Prescrição e Decadência - Consumidor
Prescrição e Decadência - Consumidor
Prescrição e Decadência - Consumidor
CONSUMIDOR
Gustavo
Santanna
PRESCRIÇÃO E
DECADÊNCIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
INTRODUÇÃO
4
A Codificação de 2002, ao valer-se do princípio da operabilidade, utilizou
da composição de vários entendimentos já consagrados na doutrina e
na jurisprudência, em especial no que tange aos institutos da prescrição e
da decadência, no intuito de conciliar a lei com a prática jurídica (FARIAS;
ROSENVALD, 2013, p. 741).
Da prescrição
Conforme disposto no artigo 189 do Código Civil vigente, a prescrição é a
forma pela qual é extinta a pretensão (é a afirmação de ter direito) de quem
teve violado determinado direito, em decorrência do decurso do tempo,
nos termos dos artigos 205 e 206. Dessa forma, caso o titular do direito de
pretensão quedar-se inerte por prazo superior ao estipulado na lei, receberá
como “pena” a impossibilidade de reclamar a violação sofrida diante do Poder
Judiciário.
5
que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro
prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
III – a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais,
árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;
IV – a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram
para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação
da ata da assembleia que aprovar o laudo;
V – a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e
os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da
liquidação da sociedade;
§2° Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir
da data em que se vencerem.
§3º Em três anos:
I – a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
II – a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias
ou vitalícias;
III – a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações
acessórias, pagáveis em períodos não maiores de um ano, com
capitalização ou sem ela;
IV – a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V – a pretensão de reparação civil;
VI – a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-
fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;
VII – a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da
lei ou do estatuto, contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade
anônima;
b) para os administradores ou fiscais, da apresentação aos sócios do
balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou
da reunião ou assembleia geral que dela deva tomar conhecimento;
c) para os liquidantes da primeira assembleia semestral posterior à
violação;
VIII – a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do
vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;
6
IX – a pretensão do beneficiário contra o segurador e a do terceiro
prejudicado no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
§4º Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da
aprovação das contas.
§5º Em cinco anos:
I – a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento
público ou particular;
II – a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores
judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo
da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou
mandato;
III – a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em
juízo.
7
AgRg no REsp nº 931.896/ES, Relator Ministro Humberto Martins, julgado
em 20.09.2007).
A actio nata objetiva é aquela prevista no Enunciado nº 14, ou seja, prevê como
termo inicial do prazo prescricional a violação do direito, independente do
conhecimento do titular deste. Ressalta-se que a aplicação do viés subjetivo
do princípio da actio nata prestigia a boa-fé de forma mais vigorosa, impedindo
que o indivíduo seja prejudicado em virtude do desconhecimento da lesão de
seu direito, tendo em vista a possibilidade da afronta de um direito sem que o
seu titular tenha imediato conhecimento.
Não nos parece racional admitir-se que a prescrição comece a correr sem
que o titular do direito violado tenha ciência da violação. Se a prescrição
é um castigo à negligência do titular – cum contra desides homines, et sui
juris contentores, odiosa exceptiones oppositae sunt –, não se compreende a
prescrição sem a negligência, e esta certamente não se dá quando a inércia
do titular decorre da ignorância da violação. Nosso Código Civil, a respeito
de diversas ações, determina expressamente o conhecimento do fato de
que se origina a ação, pelo titular, como ponto inicial da prescrição. (LEAL,
1959, p. 37)
Percebe-se, pela citação do autor acima, que desde o Código Civil de 1916, o
prazo prescricional tinha início no conhecimento do fato pelo titular do direito,
pela sua inércia, e não pela sua ignorância.
Da decadência
8
não se opõe um dever de quem quer que seja, mas uma sujeição de alguém
(o meu direito de anular o negócio jurídico não pode ser violado pela parte
a quem a anulação prejudica, pois esta está apenas sujeita a sofrer as
consequências da anulação decretada pelo juiz, não tendo, portanto, dever
algum que possa descumprir). (MOREIRA ALVES, 2003, p. 161)
9
do pleito. O relator, monocraticamente, julgou extinta a ação rescisória
ao fundamento de ter ocorrido decadência. Alegam os recorrentes que,
à época, por serem menores absolutamente incapazes, não fluía contra
eles prazo, nem de decadência nem de prescrição. Admitido o REsp, Min.
Relator entendeu que o prazo para o ajuizamento da ação rescisória
é de decadência (art. 495, CPC), por isso se aplica a exceção prevista no
art. 20 do CC/2002, segundo a qual os prazos decadenciais não fluem
contra os absolutamente incapazes. Esse entendimento foi acompanhado
pelos demais Ministros, que deram provimento ao REsp e determinaram
o prosseguimento da ação rescisória (REsp nº 1.165.735/MG, Relator
Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em 06.09.2011).
Da prescrição
A prescrição no Código de Defesa no Consumidor está prevista no artigo 27
(também há previsão no artigo 45, § 5º, mas será objeto de estudo em outro
capítulo) que determina que a pretensão à reparação pelos danos causados
por fato do produto ou do serviço prevista prescreve em cinco anos, tendo
como marco inicial para a contagem do prazo a data de conhecimento do dano
e de sua autoria. Confere-se que, diferentemente do previsto no Código Civil,
a prescrição do Código Consumerista possui somente o prazo de cinco anos.
Outrossim, já se encontra com a teoria da actio nata subjetiva consignada,
visto que determina como termo inicial para fluência do tempo o momento
de conhecimento do dano e de sua autoria pelo consumidor.
10
1. Controvérsia acerca da prescrição da pretensão indenizatória originada
de fraude praticada por gerente de instituição financeira contra seus
clientes.
2. “As instituições bancárias respondem objetivamente pelos danos
causados por fraudes ou delitos praticados por terceiros - como, por
exemplo, abertura de conta corrente ou recebimento de empréstimos
mediante fraude ou utilização de documentos falsos -, porquanto tal
responsabilidade decorre do risco do empreendimento, caracterizando-se
como fortuito interno” (REsp 1.197.929/PR, rito do art. 543-C do CPC).
3. Ocorrência de defeito do serviço, fazendo incidir a prescrição quinquenal
do art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, quanto à pretensão dirigida
contra a instituição financeira.
4. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AgRg no REsp nº 1.391.627/RJ, Relator Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 04.02.2016).
A decadência
A decadência encontra-se prevista no artigo 26 do Código de Defesa do
Consumidor, que determina a caducidade do direito de reclamação pelos
vícios aparentes ou de fácil constatação em 30 (trinta) dias, quando tratar-se
de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis, e de 90 (noventa) dias
nos casos de fornecimento de serviço e de produtos duráveis, iniciando-se a
contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do
término da execução dos serviços.
11
FIQUE
ATENTO
12
Se o vício é oculto porque se manifestou somente com o uso,
experimentação do produto ou porque se evidenciará muito tempo após
a tradição, o limite temporal da garantia legal está em aberto, seu termo
inicial, segundo o § 3º do art. 26, é a descoberta do vício. Somente a partir
da descoberta do vício (talvez meses ou anos após o contrato) é que
passará a correr os 30 ou 90 dias. Será, então, a nova garantia eterna?
Não, os bens de consumo possuem uma durabilidade determinada. É a
chamada vida útil do produto. (MARQUES, 2003, p. 1196-1197)
13
de serviços, o término da sua execução (art. 26, § 1º, do CDC), pois a
constatação da inadequação é verificável de plano a partir de um exame
superficial pelo “consumidor médio”.
5. A decadência é obstada pela reclamação comprovadamente formulada
pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a
resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma
inequívoca (art. 26, § 2º, inciso I, do CDC), o que ocorreu no caso concreto.
6. O vestuário representa produto durável por natureza, porque não se
exaure no primeiro uso ou em pouco tempo após a aquisição, levando certo
tempo para se desgastar, mormente quando classificado como artigo de
luxo, a exemplo do vestido de noiva, que não tem uma razão efêmera.
7. O bem durável é aquele fabricado para servir durante determinado
transcurso temporal, que variará conforme a qualidade da mercadoria, os
cuidados que lhe são emprestados pelo usuário, o grau de utilização e o
meio ambiente no qual inserido. Por outro lado, os produtos “não duráveis”
extinguem-se em um único ato de consumo, porquanto imediato o seu
desgaste.
8. Recurso provido para afastar a decadência, impondo-se o retorno dos
autos à instância de origem para a análise do mérito do pedido como
entender de direito.
(REsp nº 1.161.941/DF, Relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 05/11/2013).
FIQUE
ATENTO
14
REFERÊNCIAS
15
Conteúdo: