Livro-Texto - Unidade I
Livro-Texto - Unidade I
e Segurança do Trabalho
Autor: Prof. Ricardo Calasans
Colaboradores: Prof. Ricardo Scalão Tinoco
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professor conteudista: Ricardo Calasans
Graduado em Engenharia de Produção Mecânica pela Universidade Metodista de Piracicaba (1994), em Direito
pela Universidade Paulista (2008) e em Medicina Veterinária pela UNIP – Universidade Paulista (2014).
Possui especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Paulista (1996), especialização
em Informática pela Universidade Paulista (1997) e mestrado profissional em Engenharia de Produção pela Universidade
Paulista (1999). Doutorando na Faculdade de Saúde Pública da USP em Organização dos Processos Produtivos e Saúde
do Trabalhador.
Diretor da Associação Brasileira dos Profissionais de Medicina e Segurança do Trabalho e Meio Ambiente
(Abraphiset) desde 1997, órgão em que atua como consultor e perito em questões de insalubridade, periculosidade,
doenças e acidentes do trabalho, cursos e treinamentos em SST.
Professor‑adjunto dos cursos de graduação nas seguintes modalidades de Engenharia: Mecânica, Mecatrônica,
Produção, Elétrico‑eletrônica e Civil. Nessa função, também atua nas disciplinas de Arquitetura e Urbanismo,
Administração, Medicina Veterinária, Biomedicina, Gestão Ambiental e Agronegócios.
Líder das disciplinas de Ergonomia – nos cursos de Engenharia e Gestão Laboratorial – e Controle de Qualidade –
do curso de Biomedicina.
Atualmente elabora alguns dos conteúdos e determinadas gravações dos vídeos da UNIP Interativa e do material
didático pedagógico da referida instituição.
CDU 007
U514.45 – 22
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Unip Interativa
Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Angélica L. Carlini
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. Deise Alcantara Carreiro
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Kleber Nascimento de Souza
Rose Castilho
Sumário
Ergonomia, Acessibilidade e Segurança do Trabalho
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8
Unidade I
1 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO.............................. 11
2 A ERGONOMIA E A EMPRESA..................................................................................................................... 24
3 O QUE SÃO NORMAS REGULAMENTADORAS...................................................................................... 29
4 AS NORMAS REGULAMENTADORAS........................................................................................................ 30
Unidade II
5 ANTROPOMETRIA............................................................................................................................................. 52
6 FUNDAMENTOS DA FISIOLOGIA E DO METABOLISMO...................................................................... 66
6.1 Função neuromuscular....................................................................................................................... 66
6.2 Sistema muscular.................................................................................................................................. 69
6.3 Fisiologia muscular............................................................................................................................... 74
6.4 Metabolismo............................................................................................................................................ 76
7 BIOMECÂNICA OCUPACIONAL.................................................................................................................... 78
8 MANUSEIO DE CARGAS................................................................................................................................. 80
APRESENTAÇÃO
Este livro‑texto busca apresentar alguns dos principais pontos sobre ergonomia, antropometria,
segurança do trabalho e acessibilidade, de forma que o aluno possa compreender a abrangência
do tema e a sua importância na prevenção de acidentes e doenças do trabalho na atividade da
engenharia civil.
Para que se tenha uma noção da importância da questão da segurança do trabalho, podemos
destacar o artigo “Doenças do Trabalho: Exclusão, Segregação e Relações de Gênero”:
A ascensão dos casos de LER/Dort nos anos 1990, além de facultar índices
já caracterizados como epidêmicos, indica, sem dúvida, a sua maior
proeminência entre todas as doenças ocupacionais atendidas pelo Nusat/
INSS‑MG. Aliás, essas doenças não foram apenas crescentes em diagnósticos,
como também se tornaram campeãs absolutas na distribuição dos benefícios
acidentários por espécie diagnosticada (SALIM, 2003).
A aplicação da ergonomia permite uma melhor interação entre o trabalhador e seu posto de trabalho,
suas ferramentas, possibilitando para a empesa maior eficiência em seus processos produtivos, o que
resulta em um ganho de produtividade, tornando a empresa mais competitiva.
Um ponto a ser ressaltado é que a ergonomia é também essencial fora dos ambientes de trabalho,
onde contribui nos projetos dos espaços, produtos, equipamentos etc., proporcionando uma melhor
qualidade de vida, bem como na aplicação voltada aos portadores de necessidades especiais, aos idosos,
às crianças, e às pessoas de forma geral, tanto em suas residências quanto nos locais e nas vias públicas.
Desta forma fica claro o quanto o estudo da ergonomia colaborou para melhores ambientes de trabalho
e suas tarefas, de modo a respeitar os limites do nosso corpo, possibilitando uma melhor compreensão
dos efeitos da pressão e do estresse ao qual o trabalhador está submetido e, consequentemente, buscar
uma melhor maneira de aplicar a ergonomia e a segurança do trabalho em prol da saúde física e mental
do colaborador.
Bons estudos!
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INTRODUÇÃO
Uma boa definição é a feita por Sérgio Penna Kehl que, em 1990, definiu ergonomia da seguinte forma:
Também é interessante vermos outra abordagem para a questão, feita por Alain Wisner (1994, p. 87),
que coloca a ergonomia como sendo:
Segundo Galafassi (1999): “Ergonomia é o estudo dos problemas relativos ao trabalho, para
a preservação de seu bem‑estar físico e mental”. Podemos entender que é considerada uma ciência
direcionada ao projeto de equipamentos, máquinas, tarefas e sistemas, com o intuito de minimizar
problemas de segurança, saúde e conforto, melhorando, desta forma, a eficiência no trabalho.
8
A International Ergonomics Association (IEA) aprovou uma definição, em agosto de 2000, contida
em Falzon (2007, p. 3‑19), conceituando a ergonomia e suas especializações, que é:
Produtos
Tarefas Empregos
Ergonomia
Organizações Ambientes
Hoje não se pode separar a ergonomia da segurança do trabalho, uma vez que ela tem um papel
muito importante para a saúde e a integridade física do trabalhador. Desta forma, é fundamental que se
entenda que as ações devem ser tomadas em conjunto, pois, quando realizadas de modo independente,
ao longo do tempo, os seus resultados não serão satisfatórios.
Com a abordagem proposta neste material, espera‑se que o futuro profissional possa compreender
a importância das questões que serão apresentadas e de como ele poderá e deverá fazer uso delas em
sua rotina profissional.
Outro fator importante que será demonstrado, e que também decorre de estudos da ergonomia, a
antropometria, é a utilização destes conhecimentos na questão da acessibilidade, a qual será apresentada
através da leitura da NBR ABNT 9050 (ABNT, 2015).
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ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Unidade I
1 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO
A exibição da evolução histórica dos temas que serão discutidos neste livro‑texto são
essenciais, pois, para que se tenha uma compreensão melhor do presente, torna‑se fundamental
entender a sua evolução ao longo da história e, por isso, iremos resgatar alguns dos principais
pontos para fazê‑lo.
Iremos voltar até a Pré‑História, em que podemos encontrar o homem iniciando ações nas
quais buscava adaptar o meio em que estava e os objetos ao seu redor para melhor atender a suas
necessidades. Pode‑se então dizer que essas atividades eram ações ergonômicas, fazendo com que ele
tivesse condições mais favoráveis.
Como exemplo, pode‑se citar a questão de ferramentas, utilizando pedras para o preparo de utensílios
e armas de caça, buscando adaptar as pedras e suas formas com outros materiais e assim fazer lanças,
martelos, utensílios etc., de modo a ter um ganho no seu desempenho.
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Unidade I
Também pode‑se dizer que, na busca de um melhor conforto, o homem adaptou peles de animais para
fazer vestimentas que lhe trouxessem bem-estar e proteção, preparou um local para dormir e se isolar
do contato direto com o solo, adequou os materiais que possuía à sua volta para obter mais conforto
de uma forma geral, lascou as pedras buscando produzir pontas de lanças para que tivesse melhores
resultados em sua caça, e assim podemos citar diversas ações que se relacionam com a ergonomia sendo
aplicadas em sua rotina diária.
Outro ajuste importante a se destacar foram as cavernas, onde o homem não só encontrava a proteção
contra o clima externo, como contra predadores. Outro fator foi a descoberta do fogo, utilizando‑o para
se aquecer, espantar animais e oferecer maior segurança, além de preparar alimentos.
Continuando a nossa evolução histórica, pode‑se citar os problemas de coluna dos escravos
carregadores de pedra, com registros da época do Império Romano e relatos de cólicas que foram
associadas à contaminação pelo chumbo, além da intoxicação por mercúrio.
Assim, ao longo da Idade Média, o homem começou a ter cada vez mais interesse na relação dos
fatores ambientais com a questão da saúde, observando as questões referentes ao calor, à umidade do
ambiente, aos efeitos da poeira, e a tudo que tivesse uma associação com a saúde das pessoas.
A questão do sedentarismo já era observada na forma que afetava a saúde, no caso, a saúde dos
tabeliães (ROCHA, 2004).
Já na Idade Antiga, encontramos uma realidade do trabalho artesanal. Nesta situação tínhamos
o artesão, que adaptava seu local de trabalho, geralmente na própria residência, e adequava suas
ferramentas às técnicas de trabalho, bem como selecionava sua própria matéria‑prima, tendo o controle
de todo o processo produtivo.
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ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Figura 4 – Artesãos
Neste período surgiu um médico, nascido em Capri, na Itália, em 1633, que começou a se interessar
pela relação entre a atividade de trabalho e as doenças que seus pacientes demonstravam. Ele passou
a buscar a aprender como eram esses ambientes de trabalho e a fazer uma conexão entre a atividade
laboral e as doenças apresentadas.
Em 1700, na cidade de Modena, na Itália, o Dr. Bernardino Ramazzini publicou então sua obra
chamada De Morbis Artificum Diatriba, ou As doenças dos trabalhadores, em que exibia o resultado dos
seus estudos e relacionava diversas enfermidades com as atividades profissionais.
Saiba mais
Com esta obra, teve início a compreensão da questão relacionada às doenças ocupacionais e, portanto,
surgiu a conscientização na classe médica da importância das atividades laborais na saúde do homem.
Descartes, em 1637, buscava expor o homem como sendo uma máquina animada por uma alma, e
mais tarde La Mettrie (1709‑1751), que era um ateu convicto, empenhou muito esforço para explicar o
homem sem o recurso da alma (GRISTELLI, 2009).
13
Unidade I
No século XVIII, iniciou‑se na Inglaterra a Revolução Industrial, a qual desencadeou uma série de
mudanças radicais na forma de produção, impactando a maneira de viver das pessoas. Foi observado o
aparecimento de uma série de conflitos na interface do homem com as máquinas e os equipamentos
que surgiam, cujo principal objetivo era o ganho de produção, não havendo preocupação com a questão
do trabalhador, nem com o seu posto de trabalho.
Neste momento houve um novo impulso da medicina do trabalho, que acompanhava todas estas
mudanças e novas exigências desencadeadas pelos novos processos de trabalho e dos movimentos
sociais, em que a Saúde Ocupacional foi tomando forma e dando origem às questões voltadas à saúde
dos trabalhadores.
Conforme as indústrias surgiam, iniciando a produção em série, com ritmos intensos de trabalho em
ambientes ruidosos, com pouca iluminação e geralmente sujos, começou‑se a se observar um número
crescente de acidentes nos locais de trabalho e o aparecimento de diversas doenças ocupacionais.
Em 1830, o empresário Robert Dernham, dono de indústria têxtil, teve a ideia de colocar seu médico
pessoal em sua fábrica, a fim de que ele pudesse avaliar o efeito do trabalho sobre seus colaboradores e
buscar determinar formas de prevenir as doenças ocupacionais.
Este exemplo foi logo seguido em diversos outros países onde o interesse em oferecer um serviço
médico aos trabalhadores se expandiu.
Com o início da Primeira Grande Guerra Mundial, por volta de 1941, a demanda de produção em
larga escala aumentou, principalmente a de armamentos e de material necessário para abastecer o
front de batalha. Essa procura resultou em sobrecarga dos funcionários, casos de fadiga muscular e
muitas doenças ocupacionais. Neste cenário, iniciam‑se os primeiros estudos sobre essas doenças com
a participação dos novos profissionais, fisiologistas e psicólogos.
Lembrete
Não se pode deixar de citar um marco importante para o desenvolvimento de diversas tecnologias e
conhecimentos sobre o homem que se deu com a Segunda Grande Guerra, em 1939.
14
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
A ergonomia foi uma das áreas que recebeu numerosos investimentos e estudos, uma vez que foram
observados muitos acidentes no campo militar e falhas de artilharia devido a erros dos operadores, diversos
deles ocasionados por fadiga física, gerando baixo desempenho e resultando em estresse nos soldados.
Não é difícil imaginar a situação dentro de uma aeronave, não pressurizada, em que a tripulação
ficava exposta à baixa temperatura, havendo pouco espaço para movimentar‑se, devendo permanecer
assim por horas até chegar ao alvo, para então iniciar seu ataque e depois retornar à base. Tudo isso
criava dificuldades a serem superadas pela tripulação, o que custava seu desempenho no momento
da batalha.
Outra situação que podemos presumir é o da tripulação de um submarino, com todos dentro de
um espaço restrito, muitas vezes insalubre, sob grande estresse, e devendo desenvolver suas funções da
melhor forma possível.
Vários outros equipamentos militares apresentavam condições semelhantes, tanto para os ocupantes
de um tanque de guerra quanto para o pessoal da artilharia, por exemplo.
Com isso entendeu‑se a importância da aplicação da ergonomia na busca das soluções destes
problemas e permitiu‑se a obtenção de bons resultados na interface homem‑máquina.
Nesta época, com relação à ergonomia, ocorreu uma expansão além dos ambientes de trabalho que
se mostrou valiosa nos projetos e no desenvolvimento de novos produtos, facilitando seu manuseio,
tornando‑os mais eficientes e oferecendo ao consumidor mercadorias mais confortáveis e seguras.
Em 1995, um comitê misto, formado por OIT e OMS, expandiu os conceitos de saúde ocupacional e
Saúde do Trabalhador, publicando os seguintes termos:
O principal foco da Saúde no Trabalho deve estar direcionado para três objetivos:
• Convenção sobre a Liberdade Sindical e a Proteção do Direito Sindical, 1948 (nº 87).
• Convenção sobre a Idade Mínima para Admissão a Emprego, 1973 (nº 138).
• Convenção sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata para a sua
Eliminação, 1999 (nº 182).
Muitas das convenções e regulamentações da OIT estão relacionadas com a segurança, a saúde e as
condições de trabalho.
O Brasil ratificou um total de 82 das 189 convenções da OIT. Validou, assim, todas as fundamentais,
com exceção da nº 87. É importante notar que, quando são ratificadas pelo Congresso Nacional, elas
passam a ter caráter compulsório.
Entre elas destaca‑se a Convenção nº 155, de 1981, que cobre a segurança e a saúde dos trabalhadores
e do ambiente de trabalho. Há, ainda, a Convenção nº 161, de 1985, que aborda os conceitos essenciais
de saúde e segurança no trabalho.
Tanto na Europa como nos EUA, a ergonomia passou a ser aplicada gradativamente nas mais diversas
áreas, mas nos EUA ela começou a ser empregada de forma mais intensa em seus sistemas de defesa, nos
16
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
quais se buscava obter maior confiabilidade e segurança. Também com a corrida espacial, ela encontrou
grande área de aplicação no estudo do conforto dos astronautas, permitindo que executassem as suas
atividades de modo eficiente.
Falando um pouco do Brasil, alguns fatos importantes estavam ocorrendo para as questões relacionadas à
segurança do trabalho. Tivemos a Lei nº 3.724 (BRASIL, 1919), que tratava da legislação acidentária do trabalho.
Houve a criação da inspeção do trabalho, no início da década de 1920. A lei nº 4.682 (BRASIL, 1923), conhecida
como Lei Eloy Chaves, foi o marco para a Previdência Social. Em 1925, ocorreu então a regulamentação das férias
de 15 dias úteis, através da Lei nº 4.982 (BRASIL, 1925), para os empregados de estabelecimentos comerciais,
industriais e bancários. Por meio do decreto 17.934‑A (BRASIL, 1927), estabeleceu‑se a idade mínima de 12 anos
para o trabalho. No governo de Getúlio Vargas, em 1931, criou‑se o Departamento Nacional do Trabalho, que
tinha a atribuição de fiscalizar questões relacionadas às atividades laborais, bem como casos de acidentes e, deste
departamento, surgiram posteriormente as atuais Delegacias Regionais do Trabalho (DRT).
Só lembrando que nesta época a população brasileira era essencialmente rural, tanto que o Ministério
da Agricultura tinha a atribuição de fiscalizar e estabelecer normas trabalhistas para a atividade de
trabalho em minas.
Na década de 1940, tivemos um marco importante para as questões trabalhistas no Brasil, a criação
da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), nas quais tivemos as primeiras referências às questões
referentes à higiene e à segurança do trabalho. Nesse mesmo momento, através do decreto‑lei nº
7.036 (BRASIL, 1944), em seu artigo 82, criou‑se a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa),
seguindo recomendações feitas pela OIT.
Na década de 1970, o uso e a aplicação de novas tecnologias resultaram em grandes mudanças nas
relações de trabalho e em sua organização, o que gerou novas formas de gerenciamento. O Brasil nesse
período se encontrava em expansão, havendo grandes investimentos em obras públicas e crescimento das
metrópoles, uma vez que a migração do homem rural para as cidades se dava em larga escala, em busca
de oportunidades e melhor qualidade de vida. Com isso, uma extensa massa de trabalhadores passou a
ficar exposta aos riscos das atividades de trabalho da indústria e da construção civil, o que levou o país a
atingir a cifra de 1.700.000 acidentes do trabalho. A partir daí, criou‑se a Lei nº 6.514 (BRASIL, 1977), que
estabeleceu a redação dos artigos da CLT números 154 ao 201, que tratam da segurança e medicina do
trabalho. A Portaria nº 3.214 (BRASIL, 1978a) origina as NR. Inicialmente eram 28, hoje já temos 36 delas.
Cabe lembrar que as NR são de aplicação obrigatória para todas as empresas, públicas ou privadas,
e para órgãos públicos de administração direta ou indireta, além daqueles dos poderes Judiciário e
Legislativo, onde se encontram empregados com contratos de trabalho regidos pela CLT.
indesejado, que acarreta a interrupção da atividade regular, podendo gerar danos materiais e/ou lesões
nas pessoas.
Na visão prevencionista, consideramos que o acidente é esperado, pois ele dá indícios de que irá
ocorrer. Temos a possibilidade de tomar ações para impedi‑lo.
Essa ideia decorre da evolução do estudo de três engenheiros que tiveram grande contribuição para
a prevenção de acidentes. Podemos dizer que tudo se iniciou com o engenheiro H. W. Heinrich, que
em uma de suas obras, a Industrial Accident Prevention (1931), correlacionou a questão do acidente
com danos à propriedade. Ele analisou algumas centenas de casos de acidentes de clientes da empresa
de seguros para a qual trabalhava e chegou a fazer uma associação entre acidentes incapacitantes,
acidentes não incapacitantes e acidentes sem lesão. Esta relação deu 1:29:300, respectivamente.
No final da década de 1950, e ao longo da década de 1960, o engenheiro Frank E. Bird Jr., dando
sequência aos estudos de Heinrich, estudou 90.000 acidentes da siderúrgica Lukens Steel e chegou
a uma nova relação, apresentando, em seu trabalho Damage Control, um novo elemento: danos à
propriedade. Assim, demonstrou sua versão da pirâmide como segue:
1 Lesão incapacitante
Figura 6
Bird não parou aí, continuou examinando com sua equipe mais casos e expandindo para mais
empresas, chegando a analisar 21 grupos industriais de diferentes áreas, sendo 297 empresas ao todo,
totalizando mais de três bilhões de horas de trabalho de 1.750.000 empregados. Com esse estudo, ele
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ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
trouxe uma nova informação importante, a questão do incidente ou quase acidente. Assim, conhecemos
a famosa pirâmide 641.
1 Lesão incapacitante
Figura 7
Com essa pirâmide ficou claro que os incidentes são o nosso alerta para uma situação que não está
bem e que, se nada for feito, ela irá se materializar em um acidente, vitimando algum trabalhador. Se
utilizarmos tal pirâmide para uma análise bem simples, podemos dizer que temos 600 oportunidades
de intervir em uma condição antes que haja um acidente grave ou fatal. Consequentemente, observar
os incidentes e buscar intervir nos problemas antes da ocorrência de um acidente é o objetivo de
toda atividade prevencionista. Por isso dissemos que acidente, para os prevencionistas, é um evento
programado, uma vez que dá sinais de que irá ocorrer, basta estar atento para interpretá‑los.
Como estamos falando sobre acidentes, entender o que é o de trabalho é muito importante. A lei que
trata do assunto é a de nº 8.213/91, que em seu artigo 19 diz:
I – o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única,
haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou
perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija
atenção médica para a sua recuperação;
IV – o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:
Também é importante entender que podemos encontrar duas causas básicas que levam aos acidentes: a
condição insegura e o ato inseguro. A primeira diz respeito ao ambiente, enquanto a segunda ao fator humano.
Observação
Podemos dizer que as condições inseguras talvez sejam consequência de deficiência ou ausência de
equipamentos coletivos de segurança, irregularidades técnicas que favorecem o surgimento de riscos à
saúde do trabalhador ou mesmo à sua integridade física, também podendo causar danos à propriedade.
Observação
Agora com estes conceitos, pode‑se entender a importância que a ergonomia vem tomando ao
longo de toda história, uma vez que fica claro compreender que, em síntese, ela busca adaptar, ao
trabalhador, o seu posto de trabalho, suas ferramentas, o ambiente em que desenvolve suas atividades,
preservando sua segurança e saúde, além de permitir que, através de um ambiente mais adequado,
possa aumentar a produtividade e a qualidade do que se produz.
Na área da saúde, tanto os médicos quanto os higienistas estavam interessados nas consequências
do trabalho sobre a saúde do homem. Já os engenheiros e os responsáveis por organizar os trabalhos,
queriam saber quanto esforço mecânico se poderia esperar de um homem.
Basicamente encontravam‑se dois tipos de pesquisadores. O primeiro deles formado por físicos
e fisiologistas, que focavam seus esforços em descobrir a forma de se medir o custo energético, ou
seja, a demanda de energia do corpo para determinada tarefa. Já o segundo grupo, mais voltado à
psicologia do trabalho, estudava as capacidades e aptidões cognitivas do trabalhador, suas habilidades
motoras e sensoriais, para poder assim estabelecer um perfil profissiográfico adequado para uma
determinada tarefa ou atividade e, desta forma, permitir que se contrate um profissional que atenda
a essas exigências.
Os princípios criados por Henry Ford, como a organização do trabalho em linhas de montagem, o
ritmo controlado pela velocidade da linha, o operário com posto de fixo, a larga escala de fabricação,
mostraram‑se importantes para o aumento da eficiência nas áreas de produção, porém, uma série de
problemas surgiu:
• o trabalhador era submetido ao trabalho exaustivo até o ponto de fadiga, buscando obter aumento
da produtividade;
21
Unidade I
• deixar o trabalhador fixo em uma determinada posição ao longo do tempo acabou por transformá‑lo
em um autômato;
• a estratégia de colocar o operador mais hábil no início da linha de montagem gerava correria e
sobrecarga dos demais trabalhadores da linha, que tinham que se esforçar para alcançar o mesmo
ritmo;
• a impossibilidade de criar um modelo, ou método único, para todos trabalhadores, haja vista cada
um possui suas próprias características e habilidades, sendo todos diferentes entre si;
Com esse panorama, a ergonomia surgiu, buscando aproveitar o que havia de bom nos sistemas
produtivos e com a proposta de preservar a saúde do trabalhador.
• Postura e movimentos corporais: em pé, sentado, levantando cargas, puxando cargas, empurrando
cargas etc.
22
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Agentes
ergonômicos
Situação
Esforço Exigência Controle Imposição
de stress
físico de postura rígido de de ritmos
físico e/ou
intenso adequada produtividade excessivos
psíquico
Levantamento
Trabalhos em Jornadas
e transporte Monotonia e
turnos diurno de trabalho
manual de repetitividade
e noturno prolongadas
peso
Figura 8
O estudo da ergonomia está intimamente ligado a outras áreas científicas, tais como:
fisiologia, psicologia, antropometria, eletrônica, desenho industrial, toxicologia, engenharia
mecânica, biomecânica e informática. Por meio da contribuição de todos esses setores, a
ergonomia desenvolveu métodos e técnicas específicas com o objetivo primordial de melhorar
as condições de vida da população como um todo, tanto no que diz respeito ao cotidiano como
ao ambiente de trabalho.
De acordo com o Galafassi (1999), os agentes ergonômicos podem provocar distúrbios psicológicos
e fisiológicos no trabalhador, atrapalhando não só sua produtividade, mas sua segurança.
Seu foco principal é o homem, para quem a busca pela minimização de insegurança, insalubridade,
ineficiência e desconforto é constante.
A ergonomia possui um significado social, pois contribui para resolver um vasto número de
dificuldades e problemas sociais dirigidos à segurança, à saúde, ao conforto e à eficiência.
Inúmeras situações de trabalho e da vida no dia a dia são prejudiciais diretos à saúde, como
as doenças do sistema musculoesquelético (dores nas costas) e as doenças psicológicas (estresse,
depressão, entre outras). Desta forma, OMS e OIT definiram saúde ocupacional como sendo a
promoção e a manutenção do bem‑estar físico, mental e social dos trabalhadores, a prevenção dos
agravos à saúde causados pelas condições de trabalho e a adaptação do trabalho ao homem e de
cada homem à sua atividade. Alguns conhecimentos em ergonomia foram convertidos em normas
oficiais, que serão estudados em módulos posteriores, dada sua relevância na redução de erros
operacionais e de acidentes.
Não se pode esquecer que existe um princípio aplicado à ergonomia que recomenda que sistemas,
tarefas e equipamentos devem ser projetados para o uso coletivo, apesar das diferenças individuais da
população. Em casos especiais, devem ser criados e implementados projetos específicos.
23
Unidade I
Lembrete
2 A ERGONOMIA E A EMPRESA
• ganho de produtividade;
• redução do absenteísmo;
Desta forma, quando bem apresentado à empresa, fica claro que se trata de um investimento com
retorno garantido, no qual a instituição obterá resultados, como aumento de produtividade, serviços
ou produtos com qualidade, contribuindo para um ganho de competitividade da empresa. Contudo,
para conquistar tudo isso, torna‑se importante a compreensão de que a ergonomia é muito ampla e
multidisciplinar, o que torna necessária a contratação de profissionais especialistas e com entendimento
de toda a abrangência.
24
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Finalidades
Anatomia Projeto de
ERGONOMIA produtos / Desenho industrial
Antropometria Estação de Engenharia do produto
1 - Apreciação ergonômica
trabalho
Biomecânica
ocupacional Abordagem
sistêmica Projeto do Arquitetura
Fisiologia do ambiente de Engenharia de
trabalho Modelagem trabalho segurança
comunicacional
Medicina do Projeto de
trabalho sistemas e
2 - Diagnose ergonômica Programação visual
componentes
Psicologia do comunicacionais / Comunicação social
trabalho Análise
macroergonômica Informação
Psicopatologia
do trabalho Análise da tarefa Projeto de Recursos humanos
programas Recrutamento, seleção
Psicologia Medidas quantitativas instrucionais e treinamento
experimental com instrumentos
Projeto
Psicologia Engenharia industrial /
3 - Projetação ergonômica operacionalização
cognitiva de produção
da tarefa /
Organização do
4 - Avaliação, validação e/ou Organização do
Semiótica trabalho
testes ergonômicos trabalho
Sociologia do
trabalho 5 - Detalhamento Engenharia de sistemas
ergonômico e otimização Projeto de
software Análise e programação
Antropologia de sistemas
A proteção da integridade física e mental dos trabalhadores se torna um fator importante para combater os
custos decorrentes de indenizações por doenças ocupacionais e acidentes do trabalho, sendo assim necessário
que a empresa conte com ações efetivas sobre saúde no ambiente do trabalho. É fundamental lembrar que,
além do prejuízo financeiro, temos sofrimento humano, dor e depressão que podem afetar o empregado.
• Utilização da mesa:
— regulagem de altura;
25
Unidade I
• Utilização da cadeira:
— o colaborador deve produzir sentado e o ângulo conhecido como tronco‑coxas precisa estar
compreendido entre 90 e 110 graus;
— o encosto da cadeira deve ter lugar adequado para o apoio da região lombar;
— não deve ser coberta com material que promova o aumento da sudorese, como napa, couro
ou courvin.
• Utilização de acessórios:
26
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
1
1 - Cabeça: evite esticá-la para frente e para trás
6 - a cada grau que seu pescoço é inclinado para
frente, são adicionados 7 kg de pressão às juntas do
2 pescoço. A tela deve ficar à distância de um braço.
2 - Pescoço: alongado e relaxado.
3
3 - Ombros: no nível do peito; peito aberto e
alongado.
7
4 - Cotovelos: relaxados, em ângulo reto. Devem
estar descansados em um apoio.
4
5 - Cadeira: inclinada ligeiramente para baixo.
8 6 - Tela: na altura dos olhos ou ligeiramente abaixo.
7 - Punhos: relaxados em posição neutra, sem
flexionar para cima ou para baixo.
8 - Joelhos: ligeiramente mais baixos que as coxas.
9 5
9 - Pés: no chão ou sobre um apoio.
Outros cuidados devem ser tomados ao se usar computador no dia a dia, são eles:
• devem ocorrer pausas periódicas, com vistas ao descanso dos olhos e das mãos;
• os membros inferiores devem estar devidamente apoiados sobre o chão ou suporte adequado.
Errado!
Certo!
27
Unidade I
Errado!
Certo!
Figura 12
Errado!
Certo!
Figura 13
Errado!
Certo!
Com estas informações você já é capaz de analisar como anda a sua postura frente ao posto de
trabalho com o computador, onde está errado, onde está certo, e como melhorá‑la.
Outro fator importante que vem ganhando mais relevância a cada ano é a Síndrome Visual
do Computador (SVC), que afeta os olhos, uma vez que, com a concentração dedicada à tela do
computador, passamos a piscar menos vezes, lubrificando menos os olhos, além da contração da
íris e da fatiga visual.
28
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Saiba mais
As Normas de Segurança e Saúde no Trabalho (SST), chamadas de NR, estão previstas no capítulo V
da CLT (BRASIL, 1977). Atualmente são 36, mas apenas 35 estão em uso. Algumas delas são genéricas,
que tratam de assuntos mais amplos e gerais de SST, sendo seu cumprimento obrigatório, ou seja,
compulsório para diversos setores da economia.
Figura 15 – Prédios dos ministérios, em Brasília. A esplanada dos ministérios da Capital Federal
Também iremos encontrar normas específicas transversais, que falam sobre temas específicos que
não ficam restritos a um determinado setor econômico. Já as normas específicas não transversais são de
aplicação a um determinado setor econômico.
29
Unidade I
Vamos apresentar uma breve abordagem sobre elas. É possível reparar que de uma forma geral
elas estão divididas em obrigações do empregador, obrigações dos empregados, eventualmente de um
fabricante de equipamento ou produto, e obrigações do agente fiscalizador, geralmente, o Estado.
4 AS NORMAS REGULAMENTADORAS
NR 1 – Disposições gerais
Falando sobre responsabilidade do empregador, temos no item 1.7 uma série de obrigações,
como segue:
II. os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela empresa;
NR 2 – Inspeção prévia
Já encontramos em seu primeiro item: “2.1 Todo estabelecimento novo, antes de iniciar suas
atividades, deverá solicitar aprovação de suas instalações ao órgão regional do MTb (BRASIL, 1978c).”
NR 3 – Embargo ou interdição
Em seu primeiro item já esclarece seu papel e importância: “3.1 Embargo e interdição são medidas
de urgência, adotadas a partir da constatação de situação de trabalho que caracterize risco grave e
iminente ao trabalhador (BRASIL, 2011).”
Assim, perante um risco grave ou iminente, o Auditor Fiscal do Trabalho pode embargar ou paralisar
a atividade para garantir a segurança do empregado.
30
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Observação
A criação do SESMT é um modelo tipicamente nacional, pois foi o primeiro a oferecer o serviço
de engenharia de segurança no seio da empresa e o serviço de medicina do trabalho. Trata‑se de um
passo muito importante, uma vez que as empresas passaram a ter em seus quadros de empregados
os profissionais prevencionistas para orientar e esclarecer sobre as aplicações das NR, das técnicas
prevencionistas, determinando procedimentos de segurança, dando treinamentos etc., em prol da
segurança dos trabalhadores.
Tabela 1
31
Unidade I
A Cipa, por sua vez, está presente em um número muito maior de empresas, já que se torna necessária
a partir de 20 trabalhadores, dependendo do grupo em que a instituição se encontra.
Entre suas atribuições, uma das mais importantes é a elaboração do mapa de riscos, que vem atender
à premissa básica da SST, que é: o direito do saber versus o dever de informar.
Como poderiam os trabalhadores se proteger de riscos se não souberem que estão presentes no seu
local de trabalho?
32
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
ou químicos. Esses equipamentos deveriam ser a última alternativa a ser utilizada para a proteção dos
trabalhadores, seguindo a hierarquia, como já abordado, devendo antes buscar:
• eliminar o risco na fonte;
• não sendo possível, mantê‑lo sob controle com medidas coletivas;
• por último, adotar EPI.
Conforme a NR 6, itens 6.6 e 6.7:
34
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Capacete de segurança
Óculos de segurança
Abafador de ruído
Camisa ou camiseta
(Não pode ser manga regata)
Cinto de segurança
Luvas de raspa
Máscara filtradora
Calça comprida
Calçado fechado
Figura 17 – EPIs
Outro ponto importante a se destacar é a necessidade de um Certificado de Aprovação (CA) para que
o EPI seja válido.
35
Unidade I
Lembrete
Art. 168 – Será obrigatório exame médico, por conta do empregador, nas
condições estabelecidas neste artigo e nas instruções complementares a
serem expedidas pelo Ministério do Trabalho:
I – na admissão;
II – na demissão;
III – periodicamente.
b) complementares.
36
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
O PCMSO se resume a uma avaliação clínica, nas hipóteses de admissão, demissão, avaliação
periódica, com o tempo determinado pelo item 7.4.3.2 NR n° 7, que diz:
NR 8 – Edificações
que devem ser observados, com a finalidade de proporcionar conforto e segurança aos que nela estão
inseridos.
Aqui é importante se fazer um parêntese para falar que esta NR não traz qualquer recomendação
destinada à proteção do empregado portador de necessidades especiais, neste caso deveremos
buscar a NBR 9050 (BRASIL, 2015), a qual trata da acessibilidade em edificações, espaços e
equipamentos urbanos.
As normas de acessibilidade são de interesse social e citadas por suas leis federais.
Saiba mais
• Comunicação e sinalização: na versão anterior, o piso tátil era mencionado, mas não havia
detalhamento sobre este importante recurso utilizado pelas pessoas com deficiência visual. Na
versão revisada, tal item recebeu especificações como sendo de alerta ou orientação, determinando
diferenciação entre relevo e rugosidade. Também a localização do piso tátil, que deve ser aplicado
no início ou fim de rampa, o rebaixamento de guia e beiradas de plataformas, entre outros, foi
especificada. Outra mudança observada no aspecto da comunicação e sinalização é a utilização de
pictogramas, enfatizando a perspectiva visual. A sinalização tátil recebe destaque pelo emprego
de caracteres em relevo e pela versão em braile.
• Inclinação de rampas: antes, era permitida até 10%, agora estabelece‑se o limite de 8%, mesmo
índice definido em normas de países da Europa e nos Estados Unidos.
• Sanitários: eles também foram otimizados. A alteração ocorre no espaço livre entre o vaso sanitário
e a abertura da porta, que deve ser de, no mínimo, 0,60 m, para evitar que a abertura da porta seja
impedida pela peça sanitária. As barras de apoio em frente à pia passam a ser item obrigatório
para um sanitário acessível.
38
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Saiba mais
O PPRA é um programa que visa à proteção da saúde do trabalhador no seu ambiente de trabalho.
Ele tem um papel importante pois, seguindo as orientações da norma para sua elaboração, fica clara a
necessidade de que se anteveja o perigo, agindo de forma preventiva e proativa.
Trata‑se de um documento fundamental, que irá compor um sistema de gestão de SST na empresa,
voltado para proteção e saúde dos funcionários. Ele interage com os demais programas obrigatórios,
constituindo o que seria uma gestão mínima de SST a ser seguida.
A partir do mapeamento dos riscos, sendo que o PPRA avalia os riscos físicos, químicos e biológicos,
realiza-se o monitoramento e o controle dos riscos existentes no local de trabalho e as medidas adotadas
para evitar os acidentes e as doenças ocupacionais.
Este programa deve andar em conjunto com o PCMSO, pois um depende do outro e ambos se
validam. Ele precisa ser realizado anualmente, ou sempre que for necessário devido a alguma mudança
significativa no layout do ambiente de trabalho do estabelecimento.
Trata‑se de uma norma que determina que em todas as intervenções em instalações elétricas devem
ser adotadas medidas preventivas de controle do risco elétrico e adicionais, mediante técnicas de análise,
de forma a garantir a segurança e a saúde no trabalho.
39
Unidade I
Esta norma é de larga aplicação, uma vez que encontramos, nas mais diversas atividades econômicas,
movimentação e armazenagem de cargas. Ela determina, entre outras coisas, regras de segurança para
operação de elevadores, guindastes, transportadores industriais e máquinas transportadoras, bem
como formas de armazenagem dos mais variados materiais, exigências de habilitação do operador do
equipamento, dispositivos de segurança etc.
Esta norma tem gerado muita disputa por parte dos empresários, já que exige investimento para
adequar equipamentos e máquinas aos padrões de segurança para os operadores. Estabelece as medidas
de prevenção de segurança e higiene do trabalho relacionadas com a instalação, operação e manutenção
de máquinas e equipamentos. Muitas empresas ainda a seguem, ela é de extrema importância no que
diz respeito à segurança dos operadores.
NR 14 – Fornos
Pode‑se localizar aqui as condições legais voltadas à construção, operação e manutenção dos fornos
industriais nos ambientes de trabalho, sejam eles para qualquer utilização, que devem ser construídos
solidamente, revestidos com material refratário, de forma que o calor radiante não ultrapasse os limites
de tolerância estabelecidos pela NR nº 15 para atividades e operações insalubres que veremos a seguir.
Então, nesta NR vamos encontrar a descrição de atividades, operações e agentes insalubres, inclusive
seus limites de tolerância e meios de proteção dos trabalhadores das exposições nocivas à saúde.
O conceito destas atividades pode ser encontrado nos artigos 189, 190, 191 e 192 da CLT:
40
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Observação
• Anexo nº 4 – (Revogado).
• Anexo nº 8 – Vibrações.
• Anexo nº 9 – Frio.
• Anexo nº 10 – Umidade.
• Anexo nº 13 A – Benzeno.
Podemos citar como exemplo a exposição ao ruído. A NR 15 determina como limites de exposição
diária, o seguinte:
42
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Ou seja, o limite de exposição para uma jornada de 8 horas é de 85 dB (A). Conforme a pressão
sonora se eleva, o tempo de exposição deve diminuir.
Outro modelo trata da exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente, conforme a seguinte tabela:
Tabela 3 – Regime de trabalho intermitente
43
Unidade I
• Anexo 3 – Atividades e operações perigosas com exposição a roubos ou outras espécies de violência
física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial.
• Anexo sem número – Atividades e operações perigosas com radiações ionizantes ou substâncias
radioativas – Atividades/Áreas de risco.
NR 17 – Ergonomia
a) as normas de produção;
b) o modo operatório;
c) a exigência de tempo;
e) o ritmo de trabalho;
NR 19 – Explosivos
A presente NR considera explosivo, todo material ou substância que, quando iniciado, sofre
decomposição muito rápida em produtos mais estáveis, com grande liberação de calor e desenvolvimento
súbito de pressão, levando em conta que as atividades de fabricação, utilização, importação, exportação,
tráfego e comércio de explosivos devem obedecer ao disposto na legislação específica, em especial ao
45
Unidade I
Regulamento para Fiscalização de Produtos Controlados (R‑105) do Exército Brasileiro, aprovado pelo
Decreto nº 3.665 (BRASIL, 2000).
Saiba mais
Estabelece requisitos mínimos para a gestão da segurança e saúde no trabalho contra os fatores de risco
de acidentes provenientes das atividades de extração, produção, armazenamento, transferência, manuseio
e manipulação de inflamáveis e líquidos combustíveis, e se emprega às atividades de extração, produção,
armazenamento, transferência, manuseio e manipulação de inflamáveis e de líquidos combustíveis, nas etapas
de projeto, construção, montagem, operação, manutenção, inspeção e desativação da instalação, mas não se
aplica às plataformas e instalações de apoio empregadas com a finalidade de exploração e produção de petróleo
e gás do subsolo marinho, conforme definido no Anexo II, da NR 30 – Segurança e saúde no trabalho aquaviário.
Trata das normalizações em termos de conforto e higiene nos locais de trabalho, relacionados com
banheiros, vestiários, refeitórios, cozinhas, alojamentos e suprimento de água potável aos trabalhadores.
NR 25 – Resíduos industriais
Aborda as medidas de cunho preventivo que devem ser observadas com relação ao destino final a
ser conferido aos resíduos industriais surgidos nos ambientes de trabalho.
NR 26 – Sinalização de segurança
Visa fixar o esquema de cores que podem ser utilizadas nos locais de trabalho, voltadas à prevenção
de acidentes, identificando onde estão situados os equipamentos de segurança, as canalizações para a
condução de líquidos e gases e os avisos de advertência quanto aos riscos.
NR 28 – Fiscalização e penalidades
Define os primeiros socorros que devem ser prestados a acidentados, com o propósito de melhorar a saúde,
evitando as doenças profissionais, e a segurança dos trabalhos portuários, tanto a bordo quanto em terra.
47
Unidade I
Aplica‑se aos trabalhadores das embarcações comerciais de bandeira nacional, bem como às de
bandeiras estrangeiras, no limite do disposto na Convenção da OIT nº 147 – Normas Mínimas na
Marinha Mercante, utilizadas no transporte de mercadorias ou de passageiros, inclusive naquelas
embarcações empregadas na prestação de serviços. Emprega‑se na forma estabelecida em seus
Anexos, aos trabalhadores das embarcações artesanais, comerciais e industriais de pesca, das
embarcações e plataformas destinadas à exploração e produção de petróleo, das embarcações
específicas para a realização do trabalho submerso e de embarcações e plataformas destinadas a
outras atividades.
Visa caracterizar o que são espaços confinados (não construídos para a ocupação humana) e trata
do reconhecimento, monitoramento e controle dos riscos existentes nessas localidades.
É relativa às normas de proteção nesse tipo de fábrica. A indústria da construção e reparação naval
também é conhecida como estaleiro, um local onde se constroem, guardam e desenvolvem grandes
reparações em embarcações ou suas partes, para todos os fins, militares, transporte, polícia, lazer, pesca,
como, por exemplo, quando se quer aumentar o tamanho de um navio, divide‑se, então, ao meio o
navio e o reconstrói, com a ampliação do meio; naturalmente, depois de muito cálculo e matemática,
de exames em protótipos e/ou modelos para avaliar se o projeto é viável ou não.
48
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
NR 35 – Trabalho em altura
Trata das medidas de controle e monitoração dos riscos existentes nas indústrias de abate e de
processamento de carnes e seus derivados, destinadas ao consumo humano, para garantir, de forma
permanente, a segurança, a saúde e a qualidade de vida nesse tipo de trabalho.
Resumo
Exercícios
Questão 1. (IADES 2011) Segundo a NR 17 – Ergonomia, que visa estabelecer parâmetros que
permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores,
de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente, é correto afirmar
que os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos requisitos mínimos de conforto,
dentre eles:
C) Encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar.
17.3.3. Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos
de conforto:
d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar.
50
ERGONOMIA, ACESSIBILIDADE E SEGURANÇA DO TRABALHO
Questão 2. (FCC/TRT 2015, adaptada) Atenção: Considere o texto a seguir para responder à questão.
A empresa Plastic é classificada como grau de risco 3 e possui 400 funcionários. Portanto, é obrigada
a manter o SESMT, dimensionado de acordo com a NR‑4, contendo:
51