Agrupamento de Espécies Amazônicas Por Meio de Características Tecnológicas Da Madeira
Agrupamento de Espécies Amazônicas Por Meio de Características Tecnológicas Da Madeira
Agrupamento de Espécies Amazônicas Por Meio de Características Tecnológicas Da Madeira
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA – UFRA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA FLORESTAL
CAMPUS DE PARAUAPEBAS
PARAUAPEBAS – PA
2018
2
PARAUAPEBAS – PA
2018
3
05/03/2018
_____________________________
Data da Aprovação
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Profª. Drª. Selma Lopes Goulart (Orientadora)
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
_____________________________________________
Prof. Dr. Thiago de Paula Protásio (Coorientador)
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
_____________________________________________
Prof. Dr. Marcos Rodrigues (Membro)
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
4
DEDICAMOS
5
AGRADECIMENTOS
Lucas de Jesus Barbosa
À Wilza Carla, minha dupla eterna e minha parceira durante toda a graduação.
Obrigado por todos os conselhos e palavras de conforto, pela paciência nas longas
conversas nos momentos difíceis e por boas risadas nos momentos de
companheirismo e amizade, que nunca sairão da minha memória. Você é parte
fundamental da minha construção como acadêmico.
AGRADECIMENTOS
Wilza Carla Santos e Sousa
Á minha rainha Maria Alaides, pelo amor incondicional, por ser sempre meu
porto seguro, pelos ensinamentos baseados na honestidade, educação e dedicação,
para que alçássemos sempre voos cada vez mais longos, em busca dos nossos
sonhos e conquistas, tornando-nos, a mim e meus irmãos, cidadãos dignos e
merecedores de tudo àquilo que a vida nos oferece. Esse mundo com você é mais
belo. Te amo!
Aos meus irmãos, Wilma e Wilson, pelo companheirismo, pela cia na trajetória
da vida, por serem sempre representantes fiéis das minhas origens, por dividirem
comigo o orgulho e amor pela nossa genitora. Amo vocês!
Ao meu “paidrasto” Aluízio, pelos cuidados e por ter sido uma peça
fundamental na minha vida nos últimos anos. Você foi imprescindível para a formação
do meu caráter.
pela paciência e por toda ajuda prestada a nós nessa fase tão importante da
graduação.
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Partes do lenho de uma espécie folhosa nos três planos espaciais de
observação.......................................................... ...................................................... 21
Figura 3 – Município de Parauapebas – PA, local onde foi realizado o estudo. ....... 33
Figura 16 – Análise dos escores das componentes principais com a indicação dos
grupos de espécies constituídos pelas características físicas, mecânicas e
colorimétricas das madeiras ...................................................................................... 69
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 8 – Valores médios obtidos para as variáveis de cor no sistema CIEL*a*b* para
as faces radial (Rd) e tangencial (Tg) das espécies em estudo. ............................... 55
Tabela 13 – Tabela de cores para madeiras brasileiras proposta por Camargos &
Gonçalez (2001) ........................................................................................................ 83
15
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 19
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 72
1. INTRODUÇÃO GERAL
2. OBJETIVOS
3. REFERENCIAL TEÓRICO
Figura 1 – Partes do lenho de uma espécie folhosa nos três planos espaciais de observação.
normal quando a carga é retirada, sem que haja qualquer deformação permanente. O
módulo de ruptura (MOR) é o valor a partir do ponto em que, após ser submetida a
um valor extremo de carga, a madeira deforma e não volta ao seu estado original.
Para fins práticos, a madeira, até determinado ponto, apresenta uma
característica elástica, onde se cessarmos a força que a deforma, ela ainda apresenta
capacidade de voltar ao seu estado original. A partir do ponto em que a madeira deixa
de ser elástica, ela passa a ser plástica. Ou seja, ela não apresenta mais a capacidade
em retornar ao seu estado original, mesmo quando a força que a deforma é cessada
(STANGERLIN et al. 2010).
Cabe ressaltar, que para avaliação da madeira, a rigidez, indicada pelo módulo
de elasticidade, encontra-se entre as propriedades mecânicas mais importantes
(YANG e EVANS, 2003; SCANAVACA JUNIOR e GARCIA, 2004). Embora o MOE
não proporcione informações completas e reais sobre o comportamento da madeira,
pode-se concluir que valores altos de MOE indicam alta resistência e baixa
deformação do material, qualificando-o para fins construtivos. Dessa forma, a
determinação das propriedades mecânicas da madeira é fundamental para seu uso
eficiente, bem como para o fornecimento de informações importantes para a sua
industrialização e racionalização.
Sabe-se que a cor da madeira serrada varia de acordo com os planos de corte
transversal, longitudinal radial e longitudinal tangencial (GONÇALEZ, 1993;
CAMARGOS, 1999). Mori et al. (2004) destacaram que o padrão de cores de uma
madeira pode alterar em tonalidades, desde o bege claro até o marrom escuro, quase
preto. Existem dentro desses dois extremos de tons madeiras amarelas, roxas e
alaranjadas. Conforme Mady (2000), essa variabilidade na coloração da madeira
deve-se à composição química das substâncias presentes no xilema, em especial,
extrativos e lignina.
Ressalta-se ainda, que a cor da madeira é influenciada por diversos fatores,
tais como: anatomia, composição química, plano ortogonal da madeira, meio
ambiente, altura, diâmetro e idade da árvore, além dos fatores genéticos inerentes a
cada espécie (BURGER; RICHTER, 1991; MONTES et al. 2008; PANDEY, 2005).
Apesar da cor ser uma característica tão importante quanto às propriedades
físicas e mecânicas da madeira, nota-se uma carência de informações na literatura
sobre essa propriedade. Entretanto, a incorporação da análise colorimétrica da
madeira é de fundamental importância na caracterização tecnológica, uma vez que
estudos têm demonstrado a viabilidade da mesma na classificação qualitativa, como
por exemplo, no agrupamento de madeiras com propriedades físico-mecânicas
similares (NISHINO et al. 2000; MOYA; MARÍN 2011), bem como, diferindo amostras
29
nos resultados (FERREIRA et. al, 1999). A ambiguidade ocorre quando dois
tratamentos, tidos como diferentes entre si, não diferem de um terceiro. Os métodos
de comparação múltipla baseados em análise de agrupamento univariada, eliminam
este tipo de problema, pois têm por objetivo separar as médias de tratamentos em
grupos homogêneos, pela minimização da variação dentro dos grupos, e maximização
entre grupos e um desses procedimentos é o teste de Scott-Knott (SCOTT & KNOTT,
1974).
O teste de Scott-Knott é um método de agrupamento divisivo hierárquico, no
qual os grupos em qualquer estágio são relacionados com aqueles dos estágios
prévios. A escolha do nível de significância individual, α, apropriado deve levar em
conta o número de divisões que serão feitas. Segundo Scott & Knott (1974), de uma
maneira geral, para j grupos homogêneos em algum estágio, a probabilidade de se ter
pelo menos uma divisão significante é de, no máximo, α* = 1 – (1 – α )j.
O método de separação de médias de Scott-Knott (SCOTT & KNOTT, 1974)
possui a vantagem sobre os outros métodos, pois separa as médias em grupos
discretos, sem sobreposição entre os grupos. Além disso, com a utilização de
computadores, o método de Scott-Knott é uma alternativa viável aos pesquisadores
que na maioria das vezes preferem resultados mais diretos e mais fáceis de serem
interpretados.
33
4. MATERIAL E MÉTODOS
Visando à confecção dos corpos de prova para a realização dos ensaios físicos
e mecânicos das madeiras em estudo, de cada árvore, foram seccionadas toras, as
quais foram desdobradas em sistema de desdobro tangencial, objetivando a produção
de pranchas, bem orientadas, com medula inclusa; dimensões de 6 cm em espessura,
aproximadamente 1,50 m de comprimento e largura variando em função do diâmetro
de cada árvore (Figura 4).
35
Figura 5 – Representação esquemática dos ensaios físicos das madeiras utilizadas no estudo. A)
Pesagem dos corpos de prova em balança eletrônica; B) Determinação das dimensões dos corpos de
prova nos respectivos planos de corte; C) Secagem dos corpos de prova em estufa.
(𝑳𝒖−𝑳𝒐)
𝛽L = [ ] 𝑥 100 (1)
𝑳𝒖
37
Em que:
βL – Contração tangencial ou radial da madeira, em %;
Lu – Dimensão na condição saturada (acima do PSF), em mm;
Lo – Dimensão na condição anidra (seco em estufa), em mm.
(𝑽𝒖−𝑽𝟎 )
CVT = [ ] 𝑥 100 (2)
𝑽𝒖
Em que:
CVT – Contração volumétrica total, em %;
Vu – Volume do corpo de prova em estado úmido, em mm 3;
V0 – Volume do corpo de prova em estado completamente seco (0%), em mm³.
Com os valores obtidos para massa seca (Ms) e volume saturado da amostra
(Vv), foi possível determinar a densidade básica, utilizando a equação 3:
Ms
ρb = (3)
Vv
Em que:
ρb – Densidade básica, em g.cm-3;
Ms – Massa da madeira anidra, em g;
Vv – Volume verde ou saturado, em cm³.
Figura 6 – Representação esquemática dos ensaios mecânicos das madeiras utilizadas no estudo. A)
Máquina universal de ensaios (EMIC DL30000); B) Ensaio de flexão estática; C) Ensaio de compressão
paralela às fibras.
3.P.L
MOR = 2.b.h2 (4)
Em que:
MOR – Módulo de ruptura, em MPa;
P – Carga Máxima, antes da ruptura, em MPa;
L – Comprimento do vão entre os apoios, em mm;
h – Altura da seção transversal do corpo de prova, em mm;
b – Largura da seção transversal do corpo de prova, em mm.
P.L3
MOE = 4.d.b.h3 (5)
Em que:
MOE – Módulo de elasticidade, em MPa;
P – Carga máxima, antes da ruptura, em MPa;
L – Comprimento do vão entre os apoios, em mm;
h – Altura da seção transversal do corpo de prova, em mm;
b – Largura da seção transversal do corpo de prova, em mm;
d – Deformação correspondente à carga no limite de proporcionalidade, em mm.
fwc,0 máx
fwc,0 = (6)
A
Em que:
fwc,0 – Resistência à compressão paralela às fibras, em MPa;
fwc0,máx – Carga de ruptura do corpo de prova, em N;
A – Área de seção transversal do corpo de prova, em mm².
40
𝛿50% −𝛿10%
Ewc,0 = (7)
𝜀50% −𝜀10%
Em que:
Ewc,0 – Módulo de elasticidade na compressão paralela às fibras, em MPa;
δ – Tensão normal;
ε – Deformação específica.
Em que:
C* – Saturação da cor;
a* – Coordenada cromática sobre o eixo verde-vermelho;
b* – Coordenada cromática sobre o eixo azul-amarelo.
b∗
h∗ = tan−1 (a∗) (9)
Em que:
h* – Ângulo de tinta;
a* – Coordenada cromática sobre o eixo verde-vermelho;
b* – Coordenada cromática sobre o eixo azul-amarelo.
Propriedades da Madeira
Físicas Mecânicas Colorimétricas
βtg MOR L*
βrd MOE a* e b*
CVT Fwc,0 C*
ρb Ewc,0 h*
Em que = βtg: contração tangencial (%); βrd: contração radial (%); CVT: contração volumétrica total (%);
ρb: densidade básica (g.cm-3); MOR: módulo de ruptura (MPa); MOE: módulo de elasticidade (MPa);
fwc,0: resistência à compressão paralela às fibras (MPa); Ewc, 0: Módulo de elasticidade na compressão
paralela às fibras (MPa); L*: Luminosidade (Δ 0 – 100); a*: coordenada cromática sobre o eixo verde-
vermelho; b*: coordenada cromática sobre o eixo azul-amarelo; C*: saturação da cor; h*: ângulo de tinta.
Fonte: Autores (2018).
que são, por sua vez, correlacionadas (CHATFIELD; COLLINS, 1995; FERREIRA,
2008).
Por meio da dispersão dos escores das componentes principais consideradas
foi possível avaliar a similaridade ou dissimilaridade das espécies e assim agrupá-las
em subgrupos definidos, ou seja, as mais semelhantes pertencem ao mesmo grupo e
as espécies que são heterogêneas entre si, pertencem a grupos distintos.
Para a apresentação dos resultados, optou-se pelo ordenamento dos escores
e das variáveis (características da madeira) no mesmo gráfico da ACP, ou seja,
adotou-se a utilização de vetores identificando os principais fatores responsáveis
pelos agrupamentos das amostras.
As análises estatísticas univariadas e multivariadas foram realizadas utilizando-
se o software R, versão 3.3.1 (R CORE TEAM, 2017). Para as comparações múltiplas
de médias (teste Scott-Knott) utilizou-se o pacote ScottKnott (JELIOVSCHI et al. 2014)
e para a análise de componentes principais utilizou-se o pacote básico do R
SensoMineR (HUSSON et al. 2012). As correlações entre as propriedades físicas,
mecânicas e colorimétricas da madeira foram determinadas pelo método de
correlação de Pearson a 5 % de significância.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
amara) e a mais densa o jatobá (Hymenaea courbaril). Silva Filho et al. (1992) afirmam
a existência de grandes diferenças na densidade básica de espécies nativas,
corroborando com os resultados encontrados.
leicontei) que somam 40% das espécies, pertencem ao grupo das madeiras com
retratibilidade volumétrica média. Foram classificadas como madeiras de
retratibilidade volumétrica forte, as espécies amarelão (Apuleia leiocarpa), goiabão
(Pouteria pachycarpa) e sucupira (Bowdichia nitida). De acordo com Gonçalez et al.
(2001), as espécies que possuem retratibilidade volumétrica média devem ser
serradas após a umidade das mesmas entrarem em equilíbrio com o ambiente.
Enquanto as que possuem retratibilidade forte merecem maiores cuidados, devendo
ser preferencialmente secas individualmente.
Considerando-se o coeficiente de anisotropia, pode-se classificar a madeira
pela estabilidade dimensional ou instabilidade, conforme a classificada proposta por
Durlo & Marchiori (1992) (Figura 8). Desse modo, as espécies itaúba (Mezilaurus
Itauba) e jatobá (Hymenaea courbaril), foram classificadas como ruins, podendo
restringir seus usos, em especial para madeira serrada.
As espécies amarelão (Apuleia leiocarpa), angelim-pedra (Hymenolobium
modestum), angico (Anadenanthera columbrina), goiabão (Pouteria pachycarpa) e
marupá (Simarouba amara) foram classificadas como madeiras normais, indicando
que, de maneira geral, são dimensionalmente estáveis e menos propensa a defeitos,
o que pode significar uma facilidade para executar as operações de usinagem e ser
indicada para usos de marcenaria e movelaria (DURLO & MARCHIORI, 1992). As
espécies cumaru (Dipteryx odorata), muiracatiara (Astronium leicontei) e sucupira
(Bowdichia nitida) foram classificadas como excelentes. De acordo com Oliveira &
Silva (2003), quanto mais próximo de um estiver esse valor, melhor será a estabilidade
dimensional da madeira.
Na fabricação de pisos, esquadrias, portas e móveis em geral, podem ocorrer
sérios prejuízos se a matéria prima não apresentar um fator anisotrópico favorável,
chegando até mesmo a inviabilizar o produto final. Este fator está diretamente ligado
à correta secagem da madeira até a sua umidade de equilíbrio. Porém, o coeficiente
anisotrópico analisado de forma isolada não caracteriza a madeira do ponto de vista
da estabilidade dimensional. Nesse sentido, madeiras com contrações tangenciais e
radiais baixas, porém com coeficiente anisotrópico elevado (2,24 e 2,33), como
observados para as madeiras de itaúba (Mezilaurus Itauba) e jatobá (Hymenaea
courbaril), respectivamente (Tabela 4), podem sugerir boa estabilidade dimensional,
com empenamentos menos acentuados com a variação da umidade de equilíbrio das
peças.
49
Figura 9 – Coeficiente de correlação de Pearson entre as médias das propriedades físicas (densidade
básica, contrações lineares e contração volumétrica total) da madeira das espécies avaliadas.
Em que = ρb: densidade básica (g.cm-3); βrd: contração radial (%); βtg: contração tangencial (%); CVT:
contração volumétrica total (%); * = correlação de Pearson significativa a 5% de probabilidade. Fonte:
Autores (2018).
50
Ribeiro (2017) observou que não existe uma tendência geral de correlação da
densidade básica com as retratibilidades para as espécies que estudou, assim, deve
sempre ser considerado espécie a espécie para poder entender o comportamento das
madeiras com relação a estas propriedades.
Esse mesmo autor encontrou correlações significativas entre as retratibilidades
volumétrica e radial e volumétrica e tangencial para as espécies estudadas. De acordo
com Oliveira & Silva (2003) a magnitude das variações dimensionais depende de
inúmeros fatores, como a umidade, a direção estrutural (radial, tangencial ou
longitudinal), a posição dentro da árvore, a densidade da madeira, a temperatura e o
grau de estresse de secagem causado pelo gradiente de umidade.
Tabela 7 – Dados da literatura referente aos valores médios de propriedades mecânicas e densidade
básica da madeira das 10 espécies florestais.
módulo de ruptura obtido no ensaio de flexão estática (MPa); MOE: módulo de elasticidade obtido no
ensaio de flexão estática (MPa). Obs: valores obtidos a 12% de umidade. ¹ARAÚJO (2007) e ²IPT
(2013). Fonte: Autores (2018).
literatura é importante mencionar que a idade das espécies estudadas pode ter
influência nos valores de densidade básica.
As correlações entre as propriedades mecânicas e a densidade básica da
madeira podem ser observadas na Figura 10. Observam-se resultados bastante
satisfatórios, sendo verificadas, para a maioria dos casos, correlações significativas
elevadas. As propriedades mecânicas apresentaram melhores correlações com a
densidade básica, quando comparado com as propriedades físicas, e desta forma,
influenciam nos usos da madeira. Este resultado corrobora com preconizado por Melo
et al. (2010), que afirmam ser possível admitir que a densidade básica é o melhor
indicativo para definição dos usos, tendo em vista a sua íntima relação com as
propriedades físicas e mecânicas da madeira.
Em que = ρb: densidade básica (g.cm -3); MOR: módulo de ruptura (MPa); MOE: módulo de elasticidade
(MPa); fwc,0: resistência à compressão paralela às fibras (MPa); Ewc,0: Módulo de elasticidade na
compressão paralela às fibras (MPa); * = correlação de Pearson significativa a 5% de probabilidade.
Fonte: Autores (2018).
Este resultado condiz com as sugestões feitas pela NBR 7190 (ABNT, 1997), a
qual estabelece que para madeiras conhecidas e usualmente utilizadas para fins
estruturais, à estimativa das demais propriedades mecânicas a partir de sua
resistência e rigidez na compressão paralela é um método que pode apresentar
resultados satisfatórios. Segundo Araújo (2007), quando se trata da relação da
densidade básica com as propriedades de resistência e rigidez da madeira, essa
relação se mantém de forma mais nítida.
Tais resultados são compatíveis com as afirmações de Evans et al. (2000) e
Dias e Lahr (2004), que afirmaram que as propriedades mecânicas são linearmente
relacionadas com a densidade básica. Haselein et al. (2002) complementaram
afirmando que existe uma estreita relação entre a densidade básica e as propriedades
mecânicas, sendo que, qualquer fator que acarrete alteração na primeira irá produzir
efeitos nas últimas.
Tabela 8 – Valores médios obtidos para as variáveis de cor no sistema CIEL*a*b* para as faces radial
(Rd) e tangencial (Tg) das espécies em estudo.
ESPÉCIE Face L* a* b* C* h*
Radial 68,18cA 3,05dB 31,63aA 31,78aA 84,47aA
Apuleia leiocarpa
Tang. 66,16bA 4,11aA 31,44aA 31,71aA 82,54aB
(Amarelão)
Média 67,17c 3,58b 31,54a 31,74a 83,51a
Radial 67,87cA 6,24cA 29,00bB 29,67aA 77,86bA
Hymenolobium modestum
Tang. 68,14bA 17,15aA 30,29aA 37,18aA 65,09bA
(Angelim-pedra)
Média 68,00c 11,69a 29,64a 33,43a 71,47b
Radial 73,77bA 3,60dA 32,00aA 32,20aA 83,57aA
Anadenanthera columbrina
Tang. 70,12bA 5,06aA 30,36aB 30,79aB 80,55aB
(Angico)
Média 71,94b 4,33b 31,18a 31,49a 82,06a
Dipteryx odorata Radial 56,08eA 6,83cB 24,34cA 25,28bA 74,33cA
56
Figura 12 – Classificação da cor de acordo com Tabela de Cores de Madeira proposta por Camargos
e Gonçalez (2001).
Figura 13 – Valores médios do parâmetro colorimétrico luminosidade (L*) das espécies estudadas,
considerando as faces radial (Rd) e tangencial (Tg).
pigmentação vermelha (a*) ou amarela (b*), fazendo que não ocorra interferência na
luminosidade (L*) da madeira.
As duas espécies que apresentaram diferenças estatísticas significativas de
luminosidade (L*) entre as suas faces foram o goiabão (Pouteria pachycarpa) e
sucupira (Bowdichia nitida). Para essas espécies, considerando os planos anatômicos
de corte (radial ou tangencial) haverá diferença de coloração de suas madeiras. Esta
análise tem grande importância sob dois aspectos práticos de utilização da madeira,
considerando a sua qualidade, o primeiro seria no desdobro destas espécies optando
por escolher uma face mais clara ou mais escura, de acordo com a conveniência do
mercado. A segunda seria sob o ponto de vista de obter lotes homogêneos da madeira
quanto a sua cor, implicando na fabricação de produtos uniformes. Observa-se ainda,
que tais informações podem subsidiar uma pré-classificação da madeira, para a
combinação de cores em tons variados, considerando a preferência do mercado,
cabendo ainda à formação de um banco de dados de cores.
Os parâmetros colorimétricos que apresentam diferença estatística
significativa, segundo o teste Scott-Knott a 5% de probabilidade foram: a* e h* para a
espécie amarelão (Apuleia leiocarpa); b* para angelim-pedra (Hymenolobium
modestum); b*, C* e h* para angico (Anadenanthera columbrina); a*, e h* para cumaru
(Dipteryx odorata); L* para goiabão (Pouteria pachycarpa) e sucupira (Bowdichia
nitida). Corroborando com os resultados, Silva et al. (2015) analisaram a cor da
madeira de oito espécies nativas do estado Rio Grande do Sul, sendo que para quatro
espécies houve diferença estatística significativa entre as faces radial e tangencial nos
parâmetros colorimétricos: araucária (Araucaria angustifólia) para os parâmetros L*,
a*, b* e C*, caúna (Ilex pseudobuxus) para o parâmetro L*, açoita cavalo (Luehea
divaricata) para os parâmetros L*, a*, b* e C* e cabreúva (Myrocarpus frondosus) para
os parâmetros b* e C*.
Na Figura 14 apresentam-se os valores das correlações dos parâmetros
colorimétricos (L*, a*, b*, C* e h*) com a densidade básica das espécies estudadas.
Nota-se que o parâmetro b* obteve coeficiente de correlação significativo (r = 0,96),
com a saturação da cor (C*), o que indica que à medida que b* aumenta, C* também
aumenta, sendo grandezas diretamente proporcionais. Além disso, não foi observada
correlação significativa entre a densidade básica e o parâmetro b* para nenhuma das
espécies avaliadas. Tal resultado pode ser atribuído as menores variações entre os
valores médios do parâmetro b* para as espécies estudadas. O parâmetro
63
colorimétrico que obteve melhor correlação com a densidade básica foi o ângulo de
tinta (h*), que aliado à coordenada cromática (b*) confirma a maior proximidade do
eixo amarelo, evidenciando a importância do pigmento amarelo (b*) na madeira.
Em que = L*: luminosidade (Δ 0 – 100); a*: coordenada cromática sobre o eixo verde-vermelho; b*:
coordenada cromática sobre o eixo azul-amarelo; C*: saturação da cor; h*: ângulo de tinta; * =
correlação de Pearson significativa a 5% de probabilidade. Fonte: Autores (2018).
ESPÉCIE Face L* x ρb a* x ρb b* x ρb
Apuleia leiocarpa Radial -0,34 -0,70* -0,27
(Amarelão) Tang. -0,05 0,91* 0,50
Hymenolobium modestum Radial 0,35 -0,44 0,33
(Angelim-pedra) Tang. 0,33 -0,36 -0,95*
Anadenanthera columbrina Radial 0,31 -0,87* 0,84*
(Angico) Tang. -0,82* 0,09 -0,92*
Dipteryx odorata Radial 0,04 -0,71* -1,00*
(Cumaru) Tang. 0,96* -0,99* -0,90*
Pouteria pachycarpa Radial 0,89* 0,61* 0,62*
(Goiabão) Tang. 1,00* 0,34 0,15
Mezilaurus itauba Radial -0,58* 0,95* -0,54*
(Itaúba) Tang. 0,25 -0,03 0,42
Hymenaea courbaril Radial 0,66* 0,64* 0,88*
(Jatobá) Tang. 0,99* 0,94* 0,96*
Simarouba amara Radial 0,90* -0,97* -0,87*
(Marupá) Tang. -0,46 -0,84* -0,98*
Astronium leicontei Radial -0,37 -0,67* 0,13
(Muiracatiara) Tang. -0,77* -0,54* -0,43
Bodichia nítida Radial -0,98* 0,37 -0,20
(Sucupira) Tang. -0,33 0,92* 0,69*
Em que = ρb: densidade básica (g.cmc-3); *: significativo a 5% de probabilidade. Fonte: Autores (2018).
Tabela 11 – Contribuição das variáveis das propriedades da madeira das 10 espécies florestais.
Em que = ρb: densidade básica (g.cmc-3); βrd: contração radial (%); βtg: contração tangencial (%); CVT:
contração volumétrica total (%); MOR: módulo de ruptura (MPa); MOE: módulo de elasticidade (MPa);
fwc,0: resistência à compressão paralela às fibras (MPa); Ewc, 0: Módulo de elasticidade na compressão
paralela às fibras (MPa); L*: luminosidade (Δ 0 – 100); a*: coordenada cromática sobre o eixo verde-
vermelho; b*: coordenada cromática sobre o eixo azul-amarelo; C*: saturação da cor; h*: ângulo de
tinta. Fonte: Autores (2018).
De acordo com Muñoz et al. (1992), em uma figura que represente a ACP, os
vetores com medidas mais distantes de zero correspondem às variações com maior
influência sobre o valor do componente principal, enquanto os vetores mais próximos
de zero correspondem a uma variável com pequena influência.
Portanto, é possível verificar que a maioria dos atributos gerados pelas
variáveis físico-mecânicas e colorimétricas das madeiras analisadas corresponde às
variações com grande influência no agrupamento e/ou na separação das espécies
florestais.
Madeiras com menores valores de densidade básica possuem menor
resistência mecânica em comparação com as madeiras de alta densidade,
evidenciando forte correlação entre essas propriedades, e desta forma, influenciam
nas propriedades e usos da madeira. Garcia et al. (2014) observaram que a
69
Figura 16 – Análise dos escores das componentes principais com a indicação dos grupos de espécies
constituídos pelas características físicas, mecânicas e colorimétricas das madeiras.
6. CONCLUSÃO
Na maioria dos casos, os principais usos finais das espécies enquadradas em cada
grupo mostraram-se bastante similares, especialmente nos usos em que o fator
resistência mecânica é mais relevante. As diferenças dentro de cada grupo foram
verificadas em usos finais que não dependem somente da resistência mecânica
(móveis, artigos decorativos e instrumentos musicais).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AYRES, M. et al. Bio Estat 2.0: aplicações estatísticas nas áreas de ciências biológicas
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Tabela 12 – Coeficientes de correlação de Pearson entre as médias das propriedades físicas, mecânicas e colorimétricas das espécies estudadas.
Tabela 13 – Tabela de cores para madeiras brasileiras proposta por Camargos & Gonçalez (2001).