Direitos Reais
Direitos Reais
Direitos Reais
UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
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Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
SI586d
ISBN 978-85-53158-35-5
CDD 346.8104
Fernando Henrique Becker Silva
APRESENTAÇÃO...........................................................................07
CAPÍTULO 1
Introdução aos Direitos Reais...................................................09
CAPÍTULO 2
Posse..............................................................................................35
CAPÍTULO 3
Propriedade..................................................................................69
CAPÍTULO 4
Direitos de Vizinhança............................................................... 111
CAPÍTULO 5
Condomínio..................................................................................137
CAPÍTULO 6
Direitos Reais Sobre Coisas Alheias.......................................163
APRESENTAÇÃO
O presente livro trata dos Direitos Reais, também conhecido por Direito das
Coisas, que é o ramo do Direito Privado que compõe um conjunto de normas
que tem por objetivo regular os direitos (poder) atribuídos às pessoas sobre bens
corpóreos, móveis ou imóveis, e de conteúdo econômico.
Bons estudos!
C APÍTULO 1
Introdução aos Direitos Reais
� Conhecer a classificação dos direitos reais (sobre bens próprios e sobre coisas
alheias).
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
Contextualização
Dentro da estrutura do Código Civil de 2002, cujo Projeto de Lei era
(pasmem!) de 1975, o Direito das Coisas é um dos cinco livros que compõem
sua Parte Especial, juntamente com o do Direito das Obrigações, Direito da
Empresa, Direito de Família e um denominado “Livro Complementar”, que reúne
as disposições finais e transitórias da Lei nº 10.405/2002.
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DIREITOS REAIS
Tratando por “Direito das Coisas”, o autor do primeiro Código Civil brasileiro,
Clóvis Beviláqua, o conceitua como: “O complexo de normas reguladoras das
relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem.
Tais coisas são, ordinariamente, do mundo físico, porque sobre elas é que é
possível exercer o poder de domínio” (BEVILÁQUA, 1961, p. 11).
Para Silvio Rodrigues, Direito das Coisas “[...] é o conjunto das normas que
regulam as relações jurídicas entre os homens, em face das coisas corpóreas,
capazes de satisfazer às suas necessidades e suscetíveis de apropriação”
(RODRIGUES, 2009, p. 3).
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
Já para Arnaldo Rizzardo, Direito das Coisas: “[...] é o ramo do saber O ramo do Direito
humano e das normatizações que trata da regulamentação do poder Privado que compõe
um conjunto
do homem sobre os bens e das formas de disciplinar a sua utilização
de normas que
econômica” (RIZZARDO, 2011, p. 1). tem por objetivo
regular os direitos
Partindo dos pontos em comum dos conceitos acima transcritos (poder) atribuídos
– “norma”, “poder”, “homem” e “coisa” – podemos, então, propor a pessoas sobre
o conceito de Direitos Reais, ou Direito das Coisas, como o ramo bens corpóreos,
móveis ou imóveis,
do Direito Privado que compõe um conjunto de normas que tem por
e de conteúdo
objetivo regular os direitos (poder) atribuídos a pessoas sobre bens econômico.
corpóreos, móveis ou imóveis, e de conteúdo econômico.
Atividade de Estudos:
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DIREITOS REAIS
Maria Helena Diniz (2009, p. 20), por sua vez, apresenta sua relação, que
denomina “caracteres jurídicos” do Direito Real:
Taxatividade
Pela característica da taxatividade, os direitos reais são numerus clausus,
um rol taxativo (e não exemplificativo), não se admitindo a criação, por convenção
entre as partes, de um novo direito real, devendo-se escolher apenas um daqueles
tipos reais previstos no Código Civil.
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
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DIREITOS REAIS
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese;
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia;
XII - a concessão de direito real de uso; e
XIII - a laje.
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
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DIREITOS REAIS
Tipicidade
Diferentemente dos direitos obrigacionais, em que são livremente permitidos
a criação, o surgimento, a formação e formatação de contratos não previstos
dentre aqueles sugeridos no LIVRO I, TÍTULO VI (“Dos contratos em espécie”),
do Código Civil, uma das caraterísticas dos Direitos Reais é a tipicidade, que
significa dizer que somente a lei poderá criar direitos reais. Como resume Arnoldo
Wald (1962, p. 23-24):
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
Atividade de Estudos:
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DIREITOS REAIS
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
Publicidade
A lei estabelece
E por falar em publicidade, como visto acima, a lei estabelece que os direitos
que os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por reais sobre imóveis
constituídos, ou
atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro
transmitidos por
de Imóveis dos referidos títulos. Segundo Caio Mário da Silva Pereira atos entre vivos,
(2002, p. 380), o: só se adquirem
com o registro no
[...] chamado formalismo de publicidade não Cartório de Registro
alcança a celebração do ato, porém, diz respeito de Imóveis dos
à técnica de sua publicação. Consequentemente, referidos títulos.
a preterição dela não pode atingir a validade do
negócio jurídico, mas afeta a sua oponibilidade a
quem dele não tenha participado.
Isso quer dizer que enquanto não publicizado, o direito real não gera efeito
perante terceiros. Porém, acresça-se, conforme sua natureza jurídica, sequer
pode ser considerado perfectibilizado o ato. Como didaticamente explicam
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2013, p. 364):
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DIREITOS REAIS
Sequela
Consequência direta da oponibilidade erga omnes, a característica
A característica da da sequela significa o poder que tem o titular do direito real de buscar,
sequela significa
reaver, reivindicar a coisa de quem quer que injustamente a possua ou
o poder que tem o
titular do direito real detenha (Art. 1.228, CC/2002. O proprietário tem a faculdade de usar,
de buscar, reaver, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer
reivindicar a coisa que injustamente a possua ou detenha.). Na lição de Silvio Venosa
de quem quer que (2006, p. 6):
injustamente a
possua ou detenha O direito de sequela é corolário do caráter absoluto do direito
real, seu titular pode perseguir, ir buscar o objeto de seu direito
com quem quer esteja. [...] Consequência do direito de sequela
é o fato de o direito real ser necessariamente individualizado.
O objeto do direito real deve ser individualizado no seu
nascedouro, pois doutro modo não há como exercer o direito
de sequela. Nos direitos obrigacionais, a prestação pode ter
por objeto coisas apenas determináveis pelo gênero, qualidade
e quantidade, coisas fungíveis.
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
Aderência
Outra importante característica dos direitos reais é a chamada aderência
(inerência ou ambulatoriedade), que significa dizer que o ônus real que recai
sobre determinado bem o acompanhará, incidindo sobre ele ainda que ocorra
a transmissão de sua propriedade e independentemente de quem tenha a sua
posse de fato. Notadamente os direitos reais de garantia sobre coisas alheias
(penhor, anticrese e hipoteca), uma vez vinculada à coisa, as acompanhará
independentemente de quem tem sua posse de fato. Daí porque se diz de uma
obrigação ambulatória.
Preferência
Caraterística inerente aos direitos reais sobre coisas alheias de garantia
(como nos casos de penhor, hipoteca e anticrese), a preferência significa a
primazia que detém o credor ou titular de direito real de garantia sobre os demais
credores (inclusive os de natureza trabalhista).
O fato de recair sobre determinado bem imóvel uma hipoteca não o impede,
por exemplo, de ser penhorado em execução trabalhista; neste caso, o credor
hipotecário (preferencial) poderá escolher entre o direito de preferência sobre
o saldo credor apurado em leilão, o direito de sub-rogação da hipoteca sobre o
preço ou o direito à manutenção da hipoteca perante o adquirente. Contudo, vale
a ressalva, o crédito trabalhista somente precede o crédito com direito real de
garantia nas hipóteses de insolvência civil ou falência do devedor.
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DIREITOS REAIS
Elasticidade
Abordemos, ainda, a característica da elasticidade (ou desmembramento),
que é a possibilidade de o titular do direito real de propriedade de desmembrar
as faculdades que lhe competem (uso, gozo, fruição e disposição) e atribuir
algumas delas a terceiros, mantendo para si a propriedade.
Agora que vimos algumas das principais características dos direitos reais,
partamos para o estudo de sua classificação.
No Direito Pessoal existe uma relação entre duas ou mais pessoas, que
têm entre si uma obrigação que as vincula (mesmo que esta obrigação esteja
relacionada a determinado bem, como ocorre nas obrigações de dar, ainda assim
será uma relação de direito pessoal). Trata-se de uma relação inter partes, ou seja,
uma obrigação que só existe entre os sujeitos ativo e passivo, pessoas certas e
determinadas, recaindo sobre o devedor não simplesmente o dever de respeitar
o direito de crédito, mas especialmente a obrigação a uma prestação. O objeto
dos direitos pessoais, portanto, será sempre o comportamento do devedor,
sendo o único interesse do credor que o devedor satisfaça a prestação, objeto
da relação obrigacional.
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
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DIREITOS REAIS
Como se pode ver, é condição para este contrato ter força de direito real, ou
seja, ser oponível erga omnes, sua averbação à margem do registro imobiliário,
sob pena de ser um mero direito pessoal subjacente.
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
Vale destaque o fato de que, nos termos do art. 25, da Lei no 6.766/1979:
“São irretratáveis os compromissos de compra e venda, cessões e promessas de
cessão, os que atribuam direito a adjudicação compulsória e, estando registrados,
confiram direito real oponível a terceiros” (vide Súmula 166, STF).
Atividade de Estudos:
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DIREITOS REAIS
Isso quer dizer que a pessoa, ao adquirir determinado bem, acaba assumindo
as obrigações anteriores à sua aquisição, mas que recaíam sobre o bem,
permanecendo a ele vinculadas por se tratarem de obrigações propter rem.
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
Por outro lado, as obrigações de pagar por serviço de natureza essencial, tais
como água, esgoto e energia elétrica, não têm caráter propter rem, mas pessoal,
de modo que elas são responsabilidade do usuário – e não do proprietário do
imóvel – que efetivamente utiliza do serviço. (AgRg no AREsp 45.073/MG, Rel.
Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 2/2/
2017, DJe 15/2/2017.)
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DIREITOS REAIS
Algumas Considerações
A importância de se saber a natureza de uma obrigação – se pessoal ou se
real (in casu, propter rem) – é saber definir de quem é a responsabilidade pela sua
satisfação, se a obrigação é da pessoa ou recai sobre a coisa (e, por conseguinte,
é de quem adquire a coisa).
• Que tipicidade significa dizer que somente a lei poderá criar direitos reais;
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Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
• Que sequela significa o poder que tem o titular do direito real de buscar,
reaver, reivindicar a coisa de quem quer que injustamente a possua ou
detenha;
• Que aderência significa dizer que o ônus real que recai sobre determinado
bem o acompanhará, incidindo sobre ele ainda que ocorra a transmissão de
sua propriedade e independentemente de quem tenha a sua posse de fato;
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DIREITOS REAIS
Referências
ALVIM, Arruda. Confronto entre Situação de Direito Real e de Direito
Obrigacional. Prevalência da Primeira, Prévia e Legitimamente Constituída
– Salvo Lei Expressa em Contrário. Parecer publicado na Revista de Direito
Privado. V. 1, janeiro/março de 2000. São Paulo: RT, 2000, págs. 103/106.
BEVILAQUA, Clovis. Direito das coisas. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1961.
32
Capítulo 1 Introdução aos Direitos Reais
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. V. I, 19. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2002.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 24. v. São Paulo:
Saraiva, 2009.
NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de processo civil
comentado e legislação extravagante. 7. ed. São Paulo: RT, 2003.
RIZZARDO, Arnaldo. Direito das coisas. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense,
2011.
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito das coisas. 28. ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria
geral dos contratos. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
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DIREITOS REAIS
WALD, Arnold. Direito civil brasileiro: Direito das Coisas. V. 3. Rio de Janeiro:
Lux, 1962.
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C APÍTULO 2
Posse
� Entender o que são composse pro indiviso e pro diviso e suas repercussões.
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Capítulo 2 Posse
Contextualização
Deixado de fora do rol numerus clausus dos direitos reais, porém dentro
do Livro Direito das Coisas, a posse é um dos institutos de Direito Civil mais
controvertidos doutrinariamente, no Brasil e no exterior, e isso há vários séculos,
desde as teorias modernas que a fundam (a de Savigny e a de Ihering) até sobre
a sua natureza jurídica (se fato, se direito, um exercício ou a mistura de todos),
cuja discussão perdura até os dias atuais.
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DIREITOS REAIS
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Capítulo 2 Posse
Aliás, apesar de o Código Civil não adotar a teoria de Savigny, não ignorou o
elemento animus. Tanto que o artigo 1.198 traz a figura do detentor, que é aquele
que detém o corpus, fazendo-o, contudo, “em nome [do verdadeiro possuidor] e
em cumprimento de ordens ou instruções suas” (BRASIL, 2002), ou seja, que não
detém o animus.
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DIREITOS REAIS
Silvio Rodrigues, por sua vez, define posse como: “[...] a) condição de fato da
utilização econômica da propriedade; b) o direito de possuir faz parte do conteúdo
do direito de propriedade; c) a posse é um meio de defesa da propriedade; d) a
posse é uma rota que leva à propriedade” (RODRIGUES, 2009, p. 20).
Ainda sobre o elemento animus, e por falar da usucapião, Nelson Luiz Pinto
(1987, p. 101) identifica-o como:
Por sinal, tem-se dado o nome de “posse qualificada” à soma do corpus com
o animus domini para fins de aferição dos requisitos da usucapião.
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Capítulo 2 Posse
Natureza da Posse
Questão de grande controvérsia teórica é a natureza jurídica da posse: se se
trata de um fato ou de um direito, e, sendo um direito, se direito real ou pessoal.
Há, ainda, uma terceira corrente, que a concebe como sendo, concomitantemente,
um fato e um direito.
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DIREITOS REAIS
O direito de moradia, por sua vez, foi inserido dentre os direitos fundamentais
sociais na Constituição Federal de 1988 dentro do capítulo II, incluído no caput do
artigo 6º pela EC nº 26/2002:
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Capítulo 2 Posse
A questão é que não se pode ignorar que o espectro social brasileiro não
permite ser a propriedade vista apenas sob o ponto de vista econômico, alheio
aos anseios e necessidades de todo um contingente de hipossuficientes que, por
diversas razões, vivem à margem da formalidade que caracteriza a propriedade.
Seria hipocrisia (e até mesmo imoral) ignorar, por exemplo, a situação jurídica dos
imóveis localizados em favelas ou em loteamentos clandestinos, deixando seus
moradores desassistidos juridicamente.
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DIREITOS REAIS
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Capítulo 2 Posse
Neste caso, como se viu, a função social da posse não pode servir de
justificativa para relevar o descumprimento contratual por parte do comprador
inadimplente, vez que o sucesso ou o fracasso de programas de habitação ou
de moradia popular depende da segurança jurídica, observância das cláusulas
contratuais e do equilíbrio econômico-financeiro de todos os participantes.
Objeto da Posse
Conforme já visto, o art. 1.196, CC, estabelece que “Considera-se possuidor
todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes
inerentes à propriedade” (BRASIL, 2002).
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DIREITOS REAIS
Para Maria Helena Diniz (2009, p. 44), por exemplo, todas as coisas
passíveis de propriedade, mesmo as incorpóreas, podem ser objeto de posse,
“pois na nossa legislação civil não está a posse limitada aos bens corpóreos”.
Ainda segundo a autora, são objeto da posse:
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Capítulo 2 Posse
Vale um breve parêntese para ver a distinção entre bem e coisa lançada no
corpo deste julgado, ao parafrasearem Orlando Gomes:
Desdobramento da Posse
Em regra, o proprietário do bem detém a posse, reunindo em si as duas
modalidades de posse – a direta e a indireta –, admitindo a lei que ele transfira
parte dela a outrem mediante um fenômeno chamado desdobramento da posse.
O possuidor direto será quem tem o poder físico, corpóreo, imediato sobre a coisa.
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DIREITOS REAIS
Composse
O Código Civil admite, ainda, o fenômeno da composse, que é quando há
exercício atinente aos atos possessórios por dois ou mais possuidores, sem
prejuízo dos demais compossuidores. No Código Civil de 2002, a composse é
regida pelo artigo 1.199:
Detenção
Nos termos do art. 1.198, do Código Civil,
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DIREITOS REAIS
Classificação da Posse
Dentre as várias propostas de classificação da posse apresentadas pelos
doutrinadores, optamos, pela reconhecida didática, por aquela proposta por Maria
Helena Diniz (2011, p. 63): (a) quanto à extensão da garantia possessória (direta
ou indireta); (b) quanto à simultaneidade do exercício da posse (pro diviso ou pro
indiviso); (c) quanto aos vícios objetivos (posse justa ou injusta; e, neste último
caso, violenta, clandestina ou precária); (d) quanto à subjetividade (de boa-fé ou
de má-fé); (e) quanto aos seus efeitos ad interdicta ou ad usucapionem; (f) quanto
à sua idade (velha ou nova); e (g) quanto à atividade laborativa (produtiva ou
improdutiva).
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Capítulo 2 Posse
Como bem destaca Silvio Salvo Venosa, "a justiça ou a injustiça [da posse]
é conceito de exame objetivo. Não se confunde com a posse de boa-fé ou de
má-fé, que exigem exame subjetivo" (VENOSA, 2003, p. 70).
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DIREITOS REAIS
Isso significa dizer que, na prática, a posse injusta não gera direito,
ordinariamente, à usucapião; que o possuidor injusto não pode se valer de
ação possessória para defender atentados à posse injusta e que réu em ação
reivindicatória (que tenha por causa de pedir o domínio do imóvel do autor) não
pode arguir a posse injusta como matéria de defesa.
Será, pois, violenta a posse obtida mediante força física ou grave ameaça.
Sobre clandestinidade, Caio Mário da Silva Pereira (2010, p. 22) explica que:
A expressão “clam”, mencionada por Caio Mário, é a raiz latina que significa
“em segredo”, “de forma oculta”. Portanto, clandestina será a posse obtida às
escondidas, de forma oculta, sem que ninguém tenha conhecimento.
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Capítulo 2 Posse
d) Quanto à subjetividade
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DIREITOS REAIS
Por outro lado, como explica Sílvio de Salvo Venosa, a boa-fé cessa "no
momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora
que possui indevidamente" VENOSA, 2003, p. 74-75).
Atividade de Estudos:
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Capítulo 2 Posse
A resposta, como visto, será daquele que, aos olhos do julgador apresentar
“melhor título”.
Quanto ao aspecto temporal da posse, ela pode ser posse nova ou posse
velha, conforme tenha seu início ocorrido há menos de ano e dia ou há mais de
um ano e um dia, respectivamente.
É importante a ressalva feita por Carlos Roberto Gonçalves para que não se
confunda “posse nova” com “força nova” ou “posse velha” com “força velha”, ou
seja, há quanto tempo existe o atentado à posse, vez que se saber se se trata
de força nova ou velha tem relevância prática quando do ajuizamento da ação
possessória – se nova, correrá pelo rito especial; se velha, pelo rito comum:
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DIREITOS REAIS
Como se vê, a posse ad interdicta é a posse que pode ser defendida através
dos interditos possessórios (ação de reintegração de posse, manutenção de
posse e interditos proibitórios), ações previstas nos artigos 554/568, do Código
de Processo Civil, sob o fundamento de direito material previsto no artigo no
1.210, do Código Civil: “Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse
em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente,
se tiver justo receio de ser molestado” (BRASIL, 2002).
Digno de nota que, diferente da posição defendida por Ribeiro (“A proteção
interdital abarca muitas vezes a posse injusta...”), há julgados no sentido de que
a posse violenta, clandestina ou precária, por se revelar de má-fé e injusta, não
autoriza a tutela ad interdicta (BRASIL, 2004).
Aquisição da Posse
De início, oportuno destacar que, diferentemente da propriedade de bem
imóvel, a rigor lei não exige título formal translativo da posse, de modo que a sua
aquisição, quanto à forma, é livre, exigindo-se, apenas, que ela não seja viciada
por violência, clandestinidade ou precariedade. (BRASIL, 2000).
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Capítulo 2 Posse
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DIREITOS REAIS
Será simbólica quando não é real, ou seja, quando a coisa não passa
material e imediatamente das mãos de alguém para de outrem, mas se dá
mediante um ato, um gesto ou um documento. A entrega das chaves de um
apartamento, por exemplo.
Caio Mário da Silva Pereira (2010, p. 39) bem explica essas três espécies
de tradição:
Importante consignar que, nos termos dos artigos 1.226, CC (“Art. 1.226.
Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos
por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição” [BRASIL, 2002]) e 1267
(“Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios
jurídicos antes da tradição.” [BRASIL, 2002]) do Código Civil, a transmissão da
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Capítulo 2 Posse
[...] o ato pelo qual aquele que possuía em seu nome passa
a possuir em nome de outrem. Por exemplo, o proprietário
aliena sua casa, mas nela permanece como representante do
adquirente. Pelo constituto possessório, a posse desdobra-
se em duas faces: o possuidor antigo, que tinha posse plena
e unificada, se converte em possuidor direto, enquanto o
novo proprietário se investe na posse indireta, em virtude da
convenção.
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DIREITOS REAIS
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Capítulo 2 Posse
Digno de nota que, nos termos do artigo 1.224, do Código Civil, “Só se
considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando,
tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é
violentamente repelido” (BRASIL, 2002), a posse pode ser recuperada mediante
ação de reintegração de posse.
Atividade de Estudos:
Efeitos da Posse
Dentre os principais efeitos da posse, o primeiro a ser destacado é a garantia
do possuidor legítimo de que não seja incomodado, que a sua posse seja
respeitada, nos termos do art. 1.210, caput: “Art. 1.210. O possuidor tem direito a
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DIREITOS REAIS
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Capítulo 2 Posse
Um outro efeito da posse está previsto nos artigos 1.219 a 1.222, CC que
versam sobre a indenização das benfeitorias, da mesma forma distinguindo os
possuidores de boa-fé dos de má-fé:
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DIREITOS REAIS
Algumas Considerações
Após estudarmos este capítulo sobre posse, é importante que você saiba que:
• Ainda que não formalmente arrolada como tal, mas que acaba surtindo
os mesmos efeitos e se submetendo aos mesmos preceitos, prevalece
na doutrina brasileira a orientação de que a posse tem natureza jurídica
de um direito real.
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Capítulo 2 Posse
• A posse pode ser classificada como justa ou injusta, sendo justa quando
não for violenta, clandestina ou precária.
Referências
BISPO, Eluiz Antônio Ribeiro Mendes e. O fenômeno possessório à luz dos
princípios e direitos fundamentais: breves anotações sobre a função social da
posse. Publicado em 24/6/2008. Disponível em: <http://www.daniloborgesadvogados.
com.br/artigos/11_Artigo-Eluiz1.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2018.
65
DIREITOS REAIS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: direito das coisas, direito autoral.
4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das coisas. 26. ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.
MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito das coisas. 4. ed. Rio de Janeiro:
Ed. Lúmen Júris, 2010.
66
Capítulo 2 Posse
dePeso/16,MI60950,71043-A+natureza+juridica+da+posse+um+estudo+conform
e+suas+quatro+dimensoes>. Acesso em: 17 jun. 2018.
PELUZO, Cezar (Org.). Código civil comentado. 6. ed. São Paulo: Editora
Manole, 2012.
PINTO, Nélson Luiz. Ação de usucapião. 2. edição. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 1987.
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito das coisas. 28. ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
TARTUCE, Flavio. Manual de direito civil: volume único. 2. ed. São Paulo:
Método, 2012.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
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C APÍTULO 3
Propriedade
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Capítulo 3 Propriedade
Contextualização
Desde 1789, quando os “representantes do povo francês, reunidos em
Assembleia Nacional”, reconheceram e declararam, dentre os direitos do
homem e do cidadão, que a propriedade era um direito inviolável e sagrado, e
que ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública
legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização,
o Direito de Propriedade tem sido um dos institutos mais importantes do Direito
Privado no mundo ocidental – e não seria diferente no Brasil –, por ser um dos
pilares da economia de mercado.
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DIREITOS REAIS
Propriedade e Domínio
Revela-se uma boa estratégia iniciar o presente estudo a partir da distinção
entre “propriedade” e “domínio”.
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Capítulo 3 Propriedade
Essa distinção entre domínio e propriedade é o que San Tiago Dantas (1979,
p. 93) propunha de dividir a propriedade em estrutura interna e estrutura externa:
Atividade de Estudos:
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DIREITOS REAIS
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Capítulo 3 Propriedade
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Capítulo 3 Propriedade
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Capítulo 3 Propriedade
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DIREITOS REAIS
Prova disso é o artigo 1.228, do Código Civil de 2002, que consagra o princípio
da função social da propriedade como limitador aos poderes do proprietário:
Como se vê, a propriedade deverá ser usada pelo proprietário com o fim de
assegurar o bem-estar da sociedade, de modo que se pode afirmar que a sua
função social não constitui apenas simples limitação ao direito de propriedade do
titular, mas, agora, a sua própria razão de ser.
80
Capítulo 3 Propriedade
Atributos da Propriedade
Segundo dicção do art. 1.228, do Código Civil, “O proprietário tem a
faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de
quem quer que injustamente a possua ou detenha”.
81
DIREITOS REAIS
82
Capítulo 3 Propriedade
Aquisição Derivada
A aquisição derivada, como visto, caracteriza-se pela existência de uma
relação jurídica do novo proprietário com o antecessor: o comprador com o
vendedor; o doador com o donatário; o sucessor com o de cujus.
Tal fenômeno não ocorre com a aquisição originária, o que significa dizer que
eventuais ônus que recaiam sobre o imóvel adquirido (débitos tributários, hipoteca
etc.) não sujeitam o adquirente.
Aquisição Originária
Como se viu, será originária a aquisição da propriedade se não houve
qualquer espécie de relação jurídica entre o adquirente e o antigo proprietário ou,
ainda, se sequer o terreno apropriado existia.
a) Da usucapião
• Usucapião Extraordinária
• Usucapião Ordinária
84
Capítulo 3 Propriedade
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até
duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que
não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos
ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do
estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor
mais de uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
(BRASIL, 1988, s.p.).
Usucapião Ordinária
(art. 1.242, CC)
10 Justo título + boa-fé
Usucapião
Área de até 50 hectares + produtiva +
Constitucional Rural
5 não ser proprietário de outro imóvel,
(art. 191, CF/88; 1.239,
rural ou urbano
CC/2002)
Usucapião
Constitucional Urbano
Área de até 250m² + moradia + não ser
(art. 183, CF/88; 9.ª,
5 proprietário de outro imóvel, rural ou
Lei 10.257/2001; 1.240
urbano
CC/2002)
86
Capítulo 3 Propriedade
87
DIREITOS REAIS
posse. “Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos
antigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art.
1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242,
com justo título e de boa-fé”.
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Capítulo 3 Propriedade
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DIREITOS REAIS
90
Capítulo 3 Propriedade
Atividade de Estudos:
b) Acessão
• Formação de ilhas
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DIREITOS REAIS
Vê-se que o dispositivo trata apenas de ilhas fluviais (em rios), surgidas do
acúmulo paulatino de areia, de cascalho e materiais levados pela correnteza, ou
rebaixamento de águas, deixando a descoberto e a seco uma parte do fundo ou
do leito (DINIZ, 2005).
• Aluvião
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Capítulo 3 Propriedade
Nos termos do já citado art. 1.250, o terreno aluvial pertencerá aos donos
dos terrenos marginais, sem indenização. Se, contudo, se formar em frente de
prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada
de cada um sobre a antiga margem.
• Avulsão
• Álveo Abandonado
Ou seja, o leito do rio pode ser “abandonado” por várias razões, seja porque
o rio seca ou se desvia naturalmente, ou, ainda, porque muda a sua direção de
forma artificial. Trata-se, enfim, o álveo abandonado do “leito velho” do rio.
93
DIREITOS REAIS
Como destaca Sílvio de Salvo Venosa (2006, p. 186), a regra geral "[...] é
que o álveo abandonado (alveus derelictus), particular ou público, pertence aos
proprietários ribeirinhos das duas margens, na proporção das testadas até o meio
do álveo (art. 1.252; antigo, art. 544). Cuida-se de situação em que o curso de
água seca ou se desvia”.
Vale assentar que, a teor art. 27, do Código de Águas (BRASIL, 1934), na
hipótese de álveo abandonado decorrer de mudança da corrente por utilidade
pública, o álveo abandonado pertencerá à autoridade pública expropriante:
“Se a mudança da corrente se fez por utilidade pública, o prédio ocupado pelo
novo álveo deve ser indenizado, e o álveo abandonado passa a pertencer ao
expropriante para que se compense da despesa feita”. Neste sentido:
• Construções e plantações
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Capítulo 3 Propriedade
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DIREITOS REAIS
96
Capítulo 3 Propriedade
a) Da usucapião
Nos termos do artigo 1.260, do Código Civil, “Aquele que possuir coisa móvel
como sua, contínua e incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-
fé, adquirir-lhe-á a propriedade” (BRASIL, 2002, s.p.), sendo que, para independer
de justo título ou boa-fé, o prazo pode ser prolongado para cinco anos.
b) Da ocupação
Pelo art. 1.263, “Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe
adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei”. Em outras
palavras, é tornar-se proprietário de coisa móvel sem dono (res nullius), ou de
coisa abandonada (res derelicta), ou seja, cuja propriedade alguém renunciou.
Vale observar que a situação deste art. 1.263 deverá ser interpretada
juntamente com a do artigo 1.233, do Código Civil (“Quem quer que ache coisa
alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor”), que versa sobre
coisa perdida (não passível de aquisição por ocupação), que é diferente de coisa
abandonada (passível de aquisição por ocupação).
c) Do achado de tesouro
Se, no entanto, for achado pelo próprio dono do prédio, por alguém por ele
ordenado ou autorizado, pertencerá integralmente a ele.
d) Da tradição
Assim como a propriedade dos bens imóveis não se transfere pela simples
convenção, reclamando o registro do título que a incorpora no ofício imobiliário
(CC, art. 1.245), a propriedade dos bens móveis também não se transfere
pelo simples acordo de vontades, reclamando a efetiva tradição do bem móvel
negociado. A convenção, ou seja, o negócio jurídico entabulado com vistas à
transferência do bem móvel gera apenas vínculos obrigacionais entre as partes.
Somente a tradição, que consiste na efetiva entrega do bem móvel negociado,
tem vigor jurídico para transferir-lhe a propriedade.
Isso significa que, ainda que tenham as partes celebrado contrato de compra
e venda, enquanto não realizada a tradição, não poderá, por exemplo, opor o
comprador embargos de terceiro. Neste sentido:
98
Capítulo 3 Propriedade
e) Da especificação
Na lição de Washington de Barros Monteiro, citado por Maria Helena Diniz (1995,
p. 457), especificação “é o modo de adquirir a propriedade mediante transformação de
coisa móvel em espécie nova, em virtude do trabalho ou da indústria do especificador,
desde que não seja possível reduzi-la à sua forma primitiva”.
Assim, salvo alguma regra oriunda da relação jurídica existente entre o dono
da matéria-prima e o especificador (este sendo empregado daquele, ou havendo
entre ambos um contrato de produção da coisa nova, cujos regramentos são
próprios), uma vez configurado o instituto da especificação, a propriedade será do
especificador, que deverá indenizar o fornecedor da matéria-prima.
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DIREITOS REAIS
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Capítulo 3 Propriedade
Como se vê, o artigo 1.275 não traz um rol taxativo, mas meramente
exemplificativo, podendo existir outras formas de perda da propriedade além das
cinco mencionadas.
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DIREITOS REAIS
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Capítulo 3 Propriedade
103
DIREITOS REAIS
Assim, acaso terceiro tenha adquirido a coisa por título anterior à resolução,
o proprietário original terá ação apenas contra aquele cuja propriedade se
resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor.
Propriedade Aparente
É sabido, pelo menos por aqueles que têm formação jurídica, que deterá a
propriedade de direito de um imóvel aquele que tiver um documento aceito como
um título de propriedade imobiliária, como (i) escritura pública de compra e venda,
promessa de compra e venda, cessão de direitos, doação ou de permuta, (ii)
carta de adjudicação do imóvel; (iii) carta de arrematação do imóvel em leilão; (iv)
procuração em causa própria; (v) formal de partilha; (vi) testamento homologado;
(vii) sentença judicial declarando a propriedade do imóvel (resultado, por exemplo,
de ação de usucapião ou de adjudicação compulsória); ou (viii) registro de
aquisição do imóvel emitido pelo Oficial de Registro de Imóveis em procedimento
extrajudicial de usucapião, desde que tal título seja devidamente registrado na
matrícula imobiliária do imóvel.
104
Capítulo 3 Propriedade
Propriedade Fiduciária
A propriedade fiduciária, prevista nos arts. 1.361 a 1.368, do CC, nada mais é
do que um direito real que se destina a garantir uma relação obrigacional, a partir
do registro do título no Cartório de Títulos e Documentos. Trata-se de propriedade
resolúvel, transferindo o devedor a propriedade do bem ao credor, resolvendo-se
então em favor do devedor quando há o adimplemento da obrigação:
105
DIREITOS REAIS
Se, no entanto, não for paga a dívida, prevê o artigo 1.364, CC: “Vencida a
dívida, e não paga, fica o credor obrigado a vender, judicial ou extrajudicialmente,
a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas
de cobrança, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor”.
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
Vencido este capítulo, em que estudamos sobre propriedade, é essencial
que você saia daqui sabendo que:
107
DIREITOS REAIS
Referências
BRASIL. Tribunal de Justiça do Espírito Santo. APL: 00107612520158080048,
Relator: JOSÉ PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA, Data de Julgamento:
05/06/2018, SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 13/06/2018.
108
Capítulo 3 Propriedade
FIUZA, Cézar. Direito civil: curso completo. 8. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2004.
GOMES, Orlando. Direitos reais. 21. ed. São Paulo: Forense, 2012.
RIZZARDO, Arnaldo. Direito das coisas. 3. ed. São Paulo: Forense, 2007.
109
DIREITOS REAIS
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direitos reais. 8. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
______. Direito civil: direitos reais. v. 5, 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
110
C APÍTULO 4
Direitos de Vizinhança
112
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
Contextualização
Depois de termos estudado o direito de propriedade – que, sob a ótica civilista
e constitucional moderna, deve atender à sua função social, não consistindo mais,
como era no passado, em um direito absoluto e ilimitado –, chegou o momento
de conhecer as regras do direito de vizinhança, previstas nas Seções I a VII, do
Capítulo V, do Título III, do Livro III, do Código Civil Brasileiro.
Isso significa dizer que posso fazer uso do meu imóvel até o limite de gerar
prejuízo ou risco de prejuízo à segurança, ao sossego e à saúde dos prédios
vizinhos e daqueles que o habitam.
113
DIREITOS REAIS
Para saber até onde se pode ir, deve-se levar em consideração uma série de
fatores, como a natureza da utilização do imóvel, a localização do prédio, as normas
de zoneamento, além dos limites ordinários de tolerância, que farão com que estes
limites de utilização se estreitem ou se expandam, conforme veremos a seguir.
114
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
Até que ponto uma interferência pode ser considerada tolerável? Quando
haverá o extrapolamento do normal e do aceitável?
115
DIREITOS REAIS
Vimos, acima, que o limite entre o bom e o mau uso da propriedade poderá
ser relativizado conforme a natureza da utilização, a localização do prédio, ao
atendimento às normas constantes das posturas municipais e aos limites
ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança.
Porém, um outro aspecto que não pode ser ignorado quando se trata da
avaliação sobre a normalidade ou anormalidade do uso da propriedade é a "teoria
da pré-ocupação", segundo a qual, grosso modo, quem chegou depois não poderá
reclamar das condições ambientais (por exemplo, barulho ou odor) estabelecidas
por quem chegou antes. Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2003, p. 121):
[...] em princípio, não teria razão para reclamar quem
construísse nas proximidades de estabelecimentos barulhentos
ou perigosos. É o que sustenta a Teoria da pré-ocupação. Por
ela, aquele que primeiramente se instala em determinado local
acaba, de certo modo, estabelecendo a sua destinação. Tal
teoria não pode, entretanto, ser aceita em todos os casos e
sem reservas. Se o barulho é demasiado ou se a lei proíbe o
incômodo, o proprietário não pode valer-se da anterioridade
de seu estabelecimento para continuar molestando o próximo.
116
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
Ou, para dar outro exemplo, se alguém compra um imóvel nas proximidades
de um clube recreativo que normalmente realiza bailes, não poderá alegar que
este faz mau uso de sua propriedade, desde que, é claro, não utilize volume
excessivo e de forma abusiva.
Árvores Limítrofes
Dispõe o art. 1.282, do Código Civil, que "a árvore, cujo o tronco estiver
na linha divisória, presume-se pertencer em comum aos donos dos prédios
confinantes", ao passo que, nos termos do artigo 1.284, “Os frutos caídos de
árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de
propriedade particular”. Quanto a isso, não surgem grandes dúvidas.
Mas qual a regra a ser aplicada quando uma árvore localizada em um imóvel
acaba interferindo, por seus galhos ou raízes, no imóvel vizinho? A solução está
estampada no art. 1.283, que traz: “Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore,
que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical
divisório, pelo proprietário do terreno invadido”.
117
DIREITOS REAIS
Isso significa dizer que, estando a árvore no limite entre os dois prédios, poderá
o vizinho acordar com o outro pelo corte da árvore, ou outra solução; se, no entanto,
a árvore estiver no imóvel de um vizinho, porém seus galhos e raízes projetarem-
se sobre o imóvel do outro, a este assiste o direito de, independentemente da
autorização deste, podá-la até o limite vertical de seu imóvel.
Passagem Forçada
O direito de passagem forçada é um direito de vizinhança de natureza
potestativa que tem o proprietário de imóvel encravado (= sem acesso à via
pública, nascente ou porto) de constituir tal acesso através de imóvel vizinho, com
rumo fixado judicialmente e mediante indenização cabal ao seu dono.
Trata-se, pois, de uma situação jurídica que tem por fundamento o direito de
vizinhança, impositivo e obrigatório, regulado pelo artigo 1.285, do Código Civil,
que sujeita o vizinho a tolerar a passagem de parte do seu imóvel por outrem,
mesmo que contra sua vontade:
Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso à via pública,
nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização
cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo
será judicialmente fixado, se necessário.
§ 1o Sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel mais
natural e facilmente se prestar à passagem.
§ 2o Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo que uma
das partes perca o acesso a via pública, nascente ou porto, o
proprietário da outra deve tolerar a passagem.
§ 3o Aplica-se o disposto no parágrafo antecedente ainda
quando, antes da alienação, existia passagem através de
imóvel vizinho, não estando o proprietário deste constrangido,
depois, a dar uma outra (BRASIL, 2002, s.p.).
118
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
O direito à passagem forçada tem por finalidade evitar que a propriedade fique
sem destinação ou utilização econômica justamente por conta do encravamento,
decorre de lei e está sujeito a alguns requisitos, a saber: que o imóvel esteja, de
fato, encravado, que haja indenização cabal ao vizinho prejudicado e sujeitará o
imóvel que oferecer o acesso de forma mais natural e fácil à via pública.
Verificados tais requisitos, e acaso não haja acordo entre as partes sobre o
rumo a ser fixado e/ou o valor da indenização, não restará alternativa senão as
partes socorrerem-se ao Poder Judiciário.
119
DIREITOS REAIS
120
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
121
DIREITOS REAIS
Das Águas
Antes de entrar no estudo “das águas”, dentro do contexto do direito de
vizinhança, é importante estabelecer que o Código Civil se limita a estabelecer
a questão da água no que tange aos possíveis conflitos entre vizinhos, ao passo
que o controle das águas pelo poder público é regido pelo Decreto no 26.643, de
10 de julho de 1934, o chamado “Código das Águas”.
122
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
Como se pode ver da leitura do art. 1.288, quando as águas fluem naturalmente
(isto é, pela simples inclinação dos terrenos, por força da gravidade), é obrigação
do imóvel inferior receber as águas que defluam por obra da natureza (também
chamadas “águas comuns”, “águas escolatícias”, “águas escorredouras”) – como
as das nascentes (que brotam do solo) e as pluviais (que provêm da chuva) – do
imóvel superior, não podendo seu proprietário realizar obras que embaracem o
seu fluxo.
123
DIREITOS REAIS
Pela dicção do art. 1.288, deverá o imóvel inferior suportar o fluxo da água
em condições comuns proveniente do imóvel superior, desde que não haja
interferência por parte deste neste fluxo. Afinal, não pode o ribeirinho do prédio
superior, em prejuízo dos prédios inferiores, tornar a corrente d’água mais intensa.
Ou seja, a condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada
por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior, hipótese em que
aquele poderá exigir que elas sejam desviadas ou que seja indenizado pelos
possíveis prejuízos decorrentes deste aumento de fluxo que sofra ou, ainda, pela
desvalorização do seu imóvel.
Traz-se, ainda, que nada impede que o proprietário do imóvel inferior realize
obras que diminuam os impactos do escoamento da água remanescente (= aquela
que “sobra” da passagem e utilização pelo imóvel anterior) ou que otimize seu
aproveitamento, represando-a para atender suas necessidades mínimas – desde
que, é claro, não impacte no imóvel anterior e não influencie no seu curso normal
até o imóvel seguinte.
É certo, também e por óbvio, que é dever do proprietário do imóvel não poluir
as águas “indispensáveis às primeiras necessidades da vida” que correrão para
o imóvel inferior, como visto no art. 1.291, CC, devendo recuperar ou, se não
for possível a recuperação e/ou exigindo o desvio do curso artificial das águas,
ressarcir os danos aos proprietários dos imóveis inferiores, sem prejuízo das
sanções penais e administrativas.
124
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
125
DIREITOS REAIS
126
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
Logo, havendo outro meio de acesso à água, os vizinhos não são obrigados
a aceitar a passagem de aqueduto, prevalecendo o direito de propriedade.
Atividade de Estudos:
127
DIREITOS REAIS
128
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
É que toda e qualquer obra em seu imóvel que possa gerar prejuízo ou
riscos no imóvel do proprietário lindeiro (como infiltrações, rachaduras ou risco
de desabamento) será de sua exclusiva responsabilidade a construção de
muro para garantir a segurança, o sossego e a saúde do imóvel prejudicado e
daqueles que o habitam.
129
DIREITOS REAIS
Direito de Construir
Para tratar do direito de construir, sob a ótica do direito de vizinhança,
partamos da premissa já estudada de que é direito do proprietário ou o possuidor
de um prédio fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego
e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha,
do que se conclui que o proprietário do imóvel terá o direito de usufruí-lo até o
limite que possa gerar aos imóveis vizinhos interferências que lhes prejudiquem a
segurança, ao sossego e à saúde.
A partir daí, o Código traz uma série de regras específicas sobre o direito de
construir, como a vedação à realização de construções que despejem águas sobre
o imóvel vizinho (art. 1.300, CC/2002), que sejam capazes de poluir, ou inutilizar,
para uso ordinário, a água do poço ou nascente alheia (art. 1.309, CC/2002), obras
que retirem a água do poço ou da nascente alheia (art. 1.310, CC/2002), ou que
se encoste à parede divisória chaminés, fogões, fornos ou quaisquer aparelhos
ou depósitos suscetíveis de produzir infiltrações ou interferências prejudiciais
ao vizinho (art. 1.308, CC/2002). Regras que estabelecem metragem mínima
de distância para a abertura de janelas ou construção de terraços ou varandas
(1.301, CC/2002) ou mesmo para levantamento de construções (1.303, CC/2002):
130
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
131
DIREITOS REAIS
132
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
Algumas Considerações
Vencido este capítulo, em que estudamos o direito de vizinhança e o
reconhecemos como uma série de limitações, estabelecidos expressamente em
lei, sobre os direitos de propriedade, a fim de garantir uma harmoniosa convivência
social entre os vizinhos, é importante que você saia daqui sabendo que:
133
DIREITOS REAIS
134
Capítulo 4 Direitos de Vizinhança
Referências
BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 9 jul.
2018.
______. Direito das coisas. V. 3. 6. ed. atual. de acordo com o novo Código
Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003 - Coleção Sinopses
Jurídicas, p. 121).
135
DIREITOS REAIS
RIZZARDO, Arnaldo. Direito das coisas. 2. edição. São Paulo: Ed. Forense,
2006.
TARTUCE, Flávio. Direito civil v. 4: direito das coisas. 4. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2012. P. 345 e 346.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil. Direitos Reais. 7. edição. São Paulo:
Atlas, 2007.
VIANA, Marco Aurélio. Comentários ao novo Código Civil. Dos Direitos Reais,
v. XVI, coord. Sálvio de Figueiredo Teixeira. Curitiba: Forense, 2003.
WALD, Arnoldo. Direito das coisas. 5. ed. São Paulo: RT, 1985.
136
C APÍTULO 5
Condomínio
138
Capítulo 5 Condomínio
Contextualização
Porquanto a vida nas cidades tenha, nas últimas décadas, experimentado
primeiro um processo de verticalização, com o surgimento de prédios que
oferecem estrutura compatível com a de verdadeiros clubes recreativos e, mais
recentemente, com a criação de “condomínios fechados”, não há dúvida de que o
instituto do condomínio tem se revelado de grande relevância no universo jurídico
brasileiro (vide a quantidade de ações judiciais em que se discutem os problemas
experimentados dos muros do condomínio para dentro, como a discussão
sobre a forma de rateio das despesas, disputa entre condôminos, problemas de
convivência etc.).
Conceito de Condomínio
A regra, já estudada, é que toda propriedade será exclusiva (art. 1.231,
CC/2002), ou seja, presume-se que um único proprietário terá a faculdade de
usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha.
139
DIREITOS REAIS
Como se vê, no condomínio, cada parte terá sua quota ideal, uma fração
ideal do condomínio. Segundo Maria Helena Diniz (2009, p. 2011):
Classificação do Condomínio
O condomínio pode ser classificado segundo vários critérios. Aqui,
escolhemos quatro deles: quanto à origem, quanto à forma de se manifestar,
quanto ao objeto e quanto à necessidade.
141
DIREITOS REAIS
Condomínio Geral
O Código Civil, como visto, traz como condomínio geral – que é a sujeição
de uma coisa, divisível ou indivisível, à propriedade simultânea e concorrente
de duas ou mais pessoas – os condomínios voluntários (oriundo da vontade das
partes) e necessário (decorrente de imposição legal), estabelecendo, quanto ao
primeiro, os direitos e obrigações do condômino e sua forma de administração.
Maria Helena Diniz (2009, p. 211) lembra que os direitos e obrigações dos
condôminos podem ser classificados em suas relações internas, ou seja, entre
eles próprios, e em suas relações com terceiro.
142
Capítulo 5 Condomínio
143
DIREITOS REAIS
O art. 1.320, do Código Civil, estabelece que “A todo tempo será lícito ao
condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um
pela sua parte nas despesas da divisão” (BRASIL, 2002).
144
Capítulo 5 Condomínio
Não havendo consenso entre eles (sobre o valor do bem, por exemplo), a
divisão dar-se-á judicialmente. Se divisível a coisa, mediante ação de divisão (art.
588 e ss, CPC/2015); se indivisível, mediante alienação judicial, conforme art.
730, do CPC/2015:
145
DIREITOS REAIS
146
Capítulo 5 Condomínio
Sobre as deliberações, como se vê, a lei exige maioria absoluta (ou seja,
metade mais um) dos quinhões. Em outras palavras, o voto é por quinhão e não
por cabeça. Não sendo possível atingir esta maioria (por empate ou falta de
quórum), caberá ao juiz decidir.
Condomínio Necessário
Como já visto, haverá condomínio necessário (legal ou forçado) quando, por
lei, a comunhão deva ser permanentemente mantida, não se admitindo partilha. É
o caso de paredes, cercas, valas e muros divisórios, ou seja, matérias afetas ao
direito de vizinhança “Art. 1.327. O condomínio por meação de paredes, cercas,
muros e valas regula-se pelo disposto neste Código” (arts. 1.297 e 1.298; 1.304 a
1.307) (BRASIL, 2002).
147
DIREITOS REAIS
Acaso não haja consenso entre os vizinhos quanto ao preço da obra, este
deverá ser arbitrado por perito nomeado pelo juízo, com as despesas arcadas por
ambos os confinantes (art. 1.329, CC/2002).
Ainda segundo a lei, o proprietário do imóvel limítrofe que não pagar nem depositar
o valor da meação não poderá fazer uso da parede, muro, vala, cerca ou qualquer
outra obra divisória: “Art. 1.330. Qualquer que seja o valor da meação, enquanto
aquele que pretender a divisão não o pagar ou depositar, nenhum uso poderá fazer na
parede, muro, vala, cerca ou qualquer outra obra divisória” (BRASIL, 2002).
148
Capítulo 5 Condomínio
Condomínio Edilício
Também conhecido por condomínio de propriedade horizontal, de propriedade
em planos horizontais, como condomínio sui generis ou condomínio por andares,
o condomínio edilício decorre da indivisibilidade entre a propriedade individual
sobre unidades autônomas e a copropriedade sobre as partes comuns, bastante
comum em prédios de apartamentos ou empreendimentos congêneres.
Em outras palavras, cada proprietário será dono de uma parte privativa e mais
uma fração das áreas comuns, podem destas usufruir, mas não as monopolizar
ou modificar:
150
Capítulo 5 Condomínio
151
DIREITOS REAIS
Atividade de Estudos:
152
Capítulo 5 Condomínio
Prudente destacar que nossos tribunais têm entendido que o não pagamento
das despesas condominiais não representa comportamento antissocial passível
de penalidade, devendo esta hipótese ser utilizada apenas em casos de extrema
gravidade no âmbito de convivência entre os condôminos:
153
DIREITOS REAIS
Atividade de Estudos:
154
Capítulo 5 Condomínio
Vale aqui uma ponderação: ainda que haja previsão expressa na convenção
de condomínio que eventualmente imponha a todos os condôminos o dever
de pagar as despesas relativas às partes comuns de uso exclusivo de alguns
condôminos, a lei é clara quando isenta do rateio das despesas os condôminos que
não usufruam da utilidade do serviço. Por exemplo, proprietários de apartamentos
localizados no térreo, ou de blocos que não disponham dessa facilidade, estariam
isentos das despesas com o elevador. Neste sentido:
155
DIREITOS REAIS
O síndico poderá ser destituído, a teor do art. 1.349, pelo voto da maioria
absoluta dos condôminos reunidos em assembleia especialmente convocada,
acaso o síndico pratique irregularidades, não preste contas, ou não administre
convenientemente o condomínio.
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Capítulo 5 Condomínio
Uma das características do condomínio edilício é que ele não pode ser extinto
por vontade das partes, mas apenas em hipóteses extremas e excepcionais, como
157
DIREITOS REAIS
Condomínio de Lotes
Inovação introduzida pela Lei nº 13.465/2017, o condomínio de lotes nada
mais é, na leitura do já citado Carlos Eduardo Elias de Oliveira, do que “um
desdobramento do condomínio edilício vertical (o de casas) de que tratava o art.
8º da Lei nº 4.591”, de 1964, sendo regido pelo artigo 1.358-A, do Código Civil:
158
Capítulo 5 Condomínio
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DIREITOS REAIS
Algumas Considerações
Vencido este capítulo, em que estudamos sobre o condomínio geral
(voluntário e necessário), o edilício e o condomínio de lotes, é essencial que você
saia daqui sabendo que:
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Capítulo 5 Condomínio
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DIREITOS REAIS
• Condomínio edilício não pode ser extinto por vontade das partes, mas
apenas em hipóteses extremas e excepcionais.
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Capítulo 5 Condomínio
Referências
BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 13 jul.
2018.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 24. v., São Paulo:
Editora Saraiva, 2009.
163
DIREITOS REAIS
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 18. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2002.
164
C APÍTULO 6
Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
� Conhecer a diferença entre direitos reais sobre bens próprios e sobre coisas
alheias.
166
Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Contextualização
Após termos estudado as características dos direitos reais sobre bens
próprios, é chegada a hora de nos debruçarmos sobre os direitos reais sobre
coisas alheias, bastante comuns nas relações contratuais cotidianas, presentes
em praticamente todas as relações obrigacionais e, muitas vezes, soluções
jurídicas para situações que exijam segurança às partes, ao mesmo tempo que
não engesse, embarace ou obstaculize o objetivo principal.
Como explica Silvio de Salvo Venosa (s.d., p. 117), em artigo intitulado Direitos
reais sobre coisas alheias. Superfície, o Código Civil divide os direitos reais sobre
coisas alheias em duas categorias, a saber, de gozo (ou fruição) e de garantia:
167
DIREITOS REAIS
Existe, todavia, uma terceira categoria, que são os direitos reais sobre coisas
alheias de aquisição, representada pelo contrato de promessa de compra e venda.
Vamos a eles, partindo dos direitos reais sobre coisas alheias de garantia.
• que as partes devem ser maiores e capazes, além daquele que oferece o
bem seja seu proprietário;
• que o bem dado em garantia deve ser alienável;
• e devem ser constituídos através de contratos escritos que contenham
o valor do crédito, sua estimação, ou valor máximo, o prazo fixado para
pagamento, a taxa dos juros, se houver, e o bem dado em garantia com
as suas especificações (art. 1.424, CC/2002).
Isso significa dizer que o direito real acompanha a coisa (propter rem) e,
mesmo que se transmita por ato jurídico inter vivos ou mortis causa, continuará
ela afetada à satisfação do débito. Já o efeito do privilégio está previsto no art.
1.422:
168
Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Assim, o fato do bem estar gravado com direito real de garantia não o torna
impenhorável nas execuções fiscal ou trabalhista. Na verdade, nada impede que,
mesmo numa execução cível, haja a penhora de bem previamente gravado com
ônus real, desde que se respeite a ordem preferencial e, ainda, dê-se ao credor
ciência da penhora e dos atos de expropriação.
Vale dizer, ainda, que se existe mais de uma hipoteca sobre o mesmo bem
– e isso é expressamente possível, inclusive com o mesmo credor –, preferirá
aquela que for primeiro registrada no Ofício de Registro de Imóveis.
169
DIREITOS REAIS
Isso significa dizer que, ainda que seja o direito real de garantia um acessório
da obrigação principal, eventual deteriorização, depreciação, perecimento
ou desapropriação do bem dado em garantia, isso repercutirá no vencimento
antecipado da obrigação principal.
Hipoteca
Regulamentada nos artigos 1.473 a 1.505, do CC/2002, a hipoteca é o direito
real de garantia que recai sobre bem imóvel. Isto é, o devedor oferece como
garantia para o pagamento de uma dívida um bem imóvel de sua propriedade (ou
de terceiro, desde que consinta expressamente com a hipoteca), permanecendo
na posse do bem enquanto perdura a obrigação, conferindo ao credor hipotecário
o jus distrahendi, ou seja, o direito de excuti-lo para satisfazer a obrigação
inadimplida.
Ainda que se fale que a hipoteca recairá sobre bem imóvel, o art. 1.473 do
Código Civil traz outros possíveis objetos desta garantia real:
Desta forma, forte no inciso III, do art. 1.473, do Código Civil, é possível o
“foreiro” (particular) oferecer em hipoteca o domínio útil do imóvel localizado em
terreno de marinha. Neste sentido:
171
DIREITOS REAIS
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Vale a ressalva de que mesmo a hipoteca legal também obriga o registro (art.
1.497,CC).
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DIREITOS REAIS
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Penhor
Diferente da hipoteca, penhor é a garantia real sobre bem móvel:
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DIREITOS REAIS
• Penhor Rural – que se subdivide em agrícola (que pode ter por objeto
máquinas e instrumentos de agricultura, colheitas pendentes, ou em vias
de formação, frutos acondicionados ou armazenados, lenha cortada e
carvão vegetal, ou animais do serviço ordinário de estabelecimento
agrícola) ou pecuário (que pode ter por objeto os animais que integram
a atividade pastoril, agrícola ou de lacticínios), cujas peculiaridades estão
nos artigos 1.438 ao 1.446, CC/2002;
176
Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Suas obrigações, por outro lado, estão previstas no art. 1.435, do Código Civil:
177
DIREITOS REAIS
Anticrese
Modalidade de direito real de garantia pouco utilizada, pela anticrese o
devedor transfere a posse de bem imóvel para o credor, para que este se aproveite
dos seus frutos e rendimentos até pagamento do montante da dívida (art. 1.506, CC),
mediante apresentação de balanço anual de sua administração (art.1.507, CC). Verbis:
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Alienação Fiduciária
Uma outra modalidade de direito real de garantia é a alienação fiduciária,
prevista nos artigos 1.361 a 1.368, do Código Civil:
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DIREITOS REAIS
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
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DIREITOS REAIS
Usufruto
Um dos direitos reais sobre coisa alheia de fruição mais comuns, o usufruto
representa a cisão, ainda que temporária, dos direitos inerentes à propriedade:
de um lado fica à disposição (jus abutendi) e a sequela de determinado bem (que
permanecem com o proprietário, agora denominado “nu-proprietário”), e, de outro
lado, o uso (jus utendi) e o gozo (jus fruendi), que passarão para o usufrutuário. É
o que explicam Cristiano Chaves Farias e Nelson Rosenvald (2008, p. 570-571):
O usufruto, pois, poderá ter por objeto bens móveis (títulos de crédito,
ações, quotas sociais, veículos etc.) ou imóveis, recaindo sobre a integralidade
ou sobre parte do bem.
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Atividade de Estudos:
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DIREITOS REAIS
Pertinente trazer que, nos termos do art. 1.408, do Código Civil, “se um
edifício sujeito a usufruto for destruído sem culpa do proprietário, não será este
obrigado a reconstruí-lo, nem o usufruto se restabelecerá, se o proprietário
reconstruir à sua custa o prédio; mas se a indenização do seguro for aplicada à
reconstrução do prédio, restabelecer-se-á o usufruto” (BRASIL, 2002).
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Por fim, entende-se por “consolidação” (inciso VI) quando, por determinada
circunstância, o nu-proprietário e o usufrutuário passam a ser a mesma pessoa,
reunindo o nu-proprietário todos os direitos inerentes à propriedade.
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DIREITOS REAIS
Uso
Alcunhado pelos doutrinadores como “usufruto anão” ou “usufruto de menor
âmbito”, o direito real de uso na lição de Maria Helena Diniz (2005, p. 1129):
O direito real de uso, como se viu, pode ser gratuito ou oneroso, e pode ter
como objeto tanto as coisas imóveis como as coisas móveis, sendo que estas
últimas desde que infungíveis e inconsumíveis.
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Porquanto o artigo 1.413 estabeleça que são aplicáveis ao uso, no que não
for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto, a teor do artigo
1.391, do mesmo estatuto legal, tratando-se de bens imóveis, o direito real de uso
constituir-se-á mediante registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Sobre a extinção do uso, da mesma forma, deve ser aplicada a regra prevista
no art. 1.410, do Código Civil, afeta ao usufruto.
Habitação
Segundo lição de Carlos Roberto Gonçalves (2006, p. 475), versando sobre
o direito real de habitação, previsto nos artigos 1.414 a 1.416, do Código Civil:
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DIREITOS REAIS
Isto quer dizer que, ainda que vendido o bem sobre o qual recai o direito
real de habitação, o direito do beneficiário será preservado. Em outras palavras,
o adquirente deverá, por se ter interessado pela aquisição, preservar o direito de
que cuidam os artigos 1.414 e/ou 1.831, do Código Civil.
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Servidão Predial
Prevista entre os artigos 1.378 e o 1.389, do Código Civil, “A servidão
proporciona utilidade para o prédio dominante, e grava o prédio serviente, que
pertence a diverso dono, e constitui-se mediante declaração expressa dos
proprietários, ou por testamento, e subsequente registro no Cartório de Registro
de Imóveis” (art. 1.378, CC/2002).
Como destacado pelo Des. Richard Pae Kevi, relator da Apelação Cível n.º
7207949100, do Tribunal de Justiça de São Paulo:
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
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DIREITOS REAIS
Como visto alhures, segundo disciplina o art. 1.369, do Código Civil, a forma
legal de instituição do referido instituto é por meio de escritura pública. Da mesma
forma, o art. 21, da Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade), estabelece que
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
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DIREITOS REAIS
Atividade de Estudos:
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Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
Consigne-se, por fim, que o artigo 25, da Lei no 6.766/1979, estabelece que
“São irretratáveis os compromissos de compra e venda, cessões e promessas de
cessão, os que atribuam direito a adjudicação compulsória e, estando registrados,
confiram direito real oponível a terceiros” (BRASIL, 1979).
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DIREITOS REAIS
Algumas Considerações
Finalmente vencido este capítulo, o último deles, quando nos debruçamos
sobre os direitos reais sobre coisas alheias, é de suma importância que você saia
daqui sabendo:
• Que os direitos reais sobre coisa alheias devem ser compreendidos sob
a perspectiva do terceiro, que, por conta de determinada circunstância
jurídica, deterá, temporariamente, algum ou alguns dos poderes inerentes
à propriedade sobre o bem de propriedade alheia, que restringirá o
proprietário;
196
Capítulo 6 Direitos Reais Sobre Coisas Alheias
197
DIREITOS REAIS
Esperamos que você tenha assimilado bem estes conceitos, e que a partir
deles, esteja apto a raciocinar juridicamente e, ainda, encontre as soluções mais
adequadas para os problemas com os quais se deparas em questões envolvendo
os direitos reais.
Até a próxima!
Referências
BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/
l13105.htm>. Acesso em: 20 jul. 2018.
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______. Direitos reais. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2008, pp.
570-571.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, vol.
V, 2006, p. 475.
GOMES, Orlando. Direitos reais. Atualizada por Luiz Edson Fachin. 19. edição.
Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2008.
MEIRELLES, Hely Lopes Direito municipal brasileiro. 11. ed., São Paulo:
Malheiros, 2000, p. 191-193.
MENEZES LEITÃO, Luís Manuel Teles de. Direitos reais. Coimbra: Almedina,
2009,
São Paulo: RT, 2012.
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. 22. ed. V. IV, n. 364.
Rio de Janeiro: Forense, 2014.
199
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RIZZARDO, Arnaldo. Direitos das coisas. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
VELOSO, Zeno. In: SILVA, Regina Beatriz Tavares da (Coord.). Código civil
comentado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 2017.
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______. Direitos reais sobre coisas alheias. Superfície. In: IX Simpósio Nacional
de Direito Constitucional. Anais... Disponível em: <http://www.abdconst.com.br/
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200