Apostila - Avaliação

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CBI of Miami 2
Avaliação Clínica e Diagnóstica nos Transtornos do Espectro
do Autismo III: Escalas de Triagem, Rastreio e Probabilidade
Djalma Freitas

O Transtorno do Espectro Autista – TEA – tem sido compreendido,


desde a ótica biomédica, como um transtorno do desenvolvimento de ordem
neurobiológica e genética que afeta, em diferentes medidas e intensidades, as
áreas da interação social, da comunicação, dos comportamentos e do
funcionamento sensorial da pessoa (APA, 2013). A pessoa que apresenta
sinais e sintomas de TEA, independentemente de seu grupo etário, necessita
de avaliações diagnósticas, incluindo avaliação de risco de TEA, para que
possa, através de uma compreensão quantitativa e qualitativa, receber ou não
o diagnóstico deste transtorno do neurodesenvolvimento.
Com um diagnóstico adequado a pessoa pode ser submetida a
processos terapêutico-educacionais voltados que visam criar condições para
que elas se desenvolvam em direção ao previamente estipulado como
desenvolvimento típico na cultura. Importante destacar que mesmo sem
diagnóstico fechado, os processos terapêutico-educacionais devem ser
iniciados o quanto antes uma vez detectado sinais e sintomas de TEA.
Considerando a importância de um bom rastreamento de sinais e
sintomas de TEA, iremos apresentar adiante algumas das principais
ferramentas para investigação de risco de TEA.

Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT)


A primeira escala que iremos apresentar é a M-CHAT. Esta escala foi
considerada durante muito tempo como uma escala de rastreio de sinais e
sintomas de autismo. Atualmente a utilizamos como uma ferramenta de triagem
por sua simplicidade e fraqueza.
O M-CHAT é uma escala de rastreamento que pode ser utilizada em
todas as crianças durante visitas pediátricas, com objetivo de identificar traços
de autismo em crianças de idade precoce. [...] A M-CHAT é extremamente
simples e não precisa ser administrada por médicos. A resposta aos itens da
escala leva em conta as observações dos pais com relação ao comportamento

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da criança, dura apenas alguns minutos para ser preenchida, não depende de
agendamento prévio, é de baixo custo e não causa desconforto aos pacientes.
Essa escala é uma extensão da CHAT. Consiste em 23 questões do tipo sim/
não, que deve ser autopreenchida por pais de crianças de 18 a 24 meses de
idade, que sejam ao menos alfabetizados e estejam acompanhando o filho em
consulta pediátrica. O formato e os primeiros nove itens do CHAT foram
mantidos. As outras 14 questões foram desenvolvidas com base em lista de
sintomas frequentemente presentes em crianças com autismo. (LOSAPIO &
PONDÉ, 2008, p.222)
Embora Losapio e Pondé (2008, p.222) destaquem que a escala deve
ser autopreenchida, é importante orientar que o profissional deve auxiliar os
pais ou cuidadores ao longo do preenchimento devido à dificuldade muitas
vezes encontrada para a compreensão das questões.

Inventário de Comportamentos Autísticos (ICA)


A ICA é um questionário para avaliação indireta de risco – probabilidade-
de TEA. Ele é composto por 57 questões que apontam comportamentos
atípicos que são sintomáticos do Transtorno do Espectro do Autismo,
organizados em cinco áreas: Estímulos Sensoriais (ES), Relacionamento (RE),
Cuidado com o Corpo e Objetos (CO), Linguagem (LG) e Processos Sociais
(PS). É sugerido que o preenchimento desta escala seja realizado junto aos
pais ou cuidadores em sessão.
A versão final do questionário aborda 57 comportamentos atípicos
relacionados a cinco áreas: 1) estímulos sensoriais, sensoriais; 2) relacionar; 3)
uso do corpo e objetos; 4) linguagem; e 5) autoajuda social. Os
comportamentos das cinco áreas são distribuídos aleatoriamente em um
formulário de registro no qual o observador anota o comportamento atual da
criança. Os pesos dos comportamentos identificados são totalizados por área,
e esses por sua vez são totalizados para se obter a pontuação geral. Os
autores propuseram que crianças com pontuação geral igual ou superior a 68
pontos fossem classificadas como autistas. Pontuações entre 54 e 67 pontos
representam probabilidade moderada de classificação como autista e
pontuações entre 47 e 53 pontos são consideradas inconclusivas. Quando a

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pontuação fica abaixo de 47 pontos, a criança não é considerada autista.
(Marteleto & Pedromônico, 2005, p.296)
[...] nossos resultados sugerem que o ABC é um instrumento [...] útil na
identificação de crianças com autismo, em contextos clínicos e educacionais,
com maior probabilidade quando utilizado o ponto de corte 49. (Marteleto &
Pedromônico, 2005, p. 300)

ASQ – Questionário de Investigação de Autismo/Questionário


Comportamento e Comunicação Social
O ASQ (Autism Screening Questionnaire - Questionário de Triagem para
Autismo), também reportado como Questionário de comportamento e
comunicação social, consiste em 40 questões relativas à interação social
recíproca, comunicação e linguagem, padrões de comportamento
estereotipados e repetitivos, além de questões sobre o funcionamento da
linguagem. Este questionário pode ser utilizado em crianças com idade
superior a cinco anos.
Sato (2008) demonstrou em estudo de validação do instrumento que o grupo
controle com crianças neurotípicas a média da pontuação foi de 7.2. No grupo
síndrome de down a média de pontuação foi 9,0. Já no grupo de Transtornos
Invasivos do desenvolvimento – grupo que abrange o TEA - a média de
pontuação foi 21,7. Com isso, no estudo brasileiro de validação foi encontrada
a pontuação igual ou acima de 21 pontos como sendo um valor discriminativo
para autismo.

Childhood Autism Rating Scale (CARS): Escala de Avaliação de autismo


na Infância
A Escala de Avaliação de autismo na Infância é uma das escalas mais
conhecidas no universo de avaliação de risco de TEA. Ela é uma escala para
fins de rastreio de sinais e sintomas de TEA. Originalmente foi desenvolvida
para ser realizada através de uma avaliação indireta, contudo, temos orientado
a realizar esta coleta a partir de uma avaliação direta, ou seja, junto do
examinando devido à dificuldade que os pais ou cuidadores tem encontrado em
responder corretamente a escala.

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É uma escala de 15 itens que auxilia na identificação de crianças com
autismo e as distingue de crianças com prejuízos do desenvolvimento sem
autismo. Sua importância consiste na diferenciação do autismo leve-moderado
do grave. É breve e apropriada para uso em qualquer criança acima de 2 anos
de idade. Sua construção foi realizada durante 15 anos e incluiu 1.500 crianças
autistas. Para tal, levaram-se em conta os critérios diagnósticos de Kanner
(1943), Creak (1961), Rutter (1978), Ritvo & Freeman (1978) e do Diagnostic
and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-III) (1980). A escala avalia o
comportamento em 14 domínios geralmente afetados no autismo, mais uma
categoria geral de impressão de autismo. Estes 15 itens incluem: relações
pessoais, imitação, resposta emocional, uso corporal, uso de objetos, resposta
a mudanças, resposta visual, resposta auditiva, resposta e uso do paladar,
olfato e tato, medo ou nervosismo, comunicação verbal, comunicação não
verbal, nível de atividade, nível e consistência da resposta intelectual e
impressões gerais. Os escores de cada domínio variam de 1 (dentro dos limites
da normalidade) a 4 (sinto- mas autistas graves). A pontuação varia de 15 a 60,
e o ponto de corte para autismo é 30. (Pereira et al, 2008, p. 488)

Avaliação de Crença Falsa: Teoria da Mente


De acordo com Roazzi & Santana (1999) a criança desenvolve
aproximadamente aos quatro anos de idade a capacidade de criar hipóteses
acerca da percepção e consciência de uma outra pessoa. Os autores apontam
que estudos de crenças falsas são importantes para que seja possível
discriminar a capacidade da criança de se colocar no lugar de uma outra
pessoa na resolução de problemas.
Utiliza-se, comumente, uma estória composta por duas personagens:
Sally e Anne. É apresentada uma estória, na qual, Sally coloca uma bola em
sua cesta e, logo a seguir, sai para dar uma volta. Enquanto ela está fora, Anne
transfere a bola de Sally para uma caixa e a esconde lá dentro. Sally volta e
quer a sua bola de volta.
Com base nesta estória, o examinando é submetido as perguntas:
1. “Onde Sally irá procurar sua bola?”;
2. “Onde Anne irá achar que Sally irá procurar a bola onde?”

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Com estas questões é possível compreender a capacidade da criança
em assumir a perspectiva de uma outra pessoa, habilidade que comumente
está prejudicada em pessoas com TEA.
Por fim é importante destacar que nenhuma destas escalas ou
investigações fazem sozinhas o diagnóstico de uma pessoa em risco de TEA.
Este diagnóstico depende de uma avaliação robusta que, clinicamente e
multidisciplinarmente, fornecerá dados para um fechamento diagnostico. As
escalas e possibilidades de investigações aqui apresentadas devem ser
usadas como auxílio para diagnóstico, assim como, para estabelecer o risco de
TEA e fazer o encaminhamento para processos diagnósticos.

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