Práticas Docentes D Professores D Música
Práticas Docentes D Professores D Música
Práticas Docentes D Professores D Música
Taubaté – SP
2019
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Dóris Mendes Ramos de Siqueira
Taubaté – SP
2019
Sistema integrado de Bibliotecas – SIBi/ UNITAU
Biblioteca Setorial de Pedagogia, Ciências Sociais, Letras e Serviço Social
CDD – 370
Este trabalho se insere no âmbito da abordagem qualitativa de pesquisas sobre a prática docente
e as reflexões em educação musical na Educação Infantil. Trazemos, como instrumento da
pesquisa, o uso de entrevistas, observação de aulas, registros em diário de campo e a elaboração
de casos de ensino, um instrumento ainda pouco explorado nas pesquisas para formação de
professores voltadas para a prática. Abordamos um referencial teórico amplo, voltado para a
educação musical, trazendo as concepções dos métodos ativos e do caminhar histórico de
implantação dessa modalidade de educação no Brasil, até a atualidade em que a música volta a
ter espaço nos currículos brasileiros, mediante aprovação da lei 11769/08, quando passa a ser
conteúdo obrigatório da Educação Básica, e com a lei 13.278/16 que coloca a música e outras
linguagens artísticas como a dança, o teatro e as artes cênicas e plásticas como obrigatórias,
mas não exclusivas. Buscamos destacar também abordagens sobre os saberes docentes e
reflexões sobre a sua prática, trazendo autores como Shulman (2014) Schön (1992) Tardif
(2014) e Nóvoa (2009) para embasar nossa pesquisa. Além disso, apresentamos como uma
revisão de literatura um panorama de pesquisas sobre a reflexão nas práticas docentes e
educação musical, destacando trabalhos acadêmicos sobre os temas com vistas a fazer com
nossa pesquisa, uma contribuição para os estudos em práticas reflexivas em educação musical.
Participaram desse estudo três professoras da Educação Infantil, efetivas em uma rede
municipal de educação situada no interior paulista, que atuaram por três anos consecutivos
como professoras de música, na referida fase da escolaridade, por meio do Projeto Sala de
Leitura Interativa e que utilizam a ludicidade para o trabalho com a música, com brinquedos,
movimento, tecnologia, para o compartilhamento de ideias, e o uso de instrumentos musicais
de formas convencionais e não convencionais como ferramentas para a musicalização. Os
resultados trazem, além das práticas dessas professoras, suas reflexões diante dessas práticas e
suas percepções sobre a aprendizagem das crianças nas aulas de música da Educação Infantil.
Indagamos, ao longo da dissertação, questões como a formação dos professores de música para
a Educação Infantil e sobre a continuidade do trabalho das professoras que já estão em atuação,
entretanto as respostas levantadas pela pesquisa nos levam a perceber que ainda há um longo
caminho a percorrer na formação de novos professores para atuarem com a música nessa fase
inicial da educação.
This work is part of the qualitative approach of research on teaching practice and reflections on
music education in early childhood education. We bring, as a research instrument, the use of
interviews, classroom observation, field diary records and the elaboration of teaching cases, na
instrument that is still little explored in research for the formation of teachers focused on the
practice. We approach a broad theoretical framework, focused on music education, bringing the
conceptions of active methods and the historical path of implantation of this modality of
education in Brazil, until the present time when music has room in the Brazilian curriculum,
after approval of the law. 11769/08, when it becomes a compulsory content of Basic Education,
and with the law 13.278 / 16 that makes music and other artistic languages such as dance, theater
and the performing arts as mandatory, but not exclusive. We also seek to highlight approaches
to teaching knowledge and reflections on their practice, bringing authors such as Shulman
(2014) Schön (1992) Tardif (2014) and Nóvoa (2009) to support our research. In addition, we
present, as a literature review, an overview of research on reflection in teaching practices and
music education, highlighting academic works on the themes in order to bring, with our
research, a contribution to studies on reflective practices in education. musical. The participants
of this study were three teachers of Early Childhood Education, effective in a municipal
education network located in the interior of São Paulo, who worked for three consecutive years
as teachers of music, in that phase of schooling, through the Interactive Reading Room Project
and using the playfulness to working with music, toys, movement, technology, sharing ideas,
and the use of musical instruments in conventional and unconventional ways as tools for
musicalization. The main instruments of this research were field diary observation, semi-
structured individual interviews and teaching case studies. The results bring, in addition to the
practices of these teachers, their reflections on these practices and their perceptions about
children's learning in early childhood music classes. Throughout the dissertation we asked
questions such as the formation of music teachers for kindergarten and about the continuity of
the work of teachers who are already working, however the answers raised by the research lead
us to realize that there is still a long way to go. walk in the formation of new teachers to work
with music in this early phase of education.
1. INTRODUÇÃO …………………………………………………………...........11
REFERÊNCIAS ……………………………………………………………….......101
1. INTRODUÇÃO
Ainda criança, iniciei meus estudos em música, aos dez anos, praticando aulas de violão
em grupos. Eu era a aluna mais jovem da turma e não consegui aprender praticamente nada,
mesmo me esforçando para isso e contando com o apoio e incentivo de minha família. Talvez
daí tenham surgido minhas primeiras indagações, mesmo que de forma ingênua, a respeito das
práticas em educação musical.
Mais tarde, na adolescência, comecei a estudar com professores particulares, aprendi
outros instrumentos e ingressei em uma Banda Sinfônica Jovem, onde aprendi a tocar saxofone.
Minhas aprendizagens nessa Banda e as experiências musicais que vivi, me instigaram a
procurar saber mais sobre os processos de aprendizagem musical e me levaram a percorrer os
rumos da pesquisa nesse tipo de educação, pois, de alguma forma, eu gostaria de contribuir para
que a música fizesse parte da vida de mais pessoas e para que mais professores pudessem
compreender e refletir sobre a prática docente em música.
Tornei-me, então, professora, escolhendo a Pedagogia como formação, para que
pudesse compreender a docência e o universo da criança. Fui professora do Ensino Fundamental
logo que me formei e procurei, em minhas aulas, trabalhar com música, unindo-a às atividades
regulares que fazia com meus alunos. Foi então que surgiram minhas primeiras reflexões sobre
a prática docente em música: como as minhas práticas refletiam na aprendizagem dos alunos e
como era minha postura em relação a essa prática?
Ao me tornar, alguns anos depois, professora da Educação Infantil e, por meio de um
projeto do município em que trabalhei, também professora de música, essa reflexão sobre a
prática passou a ter ainda mais significado para minha vida e para minha carreira na educação.
Considero o fato de que minhas formações na área da música e educação musical
contribuíram de diversas formas para as minhas reflexões, pois busquei também outras
formações, como a Psicopedagogia e a própria Educação Musical em especializações lato
sensu.
Tendo em vista essa minha experiência peculiar como professora de música para a
Educação Infantil e as ponderações que faço sobre minha prática docente, há em mim uma
inquietação a respeito da reflexão sobre a prática docente em música, pois ainda é um tema
novo a ser tratado no Brasil, sendo discutido por diversos autores, que serão apresentados no
decorrer dessa pesquisa. Dentre os referenciais teóricos, está Fonterrada (2008) que escreve a
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Sobre a lei citada por Fonterrada (2008), Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, o artigo 26 trata do currículo para a Educação Básica e, no parágrafo 2º, é
indicada a obrigatoriedade do ensino de artes para todos os níveis, o que permite diversas
interpretações, pois as artes compreendem muitas linguagens, como as artes plásticas,
teatro, dança e música.
Para maior clareza nos objetivos do ensino da música como um componente
curricular específico da Educação Básica, foi incluída uma especificação na LDBEN, pela
lei 11.769, de 18 de agosto de 2008, a qual dispõe que “A música deverá ser conteúdo
obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2 deste artigo”
(BRASIL, 2008 , Art. 26, § 6). Essa lei passou a vigorar a partir da data da sua publicação
e indica que as escolas teriam três anos para a adaptação às novas instruções legais.
Cabe ressaltar que houve um veto na proposta inicial, na qual constava também que
esse ensino de música deveria ser ministrado por professores com formação específica na
área. Os motivos apresentados para o veto foram:
Esse veto destaca que a formação específica para o professor que irá ministrar as
aulas de música não requer que seja na modalidade licenciatura e que é preciso rever o que
vem a ser a formação específica, pois não existem essas exigências de formação específica
para Matemática, Física, Biologia, etc. De acordo com as indicações do texto legal, muitos
profissionais na música são reconhecidos nacionalmente, ainda que sem formação
acadêmica ou oficial, e estariam impossibilitados de assumir a disciplina. Assim, esse veto
no tocante à formação específica do professor que lecionará música nas escolas brasileiras,
deixa em aberto a possibilidade de que profissionais com outras formações, mas que
tenham conhecimento em música, tornem-se professores dessa área.
No ano de 2016, a lei 11.769/08 teve outra modificação no parágrafo 6º do artigo
26, com a promulgação da lei 13.278, de 2 de maio de 2016, segundo a qual passa-se a
compreender, como parte dos componentes curriculares, o ensino das linguagens artísticas
da dança, artes visuais, teatro e música. Dessa forma, os professores com formação de
Ensino Superior, licenciados em quaisquer das modalidades artísticas citadas, podem
assumir as aulas da disciplina “Arte” na Educação Básica. Entretanto, na prática realizada
nas escolas de Educação Infantil, não existe essa contratação de profissional específico
formado nas disciplinas artísticas, sendo, essas aulas, assumidas pelo pedagogo.
a outros professores por meio de contratos temporários, docentes esses, os quais, como já
se esclareceu aqui, que não tinham vínculo efetivo com a rede de ensino.
Algo que nos chama a atenção é que essa formação se deu apenas no ano de
implementação do projeto, não tendo continuidade para que os novos professores, os quais
a posteriori assumissem as aulas, tivessem acesso ao conteúdo ministrado nos cursos,
deixando, portanto, de ser uma das exigências para o desempenho da função de professor
de música. Por essa razão, indagamos sobre a lacuna existente na formação dos professores
que assumem as aulas de música na Educação Infantil do município e, mesmo sem a
pretensão de obter aqui as respostas, pairam questionamentos como: será que há a
continuidade dos mesmos professores no projeto? E para os novos professores, como será
que suas práticas estão ocorrendo?
Nas propostas de Brito (2003) para a música na Educação Infantil, a criança é
considerada como protagonista do processo de aprendizagem e do fazer musical,
pensamento esse que está consoante com o proposto pelo Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil e, recentemente, com aquilo que define a Base Nacional Comum
Curricular, doravante BNCC, acerca dos campos de experiência que compõem essa fase
da escolaridade, a saber: o Eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons,
cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; e Espaço, tempo, quantidade,
relações e transformações.
Ainda de acordo com o postulado teórico de Brito (2003), acreditamos que a
importância da música para a Educação Infantil é tamanha, visto que ela possibilita
interações com todos os campos de experiência propostos pela BNCC, pois, por meio dos
sons, a criança começa a interagir, mesmo antes do nascimento, seja pelos sons que ouve
ainda no útero materno ou pelas vozes dos pais e familiares próximos; posteriormente, ao
nascer, pelo choro; e, durante todo o crescimento, a presença de um ambiente sonoro e
musical afeta a criança, de uma maneira ou de outra. Essa presença marcante dos sons em
quaisquer fases da vida da criança e do indivíduo de modo geral, ratifica a necessidade de
pensarmos em uma educação musical consciente e reflexiva, conforme se propõe nesse
estudo.
No âmbito da escolarização, essas interações com a música na Educação Infantil
possibilitam à criança compreender mais sobre si mesma, pois, quando canta, descobre
suas possibilidades vocais, brincando com a voz e com o corpo todo, dançando e pulando
ao ritmo de uma música. Além disso, por meio da música, a criança pode também imaginar,
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viajar pelos sons, experimentar sensações e expressar emoções. Dessa forma, trabalhar com
a música na Educação Infantil amplia as possibilidades de entendimento de noção espacial
e temporal, na marcação dos compassos e duração das figuras musicais e na movimentação
que o corpo faz para reproduzir um determinado som e acompanhar uma canção.
Tao importante quanto a reflexão acerca da educação musical para a Educação
Infantil, é pensarmos também na importância de um professor que receba formação
específica, para que possa proporcionar boa educação para as crianças, de forma que, aquilo
a música tem para colaborar no desenvolvimento integral da criança, seja contemplado por
esse professor.
Nessa pesquisa, buscamos compreender como três professoras da Educação
Infantil, formadas em Pedagogia e que atuam com aulas de música há três anos, refletem
sobre suas práticas docente. Esperamos, com isso, contribuir para que outras professoras
compreendam a prática das aulas de música nos primeiros anos da escolarização, bem como
as dinâmicas e os desafios da implantação desse componente curricular para crianças em
idade pré-escolar.
O estudo que ora se apresenta está organizado, então, de forma a contemplar os temas
que são importantes para discutir nosso problema de pesquisa. Para isso, a primeira seção está
destinada a introdução do trabalho, delineando problema, objetivos, relevância do estudo e
justificativa.
Já a segunda seção, trata da revisão bibliográfica que construímos, sendo dividida em
quatro tópicos: o primeiro destinado a entender as concepções sobre educação musical e suas
implicações na Educação Infantil; o segundo aborda o caminhar histórico da educação musical
no Brasil, trazendo elementos que nos permitam compreender a trajetória dessa modalidade de
educação, desde o início da colonização no Brasil até a atualidade; ao passo que terceiro tópico
apresenta o panorama das pesquisas sobre a reflexão nas práticas docentes e educação musical,
enquanto que o quarto tópico traz os referenciais teóricos sobre as práticas docentes, reflexões
e saberes da profissão.
Na terceira seção do trabalho, apresentamos a descrição da metodologia utilizada para
a realização da pesquisa, sendo indicado em qual tipo de pesquisa esse projeto se insere e como
foram as etapas do processo de coleta e análise de dados, subdivididos em tópicos que tratam
das etapas de: entrevista, observação, elaboração dos casos de ensino, como instrumentos de
reflexão sobre a prática, e procedimentos para a coleta e análise de dados.
Na sequência do trabalho, há a quarta seção em que discutimos os resultados obtidos a
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partir dos dados coletados e das análises realizadas, destacando quatro tópicos: o primeiro foi
destinado a traçar o perfil e trajetória das professoras participantes; o segundo voltou-se para a
abordagem das práticas em educação musical, tendo o lúdico e o uso das tecnologias como
recursos didáticos das professoras; já o terceiro tópico apresentou a percepção das professoras
sobre o ensino de música na educação infantil, tendo como elemento norteador o
desenvolvimento profissional dessas professoras; e, no quarto tópico, apresentamos os casos de
ensino que foram construídos pelas professoras, com nossas análises sobre eles. Finalizamos
esse estudo com as considerações de nossa pesquisa, seguidas das referências que utilizamos
para compor a dissertação.
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A revisão de literatura apresentada nesse trabalho foi feita em livros, artigos, teses e
dissertações. A seleção dos livros utilizados para o referencial teórico seguiu os critérios de
concepções sobre educação, educação musical e formação de professores. Embasamo-nos
teoricamente em autores da literatura pedagógica sobre a prática docente, tais como Shulman
(2014), Tardif (2014), Marcelo Garcia (2009), Nóvoa (2009), Mizukami (2000, 2004) e Schön
(1992), para dialogar com o referencial específico de educação musical que buscamos para
esse trabalho, a exemplo de Schafer (2011, 2009), Fonterrada (2008), Brito (2003, 2001),
Mateiro e Ilari (2012) e Koellreutter (1998), pois acreditamos, tal como Loureiro (2003, p.89),
que:
Autores, como Koellreutter (1997), Brito (2001, 2003), Loureiro (2003), Fonterrada
(2008), Schafer (2009, 2011), Mateiro & Ilari (2012), discorrem sobre a importância da música
para o desenvolvimento integral da criança e sua aplicação na educação. As contribuições
teóricas desses autores nos revelam concepções do que é fazer música na escola, como as
crianças devem interagir com essa área do conhecimento e qual o papel do professor/educador
20
musical.
Tecendo uma linha do tempo, para compreendermos melhor os sentidos e significados
atribuídos à concepção atual de educação musical, Fonterrada (2008) apresenta um histórico
dessa educação, elencando autores e pedagogias musicais, desde a antiguidade grega, quando,
com a filosofia de Platão e Aristóteles, se acreditava que a música moldava o caráter do homem
e das civilizações romanas, atribuindo a ela grande importância para a humanidade.
Com o passar dos séculos e períodos históricos, a música e a educação musical foram
ganhando novas abordagens, até que, no século XIX, entram em cena novos precursores dos
métodos ativos em educação musical, como Jean-Jacques Rousseau, que valorizava os aspectos
mais humanos. Fonterrada (2008, p.60) descreve-o como sendo o primeiro pensador da
educação musical que buscou apresentar uma pedagogia especialmente voltada para essa área
de educação, tendo como objetivo assegurar a flexibilidade a sonoridade e a igualdade das vozes
por meio de canções simples e não dramáticas.
Além de Rousseau, outros pensadores trouxeram o tema da educação musical em suas
ideias sobre o ensino, tais como Pestalozzi, Herbart e Froebel. Boa parte de seus estudos e
colaborações teóricas, ainda hoje tem representatividade nos encontros de educação musical
pelo mundo, especialmente Pestalozzi, pois suas concepções a respeito do que deveria ser
ensinado em música são descritos por Fonterrada (2008) como:
1
Outros nomes, como Edgar Willems e Carl Orff, também foram representativos, entretanto utilizaremos para
aprimorar nosso referencial teórico apenas os nomes citados no texto, pois referem-se às pedagogias em educação
musical que mais se enquadram para as atividades com a educação infantil.
21
Recorremos a esses célebres educadores por meio dos apontamentos teóricos de Ilari e Mateiro
(2012), Fonterrada (2008) e Loureiro (2003), já que esses educadores fazem parte dos
referenciais mais representativos no que diz respeito às abordagens do ensino musical para
crianças, que é o foco dessa pesquisa, entretanto seus textos no Brasil são de difícil acesso, pois
muitos ainda não foram traduzidos. Apresentaremos, ainda que de forma breve, as ideias de
cada um desses autores para que possamos compreender melhor suas concepções de educação
musical.
Émile-Jaques Dalcroze é suíço e viveu dos anos 1865 a 1950. De acordo com Fonterrada
(2008), suas ideias pedagógicas musicais baseiam-se na interação entre escuta e movimento
corporal, sendo ele o responsável pela criação do método ou sistema de educação chamado
“Rythmique”, em francês, que tem por definição o fato de que música, escuta e movimento
corporal estão ligados e são interdependentes. Essa integração é apresentada no trabalho de
Fonterrada (2008) quando descreve a pedagogia de Dalcroze, afirmando que, pela sua análise,
pode-se compreender que:
A meta de Kodály era ensinar o espírito do canto a todas as pessoas, por meio
de um eficiente programa de alfabetização musical; a ideia era trazer a música
para o cotidiano, fazê-la presente nos lares e nas atividades de lazer [...]. O
grande interesse de Kodály era proporcionar o enriquecimento da vida,
valorizando os aspectos criativos e humanos, pela prática musical.
Proporcionar alfabetização musical para todos era o primeiro passo em direção
desse ideal (FONTERRADA, 2008, p. 155).
Para isso, seu método agregou uma série de atividades e exercícios de percepção
auditiva e alfabetização musical, utilizando cantos em grupos, jogos de alfabetização e uma
técnica chamada “manossolfa”2, que é um sistema de gestos, os quais representam as notas
musicais, para o trabalho com o solfejo3. Esse material ainda hoje é muito explorado por
músicos e educadores musicais em todo o mundo.
No Brasil, segundo Loureiro (2003), a educação musical sofreu grande influência de
Kodály, durante o movimento modernista da época de 1920, com a figura de Villa-Lobos,
companheiro nas pesquisas musicais e folclóricas de Mário de Andrade, nome importante para
as ideias nacionalistas que surgiam. Villa-Lobos se inspirou nos modelos de educação musical
de Kodály e propôs para São Paulo um projeto de canto coral que, em pouco tempo, ampliar-
se-ia para todo o Brasil, com a instituição do canto orfeônico para todas as escolas públicas do
2
Esse sistema de gestos para representar cada nota musical e suas alturas melódicas foi também utilizado por
Heitor Villa-Lobos, no Brasil, no período em que introduziu a música nas escolas, entretanto, sua técnica era um
pouco diferenciada do método Kodály. (Ilari e Mateiro, 2012).
3
Solfejar, no minidicionário da Língua Portuguesa Aurélio Ferreira (1993), significa ler ou entoar um trecho
musical modulando a voz ou pronunciando o nome das notas. Esse tipo de atividade é muito comum nas práticas
de iniciação musical e alfabetização.
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Como?! Todas as crianças japonesas falam japonês! Esse pensamento foi para
mim como um relâmpago numa noite escura… se elas falam tão fácil e
fluentemente o japonês, deve haver algum segredo no seu aprendizado.
Realmente todas as crianças do mundo são educadas por um método perfeito:
por sua língua materna (SUZUKI, 1994, p.12).
Essa condição e constatações feitas por Suzuki (1994), levaram-no a desenvolver seu
método pautado na aprendizagem da língua materna. Sendo assim, seus eixos de
desenvolvimento da educação musical deveriam contemplar: a repetição constante, como o
bebê repete inúmeras vezes as palavras, mesmo que balbuciando, até acertar; a utilização de
discos e gravações, a fim de dar a referência para a criança ter condições de imitar; estímulos
constantes para que ela possa tocar de ouvido e se apresentar, pois, para ele, uma criança deve
primeiro saber a música, para depois estudar suas estruturas, assim como as crianças aprendem
primeiro a falar, para depois aprender a escrever.
Outro ponto que o método Suzuki pressupõe, de acordo com Fonterrada (2008), é que,
por seu entendimento de que as pessoas são consequências do ambiente onde vivem, esse meio
não precisa ser necessariamente imutável e determinado, pois:
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Com essa explanação geral sobre a importância da educação musical na vida humana,
com toda sua complexidade, Koellreutter (1998, p.39) destaca que, mesmo a escola tendo em
sua grade curricular atividades desportivas, o intuito não é o de formar atletas, esportistas,
jogadores. Da mesma forma, a música também assume esse caráter de garantir a formação
integral do indivíduo e não de torna-lo músico profissional.
O mesmo autor defende, ainda, que as artes, são um meio de comunicação, um veículo
para a transmissão de ideias e pensamentos e que a cultura é “tudo aquilo que o homem cria a
partir da mera natureza[...] (KOELLREUTTER, 1999, p.252). Sendo assim, considerando que
a música é uma arte e que faz parte da cultura, é inteiramente posto, nas ações pedagógicas de
educação musical, um sentido de valor, valor esse que o educador estabelece com aquilo que
ensina.
Brito (2001), quando apresenta em sua obra o lado humano do educador alemão
Koellreutter, destaca que, para ele, o ensino da música tem como fator mais importante a
possibilidade de desenvolver no educando, um aspecto global e integral do raciocínio. Isso
ratifica a noção de que a educação musical de nossas escolas não deve visar à formação do
músico profissional e sim a busca da sensibilidade e da emoção que a música traz para a
totalidade da formação humana.
No que se refere ao currículo musical para as escolas, o autor parte de uma linha de
pensamento em que acredita que se deva ensinar “aquilo que o aluno quer saber”, procurando
partir do envolvimento com os alunos, do que dá sentido e significado a eles numa metodologia
ativa e interdisciplinar, utilizando como ferramentas pedagógicas o improviso, a corporeidade,
as expressões e percepções, para uma análise crítica daquilo que é, de fato, experiência. É papel
do professor estar bem preparado para, como ele mesmo diz, “apreender dos alunos o que
ensinar”.
Para esse atingir esse preparo do docente, Brito (2001) refere-se a Koellreutter como um
educador musical que tem o humano como objetivo e destaca que a questão mais importante,
para que de fato possam ser postas em prática as suas ideias, é a reformulação dos programas
de ensino de música, devendo assim:
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Embora saibamos que ainda são necessárias essas reformulações por parte também das
políticas públicas sobre a educação musical e de políticas educacionais de formação dos
professores de música, a fim de atender o que se tem desejado e esperado para uma prática
integradora, o próprio Koellreutter (1997, p.135) aborda a questão de manter-nos,
especialmente o professor, em movimento quando diz que “O mundo intelectual, cultural é um
grande lago, onde todos nós jogamos pedras. Umas um pouco maiores, outras menores, mas
nós movimentamos esse lago. Isto é o que me parece essencial: o movimento”.
Nesse vasto cenário da literatura sobre educação musical e suas implicações na sala de
aula, outro autor de destaque é Murray Schafer (2011), pois, apesar de não se intitular como
pedagogo musical e sim como educador musical e compositor, é uma referência que contribui
significativamente para a construção do conhecimento em educação musical.
Em seus livros “Educação Sonora” (2009) e “Ouvido Pensante” (2011), o autor discorre
sobre a importância da escuta crítica, do conceito de silêncio e som, do papel dos educadores
musicais, bem como de atividades que proponham ao aluno a criatividade e o senso crítico por
meio de exercícios, os quais o levem a pensar e refletir sobre o ambiente sonoro onde está
inserido.
Schafer (2011) traz uma contribuição para a qualidade da educação de modo geral. Sua
proposta de educação musical tem muita pertinência, especialmente no cenário da rede de
educação municipal em que realizamos a pesquisa, pois não se exige formação específica em
música para os professores atuantes na Educação Infantil, podendo, suas sugestões de
exercícios, serem aplicadas pelo professor de salas regulares, para diversas faixas etárias.
O autor traz em suas obras uma série de relatos de atividades as quais realizou como
professor, porém que não devem ser vistas como um método, pois como ele mesmo afirma: “Eu
não digo: Faça assim! Eu digo: Eu fiz assim!” (SCHAFER, 2011, p. 231). Essas atividades
estão basicamente relacionadas: à reflexão sobre os sons a nossa volta; a como nos relacionamos
com o ambiente por meio dos sons que emitimos e que são emitidos pelos outros; e a como
criamos algo esteticamente utilizando os sons que nos rodeiam, sem que sejam necessários
instrumentos, apenas o corpo e a reflexão crítica sobre como podem se organizar os sons e o
silêncio.
No que diz respeito à formação dos professores de música, Schafer (2011, p.270)
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defende a ideia de que a educação não é centrada no professor nem no aluno, a essência se
encontra na comunicação: “O que é ensinado provavelmente importa menos que o espírito com
que é comunicado e recebido.” E acrescenta:
Seu trabalho concentra-se em: descobrir o potencial criativo das crianças, para que
possam fazer músicas por si mesmas; apresentar aos alunos a paisagem sonora e como ela pode
ser tratada como música; e encontrar um ponto de união de todas as artes, desenvolvendo-as
harmoniosamente.
Todos os educadores musicais são levados a responder sempre sobre “Por que ensinar
música?”. Schafer (2011) responde a isso de uma forma simples, o que nos convida a refletir
nessa simplicidade.
Nesse sentido, Brito (2003) destaca também que a música é uma linguagem construída
pelos conhecimentos com base nas vivências e sendo direcionadas para todos, sem exclusões e
sem privilegiar aqueles que são considerados como tendo “talentos naturais” para ela. De
acordo com a autora, as competências musicais são desenvolvidas com a prática regular e
orientada “[...]em contextos de respeito, valorização e estímulos a cada aluno, por meio de
propostas que consideram todo o processo de trabalho.” (BRITO, 2003, p. 53)
Essas visões apresentadas pelos autores que, servem de referência a nossa pesquisa,
confluem em um sentido da complexidade do ato educativo, o qual envolve um currículo
musical centrado nas relações estabelecidas entre alunos, professores e conhecimento, levando-
nos a considerar a proposta do ensino de música como uma prática que requer uma postura
reflexiva por parte do professor, pois:
Assim, podemos encaminhar nossas discussões aos referenciais que nos levam a
compreender o papel do professor como um profissional que reflete sobre sua prática, que
possui saberes específicos de sua função como docente e que desempenha papel fundamental
no processo de formação do conhecimento.
escolar e na educação musical, consequentemente. Embora não houvesse mais o ensino musical
nas escolas jesuítas, ainda nesse século XIX, com as influências do contato com índios e
portugueses, mas trazendo também suas próprias essências sonoras, os negros criavam suas
músicas e foi fundada, no Rio de Janeiro, uma escola de música para filhos de escravos, de
onde, segundo Loureiro (2003, p.46):
Oliveira (2011, p. 33) afirma que, em 1847, anos após a coroação de Dom Pedro II,
surgiu a primeira lei a qual estabeleceu o conteúdo musical na formação primária e secundária
nas escolas, indicando que a música deveria estar presente com princípios básicos de solfejo e
canto, noções de harmonia e instrumentos de sopro e corda. Sete anos mais tarde, foi decretada
a abertura do primeiro concurso público para contratar professor de música para a “instrução
pública secundária”.
No esteio desse percurso histórico, Fonterrada (2008, p.211) afirma que, em 1906, foi
criado, em São Paulo, o Conservatório Dramático Musical, considerado como um marco do
ensino musical do país, oferecendo ensino profissionalizante na área.
Nessa mesma época, vemos o surgimento dos métodos ativos em educação musical no
mundo, com as ideias de Dalcroze, Orff, Kodály, Suzuki, entre outros pedagogos musicais, os
quais passavam a considerar a educação musical como alternativa inovadora para a
escolarização de crianças vindas de classes desfavorecidas.
A autora ainda complementa que todo esse movimento da educação musical chega ao
Brasil e ganha forças a partir dos ideais da Escola Nova, os quais apontam para a importância
das artes no desenvolvimento integral da criança e têm como um dos precursores João Gomes
Júnior. Esse autor, inspirado nas ideias de Dalcroze e em observações de escolas europeias, traz
a introdução do manossolfa no Brasil e propõe, no Estado de São Paulo, um modelo de educação
musical para crianças baseado no canto coletivo.
Loureiro (2003, p.54) também aponta que, em fevereiro de 1922, por ocasião do
centenário da Independência do Brasil, ocorre a Semana de Arte Moderna, evento que
representou um marco na cultura brasileira, com ideias inovadoras para a época em diferentes
campos da arte, inclusive na música brasileira. Uma figura de destaque nesse movimento foi
Mário de Andrade, quem trouxe reflexões sobre a música relacionada com as artes visuais,
30
literatura e história do Brasil, de forma a defender que a música tinha grande potencial e função
social. Mário de Andrade, na companhia de Villa-Lobos entre outros pesquisadores,
musicólogos e etnomusicólogos, percorreu as regiões do Brasil em uma vasta pesquisa sobre a
música folclórica cantada pelo povo.
Tanto Loureiro (2003, p.55) quanto Fonterrada (2008, p.212) apontam o nome de Heitor
Villa- Lobos como sendo um personagem importante nessa discussão da questão histórica da
música nas escolas, pois o compositor traz em suas raízes a tradição folclórica, com forte
influência da pedagogia de Kodály, o qual acreditava que o folclore e a música raiz de uma
nação são a base para o canto coral, na democratização e acesso da arte, trazendo, como já se
mencionou nesse estudo, um caráter nacionalista para o canto.
Villa-Lobos, em pouco tempo, com o apoio do governo da época, especialmente de
Getúlio Vargas, havia instituído em todas as escolas públicas do país o canto orfeônico, com
canções do folclore nacional. Os professores de música nessa época frequentavam cursos de
formação superior nas escolas de música e conservatórios espalhados pelo Brasil. Entretanto,
essa frequência foi se tornando, com o passar do tempo, difícil de ser cumprida, devido a
diversos fatores, dentre eles, destacaram-se as situações de estradas e dificuldade de
deslocamento dos professores, pela grande extensão geográfica do Brasil.
Loureiro (2003, p.60) destaca que o canto orfeônico proposto por Villa-Lobos tinha
como objetivo a valorização de grandes grupos corais, que se apresentavam em estádios
imensos e, embora não houvesse rigorosidade no método, como havia no ensino de música que
os jesuítas trouxeram ou como a proposta que Kodály apresentava, a ênfase era na experiência
do fazer musical. Em 1964, o canto orfeônico foi substituído pela Educação Musical que
propunha basicamente o mesmo ensino que o anterior, tendo como objetivo a ampliação das
propostas. Nessa época, foi criado o Curso de Formação de Professores de Música o qual, nos
termos de Fonterrada (2008, p. 217),“investia na formação musical do professor de música, [...]
acreditava-se que, sem ser músico, seria impossível ser educador musical.”. O curso, entretanto,
não conseguiu ser legalizado e teve uma única turma, que não obteve nem um aluno formado,
após quase quatro anos.
No ano de 1971, houve uma mudança significativa para o ensino de música nas escolas,
com a lei nº 5692/71, que substituiu a disciplina educação musical do sistema de educação
brasileiro pela atividade de educação artística. Fonterrada (2008, p. 2018), dá ênfase à
substituição da palavra disciplina por atividade. Sobre esse fato a autora destaca:
Diante do que autora diz sobre a necessidade de maior entendimento do que é o papel
da educação musical nas escolas e do movimento para a criação e envolvimento de políticas
públicas para efetivar esse processo de entendimento, Figueiredo (2010) nos aponta que foram
surgindo, então, grupos de trabalho para discutir esse papel da educação musical.
Ainda nos anos 90, foi criada a ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical),
que fez divulgar trabalhos e pesquisas na área de educação musical e cujos membros foram
participantes ativos em um Grupo de Trabalho (GT), iniciado em 2006, coordenado pelo músico
Felipe Radicetti, que era na época coordenador do GAP (Grupo de Apoio Parlamentar Pró-
Música). Nas reuniões desse GT, iniciaram-se articulações, etapas de debates e
encaminhamentos para a criação de uma legislação voltada para a educação musical, o que
resultou na criação e aprovação da lei 11.769/2008.
A lei 11.769/2008 (BRASIL, 2008) dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino de música
no currículo das escolas brasileiras, trazendo a clareza e as diretrizes que se faziam necessárias
para a complementação do disposto no artigo 26 da LDB e apresentando a música como uma
das artes que deve fazer parte do currículo escolar brasileiro. É a partir dessa legislação que a
lacuna histórica do ensino de música nas escolas brasileiras começa a ser suprida.
Esse recomeço para os rumos da relação entre o currículo e a músico na educação no
país traz a necessidade de se pensar nas práticas pedagógicas que estão sendo efetivadas nas
escolas onde a educação musical já está sendo implementada. É crucial voltar nossas atenções
para como os professores estão refletindo sobre suas práticas, de modo a entender sobre as
práticas docentes, para só então compreender sobre a prática em educação musical.
2.3 Panorama das pesquisas sobre a reflexão nas práticas docentes e educação musical
Trilhando um caminho que possa configurar como um norte para nossa pesquisa sobre
a reflexão em as práticas pedagógicas, Fagundes (2016) apresenta um estudo teórico-conceitual
sobre as perspectivas do trabalho docente e os conceitos de professor pesquisador/professor
reflexivo, trazendo em cena uma discussão dessas temáticas, baseada nos trabalhos de
Stenhouse (1975, 1981) e Schön (1983, 1992), os quais tratam, respectivamente, de professor
pesquisador e professor reflexivo.
A ideia central dos resultados da pesquisa desenvolvida por Fagundes (2016) é de que
a prática docente é desenvolvida com a junção dos conceitos de professor reflexivo e professor
33
aprendizagem musical.
Encontramos, com pontos convergentes, os trabalhos produzidos nas áreas da educação
musical e práticas docentes em música, apresentados por Bellochio (2001, 2000), Uriarte
(2004), Fonterrada (2007), Figueiredo (2010), Loureiro (2010), Oliveira (2011), Beineke (2012,
2000), Tavares (2013).
De acordo com os encaminhamentos metodológicos e recortes temáticos, conforme se
pode verificar nos quadros a seguir, podemos agrupar os trabalhos acima indicados em dois
eixos voltados para a discussão da questão da música na escola: as primeiras são as pesquisas
que tratam da prática docente na educação musical e as segundas, pesquisas que se voltam para
o papel da música na educação. A saber:
Quadro 2: Trabalhos que se referem às práticas de professores de educação musical.
1 -A educação Musical nas séries iniciais do Ensino Fundamental: Cláudia Ribeiro Bellochio
Olhando e construindo junto às práticas cotidianas do professor 2000
2- Educação Musical: Olhando e construindo na formação e ação de Cláudia Ribeiro Bellochio 2001
professores
4 - A presença da música na Educação Infantil: Entre o discurso oficial Alícia Maria Almeida Loureiro 2010
e a prática
5 - O educador musical na escola regular em Belo Horizonte. Myrna Valéria Campos de 2011
Oliveira
Fonte: CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –elaborado pela pesquisadora
1- Diálogo interáreas: o papel da educação musical na atualidade. Marisa Trench de Oliveira 2007
Fonterrada
4 - Música na Educação Infantil: Estratégias, propostas e concepções de ensino Cíntia Dutra Tavares 2013
de música em escola de ensino regular do município de Vitória (ES).
Fonte: CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – elaborado pela pesquisadora
35
O quadro 2 nos apresenta uma linha dos estudos produzidos sobre a temática da
formação de professores de música, com os títulos dos trabalhos, autores e o ano de publicação.
Já o quadro 3 traz as publicações que abordam, em linhas gerais, o tema do papel da educação
musical, seus direcionamentos legais e históricos, os quais serviram para embasamento de
nossas discussões e reflexões, de forma a direcionar nossa pesquisa para contribuição na
formação de professores de música na Educação Infantil.
Na pesquisa desenvolvida por Beineke (2000), o objetivo foi o de refletir sobre o
conhecimento prático do professor de música e, para isso, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas e entrevistas de estimulação de recordação com os professores, tentando assim
captar seus pensamentos e suas reflexões. A partir das informações dessas entrevistas, conclui-
se que:
Essa dialogicidade, segundo Bellochio (2001), deve estar presente na prática educativa
real e os saberes dos educandos também devem ser levados em conta nesse diálogo, para, então,
chegarmos a produção de saberes mais conscientes e significativos, resultantes da verdadeira
aprendizagem. Para tanto, torna-se imprescindível a prática reflexiva, pois:
pedagógica para saber como proporcionar um ensino de música lúdico e eficaz para crianças.
Oliveira (2011) aponta a necessidade de uma formação profissional ampla, com ligação
estreita com a prática, para os educadores musicais, pois os mesmos afirmam que, muitas vezes,
pela falta de materiais didáticos, estrutura física nas escolas e recursos como instrumentos, são
necessárias adaptações dos conhecimentos acadêmicos para que se possa garantir o ensino de
música na escola. Embora discutam que são necessárias essas adaptações, os sujeitos da
pesquisa e sua autora não apontam quais ajustes deveriam ser feitos no currículo dos cursos
licenciatura em Música. Assim, percebemos que é preciso pensar nos meios para que a
formação do professor de música promova o elo entre a teoria adquirida nos cursos superiores
e a prática.
Loureiro (2010) analisa a Educação Infantil e contribui para nossa pesquisa com suas
considerações a respeito do que há no discurso oficial e na prática da presença da música nas
escolas para crianças de 0 a 6 anos, destacando que, na formação dos professores para atuar
com educandos nessa faixa etária, pouca ênfase é dada às linguagens artísticas, sobretudo a
música, especialmente para uma abordagem prática. A pesquisa realça a necessidade de trazer
na formação do professor de música a aproximação com a prática para contextualização do que
se espera do professor, ao ministrar aulas de música nas escolas.
Figueiredo (2010) discute sobre os processos de implementação da música na escola
como disciplina obrigatória, a partir da lei 11.769/08, e reforça que, embora a lei tenha trazido
avanços para a questão do ensino de música, ainda restam diversas incógnitas, especialmente
no que se refere à formação dos professores, pois, para os licenciados em música, há um déficit
na formação pedagógica para a Educação Infantil; já para os pedagogos, há a falta de uma
formação que considere o que deve ser ensinado como conteúdo musical para essa faixa etária.
O autor aponta que “profissionais da educação musical, da música e da educação devem se
dispor a discutir os possíveis encaminhamentos para que a música esteja na escola de forma
satisfatória.” (FIGUEIREDO, 2010, p.08)
Essas são algumas das concepções trazidas nos trabalhos acadêmicos da atualidade,
utilizados para compor nossa pesquisa acerca da reflexão sobre as práticas docentes dos
professores da Educação Infantil. Partindo das análises e conclusões já retiradas sobre esse
processo de construção do pensamento reflexivo, do papel do professor, das ideias do que é
ensinar música e para quê, procuramos trabalhar em nossa pesquisa a fim de avançar o
conhecimento que se tem dessas questões, mas com o olhar voltado para os professores de
Educação Infantil, que, embora não sejam especialistas em música, assumem hoje as aulas desse
componente em um município do interior paulista.
39
Nessa etapa da pesquisa, nosso foco volta-se para as questões da prática docente e de
como a prática é influenciada pelos saberes dos professores da Educação Infantil. Interessa-nos
sobretudo as práticas dos professores de música nessa fase da escolarização, no município
pesquisado. Esses docentes têm uma atividade ampla e precisam adequar suas práticas de
acordo com a faixa etária e nível das diferentes turmas da Educação Infantil, devendo, assim,
possuir o que chamamos popularmente de “jogo de cintura”, para planejar e desenvolver, em
50 minutos de aula, o trabalho musical com os alunos.
Tardif (2014), aponta para a necessidade desse estudo voltado aos saberes dos
professores e a como os concebemos enquanto sujeitos do processo educativo, escrevendo que:
para o autor:
Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática. O pensar certo sabe, por
exemplo, que não é a partir dela como um dado que se conforma a prática
docente crítica, mas sabe também que sem ele não se funda aquela. A prática
docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico,
dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer (FREIRE, 2011, p.39).
No que tange a esse pensar sobre o fazer, entende-se que o professor, para atuar
construindo uma prática significativa e edificante para seus alunos, deve ser reflexivo. Schön
(1992) aponta essa reflexão como sendo algo natural e necessário, algo que se espera de todo
profissional que lida com o conhecimento e sua produção. Escreve, a esse respeito, sobre uma
dimensão da reflexão na ação que se relaciona com confusão e incerteza quando afirma que:
educação como a criação de algo novo, como o fazer científico. A educação enquanto arte é:
Dessa maneira, a educação enquanto arte não busca uma finalidade na formação da
criança e nas suas especificidades, mas se volta para a formação do adulto, partindo da premissa
de que toda criança deve ser preparada para ser um adulto. Nesse sentido, a prática de educar
se volta para aquilo que a criança vai gerar de “produto acabado”, ou seja, “obra resultante” de
todo um processo anterior.
Por outra ótica, a concepção que trata a prática educativa como técnica guiada por
valores afina-se com o ideal educacional proposto pela Escola Nova, em que, segundo Tardif
(2014), o professor ideal é aquele que fundamenta sua prática educativa nas ciências da
educação, especialmente na Psicologia, entretanto também se orienta de acordo com uma ordem
de valores e interesses, tendo sua prática voltada, ao mesmo tempo, às ciências e à moralidade.
Imbernón (2000) também reflete sobre essa concepção quando afirma que o docente não
pode se considerar como um técnico infalível, conhecedor apenas das ciências. Ao contrário
disso, deve-se perceber também como um facilitador de aprendizagens, contribuindo para o
envolvimento dos alunos nas atividades em que planeja e mostrando-se reflexivo em suas ações
educativas.
A última concepção de prática educativa, abordada por Tardif (2014), é a que considera
educação enquanto interação. Essa concepção pode ser também verificada com presença
marcante desde a Antiguidade, situando Sócrates e a importância atribuída ao discurso, à
dialógica e à retórica para o processo de formação humana e atividades educativas. A ideia que
Tardif (2014) traz para essa concepção da prática educativa é a de um conceito de maior
abrangência, relacionado sobretudo à maneira como os seres humanos orientam seus
comportamentos em função dos comportamentos dos outros. Para o autor, a prática educativa,
nesse sentido, é compreendida de maneira que:
interativa dessa situação reside, entre outras coisas, no fato de que, embora
possamos manter os alunos fisicamente numa sala de aula, não podemos
obrigá-los a participar de um programa de ação comum orientado por
finalidades de aprendizagem: é preciso que os alunos se associem, de uma
maneira ou de outra, ao processo pedagógico em curso para que tenham
alguma possibilidade de sucesso (TARDIF, 2014, p.167).
Paulo Freire já nos fala dessa interação na prática educativa quando apresenta em sua
obra que uma questão consistente do desenvolvimento do educando, somado ao processo
educativo que leve em consideração o humano, é o diálogo. Trata-se de um diálogo permeado
pela confiança, pelo respeito, pelo ouvir um ao outro, pela ética, pela crença no ser humano
como um ser provido da capacidade crítica diante dos fenômenos que ocorrem à sua volta, “por
isso, somente o diálogo comunica.” (FREIRE, 1983, p.68)
Cunha (1994), em seus estudos a fim de compreender o que se entende por “Bom
Professor” e assim compreender o que há em sua prática, também descreve sobre a relação que
o docente tem com o ambiente educativo e o significado disso para a determinação da qualidade
e sucesso de sua prática. De acordo com a autora, “O professor com relação à escola é, ao
mesmo tempo, determinante e determinado, assim como seu modo de agir e de ser, influenciam
este mesmo ambiente.” (CUNHA, 1994, p.24)
Shulman (2014) tem papel importante em nossas discussões por trazer um olhar com
foco na reforma do ensino baseada na compreensão, raciocínio, transformação e reflexão. O
autor traz uma abordagem sobre o conhecimento utilizado no processo de ensino/aprendizagem,
quais as fontes de base e como essa fonte está articulada com o pensamento e a ação pedagógica.
Dessa forma, apresenta-nos uma ideia de ensino deve enfatizar a compreensão, o raciocínio, a
transformação e a reflexão, procurando responder a quatro questões principais, que visam
compreender: Quais são as fontes da base de conhecimento para o ensino? De que maneiras são
conceituadas? Como são os processos de raciocínio e de ação prática dos professores? Dessa
forma, podemos compreender quais são os novos rumos para uma educação reformada, de
qualidade e de políticas efetivas de formação de professores.
Sobre a construção de uma base de conhecimentos sobre o ensino, Shulman (2014, p.
203) destaca que “o ensino é trivializado, suas complexidades são ignoradas e suas demandas,
reduzidas. Os próprios professores têm dificuldade para articular o que sabem e como o sabem.”
Para Shulman (2014), o conhecimento do professor é complexo, não ocorrendo apenas no
momento do ensino, mas permeia toda sua reflexão sobre a prática. Fazem parte do raciocínio
pedagógico seis ações ou etapas que, para o autor, são: a compreensão, transformação,
instrução, avaliação, reflexão e novas compreensões.
43
Essa é a etapa mais visível, para quem observa uma aula, é o momento em que podemos
verificar como o professor conduz sua aula, interage com os alunos, dá exemplos e amplia as
possibilidades de aprendizado com suas contribuições, as quais são específicas de cada
professor e de cada aula.
A etapa da avaliação, para Shulman (2014, p. 221), é quando o professor, no próprio
andamento de sua aula, percebe e verifica o entendimento dos alunos sobre o que é ensinado e,
ao mesmo tempo, avalia a si próprio, ajustando seu desempenho docente às experiências no
44
momento da aula.
Essa avaliação requer um domínio profundo do que é ensinado e leva diretamente o
professor à reflexão. É uma etapa mais subjetiva e demanda do professor uma complexa forma
de compreensão do conteúdo, pois de nada lhe adiantaria ter muito conhecimento sobre o
assunto a ser ensinado, transmiti-lo de forma clara, fazendo os ajustes do conteúdo para a turma
em que leciona e ter bom gerenciamento da aula, se não tivesse a capacidade de avaliar se todo
o esforço gerado para o ensino foi revertido em aprendizagem. É justamente essa capacidade
de verificação do entendimento dos alunos que faz o professor avaliar, tanto o aluno, como a si
próprio. Isso nada mais é do que um grande processo de reflexão, no raciocínio pedagógico.
É essa reflexão, segundo Shulman (2014, p.221), que leva o professor a “rever,
reconstruir, reconstituir e analisar criticamente o próprio desempenho e o da classe e
fundamentar as explicações em evidências”. É nesse conjunto de ações que o professor vai
aprendendo com a própria experiência e se dá conta disso, compreendendo que todo o processo
de ensino culmina em aprendizagens complexas, não somente dos alunos sobre o conteúdo que
foi ensinado, mas também a aprendizagem do próprio professor sobre sua prática, sobre como
aquele conteúdo que foi ensinado e foi apreendido pelos alunos e por ele próprio.
Todo esse processo de reflexão faz o ciclo do raciocínio pedagógico girar mais uma vez,
agora para a etapa das novas compreensões, as quais Shulman apresenta como sendo um novo
começo. Trata-se de um novo começo, pois é um novo entendimento sobre aquela determinada
aula que o professor preparou, o que mostra que uma aula não é igual a outra e, por mais que
o professor venha a repetir em outras turmas a mesma metodologia, a mesma dinâmica, os
mesmos preparativos e avaliações com os alunos, sua reflexão faz com que as estratégias sejam
novas, pautadas nas experiências vividas.
Propusemo-nos, nesse trabalho, a verificar e analisar as reflexões que os professores
fazem sobre suas práticas nas aulas de uma disciplina específica, que é a música. Todavia, todo
esse aporte teórico acerca do processo de raciocínio pedagógico com todas as suas etapas, nos
leva a uma compreensão de que a reflexão do professor vai além de um conhecimento específico
da matéria ensinada, pois envolve a docência como um todo, sendo a reflexão um movimento
formativo de dentro da prática pedagógica.
Em se tratando da relação intrínseca entre reflexão e prática pedagógica, Nóvoa (2009,
p. 29) destaca a necessidade de uma formação de professores que se constrói dentro da
profissão, na busca de compreensão do que vem a ser um “bom professor”. Segundo ele, as
abordagens históricas buscaram definir os atributos e características dos “bons professores”,
sendo consolidadas em uma famosa trilogia: saber (conhecimentos), saber fazer (capacidades)
45
e saber ser (atitudes). Esses pilares para caracterização da educação e professor, com o passar
do tempo, mais especificamente por volta dos anos 90, deram lugar a um novo conceito, a ideia
de competências, a qual assumiu um papel importante nas novas reformas educativas.
Tal como Shulman (2014) traz sua teoria sobre a base de conhecimentos para a docência,
Nóvoa (2009, p.29) aborda um conceito, que ele mesmo define como sendo mais “líquido e
menos sólido”, o qual visa à compreensão da ligação entre os aspectos pessoais e profissionais
da identidade do professor. Essa conceituação traz para o debate que ora propomos a noção de
que a profissionalidade docente se constrói dentro da pessoalidade do professor, com a
apresentação de cinco atitudes essenciais para a compreensão do que é ser professor na
contemporaneidade: o conhecimento, a cultura profissional, o tato pedagógico, o trabalho em
equipe e o compromisso social.
Para Nóvoa (2009, p. 30) “ninguém pensa no vazio, mas antes na aquisição e na
compreensão do conhecimento”, de modo que o conhecimento é essencial para o professor.
Não há como ensinar algo que não se conheça, por esse motivo o conhecimento é uma das
atitudes essenciais para compreendermos o que é ser um bom professor.
Outra atitude essencial, segundo Nóvoa (2009, p. 30), é a compreensão que o professor
é integrante de uma cultura profissional, entendendo os sentidos da instituição escolar, estando
e aprendendo com os pares, adquirindo o “tato pedagógico”, que, para o autor, é a capacidade
de relação e comunicação que o professor utiliza para conduzir os alunos ao aprendizado e para
formar suas características profissionais. Nessa composição do “tato pedagógico”, o trabalho
em equipe também se faz essencial, pois é preciso que o professor seja colaborativo para com
as dimensões coletivas da educação, bem como tenha o compromisso social com ela,
convergindo nos sentidos dos valores e princípios que a compõem e tornando possível que,
aqueles que sofrem com as desigualdades, tenham acesso à qualidade na educação.
Tanto as atitudes essenciais de um bom professor que Nóvoa (2009) destaca, quanto às
características das etapas do raciocínio pedagógico do professor descritas por Shulman (2014),
são postulados que utilizamos para embasar nossas discussões e reflexões sobre as práticas
docentes das professoras de música na Educação Infantil que investigamos.
Acreditamos que é na formação dentro da profissão que são efetivados os processos de
raciocínio pedagógico e de construção de conhecimentos sobre a docência, pois é na prática,
nas vivências e interações que a formação do professor se completa, é onde o professor pode
trazer a teoria para sua prática, recorrendo a seus referenciais e aos de seus pares para desvendar
e solucionar situações reais. Quando Nóvoa (2009) discorre sobre a cultura profissional do
professor e sua importância, ele nos traz que:
46
Essa última frase do autor, na afirmação de que na reflexão-na-ação não são exigidas
palavras, vislumbra essa não exigência das palavras, mostrando que a reflexão sobre a prática
ocorre, ou deve ocorrer, nas atividades do dia a dia, em todas as situações em que se encontra
o aluno, e no envolvimento do professor com a atividade educativa de maneira natural.
Dessa forma, acreditamos que pesquisar e voltar os olhares para a prática educativa e
para a maneira com a qual os professores refletem sobre essa prática, intentos dessa pesquisa,
coadunam-se com essas concepções da ação educativa e colaboram para que a atividade
reflexiva docente seja mais presente da vida e no cotidiano de trabalho dos professores, tanto
dos que participaram da pesquisa, quanto dos que, de alguma maneira possam ter acesso às
etapas e resultados aqui obtidos.
Zeichner (2008, p.539) traz uma abordagem acerca do que vem a ser a prática reflexiva
como algo que está na estrutura da formação docente quando aponta que:
conhecimentos e materiais que possam servir de base para refletir sobre a docência e suas
práticas em educação musical.
Para isso, nos próximos apontamentos dessa dissertação, traremos um levantamento de
pesquisas sobre práticas docentes na Educação Infantil e sobre as contribuições de casos de
ensino como ferramentas para se pensar em uma formação de professores reflexiva e ativa, com
a articulação entre teoria e prática/prática e teoria, de forma que os processos de construção de
conhecimentos sobre as práticas educativas em música na Educação Infantil irão se traduzir em
reflexões e discussões sobre a docência como um todo.
48
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Essa pesquisa insere-se na abordagem qualitativa, pois consideramos ser a que mais se
enquadra para o alcance dos objetivos pretendidos. Günther (2006) traz uma diferenciação entre
pesquisas qualitativas e quantitativas, o que nos faz compreender que, para a pesquisa
qualitativa, a subjetividade está presente com suas características gerais que são: a compreensão
do conhecimento, a construção da realidade e a percepção dessa construção.
Bogdan e Biklen (1994) apontam as características das investigações qualitativas em
educação e como elas são aplicadas. Naquilo que esse estudo pretende contemplar, que é a
reflexão e a análise da prática dos professores de música da Educação Infantil, cabe referenciar
que essa abordagem qualitativa “exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é
trivial, que tudo tem potencial para construir uma pista que nos permita estabelecer uma
compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo.” (BOGDAN e BIKLEN, 1994,
p.49)
Uma das questões que movem essa pesquisa é, primeiramente, identificar como
acontecem as práticas nas aulas de música na Educação Infantil de uma rede municipal do
interior paulista, no programa Sala de Leitura Interativa. Esse programa teve início no ano de
2015, com a proposta de que houvesse, em todas as escolas dessa fase da escolarização, um
professor para atuar, duas vezes na semana, com aulas de Literatura para todas as turmas, e um
professor para aulas de Música, também duas vezes na semana lecionando para todas as turmas,
nos diferentes níveis (idades) da Educação Infantil.
A outra questão é compreender como são as reflexões sobre essas práticas nas aulas de
música. Para isso, foi preciso fazer a seleção dos participantes da pesquisa e optamos por seguir,
como critérios, a escolha de professores que tivessem a participação, no mínimo de três anos
consecutivos, no programa, e que tivessem, como locais de trabalho, escolas próximas à região
Sul do município investigado. Esses critérios foram assim definidos para que a investigação
pudesse atender aos instrumentos definidos para o estudo e ao tempo que destinamos à pesquisa,
já que ficava inviável a pesquisa com grande número de participantes e com longas distâncias
entre as escolas.
Nosso contato inicial com as três participantes se deu por convite pessoal, em um
encontro de formação para todos os professores da rede de ensino. As professoras se
prontificaram a participar da pesquisa e fizemos o agendamento dos dias e horários para o início
da coleta de dados.
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O instrumento inicial de coleta de dados de nossa pesquisa, após a seleção das três
participantes, foi a entrevista semiestruturada, que começou com a apresentação da
pesquisadora e dos objetivos da pesquisa, em uma conversa com as participantes. Esse contato
inicial foi definido em uma data, pré-agendada com cada uma delas, em local e horário
recomendados pelas próprias participantes, de maneira a não interferir no trabalho e no
descanso das mesmas.
Realizamos a entrevista semiestruturada, para traçar um perfil das participantes e suas
ideias a respeito de sua atuação como professores de música. Essa entrevista foi gravada em
áudio e armazenada em mídia digital. Iniciamos com um pequeno questionário para coletar
informações básicas, como nome, idade, formação, tempo de carreira na docência e tempo de
atuação nas aulas de música na Educação Infantil da rede municipal em que trabalham. Após
essa conversa e anotação das informações, seguimos com a entrevista semiestruturada,
(APÊNDICE II) com o uso de um gravador de voz, autorizado anteriormente pelas
participantes.
Lüdke e André (1986) aponta esse tipo de entrevista como um instrumento importante
no trabalho de pesquisa e afirma que, para que seja válida e fidedigna, o entrevistador:
[...] precisa estar atento não apenas (e não rigidamente, sobretudo) ao roteiro
preestabelecido e às respostas verbais que vai obtendo ao longo das interações.
Há toda uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais não verbais,
hesitações, alterações de ritmo, enfim, toda uma comunicação não verbal cuja
captação é muito importante para a compreensão e validação do que foi
efetivamente dito. (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 36).
Com essa definição das autoras, seguimos na elaboração do roteiro o qual utilizamos
para a entrevista, contemplando perguntas que tratassem de assuntos como: a motivação para a
escolha das aulas de música; o planejamento dessas aulas; a reflexão sobre suas ações; os
50
recursos utilizados para o desenvolvimento das aulas e os anseios para continuar como
profissionais.
Para Bogdan e Biklen (1994, p. 134), “a entrevista é utilizada para recolher dados
descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver
intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo.”
Como nosso objetivo na pesquisa era identificar a reflexão sobre as práticas das professoras
para as aulas de música na Educação Infantil, durante as entrevistas, utilizamos também um
caderno de registros das reações das professoras, de forma que a fala pudesse ser transcrita pela
gravação e que as impressões, emoções, sentimentos e gestos das participantes pudessem
também ser considerados na análise.
Szymanski (2002, p. 12) aponta que tanto entrevistador quanto os entrevistados levam
consigo suas impressões, crenças e concepções, pois:
quem entrevista tem informações e procura outras, assim como aquele que é
entrevistado também processa um conjunto de conhecimentos e pré-conceitos
sobre o entrevistador, organizando suas respostas para aquela situação. A
intencionalidade do pesquisador vai além da mera busca de informações;
pretende criar uma situação de confiabilidade para que o entrevistado se abra.
Outro instrumento de nossa pesquisa é a observação, a qual acreditamos ser uma fonte
fundamental para alcançarmos os resultados de nosso estudo. Vianna (2003, p.12) destaca a
importância desse instrumento quando aponta que “sem acurada observação, não há ciência”, e
que é pela observação que o pesquisador tem acesso à maior disponibilidade de dados. Vale
ressaltar que a coleta de dados por meio dessa observação demanda maior envolvimento do
51
em situações de ensino-aprendizagem.”
Isso significa que a observação traz ao pesquisador a ampliação das possibilidades de
levantamento de dados complexos, como a reflexão sobre a prática, por exemplo, perseguida
em nossa pesquisa.
Em nosso trabalho, buscamos seguir o que Altet (2017, p.1213) sugere como “modelo
global de observação”, segundo o qual a autora constrói sua prática de observação em torno de
três domínios, conforme quadro a seguir:
Quadro 4: Modelo global de observação.
Domínio 1 Ambiente relacional; Atitudes do professor, gestos, deslocamentos,
Interações não-verbais; envolvimento com os alunos e com o ambiente.
Multimodais.
Domínio 2 Organização e gestão pedagógica do Intervenções pedagógicas, gestão da sala de aula
professor. e das condições de aprendizagem.
Domínio 3 Gestão didático-epistêmica das Construção e estruturação dos saberes, utilização
aprendizagens e dos saberes. de auxílios e suportes para o ensino-
aprendizagem.
Fonte: ALTET, Marguerite. Cadernos de pesquisa. v.47, dez.2017. p.1213
O quadro nos apresenta um modelo de como proceder na observação das práticas de
nossa pesquisa, guiando nosso olhar para uma observação consistente que pudesse nos oferecer
os dados necessários para as análises das reflexões sobre as práticas.
No domínio 1, observamos as atitudes das professoras e a maneira como se portavam
em aula. Tudo o que acontecia, durante a observação, era anotado em nosso caderno de campo,
desde as expressões e reações das professoras diante das crianças, as emoções não- verbais que
pudemos observar, até a maneira como as professoras demonstravam o interesse pelas
interações.
No domínio 2, focamos nosso olhar na maneira com que as professoras organizavam e
geriam a sala de aula. Nessa fase da observação, ficaram evidentes dados como: se as
professoras organizavam as turmas em grupos, em rodas, em mesas, em ambientes externos e
quais materiais eram disponibilizados, ou seja, quais as formas de organização as professoras
buscavam para cada aula.
O domínio 3 foi quando buscamos centrar nosso olhar para as questões dos saberes
docentes das professoras participantes da pesquisa, de forma que foi possível observar a
construção dos saberes dessas professoras nas situações de ensino-aprendizagem e na gestão
didática da condução das aulas de música na Educação Infantil. Observamos, nesse domínio,
os saberes, sejam eles docentes ou musicais, que as professoras demonstravam no momento da
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aula.
Essa observação possibilita na pesquisa a aproximação mais fiel à reflexão que o
professor faz sobre sua prática, pois, por meio dela, muitos aspectos, que não são levantados na
fala, no momento de entrevista, são evidenciados via observação, assim como também é comum
que muito do que o professor disse em sua entrevista fique constatado no momento de
observação de sua prática. Dessa forma, optamos por direcionar nossa pesquisa iniciando com
a entrevista, passando, na sequência, para a observação da prática para que, assim, pudéssemos
recorrer ao próximo passo do trabalho, que foram as elaborações dos casos de ensino,
instrumento esse que apresentaremos a seguir.
[...] uma instância da prática e não um modelo a ser imitado; exemplifica não
só como a aula foi conduzida, mas também qual era a problemática do
desempenho. Possibilita reinterpretações e múltiplas representações. É
instrumento pedagógico que pode ser usado para ajudar os professores na
prática de processos de análise, resolução de problemas e tomadas de decisões,
entre outros processos profissionais básicos. Os casos sobre o ensino são
importantes para o desenvolvimento de estruturas de conhecimento que
capacitem os professores a reconhecer eventos novos, a compreendê-los e a
delinear formas sensíveis e educativas de ação.
Casos de ensino como possibilidades de reflexão sobre a docência Simone A. Rocha 2012
na pós-graduação
Essa conclusão, que a autora nos apresenta, destaca a importância do trabalho com os
casos de ensino no momento da formação docente e ao longo do exercício diário de ensinar em
sala de aula, uma vez que eles podem trazer resultados práticos e significativos para o trabalho
das professoras. Ainda segundo Domingues (2007), os casos de ensino proporcionaram o
estabelecimento de vínculos das professoras com suas práticas narradas nos casos,
aproximando-as como sujeitos da investigação das situações de ensino, o que não é tão
proporcionado por textos científicos, os quais, muitas vezes, são considerados distantes da
realidade. Trabalhar com casos de ensino, conforme se observou na pesquisa de Domingues
(2007), tornou as professoras mais engajadas nas questões de ensino e aprendizagem que
emergiram de suas próprias práticas.
Merseth (2018) recentemente colaborou e coordenou uma pesquisa que culminou com
a elaboração de um livro – publicado no Brasil e organizado pelo Instituto Península – cujo
título é: “Desafios reais do cotidiano escolar brasileiro – 22 dilemas vividos por diretores,
coordenadores e professores em escolas de todo o Brasil”. Na introdução dessa obra, fica clara
a visão geral das pesquisas que já estão sendo desenvolvidas em todo o mundo a respeito de
casos de ensino para a formação de professores. Para a autora:
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Além dessa obra, há outros autores que já vêm trabalhando com a metodologia dos casos
de ensino no contexto brasileiro e apresentam suas contribuições. É o caso de Rocha (2012, p.
165) que destaca que foram identificados avanços na formação de professores com o uso de
casos de ensino, pois eles ampliam as reflexões sobre a teoria articulada à prática, tornando
possível revisitar trajetórias e eventos na formação docente,
Rodrigues et. al. (2017, p. 22) utiliza casos de ensino por meio da narrativa de uma
adolescente, a fim de provocar reflexões em professores de uma escola pública. Um dos
destaques para a análise dessa pesquisa é o fato que “o que caracteriza um caso e o distingue de
outras diferentes narrativas são as questões reflexivas e indagadoras colocadas ao final da
leitura.” A nosso ver, são, essas indagações, os instrumentos fundamentais para o processo de
formação dos professores que participam da discussão dos casos.
Ainda sobre a pesquisa de Rodrigues et. al. (2017), a adolescente narra um fato
denominado “Minha História Verdadeira”, em que apresenta suas características pessoais,
como gostos, preferências, idade, situação familiar, cultura e a realidade em que está inserida;
além disso, relata como a escola e o ensino se relacionam com sua vida. A intenção dessa
pesquisa era investir na possibilidade de melhoria da situação escolar de insucesso, além de
fazer com que a narrativa pudesse se tornar a propulsora de formação da professora de Língua
Portuguesa da própria adolescente. Nas discussões desse caso específico de ensino, a professora
envolvida refletiu sobre os conhecimentos necessários à docência, destacando a importância de
conhecer os processos sistemáticos de alfabetização, mas também conhecer a realidade e os
contextos dos alunos, ter equilíbrio emocional, ter embasamentos teóricos e saber lidar com as
emoções dos alunos.
Merseth (2018, p. 15) orienta que, para a discussão entre os participantes de casos de
ensino, é essencial o preparo, a leitura e a reflexão sobre as questões iniciais, para se conhecer
a história ali apresentada, devendo, cada participante, “envolver-se com o material e estar
pronto para compartilhar ideias, premissas e reflexões.” Para a autora, o trabalho com os casos
de ensino deve respeitar algumas características:
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Por utilizar seres humanos para a coleta de dados, a pesquisa foi submetida ao Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade de Taubaté (CEP-UNITAU), que tem a finalidade maior
de defender os interesses dos sujeitos da pesquisa em sua integridade e dignidade, contribuindo
para o uso seguro e adequado dos dados no desenvolvimento da pesquisa.
Apresentamos um Ofício (Anexo I) para a Secretaria de Educação do município
pesquisado, juntamente com o Termo de Autorização da Instituição (Anexo II) para que
tomassem conhecimento da pesquisa e autorizassem seu desenvolvimento. Um outro termo, de
Consentimento Livre e Esclarecido, (Apêndice I) foi entregue às professoras que aceitaram
participar do estudo, sendo-lhes garantido o sigilo de sua identidade, bem como assegurada sua
saída do presente estudo, se assim desejassem, a qualquer tempo.
Após as professoras participantes da pesquisa terem sido selecionadas e terem assinado
os Termos de Consentimento, iniciamos a primeira etapa para recolhimento dos dados, com
uma entrevista semiestruturada, cuja finalidade foi compreender as reflexões dessas professoras
sobre o ensino de música na Educação Infantil. Em seguida, partimos para a observação de uma
sequência de 6 aulas com registros em diários de campo.
O próximo passo do trabalho foi a realização de uma orientação às participantes do
estudo sobre a abordagem dos casos de ensino e como eles podem contribuir para a reflexão
60
Refletir sobre a prática é algo constante na vida de todo professor, já que, mesmo que
não haja intencionalidade, o professor reflete sobre a ação. Essa reflexão ocorre: no momento
de preparar as atividades didáticas para o dia; quando procura os pares para conversar sobre
determinada atividade ou aluno; quando busca outras maneiras de fazer com que o
conhecimento chegue ao aluno; quando está desenvolvendo sua aula, no momento de atuação
e ao final de sua ação; quando pensa uma atividade diferente nos dias de chuva ou calor em
excesso ou quando chega para uma aula e a turma está agitada ou sonolenta, entre outras atitudes
reflexivas, das quais, por muitas vezes, o professor não se dá conta.
Nossa intenção é trazer à tona os dados evidenciados quando há a intenção de refletir,
buscando, no pensamento verbalizado pelas professoras, os pontos de análise e reflexão de suas
práticas. Uma das maneiras que utilizamos para isso foi a entrevista, em que as professoras
apresentaram na fala aquilo que acreditam e refletem. O passo seguinte foi o da observação, em
que buscamos compreender, por meio da prática dessas professoras em sala de aula, as reflexões
que ocorrem. Posteriormente, propusemos a elaboração e discussão de casos de ensino que
servem para destacar e ratificar, ou até mesmo retificar, as ações reflexivas, de modo que
possam emergir novas reflexões por parte das professoras participantes.
Apresentamos, a seguir, os três temas de análise de nossa pesquisa, que trazem: a
trajetória profissional e formativa das professoras; as práticas que elas desenvolvem nas aulas
de música, com o uso dos recursos didáticos disponíveis; e suas percepções sobre a
aprendizagem das crianças nas aulas de música.
fictícios para cada professora: Ana, Beatriz e Cecília, com a descrição de perfil segundo quadro
abaixo:
Quadro 6: Perfil das participantes da pesquisa medida em anos.
Ana 44 11 5
Cecília 38 19 12
Beatriz 29 9 8
Fonte: Dados das entrevistas com as professoras. Elaborado pela pesquisadora.
A professora Ana tem 44 anos de idade, 11 anos de magistério, sendo 5 anos de atuação
na Educação Infantil. A professora Cecília tem 38 anos de idade, 19 anos de carreira no
magistério, sendo 12 anos na Educação Infantil. A professora Beatriz é a mais jovem, com 29
anos de idade, 9 anos de carreira docente sendo 8 como professora na Educação Infantil. Todas
estão atuando nas aulas de música da Educação Infantil há 3 anos consecutivos, ou seja, desde
o início da implantação do projeto na rede municipal onde realizamos esse estudo. As três são
formadas em Pedagogia e possuem Especialização – cursos de pós-graduação em nível de latu
sensu – em diferentes áreas da educação. A professora Ana é especialista em Psicopedagogia,
a professora Cecília possui MBA em Gestão Escolar e a professora Beatriz é especialista em
Educação Infantil, cursando também especialização em Educação Musical.
Quando questionamos sobre a presença da música na formação inicial, nenhuma
professora disse que foram contemplados, de forma significativa e sistemática, conhecimentos
em música nos seus cursos de formação em Pedagogia. Por outro lado, as três professoras têm
conhecimentos musicais, pois tocam diferentes instrumentos: a Professora Ana toca ukulelê
(instrumento de corda de origem havaiana), a professora Beatriz toca teclado e violão e a
professora Cecília toca ukulelê e violão. Para essas professoras, a aquisição de conhecimentos
musicais se deu por procura e interesses próprios, em cursos particulares e nas igrejas, de
maneira informal. Todavia, todas afirmam que essa formação popular e pessoalizada fez parte
significativa na construção de suas identidades.
Eu tenho uma família toda musical, meu pai toca, meu filho, minha família
toda toca, mas é mais na igreja mesmo, que eu participo de alguma coisa.
(Prof.ª Ana)
Loureiro (2003) aponta que, quando olhamos para a história da educação musical,
vemos que um marco foi a Reforma Protestante, na qual Martinho Lutero defendia a
necessidade de escolarização do povo, insistindo na criação de escolas protestantes, onde, por
ter grande importância nos cultos religiosos, a música ocupava lugar de destaque nos programas
de ensino. Em reação à difusão dor Protestantismo, a Igreja Católica também adotou algumas
medidas e uma delas foi a criação da ordem dos jesuítas, que utilizavam a música como um dos
principais recursos no processo de escolarização e catequização. Esse histórico chega também
ao Brasil e traz grande influência até os dias de hoje, pois a igreja é, muitas vezes, a principal
instituição onde o fazer e o aprender música se dá como formação pessoal, já que a música
ainda tem papel de destaque nas celebrações religiosas, influenciando o interesse na
aprendizagem de um instrumento ou do canto. É exatamente o que se observa no relato das
professoras de nossa pesquisa.
Uma visão histórica da música, porém livre das finalidades religiosas, surge com os
estudos de Pestalozzi e Froebel, como vimos em capítulos anteriores. Loureiro (2013, p.41)
também apresenta que esses estudos traziam a ênfase no processo de construção do ser humano,
com uma educação musical mais voltada para a prática e tendo recursos e materiais didáticos,
os quais viabilizassem o aprendizado.
Brito (2003, p. 35) destaca que trazer a música para se trabalhar na escola exige
prioritariamente a “formação musical pessoal” por parte do professor, bem como sua percepção
aguçada para permanecer atento ao modo de desenvolvimento das crianças, suas percepções e
expressões musicais.
As professoras de nossa pesquisa estão numa fase do desenvolvimento profissional, que
já não é mais da iniciação na docência, todas possuem experiência de magistério entre 9 e 18
anos, o que Day (2001, p.105), com base em Huberman (1995), coloca como sendo o meio do
ciclo de carreira, variando entre 7 a 18 anos de atividade docente. Ainda segundo o autor, essa
é uma fase em que muitos professores estão em busca de novos desafios no campo profissional.
Marcelo (2009) traz para a discussão os conceitos de desenvolvimento profissional
docente e inicia seus apontamentos destacando que esse é um processo que pode ser individual
e coletivo. De toda forma, é um momento que contribui para o desenvolvimento das
competências profissionais, por essa razão, torna-se um elemento importante para pensarmos
os processos de reflexão sobre a prática das professoras de música na Educação Infantil,
64
Foi um desafio, mas eu vejo que eu cresci junto com o projeto. Quando
começou eu era uma pessoa, hoje eu sou outra pessoa, hoje me sinto mais
capaz do que no início, eu estudei né, nesse tempo todo a gente vai estudando,
vai vendo materiais sobre o assunto, se aprofundando na prática, então hoje eu
vejo que a minha prática é muito melhor do que no início, pela própria prática
que acaba nos ensinando. (Prof.ª Beatriz)
estudo, elucidando ao leitor aquilo que se apurou sobre as práticas em educação musical: o
lúdico e o uso das tecnologias e a percepção sobre as aprendizagens das crianças na aula de
música. Com o intuito de orientar e facilitar a leitura e compreensão de nossas ideias,
apresentaremos, ainda, a construção dos casos de ensino, unindo o desenvolvimento
profissional por meio dos desafios e experimentações nas categorias que aqui apresentamos.
4.2 Práticas em educação musical: o lúdico e o uso das tecnologias como recursos
didáticos
organizadas em uma rotina já pré-estabelecida, pois, mesmo com temas diferentes, as maneiras
de começar e terminar a aula seguem os mesmos procedimentos. A exemplo disso, detalhamos
aqui os registros concernentes a nossa primeira aula observada, a partir da qual registramos, no
diário de campo, a seguinte prática:
Esse foi o início dos nossos registros, na primeira aula observada dessa professora, aula
essa que teve duração de 50 minutos. Notamos que foi a primeira aula do período e, por esse
motivo, a professora inicia as atividades programadas após os 15 minutos iniciais, já que, nesse
tempo, recebe as crianças trazidas pelos pais, para o início das aulas. Entendemos como
fundamental para o processo pedagógico essa ação da professora na acolhida das crianças e
aproximação com as famílias, recebendo-os na porta da sala.
Apresentamos, agora, o registro da observação da segunda aula, que já não tem o
período de acolhida junto às famílias, pois as crianças já estavam na escola. Entretanto, a
professora mantém uma estrutura no início da aula similar ao que fez na aula anterior,
realizando as mesmas ações, quando as crianças chegam à sala de música, trazidas por suas
professoras de sala regular.
p. 206), que a professora traz em suas ações o conhecimento dos fins, propósitos e valores da
educação musical. Suas práticas, acima descritas, revelam o uso de metodologias ativas de
educação musical, pois mostram a prática da música como algo em que o corpo todo a produz
com a consciência daquilo que realiza, o que é considerado por Koellreutter (1997) uma
capacidade de aprender os sistemas de relações entre as atividades musicais.
Para além da análise da rotina de sala de aula, destacamos que, de forma geral, as
professoras procuram desenvolver atividades em que utilizam como recursos didáticos
elementos lúdicos e visuais, como tecidos, bambolês, brinquedos, instrumentos musicais e
movimento. Dessa forma, encontramos ecos entre essas ações e a pedagogia do educador Suíço
Jaques-Dalcroze, que tem por base a relação espaço, tempo e movimento e que, de acordo com
Fonterrada (2008), é uma pedagogia que considera a música, não como objeto externo, mas que
pertence à expressão que o objeto vai trazer. Podemos compreender, portanto, que, quando as
professoras utilizam de objetos, materiais, brinquedos, o trabalho com a música não está na
simples utilização do objeto, mas na atividade e no movimento que aquele objeto representa.
Presenciamos uma sequência de atividades em que a professora Ana utiliza o bambolê
como recurso em suas aulas, com os diferentes níveis de faixa etária. Tais ações foram descritas
em nosso diário de campo:
[...] em uma turma de pré I, com crianças de 4 a 5 anos, a professora faz uma
atividade com o bambolê em área externa à sala de aula, em um pátio da
escola, utilizando a música “centopéia”, onde as crianças brincam batendo os
pés no ritmo da música com o bambolê na cintura e andando em círculo, um
atrás do outro, seguindo a professora e, aos comando da música, erguem e
abaixam o bambolê. (DIÁRIO DE CAMPO -Observação de aula da Prof.ª
Ana)
etária.
Segundo Fonterrada (2008, p.31) a ideia pedagógica de Dalcroze tinha por objetivo
desvincular o aprendizado musical de uma prática meramente mecânica, que geralmente é
apoiada em análise de partitura, leitura e escrita. Ao contrário disso, o educador suíço pretendia
propor que o mesmo aprendizado fosse sensibilizado de forma corporal rítmica, defendendo
que é pela experiência corporal que a consciência rítmica se estabelece, por meio de exercícios
que combinem sensações físicas e auditivas de forma estética e lúdica. Foi exatamente essa
proposta sensibilizadora, com cadenciamento e uso do corpo que encontramos nas atividades
propostas pela Professora Ana, com o uso do bambolê.
Observamos que essa metodologia que vincula música e movimento também é uma
prática para a professora Beatriz, pois traz em sua rotina preestabelecida atividades de
movimento. É o que foi registrado no nosso diário de campo durante a observação de suas aulas:
No que tange à reflexividade docente das professoras que realizaram essas atividades,
podemos perceber que, mesmo que elas não tenham conhecimentos específicos da pedagogia
musical de Dalcroze, o princípio de unir a música e o movimento se faz presente na prática,
conforme pudemos observar nas descrições de atividades acima, mas também no discurso, pois
as respostas vindas nas entrevistas, quando perguntamos quais recursos utilizam em suas aulas,
70
foram:
Eu utilizo bambolê, eu procuro sempre pegar tecidos, tnt, algum recurso que
eles possam também não só o visual, mas que eles possam apalpar, pegar, se
movimentar, porque eu vejo que eles gostam muito de coisas que tenham
movimento, que eles mexam com o corpo. (Prof.ª. Ana)
docente em música.
Algo que identificamos em nossas observações foram as práticas em que as professoras
apresentam instrumentos para as crianças, demonstrando a importância que elas atribuem para
atividades que podem trazer novidades e surpresas. Na aula da professora Beatriz, registramos
a atividade da seguinte maneira:
A professora Beatriz nos apresenta uma aula em que demonstra que seu conhecimento
docente está articulado entre o conhecimento do conteúdo e sua transformação em ação
didática. Notamos que a professora tinha exata consciência dos objetivos que queria atingir,
que eram: o conhecimento de instrumentos musicais diferentes e a exploração dos timbres que
não fosse aleatória, mas que trouxesse sentido e significado para as crianças.
Shulman (2014, p. 206) diz que é o “conhecimento pedagógico geral, com especial
referência aos princípios e estratégias mais abrangentes de gerenciamento e organização de sala
de aula, que parecem transcender a matéria.” Entendemos, assim, que a professora, no momento
de sua aula tinha, em sua mente tudo o que pretendia atingir com as crianças, pois demonstrou:
ter feito uma pesquisa anterior, conhecendo o violino e suas partes, sabendo os nomes dos
instrumentos de percussão, para diferenciar o que são os instrumentos da família da percussão
e das cordas; mas também ter planejado a maneira de fazer a abordagem na aula, com o uso do
data-show, da música escolhida e da maneira em que iria dispor as crianças para visualizar as
72
propostas da aula. Todas essas ações são questões que, como o autor defende, “parecem
transcender a matéria”, mas que são fundamentais para entendermos o raciocínio pedagógico e
compreender as reflexões docentes da professora.
Em nosso diário de campo, acrescentamos mais uma observação referente a essa
atividade desenvolvida em aula, sobre a qual descrevemos:
A professora nesse momento parece ter olhos em toda parte, falando com
diversos alunos ao mesmo tempo, esticando os braços no meio da roda para
ajudar as crianças a segurarem os instrumentos de forma correta e orientando
para passar para os colegas que ainda não tocaram. (Diário de campo –
observação da aula da prof.ª Beatriz)
Brito (2003,p. 58) apresenta que é importante a linguagem musical estar presente na
rotina das escola de Educação Infantil, contemplando diversas atividades como: o trabalho
vocal, a interpretação e criação de canções, os jogos que reúnem som, movimento e dança,
jogos de improvisação e exploração sonora, invenções musicais, construção de instrumentos e
objetos sonoros, escuta atenta e musical com apreciação musical, bem como as reflexões sobre
a produção e a escuta das crianças. A autora ainda destaca que:
Uso bastante a lousa digital, o vídeo para a apreciação musical, eles precisam
disso as vezes de uma maneira visual, também para poder se concentrar.
(Prof.ª Beatriz)
74
Sempre coloco alguns jogos interativos que tem som de instrumentos, também
coloco música em vídeo no projetor e peço para eles desenharem no tablet que
temos na sala interativa, sendo um outro recurso além do papel. (Prof.ª Cecília)
As três professoras utilizam em suas aulas esse recurso digital e tecnológico do projetor,
procurando adaptá-lo às situações de aprendizagem, envolvendo a tecnologia, o que, segundo
Perrenoud (2000), é uma das competências fundamentais para os professores em nosso século,
em que a cultura tecnológica é uma realidade na vida e na formação das crianças.
Perrenoud (2000, p. 125) já destacava a utilização da tecnologia com uma das dez novas
competências para o ensino. Explorar o potencial didático de uma ferramenta tecnológica é algo
que o professor da atualidade deve dominar, para que a aprendizagem seja significativa, assim
como nos mostra a professora Cecília, em sua aula. Mesmo não utilizando um software
especificamente educativo, utilizar apenas um recurso básico, como o touch, no desenho
colorido do tablet ou a lousa interativa, fez com que as crianças estivessem mais envolvidas na
atividade, apropriando-se de um conhecimento musical, partindo do vídeo. Tratou-se de uma
aula por meio da qual pudemos compreender que teve como objetivo trabalhar com os sons
fortes e fracos, mas que foi conduzida de uma maneira tecnológica, em seus recursos didáticos.
Ainda de acordo com Perrenoud (2000, p. 125), entende-se que os professores podem
decidir como utilizar a tecnologia em sala de aula e, com conhecimento sólido sobre as escolhas
e os motivos para cada uma delas, criar um amplo espaço em sua sala de aula, explorando
recursos diferenciados e atuais, de modo que a situação didática não esteja centrada no ensino
meramente, mas na aprendizagem dos alunos e no modo com que irão aprender.
Destacamos, que, nos registros de diário de campo, feitos na observação das aulas da
professora Cecília, as crianças pareciam familiarizadas com o uso da tecnologia nas aulas de
música e que essa é, possivelmente, uma rotina para as aulas em que a professora utiliza a sala
interativa. Como, nas escolas da rede de ensino onde a pesquisa ocorreu, existem professoras
diferentes para a aula de Música e de Literatura, as mesmas organizam-se num revezamento da
sala, que conta com um projetor digital e com um armário com 32 tablets, os podem ser usados
nas aulas de um ou outro componente curricular.
Foi registrada em diário de campo a seguinte atividade:
Quando analisamos o relato acima pela ótica do conhecimento docente, podemos citar
Shulman (2014, p. 208) quando nos aponta que as estruturas e materiais educacionais são
utilizados para ensinar e aprender e que os professores “necessariamente operam dentro de uma
matriz criada por esses elementos.” Então, por se tratarem de professoras de música que
lecionam em um projeto, cuja denominação oficial é “Sala de Leitura Interativa”, a
interatividade com a tecnologia é algo fundamental para os objetivos pedagógicos previstos no
projeto e faz parte da prática educativa dessas professoras. Talvez não seja algo que todas as
professoras e professores de música na Educação Infantil, espalhados pelo Brasil, tenham como
recursos didáticos em suas aulas, mas essa é uma realidade presente como fonte de
conhecimento das professoras de nossa pesquisa.
Ainda no que se refere às fontes de base de conhecimento, Shulman (2014) defende a
sabedoria que provém da prática como uma das fontes para o conhecimento do professor. Em
nossa pesquisa, destacamos o que as professoras afirmam e que nos remetem a esse assunto,
quando nos dizem também utilizar, como recurso didático, as práticas de outros professores de
música, que são socializadas por meio de grupos de aplicativos de mensagens em celular:
Agora está um pouco mais fácil porque a gente tem um grupo que dá pra
compartilhar bastante coisa, mas ainda assim eu faço bastante pesquisa. (Prof.ª
Beatriz)
76
Em nossas análises percebemos que, nas falas e nas práticas das professoras, encontram-
se elementos que nos evidenciam suas percepções sobre a docência e sobre a aprendizagem dos
alunos. Dentre esses elementos destacam-se a importância da formação inicial que as
professoras receberam na Pedagogia e como essa formação contribui também para o trabalho
na educação musical.
Shulman (2014) já destacava que o professor é aquele que pode transformar as
compreensões de um determinado conteúdo em ações pedagógicas que se traduzem nos jeitos
de falar, mostrar, interpretar e representar o que foi aprendido. Dessa forma, mesmo que as três
professoras, protagonistas de nossa pesquisa, não tenham formação específica em música,
fazem a transformação dos conhecimentos e conteúdos da música para uma noção mais integral
da aprendizagem na Educação Infantil. Conforme vemos nos relatos e observações, essas
docentes se mostram preocupadas com o que os alunos possam aprender mais do que com o
conteúdo musical, buscam, de fato, aprendizagens essenciais para o desenvolvimento infantil,
de acordo com as faixas etárias de seus alunos.
Schafer (2011, p. 270), ao discutir sobre o ensino de música, destaca que é mais
importante a comunicação e o recebimento de um conteúdo que foi ensinado, do que
propriamente o conteúdo em si. Para o autor, o professor deve estar preocupado em aprender
junto aos alunos e perceber suas aprendizagens, compreendendo que, na aula de música, o mais
importante é o fazer musical criativo, ou seja, o processo da aprendizagem, não apenas o
resultado obtido.
Brito (2001, p. 50), ao tratar do processo de formação musical proposto por Koellreutter,
destaca que, para o educador suíço, o professor deve “aprender dos alunos o que ensinar”, de
modo que o olhar do docente deve estar atento às aprendizagens de forma plena, observando a
integralidade do processo de ensino na aula de música.
Essa integralidade está presente na percepção das professoras em suas ações práticas e
em suas falas, nas quais mencionam a preocupação, enquanto professoras de música, sobre as
expectativas para as aprendizagens dos alunos. A professora Cecília nos diz:
[...]Eu espero que eles comecem a apurar o ouvido né, porque hoje em dia as
crianças têm acesso à uma música muito pobre, culturalmente falando. É
preciso ampliar o repertório deles, tanto dos instrumentos como em conhecer
78
Sobre a aprendizagem dos alunos nas aulas de música e suas percepções sobre essas
aprendizagens, a professora Beatriz também apresenta em sua fala a opinião de que:
Acho que a música tem poder de acionar áreas do cérebro que não são
ativadas, então eu acho que ajuda também, esses princípios de tempo,
andamento, o que é rápido, o que é lento, eles fazem isso muito com o corpo,
todo conhecimento acaba passando pelo movimento, pelo corpo. (Prof.ª
Beatriz)
Esse trecho de sua entrevista, com uma opinião sobre a música, nos evidencia algo que
dialoga com as propostas de educação musical que vêm sendo discutidas por educadores
musicais das metodologias ativas dos séculos XX e XXI.
Dalcroze, por exemplo, citado por Fonterrada (2008), defende uma educação musical
pautada no movimento e na rítmica. Koellreutter (1997) destaca também a questão da música
como elemento que proporciona aprendizagem de outras funções humanas, como a
concentração, o equilíbrio, a noção de pertencimento ao todo, o raciocínio, a memória, o
trabalho em equipe, entre outras funções. Assim, percebemos que, para a professora Beatriz,
mesmo que de forma intuitiva, a noção de percepção de aprendizagem musical como uma
aprendizagem integral das crianças está presente em suas reflexões, perceptíveis tanto na fala,
em sua entrevista, como na prática das aulas observadas.
Em outro trecho de sua entrevista, a mesma professora diz que:
Eles (as crianças) começam cantando cada um num tom, alguns gritando, e aí
a gente percebe que com o apoio do instrumento, com o próprio apoio da voz,
eles ficam mais afinados, [...] eles têm duas aulas na semana, então é questão
assim de um ou dois meses a afinação já muda muito. (Prof.ª Beatriz)
Essa atividade do canto é algo presente em sua prática, percebida nos dias das
observações em campo. Percebemos que a forma como a professora conduz a atividade alinha-
se com as propostas pedagógicas de Kodály, apresentada por Fonterrada (2008, p. 155), que
aponta que o educador musical húngaro tinha como interesse principal, “proporcionar o
enriquecimento da vida, valorizando os aspectos criativos e humanos pela prática musical.” Isso
significa perceber a prática musical como algo que vai além da aprendizagem dos conceitos
musicais, mas que se relaciona com a aprendizagem e o desenvolvimento integral da criança,
tal como a professora Beatriz o faz, entendendo o tempo de cada criança para atingir a afinação
musical.
79
[...] tem crianças que estão aqui comigo desde o infantil 1 e hoje já estão no
Pré 2, e você vê que eles já tem um repertório, já conhecem os instrumentos,
já sabem os nomes, conseguem identificar o som, silêncio, timbre, eles já
conseguem identificar o andamento da música, então tudo isso, a gente
trabalhando o lúdico com eles e a gente vê que estão aprendendo. (Prof.ª Ana)
[...] a música tem esse poder de acolher, de entreter, então eu acho que o
feedback na verdade é o comportamento das crianças para a gente saber se tá
funcionando aquilo ou não. (Prof.ª Beatriz)
[...] quando eles estão muito dispersos, é porque aquilo que eu to fazendo não
tá causando efeito. (Prof.ª Cecília)
atitudes desses alunos perante as aulas de música. Percebemos, com isso, que elas possuem o
“tacto pedagógico”, teorizado por Nóvoa (2009).
É na percepção de como os alunos estão reagindo nas aulas que as professoras formulam
suas reflexões sobre a prática. Schafer (2011, p. 270) aponta que uma das características do ato
de ensinar é responder às perguntas que não são feitas, ou seja, fazer o que as professoras de
nossa pesquisa fazem, que é perceber nos alunos o que eles perguntariam. Pelo conhecimento
que possuem dos alunos e de suas características (Shulman, 2014), as professoras compreendem
que não seriam feitas perguntas diretas, mas as dúvidas e os pontos fracos da aula seriam
mostrados pelos alunos nos comportamentos, seja de atenção seja de dispersão na aula, Ao
observar esses comportamentos, as professoras realizam a mediação entre o que é ensinado e o
que as crianças estão de fato aprendendo. Sobre essa mediação, Roldão (2007, p. 102) afirma
que aí está a chave do que é saber ensinar e o que é transformar o saber. Para a autora:
Saber produzir essa mediação não é um dom, embora alguns o tenham; não é
uma técnica, embora requeira uma excelente operacionalização técnico-
estratégica; não é uma vocação, embora alguns possam sentir. É ser um
profissional de ensino, legitimado por um conhecimento específico exigente e
complexo, de que procuramos clarificar algumas dimensões. (ROLDÃO,
2007, p. 102)
É nessa perspectiva de olhar para a prática docente das professoras Ana, Beatriz e
Cecília que fazemos nossa análise sobre a docência em música na Educação Infantil,
compreendendo as complexidades da ação educativa e a percepção sobre o processo de ensino
e aprendizagem.
Schafer (2011, p. 270) nos apresenta um pensamento sobre a experimentação, acerto e
erro do professor de música nas situações de aprendizagem, afirmando que “é da natureza do
trabalho experimental haver erros algumas vezes, pois quando uma experiência é bem-sucedida,
ela deixa de ser experiência.”
Quando olhamos para o contexto de nossa pesquisa, notamos que há aspectos nos
meandros os quais devem ser observados. O estudo surgiu com a busca de compreender as
mudanças ocorridas com as professoras, que outrora lecionavam em sala regular na Educação
Infantil, trabalhando com a totalidade de eixos e temáticas, para a faixa etária das crianças em
creches ou pré-escolas (de 0 a 5 anos e 11 meses), articulada a situações de aprendizagem desde
o cuidar até estudos de natureza e sociedade, artes gerais, linguagem oral e escrita, movimento,
grandezas, medidas, todas elas contidas na rotina escolar. Acostumadas a essa dinâmica
pedagógica tão ampla, essas professoras passaram a trabalhar exclusivamente com a música e,
dentro desse trabalho específico, buscamos nesse estudo compreender como elas se apropriaram
82
com aprofundamento do que a educação musical para essa faixa etária deve contemplar
É importante salientar que esse desenvolvimento profissional das professoras de nossa
pesquisa se constrói nesse contexto de iniciação de um projeto, de Sala de Leitura Interativa,
quando foi oferecido para todos os professores da educação infantil participarem da escolha dos
blocos de aula para Literatura e para Música, sem que houvesse um pré-requisito de formação
específica, apenas a participação de uma formação inicial com profissionais da Secretaria de
Educação do município.
Desse modo, percebemos que, como Marcelo (2009) destaca, as influências para o
desenvolvimento das professoras foram externas, por se tratar de um programa institucional da
rede de ensino em que elas atuam, mas também interno, pois a motivação em participar do
projeto se deu de forma espontânea, já que as professoras relatam gostar de música, como
destacado em suas falas nas sessões anteriores. Acrescenta-se às motivações externas e internas
também o gosto pelo desafio e pela experimentação, pois as três professoras lecionam música
desde o início da implantação do projeto e escolheram continuar esse trabalho, conforme
podemos verificar nos relatos abaixo:
[...] pretendo continuar, foi uma coisa em que eu me descobri. (Prof.ª Ana)
Eu tenho pensado se vou ficar, mas não por questão de gostar, aliás, eu gosto
muito, mas por questão de querer conhecer outra coisa, mas na área de música,
por exemplo, eu tenho vontade de trabalhar com os maiores, o canto coral
(Projeto de Ensino Fundamental), mas não sei se isso se adequa à minha rotina.
(Prof.ª Beatriz)
dos professores vêm buscando trazer, com Shulman (2014), Nóvoa (2009), Tardif (2014),
Mizukami (2004), Merseth (2018), na perspectiva de pensarmos em uma formação de
professores construída na prática.
Essas reflexões das professoras em relação ao trabalho prático nas aulas de música
foram colocadas em questão no momento em que propusemos que elas escrevessem seus
próprios casos de ensino, baseados em observações feitas pela pesquisadora de suas aulas. Esse
desafio permitiu que pudesse haver a participação e colaboração da pesquisadora na elaboração
da escrita dos casos de ensino. As etapas dessa fase do trabalho bem como seus resultados estão
descritos na próxima seção de nossa dissertação.
foram suas ações, e quais foram os motivos que levaram a professora a essas ações, quais
os seus sentimentos naquele momento e o que a levou às suas tomadas de decisões;
4. Examinar os efeitos de suas atitudes: Como os alunos reagiram diante de suas atitudes
no momento da aula, quais consequências;
5. Revisitar o incidente: Como a professora analisa sua ação, quais as suas percepções
sobre si mesma como professora de música na Educação Infantil.
Após as orientações, as professoras puderam ter um tempo para a escrita de seus
próprios casos de ensino, que foram enviados para o e-mail da pesquisadora. Com autorização
das professoras participantes, fizemos ajustes e acréscimos de detalhes na escrita, a fim de que,
para o leitor dessa pesquisa, o caso ficasse mais claro e passível de discussões sobre as situações
de aprendizagem ocorridas em aula.
Apresentamos, a seguir, os registros de nossa observação e os três casos de ensino
elaborados pelas professoras, buscando destacar as formas de olhar diferenciadas sobre a
situação de ensino, seja por quem observa seja por quem está de fato na atuação, identificando,
dessa maneira, os movimentos de reflexão docente pelas professoras participantes de nosso
estudo.
A atividade que deu origem ao caso de ensino que intitulamos como “Bambolê” foi
realizada com uma turma mista, com Pré 1 e Pré 2 juntos em uma mesma sala. No dia da
realização da atividade, estavam presentes 25 crianças. Era a primeira aula do dia, no período
da manhã, as crianças chegavam à escola e quem as recebia em sala de aula era a professora de
música, ficando com eles nos primeiros 50 minutos do dia.
Em nosso diário de campo, registramos a atividade com o seguinte olhar:
Esse registro, juntamente com todos os registros feitos sobre as aulas observadas, foi
entregue para a professora Ana, que escolheu especificamente esse trecho para elaborar seu
caso de ensino. Fruto dessa escolha é o texto produzido que, apresentamos a seguir, com
pequenos ajustes e adaptações feitas, para tornar o caso de ensino mais detalhado:
cheguem.
Essa é uma sala mista, (dois níveis em uma sala só, Pré I e Pré II) com alunos
bem agitados, a maioria dos alunos já está há dois anos em sala mista o que, a
meu ver, como já os acompanho há três anos, está interferindo no
comportamento da sala.
Ao iniciar, coloquei uma música instrumental relaxante, para o primeiro
momento da aula com alongamento corporal, onde faço juntamente com as
crianças os movimentos.
Cada turma tem aulas de música 2 vezes na semana, por isso, em cada semana
preparamos 2 atividades diferentes, mas que se complementam.
A proposta de atividade dessa semana era as músicas da “Centopeia” e do
“Bambolê –Uê”. Como era a segunda aula deles, repetimos a centopeia e em
seguida fomos para a segunda atividade da semana.
Para essas atividades, utilizei o pátio externo, as crianças em roda, cada um
com um bambolê,
Como é a primeira aula do dia, temos o desconforto do atraso, muitas crianças
chegam com a aula já começada, o que atrapalha um pouco o desenvolvimento
da atividade, pois preciso parar algumas vezes. Depois de mais ou menos 20
minutos esperando os alunos chegarem à sala de aula, nos dirigimos ao espaço
do pátio, que fica bem ao lado da sala de aula dessa turma. Dou início a
atividade explicando que eles deverão prestar atenção na música e seguir os
comandos “sentar”, “levantar”, “para a frente’, “para Trás”, ...
Nessa sala, tem um aluno que chega todas aulas de cara fechada, pouca vezes
participa das atividades propostas, tapa o ouvido quando cantamos, não
interage com as crianças, confesso que ficava frustrada, pois as crianças
sempre gostam muito e são bem participativas nas minhas aulas. Ao
questionar a professora de sala regular, ela me relatou que o mesmo ocorre em
sua aula. Nesse dia, como sempre ele se recusou a participar, não insisti e
deixei-o à vontade. Essa é a estratégia que uso com ele, às vezes dá certo,
depois ele começa a participar, mas muitas vezes ele continua parado sem
interesse. Ainda não sei bem como agir com ele, estou diversificando as
estratégias para ver se consigo criar um vínculo com ele.
As crianças gostam muito dessa atividade, tinha feito com eles no ano anterior
e foi muito gratificante repetir e ver que eles se apropriaram da brincadeira e
divertiram-se muito. Apesar de ser um atividade bem contagiante e brincante,
o aluno citado acima não participou.
Ao longo desses quase 3 anos na Sala de Leitura/Música percebi que as
atividades que são significativas devem ser repetidas e reelaboradas para que
possamos ver se as crianças se apropriaram da proposta, mas também percebi
como não propor essas atividades quando o contexto da turma é difícil, sendo
a primeira aula do dia, em que as crianças chegam cansadas, quando algum
aluno não quer participar, quando o ambiente não é propício, tendo que contar
com as situações de improviso de estrutura, como ligar o som no computador,
etc. Como no trabalho com aula de música temos que estar a cada aula em
uma turma diferente, acho difícil pensar em aulas diferentes para o mesmo dia,
mas é preciso fazer adaptações dessas aulas para os diferentes momentos do
dia, pois ao chegar na escola, as crianças estão de um jeito, após o parque, de
outro e antes de ir embora também já não estão mais com as mesmas
características de comportamento, em um único dia. Essa mudança a todo
momento de uma sala para a outra na educação infantil é cansativa, pois as
crianças, nessa fase escolar, têm muitas peculiaridades e, com diferença de
meses umas das outras, já estão com novas características. Me pergunto então
sobre isso, como o professor de música pode pensar e planejar levando em
consideração essas diferenças? (Caso de Ensino – Prof.ª Ana)
Notamos que a própria escolha da situação de ensino, feita pela Professora Ana, revela
características de reflexão sobre a docência. Em nosso olhar de observação dessa mesma aula,
87
registramos a atividade sem trazer algumas percepções que só são possíveis identificar quando
o próprio sujeito da ação educativa, nesse caso a Professora Ana, as destaca. Um exemplo dessa
percepção individualizada e específica que só a envolvida diretamente no processo é capaz de
ter, são os apontamentos, feitos no caso de ensino da Professora Ana, quando ela retrata uma
preocupação com a participação de todos os alunos, mesmo com aquele que não está naquele
momento disposto a participar da atividade.
Ao revelar no seu caso de ensino que observa os comportamentos do aluno que se isola
e busca verificar se isso é recorrente em sua rotina na escola, Ana revela sua postura profissional
de buscar parcerias com outras professoras, a fim de conhecer melhor as crianças. Foi o que
ocorreu quando relata que questionou a professora de sala regular, que convive mais com as
crianças da turma, para saber se o aluno é sempre desanimado nas propostas de atividade.
Percebemos também, na escrita do caso de ensino, que a professora expressa seus
sentimentos, suas dúvidas, suas atitudes anteriores e posteriores à aula. Revela, ainda, suas
percepções sobre a atividade que propôs, as formas de reações das crianças, além de seus gostos,
quando destaca que essa atividade já foi feita em uma ano anterior e que deu certo, pois as
crianças gostaram e se lembraram das propostas. Com esse apontamento sobre o fato de as
crianças gostarem da atividade que já conheciam, notamos que a professora percebe e avalia a
forma como as crianças se apropriam das aprendizagens musicais que ela propõe em suas aulas.
Por fim, a parte final do texto de Ana mostra que ela está fazendo também uma análise sobre o
contexto da Educação Infantil e suas particularidades no que tange ao ensino de música, já que
as professoras desse componente, nas percepções de Ana, convivem diariamente com crianças
de idades diferentes, gostos diferentes, por isso planejam sua aula de forma que a atividade seja
significativa para todos.
Esse trecho de nosso Diário de Campo é o registro de uma das aulas da professora
Beatriz, que, nesse dia estava realizando suas aulas em sala regular. Era uma turma de crianças
entre 3 e 4 anos, denominada pela rede de educação municipal como Infantil II, com cerca de
25 alunos nessa aula. Tratava-se da última aula do dia, no período da tarde, aula que se inicia
às 17:10 e vai até às 18:00, horário em que as crianças vão embora.
O caso de ensino elaborado traz uma visão desse fragmento de observação, com as
percepções da professora Beatriz, sobre sua própria prática:
Assim como no primeiro caso de ensino apresentado em nossa pesquisa, esse texto
também apresenta em seu conteúdo percepções da professora sobre sua ação educativa, já que
traz dilemas, dúvidas sobre a prática, conhecimento dos alunos e uma postura de autoavaliação,
quando a professora termina o caso com um apontamento sobre suas indagações a respeito da
atividade proposta. O que nos chama nossa atenção é que, ao fazer a leitura de um registro feito
sobre sua aula, a professora se coloca novamente na ação, relembra sua postura, suas escolhas,
suas atitudes e se avalia, bem como avalia se seus objetivos foram alcançados.
Nesse caso, especificamente, o objetivo que a professora tinha para a atividade era a
verificação de aprendizagem das crianças, pois, primeiro, realizou os movimentos da música
90
com os alunos e, depois, faria a observação das crianças, para identificar se ocorreu a
apropriação da atividade. Entretanto, sua reflexão sobre a prática foi de que o objetivo não foi
alcançado, pois, no momento em que a professora deveria se distanciar para observar, se uniu
na atividade de movimento com os alunos.
Schafer (2011, p. 271) traz uma questão que nos faz pensar sobre o que a professora
descreve em seu caso. Segundo o autor, “às vezes não sabemos o que é sucesso. O que um
professor acha que foi um fracasso pode ser considerado um sucesso por um aluno, embora o
professor possa não saber disso até meses ou anos mais tarde”. (SCHAFER, 2011, p. 271). Tal
dúvida prevalece no relato da professora quando ela se questiona acerca do que deveria ou não
ter feito no momento da avaliação da atividade. Entendemos que também essa dúvida é sadia
para o processo de reflexão da prática docente, uma vez que retira a aura de verdades absolutas
em aula, assim como instiga o professor a continuar pensando suas ações pedagógicas.
Ainda sobre as ideias de Schafer (2011, p. 271), o autor considera que, algumas aulas
são verdadeiros “quebra-cabeças” e que é comum o professor se sentir sem saber se o que está
fazendo é o certo, entretanto o sucesso de uma aula está no aluno, na forma com que interagiu
e aprendeu, pois a aprendizagem acontece mesmo quando o professor não percebe. Desse modo,
o caso de ensino escrito pela professora Beatriz pode ser analisado pela ótica de como ela
percebeu as crianças, pois, como ela mesma relata, as crianças continuaram a dançar, sem
mencionar que ela estava dançando também, sendo que disse que não dançaria. Para as crianças,
a aprendizagem continuou, talvez de forma diferente da que a professora havia planejado
anteriormente, mas continuou.
[...] a professora propõe para a turma, uma atividade em que todos devem dizer
se gostam ou não gostam de algumas coisas. As crianças estão sentadas em
roda e a professora segue uma marcação rítmica e vai falando palavras
diversas, como: chocolate, barata, cachorro, salada, etc.. As crianças fazem
sinal de positivo ou negativo com o polegar. Depois dessa atividade a
professora pede para que todos sentem nas mesinhas e distribui uma folha para
cada um, pedindo para que desenhem de um lado da folha, algo que gostem e
de outro lado, algo que não gostem. A professora coloca no aparelho de som
da sala regular, uma música clássica e vai caminhando de mesa em mesa
olhando os desenhos e conversando com as crianças. (Diário de Campo –
registro de aula Prof.ª Cecília)
Nesse fragmento de nosso diário de campo, com a leitura isolada não destacamos outros
objetivos para a atividade em que a professora sugeriu, a não ser o desenho de coisas que cada
criança gosta ou que não gosta. Todavia, a professora Cecília, ao desenvolver seu caso de ensino
baseado nessa atividade, nos apresenta importantes situações de reflexão sobre a prática
educativa e sobre a docência.
Apresentamos a seguir o caso de ensino elaborado pela professora, em que fizemos
algumas complementações no texto, com sua autorização:
ficou triste porque ela gosta dos dois, do pai e da mãe. Eu então acolhi a aluna
e falei que não precisava mais desenhar se não quisesse. Fiquei pensando,
como professora, o que é que fez com que a aluna chorasse, se foi algum
problema que estava passando em casa com os pais, mas não entrei mais em
detalhes com a criança. Percebo que a música é realmente capaz de mexer com
as emoções, tanto de adultos como de crianças. Nessa atividade fiquei
pensando que o objetivo inicial era conhecer melhor o que as crianças
gostavam, para fazer um diagnóstico da turma e poder encaminhar próximas
aulas de música, mas, ao final, a aula acabou trazendo à tona as emoções de
uma aluna. Me pergunto se esse também é um objetivo das aulas de música e
se devo também trabalhar com estas questões que envolvem o sentimento dos
alunos. Fico na dúvida de como poderia retomar essa atividade e dar sequência
na proposta inicial (Prof.ª Cecília)
atuação como professoras de música na educação infantil, elas passaram a exercer outras
funções na educação. A professora Beatriz, foi convidada para assumir outro desafio na mesma
rede de ensino, que é a atuação como professora de projetos de empreendedorismo, em que o
trabalho é voltado para alunos de Ensino Fundamental. Já a professora Ana assumiu novamente
aulas em classe regular na Educação Infantil, optando por uma turma do nível infantil I, que
corresponde a alunos com idade entre 2 a 3 anos. Para a professora Cecília coube o convite para
assumir o cargo de diretora de escola em uma unidade da Educação Infantil.
Mediante esses acontecimentos que nos foram informados pelas professoras,
consideramos relevante, em nossas considerações sobre a pesquisa, destacar essa realidade.
Solicitamos, então, às professoras uma devolutiva, apenas para registrar suas impressões e
novas reflexões sobre a prática docente em música. Para isso, perguntamos a cada uma delas,
em dias diferentes, o que elas levaram de significativo para seu desenvolvimento profissional
pelo fato de terem sido professoras de música durante os três anos em que atuaram. Em linhas
gerais, gostaríamos de saber se essa experiência trouxe crescimento como profissionais, se
refletiam de forma diferente sobre a profissão, e se os conhecimentos adquiridos como
professoras de música poderiam ajudar de alguma forma no desenvolvimento de outras funções
que estão ou estarão atuando na educação.
As respostas nos surpreenderam e nos fazem considerar a importância de momentos de
reflexão sobre a prática:
Para mim, esses três anos que eu passei dando aula de musicalização para as
crianças na rede municipal foi muito gratificante. No começo, foi bem
desafiador, porque era um projeto novo, entrando na rede, então a gente não
sabia muito bem por onde começar, tivemos uma preparação, mas foi pouca
coisa, então a gente teve que caminhar sozinha, pesquisar, correr atrás, buscar,
no dia a dia ir percebendo das crianças o que eles gostavam e ir trabalhando
com elas. (Prof.ª Ana)
A fala da professora Ana afina-se com as análises realizadas, quando ela e outras
professoras disseram sobre o desafio de ser professora de música. O que nos chama a atenção
é o trecho “ir percebendo das crianças o que elas gostavam e ir trabalhando com elas.”,
remetendo-nos ao texto de Brito (2001, p. 31), quando se referia ao educador musical
Koellreutter que afirmava em seus cursos: “É preciso aprender a apreender do aluno o que
ensinar.”
Essa constatação nos faz perceber justamente sobre a importância da reflexão na prática
ou, nos termos de Schön (1992), a reflexão-na-ação. É na percepção dos alunos e no olhar atento
do professor que são construídas a prática docente, levando o professor a compreender o
94
processo educativo e a entender a relevância de apreender do aluno o que deve ensinar. Foi essa
a dinâmica de reflexão que a professora Ana nos apresentou em sua consideração sobre os três
anos que atuou como professora de música. A professora continuou sua fala afirmando:
O primeiro ano foi bem desafiador nesse sentido, porque foi muita pesquisa,
muita busca, muita procura, aí o segundo ano já foi um pouco mais tranquilo
nesse quesito, mas também é desafiador, porque daí você tem que se superar
né, fazer coisas diferentes,[...] Foram três anos com eles e eu pude perceber
muita coisa, como eles aprimoraram o gosto musical, eles apreciavam
instrumentos, eu aprendi a tocar ukulelê e levava pra eles, muitos compraram
instrumentos e levavam pra eu ver o que eles tinham comprado… o retorno
dos pais, principalmente dos pais com crianças com necessidades especiais, a
gente teve um retorno muito bom, os pais vinham agradecer que a criança
chegava em casa e cantava, você via como eles amam a música [...] E depois
de três anos, eu resolvi voltar pra sala de aula, confesso que com um
pouquinho de dor no coração, mas eu precisava voltar, descansar um pouco,
porque é muito gratificante trabalhar com a música, mas desgasta bem a gente
fisicamente, e eu resolvi , mas hoje eu volto pra sala de aula com outro olhar,
porque esse tempo que eu passei na musicalização abriu meus olhos pra muitas
coisas, pro lúdico, como as crianças gostam e aprendem...na verdade como
eles aprendem quando é algo prazeroso. (Prof.ª Ana)
Nessa síntese dos três anos que a professora Ana trabalhou com aulas de música na
Educação Infantil, percebemos que a professora reflete sobre os objetivos da educação musical
e sobre as competências docentes, quando diz que inicialmente passou por um momento de
pesquisas por materiais, pela aprendizagem de um instrumento musical, pela busca de
metodologias e novidades, o que Shulman (2014, p.206) descreve como a busca pelo
“conhecimento do conteúdo”. Essa busca revela a perspectiva da professora em aprender mais
sobre o que ensinar na aula de música. Além disso, o relato acima nos apresenta também a
devolutiva do retorno dos pais como algo significativo para a prática da professora.
A professora Ana finaliza seu texto dizendo que volta para a sala de aula regular com
outro olhar sobre a prática, de modo a considerar que, fisicamente, ser professora de música é
desgastante, por outro lado, também é gratificante, pois ela declara que teve seus olhos abertos
para as possibilidades de aprendizagem lúdica na Educação Infantil e para o desenvolvimento
integral da criança, como sugere a BNCC (2017, p.36) ao trazer os direitos de aprendizagem na
Educação Infantil que são: conviver, participar, explorar, expressar, conhecer-se e brincar.
Da mesma maneira que a professora Ana, a professora Beatriz também nos deu seu
depoimento destacando sua reflexão sobre os três anos que atuou como professora de música,
quando, no que seria seu quarto ano nessa função, recebeu o convite para trabalhar em outra
área na rede de ensino, nas oficinas de empreendedorismo, trabalho que é realizado com
crianças dos anos finais do Ensino Fundamental. A professora destaca alguns pontos que a
95
fazem refletir sobre sua experiência como professora de música e como isso poderá auxiliá-la
em sua nova função:
Essas duas primeiras máximas, que o autor organiza, nos fazem analisar o papel da
reflexão sobre a prática docente. No propósito de nosso trabalho, buscamos analisar práticas de
três professoras que iniciaram um trabalho de música na Educação Infantil em uma rede, com
uma breve formação, mas com a compreensão de que seria na prática que elas iriam construir
a proposta de educação musical, ou seja, deram o primeiro passo. Na segunda máxima, Schafer
(2011) apresenta a questão dos fracassos como algo positivo, evidenciamos isso nos relatos e
96
nas construções dos casos de ensino, pois faz parte da reflexão docente compreender o erro e a
dúvida.
A professora Beatriz nos fala sobre essa percepção do erro, das aulas que fluíram de
maneira diferente do que havia sido planejado, mas que, com o “jogo de cintura”, com a
reflexão-na-ação, tomaram rumos diferentes, sem perder os objetivos.
A professora Cecília, em seu depoimento sobre os anos que passou como professora de
música na Educação Infantil, destacou pontos que se referem à nova função que irá assumir. A
professora recebeu o convite para assumir a direção de uma escola de Educação Infantil. Sua
fala é emotiva, talvez por reflexo da recente mudança de função, mas ilustra pontos
interessantes de analisar.
Em seu discurso, compreendemos que a professora Cecília faz uma analogia entre a
música e a escola, quando apresenta conceitos da música como timbre, harmonia, partitura,
ligados às diferenças dos “seres”, ou seja, das pessoas que fazem parte da escola, como alunos,
colegas professores, equipe gestora. É na maneira como as palavras são ditas que percebemos
o significado implícito na emoção que a professora demonstrou em sua fala.
A professora Cecília, assim como a professora Ana, destaca a questão do retorno que os
pais dos alunos traziam de seu trabalho, ao dizer que se sentia amada, tanto pelas crianças como
pelos pais. Ela finaliza seu depoimento fazendo uma nova analogia entre a música e a educação,
comparando sua nova função de diretora de escola com a de um maestro de orquestra, quando
destaca que estará “ajustando as notas, e os ritmos”.
Essa postura apresentada na fala da professora Cecília nos mostra que a reflexão sobre
a sua prática docente nas aulas de música foi além da sala de aula, fazendo-a refletir sobre a
97
escola como um todo. A isso, Nóvoa (2009, p.33) chama de um “terceiro lugar”, que é um outro
lugar além da sala de aula no qual “as práticas são investidas do ponto de vista teórico e
metodológico, dando origem à construção de um conhecimento profissional docente”. Dessa
forma, entendemos que, na reflexão sobre a prática, as professoras participantes de nosso
estudo, Ana, Beatriz e Cecília demonstram que sua atuação nas aulas de música possibilitaram
um olhar novo sobre seus conhecimentos profissionais docentes.
98
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa buscou responder a questões a respeito das práticas de três professoras de
música de um município do interior paulista. As questões eram: quais são suas práticas em
música na Educação Infantil? Como organizam suas rotinas? Como refletem sobre o ensino de
música? Quais estratégias utilizam para trabalhar com os conteúdos musicais para as turmas de
crianças bem pequenas e pequenas?
Ao entrar nas escolas e salas de aula para as observações e por meio das falas das
professoras nas entrevistas, entendemos que esse estudo se faz relevante não simplesmente para
averiguação das práticas e reflexões das professoras, mas também para reconhecer e valorizar
a docência, especialmente em música na Educação Infantil.
Percebemos quão disponíveis estavam as professoras ao colaborarem com nossa
pesquisa, permitindo que estivéssemos em seus ambientes de trabalho, observando suas
atividades, perguntando sobre suas reflexões sobre a docência e orientando para a escrita de
seus próprios casos de ensino, que surgiram no decorrer da pesquisa.
As observações das práticas das três professoras nos trouxeram resultados riquíssimos.
Dentre eles, destacamos: a constatação de uma rotina estabelecida nas aulas, com momentos
de aquecimento vocal e corporal; a utilização de instrumentos musicais como acompanhamento
e como recursos lúdicos para a imaginação; a utilização de brinquedos e materiais não
estruturados para realizar atividades musicais; e a presença do movimento e da exploração dos
espaços, da apreciação e da criação musical, trazendo a música como meio de expressão de
sentimentos para as crianças. Esses resultados geraram significativas possibilidades de análises,
as quais esperamos que possam servir de inspiração para novos professores que estejam
iniciando uma jornada com as aulas de música na Educação Infantil.
As práticas das professoras revelaram que, embora não tivessem formação acadêmica
específica em música, as três tinham conhecimento sobre a área, tocavam instrumentos,
cantavam, conheciam os termos técnicos sobre a música e buscavam aprimoramento
profissional, pois eram pesquisadoras e gostavam do que faziam.
Nas práticas observadas, pudemos encontrar muitos exemplos daquilo que as
professoras trouxeram como reflexão, nas entrevistas semiestruturadas, inclusive retomando
uma frase de Nóvoa (2009) já utilizada aqui, mas que ficou significativa no contexto dessa
pesquisa, quando diz ensinamos aquilo que somos e, naquilo que somos, se encontra muito
daquilo que ensinamos, ou seja, as professoras ensinam música, porque já vivenciaram a
99
música.
A busca pelo referencial teórico que pudesse sustentar nossa pesquisa foi de grande
contribuição e aprendizagem, possibilitando o contato com diferentes formatos de análises
teóricas e práticas, as quais sustentaram as discussões de forma que, enquanto pesquisadora, foi
possível compreender mais sobre a educação e a educação musical, na intenção de pensar em
uma formação de professores que se constrói na prática, assim como Nóvoa (2009) nos sugere.
Os casos de ensino, como instrumento de pesquisa, possibilitaram ampliar nossa visão
sobre a prática que observamos, de forma a experimentar o que de fato vivenciam as professoras
no momento de suas atividades. Entendendo, de forma mais clara, o que se passava nas
atividades propostas e, buscando apresentar uma contribuição para as professoras participantes
da pesquisa a partir daquilo que elas próprias trouxessem em suas percepções sobre a prática, é
que, respeitosamente, nós nos propusemos a analisar os casos de ensino por elas elaborados.
Destacamos a partir disso, a importância de buscarmos a formação de professores que
se construa na prática, mas que também vá além da prática observada – aquela que parte de uma
prática vivida e experimentada, com suas dúvidas, incertezas, limites, erros, acertos – e
encaminha-se, sobretudo, para uma prática reflexiva, que entende que a educação,
especificamente, a docência é, como diz Morin (2011, p. 36), uma atividade complexa, é uma
ação que é tecida junto, em conjunto, sendo indissociáveis a ação e o pensamento de
professores.
Nessa reflexão sobre as práticas docentes, encontramos um caminho para pensarmos na
formação de professores, seja inicial ou continuada. Os casos de ensino que apresentamos em
nosso trabalho são exemplos de como se pode construir na prática um material de formação e
discussão sobre a própria prática. São textos que apresentam os conflitos, as dúvidas, as ações
reais de um professor, que, ao elaborar seu caso de ensino, já começa a refletir sobre todos os
processos de ensino, gerando mais reflexão, de modo que a ação educativa não seja esvaziada,
mas repleta de intencionalidades e significados.
Finalizamos nossas considerações, destacando uma frase de Schafer (2011, p. 270) em
que afirma que “muito frequentemente, ensinar é responder a questões que ninguém faz”.
Acreditamos que essas questões que ninguém faz são, na verdade, estruturadas na própria
reflexão do professor sobre sua prática. Como professores, estamos constantemente refletindo
sobre o que fazemos, assim, analisar as práticas e os casos de ensino que traduzem as práticas
pela ótica da reflexão das professoras nos faz pensar em novos questionamentos, tais como:
Quais são os novos rumos para a formação dos professores que estão assumindo hoje as aulas
de música na Educação Infantil? Como as práticas desses professores estão ocorrendo? É
100
possível pensar em uma continuidade para a formação dos professores que atuam com a música
nessa fase da escolarização? Nossa pesquisa não nos possibilitou responder a essas perguntas,
mas caminharemos com os resultados trazidos até aqui, na esperança de que a formação dos
professores de música esteja cada vez mais voltada para as questões se emergem da prática.
Enquanto pesquisadora e professora de música, levo para minha prática e formação
profissional, ensinamentos e reflexões proporcionados por essa pesquisa, dentre eles pensar nas
situações práticas como meio de formação contínua. Visualizar e refletir as práticas de outros
professores é algo que proporciona grande aprendizado para qualquer professor, seja na
formação inicial ou na formação contínua. Em minha atuação profissional como professora de
música e formadora de professores, compreendo que é na prática que a teoria se consolida,
sendo assim, o professor deve estar aberto ao que lhe é apresentado com as crianças da
Educação Infantil. É preciso olhar, conhecer, ouvir o que as crianças trazem de suas vivências,
bem como é preciso olhar, conhecer e ouvir o que os professores trazem a respeito da prática
em sala de aula, com essas crianças.
É de grande interesse oferecer uma devolutiva, tanto às professoras participantes desta
pesquisa, quanto a outros professores de música na educação infantil, de modo que possamos
realizar as discussões à partir dos casos de ensino que foram elaborados, ampliando a formação
continuada e na busca pela retomada de uma formação inicial, em consonância com as práticas
já vividas pelos professores de música da educação infantil.
Para a comunidade acadêmica, fica nosso objetivo de divulgação, com a publicação
desta dissertação e com a escrita de artigos que possam ser acessados por outros pesquisadores
por meio de revistas, congressos e eventos acadêmicos, bem como a inquietação por
materializar esta pesquisa em forma de livro, de modo que possa inspirar outros professores
que se debruçam a pensar nas questões do ensino de música para a educação infantil de forma
reflexiva.
101
REFERÊNCIAS
ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 6. ed. São Paulo:
Cortez, 2008.
BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter educador: O humano como objetivo da educação
musical. São Paulo: Peirópolis, 2001.
CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. 4ª ed. Campinas, SP: Papirus,
1994. (Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico)
102
DOMINGUES, Isa Mara Colombo Scarlati. Os casos de ensino como potenciais reflexivos
no desenvolvimento profissional dos professores da escola pública. Cuiabá-MT:
Universidade do Mato Grosso. Dissertação de Mestrado. 2007
HUBERMAN, M. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, A. (org.). Vidas
de professores. Porto, Portugal: Porto Editora, 1995
ILARI, Beatriz. Shinichi Suzuki: A educação do talento. In. MATEIRO, Teresa; ILARI,
Beatriz (Org.) Pedagogias em Educação Musical, Curitiba, SP: InterSaberes, 2012.
______________. Educação musical hoje e, quiçá, amanhã. In: LIMA, Sônia A. (org.).
Educadores musicais de São Paulo: Encontros e reflexões. p. 39 - 45. São Paulo: Nacional.
1998
103
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO, 2011
NONO, Maévi Anabel; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Casos de ensino e processos
de aprendizagem profIssional doceNte. R. Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v.
83, n. 203/204/205, p. 72/84, jan./dez. 2002a
NONO, Maévi Anabel. Casos de ensino e professoras iniciantes. 2005. 238 f. Tese
(Doutorado em Educação) ñ Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005.
OLIVEIRA, Myrna Valéria Campos de. O educador musical na escola regular em Belo
Horizonte. (Dissertação de Mestrado) UFMG, Escola de Música. Belo Horizonte, MG: 2011.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Trad. Patrícia Chittoni
Ramos. Porto Alegre: Artmed, 2000.
104
RODRIGUES, Adria Maria Ribeiro; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti; et al. Casos de
Ensino na formação de professores: quando a narrativa de uma adolescente provoca a
reflexão/formação. R. Educação Pública. Cuiabá, v. 26, n. 61, p.13-30, jan./abr. 2017
ROCHA, Simone Albuquerque da. Casos de ensino como possibilidades de reflexão sobre a
docência na pós-graduação. Ensino em Re-Vista, v. 19, n.1, jan./jun. 2012
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. Projeto Sala de Leitura Interativa na Educação Infantil. v.3,
Música. São José dos Campos – SP. Educação Infantil, 2016
SCHAFER, R. Murray. Educação sonora: 100 exercícios de escuta e criação de sons. São
Paulo: Editora Melhoramentos, 2009
SUZUKI, S. Educação é amor: um novo método de educação. 2ª ed. Santa Maria: Pallotti,
1994.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 17. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014.
URIARTE, Mônica Zewe. Música e escola: um diálogo com a diversidade. Educar, Curitiba,
n. 24, p. 245-258, Editora UFPR, 2004
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 2002.
ZEICHNER, Kenneth M. Uma análise crítica sobre a “reflexão” como conceito estruturante
na formação docente. Educação e Sociedade. Campinas - SP, vol. 29, n. 103, p. 535-554,
maio/ago. 2008
106
ANEXO I
OFÍCIO
Somos presentes a V. S. para solicitar permissão de realização de pesquisa pelo(a) aluno(a) Dóris
Mendes Ramos de Siqueira, do Mestrado Profissional em Educação: Formação de Professores, da
Universidade de Taubaté, trabalho a ser desenvolvido durante o corrente ano de 2017, intitulado “A
reflexão sobre a prática docente de professores de música na educação infantil de um município
do interior paulista”. O estudo será realizado com quatro (4) professores de música da educação infantil
que atuem a 2 ou 3 anos na função, na cidade de São José dos Campos, sob a orientação da Prof. Dra.
Maria Teresa de Moura Ribeiro.
Para tal, será realizada aplicação de questionários e entrevista individual por meio de um
instrumento elaborado para este fim, junto à população a ser pesquisada. Será mantido o anonimato da
instituição e dos participantes.
Certos de que poderemos contar com sua colaboração, colocamo-nos à disposição para mais
esclarecimentos no Programa de Pós-graduação em Educação e Desenvolvimento Humano da
Universidade de Taubaté, no endereço Rua Visconde do Rio Branco, 210, CEP 12.080-000, telefone
(12) 3625-4100, ou com Dóris Mendes Ramos de Siqueira, telefone (12) 997777509 , e solicitamos a
gentileza da devolução do Termo de Autorização da Instituição devidamente preenchido.
No aguardo de sua resposta, aproveitamos a oportunidade para renovar nossos protestos de estima
e consideração.
Atenciosamente,
________________________________________
Edna Maria Querido Oliveira Chamon
Coordenadora do Curso de Pós-graduação
ANEXO II
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
Atenciosamente,
________________________________________
Secretária de Educação e Cidadania
108
ANEXO III
CASO DE ENSINO COMO MODELO
APÊNDICE I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pesquisa: “A reflexão sobre a prática docente em música na educação infantil de um município do interior
paulista”
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre
as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em
duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador(a) responsável. Em caso de recusa você não será
penalizado(a) de forma alguma.
Título do Projeto: “A reflexão sobre a prática docente de professores de música na educação infantil de um
município do interior paulista”
Objetivo da pesquisa: Analisar como os professores com formação em pedagogia refletem sobre suas práticas
docentes em música na educação infantil.
Coleta de dados: a pesquisa terá como instrumentos de coleta de dados a observação de seis (6) aulas de quatro
(3) professores, com registros em caderno de campo, bem como a aplicação de duas entrevistas semiestruturadas,
sendo a última com estímulo de recordação, utilizando do material do portfólio de cada professor participante.
Estes instrumentos para recolha dos dados serão aplicados junto a 4 professores que atuem nas aulas de música da
educação infantil a 2 ou 3 anos na rede municipal de ___________.
Destino dos dados coletados: o(a) pesquisador(a) será o responsável pelos dados originais coletados por meio das
observações, do registro em caderno de campo e das entrevistas, permanecendo de posse dos mesmos por um
período não inferior a 5 (cinco) anos, quando então os mesmos serão destruídos. Os dados originais serão
guardados, tomando-se todo o cuidado necessário para garantir o anonimato dos participantes. As informações
coletadas no decorrer da pesquisa, bem como os conhecimentos gerados a partir dos mesmos não serão utilizadas
em prejuízo das pessoas ou da instituição onde a pesquisa será realizada. Os dados coletados por meio de
observação, registro em caderno de campo e entrevistas serão utilizados para a dissertação a ser apresentada ao
Mestrado em Desenvolvimento Humano: Formação, Políticas e Práticas Sociais da Universidade de Taubaté (SP),
bem como para divulgar os dados por meio de publicações em periódicos e/ou apresentações em eventos
científicos.
Riscos, prevenção e benefícios para o participante da pesquisa: o possível risco que a pesquisa poderá causar
aos voluntários é que os mesmos poderão se sentir desconfortáveis, inseguros ou não desejarem fornecer alguma
informação pessoal solicitada pelo pesquisador, seja na observação com registro em diário de campo. Com vistas
a prevenir os possíveis riscos gerados pela presente pesquisa, aos participantes ficam-lhes garantidos os direitos
de anonimato; de abandonar a qualquer momento a pesquisa; de deixar de responder qualquer pergunta que ache
por bem assim proceder; bem como solicitar para que os dados por ele fornecidos durante a coleta não sejam
utilizados. O benefício esperado com o desenvolvimento da pesquisa será o fato de oferecer aos participantes e à
comunidade acadêmica maiores informações e conhecimentos acerca dos aspectos que compõem a “Reflexão
sobre as práticas docentes em música de um município do interior paulista. Cabe aqui ressaltar também que, pelo
aspecto interdisciplinar que se pretende abordar no presente estudo, os conhecimentos gerados por meio da
pesquisa poderão despertar o interesse de profissionais, instituições, pesquisadores e fundamentar estudos em
outras áreas do conhecimento no que diz respeito ao presente objeto de pesquisa. Contudo, os principais benefícios
do presente estudo poderão se apresentar somente ao final do mesmo, quando das conclusões do mesmo.
110
Garantias e indenizações: fica garantido o direito às indenizações legalmente estabelecidas aos indivíduos que,
por algum motivo, sofrerem qualquer tipo de dano pessoal causado pelos instrumentos ou técnicas de coleta de
dados. Os participantes têm o direito de serem informados a respeito dos resultados parciais e finais da pesquisa,
para isto, a qualquer momento do estudo, terão acesso aos pesquisadores responsáveis pela pesquisa para
esclarecimento de suas dúvidas.
DECLARAÇÃO:
Declaro que li e que compreendi todas as informações contidas neste documento, sanei todas as minhas dúvidas,
junto ao pesquisador, quanto a minha participação no presente estudo, ficando-me claros, quais são os propósitos
da presente pesquisa, os procedimentos a serem realizados, os possíveis desconfortos e riscos, as garantias de não
utilização das informações em prejuízo das pessoas no decorrer e na conclusão do trabalho e da possibilidade de
obter esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que a minha participação não será paga, bem como não
terei despesas, inclusive se decidir em desistir de participar da pesquisa.
Concordo em participar desse estudo podendo retirar meu consentimento a qualquer momento, sem necessidade
de justificar o motivo da desistência, antes ou durante a pesquisa, sem penalidades, prejuízo ou perda de qualquer
benefício que possa ter adquirido.
_______________________________________
Assinatura do Participante
_______________________________________
Dóris Mendes Ramos de Siqueira
111
Pesquisador(a) Responsável
Declaramos que assistimos à explicação do(a) pesquisador(a) ao participante, que as suas explicações deixaram
claros os objetivos do estudo, bem como todos procedimentos e a metodologia que serão adotados no decorrer da
pesquisa.
_______________________________________ _______________________________________
Testemunha Testemunha
112
APÊNDICE II
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Dados gerais:
Formação:________________________
Grau de instrução:____________________________
Idade:____________ Sexo:__________
Tempo de magistério:________ Na educação infantil:_______ Em música:______
Turmas que atende na escola:_____________
Questões:
1. Qual sua formação? Contemplou conhecimentos em música? Como?
2. Você já possuía conhecimentos em música anteriores?
3. O que te fez escolher ser professora de música na educação infantil?
4. Como você elabora seu planejamento? a quais recursos recorre?
5. O que você espera que as crianças aprendam com as aulas de música na educação
infantil?
6. Utiliza de instrumentos musicais no desenvolvimento das aulas? Como?
7. Utiliza ferramentas tecnológicas como recursos para as aulas de música? Quais e como?
8. Utiliza de objetos diferentes, brinquedos ou outros materiais nas aulas? como?
9. Encontra alguma dificuldade na realização do trabalho nas aulas de música? quais?
10. Como você percebe o envolvimento e aprendizagem das crianças nas suas aulas?
11. Como você avalia sua prática? pretende continuar como professora de música?
113
APÊNDICE III
ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE CASOS DE ENSINO
Convido você agora, para elaborar o seu próprio caso de ensino, partindo dos registros das
observações que eu fiz de suas aulas. Para orientá-la na elaboração de seus casos de ensino,
alguns passos podem ser seguidos. São eles:
1. Escolher o acontecimento, a ação de sua aula, um acontecimento: Incidente crítico.
2. Descrever o contexto: É dar um pano de fundo, um cenário da sua aula. Qual turma,
quantos alunos, qual era a aula (1ª, 2ª ultima aula), como é a turma, agitada, calma,
acompanhada por estagiária, etc.
3. Revisar a situação e a forma como agiu diante dela: O que ocorreu em sua aula, quais
foram suas ações, e quais foram os motivos que levaram a professora a essas ações,
quais os seus sentimentos naquele momento e o que a levaram às suas tomadas de
decisões.
4. Examinar os efeitos de suas atitudes: Como os alunos reagiram diante de suas atitudes
no momento da aula, quais consequências?
5. Revisitar o incidente: Como você analisa sua ação, quais as suas percepções sobre si
mesma como professora de música na Educação Infantil.
Desde já, agradeço!
Dóris Mendes