A Origem Do Teatro
A Origem Do Teatro
A Origem Do Teatro
Iniciemos dizendo que o teatro sempre esteve presente no contexto das representaes religiosas das mais antigas civilizaes, quer ocidentais, quer orientais. Na ndia, desde o sculo XVI a.C., atribua-se a paternidade do teatro litrgico a Brama. O budismo instituiu, na China antiga, um verdadeiro teatro religioso. O Egito realizava um teatro cujos temas centrais eram a ressurreio de Osris e a morte de Hrus.
Nos tempos pr-helnicos, os cretenses j celebravam seus mitos em teatros, dos quais as escavaes em Knossos do testemunho, remontando ao sculo XIX a.C.
At os fins do sculo VI e incio do V a.C., historicamente, temos o teatro litrgico, cujo escopo era atestar a imortalidade da alma; isto inclusive, na prpria Grcia.
Este teatro litrgico era praticado na Hlade como principal elemento da religio dos mistrios, da crena esotrica na imortalidade da alma e na existncia de uma vida ps -tumular. Ligava-se ao culto de Persfone , a filha de Demter, que, raptada pelo Deus infernal, Hades, lanou a me em desespero absoluto. A paixo de Demter, senhora dos campos, causou esterilidade das sementes, desastres nas colheitas, os animais morriam de peste, as mulheres abortavam. Demter, alucinada de dor pelo desaparecimen to de sua filha adolescente, convidada para um banquete sacrlego, no se apercebe da afronta que Tntalo prope aos Imortais, e pratica, inadvertidamente, uma das raras aes antropofgicas da mitologia grega. Por este insulto, estaria condenado o cl d os Atridas s aes trgicas, que culminariam no dio aberrante de Electra por sua me. Pois bem, para que cus e terra, olmpicos e etonianos pudessem voltar a uma convivncia equilibrada, negociaram a me e o raptor, que a jovem deusa Persfone passaria seis meses do ano nas profundezas infernais, reinando como soberana ao lado de Hades, seu marido. Nos outros seis meses, retornaria companhia de sua me. O primeiro perodo corresponderia aos meses de outono e inverno, em que a natureza fenece e no h colheita. O segundo, quando os campos florescem e a natureza festeja a sua pujana, seria o perodo de primavera-vero, destinado, todavia, ao ciclo intermitente das estaes,
como que lembrando que todo retorno j uma nova partida. A Persfone que vem de encontro me j no a adolescente pbere que Demter conhecia, mas a mulher transformada pelo encontro com Eros, nos braos de Tnatos, outro nome do prprio Hades. Esse enredo mtico era celebrado, anualmente, como o drama do retorno, realizado em trs partes: rapto de Persfone, paixo de Demter; e retorno de Persfone. Realizado em locais de culto, por iniciados e postulantes, e em consonncia ao que determinavam os rituais mistricos e seus sacerdotes, tratava -se de dramaturgia eminentemente religiosa.
O teatro surge como novidade artstica, na Grcia do sculo V a.C., trazendo normas estticas, temas e convenes prprias. Segundo Aristteles (384-322 a. C.), as principais formas dramticas ento conhecidas, a tragdia e a comdia , evoluram, respectivamente, do ditirambo e das canes flicas. O passo decisivo para a fixao e evoluo desse teatro foi, sem dvida, a instituio do Estado dos concursos pblicos, em 534 a. C. , o que coincide com a estabilizao do governo democrtico em Atenas. A regulamentao dos concursos exigia a inscrio, por candidato, de trs tragdias e um drama satrico. As cerca de trinta peas que sobreviveram de mais de mil escritas s no sculo V, so, ao lado da obra terica de Aristteles, infelizmente fragmentada, os principais documentos que temos para embasar nosso conhecimento do que foi o tetro grego. Essas peas pertencem a trs tragedigrafos, squilo (525 -456 a. C.), Sfocles (496-406 a. C.) e Eurpedes (484-406 a. C.), e a um comedigrafo, Aristfanes (4 48?-380? a. C.).
Os concursos dramticos aconteciam durante trs festivais que eram organizados anualmente em honra ao deus Dionsio. Eram eles o de Lenaia, a dionsia rural e a dionsia urbana. A administrao desses festivais ficava a cargo de um arconte , o principal magistrado civil de Atenas. O custo da produo era dividido entre o Estado, responsvel pela manuteno do teatro, pelo pagamento do coro e dos prmios, e os coregos, espcie de mecenas da poca, escolhidos entre os poderosos da cidade, que subvencionavam os atores, os cenrios e os figurinos. Cada concurso comportava trs concorrentes trgicos e cinco cmicos. Os prmios eram destinados aos poetas e, mais tarde, tambm aos atores e coregos. No conhecido, porm critrio que estabele cia quem concorria a premiao. A presena de um coro, dominante na obra de squilo e substancialmente reduzido na de Eurpedes, foi contudo, uma constante no teatro grego. As funes do coro foram muitas, desde agente da ao, em squilo, a modelo tico e padro social. Chamado de o espectador
ideal pela crtica do sculo XX, o coro permite, ainda, a criao de atmosferas, acrescenta msica e movimento ao espetculo, alm de possibilitar convencionais passagens de tempo. Os efeitos visuais de espetculo grego ficavam por conta da indumentria e do uso da mscara . Um sapato de solado exageradamente alto, chamado coturno, era supostamente usado. Tal tipo de calado elevaria a estatura do ator e ajudaria projetar a figura. A arquitetura do teatro grego era est ruturada em dois segmentos separados, o " thatron " e a " sken " , ligados pela " orchstra " . A lotao completa de um auditrio era cerca de 20 mil pessoas, mais ou menos 10% da populao da tica no sculo V. A vitalidade do teatro grego decaiu aps o sculo I d. C. . Com a supremacia de Roma em toda a parte oriental do Mediterrneo, os modelos da cultura grega foram, gradativamente, sendo substitudos. As marcas do teatro grego, contudo, se fazem sentir hoje n o melhor do teatro do Ocidente.
Vocabulrio - Osris: o nico entre os deuses egpcios que tem um "destino", ncleo do seu ser e em cujo centro est a morte. - Hrus: "criana divina". Hrus tambm o "heri" divino como guerreiro e caador crescido - Persfone: deusa dos infernos e companheira de Hades - Demter: pertence segunda gerao divina, a dos Olmpicos. filha de Crono e Ria. Divindade da terra cultivada, ensinou aos homens a arte de semear e colher o trigo, de fabricar o po. chamada a d eusa me, ou a Grande Me - Hades: deus dos mortos, filho de Crono e Ria, teve o mundo subterrneo. Tinha sido engolido por Crono, seu pai, e depois rejeitado. - Tntalo: filho de Zeus, reinava na Ldia, sobre o Monte Spilo. Rico e amado pelos deuses, que o admitiam em seus festins, era amado tambm pelos mortais. - Electra: filha de Oceano e de Ttis, foi casada com Taumas e me de ris, a mensageira dos deuses, e de duas Harpias. - Tragdia: A tradio atribui a Tspis a criao da primeira tragdia. Quanto a sua origem, aceitemos a opinio de Aristteles de que a tragdia provm do ditirambo. Os conceitos de Aristteles sobre o fenmeno trgico, a despeito de terem sido os primeiros, permanecem ntegros at hoje, ponto de referncia obrigatrio, alis, para qualquer
discusso sobre a matria. Entre esses conceitos, destaque -se o de ao*, o de imitao* e o de catarsis*. Aristteles diz que " a tragdia a imitao de uma ao importante e completa, de certa extenso; num estilo tornado agradvel pelo e mprego separado de cada uma de suas formas, segundo as partes; ao apresentada, no com a ajuda de uma narrativa, mas por atores, e que suscitando a compaixo e o terror, tem por efeito obter a purgao dessas emoes" (Potica cap.VI). A base sobre a qual evoluiu o sentido do trgico, em qualquer poca ou cultura, pode, finalmente, ser definida como a conscincia da atitude ntegra e corajosa do homem Face derrota causada pela sua prpria limitao diante de foras que lhe so superiores.
- Imitao*: para Aristteles, a imitao algo instintivo ao homem. Assim sendo, este se expressa artisticamente reproduzindo a realidade que o cerca, ou seja, "imitando" essa realidade atravs de um processo de representao. A imitao, segundo Aristteles, um princpio comum a todas as artes, poesia, msica, dana, pintura ou escultura. As diferenas que essas artes apresentam so, pois, de natureza formal, e podem ser quanto ao meio empregado para imitar, quanto ao objeto imitado ou ao modo de imitao. - Ao*: por ao, consideremos, como Hegel (1770-1831), " a vontade humana que persegue seus objetivos " (parafraseado por Renata Pallottini em Introduo Dramaturgia, p. 16) - Catarsis*: termo empregado por Aristteles para definir a finalidade ltima da tragd ia como sendo a purgao ou purificao das emoes de terror e compaixo. A complexidade de determinar um significado preciso para tal conceito est relacionada tanto a problemas de traduo quanto a problemas de interpretao. Catrsis, em grego, na verdade pode significar tanto " purgao" , no sentido mdico de limpeza do corpo, como " purificao", no sentido religioso de limpeza de esprito. - Comdia: uma das formas principais do drama, que enfatiza a crtica e a correo atravs da deformao e do r idculo. O efeito principal provocar o riso. Historicamente, as razes da comdia se perdem em perodos pr-documentados. A indicao mais precisa dada por Aristteles, de que a comdia resulta de cantos flicos entoados em honra ao deus Dionsio (cap. IV da Potica) - Ditirambo: forma pr-dramtica pertencente ao teatro grego. Consistia em poesia lrica escrita para ser cantada por um coro de cinqenta membros em cerimnias em homenagem ao deus Dionsio. O lder desse coro, ou corifeu, com a evoluo do gnero, transformou-se num solista, ou, mais especificamente, no protagonista, e o dilogo que se estabeleceu entre ele e os demais membros do coro parece Ter sido,
segundo diversos tericos, entre os quais Aristteles, uma das fontes da tragdia.
- Drama Satrico: no teatro grego, tipo de pea burlesca que era apresentada aps a trilogia trgica. Nos dramas satricos, um personagem central, geralmente um dos heris trgicos vistos na trilogia precedente, era caricaturado numa situao ridcula qualqu er. O comentrio crtico era feito por um coro vestido de stiros, os personagens mitolgicos meio-homem, meio-cavalo que formavam a corte de Dionsio. Os dramas satricos eram escritos pelo mesmo autor da trilogia, como parte integrante do concurso trgico. A linguagem verbal desses dramas era, em geral, licenciosa, e a gestual, verdadeiramente indecente. - Arconte: no teatro grego, o principal magistrado civil de Atenas, responsvel pela administrao dos festivais dos festivais em que eram realizados anualmente os concursos dramticos. Coro: a principal caracterstica do coro falar ou cantar em unssono. O coro aparece pela primeira vez no teatro grego, originrio das festividades comunais, bquicas ou dionisacas. O coro no teatro representa, em suas origens esse sentimento do coletivo que deu incio manifestao teatral na Grcia. - Corego: as despesas com a produo de um espetculo no teatro grego eram divididas entre o Estado, responsvel pela manuteno dos teatros, premiao e pagamento dos a tores, e o corego, responsvel pelas despesas relativas ao coro, msicos, figurinos e adereos. O corego era um dos cidados de posses da comunidade. - Indumentria: em termos gerais, a arte do vesturio em relao a pocas e povos. Em teatro, os trajes usados pelos pelos personagens das peas. - Mscara: possivelmente , o mais simblico elemento de linguagem cnica atravs de toda histria do teatro. Seu uso, provavelmente, remonta representao de cabea de animais em rituais primitivos, quando ou o obj eto em si ou o personagem que o usava representavam algum misterioso poder. No teatro grego a mscara foi utilizada tanto na tragdia como na comdia, atendendo a vrias funes: diferenciar sexo e idade; permitir a execuo de mais de um papel pelo mesmo ator; e segundo alguns tericos, ampliar o som da voz humana numa espcie de caixa acstica. - Coturno: calado de solado alto, de aproximadamente 20 a 30 centmetros de altura, supostamente usado pelo ator trgico no teatro grego. A funo desse tipo de c alado era elevar a estatura do ator, projetando-lhe a figura, o que se fazia necessrio diante das enormes dimenses dos teatros.
- Thatron: Palavra grega para denominar o auditrio dos antigos teatros. Literalmente significa " lugar de onde se v" . - Skne: o antigo teatro grego era constitudo por duas unidades arquitetnicas separadas, o "thatron" e a "sken", ligadas pela "orchstra". Literalmente, do grego, sken significa "tenda, barraca", e originalmente o termo referia -se ao local onde os atores se vestiam.
surgiu quando Portugal comeou a fazer do Brasil sua colnia (Sculo XVI). Os Jesutas, com o intuito de catequizar os ndios, trouxeram no s a nova religio catlica, mas tambm uma cultura diferente, em que se inclua a literatura e o teatro. Aliada aos rituais festivos e danas indgenas, a primeira forma de teatro que os brasileiros conheceram foi a dos portugueses, que tinha um carter pedaggico baseado na Bblia. Nessa poca, o maior responsvel pelo ensinamento do teatro, bem como pela autoria das peas, foi Padre Anchieta. O teatro realmente nacional s veio se estabilizar em meados do sculo XIX, quando o Romantismo teve seu incio. Martins Pena foi um dos responsveis pr isso, atravs de suas comdias de costumes. Outros nomes de destaque da poca foram: o dramaturgo Artur Azevedo, o ator e empresrio teatral Joo Caetano e, na literatura, o escritor Machado de Assis Fonte: encena Teatro dos jesutas - Sculo XVI Nos primeiros anos da colonizao, os padre s da chamada Companhia de Jesus (Jesutas), que vieram para o Brasil, tinham como principal objetivo a catequese dos ndios. Eles encontraram nas tribos brasileiras uma inclinao natural para a msica, a dana e a oratria. Ou seja: tendncias positivas p ara o desenvolvimento do teatro, que passou a ser usado como instrumento de "civilizao" e de educao religiosa, alm de diverso. O teatro, pelo "fascnio" da imagem representativa, era muito mais eficaz do que um sermo, pr exemplo. As primeiras peas foram, ento, escritas pelos Jesutas, que se utilizavam de elementos da cultura indgena (a comear pelo carter de "sagrado" que o ndio j tinha absorvido em sua cultura), at porque era preciso "tocar" o ndio, falando de coisas que ele conhecia. Mist urados a esses elementos, estavam os dogmas da Igreja Catlica, para que o objetivo da Companhia - a catequese no se perdesse. As peas eram escritas em tupi, portugus ou espanhol (isso se deu at 1584, quando ento "chegou" o latim). Nelas, os persona gens eram santos, demnios, imperadores e, pr vezes, representavam apenas simbolismos, como o Amor ou o Temor a Deus. Com a catequese, o teatro acabou se tornando matria obrigatria para os estudantes da rea de Humanas, nos colgios da Companhia de Jesu s. No entanto, os personagens femininos eram
O teatro brasileiro
proibidos (com exceo das Santas), para se evitar uma certa "empolgao" nos jovens. Os atores, nessa poca, eram os ndios domesticados, os futuros padres, os brancos e os mamelucos. Todos amadores, que atuava m de improviso nas peas apresentadas nas Igrejas, nas praas e nos colgios. No que diz respeito aos autores, o nome de mais destaque da poca o de Padre Anchieta . dele a autoria de Auto de Pregao Universal, escrito entre 1567 e 1570, e representad o em diversos locais do Brasil, pr vrios anos. Outro auto de Anchieta Na festa de So Loureo, tambm conhecido como Mistrio de Jesus. Os autos sacramentais, que continham carter dramtico, eram preferidos s comdias e tragdias, porque eram neles q ue estavam impregnadas as caractersticas da catequese. Eles tinham sempre um fundo religioso, moral e didtico, e eram repletos de personagens alegricos. Alm dos autos, outros "estilos teatrais" introduzidos pelos Jesutas foram o prespio, que passou a ser incorporado nas festas folclricas, e os pastoris. Fonte: encena Sculo - XVII No sculo XVII, as representaes de peas escritas pelos Jesutas - pelo menos aquelas com a clara finalidade de catequese - comearam a ficar cada vez mais escassas. Este perodo, em que a obra missionria j estava praticamente consolidada, inclusive chamado de Declnio do Teatro dos Jesutas. No entanto, outros tipos de atividades teatrais tambm eram escassos, pr conta deste sculo constituir um tempo de crise. As enc enaes existiam, fossem elas prejudicadas ou inspiradas pelas lutas da poca (como pr exemplo, as lutas contra os holandeses). Mas dependiam de ocasies como festas religiosas ou cvicas para que fossem realizadas. Das peas encenadas na poca, podemos destacar as comdias apresentadas nos eventos de aclamao a D. Joo IV, em 1641, e as encenaes promovidas pelos franciscanos do Convento de Santo Antnio, no Rio de Janeiro, com a finalidade de distrair a comunidade. Tambm se realizaram representaes teatrais pr conta das festas de instalao da provncia franciscana da Imaculada Conceio, em 1678, no Rio. O que podemos notar neste sculo a repercusso do teatro espanhol em nosso pas, e a existncia de um nome - ligado ao teatro - de destaque: Manuel Botelho de Oliveira (Bahia, 1636 -1711). Ele foi o primeiro poeta brasileiro a ter suas obras publicadas, tendo escrito duas comdias em espanhol (Hay amigo para amigo e Amor, Engaos y Celos). Conhea algumas peas representadas no sculo XVII Fonte: encena
Sculo - XVIII Foi somente na segunda metade do sculo XVIII que as peas teatrais passaram a ser apresentadas com uma certa freqncia. Palcos (tablados) montados em praas pblicas eram os locais das representaes. Assim como as igrejas e, pr vezes, o palcio de um ou outro governante. Nessa poca, era forte a caracterstica educacional do teatro. E uma atividade to instrutiva acabou pr merecer ser presenteada com locais fixos para as peas: as chamadas Casas da pera ou Casas da Comdia, que co mearam a se espalhar pelo pas. Em seguida fixao dos locais "de teatro", e em conseqncia disso, surgiram as primeiras companhias teatrais. Os atores eram contratados para fazer um determinado nmero de apresentaes nas Casas da pera, durante todo o ano, ou apenas pr alguns meses. Sendo assim, com os locais e elencos fixos, a atividade teatral do sculo XVIII comeou a ser mais contnua o que em pocas anteriores. No sculo XVIII e incio do XIX, os atores eram pessoas das classes mais baixas, em sua maioria mulatos. Havia um preconceito contra a atividade, chegando inclusive a ser proibida a participao de mulheres nos elencos. Dessa forma, eram os prprios homens que representavam os papis femininos, passando a ser chamados de "travestis". Mesmo quando a presena de atrizes j havia sido "liberada", a m fama da classe de artistas, bem como a recluso das mulheres na sociedade da poca, as afastava dos palcos. Quanto ao repertrio, destaca -se a grande influncia estrangeira no teatro brasileiro dessa poca. Dentre nomes mais citados estavam os de Molire, Voltaire, Maffei, Goldoni e Metastsio. Apesar da maior influncia estrangeira, alguns nomes nacionais tambm merecem ser lembrados. So eles: Lus Alves Pinto, que escreveu a comdia em verso Amor Mal Correspondido, Alexandre de Gusmo, que traduziu a comdia francesa O Marido Confundido, Cludio Manuel da Costa, que escreveu O Parnaso Obsequioso e outros poemas representados em todo o pas, e Incio Jos de Alvarenga Peixoto, autor do drama Enias no Lcio. Fonte: Encena Sculo XIX Transio para o tetro nacional A vinda da famlia real para o Brasil, em 1808, trouxe uma srie de melhorias para o Brasil. Uma delas foi direcionada ao teatro. D. Joo VI, no decreto de 28 de maio de 1810, reconhecia a necessidade da construo de "teatros decentes". Na verdade, o decreto representou um estmulo para a inaugurao de vrios teatros. As companhias teatrais, pr vezes de canto e/ou dana (bailado), passaram a tomar conta dos teatros, trazendo com elas u m pblico cada vez maior. A primeira delas, realmente brasileira, estreou em 1833, em Niteri, dirigida pr Joo Caetano, com o drama O Prncipe Amante da Liberdade ou A Independncia da Esccia. Uma conseqncia da estabilidade que iam
ganhando as companhias dramticas foi o crescimento, paralelo, do amadorismo. A agitao que antecipou a Independncia do Brasil foi refletida no teatro. As platias eram muito agressivas, aproveitavam as encenaes para promover manifestaes, com direito a gritos que exalt avam a Repblica. No entanto, toda esta "baguna" representou uma preparao do esprito das pessoas, e tambm do teatro, para a existncia de uma nao livre. Eram os primrdios da fundao do teatro - e de uma vida - realmente nacional. At porque, em conseqncia do nacionalismo exacerbado do pblico, os atores estrangeiros comearam a ser substitudos pr nacionais. Ao contrrio desse quadro, o respeito tomava conta do pblico quando D.Pedro estava presente no teatro ( fato que acontecia em pocas e lug ares que viviam condies "normais", isto , onde e quando no havia este tipo de manifestao). Nestas ocasies, era mais interessante se admirar os espectadores - principalmente as senhoras ricamente vestidas - do que os atores. Alm do luxo, podia se no tar o preconceito contra os negros, que no compareciam aos teatros. J os atores eram quase todos mulatos, mas cobriam os rostos com maquiagem branca e vermelha. Fonte: encena Sculo -XIX poca Romntica Desde a Independncia, em 1822, um exacerbado sentimento nacionalista tomou conta das nossas manifestaes culturais. Este esprito nacionalista tambm atingiu o teatro. No entanto, a literatura dramtica brasileira ainda era incipiente e dependia de inici ativas isoladas. Muitas peas, a partir de 1838, foram influenciadas pelo Romantismo, movimento literrio em voga na poca. O romancista Joaquim Manuel de Macedo destacou alguns mitos do nascente sentimento de nacionalidade da poca: o mito da grandeza ter ritorial do Brasil, da opulncia da natureza do pas, da igualdade de todos os brasileiros, da hospitalidade do povo, entre outros. Estes mitos nortearam, em grande parte, os artistas romnticos desse perodo. A tragdia Antnio Jos ou O poeta e a inquisi o escrita pr Gonalves de Magalhes (1811-1882) e levada cena pr Joo Caetano (1808 -1863), a 13 de maro de 1838, no teatro Constitucional Fluminense, foi o primeiro passo para a implantao de um teatro considerado brasileiro. No mesmo ano, a 4 de outubro, foi representada pela primeira vez a comdia O juiz de paz da roa, de Martins Pena (1815 -1848), tambm no teatro Constitucional Fluminense pela mesma companhia de Joo Caetano. A pea foi o pontap inicial para a consolidao da comdia de costume s como gnero preferido do pblico. As peas de Martins Pena estavam integradas ao Romantismo, portanto, eram bem recebidas pelo pblico, cansado do formalismo clssico anterior. O autor considerado o verdadeiro fundador do teatro nacional, pela quantida de - em quase dez anos, escreveu 28 peas - e qualidade de sua produo. Sua obra, pela grande popularidade que atingiu, foi
muito importante para a consolidao do teatro no Brasil. Fonte: Encena poca Realista Metade o Sculo - XIX Realismo na dramaturgia nacional pode ser subdividido em dois perodos: o primeiro, de 1855 - quando o empresrio Joaquim Heliodoro monta sua companhia - at 1884 com a representao de O mandarim, de Artur Azevedo, que consolida o gnero revista e os dramas de casaca. O segundo perodo vai de 1884 aos primeiros anos do sculo XX, quando a opereta e a revista so os gneros preferidos do pblico. Essa primeira fase no se completa em um teatro naturalista. exceo de uma ou outra tentativa, a literatura dramtica no acompanhou o naturalismo pr conta da preferncia do pblico pelo "vaudeville", a revista e a pardia. A renovao do teatro brasileiro, com a consolidao da comdia como gnero preferido do pblico, iniciou -se quando Joaquim Heliodoro Gomes dos Santos montou seu teatro, o Ginsio Dramtico, em 1855. Esse novo espao tinha como ensaiador e diretor de cena o francs Emlio Doux que trouxe as peas mais modernas da Frana da poca. O realismo importado da Frana introduziu a temtica social, ou seja, as questes sociais mais relevantes do momento eram discutidas nos dramas de casaca. Era o teatro da tese social e da anlise psicolgica. Nome de grande importncia para o teatro dessa fase o do dramaturgo Artur Azevedo (1855-1908). Segundo J. Galante de Souza ( O Teatr o no Brasil, vol.1), Artur Azevedo "foi mais aplaudido nas suas bambochatas, nas suas revistas, escritas sem preocupao artstica, do que quando escreveu teatro srio. O seu talento era o da improvisao, fcil, natural, mas sem flego para composies que exigissem amadurecimento, e para empreendimentos artsticos de larga envergadura". Fonte: encena O teatro no Brasil ernando Peixoto define bem a histria do teatro no Brasil e no mundo em seu livro "O que teatro", e nos traz referncias de datas que aj udam entender sua trajetria no decorrer dos sculos. A histria do teatro brasileiro dramtico surgiu em 1564, coincidentemente com a data de nascimento de Willian Shakespeare, quando foi encenado o Auto de Santiago pr missionrios jesutas, na Bahia. No Brasil o teatro surge como instrumento pedaggico. Eram Autos utilizados para a catequizao dos ndios, os quais o padre Manuel da Nbrega encomendava-os ao padre Jos de Anchieta.
J no sculo XIX (mais ou menos 1838), o teatro fica marcado pela tragdi a romntica de Gonalves Magalhes com a pea: "O Poeta e a Inquisio" e tambm Martins Pena com "O juiz de paz na roa". Martins Pena com toda sua simplicidade para escrever, porm justa eficcia para descrever o painel da poca, teve seguidores "clssicos" de seus trabalhos, como Joaquim Manoel de Macedo, Machado de Assis e Jos de Alencar. Foi em 1880 , em Lagos, na Nigria que escravos brasileiros libertados deram um enorme salto no desenvolvimento do teatro, fundando a primeira companhia dramtica brasileira a Brazilian Dramatic Company . Em 1900, o teatro deu seu grito de liberdade. Embora tenha enfrentado as mais duras crises polticas do pas, conseguiu com muita luta estacar sua bandeira e marcar sua histria. De 1937 a 1945, a ditadura procura s ilenciar o teatro, mas a ideologia populista, atravs do teatro de revista, mantm -se ativa. Surgem as primeiras companhias estveis do pas, com nomes como: Procpio Ferreira, Jaime Costa, Dulcina de Moraes, Odilon Azevedo, Eva Tudor, entre outros. Uma nova ideologia comeava a surgir, juntamente com um dos maiores patrimnios do teatro brasileiro: Oswald de Andrade, que escreveu O Rei da Vela (1933), O Homem e o Cavalo (1934) e A Morta (1937), enfrentando desinibido e corajoso, a sufocante ditadura de Get lio Vargas. Em 1938, Paschoal Carlos Magno funda o Teatro do Estudante do Brasil. Comeam surgir companhias experimentais de teatro, que estendem -se ao longo dos anos, marcando a introduo do modelo estrangeiro de teatro entre ns, consagrando ento o princpio da encenao moderna no Brasil. No ano de 1948 surge o TBC uma companhia que produzia teatro da burguesia para a burguesia, importando tcnica e repertrio, com tendncias para o culturalismo esttico. J em 57, meio a preocupaes scio -polticas surge o Teatro de Arena de So Paulo. Relatos de jornais noticiavam que o Teatro de Arena foi a porta de entrada de muitos amadores para o teatro profissional, e que nos anos posteriores tornaram -se verdadeiras personalidades do mundo artstico. J em 64 com o Golpe Militar, as dificuldades aumentam para diretores e atores de teatro. A censura chega avassaladora, fazendo com que muitos artistas tenham de abandonar os palcos e exilar -se em outros pases. Restava s futuras geraes manterem vivas as razes j fixadas, e dar um novo rumo ao mais novo estilo de teatro que estaria pr surgir. "...So infindveis as tendncias do teatro contemporneo. H uma permanncia do realismo e paralelamente uma contestao do mesmo. As tendncias muitas vezes so opostas, mas freqentemente se incorporam umas as outras..." (Fernando Peixoto O que teatro).