Introdução À Economia

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INTRODUÇÃO À

ECONOMIA
Autoria: Nelson Chalfun Homsy

Dados Pessoais

Nome:_________________________________________________________

Turma:____________ Matrícula:__________ Curso: __________________

Endereço: _____________________________________________________

Cidade: _____________________________________ UF:_______________

CEP: ________________ Telefone: _________________________________

E-mail: ________________________________________________________

Programa de Pós-Graduação EAD

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI


Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro
Benedito - Cx. P. 191 - 89.130-000
INDAIAL/SC - Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-
9090 - www.uniasselvipos.com.br
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
Prof.ª Tathyane Lucas Simão
Prof.ª Kelly Luana Molinari Corrêa
Prof. Ivan Tesck

Revisão Gramatical: Equipe de Produção de Materiais


Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz

Equipe Pedagógica do IBAM: Prof. Heraldo da Costa Reis


Profª. Márcia Costa Alves da Silva
Profª. Tereza Cristina Baratta

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2017
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

330
H763i Homsy, Nelson Chalfun
Introdução à economia / Nelson Chalfun Homsy.
Indaial : UNIASSELVI, 2017.

126 p. : il.

ISBN 978-85-69910-42-8

1. Economia.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
PARCERIA ENTRE
IBAM E UNIASSELVI
No momento atual, em todos os países, em qualquer instância de governo,
observa-se um movimento de revisão do papel do Estado, somado à exigência
das populações por atuação governamental de qualidade. Esta tendência conduz
à demanda expressiva para que se consolide a existência e o funcionamento de
um sistema qualificado de Gestão para a implementação de políticas públicas.

A institucionalização dos processos de gestão e a profissionalização dos


servidores públicos passam a ser instrumentos estratégicos para alavancar
condições de melhor execução de atividades e projetos, bem como dos meios de
controle necessários para avaliação de resultados da atuação governamental.

Inúmeras iniciativas são implementadas para dar consistência a este modelo de


gestão governamental que se apoia na valorização da transparência, da participação
e do controle social, que não podem existir sem instrumentos adequados e pessoas
qualificadas. É neste contexto que se forma a parceria do IBAM com a UNIASSELVI.

Aprimorar o sistema de gestão pública, apoiar a formação de profissionais que


queiram ser ou já são do quadro do setor público e ampliar a informação para o
cidadão sobre como deve funcionar o governo são os propósitos iniciais do MBA em
Gestão Pública que passa a integrar o programa de pós-graduação da UNIASSELVI.
A equipe de Professores Autores que o compõe se destaca pelo desempenho
profissional em projetos da Administração Pública e como docentes universitários.

A experiência da UNIASSELVI em processos educacionais em nível superior,


aliada à do IBAM, que há 60 anos atua, em nível nacional e internacional, para
o aprimoramento da administração pública, é composição de excelência para
enriquecer o cenário que se quer alcançar.

O IBAM e a UNIASSELVI desejam a todos os participantes uma boa jornada


de estudos. Aos que se dirigem ao setor público, que consolidem sua formação;
e, aos demais, que ampliem o nível de informação sobre governo e aprendam a
articular-se com ele como cidadãos.

Paulo Timm
Superintendente Geral do Instituto
Brasileiro de Administração Municipal – IBAM

Prof. Carlos Fabiano Fistarol


Pró-Reitor de Pós-Graduação a Distância
Grupo UNIASSELVI
Me. Nelson Chalfun Homsy

Doutor em Políticas Públicas, Estratégias


e Desenvolvimento (IE/UFRJ), Mestre em
Planejamento Urbano e Regional (UCLA) e Graduado
em Economia (I E/UFRJ). Sua carreira profissional
inclui importantes posições de administração, gerência e
supervisão em departamentos de planejamento, mercado
de capitais, pesquisa, sistemas de informação e finanças,
nas áreas de habitação e infraestrutura. Como consultor
atua nas áreas de políticas tributária e fiscal, provisão e
distribuição de serviços públicos, gestão do crescimento
econômico, política habitacional e análise e avaliação de
projetos. É professor de Economia do Setor Público e de
Matemática Financeira no Instituto de Economia da UFRJ.
Seus principais temas de pesquisa, além das questões
acadêmicas, são Economia Urbana e Regional e
Finanças Públicas e Empresariais.
Sumário

APRESENTAÇÃO.......................................................................7

CAPÍTULO 1
Introdução à Economia............................................................9

CAPÍTULO 2
Microeconomia........................................................................31

CAPÍTULO 3
Macroeconomia.......................................................................43

CAPÍTULO 4
A Evolução do Pensamento Econômico no
Enfrentamento dos Problemas Sociais..............................79

CAPÍTULO 5
Os Problemas Econômicos Básicos.................................. 111
APRESENTAÇÃO
Caro pós-graduando!

O conhecimento dos assuntos econômicos é fundamental para que possamos


entender as razões da escassez ou da abundância de alguns produtos e serviços;
a existência das desigualdades de renda entre pessoas, entre regiões e países, ou
por que as populações de muitos países possuidores de grandes riquezas naturais
permanecem em situação de extrema pobreza e privação de acesso aos mínimos
níveis de saúde, ensino e nutrição.

Por este prisma a economia pode ser considerada como uma ciência que visa
identificar e estabelecer a utilidade dos bens em relação ao ser humano e não uma
ferramenta apenas de cálculo e precificação de bens e cálculos de índices.

Entretanto, ao nos aprofundarmos no estudo destas questões, nos deparamos


com aspectos referentes à organização dos mercados de consumo, de produção e
distribuição de mercadorias e serviços. São estudadas as características da demanda
ou procura, do comportamento dos produtores de bens e serviços concorrentes,
assim como os mercados de insumos utilizados na produção, os equipamentos e a
tecnologia a serem utilizados, além das condições de financiamento necessário para
a sua aquisição.

Assim, o estudo de economia nos possibilita verificar a adequação dos recursos


financeiros, observar as restrições orçamentárias, planejar a produção e definir
as políticas governamentais capazes de propiciar o maior nível de crescimento,
considerando-se cenários econômicos futuros.

Sua aplicação é feita, principalmente, entre profissionais que estudam os


fenômenos relacionados à produção e ao consumo de bens e serviços, além de
desenvolverem projetos para a solução de questões financeiras e econômicas em
diferentes setores de atividade, seja no comércio, em serviços, na indústria, em ONGs
ou em órgãos públicos.

Para tanto, este caderno de estudos trata da disciplina Introdução à Economia e


se divide em quatro capítulos. O Capítulo 1 apresenta os Princípios Gerais, onde são
apresentados o objetivo da economia, os setores da atividade econômica, os bens de
capital, de consumo intermediário e de consumo final e as questões relacionadas à
produção e distribuição de bens e serviços.

O Capítulo 2 trata da microeconomia, em que são apresentados os conceitos de


mercado, procura e oferta e as estruturas de mercado.
O Capítulo 3 versa sobre a macroeconomia, expõe os conceitos de fluxo e
estoque e detalha as políticas econômicas implementadas pelo governo.

No Capítulo 4 é exposta a síntese da evolução do pensamento econômico,


abrangendo as fases pré-moderna; moderna e contemporânea.

No Capítulo 5 são discutidos os problemas econômicos básicos que atualmente


afetam as economias dos países.

Esperamos que este caderno de estudos faça com que você goste do assunto e
se interesse cada vez mais por ele, seja por curiosidade ou por necessidade. Quanto
mais você aprende e ganha segurança sobre um determinado assunto, mais aumenta
o seu grau de “amizade” com esse tema e maior é a sua curiosidade em aprender o
assunto mais detalhadamente e possa desempenhar suas atividades profissionais
de maneira mais eficiente. Esperamos, pois, que, ao ler este caderno, você inicie ou
fortaleça a sua amizade com a economia.

Bom trabalho! Bons estudos!


C APÍTULO 1
Introdução à Economia

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer o campo de estudo da Ciência Econômica.

 Conhecer os principais conceitos e instrumentos utilizados pela Ciência


Econômica e saber aplicá-los nas situações que envolvem o planejamento, a
coordenação e a avaliação da utilização de recursos produtivos pelos agentes
privados e pelo governo.
Introdução à Economia

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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

ConteXtualiZação
A Economia ou Ciências Econômicas é uma ciência social que lida com
desejos humanos e sua satisfação. É principalmente preocupada com a maneira
que uma sociedade escolhe empregar seus recursos escassos e que possuem
usos alternativos para a produção de bens para o consumo presente e futuro.

Economia Política é outro nome para a Economia. “Polis” em grego significa


Estado. Os primeiros escritores usaram o termo “Economia política” para a gestão
do Estado. Espera-se que a pessoa chefe de uma família faça o melhor uso dos
rendimentos do conjunto familiar. Da mesma forma, espera-se que o Estado
obtenha o máximo benefício para a sociedade.

Podemos dizer que a economia é a ciência de desejos. Mas no mundo real,


os meios que satisfazem nossos desejos são limitados, ou seja, há escassez
de meios que satisfaçam nossos desejos. Tempo e dinheiro são limitados.
A terra, o trabalho e o capital, utilizados na produção são limitados. Embora o
desenvolvimento científico e o desenvolvimento tecnológico tenham aumentado
os nossos recursos, nossas necessidades e vontades também aumentaram.
Podemos então dizer que a economia é a ciência da escassez.

Desejos ilimitados e meios limitados nos levam a fazer escolhas. Mas tudo
que queremos não é de igual importância. Então satisfazemos os desejos mais
importantes e as necessidades mais urgentes. A escolha é a essência da atividade
econômica. Podemos também dizer que a economia é a ciência da escolha.

Muitas coisas que queremos são escassas e temos que pagar um preço por
elas. Então, em economia, estudamos como os preços de coisas diferentes são
determinados. Podemos também dizer que a economia é uma ciência que lida
com preços.

A economia moderna é uma economia monetária. Os preços são


pagos em dinheiro. O dinheiro desempenha um papel importante na A economia moderna
vida econômica das sociedades modernas. É usado para a compra e é uma economia
venda de mercadorias, para pagamento de aluguéis, de salários, de monetária.
juros e assim por diante. Podemos então também dizer que a economia
é a ciência do dinheiro.

A economia estuda a produção, a troca, a distribuição e o consumo dos


produtos e serviços, produzidos para promover o bem-estar da sociedade, a
economia é também chamada da ciência do bem-estar social.

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Introdução à Economia

Os Setores da Atividade Econômica


Como ObJeto de Estudo da Economia
Após contextualizar o campo de estudo da economia veremos agora como
esta ciência aborda os problemas da escassez, da escolha, dos preços, do
dinheiro e do bem-estar.

A economia estuda como se processa a coordenação da produção e da


distribuição dos bens e serviços destinados ao atendimento das necessidades
ilimitadas da sociedade.

A produção e a distribuição de bens e serviços ocorrem por meio de três


setores – denominados primário, secundário e terciário – que operam no contexto
de uma cadeia produtiva, em que cada setor transfere a sua produção para o
seguinte.

Os Setores da Atividade Econômica


• Setor primário: engloba as atividades ligadas à extração de
recursos naturais e à agricultura (mineração e plantação de trigo, por
exemplo).

• Setor secundário: é constituído pelas atividades de transformação


dos recursos do setor primário em equipamentos (fornos de panificação,
por exemplo) e outros produtos empregados na produção de bens
(denominados insumos – massa folhada, por exemplo) que serão utilizados
na fabricação de produtos de consumo final (pão, por exemplo).

• Setor terciário: é integrado pelos serviços em geral (capacitação


de padeiros, transporte de sal e farinha, fiscalização governamental das
condições sanitárias das panificadoras, por exemplo).

A ImPortÂncia da Distinção Entre


os TrÊs Setores Produtivos Para a
Análise Econômica
O reconhecimento das diferenças entre os principais setores da economia,
agricultura, comércio, indústria e serviços, tem uma tradição considerável
12
Capítulo 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

no pensamento econômico. As transformações observadas na evolução das


sociedades estão intimamente relacionadas com a evolução estrutural destes
setores.

A ascensão do setor de serviços no século XX e sua crescente


A ascensão do
participação no total da atividade econômica é tão importante para o setor de serviços
desenvolvimento econômico como a Revolução Industrial que ocorreu no século XX e
na segunda metade do século XIX. sua crescente
participação no
A transição de sociedades preponderantemente agrícolas para total da atividade
econômica é tão
economias industriais provocou profundas transformações econômicas,
importante para o
sociais e culturais, internamente e entre as nações. As mesmas desenvolvimento
transformações foram observadas na transição de uma economia econômico como a
preponderantemente industrial para uma economia de serviços ao Revolução Industrial
longo do século XX. E são os efeitos desta mudança estrutural que que ocorreu na
caracterizam os diversos problemas econômicos que afetam as segunda metade do
século XIX.
economias modernas.

Os três principais setores diferem significativamente entre si no uso dos


recursos naturais, na escala de operação das unidades produtivas comuns a
cada um, no processo de produção em que eles se envolvem, em produtos finais
que eles contribuem e nas tendências em suas ações na produção total e dos
recursos utilizados.

A transição do emprego do fator trabalho em setores primários – nas


atividades tradicionais da agricultura, mineração etc. para os setores modernos,
se constitui em elemento primordial para aumentar a taxa de poupança e de
investimento da economia e à promoção do crescimento econômico,
em função da maior produtividade observada no setor industrial Quanto mais rápida
em relação ao setor primário (ver a seção Custo de Produção, mais a taxa em que o fator
adiante). trabalho transita da
agricultura tradicional
Assim, quanto mais rápida a taxa em que o fator trabalho e das atividades
informais de baixa
transita da agricultura tradicional e das atividades informais de baixa
produtividade para
produtividade para o setor moderno, mais rapidamente aumenta a taxa o setor moderno,
de crescimento econômico. mais rapidamente
aumenta a taxa
O crescimento industrial continua a ser uma prioridade alta de crescimento
na política dos governos dos países em desenvolvimento. Embora econômico.
menos vital para a manutenção de elevados rendimentos nos países
desenvolvidos, a indústria continua uma importante fonte de empregos bem
remunerados, especialmente para os trabalhadores que ainda não possuem
educação universitária.

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Introdução à Economia

As últimas décadas testemunharam uma reestruturação importante da


economia global, em que cada vez mais a produção e o emprego industrial estão
localizados em países emergentes e em desenvolvimento, enquanto países
desenvolvidos tornaram-se cada vez mais em economias orientadas para o
setor de serviços. A globalização através dos fluxos de investimento e aumento
das trocas comerciais, está dirigindo esta reestruturação, junto com a mudança
organizacional tecnológica associada.

Outro conjunto de oportunidades está sendo criado, alterando padrões de


consumo e produção em países desenvolvidos. Por exemplo, como eles lutam
para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa visando atender aos
compromissos assumidos em âmbito internacional. Os biocombustíveis são um
exemplo de um setor com significativo potencial associado e o Brasil está bem
posicionado estrategicamente para obter vantagens em relação à produção de
açúcar, e de óleo de soja e óleo de palma.

Cafeicultores, por exemplo, na África, América Latina e Ásia compartilham


os ganhos decorrentes das oportunidades surgidas com a adoção de novas
tecnologias destinadas a reduzir os custos de transporte. Por exemplo, a produção
de frutas e flores em climas tropicais e em climas temperados do hemisfério sul,
para abastecer mercados de países desenvolvidos no hemisfério norte, é um
exemplo onde reduzir os custos de transporte é tarefa de caráter decisivo. Também
crucial tem sido a capacidade desenvolvida por alguns países nos trópicos e no
hemisfério sul para fornecer a infraestrutura de suporte e serviços em contêineres
equipados com sistemas de controle de temperatura.

No caso dos serviços, a redução dos custos de comunicação está


revolucionando a maneira com que diferentes tipos de indústrias e de
serviços, com muitas funções que dependem da “interação face a face”, atuam
remotamente, e onde os custos são competitivos. A Índia, por exemplo, tem
sido o principal país beneficiário do crescente “‘comércio de tarefas”, mas outros
países também têm compartilhado ganhos, como as Filipinas. A redução dos
custos de viagens criou o turismo de massa numa escala sem precedentes e
abriu oportunidades significativas para os países capacitados – incluindo para o
ecoturismo. Países africanos, por exemplo, apresentam potencial de benefícios
significativos decorrentes do turismo baseado na natureza, mas necessitam
também da capacidade de construir e manter a infraestrutura e os serviços
adequados ao turismo.

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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Os Bens de CaPital, de Consumo


Intermediário e de Consumo Final
Como os setores primário, secundário e terciário operam no
Como os setores
contexto de uma cadeia produtiva, onde cada setor transfere a sua
primário, secundário
produção para o seguinte, as oportunidades de crescimento de uma e terciário operam
economia decorrem da mais adequada combinação entre estes no contexto de uma
setores, de acordo com a abundância dos recursos associados a cada cadeia produtiva, as
um deles. oportunidades de
crescimento de uma
economia decorrem
O crescimento mundial pode apresentar altas taxas de
da mais adequada
crescimento com a descoberta de recursos novos ou melhores, tal combinação entre
como aconteceu com a descoberta de poços de petróleo na década estes setores.
de 1850. Mais pessoas puderam ingressar na força de trabalho. Outra
onda de crescimento global se associa com a descoberta de novas tecnologias,
tal como aconteceu com a invenção da internet. Tais eventos são de extrema
importância para explicar a revolução que aconteceu na produção e no consumo
de mercadorias e serviços. O petróleo, um bem associado ao setor primário,
que transformado, serviu como combustível (um bem industrial de consumo
intermediário) e a internet, um serviço associado ao setor terciário, representam
novas e significativas mudanças estruturais que induzem novos investimentos nos
chamados bens de capital.

Bens de capital: destinam-se a produzir bens e serviços a serem


consumidos. Exemplo: plataforma de petróleo, forno de padaria,
máquina empacotadora de café.

EXPlicando o Investimento em Bens


de CaPital
Investimento em bens de capital é o gasto efetuado em ativos tais como
fábricas, máquinas, computadores, veículos, ferramentas, tecnologias, destinados
à produção de bens e serviços.

O termo "bem de capital" se distingue de capital quando aplicado ao “capital


financeiro” ou “capital humano”. Capital financeiro inclui os fundos necessários

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Introdução à Economia

para manter e crescer um negócio (dívida e capital próprio), e capital humano


representa o trabalho humano real. É preciso capital financeiro para investir em
bens de capital, e é preciso capital humano para projetar, construir e operar os
bens de capital.

Investimento de CaPital, Bens de


CaPital e Crescimento Econômico
A melhoria do estoque de bens de capital aumenta a produtividade do
trabalho. Um exemplo simples pode ser visto quando um desenhista substitui
lápis e borracha por um computador.

Bens intermediários: bens utilizados na produção, isto é, que


sofrem transformação antes de se tornarem bens finais. Exemplo:
petróleo como um estágio anterior à gasolina, farinha transformada
em pão.

Existem muitos bens intermediários que podem ser usados para vários
propósitos. Exemplos incluem o aço, que pode ser usado na construção de
equipamentos; madeira, usada em pisos e mobiliário; vidro, usado na produção
de janelas e óculos; e ouro e prata, utilizados na produção de joias.

Considere um agricultor que cultiva trigo. Neste exemplo, o trigo é o bem


intermediário. O agricultor vende sua colheita de trigo a um moleiro por R$100. O
moleiro usa o trigo para fazer farinha, que é um bem intermediário secundário. O
moleiro vende a farinha para um padeiro por R$200 e cria R$100 no valor (venda
de farinha R$200 – compra de R$100 = R$100). O produto final, que é o bem
vendido diretamente ao consumidor, é o pão que o padeiro faz usando a farinha.
O padeiro vende todos os seus pães num total de R$ 300, adicionando R$100 de
valor (R$300 - R$200 = R$100). É importante notar que o preço final, pelo qual o
pão é vendido é igual ao valor que é adicionado em cada estágio do processo de
produção (R$100 + R$100 + R$100).

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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Como os Bens Intermediários São


UtiliZados
Geralmente, existem três opções para a utilização de bens intermediários.

a) Uma empresa pode produzir e usar seus próprios bens intermediários.


Nesse caso diz-se que a empresa “verticaliza a produção” (como se fosse em um
edifício).

b) Uma empresa pode também produzir os bens e depois vendê-los a outras


empresas para serem transformados em outros produtos intermediários ou em
produtos para consumo final (nesse caso diz-se que a produção é horizontalizada).

As empresas efetuam gastos ao consumir bens intermediários para uso


específico (serviços de eletricidade e água para alimentar e resfriar equipamentos,
por exemplo) destinados à produção de outros bens intermediários ou bens de
consumo final. Exemplo: uma fábrica de tubos de borracha – bens intermediários
utilizados na montagem de automóveis – adquire “pellets” de borracha, que são
bens intermediários para a fabricação dos tubos produzidos. Já a
montadora de automóveis utiliza os tubos de borracha para a produção Os bens
de automóveis, que são bens de consumo final. intermediários
são geralmente
Os bens intermediários são geralmente comprados por uma comprados por uma
unidade de produção
unidade de produção de outra empresa. No entanto, nem todas as
de outra empresa.
compras efetuadas por uma unidade de produção são compras de No entanto, nem
bens intermediários. todas as compras
efetuadas por uma
Por exemplo, compras de prédios, maquinaria etc. não são unidade de produção
compras intermediárias (se eles não são destinados para a revenda). são compras de
bens intermediários.
Na verdade, essas compras são consideradas bens de capital,
conforme visto anteriormente.

Bens intermediários fornecem ligações entre setores que criam um


multiplicador de produtividade. Embalagens são conhecidos exemplos de bens
intermediários. Baixa produtividade na oferta de embalagens reduz as vendas de
televisores e liquidificadores. Baixa produtividade na geração de energia elétrica,
por exemplo, reduz a produção dos serviços do setor bancário e do setor de
produção de alumínio.

Em razão da complementaridade existente entre as cadeias de produção,


a alta produtividade de uma empresa de confecção de vestuário, por exemplo,
requer um alto nível de desempenho ao longo de um grande número de etapas

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Introdução à Economia

da cadeia produtiva. Exige eficiência na produção de matérias-primas têxteis, da


indústria de máquinas de tecelagem, uma força de trabalho saudável e capacitada,
o conhecimento de como produzir, redes de transporte eficientes, oferta adequada
de eletricidade etc. Estas características são complementares, no sentido de que
problemas com qualquer uma dessas dimensões podem substancialmente reduzir
a produção global. Sem eletricidade ou conhecimento técnico de produção ou
matérias-primas ou segurança ou licenças de negócios, a produção é suscetível
de ser severamente prejudicada.

Bens de consumo final: destinam-se a satisfazer as


necessidades dos consumidores. Exemplo: pão.

Bens de consumo final são os produtos comprados pelo consumidor comum.


Alternativamente chamados de bens finais, representam o último estágio de um
processo produtivo. São o resultado final de produção do que um consumidor vai
ver na prateleira da farmácia, do supermercado etc. Roupas, alimentos e joias são
exemplos de bens de consumo.

Existem três tipos principais de bens de consumo: bens duráveis, bens não
duráveis e serviços.

Bens duráveis são bens de consumo que possuem uma vida


longa e são usados ao longo do tempo. Sua duração esperada
é normalmente igual ou superior a três anos. Exemplos incluem
bicicletas e frigoríficos.

Bens não duráveis são consumidos em menos de três anos


e têm expectativa de vida curta. Exemplos incluem alimentos e
bebidas.

Serviços incluem os hotéis, os barbeiros etc. São serviços ao


consumidor. E também os serviços da polícia, dos tribunais, dos
parques e de iluminação das vias públicas, consumidos coletivamente
pelas pessoas.

18
Capítulo 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Bens de consumo imediato: um dos maiores grupos de


bens de consumo é chamado de bens de consumo imediato. Este
segmento inclui os bens não duráveis, como alimentos e bebidas.
Empresas e varejistas preferem este segmento, pois os bens são
vendidos mais rapidamente nas lojas, oferecendo a oportunidade de
alta rotatividade no estoque e rápida recuperação do capital de giro.

Capital de giro é o valor que a empresa precisa, de forma


regular, para realizar a sua atividade. Ele é necessário mesmo antes
da firma entrar em funcionamento. No caso de uma lanchonete, por
exemplo, é necessário um estoque inicial de pães, queijos, massa
de tomate e outros itens que compõem o cardápio, como bebidas,
refrigerantes etc.

Empresas investem em estoques, em antecipação a vendas futuras. As


empresas também estocam matérias-primas e bens intermediários utilizados no
processo de produção.

Embora os estoques sejam uma parte relativamente pequena do setor de


investimento global, são um componente essencial das mudanças ao longo do
ciclo de negócios. Se a economia está operando em ritmo lento, e possivelmente,
irá entrar em uma recessão, um provável indicador, muitas vezes, será um
acúmulo indesejado de estoques. Como os consumidores reduzem suas compras,
as vendas de bens e serviços de estoques de baixa rotatividade, acumulam,
fazendo com que as empresas reduzam a produção (demitindo funcionários) para
reduzir estoques indesejados (e caros).

ProduZir e Distribuir o Que, Como e


Para Quem
Fatores de produção são insumos (ver a seção que trata dos setores da
atividade econômica, deste capítulo) utilizados para a produção de bens e
serviços. Eles são os recursos de que necessita uma empresa para gerar um
lucro econômico através da produção de bens e serviços. Os fatores de produção
são divididos em quatro categorias: terra, trabalho, capital e empreendedorismo.

Terra é o recurso natural que uma empresa utiliza para produzir bens e
serviços para gerar um lucro. A terra não é restrita apenas à propriedade física ou

19
Introdução à Economia

imóvel. Inclui todos os recursos naturais que a terra produz, tais como petróleo,
carvão, água, ouro e gás natural. Os recursos são materiais naturais que estão
incluídos na produção de bens e serviços.

Trabalho é a quantidade de trabalho de trabalhadores que contribui para o


processo de produção.

Capital é qualquer ferramenta, o edifício e a máquina utilizados para produzir


bens e serviços. O capital varia dependendo de cada indústria. Por exemplo, um
cientista da computação usa um computador para criar um programa; seu capital
é o computador utilizado. Por outro lado, um cozinheiro usa panelas e frigideiras
para elaborar uma refeição. Panelas e frigideiras são o capital do cozinheiro.

Empreendedorismo representa o espírito das pessoas em assumir o


risco de se dedicar a produzir com o objetivo de obter lucro. Por exemplo, um
empreendedor reúne ouro, trabalho de ourivesaria e uma máquina para produzir
joias. O empreendedor assume todos os riscos e recompensas que vêm com a
produção de um bem ou serviço.

Vimos que as atividades dedicadas à produção de bens e serviços,


Os fatores de
produção são: o utilizam bens de capital e bens intermediários chamados, genericamente,
capital humano, o de fatores de produção. Portanto, os fatores de produção são: o capital
capital financeiro, humano, o capital financeiro, o capital físico (máquinas e equipamentos)
o capital físico e o e o capital tecnológico (a capacidade do empresário de escolher a
capital tecnológico. combinação de fatores de produção, além dos softwares, e de outros
métodos produtivos).

O nível de eficiência na produção é medido pelo grau de utilização e pela


qualidade observada na combinação dos fatores de produção. Há combinações de
fatores que produzem bens e serviços de melhor qualidade, embora apresentem
custo de produção igual ou menor.

Há, porém, restrições de caráter quantitativo e qualitativo que determinam


o limite máximo da eficiência produtiva. Este limite ocorre quando não há mais
ociosidade na utilização dos fatores e quando se esgotam as possibilidades de
produção por meio das combinações no uso dos fatores. Este é o ponto em que
qualquer acréscimo na produção de um setor produtivo implica a redução da
produção dos demais.

As decisões quanto à produção se baseiam na escolha de prioridades que


implicam a renúncia da produção de outros produtos e serviços. Tal situação
representa um “custo de oportunidade”. Isto é, para se ter mais serviços de saúde
pode ser necessário reduzir a oferta de serviços de educação; para se ter mais
automóveis pode ser necessário reduzir a produção de comidas congeladas.
20
Capítulo 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Como o acréscimo na produção só pode ocorrer com o aumento dos fatores


de produção ou com a introdução de tecnologias que possibilitem produzir mais
com os mesmos recursos, as possíveis combinações sobre o que produzir e como
produzir resultam de decisões dos agentes governamentais (oferta de serviços de
saúde e ensino público) e privados (produção de refrigerantes, de telefones etc.).

Nas economias liberais de mercado, as decisões são mais influenciadas pela


iniciativa privada, a ela competindo a maior parte da mobilização dos recursos,
tendo no mecanismo de mercado o seu eixo básico de regulação.

Nas economias centralmente planificadas, o governo concentra as decisões


sobre alocação dos recursos e a produção.

Nas economias mistas a gestão empresarial se submete à regulação estatal


na mobilização dos recursos e na produção.

A Produção de Bens e Serviços


Produção é a transformação dos fatores de produção adquiridos pelas
empresas com objetivo de venda no mercado.

No processo de produção, diferentes fatores são utilizados para a obtenção


de produtos de consumo final e de consumo intermediário. As formas como esses
fatores são combinados denominam-se métodos de produção.

Os métodos de produção são caracterizados de duas formas: trabalho


intensivo e capital intensivo. No primeiro caso utiliza-se uma quantidade maior de
trabalhadores do que de capital. O inverso se aplica ao segundo caso.

Função de produção: expressa a relação entre diferentes


combinações de fatores de produção, definidas pelo tipo de
tecnologia empregada, e a obtenção de diferentes quantidades de
produto. Por exemplo, a quantidade de calçados que poderá ser
produzida a partir de determinada quantidade de couro, pregos, fios,
energia elétrica, mão de obra, máquinas, equipamentos e instalações
em uma jornada de trabalho.

21
Introdução à Economia

Fatores de Produção FiXos e


Variáveis
• Fatores de produção fixos: são aqueles cuja quantidade utilizada não
varia quando o volume da produção se altera. Exemplo: câmeras de vigilância
externas ao prédio de uma fábrica.

• Fatores de produção variáveis: são aqueles cuja quantidade varia quando


o volume de produção se altera. Exemplo: quantidade de farinha necessária para
produzir maiores quantidades de pão.

A Lei dos Rendimentos Decrescentes


Elevando-se a quantidade de um fator variável e permanecendo fixa a
quantidade dos demais fatores, a produção inicialmente aumentará a taxas
crescentes. Mas a partir de certa quantidade utilizada do fator variável, a
produção crescerá com acréscimos cada vez menores até decrescer. Tal
decréscimo significa “deseconomias” de escala. Suponha, por exemplo, que se
aumenta gradativamente a quantidade de empregados em um galpão destinado
à montagem de brinquedos. A movimentação no espaço de produção se torna
cada vez mais difícil, até o ponto em que ocorre a superlotação, inviabilizando a
montagem.

Quadro 1 - Exemplo numérico de rendimentos decrescentes na produção


Qt. de Mão de
Galpão Qt. Total de Produtividade Produtividade
obra
1000 m2 Produto média marginal da
(fator variável)
(fator fixo) B C = B/A Mão de obra (*)
A
10 1 6 6.0 6
10 2 14 7.0 8
10 3 24 8.0 10
10 4 32 8.0 8
10 5 38 7.6 6
10 6 42 7.0 4
10 7 44 6.2 2
10 8 44 5.4 0
10 9 42 4.6 -2
(*) Acréscimo na quantidade de mão de obra necessário para a obtenção de maior
quantidade de produto.
Fonte: O autor.
22
Capítulo 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Custo de Produção
Representa a soma das despesas da atividade de produção de uma empresa,
relacionadas com o capital fixo e com o capital variável.

• Custos fixos totais (custos indiretos): correspondem aos recursos de


produção que não variam em função das alterações nas quantidades produzidas.
Ex.: edifícios, máquinas, equipamentos etc.

• Custos totais variáveis (custos diretos): referem-se aos recursos variáveis


utilizados no processo produtivo. Estes custos dependem da quantidade a ser
produzida. Ex.: matérias-primas, mão de obra, energia etc.

• O custo fixo total médio: é obtido mediante a divisão do custo fixo total
pela quantidade produzida.

• O Custo marginal: é o custo de se produzir uma unidade adicional de um


produto ou serviço. Portanto, se o custo de produzir uma unidade adicional de
um produto for superior ao preço pelo qual ele será vendido, o produtor não o
produzirá, pois terá prejuízo.

• A receita da empresa: é obtida por meio da multiplicação da quantidade


de bens e serviços vendidos pelo respectivo preço unitário de venda.

O Emprego do Cálculo Marginal (ou Cálculo segundo a abordagem


Marginalista)

Suponha, por exemplo, que você produza um produto a ser vendido por
$120 e que custa $100, por unidade, se você produzir 50 unidades. Isso resultará
em um custo total de “$100 x 50” ou $5.000 e um faturamento total de “$120 x
50” ou $6.000. Suponha agora que você examine a possibilidade de produzir a
51ª unidade deste produto. Sua receita total será de “$ 120 x 51” ou $ 6.120.
Entretanto, tendo em vista a necessidade de contratar mais um empregado para
produzir esta unidade adicional, o custo será acrescido em $ 150, passando a
ser de $ 5.150. Neste caso, a decisão de produzir a unidade de número 51 seria
um mau negócio porque o custo de produção unitário aumenta para $100,98 por
unidade. Seu benefício líquido sobe em $120, enquanto o custo total aumenta em
$150, significando que o custo supera o benefício e que a produção da unidade
adicional não compensa o custo extra.

De maneira análoga podemos aplicar a abordagem marginalista ao “paradoxo


da utilidade entre diamantes e água”. De acordo com a formulação da abordagem
marginal, o elemento significativo na determinação do preço não é utilidade
23
Introdução à Economia

total ou média, mas a utilidade marginal. Diamantes têm preços elevados, mas
são de pouca utilidade em relação à água, enquanto que a água tem um baixo
preço, mas alta utilidade. Os teóricos clássicos foram incapazes de elucidar este
paradoxo, pois pensavam em termos da utilidade total de diamantes e da água
para os consumidores e não entendiam a importância da sua relativa utilidade
marginal. A água tem grande utilidade total, mas baixa utilidade marginal (pois,
por ser abundante, unidades adicionais vão perdendo a sua utilidade), enquanto
o diamante, por ser escasso, tem grande utilidade marginal (unidades adicionais
mantêm seu valor).

Produtividade
A empresa é uma organização econômica que transforma os fatores de
produção em bens de consumo ou em outros fatores de produção, tais como
componentes, máquinas e equipamentos.

Produtividade é uma medida da eficiência com que as empresas ou as


economias dos países podem transformar recursos em produtos. Elas serão mais
ou menos eficientes (mais ou menos produtivas) dependendo da relação entre
a quantidade de recursos utilizados para gerar uma determinada quantidade de
produto. Serão mais produtivas (eficientes) se “produzirem mais com a mesma
quantidade ou com menos recursos”.

A eficiência produtiva é a utilização do método de produção


mais eficiente tecnologicamente entre os métodos disponíveis, com
o objetivo de alcançar uma determinada quantidade de produto
utilizando uma quantidade mínima de fatores de produção.

Já a eficiência econômica é expressa pela adoção de métodos


de produção que permitem a obtenção de maior quantidade de
produto com o menor custo.

Aumentar a produtividade significa maior produção (saída) com a mesma


(ou inferior) quantidade de fatores de produção (entrada). Significa um processo
de produção em que o valor agregado aos produtos pode efetivamente elevar
os padrões de vida da sociedade em função da diminuição do investimento

24
Capítulo 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

monetário exigido, tornando os consumidores mais ricos (em um sentido relativo)


e as empresas mais rentáveis.

Numa perspectiva mais ampla, o crescimento da produtividade dos diversos


setores produtivos afeta positivamente o crescimento econômico e satisfaz as
necessidades humanas com menos recursos. Como resultado, as economias
irão se beneficiar de maior volume de receitas tributárias destinadas a financiar
serviços sociais tais como saúde, educação, assistência social, transporte público,
entre outros.

Beneficiários da Produtividade
Existem três grupos de potenciais beneficiários dos frutos decorrentes da
melhoria da produtividade do ponto de vista econômico:

1. Consumidores/trabalhadores: no nível micro máximo temos melhorias do


padrão de vida para os consumidores e trabalhadores como resultado do aumento
da produtividade. Quanto maior a eficiência econômica, menor a quantidade
de insumos necessários (trabalho, terra e capital) para gerar bens e serviços.
Potencialmente, isso pode reduzir os preços e diminuir as horas de trabalho
necessárias para os participantes numa economia manterem elevados níveis de
consumo.

2. As empresas também se beneficiam com a obtenção de maiores margens


de lucro, em função de custos de produção mais baixos. Isto permite melhor
remuneração para os empregados, volume mais elevado de capital de giro e
maior capacidade competitiva.

3. Governos: maior crescimento econômico também irá gerar maior arrecadação


de tributos pelos governos. Isso permite aos governos investirem mais no sentido
de infraestrutura e serviços sociais (como mencionado acima).

Fatores Que Afetam a Produtividade


A consideração final importante na avaliação do potencial de produtividade
é a fronteira de possibilidades de produção, que descreve essencialmente a
quantidade máxima de produção dos dois bens, no âmbito da nossa capacidade
de oferta tecnológica atual.

25
Introdução à Economia

O diagrama a seguir nos ajuda a entender esse raciocínio. Ele é baseado em


trabalhos do economista Paul Samuelson, prêmio Nobel de Economia de 1952,
que desenvolveu estudos relativos à alocação e distribuição de bens públicos e
privados.

Esse diagrama se refere às possibilidades da produção de bens e serviços


públicos e privados. O eixo vertical (OA) representa a situação na qual TODOS
os bens e serviços produzidos na sociedade são PRIVADOS. Já o eixo horizontal
(OB) representa a situação na qual TODOS os bens e serviços produzidos na
sociedade são PÚBLICOS.

Figura 1 - Curva da fronteira de possibilidades de produção de dois bens

Fonte: O autor.

Examine os pontos X e Y do diagrama. Eles representam as diferentes


combinações da produção de bens privados e bens públicos em uma sociedade.
No ponto X, o montante dos recursos alocados para a produção de bens privados
é superior à de bens públicos (OC > OE). Já o ponto Y representa uma situação
na qual o montante dos recursos destinados à produção de bens públicos supera
a de bens privados (OF > OD).

Deve ficar claro, porém, que estas são “situações-limite”, que não encontram
respaldo na realidade, pois sabemos que nossa cesta de consumo é composta

26
Capítulo 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

de uma variedade de bens pelos quais pagamos diretamente a quem nos vende
(refrigerantes, sapatos etc.) e também de serviços que consumimos sem pagar
diretamente a quem os presta, tais como os serviços de segurança pública, por
exemplo.

Portanto, o que devemos ter em mente é que quanto maior a produção de


bens públicos menor será a parcela de recursos destinada à produção de bens
privados. E vice-versa.

Economia de Escala
Ocorre quando a empresa aumenta a quantidade produzida e obtém ganhos
de produtividade, pois o custo fixo dividido pela quantidade produzida decresce.
Exemplo: o custo do aluguel de um galpão é o mesmo para produzir mil ou duas
mil unidades de um produto. Se o aluguel é igual a $ 10.000,00 por mês, o custo
do aluguel ao se produzir mil unidades é $ 10,00 por unidade; se a produção for
duas mil unidades o custo é $ 5,00 por unidade, isto é, a metade em relação à
produção de mil unidades.

Economia de EscoPo
Ocorre quando a empresa obtém maior eficiência ao passar a operar em mais
de um segmento de negócio, especialmente de natureza complementar. Exemplo:
uma siderúrgica instala uma empresa metalúrgica, em um mesmo galpão,
utilizando sobras da produção de perfis de aço. Com isso, a empresa incorre
em menores custos para transportar as sobras da área de produtos siderúrgicos
para o local de produção de produtos metalúrgicos; pode utilizar mão de obra por
ventura ociosa em uma determinada etapa da produção de aço na produção de
produtos metalúrgicos; pode promover programas de capacitação conjunta para
empregados das distintas divisões da empresa etc.

Atividades de Estudos:

1) Conceitue o que são bens intermediários.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

27
Introdução à Economia

____________________________________________________
____________________________________________________

2) Preencha os espaços em branco:

Define-se como trabalho-intensivo o método de produção que


utiliza maior quantidade de _____________ em relação à
utilização de ______________.

3) Explique a diferença entre eficiência produtiva e eficiência


econômica.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

4) Explique a diferença entre economia de escala e economia de


escopo.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

5) Explique o que é custo de oportunidade.


_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

AlGumas ConsideraçÕes
Vimos neste capítulo que a Economia é uma ciência social que trata dos
desejos humanos e sua satisfação. Como as vontades humanas são ilimitadas,
a escassez de produtos e serviços é um aspecto relevante da vida. Como tudo
o que queremos não é de igual importância, isto nos leva à escolha. Como há
escassez de mercadorias e serviços, temos que pagar um preço por elas. E, como
os preços são pagos em dinheiro, a economia estuda o papel desempenhado
pelo dinheiro na vida econômica de uma sociedade. Ela estuda como as pessoas
28
Capítulo 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

ganham e gastam dinheiro e como isso afeta o seu modo de vida do ponto de
vista individual e social.

Vimos também que a produção de bens e serviços se baseia na combinação


dos fatores de produção – o capital humano, o capital financeiro, o capital físico
e o capital tecnológico (a capacidade empresarial, os softwares etc.). Ocorre que
existem restrições quantitativas e qualitativas quanto ao máximo da eficiência
produtiva. Este limite ocorre quando não há mais ociosidade na utilização dos
fatores e quando se esgotam as possibilidades de produção por meio das
combinações no uso dos fatores. Este é o ponto em que qualquer acréscimo na
produção de um setor produtivo implica a redução da produção dos demais, o
que obriga as empresas se basearem em dados microeconômicos para fazer uma
variedade de escolhas, assunto a ser apresentado no próximo capítulo.

ReferÊncias
MANKIW, N. G. Introdução à economia. 3. ed. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2005.

PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 6. ed. São Paulo:


Pearson 2006.

29
Introdução à Economia

30
C APÍTULO 2
Microeconomia

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer o campo de estudo da microeconomia.

 Conhecer os principais conceitos e fenômenos associados aos processos


decisórios de consumo e produção que ocorrem no mercado de bens e
serviços, a fim de definir estratégias de alocação de ativos físicos, financeiros,
tecnológicos e gerenciais.
Introdução à Economia

32
Capítulo 2 MICROECONOMIA

ConteXtualiZação
As empresas se baseiam em dados microeconômicos para fazer
uma variedade de escolhas. A qualidade das informações e dados sobre o
comportamento do setor em que atua, sobre os consumidores, fornecedores,
competidores e processos produtivos podem significar o sucesso ou fracasso de
uma empresa.

A LÓGica Microeconômica e o
ComPortamento da EmPresa
Dados microeconômicos são geralmente utilizados para compor estudos
matemáticos, a partir dos quais decisões lógicas podem ser feitas.

Vejamos o exemplo de uma empresa A que fabrica e vende roupas e possui a


informação de que seus clientes têm uma preferência para camisas azul-marinho,
com gola em V e se dispõem a pagar um determinado preço.

No ano anterior, a empresa vendeu 50.000 camisas ao preço unitário de $70.


Neste ano a economia não mudou: o Produto Interno Bruto (PIB), as taxas de
desemprego, as taxas de juros e o estoque de mercadorias são basicamente os
mesmos do ano anterior. A lógica ditaria que 50.000 camisas azul-marinho, com
gola em V devem ser fabricadas e colocadas à venda por $ 70 pela empresa A.

Entretanto a empresa B, que concorre com a empresa A, está vendendo


uma camisa nesta temporada que é similar em estilo e qualidade às camisas da
empresa A. Mas a camisa da empresa B está sendo oferecida para venda por
menos $7 ou 10% de desconto em relação ao preço da camisa da empresa A.

O que a empresa A deve fazer? A teoria microeconômica sustenta que uma


redução de preço deve aumentar a demanda. Se o preço das camisas da empresa
A for inferior ao das camisas da empresa B, então, teoricamente, a empresa A irá
vender mais camisas do que a empresa B.

Mas como seria o impacto da redução do preço na margem de lucro de


uma empresa? Reduziria o lucro e a capacidade da empresa A pagar os juros e
principal de sua dívida? Haveria dinheiro suficiente para marketing e publicidade?

Como a diminuição da rentabilidade afetaria o preço de suas ações no


mercado? E se o preço da ação cair, haverá futuras vendas de estoque, baixando
ainda mais o seu preço?
33
Introdução à Economia

É razoável supor que estes são os tópicos de discussão nos níveis mais altos
de gestão da empresa, quando os executivos se reúnem para tomar uma decisão
sobre os passos futuros da empresa.

Imagine ainda que outro fator seja apresentado antes que uma decisão final
seja feita sobre o número de camisas a serem produzidas e a que preço elas serão
vendidas no mercado. O vice-presidente de marketing e propaganda faz uma
pergunta pertinente: E se a firma A aumentar sua comercialização e publicidade
em 5% do orçamento ao invés de reduzir sua margem de lucro em 10%? Poderia o
aumento dos gastos em marketing e publicidade incrementar a venda de camisas
azuis e, portanto, vencer a concorrência? Dados microeconômicos demonstram
que em alguns casos uma campanha vigorosa pode vir a ser uma ferramenta de
sucesso para vencer a concorrência.

O atual mercado global de cadeias de hambúrguer é caracterizado por


vários competidores, tentando atrair a atenção de segmentos diversificados de
consumidores. A diversidade em vigor determina seu comportamento e atitude
em relação a diferentes produtos e serviços oferecidos pelas empresas do setor.
A teoria microeconômica define o comportamento do consumidor na compra, no
consumo, na avaliação e no abandono do consumo de produtos e serviços. Ou
seja, a ótica microeconômica analisa como os indivíduos tomam decisões de
gastar seus recursos disponíveis (tempo, dinheiro, esforço) em itens relacionados
ao consumo.

Uma vez que os Uma vez que os consumidores apresentam comportamento


consumidores dinâmico, especialmente no que diz respeito a seu gosto e preferências
apresentam alimentares, é importante para as empresas do setor de hambúrguer
comportamento
dinâmico importante entender o seu comportamento, a fim de desenvolver estratégias
para as empresas para tomar decisões eficazes. O comportamento do consumidor
entender o seu
comportamento, a é um processo complexo que envolve as atividades de pessoas
fim de desenvolver que procuram, escolhem, compram, consomem, avaliam e deixam
estratégias para de consumir produtos e serviços baseados na satisfação de suas
tomar decisões
eficazes. necessidades e desejos.

Vários fatores podem ser encontrados para influenciar o comportamento dos


consumidores, tais como preocupações emocionais, restrições quanto à renda,
percepções diferenciadas sobre o futuro etc. Compreender o processo de como
é tomada uma decisão de compra é fundamental uma vez que constitui a base
a ser usada para analisar o impacto de qualquer dado produto em mercados
específicos. Decisões de compra do consumidor também são essenciais para o
desenvolvimento de estratégias de marketing das empresas. Isso ocorre porque
o comportamento do consumidor para produtos e serviços específicos tende a
afetar o custo, a receita e o lucro da empresa.

34
Capítulo 2 MICROECONOMIA

O estudo e o conhecimento do comportamento de compra dos consumidores


permitem aos comerciantes saber por que os consumidores compram produtos
específicos, quando, onde, como eles os compram, quantas vezes eles os
compram, como eles os consomem, bem como deixam de consumi-los. Com base
nessas informações e dados os comerciantes estarão melhor preparados para que
possam efetivamente desenvolver estratégias que irão prever o comportamento
de compra do consumidor no mercado e melhor planejar sua produção.

O exemplo acima torna explícita a importância das ferramentas conceituais e


teóricas em microeconomia (estruturas de comportamento e mercado consumidor)
que irão melhorar as práticas das empresas que exploram os diversos segmentos
comerciais, industriais e de serviços.

A microeconomia é o ramo da economia dedicado ao estudo do


comportamento das unidades de consumo (famílias e/ou indivíduos)
ao estudo da produção e dos respectivos custos incorridos pelas
firmas, e dos preços dos diversos bens e serviços.

O Conceito de Mercado
Mercado é o local (físico ou não) onde vendedores e compradores se
relacionam para realizar a troca de mercadorias e serviços, com a observância
de regras específicas previamente definidas sob as quais são efetuadas as
transações. Exemplos de mercado são: a feira de frutas, legumes e verduras
(espaço físico onde ocorrem as transações) e as bolsas de valores e títulos de
dívida (espaço não físico onde ocorrem as transações, como a internet).

O Conceito de Procura
Uma das regras observadas pelos agentes que participam dos mercados
de transações é a revelação do preço da mercadoria pelo vendedor (etiqueta
ou tabuleta de preço, por exemplo) e a manifestação expressa pelo comprador
do preço pelo qual deseja comprar a mercadoria. As quantidades ofertadas pelo
vendedor e as demandadas pelo comprador estão associadas à revelação dos
preços por eles manifestada. Quanto mais baixo o preço do produto maior a

35
Introdução à Economia

quantidade desejada de ser adquirida pelo comprador; quanto mais alto o preço
do produto maior a quantidade desejada de ser ofertada pelo vendedor.

Entretanto, à medida que a quantidade desejada do produto aumenta, dadas


as limitações físicas e de tempo necessárias ao seu consumo, decresce o valor
atribuído pelo consumidor, isto é, a utilidade que obtemos com cada unidade
adicional. Diz-se, assim, que a utilidade de cada unidade marginal é decrescente.

Como indivíduos racionais desejamos “pagar pelo que consumimos”.


Assim, se atribuímos valores decrescentes à satisfação adicional que obtemos
ao consumir “mais uma unidade” do produto ou serviço, o preço que estaremos
dispostos a pagar por essa unidade adicional também decresce.

O mercado expressa os interesses de produtores e consumidores: os


produtores querem ganhar o máximo possível; enquanto os consumidores
querem pagar o mínimo possível. O resultado desse processo é o chamado preço
de equilíbrio de mercado, situação em que consumidores e produtores satisfazem
seus interesses com o máximo de vantagem e o mínimo de perda individual
possível. O preço de mercado é a referência por meio da qual o consumidor
expressa, na prática, de maneira aproximada o valor subjetivo que atribui à
mercadoria ou ao serviço, levando em conta a renda disponível para o seu
consumo e de sua família. De maneira análoga, o preço de mercado é a forma
pela qual o empresário busca recuperar o custo de produção e obter a margem de
ganho pretendida com a produção.

Para qualquer preço superior ao preço de equilíbrio, a quantidade ofertada


pelo vendedor é maior do que a que o comprador deseja comprar. Nesse caso
ocorre um excesso de oferta. De maneira análoga, para qualquer preço inferior ao
preço de equilíbrio, surgirá um excesso de demanda.

Assim, para que a transação se efetue, quando há excesso de oferta em


relação à procura de um bem ou serviço, o seu preço tende a baixar. Quando
ocorre um excesso de demanda, o preço tende a subir.

A quantidade vendida diminui quanto, se o preço aumentar em um


determinado valor? Se, por exemplo, uma mudança de 5% no preço provoca uma
variação de 5% na quantidade vendida, dizemos que a elasticidade (a medida de
sensibilidade de resposta) é igual a 1 (um).

Já, se, por exemplo, uma mudança de 5% no preço provoca uma variação de
2% na quantidade vendida, dizemos que a elasticidade (a medida de sensibilidade
de resposta) é igual a 0,4 (2%:5%). Como o resultado é inferior a 1, dizemos que
“a demanda é inelástica”

36
Capítulo 2 MICROECONOMIA

Se, por exemplo, uma mudança de 5% no preço provoca uma variação de


7% na quantidade vendida, dizemos que a elasticidade (a medida de sensibilidade
de resposta) é igual a 1,4 (7%:5%). Como o resultado é superior a 1, dizemos que
“a demanda é elástica”

E ainda, se, por exemplo, uma mudança de 5% no preço não provoca


qualquer variação na quantidade vendida, dizemos que a elasticidade (a medida
de sensibilidade de resposta) é igual a ZERO (5%:0%).

Efeitos Substituição e Renda


A ocorrência de variação de preço de um determinado bem substituto pode
provocar o chamado efeito substituição, situação em que os consumidores
tendem a substituí-lo por outro muito semelhante (substituição de manteiga por
margarina, por exemplo).

Pode também ocorrer o efeito-renda, quando a variação do preço de um


bem ou serviço acarreta variação na renda do consumidor, sem que a mesma
tenha nominalmente variado. Por exemplo, um consumidor regular de um quilo de
manteiga por mês, tem sua renda disponível indiretamente aumentada devido à
queda do preço do quilo da manteiga. Isto é, consumirá a mesma quantidade, mas
pagará menos, economizando uma parte de sua renda. O caso inverso (aumento
do preço da manteiga e redução da renda disponível) também se aplica a esta
situação.

Há casos em que ocorrem os efeitos substituição e renda ao mesmo tempo.


Se um consumidor regular de um quilo de manteiga por mês observa a queda
conjunta nos preços do quilo da manteiga e da margarina, ele poderá substituir
manteiga por margarina, cujo preço é tradicionalmente inferior ao da manteiga.

Bens complementares são aqueles que apresentam


Bens
comportamento homogêneo da oferta e da procura. Exemplos são
complementares
as indústrias da construção civil e da produção de móveis, quando os são aqueles
movimentos de variação da oferta e da procura ocorrem no mesmo que apresentam
sentido. Pode também ocorrer efeito cruzado em relação aos preços comportamento
de bens complementares: uma diminuição do preço dos imóveis (com homogêneo da
aumento de sua procura) pode ocasionar aumento do preço dos oferta e da procura.
móveis, caso sua oferta não tenha sido aumentada.

37
Introdução à Economia

O Conceito de Oferta
O conceito de oferta se refere à quantidade de um bem ou serviço que os
produtores desejam vender em um determinado mercado em um determinado
período de tempo. A oferta de um bem depende do preço pelo qual o bem é
transacionado no mercado.

Quanto maior for a variação para cima do preço de mercado de um bem,


maior a intenção dos ofertantes em aumentar a produção, levando em conta os
preços dos fatores de produção, os quais determinam o custo de produzir o bem
ou serviço.

De maneira inversa, quanto maior for a variação para baixo do preço de


mercado de um bem, maior a intenção dos ofertantes em reduzir a produção,
levando em conta os preços dos fatores de produção, os quais determinam o
custo de produzir o bem ou serviço.

Estruturas de Mercado
O mercado apresenta três estruturas básicas: concorrência perfeita;
monopólio e oligopólio.

a) Estrutura de concorrência perfeita

• O número de agentes compradores e vendedores é de tal ordem que


nenhum deles, individualmente, possui condições para influir decisivamente no
mercado.
• Os produtos são homogêneos podendo ser fabricados por qualquer dos
produtores.
• Produtores e consumidores têm mobilidade e não há acordo de preço
entre os que participam do mercado.
• O preço é definido de maneira impessoal, ninguém individualmente o
estabelece.
• Deve haver transparência no mercado. Não há informações privilegiadas
para qualquer agente econômico.

38
Capítulo 2 MICROECONOMIA

b) Estrutura de monopólio

• Quando há no mercado apenas um vendedor, que domina inteiramente o


mercado.
• O produto da empresa monopolista não tem substituto próximo. Não há
alternativas para os consumidores.
• A entrada de concorrentes no mercado é praticamente impossível.
• O monopolista possui poder total sobre a formação dos preços.
• Os monopólios não agem de forma transparente. Suas operações e
transações são uma espécie de caixa preta.

Há situações, entretanto, em que a ocorrência de monopólio é inevitável,


como no caso de serviços de distribuição de energia elétrica e de saneamento, em
âmbito regional, pois é necessária a existência de economias de escala, elevado
volume de investimento e uniformidade na prestação dos serviços. Esses casos
caracterizam-se como estruturas de monopólio natural.

c) Estrutura de oligopólio

• É formada por um pequeno grupo de grandes empresas que dominam um


ou vários ramos de produção e dividem entre si o mercado.
• Há fortes barreiras para a entrada de concorrentes
• Quando há acordo de preços entre os oligopólios, a concorrência é
residual.

Atividades de Estudos:

1) Conceitue “efeito-renda” e ‘efeito-substituição”. Dê um exemplo


para cada um dos efeitos.
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____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Quais são os três tipos de estruturas de mercado?


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____________________________________________________
____________________________________________________

39
Introdução à Economia

____________________________________________________
____________________________________________________

3) Dê duas características da estrutura de mercado caracterizada


como “concorrência perfeita”.
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4) Por que a elasticidade da demanda de sal é zero?


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____________________________________________________
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AlGumas ConsideraçÕes
Neste capítulo foram apresentados os conceitos efeito-renda e efeito-
substituição, estruturas de mercado, comportamento do consumidor e preço
de equilíbrio, dentre outros, que se inserem na análise microeconômica, com
o objetivo de permitir às firmas, em seus respectivos segmentos comerciais,
industriais e de serviços, desenvolver estratégias e melhor planejar as suas ações
e operações.

Entretanto, não podemos generalizar sobre o comportamento do sistema


econômico como um todo ou sobre o comportamento dos grandes agregados,
tais como o consumo e o investimento a partir das leis econômicas que regem
os padrões de comportamento das unidades individuais estudados pela
microeconomia.

Por essa razão, no Capítulo 3, veremos como as informações e análises sobre


o conjunto dos agentes que operam no ambiente macro podem complementar o
conhecimento oferecido pela análise dos microfundamentos da economia.

40
Capítulo 2 MICROECONOMIA

ReferÊncias
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 6. ed. São Paulo: Pearson
2006.

41
Introdução à Economia

42
C APÍTULO 3
Macroeconomia

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer o campo de estudo da macroeconomia.

 Conhecer os principais conceitos e fenômenos por ela estudados, a fim de


tomar decisões associadas aos efeitos de política econômica decorrentes das
suas ações sobre o nível do emprego, a estabilidade de preços dos produtos
e dos fatores de produção, a distribuição justa da renda e o crescimento
econômico.
Introdução à Economia

44
Capítulo 3 MACROECONOMIA

ConteXtualiZação
A macroeconomia é o campo das ciências econômicas responsável pela
formulação de políticas econômicas. A ideia de que as nações possuem livre
e igual oportunidade de acesso aos mercados de bens e serviços é vinculada
ao ‘laissez faire’, ideologia fortalecida ao final do século XVIII. A intervenção do
governo em matéria econômica é atualmente uma constatação. Os governos
lidam não com indivíduos, mas com grupos e massas de indivíduos, validando
assim a importância e a necessidade de estudos macroeconômicos. Por exemplo,
durante a Grande Depressão de 1920, quando centenas de milhares de cidadãos
estavam em busca de emprego, a macroeconomia ajudou a analisar a causa e
propor medidas de combate à queda do nível de atividade econômica, levando à
adoção de políticas apropriadas para lidar com tal situação.

O estudo da macroeconomia é essencial para a compreensão apropriada


da microeconomia. Nenhuma lei microeconômica poderia ser enquadrada sem
um estudo prévio dos agregados, por exemplo, pois a teoria da firma individual
não poderia ser formulada tendo como referência o padrão de comportamento
de uma única empresa. A teoria foi possível ser validada somente depois que
o padrão de comportamento de várias empresas foi examinado. Uma floresta,
embora seja uma agregação de árvores (não uma soma de árvores), não exibe
o comportamento e as características de árvores individuais. Ela é representada
pelo sistema de árvores que lá existem.

As flutuações econômicas são uma característica da forma capitalista


de sociedade. A teoria das flutuações econômicas pode ser compreendida e
construída somente com a ajuda da macroeconomia, pois temos que levar em
consideração o consumo, a poupança e o investimento na economia em termos
agregados. Assim, somos levados a analisar as causas das flutuações na renda,
de produção e do emprego e fazer tentativas de controlá-los ou pelo menos
reduzir sua gravidade.

A abordagem macroeconômica é de grande importância para analisar e


compreender os efeitos da inflação e da deflação. Diferentes setores da sociedade
são afetados de forma diferente como resultado de alterações no valor do dinheiro.
A análise macroeconômica nos permite tomar certas medidas para neutralizar as
influências negativas da inflação e deflação.

A macroeconomia nos ajuda a compreender e analisar o desempenho de


uma economia. Implica o estudo orientado para o resultado de uma economia
como um todo. Estimativas do Produto Interno Bruto (PIB) (ver a seção que trata
de conceitos de fluxo e estoque) são usadas para medir o desempenho de uma

45
Introdução à Economia

economia ao longo do tempo, comparando a produção de bens e serviços num


período com outros períodos, pois a composição do PIB nos oferece informações
sobre o quantum da contribuição de cada setor da economia para o país.

Por que devemos estudar macroeconomia e microeconomia


separadamente?

Uma importante questão que se coloca é sobre a necessidade do estudo em


separado do sistema econômico como um todo e de seus grandes agregados.

Qual é a razão pela qual não podemos determinar as leis que regem as
variáveis macroeconômicas, tais como PIB, emprego e renda, nível geral de
preços etc., simplesmente somando, multiplicando, ou calculando uma média
dos resultados obtidos a partir do comportamento das indústrias e empresas
individuais, conforme estudado pela microeconomia?

Tal dificuldade decorre do fato de que o comportamento do sistema


econômico como um todo, ou os agregados macroeconômicos, não pode ser
obtido a partir da simples operação de adição ou multiplicação, ou uma média do
que acontece em suas várias partes individuais, pois o que é verdade em relação
às partes não é necessariamente verdade com relação ao todo.

A macroeconomia é o ramo da economia dedicado ao estudo


da atividade econômica como um todo, isto é, de maneira agregada,
diferentemente da abordagem microeconômica, que trata do
comportamento dos consumidores e dos produtores de maneira
individual. Dessa forma, são agrupados os recursos, as atividades
produtivas, as transações entre consumidores, produtores e o
governo, tanto interna como externamente ao país.

Os setores e respectivos indicadores agregados são:

Setor Famílias e Empresas: consumo, investimento e poupança.


Setor Externo: exportações e importações.

46
Capítulo 3 MACROECONOMIA

Setor Governo: tributos e gastos do governo.

O conceito de agregado em macroeconomia leva em consideração a soma


de tudo que é produzido, transacionado, tributado, importado, exportado etc., sem
a dupla contagem que ocorre quando um produto é vendido/comprado, um salário
ou um tributo é pago/recebido etc.

Exemplos de agregado são: o Produto Interno Bruto (PIB), a Renda Nacional,


o Investimento e a Poupança (todos com inicial em maiúsculo para diferenciá-
los da produção e da renda das empresas, do investimento e da poupança
individuais).

Conceitos de FluXo e EstoQue


Compreender a diferença entre variáveis de fluxo e estoque é essencial para
o entendimento e análise de dados financeiros e econômicos. Matematicamente
falando, uma variável de fluxo é um vetor, uma medida bidimensional. Uma
dessas dimensões é o tempo. O outro é a quantidade da variável em questão que
foi obtida no período especificado. Um exemplo é o pagamento mensal do aluguel
de um apartamento. Por outro lado, uma variável de estoque é uma medida
unidimensional. É uma medida instantânea, obtida em um momento no tempo.
Um exemplo é o valor de um apartamento posto à venda.

O Elemento TemPo
As demonstrações financeiras normalmente auditadas são produzidas em
períodos trimestral e anual, e estas são as dimensões de tempo comum à maioria
das estatísticas das variáveis de fluxo em finanças. Para o gerenciamento interno
de relatórios, no entanto, os relatórios financeiros, muitas vezes, são produzidos
em uma base mensal, semanal e até mesmo diária. Com efeito, em grande parte
das empresas financeiras, especialmente em empresas de valores mobiliários, o
fechamento diário dos livros é habitual.
A dimensão de
A dimensão de tempo associada a uma variável de fluxo tempo associada
determinado é fundamental para a correta interpretação dos mesmos, a uma variável de
incluindo o uso de dados históricos para desenvolver previsões fluxo determinado é
fundamental para a
financeiras e projeções para períodos futuros.
correta interpretação
dos mesmos.
As variáveis econômicas podem ser denominadas de "variáveis de
fluxo" ou de "variáveis de estoque".

47
Introdução à Economia

a) Variáveis de fluxo

As variáveis de fluxo (ou simplesmente variáveis fluxo) são mensuradas em


um período de tempo; enquanto que as de estoque são medidas em certo instante
no tempo. No Brasil, por exemplo, são feitas avaliações trimestrais, principalmente
do PIB, o que denota o seu caráter de "fluxo". Já a dívida pública e a quantidade
de capital são medidas em um determinado ponto do tempo, portanto, são
variáveis tipo "estoque".

Os fluxos podem ser Os fluxos podem ser representados pela circulação dos bens e
representados pela serviços (fluxo real) que fluem das famílias para as empresas, isto é, a
circulação dos bens oferta de mão de obra e a aplicação de suas poupanças; um segundo,
e serviços. constituindo o fluxo de renda (fluxo monetário) – correspondendo aos
pagamentos pelas empresas às famílias detentoras dos fatores de
produção utilizados, e que são traduzidos nos salários, aluguéis, juros e royalties.

Exemplos de agregados que representam o conceito de fluxo são: o produto


interno bruto, a renda nacional, a exportação, a importação, a arrecadação de
tributos e o consumo.

Com isto a Renda agregada é representada pela soma das rendas pagas
aos detentores dos fatores de produção, conforme o esquema a seguir:

Figura 2 - Composição da renda agregada

Fonte: O autor

48
Capítulo 3 MACROECONOMIA

Para cômputo da Despesa agregada e do Produto agregado (ou Produto


Interno Bruto – PIB), considera-se o mesmo somatório da Renda agregada.

b) Variáveis de estoque

Os resultados investidos e acumulados em máquinas, equipamentos,


infraestrutura física (fábricas, portos, barragens, hidrelétricas, rodovias, ferrovias
etc.), em infraestrutura social (escolas, hospitais, centros de atendimento etc.), na
criação de softwares e no desenvolvimento de novas tecnologias, por exemplo, e
na educação formal de crianças, adolescentes e adultos, configuram o estoque de
capital físico, financeiro, tecnológico e humano de um país. Dos exemplos citados,
o capital humano é praticamente impossível de ser quantificado em moeda, o que
não permite avaliar o estoque total de um país, mas sabe-se que sua influência é
relevante na geração de fluxos reais e monetários, cuja parte de seus resultados
será adicionada ao estoque existente, acumulado nos períodos anteriores.

O investimento e a dívida pública são exemplos de agregados caracterizados


como estoque.

A abordagem macroeconômica tem a vantagem de permitir uma melhor


compreensão dos fatos mais relevantes da economia, representando assim um
importante instrumento para a formulação e a execução da Política Econômica.

A PolÍtica Econômica Como uma


PolÍtica PÚblica
O envolvimento
O envolvimento das empresas e da sociedade civil – consumidores,
das empresas e
empresários privados, trabalhadores, cidadãos e grupos comunitários – da sociedade civil
na concepção de políticas públicas é de fundamental relevância para na concepção de
que os países em desenvolvimento possam melhorar a transparência, políticas públicas
a qualidade e a eficácia das suas políticas, bem como estabelecer a é de fundamental
legitimidade das políticas públicas. relevância para
que os países em
desenvolvimento
As condições socioeconômicas e políticas de um país moldam possam melhorar
a rede de agentes envolvidos em uma determinada política. A fraca a transparência,
capacidade institucional, a falta de responsabilização dos agentes a qualidade e a
governamentais e o baixo nível de participação dos cidadãos no eficácia das suas
processo de formulação de políticas nos países em desenvolvimento políticas, bem
como estabelecer
determinam as relações entre os níveis de desenvolvimento econômico
a legitimidade das
e os respectivos regimes de bem-estar social. políticas públicas.

49
Introdução à Economia

O desenvolvimento econômico de um país depende da qualidade de seu


quadro de políticas públicas. No contexto das políticas públicas, a formulação
da política inclui a identificação de alternativas para tratar os problemas
socioeconômicos. O processo de seleção inclui a definição de metas e prioridades,
opções de solução para a realização dos objetivos, a análise dos custos e
benefícios, os efeitos positivos associados a cada política alternativa etc.

As escolhas das políticas econômicas apresentam significativa complexidade


em países que enfrentam as fragilidades acima apontadas. Em alguns contextos,
a política econômica pode ser considerada um espaço de conflitos. Este é o caso
das sociedades onde a distribuição da renda e de recursos naturais é contestada
e figura na raiz do conflito. Em alguns casos, os formuladores de políticas
econômicas estão trabalhando para atingir as metas de crescimento, a redução da
pobreza e a prosperidade partilhada num ambiente caracterizado pelo conflito. As
escolhas de política econômica irão variar dependendo dos níveis de renda dos
países, das dotações de capital humano, dos recursos naturais e da capacidade
institucional do Estado.

Com efeito, a política econômica tem como foco os seguintes temas:

a) o nível do emprego;
b) a estabilidade de preços dos produtos e dos fatores de produção;
c) a distribuição justa da renda;
d) o crescimento econômico.

Nível de emprego: a preocupação com o emprego visa garantir o nível de


demanda agregada e, através do gasto público, manter o equilíbrio econômico.

Estabilidade dos preços: a busca da estabilidade dos preços dos produtos


e serviços de consumo final e de consumo intermediário (salários, taxa de
juros, pagamento de royalties e aluguéis) é expressa pelo combate à inflação,
representada pelo aumento generalizado e contínuo do preço das mercadorias.
O aumento do preço dos produtos e serviços de bens de consumo final pode ser
resultante de um aumento da demanda maior do que o aumento da oferta (“inflação
de demanda”) e/ou do aumento dos preços dos bens e serviços intermediários e
de produção (“inflação de oferta” ou “inflação de custos de produção”).

A inflação pode afetar qualquer economia. Entretanto, nas economias


dos países que não apresentam altos níveis de industrialização e capacidade
de adquirir capital para o seu desenvolvimento, a inflação ocorre com maior
intensidade. Dessa forma, a estabilidade dos preços passa a ser uma meta de
governo, uma vez que a inflação, a partir de um determinado patamar, aumenta
a incerteza com relação às expectativas de consumo, de produção e de

50
Capítulo 3 MACROECONOMIA

investimento.

Distribuição de renda: os princípios de igualdade e equidade na distribuição


de renda se associam ao conceito de justiça social. Além disso, nas economias
capitalistas como no Brasil, o poder aquisitivo de grande parcela da população
é um fator importante para o crescimento do consumo e, consequentemente, da
produção e do emprego.

Crescimento econômico: o crescimento do consumo, da produção e do


emprego, entretanto, requer o aumento do investimento privado e público. O
primeiro diz respeito ao acréscimo do estoque de capital das empresas (novas
fábricas, novos equipamentos, novas tecnologias etc.) enquanto que o segundo se
refere ao aumento do estoque de capital de uso coletivo, tal como a infraestrutura
física (portos, rodovias, ferrovias etc.) e social (hospitais, escolas públicas etc.)
como forma de dar sustentabilidade ao processo de crescimento.

A(s) PolÍtica(s) Econômica(s):


PolÍticas Monetária, Cambial,
Tributária e Fiscal
A política macroeconômica se preocupa com o funcionamento
da economia como um todo. Em termos gerais, o objetivo da política O objetivo da política
macroeconômica
macroeconômica é fornecer um ambiente econômico estável propício
é fornecer um
para fomentar o crescimento econômico sustentável, do qual depende ambiente econômico
a criação de postos de trabalho, a riqueza e a melhoria das condições estável propício
de vida. São os pilares fundamentais de política macroeconômica: para fomentar
política fiscal, política monetária e política cambial. Esta seção descreve o crescimento
a natureza de cada um destes instrumentos de política e as diferentes econômico
sustentável.
maneiras que eles podem ajudar a promover o crescimento estável e
sustentável.

As políticas macroeconômicas incluem a tributação, os gastos do governo,


a determinação da taxa de câmbio, as regras de crédito etc. Entre as condições
estabelecidas para o sucesso das políticas macroeconômicas figura a redução
da incerteza e do risco na tomada de decisões econômicas, pois um ambiente
macroeconômico estável aumenta as perspectivas de crescimento e melhoria
de qualidade das decisões. Entretanto, a estabilidade econômica se caracteriza
apenas como uma pré-condição, pois as políticas que buscam a estabilidade
também têm um impacto negativo importante sobre como a renda é distribuída
entre classes econômicas e entre regiões, assim provocando efeitos deletérios

51
Introdução à Economia

sobre a redução da pobreza e sobre a convergência dos indicadores de renda e


emprego entre setores, regiões e pessoas.

PolÍtica Monetária
Antes de estudarmos a política monetária, nós devemos estudar a natureza
e as funções do dinheiro. O dinheiro tornou-se tão importante que a economia
moderna é designada como economia de dinheiro.

A necessidade das trocas surgiu ainda nas fases iniciais do desenvolvimento


das sociedades. As trocas ocorriam primeiramente sob a forma de escambo, isto
é, a troca direta de mercadorias por mercadorias. É um sistema de negociação
sem o uso de dinheiro.

No passado quando as necessidades eram poucas e simples, o sistema de


permuta funcionava de maneira satisfatória. Mas com a evolução das sociedades
as trocas diretas foram se tornando inadequadas. O escambo requer dupla
coincidência de desejos, e isso nem sempre é possível. Se uma pessoa possui
vasos de cerâmica e deseja uma mesa em troca, a outra pessoa deve possuir
a mesa e também desejar vasos de cerâmica, caso contrário a troca não pode
realizar-se. Há também a dificuldade de armazenamento. E o dinheiro serve como
reserva de valor. Na ausência do dinheiro, uma pessoa tem que armazenar sua
riqueza sob a forma de mercadorias por um longo período. Como alguns produtos
são perecíveis eles perderão seu valor.

FunçÕes da Moeda
O dinheiro surgiu para superar as dificuldades do escambo. Ele é geralmente
aceito como meio de troca, como um meio de saldar as dívidas, e ao mesmo
tempo atuar como medida e reserva de valor. Assim, o dinheiro inclui moedas,
notas, cheques, cartões de crédito e assim por diante. O dinheiro desempenha
muitas funções em uma economia moderna. As funções mais importantes de
dinheiro são de meio de troca, medida de valor, reserva de valor e padrão de
pagamentos futuros (também chamados diferidos).

a) Meio de troca: a função mais importante do dinheiro é que ele atua como meio
de troca. O dinheiro é aceito livremente em troca de todos os outros bens.

b) A medida de valor: o dinheiro atua como uma medida comum de valor. É uma
unidade de conta e um padrão de medida. Sempre que compramos um produto
no mercado pagamos um preço em dinheiro. E o preço não é senão um valor

52
Capítulo 3 MACROECONOMIA

expresso em termos de dinheiro. Assim podemos medir o valor de um bem pelo


dinheiro que pagamos por ele. Assim como nós usamos o metro para medir o
comprimento e quilogramas para medir peso, usamos o dinheiro para medir o
valor das mercadorias.

c) Reserva de valor: suponha que a riqueza de um homem consista em mil


cabeças de gado bovino. É bastante difícil para ele preservar sua riqueza sob
a forma de gado. Mas dada a existência do dinheiro, ele pode vender seu gado,
receber dinheiro em troca e armazenar sua riqueza sob a forma de dinheiro.

d) Padrão de pagamentos diferidos: o dinheiro é usado como um padrão para


pagamentos futuros (diferidos). Forma a base para as operações de crédito.
Os negócios atualmente são, em grande extensão, baseados no crédito. Isto é
facilitado pela existência de dinheiro. Dado que o pagamento deva ser feito em
uma data futura, deve haver algum meio que terá na medida do possível o mesmo
poder de troca no futuro como no presente.

A Oferta de Moeda

O link a seguir apresenta material do Banco Central do Brasil


sobre o detalhamento dos meios de pagamento: <https://www.bcb.
gov.br/ftp/infecon/NM-MeiosPagAmplp.pdf>.

O Banco Central do Brasil gerencia o sistema monetário do nosso país. Ele


classifica a oferta de dinheiro em quatro componentes.

Meios de pagamento restritos:


M1 = papel moeda em poder do público + depósitos à vista.

Meios de pagamento ampliados:


M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança +
títulos emitidos por instituições depositárias.

M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações compromissadas


registradas no Selic.

Poupança financeira:
M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez.
53
Introdução à Economia

ObJetivos da PolÍtica monetária


Entre os objetivos básicos da política macroeconômica figuram o pleno
emprego, a estabilidade de preços, o crescimento econômico sustentável, o
equilíbrio do balanço de pagamentos e o objetivo da justiça econômica, isto é, a
distribuição equitativa da renda.

O governo segue outras políticas, tais como política industrial, política


agrícola, e assim por diante.

A política monetária é uma componente da política macroeconômica e


compreende a atuação do Governo Federal sobre a quantidade de moeda em
circulação, sobre o crédito e sobre as taxas de juros, controlando a liquidez global
do sistema econômico.

Instrumentos de PolÍtica Monetária

O link a seguir apresenta material do Banco Central do Brasil


sobre o detalhamento dos depósitos compulsórios: <https://www.bcb.
gov.br/htms/novaPaginaSPB/compulsorios.asp>.

O Banco Central tem à sua disposição três instrumentos para a realização


da política monetária: recolhimentos compulsórios, redesconto e operações de
mercado aberto.

Os recolhimentos compulsórios constituem-se em um instrumento à


disposição do Banco Central para influenciar a quantidade de moeda na economia.
Eles representam uma parcela dos depósitos captados pelos bancos que devem
ser mantidos compulsoriamente “esterilizados” no Banco Central. A alíquota dos
recolhimentos compulsórios é um quociente entre a oferta de moeda em relação
à base monetária. Por exemplo, diminuições na alíquota farão com que os bancos
possam emprestar maior parcela das suas reservas e, portanto, aumentarão a
quantidade total de moeda para uma dada quantidade de base monetária.

54
Capítulo 3 MACROECONOMIA

Há, no Brasil, atualmente, vários tipos de recolhimento


compulsório, podendo ser destacados os que incidem sobre os
depósitos à vista; sobre depósitos e de garantias realizadas; sobre
depósitos de poupança e sobre depósitos a prazo.

A taxa do redesconto é a taxa mínima em que o banco central de um país


empresta dinheiro a todos os outros bancos. Suponha que haja muito dinheiro
em circulação e o banco central queira reduzir o volume. Ele pode fazê-lo
aumentando a taxa de redesconto. Quando a taxa de redesconto sobe, sobem
as taxas cobradas pelos bancos. A expectativa é que, se a taxa de juros sobe, os
produtores irão reduzir os investimentos. Geralmente, para controlar a inflação, o
banco central aumenta a taxa de redesconto.

As operações de mercado aberto: as operações de mercado aberto são


realizadas com títulos do Governo Central. O sucesso das operações de mercado
aberto como arma de controle de crédito, depende principalmente (i) da posse
pelo banco central de volume adequado de valores mobiliários; (2) da presença
de um mercado bem desenvolvido de títulos; e (3) da estabilidade da relação
entre encaixe sobre as reservas dos bancos comerciais. Esta relação espelha a
existência de uma fração do total de depósitos à vista que os bancos comerciais
devem manter em seus cofres ou no banco central.

Valor do DinHeiro
"Valor do dinheiro" significa o poder de compra do dinheiro. O poder aquisitivo
do dinheiro depende do nível de preços. Um aumento geral no nível de preços
indica uma queda no valor do dinheiro e uma diminuição geral dos preços indica
um aumento no valor do dinheiro.

a) “Dinheiro caro”

Quando há inflação num país, o banco central tenta controlá-la encarecendo


o custo do dinheiro. O termo "dinheiro caro" refere-se a uma fase ou política
monetária na qual as taxas de juros são altas.

55
Introdução à Economia

b) “Dinheiro barato”

"Dinheiro barato" denota uma fase em que os empréstimos estão disponíveis


a baixas taxas de juros ou de uma política que cria esta situação. Política de
dinheiro barato é seguida por um banco central durante um período de depressão
para aumentar a oferta de dinheiro a fim de estimular o investimento.

A Teoria Quantitativa da Moeda e a


EQuação de Trocas
A teoria quantitativa da moeda tem o crédito da sua formulação atribuída a
vários autores dentre os quais Irving Fisher (1867-1947), no livro A Teoria do juro,
de 1930. Fisher afirma que os preços sempre mudam na proporção exata das
mudanças na quantidade de dinheiro. Se a quantidade de dinheiro é duplicada,
os preços duplicam. Se a quantidade de dinheiro é reduzida pela metade, os
preços caem pela metade de seu nível anterior. O ponto principal sobre a teoria
quantitativa é que o nível de preços muda devido a mudanças na quantidade de
dinheiro.

Equação de trocas: a teoria quantitativa da moeda de Fisher foi apresentada


sob a forma de uma equação, conhecida como a "equação de trocas". É também
conhecida como equação de Fisher. A equação de trocas postula que, se “M” é a
quantidade de moeda, “V” é a velocidade de circulação da moeda, “P” é o nível de
preços e “T” é o volume de comércio e, então, MV = PT (ou P = MV/T).

A velocidade de circulação (V) refere-se ao número de vezes que cada


unidade de dinheiro é usada durante um determinado período. A equação diz
que quando aumenta a oferta de dinheiro, outras coisas sendo iguais, haverá um
aumento no nível de preços.

A teoria quantitativa da moeda deve ser entendida como uma relação entre
os preços e a quantidade de dinheiro apenas de maneira parcial. Alterações
no nível de preços podem ser influenciadas por muitas outras razões além das
variações na quantidade de dinheiro, tais como a política monetária do governo
e política fiscal, as entregas de bens em determinado período, o volume do
comércio, alterações na distribuição dos rendimentos das pessoas e procura
efetiva de bens. Uma maneira de se analisar as variações dos preços é estudar
os fenômenos conhecidos como inflação e deflação.

56
Capítulo 3 MACROECONOMIA

Inflação e Deflação
Os termos “inflação” e “deflação” não são fáceis de definir. Com efeito, há
várias definições comumente aceitas, tais como:

a) Inflação A inflação pode


expressar o caso
de um aumento
A inflação pode representar uma situação na qual o valor do apreciável e
dinheiro está caindo, ou seja, os preços estão subindo. persistente no nível
geral dos preços
A inflação pode expressar o caso de um aumento apreciável e ou um aumento
persistente no nível geral dos preços ou um aumento sustentado nos sustentado nos
preços.
preços.

No entanto, não devemos esquecer um ponto importante. Pode haver


inflação mesmo sem um aumento no nível de preços. Isso é conhecido como
“inflação reprimida”. Por conta de muitos controles e racionamento, os preços são
mantidos sob controle. Mas se os controles são retirados, os preços vão subir.
Então, o verdadeiro teste da inflação é um aumento na quantidade de dinheiro,
nem um aumento nos preços, mas a aparência de lucros anormais. Sempre que
os empresários e produtores fazem enormes lucros, é um sinal de inflação.

• Tipos de inflação

− Inflação de demanda: é caracterizada como "muito dinheiro perseguindo


muito poucos bens". Isto refere-se à situação em que o nível geral de preços sobe
porque a demanda por bens e serviços excede a oferta disponível aos preços
existentes.

Há situações em que os preços sobem a taxas elevadas e em alta velocidade


e o dinheiro se torna completamente inútil. Esta situação é conhecida como
inflação galopante ou hiperinflação.

− Inflação de custo: a inflação é induzida pelo aumento dos custos dos


fatores de produção e aumento da taxa de juros de empréstimos para financiar a
produção.

− Inflação de lucros: outra denominação dada à inflação de custos –


associada ao fato de algumas empresas com elevado poder de oligopólio terem
condições de elevar seus lucros acima do aumento dos custos. Como inflação
gera inflação, os lucros elevados, por sua vez levam a preços elevados. Assim,
forma-se um círculo vicioso, denominado espiral inflacionária.

57
Introdução à Economia

b) Deflação

A deflação se caracteriza por um estado de aumento do valor


A deflação se
do dinheiro, ou seja, os preços estão caindo. A deflação é o oposto
caracteriza por um
estado de aumento de inflação. Geralmente, a inflação é um período caracterizado pelo
do valor do dinheiro, aumento de atividade e emprego. Mas durante a deflação, haverá
ou seja, os preços desemprego, pois, os preços caem mais rápido do que os custos de
estão caindo. produção, com perdas para os produtores. Com isso haverá uma queda
no investimento. Isso resulta em desemprego.

Enquanto o aumento dos preços pode ser verificado em certa medida, pela
política de expansão monetária do governo, esta se torna de pouca ajuda no
aumento do nível de preço durante a deflação. Durante a deflação, o governo
deve desempenhar um papel ativo no campo econômico e intensificar a atividade
econômica, pela realização de uma série de programas de obras públicas.

Efeitos das VariaçÕes nos Preços


As variações nos preços afetam diversos segmentos da sociedade de
maneiras diferenciadas. Elas afetam a produção e distribuição, também.

a) Efeitos sobre a produção

Se os preços estão subindo, isso irá estimular a produção. Sob um sistema


capitalista, a produção é realizada voltada principalmente para a geração de
lucros. Durante um período de aumento dos preços (inflação), haverá lucros
anormais. Isto aumenta a produção. Assim, os fabricantes e os empresários
ganham durante a inflação.

Mas se a inflação se torna uma hiperinflação, devido à rápida queda no valor


do dinheiro, os lucros sob a forma de dinheiro podem tornar-se inúteis, ocorrendo
uma “fuga da moeda” e uma busca por mercadorias, o que aumenta ainda mais a
inflação.

b) Efeitos sobre a distribuição

• Classe empresarial: no período inflacionário, produtores e empresários


realizam lucros e durante a deflação sofrem prejuízos.

• Grupos de rendimento fixo: no período inflacionário os rendimentos dos


assalariados, aposentados e pensionistas são afetados negativamente.

58
Capítulo 3 MACROECONOMIA

Durante a deflação, período de queda dos preços, os assalariados podem se


sentir beneficiados, mas estarão também sujeitos à perda de seus empregos.

• Grupos de investidores: pessoas que investiram seu dinheiro em títulos do


governo em busca de renda fixa, mas os detentores de ações de empresas
auferirão lucros durante o período de aumento dos preços e terão perdas
durante o período de queda dos preços.

Atividades de Estudos:

1) A política monetária é controlada pelo:

a) Governo central.
b) Governo estadual.
c) Banco Central.
d) Setor privado.

2) Soma do papel moeda em poder do público com os depósitos à


vista é denominada:

a) M1.
b) M2.
c) M3.
d) M4.

3) A taxa de juro é aumentada durante período de:

a) Deflação.
b) Inflação.
c) Preços estáveis.
d) Desemprego.

4) Períodos de inflação beneficiam:

a) Empresários.
b) Assalariados.
c) Pensionistas.
d) Investidores.

59
Introdução à Economia

5) Uma situação marcada pelo aumento dos preços e estagnação


da procura é conhecida como:

a) Inflação de custo.
b) Inflação de demanda.
c) Estagflação.
d) Inflação de salários.

6) Preencha os espaços em branco:

a) A troca direta de mercadorias por mercadorias é conhecida como


________.
b) A deflação é um período marcado por __________ nos preços.
c) A equação de troca (MV = PT) foi formulada por_____________.
d)Inflação galopante é também conhecida como _________________.
e) A política monetária é geralmente eficaz no controle da
___________.

7) Responda cada uma das seguintes perguntas em uma ou duas


palavras.

a) O nome do banco que controla a oferta de moeda em um país?


____________________________________________________

b) Quando a política de “dinheiro caro” é seguida?


____________________________________________________

c) Qual é o nome da inflação sem um aumento no nível de preços?


____________________________________________________

PolÍtica Cambial
A política cambial influencia as exportações e importações de um país. Os
principais componentes da política cambial de qualquer país são os instrumentos
cambiais e a competência exclusiva de sua formulação e execução é do governo
federal.

A política cambial está baseada na administração da taxa de câmbio,


promovendo alterações das cotações cambiais – de competência do Ministério da
Fazenda – e no controle das transações internacionais do país.

60
Capítulo 3 MACROECONOMIA

O mercado de câmbio é o ambiente físico ou virtual onde se realizam as


operações de câmbio entre os agentes autorizados pelo Banco Central do Brasil
(bancos, corretoras, distribuidoras, agências de turismo etc.) e entre esses e seus
clientes.

A taxa de câmbio reflete, assim, o custo de uma moeda em relação a outra,


dividindo-se em taxa de venda e taxa de compra. A taxa de venda é o preço que
o banco cobra para vender a moeda estrangeira (a um importador, por exemplo),
enquanto a taxa de compra reflete o preço que o banco aceita pagar pela moeda
estrangeira que lhe é ofertada (por um exportador, por exemplo).

A taxa de câmbio é uma das variáveis mais importantes da macroeconomia,


sobretudo no que se refere ao comércio internacional. Quando se deseja negociar
bens e serviços de um país para outro, quase sempre temos de mudar a unidade
de conta do valor desses ativos – da moeda doméstica para a moeda estrangeira.
Nesse sentido, pode-se definir a taxa de câmbio de um país como o número de
unidades de moeda de um país necessário para se comprar uma unidade de
moeda de outro país. Em outras palavras, é a quantidade de moeda nacional
necessária para adquirir outra moeda.

De acordo com a abordagem do livre comércio, cada país deve se


especializar na produção de determinados produtos, nos quais ele seja
relativamente mais eficiente, ou que consiga reduzir custos para exportá-lo. Em
contrapartida, esse mesmo país deve importar mercadorias que não produz ou
cujo custo de fabricação seja mais elevado. Esta abordagem considera que o
esforço de cada país irá, em seu conjunto, propiciar o crescimento econômico do
conjunto dos países. Ocorre que nem todos os países possuem recursos naturais
em abundância, nem apresentam as mesmas condições de desenvolvimento
econômico, social, científico e tecnológico. Entretanto, necessitam de produtos
considerados essenciais para a sobrevivência de sua população.

Dessa maneira, lançam mão de artifícios tais como a taxa de câmbio para
regular o fluxo de suas exportações e importações, de acordo com regimes
diferenciados.

ReGimes de TaXa de CÂmbio


Os regimes de taxa de câmbio são:

• Fixo: mercado e governo compram e vendem moeda estrangeira ao preço


estabelecido pelo governo.

61
Introdução à Economia

• Flutuante: mercado e governo compram e vendem moeda estrangeira ao


preço de mercado.

• Flutuação “Suja”: variante do regime de câmbio flutuante, quando o


governo atua para evitar grandes oscilações da taxa de câmbio.

• Bandas cambiais: relaxamento do sistema fixo. O governo define uma


faixa de preço em que a moeda pode variar livremente.

Efeitos da DesvaloriZação e da
ValoriZação da TaXa de CÂmbio
Economias como a brasileira são mais afetadas do que as dos países
desenvolvidos com mudanças na taxa de câmbio. A principal explicação é que
os preços no Brasil são muito mais afetados e, portanto, as desvalorizações e
valorizações tendem a provocar mudanças mais marcantes na taxa de inflação do
que nos países desenvolvidos.

a) Por que a moeda estrangeira sobe de cotação

• Como acontece com qualquer mercadoria, o preço de uma moeda


aumenta quando aumenta a procura e a oferta se demonstra insuficiente para
atender a este aumento.
• Quem possui a moeda estrangeira só se dispõe a vendê-la a um preço
cada vez mais elevado.
• As instituições financeiras também podem pressionar o Banco Central a
intervir no mercado com a intenção de fazê-lo vender títulos cambiais

b) Efeitos da desvalorização

• Eleva o custo das importações, pois os importadores devem desembolsar


maior quantidade de moeda doméstica para adquirir a mesma quantidade de
moeda estrangeira.

• Estimula as exportações, pois os exportadores trocam a mesma


quantidade de moeda estrangeira por uma quantidade maior de moeda doméstica.

• Incentiva entrada de capitais externos, pois os investidores em moeda


estrangeira recebem maior quantidade de moeda doméstica ao efetuarem seus
depósitos nos bancos nacionais.

62
Capítulo 3 MACROECONOMIA

• Reduz os empréstimos externos, pois os emissores de dívida em moeda


externa estão sujeitos às mudanças nas políticas monetária e cambial dos países
emprestadores.

c) Efeitos da valorização

• Estabilização de preços, pois os (1) produtos importados ficam “mais


baratos”, o que (2) aumenta a oferta interna, provocando a queda nos preços,
e (3) força a redução dos custos de produção internos, mediante o aumento da
produtividade.

• Impacta negativamente as exportações, pois uma mercadoria brasileira


cujo preço seja R$100,00 vai aumentar de preço para um consumidor estrangeiro,
mesmo que o exportador brasileiro a continue vendendo por R$ 100,00, pois ao
converter esse preço para a moeda estrangeira, o consumidor estrangeiro deverá
desembolsar maior quantidade de sua moeda para obter a mesma mercadoria.

Atividades de Estudos:

1) Complete os espaços em branco:

a) As ________________ cambiais tendem a estimular as


exportações.
b) A ____________cambial torna a moeda nacional mais forte o que
estimula as ___________.

2) Assinale V ou F:

a) ( ) Ao desvalorizar-se o câmbio, tornando a moeda nacional mais


forte, estimula-se a compra de produtos importados, aumentando
a concorrência com os nacionais, o que provoca uma pressão de
queda dos preços internos.
b) ( ) A valorização da moeda tem impactos negativos para o setor
exportador, que perde mercado pelo maior valor relativo de seu
produto.
c) ( ) A desvalorização da moeda tem impactos negativos para
os setores que eram mais protegidos e passaram a sofrer a
concorrência dos importados (F).

63
Introdução à Economia

3) Defina taxa de câmbio.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
_______________

4) Defina regime de câmbio fixo, regime de câmbio flutuante e


“flutuação suja”.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

PolÍticas Fiscal e Tributária


Nos primórdios do desenvolvimento da economia, as funções do governo
se caracterizavam como mínimas. As decisões econômicas eram guiadas pelas
forças de mercado de demanda e oferta e ao governo não cabia interferir no
funcionamento das forças de mercado, limitando suas atividades às funções de
manutenção da lei e da ordem, da defesa nacional e da administração pública em
geral.

Os governos modernos, entretanto, não limitam suas atividades ao mínimo.


Além das atividades realizadas pelo Estado tradicional, os governos modernos
comprometem-se com os problemas do crescimento econômico e
O planejamento orientam-se para o desenvolvimento de projetos e atividades voltadas
das ações ao bem-estar social. Por essa razão, o Estado moderno é caracterizado
governamentais como o Estado do Bem-Estar. Para tanto, o Estado deve mobilizar os
se apoia nos recursos necessários para fazer face a gastos cada vez maiores em
orçamentos de razão do aumento de suas responsabilidades e funções.
receitas e despesas
do setor público e
se preocupa com O planejamento das ações governamentais se apoia nos
a identificação e orçamentos de receitas e despesas do setor público e se preocupa com
a avaliação dos a identificação e a avaliação dos efeitos das políticas financeiras do
efeitos das políticas governo. O campo de estudo das Ciências Econômicas que se dedica
financeiras do aos estudos dessas questões é denominado Finanças Públicas ou
governo.
Finanças do Governo.

64
Capítulo 3 MACROECONOMIA

Do ponto de vista operacional, o campo das finanças públicas se preocupa


com os princípios e práticas associados à obtenção de fundos destinados a
alcançar o máximo de bem-estar social e de crescimento econômico do país.
O papel das Finanças Públicas nos tempos modernos, por conseguinte, sofreu
profundas mudanças, tendo em vista os efeitos de natureza macroeconômica
das ações das políticas tributária, fiscal e de endividamento. A despesa pública
e a tributação afetam o nível global de emprego e o nível de preços. As compras
governamentais exercem pressão sobre a demanda agregada, enquanto a
tributação sobre a renda e o consumo afetam a capacidade de aquisição de bens
e serviços pelos empresários e consumidores.

As seguintes subdivisões compõem o tema das Finanças Públicas:

a) Despesas públicas

Tendo em vista o fato de que o governo moderno desempenha as funções de


Estado de Bem-Estar Social, sua responsabilidade é promover políticas públicas
voltadas à proteção social (saúde, assistência e previdência social) e de redução
das disparidades de renda e emprego entre setores, regiões e pessoas.

b) Receitas públicas

As receitas públicas se subdividem em receitas correntes e receitas de


capital:

Receitas correntes – tributárias, patrimoniais, agropecuárias, industriais,


de serviços, transferências correntes (recursos recebidos de outras entidades
e destinados ao atendimento de despesas correntes ou sem destinação
específica, inclusive transferências constitucionais) e as Receitas de Capital, que
correspondem às operações de crédito, às alienações de bens, às transferências
de capital e às amortizações de empréstimos efetuados.

c) Dívida pública

Os empréstimos efetuados ao governo constituem a dívida pública. No mundo


moderno, não é possível aos governos cobrir todas as suas despesas através
de receitas. Portanto, a receita pública fica aquém das despesas públicas. Como
resultado, os governos são obrigados a tomar emprestado de fontes internas e
externas. No caso da dívida interna, o governo toma emprestado de pessoas,
de bancos comerciais e do Banco Central. A dívida externa inclui empréstimos
de instituições monetárias internacionais como o Fundo Monetário Internacional
(FMI) e o Banco Mundial e também de países estrangeiros.

65
Introdução à Economia

O endividamento, entretanto, deve ser utilizado de forma eficiente, isto é, ele


deve, de maneira objetiva, levar em consideração as razões e as condições para
o endividamento.

• As razões para o endividamento

Por que os governos se endividam? Para pagar dívidas contraídas? Para


realizar novos investimentos? Que tipos de investimentos? São investimentos
que irão produzir receitas futuras em volume capaz de permitir o pagamento das
dívidas contraídas? Ou vão criar problemas de endividamento sem solução no
futuro?

Ao tentarmos explicar experiências de endividamento crônico e que


redundam em programas de recuperação econômica e financeira, analisamos as
causas que levaram a tal situação. Essas causas estão relacionadas a aspectos
de natureza administrativa e financeira, tais como o descontrole das contas
públicas, empréstimos com cláusulas de juros e prazos inadequados, falta de
compromisso dos gestores públicos com a sociedade etc.

Cabe, entretanto, fazermos uma distinção entre razões para o endividamento


e as causas do endividamento.

A expressão razões para o endividamento diz respeito aos motivos ou aos


fins que deverão ser atingidos e que levarão o ente público a buscar o empréstimo.

As causas do endividamento, por sua vez, se referem às ações, meios e


instrumentos que foram adotados e que redundaram no endividamento, estando
associadas às características específicas, de natureza política, administrativa,
financeira, e até mesmo cultural.

Em qualquer situação, os motivos devem ser justificados e as ações, meios e


instrumentos adotados devem ser tais que produzam resultados positivos, não só
no curto prazo de uma legislatura, como também para as administrações futuras.

Há situações nas quais existem razões justificadas para o endividamento, mas


os instrumentos utilizados para a realização de empréstimos são inadequados, o
que acarreta problemas quanto ao seu pagamento no futuro.

Tendo em vista, entretanto, que as decisões envolvidas no processo de


endividamento apresentam repercussões presentes e futuras na vida dos
residentes e de suas gerações, mesmo que os motivos sejam justificados e as
ações destinadas à realização de empréstimos sejam executados de maneira
eficiente, o gestor responsável pela coisa pública deve, ainda, refletir sobre os
itens apresentados a seguir.
66
Capítulo 3 MACROECONOMIA

d) Administração financeira

A administração financeira é preocupada com a organização e o


funcionamento do mecanismo do governo que é responsável por executar várias
atividades financeiras do Estado. A preparação do orçamento para o exercício
específico é o principal plano financeiro do governo. A elaboração da proposta do
orçamento, a apresentação do orçamento perante o Legislativo, a aprovação e as
modificações impostas pelo Legislativo, a execução, a auditoria, a implementação
etc., constituem o objeto da administração financeira.

e) Finanças públicas no contexto de uma federação

A definição genérica de federação aponta para uma associação de dois ou


mais Estados. Em uma forma de governo federal, existem o Governo Central, os
governos estaduais e os governos locais. As inter-relações entre estas formas de
governos e os problemas relacionados a eles e às funções financeiras de todas
estas unidades são estudadas sob o prisma das finanças federativas.

• A política fiscal

A política fiscal é posta em prática mediante um conjunto de instrumentos


destinados à execução do gasto público, cujo objetivo é o de reduzir as
disparidades entre pessoas, setores econômicos e regiões e o de satisfazer a
demanda de bens públicos pela sociedade. Trata do gasto do setor público nas
três esferas de governo – federal, estadual e municipal.

Principais instrumentos de política fiscal no Brasil:

• Plano Plurianual (PPA).


• Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
• Lei Orçamentária Anual (LOA).

A política fiscal também compõe o elenco de instrumentos de que o governo


se utiliza para a execução da função estabilizadora, com o objetivo de afetar o
comportamento dos níveis de preços e do emprego.

Objetivos da Política Fiscal

Os principais objetivos da política fiscal em uma economia são:

1. Mobilizar recursos para financiamento dos programas de desenvolvimento


no setor púbico.

67
Introdução à Economia

A Política fiscal deve ser direcionada para a efetiva mobilização de todos


os recursos disponíveis e para aproveitá-los na execução dos programas de
desenvolvimento. Isto implica, por um lado, desvio de desperdício e luxo de gastar
a poupança e outros investimentos produtivos, não de incrementos que revertem
para produção como resultado dos esforços de desenvolvimento.

2. Promover o desenvolvimento do setor privado.

Em uma economia mista, o setor privado constitui um componente importante


Apesar da crescente importância do setor público em acelerar o processo
de desenvolvimento econômico, o interesse do setor privado não pode ser
negligenciado. Portanto, incentivos por meio de subsídios podem ser concedidos
para impulsionar o setor privado.

3. Utilização ótima dos recursos.

O objetivo acima pode ser alcançado através de uma alocação adequada


dos recursos. Investimentos diretos são desejáveis tanto nos setores público
e privado, fornecendo incentivos adequados. Os recursos produtivos, dentro
dos limites capazes de serem usados de diversas maneiras, podem acelerar o
crescimento econômico. Os recursos disponíveis devem encontrar o seu caminho
nas linhas de desenvolvimento socialmente necessárias.

4. Conter as pressões inflacionárias na economia para garantir estabilidade


econômica.

A política fiscal deve ser utilizada como instrumento para lidar com situações
de inflação ou deflação. Uma forma de alcançar este objetivo é elaborar uma
estrutura de impostos que automaticamente reverta as perturbações econômicas
que possam surgir. A segunda é fazer alterações no sistema fiscal para lidar com
situações inflacionárias ou deflacionárias. Através do gerenciamento da despesa
pública podem ser tomadas medidas mais eficazes para remover o efeito de uma
pressão deflacionária. No caso de uma situação de inflação, podem ser utilizados
impostos anti-inflacionários como o imposto sobre os lucros excessivos e sobre
artigos de consumo de luxo.

5. Melhorar a distribuição de renda e riqueza e reduzir as desigualdades


econômicas.

A renda nacional deve ser distribuída adequadamente para que os frutos do


desenvolvimento sejam compartilhados por todas as pessoas. Igualdade de renda,
riqueza e oportunidades deve constituir parte integrante do desenvolvimento
econômico e social. Além disso, a redistribuição de renda a favor dos setores

68
Capítulo 3 MACROECONOMIA

mais pobres da sociedade é essencial. Pode-se atingir este objetivo através


de um aumento das despesas públicas para a promoção do bem-estar para os
menos privilegiados. As despesas em agricultura, irrigação, educação e saúde e
despesas médicas irão melhorar as condições econômicas dos segmentos sociais
mais frágeis.

A política fiscal pode afetar a despesa total (determinante da demanda


agregada) de duas maneiras. A primeira é a mudança direta na despesa total
do governo, aumentando ou diminuindo suas próprias despesas. A segunda é
aumentando ou reduzindo os gastos privados, por meio da variação da carga
tributária.

6. Obter o pleno emprego e o crescimento econômico.

A política fiscal como instrumento para atingir o pleno emprego e manter os


preços estáveis da economia foi introduzida como forma de compensar a relativa
ineficácia da política monetária como um meio para reduzir o desemprego durante
os períodos de recessão econômica. A política fiscal é usada para incentivar o
investimento em obras públicas que envolvem maior quantidade de mão de obra
em relação ao volume de capital empregado.

Limitações à Política Fiscal

Embora a política fiscal tenha um lugar importante no desenvolvimento


econômico ela apresenta as seguintes limitações:

1. Política fiscal como medida anticíclica

A demasiada
A demasiada expansão ou o forte aperto no gasto público não
expansão ou o
estimulam o rápido crescimento econômico de um país quando os forte aperto no
diferentes setores da economia não são estreitamente integrados entre gasto público
si. Medidas tomadas pelo governo podem não ter sempre o mesmo não estimulam o
efeito em todos os setores. Assim, temos por exemplo uma recessão rápido crescimento
em alguns setores, seguida por um aumento dos preços em outros econômico de um
país quando os
setores. Um aumento no poder de compra através de financiamento do
diferentes setores
déficit público, política defendida por John Maynard Keynes na década da economia não
de 1930, pode não ter o efeito de vencer a recessão, ao contrário do são estreitamente
observado na política do New Deal norte-americano. integrados entre si.

2. Demora na resposta da administração pública

As medidas fiscais podem apresentar atraso, incertezas e arbitrariedades


decorrentes de gargalos administrativos encontrados na estrutura burocrática

69
Introdução à Economia

do governo. Como resultado, a política fiscal pode deixar de ser um poderoso


instrumento à disposição da política de estabilização.

• Política tributária

A política tributária engloba o conjunto de ações necessárias para reduzir os


desequilíbrios de renda entre pessoas, setores econômicos e regiões e para a
arrecadação de recursos destinados ao financiamento do gasto público (funções
alocativa e distributiva).

A política tributária Leva em consideração as características clássicas de neutralidade,


também compõe equidade, simplicidade, flexibilidade, produtividade e responsabilidade
o elenco de política.
instrumentos de
que o governo A política tributária também compõe o elenco de instrumentos de
se utiliza para a
que o governo se utiliza para a execução da função estabilizadora,
execução da função
estabilizadora. situação em que busca afetar o comportamento dos níveis de preços e
do emprego.

Objetivos Básicos da Política Tributária

a) Gerar recursos para financiar a provisão de bens e serviços públicos

Para produzir os serviços ofertados à população (ensino fundamental e


médio; saúde e assistência social dentre as funções mais evidentes) incorre-
se no pagamento de salários e encargos de mestres, médicos e enfermeiros e
assistentes sociais, além dos materiais por eles utilizados (giz, gaze etc.).

Além destes gastos, há a necessidade de recursos para investimento


na construção e aquisição de equipamentos e instalações. Geralmente tais
investimentos são efetuados com recursos obtidos por meio de empréstimos. O
gasto público não se resume, portanto, ao pagamento de despesas de custeio e
de investimentos em obras e equipamentos, mas inclui também o pagamento de
juros e amortizações de recursos obtidos por meio de empréstimos.

b) Promover a distribuição de renda entre pessoas, setores econômicos


e regiões

A cobrança de tributos produz efeitos diferenciados sobre pessoas, setores e


áreas geográficas. Considere alguns efeitos decorrentes da redução da tributação
sobre o consumo de determinadas mercadorias (cesta básica, por exemplo) ou
serviços:

70
Capítulo 3 MACROECONOMIA

• Os preços relativos das mercadorias e dos serviços se alteram, pois, o


tributo é um “sobre-preço”.

• Em decorrência, os indivíduos alteram os seus padrões de consumo.

• Os custos de produção são afetados, provocando alterações na estrutura


produtiva.

• A distribuição da renda entre os indivíduos se altera, fazendo com que


determinados grupos sociais modifiquem seus hábitos de consumo.

Observe que essa cadeia de eventos teve origem no momento em que a


autoridade tributária promoveu a redução da tributação sobre o consumo. Efeito
semelhante pode ocorrer ao alterar-se a tributação sobre a renda de pessoas e
setores econômicos de uma determinada região.

c) Reduzir as flutuações bruscas e intensas dos níveis de preços e do


emprego

Modificações na tributação sobre a renda de toda a população brasileira,


alteração de limites ao endividamento de estados e municípios, contingenciamento
dos gastos públicos, são alguns exemplos de medidas de caráter tributário e fiscal
preocupadas em afetar de maneira global o comportamento de todos os agentes
públicos e privados do país.

PrincÍPios de Tributação
Os Princípios de Tributação e os Princípios do Sistema Tributário tratam de
aspectos distintos quando nos referimos ao pagamento de tributos.

Os Princípios de Tributação dizem respeito aos aspectos teóricos de natureza


econômica associados à intervenção do Estado.

Os Princípios do Sistema Tributário se associam aos aspectos jurídicos e


administrativos envolvidos no processo de imposição e cobrança dos tributos.

• Os princípios do benefício recebido e da capacidade de pagamento

Do ponto de vista econômico, há dois princípios em que o Estado se apoia


para tributar:

71
Introdução à Economia

- princípio do benefício recebido, baseado na quantidade e tipo de bens e


serviços públicos consumidos individualmente pelos contribuintes;
- princípio da capacidade de pagamento, associado ao nível de renda dos
contribuintes.

De acordo com o princípio do benefício recebido, cada indivíduo


De acordo com deve contribuir com um valor proporcional aos benefícios por ele
o princípio do auferidos com o consumo de bens e serviços públicos.
benefício recebido,
cada indivíduo deve
contribuir com um Esse princípio procura tornar possível o efetivo desempenho da
valor proporcional função alocativa do Estado, pois se preocupa diretamente com o custeio
aos benefícios por dos gastos do governo, os quais, em última instância, irão determinar
ele auferidos com o como será realizada a provisão dos bens e serviços públicos.
consumo de bens e
serviços públicos.
Contudo, uma questão importante, mas não contemplada por este
princípio, diz respeito ao desempenho da função (re)distributiva do
Estado. O princípio do benefício recebido só servirá para alocar eficientemente
a parcela da receita tributária utilizada para custear a provisão dos serviços
públicos.

O princípio da capacidade de pagamento considera de maneira independente


a questão tributária, isolando-a da determinação dos gastos. De acordo com
este princípio, um determinado montante de arrecadação total é necessário e
cada indivíduo deverá contribuir de acordo com sua capacidade de pagamento.
Esse princípio tem, portanto, um forte caráter (re)distributivo, pois os mais
ricos contribuem para que os mais pobres possam ter acesso aos serviços de
educação, saúde, assistência social etc.

Veja estes dois princípios mais detalhadamente.

• Princípio do benefício recebido

Pelo princípio do benefício recebido cada indivíduo pagará um tributo de


acordo com o montante dos benefícios que ele recebe do governo, sob a forma
de bens e serviços públicos. Este princípio se apoia no funcionamento do sistema
de mercado de bens privados, em que cada pessoa desembolsa uma quantia
em função da quantidade X ou Y que deseja adquirir para seu consumo e o de
sua família. Um dos atributos do mecanismo de mercado é a existência do preço
(preço de mercado). Dimensionamos as quantidades adquiridas em função dos
nossos desejos e necessidades e da nossa renda.

Já a oferta de bens e serviços públicos não se dá de forma orientada para


este ou aquele grupo de cidadãos, em quantidades X e Y para esta ou aquela

72
Capítulo 3 MACROECONOMIA

região. Além disso, tais bens e serviços não apresentam um preço único, mas
custos associados à sua oferta. Ademais, estes custos são também de difícil
determinação, pois envolvem um conjunto extenso de órgãos públicos (ministérios,
secretarias estaduais, municipais etc.) que participam de maneira associada do
processo de entrega dos serviços à população.

A Oferta de Serviços Públicos

Considere a situação na qual seja ofertada uma quantidade igual de ensino


fundamental, de saúde pública, de defesa nacional, por exemplo, o que torna
praticamente impossível apontar este ou aquele indivíduo como “grande” ou
“pequeno” consumidor desses serviços.

Quem consome e quanto do serviço Defesa Nacional?

É como se todos pegassem carona no consumo dos demais (consumo


conjunto). Podemos, entretanto, indicar grupos sociais como potenciais
consumidores de alguns desses serviços: as famílias de menor renda que
dependem da oferta de ensino fundamental. Já o consumo dos serviços de
Defesa Nacional, proporcionados pelas forças armadas, é exercido de forma
igual, indistintamente, por todos.

Imaginemos, ainda, a situação daqueles indivíduos que estejam


desempregados e incapazes de auferir qualquer tipo de rendimento.
Estariam eles alijados do consumo desses bens? Certamente que não, Devemos,
pois mesmo não pagando ainda assim estariam sendo beneficiados. portanto, admitir
que o princípio do
benefício recebido
Devemos, portanto, admitir que o princípio do benefício recebido
não funciona como
não funciona como parâmetro eficiente do valor a ser tributado. parâmetro eficiente
do valor a ser
tributado.

73
Introdução à Economia

Atividade de Estudos:

1) Imagine um empresário que possua uma firma com 500


empregados.
90% dos seus funcionários ganham três salários mínimos e têm,
em média, 2 filhos entre 5 e 15 anos de idade.
O empresário é solteiro, não possui filhos e despende
mensalmente 5 salários mínimos com seu plano de saúde, além
de todos os seus gastos pessoais.
No seu entender, este empresário consome direta ou
indiretamente ensino público e saúde pública? Justifique a sua
resposta.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

• Princípio da capacidade de pagamento

Este princípio utiliza como base objetiva de cálculo a renda do indivíduo.

Em oposição ao princípio do benefício recebido, o financiamento da


produção de bens e serviços públicos não depende da cobrança pela aquisição
ou utilização do bem ou serviço, já que todo indivíduo contribui de acordo com o
seu nível de renda. E mais: indivíduos de mesma faixa de renda contribuem com
a mesma alíquota (equidade horizontal) e indivíduos de diferentes faixas de renda
contribuem com alíquotas diferenciadas (equidade vertical).

O Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas – IRPF – é universalmente


considerado o tributo mais justo, pois os tributos que incidem sobre o consumo
final – ou que não geram crédito – são tidos como injustos, pois não distinguem a
condição econômica do indivíduo.

74
Capítulo 3 MACROECONOMIA

Os Tributos
O ato de tributar se associa de forma direta à ideia de intervenção do
Estado. Mas, por que existem os tributos e por que são devidos ao Estado?
Para responder a estas perguntas devemos entender porque e como o Estado
intervém na economia.

Antes, porém, vamos apresentar a definição de tributo.

Do ponto de vista jurídico, o termo tributo representa toda


a prestação pecuniária compulsória instituída por lei e cobrada
mediante atividade administrativa vinculada, que não constitua
sanção de ato ilícito – Código Tributário Nacional (Código Tributário
Nacional – CTN, art. 3º).

O sistema tributário nacional compõe-se de tributos, que, de


acordo com a Constituição Federal (CF), compreendem os impostos,
as taxas e a contribuição de melhoria (Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 CF/88, art. 145).

Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma


situação independente de qualquer atividade estatal específica,
relativa ao contribuinte.

De maneira geral, as atividades estatais são realizadas com


recursos de arrecadação de impostos gerais. Porém, quando há um
serviço público específico, divisível e mensurável há a possibilidade
da cobrança de taxa.

As ContribuiçÕes e Outros Tributos


A contribuição de melhoria tem como fato gerador a valorização de imóvel de
particular em decorrência da realização de obra pública. Além da contribuição de
melhoria, há ainda três tipos de contribuições com finalidade constitucionalmente
definida na CF/88 arts. 146, III, 149, 150 I e III e 195 § 6º:

a) As contribuições de intervenção no domínio econômico.

75
Introdução à Economia

b) As contribuições de interesse de categorias econômicas ou profissionais.


c) As contribuições destinadas ao financiamento da seguridade social.

Atividades de Estudos:

1) Tendo como referência as variáveis macroeconômicas de fluxo e


de estoque, dê dois exemplos para cada uma delas.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Qual é a diferença entre as variáveis de fluxo e as variáveis de


estoque no tocante à sua mensuração no tempo?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

3) Quais são as políticas econômicas?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

4) Cite pelo menos dois temas sobre os quais o conjunto das


políticas econômicas se dedica.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

5) Defina “Operações de Mercado Aberto”.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
76
Capítulo 3 MACROECONOMIA

6) As Finanças Públicas levam em conta as receitas e as despesas:

a) Do setor privado.
b) Do setor agrícola.
c) Do setor governamental.
d) Do setor industrial.

7) O tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação


independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao
contribuinte é denominado:

a) Contribuição.
b) Taxa.
c) Empréstimo.
d) Imposto.

8) Cite e explique em três linhas uma limitação da Política Fiscal.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

9) Associe as expressões das duas colunas, inserindo a respectiva


letra nos parênteses.

a) Princípio econômico de tributação ( ) defesa nacional


b) Bem público ( ) benefício recebido
c) Instrumento de Política Fiscal ( ) Lei Orçamentária anual
( ) captar recursos para financiar a
d) Justiça tributária
oferta de bens públicos
e) Política Tributária ( ) imposto sobre a renda

10) Responda às seguintes perguntas em quatro ou cinco linhas:

a) Defina finanças públicas.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

77
Introdução à Economia

b) Qual é a importância atual das finanças públicas do ponto de


vista macroeconômico?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

AlGumas ConsideraçÕes
Você pode observar neste Capítulo 3 que os resultados das microabordagens
sobre o comportamento de consumidores e produtores não podem ser aplicados
de forma generalizada sobre o comportamento do sistema econômico como um
todo (ou agregação macroeconômica), podendo levar a conclusões enganosas.
Portanto, uma macroanálise separada é necessária para estudar o comportamento
do sistema econômico como um todo, bem como em relação entre os vários
agregados macroeconômicos.

Você verificou que, entre os objetivos das políticas macroeconômicas,


figuram a utilização ótima de recursos para financiamento dos programas de
desenvolvimento dos setores púbico e privado, a contenção das pressões
inflacionárias como garantia da estabilidade econômica, com melhoria da
distribuição de renda e riqueza e redução das desigualdades econômicas. Tais
ações são implementadas mediante a execução das Políticas Monetária, Cambial,
Tributária e Fiscal.

ReferÊncias
BRASIL. Lei n° 5.172/1966. Código Tributário Nacional. 2. ed. Brasília: Senado
Federal, subsecretaria de Edições Técnicas, 2012.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

FISHER, I. Coleção os economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1984.

MUSGRAVE, R.; MUSGRAVE, P. Finanças públicas: Teoria e Prática.


Campus. 1980.

78
C APÍTULO 4
A Evolução do Pensamento
Econômico no Enfrentamento dos
Problemas Sociais

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer a evolução do pensamento econômico.

 Conhecer o legado dos principais teóricos, a fim de melhor compreender as


questões sociais e políticas da atualidade no contexto da economia, cujo
aprendizado foi adquirido neste módulo e nos precedentes.
Introdução à Economia

80
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

ConteXtualiZação
A economia é uma ciência social. Ela examina os problemas que as
sociedades enfrentam porque os indivíduos desejam consumir mais bens e
serviços do que estão disponíveis, criando uma condição de escassez relativa.
Desejos são geralmente ilimitados e aparentemente insaciáveis, enquanto
recursos – terra, trabalho, capital e empreendedorismo – são limitados. Para
atender ao problema da escassez, um processo social é necessário para alocar
recursos limitados e alternativas ilimitadas e suas combinações.

Um aspecto deste processo envolve restringir necessidades individuais


e o aumento da disponibilidade para fornecer recursos. Historicamente, quatro
mecanismos têm sido usados para lidar com o problema da escassez. O mais
antigo é a coerção, comum em algumas sociedades primitivas e ainda atualmente
utilizado em países nos quais prevalece a imposição da força. Em seguida vem a
tradição, que enfatiza formas anteriores de alocação de recursos. Com a civilização
surge outro mecanismo social para a alocação de recursos: a autoridade, sob a
forma das instituições de governo e da religião. A quarta instituição é o mercado.

A teoria econômica moderna examina as maneiras pelas quais as sociedades


contemporâneas lidam com os problemas econômicos básicos que decorrem da
escassez relativa, com foco na instituição do mercado, o qual, em grande parte,
substitui a religião, a tradição e o Estado como mecanismo primário de alocação
de recursos. No entanto, estes mecanismos não são mutuamente exclusivos.

Algumas sociedades transitaram da situação de economias feudais de pré-


comercialização para economias de comando modernos, em que o Estado aloca
recursos. Por exemplo, no início de 1900 algumas sociedades, como a antiga
União Soviética, se moveram na direção de planejamento central, que envolveu o
controle governamental de alocação.

Dizer que o mercado é o mecanismo de atribuição primária não quer dizer,


porém, que ele seja o único mecanismo, uma vez que a alocação pelo mercado é
continuamente influenciada por forças sociais e políticas.

A teoria econômica moderna é centrada sobre a forma pela qual as forças


do mercado operam, concentrando-se em como os mercados alocam recursos
escassos e sobre as forças que determinam o nível e crescimento da produção.
Mas o pensamento econômico vai além de tais questões.

O estudo dos antecedentes da moderna teoria econômica começa antes que


os mercados fossem altamente desenvolvidos. Muitas das questões levantadas

81
Introdução à Economia

pelos primeiros escritores abordavam aspectos filosóficos e éticos mais amplos


e que contribuíram para oferecer variadas perspectivas para o pensamento
econômico moderno.

Independentemente dos mecanismos utilizados pela sociedade para alocar


recursos, a realidade da escassez exige que algumas necessidades permaneçam
não satisfeitas. Assim, as questões de equidade e justiça social são incorporadas
à discussão do problema relativo à alocação de recursos e na determinação de
quem recebe e quem não recebe tais recursos.

A evolução do pensamento econômico pode ser dividida em três períodos:


pré-moderno (grego, árabe e romano), moderno (mercantilismo, fisiocracia) e
contemporâneo.

Pensamento Econômico PrÉ-


Moderno
Durante esse período, a economia não era uma disciplina separada, mas
uma parte da filosofia. No Livro I de Política, Aristóteles (350 a.C.) discute a
natureza geral das famílias e das trocas de mercado. Para ele, há uma certa “arte
de aquisição” ou “aquisição de riqueza”. O dinheiro em si tem o único propósito de
ser um meio de troca, o que significa, para ele, que “é inútil... não é útil como um
meio para qualquer das necessidades da vida”.

Em seu tratado Suma Teológica, São Tomás de Aquino (1225-1274) tratou


do conceito de preço justo, que ele considerava necessário para a reprodução
da ordem social. Tendo muitas semelhanças com o conceito moderno de
equilíbrio de longo prazo, um preço justo deveria ser o suficiente para cobrir os
custos de produção, incluindo a manutenção de um trabalhador e sua família.
Ele argumentou que é imoral os vendedores elevarem seus preços, simplesmente
porque os compradores estavam em necessidade premente de adquirir um
produto.

82
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

Pensamento Econômico Moderno


(Mercantilismo e Fisiocracia)
No pensamento econômico moderno (isto é, a partir da A microeconomia
época do descobrimento do continente americano), os problemas considera questões
associados à escassez relativa são comumente divididos em micro de produção e
consumo pelas
e macroeconômicos. A microeconomia considera questões de
firmas e pelos
produção e consumo pelas firmas e pelos indivíduos, enquanto que indivíduos,
a macroeconomia considera questões de alocação, distribuição, enquanto que a
estabilidade e crescimento da economia em seu conjunto. macroeconomia
considera questões
As principais ferramentas teóricas de análise microeconômica de alocação,
distribuição,
moderna são o estudo da procura e da oferta, aplicados ao nível do
estabilidade e
agregado familiar, da firma e da indústria. crescimento da
economia em seu
A outra abordagem utilizada na economia moderna é a teoria conjunto.
macroeconômica. A macroeconomia centra-se na estabilidade
e crescimento de uma economia, utilizando variáveis agregadas para toda
a economia: o nível de renda e emprego, o nível geral de preços e a taxa de
crescimento econômico.

A teoria econômica ortodoxa moderna consiste de um corpo de


conhecimentos que inclui os aspectos micro e macroeconômicos. A história do
pensamento econômico examina o desenvolvimento de conceitos e ferramentas
que culminou com este corpo de conhecimento.

Embora a economia moderna dominante esteja centrada no estudo da


instituição do mercado para lidar com os problemas associados à escassez relativa,
sempre houve estudiosos interessados em diferentes aspectos da sociedade.
Alguns desses escritores preocupam-se com questões filosóficas mais amplas e,
muitas vezes, seus escritos não se enquadram perfeitamente em qualquer único
campo de análise específico. Alguns escritores exploram disciplinas pertencentes
às ciências sociais (Economia e Ciência Política, por exemplo); enquanto outros
dedicam suas reflexões aos aspectos inseridos no campo das ciências sociais e
humanas (sociologia e psicologia, por exemplo).

83
Introdução à Economia

TerminoloGia e Classificação do
Pensamento Econômico Moderno
Joseph Schumpeter, em seu livro “A história da análise econômica”,
escreveu que “a primeira descoberta de uma ciência é a descoberta de si mesmo.”
Se alguém aceita esse ponto de vista, a ciência da economia é bastante jovem,
já que a profissionalização da economia ocorreu somente nos últimos cem anos.
Mesmo se tivermos uma visão mais ampla e considerar a economia como uma
disciplina intelectual, ela ainda é relativamente jovem. Antes de 1500 nenhum
grupo de pensadores estava preocupado exclusivamente com a compreensão da
economia.

Entre 1500 e 1750, no entanto, a quantidade de literatura econômica na


Europa Ocidental aumentou significativamente. Os primeiros escritores eram
principalmente empresários que estavam interessados em questões de política
econômica. Eles escreveram folhetos ou panfletos sobre questões específicas,
em vez de tratados que tentassem codificar o conhecimento econômico. Um corpo
de conhecimento econômico começou a evoluir durante os últimos cem anos do
período, 1650-1750, quando a economia surgiu como uma disciplina intelectual.

Adam Smith, cuja formação se concentrou em Filosofia Moral, tomou a


incipiente literatura econômica gerada entre 1650 e 1750 e formou uma disciplina
intelectual que denominou, em 1776, de “Economia Política”, em sua obra mais
conhecida sobre como as nações evoluem economicamente. Durante os cem
anos seguintes não houve profissão que exercesse claramente a economia,
nenhum grupo de pesquisadores estava preocupado exclusivamente com a
análise da atividade econômica.

O período 1776-1876 testemunhou uma crescente profissionalização


da disciplina da Economia Política, como estudo mais afastado do mundo dos
negócios. Em 1900, a Economia Política recebeu um novo nome, Economia. Como
a economia tornou-se profissionalizada, aqueles que afirmam ser economistas
passaram a ingressar em escolas de pós-graduação.

A Grande Depressão da década de 1930 e o crescente envolvimento dos


governos na atividade econômica estimularam o interesse pela educação
econômica. Na década de 1930, economistas passam a ser empregados por
instituições acadêmicas, dada a preocupação com o ensino para promover a
compreensão da economia.

Estes eventos históricos refletem a mudança na ênfase das preocupações da


economia ligada aos assuntos práticos das políticas e dos assuntos empresariais

84
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

para análise do funcionamento do conjunto da Economia, o que influenciou


significativamente o desenvolvimento da teoria econômica. Os economistas
políticos anteriores a Adam Smith, que eram homens de negócios com
conhecimento prático considerável de instituições e funcionamento da economia,
vieram a ser substituídos por acadêmicos, que, por natureza e formação eram
orientados para questões mais abstratas e teóricas.

A ProPaGação das Ideias Econômicas


Enquanto em 1650 não havia o que se entende atualmente como economista,
sua presença é comum nas empresas privadas e públicas, nos governos e na
mídia. No entanto, a universidade é o centro de grande parte da atividade de
pesquisa e que estende as fronteiras do conhecimento econômico.

O estado e a direção do pensamento econômico atual são o resultado


da investigação teórica e aplicada realizada nas universidades e nos
institutos de pesquisa. As metodologias e os resultados das pesquisas são
apresentados em seminários e em congressos científicos até que se tornem
suficientemente refinados para serem publicados, geralmente como artigos em
revistas especializadas, ligadas a organizações científicas profissionais ou a
departamentos de pós-graduação em economia.

Dado que as escolas de pós-graduação são tão importantes na determinação


da mentalidade de um economista, e porque a publicação é tão importante
para o sucesso de um economista, o conteúdo dos cursos de pós-graduação
em Economia e as decisões dos editores de revistas de economia influenciam
fortemente a direção do pensamento econômico.

A concorrência aberta entre os pensadores e pesquisadores em busca do


conhecimento deve conduzir a programas de pesquisa progressivos e à rejeição
de ideias incorretas. Mas a Economia é uma ciência social estreitamente ligada às
questões éticas que não têm respostas fáceis.

O período entre 1600 e 1750 foi caracterizado por um aumento


da atividade econômica. A economia feudal, com suas propriedades O período entre
1600 e 1750 foi
econômica, social e politicamente autossuficientes, experimentou o
caracterizado por
gradual incremento comercial, o crescimento das cidades para fora dos um aumento da
limites dos feudos, e o surgimento do Estado-nação. atividade econômica.

85
Introdução à Economia

A atividade individual passa a ser menos controlada pelo costume e tradição


da sociedade feudal e pela autoridade da igreja. A produção de bens para o
mercado tornou-se mais importante, e terra, o trabalho e o capital começaram a
ser comprados e vendidos em mercados. Este processo erigiu as bases para a
Revolução Industrial.

Durante este período, o pensamento econômico desenvolvido a partir de uma


simples aplicação de ideias sobre os indivíduos, famílias e produtores adota uma
visão mais abrangente da economia, isto é, como um sistema próprio de regras
e inter-relações. Os pensadores deste período tratam dos aspectos relativos ao
mercantilismo, precursores do pensamento econômico clássico, e fisiocracia.

O Mercantilismo
Mercantilismo é o nome dado para a literatura econômica do período entre
1500 e 1750. Embora a literatura mercantilista tenha sido produzida em todas as
economias da Europa Ocidental, as contribuições mais significativas foram feitas
pela Inglaterra e pela França.

O termo mercantilismo surgiu apenas em 1763, com Victor Riqueti de


Mirabeau. O mercantilismo foi um movimento político e uma teoria econômica que
defendia o uso do poder militar para assegurar mercados locais e proteger as
fontes de matérias-primas. Como o dinheiro e o ouro eram as únicas fontes de
riqueza, havia uma quantidade limitada de recursos a ser dividida entre os países.
Desse modo, as tarifas poderiam ser usadas para encorajar a exportação (o que
significa mais dinheiro entrando no país) e desencorajar a importação (enviando
riqueza para o exterior).

Para David Hume (1711-1776) qualquer excedente de exportações que


poderia ser alcançado seria pago pelas importações em ouro e prata. Isto
aumentaria o dinheiro circulante, causando a elevação dos preços. Isso, por
sua vez, causaria um declínio nas exportações até que o balanço externo se
restaurasse com as importações.

A teoria econômica do mercantilismo foi produzida pelo trabalho de


comerciantes, tais como Thomas Mun (1571-1641), autor de Treasure by Foreign
Trade. A literatura que produziam era focada em questões de política econômica
e geralmente relacionada com um interesse particular do comerciante-escritor.
Por esta razão, muitas vezes, houve considerável ceticismo sobre os méritos de
análise de determinados argumentos e a validade de suas conclusões. Poucos
autores poderiam reivindicar tais soluções serem suficientemente separadas
das questões para tornar a análise objetiva. No entanto, ao longo do período

86
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

mercantilista, tanto a quantidade como a qualidade da literatura econômica


aumentaram. A literatura mercantilista entre 1650-1750 era distintamente de maior
qualidade. Dela derivam muitos dos analíticos em que Adam Smith baseou sua
obra Riqueza das Nações, publicada em 1776.

A Balança Comercial
De acordo com o pensamento mercantilista, um país deve
incentivar as exportações e desestimular as importações por meio De acordo com
o pensamento
de tarifas, quotas, subsídios, impostos, e assim por diante, a fim de
mercantilista, um
alcançar uma balança comercial favorável. A produção deve ser país deve incentivar
estimulada pela interferência governamental na economia doméstica as exportações e
e pelo regulamento do comércio exterior. Tarifas protecionistas devem desestimular as
ser aplicadas aos produtos fabricados no exterior; e a importação de importações a fim
matérias-primas baratas, para ser usado na fabricação de produtos de alcançar uma
balança comercial
para exportação, deve ser incentivada.
favorável.

Os mercantilistas enfatizavam o papel da moeda na economia e,


consequentemente, desenvolveram teorias monetárias sobre o juro. Alegavam
que o aumento do volume de dinheiro não só eleva o nível geral de preços e
diminui o seu poder de compra (diminui o seu valor), mas também reduz o nível
geral das taxas de juro.

Ainda durante a era mercantilista foram desenvolvidas outras teorias sobre a


taxa de juro. Embora Richard Cantillon (1680-1734) tenha apresentado uma teoria
não monetária do juro, ele também apontou que o aumento na quantidade de
dinheiro pode levar a um aumento ou uma diminuição das taxas de juro. Se o
aumento na oferta de dinheiro for inicialmente para os poupadores, a taxa de juros
diminuirá. Mas se for direcionada para o consumo, a taxa de juros subirá, porque
o aumento do gasto irá provocar um aumento de investimentos por empresários e
um consequente aumento na demanda por fundos emprestáveis.

A Fisiocracia
Adam Smith foi influenciado durante a sua viagem à França por um grupo
de escritores franceses que se tornaram conhecidos como os fisiocratas.
Eles perceberam a inter-relação dos setores da economia e analisaram o
funcionamento dos mercados não regulados. A fisiocracia tinha um líder intelectual
reconhecido, François Quesnay (1694-1774), cujas ideias foram aceitas quase
sem questionamentos por seus colegas fisiocratas.

87
Introdução à Economia

François Quesnay propunha que o comércio e a indústria não eram fontes de


riqueza, argumentando que os excedentes da agricultura, ao fluir pela economia
na forma de renda, salários e compras, eram os reais motores econômicos.
Jacques Turgot (1727–1781) desenvolveu a teoria de Quesnay de que a terra é
a única fonte de riqueza e que a sociedade se dividia em três classes: a classe
agrícola produtiva, a classe dos artesãos assalariados e a classe dos proprietários
de terra. Ele argumentava que apenas o produto líquido da terra deveria ser
taxado e defendia a liberdade completa do comércio e indústria.

O PrincÍPio da Lei Natural


Os fisiocratas, como os mercantilistas ingleses mais tarde, desenvolveram
suas teorias econômicas a fim de formular políticas econômicas adequadas,
pois acreditavam que, para uma formulação correta da política econômica
era necessário um entendimento correto da economia. A teoria econômica
era, portanto, um pré-requisito da política econômica. E a ideia original dos
fisiocratas era o papel da Lei Natural na formulação da política. Alegavam que
as leis naturais regiam o funcionamento da economia e que, embora essas
leis fossem independentes da vontade humana, os seres humanos seriam por
elas influenciados, tal como em relação às leis das ciências naturais. Esta ideia
contribuiu significativamente para o desenvolvimento das ciências sociais e, por
conseguinte, da economia.

As Inter-RelaçÕes de uma Economia


Mesmo que a teoria fisiocrática fosse deficiente em detalhar a sua
consistência lógica, os fisiocratas determinaram a necessidade da construção
de modelos teóricos, isolando as principais variáveis econômicas para estudo
e análise. Usando este processo, eles desenvolveram avanços significativos
em relação à interdependência dos vários setores da economia, nos níveis das
análises macro e microeconômicos.

A grande preocupação dos fisiocratas era com o processo


A grande
macroeconômico do desenvolvimento. Eles reconheceram que a França
preocupação dos
fisiocratas era ficara atrasada em relação à Inglaterra na aplicação de novas técnicas
com o processo agrícolas. Algumas áreas do norte da França sofreram a introdução
macroeconômico do de técnicas avançadas, mas a maioria do país mantinha seus velhos
desenvolvimento. hábitos. Assim, o país estava se desenvolvendo de forma desigual.

88
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

Para lidar com este problema, os fisiocratas, tal como os mercantilistas franceses
e ingleses, buscavam descobrir a natureza e as causas da riqueza das nações e
das políticas que melhor promovessem o crescimento econômico. O mercantilismo
francês tinha sido mais profundo na regulação da sua atividade econômica interna
e externa do que o mercantilismo britânico, e a fisiocracia representou uma reação
ideológica a esta regulamentação. Os fisiocratas não focavam nos aspectos
monetários, mas sobre as forças reais que levam ao desenvolvimento econômico.
Em reação à noção mercantilista que a riqueza foi criada pelo processo de troca.
Ao estudarem a criação de valor físico e concluíram que a origem da riqueza
estava baseada na agricultura, ou de maneira mais ampla, na natureza.

A PolÍtica Econômica Fisiocrática


As contribuições dos fisiocratas para a teoria microeconômica não foi tão
significativa como as suas contribuições para a teoria macroeconômica. Eles
acreditavam que a motivação básica para as atividades econômicas dos seres
humanos era o desejo de maximizar o ganho. Os preços, entretanto, eram
formados no mercado em decorrência da atividade econômica; e que esta
formação de preços deveria ser estudada com base no governo das leis naturais,
de maneira independente da vontade humana.

Embora os fisiocratas não tenham desenvolvido uma teoria coerente de


preços, eles concluíram que a livre concorrência levava ao melhor preço e que a
sociedade se beneficiaria se os indivíduos seguissem o seu próprio interesse.

A Economia PolÍtica Clássica


As ideias econômicas dos fisiocratas e mercantilistas continham as sementes
de conceitos que acabaram por ser articulados em um sistema unificado pelos
economistas clássicos. Um número de características vinculavam esses
pensadores e os distinguiam dos escritores econômicos anteriores e posteriores.
Sua partida mais importante do pensamento mercantilista era a sua atitude
favorável para os resultados que fluem do funcionamento natural das forças
econômicas.

A visão de que os mercados forneciam automaticamente soluções


harmoniosas aos conflitos decorrentes da escassez relativa foi o primeiro avanço
significativo obtido pelos fisiocratas da França. Assumindo tal harmonia, de acordo
com os fisiocratas, seguiu que o governo deve adotar uma política geral de não
interferência na economia, caracterizada como uma política de laissez faire, isto
é, de total liberdade de ação das pessoas.
89
Introdução à Economia

Assim, uma das ideias centrais da escola clássica é a de concorrência.


Embora os indivíduos visem ao próprio interesse, os mercados em que vigora
a concorrência funcionam espontaneamente (a chamada “mão-invisível”
sustentada por Adam Smith), garantindo a alocação mais eficiente dos recursos
e da produção, sem que haja excesso de lucros. Segundo a teoria clássica, em
regime de concorrência a oferta de cada bem e de cada fator de produção tende
sempre a igualar a procura. Em todos os mercados, o elemento que determina
esse equilíbrio entre oferta e procura são os preços.

Adam SmitH
Adam Smith (1723-1790) é popularmente conhecido como o pai da moderna
economia política. Em A riqueza das nações, de 1776, Smith propõe uma
economia de mercado livre, baseada no direito de propriedade, acumulação de
capital, abertura de mercados e na divisão do trabalho. Entretanto, Smith defendia
a necessidade da liderança pública em certos setores, argumentando que os
monopólios e os oligopólios eram indesejáveis devido ao seu potencial de limitar a
produção e qualidade dos bens e serviços.

Adam Smith tem sido muitas vezes chamado o pai da Economia. Embora
cada um dos precursores da economia clássica tenha utilizado pedaços do
quebra-cabeça, nenhum tinha sido capaz de integrar em um único volume uma
visão global das forças que determinam a riqueza das nações, as políticas
apropriadas para promover o crescimento econômico e o desenvolvimento, e a
maneira pela qual as decisões econômicas são efetivamente coordenadas pelas
forças do mercado.

O principal livro de Smith é intitulado Uma investigação sobre a natureza


e as causas da riqueza das nações (1776). Duas outras fontes importantes de
suas ideias são seu livro anterior, A teoria dos sentimentos morais (1759), e as
palestras por ele proferidas na Universidade de Glasgow.

Os economistas modernos descreveriam Smith como um teórico macro


interessado nas forças que determinam o crescimento econômico. Mas as forças
que Smith examina são mais amplas do que os estudados na economia moderna,
e ele introduziu em seu modelo econômico matérias de origem política, sociológica
e histórica.

A economia de Adam Smith e dos mercantilistas compartilha certos elementos


básicos. Influenciados pela evolução nas ciências físicas, os mercantilistas e
Smith acreditavam que era possível descobrir as leis da economia por meio da
investigação científica aplicada à análise das constatações e das relações de
90
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

causa e efeito. Smith também assumiu as mesmas hipóteses sobre a natureza


humana como os mercantilistas: os seres humanos são racionais e calculistas e
são, em grande parte, guiados pelo interesse próprio.

Uma diferença entre a análise de Smith e dos mercantilistas era sua


suposição de que, em sua maior parte, existem mercados competitivos, nos quais
os fatores de produção movimentam-se livremente para obter sua vantagem
econômica. Uma segunda diferença foi a suposição de que um processo natural
no trabalho na economia pode resolver conflitos de forma mais eficaz do que
quaisquer arranjos concebidos pelos seres humanos.

O argumento de Smith contra a intervenção do governo na economia tem


bases políticas, filosóficas e econômicas. Ele argumentou que, em geral, qualquer
interferência do governo é indesejável, porque viola os direitos naturais e
liberdades dos indivíduos. No entanto, ele examinou os argumentos econômicos
contra a intervenção do governo muito mais extensivamente. Ele analisou muitos
dos regulamentos mercantilistas de comércio interno e externo e mostrou que
estes resultaram em uma alocação de recursos que era menos desejável do que
a produzida pelas forças competitivas de mercado.

Para Smith, os determinantes da riqueza de uma nação são a produtividade


do trabalho e a proporção de trabalho produtivo. Estas duas causas imediatas de
riqueza são mostradas na figura a seguir e dependem, em última instância, da
acumulação de capital.

91
Introdução à Economia

Figura 3 - Determinantes da riqueza de uma nação

Fonte: Adaptado de Smith (1996)

O resultado desta cadeia de raciocínio aponta para a acumulação de capital


como o principal determinante da riqueza das nações. Smith afirmou que a taxa
de crescimento da economia depende, em grande medida, da divisão da produção
total da economia entre bens de consumo e acumulação de capital. Quanto maior
a proporção de acumulação de capital para a produção total, maior a taxa de
crescimento econômico.

OrtodoXos e HeterodoXos
Embora a visão principal dos clássicos tenha sido a de um funcionamento
harmonioso do processo econômico, eles eram muito conscientes dos conflitos
na sociedade. As tendências de longo prazo do capitalismo associado à total
liberdade de ação levou a resultados que incluem a concentração de poder
e riqueza, o que fez levantar dúvidas sobre a natureza do autoequilíbrio da
economia. Com isso, as sementes de ambas visões modernas tanto de ortodoxos
como heterodoxos podem ser vistas nos autores clássicos, como David Ricardo,
Thomas Robert Malthus e Karl Marx.
92
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

Ricardo, MaltHus e MarX


David Ricardo (1772-1823), um corretor da bolsa de valores, fez
contribuições significativas para diversas áreas da teoria econômica, incluindo as
teorias do valor, do comércio internacional, das finanças públicas, e as teorias dos
rendimentos decrescentes e da renda de aluguel da terra. Sua principal obra foi
“Princípios de economia política e tributação”, publicada em 1817.

Em sua obra, Ricardo critica as barreiras ao comércio internacional


Em sua obra,
e efetua uma descrição da maneira como a renda é distribuída na Ricardo critica
população. Faz uma distinção entre os trabalhadores, que recebiam as barreiras
um salário fixo em um nível no qual eles conseguiam sobreviver, ao comércio
os proprietários de terras, que recebiam uma renda da terra, e os internacional
capitalistas, que possuíam capital e recebiam lucro, uma parte residual e efetua uma
descrição da
da receita. Ricardo demonstrou matematicamente que os ganhos com
maneira como a
o comércio poderiam compensar as vantagens percebidas pela política renda é distribuída
protecionista. na população.

Introduz a ideia de vantagem comparativa, que sugere que mesmo


se um país é mais eficiente do que outro na produção de todos os bens, ele ainda
pode se beneficiar da abertura de suas fronteiras.

Ricardo compara a economia de dois países, conforme o seguinte exemplo


clássico: Portugal despende 9 horas de mão de obra para produzir 100 metros
de tecido e 8 horas de mão de obra para produzir 100 litros de vinho, enquanto
que a Inglaterra despende, respectivamente, 10 horas e 12 horas para
produzir as mesmas quantidades. Portugal é claramente mais eficiente Thomas Robert
na produção de tecido e vinho do que a Inglaterra. Entretanto, Portugal Malthus desenvolveu
deve se dedicar exclusivamente à produção do bem no qual é mais a tese de que a
eficiente (vinho) e exportá-lo para a Inglaterra, e dela importando população tende
a aumentar mais
tecido.
rapidamente do
que a oferta de
Thomas Robert Malthus, estudioso dos aspectos demográficos, alimentos.
desenvolveu a tese de que a população tende a aumentar mais
rapidamente do que a oferta de alimentos, o que significativamente
Karl Marx
influenciou o pensamento econômico de sua época. Suas ideias foram,
desenvolveu
porém, contestadas pelo desenvolvimento das tecnologias de produção sua teoria do
e de controle da natalidade, muito embora os problemas referentes à valor-trabalho,
distribuição de renda e riqueza em escala global ainda mantenham contrastando com
considerável parte da população mundial em situação de fome. a definição do
valor a partir de um
equilíbrio geral de
Karl Marx (1818-1883) desenvolveu sua teoria do valor-trabalho,
oferta e demanda.
contrastando com a definição do valor a partir de um equilíbrio geral de
93
Introdução à Economia

oferta e demanda. Marx desenvolveu sua formulação no contexto das primeiras


transformações econômicas e sociais trazidas pela Revolução Industrial: êxodo
rural, precariedade, pobreza, aparição da classe operária, entre outras.

O método de Karl Marx combina as análises filosófica, sociológica e


econômica para abordar os problemas do capitalismo. Marx aplicou sua teoria
da história para a sociedade de seu tempo, explicitando as contradições entre
as forças observadas nas relações de produção. Ele sustentava que essas
contradições se manifestam em uma luta de classes (entre os proprietários e
os não proprietários dos meios de produção). O determinante fundamental das
relações de produção e, portanto, da estrutura institucional de uma sociedade
serão as forças de produção.

Marx, como a maioria dos grandes teóricos, incorporou as ideias de escritores


que o antecederam, tais como Adam Smith e David Ricardo. Na obra deste último,
Marx encontrou conceitos que, após revisão e reelaboração, adotou em definitivo,
tal como o de “valor econômico”, isto é, a importância que um indivíduo dá a
determinado bem ou serviço, seja para uso pessoal, seja para troca.

A Análise MarGinalista
No início da década de 1870, três escritores de três países diferentes e com
três diferentes origens independentes sugeriram que o valor e, de maneira parcial,
o preço de uma mercadoria dependem da utilidade marginal da mercadoria para o
consumidor. Em 1871, W. S. Jevons, autor britânico, publicou “Teoria da economia
política” e Carl Menger, alemão, publicou “Principios de economia”. Três anos
mais tarde, um economista francês radicado na Suíça, Leon Walras, publicou
“Elementos de economia pura”. A contribuição importante desses escritores,
além de Alfred Marshall, que havia desenvolvido essas ideias no final dos anos
1860, mas não as havia publicado até 1890, foi o uso de análise marginalista na
teoria econômica. O seu trabalho foi o início do que viria a ser conhecido como o
pensamento econômico neoclássico.

Segundo a Segundo a abordagem marginalista, o valor ou preço de alguns


abordagem bens, como as moedas raras, as pinturas famosas, e os vinhos de boas
marginalista, o valor safras, pode não depender de seus respectivos custos de produção.
ou preço de alguns A inserção do conceito de custo na teoria da criação de valor era
bens pode não problemática, na medida em que sugeria que o preço ou valor de um
depender de seus
bem se originava a partir dos custos incorridos no passado, quando
respectivos custos
de produção. estes bens foram produzidos.

94
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

Jevons, Menger e Walras afirmavam que, por exemplo, altos custos incorridos
na produção de bens não irão necessariamente resultar em preços elevados. De
acordo com a teoria da utilidade marginal, o valor depende da utilidade, ou do
consumo, e não se relaciona ao passado, mas ao futuro.

Isto significa que não importa o valor dos custos incorridos na produção de
um bem, pois quando este está disponível para venda o seu preço irá depender da
utilidade que o comprador espera obter ao consumi-lo. A corrente de pensamento
da utilidade marginal afirma que os fatores de produção possuem valor, mas
a extensão do seu valor é determinada pela utilidade marginal obtida no seu
consumo final ou, no caso de um bem de consumo intermediário, na utilidade por
ele gerada ao longo do processo produtivo.

Os representantes da escola da utilidade marginal seguiam a teoria


econômica clássica ortodoxa ao assumir que os indivíduos são racionais e
calculistas. Ao tomar decisões de compra os consumidores consideram a utilidade
marginal que eles esperam ao desfrutar do consumo de bens.

Conceituaram a utilidade como um fenômeno psicológico expresso em


unidades de medida não especificadas. A utilidade não é medida no espaço
linear (um centímetro), nem em termos de volume (um litro), nem em peso (um
quilo). E que, ainda de acordo com o comportamento psicológico dos indivíduos,
a utilidade marginal diminui conforme o consumo do bem ou serviço aumenta
gradativamente.

PrincÍPio dos Rendimentos


MarGinais Decrescentes
O princípio dos rendimentos marginais decrescentes desempenha um papel
fundamental na teoria econômica moderna. Explica as formas das curvas de
oferta de curto prazo das empresas e as formas das curvas de demanda das
empresas para fatores de produção.

O princípio dos rendimentos decrescentes dispõe que, se mantivermos


constante um fator de produção e adicionar um fator variável a ele, a produção
resultante, de maneira geral, primeiramente aumenta a uma taxa crescente, em
seguida, aumenta a uma taxa decrescente, e, finalmente, decresce. (Ver Capítulo
1 - A Lei dos rendimentos decrescentes, Quadro 1 - Exemplo Numérico de
Rendimentos Decrescentes na Produção).

95
Introdução à Economia

Teoria do CaPital e do Juro


A teoria das forças que determinam a taxa de juro podem ser
A teoria das forças classificadas em não monetária, monetária e neokeynesiana. As
que determinam a
teorias não monetárias da taxa de juros consideradas clássicas se
taxa de juro podem
ser classificadas baseiam nas forças de longo prazo que determinam a taxa de juro.
em não monetária, Estas teorias prevaleceram a partir do final do período mercantilista até
monetária e 1930. As teorias monetárias da taxa de juro incluem a teoria de fundos
neokeynesiana. emprestáveis e a teoria da preferência pela liquidez. Os três escritores
mais importantes da teoria da taxa de juro no período 1890 até a década
de 1930 foram Böhm-Bawerk (1851-1914), Frank Knight (1885-1972) e Irving
Fisher (1867-1947).

A teoria clássica, com seu foco sobre as forças de longo prazo que
determinam a riqueza das nações, desenvolveu teorias não monetárias, ou reais,
sobre a taxa de juro. Os economistas clássicos sustentam que a taxa de juros
depende da taxa de retorno do investimento. Forças monetárias podem alterar
a taxa de juros no curto prazo, mas no longo prazo, é a produtividade do capital,
uma força real, que corrige as taxas de juros.

David Ricardo apontou que a taxa de juro depende da taxa de lucro que
deriva da aplicação do capital, e que é totalmente independente da quantidade ou
do poder de compra da moeda. Se, por exemplo, um banco empresta um milhão,
dez milhões, ou cem milhões de reais não ocorre uma alteração permanante da
taxa de juros de mercado.

Irving Fisher fez distinções entre os fatores de produção – trabalho, capital


imobiliário, capital financeiro e capital tecnológico – e das respectivas rendas
derivadas desses fatores, isto é, salários, aluguéis, juros e royalties.

Viu o juro, entretanto, não apenas como uma parcela dos rendimentos
recebidos pelo capital, mas como uma forma de examinar os fluxos de renda de
todos os agentes produtivos ao longo do tempo. Para Fisher o aluguel e o juro são
apenas duas maneiras de medir o mesmo rendimento.

Dois tipos de forças irão determinar as taxas de juro em uma economia de


mercado: as forças subjetivas e as forças objetivas.

As forças subjetivas refletem as preferências dos indivíduos em relação a


consumir e a receber rendas no presente ou no futuro (denominadas preferências
temporais). Já as forças objetivas dependem das oportunidades de investimento
disponíveis e da produtividade dos fatores utilizados na produção de bens finais.

96
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

Os indivíduos podem alterar seus fluxos de renda através de endividamento,


concessão de empréstimos, investimentos ou desinvestimentos. Suas ações
dependerão de suas preferências temporais, das taxas de retorno dos diferentes
investimentos, e da taxa de juro no mercado.

A Economia Institucionalista de
Veblen e Commons
Durante o último quarto do século XIX, vários autores, como Thorstein
Veblen (1857-1920), criticaram a teoria ortodoxa clássica e defenderam a
abordagem histórica para o estudo da economia.

Veblen enfatizava que o estudo da economia deveria ser algo bem


diferente do que da teoria econômica vigente à época, que se interessava em
saber como a sociedade aloca seus recursos escassos entre usos alternativos.
Veblen argumentou que a Economia deveria ser estudada a partir da evolução
das instituições, definindo as instituições como hábitos de pensamento que são
aceitos em qualquer momento particular.

Nesta definição do assunto da economia, Veblen concorda em certa medida


com Marx, já que ambos tentavam explicar as forças que moldam a sociedade
e a economia. Veblen criticava a teoria econômica ortodoxa por esta considerar
as instituições como preconcebidas, e argumentava que estas deveriam ser
estudadas para explicar como as relações econômicas são estabelecidas. Para
tanto, a explicação sobre a cultura predominante requer uma abordagem evolutiva,
pois qualquer cultura somente pode ser entendida a partir da compreensão de
sua história.

Veblen argumentava que o comportamento dos indivíduos na cultura moderna


se manifesta no que chamou empregos pecuniários (ou de negócios). No período
que precedeu o surgimento da economia industrial, quando predominavam as
relações de caráter artesanal, o artesão era o proprietário de suas ferramentas
e materiais, utilizava o seu próprio trabalho, e produzia mercadorias que
expressavam seus sentimentos e de seus grupos familiares.

A renda obtida com as trocas do produto destas atividades era uma medida
justa do esforço exercido. À medida que as economias se desenvolviam os
trabalhadores já não possuíam mais as ferramentas de produção ou os materiais,
e o proprietário da firma que os empregava tornava-se agora mais interessado
em ganhar dinheiro do que produzir, isto é, o instinto aquisitivo passa a corroer os
instintos artesanais e familiares.

97
Introdução à Economia

John R. Commons (1862–1945) desenvolveu o conceito de que a economia é


uma rede de relações entre pessoas com interesses divergentes. Há monopólios,
grandes corporações, disputas trabalhistas e ciclos econômicos flutuantes. Elas,
no entanto, têm um interesse em resolver essas disputas. O governo, segundo
Commons, devia ser o mediador entre os grupos em conflito. Suas ideias estão
descritas e consolidadas em sua obra Institutional economics, publicada nos anos
1930.

O Pensamento Econômico
ContemPorÂneo
A teoria econômica moderna encontra a fonte de todos os
A escassez é
problemas econômicos na escassez relativa. A escassez é resultado
resultado do
nosso desejo de do nosso desejo de consumir mais bens e serviços do que a nossa
consumir mais bens sociedade pode produzir. As economias modernas são economias de
e serviços do que mercado.
a nossa sociedade
pode produzir. Assim, a teoria econômica moderna se concentra em analisar como
o mecanismo do mercado busca resolver os problemas de escassez e
dá muito menos a atenção para o uso da coerção, da autoridade e da tradição.

Os primeiros pensadores refletiram sobre aspectos da vida econômica, mas


deram maior atenção aos mecanismos externos ao mercado. Ao contrário de
economistas modernos, que estão especialmente preocupados com a eficiência
da alocação de recursos, os primeiros consideravam as possíveis consequências
dos diversos tipos de atividade econômica em relação à justiça social e à
qualidade de vida.

O Estado da Economia Moderna


O tema do crescimento econômico, que tinha sido o foco do trabalho de
Adam Smith, recebeu apenas ligeira ênfase nos períodos clássicos e neoclássicos
posteriores. Em vez disso, a profissão focava no desenvolvimento de modelos
formais de alocação e distribuição e à discussão da determinação do nível geral
de preços.

A análise que usava o pressuposto de pleno emprego e focava em explicar as


forças que determinavam o nível geral de preços continuou até a década de 1930,
quando a Grande Depressão demandou esforços voltados para compreender

98
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

as flutuações econômicas. Durante o período de 1930 até final de 1970, a


macroeconomia continuou a se concentrar no estudo das flutuações econômicas.

A Evolução das Bases da


Macroeconomia Moderna
Na década de 1920 e 1930, Simon Kuznets (Prêmio Nobel em Economia de
1971) colocou o quadro conceitual e estatístico das contas de renda nacional sem
o que a Macroeconomia atual teria sido impossível. Eles fornecem as variáveis
teoricamente significativas básicas da macroeconomia como, por exemplo, os
agregados de poupança, investimento, consumo etc., que desempenham um
papel vital em uma economia. (Veja a figura Fluxo da renda e do produto em
uma economia).

Figura 4 - Fluxo da renda e do produto em uma economia

Fonte: Disponível em: <http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/teoria-economica-


e-a-visao-sobre-o-comportamento-individual>. Acesso em: 20 set. 2016.

99
Introdução à Economia

A macroeconomia moderna compreende principalmente os estudos de teoria


monetária, da teoria do crescimento e da teoria das flutuações econômicas. A
ênfase sobre estes temas vem variando ao longo dos anos, devido às mudanças
estrurais da economia global e à adoção de técnicas que permitiram aos
economistas tratar de questões que eram anteriormente tidas como incontroláveis.

A análise do crescimento econômico foi a principal preocupação de Adam


Smith, que enfatizou as relações entre o livre mercado, o investimento privado,
o laissez faire, e o crescimento econômico. David Ricardo reorientou o estudo
da Economia, desviando-o da preocupação com o crescimento econômico e
orientando-o em direção às questões das forças que determinam a distribuição
de renda.

Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) examinou as relações entre os


ciclos econômicos e a inovação. De acordo com Schumpeter, o capitalismo
necessariamente passa por ciclos de longo prazo, pois ele é inteiramente
baseado em invenções e inovações científicas. Uma fase de expansão torna-se
possível pelas inovações, pois elas trazem ganhos de produtividade e encorajam
os empreendedores a investir. No entanto, quando os investidores trazem um
processo de destruição criadora, isto é, eles destroem os velhos produtos, os
empregos diminuem, mas eles permitem que a economia inicie uma nova fase de
crescimento, baseado em novos produtos e novos fatores de produção.

A explicação de Schumpeter sobre o processo de crescimento econômico


baseou-se no pressuposto de que os principais elementos históricos responsáveis
pelo crescimento e os elementos que irão reduzir o crescimento no futuro não
são de natureza econômica, e são encontrados na estrutura institucional da
sociedade.

Schumpeter atribui às atividades dos empreendedores o enorme crescimento


que teve lugar no mundo industrializado. O empreendedor de Schumpeter não é
apenas um empresário ou gerente; é um indivíduo que decide assumir riscos e
que introduz produtos inovadores e novas tecnologias na economia.

A Macroeconomia KeYnesiana
Em 1929, o mundo sofreu uma forte crise econômica. Os Estados Unidos
viviam então no auge do modelo liberal, no qual o Estado pouco intervinha na
economia, incumbindo-se do desempenho de atividades tais como a defesa
nacional, a da defesa da propriedade privada e a provisão da infraestrutura.

100
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

Os efeitos da Grande Depressão que afetaram a economia americana


nos anos 1930 foram o aumento do desemprego, a cobrança de dívidas dos
tomadores de empréstimos europeus, e um efeito dominó econômico pelo mundo.
As ideias econômicas da época seguiam o padrão do liberalismo de Adam Smith,
recomendando a contenção de despesas, até que a confiança das empresas e o
nível dos lucros pudessem se recuperar. John Maynard Keynes (1883-1946), em
contraste, argumentou em A tract on monetary reform (1923), que uma variedade
de fatores determinava a atividade econômica, e que não era suficiente esperar
que o equilíbrio de mercado de longo prazo se restaurasse sozinho, propondo
uma política de gastos públicos deficitários, a fim de impulsionar a atividade
econômica.

O programa New Deal, do Presidente Franklin Delano Roosevelt (1933),


se encontrava em processo de execução, situação na qual as ideias de Keynes
forneceram um reforço conceitual para esta e para as políticas de crescimento
formuladas posteriormente.

A depressão da década de 1930 alterou o contexto em que a sociedade e


os economistas estudavam o mercado. Antes disso, os argumentos neoclássicos
favoráveis ao laissez faire se baseavam não só na teoria econômica, mas também
em um conjunto de concepções políticas e filosóficas sobre o papel do governo no
ambiente econômico.

A orientação política geral, com exceção dos socialistas, era contra o maior
envolvimento do governo na economia. Nesse contexto, a concepção de muitos
programas governamentais que atualmente são mundialmente executados, como
a Seguridade Social, seriam considerados casos extremos de políticas públicas.

A 'Teoria Geral' de Keynes tem sido a referência teórica básica da


macroeconomia. Ela efetivamente inaugurou a construção do modelo
macroeconômico e mostrou como o equilíbrio da economia como um todo pode
ser descrito. Como resultado dos trabalhos de Keynes, de Hicks e outros houve a
multiplicação de novos modelos e abordagens à macroeconomia.

Keynes foi o primeiro economista a apresentar com sucesso uma teoria


macroeconômica alternativa para a determinação do emprego e da produção
explicando porque as forças de uma economia de livre mercado não garantem
suficiente demanda agregada capaz de gerar automaticamente o pleno emprego.
Sua Teoria Geral ofereceu uma explicação da crise econômica da década de
1930, que os Estados Unidos e muitos outros países sofreram.

A teoria geral lançou as bases fundamentais do que se tornou um corpo


altamente desenvolvido de teoria e política econômica orientada para os

101
Introdução à Economia

problemas mais prementes da economia como o pleno-emprego, o desemprego,


a produção, o crescimento e a inflação.

O principal ponto defendido por Keynes era o de um papel mais atuante


do Estado na economia. O “New Deal” previa uma política de pleno-emprego, a
ser buscado por meio de grandes obras de infraestrutura (que só poderiam ser
financiadas pelo Estado) para que a mão de obra ociosa (demitida por conta da
crise) pudesse ser empregada. Além disso, incentivaram-se formas de crédito
para acelerar a recuperação da economia e estimulou-se a substituição de artigos
importados pelos produtos nacionais. (Ver o diagrama a seguir, com a sequência
lógica do processo de recuperação da renda e do emprego, conforme a proposta
de Keynes).

Figura 5 - Modelo keynesiano de crescimento do emprego e da renda

Fonte: Adaptado de Keynes (1932-1936)

Como resultado desta teoria macroeconômica foram projetadas medidas de


política para levar as economias que se encontram em depressão ao nível de
pleno emprego, quando as forças automáticas de economia de livre mercado não
conseguem.

Na verdade, seu livro 'Teoria geral' bem pode ser descrito como “a
economia dos agregados”. O desejo de controlar as flutuações econômicas

102
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

levou economistas como Leon Walras, Knut Wicksell e Irving Fisher a contribuir
para o desenvolvimento de estudos macroeconômicos. Existem certos ramos da
moderna teoria econômica que poderiam ser classificados inteiramente sob a
macroeconomia, como finanças, comércio internacional, o sistema bancário etc.

O Monetarismo e a Macroeconomia
KeYnesiana
A política da macroeconomia keynesiana se baseia na "gestão de
demanda". Através de ações monetárias e fiscais os governos podem A política da
macroeconomia
gerenciar o nível de demanda agregada e gerar alto nível de produção
keynesiana se
e do emprego sem uma pressão excessiva sobre o nível de preços. baseia na “gestão de
demanda”.
Entretanto, os economistas estão atualmente em menor acordo
sobre a natureza e o escopo das relações teóricas que explicam o comportamento
agregado ou macroeconômico. As flutuações econômicas que ocorreram
a partir da década de 1970, combinadas com políticas claras para resolver
problemas macroeconômicos, como desemprego, inflação, baixa produtividade e
estagflação, por exemplo, têm levado à busca de novas explicações, teorias e
novas abordagens sobre o funcionamento das economias.

A macroeconomia moderna não se configura, portanto, como um corpo


unificado de pensamento. Ela inclui a abordagem da renda e da despesa, o
monetarismo, a nova economia clássica, que introduz o conceito de expectativas
racionais; a economia que prioriza o lado da oferta (supply side economics) e a
economia pós-keynesiana.

Ideias importantes que existiam antes da “revolução keynesiana”, e que


estudavam como a economia se comportava em termos macro passam a assumir
especial importância.

Entre essas ideias figura a chamada Lei de Say, formulada por Jean Baptiste
Say (1767-1832), em seu Tratado de economia política, de 1802 e a teoria
quantitativa da moeda. A Lei de Say, ou Lei dos Mercados, é sintetizada na
expressão “toda oferta cria sua própria demanda”, isto é, todo ato de produção
necessariamente deve representar a procura do que foi produzido. Isto implica
que toda oferta é essencialmente a procura de algo e que não pode haver
qualquer excesso de produção ou deficiência de demanda total da economia
como um todo.

103
Introdução à Economia

Como analogia à lei de Say, temos a Teoria Quantitativa da Moeda –


significando assim, que o principal determinante do nível de preços é a oferta de
moeda, fenômeno de pouca relevância nas circunstâncias que ocorreram após
a depressão de 1929-1930. Novas ideias e novas teorias monetaristas eram
necessárias.

Levando-se em conta os dois argumentos acima, constata-se que não pode


haver desemprego involuntário em razão do excesso de produção.

A aplicação da Lei de Say foi testada como princípio básico do programa de


recuperação econômica posto em prática nos Estados Unidos durante a década
de 1980. Os quatro pilares do programa foram a redução do gasto público, a
redução do imposto sobre a renda e sobre os ganhos de capital, a redução da
regulação da economia e o controle da oferta de moeda para reduzir a inflação.

Ao longo dos anos 1950 e 1960, economistas adeptos da escola monetarista,


ofereceram oposição à política e à teoria keynesiana.

Com efeito, outro tipo de contestação de cunho monetarista à economia


keynesiana se origina a partir de Milton Friedman, formulador da tese de que
a moeda é a única variável importante que determina, em curto prazo, o nível
do Produto Interno Bruto (PIB) e do emprego. Suas teorias são descritas como
'Monetarismo' ou a “Moderna teoria quantitativa da moeda”.

A proposta de Friedman estabelece que:

(i) uma vez que os níveis da produção e do emprego são influenciados pela
oferta de moeda não existe necessidade ou justificativa para mudá-los através de
impostos ou gastos do governo; e
(ii) as variações no estoque de moeda são principalmente responsáveis
pelas flutuações econômicas e que a autoridade monetária deve manter a oferta
de moeda crescendo a uma taxa constante.

O modelo função consumo utilizado por keynesianos na década de 1950 não


introduzia o papel para o dinheiro. Esta falta de preocupação sobre a oferta e os
preços do dinheiro manifestou-se na política com base na análise keynesiana.
Em um acordo com o Tesouro que se desenvolveu durante a Segunda Guerra
Mundial, o Banco Central dos Estados Unidos – Federal Reserve Bank (Fed) –
concordou em efetuar a compra de títulos a fim de manter a taxa de juros em um
nível fixo. Ao fazê-lo, o Fed abandonou todo o controle da oferta de moeda.

Monetaristas argumentam que a oferta de moeda desempenha um papel


importante na economia e não deve ser limitado a manter a taxa de juros

104
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

constante, conferindo ênfase aos efeitos da moeda sobre a produção e o emprego.


Os keynesianos concordam com os monetaristas sobre a influência da moeda,
mas acreditavam que não só a moeda importava.

Esta divergência foi resolvida por meio da interação dos aspectos da renda,
do emprego e do volume de moeda na economia, de acordo com a formulação
de John Hicks e Alvin Hansen, conhecida como modelo IS-LM. A sigla IS-LM
provém do inglês Investment-Saving / Liquidity Preference-Money Supply, isto é,
Investimento-Poupança / Preferência pela Liquidez-Oferta Monetária.

O modelo IS – LM (ver figura) tem como objetivo mostrar como se determina


a Renda Nacional supondo um determinado nível geral de preços na economia.
A curva LM define a relação entre a renda e a taxa de juros monetária, já a curva
IS revela as combinações de renda e taxa de juros que equilibram o mercado de
bens e serviços. Admitindo o fato de que influencia tanto a demanda por moeda
quanto o investimento, a taxa de juros é a variável que une as duas partes do
modelo IS – LM.
A curva IS mostra as
A curva IS mostra as combinações de taxa de juros (i) e produto combinações de taxa
(Y), de modo que o mercado de bens esteja em equilíbrio. A curva IS de juros (i) e produto
é negativamente inclinada porque o investimento produtivo (I) é uma (Y), de modo que o
função inversa da taxa de juros (i) sendo a demanda por investimento mercado de bens
esteja em equilíbrio.
mais baixa quanto maior for a taxa de juros:

Figura 6 – Curva IS-LM

Fonte: Adaptado de Hicks (1983)

105
Introdução à Economia

A curva LM mostra as combinações entre taxa de juros (i) e nível


A curva LM mostra de renda (Y). A demanda real por moeda (M/P) implica que, para um
as combinações
dado nível de renda (Y), a quantidade demandada de moeda é uma
entre taxa de juros
(i) e nível de renda função decrescente da taxa de juros (i). A curva LM é positivamente
(Y). inclinada porque um aumento na taxa de juros reduz a demanda real
por moeda (L); e para manter a demanda real por moeda igual a oferta
fixa de moeda, o nível de renda deve aumentar. Assim, um aumento na taxa de
juros implica um aumento no nível de renda.

Novas AbordaGens Alternativas


Duas contestações adicionais à macroeconomia keynesiana são, não apenas
mais recentes que o monetarismo, mas mais radicais em sua natureza, âmbito e
implicações.

Embora o monetarismo critique as relações fundamentais e as conclusões de


política básica do modelo de Keynes; ele aceite o quadro essencial desta análise,
incluindo o papel desempenhado pela demanda agregada para a determinação
da produção, do emprego e do nível de preços.

O alegado fracasso do modelo keynesiano da economia para o controle da


inflação a partir de meados da década de 1960 e da estagflação da década de
1970 levou ao crescimento do monetarismo contemporâneo.

As mesmas falhas de diretiva também deram origem a outra linha de


contestação à estrutura da teoria macroeconômica contemporânea e é conhecida
como a Economia Novo Clássica, cuja ideia central, colocada por John Muth,
se apoia na teoria das expectativas racionais. Inicialmente, a teoria foi usada
para explicar o comportamento dos mercados financeiros, mas posteriormente foi
aplicada à teoria macroeconomia.

A teoria das expectativas racionais considera que, pelo fato de pressupor o


comportamento racional dos indivíduos, eles antecipam os resultados das ações
e agem em conformidade com tais expectativas.

Quando esta premissa é aplicada ao modelo de equilíbrio geral de mercado,


livre da intervenção do governo, o equilíbrio de pleno emprego será alcançado.
Os defensores da teoria das expectativas racionais acreditam, por conseguinte,
que não há política macroeconômica capaz de influenciar significativamente o
curso da economia.

A teoria de expectativas racionais argumenta que todos os agentes


econômicos formam expectativas racionalmente tendo em conta todas as
106
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

informações relativas, inclusive como a política afetará a economia. O resultado


disso é que, a menos que uma ação política não seja prevista, os resultados
de qualquer política serão antecipados e, portanto, a política será considerada
ineficaz. Os defensores da teoria de expectativas racionais acreditam que a
economia é inerentemente estável e por causa da maneira em que eles acreditam
que as expectativas são formadas, eles não acreditam que qualquer ação política
ou intervenção do governo possa vir a afetar o nível de preços, de emprego ou de
produção.

Celso Furtado (1920-2004) foi um economista brasileiro e um dos mais


destacados intelectuais do país ao longo do século XX. Suas ideias sobre o
desenvolvimento e o subdesenvolvimento enfatizavam o papel do Estado na
economia, com a adoção de um modelo de desenvolvimento econômico de corte
keynesiano. Entretanto, Celso Furtado pertence ao conjunto dos pensadores que
consideram o subdesenvolvimento como uma forma de organização social no
interior do sistema capitalista, sendo contrário à ideia de que seja uma etapa para
o desenvolvimento, como podem sugerir os termos de país "emergente" e "em
desenvolvimento". Na verdade, o subdesenvolvimento é um processo estrutural
específico e não uma fase pela qual tenham passado os países hoje considerados
desenvolvidos, enquanto que o receituário de medidas de cunho keynesiano é
destinado à solução de problemas de perfil conjuntural que afetam as economias
dos países.

Para Furtado (1961), os países subdesenvolvidos experimentaram


um processo de industrialização indireto, ou seja, como consequência do
desenvolvimento dos países industrializados. Este processo histórico específico
do Brasil criou uma industrialização dependente dos países já desenvolvidos e,
portanto, não poderia jamais ser superado sem uma forte intervenção estatal
que redirecionasse o excedente, até então usado para o "consumo conspícuo"
das classes altas, para o setor produtivo. Note-se que isto não significava uma
transformação do sistema produtivo por completo, mas um redirecionamento da
política econômica e social do país, ao longo de várias gerações, e que levasse
em conta o verdadeiro desenvolvimento social.

Atividades de Estudos:

1) Quais são os três períodos em que a História do Pensamento


Econômico pode ser dividida?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
107
Introdução à Economia

2) __________________________________________________
Qual dos três setores era, para François Quesnay, o único capaz
de funcionar como motor dinâmico da economia?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

3) Na ocorrência de qual estrutura de mercado Adam Smith defendia


a intervenção do Estado na economia?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

4) Qual é a razão defendida por Celso Furtado para a intervenção


estatal em países economicamente subdesenvolvidos?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

AlGumas ConsideraçÕes
O economista atual não faz distinção entre necessidades e desejos
humanos, especialmente em uma sociedade em que a unidade doméstica
ou familiar não é autossuficiente. As famílias modernas produzem alguns dos
produtos que consomem, mas ainda compram muitos serviços no mercado. Com
a especialização e a divisão do trabalho a moeda como instrumento das trocas
efetuadas tornou-se essencial.

Segundo os teóricos ortodoxos modernos, a distinção entre necessidades


e desejos em uma economia de mercado é objetivamente impossível. Os
economistas ortodoxos modernos acreditam que deve ser deixada ao indivíduo
para determinar se ele ou ela está agindo virtuosamente na produção e troca de
bens e serviços.

Alguns grupos heterodoxos, tais como os institucionalistas e marxistas,


por exemplo, colocam-se em desacordo com esta posição. Alegam que é
108
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO NO
Capítulo 4 ENFRENTAMENTO DOS PROBLEMAS SOCIAIS

impossível para os economistas convencionais evitar fazer juízos de valor e que


necessidades e vontades não se separam e que envolvem um juízo de valor. Eles
argumentam, de acordo com Aristóteles, que as necessidades podem e devem
ser diferenciadas das vontades.

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Abril Cultural, 1982.

SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política. São Paulo: Nova Cultural,


1986. (Coleção Os Economistas).

SCHUMPETER, Joseph Alois. História da análise econômica. São Paulo:


Fundo de Cultura, 1964.

SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoria do desenvolvimento capitalista. São


Paulo: Abril Cultural, 1983.

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas
causas. Volume I Introdução de Edwin Cannan. São Paulo: Editora Nova Cultural
Ltda., 1996.

WALRAS, Leon. Compêndio dos elementos de economia política pura. São


Paulo: Abril Cultural, 1983.

WICKSELL, Knut. Lições de economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

110
C APÍTULO 5
Os Problemas Econômicos Básicos

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer os diferentes sistemas econômicos e como eles procuram resolver


os problemas centrais de uma economia, isto é, o que, como e para quem
produzir.

 Compreender como as questões econômicas da atualidade podem ser


respondidas mediante diferentes formas de organização política, com maior ou
menor participação dos agentes privados, como pessoas e firmas, ou agências
governamentais, ressaltando que todos estão ligados entre si, formando um só
conjunto orgânico.
Introdução à Economia

112
Capítulo 5 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS BÁSICOS

ConteXtualiZação
Entre as diversas definições de economia apresentadas, uma a caracteriza
como a ciência que estuda a escolha sob condições de escassez. Quais são,
então, as questões básicas sobre quais opções devem ser feitas? Qualquer
sociedade deve fazer escolhas sobre três problemas importantes.

Eles são

1. O que produzir e em que quantidades?


Alimentos ou armas?... dependendo da escolha, em que quantidades?
Devem ser produzidos mais alimentos e menos armas ou vice-versa?

2. Como serão produzidas as mercadorias? Eletricidade de energia térmica


ou de energia hidrelétrica?

3. Para quem serão produzidas as mercadorias? Para uns poucos ricos, ou


para muitos pobres ou para as pessoas de classe média?

Estes três problemas básicos são interdependentes. A sociedade deve


fazer a escolha adequada sobre eles a fim de satisfazer as aspirações de
desenvolvimento dos cidadãos. As três perguntas anteriores são comuns a todas
as economias, mas cada sistema econômico tenta fazer sua própria escolha. A
natureza de uma escolha particular em uma sociedade particular depende do seu
sistema econômico específico.

Os Sistemas Econômicos
Diferentes sistemas econômicos respondem às perguntas acima
Um sistema
de forma diferente. Um sistema econômico refere-se a como os econômico refere-
diferentes elementos econômicos vão resolver os problemas centrais se a como os
de uma economia: o que, como e para quem produzir. Refere-se diferentes elementos
à produção e à distribuição de bens e serviços. Refere-se à forma econômicos
como diferentes elementos econômicos, trabalhadores e gestores, vão resolver os
problemas centrais
organizações produtivas, como fábricas ou empresas e agências
de uma economia:
governamentais, estão ligados entre si para formar um todo orgânico. o que, como e para
quem produzir.
Um sistema econômico consiste de vários indivíduos e suas
instituições, como as instituições bancárias, as instituições educacionais e
econômicas. Os sistemas econômicos mais gerais são:

113
Introdução à Economia

I. A economia tradicional.
II. A economia capitalista.
III. A economia socialista.
IV. A economia mista.

Economia Tradicional
Na economia Na economia tradicional, os problemas básicos são resolvidos
tradicional, os pelas tradições e os costumes regulam os aspectos do comportamento.
problemas básicos Na economia tradicional produz-se exatamente nas quantidades que
são resolvidos satisfazem as necessidades de consumo das pessoas. É uma economia
pelas tradições e os de subsistência. Não há muitas trocas, pois há apenas produção
costumes regulam
em pequena escala. O mesmo produto será produzido por todas as
os aspectos do
comportamento. gerações e as técnicas de produção são tradicionais.

Economia CaPitalista
Uma economia capitalista é um sistema econômico no qual
É um sistema a produção e a distribuição de mercadorias ocorrem através do
econômico no
mecanismo do mercado livre. Daí também se chama economia de
qual a produção
e a distribuição mercado ou economia de livre comércio. Cada indivíduo, seja um
de mercadorias consumidor ou produtor ou proprietário de recursos, tem considerável
ocorrem através liberdade econômica. Um indivíduo tem a liberdade de comprar e vender
do mecanismo do qualquer quantidade de bens e serviços e escolher qualquer ocupação.
mercado livre. Assim, em uma economia de mercado não há um coordenador
central orientando seu funcionamento. A auto-organização emerge do
funcionamento do mercado, onde as forças de demanda e oferta determinam o
preço pelo qual ocorrem as trocas. As principais características do capitalismo
são:

1. O direito à propriedade privada: os indivíduos têm o direito de comprar e


possuir a propriedade. Não há limite e eles podem possuir qualquer quantidade de
propriedade. Eles também têm direitos legais de usar sua propriedade da forma
que eles gostam.

2. A motivação pelo lucro: o lucro é o único motivo para o funcionamento do


capitalismo. Decisões de produção que envolvem riscos elevados são tomadas
pelo indivíduo apenas para ganhar grandes lucros. Portanto, o lucro é a força
básica que impulsiona a economia capitalista.

114
Capítulo 5 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS BÁSICOS

3. A liberdade de escolha: a pergunta “o que produzir?” é determinada pelos


produtores. Eles têm a liberdade de decidir. Os fatores de produção também
podem ser empregados em qualquer lugar livremente para obter os devidos
preços por seus serviços. Da mesma forma, os consumidores têm a liberdade de
comprar qualquer coisa que eles querem.

4. As forças de mercado: as forças de mercado, como demanda, oferta e


preço são os sinais para direcionar o sistema. A maioria das atividades econômicas
está centrada no mecanismo de preços. Questões de produção, consumo e
distribuição deverão ser resolvidos pelas forças de mercado.

5. O papel mínimo do governo: como a maioria dos problemas econômicos


básicos é esperada para ser resolvida pelas forças do mercado, o governo
tem papel mínimo na economia. Seu papel será limitado a algumas funções
importantes. Elas incluem a regulação do mercado, a defesa, a política externa, a
moeda etc.

MÉritos da Economia CaPitalista


1. Aumento da produtividade: em uma economia capitalista cada agricultor,
comerciante ou industrial pode manter a propriedade de seus recursos e usá-los
da forma que mais lhe apraz. Ele aumenta a produtividade para atender ao seu
próprio interesse. Isto por sua vez leva ao aumento da renda, da poupança e do
investimento.

2. Maximização do bem-estar individual: alega-se que há eficiência na


utilização de recursos e da produção sem qualquer planejamento e que o interesse
pessoal do indivíduo também promove o bem-estar da sociedade.

3. Sistema flexível: situações de escassez e de excedentes na economia


são, em geral, ajustados pelas forças da oferta e procura, assim, operando
automaticamente através do mecanismo de preços.

4. Não interferência do Estado: o Estado tem um papel mínimo a


desempenhar. Não há conflito entre o interesse individual e a sociedade. As
instituições econômicas funcionam automaticamente, evitando a interferência do
governo.

5. Baixos custos e produtos de qualidade: os consumidores e os produtores


têm plena liberdade, o que tende a levar à produção de produtos de qualidade a
baixos custos e preços.

115
Introdução à Economia

6. Avanço tecnológico: o elemento da concorrência sob o capitalismo leva os


produtores a inovar para impulsionar as vendas.

DesvantaGens da Economia
CaPitalista
1. Desigualdades: o capitalismo cria desigualdades extremas de renda e
riqueza. Os produtores, proprietários, comerciantes colhem lucros enormes e
acumulam riqueza. Assim, os ricos tornam-se mais ricos e os pobres mais pobres.
Os pobres com meios limitados são incapazes de competir com os ricos. Assim, o
capitalismo alarga o fosso entre os ricos e os pobres criando desigualdade.

2. Conduz ao monopólio: desigualdade leva ao monopólio. Mega empresas


substituem unidades menores de produção. As empresas combinam a formação
de cartéis, grandes conglomerados e, neste processo, induzem à redução no
número de empresas envolvidas na produção. Em última análise, surgem como
as corporações multinacionais ou corporações transnacionais e impõem altos
preços aos consumidores, reduzindo o bem-estar.

3. Depressão: há excesso de produção de mercadorias, devido à forte


concorrência. Os ricos exploram os pobres. Os pobres não são capazes de tirar
vantagem da produção e, portanto, são explorados. Em outro nível, o excesso de
produção leva ao desemprego e à escassez no mercado e, consequentemente, à
depressão. Isto leva à instabilidade econômica.

4. Mecanização e automação: o capitalismo incentiva a mecanização e


automação. Isto irá resultar em desemprego, particularmente nas economias com
excedentes de fator trabalho.

5. Bem-estar relegado a um segundo plano: sob o capitalismo, empresas


privadas produzem bens de luxo, que dão lucros mais elevados e ignoram os
bens básicos necessários que dão menos lucro. Assim, o bem-estar do público é
ignorado.

6. Exploração do trabalho: rigorosas leis laborais são promulgadas para o


exclusivo-lucro dos capitalistas. Políticas de contratações e demissões se tornam
comuns. Tais leis também ajudam a explorar o trabalho, mantendo a sua taxa de
salário no seu nível.

7. Necessidades sociais são ignoradas: existem muitos setores sociais


básicos, como alfabetização, saúde pública, pobreza, água potável, bem-estar

116
Capítulo 5 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS BÁSICOS

social e segurança social. Como a margem de lucro nestes setores é baixa, os


capitalistas não investem. Portanto, a maioria destas questões humanas vitais
são ignoradas no sistema capitalista.

Economia Socialista
Em uma economia socialista, a propriedade e a operação dos
meios de produção competem ao Estado. Todas as decisões em A propriedade e
a operação dos
matéria de produção e distribuição são tomadas pela autoridade
meios de produção
de planejamento central. Portanto, a economia socialista é também competem ao
chamada de economia planificada ou economia de comando. O Estado.
governo desempenha um papel ativo. O bem-estar social é de suma
importância; portanto, a igualdade de oportunidades é facultada a todos. Todas
essas vantagens têm propiciado o elevado nível de desenvolvimento humano.
Entre as economias socialistas figuram a China, Cuba, Vietnã e a Coreia do Norte.
As características básicas do socialismo são:

1. A motivação pelo bem-estar social: nas economias socialistas, o bem-


estar social ou coletivo figura como a principal motivação. De maneira diversa
de uma economia capitalista, em que o lucro é um dos objetivos primordiais na
elaboração de políticas, o planejamento leva em consideração o máximo bem-
estar das pessoas. Do aumento do capital obtido com as atividades econômicas,
uma parte é destinada a provisão de bens e serviços essenciais (ensino, saúde,
assistência e previdência social) e outra parte reinvestida no setor produtivo.

2. O direito limitado à propriedade privada: as propriedades dos meios de


produção do país pertencem à coletividade, ao Estado. Ou seja, a posse é coletiva
na natureza.

3. Planejamento central: a maioria das decisões de política econômica é


conduzida por uma autoridade centralizada de planejamento e cada setor da
economia é dirigido por diretrizes de planejamento bem elaboradas.

4. Não há forças de mercado: em um sistema centralizado e planejado de


desenvolvimento, as forças do mercado têm um papel limitado. A produção, os
preços das mercadorias e dos fatores de produção, o consumo e a distribuição de
bens e serviços são regidos pelo desenvolvimento do planejamento baseado no
bem-estar coletivo.

117
Introdução à Economia

MÉritos da Economia Socialista


1. Eficiente utilização dos recursos: os recursos são utilizados com eficiência
para produzir mercadorias socialmente úteis sem ter a margem de lucro em
conta. A produção de bens e serviços essenciais é aumentada, visando evitar
desperdícios que ocorrem nos regimes onde há concorrência.

2. Estabilidade econômica: a economia é livre de flutuações de negócios.


Planos de governo são elaborados e a execução é coordenada visando evitar o
excesso de produção ou de desemprego. Há estabilidade, porque a produção e o
consumo de bens e serviços sofrem extrema regulamentação.

3. Maximização do bem-estar social: todos os cidadãos trabalham para


o bem-estar do Estado. O Estado concentra-se na produção de necessidades
básicas e fornece educação, habitação, serviços de saúde pública e segurança
social para as pessoas.

4. Substituição do monopólio privado pelo monopólio estatal:

5. Atendimento das necessidades básicas: nas economias socialistas,


necessidades humanas básicas, como água, educação, saúde, segurança social
etc.

6. Ausência de extremas desigualdades: como bem-estar social é o objetivo


final, não há concentração de riqueza.

DemÉritos do Socialismo
1. Expansão da burocracia: uma economia socialista é operada sob um
sistema de comando e controle centralizado. Não há incentivo para que as
pessoas se esforcem no trabalho.

2. Liberdade: não há liberdade de ocupação. A alocação dos fatores de


produção não é feita segundo critérios de eficiência. Empregos são fornecidos
pelo Estado assim como o local de trabalho. A escolha do consumidor é muito
limitada.

118
Capítulo 5 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS BÁSICOS

Resumindo as Diferenças Entre


CaPitalismo e Socialismo
O capitalismo e o socialismo são termos que possuem significados O capitalismo e
o socialismo se
gerais, não precisos. Eles se referem às possíveis combinações de
referem às possíveis
aspectos econômicos e ideológicos. Por um lado, temos uma ideia combinações
teórica do que são o capitalismo e o socialismo. Por outro lado, temos de aspectos
os sistemas que contêm elementos tanto do capitalismo teórico quanto econômicos e
do socialismo teórico. Estes sistemas são o liberalismo e a regulação. ideológicos.

Este último ponto se torna relevante, pois os defensores de cada sistema


estruturam seus argumentos para o sistema que defendem com base em termos
teóricos, mas estruturam a evidência contra o seu adversário em termos da
sociedade existente. Este tipo de discussão não conduz a resultados do ponto de
vista prático, pertencendo ao campo das discussões subjetivas.

A discussão a seguir se baseará apenas nos aspectos teóricos referentes


aos dois sistemas.

No capitalismo praticado em um contexto liberal, a tomada de decisão


econômica é feita, em grande parte, por indivíduos que desempenham os papéis
de consumidores, de proprietários dos fatores de produção e de gestores de
empresas; e a maioria dos recursos econômicos é de propriedade privada.

No capitalismo praticado em um contexto de maior regulação, a tomada de


decisão é feita, em grande parte, por indivíduos que desempenham seus papéis
como eleitores, políticos e gestores de empresas; e os recursos econômicos
podem ser de propriedade pública ou privada, mas o controle sobre a alocação
e a distribuição de recursos é do governo, e não dos proprietários dos recursos.

Estas definições centram-se em critérios econômicos, mas que,


inevitavelmente, se interrelacionam com questões políticas e sociais. A liberdade
(econômica e política) e a democracia podem ser altamente desenvolvidas ou
inexistentes em qualquer um dos dois sistemas. Os defensores do capitalismo,
muitas vezes, afirmam que a liberdade só é possível sob o capitalismo (leia-se
“o capitalismo teórico”), e não existe de forma significativa sob o socialismo (leia-
se o “socialismo real”). Defensores do socialismo, muitas vezes, sustentam que
a verdadeira liberdade não é possível sob o capitalismo (leia-se “o capitalismo
existente”) e é verdadeiramente atingível apenas sob o socialismo (leia-se “o
socialismo teórico”).

119
Introdução à Economia

O socialismo e o capitalismo são difíceis de definir, exceto no contexto de


um determinado estágio do desenvolvimento de uma sociedade. As definições
teóricas do socialismo e do capitalismo evoluem ao longo do tempo, assim
como os sistemas existentes. Uma dificuldade de se avaliar os méritos destas
formas alternativas de organizar a sociedade é a divergência entre os sistemas
puramente teóricos e os sistemas existentes.

Com efeito, nas economias modernas prevalecem formas híbridas dos dois
sistemas, constituindo-se em economias de sistema misto, ou simplesmente,
economia mista.

Economia Mista
Em uma economia mista, as instituições públicas e privadas
As instituições exercem o controle sobre a economia. O setor público funciona como
públicas e privadas em uma economia socialista e o setor privado como em uma economia
exercem o controle
de livre iniciativa. Todas as decisões sobre o que, como e para quem
sobre a economia.
produzir são tomadas pelo Estado. O setor privado produz e distribui
produtos e serviços. Fabrica bens de consumo e bens de capital visando
à satisfação do bem-estar social. Em uma economia mista existe a possibilidade
para a manutenção da propriedade privada, para obter lucro, consumir, produzir
e distribuir e decidir sobre a natureza e o nível de ocupação. Mas como a total
liberdade pode vir a afetar o bem-estar público, algumas atividades são reguladas
ou controladas pelo Estado. As principais características do sistema econômico
misto são:

1. Coexistência dos setores público e privado: em uma economia mista, as


iniciativas dos setores privado e público são definidas em conjunto. Os setores
mais estratégicos e nacionalmente importantes da economia são reservados para
ou regulados pelo setor público. Os demais setores são deixados para a operação
privada. Enquanto o setor público terá o bem-estar social como o principal motivo,
o setor privado irá funcionar visando à obtenção de lucro.

2. Consolidação dos méritos do capitalismo e socialismo: como foi visto,


tanto o capitalismo e o socialismo têm méritos e deméritos. Uma economia mista
deverá buscar manter apenas os méritos dos dois sistemas. Por exemplo, o
governo deverá permitir o investimento privado, mas deverá também controlar os
monopólios.

3. Planejamento: o planejamento econômico é outra característica importante


da economia mista. O planejamento irá direcionar os papéis relativos dos setores
público e privado e suas respectivas áreas de atuação.

120
Capítulo 5 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS BÁSICOS

MÉritos de Economia Mista


1. Utilização eficiente dos recursos: os recursos são utilizados com eficiência
como resultado da boa coexistência entre os sistemas capitalista e socialista. Se
há má alocação de recursos, o Estado os controla e regula a sua utilização. Isso
garante a utilização eficiente dos recursos.

2. Os preços são administrados: os preços não são sempre determinados


pelas forças da oferta e da procura. No caso de mercadorias que são escassas,
os preços são administrados pelo governo e tais bens também são racionados.

3. Serviços sociais: em uma economia mista o planejamento é centralizado


e há bem-estar geral. Os trabalhadores recebem incentivos e recompensa por
quaisquer inovações. A segurança social é fornecida aos trabalhadores e as
desigualdades de renda e riqueza são reduzidas.

DemÉritos da Economia Mista


1. Falta de coordenação: a coordenação entre os setores público e privado
é pobre em uma economia mista. O setor público despende vultosos recursos
públicos para a infraestrutura. Os agentes do setor privado visam à maximização
do lucro e utilizam a infraestrutura criada pelo setor público. Mas não possuem
responsabilidade social e deixam de investir em políticas públicas como saúde e
educação e rejeitam qualquer restrição imposta pelo governo.

2. Burocratização excessiva e atraso do setor público: há várias razões


que explicam o funcionamento ineficiente do setor público, entre as quais a
burocratização excessiva e a corrupção, levando a atrasos na implementação de
projetos e na tomada de decisões. Eles resultam em ineficiência e também afetam
a produção.

3. Flutuações econômicas: as economias mistas experimentam flutuações


econômicas. Por um lado, o setor privado não opera de maneira satisfatória
sob condições muito rígidas prescritas pelo governo. Por outro, o setor público
também não opera de forma adequada sob condições muito rígidas impostas por
uma economia planificada. Além disso, a falta de coordenação política entre o
setor privado e o setor público resulta em flutuações econômicas.

121
Introdução à Economia

Atividades de Estudos:

1) Os problemas econômicos básicos são comuns a:

a) Capitalismo.
b) Socialismo.
c) Economia mista.
d) Todos os sistemas econômicos.

2) A economia tradicional é uma:

a) Economia de subsistência.
b) Economia de mercado.
c) Economia de comando.
d) Economia monetária.

3) A força básica que impulsiona a economia capitalista é:

a) Planejamento.
b) Tecnologia.
c) Governo.
d) Motivação pelo lucro.

4) Em uma economia socialista, todas as decisões em matéria de


produção e distribuição são tomadas por:

a) Autoridade de planejamento central.


b) Forças de mercado.
c) Costumes e tradições.
d) Setor privado.

5) Burocratização excessiva e corrupção levam a:

a) Desigualdade de renda e riqueza.


b) Ineficiência na produção.
c) Ausência de tecnologia.
d) Utilização eficiente dos recursos.

6) Preencha os espaços em branco:

a) Em uma economia tradicional, os problemas básicos são


resolvidos com base na _________ e _________.

122
Capítulo 5 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS BÁSICOS

b) A maioria das atividades econômicas do capitalismo está centrada


no __________.
c) A principal motivação da economia socialista é
_________________.
d) Em uma economia mista, o controle econômico é exercido pelos
setores________ e ___________.

7) Associe as expressões das duas colunas:

a) custo mínimo (b) opção não exercida


b) custo de oportunidade (d) socialismo
c) propriedade privada (e) preço, oferta e demanda
d) expansão da burocracia (a) benefício máximo
e) forças de mercado (c) economia de laissez-faire

8) A economia tradicional é uma economia de subsistência?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

9) Qual é a força básica que impulsiona uma economia capitalista?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

10) Qual é o resultado de excesso de produção?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

11) Cite duas economias socialistas.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

123
Introdução à Economia

12) Há planejamento em uma economia mista?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

13) Quais são as questões básicas de qualquer sociedade?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

14) Liste as características básicas do socialismo.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

ConsideraçÕes Finais
Em 1776, mesmo ano da declaração da independência americana, Adam
Smith – considerado o criador das Ciências Econômicas – publicou A riqueza das
nações. Smith apresentou um conjunto de argumentos que agora é familiar a todos
os estudantes de economia: (1) a principal motivação humana é o autointeresse;
(2) a mão invisível da concorrência automaticamente transforma o interesse de
muitos em um bem comum e (3) por conseguinte, a melhor política de governo
para o crescimento da riqueza de uma nação é a política do governo mínimo.

Ao longo deste módulo foram apresentados os conceitos, as abordagens e


as análises sobre os diversos problemas enfrentados pelas ciências econômicas.
Escassez relativa, a distribuição dos resultados do crescimento, o financiamento
da provisão de bens de consumo, a gestão dos custos pelos empresários e o
dilema posto às sociedades sobre a escolha do sistema econômico mais
adequado ao enfrentamento das barreiras ao crescimento e ao desenvolvimento
social.

124
Capítulo 5 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS BÁSICOS

Os argumentos de Smith foram, ao seu tempo, dirigidos contra os


mercantilistas, que defendiam a intervenção ativa do governo na economia,
particularmente no que diz respeito a condições (mal concebidas) de comércio.

Desde então, seus argumentos foram utilizados e reutilizados pelos


proponentes do laissez-faire ao longo dos séculos XIX e XX. No presente,
os argumentos de Smith e de seus adversários são ainda muito vivos: os pro-
smithianos são aqueles que colocam sua fé no mercado, que afirmam que o
fornecimento de bens e serviços na sociedade deveria ser feito, em grande
parte, pelos compradores e vendedores privados, atuando em concorrência uns
com os outros. Pode-se ver o espírito de Adam Smith em políticas econômicas
que envolvem a desregulamentação das indústrias, a redução dos tributos e a
diminuição do crescimento do governo.

Os anti-smithianos, entretanto, ainda dividem o espaço do pensamento


econômico. Os mercantilistas são agora chamados defensores da política industrial,
e há uma abundância de intelectuais e políticos, além de neomercantilistas, que
acreditam que: (1) o planejamento econômico é superior ao laissez-faire; (2) os
mercados possuem a tendência de se monopolizar na ausência de intervenção do
governo, minando a mão invisível da concorrência; (3) mesmo que os mercados
sejam competitivos, a existência de efeitos externos, bens públicos, as assimetrias
de informação e outras falhas de mercado certificam que o laissez-faire resulta no
mal comum, ao invés do bem comum; (4) e em qualquer caso, o laissez-faire
produz um grau intolerável de desigualdade.

Este confronto de crenças e ideias produz o que se reconhece atualmente


como a integração entre o Estado e o mercado, ambiente no qual as duas
instituições negociam de maneira por vezes conflituosa, por vezes cooperativa,
o papel que cada uma deve desempenhar com vistas à obtenção de melhores
níveis de desenvolvimento.

Que o conteúdo deste módulo tenha trazido a você temas, conceitos e


abordagens que lhe permitam entender e refletir sobre os aspectos micro e
macroeconômicos e sobre as razões da escassez ou da abundância de alguns
produtos e serviços; sobre a existência das desigualdades de renda entre pessoas,
entre regiões e países, ou por que as populações de muitos países possuidores
de grandes riquezas naturais permanecem em situação de extrema pobreza e
privação de acesso aos serviços adequados de saúde, ensino e nutrição.

125
Introdução à Economia

ReferÊncias
ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso
tempo. São Paulo: UNESP, 1995.

FURTADO, Celso. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. São Paulo: Fundo


de Cultura, 1961.

HEILBRONER, Robert. A história do pensamento econômico. São Paulo:


Nova Cultural, 1996. Disponível em: <http://projetos.unijui.edu.br/economia/files/
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SCHUMPETER, Joseph Alois. História da análise econômica. São Paulo:


Fundo de Cultura, 1964.

126

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