Teorias Da Personalidade e Do Temperamento

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Teorias da Personalidade e do

Temperamento

Brasília-DF.
Elaboração

Aline Freire Bezerra Vilela

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I

SOBRE O TEMPO HISTÓRICO.................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1

HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO NAS TEORIAS DA PERSONALIDADE............................................. 9

CAPÍTULO 2

A TEORIA NO ESTUDO DA PERSONALIDADE.............................................................................. 14

CAPÍTULO 3

AVALIAÇÃO E PESQUISA NO ESTUDO DA PERSONALIDADE....................................................... 19

UNIDADE II

TEORIAS DA PERSONALIDADE............................................................................................................... 28

CAPÍTULO 1

TEORIAS PSICODINÂMICAS...................................................................................................... 28

CAPÍTULO 2

TEORIAS COM ÊNFASE NA REALIDADE PERCEBIDA (FENOMENOLÓGICA/EXISTENCIAIS)............. 51

CAPÍTULO 3

TEORIAS COM ÊNFASE NA APRENDIZAGEM (COMPORTAMENTAIS/SOCIOCOGNITIVAS)............. 56

UNIDADE III

TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE........................................................ 60

CAPÍTULO 1

TEORIAS COM ÊNFASE NA ESTRUTURA DA PERSONALIDADE (ABORDAGEM DOS TRAÇOS)......... 60

UNIDADE IV

TEMPERAMENTO E CARÁTER NA PERSONALIDADE................................................................................. 70

CAPÍTULO 1

COMPREENDENDO O TEMPERAMENTO................................................................................... 70

CAPÍTULO 2

ASPECTOS GERAIS................................................................................................................... 81

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 83

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 85
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

6
Introdução

Nesta disciplina iremos abordar as teorias da personalidade, levando em consideração


as várias características que colaboram no processo de desenvolvimento de sua
formação. De modo acessível e didático, iremos destacar e explorar algumas teorias
da personalidade, tentando observar a evolução das teorias e a influência de cada uma
delas no desenvolvimento da outra.

Entendendo a importância da compreensão dos tipos de personalidade, dos


questionamentos levantados acerca do comportamento, do temperamento,
das semelhanças e diferenças existentes entre as pessoas, em seu modo de se
comportar, (re)agir e de ser influenciado no decorrer da vida, é que foram surgindo
estudos sobre a personalidade e gradativamente as teorias foram se interpondo e
inter-relacionando entre si. Portanto, embora os estudos realizados até os dias de hoje
não sejam deterministas eles tentam obter respostas acerca destas questões levantadas
inicialmente sobre o homem, a partir de Sigmund Freud que formulou suas teorias
no tratamento de pacientes no século XIX. Denominado psicanálise seu trabalho
resultou em uma teoria para explicar as personalidades e embora tenha sofrido muitas
críticas foi a base para que outras pesquisas surgissem, trazendo consigo diferenças e
aperfeiçoando esse trabalho de pesquisa.

Veremos, ainda, que a teoria e pesquisa da personalidade na contemporaneidade


acreditam nos vários tipos de influências sobre a personalidade e buscam reconhecer
os tipos de personalidade baseada em um segmento heterogêneo da população em que
vários grupos de diferentes culturas, com variados estilos, padrões de vida e diversas
outras variáveis irão conduzir o processo de formação da personalidade.

Por fim, é necessário relembrar que esse caderno de estudo serve como um guia para
orientar a sua pesquisa mais aprofundada sobre os temas levantados, uma vez que a
bibliografia é vasta e será apresentada ao final do caderno. Aconselhamos ao aluno,
quando possível, pesquisar diversas fontes e aprofundar suas leituras, a fim de aprimorar
seu conhecimento, estabelecer conexões com as teorias apresentadas e escolher o seu
próprio caminho.

7
Objetivos
» Auxiliar e facilitar a compreensão sobre o estudo da personalidade e do
temperamento.

» Analisar as diversas teorias da personalidade possibilitando novos


conhecimentos.

» Sugerir leituras e materiais concernentes ao tema a fim de ampliar o


campo do saber com novos olhares e abordagens diversificadas.

» Incentivar a troca de conhecimento e experiências por meio da plataforma


de aprendizagem virtual.

» Envolver o estudante de modo participativo na construção de sua


aprendizagem a partir das leituras e reflexões propostas voltadas às
experiências cotidianas.

8
SOBRE O TEMPO UNIDADE I
HISTÓRICO

CAPÍTULO 1
História e desenvolvimento nas teorias
da personalidade

Figura 1.

Fonte: <https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/97/6b/ab/976bab36fa27372125b852a39eedfacb.jpg>. Acesso em 30


Junho 2016.

A psicologia surgiu como ciência no final do século XIX com Wilhelm Wundt, na
Alemanha, a fim de estudar os processos mentais por experimentos, em laboratório,
com a pretensão de verificar aqueles que poderiam ser afetados por estímulos externos
e controlados pelo experimentador. Foi, portanto, no séc. XX com o psicólogo John
B. Watson que houve uma ênfase nos aspectos palpáveis da natureza humana, ou
seja, os experimentos agora deveriam focar-se no comportamento evidente, e não no
comportamento consciente como propunha Wundt, uma vez que o consciente não
justificava uma teoria que explica o comportamento, já que o que passa dentro de cada
sujeito não pode ser visto ou medido, e igualmente não pode ser aceito como resposta.

9
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO

A escola behaviorista (assim conhecida), então, tinha uma visão mecanicista que
pretendia escalonar o homem num padrão de comportamento regulado e automático.
Em relação aos aspectos da personalidade, o behaviorismo os reduzia a um sistema de
hábitos acumulados de respostas aprendidas, estavam limitados nos comportamentos
observáveis (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).

Hall e Lindzey (2004) afirmam que a teoria da personalidade contemporânea fora


influenciada a partir de observações clínicas iniciadas por Charcot, Janet e McDougall,
e que contribuíram no entendimento da natureza da teoria da personalidade. Assim,
William Stern, com a teoria da Gestalt e o seu interesse pela compreensão da unidade
do comportamento, a Psicologia Experimental e a Teoria da Aprendizagem
foram de grande impacto para o estudo da personalidade e apreciação de como
os comportamentos se modificavam. Ainda, as autoras lembram que a tradição
psicométrica não ficou de fora, uma vez que se preocuparam em medir e escalonar
as diferenças individuais. Todas essas fontes de influência assim como o estudo da
genética, o positivismo lógico e a antropologia social incidiram sobre os estudos da
teoria da personalidade.

O fato de não darmos uma conotação psicológica às preocupações renascentistas


em relação aos novos conhecimentos e às questões referentes à individualidade e à
diversidade de opiniões entre os homens, reproduzidas na filosofia cartesiana, se deve
à natureza dessas inquietações que são vistas mais como aspectos generalizados do
conhecimento do universo físico, «cogito, ergo sum» (penso, logo existo). Seguindo
essa linha de tempo, também podemos citar o “nosce te ipsum” (conhece-te a ti mesmo)
de Sócrates. Tanto Descartes como Sócrates aparecem com questões filosóficas, numa
tentativa de responder a certas inquietações intelectuais e a busca do conhecimento de
uma humanidade comum a todos os indivíduos, do que na busca do conhecimento da
própria originalidade do ser, na pesquisa do conhecimento do eu. (LEITE, 1967)

Foi no Romantismo do século XIX que a busca da origem do homem passa da


universalidade para a individualidade, com a valorização das diferenças entre os homens.
Ainda neste século foram dados os primeiros passos da psicologia geral e da teoria da
personalidade com ajuda da teoria da evolução de Darwin e o avanço da fisiologia. No
entanto, a teoria da personalidade iniciou a partir da dedução das experiências clínicas
com Charcot, Freud, Janet, McDougall e Stern como seus representantes. Por outro
lado, essa mesma teoria era vista por Helmholtz, Pavlov, Thorndike, Watson com
uma visão experimental da psicologia, buscando a inspiração e os valores nas ciências
naturais a partir da aplicação dos dados colhidos no laboratório. (HALL; LINDZEY,
2004; LEITE, 1967; ALLPORT, 1973).
10
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I

É dado que a psicologia, que se desenvolveu no fim do século XIX, era fruto da filosofia
e da fisiologia experimental, assim como a teoria da personalidade que se originou não
da psicologia como se pensa, mas a partir de resultados da prática médica e conclusões
clínicas admitidas por Freud, Jung e McDougall, médicos e psicoterapeutas. (ibdem)

Allport (1966), em sua publicação, já afirmava que a personalidade é “menos um produto


acabado que um processo transitivo. Ainda que tenha alguns aspectos estáveis, está ao
mesmo tempo continuamente sofrendo mudanças” o que nos parece uma concepção
bastante atual hoje, em 2016, quando se trata não apenas do estudo da personalidade
mas também do próprio conceito e processo de desenvolvimento da personalidade.
Também disse Murray, em sua autobiografia datada de 1959, segundo Geiwitz (1973,
p. 51) “uma teoria completa de personalidade está muitos anos além de nós e será
precedida por muitos anos de pensamento e pesquisa”. Isso poderemos deduzir mais
adiante com as teorias da personalidade, quando encontraremos a visão de cada autor
de distintas áreas da psicologia sobre o entendimento do processo de construção da
personalidade, assim, com nossas próprias conclusões, serão construídas inferências
pessoais ao longo desse estudo que corroborarão com as ideias de que as alterações
dentro de uma perspectiva pessoal da personalidade interpõem-se, em certo sentido, a
uma teoria já apresentada da personalidade.

É muito interessante também o que aportam alguns teóricos estudiosos das teorias
da personalidade a respeito da estruturação do pensamento e formulação da teoria de
um teórico da personalidade. Com isso, queremos dizer que alguns autores refletem a
crença de que as teorias da personalidade foram se construindo a partir de uma forte
referência biográfica dos teóricos da época. O que explica os diversos contrapontos
encontrados entre as teorias. Do lado da psicologia quantitativa encontramos os
teóricos behavioristas, os que abordam a aprendizagem social e os que falam sobre
traços; do outro lado a psicologia qualitativa que versa uma posição clínica do
pensamento em que encontramos os psicanalistas, humanistas e existencialistas.
Deste modo, concluímos que a teoria da personalidade não está totalmente livre de
determinantes pessoais que a constroem. Aqui, para não entrar no modelo de aceitação
das teorias a partir de valores e predileções pessoais, iremos avaliar cada teoria de modo
a apresentar objetivamente a sua visão. (FEIST; COL, 2015; HALL; LINDZEY, 2004;
SCHULTZ; SCHULTZ, 2002; ALLPORT, 1966).

A pessoa como ser individual


Allport, em algum momento, disse que a característica mais notável de uma pessoa era
a singularidade, tal qual as impressões digitais, a pessoa é única e nunca existirá alguém

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UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO

como ela, que pense como ela, sinta como ela, viva como ela. A individualidade, pois,
seria a marca genuína da natureza humana. O que nos distingue em traços mentais
que são manifestados seguindo um padrão que estamos chamando de personalidade.
“Persona est substantia individua rationalis naturae – uma pessoa é uma substância
individual de natureza racional” (BOÉCIO, séc. VI, apud ALLPORT, 1973, p. 46).

Ao aceitarmos que todos os teóricos, que vieram por 20 anos discutindo acerca dos
fenômenos da personalidade, compreendem que a personalidade apresenta um
enfoque interativo, temos a certeza que a mesma não é rígida e pode apresentar traços
diferenciados de acordo com o tipo de interação existente. Allport (1973) comentou
que é inevitável que os teóricos não vejam como ponto em comum às teorias da
personalidade a singularidade da hereditariedade e do ambiente de cada pessoa; mas
veremos que nem todos os teóricos acreditam nessa premissa.

Conceito de personalidade
A origem etimológica da palavra PERSONALIDADE, segundo Allport (1973), grande
precursor e estudioso da personalidade, nos ensina que o termo advindo do inglês é
personality; do alemão persönlichkeit; do francês personnalité e do latim medieval,
personalitas; e no latim clássico persona veio com um significado comum aos
pensadores da época. A palavra que tem sua origem no latim define o nome dado às
máscaras utilizadas no teatro romano para interpretação de personagens. Outra palavra
levantada por autores é personare que significa ressoar por meio de algo. Sendo assim,
Dalgalarrondo (2008) define personalidade utilizando da etimologia da palavra e
destaca a seguinte compreensão para personalidade: “o autor/ator faz ressoar a sua
voz, a sua versão da história, por meio das diversas máscaras, das diversas personagens
que cria”.

Por ser um tema complexo, os teóricos não chegaram a um consenso da definição


da palavra, mas para Pervin e John (2008, p. 4) a definição científica da palavra
personalidade se refere a “um conjunto de pressupostos relacionados que permite que
os cientistas usem o raciocínio lógico dedutivo para formular hipóteses verificáveis”.
Veremos, ainda, que alguns autores denotarão as características ou traços individuais
que não são totalmente estáveis, mas encontram certo grau de estabilidade em
uma pessoa, e que refletem no comportamento desta pessoa como personalidade.
(DALGALARRONDO, 2008).

Um ponto interessante sobre os teóricos da personalidade está no fato de que eles não
entenderem a personalidade como um fator determinante, e, por isso, pensam o estudo
da personalidade como uma tentativa de promover o estudo da pessoa em sua totalidade,
12
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I

não segmentada. Gordon Allport (1937 apud HALL et al, 2008, p. 32) compilou quase
cinquenta definições de personalidade e as separou em categorias divididas em definição
biossocial e biofísica. “Na definição biossocial a personalidade é entendida em termos
de importância social: é a reação produzida nos outros que define a personalidade de
um indivíduo. No entanto, Allport prefere a definição biofísica, a qual fundamenta a
personalidade em características ou qualidades do próprio indivíduo: a personalidade
apresenta um aspecto constitucional e outro aparente e pode estar ligada a qualidades
específicas do indivíduo. Estas qualidades são passíveis de descrição e mensuração
objetivas” (RIES; RODRIGUES; Org., 2004).

A concepção popular de personalidade refere-se a um determinado


feixe de traços que sejam socialmente atraentes e eficientes. Os
propagandistas que pretendem ajudar no “desenvolvimento da
personalidade” procuram fortalecer esse conjunto, através de instrução
para falar em público, para postura, dançar, conversar; mesmo seus
anúncios de cosméticos pretendem esse objetivo. Diz-se que certo batom
(sic) ou roupa da moda “dá personalidade”. Neste caso, a personalidade
não chegar a atingir a pele. (ALLPORT, 1973, p. 44).

Com esta afirmativa, o autor nos revela que devemos estar atentos para não aceitar o
conceito de personalidade superficial, é popular porque implica dizer que uma pessoa
tem «mais» ou “menos» personalidade que outra. Para ele, no sentido psicológico,
todas as pessoas são importantes no estudo da personalidade.

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CAPÍTULO 2
A teoria no estudo da personalidade

A teoria por ela mesma


Todorov (2007) aborda um aspecto importante sobre a teorização, no que diz respeito
à psicologia, nos faz refletir quando se refere às definições. Para ele, definições de
Psicologia têm variado no tempo e de acordo com as características de seus autores.
Problemas surgidos no âmbito da Filosofia ou da ciência refletem-se em várias dessas
definições. Por exemplo, é muito conhecida a definição de Psicologia como o estudo
da mente. Entre outros problemas, essa definição coloca a questão de saber-se o que
é a mente para que a definição seja inteligível. Alguns preferem referir-se a uma vida
mental, um conceito aparentemente menos estático que mente. A Psicologia seria a
ciência da vida mental, o que quer que venha a ser vida mental. Outros, mais preocupados
com o significado e as implicações dos termos incluídos em uma definição, afirmam
ser a Psicologia o estudo do comportamento. Essa definição, como as anteriores, antes
de explicar algo, levanta a necessidade de outra definição; neste caso, a definição de
comportamento.

Portanto, comecemos pelo questionamento sobre o que é teoria. Compreendemos que


é impossível definir personalidade sem a escolha de uma linha teórica de referência
na qual a personalidade será pesquisada. Uma teoria existe em oposição ao fato, uma
especulação sobre a realidade que ainda não fora conhecida. A partir do momento em
que essa teoria é confirmada ela passa a se tornar um fato. A construção de uma teoria
ocupa o lugar de visibilidade no esquema das ciências exatas, no entanto, torna-se um
fenômeno cotidiano quando vista fora de suas propriedades formais e lógicas (HALL;
LINDZEY, 2004; BURTON, 1978).

A teoria possibilita a coleta ou observação de relações empíricas


relevantes e ainda não observadas. A teoria deveria permitir a expansão
sistemática do conhecimento sobre os fenômenos de interesse, e essa
expansão deveria ser estimulada por proposições empíricas específicas
derivadas da teoria (afirmações, hipóteses, predições) e que são sujeitas
à prova. (HALL; LINDZEY, 2004, p. 9).

A teoria não é utilizada apenas por cientistas e nem todas elas são propostas de maneira
formal precisando de vários postulados e inferências. A teoria pessoal implícita é vista
em nosso cotidiano a partir das interações que realizamos diariamente, as suposições
feitas sobre a personalidade daqueles do nosso meio e especulação sobre a natureza

14
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I

humana de um modo geral, por exemplo, pode nos fazer acreditar que todas as pessoas
são boas, ou todas as pessoas só se importam consigo mesmas. Dadas as suposições,
podemos intuir que elas são teorias uma vez que são estruturadas dentro das quais
colocamos os dados das nossas observações dos outros. Se nos baseamos nos dados
que coletamos de nossas percepções sobre o comportamento daqueles que nos cercam,
então nossas teorias derivam das nossas observações. Deste modo, as teorias pessoais
são semelhantes às formais. Ainda podemos averiguar que as teorias formais têm
mais probabilidade de serem objetivas, uma vez que as observações de cientistas não
são idealmente influenciadas pelas suas necessidades, temores, desejos e valores;
diferentemente das teorias informais que são baseadas tanto na observação de nós
mesmos quanto na dos outros. Na teoria informal há uma tendência a interpretar as
atitudes de outras pessoas em termos das nossas ideias e sentimentos, avaliamos as
reações ou uma situação com base no que faríamos ou em como nos sentiríamos, de
tal modo, as teorias informais parecem mais pessoais e subjetivas no que diferem dos
cientistas que observam de forma mais objetiva e imparcial. A teoria é um conjunto
de normas delimitadas que permite ao pesquisador trabalhar sem se preocupar com
todos os aspectos do fenômeno que estuda. Ela permite que o observador continue a
fazer abstração a partir da complexidade natural de maneira sistemática e eficiente
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2002; HALL; LINDZEY, 2004).

Subjetividade nas teorias da personalidade


Podemos inferir que a teoria da personalidade consiste em um conjunto de postulados
sobre o comportamento humano, juntamente com regras para estabelecer relações entre
os postulados e definições que permitam sua interação com dados empíricos observáveis.
As teorias da personalidade são o conjunto de teorias gerais do comportamento e se
distinguem das teorias psicológicas. As teorias da personalidade procuram analisar
fatos mais variados, na medida em que tem um significado funcional para o indivíduo.
A teoria motivacional do comportamento e as teorias da aprendizagem não são em si
teorias da personalidade, no entanto, passam a ser parte da teoria da personalidade por
serem uma teoria geral do comportamento.

Schultz e Schultz (2002) explicam que um aspecto importante de toda a teoria da


personalidade é a imagem da natureza ou o meio formulado pelo teórico. Cada
teórico tem uma concepção da natureza humana que aborda uma série de perguntas
fundamentais, as quais se concentram no âmago do que significa ser humano. As várias
imagens da natureza humana oferecidas pelos teóricos nos permitem fazer comparações
significativas de suas visões. Essas concepções não são diferentes das teorias pessoais,
uma vez que são estruturas nas quais os teóricos percebem a si próprios e a outras

15
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO

pessoas, e dentro das quais eles constroem suas teorias. No entanto, o que se segue
é que as teorias da personalidade têm de ser verificáveis, esclarecerem e explicarem
os dados da personalidade e serem úteis para entender e prever comportamentos. Os
autores ainda relatam que os teóricos da personalidade divergem quanto às questões
básicas sobre a natureza humana, como vimos anteriormente: livre arbítrio versus
determinismo, natureza versus criação, a importância do passado versus o presente,
peculiaridade versus universalidade, equilíbrio versus crescimento e otimismo versus
pessimismo (Ibidem). Outro aspecto importante considerado por Hall e Lindzey (2004,
p. 17) é que:

Nenhum teórico da personalidade nega a importância da aprendizagem,


alguns preferem preocupar-se mais com as aquisições, os resultados
da aprendizagem, do que com o próprio processo. Isso se torna um
ponto de divergência entre os que se opõem a estudar primariamente o
processo de mudança e os que se mostram interessados nas estruturas
estáveis ou aquisições da personalidade em determinado momento.

Dentro da psicologia, a personalidade é um tema muito importante, talvez porque haja


uma tendência entre os psicólogos em encontrar dentro das teorias da personalidade
um foco, um método, uma tendência de abordar os aspectos da personalidade de
modo apropriado e sistemático. No entanto, são os psicólogos da personalidade
que, na tentativa de compreender os aspectos do funcionamento de um indivíduo,
suas diferenças, suas percepções e o funcionamento total de cada pessoa, buscam
concentrar-se nos aspectos psicológicos sem deixar de lado as outras relações que
ocorrem dentro desses processos.

A integração da forma do funcionamento do ser humano envolve mais do que


compreender cada indivíduo separadamente mas também observá-lo como um
todo, saindo do círculo de relevância dos processos mentais e abrangendo os fatores
fisiológicos, sociais, econômicos, ambientais, genéticos e hereditários, além dos aspectos
intrínsecos e extrínsecos aos seres humanos; o que faz do estudo da personalidade um
complexo campo de estudo.

A complexidade do tema, os aspectos multifacetados e a falta de normatização que


induz ao erro e a simplicidade não devem inibir o teórico de estudar os aspectos da
personalidade, no entanto, há o alerta para que não ocorra o determinismo que as
teorias não propõem. Para Pervin e John (2008, p. 23), “a personalidade representa
aquelas características da pessoa que explicam padrões consistentes de sentimentos,
pensamentos e comportamentos”. Uma vez que os padrões são consistentes, eles não
são imutáveis, eles consistem num modelo, mas variam dentro desse modelo.

16
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I

Vimos que nas teorias da personalidade existem um componente subjetivo que reflete
os eventos da vida dos teóricos, e que por mais cientistas que sejam, por mais que
tentem ser objetivos e imparciais, acabam revelando pontos pessoais que normalmente
influenciam a sua percepção e a formulação teórica. Isso não significa dizer que toda
teoria da personalidade seja pessoal, uma vez que existem teorias que são testadas em
relação à realidade do teórico, em relação ao que propõe.

A teoria formal tenta ser objetiva ao fazer suas observações e analisar os dados que
podem corroborar ou refutar a sua teoria. No entanto, todas as teorias da personalidade
têm como objetivo buscar características psíquicas do homem e interpretá-las,
trazendo-as para o mundo objetivo como forma de conhecimento da pessoa. Portanto,
certa importância nas teorias da personalidade é a forma como o teórico enxerga
a natureza humana, uma vez que esses pontos de vista divergem entre eles e são
trabalhados em cima do que eles entendem por ser humano. Schultz e Schultz (2002)
nos apresenta tipos de natureza humana que são trazidos pelos teóricos na construção
de suas teorias e que explicam o modo como eles enxergam o homem, são eles:
livre-arbítrio ou determinismo; natureza ou criação; passado ou presente; singularidade
ou universalidade; equilíbrio ou crescimento; otimismo ou pessimismo. Que não
trataremos aqui, mas veremos continuamente nas propostas dos teóricos de cada
orientação psicológica.

A Psicologia dos Psicólogos


(...) somos obrigados a renunciar à pretensão de determinar para as múltiplas
investigações psicológicas um objeto (um campo de fatos) unitário e coerente.

Consequentemente, e por sólidas razões, não somente históricas mas


doutrinárias, torna-se impossível à Psicologia assegurar-se uma unidade
metodológica. (...) Por isso, talvez fosse preferível falarmos, ao invés de
“psicologia”, em “ciências psicológicas”. Porque os adjetivos que acompanham
o termo “psicologia” podem especificar, ao mesmo tempo, tanto um domínio
de pesquisa (psicologia diferencial), um estilo metodológico (psicologia clínica),
um campo de práticas sociais (orientação, reeducação, terapia de distúrbios
comportamentais etc.) quanto determinada escola de pensamento que chega
a definir, para seu próprio uso, tanto sua problemática quanto seus conceitos
e instrumentos de pesquisa. (...) não devemos estranhar que a unidade da
Psicologia, hoje, nada mais seja que uma expressão cômoda, a expressão de
um pacifismo ao mesmo tempo prático e enganador. De onde não há nenhum
inconveniente em falarmos de “psicologias” no plural. Numa época de mutação

17
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO

acelerada como a nossa, a Psicologia se situa no imenso domínio das ciências


“exatas”, biológicas, naturais e humanas. Há diversidade de domínio e diversidade
de métodos. Uma coisa, porém, precisa ficar clara: os problemas psicológicos
não são feitos para os métodos; os métodos é que são feitos para os problemas.
(...) Interessa-nos indicar uma razão central pela qual a Psicologia se reparte em
tantas tendências ou escolas: a tendência organicista, a tendência fisicalista, a
tendência psico-sociológica, a tendência psicanalítica etc. Qual o obstáculo
supremo impedindo que todas essas tendências continuem a constituir “escolas”
cada vez mais fechadas, a ponto de desagregarem a outrora chamada “ciência
psicológica”? A meu ver, esse obstáculo é devido ao fato de nenhum cientista,
consequentemente, nenhum psicólogo, considerar-se um cientista “puro”.
Como qualquer cientista, todo psicólogo está comprometido com uma posição
filosófica ou ideológica. Este fato tem uma importância fundamental nos
problemas estudados pela Psicologia. Esta não é a mesma em todos os países.
Depende dos meios culturais. Suas variações dependem da diversidade das
escolas e das ideologias. Os problemas psicológicos se diversificam segundo as
correntes ideológicas ou filosóficas venham reforçar esta ou aquela orientação
na pesquisa, consigam ocultar ou impedir este ou aquele aspecto dos domínios
a serem explorados ou consigam esterilizar esta ou aquela pesquisa, opondo-se
implícita ou explicitamente a seu desenvolvimento. (...)

Japiassu, Hilton, 1983, pp. 24-26, apud Bock e Col, 2001, pp. 34-35.

18
CAPÍTULO 3
Avaliação e pesquisa no estudo da
personalidade

Avaliação no estudo da personalidade

Avaliação da personalidade é um procedimento bastante utilizado não apenas na clínica


psicológica como também em escolas, empresas, orientações profissionais, juizados,
pesquisadores e atualmente até os coaches recomendam algum teste de avaliação
psicológica da personalidade para um melhor autoconhecimento do seu coachee.
Existe uma gama de testes que avaliam a personalidade e que são reconhecidos por
sua padronização, confiabilidade e validade, características fundamentais para que um
teste esteja dentro do rol de testes aceitos pelo órgão responsável pela profissão. Caberia
ainda dizer que as avaliações psicológicas realizadas sejam a partir de testes, entrevistas,
análises, etc., que são sugeridos como complemento para o psicodiagnóstico, devem
ser aplicados apenas por profissionais capacitados da psicologia. “Entendemos que
não basta esclarecer a sociedade sobre a importância da avaliação psicológica. Temos
que trabalhar para que o seu uso seja mais consequente e venha oferecer visibilidade
ao sujeito, e não apenas à sua patologia. Nesse sentido, a avaliação será reconhecida
como necessária se responder às necessidades daquele que a ela se submete”. (CFP,
2007 p. 6).

Quando falamos em padronização de uma avaliação estamos apontando para a


consistência ou uniformidade das condições em que o teste está sendo aplicado,
assim como a uniformidade do procedimento. As técnicas avaliativas diferem em
níveis de objetividade ou subjetividade, sendo que quando subjetivas somos sujeitos à
parcialidade e os resultados das técnicas podem vir distorcidos a partir das características
da personalidade do sujeito avaliado. Ainda, em se tratando de confiabilidade, é
quando dizemos que há consistência das respostas, a partir de um método de avaliação
psicológica utilizado nos testes. Portanto, um teste é considerado confiável uma vez
que os seus resultados sejam consistentes, ou seja, não deve haver grande variação
na pontuação de um teste feito. Já para validade, dizemos que o método de avaliação
corresponde ao que é proposto, por exemplo, se o teste propõe medir, ele então deve
apresentar resultados correspondentes à medição. (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).

19
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO

Métodos de avaliação
Alguns métodos de avaliação podem ser descritos aqui como resultado da interação da
teoria e da singularidade do teórico que propõe a avaliação. Os teóricos desenvolveram
métodos peculiares para avaliar as personalidades distintas conforme adequação de
sua própria teoria, de modo que aplicando esse método o teórico pudesse obter as
respostas, baseando-se em suas formulações. As técnicas variam entre objetividade,
confiabilidade e validade e vão da interpretação dos sonhos e lembranças da infância
aos testes feitos no papel. Citaremos alguns enfoques de avaliação da personalidade
que são os inventários objetivos ou autorrelatos; técnicas projetivas; entrevistas
clínicas; procedimentos de avaliação comportamental; procedimentos de avaliação de
amostragem de ideias.

Pesquisa no estudo da personalidade


Uma teoria necessária é quando ela incentiva a pesquisa. Segundo Schultz e Schultz
(2002), os psicólogos estudam uma personalidade de diversas maneiras; o método
utilizado vai depender do aspecto da personalidade que ele pretende investigar. Alguns
psicólogos estão interessados apenas no comportamento em situações específicas ou
como resposta a determinado estímulo; já outros se preocupam com sentimentos e
experiências conscientes que geralmente são medidos a partir de testes e questionários;
há ainda psicólogos que se preocupam em compreender as forças inconscientes que
motivam as pessoas. Desta forma, o método utilizado para examinar um aspecto da
personalidade pode não ser útil para outro aspecto.

Enfoque de Pesquisa Idiográfica - tem um objetivo geralmente terapêutico em


virtude do psicólogo que aplica querer alcançar um conhecimento maior sobre a pessoa
em tratamento, ou ainda quando o pesquisador quer obter uma compreensão geral da
personalidade humana.

Enfoque de Pesquisa Nomotética - está relacionado à comparação e análise das


diferenças estatísticas entre amostras estudadas. O objetivo desse tipo de pesquisa é
obter dados que possam ser generalizados para uma quantidade maior de pessoas.

Existem três métodos utilizados para pesquisas da personalidade, que embora diferentes
baseiam-se na observação objetiva, a qual é uma característica da pesquisa científica
em qualquer disciplina.

Método Clínico - baseia-se na história do caso, ou estudo de caso, no qual o psicólogo


procura dados relevantes da história de vida passada e presente de seus pacientes que

20
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I

indiquem a raiz de seus problemas emocionais. Para o profissional, trabalhar com


estudo de caso é se aprofundar na história de vida do paciente desde os primeiros
anos, a fim de alcançar os sentimentos, temores e vivências descritos por eles. Um dos
estudiosos que utilizou em grande escala o estudo de casos foi Sigmund Freud, de modo
a construir a teoria da psicanálise. Por meio de uma série de estudo de casos, Freud
elaborou sua teoria da personalidade. Para investigar a personalidade os psicólogos
utilizam de métodos clínicos. Além do estudo de casos, os métodos conhecidos são os
testes, entrevistas e análise dos sonhos que podem ser utilizados para avaliação.
Embora o método clínico seja bastante conhecido e utilizado por vários profissionais, e
pretenda ser considerado um método científico, ele visivelmente não oferece a precisão
e o controle necessários, dando margem a uma interpretação que pode refletir tanto na
predisposição pessoal do profissional avaliador quanto envolver lembranças distorcidas
da infância do avaliado. No entanto, o método clínico abre portas para que adentremos
nas profundezas das características da personalidade de uma pessoa.

Método Experimental - esse método preenche os requisitos de observações bem


controladas e sistemáticas assim como a duplicação e a verificação dos dados. É possível
ao aplicador replicar as condições, ou melhor, duplicar as condições de avaliação,
obtendo o controle cuidadoso das condições experimentais levados em consideração,
no entanto a exatidão detalhada dos acontecimentos da vida de uma pessoa não existe.
Ainda no método experimental, é possível se trabalhar com apenas uma variável,
manipulando outra variável com um experimento. Um experimento é uma técnica para
determinar o efeito de uma ou mais variáveis ou eventos sobre o comportamento.

Método Correlacional - se trata do estudo de relações existentes e não manipuladas


como no método experimental. Aqui, a relação irá existir entre as variáveis. (ex.: Se um
comportamento em uma variável difere ou muda em função de outra variável).

Apontamentos sobre avaliações da


personalidade
A avaliação psicológica não tem apenas um objetivo, ela pode ser usada para verificação
de hipóteses seja na área educacional, prisional, da saúde, servir como prognóstico,
encaminhamento, diagnóstico e intervenção.

O objetivo do processo avaliativo é decidir a técnica que será utilizada no processo de


avaliação psicológica, neste caso iremos falar um pouco dos instrumentos de avaliação
da personalidade, que deve ser sempre aplicado por um profissional psicólogo, devendo
este ter o cuidado de averiguar se o teste está válido. Para isso, o Conselho Federal
de Psicologia disponibiliza uma página na internet <http://satepsi.cfp.org.br/> que

21
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO

atualiza o profissional dos testes psicológicos no mercado e que estão com os seus
procedimentos corretos.

Alguns dos testes psicológicos que estão validados e são utilizados para o estudo da
personalidade são:

Quadro 1.

Maiana
Farias Oliveira
Bateria Nunes.;
Bateria
Fatorial de Claudio Simon Casa do
Fatorial de 2010 21/10/2008 1/8/2009 Favorável
Personalidade Hutz; Carlos Psicólogo
Personalidade
(BFP) Henrique
Sancineto da
Silva Nunes;

Questionário de
Carmen
Personalidade
E. Flores-
EPQ-J para Crianças 2012 Vetor Editora 25/7/2012 21/9/2013 Favorável
Mendonza e
e Adolescentes
Colaboradores;
(EPQ-J)
Casa ? Árvore
? Pessoa
Renato Cury
(HTP) Manual 2003 Vetor 2/7/2003 16/1/2004 Favorável
HTP Tardivo;
e Guia de
Interpretação

INVENTÁRIO Tatiana
LabPam ?
REDUZIDO DOS Severina de
ICFP-R Universidade 22/5/2003 17/4/2004 Favorável
CINCO FATORES DE Vasconcelos;
de Brasília
PERSONALIDADE Luiz Pasquali;

Maria
Inventário
Mazzarello LabPam ?
Fatorial de
1999 Azevedo; Universidade 22/5/2003 27/9/2003 Favorável
Personalidade
Ivânia Ghesti; de Brasília
- IFP-R
Luiz Pasquali;
Irene F.
IFP Almeida de
IFP- II Sá Leme;
Inventário Ivan Sant?ana Casa do
2012 Rabelo; 6/11/2012 24/5/2013 Favorável
Fatorial de Psicólogo
Personalidade Gisele
Aparecida da
Silva Alves;

22
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I

Inventário
Fatorial de
Personalidade Bartholomeu
Tôrres Tróccoli; LabPAM Saber
IFP-R Revisado 2013 24/10/2013 22/3/2014 Favorável
e Tecnologia
- Forma Luiz Pasquali;
Reduzida -
IFP-R

Inventário Inventário
Hogan de Hogan de Gleiber Couto; Ainda não
2009 23/9/2014 27/6/2015 Favorável
Personalidade Personalidade André Holer; publicado
(HPI) (HPI)

MBTI - Myers-
Fellipelli
Briggs Type
MBTI - Myers- Instrumentos de
Indicator
Briggs Type 2010 Gleiber Couto; Diagnóstico e 26/3/2010 31/1/2013 Favorável
- Inventário
Indicator Desenvolvimento
de Tipos
Organizacional
Psicológicos

Terceira
Lucia Maria Margem 5/12/2003
Rorschach Clínico 2007 2/9/2003 Favorável
Sálvia Coelho; Editora 13/3/2004
Didática Ltda
O Rorschach:
Teoria e
2004 Cicero E. Vaz; 10/1/2005 12/5/2006 Favorável
Desempenho
(Sistema Klopfer)
Regina
Sonia Gattaz
Fernanades
do
Nascimento;
Rorschach 5/7/2003
Antonio Casa do
? Sistema 2003 5/6/2002 Favorável
Carlos Psicólogo 25/10/2003
Compreensivo
RORSCHACH Pacheco e
Silva Neto;
Anna Elisa
de Villemor
Amaral;
Rorschach
- Sistema
da Escola
Francesa ( 1. O
Psicodiagnóstico Casa do
Sônia Regina
de Rorschach 2000 Psicólogo e 2/7/2003 22/1/2005 Favorável
Pasian;
em Adultos: Vetor
Atlas, Normas
e Reflexões. 2.
A Prática do
Rorschach)

23
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO

Adele de
Miguel;
Leila
Salomão de
Técnica de La Plata Cury
Apercepção Tardivo;
SAT 2012 Vetor Editora 30/10/2012 24/5/2013 Favorável
para Idosos Maria Cecília
- SAT de Vilhena
Morais Silva;
Silésia Maria
Veneroso
Delphino Tosi;

Teste de
José de
Apercepção Casa do
TAT 1995 Souza e Mello 5/6/2002 25/10/2003 Favorável
Temática - Psicólogo
Werneck;
T.A.T.
Fonte: <http://satepsi.cfp.org.br/listaTeste.cfm>. Acesso em 10 out 2016.

Forneço parte da Cartilha sobre avaliação psicológica para que possamos


compreender melhor os aspectos formais que a regem, conforme Conselho
Federal de Psicologia.

Caso queiram mais informações, consultem nossa biblioteca ou acessem o


endereço eletrônico ao final do texto.

Sobre avaliação psicológica


Qual a diferença entre avaliação psicológica e testagem psicológica?
A avaliação psicológica é um processo amplo que envolve a integração de
informações provenientes de 9 diversas fontes, dentre elas, testes, entrevistas,
observações, análise de documentos. A testagem psicológica, portanto, pode
ser considerada uma etapa da avaliação psicológica, que implica a utilização de
teste(s) psicológico(s) de diferentes tipos.

Quais os problemas frequentemente (sic) identificados pelas Comissões de


Orientação e Fiscalização (COFs) e as possibilidades de solução? Os problemas
mais frequentes são os referentes à inadequação do uso dos testes psicológicos,
especialmente nas situações apontadas a seguir:

» Sobre as condições do aplicador: deve estar preparado tecnicamente


para a utilização dos instrumentos de avaliação escolhidos, estando
treinado para todas as etapas do processo de testagem, para poder
oferecer respostas precisas às eventuais questões levantadas pelos

24
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I

candidatos, transmitindo-lhes, assim, segurança; deve planejar


a aplicação do instrumento, levando em consideração o tempo
necessário bem como o horário mais adequado, e deve treinar
previamente a leitura das instruções para poder se expressar de forma
espontânea durante as instruções (Título IV do Anexo da Resolução
CFP no 012/2000);

» Sobre a permissão de uso de um determinado teste: é sempre


importante que seja consultado o Sistema de Avaliação de Testes
Psicológicos (SATEPSI). Esse sistema é constantemente atualizado,
contém a relação de todos os testes psicológicos submetidos à
apreciação do CFP e fornece informações sobre sua condição de uso
(parecer favorável ou desfavorável;

» Sobre as condições de aplicação: devem ser seguidas as especificações


contidas nos manuais de cada teste utilizado, que só pode ser aplicado
por psicólogos (se for um estudante de Psicologia, a aplicação deverá
ser supervisionada por psicólogo);

» Sobre as características do material: deve estar de acordo com


a descrição apresentada no manual e em condições adequadas
de conservação e utilização. É importante que os testes estejam
arquivados em local apropriado, ao qual não possam ter acesso outras
pessoas;

» Sobre os protocolos respondidos: é necessário que sejam mantidos


arquivados, bem como conservados sob sigilo.

Quais os principais cuidados a serem seguidos na elaboração de um


relatório/laudo psicológico? Sempre levando em consideração sua finalidade,
o laudo deverá conter a descrição dos procedimentos e conclusões resultantes
do processo de avaliação psicológica. O documento deve dar direções sobre
o encaminhamento, intervenções ou acompanhamento psicológico. As
informações fornecidas devem estar de acordo com a demanda, solicitação
ou petição, evitando-se a apresentação de dados desnecessários aos objetivos
da avaliação. Mais detalhes sobre a elaboração desse documento podem ser
obtidos mediante a consulta da Resolução CFP no 7/2003.

Que competências um psicólogo necessita para realizar avaliação


psicológica? Em princípio, basta que o profissional seja psicólogo para que
ele possa realizar avaliação Psicológica. Entretanto, algumas competências

25
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO

específicas são importantes para que esse trabalho seja bem fundamentado e
realizado com qualidade e de maneira apropriada:

» Ter amplos conhecimentos dos fundamentos básicos da Psicologia,


dentre os quais podemos destacar: desenvolvimento, inteligência,
memória, atenção, emoção, etc., construtos esses avaliados por
diferentes testes e em diferentes perspectivas teóricas.

» Ter domínio do campo da psicopatologia, para poder identificar


problemas graves de saúde mental ao realizar diagnósticos. Possuir
um referencial solidamente embasado nas teorias psicológicas
(psicanálise, Psicologia analítica, fenomenologia, Psicologia sócio-
histórica, cognitiva, comportamental, etc.), de modo que a análise e
interpretação dos instrumentos seja coerente com tais referenciais.

» Ter conhecimentos da área de psicometria, para poder julgar as


questões de validade, precisão e normas dos testes, e ser capaz de
escolher e trabalhar de acordo com os propósitos e contextos de cada
um.

» Ter domínio dos procedimentos para aplicação, levantamento


e interpretação do(s) instrumento(s) utilizados para a avaliação
psicológica.

Quais os principais cuidados que o psicólogo dever ter na escolha de um


teste psicológico? Na escolha de um teste como instrumento de avaliação
psicológica, é fundamental que o psicólogo consulte o Sistema de Avaliação
de Testes Psicológicos (SATEPSI), disponível no site do Conselho Federal de
Psicologia <www.pol.org.br>, com o intuito de verificar se ele foi aprovado para
uso em avaliação psicológica. Em caso afirmativo, ele deverá, então, consultar
o manual do referido teste, de modo a obter informações adicionais acerca do
construto psicológico que ele pretende medir bem como sobre os contextos e
propósitos para os quais sua utilização se mostra apropriada.

Quais os principais cuidados que o psicólogo deve ter para utilizar um teste
psicológico?

» Verificar se as pessoas estão em condições físicas e psíquicas para


realizar o teste.

» Verificar se não existem dificuldades específicas da pessoa para


realizar o teste, sejam elas físicas ou psíquicas. Utilizar o teste dentro
dos padrões referidos por seu manual.

26
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I

» Cuidar da adequação do ambiente, do espaço físico, do vestuário dos


aplicadores e de outros estímulos que possam interferir na aplicação.

Quais são os princípios éticos básicos que regem o uso da avaliação


psicológica? É necessário que o psicólogo se mantenha atento aos seguintes
princípios:

» Contínuo aprimoramento profissional visando ao domínio dos


instrumentos de avaliação psicológica.

» Utilização, no contexto profissional, apenas dos testes psicológicos


com parecer favorável do CFP que se encontram listados no SATEPSI.

» Emprego de instrumentos de avaliação psicológica para os quais o


profissional esteja qualificado. Realização da avaliação psicológica em
condições ambientais adequadas, de modo a assegurar a qualidade e
o sigilo das informações obtidas.

» Guarda dos documentos de avaliação psicológica em arquivos seguros


e de acesso controlado.

» Disponibilização das informações da avaliação psicológica apenas


àqueles com o direito de conhecê-las.

» Proteção da integridade dos testes, não os comercializando,


publicando ou ensinando àqueles que não são psicólogos.

Fonte: <http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Cartilha-Avalia%C3%A7%C3%A3o-
Psicol%C3%B3gica.pdf> Acesso em 13 de Julho 2016.

27
TEORIAS DA UNIDADE II
PERSONALIDADE

Figura 2.

Fonte: <http://www.academiapolitica.com.br/2016/04/22/personalidade-dos-politicos/>Acesso em: 14 de julho 2016.

CAPÍTULO 1
Teorias psicodinâmicas

Falar de personalidade envolve um conceito dinâmico que abrange todo um sistema


integrado de crescimento e desenvolvimento do que podemos chamar de estrutura
psicológica. Para Dalgalarrondo (2008), a personalidade é um conjunto integrado,
dinâmico em relação às possiblidades de mudanças existenciais ou alterações
neurobiológicas como também estável quando a percebemos como um sistema formado
ao longo da vida do indivíduo. Sua plasticidade é vista uma vez que se encontra em
constante desenvolvimento, no entanto, sua estabilidade permanece em termos da
formação dos conteúdos (vindos do mundo externo associados com a tradução individual
dos estímulos exteriores) que a compõem. Ainda segundo o autor, a personalidade é
um conjunto integrado de traços psíquicos, que moldam as caraterísticas individuais
na relação do indivíduo com o meio, porém, ainda, fazendo parte desse contexto
de formação dos traços psíquicos estão os fatores biológicos, físicos, psíquicos,
socioculturais, tendências inatas e adquiridas das experiências de vida.
28
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

O desenvolvimento da personalidade, conforme Freud, dá ênfase aos aspectos evolutivos


e destaca a importância dos primeiros anos de vida na estruturação do caráter do sujeito.
Freud baseou sua teoria nos tratamentos psicanalíticos com seus pacientes e percebeu
que a vivência da primeira infância no processo psicanalítico era recorrente. Segundo
o autor, a personalidade se estrutura em torno do crescimento fisiológico, frustrações,
conflitos e perigos. Significa dizer que a constante tensão produzida leva uma pessoa
a desenvolver respostas próprias que a conduzem à redução da tensão, e assim, nesse
processo, a personalidade vai se desenvolvendo. (HALL; LINDZEY, 1984).

Teoria psicanalítica Sigmund Freud


A teoria psicanalítica de Freud, marcada no final do século XIX, surgiu em oposição à
psicologia tradicional da consciência, a qual valorizava os processos mentais ativos tais
como os sentidos, o pensamento e a imaginação. Para Freud, a premissa da psicanálise
é que o psiquismo se divide em consciente e inconsciente, uma vez que “a psicanálise
não pode situar a essência do psiquismo na consciência, mas é obrigada a encarar esta
como uma qualidade do psiquismo, que pode achar-se presente em acréscimo a outras
qualidades, ou estar ausente”. (FREUD [1923-1925], 1996, p. 25). É aqui onde vamos
encontrar os níveis da personalidade, em que Freud comparava a mente humana a
um iceberg, no qual a ponta seria o consciente; o inconsciente estaria situado abaixo
da superfície do iceberg e seria a maior parte do psiquismo; e entre eles estaria o
pré-consciente.

Figura 3.

Fonte: <https://artigosdepsicanalise.wordpress.com/2016/07/08/teori-topografica/>. Acesso 8 agosto 2016.

29
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Para Freud, o estar consciente é um termo que descreve o momento transitório de


conteúdos capazes de tornarem-se conscientes. Se, então, percebemos a estrutura
mental como um processo dinâmico, continuamos a compreender o pensamento
de Freud quando este elabora questões acerca da inconsciência como um estado
em que os conteúdos foram reprimidos pela energia psíquica. É dentro do conceito
de repressão – uma força que resiste ao encontro do conteúdo mental, memória,
percepção, sensação com a consciência – que conseguimos entender do que se trata
esse processo. Freud ainda fala de dois tipos de inconsciente, o que é latente, e por isso
é possível tornar-se consciente, e o outro que é reprimido e não consegue por si próprio
tornar-se consciente, apenas com trabalho de análise. É nessa ideia de inconsciente
latente que Freud formulou o conceito de pré-consciente, dessa forma o inconsciente
se transforma em conteúdo da dinâmica reprimida, mas que pode ser acessado.

A ideia do inconsciente, em oposição à ciência psicológica da consciência, ao mesmo


tempo fala sobre impulsos sexuais e de agressão que estão situados no organismo e
são expelidos através dos impulsos biológicos e dos conflitos da infância. A vivência
de um ciclo homeostático de tensão impulsiona ou motiva o sistema mental para a
e resolução da tensão, isso pode ocorrer através da satisfação da necessidade, com
respostas adaptadas ou não adaptadas. (HALL; LINDZEY, 1984, pp. 22-25)

Destarte pode considerar a seguinte compreensão trazida por Feist, Feist e Roberts
(2005, p.20) sobre as instâncias da mente em que o modelo topográfico - existência de
consciente e inconsciente – ficou para trás, dando margem a uma teoria mais profunda
que ajudou a explicar as vicissitudes das imagens mentais representadas pelos sonhos
e trazidas na hipnose.

Nesse modelo de teoria, Freud considerava o homem como um sistema (mental)


dinâmico sujeito às alterações induzidas pelas leis da natureza. Esse dinamismo já
revela que o sistema mental proposto não funciona isoladamente, mas opera por meio
do que ele denominou três sistemas formadores da personalidade. Estes geram uma
energia psíquica que se desloca para objetos substitutos, esse deslocamento gera uma
energia chamada energia resultante do comportamento para uma série de atividades.
(HALL; LINDZEY, 1984)

Freud foi educado sob a influência da filosofia positivista e marcadamente


determinista do século XIX, razão pela qual considerava o ser humano
como um sistema complexo de energia, a qual se origina da alimentação
e é gasta nos processos da circulação, do pensamento, da memória, da
respiração, do exercício muscular e da percepção. Freud não via motivo
para admitir que a energia que produz força para a respiração e a

30
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

digestão seja diferente, exceto na forma, da energia que produz a força


para pensar e para recordar.

(HALL; LINDZEY, 1984, p. 28)

A teoria da personalidade que se estruturava a partir dos sistemas mentais conhecidos


como id [das Es], ego ou “eu” [das Ich] e superego ou “supereu” ” [Uber-Ich], se
formulou a partir dos princípios conhecidos como Impulsos - tensão ou instintos vistos
como forças motivadoras que impulsionam o comportamento, ou seja, uma forma de
energia fisiológica que uni as necessidades biológicas aos desejos mentais. Os impulsos
internos que são revelados pelos estímulos transformam-se em uma necessidade ou
uma tensão que necessita ser satisfeita. (HALL; LINDZEY, CAMPBELL, 2004; FREUD,
1996,; SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).

Falar sobre essa dinâmica da personalidade construída por Freud é pensar nos
níveis mentais e nas instâncias da mente em relação à estrutura ou composição da
personalidade, uma vez que estas fazem ou proporcionam princípios motivadores –
que explicam a força motora por traz das ações das pessoas, e por isso postulamos uma
dinâmica da personalidade. Essa motivação à procura da satisfação do prazer e redução
da tensão e da ansiedade é derivada de uma energia psíquica física que nasce dos
impulsos básicos, neste caso, os Trieb (impulsos) “operam como uma força motivacional
constante. Como estímulo interno, diferem dos estímulos externos na medida em que
não podem ser evitados pela fuga”. (FIEST, FIEST; ROBERTS, 2105. p. 22).

Os impulsos seriam sexuais (eróticos ou Eros) ou agressivos (destruição ou Tanatos).


Freud nos leva à compreensão de uma teoria para infindáveis discussões, definições,
terminologias e abrangência de que existem aspectos dinâmicos no entendimento de
suas formulações e que nos instigam a pensar sobre uma teoria da personalidade. Sobre
a personalidade é preciso destacar a importância que Freud dava aos primeiros anos
de vida para estruturação do caráter de uma pessoa. Para ele, aos cinco anos de idade
já se apresenta uma personalidade básica, sendo os anos subsequentes dedicados à
elaboração de uma estrutura.

Em se tratando dos desejos destrutivos libidinosos da criança, além dos impulsos


incestuosos e homossexuais de todos os seres humanos e da motivação sexual como
uma explicação para o comportamento humano, a teoria de Freud foi criticada, uma vez
que se via muito próxima de uma visão mecanicista e determinista da própria ciência do
século XIX. Para os cientistas daquela época a teoria de Freud não era suficientemente
humana, por pintar um quadro triste demais desta natureza. Portanto, sua teoria fora
consagrada pelo pensamento da época por enriquecer as teorias do comportamento,

31
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

por trazer alusão literária e mitológica na tradução das imaginações, hipnose, sonhos e
pensamentos humanos assim como o conceito de inconsciente.

Importante que tenhamos em mente a definição da força pulsional explicada por Hall,
Lindzey e Campbell (2000, p. 56) quando dizem que “o instinto é um quantum de
energia psíquica ou, como Freud colocou, ‘uma medida da exigência feita à mente para
trabalhar (1905a, p. 168)’”. Para uma melhor compreensão, os autores continuam: “a
meta do instinto é a remoção da excitação corporal”, ou seja, “a meta do instinto de fome,
por exemplo, é abolir a deficiência nutricional, o que conseguimos, evidentemente,
comendo o alimento”. Deste modo, podemos concluir que o comportamento de uma
pessoa é acionado por estímulos internos que só terminam quando a ação acertada for
a de remover ou diminuir a estimulação.

O comportamento é controlado por impulsos inconscientes, no caso das crianças suas


habilidades cognitivas se desenvolvem devido à necessidade de gratificação para sua
homeostase. Nesses estágios, a criança estimula suas zonas erógenas em busca da
gratificação de suas necessidades básicas (vistas como sexuais). Freud revela que a cada
fase do desenvolvimento há um conflito que deve ser resolvido antes de a criança passar
para o próximo estágio, por exemplo, na fase oral. Quando o conflito não é resolvido,
a criança tende a fixar-se naquela fase do desenvolvimento, embora consiga passar
para os próximos estágios há um investimento de energia que ficou retido, por assim
dizer, na fase anterior. Schultz e Schultz (2002) nos explicam que naquela época Freud
chocou o colegiado, uma vez que tratou de chamar os impulsos infantis de impulsos
sexuais, no entanto este se referia à motivação da criança em obter satisfação corporal
através de suas zonas erógenas que começavam da boca, em seguida mudavam para o
ânus, e, por fim, para os genitais - tudo isso nos cinco primeiros anos de vida.

A partir da análise dos seus pacientes, Freud concluiu que os sintomas sem causa física
aparente, apresentados durante a análise, estavam ligados a perturbações emocionais,
situadas em experiências traumáticas reprimidas no período da primeira infância.
Essas experiências se traduziam em conflitos que se repetiam no decorrer de todo o
período de desenvolvimento. Para ele, os conflitos eram uma forma com que a pessoa
lidava com os impulsos biológicos inatos ligados ao sexo e às exigências sociais. Para
nossa melhor compreensão, Papalia e Olds (2000) destacaram a afirmativa de Freud
de que os conflitos ocorrem invariavelmente em todo o período de vida, portanto
são repetições dos traumas obtidos nas experiências da primeira infância. (VILELA,
2016. pp. 29-30)

32
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

Conforme Freud, o prazer muda de uma zona erógena do corpo à outra em algumas
fases da vida. Os cinco estágios do desenvolvimento da personalidade chamados de
Estágios Psicossexuais são:

Quadro 2.

1. Oral (do nascimento até 12 meses).


» Aqui a principal fonte de prazer são atividades ligadas à boca como mamar e comer.
» A boca é a principal zona erógena. E o prazer é ligado à sucção.
2. Anal (1 a 3 anos).
» A criança obtém gratificação sensual retendo ou expelindo fezes.
» O treinamento dos hábitos de higiene resulta da forma de gratificação recebida ao defecar.
3. Fálico (4 a 5 anos).
» A criança apega-se ao genitor do sexo oposto e posteriormente identifica-se ao genitor do mesmo sexo. A zona de gratificação transfere-se para
a região genital.
» Fantasias incestuosas: complexo de édipo, ansiedade, desenvolvimento do superego.
4. Latência (6 anos à puberdade).
» Época de relativa calma entre os estágios mais turbulentos.
» Período de sublimação do instinto sexual.
5. Genital (Adolescência à Idade Adulta).
» Época do desenvolvimento sexual maduro.
» Desenvolvimento da identidade do papel sexual e de relações sociais adultas.

Fonte: Aline Vilela, 2016, pp. 29-30; adaptado de Papalia e Olds, 2002, p. 43; Schultz e Schultz 2002, p. 57.

A teoria de Freud certamente contribuiu e gerou grandes controvérsias no mundo


científico, seu método psicanalítico influenciou grandemente a psicoterapia moderna.
Entretanto, sua teoria é o resultado de observações limitadas no contexto histórico
social da época. O que vimos ainda, é que Freud elaborou suas teorias a partir do
desenvolvimento normal de uma gama de pacientes adultos neuróticos de classe
média alta em psicoterapia, o que nos faz observar que a falta dos fatores biológicos
e do entendimento da importância de se levar em conta os processos de maturação e
experiências precoces influenciaram como fatores limitantes de sua teoria.

Psicologia individual de Alfred Adler

Adler que se tornou médico por adventos pessoais de sua infância, associou-se à Freud
num pequeno grupo que discutia temas psicológicos, momento em que surgiram
diferenças entre as teorias, fazendo Adler estabelecer uma teoria oposta à do famoso e
reconhecido médico vienense. Sua teoria conhecida como individual primava por:

33
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Quadro 3.

FREUD ADLER
Pessoas eram vistas com motivações sociais que a levavam a lutar por
Motivação reduzida à agressividade e sexo.
superioridade e sucesso.
As pessoas têm pouca ou nenhuma escolha sobre a formação de sua
As pessoas são em grande parte responsáveis pelo que são.
personalidade,
Comportamento presente é determinado por experiências do passado. Comportamento presente é moldado pela visão de futuro da pessoa.
Ênfase nas pessoas psicologicamente saudáveis e conscientes do que
Ênfase nos componentes inconscientes.
estão fazendo e de por que estão fazendo.
Fonte: Adaptado de Feist, Feist e Robert, 2015, p. 46.

Embora não tenha sido tão conhecido quanto Freud e Jung no meio Psicanalítico dos
anos 20, Alfred Adler teve seguidores como Karen Horney, Abraham Maslow, Carl
Rogers, Rollo May e outros. A fonte de sua ideia sustenta que o homem é motivado
fundamentalmente pelas questões sociais, uma vez que é um ser social inerente por
excelência e individualizado, responsável pelos seus atos e não ativado por sistemas
orgânicos. Deste modo, contrastando com a ideia de Freud - de comportamento guiado
por instintos inatos - a teoria do ego; assim como a teoria junguiana de condutas a partir
de um governo de arquétipos inatos. A teoria de Adler relaciona o comportamento do
homem empreendendo atividades sociais em cooperação. O bem-estar social que se
impõe sobre o interesse individual, adquiriu força dentro de um estilo de vida orientado
para o meio externo. Sua teoria psicológica chamou atenção dos psicólogos da época que
voltaram a atenção às variáveis sociais, o que levantou a psicologia social necessitada de
encorajamento, especialmente vindo da bancada “psicanalítica”.

A teoria da personalidade de Adler contribui no entendimento do self. Aqui self era


um sistema personalizado e subjetivo que interpretava e tornava significativas as
experiências do homem; era chamado de self criativo, pois possuía capacidades a partir
das experiências sociais e quando não, compensava essa inexperiência com novas
formulações. Deste modo, compensava o extremismo em relação à objetividade da
psicanálise clássica mecanicista, que se apoiava unicamente nas necessidades biológicas
- sendo os estímulos externos o modo de explicar a dinâmica da personalidade.
Diferentemente da ênfase sobre a singularidade da personalidade, onde cada pessoa
tem mecanismos singulares de motivação, traços, interesses e valores. E sendo esses
aspectos um selo do seu próprio estilo de vida ─ uma vez que é fundamentalmente
uma criatura social e motivado pelo interesse Social ─ o self é reconhecido como
um importante aspecto do comportamento. Ele desempenha funções nas recentes
formulações sobre a personalidade, funções essas de apresentar exteriormente a
maneira na qual se comporta. A aplicação da teoria adleriana neoanalítica, se assim
podemos chamar, se relaciona na psicoterapia com a constelação familiar onde a ordem
do nascimento dos gêneros dos seus irmãos e diferenças entre idades são características

34
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

peculiares ao tratamento, mas que não serão aqui destacadas. (FEIST, FEIST; ROBERT,
2015; HALL-LINDZEY, 2004).

Quadro 4. Visão de Adler de alguns possíveis traços segundo a ordem de nascimento.

Traços positivos Traços negativos


Filho mais velho
Acolhedor e protetor com os outros Alta ansiedade
Bom organizador Sentimentos exagerados de pordes
Hostilidade inconsciente
Luta pela aceitação
Deve estar sempre “certo”, enquanto os outros estão sempre “errados”
Altamente crítico com os outros
Não cooperativo
Segundo Filho
Altamente motivado Altamente competitivo
Cooperativo Facilmente desencorajado
Moderadamente competitivo
Filho mais moço
Realisticamente ambicioso Estilo de vida mimado
Dependente dos outros
Deseja se sobressais em tudo
Irrealisticamente ambicioso
Filho único
Socialmente maduro Sentimentos exagerados de superioridade
Fracos sentimentos de cooperação
Senso de self inflado
Estilo de vida mimado
Fonte: FEIST, FEIST; ROBERT, 2015, p. 60.

Como falamos anteriormente, a vida do pesquisador passa a influenciar sua pesquisa


e isso pode ser visto através dos aspectos bibliográficos da vida dos nossos autores,
também aqui em Adler que foi marcado como filho do meio, e por doenças e consciência
da morte durante toda sua infância. Viveu entre ser o preferido da mãe e o despojado
por ela na medida em que os irmãos iam nascendo, Adler foi uma criança mimada
devido à doença que o acompanhou durante a infância, sofreu pelo ciúme do irmão
mais velho que podia realizar todas atividades que ele não podia, e por isso foi tomado
por um enorme complexo de inferioridade, o que teve grande influência na sua teoria
da personalidade.

Nunca foi discípulo de Freud nem psicanalisado por ele, fundou a sociedade da psicologia
individual, lugar em que trabalhou com os sentimentos de inferioridade como a fonte

35
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

da luta humana. O primeiro fundamento de sua teoria é que a única força dinâmica
por trás do comportamento das pessoas é a luta pelo sucesso ou pela superioridade.

Há em sua teoria certo reducionismo que leva à crença da existência de um único


impulso motivador que seria a luta pelo sucesso ou pela superioridade. Sua teoria
individual sustenta que as pessoas iniciam uma vida com deficiências que ativam
sentimentos de inferioridade (motiva uma pessoa a lutar pela superioridade ou pelo
sucesso). Ele avalia que os indivíduos que não são psicologicamente saudáveis lutam
pela superioridade, enquanto os psicologicamente saudáveis procuram sucesso. Sua
teoria é dinâmica, uma vez que a luta pela superioridade impulsiona a pessoa a partir
de um processo motivacional com características que podem induzir a agressividade ─
sendo esses um impulso universal.

Quando falamos do poder criativo do self reportamos ao pensamento adleriano de que


a pessoa cria o seu próprio estilo de vida. Deste conceito, descreveu como poder criativo
o self, a personalidade e o caráter, criados individualmente a partir do estilo de vida
elegido. Sua teoria revela que a pessoa não é passivamente moldada pela experiência
da infância principalmente as que não são tão importantes como atitude consciente em
relação a ela mesma, no entanto o que gera ou constitui a personalidade é a forma como
interpretamos a influência do ambiente e construímos o nosso estilo de vida.

Para explicar os traços positivos e negativos, segundo a ordem do nascimento, Adler


explica que a relação entre mãe e filho é tão íntima e de longo alcance que de nenhuma
maneira vamos poder apontar outras características na vida, pois todas as tendências
que poderiam ser ajudadas já foram adaptadas, treinadas, educadas e refeitas pela mãe.
A sua capacidade ou falta dela influencia toda a potencialidade da criança.

Então eu seria força criativa? Ela quem coloca a pessoa no controle da sua própria vida
e se torna responsável pelo objetivo final? A força criativa determina seu método de
empenho por aquele objetivo e contribui para o desenvolvimento do interesse social.
Este é um conceito dinâmico que implica movimento, sendo essa a característica mais
relevante da vida, uma vez que toda a vida psíquica envolve movimento em direção
ao objetivo, movimento com uma direção. (SHULTZ; SHULTZ, 2002; FEIST, FEIST;
ROBERTS, 2015)

Teoria das relações objetais de Melanie Klein


Melanie Klein construiu sua teoria a partir de observação de crianças pequenas, este foi
o seu alicerce. Em oposição a Freud que acreditava que entre os 4 e os 6 anos se dava o
início da construção da personalidade da criança, Klein compreendia que os primeiros 4

36
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

a 6 meses após o nascimento era o que figurava os impulsos do bebê direcionados a um


objeto. Evidentemente a teoria das relações objetais foi o fruto da teoria dos instintos
de Freud, no entanto a teoria das relações objetais coloca menos ênfase nos impulsos
biológicos e mais importância nos padrões consistentes das relações interpessoais.

A noção de Klein sempre leva em consideração a criança como um todo, lutando com
forças incontroláveis impulsionadas pelas fantasias e mecanismos psíquicos. A teoria é
uma teoria das pulsões e das relações objetais, ou seja, a relação do objeto é fundamental
para sua orientação. Ao nascer, o bebê apresenta um ego rudimentar com capacidade de
sentir ansiedade e, portanto, tenta resolver fisicamente a fim de eliminar a ansiedade.
Sendo assim Klein presume que o recém-nascido apresenta uma capacidade incipiente
para relacionar-se com os objetos na realidade externa e na fantasia, embora deixe claro
que a capacidade de diferenciar o interno do externo seja um princípio muito limitado.
(KLEIN 1942, 1991).

Os bebês introjetam ou assimilam a sua estrutura psíquica na fantasia ativa, com os


objetos externos, incluindo o pênis do pai, as mãos e o rosto da mãe, o seio da mãe e
outras partes do corpo, esse entendimento de objetos internos sugere que os objetos
têm uma força própria, comparável ao conceito de Freud de superego que supõe que a
consciência do pai ou da mãe é carregada dentro da criança. (FEIST, FEIST; ROBERTS,
2015. pp. 96-97)

À medida que o ego avança em direção à integração e se afasta da desintegração, os


bebês naturalmente preferem sensações gratificantes em relação às frustrantes. Na
tentativa de lidar com essa dicotomia de bons e maus sentimentos, os bebês organizam
suas experiências em posições, ou formas de lidar com os objetos internos e externos.
Klein escolheu o termo “posição” em vez de “estágio do desenvolvimento” para indicar
que as posições se alternam para frente e para trás; elas não são períodos de tempo ou
fases do desenvolvimento pelos quais uma pessoa passa. Apesar de ter usado rótulos
psiquiátricos ou patológicos, Klein tinha em mente que essas posições representavam o
crescimento e o desenvolvimento social normal. As duas posições básicas são a posição
esquizoparanoide e a posição depressiva. (FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015).

Na posição esquizoparanoide, o bebê adota uma forma de organizar as experiências que


inclui os sentimentos para nós de ser perseguido e uma divisão dos objetos internos e
externos em bons e maus. Durante os primeiros três a quatro meses de vida, momento
em que o ego tem uma visão de mundo externo subjetiva e fantasiosa, a criança precisa
manter o seio bom e o seio mau separados. Uma vez que os seios são persecutórios, a
criança deseja manter esse seio ideal, ou seja, o seio bom dentro dele como parte de uma
proteção contra a aniquilação dos perseguidores. A criança precisa manter o seio bom

37
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

em si para não confundi-lo, pois isso seria aniquilar o seio bom e perder o que apazigua
seus sentimentos de ira e destruição em torno do seu mau. Esses valores são subjetivos
e sentidos internamente pela psique do bebê e não estão dentro de uma classificação da
linguagem, são vividos pelo bebê de forma vinculativa, onde ele vincula a nutrição ao
instinto de vida e atribui o valor negativo, a fome, ao instinto de morte. Já em torno dos
cinco ou seis meses um bebê começa a perceber os objetos externos como um todo e a
entender que a dicotomia entre o bem e o mal pode existir na mesma pessoa. Além disso,
o ego está começando a amadurecer de modo que consegue tolerar alguns próprios
sentimentos destrutivos, em vez de projetá-lo no seio em que ele considerava mau. O
bebê que percebia que a mãe ao ir embora poderia ser perdida para sempre, teme essa
possível perda e desejando protegê-la e mantê-la afastada dos perigos de suas próprias
forças destrutivas começa a experimentar a culpa por esses impulsos destrutivos, ao
perceber que não tem capacidade para defender a mãe de seus impulsos agressivos.
Deste modo, os sentimentos de ansiedade surgidos quanto à perda do objeto amado
associada a um sentimento de culpa por querer destruir aquele objeto, constitui o que
Klein denominou posição depressiva. (KLEIN (1942), 1991).

Na posição depressiva, a criança se censura pelos impulsos destrutivos anteriores em


relação à mãe e deseja fazer a reparação desses ataques à posição depressiva. Resolvido
esse processo, quando a criança fantasia que fez a reparação por suas transgressões
(ataques) anteriores e quando reconhece que a mãe não irá embora permanentemente
nem será destruída, mas retornará depois de cada partida. O ego e a noção de self chegam
à maturidade em um estágio muito anterior ao considerado por Freud. O ego começa a
se desenvolver usando a primeira experiência do bebê com amamentação quando o seio
bom oferta não só leite, mas, afeto amor e a segurança. E, portanto, com a expansão do
ego, o superego começa a se desenvolver através da ansiedade que a criança tem em ser
destruída pelos sentimentos que os instintos lhe causam. Para manejar essa ansiedade,
o ego da criança mobiliza o instinto de vida contra o instinto de morte e, assim, o ego é
forçado a se defender contra suas próprias ações. Essa defesa precoce do ego estabelece
as bases para o desenvolvimento do superego cuja violência extrema é uma reação à
autodefesa agressiva do ego contra as próprias tendências destrutivas. Esse superego
severo e cruel é o responsável por muitas tendências antissociais e criminais em adultos.
O superego de uma criança de cinco anos, por volta do quinto ou sexto ano, desperta
pouca ansiedade, mas uma grande dose de culpa. Nessa fase já perdeu boa parte da
sua agressividade e vai transformando a mesma inconsciência realista sabendo lidar
com a realidade do mundo externo. O superego aqui é uma consequência do complexo
de Édipo. A se desenvolver o complexo de Édipo, por fim, emerge como culpa realista
depois que é resolvido e se desenvolve como superego. (FEIST, FEIST; ROBERTS,
2015; KLEIN 1942, 1991).

38
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

Teoria analítica de Carl Gustav Jung


Carl Gustav Jung estabeleceu uma teoria de personalidade distinta da psicanálise
ortodoxa de Freud e denominou sua psicologia de analítica. O pressuposto dessa
psicologia é a de que fenômenos ocultos influenciam a vida de todos como as experiências
reprimidas, certas experiências de tom emocional de nossos ancestrais, o qual ele
chama inconsciente coletivo. Alguns elementos do inconsciente coletivo tornaram-se
amplamente desenvolvidos e foram denominados arquétipos. O interessante da obra
de Jung é que ela está repleta de opostos que primam por desvendar a personalidade,
sendo eles: introversão e extroversão; racional e irracional; masculino e feminino;
consciente e inconsciente. Todas essas denominações são características de eventos
passados que ao mesmo tempo são vivenciados nas nossas experiências presentes e
futuras.

A personalidade em Jung é dinâmica, uma vez que há uma energia psíquica se


manifestando da energia de vida, ou seja, a energia do organismo como um sistema
biológico.

O termo de Jung para energia vital é libido, mas ele também usa libido
paralelamente com energia psíquica. Jung não assumiu uma posição
definida sobre a relação da energia psíquica com a energia física, mas
ele acreditava que provavelmente existe algum tipo de ação recíproca
entre as duas.
(HALL, LINDZEY; CAMPBELL, 2004. p.96)

Jung reconheceu que vários tipos psicológicos se desenvolvem a partir do conjunto da


junção de duas atitudes básicas: introversão e extroversão, e quatro funções separadas:
pensamento, sentimento, sensação e intuição.

Como atitudes básicas ele relatou que cada pessoa possuía a sua, como forças opostas
à introversão há a extroversão que se relaciona compensatoriamente, a isso ele dá o
exemplo do Yang e do Yin.

A introversão é quando a energia psíquica se volta para dentro em direção ao subjetivo,


dando maior relevância o mundo interno e as inclinações às fantasias, sonhos e
percepções individualizadas, pode ser um indivíduo morbidamente preocupado consigo
mesmo, e a introspecção pode ser de grande importância para resolução de sua vida. A
extroversão em contraste com atitude anterior tem uma energia psíquica que se volta
para o exterior, no qual a pessoa é orientada em direção ao objetivo, à expectativa,
se afastando dos aspectos subjetivos. O extrovertido é mais influenciado, vai sempre

39
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

adotar o ponto de vista da maioria, é menos intuitivo, mais racional e desconfiado da


atitude subjetiva.

Quadro 5. Os tipos psicológicos de Jung.

Extrovertido pensamento Lógico, objetivo, dogmático.


Extrovertido sentimento Emotivo, sensível, sociável (mais típico nas mulheres).
Extrovertido sensação Extrovertido, busca o prazer, adaptável.
Extrovertido intuitivo Criativo, capaz de motivar os outros e aproveitar oportunidades.
Introvertido pensamento Mais interessado em ideias do que nas pessoas.
Introvertido sentimento Reservado, não demonstra, mas é capaz de emoções profundas.
Introvertido sensação Sem interesse pelo exterior, expressa-se em buscas estéticas.
Introvertido intuitivo Mais preocupado com o inconsciente do que com a realidade cotidiana.
Fonte: (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 94).

Para complementar os tipos de psicológicos, essa dinâmica da personalidade que uniu


as atitudes básicas com as funções separadas trata a função como tipos, como funções
presentes na sensação, no pensamento, sentimento e na intuição, formando oito tipos
de orientações possíveis.

Quadro 6. Oito tipos de personalidades.

Funções Atitudes

Introversão Extroversão

Pensamento Filósofos. Cientistas, teóricos, alguns inventores. Cientistas pesquisadores, contadores, matemáticos.

Sentimento Críticos de cinema subjetivos, avaliadores de arte. Avaliadores imobiliários, críticos de cinema objetivos.

Degustadores de vinho, revisores, músicos populares, pintores de


Sensação Artistas, músicos clássicos.
casa.

Intuição Profetas, místicos, fanáticos religiosos. Alguns interventores, reformadores religiosos.

Fonte: (FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015. p. 83).

As funções que podem ser combinadas com as atitudes de introversão e extroversão


geram tipos de psicológicos diferentes:

O pensamento ─ possibilita a pessoa reconhecer seu significado e pode ser o pensamento


do tipo extrovertido ou introvertido, um observa o mundo externo de modo objetivo e o
outro observa o mundo externo de um modo altamente subjetivo e criativo.

O sentimento ─ fala sobre o valor de uma ideia, sobre a apreciação, é a avaliação


consciente da atividade, e em sua grande maioria esses sentimentos não possuem
valor emocional, mas se tornam emocionais e se extrapolam em emoções que gerem

40
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

mudanças fisiológicas na pessoa. Observa-se sobre a emoção que qualquer uma das
funções quando levadas na intensidade geram a emoção.

O sentimento, assim como a emoção, quando levado à intensidade podendo ser


extrovertido ou introvertido, é levado ao extremo. Na primeira função, as pessoas são
mais sociáveis e buscam se adequar aos padrões, relacionam-se de modo superficial e seu
julgamento é altamente flexível; essas pessoas são vistas como pessoas não confiáveis.
Já o sentimento introvertido baseia seus sentimentos em dados subjetivos, as pessoas
possuem consciência individualizada e uma psique insondável, elas fazem com que os
que estejam a sua volta se sintam desconfortáveis em relação a suas atitudes.

A função sensação ─ vem dos estímulos físicos e transmitidos para a consciência


perceptiva. A sensação não é idêntica ao estímulo físico, conforme Feist, Feist e Roberts
(2015), mas é simplesmente a percepção do indivíduo acerca dos impulsos sensoriais.
A sensação extrovertida faz parte da pessoa que percebe os estímulos externos de modo
objetivo; suas sensações não são diretamente influenciadas pelas atitudes subjetivas,
já as pessoas com sensação introvertidas, em sua maioria, são influenciadas pelas
sensações subjetivas de visão, audição, olfato, tato. Geralmente, a pessoa com tipo
sensação introvertida dá interpretação subjetiva aos fenômenos objetivos, e, ainda, são
capazes de comunicar o significado aos outros.

A intuição ─ envolve a percepção para além do formulado pela consciência, assim como
a sensação também necessita da percepção de fatos que fornecem o material para o
pensamento e o sentimento, ou seja, a intuição difere da sensação uma vez que é mais
criativa, acrescentando ou subtraindo sensações conscientes. As pessoas intuitivas
extrovertidas são orientadas para os fatos no mundo externo, já as pessoas intuitivas
introvertidas são guiadas pela percepção inconsciente de fatos que são basicamente
subjetivos e têm um pouco ou nenhuma semelhança com a realidade externa.
(Ibidem,2015).

A teoria da personalidade é formada por vários sistemas isolados, que unidos atuam
formando a personalidade total. Imbuída de vários significados que juntos formulam
o self, que configuram tipos psicológicos e constituem a psique, lugar em que está a
personalidade cujo sistema (o ego, o inconsciente individual e coletivo, os arquétipos,
a persona, a anima, o animus e a sombra) é independente. Jung propõe que se
acrescermos atitudes de introversão e extroversão, as funções do pensamento e por fim
o self, como o centro, aí você terá uma teoria completa da personalidade. (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2002).

41
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Figura 4.

Fonte: <http://www.psicosmica.com/2015/01/principais-arquetipos-jung.html>. Acesso em: 10 agosto 2016.

A mente ou a psique se constitui de um nível consciente e outro nível inconsciente,


no entanto, diferentemente de Freud, Jung afirmava que a porção mais importante
do inconsciente não está nas experiências pessoais do indivíduo, mas nas experiências
do passado distante da existência humana, inconsciente coletivo ─ tudo aquilo que
possui raízes no passado ancestral e que são herdados e transmitidos de uma geração
para seguinte como potencial psíquico. Ele ressalta que os conteúdos do inconsciente
coletivo não estão de um todo adormecidos, são ativados e influenciam os pensamentos,
as emoções e as ações humanas – é ele o responsável pelos mitos, lendas, crenças
religiosas e produz sonhos.

Assim como cada pessoa possui uma tendência herdada para o inconsciente coletivo,
há uma tendência para avançar em direção ao crescimento, à perfeição e à completude
e isso é uma das disposições inatas do ser humano ao que chamamos self. Portanto, o
self é o arquétipo dos arquétipos, reúne os arquétipos no processo de autorrealização,
simbolizado pelas ideias de perfeição, completude, plenitude de uma pessoa e o seu
símbolo final é a mandala - representando o ponto central da personalidade, em torno do
qual giram os outros sistemas. No entanto, esse processo gerado em cada ser se chama
individuação. A individuação é a corrida para a personalidade, esse espaço processual
em que todo o sistema dinâmico se une, age, se mistura, em torno da formação da
personalidade de um “in-divíduo”, uma entidade separada pelo todo. (BURTON, 1978;
FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015; SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).

Jung não desenvolve em estágios a estruturação pelas quais passa a formação da


personalidade, no entanto desenvolve um entendimento. Em volta da energia psíquica

42
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

existente desde o nascimento, a libido está voltada para as atividades homeostáticas,


relacionadas à sobrevivência; a partir dos 5 anos inicia-se a distinção sobre sexualidade
e os seus valores, que percorrem caminho gradativo de evolução até a adolescência; na
juventude e início da vida adulta os instintos básicos da vida e o processo vital estão
em crescimento e há uma disposição ou investida energética voltados para os atos
vigorosos, impulsivos e apaixonados, aqui há um processo de orientação para iniciação
de afirmação social. Na meia-idade, próximo aos quarenta diminui o vigor e os interesses
se modificam, o indivíduo passa a ser mais introvertido e menos impulsivo, a sabedoria
substitui a sagacidade e há maior atenção aos valores espirituais. Caso a psique esteja
em equilíbrio, sem prisões acometidas nas outras vivências, o excesso de energia está
livre para fluir na psique e encontrar soluções satisfatórias nas suas resoluções de
problemas, assim como de estabelecer concepção de realização de self. (FEIST, FEIST;
ROBERTS, 2015; HALL, LINDZEY; CAMPBELL, 2004; SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).

Quadro 7. Grau de desenvolvimento do Self.

Infância O desenvolvimento do ego começa quando a criança consegue diferenciar-se dos outros.
Os adolescentes têm de se adaptar às demandas cada vez maiores da realidade. O foco é externo, na
Da puberdade à idade adulta
educação, carreira e família. O consciente predomina.
Um período de transição quando o foco da personalidade muda de externo para interno numa tentativa de
Meia-idade
equilibrar o inconsciente com o consciente.
Fonte: SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 99.

Por isso não podemos nos esquecer que não somos só funções egóicas, não somos só
temperamentos, ou personalidades, somos, ainda mais que isso, somo julgadores, somos
simbólicos, somos sonhadores, e, portanto, vamos transversalmente à medida do que
relatou Jung revelar um pouco desse tanto que somos. Para Jung o homem não percebe
ou entende plenamente uma coisa ou situação, pois tudo depende da quantidade dos
seus sentidos que limitam a percepção que o indivíduo tem do mundo a sua volta. Esse
mundo faz parte de uma realidade concreta daquilo que tomamos consciência por um
processo interno de reflexão e simbolização. Símbolo é um termo utilizado por Jung
para dar rumo à imagem que nos é familiar embora não nos seja conhecida, é algo como
uma representação passada, com significados psicológicos importantes, inconscientes
e que transcende ao que conseguimos explicar.

Jung passa grande parte de sua atividade de pesquisa estudando o sonho e sobre
sua influência e função, prestar atenção ao conteúdo do sonho em detrimento de
nos deixarmos conduzir pela livre associação, como afirmava Freud, era uma forma
de compreender o que o inconsciente estava tentando dizer, no entanto para tentar
compreender a organização psíquica da personalidade global de uma pessoa é
importante avaliar a função dos seus sonhos e as imagens simbólicas que neles estão
representadas.

43
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Exemplo de um sonho: “um paciente meu, por exemplo, sonhou com uma mulher
desgrenhada, vulgar e bêbada. No sonho parecia ser a sua própria mulher apesar de estar
casado, na vida real, com pessoa inteiramente diferente. Aparentemente, portanto, o
sonho era de uma falsidade chocante e o paciente logo o rejeitou como uma fantasia tola.
Se, como médico, eu tivesse iniciado um processo de associação, ele inevitavelmente
teria tentado afastar-se o mais rápido possível da desagradável sugestão do sonho.
Neste caso, teria acabado por chegar a um dos seus complexos básicos – complexo
que, possivelmente, nada saberíamos, então a respeito do significado especial daquele
determinado sonho”. (VON FRAZ, et al, 1964, p. 55).

Para trabalhar com os símbolos e os arquétipos, o psicólogo tem de revestir-se não só


de experiência como também de prática, para a interpretação de sonhos a fim de chegar
na virtude das expressões do inconsciente e expressões de atividades com contexto
mitológico no seu sentido mais amplo.

A função criadora de símbolos oníricos é, assim, uma tentativa para trazer


a mente original do homem a uma consciência “avançada” ou esclarecida
que até então lhe era desconhecida e onde, consequentemente, nunca
existirá qualquer reflexão autocrítica. Num passado distante esta
mente original era toda a personalidade de homem. À medida que
ele desenvolveu a sua consciência é que a sua mente foi perdendo
contato com uma porção daquela energia psíquica primitiva. A mente
consciente, portanto, jamais conheceu aquela mente consciente,
portanto, jamais conheceu aquela mente original, rejeitada no próprio
processo de desenvolvimento desta consciência diferenciada, a única
capaz de perceber tudo isto. (VON FRAZ, et al, 1964, p. 98).

Teoria neopsicanalítica de Erikson


Eric Erikson sempre foi conhecido por sua teoria psicossocial do desenvolvimento, no
entanto, poucos sabem que ele foi uma pessoa que trabalhou muito após a morte de
Freud para elaborar e expandir a estrutura da psicanálise construída por este. Treinado
por Ana Freud, filha de Freud, ele elaborou uma abordagem sobre a personalidade
que ampliou o escopo da obra de Freud mantendo suas ideias centrais. Suas inovações
foram significativas, mas o ponto de partida era a psicanálise. Ericsson ampliou a
teoria de Freud de três modos a partir do estágio do desenvolvimento quando sugeria
que a personalidade continua se desenvolvendo numa sucessão de etapas durante a
evolução da vida. Segundo, enfatizando mais o ego que o id, e terceiro colocando o ego
numa posição em que fosse parte independente da personalidade e reconhecendo que

44
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

a personalidade das forças culturais e históricas é de grande importância, uma vez que
não somos regidos por uma força biológica inata. (HALL-LINDZEY, 2004; SCHULTZ;
SCHULTZ, 2002)

Duas curiosidades sobre Erikson é que ele não pretendia substituir a teoria psicossexual
de Freud nem a teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget, pois reconhecia que os
autores estavam interessados em estudar outros aspectos do desenvolvimento. Ainda,
Erikson foi um dos autores que mais prolongou seus estudos até a velhice, assim como
Sullivan, que elaborou a teoria do desenvolvimento interpessoal.

Os oito estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson são bem distribuídos, no


entanto, notaremos que ele dá ênfase especial ao período da adolescência uma vez que é
nessa fase de transição entre a infância e a vida adulta que a vivência dessa crise é muito
importante para a personalidade adulta.

... qualquer coisa que cresça tem um plano fundamental, e (que) as partes
originam-se desse plano fundamental, cada parte tendo seu tempo de
ascendência específico, até que todas as partes tenham se manifestado
para formar um todo operante. Hall-Lindzey (2004, p. 67).

Ou seja, Erikson compreende que os seus estágios mesmo se apresentando em ordem


consecutiva não são dispostos com uma determinação cronológica fundamentada
no tempo exato, uma vez que cada criança possui seu tempo próprio no processo de
desenvolvimento. Para ele, cada estágio não é deixado para trás quando atravessado, pois
contribuem para a formação total da personalidade. O confronto com o ambiente social
é o que provoca a crise, princípio epigenético da maturação. O princípio epigenético
da maturação que leva em consideração as forças sociais e ambientais nas quais
vivemos e que influenciam a forma pelas quais as fases geneticamente predeterminadas
se desenvolvem, ou seja, os fatores biológicos e sociais ou as variáveis pessoais e
situacionais acabam por influenciar a forma como se desenvolve a personalidade.
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, apud VILELA, 2016)

Erikson ainda sustentava a ideia de que as primeiras experiências da infância eram


responsáveis pelo modo permanente de se desenvolver a personalidade. Para ele,
o desenvolvimento do “eu” continua durante o decorrer da vida. Cada etapa desse
desenvolvimento, portanto, envolve uma crise de personalidade. Essas crises
aparecem conforme uma sequência de maturação e, portanto, para o desenvolvimento
saudável do ego necessitam ser resolvidas satisfatoriamente. (Ibidem, p. 31)

Cada confronto com o ambiente é denominado crise, a qual envolve


uma mudança de perspectiva que requer que reconcentremos a nossa

45
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

energia instintiva de acordo com as necessidades de cada estágio do


ciclo de vida. (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 207)

Nessa crise acontece uma mudança de perspectiva que envolve grande parte da nossa
energia instintiva utilizada para as nossas necessidades em cada estágio do ciclo da
vida. O interessante é que se o conflito em qualquer uma dessas fases é mal resolvido,
a probabilidade de nos adaptarmos aos problemas que surgirem posteriormente é
menor. Por isso, a importância de resolver cada crise de forma bem adaptada para que
desenvolvamos nossas forças básicas ou virtudes e não tenhamos tantos problemas
quando nos depararmos com os conflitos, nem desenvolvamos num nível mais elevado
o que Erikson chamou de patologia central. (Id Ibidem, p. 31)

Podemos perceber, então, que a teoria de Erikson consegue sustentar a ideia de que
as influências culturais e sociais do desenvolvimento vão para além da adolescência e
isso fez com que sua teoria fosse aceita de maneira mais positiva dentro do contexto
desenvolvimental, uma vez que as fases do desenvolvimento psicossocial, mesmo
girando em torno de crises, possibilita o resultado positivo. Aqui, as experiências
psicossociais, e não as forças biológicas instintivas, são as determinantes do processo
do desenvolvimento. Embora as influências da infância sejam importantes, os
acontecimentos nas seguintes fases podem suprir as experiências mal adaptadas.
(FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015).

Quadro 7. Estágios de desenvolvimento psicossocial e forças básicas de Erikson.

Patologia
Crise psicossocial Fase psicossocial Fase Freud Idade Virtude
Central
Oral-respiratória,
Confiança x Desconfiança oral 0 a 1 ano Esperança Retraimento
sensorial-cinestésica
Autonomia x Vergonha e
Anal-uretral, muscular anal Até 3 anos Vontade Compulsão
Dúvida
Infantil-genital,
Iniciativa x Culpa fálica Idade da brincadeira Propósito Inibição
locomotora,
Produtividade x
Latência latência Idade escolar Competência Inércia
Inferioridade
Identidade x Difusão da
Puberdade genital adolescência Fidelidade Repúdio do papel
Identidade
Intimidade x Isolamento Genitalidade genital adulto Amor Exclusividade
Generatividade x
Procriatividade genital Idade adulta Cuidado Rejeição
Estagnação
Generalização dos modos
Integridade x Desespero genital velhice Sabedoria Desdém
sensuais
Fonte: Adaptado de <http://pesquisacia.blogspot.com.br/2015/05/desenvolvimento-psicossocial-de-erik.html> e Feist, Feist e
Roberts (20015, p. 160). Acessado em 10 Nov. 2015

Conforme Vilela (2015, pp. 32-35), os oito estágios de desenvolvimento se explicam da


seguinte maneira:

46
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

1. Confiança versus desconfiança - essa é uma crise da primeira


infância e se define com a necessidade que temos, como seres humanos,
de confiar no outro e no que estaria à nossa volta. No entanto, para passar
de maneira favorável pela crise é importante a existência de um certo
grau de desconfiança com a finalidade de proteção. A força básica da
esperança está associada a uma resposta bem-sucedida da crise na fase
oral sensorial.

Erikson escreveu essa força básica como uma crença de que os nossos
desejos serão satisfeitos. A esperança envolve um sentimento
persistente de confiança, um sentimento que iremos manter apesar
dos revezes temporários (SCHULTZ; SCHULTZ 2002, p. 208, grifo do
autor).

2. Autonomia versus dúvida e vergonha - ocorre por volta do segundo


e terceiro anos de vida na fase muscular-anal. É dado ao momento em
que a criança está desenvolvendo uma série de habilidades físicas e
mentais. A habilidade física motora de agarrar com as mãos é vista pelo
autor como de muita importância, uma vez que o ato de segurar e largar
algo é usado como modelo ou um treino para a criança, em relação a
como reagir aos conflitos posteriores em forma de comportamentos e
atitudes. É no decorrer dessa etapa que a criança consegue estabelecer
algum grau de escolha e experimentar o poder da sua própria vontade,
mesmo dependente dos pais neste momento elas passam a se ver como
pessoas separadas e com algum grau de força em si mesmas.

A força básica da autonomia é a vontade, que envolve a determinação


de exercer a liberdade de escolha e auto limitação diante das demandas
da sociedade. (SCHULTZ; SCHULTZ 2002, p. 209, grifo do autor)

3. Iniciativa versus culpa - ocorre no estágio locomotor-genital entre os


3 e 5 anos de vida e pode ser comparada a fase fálica da teoria freudiana.
Nesse período do desenvolvimento das capacidades motoras e mental
a criança consegue expressar seus desejos e iniciativas para realização
de tarefas. Deste modo a iniciativa se desenvolve gerando fantasias a
partir do desejo expressado pela mãe (no caso de meninos) e pelo pai
(no caso de meninas), ao que psicanaliticamente se compreende como o
estabelecimento de uma relação edipiana.

47
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

A força básica chamada objetivo surge da iniciativa. O objetivo envolve


a coragem de conceber e buscar metas. (SCHULTZ; SCHULTZ 2002, p.
209, grifo do autor)

4. Diligência versus inferioridade - ocorre dos 6 aos 11 anos e está


relacionada ao período de latência de Freud. É quando a criança é
submetida a novas experiências e influências sociais, neste momento
ela aprende hábitos novos de trabalho e estudo é o que Erikson rotulou
«diligência». Essas atividades para as crianças passam a ser uma forma de
conseguir elogios e obter satisfação através da realização bem-sucedida
das tarefas. Importante destacar que a atitude dos pais, cuidadores
ou professores irá influenciar no modo como as crianças perceberão o
resultado de suas próprias atividades. As opiniões omitidas acerca de
suas habilidades direcionarão a criança no modo a perceber sua própria
competência, se repreendida provavelmente irá desenvolver sentimento
de inferioridade e inadequação, e se elogiada provavelmente obterá
sensações positivas que reforçarão e incentivarão a sua competência e o
seu desenvolvimento constante.

A força básica que surge da diligência durante a etapa de latência é a


competência. Ela envolve o exercício da habilidade e da inteligência
na busca e conclusão de tarefas. (SCHULTZ; SCHULTZ 2002, p. 209,
grifo do autor)

5. Coesão da identidade versus confusão de papéis: a crise de


identidade - ocorre entre os 12 e 18 anos, fase do desenvolvimento em
que se exige resoluções a respeito da própria identidade ou formação
do ego. É nesta fase que o adolescente tenta construir uma identidade
apropriada, que reflita suas ideias no modo como se vê e no modo como
querem que o vejam. O adolescente que tem experiências positivas dentro
dessa fase sai deste processo preparado para idade adulta.

A força básica que deveria se desenvolver durante a adolescência


é a fidelidade, que surge de uma identidade do ego coesa e
engloba sinceridade, genuinidade e um senso de dever nos nossos
relacionamentos com a outra pessoa. (SCHULTZ; SCHULTZ 2002, p.
212, grifo do autor)

6. Intimidade versus isolamento - momento considerado prolongado


se comparado com as fases anteriores, uma vez que vai do fim da
adolescência até aproximadamente 35 anos. Neste caso, várias relações

48
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

sociais estão em jogo, os relacionamentos envolvem diversos tipos de


emoções que devem ser expressadas. A sensação de isolamento se dá
com aqueles que apresentam maior dificuldade em estabelecer essas
intimidades na vida com expressões de sentimentos mal adaptados, com
agressividade, por exemplo, como modo de defesa contra a ameaça a sua
identidade.

A força básica que surge da intimidade do início da fase adulta é o amor,


que Erikson considerava a maior virtude humana. Ele o descreveu como
uma devoção mútua numa identidade compartilhada, a fusão de uma
pessoa com outra. (SCHULTZ; SCHULTZ 2002, p. 212, grifo do autor)

7. Preocupação com as próximas gerações versus estagnação -


ocorre na idade adulta dos 35 aos 55 anos e está relacionada à fase de
maturidade quando relaciona a fase de ensino e orientação da próxima
geração. Essa fase é mais ampla que a necessidade de estabelecer
ensinamentos no meio familiar, aqui há uma preocupação com as
gerações futuras dentro da sociedade. Essa satisfação não se obtém
através dos ensinamentos dos filhos, mas sim, através da característica
de se preocupar com as gerações futuras.

O cuidar é a força básica que surge da preocupação com as próximas


gerações na fase adulta; Erikson definiu-o como uma preocupação
ampla pelos outros e dizia que ele se manifestava na necessidade de
ensinar, não só para ajudar os outros, mas também para formar a
própria identidade. (SCHULTZ; SCHULTZ 2002, p. 213, grifo do autor)

8. Integridade do ego versus desespero - geralmente ocorre na fase


final do desenvolvimento psicossocial, quando na velhice nos deparamos
com uma escolha entre a integridade do ego e o desespero. Nessa fase há
uma reflexão acerca dos esforços realizados ao longo da vida, deste modo
a visão que se tem da realização pessoal irá influenciar no resultado dessa
fase.

A força básica associada a essa fase final do desenvolvimento é a


sabedoria, que, derivada da integridade do ego, é expressa na
preocupação desprendida com o todo da vida. Ela é transmitida às
próximas gerações numa integração de experiências que é mais bem
descrita pela palavra ‘herança’. (SCHULTZ; SCHULTZ 2002, p. 213
grifo do autor)

49
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

A personalidade, aqui em Erikson, é constituída a partir das forças vitais que vão
constituindo o ego conforme as crises desenvolvimentais da personalidade vão
se resolvendo. O ego para Erikson encontra soluções criativas para resolução dos
problemas apresentados em cada estágio, portanto quando a situação não é resolvida
de modo a não frustrar os princípios de identidade do ego, o mesmo reage com
esforços multiplicados, típicos de um ego jovem em crescimento. Essas forças inatas
se enriquecem com os conflitos e crises, no entanto, e mais importante, é que o ego
parece ser o senhor do id, e não o contrário como estipulava Freud. Aqui o ego não é
manipulado pelo id e está diretamente aberto às pressões do mundo exterior, dessa
forma sofre consequências a partir das defesas irracionais, dos conflitos traumáticos,
da angustia, culpa, e ainda, está aberto a reagir com psicoterapias, e não está fadado
ao fracasso e ao inconsciente inacessível. Em Erikson, o que não se pode esquecer é
a influência histórico-cultural sobre a formação da personalidade, a qual se origina a
partir de um ego que se constitui em suas crises e dentro de valores dos aspectos da
realidade, que são: os fatos, a universalidade e a realidade.

50
CAPÍTULO 2
Teorias com ênfase na realidade
percebida (fenomenológica/
existenciais)

Abordagem centrada na pessoa de Carl


Rogers

“... a meta que o indivíduo mais pretende alcançar, o fim que ele
intencionalmente ou inconscientemente almeja, é o de se tornar ele
mesmo”. (ROGERS, 2009, p. 122). Com essa emblemática exposição
do pensamento de Carl Rogers, daremos início ao entendimento de sua
teoria, a conhecida por muitos como Teoria Centrada na Pessoa. Após
receber seu título de Ph. D em 1931 chegou em Ohio como professor de
psicologia a fim de formular opiniões sobre os atendimentos psicológicos
de pessoas emocionalmente perturbadas. (SHULTZ; SCHULTZ, 2002,
p. 316)

Para a construção da personalidade, Rogers sugeriu o entendimento de que os fatores


ambientais, familiares e das interações sociais estariam diretamente ligados ao
comportamento, e, mais tarde, usou a palavra autodiscernimento para atestar sua teoria
de que a pessoa a partir de uma relação construída do self, por meio do autodiscernimento,
era capaz de escolher os tipos de comportamentos ou senso de responsabilidade que a
formariam. Era, pois, o nível de autodiscernimento que iria indicar o comportamento
do sujeito. O self tornou-se a essência da teoria da personalidade, já que seria ele a
essência da própria vida. Em outros termos, o modo como Rogers via a formação de
uma pessoa seria a seguinte:

51
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Figura 5.

Consideração
Positiva ou Negativa

Tendência
Manutenção
Atualizante

SELF

Autodiscernimento
Aperfeiçoamento
ou autoconceito

Congruência ou
Incongruências

A teoria centrada na pessoa propõe uma tendência orgânica em se aperfeiçoar, ou seja,


todo ser vivo requer por natureza uma movimentação, ou participa de uma dinâmica
evolutiva, a fim de realizar-se potencialmente, a fim de chegar ao seu máximo. A
tendência atualizante, nada mais seria que um desejo do self de ir a fundo em cima
de suas necessidades, e gozá-las ao máximo, desde a necessidade da fome, em que a
intenção é estar totalmente saciado; até a necessidade de entender, realizar e expressar
profundamente suas necessidades de emoção, no entanto esse desejo parte do próprio
self, e se dá por meio do nível psicológico, mental, intelectual, racional, emocional,
consciente e inconsciente em que se encontra a pessoa.

Essa dinâmica de crescimento ou evolução do self tende a passar por um processo de


manutenção a fim de não infligir a dinâmica normal ou estruturante pelo qual o sujeito
já tem constituído. É um modo de avançar, sem desestruturar. Pois ao mesmo tempo
em que a tendência atualizante requer mudança e conta com a ajuda da manutenção
das mudanças outras realizadas, ainda há uma briga com a natureza conservadora
que age na intenção de proteger seu autoconceito, ou seja, que age na força da não
desestruturação egóica.

E, portanto, chegamos ao aperfeiçoamento, o qual está ligado à tendência de ir


mais além para atingir o crescimento. O aperfeiçoamento não é um processo fácil,
uma vez que exige do sujeito desafios que requerem o romper do medo da ameaça.

52
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

Porém, a ameaça suprime o desejo do aperfeiçoamento uma vez que este faz parte do
processo inerente do desenvolvimento humano e deve ser, em sua maioria, alcançado
por ser uma tendência mais biológica que subjetiva, e, por isso, responsável pela
maturação. Quando estamos vivendo de acordo com o que o mundo exterior nos
oferece, ou como ele nos revela, faremos uma avaliação que irá considerar se as
tendências atualizantes para aqueles propósitos estão sendo absorvidas de modo
positivo ou negativo, e são essas condições que provêm considerações positivas para
a continuidade do desenvolvimento, isso ocorre desde a infância, ou negativa, o
que irá atrapalhar a criar incongruências no desenvolvimento. O modo de perceber
e passar pelos aspectos de sua experiência pode não ser apenas vivenciado de
considerações positivas, aceitação, merecimentos, aprovação, afeto, desenvolvendo
pleno e favorável autoconceito. Deste modo, o nível de adaptação psicológica pode
ser influenciado, uma vez que a saúde emocional é uma função da congruência ou
compatibilidade entre o autoconceito e as experiências. (FEIST, FEIST; ROBERTS,
2015, p. 195; SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 322).

A principal crítica que muitos psicólogos fazem a teoria de Rogers


é que ela se baseia em um tipo ingênuo de fenomenologia. Existem
abundantes evidências mostrando que fatores não disponíveis para a
consciência motivam o comportamento e que aquilo que uma Pessoa
diz de si mesma está distorcido por defesas e enganos de vários tipos. Os
auto- relatos carecem notoriamente de confiabilidade, não só porque as
pessoas talvez pretendam enganar seus ouvintes, mas também porque
elas não conhecem toda a verdade sobre si mesmas. Rogers foi criticado
por ignorar ou inconsciente, cuja potência para controlar a conduta
humana foi comprovada por investigações psicanalíticas durante o
período de oito décadas. Rogers acredita que não há necessidade de
sondar, de interpretar, de realizar análises extensas e intricadas dos
sonhos, ou de escavar camada após camada da psique - porque a
pessoa se revela naquilo que diz sobre si mesma. (HALL, LINDZEY,
2004, p. 385).

O termo awareness, tão utilizado na atualidade para falar em controle de consciência,


foi em Rogers utilizado para definir a representação simbólica de parte de nossa
experiência. Rogers pontua que nem todos se tornam indivíduos sadios e isso ocorre
devido a maior parte das pessoas considerarem as condições de valor, incongruência,
defesa e desorganização, ou seja, elas percebem que as pessoas do seu convívio mais
íntimo só as amam em cima de suas perfeições. Na terapia centrada na pessoa,
Rogers crê que sempre que a congruência, consideração positiva e incondicional e

53
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

empatia estiverem presentes no relacionamento o crescimento psicológico ocorrerá


invariavelmente.

Apresentação de dois vídeos com entrevistas. O segundo não está totalmente


legível, porém ambos valem a pena, pois são uma produção em que o próprio
Carl Rogers fala e exemplifica sua técnica.

<https://www.youtube.com/watch?v=_5AM54Dubkw>.

<https://www.youtube.com/watch?v=bIxAQ79RmL4>.

Hierarquia das necessidades de Abraham


Maslow
Segundo Feist, Feist e Roberts (2015), a teoria de Maslow já fora chamada de humanista,
transpessoal, a terceira força na psicologia, a quarta força na personalidade, teoria das
necessidades e teoria de autorrealização; no entanto, Maslow, em 1970, se referia a sua
teoria como holístico-dinâmica. Ele acreditava que uma pessoa em sua totalidade vive
constantemente sendo motivada por uma necessidade, a qual faz com que o indivíduo
cresça em direção à saúde psicológica (autorrealização). Para o autor, a necessidade
de satisfazer os níveis inferiores da pirâmide, que são os mais importantes para
sobrevivência real, fazem com que o insucesso em satisfazê-los produzam déficit ou
privação do indivíduo, ao que ele chamou de necessidades de déficits ou de deficiência.
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).

Para as necessidades de crescimento é importante que o indivíduo satisfaça as


necessidades superiores, ou seja, aquelas que estão mais próximas ao topo da pirâmide
a fim de aprimorar a saúde e a longevidade. Por essa razão, as necessidades superiores
são benéficas psicologicamente e levam ao contentamento, felicidade e realização do
ser. O importante na proposta de Maslow é que conheçamos a hierarquia de cinco
necessidades inatas ou necessidades e instintoides, que explicam a necessidade da
teoria hierárquica e falam de necessidades não apenas para a sobrevivência mas de
necessidades que ao serem cumpridas vão se aperfeiçoando. No entanto, é notório
que as necessidades básicas quando não superadas fazem com que as necessidades
superiores se tornem de menor importância.

Nos termos da personalidade, Maslow propõe que as pessoas autorrealizadas, que


conseguem atingir os níveis hierárquicos da pirâmide, estão livres de psicopatalogias,
ou seja, essas pessoas têm progredido na hierarquia das necessidades e necessitam
adotar os valores ao quais ele chamou de valores B ou metamotivação, que se definem

54
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

por 14 valores os quais pessoas que alcançaram o topo da pirâmide se sentem motivadas
para autorrealizarem-se, de modo a maximizar sua felicidade pessoal e direcioná-las
em torno de vários eixos e não apenas mais um objetivo a seguir.

Pessoas autorrealizadas necessitam de aspectos como verdade, bondade, beleza,


integridade, vivacidade, singularidade, perfeição, realização, justiça, simplicidade,
totalidade, falta de esforço, humor e autonomia. São 14 valores B ou metamotivação
que estão interligados; os valores das pessoas autorrealizadas são maiores que as
pessoas cujo crescimento psicológico foi abalado quando atingiram as necessidades
básicas. Ele justifica sua teoria holística uma vez que afirma que as pessoas possuem
um modo avançado para a perfeição ou totalidade. Quando as pessoas não alcançam
esse padrão de totalidade e esse movimento fica abalado ou é frustrado os sentimentos
de inadequação, desintegração e não realização vêm à tona, o que faz com que os valores
B ausentes nessa personalidade se revelem em patologias, como por exemplo, quando
a falta de comida resulta em desnutrição, é mais ou menos esse o processo quando o
valor B é retirado da pessoa. (FEIST, FEIST; ROBERTS; SCHULTZ; SCHULTZ, 2002)

Figura 6.

Fonte:<http://desbravandoturismo.blogspot.com.br/2010/09/teoria-das-necessidades-x-turismo.html>. Acesso em: 20 agosto


de 2016.

55
CAPÍTULO 3
Teorias com ênfase na aprendizagem
(comportamentais/sociocognitivas)

Teoria do condicionamento operante de


Burhus Frederick Skinner
Skinner foi, por muitos anos, muito famoso nos Estados Unidos por ter uma psicologia
totalmente oposta às explicações mentais, subjetivas, intermediárias ou como costumava
dizer ficcional. Ele levava a sério o estudo sobre o comportamento de modo oposto
às abordagens psicanalíticas de traços, desenvolvimentista, cognitiva e humanistas
por acreditar na relação que as ciências deveriam ter com o método. Embora não
negasse a existência das forças internas surpreendeu a todos quando passou a estudar
a personalidade pela interpretação do comportamento, mas não por uma explicação de
suas causas. Para ele, a psicologia deveria evitar os fatores mentais internos e ter como
foco os eventos físicos observáveis. Foi trabalhando com animais que ele postulou a ideia
de que o comportamento poderia ser controlado pelas consequências, por tudo aquilo
que acompanhava o modo respondente do animal. Seus trabalhos com condicionamento,
comportamentos respondentes, reforçamento, extensão, comportamento operante e
esquema de reforçamento são por muito reconhecidos.

Seja qual for a técnica de avaliação escolhida para avaliar o


comportamento em diferentes situações de estímulo, o foco permanece
no que as pessoas fazem, não no que as teria motivado a fazê-lo. O objetivo
fundamental é modificar o comportamento, não a personalidade.

SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 379.

Mas o que iremos aqui abordar é o pensamento de Skinner sobre a teoria da personalidade.
Conforme Fadiman e Frager (2008, p.291) a personalidade para Skinner é uma coleção
de padrões de comportamento. A personalidade no sentido de obtenção de um self
não tem lugar na análise comportamental do behaviorismo, uma vez que diferentes
situações evocam diferentes padrões de comportamento. Portanto, observa-se que
o pensamento behaviorista é extremamente contra a ideologia do ser pertencente a
camadas interiores que o constituem. Para eles, o self é uma privação de liberdade do
comportamento e estudá-lo é um retrocesso à psicologia, uma vez que não pode ser
visto ou medido.

56
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

Dizem que a “patologia central de nossa época é o fracasso da vontade, o


que trouxe o surgimento da psicanálise», parece mais profundo do que
dizer que no mundo de hoje, poucos comportamentos são reforçados e
muitos são punidos, e que a psicanálise passou a existir para organizar
melhor as contingências (SKINNER, 1974, p. 163 apud FADIMAN;
ROBERT, 2008, p. 293).

Teoria sócio cognitiva de Albert Bandura


A teoria da aprendizagem social concentra-se em comportamentos sociais obtidos
a partir da observação e imitação dos modelos. Assim como Skinner, o psicólogo
estudioso dessa abordagem, Albert Bandura, concentrou-se nos comportamentos
deixando de lado os traços, impulsos, necessidades, e mecanismo de defesa, no entanto
não descartou as variáveis cognitivas presentes no processo estímulo e resposta.

Aprendizagem social pode significar toda aprendizagem que ocorre


como resultado da interação social, ou que, de alguma forma, envolva
interação social. (SALOMON; PERKINS, 1998, apud, LEFRANÇOIS,
2008, p. 373, grifo do autor).

Bandura dá destaque à relação criança e ambiente, dentro da perspectiva da


aprendizagem social. Para ele, o comportamento humano é proveniente de um
aprendizado que se forma dentro de relações, do que se aprende no contexto social. Deste
modo, a aprendizagem é vista como um processo complexo e que não se explica pelo
condicionamento, daí a importância da cognição. Por aplicar técnicas de modificação do
comportamento na área clínica utilizando variáveis cognitivas, a abordagem também
foi denominada “comportamental cognitiva”.

Os principais agentes de socialização são as instituições: família, escola,


igreja, parquinhos, meios de comunicação etc. Essas instituições
transmitem às crianças costumes, valores, hábitos, crenças e outros
aspectos exteriores que definem as culturas humanas. (Ibdem p. 374)

Vilela (2016, p. 45) destaca que a ideia básica de Bandura está na ocorrência da
aprendizagem a partir da observação ou imitação, de modo que o comportamento
possa ser influenciado, por algum tipo de reforço sim, no entanto não sendo o reforço
um limitador para a aprendizagem. Ou seja, aprendizagem pode ser observacional,
chamada ainda de aprendizagem por modelação, quando a partir da observação
do comportamento de outras pessoas (modelos) adquirimos novas respostas. E ainda,
aprendizagem pode se dar por meio do reforço vicariante, que é o aprendizado a

57
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

partir do fortalecimento do comportamento realizado por outros e das consequências


desse comportamento. O que quer dizer que em vez de experimentar a consequência
desse comportamento aprenderemos a partir da observação dessa consequência no
comportamento do outro.

Por reforço e modelação, as crianças aprendem não apenas


comportamento manifesto, mas também ideias, expectativas, padrões
internos e autoconceitos. A criança aprende padrões para seu próprio
comportamento expectativas sobre o que ela pode não pode fazer –
autoeficácia. (BEE & BOYD, 2011, p. 267, grifo do autor)

É dentro desse desenvolvimento em contato com um conjunto de agentes


favorecedores ao mesmo, como o autorreforço, por exemplo, que a pessoa vai por
si só, colaborando participativamente do seu processo. Uma vez que administra por
si própria recompensas e punições, que está apta a discernir sobre suas atitudes e
integrá-las aos princípios éticos e morais do seu modelo social, superar ou frustras
suas expectativas e desafiar-se a construir novos padrões de comportamentos, está
demonstrando um crescente desenvolvimento.

Para sua melhor compreensão, vamos conceituar autorreforço e autoeficácia conforme


Bee e Boyd (2011), Schultz e Schultz (2002), Lefrançois (2008), pensemos então em
autorreforço como um processo tão importante quanto o reforço aplicado pelos outros,
pois é um modo de recompensa ou punição que crianças mais velhas ou adultos podem
utilizar a fim de melhorar os padrões internos de desempenho, neste caso podem ser
tangíveis (a compra de um novo automóvel) ou intangíveis (satisfação por uma tarefa
bem realizada). O conjunto de padrões internos, que serão utilizados como modelos
de comparação, são adquiridos a partir do comportamento de modelos, geralmente de
pais e professores. Já a autoeficácia está relacionada ao julgamento que fazemos sobre
o quanto somos eficazes, o como nos sentimos adequados e competentes para lidarmos
com a vida, e que são regulados pelo nosso padrão de desempenho.

Algo importante de se destacar em sua visão é que não há um processo imitativo


automático dos comportamentos observados, em vez disso há uma decisão consciente
do comportamento que se irá realizar, o que implica na mediação dos processos
cognitivos dentro dessa ideia de aprendizagem. Para o autor, as pessoas são agentes
de suas ações elas não se estão submissas às experiências vivenciadas, seu sistema
sensorial, motor e cerebral são tidos como ferramentas para a realização de tarefas e
objetivos que direcionam, dão sentido e complementam suas vidas.

58
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II

Figura 7.

REFORÇADORES
AMBENTAIS
Resposta emocional
de outro apoio social

FATORES
COMPORTAMENTO PESSOAIS/COGNITIVOS

Respostas a fracassos: Crenças, traços,


imitação de modelos emoções.
Fonte: Bee e Boyd, 2011, p. 266.

Para compreender melhor o processo de aprendizagem por observação, que foi


visivelmente influenciado pelos princípios do condicionamento, iremos destacar os
seguintes processos envolvidos:

Quadro 8.

Exemplo
Processo de Atenção
João tem de 25 anos e viu sua mãe preparar omeletes para o café da
Este processo está relacionado o modo como distinguir luz ou damos
manhã quase todas as manhãs até o dia de hoje, no entanto, no dia
atenção aos comportamentos, uma vez que nem todo comportamento
em que sua mãe precisou que ele preparasse o café da manhã para
nos será útil nesse processo. Bando de destacar que estar atento ou
sua irmã ele não soube como preparar as omeletes. Apesar de ser sua
não é um comportamento modelo depende muito do valor que damos
comida preferida lê-la manhã e de ter visto sua mãe prepará-la repetidas
a esse comportamento, depende ainda do quanto o comportamento é
vezes, o comportamento de sua mãe de fazer omeletes não teve alto
nítido e útil.
valor para João, fazendo com que ele nunca aprendesse a prepará-la.
Exemplo
Processo de Retenção João para aprender a preparar omeletes deve ser capaz de verbalizar a
Neste modelo o observador precisa voltar sua atenção e ser capaz de sequência das ações - acenda o fogão, coloque a manteiga na frigideira,
guardar a informação daquilo que observou. Neste caso dois processos quebre os ovos dentro de uma vasilha separadamente, bata levemente
de representação estão sendo utilizados pelo observador que são o com um garfo, despeje sobre a panela com a manteiga derretida e
visual e/ou o verbal. aguarde alguns minutos, com uma espátula vire o lado da omelete, retire
do fogo e desligue o fogo. (Representação verbal)
Exemplo
Processo de Reprodução Motora A mãe de João pode demonstrar várias vezes como preparar uma
omelete mas se João não tiver nenhuma habilidade motora para quebrar
Visa transformar ações imaginadas em comportamentos concretos,
e bater os ovos, compreendera sequência das ações imitar corretamente
no entanto, são necessárias capacidades motoras e físicas, ou ainda
sua mãe nesse processo, e ainda se não conseguir avaliar e corrigir o
capacidades verbais e intelectuais.
seu desempenho, João não conseguirá imitar o seu modelo da forma
correta.
Exemplo
Processo Motivacional
João descobriu que sua mãe estava passando por um processo de
O observador deve ter motivação, ou seja, deve ter razões que
enfermidade graças ao grande cansaço acumulado pelas tarefas
provoquem e estimulem o seu comportamento. Será a motivação um
rotineiras durante anos, a partir daí João aprendeu a preparar
facilitador para o processo de aprendizagem a partir da imitação.
corretamente as omeletes pelas manhãs.
Fonte: Adaptado pela autora a partir de Schultz; Schultz, 2002, p. 394.

59
TEORIAS DOS TRAÇOS E
DOMÍNIO LIMITADO DA UNIDADE III
PERSONALIDADE
Figura 8.

Fonte:https://diversaoetedio.wordpress.com/2013/04/14/teste-de-personalidade-quem-e-voce/ Acesso em 15 agosto 2016.

CAPÍTULO 1
Teorias com ênfase na estrutura da
personalidade (abordagem dos traços)

Teoria de traços de Gordon Allport


Gordon Allport, psicólogo, estudioso das teorias da personalidade, juntamente com
Henry Murray, tornou a personalidade um tópico respeitado e parte da psicologia
científica no mundo acadêmico, na década de 30. Allport era reticente à teoria das
forças inconscientes que dominavam a personalidade de adultos normais; acreditava
que pessoas emocionalmente saudáveis reagiam de forma consciente e podiam
controlar várias das forças que motivavam o seu comportamento, no entanto aceitava
o inconsciente para comportamentos neuróticos ou problemáticos. Em seu modo de
enxergar a formação da personalidade, Allport declara que não estamos presos ao
determinismo histórico das experiências e conflitos da infância, uma vez que somos

60
TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE │ UNIDADE III

guiados pelo presente e pelo que esperamos do futuro. Enquanto Freud trabalhava em
um continuum entre personalidades normais e anormais, para Allport a personalidade
anormal agia no nível infantil, e, por isso, a fim de se estudar este tipo de personalidade,
era necessário coletar dados de adultos emocionalmente saudáveis. Seu trabalho dava
ênfase à singularidade da personalidade, pois em sua teoria o desenvolvimento da
personalidade revela um papel proeminente de traços individuais em cada ser humano.
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 236).

Após estudar várias teorias acerca da personalidade, Allport formulou a sua própria
definição, e em 1937 definiu-a como “a organização dinâmica dentro do indivíduo,
daqueles sistemas psicofísicos que determinam seu comportamento e pensamento
característicos”. (FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015, p. 237). Para transmitir uma
ideia fidedigna do que queria expressar, ele explicou cada aspecto da sua definição.
Por exemplo, a organização dinâmica era entendida como uma inter-relação de
inúmeros aspectos da personalidade, sendo a personalidade organizada e padronizada.
No tocante da organização ela está sempre sujeita a mudanças por isso o qualificou
“dinâmica”. Explicou o pensamento sugerindo que a personalidade não é um organismo
estático, mas sim o que está constantemente se desenvolvendo ou mudando. Para os
sistemas psicofísicos, ele enfatiza a importância dos aspectos psicológicos e físicos
presentes na personalidade. De certo modo a explicação é de que a personalidade não
é uma máscara apenas que usamos só para realizar o comportamento, a personalidade
se refere ao indivíduo por trás desta máscara, a pessoa por trás da ação. Já para os
pensamentos característicos ele sugeriu que a palavra “característicos” retratava
os termos “individual” ou “único”, deste modo os sistemas psicofísicos determinam
o “caráter” da pessoa, uma vez que caráter originalmente significa uma marca, ou
gravação de algo que confere sabor, algo que quer dizer “característico”. Então, caráter
seria essa marca única, o registro de uma pessoa, o que a define como ela é. Já o
comportamento e o pensamento são apenas algo que se relacionam com o que se
faz. (Ibidem, 2015, p. 237).

Allport diz que embora haja um crescimento no contexto da personalidade, ele não é
aleatório, já que abordamos a estrutura psicofísica que significa que a personalidade
se compõe - parte mente parte corpo - constituindo-se em unidade não totalmente
mental nem totalmente biológica. Todas essas facetas ativam comportamentos, ideias
específicas, e tudo o que pensamos e fazemos é parte do que somos. A importância
da hereditariedade e do ambiente também está relacionada às variáveis pessoais e
situação, mas a genética e a aprendizagem devem ser levadas em consideração. No
entanto, nos alerta que a psicologia deve estudar individualmente cada pessoa que se
lhe apresenta.

61
UNIDADE III │ TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE

Ele não encontrou o continuum de personalidade entre a infância e vida adulta,


conforme Freud postulou, e que este acreditava que as características diferenciadoras
que moldam o comportamento eram compostas por traços que poderiam ser medidos
num continuum e estariam sujeitos às influências socioambientais e culturais.

Os traços de personalidade respondem a tipos diferentes de estímulos e se apresentam


nas seguintes características:

» são existentes em cada indivíduo e servem para explicar o comportamento;

» provocam o comportamento e não surgem em resposta a estímulos, mas


motivam a buscar estímulos adequados com o ambiente para produzir
comportamentos;

» os traços podem ser demonstrados empiricamente na coerência das


respostas de uma pessoa ao mesmo estímulo ou a um estímulo semelhante,
ou seja, pela constância;

» os traços estão interligados mesmo que representem características


diferentes, ou seja, traços diferentes que não estão ligados podem ser
observados no mesmo comportamento;

» variam de acordo com uma situação, por exemplo, uma pessoa pode ser
extremamente organizada, porém no momento de conflitos pode deixar a
organização como o último comportamento em sua ordem de motivação
situacional.

Para que o caráter possa ser bem definido, Allport propôs que os traços individuais
que são únicos sejam definidos como aquilo que marca cada pessoa, diferentemente dos
traços comuns, os compartilhados por várias pessoas, assim como os membros de
uma cultura, por exemplo, membros de uma mesma família. Mas se falarmos de caráter
que se moldam por traços de comportamentos individuais em uma pessoa podemos
pensar mais a fundo sobre como esse autor constitui a personalidade pensando em self.
Afinal nesta teoria há um self?

Allport sugeriu um termo para ego ou self, o qual denominou proprium “centro vital
da personalidade, o proprium inclui aqueles aspectos da vida que a pessoa considera
como importantes para um senso de identidade e autocrescimento”. (ALLPORT, 1955
apud FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015, p. 240).

Então, para termos uma definição mais adequada do proprium vamos pensar nele como
comportamentos e características que as pessoas pensam ser vitais ou importantes em

62
TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE │ UNIDADE III

sua vida, e esses comportamentos seriam senso de identidade e auto crescimento que
incluem o valor de uma pessoa e a consciência do que é pessoal, do que é um aspecto
dela mesma, assim como suas crenças. O proprium é, portanto, tudo aquilo que o
indivíduo se refere como «seu», «sou» e «meu».

O self e o ego são vistos por Allport como o mesmo fenômeno, o qual ele chamou de
proprium, portanto o self, em outras palavras, é essa parte do ser que se constitui ao
longo da vida. Esse “eu” que não é identificado na infância, se desenvolve e se diferencia
a partir de expressões pessoais, históricas e culturais, mas apenas na maturidade o
self está completo, e isso ocorre através do que ele trouxe como teoria da motivação.
Impulsos e não eventos passados motivam o comportamento, e isso difere dos esforços
do proprium. Os motivos reduzem a intensidade de uma necessidade, enquanto
os esforços do proprium mantêm a tensão e o desequilíbrio para proporcionar o
comportamento proativo que permite o crescimento em direção à saúde mental. (FEIST,
FEIST; ROBERTS, 2015, p. 241; HALL-LINDZEY, 2002, p. 242)

Allport denominou como estruturas da personalidade mais importantes as características


individuais de disposições pessoais. As disposições pessoais foram de grande
importância por permitir aos pesquisadores estudarem um único indivíduo. Para ele, a
personalidade era uma estrutura neuropsíquica peculiar ao indivíduo com a capacidade
de tornar os estímulos funcionalmente equivalentes e começar a orientar formas
análogas de comportamento adaptativo e de estilo. Para que possamos distinguir um
traço comum de uma disposição pessoal devemos entender que as disposições pessoais
são individuais e os traços comuns estão indicados pela expressão que se encontra em
vários indivíduos. Ou seja, os traços descrevem características relativamente estáveis
que são encontrados na maioria das pessoas, sendo características que são temporárias,
avaliativas ou físicas.

Um indivíduo pode ter diferentes traços em diferentes momentos de sua vida, no entanto,
o número de disposições pessoais não pode ser encontrado sem três referências ao grau
de dominância de cada disposição pessoal que se encontra na vida de um individuo, os
quais são centrais para uma pessoa, sendo assim, cada um provavelmente tem 10 ou
menos disposições pessoais.

Abordagem analítico-fatorial de traços de


Raymond B. Cattell
Catell, após obter o seu título de doutor, foi convidado por Edward L. Thorndike a
trabalhar em seu laboratório, e um ano após seguiu para ser professor na universidade
em Worcester - Massachusetts. Em 1941, mudou para Havard e trabalhou entre os

63
UNIDADE III │ TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE

colegas Murray, Allport, Sheldon e desenvolvia sua teoria de personalidade e tipo


corporal.

Numa extraordinária carreira de 70 anos, Raymond B. Cattell


efetuou enormes contribuições fundamentais à psicologia, incluindo
se mapeamentos de análise fatorial dos domínios da personalidade,
motivação e capacidade (...) Cattell não tem paralelo em sua criação
de uma teoria unificada das diferenças individuais ao integrar os
domínios intelectual, temperamental e dinâmico da personalidade.
(premiação de medalha de ouro, 1997, p. 797, apud, SCHULTZ;
SCHULTZ, 2002, p. 258)

Traços são unidades estruturais da personalidade.

Quadro 9.

De certa forma, todos partilham traços comuns. Por exemplo, todas as pessoas têm certa medida da inteligência
Traços comuns
ou extroversão.
Cada um de nós possui traços singulares que fazem nossa distinção como indivíduos; por exemplo, gostar de
Traços singulares
política ou se interessar por beisebol.
Traços de habilidades Nossa destreza ou capacidade determina qual bem podemos atuar com relação aos nossos objetivos.
Nossas emoções e sentimentos (por exemplo, se somos assertivos, irritadiços ou calmos) participam da
Traços de temperamento
determinação de como reagimos às pessoas e ao ambiente que nos cercam.
Traços dinâmicos São forças que fundamentam nossas motivações e impulsionam nosso comportamento.
Estas características são compostas por um número qualquer de traços originais ou de elementos
Traços superficiais comportamentais e, portanto, podem ser estáveis e transitórias, mais fracas ou mais fortes, em resposta às
diferentes situações.
Traços originais São elementos únicos, estáveis e permanentes do nosso comportamento.
São traços originais com determinação biológica, tais como os comportamentos resultantes por ingestão de
Traços constitucionais
álcool em excesso.
Traços moldados pelo São traços originais com determinação do ambiente, tais como os comportamentos resultantes da influência dos
ambiente nossos amigos, do ambiente de trabalho ou da região em que vivemos.
Fonte: (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 258).

Teoria de três fatores ou de traços biológicos


de Hans Eysenck
O autor conduziu pesquisas sobre a mensuração da personalidade e o seu principal
trabalho foi realizado com sua esposa Sybil (PhD em psicologia) que aproximadamente
nos anos 80 apresentaram resultados do seu trabalho sobre a teoria da personalidade,
baseada em três dimensões específicas: extroversão versus introversão; neuroticismo
versus estabilidade emocional; psicotismo versus controle de impulsos.

Eysenck acreditava que os traços da personalidade eram determinados pela


hereditariedade, embora as pesquisas indiquem um componente genético maior

64
TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE │ UNIDADE III

para extroversão e neuroticismo do que para psicotismo. A extroversão baseava-se na


orientação da pessoa para o mundo exterior, enquanto os introvertidos ao oposto, no
entanto Eysenck questionava as diferenças biológicas e genéticas existentes entre as
pessoas extrovertidas e introvertidas. No neuroticismo, diferentemente, os neuróticos
eram vistos como pessoas ansiosas, tensas, deprimidas, irracionais e emotivas. Sua
perspectiva evidenciava a descontinuidade dos tipos extrovertidos e introvertidos
colocando-se opostos, assim, a tendência de um tipo era anular o outro. E mesmo que
os tipos tivessem sua importância não caminhavam sem os traços da personalidade,
a qual tinha como função oferecer compreensão a certos comportamentos revelados
pelas pessoas em específicos momentos. A expectância dessa teoria era diferenciar os
sujeitos que estivessem em posições diferentes nos conceitos de tipos da personalidade,
ou seja, aqueles com características ou traços ansiosos no extremo, fossem totalmente
diferentes do que está em outro polo, o que demonstraria um traço de ansiedade baixo
e um temperamento calmo. (SCHULTZ; SCULTZ, 2002)

Por esta razão, a compreensão do comportamento dos indivíduos requer,


por um lado, a análise de interação entre os traços de personalidade e
as situações específicas, e por outro, a análise dos estados manifestados
perante essas situações, sobretudo quando as repostas comportamentais
específicas manifestadas não são as habituais. (ALMIRO, 2013, s/p).

Quadro 10. Traços das dimensões de personalidade de Eysenck.

Neuroticismo/Estabilidade
Extroversão/Introversão Psicotismo/Controle de impulso
emocional
Sociável Ansioso Agressivo
Animado Deprimido Frio
Ativo Com sentimentos de culpa Egocêntrico
Assertivo Com baixa autoestima Impessoal
Que procura emoções Tenso Impulsivo
Despreocupado Irracional Antissocial
Dominador Tímido Criativo
Aventureiro Emotivo Obstinado
Fonte: (SCHULTZ; SCHULTZ, p. 272).

Hans Eysenck (1997) formulou uma teoria com componentes psicométricos e biológicos
que defendia que a sofisticação da Psicometria isolada para medir a estrutura da
personalidade humana, e que as dimensões da personalidade ─ a que se chegou por
meio dos métodos de análise fatorial ─ são estéreis e pouco significativas, a menos que
elas tenham demonstrado uma existência biológica. (FEIST, FEIST; ROBERTS, 2014,
p. 274). Eysenck extraiu matematicamente três dimensões da personalidade que são
a extroversão (E), neuroticismo (N) e psicoticismo (P); considerando no polo oposto

65
UNIDADE III │ TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE

a introversão, estabilidade e função do superego. A extroversão e o neuroticismo (ou


ansiedade) são fatores básicos existentes em quase todos os estudos de análise fatorial
de personalidade, incluindo as versões de cinco fatores.

As dimensões da personalidade propostas por Eysenck têm forte argumentação na base


biológica dos três super fatores aceitos biologicamente, diferentemente dos traços como
amabilidade e conscienciosidade que não possuem uma base biológica. Portanto, as três
dimensões da personalidade fazem sentido uma vez que Jung e outros reconheceram
o efeito da extroversão e da introversão no comportamento, e Freud enfatizou a
ansiedade na modelagem do comportamento. Outrossim, o psicotismo corrobora com
a ideia de Maslow que compreende a saúde psicológica desde a auto atualização até a
esquizofrenia e a psicose. Ainda, Eysenck demonstrou que os três fatores se relacionam
a temas sociais como o uso de substâncias, comportamentos sexuais, criminalidade,
prevenção de câncer e doença cardíaca, e criatividade. (Ibdem, p. 275)

Os conceitos de Eysenck estão mais próximos do modelo popular de pensar extroversão


e introversão. Os extrovertidos são aqueles caracterizados pela sociabilidade pela
vivacidade, otimismo e traços indicativos das pessoas que são gratificadas pela
associação com outros. Já os introvertidos são caracterizados por traços opostos aos
dos extrovertidos, são pessoas mais quietas, passivas, pouco sociáveis, reservadas,
pensativas, pacíficas e controladas. No entanto, para o autor a principal diferença entre
a introversão e a extroversão está no nível biológico e genético, em grande parte herdada
em vez de aprendida

No neuroticismo/estabilidade, assim como extroversão/introversão o fator N possui


grande base hereditária. Na técnica da análise fatorial muitas pessoas podem ter
altos escores na escala N, mas exibirem sintomas diferentes, dependendo do grau de
introversão ou extroversão.

O psicotismo é um fator bidirecional e há várias combinações que implicam de forma


singular no escore de cada pessoa, podendo ser marcado no espaço tridimensional.
(Id Ibdem p. 278)

Teoria dos cinco grandes fatores de Paul Costa


e Robert McCrae
Na tentativa de um trabalho fundamentado na Teoria dos traços, antes realizada por
outros autores, Robert R. McCrae, após seu doutorado, uniu-se a Paul T. Costa Jr. e
juntos trabalharam no modelo psicométrico de medição baseado na teoria dos traços,
não desenvolveram uma teoria, mas se empenharam numa taxonomia, ou melhor, em

66
TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE │ UNIDADE III

um sistema de classificação baseado em dados empíricos. Baseado nos estudos de Allport


e Cartel, nas décadas de 30 e 40, foram construindo taxonomias ao longo dos anos e por
volta dos anos 80 desenvolveram os cinco fatores da personalidade - NEO-PI, que se
diferencia por ser a revisão de um inventário de personalidade anterior não publicado
cujas 3 dimensões utilizadas foram: neuroticismo, extroversão e abertura à experiência.
Para eles, assim como pontuou Eysenck, os traços da personalidade eram bidirecionais
com uma variedade de combinação de escores e tipos de traços, ao que chamaram de Big
Five, McGrae concordou com Eysenck sobre a bidirecionalidade dos traços.

Quadro 11.

Escores altos Escores baixos


Afetivos Reservado
Agregadores Solitário
Falantes Quieto
Extroversão
Que adoram diversão Sóbrio
Ativos Passivo
Apaixonado Insensível
Ansioso Calmo
Temperamental Equilibrado
Autoindulgente Satisfeito consigo
Neuroticismo
Inseguro Tranquilo
Emocional Não emocional
Vulnerável Resistente
Imaginativo Prático
Criativo Não criativo
Original Convencional
Abertura à experiência
Prefere variedade Prefere rotina
Curioso Não curioso
Liberal Conservador
Gentil Insensível
Confiante Desconfiado
Generoso Mesquinho
Amabilidade
Aquiescente Antagonista
Flexível Crítico
Bondoso Irritável
Consciencioso Negligente
Trabalhador Preguiçoso
Bem organizado Desorganizado
Conscienciosidade
Pontual Atrasado
Ambicioso Sem objetivo
Perseverante Pouco persistente
Fonte: (FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015, p. 258).

67
UNIDADE III │ TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE

Para analisarmos aquilo que realmente devemos levar em consideração, como os


componentes centrais da personalidade, veremos que os autores trabalham com
as bases biológicas como sendo um dos fundamentos para explicar as disposições e
capacidades da personalidade que não podem ser observados, assim como todos os
outros componentes aqui apresentados. Os componentes centrais dentro do sistema
de personalidade, de acordo com a teoria dos cinco fatores, iniciam nas tendências
básicas. O padrão do comportamento é previsto a partir da compreensão dos processos
centrais (tendências básicas, adaptações características e autoconceito) e os processos
periféricos são resultados de dinâmicas que indicam a direção das influências, ou seja, a
biografia objetiva (experiências de vida) é percebida por ser resultado de características
e influências externas adaptadas, são as contribuições periféricas que unidas num
processo dinâmico formulam o sistema da personalidade que persiste em termos de
modificações em todo o tempo de vida da pessoa. O primeiro, tendências básicas,
encontram-se nas esferas do neuroticisismo, extroversão, abertura à experiência,
amabilidade, conscienciosidade. É dentro dos processos dinâmicos que a teoria se
desenvolve, ou seja, as adaptações características das culturas, valores, fenômenos
condicionados, atitudes e esforços pessoais se mobilizam a fim de formar a biografia
objetiva do sujeito, lugar em que as reações emocionais corroboram na construção do
comportamento. O autoconceito faz parte dos componentes periféricos essenciais para
formação da personalidade enquanto que a biografia objetiva e as influências externas
são componentes centrais, ou influências causais do processo psicodinâmico. A biografia
objetiva está relacionada às reações emocionais e às mudanças de comportamento,
enquanto as influências externas estão ligadas à formação das normas culturais e dos
eventos na situação de vida do sujeito.

...visões conscientes que as pessoas têm de si mesmas são relativamente


precisas, com alguma distorção talvez. Em contraste, os teóricos
psicodinâmicos argumentam que a maior parte dos pensamentos
e sentimentos conscientes que as pessoas têm de si mesmas é
inerentemente distorcida, e a verdadeira natureza do self (ego) é, em
grande parte, inconsciente. Contudo, McCrae e Costa (2003) incluem
os mitos pessoais como parte do autoconceito.
(FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015, p. 260).

Importante relacionar como postulado para as tendências básicas a individualidade,


uma vez que ela determina que os adultos formam um conjunto único de traços que
são individuais a cada pessoa, e que se apresentam como uma combinação singular de
padrões de traços, sendo todos os traços de personalidade resultado de forças internas.
O postulado do desenvolvimento pressupõe que os traços não apenas se desenvolvem,
mas modificam-se durante a infância e adolescência, e esse desenvolvimento fica cada

68
TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE │ UNIDADE III

vez mais lento na vida adulta e quase para por completo. O postulado da estrutura
define os traços organizando-os de modo hierárquico, dividindo desde traços limitados
até traços específicos, amplos e gerais, como Eysenck sugeriu.

Psicologia evolucionista de David Buss


Não apenas para tratar do pensamento da teoria da evolução dentro da teoria da
personalidade, mas para compreender o pensamento do autor que iniciou os estudos
científicos do pensamento e do comportamento humano em uma visão evolucionista na
psicologia iremos falar de David Buss.

No início do século XX estudou a personalidade a partir das origens da teoria dos


traços. Para a teoria, a verdadeira origem da personalidade está na evolução, sendo
a mesma produto da interação ambiente, modificado constantemente, e um corpo
e cérebro em mudança. A teoria da personalidade se refere às diferenças existentes
unicamente no seu modo de pensar e se comportar. Portanto, as causas individuais no
comportamento humano estão sob a resposta dos conteúdos inatos e/ou adquiridos - é
quando comportamento e personalidade se formam a partir das qualidades internas
e experiências externas ambientais. O que se tem visto é que os processos internos
dependem dos traços biológicos, incluindo os traços da personalidade, que ocorrem
por meio de uma contribuição ambiental, de tal modo que nem comportamento nem
personalidade seguem um processo funcional que se estabelece um pensamento
dicotômico envolvendo a contribuição do ambiente e a contribuição adquirida. (ITO;
GUZZO, 2002).

Processos internos psicológicos são como facilitadores para resolver questões


acerca da sobrevivência ou reprodução e esses mecanismos, destacados como traços
psicológicos, objetivos, motivação, impulsos e emoções são mecanismos evoluídos,
muitos dos quais como, impulsos e motivações já foram amplamente discutidos por
outros autores. Mas o que diríamos dos traços de personalidade? Pensando que todos
os outros mecanismos corroboram com o processo natural da sobrevivência, ele recorre
aos traços da personalidade indo em busca da compreensão das cinco dimensões
(big five) da personalidade, que sinalizam para outras pessoas as capacidades
individuais de resolver os nossos problemas em torno da sobrevivência e reprodução.
(FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015).

69
TEMPERAMENTO
E CARÁTER NA UNIDADE IV
PERSONALIDADE

Figura 9.

Sanguíneo Colérico

Fleumático Melancólico

Fonte: <http://edificacaobiblica.blogspot.com.br/2006/10/estudo-do-temperamento-parte-1.html>. Acesso 20 agosto 2016.

CAPÍTULO 1
Compreendendo o temperamento

Desde o ano 460 e 370 a.C o médico Hipócrates, pai da medicina, buscou um meio
de averiguar a ligação existente entre forma corporal e tipo de temperamento. Os
conhecidos tipos de temperamentos fundados por Hipócrates e que estabeleciam os
tipos sanguíneos como formas de distinguir os temperamentos. Na época a teoria
chamava atenção, e mais adiante fora estudada e melhor descrita por diversos autores.
Por volta do século XIX fora observada por Immanuel Kant, filósofo que destacou as
tipologias utilizadas pelos gregos de modo a compreender um fenômeno psicológico
de traços psíquicos, os quais eram determinados a partir da composição sanguínea, tal
como falara Hipócrates, ou do modo de coagulação do sangue e sua temperatura. Tal
como Hipócrates, Kant observou que a composição sanguínea definia critérios de traços
que estimulavam a estruturação da personalidade do sujeito. Para as características ele
separou os tipos que variavam entre emoção versus objetividade ou dominância, os
tipos seriam:
70
TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE │ UNIDADE IV

Quadro 12.

sanguíneo – para aquela pessoa rápida, forte e de emoções superficiais;

melancólico – para o de emoções intensas e ações proeminentemente vagarosas;

colérico – rápido e impetuoso no agir;

fleumático – para os livre de reações emocionais e de lento agir.

Fonte: (STRELAU, 1998, apud ITO e GUZZO, 2002).

Já sobre conceituar temperamento, é inegável que desde essa época tentava-se


diferenciar o método científico do entusiástico; uma vez que falar sobre temperamento
virou modalidade do comportamento e por isso suas atribuições estavam em evidência.
E, então, vários tipos de temperamentos foram se diferenciando e se constituindo
através das formulações de cada crença teórica, produzindo construções que não são o
nosso objetivo comentar.

E por que então seria importante estudar os tipos de temperamento ou o temperamento


em si? Classificar, denominar, conceituar, diferenciar e, essencialmente, inserir
a experiência educativa à prática é a nossa intenção. E, desse modo compreender o
funcionamento dos tipos de temperamento e os lugares em que eles se enquadram
nos mecanismos psíquicos, traços e tipos de personalidade fazem diferença quando na
psicologia o ser totalitário está em destaque. Portanto, falemos: o que é temperamento?

Cattel classifica a personalidade como traços de temperamento que descrevem o


estilo geral, assim como o nível emocional do comportamento. Foi na Universidade
da Pensilvânia que Buss e Plomin (1948 apud ITO; GUZZO, 2002) identificaram que
o temperamento, uma vez combinado, forma padrões de traços de personalidades e
nunca a própria personalidade em si. A personalidade é composta com uma dinâmica
que vai se estabelecendo no decorrer da vida, e é um conjunto de padrões que inclui
os comportamentos, além claro, dos próprios traços e atitudes de introversão ou
extroversão. Embora tenhamos um pacote hereditário, não estamos fora do ambiente
social, este não age de forma predominante, mas impacta os estímulos externos de
forma a modificar as situações e as respostas, ou seja, o comportamento. No entanto,
há um limite sobre o quanto o ambiente pode modificar o temperamento, uma vez que
este persiste ao longo da vida. O temperamento ainda indica impacto secundário da
aprendizagem nas interações ambientais e sociais. Por isso, é interessante sobressaltar
que os eventos forçados podem causar uma tendência desviante no temperamento
inato e nos comportamentos contrários à natureza existente, uma vez que a persistência
durante um longo período de tempo em condições extremas desfavoráveis poderá
causar resultados de estresse e conflitos, inclusive em se tratando do comportamento.
(SCHUTLZ; SCHULTZ, 2002; HALL-LINDZEY, 2004)

71
UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE

Quando pensamos em temperamento, lembramos das diferenças no comportamento


de uma pessoa a partir da base biológica, no entanto, o temperamento lança as bases
biológicas para os traços de personalidade, ou seja, ele é principalmente desenvolvido
pelo sistema biológico, mas modificado pela contribuição ambiental. Em vista da teoria
evolucionista, ainda diríamos que o temperamento sofre as pressões da seleção natural
e sexual existentes no evolucionismo. O que vimos então do temperamento é que ele é
visto desde o nascimento, porém é modificado, assim como a personalidade que vai se
formando a partir dos tipos e traços que se apresentam no indivíduo.

Strelau (1998, apud ITO; GUZZO, 2002) estabeleceu cinco diferentes tipos entre
temperamento e personalidade a fim de nos fazer compreender as diferenças e
semelhanças existentes entre o que pensamos ser, traços, personalidade e temperamento.

Por temperamento ele classifica: uma classe biologicamente determinada; identificáveis


desde cedo nas crianças através dos traços temperamentais; existência de diferenças
individuais presentes nos traços dos temperamentos de ansiedade, extroversão, introversão
e busca de estimulação (encontradas igualmente nos animais); apresenta-se sob forma
de comportamento; está relacionado à apresentação dos traços e comportamentos
apresentados no decorrer do desenvolvimento que moldam a personalidade.

Por personalidade ele estabelece: um produto social do ambiente social; características


compartilhadas posteriormente no período de desenvolvimento; personalidade é
uma característica humana e não do animal, pois o mesmo pode apresentar traços
temperamentais, mas não um conjunto complexo de personalidade que o defina; contém
aspectos do comportamento; relaciona-se ao comportamento e traços de personalidade.

Figura 10. Tipos de sistema nervoso relacionados aos tipos clássicos de temperamento da tipologia Hipócrates –

Galeno.

Fonte: (ITO; GUZZO, 2002, p. 95).

Sobre o temperamento, Thomas e Chess realizaram importante estudo longitudinal,


e são reconhecidos como importantes teóricos do temperamento. Influenciando

72
TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE │ UNIDADE IV

diversos estudiosos, eles igualavam este constructo à ideia de estilo comportamental.


Para estes autores: a) o temperamento é um atributo psicológico que interage com
outros atributos, mas é independente dos mesmos; b) apesar do temperamento
interagir com outros atributos é importante que cada um deles seja identificado
separadamente, devendo-se analisar a situação em que o comportamento ocorre;
c) o temperamento pode ser considerado um atributo mediador entre influência do
ambiente e a estrutura psicológica do indivíduo” (THOMAS, CHESS; KORN, 1982
apud ITO; GUZZO, 2002, p.94 ).

Compreendendo o caráter
Distinguir estes aspectos que estão veementemente implicados entre si não é fácil, pois
desde o início compreendemos que há uma ligação entre personalidade, temperamento
e caráter. No entanto, já sabemos que a personalidade é um conjunto, na verdade reúne
temperamento e caráter em uma só estrutura ─ uma vez que comporta traços que
são frutos da herança biológica e do processo de vivência. O caráter, pois, é o modo
constante e individual de uma pessoa reagir no ambiente social em que está inserida.

A personalidade apresenta dois aspectos principais: um é o


temperamento o outro é o caráter. Temperamento é uma configuração
de inclinações naturais, enquanto o caráter é o resultado de hábitos.
Em outras palavras, o temperamento é uma forma inata da natureza
humana, enquanto o caráter é uma forma emergente, desenvolvida
pela interação do temperamento com o meio ambiente. Enfim,
caráter é disposição e temperamento é predisposição. (KEIRSEY apud
CALEGARI; GEMIGNANI, 2006, p. 35).

Nos anos de 1980, os Neurocientistas, dentre eles o que ganhou o prêmio Nobel
de fisiologia Roger Sperry e ainda Ned Herrmann, mapearam o cérebro humano
e corroboraram com o que havia intuído Jung nos anos de 1970 sobre o hemisfério
esquerdo ser sensorial (S) e pensador (T), enquanto o hemisfério direito é intuitivo
(N) e sentimental (F). Fora trabalhando com esses comportamentos humanos
classificáveis, constituídos e fundamentados pelo homem ao longo da vida, chamados
de personalidade, que Jung escreveu sua obra “Tipos psicológicos”. A partir daí seus
seguidores aprofundaram os conceitos e as, então, norte-americanas Katherine Briggs
e Isabel Myers iniciaram um estudo na década de 20 e mais tarde na década de 60 a
filha de Myers deu continuidade a esse estudo, desenvolvendo um indicador de tipos
psicológicos (MBTI), um tipo de teste amplamente utilizado em recursos humanos,
orientação vocacional e profissional, aceito na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e

73
UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE

também no Brasil, e que propunha observar que “as pessoas nascem com determinados
dons sobre as quais o meio ambiente exerce pouca influência (...) que têm preferências
mentais e que o uso destas é decisivo para firmar uma personalidade» (CALEGARI;
GEMIGNANI, 2006, p. 30).

O caráter é sensível às influências ambientais, é uma estrutura psíquica composta,


formada por diversas faces, é uma estrutura plástica e modificável a partir dos fatores
educacionais, familiares, profissionais, de classe social, experiência de vida, escolaridade
etc. A estrutura da família e o clima psicológico têm predominante relevância na
formação do caráter da criança. Segundo Fedeli (1997, p. 190) “o método que se vale de
uma série de traços nos parece, em suma, o mais válido e o mais fértil para o estudo do
caráter”. A dimensão caraterial nos permite conhecer os aspectos do caráter a partir do
estudo de alguns traços fundamentais que examinaremos individualmente:

1. Grau de sensibilidade moral: esse tipo de traço de caráter está relacionado


aos reflexos sociais e relacionais, o que em psicanálise quer dizer que esse
caráter fornece um elemento de juízo sobre a eficiência, maior ou menor
em relação ao superego e depositado nas instâncias morais do sujeito a
partir das atitudes dadas através do ego.

2. Grau de abertura para o mundo exterior: é um método caracterológico em


relação à motivação do indivíduo, o qual pode estar encerrado no mundo
interior (tipo introvertido) ou ser orientado para o mundo exterior (tipo
extrovertido). É um parâmetro de particular importância na caraterologia
de Jung que visa os traços a partir dos tipos psicológicos de introversão
e extroversão.

3. Grau de autoestima: essa avaliação remete a uma imagem sobre a estrutura


do Eu, como núcleo central do Ego e centro essencial da personalidade,
o que permite identificar o caráter a partir de duas contraposições: uma
de inferioridade outra de superioridade, uma vez que essas dinâmicas se
utilizam de processos de superação e compensação que são, para Adler,
mecanismos de defesa que constituem a essência da vida humana.

4. Força do imaginário: essa avaliação do caráter nos dá força fantasiástica


importante na vida do indivíduo por oferecer-nos capacidade imaginativa
como fonte de pensamento e criação.

5. Equilíbrio masculinidade-feminilidade: o papel ou o caráter dado aos


arquétipos junguianos da feminilidade ou masculinidade corroboram,

74
TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE │ UNIDADE IV

ou melhor, fornecem elementos sobre a personalidade orientando na


formação dos traços, comportamentais e formações de juízos.

6. Antinomia otimismo-pessimismo: esse traço do caráter examina atitude


habitual de aceitação ou rejeição, as realidades e experiências passadas
são avaliadas, os aspectos positivos e negativos das vivências também e
os traços são construídos a respeito de perspectivas futuras.

7. Antinomia dominação-submissão: é um aspecto ou traço existente que


pode se transformas em algo de notável interesse próprio uma vez que
pode ser utilizado como para construir traço de estilo preferido de um
indivíduo em suas relações individuais e vida social. Como um caráter
forjado, utilizado na vida social.

Interessante partir dessas dicotomias do caráter e falar ainda um pouco sobre o caráter
em Freud, que em 1913 separou traços neuróticos de traços da personalidade e caráter.
Foi com a existência dos mecanismos de defesa e a repressão dos traços de caráter que
se desenvolveram um padrão persistente de formação reativa e sublimação, que gerou
importância na formação do superego na construção do caráter. O caráter, então, é
um elemento reativo a uma força a quem deve reagir, imaginemos o ego demandando
forças, ou inúmeras investidas e o superego tendo que reagir a essas investidas, e a
isso chamaremos caráter, pois tem a ver com forças pulsionais de fora que estarão
se misturando com as forças existentes no interior formando o tipo de caráter ou
personalidade. Caso ocorra o desenvolvimento de certos traços de caráter mediante uma
demanda muito forte e inapropriada, a força da realidade pode provocar uma ruptura e
produzir uma vulnerabilidade ou predisposições a transtornos. (FREUD, 1946)

Storr, um psiquiatra inglês (FEDELI, 1997), se arrisca dizer que há limites tênues
entre a normalidade e a patologia nos padrões de caráter, e para ele a maneira mais
simples de chamar seria “estilo comportamental nos limites da normalidade”, mas por
comodidade de linguagem nos contentamos com o mais comum, “caráter”.

Caráter neurótico

Tendo mudado nos últimos decênios o conceito de psicologia, pudemos ver


acompanhado à ideia, o clássico esquema dado ao esquema freudiano sobre neurose
que passou a assumir uma conotação tanto mais que social.

Para Adler, o neurótico viria a ser um indivíduo que “desvia” do caminho, que não
quer viver conforme as exigências sociais, que vive em um mundo próprio construído,
mundo de mentiras e fantasias que o torna despreparado para a realidade.

75
UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE

Em Georgetown University, R. Allers, seguidor das ideias de Adler, definiu o neurótico


como um egocêntrico, orgulhoso, preguiçoso, “falso indeciso”, “geralmente o neurótico
quer ver confirmada a própria opinião, que já havia formado anteriormente”.

Horney também viu neurótico como alguém que se mostra inadequado ao ambiente
em que cresce e vive, sendo taxado como uma criança infeliz, vítima da cultura
moderna, prisioneiro de um processo neurótico. Essa pessoa sempre compromete o
seu verdadeiro eu afastando-se de si mesmo e comprometendo o desenvolvimento
de sua personalidade. É um sofredor que experimenta isolamento social e apresenta
profundas necessidades psicológicas, isolamentos e inseguranças, comprometendo
suas amizades e gerando piedade dos que convivem com ele devido à sua contundente
instabilidade. “O neurótico não sofre apenas de neurose, como se sofre de tuberculose
ou de gripe; ele participa ativamente da doença, ajuda-a de certo modo, reforçando
aquelas experiências que lhe são características”. (FEDELE, 1997, 255). De alguma
maneira ele parece não querer se curar.

Para dispor das inúmeras facetas de que dispõe o caráter neurótico, apresentarei uma
grade resumida de alguns importantes aspectos que podem aparecer em casos de
caráter neuróticos.

Quadro 12. Traços presentes no confronto com a realidade – neuróticos.

Rejeição de si mesmo.
Imobilização causada por medos “irracionais”.
Subordinação à influência de “sinais externos”.
Perenes insatisfações.
Pensamento dicotomizado.
Forte senso de propriedade.
Sensação de não ser suficientemente amado e valorizado.
Excessiva preocupação com o passado e o futuro.
Frequentes sentimentos de culpa.
Hipocondria.
Dependência da família.
Pânico de errar e de fracassar na própria função.
Senso de humor muito pobre.
Tendência ao mito do herói.
Tendência ao conformismo.
Dificuldade de encontrar um verdadeiro objetivo na vida.
Estilos de vida equivocados que leva ao isolamento e à dúvida.
O elemento caraterial mais elementar é a indecisão.
É um indivíduo que passa horas ruminando coisas.
Sai-se particularmente bem em atividades que exigem precisão.
Não tem aptidão para atividade que exige criatividade, solução elástica, imaginação.
Parece ser dominada por algo tirânico do destino, penosa e sufocante.
Fonte: Fedele, 1997, pontuações retiradas pela autora das pp. 256,257.

76
TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE │ UNIDADE IV

Caráter histérico

É certo que devido às condições histórico-culturais da sociedade atual o caráter histérico


torna-se menos comum ou menos detectável. Embora o quadro seja raro desde o século
passado e ainda no século atual o quadro fenomenologicamente falando ainda existe
e se trata de um estilo comportamental de algumas personalidades. Deste modo, os
traços histriônicos são encontrados como pequenas cicatrizes histéricas com destaque
da emotividade sobre a racionalidade.

Há no histriônico um vivo desejo de impressionar os outros através da admiração,


hiper emotivos por excelência eles são observados por suas tendências instintivas e
vivicidade desordenada das emoções, que sobressaem a reações prolongadas ao menor
estímulo emocional.

Quadro 13. Traços presentes no caráter histérico = comportamento histriônico.

Inclinação para o fingimento e a comédia.

Caráter histérico.

Dissociação do verdadeiro, do “eu” próprio do indivíduo.

Identificação com a personagem é geralmente tão completa que a pessoa “esquece” a realidade e sua verdadeira natureza.

Tudo ocorre sem que a pessoa perceba, ocorre em perfeita e boa-fé.

O histérico constrói um mundo fantástico, romântico, irreal.

A representação geralmente é convincente.

Os sentimentos geralmente são superficiais.

A emoção que transmite é efêmera e fugaz.

O histérico muda o repertório.

Está sempre pronto a começar a interpretar outra peça.

Outros componentes carateriais são o narcisismo e o exibicionismo.

Gostam de “fazer bonito”, representando papéis de heróis, personagens generosos, pessoas sensíveis aos problemas da humanidade.

Evidencia-se certo grau de superficialidade intelectualidade.

São muito sugestivos.


Fonte: Fedele, 1997, pontuações retiradas pela autora das pp. 258,259.

Caráter esquizoide

Nos termos primitivos dos narcisismos e da introversão, o indivíduo fixado nessas


tendências de comportamento e traços de personalidade apresenta uma espécie de

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UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE

temor e rejeição da realidade, afastando-os do contato, que se torna em certo nível


intolerável, com o outro.

Quadro 14. Traços presentes no caráter esquizoide.

O esquizoide é esquisito e imprevisível, pouco comunicativo.

Mediativo, abstrato e aparentemente frio.

É incoerente, frio e excêntrico.

Apresenta rendimento insuficiente em vários campos da vida social.

No trabalho é sempre visto como insuficiente, o inconstante.

Apresenta comportamentos tipicamente de desinteresses, negligentes, abandonos, sem motivação, e por isso está em constante mudança de
emprego.

No campo afetivo há predominância de mau humor e indiferença diante de alegrias, além do isolamento.

Explosões de raiva podem ser substituídas por particulares comportamentos de frieza.

Quando a sintomatologia é acentuada o comportamento pode ser do tipo bizarro.

Comportamento introvertido, fechado, enigmático, esquizoide, prelúdio de evolução psicótica.

Fonte: Fedele, 1997, pontuações retiradas pela autora das pp. 261,262.

Caráter paranoide

O traço precipitado do caráter paranoide está na atitude desconfiada e ideia fixa de ser
vítima de algo ou alguém, ao que chamamos mania de perseguição. O tipo paranoide
se defende da certeza da perseguição tornando-se perseguidor, então, está pronto para
atacar, encontrando-se furtivamente medroso e agressivo o tipo perseguido que se
torna perseguidor.

Quadro 14. Traços presentes no caráter paranoide.

Representações e queixas delirantes sobre o aspecto persecutório.


Denúncias, ações e cartas de protestos.
Sujeito com tendência à vingança .
Criador de casos, convencido de que está sendo enganado ou passado para trás.
Cria confusões quando partícipe de repartições públicas.
Eterno perseguidor, medroso e infeliz.
Vive perene na angústia, sente-se incompreendido.
É uma pessoa marginalizada, hostilizado, prejudicado de diversas maneiras.
As origens das perseguições são distantes, vagas, misteriosas.
Fonte: Fedele, 1997, pontuações retiradas pela autora das pp. 263.

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TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE │ UNIDADE IV

Caráter impulsivo

Segundo Block (apud FEDELI, 1997), a estrutura de controle emotivo e pulsional


existentes pode ser encontrada em dois grupos: de um lado os supercontrolados,
inibidos e neuróticos; do outro os subcontrolados, que representam os caracteres
“impulsivos”.

Quadro 15. Traços presentes no caráter impulsivo.

Atos impulsivos isolados podem verificar-se em todos os indivíduos.

Apenas os fleumáticos que são mais controlados e frios não apresentam concomitantemente essa reação.

As reações são breves e submetidas ao crivo do contexto racional.

A onda impulsiva é controlada e não tem tempo de causar grandes problemas.

A conduta impulsiva rápida e surpreendente pode ser até positiva.

Diferente é quando a resposta do tipo impulsivo se torna norma constante da vida do indivíduo, constituindo um estilo habitual.

No âmbito desses comportamentos distinguem-se as ações de curto-circuito, nas quais impulsos emotivos transferem-se diretamente para a ação.
(acting out)

Fonte: Fedele, 1997, pontuações retiradas pela autora das pp. 264.

Compreendendo os tipos

A tipificação refere-se a uma estratégia disposicional secundária à classificação de


pessoas em categorias de tipos de personalidades, baseando-se em diversos traços
relacionados. No entanto, as abordagens de tipo diferem das abordagens de traços:

1. Os traços estão relacionados a pequenas partes da personalidade, os tipos


respondem por toda a personalidade.

2. A tipificação supõe que traços específicos aglutinam-se, uma suposição


sustentada pelas pesquisas. Conversar muito e ser ativo está associado a
gostar de contato social, por exemplo.

Essas teorias existem há anos, desde Hipócrates, quando este dividia os temperamentos
em quatro tipos: deprimido, otimista, apático e irritável. E ainda quando Jung classificava
as pessoas em introvertidas ou extrovertidas dentro de sua teoria psicodinâmica.
(DAVIDOFF, 2001)

79
UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE

Figura 11.

Fonte: <https://estudospsicanaliticos.wordpress.com/2015/04/21/os-quatro-temperamentos-da-personalidade/> em 13 out


2016.

80
CAPÍTULO 2
Aspectos gerais

Interação gene-ambiente

Ainda, pesquisas revelam que a herança genética é fator de influência no ambiente do


indivíduo. Esse fenômeno se explica quando a criança herda genes de seus pais e eles
criam o ambiente no qual ela está crescendo de modo a reforçar essa carga genética.
Ou seja, crianças com alto nível de fator de inteligência, que são favorecidas por um
ambiente estimulante, tendem a desenvolver-se baseando suas interpretações por meio
desse mesmo ambiente, que irá proporcionar traços comportamentais igualmente
com alto índice de inteligência. No entanto, as contribuições herdadas não giram em
torno apenas dos fatores cognitivos (no caso da inteligência) mas também de fatores
comportamentais (passividade, agressividade, hostilidade); ou seja, as tendências
herdadas estarão influenciadas por aspectos do temperamento e ainda de patologias.

Temperamento neonatal

Estudos indicam que desde o primeiro dia de vida os bebês emitem traços persistentes de
temperamento, e que talvez esses traços sejam pré-programados no organismo devido
à herança genética. Através de estudos realizados com gêmeos e crianças adotadas,
surgiu a hipótese de que essas características seriam, de algum modo, influenciadas
pela herança, entretanto o ambiente intrauterino, os momentos que antecedem o
parto, o próprio momento do parto e o vínculo mãe-bebê também contribuem para as
características da personalidade inicial.

A questão da consistência é um fator influente na formação da personalidade, ou


seja, existe uma grande probabilidade de comportamentos consistentes continuados
se transformarem em traços da personalidade. Por exemplo, lactentes agitados
frequentemente se tornam crianças agitadas, porém se rodeado por país sensíveis,
e em um ambiente favorável, essa criança agitada pode adaptar-se ao contexto e
tornar-se uma criança de comportamento mais moderado que se repetirá em outras
situações de sua vida.

81
UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE

Temperamento
Algumas pessoas tendem a não compreender o significado de temperamento, para isso
vamos defini-lo como o modo do comportamento, ou melhor, “como a criança faz”.
Pensando assim, podemos verificar como o temperamento afeta o comportamento. As
diferenças entre temperamento são consideradas inatas e amplamente hereditárias,
contudo fatores ambientais, como a relação parental, podem provocar mudanças
consideráveis, assim como o cuidado dirigido à criança e o sentimento da mãe em relação
ao seu próprio estilo de vida podem influenciar no temperamento do filho. No final, como
dizia Allport (1973) sobre personalidade, ela é uma organização dinâmica com sistemas
psicofísicos que determinam suas condutas e seus pensamentos característicos.

Família
A família é um importante modelo de padrões sociais e afetivos na vida de uma
criança, desde bebê os padrões de comportamento e adoção de sentimentos estão
visivelmente ligados aos fatores familiares e ao papel dos pais dentro desse ambiente. As
influências que exerce a família foram sempre pontos estudados para compreensão do
desenvolvimento infantil, assim como as características individuais da própria criança
são fatores de extrema valia quando o assunto é temperamento infantil, por exemplo.

82
Para (não) Finalizar

Com o avanço da internet, os testes psicológicos, um dos principais instrumentos


de trabalho dos profissionais de Psicologia, estão passando por um processo de
banalização. Para evitar a disseminação indiscriminada desses testes e garantir a
qualidade do trabalho de milhares de psicólogas (os) do país, o Conselho Federal de
Psicologia, em parceria com o Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira
(Fenpb), está lançando uma campanha nacional para conscientização de profissionais
e estudantes.

O objetivo é defender o uso responsável e os bons resultados que podem advir dos
testes psicológicos. Recentemente, vários instrumentos de avaliação psicológica estão
sendo divulgados em redes sociais e canais do YouTube. O uso de testes psicológicos
considerados desfavoráveis, segundo os critérios estabelecidos na Resolução
CFP no 2/2003, é considerado falta de ética e o profissional pode responder
administrativamente.

A avaliação psicológica é uma atividade restrita a profissionais da Psicologia. Isso


implica que seus instrumentos, com destaque para os testes psicológicos, são de uso
restrito a esses profissionais. Desse modo, o Conselho Federal de Psicologia alerta a
sociedade para os riscos decorrentes do emprego desses instrumentos por profissionais
que não estejam habilitados e credenciados para esse fim. Por outro lado, conclama
a população e os profissionais a comunicar aos Conselhos Regionais de Psicologia
quaisquer irregularidades ocorridas por ocasião do uso dos testes psicológicos.

Além disso, a avaliação psicológica é reconhecida pela sociedade e amplamente utilizada


como instrumento da organização das relações de trabalho entre outros campos. É
preciso dizer, ainda, que o processo de organização que a avaliação psicológica média
não possui, sob nenhum aspecto, é a de caráter excludente.

Satepsi

Para garantir a qualidade técnica desses instrumentos e o atendimento aos princípios


éticos e dos direitos humanos, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) criou, em 2003,
o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (Satepsi).

83
PARA (NÃO) FINALIZAR

O site do Satepsi é constantemente atualizado e suas informações podem ser localizadas


facilmente. Além de resoluções, editais, grupo de pareceristas, comissão consultiva em
avaliação psicológica e novidades, os usuários podem encontrar ainda respostas para as
mais frequentes perguntas dirigidas ao CFP sobre o tema.

Fonte: <http://site.cfp.org.br/campanha-do-cfp-quer-barrar-banalizacao-de-testes-
psicologicos/>. Acesso em: 10 out 2016.

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