MATERIAL DE APOIO - Assistência Ao RN em Sala de Parto

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ASSISTÊNCIA AO

RECÉM-NASCIDO
EM SALA DE PARTO

I CURSO BÁSICO DE
INTERCORRÊNCIAS NEONATAIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI


Faculdade de Medicina
Assistência ao ao recém-
nascido em sala de parto
Introdução
A assistência ao recém-nascido em sala de parto engloba desde a anamnese
da genitora até a avaliação da vitalidade fetal e a reanimação. Dessa forma,
abordaremos esses aspectos, baseados nas Diretrizes da Sociedade Brasileira
de Pediatria, a respeito da Reanimação do recém-nascido ≥ 34 e < 34
semanas em sala de parto. Sendo assim, iniciaremos nosso material com uma
análise epidemiológica da mortalidade neonatal, pois esses óbitos são
predominantes na primeira semana de vida, em grande parte relacionados à
assistência materna antes e durante o trabalho de parto e parto.

No mundo, estima-se que 2,5 milhões de recém-nascidos (RN) morrem a cada


ano, sendo responsáveis por aproximadamente 47% dos óbitos de crianças
abaixo de 5 anos de idade. A asfixia perinatal contribui, com cerca de 30-35%,
das mortes neonatais, o que representa, em nível global, aproximadamente 1
milhão de óbitos por ano. Considerando os neonatos com peso de nascimento
≥ 2.500g sem malformações congênitas, 5-6 morrem por dia no país na
primeira semana de vida por causas associadas à asfixia perinatal. A maior
parte dos óbitos (71%) ocorre no primeiro dia de vida.
Além disso, a maioria dos recém-nascidos < 37 semanas precisam de ajuda
para iniciar a transição cardiorrespiratória, necessária para a adequada
adaptação à vida extrauterina. Essa elevada necessidade se deve, de modo
geral, à sua imaturidade global do ponto de vista anatômico e fisiológico.
Tais pacientes têm propensão à perda de calor por apresentarem pele fina,
pouco queratinizada, com tecido adiposo subcutâneo escasso e peso
relativamente baixo em relação à grande superfície corporal, existindo ainda
a perda de calor central do sistema venoso a partir do seio cavernoso,
localizado logo abaixo da fontanela bregmática não ossificada.
Ademais, há uma imaturidade estrutural dos pulmões, do sistema
surfactante da musculatura e da caixa torácica, acompanhada de
imaturidade do sistema nervoso central responsável pelo controle do ritmo
respiratório. Por fim, a transição cardiocirculatória tem como obstáculos a
dificuldade de adaptação volêmica, com propensão à hipotensão, e a
fragilidade capilar, que facilita o extravasamento sanguíneo. Nesse
contexto, o progresso na sobrevida neonatal deve incluir a qualificação do
atendimento ao recém-nascido e da força de trabalho responsável por tal
atendimento.
A reanimação, definida de forma ampla como o apoio especializado para
uma transição bem sucedida ao nascer, tem sido um foco maior dentre os
esforços para diminuir a mortalidade neonatal precoce. Ao nascimento,
cerca de um em cada 10 RN necessita de ajuda para iniciar a respiração
efetiva; um em cada 100 precisa de intubação traqueal; e 1 RN em cada
1.000 requer intubação acompanhada de massagem cardíaca e/ou
medicações, desde que a ventilação seja aplicada adequadamente. A
necessidade de procedimentos de reanimação é maior quanto menor a
idade gestacional e/ou peso ao nascer.

O Preparo para a Assistência: Briefing


A equipe de profissionais de saúde treinada em reanimação neonatal é
fundamental antes do nascimento de qualquer RN. Tal equipe deve realizar,
como primeira ação, o “briefing”, o qual inclui anamnese materna, preparo
do ambiente e do material para uso imediato na sala de parto e divisão das
funções de cada membro da equipe, deixando claro a quem caberá o papel
de liderança dos procedimentos de reanimação. A realização dessa
anamnese de forma cuidadosa é primordial, tanto para reconhecer sinais
de prematuridade e de condições perinatais de risco, quanto para
estabelecer um vínculo de respeito e confiança, facilitando a comunicação
sobre as condições do bebê após o nascimento.
Fatores Antenatais

Idade <16 anos ou > 35 anos; Idade gestacional <39 ou >41 semanas;
Diabetes; Gestação múltipla; Síndromes hipertensivas; Rotura prematura
das membranas; Doenças maternas; Polidrâmnio ou oligoâmnio; Infecção
materna; Diminuição da atividade fetal; Aloimunização ou anemia fetal;
Sangramento no 2o ou 3o trimestre; Uso de medicações; Discrepância de
idade gestacional e peso; Uso de drogas ilícitas; Hidropsia fetal; Óbito fetal
ou neonatal anterior; Malformação fetal; Ausência de cuidado pré-natal.

Fatores Relacionados ao Parto

Padrão anormal de frequência cardíaca fetal; Parto cesáreo; Anestesia geral;


Uso de fórcipe ou extração a vácuo; Hipertonia uterina; Apresentação não
cefálica; Líquido amniótico meconial; Trabalho de parto prematuro; Prolapso
ou rotura de cordão; Parto taquitócico; Nó verdadeiro de cordão;
Corioamnionite; Uso de opioides 4 horas anteriores ao parto; Rotura de
membranas >18 horas; Descolamento prematuro da placenta Trabalho de
parto >24 horas; Placenta prévia; Segundo estágio do parto >2 horas;
Sangramento intraparto significante

O material necessário para a reanimação deve ser, antes do nascimento,


verificado de modo sistemático e padronizado para estar disponível em um
local de fácil acesso. Esse material é destinado à avaliação do paciente,
manutenção da temperatura, aspiração de vias aéreas, ventilação e
administração de medicações. Além disso, recomenda-se que a temperatura
axilar do RN seja mantida entre 36,5- 37,5ºC (normotermia), desde o
nascimento até a admissão no alojamento conjunto ou na unidade neonatal.
Clampeamento do cordão
umbilical no RN 34 semanas ≥
Logo após o nascimento, avalia-se se o RN ≥ 34 semanas começou a
respirar ou chorar e se o tônus muscular está em flexão. Se a resposta é
“sim” a ambas as perguntas, indica-se o clampeamento tardio do cordão ou
seja, clampear o cordão umbilical 1-3 minutos depois da sua extração
completa da cavidade uterina.
Esse clampeamento, quando comparado ao clampeamento imediato, é
benéfico com relação à concentração de hemoglobina nas primeiras 24 horas
após o nascimento e à concentração de ferritina nos primeiros 3 a 6 meses,
embora possa elevar a frequência de policitemia, o que implica na
necessidade de cuidado quanto ao aparecimento e acompanhamento da
icterícia nos primeiros dias de vida.
O neonato pode ser posicionado no abdome ou tórax materno a fim de evitar a
perda da temperatura corporal enquanto aguarda-se o clampeamento e,
enquanto o RN está junto à mãe, é essencial prover calor, manter as vias
aéreas pérvias e avaliar a sua vitalidade de maneira continuada.
No RN que não está com boa vitalidade ao nascer, sugere-se fazer o
estímulo tátil no dorso, de modo delicado e no máximo duas vezes, para
ajudar a iniciar a respiração antes do clampeamento imediato do cordão.
Contudo, caso a circulação placentária não esteja intacta (descolamento
prematuro de placenta, placenta prévia ou rotura ou prolapso ou nó verdadeiro

de cordão) ou caso o RN 34 semanas não inicie a respiração após estímulo
ou não mostre tônus muscular em flexão, recomenda-se o clampeamento
imediato do cordão. pois em neonatos que não iniciam a respiração ao nascer,
o clampeamento tardio do cordão pode retardar o início da ventilação com
pressão positiva, com maior chance de admissão em unidade de
cuidados intermediários/intensivos ou morte no primeiro dia de vida.
Clampeamento do cordão
umbilical no RN <34 semanas
Logo após o nascimento, se o RN começou a respirar ou chorar e está ativo,
considera-se que sua vitalidade está adequada. No RNPT <34 semanas com
boa vitalidade, recomenda-se clampear o cordão no mínimo 30 segundos
após o nascimento. Enquanto aguarda-se para clampear e cortar o cordão, o
neonato pode ser posicionado no abdome ou tórax materno, tomando-se
cuidado para evitar a perda da temperatura corporal, envolvendo-o em campo
estéril aquecido e mantendo a temperatura ambiente de 23-25°C.
No RNPT <34 semanas que não começa a respirar ou está hipotônico logo após
o nascimento, o estímulo a esboçar movimentos respiratórios antes de
clampear o cordão pode facilitar a transição hemodinâmica. Dessa forma,
sugere-se fazer o estímulo tátil no dorso, de modo delicado e no máximo duas
vezes, para ajudar a iniciar a respiração antes do clampeamento imediato do
cordão. Uma vez clampeado o cordão, esse RNPT deve ser levado
imediatamente à mesa de reanimação.

Assistência ao RN 34 semanas ≥
com boa vitalidade ao nascer

Se, ao nascimento, o RN 34 semanas está respirando ou chorando e o tônus
muscular está em flexão, independentemente do aspecto do líquido
amniótico, ele apresenta boa vitalidade e deve continuar em contato pele-a-
pele junto da parturiente depois do clampeamento do cordão umbilical. Na
sala de parto, enquanto o RN está junto à parturiente, prover calor, assegurar
as vias aéreas pérvias, avaliar a vitalidade de maneira continuada e
estimular o início da amamentação.
Passos iniciais da
estabilização/reanimação

Se, ao nascimento, o RN 34 semanas, não apresentar boa vitalidade, ele deve
ser conduzido à mesa de reanimação. Da mesma forma, todo RNPT <34
semanas deve ser conduzido à mesa de reanimação após o clampeamento do
cordão, indicando-se os passos iniciais da estabilização.

Manter o RN em normotermia
Os passos iniciais compreendem ações para manutenção da normotermia e
das vias aéreas pérvias, além da colocação, nos RN < 34 semanas, do sensor do
oxímetro de pulso e dos eletrodos do monitor cardíaco nos RN < 34 semanas.
Esses passos devem ser executados de modo simultâneo por dois profissionais
de saúde em no máximo 30 segundos. Recomenda-se que a temperatura
axilar do RN seja mantida entre 36,5-37,5ºC (normotermia), o que inclui o
período desde o nascimento até a admissão na unidade neonatal. Por isso,
para diminuir a perda de calor nesses pacientes, é importante pré-aquecer a
sala de parto, manter as portas fechadas, controlar a circulação de pessoas
para minimizar as correntes de ar, as quais podem diminuir a temperatura
ambiente, e ligar a fonte de calor radiante antes do nascimento.
Após o clampeamento do cordão, tanto o RN ≥ 34 semanas com baixa
vitalidade quanto o RNPT < 34 semanas são levados à mesa de reanimação
em campos aquecidos e posicionado sob a fonte de calor radiante, em
decúbito dorsal e com a cabeça voltada para o profissional de saúde, sendo,
os RNPT < 34 semanas envoltos em saco plástico transparente. Além disso,
é colocado, nestes RNPT, uma touca dupla para reduzir a perda de calor na
região da fontanela.

Assegurar vias aéreas pérvias


O RN deve ser posicionado, na mesa de reanimação, em decúbito dorsal, sem
inclinação e sob calor radiante. O pescoço deve estar em leve extensão, para
assegurar vias aéreas, evitando, porém, hiperextensão. Por vezes, é
necessário colocar um coxim sob os ombros para facilitar o posicionamento
adequado da cabeça. A aspiração de boca e narinas não é recomendada de
rotina nem para RN < ou ≥ 34 semanas, independentemente, até mesmo,
do aspecto do líquido amniótico.
A aspiração de oro- e nasofaringe está reservada aos RN em que há suspeita
de obstrução de vias aéreas por excesso de secreções. Nesses casos, é
necessário aspirar delicadamente, pois a introdução da sonda de aspiração de
maneira brusca ou na faringe posterior, pode induzir à resposta vagal e ao
espasmo laríngeo, com apneia e bradicardia. A aspiração da hipofaringe
também deve ser evitada, pois pode causar atelectasia, trauma e prejudicar o
estabelecimento da respiração efetiva.

E se houver mecônio?
No RN com líquido amniótico meconial de qualquer viscosidade que, após
os passos iniciais, apresenta apneia, respiração irregular e/ou FC <100
batimentos por minuto (bpm), é fundamental iniciar a VPP com máscara
facial e ar ambiente nos primeiros 60 segundos de vida. Nesse caso, a
laringoscopia direta imediata e a aspiração traqueal de rotina não devem ser
realizadas. Em raras ocasiões, o RN com líquido amniótico meconial e não
vigoroso pode precisar de intubação e aspiração traqueal para desobstruir a
traqueia. Neste caso, a aspiração traqueal propriamente dita é feita uma única
vez através da cânula traqueal conectada a um dispositivo para aspiração de
mecônio e ao aspirador a vácuo, com uma pressão máxima de 100 mmHg. A
VPP deve ser aplicada imediatamente após a aspiração traqueal, salientando-
se a importância de iniciar a VPP nos primeiros 60 segundos de vida.

Avaliação durante a
estabilização/reanimação
As decisões quanto à estabilização/reanimação dependem da avaliação
simultânea da FC, considerada o indicador mais sensível da eficácia dos
procedimentos de reanimação neonatal; da respiração e da SatO2 em RN < 34

semanas ou 34 semanas que recebe VPP.

Frequência Cardíaca

Recomenda-se que, em RN < 34 ou 34 semanas que precisam de
reanimação ao nascer, a avaliação da FC deve ser feita através do
monitor cardíaco. Essa frequência, para ser considerada adequada,
precisa manter-se superior a 100 bpm nos primeiros minutos após
o nascimento.
Como calcular a FC atráves da ausculta?
A FC pode ser calculada a partir da ausculta do precórdio por seis segundos
seguida da multiplicação do valor contabilizado por 10, resultando no número de
batimentos por minuto .

Respiração
A avaliação da respiração é feita por meio da observação da expansão torácica
ou da presença de choro. Ela está adequada quando os movimentos são
regulares e suficientes para manter a FC >100 bpm. Porém, caso o RN esteja
em apneia ou com movimentos respiratórios irregulares ou em padrão do tipo
gasping, a respiração está inadequada.

Saturação de oxigênio
A oximetria de pulso, para acompanhar a SatO2, auxilia na tomada de
decisões quanto ao manejo ventilatório em sala de parto, possibilitando,
assim, o uso criterioso e racional do O2 suplementar, quando necessário.
A leitura confiável da SatO2 demora cerca de 1-2 minutos após o nascimento,
desde que haja débito cardíaco suficiente, com perfusão periférica.
O processo de transição normal para alcançar uma SatO2 >90% requer 5
minutos ou mais em RN saudáveis, que respiram ar ambiente, sendo cerca de
dois minutos mais lento em RNPT. Quanto à oximetria, a escolha do membro
superior direito se deve ao fato de que a SatO2 pré-ductal é superior à pós-
ductal e reflete a oxigenação cerebral.

CPAP em sala de parto


A pressão de distensão contínua de vias aéreas (CPAP), que consiste na
aplicação de uma pressão constante nas vias aéreas superiores, é uma das
mais importantes terapias de suporte para o RNPT com desconforto
respiratório. Essa aplicação ajuda a manter os espaços aéreos dos pulmões
imaturos e deficientes em surfactante não colapsados, levando a um
recrutamento mais homogêneo desses espaços aéreos durante a inspiração e
garantindo a capacidade residual funcional durante a expiração, o que evita o
atelectrauma. Com isso, diminui a migração de células inflamatórias para os
espaços aéreos e a formação da membrana hialina, característica da
Síndrome do Desconforto Respiratório.
Teoricamente, quanto mais cedo o CPAP é aplicado, mais estável ficam os
espaços aéreos e menor é o processo inflamatório. Além disso, a aplicação de
CPAP ao nascer pode ser importante para a patência das vias aéreas durante a
respiração espontânea, facilitando a abertura da glote. Portanto, indica-se o
uso de CPAP em RNPT <34 semanas com FC >100 bpm e respiração
espontânea, mas que apresenta desconforto respiratório e/ou SatO2 abaixo
da esperada na transição normal, logo após os passos iniciais.

Ventilação com Pressão Positiva


A ventilação pulmonar é o procedimento mais importante e efetivo na
reanimação do RN ao nascimento. O sucesso da reanimação depende da
substituição do líquido que preenche sáculos e/ou alvéolos por ar ao
nascimento. É por meio do preenchimento dos pulmões com gás que estes
assumem o seu papel central na hematose, com vasodilatação pulmonar e
redução da pressão pulmonar, o que promove o retorno do sangue oxigenado
dos espaços aéreos para o coração esquerdo, fazendo com que o ventrículo
esquerdo distribua o sangue oxigenado de modo sistêmico.
No RN em apneia ou com respiração irregular, é fundamental iniciar a
ventilação de maneira rápida e efetiva para manter a glote aberta e
permitir a aeração pulmonar e a transição cardiocirculatória. Após os
cuidados para manter a temperatura e as vias aéreas pérvias, se o RN
apresenta FC <100 bpm e/ou apneia ou respiração irregular, há indicação
da VPP, que precisa ser iniciada nos primeiros 60 segundos de vida (“Minuto
de Ouro”).

As decisões quanto à estabilização/reanimação dependem da avaliação


simultânea da FC, considerada o indicador mais sensível da eficácia dos
procedimentos de reanimação neonatal; da respiração e da SatO2 em RN < 34

semanas ou 34 semanas que recebe VPP.

Oxigênio Suplementar
A ventilação do RNPT <34 semanas pode ser iniciada com concentração de O2
de 30%, titulando-se a fração inspirada do gás de acordo com a monitoração

da SatO2 pré-ductal. Já no RN 34 semanas, a VPP deve ser iniciada com ar
ambiente (O2 a 21%). Uma vez iniciada a VPP, a oximetria de
pulso é necessária para monitorar a SatO2 pré-ductal e para
decidir quanto à indicação de O2 suplementar.
Se o RN não atinge a SatO2 alvo e/ou apresenta FC <100 bpm, é preciso
sempre verificar e corrigir a técnica da VPP antes de aumentar a oferta de
O2 suplementar. Na prática clínica, se a SatO2 pré-ductal estiver abaixo do
alvo, mesmo após checagem da técnica, é recomendado aumentar a
concentração de O2 para 40% e aguardar 30 segundos.
Se não houver melhora da SatO2 , é indicado aumentar a concentração de O2
para 60% e assim sucessivamente a cada 30 segundos, se necessário,
acompanhando-se a SatO2 alvo. Por outro lado, se a SatO2 estiver acima do
alvo, diminuir a concentração de O2 em 20% (ou seja, de O2 a 80% para O2 a
60% e sucessivamente até ar ambiente) a cada 30 segundos. Quando o O2
suplementar é administrado ao RN, sua concentração deve ser reduzida o
mais rápido possível, de acordo com a oximetria de pulso.
Se o RNPT <34 semanas, após a correção da técnica da ventilação, não
melhorar, está indicado o uso da cânula traqueal para a VPP. As indicações
de VPP por cânula traqueal em sala de parto incluem: 1) VPP com máscara
não efetiva, ou seja, se após a correção de possíveis problemas técnicos, a FC
permanece <100 bpm; 2) VPP com máscara prolongada, ou seja, se o RN não
retoma a respiração espontânea; 3) Aplicação de massagem cardíaca.
Em caso de insucesso da intubação traqueal, o procedimento é interrompido e
a VPP com máscara facial deve ser iniciada, sendo realizada nova tentativa
após a estabilização do RN. Cada tentativa de intubação deve durar, no
máximo, 30 segundos. Além disso, é necessário oferecer O2 a 100% no RN
que está recebendo VPP e massagem cardíaca

Massagem Cardíaca
A asfixia pode desencadear vasoconstrição periférica, hipoxemia tecidual,
diminuição da contratilidade miocárdica, bradicardia e, eventualmente,
assistolia. A ventilação adequada pode reverter esse quadro, na maioria dos
pacientes. Mas, quando não há reversão, apesar da VPP parecer efetiva, é
provável que a hipoxemia e a acidose metabólica estejam levando à
insuficiência de fluxo sanguíneo para as artérias coronárias, o que reduz a
função miocárdica e compromete o fluxo sanguíneo pulmonar, com
consequente inadequação da hematose pela ventilação em curso e piora da
hipoxemia. Para reverter essa condição, a compressão do coração contra a
coluna espinal, no nível do esterno, empurra o sangue presente
no coração esquerdo “para frente”, aumentando a pressão na
aorta para manter o débito sistêmico.
A massagem cardíaca é indicada se, após 30 segundos de VPP com técnica
adequada, a FC estiver <60 bpm. É importante destacar que essa massagem
diminui a eficácia da VPP e, como já mencionado, a ventilação é a ação mais
efetiva da reanimação neonatal. Por isso, as compressões só devem ser
iniciadas quando a expansão e a ventilação pulmonares estiverem bem
estabelecidas, com a via aérea assegurada. Além disso, o RN com indicação de
massagem cardíaca deve estar com monitor cardíaco e oxímetro de pulso bem
locados. Essa compressão cardíaca é realizada no terço inferior do esterno,
onde se situa a maior parte do ventrículo esquerdo. Existem duas técnicas para
realizar a massagem cardíaca: a dos dois polegares e a dos dois dedos.

A técnica dos dois polegares

A técnica dos dois polegares é mais eficiente, pois gera maior pico de
pressão sistólica e de perfusão coronariana, além de ser menos cansativa.
Nessa técnica, os polegares podem ser posicionados sobrepostos ou
justapostos no terço inferior do esterno, logo abaixo da linha intermamilar e
poupando o apêndice xifoide. Os polegares sobrepostos geram maior pico de
pressão e pressão de pulso, enquanto os polegares justapostos aumentam a
chance de lesão dos pulmões e do fígado. Sendo assim, o restante das mãos
circunda o tórax, dando suporte ao dorso durante a massagem.

A ventilação e a massagem cardíaca são realizadas de forma sincrônica,


mantendo-se uma relação de 3:1, ou seja, 3 movimentos de massagem
cardíaca para 1 movimento de ventilação, com uma frequência de 120
eventos por minuto (90 movimentos de massagem e 30 ventilações). A
aplicação da massagem cardíaca coordenada à ventilação deve durar, no
mínimo, 60 segundos, antes de reavaliar a FC, pois este é o tempo mínimo para
que a massagem cardíaca efetiva possa restabelecer a pressão de perfusão
coronariana.

Se, após a correção da técnica da VPP e massagem cardíaca, não houver


melhora, indica-se a adrenalina e, para tal, considera-se a realização do
cateterismo venoso umbilical de urgência.
Medicações
A bradicardia neonatal é, em geral, resultado da insuflação pulmonar
insuficiente e/ou da hipoxemia profunda. Dessa forma, quando a FC
permanece <60 bpm, a despeito de ventilação efetiva por cânula traqueal
com O2 a 100% e acompanhada de massagem cardíaca adequada e
sincronizada à ventilação por no mínimo 60 segundos, o uso de adrenalina
está indicado. Eventualmente, nessas condições, pode também ser necessário
administrar o expansor de volume.
O bicarbonato de sódio e o naloxone não são recomendados na reanimação
do RN em sala de parto. Não há referência relativa ao uso de atropina,
albumina ou vasopressores na reanimação ao nascimento. Quanto ao
bicarbonato de sódio, a hiperosmolaridade da solução, a hipernatremia
desencadeada pela sua infusão e o fato de gerar CO2 podem diminuir a
resistência vascular sistêmica, piorando a pressão de perfusão coronariana e,
por conseguinte, a função miocárdica, exacerbando a acidose venosa e
contribuindo para o aumento da mortalidade.

Vias de administração
A medicação precisa rapidamente atingir a circulação venosa central e, por
isso, a via preferencial no atendimento do RN com indicação de reanimação
avançada é a veia umbilical. Nessa situação, a equipe de reanimação deve
contar, no mínimo, com três profissionais de saúde: um para aplicar a VPP por
cânula traqueal, outro para a massagem cardíaca e o terceiro para fazer o
cateterismo e administrar as medicações.
A via traqueal só pode ser utilizada para a adrenalina. Na prática clínica,
eventualmente indica-se a via traqueal enquanto o cateterismo venoso
umbilical está sendo realizado. Nesse caso, a adrenalina é feita diretamente no
interior da cânula traqueal, não devendo ser administrada no conector entre a
cânula e o equipamento para VPP. A absorção da adrenalina por via pulmonar,
mesmo em doses elevadas, é lenta, imprevisível e a resposta, em geral, é
insatisfatória.
Nos casos em que o cateterismo umbilical venoso não é possível ou quando os
profissionais que estão reanimando o RN não estão habilitados a cateterizar a
veia umbilical, uma alternativa para acessar a circulação venosa
central é a via intraóssea, com efeito hemodinâmico similar à
administração endovenosa.
No entanto, há um risco de graves complicações associadas ao procedimento
como fraturas ósseas, isquemia de membros, osteomielite, extravasamento de
fluidos, síndrome compartimental e amputação.
Quando não há reversão da bradicardia com a adrenalina endovenosa,
assegurar que a VPP e a massagem cardíaca estão adequadas, repetir a
administração de adrenalina a cada 3-5 minutos por via endovenosa e
considerar o uso do expansor de volume.

Expansor de Volume
O expansor de volume pode ser necessário para reanimar o RN com
hipovolemia. A suspeita é feita se não houve aumento da FC em resposta às
outras medidas de reanimação e/ou se há perda de sangue ou sinais de choque
hipovolêmico, como palidez, má perfusão e pulsos débils. É preciso cautela na
indicação do expansor de volume, pois pode ser deletério se há lesão
miocárdica induzida pela asfixia.
A restauração do volume vascular no RN é realizada com solução cristaloide,
sendo de escolha o SF (NaCl a 0,9%). Administrar SF na dose de 10mL/kg
lentamente, em 5-10 minutos. O uso de concentrado de glóbulos do tipo O fator
Rh negativo para a reposição de volume só é indicado em casos de suspeita de
anemia fetal grave, de preferência após prova cruzada com sangue materno.
Com o uso do expansor de volume, espera-se o aumento da FC e a melhora dos
pulsos e da palidez.
Se não houver resposta, verificar a posição da cânula traqueal, a oferta de O2 a
100%, a técnica da VPP e da massagem cardíaca, a permeabilidade da via de
acesso vascular d a adequação da dose da adrenalina. Pode-se, após a correção
de todos esses fatores, administrar uma dose adicional de 10 mL/kg do
expansor de volume.
Referências
Almeida MFB, Guinsburg R; Coordenadores Estaduais e Grupo Executivo PRN-
SBP; Conselho Científico Departamento Neonatologia SBP. Reanimação do

recém-nascido 34 semanas em sala de parto: diretrizes 2022 da Sociedade
Brasileira de Pediatria. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria;
2022. https://doi.org/10.25060/PRN-SBP-2022-2

Guinsburg R, Almeida MFB; Coordenadores Estaduais e Grupo Executivo PRN-


SBP; Conselho Científico Departamento Neonatologia SBP. Reanimação do
recém-nascido <34 semanas em sala de parto: diretrizes 2022 da Sociedade
Brasileira de Pediatria. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria;
2022. https://doi.org/10.25060/PRN-SBP-2022-1
Referências
Almeida MFB, Guinsburg R; Coordenadores Estaduais e Grupo Executivo PRN-
SBP; Conselho Científico Departamento Neonatologia SBP. Reanimação do

recém-nascido 34 semanas em sala de parto: diretrizes 2022 da Sociedade
Brasileira de Pediatria. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria;
2022. https://doi.org/10.25060/PRN-SBP-2022-2

Guinsburg R, Almeida MFB; Coordenadores Estaduais e Grupo Executivo PRN-


SBP; Conselho Científico Departamento Neonatologia SBP. Reanimação do
recém-nascido <34 semanas em sala de parto: diretrizes 2022 da Sociedade
Brasileira de Pediatria. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria;
2022. https://doi.org/10.25060/PRN-SBP-2022-1

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