1
Mulheres “afro-ascendentes” na Bahia: gênero, cor e mobilidade social
(1780-1830)
Adriana Dantas Reis
Como já está bastante consolidado na historiografia brasileira, mesmo numa sociedade
escravista fortemente marcada pela hierarquia de gênero, nem sempre o resultado das relações
de poder foi negativo para as mulheres. Diversas pesquisas demonstram que as escravas se
destacavam na aquisição de alforrias, e as libertas na quantidade de bens em relação aos homens
nas mesmas condições1. Na Bahia, não foi diferente, entre fins do XVIII e primeiras décadas do
XIX, muitas mulheres livres de cor e libertas governaram escravos e administraram negócios,
tornando-se verdadeiras pontes em processos de mobilidade social.
As alforrias ou promessas de alforrias, registradas em Livros de Notas e nos Testamentos
de senhores e senhoras, gratuitas ou pagas, condicionais ou não, era obviamente a porta de
entrada no mundo dos livres e as trajetórias das mulheres libertas e seus descendentes podem ser
bastante reveladoras das especificidades das relações escravistas no Brasil. Hoje sabemos que
Chica da Silva foi apenas uma, dentre tantas outras, na mesma condição que constituíram
relações ilegítimas com homens socialmente brancos e bem-sucedidos2. Elas aparecem na
bibliografia sobre família e sexualidade, em fontes eclesiásticas, testamentos, inventários, cartas
de alforria, etc.
São inúmeros os homens livres que em testamento legitimaram ou instituíram seus filhos
tidos com mulheres escravas ou libertas e livres de cor, como seus herdeiros. Por outro lado,
variados grupos de mulheres livres libertas, filhas legítimas ou naturais, solteiras, casadas e
viúvas, com filhos ou sem eles, também foram fundamentais em processos de mobilidades de
outras mulheres escravas de etnias diversas, crioulas, libertas, livres de cor, pardas, mulatas etc.
1
Ver entre outros: CASTRO FARIA, Sheila. “Damas mercadoras – as pretas minas no Rio de Janeiro (século XVIII
a 1850)”, In: Soares, Mariza de Carvalho (org.). Rotas Atlânticas da Diáspora Africana: da Baía do Benim ao Rio de
Janeiro. Niterói, EdUFF, 2007, pp. 101-134. OLIVEIRA, Inês. O Liberto: seu mundo e os outros. São Paulo:
Corrupio, 1988.
2
FURTADO, Júnia Ferreira. Chica da Silva e o contratador de diamantes – o outro lado do mito. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003.
2
Para tentar uma aproximação maior com esse universo foram pesquisados 662 testamentos de
homens e mulheres falecidos entre 1811-1833, distribuídos em 15 livros cartoriais que fazem
parte do acervo do Arquivo Público do Estado da Bahia.
Considerando os dados desses testamentos, entre os 77 homens, casados e solteiros
livres, 21 (27,2%), 13 solteiros e oito casados, declararam ter filhos naturais com mulheres de
cor. Entre os solteiros, sete tiveram filhos com ex-escravas, cinco com pardas e um com crioula.
Entre os casados com filhos ilegítimos, dois tiveram filhos com escravas, e os outros seis eram
filhos de pardas, cabras ou crioulas. Os únicos ilegítimos, identificados como mulatos, eram
filhos de escravas com pais portugueses, enquanto os pardos eram filhos de crioulas, pardas ou
africanas com portugueses ou com homens nascidos no Brasil.
A maioria desses homens era nascida em Portugal ou possessões portuguesas como
Francisco de Paula, natural da Ilha Terceira em Açores, filho legítimo, que teve um filho
natural, Francisco de Paula, com Paula de Tal, parda, solteira, falecida. Instituiu, em 1824,
como seus testamenteiros Maria de Nazareth, crioula forra, e seu filho Francisco3. No mesmo
ano, Jozé Gomes da Costa, português de Braga, declarou em testamento que teve cinco filhos
com três mulheres diferentes, três deles eram filhos de Florencia Maria Pereira, parda solteira.
Ele possuía uma fazenda no sítio Cangurungu, uma casa e 19 escravos, gado vacum e cavalar e
bestas de criar, e, do remanescente dos seus bens, ele instituiu como herdeiros os filhos da parda
Florencia, Geraldo Gomes da Costa, Jozefa Gomes e Francisca Marianna4. Percebe-se que,
provavelmente, vivia na companhia de seus filhos.
Em 1811, Joaquim Jozé Copque, natural do Porto, proprietário do Engenho do Jacaré, na
Freguesia de São Sebastião das Cabeceiras do Passé, instituía e reconhecia os filhos naturais que
teve depois de viúvo, Casemiro Jozé Copque e Maria da Apresentação, os quais eram filhos de
Victoria Maria da Conceição, escrava do seu casal.5
Alguns apesar de não assumirem os filhos deixam fortes indícios de paternidade. Em
1814, o Reverendo Cônego José Telles de Meneses, natural da Villa da Água Fria, ordenava que
se vendesse a Fazenda Genipapo e que se repartissem 15 mil cruzados entre as filhas da parda
3
Arquivo Público do Estado da Bahia-Livro de Registro de Testamentos (os próximos serão referidos com as siglas
APEB-LRT); 10, 1824, p. 174.
4
Ibidem, p. 96v.
5 APEB, Judiciária – Tribunal de Justiça, Notificação – Conta de Testamento 1822 – Jozé Joaquim Copque, Santo
Amaro, fl. 5.
3
Quitéria: Victoria, Rosa e Eusebia, todas casadas (aumenta, depois, o valor para 20 mil cruzados,
no seu codicilo). Em carta particular, afirmava que as beneficiadas Rosa, Victoria e Eusebia já
haviam recebido sítio de terras por seus dotes, e deixava para Rosa o sítio Brejões e outro sítio
para Victoria ambas filhas da parda Quitéria. Deixava ainda o sítio chamado Engenho Catêt
Cacos e as terrinhas anexas para alimento de Victoriano Alvares da Fonseca, filho da parda Maria
Angelica, e para Francisco, Maria dos Prazeres e Cipriano, filhos da cabra Maria Francisca6.
Independente de ter filhos naturais ou não, os homens solteiros estavam sempre rodeados
de mulheres, muitas delas foram suas principais beneficiadas. Em 1827, Vicente Ferreira Milles,
solteiro, determinava que a sua ex-escrava Domiciana escolhesse e tomasse posse de duas dentre
as suas escravas. Deixava, ainda, coartadas a acompanhá-la, a negrinha Felicidade, a preta
Possedonia e a escrava de nome Ritta. Vicente declarava, ainda, possuir em sua companhia mais
11 escravas, que não eram suas, todas elas pertenciam à preta Domiciana, que as houve em
produto de várias carregações que tem feito para a Costa da Mina, e a institui sua herdeira
universal7.
A minoria dos homens livres que aparecem nos testamentos era proprietária de terras e
escravos ou possuía vendas e casas de moradas, e em diversos casos a companhia das africanas,
libertas e livres de cor e de seus filhos foi uma opção e não a falta dela. Mas as mulheres escravas
ou libertas não eram apenas concubinas, afinal muitas casaram com homens brancos e bem-
sucedidos.
Uma história que ficou famosa na Bahia foi a da parda Rita Gomes da Silva, ou Rita Cebola,
como era conhecida. Viúva do português Capitão Leandro de Souza Braga, casou-se novamente em
segredo, em 1792, com outro português, Inocêncio José Costa, comerciante abonado8. As descrições
falam do séquito de escravos e do luxo de Rita Cebola9. O seu marido pertencia a várias Ordens
Terceiras, como a do Carmo, era irmão da Santa Casa de Misericórdia e Cavaleiro da Ordem de
Cristo. Solicitava, no seu testamento, ao Prior da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do
Carmo, onde exercera este cargo durante anos, para que fosse enterrado, se possível, juntamente
6
Ibidem, LRT 07, 1814, p. 01v.
7
Ibidem, LRT 15, 1827, p. 16v.
8
APEB, Cartas para S. Majestade, 1799, apud VILHENA, Luis dos Santos. A Bahia no século XVIII. Vol. 2.
Salvador: Editora Itapuã, 1969, p. 365.
9
BITTENCOURT, Anna Ribeiro de Goes. Longos serões do campo. Vols. 1 e 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira:
1992, p.49-50
4
com sua terceira esposa, D. Rita Gomes da Silva, “para demonstração do muito que de mim foi
estimada”10. Boa parte das declarações de Inocêncio são solicitações feitas por Rita Cebola, que
faleceu sem testamento. A grande parte de beneficiados por Inocêncio, em nome de sua mulher, era
também de mulheres, de algumas ele cita origem, como as crioulinhas e pardas, mas outras como D.
Ursula não fala da cor, provavelmente eram pardas como Rita Cebola, e talvez libertas. Todas
faziam parte de um grande círculo de dependentes, criado por Rita. O testamento de seu marido
também demonstra que ele se empenhou para estabelecer uma relação formal com a parda Rita
Cebola, casando-se ocultamente e sendo atencioso em realizar os desejos de sua mulher, algo que
não percebemos com frequência nos testamentos pesquisados.
Citamos a seguir outros casos de casamentos. Francisco de Mêra, homem branco, natural do
Reino de Galiza, no seu testamento aberto em 1814 declarava ser casado com Cezilia Maria do
Sacramento, mulher preta da nação angola, sem filhos. Dizia, ainda, que teve com a esposa mais de
dezesseis anos de “comunicação ilícita e por desencargo da consciência e estar vivendo com ela de
portas a dentro e [sempre me] tem ajudado a viver” a institui como universal herdeira11. Na
Freguesia Nossa Senhora do Ó de Paripe, no Recôncavo também foram registrados alguns
casamentos. Em 1786, Ignacia Maria, natural da Freguesia do Passé, mulher parda, filha legítima,
casa-se com Antonio José da Silva, branco, de Lisboa, filho legítimo12, e em 1790, Bernardo
Pereira, homem branco, casa-se com Joanna, mulher parda13.
Na Bahia, muitas solicitações de divórcios no século XIX foram motivadas por relações de
senhores com suas escravas ou mulheres de cor14. Um caso interessante está registrado em uma
carta emitida ao Rei de Portugal, solicitando divórcio. Diz o seguinte:
[...] passou a suplicante a viver em desprezo do suplicado, que surdo a rogos, e insensível a
lágrimas não reconhecia a razão [...] no mesmo dia em que foi para a casa do suplicado passou
este a dormir no próprio aposento com duas escravas [...] as quais por isso se fizeram tão
insolentes, que passaram a fazer da suplicante objeto dos seus desprezos // admoestando sempre
o suplicado com palavras infamantes e obscenas; e tentando esta castigar uma das mais
animosas por suas próprias forças, se atreveu aquela a lançar-lhe as mãos a garganta, e levá-la
10
APEB, Judiciário, 08/3465/02, 1805. p. 02.
11
Ibidem, LRT 04, 1814, fl. 29v-32v.
12
LEV, Cúria Metropolitana, Livro de assento de casamentos, Paripe, p. 61.
13
Ibidem, p. 78.
14
Maria Odila Dias também cita casos de divórcio em São Paulo, nos quais as mulheres “acusavam maridos que
andarem concubinados, de portas adentro, ostensivamente, com suas escravas, desautorizando-as a ponto de se
verem desautorizadas pelas próprias escravas”. DIAS, Maria Odila. Quotidiano e poder..., p. 142-143.
5
debaixo de si aonde acabaria a vida da suplicante, se às vozes não acudisse o suplicado, e a
escrava se não detivesse incerta no partido dele, que foi o de pegar em um dos braços da
suplicante, e com feroz ímpeto adverti-la de que era aquela mulher liberta, apresentando então a
carta, que lhe havia passado, e que fez ler como pregão da sua cegueira, e quartel contra a
desgraçada suplicante que caiu por morta, e acabaria de todo a faltar-lhe o socorro de algumas
pessoas compadecidas [...]15.
Essa senhora, desprezada pelo seu marido, que preferia compartilhar sua cama com suas
escravas, não era uma matrona cheia de filhos e, sim, D. Maria Anna Rita de Menezes, mulher
branca, que se casou com 12 ou 13 anos de idade, com seu primo/tio, o Tenente Coronel da Milícia
de Cachoeira, Gonçalo Marinho Falcão. Esse fato ocorreu em 1806. Logo após o casamento, D.
Maria conseguiu o divórcio e, depois, se tornou a famosa lavradora do Recôncavo Baiano, amante
do poderoso coronel Pereira Sodré, com quem teve um filho ilegítimo16.
Em 1830, D. Luzia Maria de Jesus entra com processo de divórcio contra seu marido,
Capitão José Bernardino de Mello. Segundo ela, seu marido deixou de dar-lhe vestuário e
alimentos, largando a sua companhia para viver com uma parda meretriz no mesmo lugar em que
residiam, Freguesia do Camisão na Vila de Cachoeira, de quem ele já tinha alguns filhos. Além
disso, dava pancadas na esposa todos os dias, injuriando-a com palavras indecorosas17.
Apesar de muitos homens escolherem continuar na companhia de mulheres de cor, essa era
uma opção socialmente arriscada. Em 1784, por exemplo, o governador da Bahia informava ao Rei
de Portugal que deu baixa a Antonio Gomes Viana do Posto de Segundo-Tenente, que ocupava no
Regimento de Artilharia de Salvador, “por haver casado com uma Mulher Preta”, que o governador
caracterizava “de costumes perversos, e escandalosos” 18. Portanto, decidir oficializar relações com
as mulheres libertas e “de cor” é um indício muito forte de que realmente havia uma opção de
permanecer com elas e não apenas por falta de mulheres brancas, como tem sido repetido pela
historiografia brasileira.
15
APEB, Cartas do governo, vol. 143, ff. 265-265v. Sou grata ao Professor João José Reis pela indicação deste
documento. Ver mais sobre D. Maria Rita em REIS, João José. Domingos Sodré. Um sacerdote africano. Escravidão,
liberdade e candomblé na Bahia do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 72-73.
16
Trata-se de Francisco Pereira Sodré, marido de Cora Coutinho. REIS, Adriana Dantas. Cora: lições de
comportamento feminino na Bahia do século XIX. Salvador: FCJA/Centro de Estudos Baianos da UFBA, 2000, p.
147.
17
LEV, 483, caixa 02, doc. 10, p. 12v.
18
APEB, Ordens Régias, vol. 77, doc. 17, 1720-1790.
6
O caso de Luzia jeje
Entre os testamentos de homens livres destacamos o do Capitão Manoel de Oliveira
Barrozo, aberto em 1814. Morador no Engenho Aratú, Freguesia Nossa Senhora do Ó de Paripe,
recôncavo baiano, o capitão era natural da Freguesia da Sé e filho legítimo do Capitão Manoel
Barrozo de Oliveira e Dona Antonia de Azevedo, já falecidos. Apesar de nunca ter casado, o
capitão reconheceu sete filhos, são eles, Dona Thereza de Jesus Maria José, filha de Ritta Maria de
Santo Antonio, mulher branca solteira e sem impedimentos; e mais seis filhos de Luzia Gomes de
Azevedo, “mulher preta de nação gêge”, são eles, Sutério, Domingos Antonio, Estevão, Gaspar,
Ana Joaquina e Maria da Conceição. No testamento o capitão Barrozo constituía e nomeava seus
filhos como herdeiros, nas duas partes de sua fazenda pagas as suas dívidas, e informava ainda que
os ditos seus seis filhos pardos já eram “forros isentos da menor escravidão, visto já se acharem
legitimados”, assim como, a sua mãe também forra e liberta19.
Ao contrário da divulgada insensibilidade dos senhores com seus filhos naturais tidos de
escravas, o capitão manteve sua família unida. Comprou seu filho Domingos Antonio, separado
dos demais na partilha dos bens dos seus pais, pagando quarenta mil reis por ele a seu irmão,
capitão José de Oliveira Barrozo20. Ele também instituiu seus filhos, Sutério, Domingos Antonio
e Estevão seus testamenteiros, atribuindo a eles plenos direitos de decisão, inclusive para libertar
alguns de seus escravos. Numa sociedade fortemente marcada por relações de poder
interpessoais, o fato de o capitão ter escolhido seus filhos como seus testamenteiros demonstra
que ele cultivava relações de confiança e fidelidade com sua prole e queria, acima de tudo,
garantir que seus herdeiros fossem verdadeiramente beneficiados.
Existem poucos dados sobre Luzia, ela é citada apenas nos testamentos do capitão Manoel
de Oliveira Barrozo (1807) e no de seu filho Sutério de Oliveira Barrozo (1822), aparecendo
também num registro de assento de matrimonio da freguesia Nossa Senhora do Ó de Paripe de
1790. Provavelmente, chegou à Bahia na segunda metade do século XVIII, período de intenso
comércio com a Costa da Mina, e fazia parte dos gbe-falantes, o grupo cultural que deu origem ao
19
APEB, LRT, Capital, nº 04, 1814. p. 80v.
20
APEB, LRT, nº4, 1814, p. 81.
7
Candomblé de ritual de nação jeje21. É provável que tenha permanecido algum tempo na Ilha de
Itaparica, onde nasceu seu filho Sutério. Mas, após a morte dos senhores de Luzia, o capitão
Barrozo decidiu comprar o engenho Aratú, em 1783, localizado na Freguesia Nossa Senhora do
Ó de Paripe, onde viveu com Luzia e seus filhos até sua morte em 1814.
Supondo-se que Luzia viveu seja numa lavoura de cana em Itaparica ou em algum
sobrado urbano em Salvador, o mais provável é que fosse uma escrava doméstica. A certeza do
capitão Barrozo quanto à paternidade dos seus filhos demonstra que existia um controle muito
próximo. No período, muitos pais reconheciam filhos naturais, mas nem todos demonstravam
segurança quanto a sua prole. Em 1824, por exemplo, Sebastião Alves de Castilho, liberto,
natural de Salvador, chamava atenção no seu testamento para a ausência de “guarda de ventre” da
suposta mãe de sua filha, a crioula Anna Maria, ele deixava para a suposta filha 50$000 para
22
desencargo de sua consciência e “pela fama que corre de minha filha” . Existe também a
hipótese de Luzia ter chegado a Bahia antes da idade adulta, como aconteceu com a liberta Luiza
Cardozo Maria de Jesus, natural da Costa da África, que declarou em seu testamento, “fui
batizada ainda menina na Conceição da Praia”23, ou ainda a liberta Joaquina de Santa Anna e
Mello, jeje, disse ter chegado ao Brasil com 8 anos de idade24. É possível que esses escravos,
vindos da África ainda muito jovens, fossem mais facilmente adaptados à cultura local e mais
próximos dos senhores do que os escravizados já adultos.
Luzia compartilhou da companhia de outros escravos de sua nação no engenho Aratú,
inclusive possuía uma escrava chamada Esperança também jeje. E ao contrário do contratador de
Diamantes que não citou o nome de Chica da Silva no seu testamento25, o capitão Barrozo, não
só a libertou e nomeou como mãe de seus filhos pardos, como também deixou para ela
duzentosmil réis26.
21
PARÉS, Luis Nicolau. Formação do Candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia. Campinas, São Paulo,
Editora da UNICAMP, 2006. p. 46.
22
APEB, LRT 11, 1824, p. 05v.
23
APEB, LRT 19, 19/08/1829, p. 276v.
24
APEB, LRT 22, 01/08/1832, p. 04v.
25
Furtado, Júnia Ferreira. Chica da Silva e o contratador dos diamantes, o outro lado do mito. São Paulo,
Companhia das Letras, 2003. p. 244.
26
APEB, LRT 04, 1814, p. 83v
8
Os filhos de Luzia, identificados como pardos no testamento do Capitão Barrozo
aparecem em outros documentos sem qualquer referência de cor. No testamento de Sutério, por
exemplo, ele não se autodefine como pardo, e sua mãe é citada apenas como Luzia Gomes de
Azevedo. Da mesma forma, os irmãos de Sutério perderam suas referências como pardos nos
registros de batismos e casamentos, dos quais foram padrinhos, ou nos demais documentos
pesquisados, com exceção de um único documento de registro de batismo no qual Gaspar aparece
como senhor pardo dos escravos batizados.
A filha natural de Sutério, D. Florinda Maria de Jesus e seu marido, Christovão Pereira de
Faria, também não aparecem com referência de cor, nem no registro de casamento, nem no
batismo da sua filha Clarinda, em 181327. Apenas durante as disputas judiciais no Inventário de
Sutério é que descobrimos a cor de Cristovão Pereira, através da transcrição de seu registro de
óbito, em 1852, no qual ele vem identificado como pardo viúvo, assim como seu filho José
Alexandre Pinto, pardo solteiro28. Portanto, a cor de determinado indivíduo poderia aparecer ou
desaparecer a depender de variáveis e circunstâncias nem sempre muito claras.
Esses dados chamaram a atenção para a metodologia da pesquisa. A armadilha das fontes
deve deixar os historiadores alertas para o fato de que a ausência das cores nos documentos não
significava, obviamente, tratar-se de brancos29. Grande parte da documentação sobre os filhos de
Luzia camuflou a história de uma família de escravos, que poderia estar perdida para sempre, se
não existisse o testamento do Capitão Manoel de Oliveira Barrozo.
O fundamental dessa história é o seu resultado social. Os benefícios paternais do Capitão
favoreceu a um grupo de escravos que se tornou dono de engenho e proprietário de escravos. Os
filhos de Luzia representavam alguns dos pardos que ascenderam socialmente no final do século
XVIII e início do XIX, talvez os mesmos classificados, ora como mulatos, ora como pardos, por
Vilhena (1969). Segundo os relatos desse autor, as negras e principalmente as mulatas eram
27
ACMS-LEV (Arquivo da Cúria Metropolitana de Salvador- Laboratório Eugênio Veiga), Livro de Registros de
Batismos de Paripe, 1813, fl. 12v.
28
APEB, Judiciário, Inventário, 04/1930/2402/05, capital, 1823, fl. 462v.
29
Entre outros autores que chamaram atenção sobre a ausência ou mudança de livres ver: MATTOS, Hebe. Das
cores do silêncio. Os significados da liberdade no sudeste escravista – Brasil séc. XIX. Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 1995, p. 103-114; CASTRO FARIA, Sheila. A colônia em movimento. Fortuna e família no cotidiano
Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p. 135-139; MATTOSO, Kátia. A Bahia no século XIX. Uma
província no Império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992, p. 582; GUEDES, Roberto. “Sociedade escravista e
mudança de cor. Porto Feliz, São Paulo, século XIX”. In: FRAGOSO, João Luis Ribeiro et. al. (irgs). Nas rotas do
Império: eixos mercantis, tráfico e relações sociais no mundo português. Vitória: Edufes/Lisboa: IICT, 2006. p. 447-
488
9
mulheres “para quem a honra é um nome quimérico”, eram “as primeiras que começa[va]m a
corromper logo de meninos os senhores-moços, dando-lhes os primeiros ensaios de libidinagem”.
O resultado dessas relações era “uma tropa de mulatinhos e crias, que, depois, vêm a ser
perniciosíssimos nas famílias”. Relata que alguns senhores nunca casavam “só por não poderem
largar aquela harpia, a quem de meninos vivem agarrados”, assim como, “eclesiásticos, e não
poucos”, que viviam em “desordem com mulatas e negras de quem por morte deixam os filhos
por herdeiros de seus bens”30.
Para Vilhena, essas ligações de senhores com as mulatas e escravas faziam com que
“muitas das mais preciosas propriedades do Brasil” acabassem parando “nas mãos de mulatos
presunçosos, soberbos e vadios”. Os engenhos herdados
[...] em breve tempo se destroem com gravíssimo prejuízo do Estado, sendo cousa bem digna
da real atenção de S. Magestade; porque a não se obviar o virem os engenhos, e grandes
fazendas a cair nas mãos destes pardos naturais, homens comumente estragados (Ibidem, p.
136-137).
Como aponta o autor, em termos sociais e econômicos, poderia ser extremamente
desvantajoso para homens livres proporcionar mobilidades e acesso a bens para libertos ou livres
de cor bastardos. O assunto dos pardos ilegítimos, por exemplo, foi discutido “pelo Conselho
Ultramarino, em agosto de 1723, a partir de um pedido do governador das Minas, para que os
mulatos não pudessem herdar de seu pai, mesmo que não tivessem outro irmão branco”31. Essas
críticas reforçam ainda mais a ideia da opção que muitos homens fizeram, mantendo relações
afetivas e familiares com escravas ou ex-escravas e seus filhos. Mas, se por um lado essas
mulheres e seus filhos ascendiam socialmente, a atitude dos senhores reforçava ainda mais seus
privilégios na hierarquia escravista e de gênero, sobretudo no confronto e manutenção dos
homens escravizados. Enquanto isso, as mulheres escravas e livres “de cor” transformavam,
paradoxalmente, a submissão aos senhores em pontes de acessos ao mundo dos livres para si e
sua prole, remetendo, mais uma vez, a questionamentos sobre a eficácia do modelo patriarcal
para a análise da escravidão no Brasil.
30
VILHENA, Luis dos Santos. A Bahia no século XVIII. Vol 2. Salvador: Editora Itapuã, 1969, p. 136.
31
LARA, Silvia Hunold. Fragmentos setecentistas: escravidão, cultura e poder na América portuguesa. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007. p. 340
10
Mobilidade entre mulheres
Em 1814 Maria da Saúde, filha natural de Maria Pereira e pai incógnito, nascida em
Nossa Senhora da Piedade do Cabrito no recôncavo, declarou em seu testamento que seus poucos
bens foram adquiridos “por sua agência e trabalho”. Possuía uma moradinha de casas de sobrado
na Ladeira do Carmo em terras próprias. Uma moradinha de casas na Saúde, em terras foreiras,
talheres de prata e uma negra velha chamada de Roza. Libertava a sua crioula Maria Francisca
mãe de Maria José que já era forra e a institui como sua herdeira. Libertava também a escrava
Thereza, mais velha. E apresentava uma vasta lista de libertas e escravas beneficiadas. Deixava
20 mil para a crioula Fellipa que foi sua escrava e se achava no convento da Soledade da Lapa,
escrava de Adriano Araújo Braga, e 5 mil réis e um estrado para a crioula Francisca Romana que
foi escrava de Domingos da Rocha, 30 mil para Joanna mulatinha filha de Sebastiana Rodrigues
mulher cabra, moradora no Pilar que foi escrava de João Rodrigues, falecido. Duas cadeiras para
Joaquim de Tal irmão de Francisca, 10 mil réis a um crioulo de nome Jozé Maria que foi seu
escravo, filho da preta Roza, que estava em Portugal 32.
Esse é apenas um caso, dentre tantos outros, de mulheres livres solteiras que decidiram
beneficiar outras mulheres em testamento, geralmente escravas e libertas. Infelizmente é muito
difícil definir suas cores e origens, dos 57 testamentos de mulheres livres solteiras pesquisados
apenas duas relacionaram sua ascendência com a escravidão, uma era filha de pardos e outra de
crioulos. A quantidade de mulheres escravas ou libertas beneficiadas por Maria da Saúde
demonstra que seu círculo de sociabilidade e dependentes era eminentemente feminino, sendo
que inclusive os homens beneficiados estavam diretamente ligados a mulheres. Ou seja, sua
“agencia e trabalho” tem como base suas escravas, e beneficiá-las em testamento era uma forma
de demonstrar o reconhecimento pelo auxílio das mesmas no aumento de seus bens.
Mulheres livres casadas ou viúvas também beneficiaram outras mulheres escravas,
libertas e livres de cor em seus testamentos. Essas fazem disposições estabelecendo alforrias, ou
determinavam algum benefício para ex-escravas e seus filhos, geralmente alguns poucos réis,
mas algumas também deixaram casas para seus libertos viverem. Em 1817, Thereza Maria de
Jesus, viúva, de pais incógnitos, estabeleceu no seu testamento que seu testamenteiro comprasse
32
APEB, LRT 04, 1814, p.187
11
uma moradinha de casa até 200$000(duzentos mil réis) para seus escravos libertos, eram eles
Rosa e seus três filhos André Joaquim de Santa Anna, Manoel e Severiana, deixa a André e
Manoel 50$000 réis e a Severiana 20$000, e também seus móveis. A moradia deveria ser vitalícia
e após o falecimento deles passaria para a Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe33.
Em 1815, Ronalda Maria do Sacramento, também viúva, e mãe de quatro filhos, deixava
Quitéria, Albino sapateiro, Rafael pedreiro, Delfina e Justa forros e pedia a sua filha religiosa que
uma moradinha de casas fosse para o recolhimento dos escravos acima citados34.
Maria de Assumção Cintra, viúva, sem filhos,em 1829, nomeou seus ex-escravos Thereza
angola, as mães, Escolástica e Silveira e seus filhos Marcelino, Alberto Alexandre, Jeronimo,
José Mateus e Rosa de Lima, Maria Ludovica do Patrocínio como herdeiros. Deixava para eles
uma casa de morada com lojas de aluguel35.
Havia poucas mulheres escravas na Bahia, além de serem minoria entre os africanos
cativos que aportavam em Salvador36, elas eram proporcionalmente mais favorecidas do que os
homens na concessão de alforrias, principalmente sem ônus. Segundo Oliveira, entre 1779 e
1850, o número de “mulatos equivalia a 10 a 15% da população global de escravos”, assim, o
número de mulatos alforriados era bastante alto37. A maioria das libertas dos testamentos
pesquisados era da Costa da Mina ou Costa da África, e poucas nascidas na Bahia, apenas duas.
O que acontecia com as crioulas beneficiadas com cartas de alforria ressaltadas por Oliveira? É
possível que muitas delas estejam ocultas nos testamentos das mulheres livres. Seria esse o caso
de Maria da Saúde?
Algumas libertas possuíam moradas de casas, mas o principal investimento era em
escravaria, ainda que fossem poucos escravos. Muitas, assim como as livres, deixavam bens aos
seus escravos, como Maria Caetana Rodrigues, nascida na Ilha de Itaparica, viúva, que distribuiu
33
APEB, LRT 09, 1817, PP. 128v-130.
34
APEB, LRT 05, 1815, PP.84v-89.
35
APEB, LRT 19, p.90v, 1829.
36
Andrade, Maria José. A mão-de-obra escrava em Salvador (1811-1860). São Paulo: Corrupio; [Brasília, DF];
CNPq, 1988. p. 120-126. Segundo Andrade, “a porcentagem média de escravas africanas é de 51,7 % sobre o total de
africanos e brasileiras, enquanto o percentual de escravas de origem brasileira é de 48,2% sobre o mesmo total” ,
pp.118-119.
37
Apud OLIVEIRA, Inês. O Liberto: seu mundo e os outros. São Paulo: Corrupio, 1988. p. 23.
12
vinte braças de terras para seus cinco escravos alforriados, quatro braças para cada um, com a
condição de não vendê-las38. Efigência da Silva, viúva, natural da Costa da Mina, em 1827,
deixava a casa para a escrava Mereciana, também herdeira do remanescente dos seus bens39.
A análise dos testamentos, entre 1811 e 1830, aponta para processos de mobilidade social
na Bahia do período. Homens solteiros e casados livres e libertos aparecem beneficiando
mulheres escravas, libertas e livres de cor, através do reconhecimento de paternidade ou como
resultado de um misto de relações de dependência, afeto, fidelidade e gratidão. As mulheres
livres solteiras ou casadas, também demonstram muita autonomia e interesse em beneficiar outras
mulheres, sobretudo escravizadas e libertas, o que representa, não apenas solidariedade de
gênero, mas principalmente aponta para a reprodução bem-sucedida de mobilidade ascendente
entre mulheres. Ao mesmo tempo em que ascendiam na hierarquia social também
proporcionavam ascensão de outras mulheres em situações de dependência.
No entanto, não é possível afirmar com precisão que esses processos de mobilidade eram
reafirmados e aprofundados apenas entre mulheres de cor. A ausência das indicações de cores
para homens e mulheres livres nos testamentos, deixa em aberto, por hora, a relação direta entre
gênero, cor e mobilidade social. Apesar disso, é possível afirmar que entre os homens e mulheres
livres que beneficiaram mulheres escravizadas, libertas e livres de cor, também existiam outros
de mesma origem. Chamaria esses de “afro-ascendentes”, homens e mulheres com alguma
ascendência africana/escrava que em função de sua ascensão social preferiram ocultar suas cores,
como fizeram os filhos de Luzia, e como eles também aguardam por uma reconexão com o
passado escravo.
38
APEB, LRT 15, PP.125v-129, 1827
39
APEB, LRT 15, PP.206-208v, 1827.
13
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