclusões e vio-
lências sofridas por conta das suas identidades de gênero e/ou orientações sexuais. Muitas ve-
zes as vidas de pessoas LGBTQIAPN+ são violentamente encurtadas por manifestações cruéis
de preconceito; isto é inadmissível!
Lembro a vocês que nosso estado é o quinto estado que mais mata pessoas trans no Brasil.
Esse não é o estado que queremos! Queremos um estado onde a população LGBTQIAPN+ te-
nha acesso a direitos como educação, saúde, emprego e renda, assistência social, segurança
pública, esporte, lazer e cultura e principalmente tenha sua vida preservada.
Insisto em chamar atenção para a garantia da vida dessas pessoas, pois vivemos em um país
que, só no ano de 2021, registrou o assassinato de 140 pessoas transsexuais. Dessas, 81%
eram pessoas negras e 96% eram mulheres. Esses números revelam que vivemos em total au-
21
sência de políticas que enfrentem de fato essa violência que atinge os corpos (principalmente
de mulheres trans, negras e periféricas) e que tira suas vidas diariamente. Assim, não posso
deixar de lembrar que diante de tal quadro, ocupamos pelo 13º ano consecutivo o posto de
país que mais mata pessoas trans no mundo.
Esse de fato não é o país que queremos, assim busco fazer com que minha atuação política
seja útil para a construção de um projeto de sociedade onde a população LGBTQIAPN+ esteja
na centralidade das políticas públicas para tornar possível uma mudança não apenas nas es-
tatísticas mas na vida cotidiana dessas pessoas e da sociedade como um todo, uma sociedade
que respeita pessoas independentemente de sua orientação sexual e de sua identidade de
gênero é uma sociedade melhor para todos e todas.
Assim, espero incidir na Assembleia Legislativa de Pernambuco para enfrentar um dos maiores
problemas vividos pela população trans que, diante da transfobia e das diversas formas de
exclusão, enfrentam dificuldades de acesso e permanência na educação e no mercado de tra-
balho lícito. Este problema induz muitas dessas pessoas à prostituição, as coloca em situações
de vulnerabilidade social e as deixa ainda mais expostas a múltiplas formas de violência. Não
é por acaso que no Brasil, 94%1 das vítimas de tentativa de assassinato contra pessoas trans
tinham a prostituição como fonte de renda.
Sendo eu uma educadora adepta ao método paulofreireano, acredito numa educação diversa,
plural e, de fato, inclusiva. Por isso, defendo que a escola, a universidade e outros espaços de
educação formal e não formal não sejam lugares de exclusão das pessoas por devido à sua
orientação sexual e/ou identidade de gênero.
Eu luto por um Pernambuco que acolha a nossa diversidade, que não dissemine ódio, precon-
ceito, discriminação, principalmente contra alguns corpos, como os de pessoas negras e LGB-
TQIAPN+. Defender essas pautas é não somente uma questão de coerência política, mas um
compromisso com a vida dessas pessoas. Para isso, precisamos de candidaturas não apenas
LGBTQIAPN+, mas também de aliadas e comprometidas com um projeto político de transfor-
mação social. Acredito que a Assembleia Legislativa de Pernambuco é um espaço decisivo
para construirmos uma mandata que enfrente o racismo, o sexismo, o machismo, o patriar-
calismo e a LGBTQIA+fobia. As pautas desta população são prioritárias para a mandata plural
que vamos construir na busca de um estado mais justo e igualitário.
Por tudo isso, para uma atuação na Assembleia Legislativa de Pernambuco, propomos:
• Envidar esforços para aprovação do projeto de lei que “Dispõe sobre sanções administrativas
aplicadas às práticas de discriminação em razão de orientação sexual e identidade de gênero”
em nosso Estado;
• Atuar em constante diálogo com a população LGBTQIAPN+, para proposições legislativas
relativas a este tema, bem como para a fiscalização de políticas públicas;
• Cobrar do estado dados epidemiológicos sobre a população LGBTQIAPN+;
1 https://antrabrasil.files.wordpress.com/2022/01/dossieantra2022-web.pdf
22
• Lutar pela defesa do atendimento correto da população LGBTQIAPN+ na rede estadual de
Saúde e nos demais serviços públicos;
• Propor que o estado amplie a rede de atendimento ambulatorial para o processo de hormo-
nização;
• Fiscalizar o serviço prestado no Espaço de Acolhimento e Cuidado às Pessoas Trans e Traves-
tis do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM/UPE);
• Cobrar a instalação e funcionamento de mais ambulatórios estaduais de saúde trans e cen-
tros de acolhimento LGBTQIAPN+;
• Incidir em políticas de saúde com vistas à prevenção ao HIV e AIDS;
• Cobrar a realização de formações sobre a pauta LGBTQIAPN+ e respeito à diversidade para
profissionais de saúde com vistas a garantir a esta população, um atendimento no SUS de
qualidade;
• Garantir o cumprimento de uma política de atenção básica de saúde para as pessoas LGB-
TQIAPN+;
• Propor o fortalecimento de equipamentos da política de saúde mental com foco no atendi-
mento de pessoas LGBTQIAPN+;
• Cobrar uma política de atenção psicossocial laica para as pessoas da comunidade LGBT-
QIAPN+;
• Enfrentamento à patologização das identidades LGBTQIAPN+ e a “tratamentos” recorrente
em serviços chamados de “comunidades terapêuticas”;
• Legislar para garantir a saúde integral de mulheres lésbicas, bissexuais e homens trans atu-
ando no enfrentamento à violência ginecológica e obstétrica.
• Propor políticas com foco na saúde de trabalhadoras e trabalhadores sexuais;
• Legislar para enfrentar a discriminação contra a população trans no âmbito da educação;
• Reivindicar campanhas contra LGBTQIA+fobia, racismo e machismo nas escolas;
• Cobrar a realização de formações para professoras, professores e profissionais de educação
sobre a pauta LGBTQIAPN+;
• Legislar para incidir na prevenção do abandono escolar e na reinserção no sistema educa-
cional;
• Defender o uso do nome social nas instituições de educação, respeitando a identidade de
gênero autopercebida;
• Propor a criação de um programa de apoio a jovens e crianças LGBTQIAPN+ que sofrem
bullying nas escolas estaduais;
23
• Pautar a instituição de Núcleos de Estudos de Gênero nas escolas estaduais como ferramen-
ta fundamental de promoção do respeito à diversidade;
• Legislar por ações afirmativas nas instituições de ensino superior para a população trans e
travesti;
• Legislar para garantia da empregabilidade da população transexual e travesti;
• Incidir junto à gestão estadual para a realização de feiras com empreendedores LGBTQIAPN+;
• Incentivar as cotas de diversidade sexual e de gênero em empresas privadas;
• Defender a adoção de cotas no serviço público para travestis e pessoas trans;
• Cobrar dados sobre a população LGBTQIAPN+ em situação de rua e articulá-los com a inci-
dência em políticas de assistência social, habitação e geração de emprego e renda;
• Legislar para garantir inclusão social a pessoas trans em situação de vulnerabilidade social;
• Defender programas de assistência social, de formação profissional e inserção no mercado
de trabalho formal para pessoas trans e travestis;
• Cobrar o fomento a produções culturais, festivais e projetos que levem em consideração a
diversidade sexual e a população LGBTQIA+, ocupando as ruas e espaços públicos do estado;
• Fortalecer a atuação do Conselho Estadual LGBT;
• Envidar esforços para que as leis que defendam as causas LGBTQIAPN+ sejam sancionadas;
• Propor lei estadual que incentive o debate e o respeito à diversidade sexual em todas as
repartições públicas;
• Propor a criação de um observatório para monitoramento da violência LGBTQIfóbica;
• Reivindicar que nas informações sobre violência contra a população LGBTQIAPN+, o elemen-
to racial dessas vítimas esteja disponível e acessível;
• Cobrar a realização de formações para operadores dos sistemas de justiça e segurança pú-
blica sobre a pauta LGBTQIAPN+ e respeito à diversidade;
• Defender a criação e efetivação de políticas públicas afirmativas voltadas para população
afro-LGBTQIAPN+ com atenção especial à juventude negra;
• Incentivar a realização de mais eventos LGBTQIAPN+ públicos e gratuitos não apenas no
carnaval;
• Fiscalizar o orçamento estadual zelando pela garantia de previsão orçamentária e execução
financeira de ações que contribuam para a promoção da cidadania e dos direitos civis de LGB-
TQIAPN+.
24
25
Pessoas com deficiência
Meu sinal pessoal é feito com um movimento ondulado da mão direita sobre o lado direito da
região frontal da cabeça. Este sinal representa o meu cabelo ondulado que, por sua vez, repre-
senta a minha origem negra. Eu sou uma mulher negra, de pele clara, lábios grossos, estatura
mediana, tenho cabelo crespo, cortado de modo assimétrico, no meio do qual uso habitual-
mente uma flor que me fez ficar conhecida também como “mulher da flor”. Faço questão de
começar este tópico dizendo como sou conhecida e falando do meu sinal pessoal porque esta
sinalização é a forma mais prática de identificação das pessoas na comunidade surda e nos faz
perceber como é possível trocar a verbalização pelos gestos. Por princípios éticos, este sinal só
pode ser dado por pessoas surdas. O batismo nessa comunidade começa pela soletração do
nome através da datilologia, que é o alfabeto manual; em paralelo à soletração, observam-se
características da pessoa a ser batizada e se conversa com ela, para a partir desse conheci-
mento definir um sinal gestual que identifica a pessoa individualmente.
Conto essa história para dizer que habitualmente o que consideramos deficiência não está
apenas em determinadas pessoas, mas também no conjunto das pessoas e coisas com as
quais nos relacionamos. Para a comunidade surda, por exemplo, há muitas pessoas que têm a
deficiência de não compreender sua língua de sinais; e o ambiente para pessoas surdas cos-
tuma impor mais riscos porque não é devidamente sinalizado, portanto, o ambiente também
pode ser eventualmente considerado algo com deficiência. Para pessoas cegas, vale o mesmo
princípio. Por tudo isso, eu gosto de começar a falar desse tema lembrando que nem sempre
as deficiências se encontram somente nas pessoas às quais nos referimos como sendo pes-
soas com deficiência. É importante lembrar que este entendimento está presente na principal
legislação brasileira sobre o tema, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também conhecida como
Estatuto da Pessoa com Deficiência. Esta Lei Federal, de número 13.146, foi editada em 06
de julho de 2015, mas só entrou em vigor depois de um período de 180 dias destinados à
26
assimilação de seu conteúdo. A LBI beneficia mais de 45 milhões de brasileiros que possuem
algum tipo de deficiência, de acordo com os dados do IBGE. Uma das principais inovações
desta legislação é revisar o que se entende por deficiência, deixando de considerar isso como
uma condição estática e biológica da pessoa e passando a tratar deficiência como resultado
da interação entre as barreiras impostas pelo meio e as limitações de natureza física, mental,
intelectual e sensorial do indivíduo, conforme disposto no Artigo 2º desta importante lei, que
reproduzo adiante:
Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natu-
reza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras,
pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com
as demais pessoas. (Art. 2o, Lei 13.146/2015)
Um princípio fundamental da minha atuação política é zelar para que esta legislação seja cor-
reta e plenamente aplicada. Tenho muita satisfação de compor a legislatura em que a Língua
Brasileira de Sinais (Libras) se consolidou como segunda língua para comunicações oficiais da
Câmara Municipal do Recife. A inclusão de intérpretes de Libras para as reuniões plenárias e
solenes da Câmara do Recife é apenas um exemplo de ação importante para ampliar a inclu-
são de pessoas surdas e ensurdecidas na cidade. Infelizmente, este gesto só se concretizou
depois de vinte anos de sanção de outra lei muito importante, a Lei Federal 10.436/2002, que
reconheceu a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão em
todo o território brasileiro. Quero continuar contribuindo para que ações como esta se espa-
lhem por nosso estado e contribuam para a garantia de direitos das pessoas com deficiência.
No estado de Pernambuco, segundo os dados do último censo demográfico (IBGE, 2010),
2.426.106 dos residentes apresentavam algum tipo de deficiência, o que representava 27,58%
da nossa população, uma média superior à nacional, que àquela época era de 23,9%. Em
2010, viviam em nosso estado 523.055 pessoas com deficiência auditiva e 368.129 que não
conseguiam enxergar. Isto significa que mais de um quarto da população pernambucana com-
punha o segmento das pessoas com deficiência. A questão ainda se amplifica quando con-
sideramos que estas pessoas não necessariamente vivem sozinhas. Com efeito, cada pessoa
com deficiência se liga a outras que também lidam com as deficiências; o que sei muito bem
pelo fato de ser filha de um deficiente visual. Por tudo isso, os direitos das pessoas com defi-
ciência precisam e devem ser tratados como uma das pautas prioritárias da administração pú-
blica e da atuação legislativa em nosso estado. Como legisladora, eu me comprometo a buscar
contribuir para a garantia desta priorização em parceria com pessoas, associações e entidades
pernambucanas que já contribuem muito para a garantia de tudo isso. É justamente a minha
interação prévia e o meu diálogo sistemático com estas pessoas, associações e entidades que
me ajudam a desenvolver a compreensão da importância deste segmento populacional. E é
também por isso que continuarei a seguir um dos princípios que orienta o movimento pelos
direitos das pessoas com deficiência: “nada sobre nós, sem nós”. Isto, na prática, significa que
nenhuma política deve ser decidida por nenhum representante sem a plena e direta partici-
pação dos membros do grupo atingido por essa política. Foi por isso que realizamos um papo
aberto sobre este tema em nossa pré-campanha e, apesar de ter me comprometido a não
expor nenhum dos participantes desses papos, quero seguir muitas das ideias das generosas
pessoas que se dispuseram a me ensinar mais sobre esse tema.
27
Uma destas ideias destacou que os direitos das pessoas com deficiência devem se estruturar
sobre um tripé. Em primeiro lugar, tais direitos devem garantir acesso. Em paralelo, é preciso
viabilizar a permanência. E nada disso será suficiente sem as condições para a efetiva partici-
pação. Acesso, permanência e participação: meu compromisso em relação a este tema pode
se reduzir na busca pela garantia dessas três palavras na vida das pessoas com deficiência. Es-
sas três simples palavras são base para longas elaborações legislativas e administrativas. Sem
a pretensão de apresentar um conjunto exaustivo de propostas de minha possível atuação na
ALEPE, destaco a seguir algumas daquelas que servirão de guia para minha desejada atuação
no parlamento estadual de Pernambuco.
• Adequar a legislação estadual à Lei Federal nº 13.146/2015;
• Fortalecer o diálogo com as associações que congregam, defendem, prestam assistência e
representam pessoas com deficiência;
• Fortalecer o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e estimular
a criação e fortalecimento de seus congêneres de âmbito municipal;
• Desenvolver estudos sobre as condições de vida das pessoas com deficiência em nosso Es-
tado;
• Atuar com vistas à criação de lei estadual que planeje e determine realização periódica de
estudo censitário estadual para investigar as condições de vida das pessoas com deficiência
em nosso Estado;
• Defender a capacitação continuada dos servidores dos diferentes poderes públicos do esta-
do para atender as pessoas com deficiência, bem como para entender a relevância da inclusão
das pessoas com deficiência;
• Promover as alterações legislativas necessárias para adequação dos editais de concursos pú-
blicos realizados no Estado de Pernambuco à Constituição Federal e à legislação federal, que
normatiza os direitos das pessoas com deficiência, sobretudo, a Lei Federal nº 13.146/2015,
bem como garantir a reserva mínima de vaga(s) para PCD nos editais que objetivem o preen-
chimento de postos de serviço público estadual, tais alterações devem garantir a publicação
em braile dos editais e de suas eventuais retificações;
• Legislar visando à instituição de cota mínima para inclusão das pessoas com deficiência den-
tre os prestadores de serviços terceirizados contratados pelo Estado em âmbito Legislativo,
Executivo e Judiciário;
• Fomentar políticas públicas para promover o ingresso de pessoas com deficiência no merca-
do de trabalho, segundo dados da Delegacia Regional do Ministério do Trabalho em Pernam-
buco - Ofício n° 029/2018/GS/SRTh/PE dirigido à Frente Parlamentar em Defesa da Pessoa
com Deficiência, somente 0,87% dos servidores públicos de Pernambuco são pessoas com
deficiência e/ou reabilitados;
• Fomentar a criação de um fundo estadual para o desenvolvimento de políticas de inclusão,
conforme previsto na Lei Estadual de nº 12.761/2005;
28
• Defender a acessibilidade dos meios de comunicação oficial dos poderes públicos estaduais,
inclusive disponibilizando audiodescrição e interpretação para Libras;
• Fiscalizar a acessibilidade física e comunicacional nos órgãos públicos e privados do nosso
estado;
• Fiscalizar a garantia de intérprete de Libras nas repartições públicas, conforme determina a
Lei Estadual nº 11.686/99, principalmente nos serviços de saúde, educação, trânsito e justiça;
• Fomentar políticas públicas relacionadas à saúde, à educação, à moradia e à qualidade de
vida das pessoas com deficiência;
• Fomentar políticas públicas de assistência a cuidadores de pessoas com deficiência que, por
ventura, precisem se afastar temporária ou definitivamente do mercado de trabalho por ne-
cessidades de prestar cuidados indispensáveis a PCD;
• Fomentar nas escolas atividades que promovam a sensibilização da comunidade escolar so-
bre a temática da inclusão;
• Fiscalizar o processo de inclusão nos estabelecimentos de ensino públicos e privados;
• Estimular a busca ativa de crianças com deficiência para que sejam matriculadas em creches
e escolas;
• Defender a capacitação continuada de profissionais de educação para aprimorar a educa-
ção inclusiva e ampliar as possibilidades de identificação precoce de sinais de transtornos do
neurodesenvolvimento, deficiências sensoriais e cognitivas, assim como das altas habilidades/
superdotação;
• Defender a capacitação continuada de profissionais de educação para trabalhar com es-
tudantes com deficiência e altas habilidades/superdotação, inclusive diversificando recursos
didáticos e pedagógicos acessíveis em braille e em Libras;
• Defender a ampliação da oferta de Atendimento Educacional Especializado (AEE) na rede
estadual de ensino;
• Defender o aprimoramento do sistema de assistência neonatal a fim de diagnosticar preco-
cemente doenças raras e síndromes congênitas;
• Defender a ampliação da rede de reabilitação existente no estado e a interiorização dos cen-
tros de reabilitação;
• Defender a criação de centro de atendimento especializado para tratamento do Transtorno
do Espectro Autista (TEA), conforme normatizado na Lei Estadual nº 15.487/2015;
• Incentivar no âmbito legislativo, especialmente por meio da Escola do Legislativo, a capacita-
ção dos servidores para atender e trabalhar com pessoas com deficiência;
• Promover ações de comunicação, como campanhas educativas, sobre os direitos previstos
em lei para as pessoas com deficiência a fim de contribuir com a eliminação de barreiras ati-
tudinais e promover a inclusão;
29
• Incentivar a capacitação de servidores do Poder Judiciário, Ministérios Públicos e Defenso-
ria Públicas na temática dos direitos das pessoas com deficiência, a fim de ampliar a eficácia
das disposições legais determinadas no Estatuto da Pessoa com Deficiência, na Convenção
Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, da qual o Brasil é signatário, e nos
demais instrumentos legais relevantes para o tema;
• Incentivar a ampliação das equipes e serviços profissionais do Poder Judiciário, Ministérios
Públicos e Defensoria Públicas, a fim de ampliar a atuação de assistentes sociais, fisioterapeu-
tas, fonoaudiólogos, médicos, pedagogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais, que subsi-
diam a atuação com pareceres e demais conhecimentos técnicos necessários à instrução e
julgamento das demandas relacionadas a pessoas com deficiência;
• Fiscalizar e incidir junto ao Ministério Público de Pernambuco e ao Ministério Público Fede-
ral para que intensifiquem ações de fiscalização de planos de saúde, haja vista que pessoas
nascidas com deficiência, ao aderirem aos planos, têm em alguns casos carência maior sob
alegação de doença preexistente, o que é vedado pelas normas da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS);
30
• Fiscalizar e incidir junto ao Ministério Público de Pernambuco para reforçar ações de fiscali-
zação das empresas públicas e privadas de transporte coletivo para que haja a efetiva acessi-
bilidade aos veículos e estações de transporte de pessoas (a exemplo da Região Metropolitana
do Recife, o Consórcio Grande Recife afirma ter 98% de sua frota adaptada, porém muitas
pessoas cadeirantes relatam inoperância dos serviços elevatórios nos veículos de transporte
coletivo);
• Fomentar a ampliação e intensificação das ações da Defensoria Pública visando à garantia
dos direitos das pessoas com deficiência, em especial nas áreas de saúde e educação;
• Fortalecer os núcleos da Defensoria Pública que trabalham com a temática da pessoa com
deficiência para que melhorem sua capacidade de atuação e estendam seu trabalho para o
interior do estado;
• No âmbito do ensino superior do estado, ampliar a discussão, elaborar propostas legislativas
e articular sua aprovação com vistas a garantir medidas importantes para a inclusão, tais como:
• Dilatação do tempo de prova, conforme demanda apresentada por eventuais candidatos e
candidatas com deficiência, tanto no momento de realização dos exames de seleção quanto
nas atividades acadêmicas, mediante prévia solicitação e comprovação da necessidade;
• Disponibilização de provas em formatos acessíveis para atendimento das necessidades es-
pecíficas de estudantes com deficiência;
• Disponibilização de recursos de tecnologia assistiva quando previamente solicitados por pes-
soas com deficiência;
• Desenvolvimento de critérios de avaliação de provas que considerem a singularidade linguís-
tica das pessoa com deficiência no domínio da modalidade escrita da língua portuguesa;
• Inclusão de conteúdos curriculares relacionados à pessoa com deficiência nos respectivos
campos de conhecimento;
• Defender modificações nos requisitos atualmente exigidos para a concessão do Benefício
Assistencial ao Idoso e à Pessoa com Deficiência (BPC), posto que os requisitos atuais para a
concessão exigem que a pessoa demandante esteja em condições de miserabilidade.
31
32
Juventudes
De vez em quando eu me deparo com insinuações de que as políticas de juventude têm se tor-
nado menos necessárias porque este segmento populacional representa um percentual cada
vez menor da população brasileira e pernambucana. Há alguns anos essa mudança do perfil
demográfico vem sendo apontada por diferentes analistas, mas é justamente porque há cada
vez menos crianças e jovens que as políticas para estes segmentos se tornam ainda mais ne-
cessárias. A inversão da pirâmide populacional no Brasil faz com que progressivamente tenha-
mos menos pessoas em idade economicamente ativa e mais pessoas recorrendo a regimes
de previdência públicos e privados. Para enfrentar este problema, o Brasil tem pautado há
alguns anos reformas dos sistemas previdenciários que reduzem direitos dos trabalhadores e
não contribuem para a formação de uma juventude que terá cada vez mais responsabilidades
em relação a outros segmentos da população. Precisamos enfrentar este dilema com soluções
inteligentes e criativas e não com a redução dos direitos duramente conquistados neste país!
As juventudes, historicamente, têm manifestado muita energia de renovação, inquietação e
reivindicação. Elas são diversas, com especificidades relativas ao gênero, à raça, ao território, à
religião, às classes sociais e muitas outras dimensões que configuram a condição juvenil con-
temporânea. No entanto, temos desafios estruturais decorrentes da carência de políticas pú-
blicas para esse segmento populacional, que pela legislação brasileira corresponde às pessoas
na faixa etária de 15 a 29 anos. Destacamos o recorte de 18 a 29 anos, que não é incorporado
na política da criança e do adolescente e sofreu mais com a carência de políticas específi-
cas. Apenas em agosto de 2013, nosso país sancionou o Estatuto da Juventude, Lei Federal
12.852/2013, que institui os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas
de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - Sinajuve. Isto nos torna o penúltimo país
da América Latina a consolidar um marco legal relativo à política de juventude. Portanto, esta
política é jovem e ainda precisa avançar bastante no que tange à regulamentação de diversos
33
dispositivos previstos no Estatuto. Para piorar a situação, desde 2016 observamos um proces-
so de desmonte do Sinajuve que, na prática, nunca chegou a avançar em sua consolidação.
A realidade das juventudes do Brasil tem vários obstáculos para alcançar a plenitude dos direi-
tos previstos no Estatuto da Juventude. Estas dificuldades se evidenciaram ainda mais com a
pandemia de Covid-19 e se ampliaram, por exemplo, na área de saúde mental, com o aumento
dos casos de depressão, ansiedade e suicídio. Também houve aumento de jovens HIV positivo
e casos de gravidez na adolescência, apesar da atual geração possuir mais acesso a informa-
ções. Houve crescimento de diversas formas de violência e a população jovem continua a ser
quem mais morre e quem mais mata por causas violentas. Isso repercute no número de jovens
encarcerados e cumprindo medidas socioeducativas, que na sua grande maioria são negros.
As vulnerabilidades econômicas e sociais são determinantes para uma parte desse segmento
populacional sofrer de problemas de uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas e se envolver com
atividades criminosas. Estes dados estão contidos na recente pesquisa intitulada “Juventudes
e pandemia”, realizada em 2021 pelo Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE).
No campo do trabalho, qualificação e geração de renda, a juventude é a parcela da população
com maior taxa de desemprego e estamos vivendo um momento com alta taxa de jovens de-
salentados, que não acreditam mais em sua própria potencialidade e não se sentem capazes
de conquistar e manter um emprego. Ou seja, muitos jovens têm perdido a esperança em si
mesmos, com isso reduzem sua capacidade de sonhar com dias melhores e se projetar para
um futuro próspero em que eles mesmos sejam parte da construção das melhorias. Com
isso, muitas pessoas jovens aceitam trabalhos precários e subempregos que mal garantem as
condições de sobrevivência e dificilmente lhes dão condições de complementar os recursos
necessários para a manutenção de suas famílias, conforme indicou recente pesquisa realizada
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2020) indicando a emergência de um
“novo modelo de trabalho” no Brasil, que vem sendo denominado de “uberização”.
Para além de não conseguir um emprego, principalmente os jovens de periferia, estão for-
temente impactados em seus processos de desenvolvimento de habilidades e aquisição de
competências laborais. O que já era difícil, agravou-se com a pandemia que interrompeu di-
versos percursos formativos e retardou dimensões educacionais e de formação profissional
da sociedade brasileira e pernambucana. Ao olharmos para a parcela da população jovem
denominada “nem nem”, termo utilizado para indicar indivíduos que não estudam nem tra-
balham, identificamos uma tendência de ampliação desta dupla condição negativa, que, em
2019, atingiu 28% das pessoas jovens no Brasil, ou seja 47,2 milhões de jovens. A já referida
pesquisa realizada pelo Ipea (2020), identificou grande dificuldade dessa parcela da juventu-
de migrar dessa situação.
Apesar de Pernambuco ter sido o primeiro estado brasileiro a criar uma Secretaria de Juven-
tude, além de instituir o Conselho Estadual de Juventude e o Plano Estadual de Juventude,
todos datados de 2008, o estado não conseguiu transpor o processo de normatização legal
para uma efetiva melhoria das condições de vida das pessoas jovens. Há muitas evidências de
que a implementação de políticas públicas de juventude não tem sido priorizada pelo Governo
de Pernambuco. Segundo dados da Secretaria de Defesa Social, em 2022 cerca de 48% dos
homicídios, somente no primeiro semestre, foram contra jovens. Uma outra pesquisa da Rede
34
de Observatórios da Segurança, realizada em 2021, coloca Pernambuco como o estado mais
perigoso para ser jovem, quando o comparamos com São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Bahia.
Por isso, é hora de questionar quais políticas públicas efetivas o Governo de Pernambuco tem
criado para garantir que os jovens sejam reconhecidos como sujeitos de direitos. Além disso,
precisamos reivindicar a ampliação da qualidade das políticas para educação, saúde, trabalho,
renda, lazer e cultura das pessoas jovens. Se acreditamos tanto nos jovens como “futuro do
país”, devemos nos perguntar por que este segmento populacional não está no orçamento es-
tadual como uma prioridade? É necessário consolidar um Sistema Estadual de Políticas de Ju-
ventude, que disponha de mecanismos transparentes de monitoramento da execução destas
políticas e de diálogo com as diversas juventudes para acompanhar a necessidade de ajustes
e renovação de focos prioritários das ações estratégicas junto a este segmento. Atualmente, a
política de juventude de Pernambuco não responde às demandas das juventudes, o Governo
não executa nem mesmo aquilo que se comprometeu e não atualizou o Plano Estadual de
Juventude nem mesmo realizou um monitoramento participativo deste plano de dez anos de
duração que foi criado em 2008, por meio da Lei Estadual 13.608 e parece estar cada vez mais
ignorado pela administração estadual.
Por tudo isso, considero que está passando da hora de nos desafiarmos a fazer deste estado
um dos melhores lugares para jovens viverem nesse país. Como podemos garantir que sonhos
e potências não sejam interrompidos pela ausência de atuação do Estado? O nosso plano de
atuação parlamentar no Legislativo de Pernambuco tem a intenção de contribuir para que as
pessoas jovens do estado voltem a sonhar e agir para conquistar seus sonhos. Reafirmamos
a urgência da valorização do jovem em todos os contextos, da cidade ao campo, do litoral
aos sertões, das aldeias às favelas. Precisamos pensar como as juventudes continuarão vivas,
poderão desfrutar dessa importante fase da vida e desenvolver competências para viver com
plenitude as fases futuras, com acesso a trabalho, renda, cultura, esporte, lazer, etc. ou seja,
precisamos garantir a efetivação dos direitos deste segmento populacional que estão devida-
mente arrolados no Estatuto da Juventude.
Considerando toda esta problemática, podemos lamentar o infortúnio ou “arregaçar as man-
gas” de modo ousado para enfrentar os desafios colocados pela conjuntura atual e pelas mu-
danças demográficas relatadas. Como otimista que sou, prefiro enfrentar esse momento como
uma oportunidade única na qual a maior parcela da população brasileira está em condição
economicamente ativa, com capacidade produtiva de contribuir na inovação tecnológica e
social e também substancialmente apta ao desenvolvimento econômico do estado e do país.
Não podemos continuar perdendo uma parcela considerável de jovens para a violência. Não
podemos permitir que se desenvolvam as condições que levam muitas pessoas jovens a parar
de sonhar com dias melhores e construir as condições para que estes dias sejam conquistados.
Não podemos deixar de conjugar o verbo que Paulo Freire nos ensinou: esperançar. Como ver-
bo, a esperança se reverte em diversas formas de ação. Por isso, comprometo-me a atuar na
Assembleia Legislativa de Pernambuco com vistas a concretizar as propostas que apresento
adiante.
• Legislar com vistas ao fortalecimento do Sistema Estadual de Juventude a partir da proposta
de criação de uma Comissão Parlamentar Especial de Juventude na Assembleia Legislativa
35
para contribuir com a institucionalização de políticas de juventude e a fiscalização da execução
de tais políticas no governo estadual;
• Defender a avaliação e renovação do Plano Estadual de Juventude com mecanismos efetivos
para o seu monitoramento pela sociedade civil;
• Defender a priorização das Políticas Públicas de Juventude no orçamento estadual, com
identificação de recursos nas peças orçamentárias (PPA, LDO e LOA) e monitorar a execução
financeira destes recursos;
• Ampliar o debate e buscar simplificar e ampliar as possibilidades das pessoas jovens aces-
sarem recursos públicos para desenvolverem suas iniciativas produtivas, culturais, de lazer e
associação;
• Incidir pela implementação do serviço de psicologia e assistência social para estudantes da
rede de ensino básico estadual e da Universidade de Pernambuco;
• Defender a ampliação do orçamento público destinado às políticas de juventudes no estado;
• Defender o passe livre para jovens em transportes coletivos;
• Incidir pelo aprimoramento e ampliação das medidas de incentivo às empresas e aos órgãos
públicos para a contratação de jovens trabalhadores;
• Incidir pelo aprimoramento de programas de incentivo ao primeiro emprego, a partir de me-
didas de formação e manutenção de jovens no mercado de trabalho;
• Incentivar a criação de uma base de dados que identifique e incentive iniciativas, organiza-
ções e pessoas jovens que contribuem para a promoção de uma sociedade mais segura para
as juventudes;
• Defender a criação de mecanismos de fiscalização e denúncia de violações no sistema socio-
educativo;
• Defender a criação de mecanismos de fiscalização e denúncia das violências que as juventu-
des, sobretudo periférica e negra, sofrem em seus territórios;
• Fomentar a criação de espaços de diálogo constante com as forças policiais para mitigação
das violências letais, protagonizadas pelo Estado, contra as juventudes;
• Cobrar dos poderes responsáveis, a criação de áreas de lazer e programas de incentivo à
cultura, sobretudo no interior do estado;
• Criar mecanismos de fiscalização e legislação para uma maior e melhor implementação do
Estatuto da Juventude;
• No tocante à Política Estadual de Emprego Decente para a Juventude: fomentar a construção
de um plano de desenvolvimento estadual sustentável, apoiado na produção científica, enga-
jando setores econômicos estratégicos como tecnologia, turismo, cultura e meio-ambiente,
conectado com a vocação local, que gere oportunidades dignas de trabalho aos jovens,consi-
derando sua diversidade de gênero, raça e orientação sexual;
36
• Incentivar políticas de inserção do jovem no mundo do trabalho: fiscalizar a efetivação da Lei
do Jovem Aprendiz;
• Legislar visando à regulamentação de novas ocupações laborais e ao avanço da garantia de
direitos para trabalhadores de aplicativos, discutindo, por exemplo o incentivo ao cooperati-
vismo que permita a auto-organização destes trabalhadores e sua inserção em sistemas de
garantias à saúde e previdência capazes de lhes manter pelo menos nas mesmas condições
de vida em eventuais momentos que estejam impossibilitados de trabalhar; além disso, é fun-
damental regulamentar os limites de ganhos das empresas gestoras das plataformas de apli-
cativos sobre o trabalho destes sujeitos, majoritariamente jovens e, por fim, é preciso garantir
remuneração digna e condições de trabalho seguro nesta ocupação laboral;
• Incentivar o Poder Executivo a construir pólos de formação tecnológica para jovens de baixa
renda, como ferramenta complementar para emancipação e autonomia;
• Fomentar a descentralização da estrutura pública de cultura, lazer e esportes para as perife-
rias e o interior do estado;
• Ampliar a discussão sobre as necessidades juvenis de políticas habitacionais, estimulando
que famílias jovens possam acessar os programas deste tipo (sobretudo a população LGBT-
QIA+);
• Defender o processo de Reforma Agrária e regularização fundiária, bem como o reconheci-
mento e demarcação de terras pertencentes a povos e comunidades tradicionais, em especial
terras indígenas e quilombolas, acabando com as práticas forçadas de remoção de seus terri-
tórios e viabilizando a regularização da documentação de assentamentos já existentes, permi-
tindo que os jovens tenham condições de permanecer ou regressar às suas terras originais e
serem contemplados pelos programas, projetos e ações para a juventude;
• Defender e indicar para o Poder Executivo a criação de uma Secretaria Executiva de Juven-
tude, com fundo próprio para financiar as políticas públicas de juventude;
• Fomentar a realização periódica de Conferência Estadual de Juventude, deliberativa, que
tenha como pauta a avaliação e renovação do Plano Estadual de Juventude;
• Fortalecer coletivos e movimentos juvenis não institucionalizados, incentivando a ação dessas
organizações em espaços de controle social de políticas públicas voltadas para as juventudes.
Além dos papos abertos que realizamos este ano, nossas propostas em relação às juventudes
estão baseadas em diálogo direto com a Plataforma Programática do Partido Socialismo e
Liberdade para as eleições deste ano, com o Estatuto da Juventude, com a Carta das Juven-
tudes produzida pelo Fórum das Juventudes de Pernambuco e com muitas demandas de jo-
vens, organizações e coletivos da sociedade civil. Por isso, essas propostas expressam diversos
gritos e denúncias das juventudes do estado, que clamam por um Pernambuco mais justo e
seguro que garanta a vida digna no presente e dê condições para futuro melhor e com mais
oportunidades para todas as juventudes.
37
38
EIXO 2
GARANTIR E
AMPLIAR DIREITOS
Educação
Começo este tema remetendo a Paulo Freire, referência central nas lutas que tenho constru-
ído, principalmente, em defesa da educação. Acredito fortemente na ideia paulofreireana de
que “a educação não transforma o mundo. Educação transforma as pessoas. Pessoas mudam
o mundo”. Acredito também na educação libertária e libertadora. Eu sou professora desde a
adolescência, quando aprendi a alfabetizar pelo método Paulo Freire aos 14 anos. É a partir
desse lugar que me movimento. Entendo que alfabetizar não é só juntar letras e formar sílabas
e palavras, mas ensinar a ler o mundo e, principalmente, a transformá-lo de maneira crítica.
Entendo o papel da educação na formação do nosso senso crítico, na nossa formação como
cidadãs e cidadãos e, sobretudo, na ampliação da nossa capacidade de nos movimentar e
transformar o mundo e a realidade que vivemos. Como Freire, eu gosto é de gente, professor
é gente, aluno é gente... Entendendo que a educação é uma construção coletiva, apresento
aqui algumas indignações e também muitos desejos que perpassam não apenas a minha vida,
mas as vidas das tantas pessoas que tenho ouvido ao longo de minha atuação parlamentar.
Nos últimos anos, a educação tem sofrido cortes drásticos, as universidades e institutos fede-
rais passam por profundas dificuldades, as e os estudantes em situação de vulnerabilidade
social têm sido a parte mais penalizada, ficando sem bolsas e sem assistência estudantil. Isto
tem levado muitas pessoas a deixar de estudar, já que não dispõem de recursos sequer para
o transporte. Por isso, é urgente a revogação da Emenda Constitucional Nº 95, que limita por
20 anos os investimentos em áreas fundamentais para a garantia de direitos humanos, como
saúde e educação. Sabemos que essas questões também estão ligadas à política de neolibe-
ralismo e morte implementada pelo governo Bolsonaro, que aprofundou a desvalorização do
setor educacional. É urgente que o tiremos do poder e, além disso, consigamos eleger candi-
datos e candidatas de setores progressistas. É inaceitável que o país tenha gasto com educa-
ção em 2021 o menor valor desde 2012, conforme aponta o Instituto de Estudos Socioeconô-
40
micos (Inesc)1. Também é inadmissível que quase metade das crianças negras de 6 e 7 anos
no Brasil não saibam ler, segundo dados da organização Todos pela Educação2. A pandemia
de Covid19 escancarou desigualdades na educação, como o acesso às tecnologias e à internet,
significando um aumento de mais de um milhão de crianças que não sabem ler e escrever,
que não dispõem das mesmas condições das classes economicamente privilegiadas para se
escolarizar. Ressaltamos que educação não é mercadoria, mas sim investimento, instrumento
de mudança social. A pandemia, mais uma vez, mostrou que a maioria de nossos governantes
continuam excluindo o direito à educação às classes populares.
Os problemas, infelizmente, não se resumem ao orçamento. Temos visto diversas tentativas de
cercear a liberdade de cátedra dos profissionais, de instaurar a censura sob o nome de “escola
sem partido”, assim como temos visto a defesa da ideologização da educação através das es-
colas cívico-militares. As questões problemáticas perpassam as esferas de governo e, em Per-
nambuco, não poderia ser diferente. Aqui, temos visto queixas de desvalorização profissional,
com um Plano de Cargos e Carreiras defasado e desrespeitado, com problemas no pagamento
do piso salarial para toda a categoria. Temos recebido denúncias de profundo desestímulo,
desmotivação e adoecimento psíquico dos profissionais da educação. A política de gratifica-
ções cria a ilusão de valorização, mas gratificações não são incorporadas à aposentadoria. Os
docentes da Educação Básica não aguentam mais as negociatas em torno de seus direitos, o
Piso do Magistério é uma conquista recente, de 2008 para ser mais pontual, mas há políticos
que defendem que o professor não merece ser valorizado pelo seu trabalho.
Denunciamos também a negligência em relação à Educação de Jovens e Adultos (EJA) não
só por parte do Governo Federal, mas também pelo Governo de Pernambuco, que não tem
priorizado essa modalidade de ensino nas escolas. Outra questão problemática é a gestão. É
preciso assegurar gestão democrática nas instituições educacionais, pautando a participação
ativa não somente no ambiente escolar, mas no entorno das escolas, de modo a envolver a
comunidade e fazer com que os Projetos Político Pedagógicos sejam reflexos de um processo
horizontal, democrático e construído a muitas mãos. Assegurar processos eleitorais democrá-
ticos para escolha dos gestores e das gestoras escolares, barrar a indicação do Governo do
Estado para esses postos é uma de minhas prioridades. Isso contribui para garantir transpa-
rência e participação da comunidade escolar na escolha das diretrizes de ação das escolas e
impede o assédio dos governantes aos gestores e às gestoras.
Quando pensamos na maior instituição de ensino superior do nosso estado, a Universidade
de Pernambuco, vemos que é preciso ter uma política eficaz de assistência estudantil, como
auxílio-transporte, que garanta que os alunos e alunas tenham condições de permanecer
estudando. As instituições de ensino não podem ser mais um lugar onde as desigualdades
sociais se aprofundam, tampouco estas instituições podem se tornar lugares de exclusão e de
expulsão. Acreditamos que a educação precisa ser antirracista, antiLGBTQIfóbica, anticapaci-
tista, antipatriarcal. Além disso, as instituições de ensino precisam pautar a temática de abusos
sexuais, pois, muitas vezes, eles acontecem nos ambientes familiares e as escolas podem ser
um ambiente favorável para identificar indícios e contribuir para a prevenção dessas violên-
cias. Para isso, é urgente defender a laicidade do Estado para garantir que o conservadorismo
1 https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/04/24/gasto-com-educacao-recua-pelo-5o-ano-consecutivo-e-e-o-menor-em-dez-anos-
-mostra-levantamento.ghtml
2 https://almapreta.com/sessao/cotidiano/quase-metade-das-criancas-negras-de-6-e-7-anos-nao-sabem-ler-e-escrever-no-brasil
41
de costumes não dite a regra nesses espaços. Também consideramos fundamental que as leis
sobre o estudo das Histórias Afro-brasileira, Africana e Indígena sejam cumpridas.
Há várias questões que permeiam uma educação de qualidade, elas passam pela estrutura
física, remuneração dos profissionais, condições de ensino, saúde, concursos públicos, dentre
outras. Ressaltamos, sobretudo, a necessidade de prezar pela qualidade de trabalho, mas
também de vida das pessoas que estão nessa área. Precisamos de mais investimentos e estí-
mulos para que os profissionais da educação se mantenham no serviço público. Nesse sentido,
a realização de concursos públicos é uma importante estratégia para enfrentar o cenário de
precarização que muitos trabalhadores e trabalhadoras têm passado com o sistema de con-
tratos temporários. Além disso, é fundamental fortalecer os instrumentos de controle social
da educação, como os conselhos escolares e o Conselho Estadual de Educação. Ao Conselho
Estadual, precisamos garantir condições reais de atuação eficaz com participação paritária da
sociedade civil. Às escolas, precisamos garantir eleições diretas para os cargos de direção, pois
isto garante autonomia e possibilita que a comunidade escolar como um todo debata o que
espera dessas instituições. Nesse sentido, compreendemos que os grêmios estudantis cum-
prem um papel de extrema importância na gestão democrática e na busca pela organização
no interior das escolas e na contribuição para as transformações que são necessárias fora dos
estabelecimentos de ensino. Por isso, os grêmios precisam ser fomentados e incentivados.
Acreditamos que investir em educação não é somente investir em prédios, em obras de cons-
trução civil e na aquisição de equipamentos e serviços tecnológicos, mas é, sobretudo, valori-
zar todos os profissionais da área. Uma educação pública, plural e de qualidade valoriza o pro-
fessor e a professora, bem como o processo de ensinar e aprender. Isso conduz à possibilidade
de transformação real da sociedade. Ressaltamos a importância da organização da classe
trabalhadora para lutar, resistir e garantir os seus direitos. Também destacamos que é urgente
enfrentar a evasão escolar e, para isso, são necessárias políticas de assistência estudantil. A
evasão escolar é permeada fortemente por diferentes formas de opressão, como no caso dos
alunos e das alunas com deficiência, que têm 28% de chances de abandonar a escola, ao pas-
so que os demais têm 19%3. Vimos, recentemente, que diversos estudantes tiveram crise de
ansiedade em escola no Recife4. Isso reforça a necessidade de apoio psicológico e assistentes
sociais atuando profissionalmente nas instituições de ensino.
Lutamos por essa educação pública participativa, democrática, plural, laica, inclusiva, de qua-
lidade e por melhores condições de trabalho para todos os profissionais e as profissionais da
área, seja no âmbito da educação básica ou superior. Lutamos, sobretudo, por uma educação
para a diversidade, que não exclua ninguém. Defendemos que as escolas cheguem em terri-
tórios indígenas, quilombolas, nas periferias do campo e das cidades. Além disso, atendendo
ao Manifesto #MeninasDecidem pelo direito à educação, da Rede de Ativistas pela Educação
do Fundo Malala no Brasil, sonhamos com uma educação diversa e popular , que respeite os
modos de vida das populações indígenas e quilombolas, “que a educação seja libertadora,
com múltiplas formas de ensinar e aprender, que escute ativamente os estudantes em sua
diversidade de sofrimentos, propostas e sonhos”. Para nós, o direito ao futuro, que dá nome
à Plataforma Programática do Partido Socialismo e Liberdade para as eleições deste ano, não
pode existir sem a valorização da educação e dos profissionais da área de educação.
3 https://jc.ne10.uol.com.br/colunas/enem-e-educacao/2022/06/15023320-pandemia-alunos-com-deficiencia-tem-mais-risco-de-abandono-escolar.html
4 https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/04/17/incidentes-em-escolas-acendem-um-alerta-sobre-a-saude-mental-dos-estudantes-brasileiros.ghtm
42
Paulo Freire nos convida a conjugar o verbo esperançar dizendo que a esperança deve ser
como o ar que respiramos. Precisamos esperançar por uma educação realmente transforma-
dora. Por isso, propomos:
• Defender a valorização salarial dos profissionais da educação e o cumprimento do Plano de
Cargos e Carreiras no estado;
• Cobrar que a gestão estadual promova a formação continuada de professoras e professores
para a inclusão de pessoas com deficiência, transtornos do desenvolvimento global e outras
síndromes nas classes regulares das escolas estaduais;
• Reivindicar formação em libras para os professores da rede estadual de ensino;
• Fiscalizar o cumprimento da Lei Estadual 13.935/2019, que determina a obrigatoriedade dos
serviços de psicologia e de serviço social nas redes públicas de educação básica;
• Realizar audiências públicas sobre a valorização profissional dos professores e demais pro-
fissionais da educação, refletindo questões como condições de trabalho, remuneração e con-
cursos;
• Cobrar da gestão estadual o pagamento do piso salarial nacional em sua integralidade para
todos os profissionais da rede estadual de ensino, bem como sua atualização para toda a car-
reira;
• Reivindicar a garantia de que os projetos implementados pela rede estadual de ensino sejam
feitos em parcerias com instituições públicas e universidades para evitar o processo de priva-
tização por meio de Organizações Sociais;
• Realizar audiências públicas sobre a necessidade da gestão estadual ampliar a gratuidade
do transporte para estudantes universitários, de modo a viabilizar a continuidade dos estudos
para membros de segmentos mais vulnerabilizados de nossa população;
• Cobrar negociação dos poderes públicos com o Consórcio Grande Recife para extinção do
limite mensal de 70 créditos do VEM Estudantil, pois há estudantes que precisam pagar até
mais de quatro passagens por dia, o que excede esse quantitativo;
• Monitorar o cumprimento da Lei Federal 11.947/2009, que, em seu Artigo 14, estabelece que
“Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30%
(trinta por cento) deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da
agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se
os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades
quilombolas”;
• Exigir que as escolas municipais tenham condições físicas adequadas e que não mais sejam
alocados anexos escolares em imóveis inapropriados;
• Legislar pela criação nos municípios os fóruns municipais de Educação e Diversidade Étnico-
-Racial, e resoluções que garantam os mecanismos legais para possibilitar e efetivar a imple-
mentação da Lei Nº 10.639/2003;
43
• Propor a criação de um programa de apoio a adolescentes que sofrem bullying nas escolas
estaduais e centros de ensino de Pernambuco;
• Legislar para o fortalecimento do Conselho Estadual de Educação de Pernambuco;
• Legislar para que as instâncias do controle social na área da educação tenham condições de
funcionamento;
• Apoiar a eleição direta para gestão das escolas;
• Legislar para que sejam implementadas cotas raciais nos cursos de graduação e pós-gradu-
ação da Universidade de Pernambuco;
• Defender um processo de fiscalização na ocupação das vagas dos estágios no Sistema Único
de Saúde, visando a uma paridade entre estudantes oriundos de diferentes instituições;
• Incidir pela atualização do Plano de Cargos e Carreiras (PCC) dos profissionais da educação;
• Atuar para que, no currículo das escolas, seja trabalhada a promoção dos direitos humanos;
• Cobrar investimentos voltados para Educação de Jovens e Adultos (EJA), visando à erradica-
ção do analfabetismo;
• Fiscalizar a implementação das Leis Federais 10.639/2003 e 11.645/2008 (que dispõem so-
bre a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena) nas escolas
estaduais;
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• Incidir pela criação nos municípios de fóruns municipais de Educação e Diversidade Étnico-
-Racial;
• Reivindicar a implementação de políticas de formação continuada para potencializar o tra-
balho de professoras, professores e demais profissionais da educação para que possam de-
senvolver projetos e experiências criativas promotoras de uma educação não racista, não ma-
chista, não homofóbica, não elitista e contrária à intolerância religiosa e demais preconceitos
sociais;
• Cobrar a criação e/ou ampliação de estratégias de superação de práticas discriminatórias
presentes nas escolas e impactantes na evasão escolar e repetência de estudantes (especial-
mente os provenientes de comunidades negras, quilombolas, indígenas, ciganas e de religiões
de matriz africana);
• Apoiar as demandas por assento no Conselho Estadual de Educação de especialista em edu-
cação das relações étnicos-raciais indicado pelos movimentos sociais negros de Pernambuco;
• Legislar pela promoção de ações educativas específicas e adoção de material didático e
paradidático acessível (braile, audiodescrição, letras ampliadas e libras), que proporcionem o
conhecimento sobre a participação histórica das mulheres negras, indígenas, quilombolas, as-
sentados, ribeirinhas, e povos de terreiros, em todos os campos da vida pública, na formação
da sociedade brasileira;
• Cobrar a adoção e distribuição de livros e materiais didáticos e paradidáticos, considerando
a produção local para distribuição estadual, de modo a contemplar nas escolas a diversidade
e a pluralidade racial, étnica, religiosa e de gênero da sociedade brasileira e pernambucana;
• Legislar para a criação de mecanismos e estratégias de promoção da educação inclusiva, não
racista, não sexista, não lesbofóbica, não transfóbica, não lgbtfóbica, que respeite às diferen-
ças e valorize a diversidade;
• Legislar pelo fortalecimento da educação no campo;
• Apoiar a garantia da oferta de educação escolar quilombola, respeitando as diretrizes espe-
cíficas já estabelecidas e as realidades dessas comunidades;
• Reivindicar a realização periódica de Conferência Estadual de Educação plural e representati-
va com ampla participação das comunidades escolares para formulação de políticas públicas.
45
46
Saúde
Entendemos que a defesa da saúde é uma pauta fundamental para uma plena democracia
em nosso país. Para isso, é urgente a reafirmação do caráter social da política de saúde, como
afirma a Carta Compromisso construída na Conferência Livre Democrática e Popular de Saúde.
É preciso que o Sistema Único de Saúde (SUS) seja 100% público e que não somente o acesso
aos serviços, mas a todos os produtos de saúde sejam garantidos a todas as pessoas.
Nos últimos anos, infelizmente, falar sobre saúde pública no Brasil tem sido sinônimo de uma
série de problemas que decorrem de fatores diversos, seja de gestão dos serviços, seja do ado-
ecimento da população, dentre outras questões. A Emenda Constitucional Nº 95, que impôs o
limite de investimentos públicos em áreas importantes, dentre elas, a saúde, tem aprofundado
as desigualdades sociais. Por isso, é urgente a sua revogação. Não podemos nos esquecer que
também é urgente tirar Jair Messias Bolsonaro do poder e os que seguem a sua política de
morte nas demais esferas do Executivo e do Legislativo. Se, hoje, temos mais de 680 mil mor-
tes por Covid19, é por conta de sua postura no governo, de negar não só a pandemia, mas a
ciência e dificultar a vacinação no país.
Desde o início da pandemia de Covid19, temos testemunhado de forma ainda mais acentu-
ada a importância do SUS como garantia de dignidade e justiça social. Apesar da saúde ser
colocada na Constituição Federal como direito de todes e dever do Estado e de 70% da po-
pulação depender exclusivamente do SUS para serviços e produtos de saúde, sabemos que
este Sistema tem sido negligenciado nas mais diferentes esferas de poder. Em Pernambuco, o
SUS está caótico. O caos atinge principalmente as mulheres e a população negra e pobre, que
compõem 80% do público que depende do SUS. As mulheres representam 70% das usuárias
da atenção básica e, dessas, 60% são negras, segundo o IBGE.
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É inadmissível que o Brasil seja o país onde mais morreram gestantes e puérperas por causa
da Covid19 no mundo (8 em cada dez eram brasileiras) e que 60% dessas mortes tenham
sido de mulheres pretas e pardas. Também somos o país em que o racismo estrutural faz com
que se legitimem práticas de violência obstétrica sob a justificativa de que mulheres negras
são mais resistentes às dores. Infelizmente, esses percentuais não estão descolados de outros
fatores de desigualdades. Pernambuco é o terceiro estado com maior concentração de renda
e Recife é a capital nacional das desigualdades.
As desigualdades se refletem nas mais diversas formas e uma delas é o acesso à saúde. A
gente entende que, para reduzir o cenário de tantas injustiças e desigualdades, é fundamental
que a saúde chegue a quem mais precisa. Além disso, compreendemos que a saúde está inter-
ligada a outros direitos humanos fundamentais, como moradia, saneamento básico, educação,
transporte público e alimentação de qualidade, direitos trabalhistas, uma vida sem violência,
dentre outros. A defesa da saúde é também uma forma de enfrentar as opressões, sejam elas
de gênero, raça ou classe, mas também de outros tipos, como o capacitismo, a LGBTQIA+fobia,
o etarismo etc. Ressaltamos também que há problemas, como os de sofrimento psíquico, que
são causados e/ou agravados por desigualdades estruturais, como o machismo, o racismo e
a pobreza.
Defendemos o fortalecimento da Rede Básica de Saúde e uma atenção primária cada vez mais
valorizada, tendo como eixo estruturante a Estratégia de Saúde da Família, que é a porta de
entrada e regulação da Rede de Atendimento à Saúde. Além disso, a Saúde da Família resolve
até 85% dos problemas sem que as pessoas precisem ir para emergências ou prontos-socor-
ros. A Estratégia de Saúde da Família é o espaço do cuidado integral das famílias e de uma
prática educadora, além de trazer economia para o orçamento público. Entendemos que o
Governo de Pernambuco tem um papel de extrema importância nessa questão por fomentar,
monitorar e acompanhar as políticas públicas municipais. Defendemos o papel central do Es-
tado na indução e sustentação do Complexo Econômico de Saúde, tal como enuncia a Carta
Compromisso que referimos anteriormente. Denunciamos que a hospitalização enquanto prin-
cípio e a terceirização de serviços, que têm sido marcas fortes das gestões do Partido Socia-
lista Brasileiro (PSB) em nosso estado, prejudicam investimentos na atenção básica à saúde.
Também denunciamos a valorização de políticas manicomiais e o sucateamento de serviços
importantes, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Faltam profissionais e medica-
mentos. Além disso, a quantidade de CAPS, principalmente, para transtornos infantis, é insufi-
ciente para a magnitude da população estadual. Também tem havido, por parte do Ministério
da Saúde, o desmonte do financiamento dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF).
Não podemos assistir passivamente a superlotação dos serviços de saúde, as longas esperas
pela realização de diversos procedimentos, a exemplo de consultas que podem chegar a ser
marcadas para depois de mais de um ano. Não podemos aceitar que as pessoas precisem ma-
drugar para conseguir uma vaga, que não haja acolhimento nos serviços, que a estrutura física
esteja literalmente em risco ou desabando, como foi o caso do teto do Hospital da Restaura-
ção e do Hospital Getúlio Vargas. Também não podemos aceitar a falta de medicamentos e
insumos básicos. Além disso, denunciamos a prevalência de um modelo de assistência à saúde
que não valoriza a construção em equipe, com diversos profissionais vindo de áreas distintas.
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Denunciamos ainda que os hospitais universitários, o Hospital Oswaldo Cruz, o Procape e o
Cisam estão sendo subutilizados, deixando de fazer procedimentos por falta de material.
Sabemos que faltam profissionais nos serviços municipais e estaduais de saúde. Além disso,
têm sido mais frequentes os processos de adoecimento por conta do trabalho nessa área.
Por isso, acreditamos ser fundamental a realização de concursos públicos para melhorar as
condições de trabalho em saúde no estado. Também sabemos que doenças que têm pouca
visibilidade, como tuberculose, hanseníase, leshmaniose, dentre outras, seguem atingindo as
pessoas e tem havido problemas no envio de medicamentos pelo Ministério da Saúde1. Res-
saltamos também que é um absurdo inaceitável que a população não tenha acesso a todos as
especialidades e tratamentos que necessitam.
O estado que a gente quer é aquele em que as pessoas não só tenham pleno acesso gratuito
aos serviços públicos de saúde, mas que sejam acolhidas e respeitadas em seus atendimentos
de assistência à saúde. Este estado também precisa garantir que gestantes não sofram vio-
lência obstétrica e tenham um acompanhamento humanizado e de qualidade, que todas as
mulheres tenham assegurados seus direitos sexuais e reprodutivos, que a saúde da população
negra esteja nas prioridades, que pessoas com deficiência tenham acessibilidade, que não
haja discriminações, que a comunidade LGBTQIA+ tenha pleno acesso aos seus direitos, que
exista uma política séria de saúde mental, que povos tradicionais (indígenas, quilombolas e ci-
ganos) tenham seus saberes reconhecidos e valorizados, que a atenção básica seja priorizada
e fortalecida, que seja garantida a participação da sociedade nos espaços de controle social,
como o Conselho Estadual de Saúde e as Conferências de Saúde, que são partes essenciais
da democracia junto ao SUS. A gente quer também um sistema que valorize todas as traba-
lhadoras e os trabalhadores, que dê condições dignas de trabalho e que saiba da importância
da atuação em equipe multiprofissional e multidisciplinar. Compreendemos, sobretudo, que a
saúde é construída todos os dias e que essa área precisa ser prioridade em nossa atuação. Por
isso, sabemos que a luta pela saúde é parte da luta pela democracia e pela justiça social. Por
uma saúde pública universal, de qualidade e acessível para todas, todos e todes. Viva o SUS!
Diante disso, para uma atuação na Assembleia Legislativa de Pernambuco, propomos:
• Defender o cumprimento no estado da Resolução 63/2011, da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, que regulamenta as boas práticas de funcionamento para os serviços de saúde;
• Incidir junto ao Governo do Estado sobre a necessidade de formação continuada em educa-
ção em saúde para profissionais da Rede de Atendimento à Saúde;
• Incidir para que seja feita uma auditoria cidadã das contas públicas da saúde;
• Defender que unidades escolares e de saúde básica, incluindo regiões rurais e comunidades
tradicionais, abordem a prevenção à violência sexual, doméstica e de gravidez precoce ou in-
desejada;
• Fiscalizar nas peças orçamentárias (PPA, LDO e LOA) a alocação de recursos para saúde men-
tal, bem como monitorar essa execução;
1 https://jc.ne10.uol.com.br/colunas/saude-e-bem-estar/2022/03/14964931-tuberculose-taxa-de-cura-cai-e-numero-de-mortos-pela-doenca-aumenta-em-pernambuco-durante-a-
-pandemia.html
49
• Legislar pelo fortalecimento do Conselho Estadual de Saúde;
• Incentivar e valorizar a participação social nas políticas de saúde;
• Atuar para garantir a contratação de profissionais de saúde para ocupar o lugar das funcio-
nárias e dos funcionários aposentados;
• Defender a ampliação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e fortalecer a Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS);
• Apoiar a ampliação das equipes dos Núcleos de Saúde da Família (NASF);
• Cobrar no estado a implementação da Lei Federal 14.434/2022, que estabelece o piso sala-
rial nacional de enfermeires, técnices de enfermagem, auxiliares de enfermagem e parteiras;
• Elaborar e incidir pela aprovação de um projeto de lei para regulamentar a obrigatoriedade
de profissionais de Odontologia Hospitalar na rede estadual de média e alta complexidade;
• Defender a reimplantação de uma rede de atenção às urgências e emergências odontológi-
cas, em nível regionalizado;
• Legislar para que haja concursos para as diversas profissões que integram a saúde e acom-
panhar o processo de nomeação das pessoas aprovadas;
• Cobrar nos serviços de saúde do estado a atuação de equipes multiprofissionais e multidis-
ciplinares;
• Atuar pelo fortalecimento das residências multiprofissionais em saúde e para que os profis-
sionais, depois de concluída a formação, sigam atuando no SUS;
• Incidir pela promoção da assistência integral à saúde indígena, respeitando as especificida-
des culturais e sociais dos povos indígenas;
• Defender a criação da Política Estadual de Fortalecimento da Atenção Primária;
• Cobrar do Governo do Estado o fomento e financiamento complementar à atenção básica;
• Cobrar mapeamento dos serviços de saúde do estado, bem como a quantidade de profissio-
nais de cada área e as demandas de saúde de cada região;
• Defender o investimento em práticas integrativas de cuidados à saúde, uma vez que são
medidas baratas e que abrangem todas as áreas;
• Incidir pela garantia da efetivação e do fortalecimento da Rede Nacional de Atenção Integral
à Saúde do Trabalhador (RENAST) em todo o estado;
• Fiscalizar e fomentar a atuação dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador;
• Defender a promoção de ações que garantam um fluxo de informações que contribuam para
a elaboração de políticas públicas que corroborem com a prevenção de casos de adoecimento
de trabalhadores e trabalhadoras;
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• Legislar pelo fortalecimento do Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de
Pernambuco (SASSEPE);
• Legislar em defesa de ações que garantam a qualidade de vida dos trabalhadores e traba-
lhadoras.
• Defender a perspectiva de humanização na assistência à gestação, ao parto e às situações
de abortamento;
• Incidir para implementação de uma política pública de capacitação dos profissionais, acesso
à informação e atendimento de qualidade para as pessoas antes, durante e pós-gestação;
• Fiscalizar o cumprimento da Lei Estadual 15.880/2016, que assegura o direito à presença de
doulas durante o trabalho de parto, parto e pós-parto;
• Fiscalizar a garantia pelo estado dos serviços de aborto previstos em lei;
• Reivindicar o cumprimento em Pernambuco da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
da Mulher;
• Realizar audiência pública sobre violências obstétricas e morbi-mortalidade materna;
• Cobrar que a gestão estadual implemente e monitore a mudança do modelo médico centra-
do da assistência obstétrica atual para o modelo de uma equipe profissional que incentive o
parto normal e respeite o protagonismo da parturiente, como também monitore as irregulari-
dades e denúncias recebidas;
• Defender políticas que garantam a saúde integral das mulheres lésbicas, bissexuais e homens
trans, articulando com as instituições de formação de profissionais da saúde e combatendo a
violência ginecológica e obstétrica;
• Defender que o Governo de Pernambuco distribua absorventes para pessoas que menstru-
am e que estejam em situação de vulnerabilidade social;
• Reivindicar a ampliação de cobertura da triagem neonatal (teste do pezinho);
• Defender a implementação em Pernambuco da Política Nacional de Saúde Integral da Po-
pulação Negra;
• Reivindicar o preenchimento do quesito raça/cor nos instrumentos de coleta de dados na
Saúde, e que seja realizado treinamento para abordagem, análise e ampla divulgação do perfil
da saúde da população negra;
• Defender o acesso da saúde às populações quilombolas;
• Defender o fortalecimento da participação dos movimentos negro sna esfera de controle
social das políticas de saúde, garantindo os princípios da gestão participativa do SUS;
• Incentivar o financiamento de pesquisas sobre Saúde da População Negra;
• Fomentar a valorização dos saberes e práticas populares de saúde, em especial, os produzi-
dos pelas religiões afro-indígenas;
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• Legislar para o enfrentamento de práticas do racismo obstétrico;
• Defender a realização de campanhas informativas para a população negra sobre cuidados
com a saúde, em especial, sobre doenças que acometem principalmente a população negra, a
exemplo da anemia falciforme, Diabetes mellitus (tipo II), Hipertensão arterial e Deficiência de
glicose-6-fosfato desidrogenase;
• Reivindicar a efetivação da Política Estadual de Atenção Integral às Pessoas com Doença
Falciforme e Outras Hemoglobinopatias;
• Cobrar a implementação da realização do exame de eletroforese da hemoglobina no pré-
-natal;
• Fortalecer as representações dos povos e comunidades tradicionais e representações do Mo-
vimento Negro no Comitê Estadual de Saúde da População Negra e nos Conselhos de Saúde;
• Fomentar, junto à gestão estadual, campanhas educativas nas diversas mídias sobre racismo
e temas relacionados à saúde da população negra;
• Defender a elaboração e reprodução de materiais educativos (campanhas acessíveis): braile,
audiodescrição, letras ampliadas e libras, sobre racismo e temas relacionados à saúde da po-
pulação negra;
• Reivindicar a construção de Centros de Referências para que as pessoas com transtorno
mental em conflito com a lei possam ter acesso ao trabalho e ao lazer;
• Defender investimentos em Serviços de Residência Terapêutica, pois são estratégias funda-
mentais tanto para a saúde mental quanto para as pessoas em situação de abandono;
• Incidir pelo fim do financiamento público de Comunidades Terapêuticas;
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• Legislar pela assistência em saúde mental para população LGBTQIA+.
• Incidir para garantia da aplicação da Lei Brasileira de Inclusão nos serviços de saúde no âm-
bito estadual;
• Reivindicar a formação continuada de profissionais de saúde para lidar com as questões es-
pecíficas das pessoas com deficiência, bem como da população LGBTQIA+;
• Atuar na defesa do atendimento correto da população LGBTQIA+ na rede estadual de Saúde
e nos demais espaços públicos;
• Legislar pela garantia da acessibilidade comunicacional nos centros de saúde, com atenção
especial aos hospitais que tratam da saúde da mulher, maternidades e hospitais que acolham
mulheres vítimas de violência sexual e/ou doméstica;
• Defender o atendimento do SUS às pessoas trans, com capacitação dos profissionais de saú-
de e insumos adequados, e demais questões para o processo de hormonioterapia e procedi-
mentos cirúrgicos de afirmação de gênero.
• Fomentar ações com o intuito de estimular e sensibilizar os profissionais de saúde acerca das
notificações das doenças de notificação obrigatória;
• Propor políticas públicas que garantam um canal e um fluxo de notificações de zoonoses
ocorridas em animais por profissionais da área;
• Propor ações no âmbito da saúde única que fortaleçam os municípios do estado no controle
das zoonoses e no controle populacional de cães e gatos;
• Cobrar a garantia de transparência com maior acessibilidade às notificações de doenças de
notificação obrigatória;
• Elaborar políticas públicas que estimulem a população pernambucana a tomar as vacinas do
Calendário Nacional de Vacinação.
• Reivindicar capacitação para profissionais de saúde na questão da prevenção às Infecções
Sexualmente Transmissíveis e no atendimento às usuárias e usuários;
• Fiscalizar nas peças orçamentárias (PPA, LDO e LOA) a previsão de recursos para tratamento
e combate de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), bem como monitorar a execução
financeira deste orçamento no âmbito estadual;
• Defender a ampliação da Profilaxia Pós-Exposição (PrEP) e da Profilaxia Pós-Exposição ao
HIV (PeP) na rede estadual de saúde;
• Realizar audiência pública sobre como a pauta dos preconceitos e estigmas de pessoas vi-
vendo com HIV/Aids pode ser trabalhada nas escolas;
• Elaborar um projeto de lei que inclua as pessoas vivendo com HIV/Aids na listagem de VEM
Livre Acesso para assegurar seus deslocamentos para consultas e exames médicos.
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54
Cultura
A cultura sempre representou para mim um meio de resistência, uma possibilidade de nos
mantermos de pé mesmo diante das muitas adversidades da vida. Convivo com a cultura
desde jovem, entendo que ela é parte do que nos confere uma identidade, daquilo que nos
fortalece e dá condições de autorreconhecimento. Especialmente para nossas juventudes, ela
é muitas vezes um meio de sobrevivência não apenas material, mas também simbólico, espe-
cialmente no caso de jovens de periferia. Estes e muitos outros segmentos sociais, que conti-
nuam sua ação cultural com persistência e dinamismo, fazem com que que a cultura seja tão
viva em nosso estado.
A cultura representa a expressão de ideias e de fazeres que são, em si, revolucionários. Sua
simples existência confronta, escancara e desconcerta o projeto de ódio que se instalou no
Governo Federal do nosso país, que ameaça as nossas vidas e a nossa frágil democracia. A
cultura está presente em cada região desse estado, nas mais diversas manifestações, mas há
anos ela não está sendo tratada à altura de sua importância.
Já faz alguns anos que a cultura, para os gestores do nosso estado, parece estar reduzida aos
ciclos festivos. A gente não pode mais aceitar que cultura esteja limitada a shows e atividades
pontuais, pois como já disse, a cultura é viva e atravessa diversas formas das nossas vidas. Em
sua plena vivacidade, ela se faz e refaz todos os dias, ela é produzida o ano todo nos mais di-
versos lugares. O povo pernambucano respira cultura, mas tem sido submetido a uma gestão
que investe muito em marketing, faz muita propaganda e, efetivamente, desenvolve poucas
políticas públicas de cultura em nosso território.
Constituída de manifestações populares e artísticas das mais variadas formas, a cultura é efer-
vescência, acontece a toda hora e em todo lugar. Ela vai desde o Carnaval, festivais em todo
estado, maracatus, afoxés, caboclinhos, papangus, bois, caiporas, caretas, escolas de samba,
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passando pelas quadrilhas, pelo hip hop, passinho, teatro, dança, artes plásticas, artes visuais,
cinema, museus e tantas outras formas que, devido às estruturas capitalistas, racistas, clas-
sistas, misóginas e excludentes de nossa sociedade, seguem sendo desvalorizada pelo poder
público. Cultura não pode ser reduzida às manifestações elitizadas e letradas de segmentos
bem instruídos da sociedade.
Por tudo isso, compreendemos que políticas públicas de cultura são políticas de promoção de
igualdade e também são políticas de saúde, de educação, de segurança e des várias outras
temáticas que compõem e atravessam as nossas vidas. Negar o acesso aos equipamentos cul-
turais e às ações de cultura é proibir que se viva com plenitude, é interditar a possibilidade de
questionar as desigualdades da nossa sociedade. Por isso, a minha candidatura ao Legislativo
Estadual denuncia os anos de desmonte do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) de Pernam-
buco. Defendemos, sobretudo, o acesso a espaços e a recursos financeiros do setor cultural,
com foco especial para a cultura das periferias.
Precisamos que Pernambuco tenha uma cultura que represente a construção permanente e
cotidiana da vida. Precisamos garantir a manutenção de nossos artistas e dos equipamentos
culturais ao longo do ano inteiro, todos os anos. É por isso que sou defensora de uma política
pública de cultura perene, com o fortalecimento do SIC, com fluxo contínuo de verbas, com
editais amplamente divulgados e menos burocráticos, para que a burocracia não seja um
impeditivo ao acesso de recursos públicos por parte de artistas e agentes culturais que estão
fora da Região Metropolitana do Recife ou não dominam todas as normas técnicas que têm
sido exigidas neste campo.
Assim, quando penso em políticas públicas de cultura, considero inegociável que elas valori-
zem os mais diversos artistas do nosso estado, pois são imprescindíveis para um mínimo de
democratização do espaço público. Em Pernambuco, nós temos uma emissora pública, a TV
Pernambuco, defendo que ela tenha investimentos e estrutura suficiente para se fortalecer
como um dos principais canais de disseminação das nossas produções culturais. Além disso,
defendo que os poderes públicos incidam no estímulo à transmissão de produções culturais
da região na programação dos canais de comunicação instalados em Pernambuco. Este tipo
de medida contribui com a produção cultural da região.
Além disso, os investimentos em cultura precisam garantir a restauração, preservação e ma-
nutenção de equipamentos culturais públicos de todo estado, como museus e centros cultu-
rais, garantindo que o acesso à cultura seja efetivo para todo o povo pernambucano. Ou seja,
temos o desafio de construir uma política de cultura que seja pública, acessível a todos os
públicos, democrática e inclusiva em contraposição aos moldes da gestão atual que privatiza
cada vez mais o nosso acesso a bens culturais.
Eu caminho ao lado de pessoas que acreditam numa política cultural aliada à política artística
para formação de atores e de outros artistas em escolas e espaços culturais e formativos, mas
que também incentive a economia criativa da cultura por meio de ações integradas com Se-
cretarias de Estado, tais como as de Educação, Cultura, Turismo e Desenvolvimento Econômico.
Considero de extrema importância levar o teatro às escolas e as escolas aos teatros, bem como
favorecer trocas análogas entre ensino e outras artes, estimulando desde cedo as crianças e
adolescentes a se interessarem pelas artes e contribuírem com seu desenvolvimento em nosso
56
estado. Acredito que a cultura tem um enorme potencial educativo, pois ela nos ajuda a cons-
truir nosso pensamento crítico. Assim, não investir nesse setor, inclusive desrespeitando artis-
tas contratados apenas para ações pontuais, a exemplo do Carnaval, da Feneart e do Festival
de Inverno de Garanhus, revela um não investimento do Governo de Pernambuco no nosso
povo e na nossa formação política. A falta de cuidado com artistas em eventos como os que
acabo de citar, o atraso no pagamento de seus cachês e a desvalorização de seus honorários
em comparação com o que se paga a artistas de outras regiões são alguns dos pontos contra
os quais pretendo atuar na Assembleia Legislativa de Pernambuco.
O estado que a gente quer valoriza quem faz cultura, proporciona dignidade para a execução
deste importante trabalho e garante que a cultura se mantenha viva nas suas mais diversas
manifestações. Acreditamos que a cultura transforma não só a vida de cada pessoa, mas
também a coletividade e isso contribui por sua vez com diferentes aspectos, como segurança,
saúde e educação. Fazer e investir na cultura é promover cidadania! Por isso, as propostas da
nossa candidatura ao Legislativo Estadual para o setor cultural são:
• Cobrar da gestão estadual o funcionamento efetivo do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) e
do Conselho Estadual de Política Cultural, bem como a execução do Plano Estadual de Cultura,
com metas e valores compatíveis nas peças orçamentárias (PPA, LDO e LOA);
• Pleitear junto à gestão estadual o fortalecimento do Fundo de Incentivo à Cultura (FIC) a
partir de dotações orçamentárias anuais;
• Reivindicar que a Comissão Deliberativa do SIC estabeleça critérios de destinação de recur-
sos do FIC para projetos culturais que tragam retorno direto para a sociedade pernambucana,
já que são recursos empregados a fundo perdido, sobretudo, para moradores de áreas peri-
féricas do estado;
• Reivindicar que a Comissão Deliberativa do SIC estabeleça critérios de inclusão social para
aprovação de projetos culturais postulantes aos incentivos do Mecenato de Incentivo à Cultura
(MIC);
• Reivindicar junto à gestão estadual o financiamento, a valorização e a promoção de grupos
e expressões da cultura afro-brasileira, das comunidades tradicionais, quilombolas e povos de
terreiros, bem como o mapeamento e a preservação dos patrimônios materiais e imateriais
desses segmentos;
• Lutar pela criação e garantia de políticas afirmativas para as culturas negras nas políticas e
programas de incentivo à produção cultural do estado;
• Abraçar iniciativas que valorizem a produção artística e cultural das mulheres negras em sua
diversidade de expressões.
• Reivindicar alocação de verbas nos editais do setor cultural para projetos e eventos que
sejam realizados em comunidades periféricas do estado e que valorizem as manifestações
culturais próprias dessas comunidades em suas diversas linguagens artísticas;
• Reivindicar a descentralização dos editais, leis, programas e fundos do setor cultural para
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projetos e eventos realizados fora da Região Metropolitana, contemplando todas as regiões
do estado;
• Legislar para garantir ações afirmativas nos editais, leis, programas e fundos do setor cultural;
• Pleitear junto à gestão estadual a distribuição equilibrada, ao longo do ano, das verbas e
editais do setor cultural, e não apenas nos ciclos de festas, de modo que se estabeleça um flu-
xo contínuo que valorize o trabalho dos indivíduos e dos grupos que tradicionalmente fazem
cultura no estado e que possibilite a manutenção dos espaços e a sustentação dos fazedores
de cultura;
• Fiscalizar a liberação de recursos em tempo hábil, por parte da gestão estadual, para proje-
tos e eventos selecionados pelos editais do setor cultural;
• Cobrar a realização de formações continuadas sobre o funcionamento de editais e platafor-
mas do setor cultural, a exemplo do Funcultura e do Mapa Cultural, garantindo o acesso justo
a esses financiamentos, em especial a fazedores de cultura do interior do estado;
• Cobrar que a gestão estadual disponibilize os indicadores culturais para que tenhamos trans-
parência na execução do da política cultural do estado;
• Fortalecer a atuação do Conselho Estadual de Política Cultural na busca por garantia de
transparência, controle e participação social efetiva da população na gestão das políticas cul-
turais do estado;
• Cobrar que a política cultural do estado seja aplicada de forma integrada com diferentes
setores como a educação, esporte, saúde, meio ambiente, entre outros;
• Atuar em prol do incentivo a produções culturais coletivas em contraposição ao beneficia-
mento do empreendedorismo cultural individual;
• Cobrar a execução de editais específicos por região do estado, ampliando o acesso e estimu-
lando a descentralização dos recursos;
• Pleitar, junto a movimentos de cultura, que critérios de comprovação de atividade cultural
dispostos na Lei Estadual 14.104/2018 não sejam analisados nos editais de cultura a partir de
uma lógica mercadológica, excluindo fazedores de cultura de concorrer esses editais;
• Fiscalizar o cumprimento da Lei Estadual 16.790/2019 e atuar para garantir o pagamento
célere de artistas, fornecedores e prestadores de serviço do setor cultural;
• Cobrar a desburocratização e democratização dos editais de financiamento à cultura, com
isto buscar simplificar as exigências dos editais estaduais para o setor cultural, que, na prática,
acabam reproduzindo desigualdades de raça, gênero, classe, social e regional ao inviabiliza-
rem a realização de projetos e eventos de proponentes e produtores individuais e de menor
poder econômico;
• Cobrar da gestão estadual a execução das propostas da Sociedade Civil para a TV Pernambu-
co, em especial a estruturação técnica para a produção do próprio conteúdo televisivo e para
que produtores e comunicadores em diferentes condições socioeconômicas possam acessá-la;
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• Reivindicar orçamentos compatíveis com as atribuições da Secretaria de Cultura, e, em espe-
cial, reivindicar a elaboração e exigir o cumprimento de um plano de reforma e manutenção
da estrutura dos teatros estaduais, com a transparência e o planejamento necessários;
• Lutar pela valorização de territórios alternativos do fazer teatral em todo o estado, já que, a
maioria dos teatros estaduais se concentra em áreas centrais da RMR;
• Atuar em favor da alocação, nas peças orçamentárias, de verbas específicas para cada lin-
guagem artística;
• Legislar para garantir acessibilidade comunicacional nos diferentes espaços culturais do es-
tado;
• Legislar para o incentivo de expressões culturais afro-indígenas, de comunidades tradicio-
nais, de povos de terreiro e quilombolas, expressões culturais que são impactadas pelo racis-
mo que estrutura nossa sociedade;
• Defender políticas afirmativas para produções culturais de pessoas negras na política cultural
do estado;
• Valorizar a produção cultural de setores vulnerabilizados, em especial de mulheres negras,
periféricas, LBTs e com deficiência;
• Zelar pela valorização, preservação e fruição do patrimônio cultural material e imaterial per-
nambucano, fomentando ações museais que - a exemplo da Política Nacional de Museus - pre-
serve, revitalize e fortaleça instituições museológicas existentes e fomente a criação de novos
processos de produção e institucionalização de memórias constitutivas da diversidade social,
étnica e cultural do estado.
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Direito à cidade
Quem me conhece sabe que o direito à cidade está no meu raio de reflexão e ação há muito
tempo. Minhas relações com movimentos de luta por moradia e transporte impõem o compro-
misso de pensar e agir por uma vida melhor nas cidades. Faço isso com muita convicção da
necessidade e com respeito às conquistas e acordos que antecedem a minha atuação. Nesse
sentido, acredito que no Legislativo estadual poderemos ampliar a repercussão de demandas
históricas e ainda muito atuais no estado de Pernambuco. Além disso, segundo dados do úl-
timo censo demográfico nacional (IBGE, 2010), mais de 80% da população de nosso estado
vive nas áreas urbanas das cidades pernambucanas. Assim, pensar as cidades e o direito que
as pessoas têm em relação a elas é algo central para uma boa atuação parlamentar nesse es-
tado e, por tudo isso, este tema foi e continua sendo pauta importante nos meus planos.
O direito à cidade é um tema muito amplo, que passa certamente por moradia adequada e
digna, em área saneada e estável, com a devida regularização fundiária, mas também signi-
fica a garantia de uma alimentação saudável e livre de agrotóxicos, com mobilidade efetiva,
justa, sustentável e segura, além do reconhecimento e respeito aos territórios ocupados por
populações tradicionais. Para tanto, decisões fundamentais para difundir o modelo de cidade
em que acreditamos, através de instrumentos como o Plano Diretor, precisam ser constru-
ídas e atualizadas com participação popular, de maneira transparente e coletiva, nos mais
diversos municípios pernambucanos. Além disso, instrumentos que criam Zonas Especiais
de Habitação de Interesse Social precisam ser divulgados e ampliados para garantir cada vez
mais que famílias possam viver com segurança em seus lugares de origem, impedindo que a
especulação imobiliária transforme estes territórios de origem popular em conglomerados de
edifícios comerciais e condomínios de luxo, inacessíveis aos ocupantes originais destes terri-
tórios. Tomando como exemplo a capital de nosso estado, sabemos por dados da Prefeitura
Municipal que existe um déficit habitacional de mais de 70 mil unidades na cidade, enquanto
61
no mesmo território dados do último censo demográfico (IBGE, 2010) estudados pelas ONGs
Habitat Brasil e Fase apontam a existência de 43,5 mil imóveis não ocupados, sem cumprir sua
função social. Defendemos, portanto, a habitação de interesse social no centro da política de
direito à cidade em Pernambuco, uma habitação bem localizada, com condições de habitabili-
dade, com segurança da posse, com a certeza de que isto otimiza despesas de deslocamento
da população mais vulnerável, respeita a história de nossos aglomerados urbanos e promove
justiça social. Ademais, pautamos a efetiva função social da propriedade, a redução do déficit
habitacional, a promoção da mobilidade ativa, bem como a oferta de abastecimento d’água
e saneamento universal. Propomos que a cidade seja encarada como um bem comum e não
como mero espaço de negócios acessível apenas por quem pode pagar.
Além disso, integro o grupo que defende o uso misto das áreas urbanas. Neste contexto, o
termo “uso misto” representa o desenvolvimento das cidades com áreas que congreguem co-
mércio, restaurantes, outros tipos de empresas e residências, facilitando circulação e acesso de
pedestres, reduzindo a necessidade do uso cotidiano de automóveis. Diversos estudos apon-
tam que bairros de uso misto melhoram as conexões sociais e incentivam o transporte públi-
co, garantindo uma dinâmica urbana que promove segurança e, ao mesmo tempo, amplia o
tempo livre da população residente, otimizando as possibilidades de trabalho e lazer. Dessa
maneira, em vez de cidades que separam suas áreas de moradia, comércio e lazer, saturando
frações de seu território, farei os esforços que puder para incentivar o uso misto do solo urba-
no de nossas cidades, tentando contribuir para o planejamento de cidades mais sustentáveis
em nosso estado.
Dito isto, fica evidente que eu compreendo que a concretização do direito à cidade, conforme
o disposto no Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001), está sempre associada à garantia
do conjunto de direitos humanos e não se separa jamais dos direitos políticos, econômicos,
sociais e ambientais. Porém, durante a pré-campanha, nossa discussão sobre direito à cidade
focou especialmente em habitação, transporte e saneamento; mantemos o mesmo foco neste
Programa de Atuação - com a devida certeza de que esta plataforma deve ser perseguida em
paralelo às demais lutas que estão expressas em outras seções deste documento.
Como nossos passos vêm de longe e são comuns a muitas pessoas, começo a registrar essas
propostas fazendo o reconhecimento público à Conferência Popular pelo Direito à Cidade.
Realizada em junho de 2022, esta Conferência resultou de um amplo processo de 10 meses
de debates, 232 eventos preparatórios e efetiva construção coletiva em que mais de 600
entidades aderiram ao resultado de síntese que contém centenas de propostas distribuídas
em 16 eixos temáticos. Com forte participação de movimentos, pesquisadores e ativistas per-
nambucanos, esta Conferência é um marco para a nossa política urbana e um ponto de par-
tida importante para a plataforma de atuação de quem se compromete com a construção de
cidades com justiça social e ambiental. Deste processo e do papo aberto que fizemos sobre
o tema, surgem minhas grandes prioridades em relação ao direito à cidade: 1a) evitar mortes
por desastres urbanos e 2a) evitar despejos.
Na sequência, as demais propostas que inspiram minha atuação em relação a este tema no
parlamento estadual de Pernambuco.
62
Habitação
• Garantir que o direito à moradia prevaleça em relação aos direitos de propriedade privada
buscando efetivar o disposto no texto constitucional brasileiro, no Estatuto da Cidade e na Lei
Federal 11.124/2005 (que dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social);
• Ampliar investimento nas Zonas Especiais de Interesse Social, com planos de regularização e
desenvolvimento urbano e social das áreas;
• Legislar em âmbito estadual para contribuir com a efetivação da Lei Federal 11.888/2008,
que assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e
a construção de habitação de interesse social;
• Defender a função social da propriedade e aplicação dos instrumentos que visam sua garan-
tia e estão previstos no Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001);
• Pautar a revisão dos Planos Diretores das Cidades e sua eventual construção nos municípios
onde são necessários;
• Ampliar a regularização fundiária das propriedades de moradia, garantindo - sempre que
possível - a titularidade dos imóveis em favor das mulheres;
• Destinar patrimônio imobiliário público para atendimento das necessidades habitacionais da
população de baixa renda, em especial moradores de áreas de risco;
• Defender a obrigatoriedade de transparência na produção de listas de espera de projetos
habitacionais, com informações sobre tempo de espera e condições preferenciais (como mu-
lheres chefe de família, idosos e pessoas com deficiência);
• Defender a democratização e o funcionamento das instâncias decisórias da política urbana
e a participação da sociedade civil na gestão da política urbana e habitacional das cidades
pernambucanas;
• Fiscalizar as isenções fiscais promovidas por órgãos públicos em Pernambuco ao setor pri-
vado com o objetivo de ampliar a oferta habitacional, verificando eventuais riscos ao erário e
buscando promover justiça tributária;
• Fiscalizar a atuação dos poderes públicos na prevenção de deslizamentos e enchentes;
• Defender o respeito a características étnicas e culturais de populações tradicionais e grupos
prioritários para as políticas públicas de habitação;
• Defender a reestruturação da política de defesa civil de Pernambuco;
63
Saneamento
• Defender a universalização de saneamento e abastecimento d’água nas cidades pernambu-
canas;
• Investir em obras de estrutura para captação, tratamento e distribuição de água potável;
• Combater a privatização dos mananciais e dos serviços de saneamento;
• Fiscalizar a manutenção do abastecimento regular de água potável e do saneamento nas
periferias urbanas;
• Incidir pela ampliação do abastecimento regular de água potável e de saneamento em áreas
de moradia rural;
• Legislar em âmbito estadual visando a instituir o fornecimento de um volume mínimo de
água potável, com tarifa zero, para famílias de baixa renda;
• Defender a ampliação da tarifa social de abastecimento d’água e esgotamento sanitário;
• Estimular a difusão de experiências de reuso de águas cinzas;
• Estimular a difusão de cisternas de captação de água das chuvas;
• Pautar o desenvolvimento de Planos Municipais de Saneamento Básico;
• Fiscalizar o cumprimento de metas e a prestação dos serviços da PPP de saneamento da
RMR;
• Cobrar que os municípios da RMR e a Compesa prestem os serviços de saneamento ambien-
tal nos trechos do território não atendidos pela PPP de saneamento;
Transporte
• Fiscalizar e incidir para que os municípios pernambucanos ampliem a acessibilidade ao trans-
porte de pessoas com deficiência ou restrição de mobilidade;
• Legislar visando a democratizar o uso do espaço público, combatendo privilégios de auto-
móveis, com a ampliação de faixas exclusivas para ônibus, ciclovias e vias de pedestre aces-
síveis, com desenho urbano orientado para as pessoas de todas as idades, gêneros e grupos
etnicorraciais;
• Legislar visando a diversificar investimentos em transportes, estimulando modais diferentes
da rodovia;
• Legislar visando a integrar os diversos modos de transporte urbano e interurbano;
• Legislar visando à ampliação de investimentos em calçadas, travessias, ciclovias, bicicletários
públicos, semaforização, iluminação pública em contrapartida da redução de investimentos
com estruturas para automóveis;
64
• Legislar em busca de incentivos fiscais para produção e aquisição de bicicletas;
• Legislar visando a ampliar a prevenção de acidentes no trânsito, por meio de ações de (i)
redução de velocidade, incluindo ampliação das zonas calmas nas cidades e controle de velo-
cidade média em rodovias, (ii) ampliação da segurança para modos ativos de transporte, (iii)
adaptação dos trechos de rodovias urbanas para circulação de ciclistas e pedestres, (iv) regu-
lamentação de parâmetros de segurança e controle de velocidade para a fabricação de novos
veículos e (v) educação para o trânsito seguro;
• Defender a adoção de mais políticas que privilegiem o transporte coletivo de qualidade, bem
como o respeito ao ciclista e ao pedestre;
• Ampliar o passe livre estudantil;
• Defender o passe livre para população desempregada e para estudantes do ensino superior;
• Garantir a participação e o controle social no planejamento dos sistemas de mobilidade ur-
bana, com amplo acesso às informações e dados de gestão, demanda e caracterização dos
usuários, custos de operação, financiamento e definição de linhas e trajetos, assegurando o
debate público e a consideração de propostas que atendam demandas de diferentes grupos
sociais;
• Reivindicar políticas públicas de mobilidade que sejam estruturadas pelo debate de gênero
e diversidade, combatendo o machismo, a discriminação e a intolerância na sociedade para o
fim dos assédios, estupros e outras violências e inseguranças vividas por mulheres cis e trans e
outros grupos sociais pautando dispositivos e aplicativos de segurança, como por exemplo, a
adoção da Parada Segura, e o fomento à paridade entre pessoas trabalhadoras do transporte
público e privado;
• Fazer da mobilidade urbana um polo de políticas antirracistas e de igualdade de gêne-
ro, combatendo aspectos sexistas e segregadores da população negra como: (i) garantia da
mobilidade em territórios negros; (ii) fim da violência policial nos transportes, (iii) segurança
para ciclistas e pedestres; (iv) modificação da lógica de exploração econômica do transporte
público que prejudica a população negra pela superlotação, piores veículos e redução da dis-
ponibilidade do transporte em territórios negros; (v) ampliação da participação da população
negra e feminina na gestão do transporte; (vi) combate à política tarifária pelo seu caráter de
expropriação racial no transporte; (vii) garantia da segurança para a mobilidade das mulheres;
(viii) combate ao racismo ambiental.
• Por fim, destaco a necessidade de restabelecer a operatividade e a força de uma agência de
planejamento e indução do desenvolvimento urbano em nosso estado, papel que outrora foi
desempenhado pela Agência CONDEPE/FIDEM. O compromisso de recompor as possibilidades
de atuação desta autarquia estadual e a disposição para contribuir com a progressiva conso-
lidação de seu raio de ação além da Região Metropolitana do Recife também estão no meu
horizonte de atuação parlamentar estadual.
65
Direito à memória,
verdade e justiça
A inclusão deste tema nesta plataforma de atuação parlamentar se deve primeiramente à cen-
tralidade da questão na minha própria trajetória. Apesar do ano 2022 ter me marcado com
ameaças decorrentes das falsas notícias de que eu teria proposto - como vereadora do Recife
- a substituição de uma imagem do General Castelo Branco por outra de Fidel Castro, conside-
ro importante relembrar que minhas reivindicações de direito à memória, verdade e reparação
vêm de muito antes. Eu sou pessoalmente marcada pelo último período reconhecido como
ditadura militar na história do nosso país. Sou filha adotiva de um ex-preso político que ficou
estéril devido a torturas sofridas no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), um dos
principais órgãos de repressão da Ditadura instalada em 1964 no Brasil. Meu pai foi levado
para o Rio de Janeiro e lá foi torturado inúmeras vezes. Cresci sendo acordada na madrugada
pelos gritos deste pai que tinha pesadelos frequentes e acordava apavorado. Ele morreu em
2016, aos 87 anos de idade, depois de conviver com o horror dessas lembranças da ditadu-
ra durante o restante de sua vida. Além disso, minha primeira formação de nível superior foi
concluída no curso de História. Estes fatos me dão a certeza de que falar de memória é falar
de justiça não apenas em relação ao passado, mas também em relação à expectativa de um
futuro que não repita (nem como farsa) as tragédias que vivemos outrora.
O ano da morte de meu pai foi o mesmo da contestada deposição da primeira e única presi-
denta eleita na história da República Federativa do Brasil. A partir dali, temos notado a emer-
gência de um revisionismo dos abusos praticados pelos ditadores. Naquele fatídico ano de
2016, na votação do impeachment da Presidenta Dilma Roussef, o então medíocre deputado
federal Jair Messias Bolsonaro tomou o microfone e dedicou seu voto à memória de um dos
piores torturadores da nossa história. Aquele gesto está diretamente relacionado com minha
decisão de colocar meu corpo, minhas ideias, minha voz e minha vida à disposição da me-
mória das vítimas do revisionismo histórico. A preservação da memória dos crimes praticados
67
pela Ditadura e a manutenção de iniciativas como a Comissão da Verdade são formas de
defender a democracia, que recentemente foi restaurada no Brasil e desde 2016 voltou a ser
fortemente ameaçada. A gente está vivendo tempos sombrios; aquele medíocre deputado foi
eleito Presidente da República em 2018. Ele, seu vice e muitos de seus seguidores vêm pro-
pagando ódio, desinformação e revisionismo; negando crimes históricos e atentando contra a
memória de vítimas de abusos que não podem ser esquecidos e precisam ser continuamente
combatidos.
Estes problemas não tocam apenas a mim e aos últimos 58 anos de história nacional pós-gol-
pe de 1964, tratam-se de problemas estruturais da sociedade brasileira. Nosso país cresceu
sob o mito da descoberta pelos europeus. Esta suposta descoberta não passou da usurpação
de territórios e riquezas por invasores estrangeiros que se encontravam em posição de supe-
rioridade belicosa e implantaram em nosso território um projeto de exploração que começou
com a extração de riquezas naturais e prosseguiu com o latifúndio agrícola sustentado pela
escandalosa escravização do povo negro sequestrado em sua terra natal e forçado a migrar
para um Novo Mundo onde foi obrigado a trabalhar e viver em condições desumanas. Na
sequência, sucederam-se diferentes projetos nacionais e locais de exploração da maioria do
povo por uma pequena elite que vem logrando êxito em inverter os sentidos da verdade e
tratar amplos segmentos da sociedade como se fossem minorias.
Por tudo isso, o direito à memória, à verdade e à reparação é um dos temas centrais de minha
plataforma de atuação no Poder Legislativo de Pernambuco. Precisamos recontar a história
do nosso lugar, defender as memórias daqueles que nos precederam nas lutas por um mundo
melhor e garantir que os horrores de nosso passado não se repitam no presente nem no fu-
turo. Diante de um governo federal que fere sistematicamente a verdade, que não abriu nem
um único campus de universidade pública, que contingenciou 92% do orçamento de ciência
e tecnologia do país, sinto-me no dever ético de continuar trabalhando para deter a reprodu-
ção de mentiras, a superficialização e a negação dos saberes históricos. Farei isso em todos os
lugares que eu vier a ocupar.
Sem antecipar as propostas que apresentarei adiante, digo ainda que temos muitos desafios
a enfrentar especificamente em Pernambuco. Precisamos resgatar a memória de importantes
lideranças invisibilizadas ao longo de nossa história, pesquisar e conhecer mais suas trajetórias
e conquistas, bem como ensinar a nosso povo um pouco mais sobre tudo o que pode contri-
buir para manter equilibrada a balança da justiça. Precisamos difundir os resultados dos tra-
balhos da Comissão Estadual de Memória e Verdade Dom Hélder Câmara, precisamos inclusive
restaurá-la e ampliar seu espectro de investigação e ação, mas também precisamos ir além do
que alguns estudiosos denominam de “comissionismo”, gerar mais conhecimento e difundir
as conquistas de uma boa parte das lideranças de origem popular, muitas das quais negras,
que em diferentes momentos da história pernambucana resistiram e alcançaram sucesso na
manutenção de importantes valores políticos e culturais de nosso Estado. Além dos esforços
em direção ao passado, precisamos restabelecer formas de reparação de abusos; ainda deve-
mos grandes reparações tanto do ponto de vista material quanto simbólico, principalmente ao
povo negro e às mulheres que por muito tempo foram ofuscadas na história pernambucana,
apesar de terem nos deixado grandes legados nas mais diversas áreas.
68
Por fim, relembro que os últimos anos vêm confirmando que a democracia brasileira ainda é
frágil, seu restabelecimento é muito recente entre nós e, frente a isso, a atuação parlamentar
a que me proponho terá um forte compromisso de defesa do direito à memória, à verdade e
à reparação histórica. Para isso, o conjunto de proposições abaixo será um guia inicial de nos-
sa atuação na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Estruturadas em três segmentos, estas
proposições versam primeiramente sobre o que esperamos poder realizar a partir do próprio
Poder Legislativo, mas também se dirige a articulações que intencionamos desenvolver sobre
o tema junto à sociedade civil, cooperação internacional e Poderes Executivos.
Em âmbito Legislativo
• Fiscalizar e zelar pelo cumprimento da Lei Estadual 16.629/2019, que “veda à Administra-
ção Pública do Estado de Pernambuco realizar qualquer tipo de homenagem ou exaltação ao
Golpe Militar de 1964 e ao período da ditadura, bem como a atos ou fatos caracterizados por
preconceito ou discriminação racial”;
• Identificar as homenagens e referências já usuais em Pernambuco a violadores de direitos,
discutir com os órgãos de patrimônio histórico as possibilidades de alteração de eventuais
denominações oficiais que reverenciem personalidades e/ou fatos que atentem contra valores
democráticos;
• Homenagear lugares, fatos e personalidades destacáveis para a preservação da memória e
difusão de novos conhecimentos sobre a história pernambucana em favor da justiça social e
da democracia;
• Manter iniciativa contínua de identificação de fatos, lugares, pessoas, movimentos sociais e
instituições que constituem memórias de resistência em favor da justiça social e da democra-
cia em nosso território;
• Desenvolver roteiros de visitação, organizar visitas guiadas, publicar guias e realizar diferen-
tes site-ins em locais de memória de Pernambuco;
• Elaborar proposta de regulamento e envidar esforços para que a Assembleia Legislativa de
Pernambuco realize periodicamente concurso estadual de estudos sobre o tema do direito à
memória e reparação;
• Envidar esforços para concretização das recomendações da Comissão Nacional da Verdade
no território de Pernambuco;
• Contribuir para a difusão dos resultados de trabalho da Comissão Estadual da Memória e da
Verdade Dom Helder Câmara;
69
Em articulação internacional e com a sociedade civil
• Impulsionar o debate com representações consulares e embaixadas de outros países que
avançaram nas políticas de reparação, visando difundir tais iniciativas no contexto local e ins-
pirar agentes nacionais a reproduzir iniciativas exitosas sobre o tema;
• Contribuir para a realização de intervenções em parceria com movimentos sociais, sindicatos
e coletivos diversos nos locais, datas e instituições importantes para a memória de defensores
dos direitos e da democracia no país;
• Difundir as dezenas de milhares de fontes documentais, bem como os relatórios e publica-
ções da Comissão Estadual de Memória e Verdade Dom Hélder Câmara;
• Produzir audiovisuais de curta duração sobre o tema;
• Estimular a ação artística e cultural em relação ao tema;
• Envidar esforços para a ampliação de ações em relação a este tema que incorporem novos
recursos tecnológicos e linguagem adequada ao público juvenil para difundir conhecimentos
sobre marcos factuais, pessoas, movimentos e instituições importantes para a defesa de direi-
tos populares e democráticos em Pernambuco, um exemplo exitoso neste sentido é o perfil
“Eva Stories” que, em uma rede social digital, disponibiliza vídeos baseados nos diários de Eva
Heyman, morta em outubro de 1944 no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, tal
iniciativa atinge mais de um milhão de pessoas, majoritariamente jovens;
• Envidar esforços para ampliar diálogos com as mais diversas instituições sociais e com orga-
nismos de cooperação internacional no sentido de pesquisar e difundir conhecimentos sobre
memórias de resistência em favor da justiça social e da democracia em nosso território;
• Difundir e estimular iniciativas educacionais de preservação da memória e salvaguarda de
acervos, a exemplo dos exitosos projetos “Adote uma memória” e “Adote um acervo”;
70
• Desenvolver portal educativo digital, que disponibilize recursos didáticos úteis para a discus-
são desse tema em escolas de ensino básico e igualmente potentes para a formação continu-
ada de professores;
• Difundir as dezenas de milhares de fontes documentais, bem como os relatórios e publica-
ções da Comissão Estadual da Memória e da Verdade Dom Hélder Câmara;
• Estimular a ação artística e cultural em relação ao tema;
• Subsidiar Poderes Executivos para iniciativas de preservação da memória, promoção da ver-
dade e reparação histórica.
71
72
Segurança pública
e direitos humanos
Vou começar esse tema sem fazer discursos técnicos sobre segurança, direito ou história, mas
relembrando minha atuação no Legislativo da capital pernambucana, onde recentemente foi
retomada uma discussão antiga sobre o fato da Guarda Municipal do Recife ser uma das pou-
cas que não regulamentou a possibilidade de uso de armas de fogo por parte de seus ope-
radores. A Câmara instalou neste ano de 2022 uma Frente Parlamentar para discutir o porte
de arma por agentes da Guarda Civil Municipal. Eu me integrei a esta Frente porque eu sou
contrária às armas de fogo pelo simples fato de que elas não podem gerar comida, afeto e
força para ninguém. Até onde eu sei armas de fogo só podem fazer duas coisas: ferir e matar!
E, ainda mais grave, quem mais morre por ferimentos decorrentes de disparos com armas de
fogo são as pessoas mais vulnerabilizadas em nosso país, as pessoas pobres, pretas e perifé-
ricas. Porém, eu não vivo num mundo de fantasias e sei que há conflitos extremos nos quais o
uso das armas de fogo tem algum fundamento.
A decisão sobre a adequação do emprego destas armas é objeto de muitas controvérsias e
há órgãos que se dedicam especificamente ao estudo destes casos; o que sabemos é que já
existem muitos casos de abuso constatados. Em Estados democráticos de direito, o uso da
força pelas forças policiais tem previsão legal e está condicionado a princípios técnicos e nor-
mativos, nacionais e internacionais. Os principais documentos internacionais que normatizam
o uso da força são: o Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação
da Lei (ONU, 1979), os Princípios Orientadores para a Aplicação efetiva do Código de Conduta
para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (ONU, 1989) e os Princípios Básicos
sobre Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei
(ONU, 1990). No Brasil, a Portaria Interministerial nº 4.226/2010 estabelece diretrizes para o
uso da força pelas polícias, dentre as quais a de que os agentes devem obedecer aos princí-
73
pios da legalidade, necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência no exercício
da atividade policial.
Assim, não é por acaso que reunimos neste documento os temas da segurança pública e dos
direitos humanos. Precisamos conjugar cada vez mais esses princípios, a segurança precisa
ser um direito e não uma ameaça para quem mais precisa das políticas públicas em nosso
estado e em nosso país. Uma segurança pública que respeite e promova o ordenamento legal
é o que defendo fundamentalmente em relação a este tema. Sei muito bem que é um desafio
na realidade brasileira falar de segurança pública como uma ferramenta para a garantia dos
direitos humanos, mas é justamente por causa dos desafios que estou na política. Sentir-se
em segurança é um direito de todas as pessoas e territórios, nosso estado ainda está longe de
garantir este direito, principalmente para as mulheres, os povos indígenas e a população negra
e periférica. Além disso, estamos passando por um momento nacional de flexibilização das
regras relativas às armas de fogo e isto se soma ao aumento de violência policial nos grandes
centros urbanos brasileiros para tornar o problema da segurança cada vez mais urgente.
Entre os anos de 2019 e 2020, segundo uma pesquisa da Rede de Observatórios da Segu-
rança, cresceu 53% o número de mortes causadas pelas polícias em nosso estado. A pesquisa
ainda apontou que em 2020, das 113 mortes causadas por operadores de polícia, 109 foram
de pessoas negras, ou seja, 97% das mortes causadas pela polícia no estado são contra pes-
soas negras. Isso me dá condições de afirmar que existe uma política sistêmica do estado em
relação às pessoas negras. Na Região Metropolitana do Recife, também em 2020, todas as
mortes causadas pela polícia foram de pessoas negras. A política de segurança para pessoas
negras em nosso estado é, portanto, uma política de morte. O fator racial é decisivo para indi-
car os riscos de ser letalmente ferido pelo Estado em Pernambuco. Por isso, é urgente falar de
direitos humanos no contexto da segurança pública pernambucana, que nos últimos anos tem
se mostrado protagonista nas violações de direitos contra a população negra.
O sistema prisional de Pernambuco tem a maior superlotação do país, segundo pesquisa de
2019 realizada pelo Monitor da Violência. A quantidade de presos era naquele ano 178,6%
maior que a capacidade das prisões do estado. Isto se deve à lógica falida de punitivismo e
encarceramento em massa, repetindo-se como uma clássica fórmula de enxugamento de gelo.
O estado não regula a origem dos problemas que causam criminalidade, não assegura renda
básica nem consegue garantir direitos básicos e tenta coibir a criminalidade prendendo o povo
pernambucano e não o preparando para ampliar suas condições de sobrevivência e contribui-
ção com o próprio desenvolvimento de nosso território.
Como se sabe, há muitos anos, a violência letal na Região Metropolitana do Recife é assusta-
dora. Esta forma extrema de violência voltou a crescer na Região após a derrocada do Pacto
pela Vida. Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado Brasil, somente no primeiro semestre
de 2022 tivemos 109 pessoas assassinadas no interior de suas residências ou em frente às
suas próprias casas. Na Mata Sul do estado, estamos vendo uma escalada de violência em
cidades como Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, que registram homicídios diários, inclusive
de crianças e adolescentes, o mesmo se repete no Agreste pernambucano. Para piorar a situ-
ação, a última edição do “Atlas da Vilência” (2021), realizado pelo Instituto de Pesquisa Eco-
nômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), apontou que a
74
violência nas áreas rurais voltou a crescer em todo o país, inclusive em Pernambuco. A cultura
armamentista que estamos vivendo atualmente contribui muito com esses fatos com a menor
restrição de acesso às armas de fogo e munições. Não podemos aceitar que a violência conti-
nue crescendo em nosso estado nem que seja normalizada em nenhum contexto. Por isso, o
nosso programa entende que a segurança pública é uma discussão central. Não iremos fugir
desse tema, apesar de reconhecer os importantes desafios que ele carrega. Estou disposta a
continuar enfrentando as respostas prontas e buscando promover debates qualificados, como
tenho feito na Câmara Municipal do Recife, onde sou a única vereadora contrária ao uso de
armas de fogo por guardas municipais que integra a Frente Parlamentar a que fiz referência
no início deste texto.
Não vou fugir desse debate porque ele é fundamental para assegurar a vida das pessoas em
Pernambuco. Precisamos ampliar, aprofundar e conferir uma maior qualidade a este debate,
ouvindo-nos respeitosamente e nos abrindo para uma leitura mais aprimorada das evidências
científicas sobre o tema. Não quero combater violência apenas com flor, mas não vou deixar de
usar minhas flores na tentativa de promover segurança pública. Neste campo, é urgente que o
Poder Executivo reforce sua previsão constitucional de comando das forças de segurança, bem
como é fundamental que a ação de inteligência policial suplante as medidas ostensivas de po-
liciamento para coibir a ação de fontes causadoras de violência e não apenas a manifestação
de alguns de seus sintomas. Esta ação inteligente de comando precisa ampliar a integração
e complementaridade das diferentes forças policiais do estado (Polícias Civil, Penal e Militar)
com os operadores de segurança pública dos municípios e do Governo Federal que atuam no
território pernambucano. Além disso, a segurança pública precisa ampliar sua interação com
as demais políticas, instituições e iniciativas garantidoras de direitos.
Isso tudo é urgente porque todos nós desejamos e merecemos viver numa sociedade mais
segura que considere também as necessidades das periferias, do campo, das aldeias, dos
quilombos e áreas mais pobres desse estado. Como muitos movimentos sociais vêm fazendo,
eu também me pergunto: “Para quem tem sido priorizada a segurança pública em Pernam-
buco?”. Para que esta prioridade não seja de poucas classes sociais, é fundamental entender
que os direitos humanos, como fator indissociável para a transformação da nossa realidade,
devem estar na base da construção de um novo modelo de segurança pública inteligente e
integrada, respeitadora e promotora de direitos. Tudo isso se faz escutando atentamente tam-
bém as vítimas da violência policial e racial, dando protagonismo a quem sofre os problemas
que precisamos resolver, as prisões injustas, as violações, as execuções sumárias de seus entes
queridos, o desemprego, a fome e a falta de renda. Antes de entrar propriamente nas propos-
tas, quero ainda reafirmar que “Não existe salvação para a segurança pública no estado sem a
construção de um Pernambuco mais seguro para o povo preto, pobre e periférico”.
Diante de tudo isso, propomos:
• Incidir pelo fortalecimento das corregedorias e ouvidorias dos órgãos de segurança pública
no estado;
• Defender maior integração das forças de segurança pública atuantes em Pernambuco, tanto
as geridas pelo Governo Estadual quanto as de ordem federal e municipal;
75
• Incidir pelo fortalecimento dos serviços policiais de inteligência e investigação;
• Incentivar a criação de mecanismos que observem e acompanhem os casos de violência letal
em Pernambuco, construindo uma plataforma de dados atualizada e transparente;
• Defender a criação de uma política de reparação para as famílias das vítimas de violência
letal por parte de operadores de segurança pública do estado de Pernambuco;
• Promover e ampliar discussões sobre a desmilitarização da polícia e a necessidade de um
novo modelo de serviço policial comunitário e antirracista;
• Promover e ampliar discussões sobre uma política de drogas que não seja pautada pela re-
pressão aos usuários;
• Incidir pela criação de mecanismos que previnam e enfrentem a violência contra a mulher, o
feminicídio e o transfeminicídio, bem como acolham as vítimas;
• Retirar o incentivo punitivista que está regulamentado nas leis estaduais 16170/2017 e
16171/2017, que induz operadores de polícia a não investigar crimes graves, mas sim perseguir
metas que encarceram pessoas vulneráveis;
• Legislar pela proibição do uso da tecnologia de reconhecimento facial na segurança pública
em âmbito estadual;
• Incidir para autorização de acesso às imagens das câmeras que estão sob responsabilidade
do estado, baseado no direito à privacidade e na Lei Geral de Proteção de Dados;
• Promover e ampliar discussões sobre a questão racial nas formações dos agentes da segu-
rança pública do estado;
• Proibir qualquer tipo de propagandas e incentivos ao armamento e clubes de tiro;
• Lutar pela criação de um observatório estadual sobre casos de racismo;
• Incentivar políticas públicas para reduzir a população prisional e as violências produzidas em
unidades prisionais;
• Lutar por mais investimento em políticas sociais de prevenção de delitos, tais como políticas
de educação, saúde, trabalho e renda, moradia e lazer para jovens das periferias que se en-
contram em situação de vulnerabilidade social, com o devido recorte de gênero, raça e etnia;
• Difundir penas alternativas;
• Fortalecer as Defensorias Públicas Estaduais, que devem ter autonomia financeira com recur-
sos semelhantes aos do Ministério Público;
• Fiscalizar a efetivação da doutrina da proteção integral no sistema socioeducativo para ga-
rantir o direito ao futuro dos jovens em conflito com a lei;
• Defender a manutenção da maioridade penal aos 18 anos;
• Fiscalizar a garantia dos direitos humanos da população prisional, com especificidades para
as mulheres e para a população LGBTQIA+;
76
• Fiscalizar a superlotação prisional, buscando incidir pela correção deste grave problema;
• Propor legislação que institua mecanismos de participação popular e fortalecimento dos ór-
gãos e conselhos de controle social sobre o sistema prisional;
• Legislar pela vedação das privatizações de unidades prisionais e de parcerias público-priva-
das de “gestão compartilhada” de penitenciárias;
• Fortalecer os Mecanismos Estaduais de Prevenção e Combate à Tortura;
• Fortalecer as políticas de reinserção e apoio a egressos e egressas do sistema penitenciário;
• Aprimorar o controle externo das atividades policiais;
• Ampliar a participação da sociedade civil nos Conselhos de Segurança Pública, na formação
de operadores de polícias, sobretudo militares;
• Defender políticas de redução da letalidade policial;
• Incidir pela capacitação e treinamento contínuos de operadores de polícias, especialmente
na área dos direitos humanos;
• Defender a adoção de protocolos padronizados e transparentes para operações policiais;
• Incentivar uma política pública integrada de apoio psicológico às vítimas da violência de
Estado, por meio da criação de programas sociais e clínicas multidisciplinares de reparação
psicossocial;
• Incidir pela elaboração participativa e defender a adoção de um novo plano estadual de re-
dução de homicídios, com os seguintes eixos: redução da taxa de homicídios e da letalidade
policial; redução da vitimização de policiais; aumento do esclarecimento de crimes contra a
vida; adoção de políticas públicas afirmativas em áreas com altas taxas de violência juvenil;
prevenção da violência doméstica e de gênero; adoção de câmeras nos uniformes das polícias
com controle democrático e transparência;
• Incidir pelo estabelecimento de metas e pela eliminação efetiva dos chamados “autos de
resistência”;
• Cobrar a comunicação imediata da ocorrência de crime aos órgãos periciais;
• Incidir pelo desenvolvimento de um protocolo de padronização dos dados e informações
gerais sobre a segurança pública, com o objetivo de uniformizar os procedimentos de coleta
e a forma de tratamento de dados relativos ao tema, os quais servirão de subsídios para a
formulação de políticas direcionadas à segurança pública;
• Defender o aprimoramento do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Pri-
sional e sobre Drogas (SINESP);
• Defender a ampliação dos processos de investigação autônoma pelo Ministério Público sobre
mortes perpetradas por agentes de estado, com priorização de casos envolvendo crianças e
adolescentes;
77
• Defender a adoção de políticas de controle rígido e fiscalização sobre armas e munições uti-
lizadas pelas forças policiais;
• Estimular mecanismos de diálogo entre as comunidades jovens e as polícias, de modo a
aproximar linguagens, reduzir confrontos e construir esferas de pactuação de procedimentos;
• Fomentar campanhas de desarmamento voluntário da população;
• Ampliar o controle sobre armas e munições, aprimorando e fortalecendo os dispositivos pre-
vistos no Estatuto do Desarmamento.
78
79
Economia, trabalho e renda
Como professora de história que eu sou, resolvi começar este tópico lembrando que o passado
colonial das Américas fez com que o atual território de Pernambuco fosse a primeira região
economicamente destacável no contexto capitalista posterior às grandes navegações que pos-
sibilitaram a exploração do nosso espaço por povos estrangeiros. Essa história deu origem ao
primeiro ciclo econômico nacional, que se caracterizou como uma economia baseada no culti-
vo, beneficiamento e comércio de um único produto: a cana-de-açúcar. Até a década de 1940,
Pernambuco manteve o perfil social, econômico e político herdado do período colonial. Na
Zona da Mata e no litoral, predominavam a monocultura canavieira tradicional e as atividades
mercantis; no agreste e nos sertões, a agropecuária de subsistência. O Estado tinha o maior
PIB da Região e não era mais a grande potência econômica nacional, mas ainda se apresenta-
va como a principal economia do Nordeste. Ao longo do século XX, a exploração de cana em
outros territórios, a substituição desta matéria-prima na produção de açúcar em várias partes
do mundo e a crescente produtividade canavieira de outras regiões se somaram à má gestão
de um empreendimento que cresceu baseado na exploração escravagista do trabalho e não
se adaptou plenamente à progressão de novos modos de produção. Assim, o ápice da econo-
mia pernambucana entrou em decadência e contribuiu para a criação de uma Superintendên-
cia Nacional de Desenvolvimento do Nordeste, a Sudene, que entre os anos de 1960 e 1978
- por exemplo - fez do Estado o principal destinatário de seus vultosos recursos que buscavam
romper o ciclo de decadência em que o Nordeste açucareiro mergulhara na primeira metade
do século XX. Apesar dos importantes investimentos da Sudene e do pioneirismo industrial de
Pernambuco, a posição relativa do Estado no cenário econômico regional e nacional continuou
a se deteriorar. Em 1970, participávamos com 24,6% do PIB do Nordeste e 2,9% do brasilei-
ro; em 2001 essa participação caiu para 19,8% e 2,6%, respectivamente. Diversos autores, a
exemplo de Vasconcelos e Vergolino (1999, p. 44), constataram que a economia do Estado,
em média, crescia menos que a do Nordeste, que, por sua vez, crescia menos que a economia
nacional.
80
A partir do final do século passado, este cenário de decadência levou ao que muitos analis-
tas têm denominado de “guerra fiscal”. Isso significa basicamente que estados e municípios
passaram a competir entre si para instalar bases de empresas produtivas em seus territórios.
Para se tornarem mais atrativos a novos empreendimentos, diversos entes da administração
pública renunciaram a parte dos tributos que incidem sobre a atividade produtiva. O principal
tributo alvejado por esta guerra foi o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Ser-
viços). Este tipo de isenção gera perda de arrecadação que, em geral, desencadeia um maior
peso da carga tributária para a população em geral e, na prática, não representa grande au-
mento da força produtiva nacional, mas apenas deslocamentos de uma região para outra(s)
onde empresários podem pagar menos impostos. Apesar da guerra fiscal, entre 1985 e 1990,
o crescimento estadual se retraiu para 2,5% a.a.; e, em seguida, na década de 1990, para
0,71% a.a. Por isso, temos convicção de que eventuais programas de isenções fiscais devem
ser conduzidos com moderação e visando também à redução de desigualdades e estímulo de
atividades estratégicas, conforme analisaram Sarabia e Mora (2021). Uma efetiva mudança da
degradação econômica só começa a ser observada a partir dos anos 2000, devido a uma con-
figuração econômica que vai muito além de Pernambuco e se beneficia também da expansão
do mercado interno e da renda nacional que marcaram os governos Lula em âmbito nacional.
No período de 2004 a 2014, o crescimento médio anual foi de 3,8%, apesar da crise mundial
de 2008/2009. Após esta década de crescimento sustentado, têm se sucedido curtos perío-
dos de crises e discretas retomadas que não caracterizam uma nova tendência de médio ou
longo prazo na macroeconomia estadual.
O mais grave de toda essa história da economia pernambucana é que, mesmo quando cres-
cemos, crescemos mal, concentramos riquezas que se tornam cada vez ainda mais concentra-
das, desrespeitamos o ambiente natural e não conseguimos transpor plenamente a passagem
do modo industrial ao modo digital de produção. Isto faz com que cheguemos aos anos de
2020 com vários municípios pernambucanos com mais da metade da população em situa-
ção de pobreza, conforme dados de Brito (2022). Este empobrecimento da população aliado
ao grande encarecimento de produtos que compõem a cesta básica, fazem com que nosso
estado (e todo o Brasil) volte ao mapa da fome. O custo da cesta básica é definido por uma
pesquisa feita mensalmente pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos), os itens dessa cesta foram definidos pelo Decreto Lei nº 399 (de 1938) que
regulamentou o salário mínimo no Brasil e ainda está vigente. Composta por 13 produtos ali-
mentícios em quantidades suficientes para garantir, durante um mês, o sustento e bem-estar
de uma pessoa em idade adulta, a cesta básica tem bens e quantidades diferenciadas por
região, de acordo com os hábitos alimentares locais. No caso de Recife, que não é muito dife-
rente dos demais municípios brasileiros, a cesta básica praticamente dobrou de preço entre
2019 e 2022, passando de R$ 335,21 em janeiro de 2019 para R$ 612,34 em maio de 2022;
enquanto, por outro lado, o salário mínimo aumentou pouco mais de 20%, passando de R$
998,00 para R$ 1212,00 no mesmo período.
Dito isto, quero ressaltar o que realmente importa em termos de economia: gerar condições
adequadas para o bem viver, garantir trabalho digno e renda básica para a cidadania do povo
pernambucano. Estas são minhas prioridades na atuação parlamentar neste campo; não me
interessa o crescimento econômico por si só, pois ele pode gerar ainda mais pobreza quando
81
vem acompanhado da ampliação das desigualdades e do reforço da concentração de renda.
No contexto de redução de desigualdades que é um eixo de minha atuação, eu pretendo con-
tribuir para minorar a injusta desigualdade entre as pessoas e entre as regiões e municípios do
nosso Estado. Isto se faz primeiramente com a garantia de renda básica para todos e todas,
mas também com inteligência, planejamento, ousadia e disposição para correr riscos advindos
da experimentação de novidades e não da restauração de uma improdutiva guerra ou de uma
inocente esperança de que o cenário nacional e mundial melhore para que o nosso Estado
também possa melhorar.
Além de garantir renda básica para a cidadania do povo pernambucano, a outra priorida-
de que definimos como base para minha atuação na Assembleia Legislativa no que tange à
economia é inovar com responsabilidade fiscal e justiça social. Para tanto, é preciso deter o
avanço neoliberal que compete para a redução das competências e possibilidades de atuação
do Estado, barrar privatizações e reestruturar organismos públicos de pesquisa, planejamento
e inovação científica e econômica; isto pode contribuir para nos reinserir no cenário de avan-
ço econômico e estabelecer bases mais sólidas para o que os estudiosos contemporâneos
têm denominado de industrialização 4.0, que tanto incorpora e desenvolve novas tecnologias
quanto integra pessoas e espaços, distribui riquezas, supera preconceitos e gera desenvolvi-
mento justo e sustentável.
Pelo exposto, destaco adiante as principais propostas que constituem meus compromissos de
atuação como deputada estadual de Pernambuco em relação a este tema:
• Desenvolver mais estudos que comprovem a viabilidade econômica do projeto de renda bá-
sica de cidadania em âmbito estadual;
• Legislar para a garantia da renda básica de cidadania em âmbito estadual;
• Legislar visando à estabilização dos preços dos produtos que compõem a cesta básica no
Estado;
• Apoiar a implantação e fortalecimento de Restaurantes Populares;
• Fortalecer as organizações solidárias que desenvolvem e implementam cozinhas comunitá-
rias e restaurantes populares;
• Difundir princípios de economia solidária e cooperativismo;
• Mapear iniciativas exitosas de economia solidária e cooperativismo, difundi-las e envidar es-
forços para apoiá-las;
• Fiscalizar a implementação do disposto na Lei Estadual 12.823/2005, que institui a Política
Estadual de Fomento à Economia Popular Solidária no Estado de Pernambuco, bem como
zelar pela implementação em nosso estado dos demais dispositivos legais de estímulo à eco-
nomia solidária;
• Fiscalizar a implementação do disposto na Lei Estadual 15.688/2015, que institui a política
de apoio e incentivo ao cooperativismo em Pernambuco, bem como zelar pela implementação
em nosso estado dos demais dispositivos legais de estímulo ao cooperativismo;
82
• Defender a priorização de micro, pequenos e médios produtores nas políticas econômicas
do Estado;
• Desenvolver estudos sobre a concentração fundiária no Estado;
• Desenvolver estudos sobre a prática de trabalhos em condições análogas à escravidão no
território estadual;
• Legislar sobre a regulamentação de novas atividades laborais;
• Legislar sobre a regulamentação de novas atividades produtivas no âmbito da agricultura, do
comércio, da indústria de transformação e dos serviços;
• Incentivar atividades produtivas que se enquadrem no âmbito da economia criativa, o que
inclui também as atividades artístico-culturais;
• Incentivar atividades produtivas que se enquadrem no âmbito da economia digital;
• Incentivar artesanato;
• Investigar os principais programas de incentivos fiscais implementados no âmbito estadual,
buscando identificar em que medida eles contribuíram para ampliar a atividade produtiva;
• Defender a implementação de programas de incentivo fiscal que contribuam para descentra-
lizar a produção para as diversas regiões de Pernambuco, por meio de alíquotas diferenciadas
que aumentem os subsídios em relação diretamente proporcional à distância das Regiões
Metropolitanas, que são mais economicamente potentes;
• Defender a implementação de programas de incentivo fiscal que contribuam para a amplia-
ção de atividades econômicas consideradas estratégicas para o desenvolvimento do Estado,
notadamente no âmbito da economia criativa, solidária e/ou cooperativista, bem como da
economia digital e do artesanato, atingindo prioritariamente micro, pequenos e médios pro-
dutores;
• Propor e defender a implementação de programas de incentivo ao trabalho digno de po-
pulações tradicionais, a exemplo das comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas, maris-
queiras e pescadoras;
83
• Atuar no parlamento estadual em articulação com lideranças das diversas regiões do Estado
com vistas à ampliação do número de municípios que representam polos empresariais per-
nambucanos, atualmente limitado a 26 municípios bastante concentrados em torno da capital
estadual, como se pode observar na figura a seguir
1 Bibliografia citada
BRITO, José. População pobre em municípios pernambucanos em 2022. Recife: UFPE, Departamento de Serviço Social, 2022.
SARABIA, Mônica Luize; MORA, Luis de la. Faces do desenvolvimento econômico em Pernambuco - Brasil. Desenvolvimento em Questão, Ano 19, n. 55, abr./jun. 2021. p. 93-114
VASCONCELOS, José Romeu de; VERGOLINO, José Raimundo. Pernambuco: Economia, Finanças Públicas e Investimentos nos Anos de 1985 a 1996. Brasília: Ipea, 1999. [TEXTO PARA
DISCUSSÃO 628]
84
85
Agroecologia, soberania
alimentar e meio ambiente
Este tópico é, de vários modos, um desdobramento do anterior, pois a diretriz de garantir ren-
da básica de cidadania fundamenta minha atuação no que tange às políticas econômicas e,
logo em seguida, coloco medidas de agroecologia, soberania alimentar e preservação do meio
ambiente como baliza de minhas proposições econômicas, pois entendo que a economia deve
servir a todas as pessoas e contribuir para o desenvolvimento da vida na Terra. Por isso, eu
quero me somar na afirmação de que o estado que a gente quer é aquele em que se possa
falar em justiça socioambiental e isso passa por muitos passos rumo a uma nova sociedade.
Neste tema, o debate sobre agroecologia, sustentabilidade e formas de economia que sejam
mais horizontais, justas e democráticas, que enfrentem o capitalismo, o racismo, o patriarcado
e outras estruturas de opressão é o nosso horizonte desejado.
Não podemos aceitar que no Brasil atual mais de 120 milhões de pessoas vivam em inse-
gurança alimentar e 33 milhões passem fome1. Este número é mais de três vezes superior à
população total de Pernambuco; ele indica que há muita gente entre nós sem ter o que co-
mer. Isso representa o aprofundamento das desigualdades como princípio de governo e está
acontecendo desde a chegada de Michel Temer à Presidência da República, mas se aprofun-
dou com Bolsonaro e o bolsonarismo nas instâncias de poder. Esse cenário é agravado com o
desemprego em massa. Pernambuco, junto com a Bahia, tem as piores taxas de desemprego
do país e isso atinge, principalmente, as mulheres, a população negra e jovem2. Esse cenário é
fruto do descaso e desmonte das políticas públicas que lidam diretamente com a segurança
e soberania alimentar. Tal desmonte não se limita ao nível federal, mas também se passa em
nosso estado. Está em curso uma política que valoriza o agronegócio em detrimento das pe-
quenas agricultoras e dos pequenos agricultores. Por isso, denunciamos o desmonte de várias
1 https://www.poder360.com.br/brasil/mais-de-33-milhoes-de-brasileiros-passam-fome-diz-pesquisa/
2 https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/08/12/desemprego-cai-em-22-estados-no-2o-trimestre.ghtml
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políticas e programas (como o ProRural e o Projeto Pernambuco Mais Produtivo, dentre ou-
tros), atualmente faltam em Pernambuco acesso a crédito, assistência técnica e extensão rural
para pequenos produtores. O Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) tem cada vez menos
estrutura e condições adequadas para exercer seu trabalho. Como estratégia de enfrentamen-
to a esse cenário, está a garantia do acesso às sementes crioulas/nativas, que asseguram a
soberania alimentar e a saúde.
Ligada à fome, está a problemática do acesso à terra e à água. Precisamos urgentemente
enfrentar o problema da falta d’água no campo e na cidade e, nesse contexto, defendemos
políticas mais efetivas de produção e acesso à água, além de conservação de nascentes. É
uma questão que atinge de forma desigual a população e afeta, sobretudo, as áreas e pessoas
mais pobres e periféricas. Também precisamos fazer do acesso de tecnologias de acesso à
água das chuvas, do reuso de águas cinzas, entre outras, para o campo e a cidade. Neste sen-
tido, é fundamental a defesa de programas de construção de cisternas como parte da justiça
socioambiental, como o Programa Cisternas, desenvolvido pelo Governo Federal, sobretudo,
durante as gestões petistas.
Quando falamos em enfrentar essas desigualdades, sobretudo, a fome, consideramos funda-
mental debater sobre agricultura familiar e agroecologia, seja em espaços rurais ou urbanos
como estratégia fundamental de garantia dos direitos humanos, pois são os responsáveis por
levar a comida saudável para a mesa do povo. Compreendemos que, sem agroecologia, não
podemos pensar numa cidade, no estado ou no país que seja soberano, plural, justo e inclu-
sivo para todas as pessoas. Precisamos urgentemente de políticas eficazes de proteção das
nossas florestas, de redução dos agrotóxicos, de limpeza dos nossos manguezais, dos rios, das
nascentes e precisamos também de políticas que atuem de modo eficaz no combate às mu-
danças climáticas. Não é aceitável que a gente viva num país em que 1% dos proprietários de
terra controle quase 50% da área rural, o que mostra o absurdo da concentração fundiária e
a urgência de uma reforma agrária popular para enfrentar as desigualdades que vivenciamos
atualmente.
Também denunciamos o racismo ambiental, que coloca a população mais pobre para as áre-
as de encostas, de morros, ribeirinhas e palafitas onde se vive momentos de terror durante a
época de chuvas, como a que vivenciamos no nosso estado recentemente, que matou mais
de 130 pessoas em Pernambuco e deixou mais de 25 mil desabrigadas no Nordeste em maio
e junho deste ano de 2022. O que tem acontecido é fruto das mudanças climáticas causa-
das pelos seres humanos, que intensificaram em 20% as chuvas nesta região, segundo pes-
quisadores3. Além disso, não podemos deixar de destacar que as mudanças climáticas são
causadas, sobretudo, pelo sistema capitalista, pelo agronegócio fortalecido pelas gestões go-
vernamentais e pela falta de educação ambiental É importante ressaltar que essas mudanças
climáticas também impactam diretamente na produção agrícola e nos sistemas alimentares.
Entendemos que não existe uma dicotomia entre campo e cidade e que, nos territórios ur-
banos, não só é possível existirem políticas agrícolas, como acontecem cotidianamente. Há
uma significativa diversidade de produção agrícola no interior das cidades, que acaba sendo
invisibilizada, desvalorizada, precarizada, inclusive, pela falta de políticas públicas e incentivo
3 https://marcozero.org/cientistas-calculam-que-mudancas-climaticas-intensificaram-em-20-chuvas-no-nordeste/
87
à produção de alimentos nos próprios territórios em que vivemos. Sabemos da potência dos
quintais produtivos no que tange à promoção da saúde e ao acesso à comida de qualidade;
muitos destes quintais são protagonizados por mulheres, especialmente, as negras e peri-
féricas, com seus saberes e experiências. Defendemos o fortalecimento e a visibilidade dos
saberes tradicionais da produção de alimentos, que são passados pela oralidade e relacionam
desde as plantas ornamentais às medicinais com a produção de alimentos e medicamentos
naturais que permitem afirmar que muitas mulheres cultivam verdadeiras “farmácias vivas”
nos seus terreiros. O cultivo de plantas medicinais, hortaliças e frutas contribui para a produ-
ção de alimentos e produtos fitoterápicos capazes de melhorar a vida em Pernambuco. Preci-
samos fortalecer e multiplicar a experiência das farmácias vivas e dos quintais produtivos. Isso
precisa ir muito além das casas e comunidades em que já estão.
Em nossa perspectiva, é de extrema importância a implementação de políticas voltadas para
a agricultura de base familiar. É fundamental que o planejamento e a construção dessas políti-
cas se dê em conjunto com agricultores e agricultoras, reconhecendo suas vivências e apoian-
do suas iniciativas. Defendemos também que o Governo de Pernambuco busque formas de
apoiar os municípios na execução das políticas voltadas a esse tema. Além disso, defendemos
que políticas de assistência aos pescadores e às pescadoras artesanais, aos assentados e as-
sentadas, às comunidades de reforma agrária, quilombolas, dentre outros. Nesse contexto,
defendemos a titulação e a proteção dos territórios dos povos tradicionais, que são protago-
nistas da preservação do patrimônio histórico e cultural, bem como de bancos de sementes,
que são verdadeiros guardiões da biodiversidade. Trazemos aqui propostas das escutas que
realizamos, da plataforma Direito ao Futuro, do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), do Ma-
nifesto divulgado pela “Barqueata por Direitos e pelo Bem Viver das comunidades tradicionais
pesqueiras do Recife”, bem como da Plataforma do Semiárido Pernambucano.
Pela defesa do direito a viver, a morar, a plantar e a produzir, propomos:
• Fomentar, a partir de financiamento público, a implantação de hortas nas escolas, pomares
e quintais urbanos que priorizem práticas agroecológicas e participação popular através de
financiamento público;
• Fomentar as políticas de compras públicas de alimentos da agricultura de base familiar, com
estímulo especial para produtos de base agroecológica, através de mercados institucionais e
monitorar o cumprimento da Lei Federal 11.947/2009, que, em seu Artigo 14, estabelece que
“Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30%
(trinta por cento) deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da
agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se
os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades
quilombolas”;
• Apoiar a formação e fortalecimento de Redes Solidárias de Restaurantes Populares;
• Legislar pela criação de Banco Estadual de Alimentos;
• Apoiar bancos comunitários de sementes para fortalecimento de redes, formais e informais,
de trocas e compartilhamento de experiências e saberes sobre sementes crioulas, nativas, ri-
88
queza de espécies e variedades;
• Reivindicar o apoio aos circuitos curtos de comercialização, como as feiras agroecológicas,
pequenos mercados, pontos fixos de venda, vendas online como estratégias de fortalecimento
de vínculos entre campo e cidade, bem como, à criação e à implementação de campanhas
educativas de modo a estimular, na sociedade, uma cultura da alimentação saudável;
• Apoiar o incentivo ao cooperativismo como a forma adequada de organização social para a
comercialização;
• Reivindicar que sejam asseguradas as condições para fortalecer a atuação das mulheres na
agricultura, bem como seu acesso ao Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA);
• Incidir junto aos demais poderes públicos visando a fortalecer iniciativas de agricultura urba-
na e acesso a sementes crioulas;
• Apoiar a valorização de conhecimentos e práticas da gastronomia tradicional, em especial,
das mulheres;
• Legislar para criação de fomento à produção das mulheres rurais;
• Apoiar saberes de povos e comunidades tradicionais relacionados ao uso, manejo e conser-
vação do ambiente e da diversidade agrícola, em Pernambuco;
• Apoiar o fortalecimento e a multiplicação da experiência das farmácias vivas e dos quintais
produtivos;
• Defender o reconhecimento e fortalecimento dos Detentores de Conhecimento Tradicional
Associado às plantas;
• Legislar pela defesa do patrimônio biológico, cultural e sagrado de povos tradicionais e de-
mais agricultores familiares;
• Defender a criação de política pública de conservação, multiplicação e resgate de sementes
crioulas, bem como legislar para uma Política Estadual de Incentivo à Formação de Bancos
Comunitários de Sementes e Mudas (de variedades e cultivares locais, tradicionais ou crioulas);
• Incidir em defesa da criação de um memorial de conhecimentos tradicionais de povos indí-
genas, quilombolas, assentados de reforma agrária, pescadores etc;
• Defender a reforma agrária popular, bem como promover a proteção, a regularização fun-
diária e a titulação de todos os territórios dos povos indígenas, quilombolas e comunidades
tradicionais;
• Defender o saneamento para garantir o direito ao abastecimento com água limpa, tratamen-
to dos efluentes com esgotamento e destinação adequada do lixo em todos os territórios
urbanos e rurais;
• Defender a priorização nas peças orçamentárias (LDO, PPA e LOA) de recursos voltados para
o fortalecimento das infraestruturas hídricas de captação, armazenamento e distribuição de
água, priorizando a implantação de tecnologias sociais de convivência com o Semiárido e de-
89
finindo como meta a universalização do acesso à água para o consumo humano e ampliação
das estruturas hídricas de suporte à produção de alimentos, a partir do fortalecimento das
ações de gestão participativa;
• Cobrar à gestão estadual que sejam assegurados recursos para investimentos em tecnolo-
gias sociais para produção de alimentos; energia; reuso de água e saneamento; recuperação
e preservação de mananciais e nascentes, como biodigestores, fogões ecológicos, bioáguas,
acompanhadas de sistemas florestais e quintais produtivos;
• Defender nas peças orçamentárias (PPA, LDO e LOA) a previsão de recursos para fomento à
agroecologia, bem como fiscalizar a execução financeira desta orçamentação;
• Reivindicar assistência técnica e extensão rural específica para mulheres com fundamento na
agroecologia e na economia solidária feminista;
• Elaborar um Projeto de Lei que crie o Dia da Agroecologia como estratégia para ampliar o
debate sobre o tema;
• Fiscalizar o cumprimento da Lei Estadual 17.158/2021, que institui a Política Estadual de
Agroecologia;
• Fiscalizar o cumprimento da Lei Estadual 14.922/2013, que institui a Política Estadual de
Convivência com o Semiárido;
90
• Reivindicar a reestruturação das políticas de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) para
Pernambuco, de modo a garantir seu comprometimento com os princípios da agroecologia,
economia solidária, soberania e segurança alimentar e nutricional;
• Fomentar a implementação da Política Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural para
a Agricultura Familiar de Pernambuco (PEATER-PE);
• Defender o fortalecimento das redes de Assistência Técnica e Rural (ATER) no estado;
• Cobrar da gestão estadual a criação de mecanismos de financiamento para capacitação con-
tínua da Rede ATER;
• Defender a participação dos diversos agentes sociais da Agricultura Familiar nos espaços de
formulação, implementação, avaliação e controle social das políticas públicas para um desen-
volvimento rural sustentável;
• Legislar pela garantia do acesso à terra e permanência com condições dignas no meio rural,
evitando disputas injustas e violências no campo;
• Defender o financiamento de pesquisas e experimentações, tendo as famílias agricultoras
como sujeitos ativos de todo o processo, no âmbito da convivência com o semiárido e da
perspectiva agroecológica;
• Cobrar o devido cumprimento do Decreto Estadual 45.1396/2017, que regulamenta a execu-
ção da Política da Pesca Artesanal no Estado de Pernambuco prevista pela Lei Nº 15.590/2015;
• Reivindicar a produção de dados estatísticos sobre a pesca artesanal no Estado de Pernam-
buco associado à criação do Sistema Estadual de Informação (SEIPA) sobre a Pesca Artesanal;
• Apoiar a revitalização dos rios Capibaribe, Beberibe, Tejipió, Jordão, Jaboatão e demais rios
que desaguam no litoral do estado;
• Fomentar a inserção dos pescados oriundos da pesca artesanal na alimentação das escolas
e instituições públicas de ensino, através da aquisição pelo Governo de Pernambuco.
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