Teorias Da Personalidade e Do Temperamento
Teorias Da Personalidade e Do Temperamento
Teorias Da Personalidade e Do Temperamento
Temperamento
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
UNIDADE II
TEORIAS DA PERSONALIDADE............................................................................................................... 28
CAPÍTULO 1
TEORIAS PSICODINÂMICAS...................................................................................................... 28
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
UNIDADE III
CAPÍTULO 1
UNIDADE IV
CAPÍTULO 1
COMPREENDENDO O TEMPERAMENTO................................................................................... 70
CAPÍTULO 2
ASPECTOS GERAIS................................................................................................................... 81
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 85
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
6
Introdução
Por fim, é necessário relembrar que esse caderno de estudo serve como um guia para
orientar a sua pesquisa mais aprofundada sobre os temas levantados, uma vez que a
bibliografia é vasta e será apresentada ao final do caderno. Aconselhamos ao aluno,
quando possível, pesquisar diversas fontes e aprofundar suas leituras, a fim de aprimorar
seu conhecimento, estabelecer conexões com as teorias apresentadas e escolher o seu
próprio caminho.
7
Objetivos
» Auxiliar e facilitar a compreensão sobre o estudo da personalidade e do
temperamento.
8
SOBRE O TEMPO UNIDADE I
HISTÓRICO
CAPÍTULO 1
História e desenvolvimento nas teorias
da personalidade
Figura 1.
A psicologia surgiu como ciência no final do século XIX com Wilhelm Wundt, na
Alemanha, a fim de estudar os processos mentais por experimentos, em laboratório,
com a pretensão de verificar aqueles que poderiam ser afetados por estímulos externos
e controlados pelo experimentador. Foi, portanto, no séc. XX com o psicólogo John
B. Watson que houve uma ênfase nos aspectos palpáveis da natureza humana, ou
seja, os experimentos agora deveriam focar-se no comportamento evidente, e não no
comportamento consciente como propunha Wundt, uma vez que o consciente não
justificava uma teoria que explica o comportamento, já que o que passa dentro de cada
sujeito não pode ser visto ou medido, e igualmente não pode ser aceito como resposta.
9
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO
A escola behaviorista (assim conhecida), então, tinha uma visão mecanicista que
pretendia escalonar o homem num padrão de comportamento regulado e automático.
Em relação aos aspectos da personalidade, o behaviorismo os reduzia a um sistema de
hábitos acumulados de respostas aprendidas, estavam limitados nos comportamentos
observáveis (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
É dado que a psicologia, que se desenvolveu no fim do século XIX, era fruto da filosofia
e da fisiologia experimental, assim como a teoria da personalidade que se originou não
da psicologia como se pensa, mas a partir de resultados da prática médica e conclusões
clínicas admitidas por Freud, Jung e McDougall, médicos e psicoterapeutas. (ibdem)
É muito interessante também o que aportam alguns teóricos estudiosos das teorias
da personalidade a respeito da estruturação do pensamento e formulação da teoria de
um teórico da personalidade. Com isso, queremos dizer que alguns autores refletem a
crença de que as teorias da personalidade foram se construindo a partir de uma forte
referência biográfica dos teóricos da época. O que explica os diversos contrapontos
encontrados entre as teorias. Do lado da psicologia quantitativa encontramos os
teóricos behavioristas, os que abordam a aprendizagem social e os que falam sobre
traços; do outro lado a psicologia qualitativa que versa uma posição clínica do
pensamento em que encontramos os psicanalistas, humanistas e existencialistas.
Deste modo, concluímos que a teoria da personalidade não está totalmente livre de
determinantes pessoais que a constroem. Aqui, para não entrar no modelo de aceitação
das teorias a partir de valores e predileções pessoais, iremos avaliar cada teoria de modo
a apresentar objetivamente a sua visão. (FEIST; COL, 2015; HALL; LINDZEY, 2004;
SCHULTZ; SCHULTZ, 2002; ALLPORT, 1966).
11
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO
como ela, que pense como ela, sinta como ela, viva como ela. A individualidade, pois,
seria a marca genuína da natureza humana. O que nos distingue em traços mentais
que são manifestados seguindo um padrão que estamos chamando de personalidade.
“Persona est substantia individua rationalis naturae – uma pessoa é uma substância
individual de natureza racional” (BOÉCIO, séc. VI, apud ALLPORT, 1973, p. 46).
Ao aceitarmos que todos os teóricos, que vieram por 20 anos discutindo acerca dos
fenômenos da personalidade, compreendem que a personalidade apresenta um
enfoque interativo, temos a certeza que a mesma não é rígida e pode apresentar traços
diferenciados de acordo com o tipo de interação existente. Allport (1973) comentou
que é inevitável que os teóricos não vejam como ponto em comum às teorias da
personalidade a singularidade da hereditariedade e do ambiente de cada pessoa; mas
veremos que nem todos os teóricos acreditam nessa premissa.
Conceito de personalidade
A origem etimológica da palavra PERSONALIDADE, segundo Allport (1973), grande
precursor e estudioso da personalidade, nos ensina que o termo advindo do inglês é
personality; do alemão persönlichkeit; do francês personnalité e do latim medieval,
personalitas; e no latim clássico persona veio com um significado comum aos
pensadores da época. A palavra que tem sua origem no latim define o nome dado às
máscaras utilizadas no teatro romano para interpretação de personagens. Outra palavra
levantada por autores é personare que significa ressoar por meio de algo. Sendo assim,
Dalgalarrondo (2008) define personalidade utilizando da etimologia da palavra e
destaca a seguinte compreensão para personalidade: “o autor/ator faz ressoar a sua
voz, a sua versão da história, por meio das diversas máscaras, das diversas personagens
que cria”.
Um ponto interessante sobre os teóricos da personalidade está no fato de que eles não
entenderem a personalidade como um fator determinante, e, por isso, pensam o estudo
da personalidade como uma tentativa de promover o estudo da pessoa em sua totalidade,
12
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I
não segmentada. Gordon Allport (1937 apud HALL et al, 2008, p. 32) compilou quase
cinquenta definições de personalidade e as separou em categorias divididas em definição
biossocial e biofísica. “Na definição biossocial a personalidade é entendida em termos
de importância social: é a reação produzida nos outros que define a personalidade de
um indivíduo. No entanto, Allport prefere a definição biofísica, a qual fundamenta a
personalidade em características ou qualidades do próprio indivíduo: a personalidade
apresenta um aspecto constitucional e outro aparente e pode estar ligada a qualidades
específicas do indivíduo. Estas qualidades são passíveis de descrição e mensuração
objetivas” (RIES; RODRIGUES; Org., 2004).
Com esta afirmativa, o autor nos revela que devemos estar atentos para não aceitar o
conceito de personalidade superficial, é popular porque implica dizer que uma pessoa
tem «mais» ou “menos» personalidade que outra. Para ele, no sentido psicológico,
todas as pessoas são importantes no estudo da personalidade.
13
CAPÍTULO 2
A teoria no estudo da personalidade
A teoria não é utilizada apenas por cientistas e nem todas elas são propostas de maneira
formal precisando de vários postulados e inferências. A teoria pessoal implícita é vista
em nosso cotidiano a partir das interações que realizamos diariamente, as suposições
feitas sobre a personalidade daqueles do nosso meio e especulação sobre a natureza
14
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I
humana de um modo geral, por exemplo, pode nos fazer acreditar que todas as pessoas
são boas, ou todas as pessoas só se importam consigo mesmas. Dadas as suposições,
podemos intuir que elas são teorias uma vez que são estruturadas dentro das quais
colocamos os dados das nossas observações dos outros. Se nos baseamos nos dados
que coletamos de nossas percepções sobre o comportamento daqueles que nos cercam,
então nossas teorias derivam das nossas observações. Deste modo, as teorias pessoais
são semelhantes às formais. Ainda podemos averiguar que as teorias formais têm
mais probabilidade de serem objetivas, uma vez que as observações de cientistas não
são idealmente influenciadas pelas suas necessidades, temores, desejos e valores;
diferentemente das teorias informais que são baseadas tanto na observação de nós
mesmos quanto na dos outros. Na teoria informal há uma tendência a interpretar as
atitudes de outras pessoas em termos das nossas ideias e sentimentos, avaliamos as
reações ou uma situação com base no que faríamos ou em como nos sentiríamos, de
tal modo, as teorias informais parecem mais pessoais e subjetivas no que diferem dos
cientistas que observam de forma mais objetiva e imparcial. A teoria é um conjunto
de normas delimitadas que permite ao pesquisador trabalhar sem se preocupar com
todos os aspectos do fenômeno que estuda. Ela permite que o observador continue a
fazer abstração a partir da complexidade natural de maneira sistemática e eficiente
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2002; HALL; LINDZEY, 2004).
15
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO
pessoas, e dentro das quais eles constroem suas teorias. No entanto, o que se segue
é que as teorias da personalidade têm de ser verificáveis, esclarecerem e explicarem
os dados da personalidade e serem úteis para entender e prever comportamentos. Os
autores ainda relatam que os teóricos da personalidade divergem quanto às questões
básicas sobre a natureza humana, como vimos anteriormente: livre arbítrio versus
determinismo, natureza versus criação, a importância do passado versus o presente,
peculiaridade versus universalidade, equilíbrio versus crescimento e otimismo versus
pessimismo (Ibidem). Outro aspecto importante considerado por Hall e Lindzey (2004,
p. 17) é que:
16
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I
Vimos que nas teorias da personalidade existem um componente subjetivo que reflete
os eventos da vida dos teóricos, e que por mais cientistas que sejam, por mais que
tentem ser objetivos e imparciais, acabam revelando pontos pessoais que normalmente
influenciam a sua percepção e a formulação teórica. Isso não significa dizer que toda
teoria da personalidade seja pessoal, uma vez que existem teorias que são testadas em
relação à realidade do teórico, em relação ao que propõe.
A teoria formal tenta ser objetiva ao fazer suas observações e analisar os dados que
podem corroborar ou refutar a sua teoria. No entanto, todas as teorias da personalidade
têm como objetivo buscar características psíquicas do homem e interpretá-las,
trazendo-as para o mundo objetivo como forma de conhecimento da pessoa. Portanto,
certa importância nas teorias da personalidade é a forma como o teórico enxerga
a natureza humana, uma vez que esses pontos de vista divergem entre eles e são
trabalhados em cima do que eles entendem por ser humano. Schultz e Schultz (2002)
nos apresenta tipos de natureza humana que são trazidos pelos teóricos na construção
de suas teorias e que explicam o modo como eles enxergam o homem, são eles:
livre-arbítrio ou determinismo; natureza ou criação; passado ou presente; singularidade
ou universalidade; equilíbrio ou crescimento; otimismo ou pessimismo. Que não
trataremos aqui, mas veremos continuamente nas propostas dos teóricos de cada
orientação psicológica.
17
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO
Japiassu, Hilton, 1983, pp. 24-26, apud Bock e Col, 2001, pp. 34-35.
18
CAPÍTULO 3
Avaliação e pesquisa no estudo da
personalidade
19
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO
Métodos de avaliação
Alguns métodos de avaliação podem ser descritos aqui como resultado da interação da
teoria e da singularidade do teórico que propõe a avaliação. Os teóricos desenvolveram
métodos peculiares para avaliar as personalidades distintas conforme adequação de
sua própria teoria, de modo que aplicando esse método o teórico pudesse obter as
respostas, baseando-se em suas formulações. As técnicas variam entre objetividade,
confiabilidade e validade e vão da interpretação dos sonhos e lembranças da infância
aos testes feitos no papel. Citaremos alguns enfoques de avaliação da personalidade
que são os inventários objetivos ou autorrelatos; técnicas projetivas; entrevistas
clínicas; procedimentos de avaliação comportamental; procedimentos de avaliação de
amostragem de ideias.
Existem três métodos utilizados para pesquisas da personalidade, que embora diferentes
baseiam-se na observação objetiva, a qual é uma característica da pesquisa científica
em qualquer disciplina.
20
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I
21
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO
atualiza o profissional dos testes psicológicos no mercado e que estão com os seus
procedimentos corretos.
Alguns dos testes psicológicos que estão validados e são utilizados para o estudo da
personalidade são:
Quadro 1.
Maiana
Farias Oliveira
Bateria Nunes.;
Bateria
Fatorial de Claudio Simon Casa do
Fatorial de 2010 21/10/2008 1/8/2009 Favorável
Personalidade Hutz; Carlos Psicólogo
Personalidade
(BFP) Henrique
Sancineto da
Silva Nunes;
Questionário de
Carmen
Personalidade
E. Flores-
EPQ-J para Crianças 2012 Vetor Editora 25/7/2012 21/9/2013 Favorável
Mendonza e
e Adolescentes
Colaboradores;
(EPQ-J)
Casa ? Árvore
? Pessoa
Renato Cury
(HTP) Manual 2003 Vetor 2/7/2003 16/1/2004 Favorável
HTP Tardivo;
e Guia de
Interpretação
INVENTÁRIO Tatiana
LabPam ?
REDUZIDO DOS Severina de
ICFP-R Universidade 22/5/2003 17/4/2004 Favorável
CINCO FATORES DE Vasconcelos;
de Brasília
PERSONALIDADE Luiz Pasquali;
Maria
Inventário
Mazzarello LabPam ?
Fatorial de
1999 Azevedo; Universidade 22/5/2003 27/9/2003 Favorável
Personalidade
Ivânia Ghesti; de Brasília
- IFP-R
Luiz Pasquali;
Irene F.
IFP Almeida de
IFP- II Sá Leme;
Inventário Ivan Sant?ana Casa do
2012 Rabelo; 6/11/2012 24/5/2013 Favorável
Fatorial de Psicólogo
Personalidade Gisele
Aparecida da
Silva Alves;
22
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I
Inventário
Fatorial de
Personalidade Bartholomeu
Tôrres Tróccoli; LabPAM Saber
IFP-R Revisado 2013 24/10/2013 22/3/2014 Favorável
e Tecnologia
- Forma Luiz Pasquali;
Reduzida -
IFP-R
Inventário Inventário
Hogan de Hogan de Gleiber Couto; Ainda não
2009 23/9/2014 27/6/2015 Favorável
Personalidade Personalidade André Holer; publicado
(HPI) (HPI)
MBTI - Myers-
Fellipelli
Briggs Type
MBTI - Myers- Instrumentos de
Indicator
Briggs Type 2010 Gleiber Couto; Diagnóstico e 26/3/2010 31/1/2013 Favorável
- Inventário
Indicator Desenvolvimento
de Tipos
Organizacional
Psicológicos
Terceira
Lucia Maria Margem 5/12/2003
Rorschach Clínico 2007 2/9/2003 Favorável
Sálvia Coelho; Editora 13/3/2004
Didática Ltda
O Rorschach:
Teoria e
2004 Cicero E. Vaz; 10/1/2005 12/5/2006 Favorável
Desempenho
(Sistema Klopfer)
Regina
Sonia Gattaz
Fernanades
do
Nascimento;
Rorschach 5/7/2003
Antonio Casa do
? Sistema 2003 5/6/2002 Favorável
Carlos Psicólogo 25/10/2003
Compreensivo
RORSCHACH Pacheco e
Silva Neto;
Anna Elisa
de Villemor
Amaral;
Rorschach
- Sistema
da Escola
Francesa ( 1. O
Psicodiagnóstico Casa do
Sônia Regina
de Rorschach 2000 Psicólogo e 2/7/2003 22/1/2005 Favorável
Pasian;
em Adultos: Vetor
Atlas, Normas
e Reflexões. 2.
A Prática do
Rorschach)
23
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO
Adele de
Miguel;
Leila
Salomão de
Técnica de La Plata Cury
Apercepção Tardivo;
SAT 2012 Vetor Editora 30/10/2012 24/5/2013 Favorável
para Idosos Maria Cecília
- SAT de Vilhena
Morais Silva;
Silésia Maria
Veneroso
Delphino Tosi;
Teste de
José de
Apercepção Casa do
TAT 1995 Souza e Mello 5/6/2002 25/10/2003 Favorável
Temática - Psicólogo
Werneck;
T.A.T.
Fonte: <http://satepsi.cfp.org.br/listaTeste.cfm>. Acesso em 10 out 2016.
24
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I
25
UNIDADE I │ SOBRE O TEMPO HISTÓRICO
específicas são importantes para que esse trabalho seja bem fundamentado e
realizado com qualidade e de maneira apropriada:
Quais os principais cuidados que o psicólogo deve ter para utilizar um teste
psicológico?
26
SOBRE O TEMPO HISTÓRICO │ UNIDADE I
Fonte: <http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Cartilha-Avalia%C3%A7%C3%A3o-
Psicol%C3%B3gica.pdf> Acesso em 13 de Julho 2016.
27
TEORIAS DA UNIDADE II
PERSONALIDADE
Figura 2.
CAPÍTULO 1
Teorias psicodinâmicas
Figura 3.
29
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
Destarte pode considerar a seguinte compreensão trazida por Feist, Feist e Roberts
(2005, p.20) sobre as instâncias da mente em que o modelo topográfico - existência de
consciente e inconsciente – ficou para trás, dando margem a uma teoria mais profunda
que ajudou a explicar as vicissitudes das imagens mentais representadas pelos sonhos
e trazidas na hipnose.
30
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
Falar sobre essa dinâmica da personalidade construída por Freud é pensar nos
níveis mentais e nas instâncias da mente em relação à estrutura ou composição da
personalidade, uma vez que estas fazem ou proporcionam princípios motivadores –
que explicam a força motora por traz das ações das pessoas, e por isso postulamos uma
dinâmica da personalidade. Essa motivação à procura da satisfação do prazer e redução
da tensão e da ansiedade é derivada de uma energia psíquica física que nasce dos
impulsos básicos, neste caso, os Trieb (impulsos) “operam como uma força motivacional
constante. Como estímulo interno, diferem dos estímulos externos na medida em que
não podem ser evitados pela fuga”. (FIEST, FIEST; ROBERTS, 2105. p. 22).
31
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
por trazer alusão literária e mitológica na tradução das imaginações, hipnose, sonhos e
pensamentos humanos assim como o conceito de inconsciente.
Importante que tenhamos em mente a definição da força pulsional explicada por Hall,
Lindzey e Campbell (2000, p. 56) quando dizem que “o instinto é um quantum de
energia psíquica ou, como Freud colocou, ‘uma medida da exigência feita à mente para
trabalhar (1905a, p. 168)’”. Para uma melhor compreensão, os autores continuam: “a
meta do instinto é a remoção da excitação corporal”, ou seja, “a meta do instinto de fome,
por exemplo, é abolir a deficiência nutricional, o que conseguimos, evidentemente,
comendo o alimento”. Deste modo, podemos concluir que o comportamento de uma
pessoa é acionado por estímulos internos que só terminam quando a ação acertada for
a de remover ou diminuir a estimulação.
A partir da análise dos seus pacientes, Freud concluiu que os sintomas sem causa física
aparente, apresentados durante a análise, estavam ligados a perturbações emocionais,
situadas em experiências traumáticas reprimidas no período da primeira infância.
Essas experiências se traduziam em conflitos que se repetiam no decorrer de todo o
período de desenvolvimento. Para ele, os conflitos eram uma forma com que a pessoa
lidava com os impulsos biológicos inatos ligados ao sexo e às exigências sociais. Para
nossa melhor compreensão, Papalia e Olds (2000) destacaram a afirmativa de Freud
de que os conflitos ocorrem invariavelmente em todo o período de vida, portanto
são repetições dos traumas obtidos nas experiências da primeira infância. (VILELA,
2016. pp. 29-30)
32
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
Conforme Freud, o prazer muda de uma zona erógena do corpo à outra em algumas
fases da vida. Os cinco estágios do desenvolvimento da personalidade chamados de
Estágios Psicossexuais são:
Quadro 2.
Fonte: Aline Vilela, 2016, pp. 29-30; adaptado de Papalia e Olds, 2002, p. 43; Schultz e Schultz 2002, p. 57.
Adler que se tornou médico por adventos pessoais de sua infância, associou-se à Freud
num pequeno grupo que discutia temas psicológicos, momento em que surgiram
diferenças entre as teorias, fazendo Adler estabelecer uma teoria oposta à do famoso e
reconhecido médico vienense. Sua teoria conhecida como individual primava por:
33
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
Quadro 3.
FREUD ADLER
Pessoas eram vistas com motivações sociais que a levavam a lutar por
Motivação reduzida à agressividade e sexo.
superioridade e sucesso.
As pessoas têm pouca ou nenhuma escolha sobre a formação de sua
As pessoas são em grande parte responsáveis pelo que são.
personalidade,
Comportamento presente é determinado por experiências do passado. Comportamento presente é moldado pela visão de futuro da pessoa.
Ênfase nas pessoas psicologicamente saudáveis e conscientes do que
Ênfase nos componentes inconscientes.
estão fazendo e de por que estão fazendo.
Fonte: Adaptado de Feist, Feist e Robert, 2015, p. 46.
Embora não tenha sido tão conhecido quanto Freud e Jung no meio Psicanalítico dos
anos 20, Alfred Adler teve seguidores como Karen Horney, Abraham Maslow, Carl
Rogers, Rollo May e outros. A fonte de sua ideia sustenta que o homem é motivado
fundamentalmente pelas questões sociais, uma vez que é um ser social inerente por
excelência e individualizado, responsável pelos seus atos e não ativado por sistemas
orgânicos. Deste modo, contrastando com a ideia de Freud - de comportamento guiado
por instintos inatos - a teoria do ego; assim como a teoria junguiana de condutas a partir
de um governo de arquétipos inatos. A teoria de Adler relaciona o comportamento do
homem empreendendo atividades sociais em cooperação. O bem-estar social que se
impõe sobre o interesse individual, adquiriu força dentro de um estilo de vida orientado
para o meio externo. Sua teoria psicológica chamou atenção dos psicólogos da época que
voltaram a atenção às variáveis sociais, o que levantou a psicologia social necessitada de
encorajamento, especialmente vindo da bancada “psicanalítica”.
34
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
peculiares ao tratamento, mas que não serão aqui destacadas. (FEIST, FEIST; ROBERT,
2015; HALL-LINDZEY, 2004).
Nunca foi discípulo de Freud nem psicanalisado por ele, fundou a sociedade da psicologia
individual, lugar em que trabalhou com os sentimentos de inferioridade como a fonte
35
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
da luta humana. O primeiro fundamento de sua teoria é que a única força dinâmica
por trás do comportamento das pessoas é a luta pelo sucesso ou pela superioridade.
Então eu seria força criativa? Ela quem coloca a pessoa no controle da sua própria vida
e se torna responsável pelo objetivo final? A força criativa determina seu método de
empenho por aquele objetivo e contribui para o desenvolvimento do interesse social.
Este é um conceito dinâmico que implica movimento, sendo essa a característica mais
relevante da vida, uma vez que toda a vida psíquica envolve movimento em direção
ao objetivo, movimento com uma direção. (SHULTZ; SHULTZ, 2002; FEIST, FEIST;
ROBERTS, 2015)
36
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
A noção de Klein sempre leva em consideração a criança como um todo, lutando com
forças incontroláveis impulsionadas pelas fantasias e mecanismos psíquicos. A teoria é
uma teoria das pulsões e das relações objetais, ou seja, a relação do objeto é fundamental
para sua orientação. Ao nascer, o bebê apresenta um ego rudimentar com capacidade de
sentir ansiedade e, portanto, tenta resolver fisicamente a fim de eliminar a ansiedade.
Sendo assim Klein presume que o recém-nascido apresenta uma capacidade incipiente
para relacionar-se com os objetos na realidade externa e na fantasia, embora deixe claro
que a capacidade de diferenciar o interno do externo seja um princípio muito limitado.
(KLEIN 1942, 1991).
37
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
em si para não confundi-lo, pois isso seria aniquilar o seio bom e perder o que apazigua
seus sentimentos de ira e destruição em torno do seu mau. Esses valores são subjetivos
e sentidos internamente pela psique do bebê e não estão dentro de uma classificação da
linguagem, são vividos pelo bebê de forma vinculativa, onde ele vincula a nutrição ao
instinto de vida e atribui o valor negativo, a fome, ao instinto de morte. Já em torno dos
cinco ou seis meses um bebê começa a perceber os objetos externos como um todo e a
entender que a dicotomia entre o bem e o mal pode existir na mesma pessoa. Além disso,
o ego está começando a amadurecer de modo que consegue tolerar alguns próprios
sentimentos destrutivos, em vez de projetá-lo no seio em que ele considerava mau. O
bebê que percebia que a mãe ao ir embora poderia ser perdida para sempre, teme essa
possível perda e desejando protegê-la e mantê-la afastada dos perigos de suas próprias
forças destrutivas começa a experimentar a culpa por esses impulsos destrutivos, ao
perceber que não tem capacidade para defender a mãe de seus impulsos agressivos.
Deste modo, os sentimentos de ansiedade surgidos quanto à perda do objeto amado
associada a um sentimento de culpa por querer destruir aquele objeto, constitui o que
Klein denominou posição depressiva. (KLEIN (1942), 1991).
38
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
O termo de Jung para energia vital é libido, mas ele também usa libido
paralelamente com energia psíquica. Jung não assumiu uma posição
definida sobre a relação da energia psíquica com a energia física, mas
ele acreditava que provavelmente existe algum tipo de ação recíproca
entre as duas.
(HALL, LINDZEY; CAMPBELL, 2004. p.96)
Como atitudes básicas ele relatou que cada pessoa possuía a sua, como forças opostas
à introversão há a extroversão que se relaciona compensatoriamente, a isso ele dá o
exemplo do Yang e do Yin.
39
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
Funções Atitudes
Introversão Extroversão
Pensamento Filósofos. Cientistas, teóricos, alguns inventores. Cientistas pesquisadores, contadores, matemáticos.
Sentimento Críticos de cinema subjetivos, avaliadores de arte. Avaliadores imobiliários, críticos de cinema objetivos.
40
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
mudanças fisiológicas na pessoa. Observa-se sobre a emoção que qualquer uma das
funções quando levadas na intensidade geram a emoção.
A intuição ─ envolve a percepção para além do formulado pela consciência, assim como
a sensação também necessita da percepção de fatos que fornecem o material para o
pensamento e o sentimento, ou seja, a intuição difere da sensação uma vez que é mais
criativa, acrescentando ou subtraindo sensações conscientes. As pessoas intuitivas
extrovertidas são orientadas para os fatos no mundo externo, já as pessoas intuitivas
introvertidas são guiadas pela percepção inconsciente de fatos que são basicamente
subjetivos e têm um pouco ou nenhuma semelhança com a realidade externa.
(Ibidem,2015).
A teoria da personalidade é formada por vários sistemas isolados, que unidos atuam
formando a personalidade total. Imbuída de vários significados que juntos formulam
o self, que configuram tipos psicológicos e constituem a psique, lugar em que está a
personalidade cujo sistema (o ego, o inconsciente individual e coletivo, os arquétipos,
a persona, a anima, o animus e a sombra) é independente. Jung propõe que se
acrescermos atitudes de introversão e extroversão, as funções do pensamento e por fim
o self, como o centro, aí você terá uma teoria completa da personalidade. (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2002).
41
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
Figura 4.
Assim como cada pessoa possui uma tendência herdada para o inconsciente coletivo,
há uma tendência para avançar em direção ao crescimento, à perfeição e à completude
e isso é uma das disposições inatas do ser humano ao que chamamos self. Portanto, o
self é o arquétipo dos arquétipos, reúne os arquétipos no processo de autorrealização,
simbolizado pelas ideias de perfeição, completude, plenitude de uma pessoa e o seu
símbolo final é a mandala - representando o ponto central da personalidade, em torno do
qual giram os outros sistemas. No entanto, esse processo gerado em cada ser se chama
individuação. A individuação é a corrida para a personalidade, esse espaço processual
em que todo o sistema dinâmico se une, age, se mistura, em torno da formação da
personalidade de um “in-divíduo”, uma entidade separada pelo todo. (BURTON, 1978;
FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015; SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
42
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
Infância O desenvolvimento do ego começa quando a criança consegue diferenciar-se dos outros.
Os adolescentes têm de se adaptar às demandas cada vez maiores da realidade. O foco é externo, na
Da puberdade à idade adulta
educação, carreira e família. O consciente predomina.
Um período de transição quando o foco da personalidade muda de externo para interno numa tentativa de
Meia-idade
equilibrar o inconsciente com o consciente.
Fonte: SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 99.
Por isso não podemos nos esquecer que não somos só funções egóicas, não somos só
temperamentos, ou personalidades, somos, ainda mais que isso, somo julgadores, somos
simbólicos, somos sonhadores, e, portanto, vamos transversalmente à medida do que
relatou Jung revelar um pouco desse tanto que somos. Para Jung o homem não percebe
ou entende plenamente uma coisa ou situação, pois tudo depende da quantidade dos
seus sentidos que limitam a percepção que o indivíduo tem do mundo a sua volta. Esse
mundo faz parte de uma realidade concreta daquilo que tomamos consciência por um
processo interno de reflexão e simbolização. Símbolo é um termo utilizado por Jung
para dar rumo à imagem que nos é familiar embora não nos seja conhecida, é algo como
uma representação passada, com significados psicológicos importantes, inconscientes
e que transcende ao que conseguimos explicar.
Jung passa grande parte de sua atividade de pesquisa estudando o sonho e sobre
sua influência e função, prestar atenção ao conteúdo do sonho em detrimento de
nos deixarmos conduzir pela livre associação, como afirmava Freud, era uma forma
de compreender o que o inconsciente estava tentando dizer, no entanto para tentar
compreender a organização psíquica da personalidade global de uma pessoa é
importante avaliar a função dos seus sonhos e as imagens simbólicas que neles estão
representadas.
43
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
Exemplo de um sonho: “um paciente meu, por exemplo, sonhou com uma mulher
desgrenhada, vulgar e bêbada. No sonho parecia ser a sua própria mulher apesar de estar
casado, na vida real, com pessoa inteiramente diferente. Aparentemente, portanto, o
sonho era de uma falsidade chocante e o paciente logo o rejeitou como uma fantasia tola.
Se, como médico, eu tivesse iniciado um processo de associação, ele inevitavelmente
teria tentado afastar-se o mais rápido possível da desagradável sugestão do sonho.
Neste caso, teria acabado por chegar a um dos seus complexos básicos – complexo
que, possivelmente, nada saberíamos, então a respeito do significado especial daquele
determinado sonho”. (VON FRAZ, et al, 1964, p. 55).
44
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
a personalidade das forças culturais e históricas é de grande importância, uma vez que
não somos regidos por uma força biológica inata. (HALL-LINDZEY, 2004; SCHULTZ;
SCHULTZ, 2002)
Duas curiosidades sobre Erikson é que ele não pretendia substituir a teoria psicossexual
de Freud nem a teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget, pois reconhecia que os
autores estavam interessados em estudar outros aspectos do desenvolvimento. Ainda,
Erikson foi um dos autores que mais prolongou seus estudos até a velhice, assim como
Sullivan, que elaborou a teoria do desenvolvimento interpessoal.
... qualquer coisa que cresça tem um plano fundamental, e (que) as partes
originam-se desse plano fundamental, cada parte tendo seu tempo de
ascendência específico, até que todas as partes tenham se manifestado
para formar um todo operante. Hall-Lindzey (2004, p. 67).
45
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
Nessa crise acontece uma mudança de perspectiva que envolve grande parte da nossa
energia instintiva utilizada para as nossas necessidades em cada estágio do ciclo da
vida. O interessante é que se o conflito em qualquer uma dessas fases é mal resolvido,
a probabilidade de nos adaptarmos aos problemas que surgirem posteriormente é
menor. Por isso, a importância de resolver cada crise de forma bem adaptada para que
desenvolvamos nossas forças básicas ou virtudes e não tenhamos tantos problemas
quando nos depararmos com os conflitos, nem desenvolvamos num nível mais elevado
o que Erikson chamou de patologia central. (Id Ibidem, p. 31)
Podemos perceber, então, que a teoria de Erikson consegue sustentar a ideia de que
as influências culturais e sociais do desenvolvimento vão para além da adolescência e
isso fez com que sua teoria fosse aceita de maneira mais positiva dentro do contexto
desenvolvimental, uma vez que as fases do desenvolvimento psicossocial, mesmo
girando em torno de crises, possibilita o resultado positivo. Aqui, as experiências
psicossociais, e não as forças biológicas instintivas, são as determinantes do processo
do desenvolvimento. Embora as influências da infância sejam importantes, os
acontecimentos nas seguintes fases podem suprir as experiências mal adaptadas.
(FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015).
Patologia
Crise psicossocial Fase psicossocial Fase Freud Idade Virtude
Central
Oral-respiratória,
Confiança x Desconfiança oral 0 a 1 ano Esperança Retraimento
sensorial-cinestésica
Autonomia x Vergonha e
Anal-uretral, muscular anal Até 3 anos Vontade Compulsão
Dúvida
Infantil-genital,
Iniciativa x Culpa fálica Idade da brincadeira Propósito Inibição
locomotora,
Produtividade x
Latência latência Idade escolar Competência Inércia
Inferioridade
Identidade x Difusão da
Puberdade genital adolescência Fidelidade Repúdio do papel
Identidade
Intimidade x Isolamento Genitalidade genital adulto Amor Exclusividade
Generatividade x
Procriatividade genital Idade adulta Cuidado Rejeição
Estagnação
Generalização dos modos
Integridade x Desespero genital velhice Sabedoria Desdém
sensuais
Fonte: Adaptado de <http://pesquisacia.blogspot.com.br/2015/05/desenvolvimento-psicossocial-de-erik.html> e Feist, Feist e
Roberts (20015, p. 160). Acessado em 10 Nov. 2015
46
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
Erikson escreveu essa força básica como uma crença de que os nossos
desejos serão satisfeitos. A esperança envolve um sentimento
persistente de confiança, um sentimento que iremos manter apesar
dos revezes temporários (SCHULTZ; SCHULTZ 2002, p. 208, grifo do
autor).
47
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
48
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
49
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
A personalidade, aqui em Erikson, é constituída a partir das forças vitais que vão
constituindo o ego conforme as crises desenvolvimentais da personalidade vão
se resolvendo. O ego para Erikson encontra soluções criativas para resolução dos
problemas apresentados em cada estágio, portanto quando a situação não é resolvida
de modo a não frustrar os princípios de identidade do ego, o mesmo reage com
esforços multiplicados, típicos de um ego jovem em crescimento. Essas forças inatas
se enriquecem com os conflitos e crises, no entanto, e mais importante, é que o ego
parece ser o senhor do id, e não o contrário como estipulava Freud. Aqui o ego não é
manipulado pelo id e está diretamente aberto às pressões do mundo exterior, dessa
forma sofre consequências a partir das defesas irracionais, dos conflitos traumáticos,
da angustia, culpa, e ainda, está aberto a reagir com psicoterapias, e não está fadado
ao fracasso e ao inconsciente inacessível. Em Erikson, o que não se pode esquecer é
a influência histórico-cultural sobre a formação da personalidade, a qual se origina a
partir de um ego que se constitui em suas crises e dentro de valores dos aspectos da
realidade, que são: os fatos, a universalidade e a realidade.
50
CAPÍTULO 2
Teorias com ênfase na realidade
percebida (fenomenológica/
existenciais)
“... a meta que o indivíduo mais pretende alcançar, o fim que ele
intencionalmente ou inconscientemente almeja, é o de se tornar ele
mesmo”. (ROGERS, 2009, p. 122). Com essa emblemática exposição
do pensamento de Carl Rogers, daremos início ao entendimento de sua
teoria, a conhecida por muitos como Teoria Centrada na Pessoa. Após
receber seu título de Ph. D em 1931 chegou em Ohio como professor de
psicologia a fim de formular opiniões sobre os atendimentos psicológicos
de pessoas emocionalmente perturbadas. (SHULTZ; SCHULTZ, 2002,
p. 316)
51
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
Figura 5.
Consideração
Positiva ou Negativa
Tendência
Manutenção
Atualizante
SELF
Autodiscernimento
Aperfeiçoamento
ou autoconceito
Congruência ou
Incongruências
52
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
Porém, a ameaça suprime o desejo do aperfeiçoamento uma vez que este faz parte do
processo inerente do desenvolvimento humano e deve ser, em sua maioria, alcançado
por ser uma tendência mais biológica que subjetiva, e, por isso, responsável pela
maturação. Quando estamos vivendo de acordo com o que o mundo exterior nos
oferece, ou como ele nos revela, faremos uma avaliação que irá considerar se as
tendências atualizantes para aqueles propósitos estão sendo absorvidas de modo
positivo ou negativo, e são essas condições que provêm considerações positivas para
a continuidade do desenvolvimento, isso ocorre desde a infância, ou negativa, o
que irá atrapalhar a criar incongruências no desenvolvimento. O modo de perceber
e passar pelos aspectos de sua experiência pode não ser apenas vivenciado de
considerações positivas, aceitação, merecimentos, aprovação, afeto, desenvolvendo
pleno e favorável autoconceito. Deste modo, o nível de adaptação psicológica pode
ser influenciado, uma vez que a saúde emocional é uma função da congruência ou
compatibilidade entre o autoconceito e as experiências. (FEIST, FEIST; ROBERTS,
2015, p. 195; SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 322).
53
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
<https://www.youtube.com/watch?v=_5AM54Dubkw>.
<https://www.youtube.com/watch?v=bIxAQ79RmL4>.
54
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
por 14 valores os quais pessoas que alcançaram o topo da pirâmide se sentem motivadas
para autorrealizarem-se, de modo a maximizar sua felicidade pessoal e direcioná-las
em torno de vários eixos e não apenas mais um objetivo a seguir.
Figura 6.
55
CAPÍTULO 3
Teorias com ênfase na aprendizagem
(comportamentais/sociocognitivas)
Mas o que iremos aqui abordar é o pensamento de Skinner sobre a teoria da personalidade.
Conforme Fadiman e Frager (2008, p.291) a personalidade para Skinner é uma coleção
de padrões de comportamento. A personalidade no sentido de obtenção de um self
não tem lugar na análise comportamental do behaviorismo, uma vez que diferentes
situações evocam diferentes padrões de comportamento. Portanto, observa-se que
o pensamento behaviorista é extremamente contra a ideologia do ser pertencente a
camadas interiores que o constituem. Para eles, o self é uma privação de liberdade do
comportamento e estudá-lo é um retrocesso à psicologia, uma vez que não pode ser
visto ou medido.
56
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
Vilela (2016, p. 45) destaca que a ideia básica de Bandura está na ocorrência da
aprendizagem a partir da observação ou imitação, de modo que o comportamento
possa ser influenciado, por algum tipo de reforço sim, no entanto não sendo o reforço
um limitador para a aprendizagem. Ou seja, aprendizagem pode ser observacional,
chamada ainda de aprendizagem por modelação, quando a partir da observação
do comportamento de outras pessoas (modelos) adquirimos novas respostas. E ainda,
aprendizagem pode se dar por meio do reforço vicariante, que é o aprendizado a
57
UNIDADE II │ TEORIAS DA PERSONALIDADE
58
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE II
Figura 7.
REFORÇADORES
AMBENTAIS
Resposta emocional
de outro apoio social
FATORES
COMPORTAMENTO PESSOAIS/COGNITIVOS
Quadro 8.
Exemplo
Processo de Atenção
João tem de 25 anos e viu sua mãe preparar omeletes para o café da
Este processo está relacionado o modo como distinguir luz ou damos
manhã quase todas as manhãs até o dia de hoje, no entanto, no dia
atenção aos comportamentos, uma vez que nem todo comportamento
em que sua mãe precisou que ele preparasse o café da manhã para
nos será útil nesse processo. Bando de destacar que estar atento ou
sua irmã ele não soube como preparar as omeletes. Apesar de ser sua
não é um comportamento modelo depende muito do valor que damos
comida preferida lê-la manhã e de ter visto sua mãe prepará-la repetidas
a esse comportamento, depende ainda do quanto o comportamento é
vezes, o comportamento de sua mãe de fazer omeletes não teve alto
nítido e útil.
valor para João, fazendo com que ele nunca aprendesse a prepará-la.
Exemplo
Processo de Retenção João para aprender a preparar omeletes deve ser capaz de verbalizar a
Neste modelo o observador precisa voltar sua atenção e ser capaz de sequência das ações - acenda o fogão, coloque a manteiga na frigideira,
guardar a informação daquilo que observou. Neste caso dois processos quebre os ovos dentro de uma vasilha separadamente, bata levemente
de representação estão sendo utilizados pelo observador que são o com um garfo, despeje sobre a panela com a manteiga derretida e
visual e/ou o verbal. aguarde alguns minutos, com uma espátula vire o lado da omelete, retire
do fogo e desligue o fogo. (Representação verbal)
Exemplo
Processo de Reprodução Motora A mãe de João pode demonstrar várias vezes como preparar uma
omelete mas se João não tiver nenhuma habilidade motora para quebrar
Visa transformar ações imaginadas em comportamentos concretos,
e bater os ovos, compreendera sequência das ações imitar corretamente
no entanto, são necessárias capacidades motoras e físicas, ou ainda
sua mãe nesse processo, e ainda se não conseguir avaliar e corrigir o
capacidades verbais e intelectuais.
seu desempenho, João não conseguirá imitar o seu modelo da forma
correta.
Exemplo
Processo Motivacional
João descobriu que sua mãe estava passando por um processo de
O observador deve ter motivação, ou seja, deve ter razões que
enfermidade graças ao grande cansaço acumulado pelas tarefas
provoquem e estimulem o seu comportamento. Será a motivação um
rotineiras durante anos, a partir daí João aprendeu a preparar
facilitador para o processo de aprendizagem a partir da imitação.
corretamente as omeletes pelas manhãs.
Fonte: Adaptado pela autora a partir de Schultz; Schultz, 2002, p. 394.
59
TEORIAS DOS TRAÇOS E
DOMÍNIO LIMITADO DA UNIDADE III
PERSONALIDADE
Figura 8.
CAPÍTULO 1
Teorias com ênfase na estrutura da
personalidade (abordagem dos traços)
60
TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE │ UNIDADE III
guiados pelo presente e pelo que esperamos do futuro. Enquanto Freud trabalhava em
um continuum entre personalidades normais e anormais, para Allport a personalidade
anormal agia no nível infantil, e, por isso, a fim de se estudar este tipo de personalidade,
era necessário coletar dados de adultos emocionalmente saudáveis. Seu trabalho dava
ênfase à singularidade da personalidade, pois em sua teoria o desenvolvimento da
personalidade revela um papel proeminente de traços individuais em cada ser humano.
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 236).
Após estudar várias teorias acerca da personalidade, Allport formulou a sua própria
definição, e em 1937 definiu-a como “a organização dinâmica dentro do indivíduo,
daqueles sistemas psicofísicos que determinam seu comportamento e pensamento
característicos”. (FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015, p. 237). Para transmitir uma
ideia fidedigna do que queria expressar, ele explicou cada aspecto da sua definição.
Por exemplo, a organização dinâmica era entendida como uma inter-relação de
inúmeros aspectos da personalidade, sendo a personalidade organizada e padronizada.
No tocante da organização ela está sempre sujeita a mudanças por isso o qualificou
“dinâmica”. Explicou o pensamento sugerindo que a personalidade não é um organismo
estático, mas sim o que está constantemente se desenvolvendo ou mudando. Para os
sistemas psicofísicos, ele enfatiza a importância dos aspectos psicológicos e físicos
presentes na personalidade. De certo modo a explicação é de que a personalidade não
é uma máscara apenas que usamos só para realizar o comportamento, a personalidade
se refere ao indivíduo por trás desta máscara, a pessoa por trás da ação. Já para os
pensamentos característicos ele sugeriu que a palavra “característicos” retratava
os termos “individual” ou “único”, deste modo os sistemas psicofísicos determinam
o “caráter” da pessoa, uma vez que caráter originalmente significa uma marca, ou
gravação de algo que confere sabor, algo que quer dizer “característico”. Então, caráter
seria essa marca única, o registro de uma pessoa, o que a define como ela é. Já o
comportamento e o pensamento são apenas algo que se relacionam com o que se
faz. (Ibidem, 2015, p. 237).
Allport diz que embora haja um crescimento no contexto da personalidade, ele não é
aleatório, já que abordamos a estrutura psicofísica que significa que a personalidade
se compõe - parte mente parte corpo - constituindo-se em unidade não totalmente
mental nem totalmente biológica. Todas essas facetas ativam comportamentos, ideias
específicas, e tudo o que pensamos e fazemos é parte do que somos. A importância
da hereditariedade e do ambiente também está relacionada às variáveis pessoais e
situação, mas a genética e a aprendizagem devem ser levadas em consideração. No
entanto, nos alerta que a psicologia deve estudar individualmente cada pessoa que se
lhe apresenta.
61
UNIDADE III │ TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE
» variam de acordo com uma situação, por exemplo, uma pessoa pode ser
extremamente organizada, porém no momento de conflitos pode deixar a
organização como o último comportamento em sua ordem de motivação
situacional.
Para que o caráter possa ser bem definido, Allport propôs que os traços individuais
que são únicos sejam definidos como aquilo que marca cada pessoa, diferentemente dos
traços comuns, os compartilhados por várias pessoas, assim como os membros de
uma cultura, por exemplo, membros de uma mesma família. Mas se falarmos de caráter
que se moldam por traços de comportamentos individuais em uma pessoa podemos
pensar mais a fundo sobre como esse autor constitui a personalidade pensando em self.
Afinal nesta teoria há um self?
Allport sugeriu um termo para ego ou self, o qual denominou proprium “centro vital
da personalidade, o proprium inclui aqueles aspectos da vida que a pessoa considera
como importantes para um senso de identidade e autocrescimento”. (ALLPORT, 1955
apud FEIST, FEIST; ROBERTS, 2015, p. 240).
Então, para termos uma definição mais adequada do proprium vamos pensar nele como
comportamentos e características que as pessoas pensam ser vitais ou importantes em
62
TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE │ UNIDADE III
sua vida, e esses comportamentos seriam senso de identidade e auto crescimento que
incluem o valor de uma pessoa e a consciência do que é pessoal, do que é um aspecto
dela mesma, assim como suas crenças. O proprium é, portanto, tudo aquilo que o
indivíduo se refere como «seu», «sou» e «meu».
O self e o ego são vistos por Allport como o mesmo fenômeno, o qual ele chamou de
proprium, portanto o self, em outras palavras, é essa parte do ser que se constitui ao
longo da vida. Esse “eu” que não é identificado na infância, se desenvolve e se diferencia
a partir de expressões pessoais, históricas e culturais, mas apenas na maturidade o
self está completo, e isso ocorre através do que ele trouxe como teoria da motivação.
Impulsos e não eventos passados motivam o comportamento, e isso difere dos esforços
do proprium. Os motivos reduzem a intensidade de uma necessidade, enquanto
os esforços do proprium mantêm a tensão e o desequilíbrio para proporcionar o
comportamento proativo que permite o crescimento em direção à saúde mental. (FEIST,
FEIST; ROBERTS, 2015, p. 241; HALL-LINDZEY, 2002, p. 242)
Um indivíduo pode ter diferentes traços em diferentes momentos de sua vida, no entanto,
o número de disposições pessoais não pode ser encontrado sem três referências ao grau
de dominância de cada disposição pessoal que se encontra na vida de um individuo, os
quais são centrais para uma pessoa, sendo assim, cada um provavelmente tem 10 ou
menos disposições pessoais.
63
UNIDADE III │ TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE
Quadro 9.
De certa forma, todos partilham traços comuns. Por exemplo, todas as pessoas têm certa medida da inteligência
Traços comuns
ou extroversão.
Cada um de nós possui traços singulares que fazem nossa distinção como indivíduos; por exemplo, gostar de
Traços singulares
política ou se interessar por beisebol.
Traços de habilidades Nossa destreza ou capacidade determina qual bem podemos atuar com relação aos nossos objetivos.
Nossas emoções e sentimentos (por exemplo, se somos assertivos, irritadiços ou calmos) participam da
Traços de temperamento
determinação de como reagimos às pessoas e ao ambiente que nos cercam.
Traços dinâmicos São forças que fundamentam nossas motivações e impulsionam nosso comportamento.
Estas características são compostas por um número qualquer de traços originais ou de elementos
Traços superficiais comportamentais e, portanto, podem ser estáveis e transitórias, mais fracas ou mais fortes, em resposta às
diferentes situações.
Traços originais São elementos únicos, estáveis e permanentes do nosso comportamento.
São traços originais com determinação biológica, tais como os comportamentos resultantes por ingestão de
Traços constitucionais
álcool em excesso.
Traços moldados pelo São traços originais com determinação do ambiente, tais como os comportamentos resultantes da influência dos
ambiente nossos amigos, do ambiente de trabalho ou da região em que vivemos.
Fonte: (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 258).
64
TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE │ UNIDADE III
Neuroticismo/Estabilidade
Extroversão/Introversão Psicotismo/Controle de impulso
emocional
Sociável Ansioso Agressivo
Animado Deprimido Frio
Ativo Com sentimentos de culpa Egocêntrico
Assertivo Com baixa autoestima Impessoal
Que procura emoções Tenso Impulsivo
Despreocupado Irracional Antissocial
Dominador Tímido Criativo
Aventureiro Emotivo Obstinado
Fonte: (SCHULTZ; SCHULTZ, p. 272).
Hans Eysenck (1997) formulou uma teoria com componentes psicométricos e biológicos
que defendia que a sofisticação da Psicometria isolada para medir a estrutura da
personalidade humana, e que as dimensões da personalidade ─ a que se chegou por
meio dos métodos de análise fatorial ─ são estéreis e pouco significativas, a menos que
elas tenham demonstrado uma existência biológica. (FEIST, FEIST; ROBERTS, 2014,
p. 274). Eysenck extraiu matematicamente três dimensões da personalidade que são
a extroversão (E), neuroticismo (N) e psicoticismo (P); considerando no polo oposto
65
UNIDADE III │ TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE
66
TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE │ UNIDADE III
Quadro 11.
67
UNIDADE III │ TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE
68
TEORIAS DOS TRAÇOS E DOMÍNIO LIMITADO DA PERSONALIDADE │ UNIDADE III
vez mais lento na vida adulta e quase para por completo. O postulado da estrutura
define os traços organizando-os de modo hierárquico, dividindo desde traços limitados
até traços específicos, amplos e gerais, como Eysenck sugeriu.
69
TEMPERAMENTO
E CARÁTER NA UNIDADE IV
PERSONALIDADE
Figura 9.
Sanguíneo Colérico
Fleumático Melancólico
CAPÍTULO 1
Compreendendo o temperamento
Desde o ano 460 e 370 a.C o médico Hipócrates, pai da medicina, buscou um meio
de averiguar a ligação existente entre forma corporal e tipo de temperamento. Os
conhecidos tipos de temperamentos fundados por Hipócrates e que estabeleciam os
tipos sanguíneos como formas de distinguir os temperamentos. Na época a teoria
chamava atenção, e mais adiante fora estudada e melhor descrita por diversos autores.
Por volta do século XIX fora observada por Immanuel Kant, filósofo que destacou as
tipologias utilizadas pelos gregos de modo a compreender um fenômeno psicológico
de traços psíquicos, os quais eram determinados a partir da composição sanguínea, tal
como falara Hipócrates, ou do modo de coagulação do sangue e sua temperatura. Tal
como Hipócrates, Kant observou que a composição sanguínea definia critérios de traços
que estimulavam a estruturação da personalidade do sujeito. Para as características ele
separou os tipos que variavam entre emoção versus objetividade ou dominância, os
tipos seriam:
70
TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE │ UNIDADE IV
Quadro 12.
71
UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE
Strelau (1998, apud ITO; GUZZO, 2002) estabeleceu cinco diferentes tipos entre
temperamento e personalidade a fim de nos fazer compreender as diferenças e
semelhanças existentes entre o que pensamos ser, traços, personalidade e temperamento.
Figura 10. Tipos de sistema nervoso relacionados aos tipos clássicos de temperamento da tipologia Hipócrates –
Galeno.
72
TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE │ UNIDADE IV
Compreendendo o caráter
Distinguir estes aspectos que estão veementemente implicados entre si não é fácil, pois
desde o início compreendemos que há uma ligação entre personalidade, temperamento
e caráter. No entanto, já sabemos que a personalidade é um conjunto, na verdade reúne
temperamento e caráter em uma só estrutura ─ uma vez que comporta traços que
são frutos da herança biológica e do processo de vivência. O caráter, pois, é o modo
constante e individual de uma pessoa reagir no ambiente social em que está inserida.
Nos anos de 1980, os Neurocientistas, dentre eles o que ganhou o prêmio Nobel
de fisiologia Roger Sperry e ainda Ned Herrmann, mapearam o cérebro humano
e corroboraram com o que havia intuído Jung nos anos de 1970 sobre o hemisfério
esquerdo ser sensorial (S) e pensador (T), enquanto o hemisfério direito é intuitivo
(N) e sentimental (F). Fora trabalhando com esses comportamentos humanos
classificáveis, constituídos e fundamentados pelo homem ao longo da vida, chamados
de personalidade, que Jung escreveu sua obra “Tipos psicológicos”. A partir daí seus
seguidores aprofundaram os conceitos e as, então, norte-americanas Katherine Briggs
e Isabel Myers iniciaram um estudo na década de 20 e mais tarde na década de 60 a
filha de Myers deu continuidade a esse estudo, desenvolvendo um indicador de tipos
psicológicos (MBTI), um tipo de teste amplamente utilizado em recursos humanos,
orientação vocacional e profissional, aceito na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e
73
UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE
também no Brasil, e que propunha observar que “as pessoas nascem com determinados
dons sobre as quais o meio ambiente exerce pouca influência (...) que têm preferências
mentais e que o uso destas é decisivo para firmar uma personalidade» (CALEGARI;
GEMIGNANI, 2006, p. 30).
74
TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE │ UNIDADE IV
Interessante partir dessas dicotomias do caráter e falar ainda um pouco sobre o caráter
em Freud, que em 1913 separou traços neuróticos de traços da personalidade e caráter.
Foi com a existência dos mecanismos de defesa e a repressão dos traços de caráter que
se desenvolveram um padrão persistente de formação reativa e sublimação, que gerou
importância na formação do superego na construção do caráter. O caráter, então, é
um elemento reativo a uma força a quem deve reagir, imaginemos o ego demandando
forças, ou inúmeras investidas e o superego tendo que reagir a essas investidas, e a
isso chamaremos caráter, pois tem a ver com forças pulsionais de fora que estarão
se misturando com as forças existentes no interior formando o tipo de caráter ou
personalidade. Caso ocorra o desenvolvimento de certos traços de caráter mediante uma
demanda muito forte e inapropriada, a força da realidade pode provocar uma ruptura e
produzir uma vulnerabilidade ou predisposições a transtornos. (FREUD, 1946)
Storr, um psiquiatra inglês (FEDELI, 1997), se arrisca dizer que há limites tênues
entre a normalidade e a patologia nos padrões de caráter, e para ele a maneira mais
simples de chamar seria “estilo comportamental nos limites da normalidade”, mas por
comodidade de linguagem nos contentamos com o mais comum, “caráter”.
Caráter neurótico
Para Adler, o neurótico viria a ser um indivíduo que “desvia” do caminho, que não
quer viver conforme as exigências sociais, que vive em um mundo próprio construído,
mundo de mentiras e fantasias que o torna despreparado para a realidade.
75
UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE
Horney também viu neurótico como alguém que se mostra inadequado ao ambiente
em que cresce e vive, sendo taxado como uma criança infeliz, vítima da cultura
moderna, prisioneiro de um processo neurótico. Essa pessoa sempre compromete o
seu verdadeiro eu afastando-se de si mesmo e comprometendo o desenvolvimento
de sua personalidade. É um sofredor que experimenta isolamento social e apresenta
profundas necessidades psicológicas, isolamentos e inseguranças, comprometendo
suas amizades e gerando piedade dos que convivem com ele devido à sua contundente
instabilidade. “O neurótico não sofre apenas de neurose, como se sofre de tuberculose
ou de gripe; ele participa ativamente da doença, ajuda-a de certo modo, reforçando
aquelas experiências que lhe são características”. (FEDELE, 1997, 255). De alguma
maneira ele parece não querer se curar.
Para dispor das inúmeras facetas de que dispõe o caráter neurótico, apresentarei uma
grade resumida de alguns importantes aspectos que podem aparecer em casos de
caráter neuróticos.
Rejeição de si mesmo.
Imobilização causada por medos “irracionais”.
Subordinação à influência de “sinais externos”.
Perenes insatisfações.
Pensamento dicotomizado.
Forte senso de propriedade.
Sensação de não ser suficientemente amado e valorizado.
Excessiva preocupação com o passado e o futuro.
Frequentes sentimentos de culpa.
Hipocondria.
Dependência da família.
Pânico de errar e de fracassar na própria função.
Senso de humor muito pobre.
Tendência ao mito do herói.
Tendência ao conformismo.
Dificuldade de encontrar um verdadeiro objetivo na vida.
Estilos de vida equivocados que leva ao isolamento e à dúvida.
O elemento caraterial mais elementar é a indecisão.
É um indivíduo que passa horas ruminando coisas.
Sai-se particularmente bem em atividades que exigem precisão.
Não tem aptidão para atividade que exige criatividade, solução elástica, imaginação.
Parece ser dominada por algo tirânico do destino, penosa e sufocante.
Fonte: Fedele, 1997, pontuações retiradas pela autora das pp. 256,257.
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TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE │ UNIDADE IV
Caráter histérico
Caráter histérico.
Identificação com a personagem é geralmente tão completa que a pessoa “esquece” a realidade e sua verdadeira natureza.
Gostam de “fazer bonito”, representando papéis de heróis, personagens generosos, pessoas sensíveis aos problemas da humanidade.
Caráter esquizoide
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UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE
Apresenta comportamentos tipicamente de desinteresses, negligentes, abandonos, sem motivação, e por isso está em constante mudança de
emprego.
No campo afetivo há predominância de mau humor e indiferença diante de alegrias, além do isolamento.
Fonte: Fedele, 1997, pontuações retiradas pela autora das pp. 261,262.
Caráter paranoide
O traço precipitado do caráter paranoide está na atitude desconfiada e ideia fixa de ser
vítima de algo ou alguém, ao que chamamos mania de perseguição. O tipo paranoide
se defende da certeza da perseguição tornando-se perseguidor, então, está pronto para
atacar, encontrando-se furtivamente medroso e agressivo o tipo perseguido que se
torna perseguidor.
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TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE │ UNIDADE IV
Caráter impulsivo
Apenas os fleumáticos que são mais controlados e frios não apresentam concomitantemente essa reação.
Diferente é quando a resposta do tipo impulsivo se torna norma constante da vida do indivíduo, constituindo um estilo habitual.
No âmbito desses comportamentos distinguem-se as ações de curto-circuito, nas quais impulsos emotivos transferem-se diretamente para a ação.
(acting out)
Fonte: Fedele, 1997, pontuações retiradas pela autora das pp. 264.
Compreendendo os tipos
Essas teorias existem há anos, desde Hipócrates, quando este dividia os temperamentos
em quatro tipos: deprimido, otimista, apático e irritável. E ainda quando Jung classificava
as pessoas em introvertidas ou extrovertidas dentro de sua teoria psicodinâmica.
(DAVIDOFF, 2001)
79
UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE
Figura 11.
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CAPÍTULO 2
Aspectos gerais
Interação gene-ambiente
Temperamento neonatal
Estudos indicam que desde o primeiro dia de vida os bebês emitem traços persistentes de
temperamento, e que talvez esses traços sejam pré-programados no organismo devido
à herança genética. Através de estudos realizados com gêmeos e crianças adotadas,
surgiu a hipótese de que essas características seriam, de algum modo, influenciadas
pela herança, entretanto o ambiente intrauterino, os momentos que antecedem o
parto, o próprio momento do parto e o vínculo mãe-bebê também contribuem para as
características da personalidade inicial.
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UNIDADE IV │ TEMPERAMENTO E CÁRATER NA PERSONALIDADE
Temperamento
Algumas pessoas tendem a não compreender o significado de temperamento, para isso
vamos defini-lo como o modo do comportamento, ou melhor, “como a criança faz”.
Pensando assim, podemos verificar como o temperamento afeta o comportamento. As
diferenças entre temperamento são consideradas inatas e amplamente hereditárias,
contudo fatores ambientais, como a relação parental, podem provocar mudanças
consideráveis, assim como o cuidado dirigido à criança e o sentimento da mãe em relação
ao seu próprio estilo de vida podem influenciar no temperamento do filho. No final, como
dizia Allport (1973) sobre personalidade, ela é uma organização dinâmica com sistemas
psicofísicos que determinam suas condutas e seus pensamentos característicos.
Família
A família é um importante modelo de padrões sociais e afetivos na vida de uma
criança, desde bebê os padrões de comportamento e adoção de sentimentos estão
visivelmente ligados aos fatores familiares e ao papel dos pais dentro desse ambiente. As
influências que exerce a família foram sempre pontos estudados para compreensão do
desenvolvimento infantil, assim como as características individuais da própria criança
são fatores de extrema valia quando o assunto é temperamento infantil, por exemplo.
82
Para (não) Finalizar
O objetivo é defender o uso responsável e os bons resultados que podem advir dos
testes psicológicos. Recentemente, vários instrumentos de avaliação psicológica estão
sendo divulgados em redes sociais e canais do YouTube. O uso de testes psicológicos
considerados desfavoráveis, segundo os critérios estabelecidos na Resolução
CFP no 2/2003, é considerado falta de ética e o profissional pode responder
administrativamente.
Satepsi
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PARA (NÃO) FINALIZAR
Fonte: <http://site.cfp.org.br/campanha-do-cfp-quer-barrar-banalizacao-de-testes-
psicologicos/>. Acesso em: 10 out 2016.
84
Referências
BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed,
2011.
BORDO, S. Ninguém fica doente por olhar uma imagem: flashes transculturais.
In. No Império das imagens: Prefácio para o décimo aniversário da edição de “Este
Peso Insuportável”. Labrys Estudos Feministas, v. 4., 2003. Disponível em: <http://
www.labrys.net.br/labrys4/textos/susan1.htm>. Acesso em: 4 de julho 2016.
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REFERÊNCIAS
IDA, Sheila Weremchuk.; SILVA, Rosane Neves da. Transtornos alimentares: uma
perspectiva social. Rev. Mal-Estar Subj. Fortaleza, v. 7, no 2, pp. 417-432, set. 2007.
Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-
61482007000200010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: jul. 2016.
86
REFERÊNCIAS
REIS, Alberto O. A.; MAGALHÃES, Lúcia Maria A.; GONÇALVES, Waldir. L. Teorias
da Personalidade em Freud, Reich e Jung. Temas básicos da psicologia; v. 7. São
Paulo: E.P.U., 1984.
ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
87
REFERÊNCIAS
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