Fundamentos Do Direito Administrativo
Fundamentos Do Direito Administrativo
Fundamentos Do Direito Administrativo
DIREITO ADMINISTRATIVO
Autora: Giovana Izidoro Guedes Salomão Romano
Dados Pessoais
Nome:__________________________________________________________
Endereço:______________________________________________________
E-mail:_________________________________________________________
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
Prof.ª Cláudia Regina Pinto Michelli
Prof.ª Kelly Luana Molinari Corrêa
Prof. Ivan Tesck
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2016
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
342.06
R759f Romano; Giovana Izidoro Guedes Salomão
ISBN 978-85-69910-09-1
1.Direito administrativo.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
PARCERIA ENTRE
IBAM E UNIASSELVI
No momento atual, em todos os países, em qualquer instância de governo,
observa-se um movimento de revisão do papel do Estado, somado à exigência
das populações por atuação governamental de qualidade. Esta tendência conduz
à demanda expressiva para que se consolide a existência e o funcionamento de
um sistema qualificado de Gestão para a implementação de políticas públicas.
Paulo Timm
Superintendente Geral do Instituto
Brasileiro de Administração Municipal – IBAM
APRESENTAÇÃO.......................................................................7
CAPÍTULO 1
Introdução ao Direito Administrativo Moderno ................9
CAPÍTULO 2
Princípios que informam a Administração Pública........... 37
CAPÍTULO 3
Estrutura Administrativa..................................................... 61
CAPÍTULO 4
Atividade Administrativa......................................................101
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
O Direito é uno, mas para fins didáticos é dividido em público e privado. O Direito
Administrativo, como disciplina autônoma, dotada de um sistema próprio de princípios
de normas é um ramo do direito público destinado ao estudo da função administrativa
e toda estrutura orgânica que compõe a Administração pública.
A autora.
C APÍTULO 1
Introdução ao Direito
Administrativo Moderno
10
Capítulo 1 Introdução ao Direito Administrativo Moderno
Contextualização
O Direito Administrativo como disciplina autônoma, dotada de um sistema
próprio de princípios de normas é uma criação contemporânea ao Estado de
Direito, tem origem atribuída à uma Lei francesa e seus primeiros passos para
tornar-se um ramo autônomo do Direito se deu a partir da jurisprudência do
conselho de estado francês apesar de existirem relatos da existência de regras
próprias do direito administrativo nas civilizações antigas.
Origem
Podemos identificar a existência de normas disciplinadoras da Relação do
Estado com os administrados nas mais antigas civilizações, é sabido, por exemplo,
que em Roma as grandes tinturarias utilizavam amoníaco para clarear os tecidos.
O amoníaco era fabricado a partir da urina e para tal dispunham recipientes nas
calçadas, mediante aval do Prefeito pretoriano, que funcionavam como banheiros
públicos. Ou seja, os tintureiros precisavam de uma autorização administrativa,
ato administrativo unilateral discricionário e precário, figura comum no Direito
Administrativo hodierno. Porém, ainda que normas disciplinadoras da relação do
Estado com os administrados sejam conhecidas de tão longa data, não se pode
afirmar que o Direito Administrativo exista desde então, isto porque uma disciplina
requer mais que a existência de normas esparsas sobre a matéria, carece de um
sistema autônomo com princípios informativos próprios o que só ocorreu com o
advento do Estado de Direito como bem descreve Mello (1968, p. 61):
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 1 Introdução ao Direito Administrativo Moderno
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 1 Introdução ao Direito Administrativo Moderno
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Fundamentos do Direito Administrativo
No Brasil o direito
No Brasil o direito administrativo começa a se desenvolver apenas
administrativo
começa a se em 1851 com a criação da cátedra da matéria nas universidades de
desenvolver São Paulo e Recife e só tem a primeira obra publicada sobre o assunto
apenas em 1851 em 1857 em Recife, intitulada Elementos de Direito Administrativo
com a criação da brasileiro comparado com o Direito francês, segundo o método de
cátedra da matéria Pradier-Fodéré, de autoria do Doutor Vicente Pereira do Rego.
nas universidades
de São Paulo e
Recife e só tem Os fatos são estes, mas a interpretação dada aos referidos
a primeira obra fatos não estaria um tanto romanceada? De uma hora para outra
publicada sobre o o antigo regime seria rompido e as práticas perpetradas por séculos
assunto em 1857. inteiramente substituídas por um novo sistema de resolução de conflitos
com a Administração, absolutamente despido dos vícios de autoridade
tão incorporados ao sistema? Em resposta a tais questionamentos,
A associação da
gênese do direito Binenbojm (2006, p. 11) diz:
administrativo
ao advento do A associação da gênese do direito administrativo ao advento
Estado de direito do Estado de direito e do princípio da separação dos poderes
e do princípio da na França pós-revolucionária caracteriza erro histórico e
reprodução acrítica de um discurso de embotamento da
separação dos
realidade repetido por sucessivas gerações [...].
poderes na França O Direito Administrativo não surgiu da submissão do Estado
pós-revolucionária à vontade heterônoma do legislador. Antes, pelo contrário, a
caracteriza formulação de novos princípios gerais e novas regras jurídicas
erro histórico pelo Conseil d`État, que tornaram viáveis soluções diversas
e reprodução das que resultariam da aplicação mecanicista do direito civil
acrítica de um aos casos envolvendo a Administração Pública, só foi possível
discurso de em virtude da postura ativista e insubmissa daquele órgão
embotamento da administrativo à vontade do Parlamento.
realidade repetido [...]
por sucessivas O surgimento do direito administrativo, e de suas categorias
jurídicas peculiares (supremacia do interesse público,
gerações.
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Capítulo 1 Introdução ao Direito Administrativo Moderno
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 1 Introdução ao Direito Administrativo Moderno
DIREITO ADMINISTRATIVO
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 1 Introdução ao Direito Administrativo Moderno
Nestes termos a
direitos e garantias fundamentais. Estando a Constituição no centro do constitucionali-
ordenamento jurídico, toda interpretação jurídica passa a ser também zação do Direito
interpretação constitucional. Administrativo
condiciona o exer-
cício da atividade
Nenhuma peça do ordenamento pode colidir com princípios e
administrativa aos
valores constitucionais, estando todo e qualquer intérprete de todo direitos fundamen-
ramo do Direito submetido a esta “filtragem constitucional” da qual não tais, é como se
se poderá afastar também o Direito Administrativo. toda função admi-
nistrativa do Estado
fosse filtrada pela
Constituição, pas-
sando a ser con-
trária a legalidade
qualquer atuação
incompatível com
os princípios,
direitos e garantias
fundamentais.
Nenhuma peça
do ordenamento
pode colidir com
princípios e valores
constitucionais.
Na visão de Barroso (2006, p. 49) a toda interpretação aplicar-se-á a
Constituição seja direta ou indiretamente:
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Fundamentos do Direito Administrativo
No entendimento de Seabra Fagundes (1951, p. 3-5):
Conceitos típicos
do regime jurídico
De que forma a constitucionalização opera sobre os clássicos de direito público
pilares do direito administrativo, em especial o princípio da supremacia considerados
do interesse público? De fato, é outro aspecto que precisa ser absolutos e
mencionado em relação à consequência prática da constitucionalização irremediáveis são
reinterpretados
do direito administrativo. Conceitos típicos do regime jurídico de direito
sob a ótica
público considerados absolutos e irremediáveis são reinterpretados sob constitucional.
a ótica constitucional.
Atividade de Estudos:
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Capítulo 1 Introdução ao Direito Administrativo Moderno
obvio que o direito de propriedade do indivíduo foi superado pelo interesse público,
mas não se pode dizer que aquele indivíduo não será atendido pela efetivação da
obra pública.
Interesse público
(i) primário — isto
Nas palavras de Mello (2015, p. 60):
é, o interesse
da sociedade,
O interesse do todo, do conjunto social, nada
sintetizado em
mais é que a dimensão pública dos interesses
individuais, ou seja, dos interesses de cada valores como
indivíduo enquanto partícipe da sociedade justiça, segurança
(entificada juridicamente no Estado). e bem-estar social.
Para não cair nesta redundância é que se faz necessário distinguir o interesse
público primário e o secundário.
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 1 Introdução ao Direito Administrativo Moderno
A Personalização do Direito
Administrativo Realizar
concretamente
os preceitos
A personalização do Direito Administrativo é um fenômeno constitucionais é
decorrente diretamente da Constitucionalização, e do Estado realizar o interesse
Democrático de Direito que consiste na efetivação de medidas para público primário.
realização concreta dos direitos fundamentais constitucionalmente
estabelecidos, bem como efetivação do princípio da dignidade da pessoa humana.
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Fundamentos do Direito Administrativo
Atividade de Estudos:
A efetivação de
medidas concretas
Algumas Considerações
para realização
O direito administrativo nasce junto com a noção de Estado de
dos direitos
fundamentais é Direito, se o Estado está submetido à lei, sua atuação prática também
uma obrigação da precisa estar. O direito administrativo então se desenvolve a partir desta
Administração. máxima e se consagra como disciplina autônoma com um conjunto
harmônico de princípios e normas, estabelecido sobre pilares como a
supremacia do interesse público, legalidade estrita e impossibilidade de revisão
judicial do mérito administrativo.
30
Capítulo 1 Introdução ao Direito Administrativo Moderno
Referências
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do
direito: O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil. Revista da Escola
Nacional de Magistratura (ENM). Brasília Ano 1 – nº 2, p. 26-72, out. 2006.
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 14. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2010. p. 134.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 32. ed.
Editora Malheiros. São Paulo, 2015, p. 55; p 635.
31
Fundamentos do Direito Administrativo
TORRES, Ronny Charles Lopes de; BALTAR NETO, Fernando Baltar. Direito
Administrativo. 2ª ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2012, p. 45.
32
C APÍTULO 2
Princípios que Informam
a Administração Pública
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Capítulo 2 Princípios que informam a Administração
Pública
Contextualização
Princípios são normas que servem de interpretação das regras jurídicas,
apontando os caminhos que devem ser seguidos pelos aplicadores da lei. Os
princípios têm como função eliminar as lacunas, oferecendo coerência e harmonia
para o ordenamento jurídico.
São muitos os critérios para definir um princípio, para fins didáticos tratamos dos
princípios constitucionais da Administração Pública expressos na Constituição de 1988.
35
Fundamentos do Direito Administrativo
Apenas com a Contudo, não foi sempre que os princípios ocuparam lugar de
superação do destaque no Direito, apenas com a superação do jusnaturalismo
jusnaturalismo e e do positivismo os princípios foram levados ao centro do Direito,
do positivismo osincorporados de forma implícita ou expressa aos textos constitucionais,
princípios foram
reconhecidos como norma e valorizados. Surge, então, uma nova
levados ao centro
do Direito. interpretação constitucional, cabendo ao intérprete a aplicação dos
princípios mediante ponderação entre os fatos e as normas buscando
solução justa para o caso concreto como você verá explicado a seguir:
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Capítulo 2 Princípios que informam a Administração
Pública
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Capítulo 2 Princípios que informam a Administração
Pública
PRINCÍPIOS E REGRAS
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Fundamentos do Direito Administrativo
40
Capítulo 2 Princípios que informam a Administração
Pública
41
Fundamentos do Direito Administrativo
O que diferencia os princípios das regras? A resposta pode ser dada com
enfoque em vários aspectos dos quais destacamos quatro:
Neste ponto nos deparamos com outro grande desafio doutrinário da atualidade
44
Capítulo 2 Princípios que informam a Administração
Pública
que seria definir que normas são consideradas princípios já que os critérios Princípios
de definição são inúmeros resultando em verdadeira “banalização dos setoriais de Direito
princípios”, por vezes, norma sem o devido grau de abstração pode ser Administrativo:
considerada um princípio na interpretação de um doutrinador que assim São os princípios
a classificou para realçar seu valor. Assim, deparamo-nos com inúmeros informativos
específicos do
princípios gerais do Direito Administrativo. Para nortear nosso estudo
Direito Administrativo
vamos nos ater àqueles expressamente enumerados na Constituição aplicáveis,
Federal que serão pormenorizados no tópico a seguir. primordialmente,
a determinado
ramo do Direito
Princípios Constitucionais do Administrativo.
Direito Administrativo
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, tem um capítulo
dedicado à Administração Pública e traz no caput do seu artigo inaugural, Artigo
37, um rol expresso de princípios como abaixo se transcreve:
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Fundamentos do Direito Administrativo
Princípio da Legalidade
46
Capítulo 2 Princípios que informam a Administração
Pública
Princípio da Impessoalidade
O significado do princípio está contido na palavra que o nomeia,
impessoalidade significa impossibilidade de ser pessoal, pois a atividade
O significado do
princípio está administrativa deve ser descontaminada de qualquer pessoalidade, seja
contido na palavra do administrador que precisa exercer sua atividade visando o interesse
que o nomeia, público e não o seu próprio interesse, seja do administrado que não deve
impessoalidade ser discriminado ou favorecido pelas suas características pessoais de
significa afinidade ou desafeto com os administradores, discriminações gratuitas
impossibilidade
que não se justifiquem em razão do interesse coletivo, caracterizam
de ser pessoal.
abuso de poder e desvio de finalidade, que são espécies do gênero
ilegalidade.
Princípio da Moralidade
O administrador público deve agir com honestidade, probidade, decoro e boa-
fé, em absoluta consonância com os valores éticos, contudo a moralidade que se
exige do administrador difere da moralidade que se espera do “homem médio”,
pois a conduta moral que se espera do homem em geral decorre dos valores da
sociedade, já a conduta moral que se espera do agente público decorre do regime
legal, como se depreende da definição de Mello (2015, p.115):
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 2 Princípios que informam a Administração
Pública
Contudo, Moreira Neto (1992, p. 32) adverte que não se pode exigir
Assim é forçoso
da moralidade a mesma precisão que se exige da legalidade, senão concluir que o
vejamos: ato administrativo
quando ofender
precisão que se exige da legalidade não tem o princípio da
cabimento quando se trata de moralidade, pois, de moralidade, ainda
outra forma, se estaria subsumindo um ao outro que plenamente
princípio, tornando ocioso falar-se em moral compatível com
administrativa (MOREIRA NETO, 1992, p. 32).
os requisitos de
legalidade estará
O ato imoral distorce os fundamentos e diretrizes constitucionais eivado de vício
e contraria o dever de probidade. Assim é forçoso concluir que o ato e, portanto, será
administrativo quando ofender o princípio da moralidade, ainda que ilegal, devendo ser
anulado.
plenamente compatível com os requisitos de legalidade estará eivado de
vício e, portanto, será ilegal, devendo ser anulado.
Princípio da Publicidade
O sentido do princípio não se confunde com publicação e, sim,
a Administração
com a ideia de que a Administração tem o dever da transparência, seja tem o dever da
divulgando os atos por ela praticados, seja fornecendo informações transparência
armazenadas em seus bancos de dados, quando solicitadas. Publicação
é um requisito de validade de alguns atos administrativos, afinal, nem todos os
atos administrativos precisam ser publicados para serem válidos, atos de mero
expediente com alcance interno dispensam a publicação e nem por isso agridem
o princípio da publicidade.
Art. 5º
[...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação;
[...]
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
[...]
art. 37
[...]
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Fundamentos do Direito Administrativo
Princípio da Eficiência
Segundo o princípio da eficiência a Administração Pública deve
Administração deve
perseguir o aperfeiçoamento de sua atividade. Seja na prestação
manter a qualidade
da atividade e a dos serviços públicos, exercício da atividade de polícia, de fomento
racionalidade de ou até mesmo de intervenção, a Administração deve manter a
gastos. qualidade da atividade e a racionalidade de gastos.
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Capítulo 2 Princípios que informam a Administração
Pública
Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2016, p. 114) apresenta dois aspectos deste
princípio:
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Fundamentos do Direito Administrativo
Atividade de Estudo:
LegalidadeeLegitimidadeAdministrativa
Legalidade e legitimidade possuem significados próprios, legal é a conduta,
ou atividade administrativa praticada com respeito à lei, ao direito positivado,
enquanto a legitima é aquela socialmente aceita.
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Capítulo 2 Princípios que informam a Administração
Pública
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Fundamentos do Direito Administrativo
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
O Direito Administrativo, como disciplina, tem solidez, direção e clareza de
objetivos conferida pelos princípios.
Referências
BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula de. O começo da história:
A nova Interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro.
2003.In: SILVA, Virgílio Afonso (org.) Interpretação Constitucional. São Paulo:
Malheiros Editores, 2010.
CARRAZZA, Antonio Roque. Curso de direito tributário. 10. ed. São Paulo:
Malheiros, 1997, p. 31.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 29. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016, p. 95, 114.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Trad. João Baptista Machado. São
Paulo, Martins Fontes, 1998, p. 11.
59
Fundamentos do Direito Administrativo
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo:
Malheiros, 2016, p.93, 116.
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C APÍTULO 3
Estrutura Administrativa
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Capítulo 3 Estrutura Administrativa
Contextualização
A estrutura federativa pressupõe a existência de entes federativos, pessoas
jurídicas de direito público interno que compõe a federação. Com o objetivo de
desempenhar a função estatal de administração estes entes federativos dispõem
de uma estrutura orgânica composta de órgãos, agentes e entidades.
Pessoas Políticas
Desde de a instauração da República em 1889, o Brasil adota o federalismo
como forma de estado inspirado no modelo norte-americano.
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 3 Estrutura Administrativa
CRFB/88
Artigo 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
II - desapropriação;
[...]
CRFB/88
Artigo18.
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação,
transformação em Estado ou reintegração ao Estado de
origem serão reguladas em lei complementar.
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se
ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem
novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da
população diretamente interessada, através de plebiscito, e do
Congresso Nacional, por lei complementar.
ADCT
Art. 14. Os Territórios Federais de Roraima e do Amapá são
transformados em Estados Federados, mantidos seus atuais
limites geográficos.
Art. 15. Fica extinto o Território Federal de Fernando de
Noronha, sendo sua área reincorporada ao Estado de
Pernambuco.
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Capítulo 3 Estrutura Administrativa
Órgãos
A função administrativa agrega uma infinidade de atividades que exigem
competências, para que sejam desempenhadas com eficiência e efetividade,
sendo distribuídas tanto por especialidade como por territorialidade. Estes centros
de competência com funções definidas e agentes para desempenhá-las são os
órgãos, que Meirelles (2016, p. 71-72) bem definiu:
Órgão Público é, portanto, uma unidade de atuação - criada por lei, com
funções definidas e integrada por agentes públicos - que compõe a estrutura da
administração para tornar efetiva a vontade do Estado.
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Fundamentos do Direito Administrativo
Sendo o órgão uma unidade de atuação, como acima dito, são desprovidos
de personalidade jurídica, a vontade por eles manifestada através dos seus
agentes, não é propriamente do órgão, deve ser atribuída, imputada, à pessoa
jurídica que ele integra. Exemplificando, suponha que um enfermeiro do posto de
saúde, ao aplicar uma vacina causou lesão ao paciente, o paciente deve buscar a
reparação do dano junto ao Município, que é a pessoa jurídica a qual o posto de
saúde (órgão) e consequentemente o enfermeiro (agente) estão integrados.
Como órgãos não têm personalidade jurídica, não têm capacidade processual,
contudo, em situações específicas poderão figurar como parte, ou seja, terão a
chamada “personalidade judiciária”, reconhecida doutrinária e jurisprudencialmente
a possibilidade de órgãos independentes - aqueles representativos de poderes
ou funções estatais independentes-, com função determinada pela Constituição
Federal, defenderem tais prerrogativas em juízo desde que a demanda não
tenha fundamento puramente patrimonial. Exemplificando: Caso a Câmara dos
Vereadores do Rio de Janeiro usurpe competência própria da Chefia do Executivo
Municipal, estes órgãos poderão, em juízo, defender suas prerrogativas. Serão
partes no processo judicial a Prefeitura e a Câmara Municipal, que terão, neste
caso, capacidade processual, apesar de ser o Município do Rio de Janeiro o único
e real detentor de personalidade jurídica.
5. Ordem denegada.”
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Fundamentos do Direito Administrativo
70
Capítulo 3 Estrutura Administrativa
Ficou claro por tudo que foi dito sobre os órgãos que um dos elementos
indispensáveis são as pessoas físicas que efetivamente materializam as
competências de cada órgão, são os agentes públicos que passaremos a estudar.
Agentes
Podem ser definidos como qualquer pessoa física que desempenhe função
pública, a qualquer título e sob vínculo de qualquer natureza, porém quando o
agente público tiver poder decisório será denominado de autoridade administrativa.
71
Fundamentos do Direito Administrativo
a) Agentes políticos - São aqueles que atuam com plena liberdade funcional,
desempenhando suas atribuições com prerrogativas e responsabilidades
próprias, exercem funções governamentais e judiciais, são assim considerados
os Chefes do Executivo federal, estadual e municipal; os Ministros de Estado
e Secretários de Governo, os parlamentares, os membros do Judiciário, do
Ministério público e Tribunal de Contas, e ainda os representantes diplomáticos.
serve para designar todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura, vínculo, mandato, cargo, emprego ou função, seja nos órgãos
da Administração direta, seja nas Entidades da Administração indireta, chamadas
de pessoas administrativas, ou ainda nas concessionárias, permissionárias e
autorizatárias de serviço público. São estas pessoas jurídicas que integram a
administração indireta que estudaremos a seguir.
Pessoas Administrativas
São as entidades administrativas, pessoas jurídicas de direito público ou
privado, criadas por lei ou autorização legal que integram a administração pública
indireta em âmbito federal, estadual, distrital ou municipal.
Esta definição exige especificar a diferença entre criação por lei e por autorização
legal bem como a compreensão do que seja administração pública indireta.
Quando dizemos que uma entidade é criada por lei, significa que a
personalidade jurídica nasce com a vigência da lei, não sendo necessário nenhum
outro ato para que a pessoa jurídica passe a existir, já a criação por autorização
legal é justamente a necessidade da prática de algum outro ato, a partir da lei,
para que a pessoa jurídica passe a existir.
CRFB/88
Artigo 37
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de
economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar,
neste último caso, definir as áreas de sua atuação;
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a
criação de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso
anterior, assim como a participação de qualquer delas em
empresa privada;
Uma fundação por exemplo, para existir, exige a inscrição no Registro Civil
das Pessoas Jurídicas, assim, a Lei não é suficiente para que a pessoa jurídica
exista, é necessária a devida inscrição, contudo, a Administração só poderá criar
uma fundação, inscrevendo-a no Registro Civil das Pessoas Jurídicas se antes for
editada uma Lei autorizando tal criação. A personalidade jurídica das autarquias,
por sua vez, passa a existir com a vigência da lei específica.
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Fundamentos do Direito Administrativo
74
Capítulo 3 Estrutura Administrativa
75
Fundamentos do Direito Administrativo
entanto, pode ser exercido de ofício, ou seja, sem provocação externa, em razão da
autotutela administrativa, ou por provocação, ou seja, por terceiros que
Princípios da
reserva legal solicitam à administração o exame de seus atos por meio de recursos
competência da administrativos.
lei para criar ou
autorizar a criação Tal controle pode ser político, institucional, administrativo ou
das entidades financeiro:
princípio da
especialidade cada
entidade deve a) Político: poder de nomeação e exoneração de seus dirigentes
ser criada para pela autoridade administrativa competente do ministério ou secretaria
o desempenho ao qual se vincula a entidade;
de uma atividade
específica definida b) Institucional: verificação do cumprimento dos objetivos para os
por lei.
quais foi criada;
Autarquias
A palavra utilizada para denominar tal entidade “Autarquia” se origina do termo
grego αuταρχία, que em síntese significa, comandar a si mesmo, não é um termo
privativo do Direito Administrativo, é também utilizado no campo da economia e
filosofia, porém, sempre com o sentido de algo que exerce poder sobre si mesmo.
No âmbito da Administração Pública que é o escopo desta análise destacamos a
definição dada pelo Decreto Lei 200/67:
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Capítulo 3 Estrutura Administrativa
ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS
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Fundamentos do Direito Administrativo
Lei 11.107/05
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre normas gerais para a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios contratarem
consórcios públicos para a realização de objetivos de interesse
comum e dá outras providências.
[...] ,
§ 1o O consórcio público constituirá associação pública ou
pessoa jurídica de direito privado.
Art. 6o O consórcio público adquirirá personalidade jurídica:
I – de direito público, no caso de constituir associação pública,
mediante a vigência das leis de ratificação do protocolo de
intenções;
Art. 8o Os entes consorciados somente entregarão recursos ao
consórcio público mediante contrato de rateio.
Fonte: A autora.
As autarquias, fiéis a ideia de entidade com comando próprio, possuem
autonomia gerencial, administrativa e financeira, com dotação orçamentária
própria e patrimônio próprio (artigo 165, parágrafo 5º. CRFB/88). Contudo, esta
autonomia não é absoluta e, sim, relativa nos limites da lei que a instituiu, pois
encontram-se vinculadas à Administração Direta que as criou e submetidas ao
princípio de controle finalístico ou tutela administrativa.
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Capítulo 3 Estrutura Administrativa
Ainda em razão de serem pessoas jurídicas de direito público são
destinatárias de prerrogativas próprias do regime jurídico de direito público, sejam
elas de ordem processual, uma vez que são Fazenda Pública para todos os
efeitos ou tributária, esta última representada pelo parágrafo 2º do artigo 150 da
CRFB/88 que estende a imunidade recíproca relativa aos impostos às autarquias
e fundações no que diz respeito aos bens, renda e patrimônio relacionados as
suas atividades fim.
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Capítulo 3 Estrutura Administrativa
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 3 Estrutura Administrativa
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 3 Estrutura Administrativa
Agências Reguladoras
São autarquias de regime especial, encarregadas do exercício
São autarquias de
do poder normativo técnico e fiscalizatório (poder de polícia) sobre a regime especial
prestação de serviços públicos e exploração das atividades econômicas independência
de interesse público, dispondo sobre concessão, permissão, contratos administrativa
administrativos e tarifas, como se fosse a própria pessoa política (União, autonomia
Estado, DF e município). econômico-
financeira poder
normativo técnico
São exemplos de agências com previsão constitucional a ANATEL autonomia
(Agência Nacional de Telecomunicações) e ANP (Agência Nacional de decisória.
Petróleo) respectivamente mencionadas nos artigos art. 21, inciso XI
e 177, § 2º, III. São outros exemplos de agências reguladoras: ANEEL - Lei nº
9.427/96; ANATEL – Lei nº 9.472/97; ANP – Lei nº 9.478/97; ANVISA – Lei nº
9.782/99; ANS – Lei nº 9.961/2000; ANA - Lei nº 9.984/2000.
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Fundamentos do Direito Administrativo
Atividade de Estudos:
Fundações
Assim como as autarquias podem ser descritas como a personificação de
um serviço, as fundações são a personificação de um patrimônio aplicado a uma
finalidade social e representam pessoas jurídicas de caráter muito peculiar, e
consistem em complexos de bens (universitates bonorum) dedicados à construção
de certos fins e para esse efeito dotados de personalidade.
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Capítulo 3 Estrutura Administrativa
De fato, são entidades bem peculiares, a começar pela possibilidade de
serem instituídas tanto no universo privado quanto público. Assim temos três tipos
de fundações a saber:
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Fundamentos do Direito Administrativo
As entidades cujos regimes jurídicos analisamos até aqui, autarquias e
fundações, podem ainda receber a qualificação de agências executivas como
passaremos a ver.
Agências Executivas
É tão somente uma qualificação conferida às entidades preexistentes,
autarquias ou fundações, que, após o cumprimento de requisitos legais, celebram
contrato de gestão com a pessoa política que a criou, se comprometendo
a otimizar recursos, reduzir custos e aperfeiçoar a prestação de serviços,
88
Capítulo 3 Estrutura Administrativa
e assim obter maior autonomia e ainda benefícios tais como: receber mais
recursos, pessoal, maquinário, privilégios quando das licitações e contratos
administrativos, como se depreende dos dispositivos transcritos a seguir:
Lei 9649/98
Artigo 51. O Poder Executivo poderá qualificar como Agência
Executiva a autarquia ou fundação que tenha cumprido os
seguintes requisitos:
I - ter um plano estratégico de reestruturação e de
desenvolvimento institucional em andamento;
II - ter celebrado Contrato de Gestão com o respectivo
Ministério supervisor.
§ 1o A qualificação como Agência Executiva será feita em ato
do Presidente da República.
§ 2o O Poder Executivo editará medidas de organização
administrativa específicas para as Agências Executivas,
visando assegurar a sua autonomia de gestão, bem como a
disponibilidade de recursos orçamentários e financeiros para
o cumprimento dos objetivos e metas definidos nos Contratos
de Gestão.
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Fundamentos do Direito Administrativo
DL 200/67
Artigo 5º
II - Emprêsa Pública - a entidade dotada de personalidade
jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e capital
exclusivo da União, criado por lei para a exploração de
atividade econômica que o Govêrno seja levado a exercer
por fôrça de contingência ou de conveniência administrativa
podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em
direito.
III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada de
personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a
exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade
anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua
maioria à União ou a entidade da Administração Indireta.
CRFB/88
Artigo 173
Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a
exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será
permitida quando necessária aos imperativos da segurança
nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos
em lei.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública,
da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que
explorem atividade econômica de produção ou comercialização
de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre:
I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e
pela sociedade;
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas
privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis,
comerciais, trabalhistas e tributários;
III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e
alienações, observados os princípios da administração pública;
IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de
administração e fiscal, com a participação de acionistas
minoritários;
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a
responsabilidade dos administradores.
§ 2º - As empresas públicas e as sociedades de economia
mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos
às do setor privado.
§ 3º - A lei regulamentará as relações da empresa pública com
o Estado e a sociedade.
90
Capítulo 3 Estrutura Administrativa
pois seria uma clara ofensa aos fundamentos e princípios destacados. Assim,
as entidades se submetem ao regime jurídico próprio das empresas privadas
com algumas sujeições de direito público como, por exemplo, a necessidade
de promover concurso público para contratação de pessoal e a submissão ao
controle pelos Tribunais de Contas entre outras.
92
Capítulo 3 Estrutura Administrativa
Concessionárias e Permissionárias
A lei atribui ao estado um rol de atividades materiais que devem ser
executadas, algumas destas atividades representam verdadeiras utilidades de
fruição contínua pelas pessoas denominadas de serviços públicos, na definição
de Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2016, p. 139) serviço público é:
b) que os serviços públicos podem ser prestados diretamente pelo Estado, o que
significa dizer, por meio dos órgãos da Administração Direta ou das entidades da
administração indireta, ou podem ser prestados indiretamente, ou seja, por meio
de terceiros que não integram a estrutura orgânica da Administração Pública;
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Fundamentos do Direito Administrativo
94
Capítulo 3 Estrutura Administrativa
96
Capítulo 3 Estrutura Administrativa
Setor que coexiste com o primeiro e com o segundo setor, sem com eles
confundir-se, difere do Estado porque as entidades que o compõem são de
natureza privada, apesar de dedicadas à consecução de fins públicos, e do
mercado, porque não visa ao lucro nem ao proveito pessoal de seus atores.
Algumas das organizações que integram o chamado terceiro setor não são
novas como, por exemplo, as Santas Casas de Misericórdia, as obras sociais,
as entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao
sistema sindical (SESI, SESC, SENAI, SENAC, dentre outras).
É uma categoria de empresas que são movidas por lucro, mas cujo objeto
está relacionado ao desenvolvimento social/ambiental. Sua natureza empresarial
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Fundamentos do Direito Administrativo
Algumas Considerações
As pessoas políticas, entes federativos que compõem a federação, têm
personalidade jurídica de direito público interno, possuem autonomia financeira,
administrativa e política, assentadas na capacidade de auto-organização,
autogoverno, autoadministração e autolegislação e, portanto, não se confundem
com a Administração pública que consiste no conjunto de agentes, órgãos e
entidades designados para executar atividades administrativas em todos os entes
federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), bem como a própria
atividade de administração desempenhada no âmbito dos três poderes (executivo,
legislativo e judiciário).
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Capítulo 3 Estrutura Administrativa
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>.
Acesso em: 25 mar. 2016.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo:
Malheiros, 2016.
MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 32. ed. São
Paulo: Malheiros Editores, 2015, páginas 725 – 726.
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Fundamentos do Direito Administrativo
100
C APÍTULO 4
Atividade Administrativa
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Capítulo 4 Atividade Administrativa
Contextualização
Nos nossos estudos até aqui, percorremos um longo caminho pelo Direito
Administrativo, desde sua origem até a sua constitucionalização e condicionamento
pelos direitos fundamentais.
103
Fundamentos do Direito Administrativo
Serviços Públicos
Nem toda atividade exercida pelo Estado é serviço público, para ser assim
considerada a atividade estatal deve atender alguns pressupostos,
Comodidade ou quais sejam:
utilidade prestada
a toda sociedade
• Pressuposto material: deve ser uma comodidade ou utilidade
de forma contínua
sob um regime prestada a toda sociedade de forma contínua, sua prestação não é
totalmente ou estanque, não tem início, meio e fim, ele é contínuo;
predominantemente
de direito público. • Pressuposto formal: a prestação do serviço se dá sob um
104
Capítulo 4 Atividade Administrativa
105
Fundamentos do Direito Administrativo
de pessoas possível.
• Quanto à titularidade o serviço pode ser atribuído pela Lei à um ente federativo
ou a todos, assim, os serviços podem ser federais (artigo 21 CRFB/88), estaduais
(artigo 25 CRFB/88), municipais (artigo 30 CRFB/88), ou comuns a todos os
entes federativos (artigo 23 CRFB/88). São de titularidade do distrito federal, os
serviços atribuídos aos estados e municípios, a titularidade não é simplesmente
a competência para prestar o serviço, ela engloba ainda as competências de
regulamentar, fiscalizar e delegar, quando possível, a prestação do serviço.
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Capítulo 4 Atividade Administrativa
CRFB/88
Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar
concessão, permissão e autorização para o serviço de
radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o
princípio da complementaridade dos sistemas privado, público
e estatal.
§ 1º O Congresso Nacional apreciará o ato no prazo do art. 64,
§ 2º e § 4º, a contar do recebimento da mensagem.
§ 2º A não renovação da concessão ou permissão dependerá
de aprovação de, no mínimo, dois quintos do Congresso
Nacional, em votação nominal.
§ 3º O ato de outorga ou renovação somente produzirá efeitos
legais após deliberação do Congresso Nacional, na forma dos
parágrafos anteriores.
§ 4º O cancelamento da concessão ou permissão, antes de
vencido o prazo, depende de decisão judicial.
§ 5º O prazo da concessão ou permissão será de dez anos
para as emissoras de rádio e de quinze para as de televisão.
–– Serviços públicos não exclusivos: são aqueles que o estado tem o dever
de prestar gratuita e diretamente, mas que o particular também pode prestar
por iniciativa própria, sem delegação, como saúde, educação e previdência.
No caso da prestação pelo particular caberá ao estado autorizar e fiscalizar.
Esses serviços não exclusivos não são serviços públicos propriamente ditos,
o STF chama de serviços de utilidade pública. São serviços de interesse
público prestados pelos particulares. Portanto, um hospital privado segue
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Fundamentos do Direito Administrativo
Polícia Administrativa
O poder de polícia tem por objetivo assegurar o bem-estar geral, usando de
ordens, proibições e apreensões para impedir o exercício antissocial dos direitos
individuais, o uso abusivo da propriedade, ou a prática de atividades prejudiciais
à coletividade. O poder de polícia, ou o exercício da polícia administrativa se
manifesta em norma, ordem, fiscalização e punição, exercida pelo conjunto de
órgão e serviços públicos incumbidos de fiscalizar, controlar e deter as atividades
individuais que se revelem contrárias à higiene, à saúde, à moralidade, ao
sossego, ao conforto público e até mesmo à ética urbana.
Fomento
A atividade de fomento é assentada na ideia de administração pública
consensual, diferente das outras atividades estatais, não há imperatividade no
fomento, ninguém se submete compulsoriamente aos os instrumentos jurídicos
de incentivo, apenas mediante adesão do particular é que a Administração passa
a ter qualquer poder de exigir conduta ou punir infração daquele que se submete
ao fomento público.
que serão os agentes fomentados, agirem da forma esperada com o Fomento ocorre a
objetivo de realizar o interesse público. Segundo Moreira Neto (2006, uma indução, por
p.524): meio de atividade
concreta direta e
Pode-se conceituar fomento público como a função imediata, por parte
administrativa através da qual o Estado ou seus do Estado, agente
delegados estimulam ou incentivam, direta, imediata fomentador, para
e concretamente, a iniciativa dos administrados os particulares, que
ou de outras entidades, públicas e privadas, para serão os agentes
que estas desempenhem ou estimulem, por seu fomentados, agirem
turno, as atividades que a lei haja considerado de
da forma esperada
interesse público para o desenvolvimento integral e
harmonioso da sociedade. com o objetivo de
realizar o interesse
público
O fomento pode se dar nos diferentes planos de realização
das políticas públicas eleitas pelo Estado como o social, econômico
e institucional, dentre outros, e pode se dar através de inúmeras ofertas de
incentivos, seja pela motivação psicológica, concessão de títulos honoríficos,
vantagens econômicas reais, ou auxílios econômicos tais como operações
financeiras, condições favoráveis, subvenções, apoio ao desenvolvimento
científico e tecnológico, prazos dilatados para pagamento de empréstimos, dentre
outros. Mas sempre balizado pelos ditames Constitucionais.
Intervenção
Assim como em todos os temas referentes à atividade da administração
pública a intervenção, seja no domínio econômico, seja na ordem social decorre dos
comandos constitucionais em uma tentativa de concretizá-los.
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Fundamentos do Direito Administrativo
sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. O
que evidencia o caráter excepcional e suplementar da atuação do Poder Público.
O art. 173, §4º da Constituição Federal, por sua vez, determina que lei
estabeleça mecanismos para reprimir o abuso do poder econômico que vise à
dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário
dos lucros.
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 4 Atividade Administrativa
Atividade de Estudos:
Vinculação e Discricionariedade
dos Atos Administrativos e seus
Mecanismos de Controle
Várias são as classificações dos atos administrativos, mas quanto ao grau de
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Fundamentos do Direito Administrativo
Tem todos os Os atos vinculados são aqueles que tem todos os elementos
elementos e e condições para sua prática plenamente delineados em lei. A
condições para sua Administração não possui qualquer margem de liberdade de decisão,
prática plenamente visto que o legislador pré-definiu a única conduta possível do
delineados em lei.
administrador diante da situação, sem deixar-lhe margem de escolha.
Podemos tomar como exemplo, a licença urbanística, na qual a Administração,
faculta ao interessado o exercício de uma atividade, qual seja, a construção
em área urbana, uma vez demonstrado pelo interessado o preenchimento dos
requisitos legais exigidos. Uma vez verificado o cumprimento dos requisitos legais
a Administração não pode negar a licença, não cabe mais qualquer análise sobre a
conveniência e oportunidade.
116
Capítulo 4 Atividade Administrativa
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Fundamentos do Direito Administrativo
Deverá manter sua perquirir a aplicação sempre que possível do princípio da supremacia
conduta dentro do interesse público nos atos estatais, o agente não pode agir
dos princípios arbitrariamente, por entender ser o melhor para a sociedade. Ao
que regem a contrário, deverá manter sua conduta dentro dos princípios que regem
administração a administração pública, presentes no artigo 37, caput da carta magna.
pública
Como elucida Carvalho (2005, p. 252):
Processos Administrativos
O controle dos atos administrativos, quanto à natureza do Quanto à
controlador será legislativo, judicial ou administrativo. localização do órgão
controlador interno
e externo.
Quanto à localização do órgão controlador em relação ao ato
controlado, o controle pode ser interno - realizado pela entidade ou
Controle dos atos
órgão responsável pela atividade controlada, no âmbito da própria
administrativos.
Administração. Ex: controle da Corregedoria sobre os atos dos
serventuários de justiça - ou externo - realizado por órgãos estranhos
à Administração responsável pelo ato controlado. Ex: auditoria do Aspecto
controlado pode
Tribunal de Contas sobre a efetivação de determinada despesa do
ser a legalidade
Executivo. ou o mérito.
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Capítulo 4 Atividade Administrativa
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Fundamentos do Direito Administrativo
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Capítulo 4 Atividade Administrativa
Atividade de Estudos:
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
Algumas Considerações
Na busca de um critério positivo, no qual se identifica o que é atividade
administrativa propriamente dita, chegou-se a um núcleo de atividades
essencialmente administrativa, adotada pela maioria dos doutrinadores pátrios,
que exclui os atos de governo e, compreende as atividades de serviço público,
polícia, fomento e intervenção.
Se assim não for, os atos abusivos serão objeto de controle tanto judicial,
quanto administrativo, neste último caso, no âmbito dos processos administrativos.
Referências
BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo: direitos
fundamentais, democracia e constitucionalização. 2. ed., rev. e atual. Rio de
Janeiro: Renovar, 2008.
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Capítulo 4 Atividade Administrativa
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 29. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo:
Malheiros, 2016, p. 152.
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